LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando....

57
LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: DA OBRIGAÇÃO DE COMUNICAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL. Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço Rio de Janeiro 2009 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATU-SENSU

Transcript of LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando....

Page 1: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS DA OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR A RESPONSABILIDADE

SOCIAL

Prof Jorge Tadeu Vieira Lourenccedilo

Rio de Janeiro

2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTTITUTO A VEZ DO MESTRE

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATU-SENSUrdquo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTTITUTO A VEZ DO MESTRE

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATU-SENSUrdquo

LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS DA OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR A RESPONSABILIDADE

SOCIAL

OBJETIVOS

Esta publicaccedilatildeo atende a complementaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica de metodologia da pesquisa e a produccedilatildeo e desenvolvimento de monografia para o curso de poacutes-graduaccedilatildeo latu-sensu em Financcedilas e Gestatildeo Corporativa Por Altamiro Rocha da Silveira

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Jorge Tadeu Vieira Lourenccedilo pelas consideraccedilotildees sobre o

trabalho A minha mulher Rita que sempre procurou aveludar os difiacuteceis

caminhos por onde passei

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal um panorama das cinco

maiores instituiccedilotildees financeiras que atuam no mercado brasileiro quanto a sua

poliacutetica corporativa na implementaccedilatildeo de sistemas de controle interno para combate

ao crime de lavagem de dinheiro e outros especificados na Lei 96131998 que

dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a

prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei

como tambeacutem a preocupaccedilatildeo institucional no tocante a responsabilidade social no

combate a esse iliacutecito aleacutem de apurar a efetividade do programa de combate a

lavagem de dinheiro implementado em uma das instituiccedilotildees financeiras

pesquisadas Para a realizaccedilatildeo desse breve estudo foi apresentado uma discussatildeo

bibliograacutefica sobre o tema algumas poliacuteticas adotadas pelas instituiccedilotildees financeiras

e a apresentaccedilatildeo de textos legais

SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 05 1 CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO 07

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro 08

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito internacional 09

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado 10 2 A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO BRASIL 12

21 A relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de lavagem de dinheiro 17

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil 21 3 A CONTRIBUICcedilAtildeO DAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS A OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR 24 31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros 28 32 A obrigaccedilatildeo de comunicar 31

4 O SISTEMA ANTI-LD NAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA 33 41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de dinheiro 34

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de lavagem de dinheiro 38 CONCLUSAtildeO 40 BIBLIOGRAFIA 42

ANEXO 45

INTRODUCcedilAtildeO

O tema lavagem de dinheiro eacute de grande relevacircncia Atividades do tipo

necessariamente vecircm acompanhadas de outros crimes de gravidade consideraacutevel

para quase todos os paiacuteses Ocidentais Assim a celeridade e efetividade na

repressatildeo da lavagem do dinheiro resultam em uma maior eficaacutecia no combate a

delitos ligados ao terrorismo narcotraacutefico dentre outros

Diante desse fato os paiacuteses que mais se destacam em termos econocircmicos

ocuparam-se com uma seacuterie de regulamentaccedilotildees com o objetivo de combater a

lavagem do dinheiro concomitantemente agrave repressatildeo das atividades ilegais de

abrangecircncia internacional Explicita-se dessa forma a inquestionaacutevel necessidade

dos profissionais de contabilidade de refletir sobre esse assunto sobretudo no

Brasil paiacutes em que regularmente se observa a figuraccedilatildeo de fraudes dessa natureza

O trabalho que se segue objetiva justamente tecer consideraccedilotildees acerca

desse tema Tal tarefa seraacute realizada mediante a anaacutelise de uma gama heterogecircnea

de documentos tais como os de natureza legislativa que regulam as movimentaccedilotildees

financeiras Utilizar-se-aacute tambeacutem uma bibliografia sobre o assunto redigida por

especialistas de aacutereas diversas como advogados e contadores Desta forma se

buscaraacute apresentar as convergecircncias e divergecircncias concernentes agrave mateacuteria

presentes nesses escritos Para tanto seraacute aplicado o meacutetodo comparativo

As notiacutecias veiculadas pela imprensa tambeacutem deveratildeo ser analisadas com o

objetivo de vislumbrar o impacto efetivo das deliberaccedilotildees legislativas que se ocupam

da repressatildeo agrave lavagem de dinheiro em termos socialmente pragmaacuteticos ou seja

tais deliberaccedilotildees de fato arrefecem os delitos

O enfoque do trabalho seraacute na anaacutelise dos mecanismos utilizados no combate

aos crimes de lavagem de dinheiro no acircmbito institucional financeiro com ecircnfase no

Brasil Natildeo obstante tratar-se-aacute da sua obrigaccedilatildeo em comunicar agrave responsabilidade

social sobre delitos dessa natureza

O trabalho estaacute organizado em quatro capiacutetulos

O primeiro apresentaraacute o tema de acordo com seu desenvolvimento histoacuterico

Nessa parte seratildeo discutidas as accedilotildees que visam arrefecer os crimes de lavagem de

dinheiro no decorrer da histoacuteria em especial a partir do incremento da globalizaccedilatildeo

Sabe-se que a globalizaccedilatildeo a velocidade das mudanccedilas no sistema financeiro

acelerou a sofisticaccedilatildeo dos meacutetodos de lavagem de dinheiro despertando por

conseguinte a atenccedilatildeo internacional

O segundo capiacutetulo localizaraacute o lugar do Brasil no quadro internacional de

combate aos crimes de lavagem de dinheiro Para tanto seraacute necessaacuterio se

concentrar na tipificaccedilatildeo desses delitos de acordo com a legislaccedilatildeo brasileira Em

seguida realizar-se-aacute uma comparaccedilatildeo entre o Direito nacional e algumas diretrizes

internacionais que versam sobre o nosso tema Desta forma seraacute possiacutevel observar

em que medida o Brasil se insere na conjuntura internacional que cada vez mais

tende a tomar medidas mais eficazes a fim de combater os crimes de lavagem de

dinheiro

O terceiro capiacutetulo dedicar-se-aacute agrave contribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras no

que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de comunicar indiacutecios de operaccedilotildees ilegais de

branqueamento de capital Seratildeo cotejadas tambeacutem algumas notiacutecias veiculadas

pela imprensa exemplificando desta forma a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras

no processo de combate desses crimes assim como a accedilatildeo dos oacutergatildeos

responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo dos delitos

O quarto capiacutetulo por sua vez estudaraacute os sistemas anti-lavagem de dinheiro

nas instituiccedilotildees financeiras mediante uma perspectiva criacutetica As perguntas que iratildeo

permear esse capiacutetulo seratildeo como se caracterizam esses sistemas Eles satildeo

eficazes Haacute celeridade no combate a esses delitos Todas essas questotildees seratildeo

respondidas mediante consideraccedilotildees consistentes baseadas na confrontaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo com a realidade nessas instituiccedilotildees

Por fim seratildeo apresentadas as conclusotildees resultantes dessas reflexotildees e a

bibliografia que auxiliou este trabalho

Eacute preciso ressaltar que no mundo atual em que cada vez mais a velocidade

nas trocas de informaccedilatildeo e movimentaccedilotildees financeiras facilitam a lavagem de

dinheiro1 eacute de pleno interesse dos profissionais da contabilidade todo e qualquer

esforccedilo de se manter ciente sobre esses delitos e os mecanismos que se ocupam

em combatecirc-los O principal objetivo desse trabalho eacute contribuir com tal tarefa

1 A globalizaccedilatildeo e os crimes de lavagem de dinheiro In In verbi P415-416

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 2: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTTITUTO A VEZ DO MESTRE

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATU-SENSUrdquo

LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS DA OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR A RESPONSABILIDADE

SOCIAL

OBJETIVOS

Esta publicaccedilatildeo atende a complementaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica de metodologia da pesquisa e a produccedilatildeo e desenvolvimento de monografia para o curso de poacutes-graduaccedilatildeo latu-sensu em Financcedilas e Gestatildeo Corporativa Por Altamiro Rocha da Silveira

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Jorge Tadeu Vieira Lourenccedilo pelas consideraccedilotildees sobre o

trabalho A minha mulher Rita que sempre procurou aveludar os difiacuteceis

caminhos por onde passei

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal um panorama das cinco

maiores instituiccedilotildees financeiras que atuam no mercado brasileiro quanto a sua

poliacutetica corporativa na implementaccedilatildeo de sistemas de controle interno para combate

ao crime de lavagem de dinheiro e outros especificados na Lei 96131998 que

dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a

prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei

como tambeacutem a preocupaccedilatildeo institucional no tocante a responsabilidade social no

combate a esse iliacutecito aleacutem de apurar a efetividade do programa de combate a

lavagem de dinheiro implementado em uma das instituiccedilotildees financeiras

pesquisadas Para a realizaccedilatildeo desse breve estudo foi apresentado uma discussatildeo

bibliograacutefica sobre o tema algumas poliacuteticas adotadas pelas instituiccedilotildees financeiras

e a apresentaccedilatildeo de textos legais

SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 05 1 CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO 07

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro 08

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito internacional 09

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado 10 2 A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO BRASIL 12

21 A relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de lavagem de dinheiro 17

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil 21 3 A CONTRIBUICcedilAtildeO DAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS A OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR 24 31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros 28 32 A obrigaccedilatildeo de comunicar 31

4 O SISTEMA ANTI-LD NAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA 33 41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de dinheiro 34

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de lavagem de dinheiro 38 CONCLUSAtildeO 40 BIBLIOGRAFIA 42

ANEXO 45

INTRODUCcedilAtildeO

O tema lavagem de dinheiro eacute de grande relevacircncia Atividades do tipo

necessariamente vecircm acompanhadas de outros crimes de gravidade consideraacutevel

para quase todos os paiacuteses Ocidentais Assim a celeridade e efetividade na

repressatildeo da lavagem do dinheiro resultam em uma maior eficaacutecia no combate a

delitos ligados ao terrorismo narcotraacutefico dentre outros

Diante desse fato os paiacuteses que mais se destacam em termos econocircmicos

ocuparam-se com uma seacuterie de regulamentaccedilotildees com o objetivo de combater a

lavagem do dinheiro concomitantemente agrave repressatildeo das atividades ilegais de

abrangecircncia internacional Explicita-se dessa forma a inquestionaacutevel necessidade

dos profissionais de contabilidade de refletir sobre esse assunto sobretudo no

Brasil paiacutes em que regularmente se observa a figuraccedilatildeo de fraudes dessa natureza

O trabalho que se segue objetiva justamente tecer consideraccedilotildees acerca

desse tema Tal tarefa seraacute realizada mediante a anaacutelise de uma gama heterogecircnea

de documentos tais como os de natureza legislativa que regulam as movimentaccedilotildees

financeiras Utilizar-se-aacute tambeacutem uma bibliografia sobre o assunto redigida por

especialistas de aacutereas diversas como advogados e contadores Desta forma se

buscaraacute apresentar as convergecircncias e divergecircncias concernentes agrave mateacuteria

presentes nesses escritos Para tanto seraacute aplicado o meacutetodo comparativo

As notiacutecias veiculadas pela imprensa tambeacutem deveratildeo ser analisadas com o

objetivo de vislumbrar o impacto efetivo das deliberaccedilotildees legislativas que se ocupam

da repressatildeo agrave lavagem de dinheiro em termos socialmente pragmaacuteticos ou seja

tais deliberaccedilotildees de fato arrefecem os delitos

O enfoque do trabalho seraacute na anaacutelise dos mecanismos utilizados no combate

aos crimes de lavagem de dinheiro no acircmbito institucional financeiro com ecircnfase no

Brasil Natildeo obstante tratar-se-aacute da sua obrigaccedilatildeo em comunicar agrave responsabilidade

social sobre delitos dessa natureza

O trabalho estaacute organizado em quatro capiacutetulos

O primeiro apresentaraacute o tema de acordo com seu desenvolvimento histoacuterico

Nessa parte seratildeo discutidas as accedilotildees que visam arrefecer os crimes de lavagem de

dinheiro no decorrer da histoacuteria em especial a partir do incremento da globalizaccedilatildeo

Sabe-se que a globalizaccedilatildeo a velocidade das mudanccedilas no sistema financeiro

acelerou a sofisticaccedilatildeo dos meacutetodos de lavagem de dinheiro despertando por

conseguinte a atenccedilatildeo internacional

O segundo capiacutetulo localizaraacute o lugar do Brasil no quadro internacional de

combate aos crimes de lavagem de dinheiro Para tanto seraacute necessaacuterio se

concentrar na tipificaccedilatildeo desses delitos de acordo com a legislaccedilatildeo brasileira Em

seguida realizar-se-aacute uma comparaccedilatildeo entre o Direito nacional e algumas diretrizes

internacionais que versam sobre o nosso tema Desta forma seraacute possiacutevel observar

em que medida o Brasil se insere na conjuntura internacional que cada vez mais

tende a tomar medidas mais eficazes a fim de combater os crimes de lavagem de

dinheiro

O terceiro capiacutetulo dedicar-se-aacute agrave contribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras no

que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de comunicar indiacutecios de operaccedilotildees ilegais de

branqueamento de capital Seratildeo cotejadas tambeacutem algumas notiacutecias veiculadas

pela imprensa exemplificando desta forma a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras

no processo de combate desses crimes assim como a accedilatildeo dos oacutergatildeos

responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo dos delitos

O quarto capiacutetulo por sua vez estudaraacute os sistemas anti-lavagem de dinheiro

nas instituiccedilotildees financeiras mediante uma perspectiva criacutetica As perguntas que iratildeo

permear esse capiacutetulo seratildeo como se caracterizam esses sistemas Eles satildeo

eficazes Haacute celeridade no combate a esses delitos Todas essas questotildees seratildeo

respondidas mediante consideraccedilotildees consistentes baseadas na confrontaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo com a realidade nessas instituiccedilotildees

Por fim seratildeo apresentadas as conclusotildees resultantes dessas reflexotildees e a

bibliografia que auxiliou este trabalho

Eacute preciso ressaltar que no mundo atual em que cada vez mais a velocidade

nas trocas de informaccedilatildeo e movimentaccedilotildees financeiras facilitam a lavagem de

dinheiro1 eacute de pleno interesse dos profissionais da contabilidade todo e qualquer

esforccedilo de se manter ciente sobre esses delitos e os mecanismos que se ocupam

em combatecirc-los O principal objetivo desse trabalho eacute contribuir com tal tarefa

1 A globalizaccedilatildeo e os crimes de lavagem de dinheiro In In verbi P415-416

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 3: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Jorge Tadeu Vieira Lourenccedilo pelas consideraccedilotildees sobre o

trabalho A minha mulher Rita que sempre procurou aveludar os difiacuteceis

caminhos por onde passei

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal um panorama das cinco

maiores instituiccedilotildees financeiras que atuam no mercado brasileiro quanto a sua

poliacutetica corporativa na implementaccedilatildeo de sistemas de controle interno para combate

ao crime de lavagem de dinheiro e outros especificados na Lei 96131998 que

dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a

prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei

como tambeacutem a preocupaccedilatildeo institucional no tocante a responsabilidade social no

combate a esse iliacutecito aleacutem de apurar a efetividade do programa de combate a

lavagem de dinheiro implementado em uma das instituiccedilotildees financeiras

pesquisadas Para a realizaccedilatildeo desse breve estudo foi apresentado uma discussatildeo

bibliograacutefica sobre o tema algumas poliacuteticas adotadas pelas instituiccedilotildees financeiras

e a apresentaccedilatildeo de textos legais

SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 05 1 CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO 07

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro 08

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito internacional 09

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado 10 2 A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO BRASIL 12

21 A relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de lavagem de dinheiro 17

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil 21 3 A CONTRIBUICcedilAtildeO DAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS A OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR 24 31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros 28 32 A obrigaccedilatildeo de comunicar 31

4 O SISTEMA ANTI-LD NAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA 33 41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de dinheiro 34

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de lavagem de dinheiro 38 CONCLUSAtildeO 40 BIBLIOGRAFIA 42

ANEXO 45

INTRODUCcedilAtildeO

O tema lavagem de dinheiro eacute de grande relevacircncia Atividades do tipo

necessariamente vecircm acompanhadas de outros crimes de gravidade consideraacutevel

para quase todos os paiacuteses Ocidentais Assim a celeridade e efetividade na

repressatildeo da lavagem do dinheiro resultam em uma maior eficaacutecia no combate a

delitos ligados ao terrorismo narcotraacutefico dentre outros

Diante desse fato os paiacuteses que mais se destacam em termos econocircmicos

ocuparam-se com uma seacuterie de regulamentaccedilotildees com o objetivo de combater a

lavagem do dinheiro concomitantemente agrave repressatildeo das atividades ilegais de

abrangecircncia internacional Explicita-se dessa forma a inquestionaacutevel necessidade

dos profissionais de contabilidade de refletir sobre esse assunto sobretudo no

Brasil paiacutes em que regularmente se observa a figuraccedilatildeo de fraudes dessa natureza

O trabalho que se segue objetiva justamente tecer consideraccedilotildees acerca

desse tema Tal tarefa seraacute realizada mediante a anaacutelise de uma gama heterogecircnea

de documentos tais como os de natureza legislativa que regulam as movimentaccedilotildees

financeiras Utilizar-se-aacute tambeacutem uma bibliografia sobre o assunto redigida por

especialistas de aacutereas diversas como advogados e contadores Desta forma se

buscaraacute apresentar as convergecircncias e divergecircncias concernentes agrave mateacuteria

presentes nesses escritos Para tanto seraacute aplicado o meacutetodo comparativo

As notiacutecias veiculadas pela imprensa tambeacutem deveratildeo ser analisadas com o

objetivo de vislumbrar o impacto efetivo das deliberaccedilotildees legislativas que se ocupam

da repressatildeo agrave lavagem de dinheiro em termos socialmente pragmaacuteticos ou seja

tais deliberaccedilotildees de fato arrefecem os delitos

O enfoque do trabalho seraacute na anaacutelise dos mecanismos utilizados no combate

aos crimes de lavagem de dinheiro no acircmbito institucional financeiro com ecircnfase no

Brasil Natildeo obstante tratar-se-aacute da sua obrigaccedilatildeo em comunicar agrave responsabilidade

social sobre delitos dessa natureza

O trabalho estaacute organizado em quatro capiacutetulos

O primeiro apresentaraacute o tema de acordo com seu desenvolvimento histoacuterico

Nessa parte seratildeo discutidas as accedilotildees que visam arrefecer os crimes de lavagem de

dinheiro no decorrer da histoacuteria em especial a partir do incremento da globalizaccedilatildeo

Sabe-se que a globalizaccedilatildeo a velocidade das mudanccedilas no sistema financeiro

acelerou a sofisticaccedilatildeo dos meacutetodos de lavagem de dinheiro despertando por

conseguinte a atenccedilatildeo internacional

O segundo capiacutetulo localizaraacute o lugar do Brasil no quadro internacional de

combate aos crimes de lavagem de dinheiro Para tanto seraacute necessaacuterio se

concentrar na tipificaccedilatildeo desses delitos de acordo com a legislaccedilatildeo brasileira Em

seguida realizar-se-aacute uma comparaccedilatildeo entre o Direito nacional e algumas diretrizes

internacionais que versam sobre o nosso tema Desta forma seraacute possiacutevel observar

em que medida o Brasil se insere na conjuntura internacional que cada vez mais

tende a tomar medidas mais eficazes a fim de combater os crimes de lavagem de

dinheiro

O terceiro capiacutetulo dedicar-se-aacute agrave contribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras no

que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de comunicar indiacutecios de operaccedilotildees ilegais de

branqueamento de capital Seratildeo cotejadas tambeacutem algumas notiacutecias veiculadas

pela imprensa exemplificando desta forma a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras

no processo de combate desses crimes assim como a accedilatildeo dos oacutergatildeos

responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo dos delitos

O quarto capiacutetulo por sua vez estudaraacute os sistemas anti-lavagem de dinheiro

nas instituiccedilotildees financeiras mediante uma perspectiva criacutetica As perguntas que iratildeo

permear esse capiacutetulo seratildeo como se caracterizam esses sistemas Eles satildeo

eficazes Haacute celeridade no combate a esses delitos Todas essas questotildees seratildeo

respondidas mediante consideraccedilotildees consistentes baseadas na confrontaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo com a realidade nessas instituiccedilotildees

Por fim seratildeo apresentadas as conclusotildees resultantes dessas reflexotildees e a

bibliografia que auxiliou este trabalho

Eacute preciso ressaltar que no mundo atual em que cada vez mais a velocidade

nas trocas de informaccedilatildeo e movimentaccedilotildees financeiras facilitam a lavagem de

dinheiro1 eacute de pleno interesse dos profissionais da contabilidade todo e qualquer

esforccedilo de se manter ciente sobre esses delitos e os mecanismos que se ocupam

em combatecirc-los O principal objetivo desse trabalho eacute contribuir com tal tarefa

1 A globalizaccedilatildeo e os crimes de lavagem de dinheiro In In verbi P415-416

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 4: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal um panorama das cinco

maiores instituiccedilotildees financeiras que atuam no mercado brasileiro quanto a sua

poliacutetica corporativa na implementaccedilatildeo de sistemas de controle interno para combate

ao crime de lavagem de dinheiro e outros especificados na Lei 96131998 que

dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a

prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei

como tambeacutem a preocupaccedilatildeo institucional no tocante a responsabilidade social no

combate a esse iliacutecito aleacutem de apurar a efetividade do programa de combate a

lavagem de dinheiro implementado em uma das instituiccedilotildees financeiras

pesquisadas Para a realizaccedilatildeo desse breve estudo foi apresentado uma discussatildeo

bibliograacutefica sobre o tema algumas poliacuteticas adotadas pelas instituiccedilotildees financeiras

e a apresentaccedilatildeo de textos legais

SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 05 1 CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO 07

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro 08

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito internacional 09

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado 10 2 A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO BRASIL 12

21 A relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de lavagem de dinheiro 17

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil 21 3 A CONTRIBUICcedilAtildeO DAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS A OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR 24 31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros 28 32 A obrigaccedilatildeo de comunicar 31

4 O SISTEMA ANTI-LD NAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA 33 41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de dinheiro 34

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de lavagem de dinheiro 38 CONCLUSAtildeO 40 BIBLIOGRAFIA 42

ANEXO 45

INTRODUCcedilAtildeO

O tema lavagem de dinheiro eacute de grande relevacircncia Atividades do tipo

necessariamente vecircm acompanhadas de outros crimes de gravidade consideraacutevel

para quase todos os paiacuteses Ocidentais Assim a celeridade e efetividade na

repressatildeo da lavagem do dinheiro resultam em uma maior eficaacutecia no combate a

delitos ligados ao terrorismo narcotraacutefico dentre outros

Diante desse fato os paiacuteses que mais se destacam em termos econocircmicos

ocuparam-se com uma seacuterie de regulamentaccedilotildees com o objetivo de combater a

lavagem do dinheiro concomitantemente agrave repressatildeo das atividades ilegais de

abrangecircncia internacional Explicita-se dessa forma a inquestionaacutevel necessidade

dos profissionais de contabilidade de refletir sobre esse assunto sobretudo no

Brasil paiacutes em que regularmente se observa a figuraccedilatildeo de fraudes dessa natureza

O trabalho que se segue objetiva justamente tecer consideraccedilotildees acerca

desse tema Tal tarefa seraacute realizada mediante a anaacutelise de uma gama heterogecircnea

de documentos tais como os de natureza legislativa que regulam as movimentaccedilotildees

financeiras Utilizar-se-aacute tambeacutem uma bibliografia sobre o assunto redigida por

especialistas de aacutereas diversas como advogados e contadores Desta forma se

buscaraacute apresentar as convergecircncias e divergecircncias concernentes agrave mateacuteria

presentes nesses escritos Para tanto seraacute aplicado o meacutetodo comparativo

As notiacutecias veiculadas pela imprensa tambeacutem deveratildeo ser analisadas com o

objetivo de vislumbrar o impacto efetivo das deliberaccedilotildees legislativas que se ocupam

da repressatildeo agrave lavagem de dinheiro em termos socialmente pragmaacuteticos ou seja

tais deliberaccedilotildees de fato arrefecem os delitos

O enfoque do trabalho seraacute na anaacutelise dos mecanismos utilizados no combate

aos crimes de lavagem de dinheiro no acircmbito institucional financeiro com ecircnfase no

Brasil Natildeo obstante tratar-se-aacute da sua obrigaccedilatildeo em comunicar agrave responsabilidade

social sobre delitos dessa natureza

O trabalho estaacute organizado em quatro capiacutetulos

O primeiro apresentaraacute o tema de acordo com seu desenvolvimento histoacuterico

Nessa parte seratildeo discutidas as accedilotildees que visam arrefecer os crimes de lavagem de

dinheiro no decorrer da histoacuteria em especial a partir do incremento da globalizaccedilatildeo

Sabe-se que a globalizaccedilatildeo a velocidade das mudanccedilas no sistema financeiro

acelerou a sofisticaccedilatildeo dos meacutetodos de lavagem de dinheiro despertando por

conseguinte a atenccedilatildeo internacional

O segundo capiacutetulo localizaraacute o lugar do Brasil no quadro internacional de

combate aos crimes de lavagem de dinheiro Para tanto seraacute necessaacuterio se

concentrar na tipificaccedilatildeo desses delitos de acordo com a legislaccedilatildeo brasileira Em

seguida realizar-se-aacute uma comparaccedilatildeo entre o Direito nacional e algumas diretrizes

internacionais que versam sobre o nosso tema Desta forma seraacute possiacutevel observar

em que medida o Brasil se insere na conjuntura internacional que cada vez mais

tende a tomar medidas mais eficazes a fim de combater os crimes de lavagem de

dinheiro

O terceiro capiacutetulo dedicar-se-aacute agrave contribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras no

que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de comunicar indiacutecios de operaccedilotildees ilegais de

branqueamento de capital Seratildeo cotejadas tambeacutem algumas notiacutecias veiculadas

pela imprensa exemplificando desta forma a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras

no processo de combate desses crimes assim como a accedilatildeo dos oacutergatildeos

responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo dos delitos

O quarto capiacutetulo por sua vez estudaraacute os sistemas anti-lavagem de dinheiro

nas instituiccedilotildees financeiras mediante uma perspectiva criacutetica As perguntas que iratildeo

permear esse capiacutetulo seratildeo como se caracterizam esses sistemas Eles satildeo

eficazes Haacute celeridade no combate a esses delitos Todas essas questotildees seratildeo

respondidas mediante consideraccedilotildees consistentes baseadas na confrontaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo com a realidade nessas instituiccedilotildees

Por fim seratildeo apresentadas as conclusotildees resultantes dessas reflexotildees e a

bibliografia que auxiliou este trabalho

Eacute preciso ressaltar que no mundo atual em que cada vez mais a velocidade

nas trocas de informaccedilatildeo e movimentaccedilotildees financeiras facilitam a lavagem de

dinheiro1 eacute de pleno interesse dos profissionais da contabilidade todo e qualquer

esforccedilo de se manter ciente sobre esses delitos e os mecanismos que se ocupam

em combatecirc-los O principal objetivo desse trabalho eacute contribuir com tal tarefa

1 A globalizaccedilatildeo e os crimes de lavagem de dinheiro In In verbi P415-416

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 5: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 05 1 CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO 07

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro 08

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito internacional 09

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado 10 2 A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO BRASIL 12

21 A relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de lavagem de dinheiro 17

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil 21 3 A CONTRIBUICcedilAtildeO DAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS A OBRIGACcedilAtildeO DE COMUNICAR 24 31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros 28 32 A obrigaccedilatildeo de comunicar 31

4 O SISTEMA ANTI-LD NAS INSTITUICcedilOtildeES FINANCEIRAS UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA 33 41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de dinheiro 34

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de lavagem de dinheiro 38 CONCLUSAtildeO 40 BIBLIOGRAFIA 42

ANEXO 45

INTRODUCcedilAtildeO

O tema lavagem de dinheiro eacute de grande relevacircncia Atividades do tipo

necessariamente vecircm acompanhadas de outros crimes de gravidade consideraacutevel

para quase todos os paiacuteses Ocidentais Assim a celeridade e efetividade na

repressatildeo da lavagem do dinheiro resultam em uma maior eficaacutecia no combate a

delitos ligados ao terrorismo narcotraacutefico dentre outros

Diante desse fato os paiacuteses que mais se destacam em termos econocircmicos

ocuparam-se com uma seacuterie de regulamentaccedilotildees com o objetivo de combater a

lavagem do dinheiro concomitantemente agrave repressatildeo das atividades ilegais de

abrangecircncia internacional Explicita-se dessa forma a inquestionaacutevel necessidade

dos profissionais de contabilidade de refletir sobre esse assunto sobretudo no

Brasil paiacutes em que regularmente se observa a figuraccedilatildeo de fraudes dessa natureza

O trabalho que se segue objetiva justamente tecer consideraccedilotildees acerca

desse tema Tal tarefa seraacute realizada mediante a anaacutelise de uma gama heterogecircnea

de documentos tais como os de natureza legislativa que regulam as movimentaccedilotildees

financeiras Utilizar-se-aacute tambeacutem uma bibliografia sobre o assunto redigida por

especialistas de aacutereas diversas como advogados e contadores Desta forma se

buscaraacute apresentar as convergecircncias e divergecircncias concernentes agrave mateacuteria

presentes nesses escritos Para tanto seraacute aplicado o meacutetodo comparativo

As notiacutecias veiculadas pela imprensa tambeacutem deveratildeo ser analisadas com o

objetivo de vislumbrar o impacto efetivo das deliberaccedilotildees legislativas que se ocupam

da repressatildeo agrave lavagem de dinheiro em termos socialmente pragmaacuteticos ou seja

tais deliberaccedilotildees de fato arrefecem os delitos

O enfoque do trabalho seraacute na anaacutelise dos mecanismos utilizados no combate

aos crimes de lavagem de dinheiro no acircmbito institucional financeiro com ecircnfase no

Brasil Natildeo obstante tratar-se-aacute da sua obrigaccedilatildeo em comunicar agrave responsabilidade

social sobre delitos dessa natureza

O trabalho estaacute organizado em quatro capiacutetulos

O primeiro apresentaraacute o tema de acordo com seu desenvolvimento histoacuterico

Nessa parte seratildeo discutidas as accedilotildees que visam arrefecer os crimes de lavagem de

dinheiro no decorrer da histoacuteria em especial a partir do incremento da globalizaccedilatildeo

Sabe-se que a globalizaccedilatildeo a velocidade das mudanccedilas no sistema financeiro

acelerou a sofisticaccedilatildeo dos meacutetodos de lavagem de dinheiro despertando por

conseguinte a atenccedilatildeo internacional

O segundo capiacutetulo localizaraacute o lugar do Brasil no quadro internacional de

combate aos crimes de lavagem de dinheiro Para tanto seraacute necessaacuterio se

concentrar na tipificaccedilatildeo desses delitos de acordo com a legislaccedilatildeo brasileira Em

seguida realizar-se-aacute uma comparaccedilatildeo entre o Direito nacional e algumas diretrizes

internacionais que versam sobre o nosso tema Desta forma seraacute possiacutevel observar

em que medida o Brasil se insere na conjuntura internacional que cada vez mais

tende a tomar medidas mais eficazes a fim de combater os crimes de lavagem de

dinheiro

O terceiro capiacutetulo dedicar-se-aacute agrave contribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras no

que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de comunicar indiacutecios de operaccedilotildees ilegais de

branqueamento de capital Seratildeo cotejadas tambeacutem algumas notiacutecias veiculadas

pela imprensa exemplificando desta forma a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras

no processo de combate desses crimes assim como a accedilatildeo dos oacutergatildeos

responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo dos delitos

O quarto capiacutetulo por sua vez estudaraacute os sistemas anti-lavagem de dinheiro

nas instituiccedilotildees financeiras mediante uma perspectiva criacutetica As perguntas que iratildeo

permear esse capiacutetulo seratildeo como se caracterizam esses sistemas Eles satildeo

eficazes Haacute celeridade no combate a esses delitos Todas essas questotildees seratildeo

respondidas mediante consideraccedilotildees consistentes baseadas na confrontaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo com a realidade nessas instituiccedilotildees

Por fim seratildeo apresentadas as conclusotildees resultantes dessas reflexotildees e a

bibliografia que auxiliou este trabalho

Eacute preciso ressaltar que no mundo atual em que cada vez mais a velocidade

nas trocas de informaccedilatildeo e movimentaccedilotildees financeiras facilitam a lavagem de

dinheiro1 eacute de pleno interesse dos profissionais da contabilidade todo e qualquer

esforccedilo de se manter ciente sobre esses delitos e os mecanismos que se ocupam

em combatecirc-los O principal objetivo desse trabalho eacute contribuir com tal tarefa

1 A globalizaccedilatildeo e os crimes de lavagem de dinheiro In In verbi P415-416

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 6: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

INTRODUCcedilAtildeO

O tema lavagem de dinheiro eacute de grande relevacircncia Atividades do tipo

necessariamente vecircm acompanhadas de outros crimes de gravidade consideraacutevel

para quase todos os paiacuteses Ocidentais Assim a celeridade e efetividade na

repressatildeo da lavagem do dinheiro resultam em uma maior eficaacutecia no combate a

delitos ligados ao terrorismo narcotraacutefico dentre outros

Diante desse fato os paiacuteses que mais se destacam em termos econocircmicos

ocuparam-se com uma seacuterie de regulamentaccedilotildees com o objetivo de combater a

lavagem do dinheiro concomitantemente agrave repressatildeo das atividades ilegais de

abrangecircncia internacional Explicita-se dessa forma a inquestionaacutevel necessidade

dos profissionais de contabilidade de refletir sobre esse assunto sobretudo no

Brasil paiacutes em que regularmente se observa a figuraccedilatildeo de fraudes dessa natureza

O trabalho que se segue objetiva justamente tecer consideraccedilotildees acerca

desse tema Tal tarefa seraacute realizada mediante a anaacutelise de uma gama heterogecircnea

de documentos tais como os de natureza legislativa que regulam as movimentaccedilotildees

financeiras Utilizar-se-aacute tambeacutem uma bibliografia sobre o assunto redigida por

especialistas de aacutereas diversas como advogados e contadores Desta forma se

buscaraacute apresentar as convergecircncias e divergecircncias concernentes agrave mateacuteria

presentes nesses escritos Para tanto seraacute aplicado o meacutetodo comparativo

As notiacutecias veiculadas pela imprensa tambeacutem deveratildeo ser analisadas com o

objetivo de vislumbrar o impacto efetivo das deliberaccedilotildees legislativas que se ocupam

da repressatildeo agrave lavagem de dinheiro em termos socialmente pragmaacuteticos ou seja

tais deliberaccedilotildees de fato arrefecem os delitos

O enfoque do trabalho seraacute na anaacutelise dos mecanismos utilizados no combate

aos crimes de lavagem de dinheiro no acircmbito institucional financeiro com ecircnfase no

Brasil Natildeo obstante tratar-se-aacute da sua obrigaccedilatildeo em comunicar agrave responsabilidade

social sobre delitos dessa natureza

O trabalho estaacute organizado em quatro capiacutetulos

O primeiro apresentaraacute o tema de acordo com seu desenvolvimento histoacuterico

Nessa parte seratildeo discutidas as accedilotildees que visam arrefecer os crimes de lavagem de

dinheiro no decorrer da histoacuteria em especial a partir do incremento da globalizaccedilatildeo

Sabe-se que a globalizaccedilatildeo a velocidade das mudanccedilas no sistema financeiro

acelerou a sofisticaccedilatildeo dos meacutetodos de lavagem de dinheiro despertando por

conseguinte a atenccedilatildeo internacional

O segundo capiacutetulo localizaraacute o lugar do Brasil no quadro internacional de

combate aos crimes de lavagem de dinheiro Para tanto seraacute necessaacuterio se

concentrar na tipificaccedilatildeo desses delitos de acordo com a legislaccedilatildeo brasileira Em

seguida realizar-se-aacute uma comparaccedilatildeo entre o Direito nacional e algumas diretrizes

internacionais que versam sobre o nosso tema Desta forma seraacute possiacutevel observar

em que medida o Brasil se insere na conjuntura internacional que cada vez mais

tende a tomar medidas mais eficazes a fim de combater os crimes de lavagem de

dinheiro

O terceiro capiacutetulo dedicar-se-aacute agrave contribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras no

que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de comunicar indiacutecios de operaccedilotildees ilegais de

branqueamento de capital Seratildeo cotejadas tambeacutem algumas notiacutecias veiculadas

pela imprensa exemplificando desta forma a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras

no processo de combate desses crimes assim como a accedilatildeo dos oacutergatildeos

responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo dos delitos

O quarto capiacutetulo por sua vez estudaraacute os sistemas anti-lavagem de dinheiro

nas instituiccedilotildees financeiras mediante uma perspectiva criacutetica As perguntas que iratildeo

permear esse capiacutetulo seratildeo como se caracterizam esses sistemas Eles satildeo

eficazes Haacute celeridade no combate a esses delitos Todas essas questotildees seratildeo

respondidas mediante consideraccedilotildees consistentes baseadas na confrontaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo com a realidade nessas instituiccedilotildees

Por fim seratildeo apresentadas as conclusotildees resultantes dessas reflexotildees e a

bibliografia que auxiliou este trabalho

Eacute preciso ressaltar que no mundo atual em que cada vez mais a velocidade

nas trocas de informaccedilatildeo e movimentaccedilotildees financeiras facilitam a lavagem de

dinheiro1 eacute de pleno interesse dos profissionais da contabilidade todo e qualquer

esforccedilo de se manter ciente sobre esses delitos e os mecanismos que se ocupam

em combatecirc-los O principal objetivo desse trabalho eacute contribuir com tal tarefa

1 A globalizaccedilatildeo e os crimes de lavagem de dinheiro In In verbi P415-416

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 7: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

dinheiro no decorrer da histoacuteria em especial a partir do incremento da globalizaccedilatildeo

Sabe-se que a globalizaccedilatildeo a velocidade das mudanccedilas no sistema financeiro

acelerou a sofisticaccedilatildeo dos meacutetodos de lavagem de dinheiro despertando por

conseguinte a atenccedilatildeo internacional

O segundo capiacutetulo localizaraacute o lugar do Brasil no quadro internacional de

combate aos crimes de lavagem de dinheiro Para tanto seraacute necessaacuterio se

concentrar na tipificaccedilatildeo desses delitos de acordo com a legislaccedilatildeo brasileira Em

seguida realizar-se-aacute uma comparaccedilatildeo entre o Direito nacional e algumas diretrizes

internacionais que versam sobre o nosso tema Desta forma seraacute possiacutevel observar

em que medida o Brasil se insere na conjuntura internacional que cada vez mais

tende a tomar medidas mais eficazes a fim de combater os crimes de lavagem de

dinheiro

O terceiro capiacutetulo dedicar-se-aacute agrave contribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras no

que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de comunicar indiacutecios de operaccedilotildees ilegais de

branqueamento de capital Seratildeo cotejadas tambeacutem algumas notiacutecias veiculadas

pela imprensa exemplificando desta forma a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras

no processo de combate desses crimes assim como a accedilatildeo dos oacutergatildeos

responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo dos delitos

O quarto capiacutetulo por sua vez estudaraacute os sistemas anti-lavagem de dinheiro

nas instituiccedilotildees financeiras mediante uma perspectiva criacutetica As perguntas que iratildeo

permear esse capiacutetulo seratildeo como se caracterizam esses sistemas Eles satildeo

eficazes Haacute celeridade no combate a esses delitos Todas essas questotildees seratildeo

respondidas mediante consideraccedilotildees consistentes baseadas na confrontaccedilatildeo da

legislaccedilatildeo com a realidade nessas instituiccedilotildees

Por fim seratildeo apresentadas as conclusotildees resultantes dessas reflexotildees e a

bibliografia que auxiliou este trabalho

Eacute preciso ressaltar que no mundo atual em que cada vez mais a velocidade

nas trocas de informaccedilatildeo e movimentaccedilotildees financeiras facilitam a lavagem de

dinheiro1 eacute de pleno interesse dos profissionais da contabilidade todo e qualquer

esforccedilo de se manter ciente sobre esses delitos e os mecanismos que se ocupam

em combatecirc-los O principal objetivo desse trabalho eacute contribuir com tal tarefa

1 A globalizaccedilatildeo e os crimes de lavagem de dinheiro In In verbi P415-416

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 8: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

CAPIacuteTULO I

CONCEITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O estudo de qualquer tema exige uma delimitaccedilatildeo do conceito principal O

conceito que norteia esse trabalho eacute o de ldquoLavagem de Dinheirordquo e um dos nossos

primeiros passos seraacute compreender o significado dessa expressatildeo Cabe ressaltar

inicialmente que nem em todos os paiacuteses os crimes dessa natureza recebem essa

alcunha Na Argentina por exemplo chama-se lavado de dintildeero na Espanha por

sua vez blanqueo de dintildeero em Portugal fala-se em branqueamento de dinheiro na

Franccedila e Beacutelgica recebe o nome de blanchiment dacuteargent e na Itaacutelia de riciclaggio

(PINHEIRO 2001) A despeito das vaacuterias nomenclaturas o crime eacute reconhecido por

um ato especiacutefico

A expressatildeo ldquolavagem de dinheirordquo adveacutem das organizaccedilotildees criminosas

estadunidenses da deacutecada de 1920 que costumavam montar lavanderias para

ocultar os valores de origem iliacutecita A raacutepida entrada e saiacuteda de dinheiro nesse tipo

de negoacutecio facilitavam a inserccedilatildeo dos valores obtidos de forma iliacutecita nos valores

liacutecitos oriundos das lavanderias Todavia a emergecircncia de sistemas financeiros mais

complexos exigiu a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas para lavar o dinheiro conforme se

observaraacute no decorrer desse texto (SILVA 2002)

No que concerne ao significado da expressatildeo conforme Ziegler a lavagem

de dinheiro consiste em transformar um capital adquirido por via obtusa portanto

ilegal em um capital legal (ZIEGLER 2001) Por esse caminho um criminoso ou

uma organizaccedilatildeo criminosa transforma recursos gerados em atividades ilegais em

um capital limpo aparentemente adquirido por atividades legais (BARROS 1998)

As operaccedilotildees dessa natureza exigem um amplo conhecimento acerca dos

sistemas financeiros e de teacutecnicas para fazer uso destes a fim de evitar a descoberta

por parte das autoridades das atividades ilegais realizadas Em contrapartida com a

cada vez maior especializaccedilatildeo dos criminosos as autoridades devem tambeacutem

conhecer muito bem o sistema financeiro descobrir as vias de remessa de capital e

as formas mais usuais de lavagem de dinheiro

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 9: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

11 Principais fases do processo de lavagem de dinheiro

Conforme Silva (2002) o esquema internacional de lavagem de dinheiro

segue trecircs fases a saber

A primeira fase consiste no envio ilegal do dinheiro para fora do paiacutes

Comumente essa remessa eacute enviada mediante o transporte do dinheiro para o

exterior realizado por carregadores (ou ldquomulasrdquo) Utiliza-se tambeacutem o correio ou

outras formas de contrabando Todavia a teacutecnica mais raacutepida e segura eacute a

transferecircncia eletrocircnica dos fundos geralmente para paraiacutesos fiscais

Muitas vezes essa primeira etapa pode ser realizada mediante a

transformaccedilatildeo do dinheiro em bens materiais como joacuteias obras de arte conversotildees

em casas de cacircmbio cassinos etc

A segunda fase corresponde agrave realizaccedilatildeo de operaccedilotildees com o fim de dificultar

o rastreamento contaacutebil do dinheiro enviado para o exterior Envolve o controle ou

ldquomascaramentordquo da ilegalidade do dinheiro

Eacute comum nessa etapa a superposiccedilatildeo de transaccedilotildees financeira para que

seja dificultada qualquer tentativa de ligar os bens ou ativos iliacutecitos do criminoso que

iniciou o processo

Silva (2002) salienta que

Essa operaccedilatildeo pode ser realizada atraveacutes da conversatildeo de dinheiro em instrumentos financeiros investimentos imobiliaacuterios superfaturamento em exportaccedilotildees etc

A terceira fase conhecida como ldquointegraccedilatildeordquo ou propriamente ldquolavagem do

dinheiro sujordquo Nesta etapa os criminosos se concentram na repatriaccedilatildeo do ativo

Assim como na segunda etapa todo o processo realizado na terceira fase intenta

dificultar o estabelecimento do viacutenculo entre os criminosos e o dinheiro ou bens

materiais mediante o rastreamento contaacutebil

Essa terceira fase finaliza toda a operaccedilatildeo de lavagem jaacute tendo sido apagada

a origem iliacutecita do dinheiro cabe aos criminosos retomarem os ativos desta vez por

vias legais Dentre os mecanismos legais utilizados para essa etapa salientam-se

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 10: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Empreacutestimos de bancos ou empresas estrangeiras pagamento de cartas de creacutedito taxas de consultoria arrendamento ou serviccedilos fictiacutecios e superfaturamento (SILVA 2002)

Embora estas trecircs fases exemplifiquem bem o esquema de lavagem de

dinheiro em sua forma de realizaccedilatildeo cabe ressaltar que estas teacutecnicas natildeo satildeo as

uacutenicas utilizadas Cada vez mais novas maneiras de limpar ativos iliacutecitos tecircm sido

criadas e esquematizadas e isto ocorre de maneira tatildeo sofisticada que se torna

efetivamente difiacutecil detectar a fraude

Como eacute possiacutevel perceber as autoridades lidam com um complexo sistema

que exige um esforccedilo extenuante para ser reprimido

12 Medidas para combater a lavagem de dinheiro em acircmbito

internacional

Dentre as atitudes tomadas para impedir a lavagem de dinheiro foi

fundamental a Convenccedilatildeo de Viena realizada em 1988 Este Encontro objetivou

estabelecer diretrizes para o combate do narcotraacutefico e por conseguinte

reconheceu a importacircncia da lavagem de dinheiro para sustentar tal delito Desta

forma dentre os assuntos discutidos na Convenccedilatildeo efetivamente o tema da

lavagem de dinheiro ganhou destaque

Esta Convenccedilatildeo teve desdobramentos importantes para a repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro Dentre os citados desdobramentos destacamos a criaccedilatildeo do

FATF-GAFI sigla que significa Financial Action Task Force on Money Laundering

O FATF-GAFI eacute um dos principais agentes internacionais que coordenam as

operaccedilotildees contra a lavagem de dinheiro Foi criado em 1989 por iniciativa do entatildeo

G72 o grupo dos sete paiacuteses mais ricos do mundo (BARBOSA et PERRICONE

1999)

O Brasil natildeo esteve alheio agrave tendecircncia internacional de combate agrave lavagem

de dinheiro Em 1998 foi criada a lei 9613 que dispotildee sobre os crimes de lavagem e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (BARBOSA et PERRICONE 1999) Ainda em 2 Atual G-8

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 11: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

1998 criou-se tambeacutem o COAF ndash Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash

oacutergatildeo do governo federal concentrado exclusivamente ao combate de lavagem de

dinheiro

Todavia tanto a sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas de lavagem de dinheiro quanto agraves

medidas tomadas em acircmbito internacional e nacional para combater essas

atividades iliacutecitas devem ser entendidas tendo em vista um fenocircmeno mais amplo

que se impotildee em todas as sociedades modernas e que portanto deve ser melhor

compreendido Fala-se aqui da globalizaccedilatildeo

13 A lavagem de dinheiro no contexto do mundo globalizado

De acordo com Celso Furtado a globalizaccedilatildeo deve ser entendida por duas

vias A primeira consiste em entender a globalizaccedilatildeo como um processo antigo

decorrente da evoluccedilatildeo gradativa da tecnologia a este movimento denomina-se

ldquoglobalizaccedilatildeo abrangente das atividades produtivasrdquo A segunda via recebe a

alcunha de ldquoglobalizaccedilatildeo dos fluxos financeiros e monetaacuteriosrdquo que ocorrem tendo

por centro as maiores potecircncias econocircmicas como os Estados Unidos alguns

paiacuteses Europeus e o Japatildeo (FURTADO 1999)

Deste segundo conceito de globalizaccedilatildeo presume-se tambeacutem que as

barreiras que arrefecem os fluxos de capitais satildeo cada vez menos efetivas De fato

dentre as consequumlecircncias da globalizaccedilatildeo impera a concepccedilatildeo de um sistema

financeiro globalizado onde as empresas se destacam no controle econocircmico em

detrimento ao Estado Nessa conjuntura em que a entrada e saiacuteda de capital eacute

extremamente facilitada residem alguns problemas como a lavagem de dinheiro

Efetivamente a globalizaccedilatildeo redundou em uma maior complexidade dos

sistemas financeiros No que se refere ao trabalho aqui realizado essa maior

complexidade resultou em uma ampla utilizaccedilatildeo por parte dos criminosos das

barreiras pouco riacutegidas entre os sistemas financeiros Por outro lado suscitou

medidas coordenadas entre os paiacuteses para combater o volume imenso de remessas

ilegais de ativos que circulam pelas instituiccedilotildees financeiras dos paiacuteses mais

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 12: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

propiacutecios a facilitar a ocultaccedilatildeo da origem dos bens ou seja os chamados paraiacutesos

fiscais

Em um cenaacuterio econocircmico globalizado eacute de interesse dos centros

financeiros que controlam os fluxos monetaacuterios como salientou Furtado (1999) que

as transgressotildees sejam combatidas para a manutenccedilatildeo da harmonia dos fluxos

financeiros

Todavia a proacutepria tendecircncia da globalizaccedilatildeo dificulta a fiscalizaccedilatildeo das

movimentaccedilotildees financeiras uma vez que

Hoje passou a dominar a ideacuteia de que o Estado eacute um trambolho Mas sem o Estado o que fica O mercado E qual a lei do mercado Eacute a lei do mais forte a dos mais poderosos a do grande capital (FURTADO 1999)

Sabe-se que o papel fiscalizador do Estado no que concerne agraves

movimentaccedilotildees financeiras eacute deveras importante Com a diminuiccedilatildeo cada vez maior

do poder de accedilatildeo do Estado em detrimento agraves grandes corporaccedilotildees cria-se um

cenaacuterio de movimentaccedilatildeo financeira livre de fiscalizaccedilotildees eficazes algo muito

propiacutecio e seguro para a aplicaccedilatildeo de quantias altas e iliacutecitas

Feitas essas consideraccedilotildees fica evidente a importacircncia de pensar nos crimes

de lavagem de dinheiro em uma perspectiva ampla que privilegie o papel facilitador

que a globalizaccedilatildeo representa para esses atos obtusos

Nunca eacute demais ressaltar que a lavagem de dinheiro natildeo eacute um crime por si

soacute a essas atividades vecircm atrelados outros crimes de natureza grave como o

terrorismo e o narcotraacutefico os mesmos delitos que tanto incomodam as grandes

potecircncias que dominam a globalizaccedilatildeo

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 13: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

CAPITULO II

A TIPIFICACcedilAtildeO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

As uacuteltimas duas deacutecadas do seacuteculo XX representam momentos de grande

avanccedilo para a institucionalizaccedilatildeo de um sistema internacional destinado ao combate

ao crime de lavagem de dinheiro e bens A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas realizada em 1988 na cidade de Viena discutiu o combate ao trafico iliacutecito

de entorpecentes e substacircncias psicotroacutepicas por meio da prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave

lavagem de dinheiro e bens Era o primeiro passo para a elaboraccedilatildeo de uma seacuterie

de mecanismos internacionais que obrigassem os paiacuteses signataacuterios do tratado a

reprimir o crime de lavagem de dinheiro3

No Brasil a Convenccedilatildeo de Viena foi ratificada pelo Decreto nordm 154 de 26 de

junho de 1991 marcando assim o iniacutecio do processo que culminou com a criaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 que dispotildee sobre a lavagem de dinheiro e

ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores No processo que antecedeu a promulgaccedilatildeo da

Lei nordm 9613 o Senador Romeu Tuma em um dos seus pronunciamentos acerca da

lavagem de dinheiro afirmava que natildeo havia instrumentos que permitam agrave Poliacutecia

Federal agrave Receita Federal ao Ministeacuterio Puacuteblico ou agrave Justiccedila alcanccedilarem agrave lavagem

de dinheiro (Discusro 30011998) A mesma preocupaccedilatildeo pode ser percebida na

fala do Senador Francelino Pereira que faz um alerta aos legisladores e lembra que

3 Nos anos de 1990 vaacuterios foram os encontros internacionais em que o Brasil participou e confirmou a seu compromisso no combate ao crime de lavagem de dinheiro Em maio de 1992 o Brasil foi um dos paiacuteses que aprovaram o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos Conexos criado no acircmbito da Vigeacutesima Segunda Assembleacuteia-Geral da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Em dezembro de 1995 em Conferecircncia Ministerial sobre Lavagem de Dinheiro e Instrumento do Crime realizada em Buenos Aires o Brasil firmou Declaraccedilatildeo de Princiacutepios relativa ao tema inclusive quanto agrave tipificaccedilatildeo do delito e sobre regras processuais especiais E em 1997 durante a Sexageacutesima Sexta Assembleacuteia Geral da Interpol realizada em Nova Deacutelhi na Iacutendia a lavagem de dinheiro foi objeto das preocupaccedilotildees da entidade que definiu esse crime como qualquer tentativa ou atividade de ocultaccedilatildeo ou disfarce de fundos obtidos ilegalmente com o objetivo de fazecirc-los parecer de origem legal (PEREIRA Discurso 12111997)

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 14: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

natildeo haacute mecanismos coibidores das praacuteticas ilegais que envolvam o sistema

financeiro sobretudo no tocante agrave lavagem de dinheiro

O mais grave() eacute que o Paiacutes natildeo dispotildee ainda de uma legislaccedilatildeo rigorosa para punir o crime de lavagem de dinheiro Se a autoridade monetaacuteria eacute informada de que um laranja realiza operaccedilotildees ilegais de cacircmbio em algum ponto da fronteira a uacutenica providecircncia que pode ser tomada eacute determinar ao banco o encerramento da conta Nem mesmo uma medida mais punitiva ao gerente ou ao funcionaacuterio que aceitou fazer a operaccedilatildeo pode ser tomada No entanto desde dezembro de 1995 tramita na Cacircmara projeto de iniciativa do entatildeo Deputado Joseacute Fortunati dispondo sobre a repressatildeo ao ingresso no sistema financeiro de dinheiro oriundo de atividades iliacutecitas () Mais recentemente em dezembro do ano passado o Poder Executivo enviou projeto ao Congresso tratando da mesma mateacuteria e chamando-a pelo nome apropriado lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores (PEREIRA Discurso 12111997)

Apoacutes alguns debates no Congresso Nacional a lei de combate ao crime de

lavagem de dinheiro finalmente entra em vigor em 1998 Aleacutem de tipificar o crime de

lavagem de dinheiro a lei define quais os crimes que caracterizam essa praacutetica e

estabelece a criaccedilatildeo do COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras

oacutergatildeo responsaacutevel por ldquodisciplinar aplicar penas administrativas receber examinar

e identificar as ocorrecircncias suspeitas de atividades iliacutecitas previstas nesta Leirdquo

(BRASIL DOU 04031998)

Com base na noccedilatildeo de lavagem de dinheiro como um processo de ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo da origem criminosa de bens incorporando-os agrave economia com

aparecircncia de terem proveniecircncia iliacutecita tal processo pode ser entendido como um

crime acessoacuterio ou derivado ou seja soacute ocorre se houver crime anterior

Segundo a Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 03 de marccedilo de 1998 haacute

trecircs geraccedilotildees de legislaccedilatildeo no tocante aos crimes antecedentes A primeira diz

respeito agrave lavagem de dinheiro aos bens provenientes do traacutefico iliacutecito de

entorpecentes A segunda geraccedilatildeo corresponde agrave fase em que posteriormente

alguns paiacuteses aumentaram as hipoacuteteses de crimes antecedentes incluindo outras

infraccedilotildees penais em um grupo taxativo Jaacute a terceira geraccedilatildeo corresponde aos

outros sistemas juriacutedicos que optaram por conectar a lavagem de dinheiro a toda a

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 15: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

espeacutecie de infraccedilatildeo penal precedente Desse modo a legislaccedilatildeo brasileira seria de

segunda geraccedilatildeo

Na realidade o legislador brasileiro efetuou uma mistura entre a segunda e a

terceira geraccedilatildeo Ao mesmo tempo em que previu um conjunto de crimes

antecedentes (Lei 96131998 art 1deg I a VI e VIII) permitiu tambeacutem que qualquer

crime fosse precursor da lavagem de dinheiro desde que praticado por organizaccedilatildeo

criminosa (art 1deg VII) Dessa forma soacute existe necessidade de se enquadrar o crime

especificamente se ele natildeo for praticado por intermeacutedio de crime organizado

A ordenaccedilatildeo taxativa dos crimes relativos agrave lavagem de dinheiro levou em

consideraccedilatildeo a especial gravidade destes e sua relaccedilatildeo direta com as grandes

somas movimentadas Assim a principal caracteriacutestica desses delitos eacute uma

macrolesividade uma vez que atinge muitas vezes interesses sociais e quase

sempre geram uma enorme quantidade de dinheiro iliacutecito

O criteacuterio adotado pela lei requer frequumlentes atualizaccedilotildees visto que novas

modalidades de crimes podem se tornar lucrativas o suficiente para requererem a

lavagem de seus ativos Nesse sentido a enumeraccedilatildeo legal jaacute foi atualizada pela Lei

10467 de 1162002 que incluiu os crimes cometidos por particulares contra a

administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira e pela Lei 10701 de 972003 que acrescentou

o financiamento ao terrorismo

Levando em consideraccedilatildeo o fato de que a lavagem de dinheiro eacute um delito de

reconhecida transnacionalidade os Estados identificaram a necessidade de se

combater de forma uniforme esse processo Assim foram criados diversos

normativos internacionais que influenciaram diretamente a legislaccedilatildeo brasileira Por

isso a soluccedilatildeo de qualquer questatildeo referente ao tema deve passar

primordialmente pelo ordenamento juriacutedico internacional

As Recomendaccedilotildees do Grupo de Accedilatildeo Financeira Internacional (GAFI) satildeo de grande

relevacircncia visto que este organismo visa combater a lavagem de dinheiro As recomendaccedilotildees como

o proacuteprio nome indica natildeo possuem caraacuteter obrigatoacuterio poreacutem satildeo seguidas como uma ferramenta

modelo para as accedilotildees internacionais

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 16: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Jaacute na primeira recomendaccedilatildeo elaborada em 1993 ficou estabelecido que

esse tipo de delito deve ter a maior abrangecircncia possiacutevel abarcando todos os

denominados crimes graves Foram propostas duas formas para conceituar um

crime como grave A primeira eacute listar uma categoria de crimes graves ou definir um

limiar Os paracircmetros sugeridos para esse limiar foram a pena maacutexima (superior a

um ano) ou a pena miacutenima (superior a seis meses) podendo ateacute mesmo ser

realizada tambeacutem uma combinaccedilatildeo de ambas

Aleacutem do crime de lavagem de dinheiro podem ser destacados os seguintes

tipos de crimes graves o traacutefico de bens roubados e de outros bens o traacutefico de

seres humanos e o traacutefico iliacutecito de migrantes e as exploraccedilotildees sexuais incluindo a

exploraccedilatildeo sexual de crianccedilas Tambeacutem eacute disposto que cada Estado deveria tipificar

as condutas nos termos de seu direito interno

Observa-se a seguir a relevacircncia de uma enumeraccedilatildeo taxativa de crimes

antecedentes agrave lavagem de dinheiro A Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 de 1998

confirma esse criteacuterio mostrando que sem ele haveria uma massificaccedilatildeo da

criminalizaccedilatildeo para abranger uma ilimitada quantidade de crimes como

antecedentes do tipo de lavagem ou de ocultaccedilatildeo Dessa forma o autor do furto de

pequeno valor estaria efetuando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o

valor ou o convertesse em outro bem

No entanto a posiccedilatildeo adotada pela lei e por parte da doutrina apresenta

graves inconvenientes dentre os quais podem ser destacados os seguintes A

criminalidade eacute um processo dinacircmico e vaacuterias condutas que agrave eacutepoca da lei natildeo

acarretavam macrolesividade atualmente passam a ter esse caraacuteter Do mesmo

modo um dado crime pode com o decorrer do tempo deixar de ser caracterizado

como grave ou ateacute mesmo ser abolido O legislador teria de contar entatildeo com

excepcional atenccedilatildeo para realizar constantemente a atualizaccedilatildeo da lei

Outra questatildeo grave eacute a habitual falta de teacutecnica por parte do legislador Na

proacutepria Lei 9613 de 1998 existem exemplos disso apesar de previsto como crime

antecedente natildeo haacute o tipo penal do terrorismo muito menos o de seu

financiamento Assim a seguranccedila juriacutedica desestrutura-se de fato com esse tipo de

procedimento

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 17: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Um outro inconveniente com relaccedilatildeo agrave verificaccedilatildeo do meacutetodo juriacutedico de

individuaccedilatildeo dos crimes primaacuterios traz como consequumlecircncia a restriccedilatildeo do alcance

da incriminaccedilatildeo que se traduz na dificuldade de apontar os responsaacuteveis pelas

operaccedilotildees Ora muitas vezes natildeo satildeo levados em consideraccedilatildeo os detalhes dos

crimes de que resultaram tais ativos Em alguns casos existe ateacute um conhecimento

de que se trata de dinheiro lsquosujorsquo poreacutem haacute um desconhecimento a respeito da

natureza especiacutefica do crime-base Em decorrecircncia disso este procedimento conduz

a intensas dificuldades na fixaccedilatildeo da responsabilidade penal

Com base na Convenccedilatildeo de Palermo promulgada no Brasil pelo Decreto

5015 de 12 de marccedilo de 2004 em seu art 6ordm inciso 2ordm aliacutenea a fica disposto que

cada Estado deveraacute estender o tipo da lavagem de dinheiro a maior gama de

infraccedilotildees penais Em seguida estabelece que no miacutenimo devem ser incluiacutedas

todas as infraccedilotildees graves O termo infraccedilatildeo grave foi conceituado pelo seu art 2ordm

como ldquoo ato que constitua infraccedilatildeo puniacutevel com pena de privaccedilatildeo de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja inferior a quatro anosrdquo

Nesse sentido a convenccedilatildeo possui um caraacuteter vinculativo para os paiacuteses

aderentes O Brasil sendo um dos signataacuterios assumiu o compromisso de

caracterizar como crimes antecedentes todas as infraccedilotildees penais cuja pena maacutexima

seja igual ou superior a quatro anos Ressalta-se que se trata de um criteacuterio baacutesico

possibilitando ao paiacutes aderente adotar como conduta subjacente agrave lavagem de

dinheiro qualquer infraccedilatildeo penal

Partindo dessa premissa sugerem-se as seguintes redaccedilotildees para o art 1ordm da

Lei 961398 A primeira delas visa dissimular a natureza a origem a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo a disposiccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores oriundos

indireta ou diretamente de crime puniacutevel com pena privativa de liberdade cujo

maacuteximo natildeo seja menor que o periacuteodo de quatro anos com pena de reclusatildeo de trecircs

a dez anos e multa

A segunda eacute ocultar a natureza a proveniecircncia a disposiccedilatildeo a localizaccedilatildeo a

movimentaccedilatildeo ou a propriedade de bens direitos ou valores originados direta ou

indiretamente de infraccedilatildeo penal com pena de reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 18: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Andreacute Luis Callegari no seu livro

Direito Penal Econocircmico e Lavagem de Dinheiro aspectos criminoloacutegicos afirma o

seguinte

O artigo 1deg da Lei 961398 em relaccedilatildeo ao tipo subjetivo utiliza expressotildees ldquoocultarrdquo e ldquodissimularrdquo com referecircncia agrave origem delitiva dos bens Em primeiro lugar cabe dizer que a lei natildeo menciona a modalidade culposa pois todos os crimes satildeo dolosos O legislador brasileiro natildeo estabeleceu a figura culposa para o delito de lavagem de dinheiro Ademais o Coacutedigo Penal Brasileiro adota o sistema taxativo (numerus clausus) para a incriminaccedilatildeo da culpa eacute dizer os tipos que permitem a comissatildeo culposa estatildeo expressamente previstos na Parte Especial do Coacutedigo Assim ainda que os tipos sobre a lavagem natildeo estejam contidos no Coacutedigo seguem as mesmas regras contidas na Parte Geral deste ou seja soacute admitiriam a comissatildeo se houvesse a previsatildeo expressa pelo legislador (2003 p163)

21 A Relaccedilatildeo de algumas atividades econocircmicas no crime de

lavagem de dinheiro

Somente eacute possiacutevel falar em lavagem de dinheiro quando haacute a passagem

desse capital de origem iliacutecita por algum setor econocircmico que possibilite transaccedilotildees

que o torne capital legitimo Portanto aqueles que querem dar uma origem legal

para o ganho de capital obtido geralmente procuram uma instituiccedilatildeo financeira um

negoacutecio fraudulento de compra e venda lojas de jogos com o objetivo de dar

aparecircncia de legalidade ao seu dinheiro A respeito desse tema Callegari tece o

seguinte comentaacuterio

O inciso VI tipifica os crimes contra o sistema nacional financeiro nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 19: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei da Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o sistema financeiro nacional configura o delito de lavagem Vale a pena recordar que o sistema financeiro nacional estaacute composto pelo conjunto de atividades executadas pelas instituiccedilotildees financeiras e estas por sua definiccedilatildeo legal satildeo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que tenham como atividade principal ou secundaacuteria a captaccedilatildeo mediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros em moeda nacional ou estrangeira ou a administraccedilatildeo de valores imobiliaacuterios (2003 p160)

As instituiccedilotildees financeiras satildeo um dos setores mais procurados para essas

operaccedilotildees na medida em que a suas atividades tiacutepicas envolvem grande circulaccedilatildeo

de capital Particularmente nas uacuteltimas deacutecadas as instituiccedilotildees financeiras fazem

operaccedilotildees diaacuterias em vaacuterias partes do mundo por meio de simples comandos

eletrocircnicos que possibilitam a circulaccedilatildeo de vultuosas quantias de dinheiro entre os

paiacuteses

A atividade bancaacuteria por exemplo embora seja regulada por normas e leis

pertinentes a cada paiacutes eacute um dos setores mais visados pelos lavadores de dinheiro

porque com o desenvolvimento tecnoloacutegico garantem raacutepido e seguro movimento de

capitais em acircmbito internacional Aleacutem disso as instituiccedilotildees bancaacuterias oferecem

uma variedade de serviccedilos financeiros Assim considera-se o setor de bancos uma

aacuterea propiacutecia para operaccedilotildees de branquiamento de capitais e por isso eacute um dos

setores relacionados na Lei nordm 96131998 para criar mecanismos de prevenccedilatildeo e

combate a esse crime A ideacuteia presente na nova lei envolve a obrigaccedilatildeo das

instituiccedilotildees em lastrear operaccedilotildees suspeitas de lavagem de dinheiro sob pena de

responsabilidade administrativa e penal nos casos omissos ou em que haja a

participaccedilatildeo de funcionaacuterios

Ainda na aacuterea financeira observamos a atuaccedilatildeo de lavadores de dinheiro nas

empresas de factoring que realizam empreacutestimos de dinheiro pagamento

antecipado de cheques tendo em contrapartida a cobranccedila de juros Nesse negoacutecio

quem quer lavar dinheiro abre uma factoring possibilita a circulaccedilatildeo do dinheiro

acompanha a entrada e a saiacuteda das transaccedilotildees financeiras e recoloca o dinheiro

como fruto dessas operaccedilotildees de empreacutestimo e antecipaccedilotildees de pagamento

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 20: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

As casas de cacircmbio os transmissores internacionais de dinheiro e agecircncias

de viagens tambeacutem oferecem um grande nuacutemero de serviccedilos que podem ser

utilizados pelos lavadores de dinheiro Como por exemplo passagens de

companhias aeacutereas cacircmbio de dinheiro estrangeiro em forma de notas ou cheques

Essas operaccedilotildees satildeo atrativas para aqueles que precisam lavar o capital porque

muitas vezes podem ser feitas de forma anocircnima o que diminui o risco para o

cliente Haacute tambeacutem serviccedilos de transferecircncia de dinheiro por meio de ordem

eletrocircnica fax cheque ou courier que podem ser facilmente manuseados por

pessoas que natildeo podem utilizar os canais bancaacuterios como ocorre com muitos

lavadores

Operaccedilotildees efetuadas na bolsa de valores tambeacutem satildeo procuradas por quem

quer lavar dinheiro pois oferecem alto iacutendice de liquidez realizaccedilatildeo de negoacutecios

internacionais compra e venda de accedilotildees de forma raacutepida transaccedilotildees intermediadas

por corretoras e grande competitividade entre as mesmas que auferem lucro por

meio de comissatildeo (COAF p 7) De maneira haacute empresas aacutevidas por clientes que

queiram correr risco em operaccedilotildees que envolvam accedilotildees e clientes que buscam

meios de justificar os seus ganhos iliacutecitos

O mercado de seguros capitalizaccedilatildeo e previdecircncia privada tambeacutem satildeo

suscetiacuteveis a investimentos que visam agrave lavagem de dinheiro O Conselho de

Controle de Atividades Financeiras publicou documento sobre lavagem de dinheiro

mostrando que as companhias seguradoras satildeo utilizadas pelos criminosos das

seguintes formas

a) os acionistas podem usar seu poder de deliberaccedilatildeo realizando investimentos que possibilitem a praacutetica de lavagem de dinheiro

b)os segurados por sua vez podem lavar recursos mediante a apresentaccedilatildeo de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos o mesmo ocorrendo com os subscritores e participantes os quais podem respectivamente transferir a propriedade de tiacutetulos de capitalizaccedilatildeo sorteados e inscrever pessoas inexistentes ou falecidas em planos de previdecircncia privada aberta e

c)a intermediaccedilatildeo materializada na corretagem tambeacutem pode ensejar a malfadada lavagem nas transaccedilotildees envolvendo terceiros ou clientes natildeo residentes (COAF p 7 )

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 21: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

A colaboraccedilatildeo das seguradoras tambeacutem pode acarretar responsabilidade

administrativa com puniccedilatildeo determinada na proacutepria Lei nordm 96131998

Haacute de falar ainda dos cassinos e estabelecimentos de jogos em geral na

medida em que satildeo espaccedilos que servem para os lavadores de dinheiro As rodadas

de jogos satildeo pagas em dinheiro vivo que pode ser depositado no cassino no lugar

das fichas possibilitando a circulaccedilatildeo de grandes quantias de dinheiro em espeacutecie

Apoacutes algumas rodadas nas mesas de jogos o jogador pode trocar as fichas que natildeo

usou por dinheiro ou cheque do cassino e declarar que o seu dinheiro foi obtido em

jogo permitido

Ainda quanto aos jogos outra forma conhecida de se lavar dinheiro eacute a

compra de bilhetes premiados de loterias e corridas de cavalo Apoacutes o sorteio e a

identificaccedilatildeo do ganhador quem quer limpar o dinheiro compra o bilhete por

determinado valor e diz que foi ele quem ganhou Assim o dinheiro que tinha uma

origem criminosa eacute justificado como ganho obtido por meio de aposta em jogo

Negoacutecios que envolvam compra e venda de obras de arte antiguidades

pedras preciosas e joacuteias atraem os lavadores de dinheiro por se tratar de objetos de

alto valor que podem ser transportados com facilidade Leiloeiros e negociantes de

artes intermedeiam a compra e a venda desses objetos no mercado internacional e

natildeo encontram dificuldades em transitar com esses objetos

De modo geral aqueles que precisam dar aparecircncia legal ao dinheiro

recebido de crimes buscam negoacutecios que envolvam grande movimentaccedilatildeo de

capitais sem a necessidade de detalhamento dos faturamento Eacute o caso tambeacutem de

redes de restaurantes companhias aeacutereas frotas de taacutexis ou de ocircnibus casas de

espetaacuteculo que atendem ao puacuteblico e movimentam grande volume de dinheiro no

varejo

Por fim o mercado da construccedilatildeo imobiliaacuteria apresenta uma seacuterie de atrativos

para os lavadores de dinheiro Uma das caracteriacutesticas desse setor eacute a falta de

fiscalizaccedilatildeo e a facilidade e rapidez em comprar e vender um imoacutevel As praacuteticas

mais comuns ocorrem por meio de especulaccedilatildeo no valor de negociaccedilatildeo de compra e

venda do bem envolvendo de uma soacute vez valores relativamente altos

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 22: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

22 Formas de puniccedilatildeo no Brasil

No Brasil sobretudo recentemente tecircm sido criadas vaacuterias formas de puniccedilatildeo

agrave lavagem de dinheiro Alguns especialistas fazem criacuteticas agrave Lei nordm 9613 de 03 de

marccedilo de 1998 na medida em que acreditam que a norma legal impossibilita a

aplicaccedilatildeo do aumento da pena nas situaccedilotildees em que o crime antecedente tenha

sido praticado por uma organizaccedilatildeo criminosa Embora a lei disponha sobre o

aumento da pena em casos de comissatildeo habitual do crime de lavagem de dinheiro

Acontece poreacutem que em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante ao ocorrido a

respeito da organizaccedilatildeo criminal pois o legislador natildeo estabeleceu o que eacute

criminalidade habitual o que pode ser constatado no trecho da lei abaixo

A pena seraacute aumentada de um ou dois terccedilos nos casos previstos nos incisos I a VI do caput desse artigo se a accedilatildeo criminosa for cometida de forma habitual ou por intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa (Lei nordm 9613 de 3 de marccedilo de 1998)

Isto acontece porque o legislador brasileiro de uma maneira geral ldquo() natildeo

tipificou o que eacute uma organizaccedilatildeo criminosa ()rdquo (Callegari 2003) De modo que se

constitui uma falha na legislaccedilatildeo porque acaba natildeo permitindo a execuccedilatildeo da lei ou

entatildeo o aumento devido agrave gravidade do ato como previsto Dessa maneira natildeo

existe a possibilidade de efetivar o aumento da pena como menciona o artigo acima

Embora o legislador tenha definido no projeto de Lei 3515 de 1989 que

segundo os efeitos da Lei organizaccedilatildeo criminosa significa aquela que por sua

composiccedilatildeo revele a existecircncia de estrutura criminal atuando de maneira

sistematizada num acircmbito regional nacional ou ateacute mesmo internacional Tal

conceituaccedilatildeo natildeo foi mantida na Lei 9034 de 1995 natildeo havendo desse jeito

qualquer definiccedilatildeo para esse termo organizaccedilatildeo criminosa

No Coacutedigo Penal pode-se perceber que a definiccedilatildeo do que seria o bando

criminal no artigo 288 tambeacutem natildeo eacute clara sobre este tipo de segmento e suas

atividades Isto tambeacutem acontece no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo criminosa uma

vez que natildeo existe preceito que determine o que ela representa

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 23: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Retomando a questatildeo do aumento da pena esta pode ser ampliada em casos

da comissatildeo habitual do crime ou melhor na comissatildeo habitual de lavagem de

dinheiro Poreacutem em casos como esses haveria a necessidade de uma

comprovaccedilatildeo da comissatildeo habitual de crime preacutevio Semelhante a definiccedilatildeo da

organizaccedilatildeo criminal o legislador natildeo estabeleceu o que eacute criminalidade habitual

Esse termo acaba ganhando duas interpretaccedilotildees pode ser compreendido como a

repeticcedilatildeo constante de um ato ou ainda interpretado de maneira que determine que

um crime habitual corresponde a crimes constituiacutedos por meio de accedilotildees reiteradas

Do ponto de vista penal tais accedilotildees constituem um todo ou seja um delito uacutenico

Nesse sentido o significado da definiccedilatildeo apresentada na Lei de Lavagem natildeo

coincide com o conceito de crime habitual empregado pela doutrina Esta adota

para sua consolidaccedilatildeo uma confirmaccedilatildeo das posturas visto que o fato se

circunscreve a um ato apenas Portanto natildeo existiraacute crime habitual

Por outro lado distinto da definiccedilatildeo de crime habitual embora ocorra apenas

um delito natildeo existiraacute um ato exclusivo de lavagem jaacute que ocorreraacute este delito o

que natildeo acontece com o delito habitual que pressupotildee o processo de reiteraccedilatildeo de

atos para a ocorrecircncia do delito

Partindo dessa premissa para que se tenha uma aplicaccedilatildeo desse preceito

deve ficar constatado uma determinada constacircncia na postura do indiviacuteduo Assim eacute

necessaacuterio que haja uma confirmaccedilatildeo de que este indiviacuteduo realmente estava

inserido na praacutetica de lavagem de dinheiro

Os confiscos impostos aos lavadores de dinheiro determinados pela Lei

brasileira satildeo apresentados no artigo 7deg da Lei de lavagem Daiacute tem-se a seguinte

determinaccedilatildeo

Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal a perda dos bens valores do objeto do crime e direitos para a Uniatildeo com exceccedilatildeo do direito lesado ou de terceiro de boa-feacute e a suspensatildeo do cargo puacuteblico de qualquer espeacutecie e de diretor de componente de conselho de administraccedilatildeo ou de gerenciamento de pessoas juriacutedicas mencionadas no artigo 9deg pela quantidade dobrada de tempo da pena privativa de liberdade executada

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 24: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Um outro artigo que tambeacutem apresenta orientaccedilotildees sobre os efeitos da

condenaccedilatildeo eacute o artigo 9ordm do Coacutedigo Penal Brasileiro Em seu livro Callegari (2003)

destaca as seguintes consequumlecircncias para os resultados geneacutericos da condenaccedilatildeo

Tornar certa a obrigaccedilatildeo de indenizar o dano causado pelo crime a perda em favor da Uniatildeo ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute dos instrumentos do crime desde que consistam em coisas cujo fabrico alienaccedilatildeo uso porte ou detenccedilatildeo constitua fato iliacutecito e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com praacutetica do fato criminoso (p 175)

Vale salientar que a perda dos bens valores ou direitos para o Estado

natildeo eacute instantacircneo uma vez que esta deve ocorre de acordo com a verificaccedilatildeo da

ocorrecircncia do direito do indiviacuteduo prejudicado ou do agente de boa-feacute que deve ser

indenizado Em situaccedilotildees onde natildeo haja direito de ser reparados os bens devem

ser destinados ao Estado

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 25: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

CAPIacuteTULO III

RESPONSABILIDADE DAS INSTITUICcedilOtildeES

FINANCEIRAS

Em julho de 2007 o Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos do Ministeacuterio

da Justiccedila (DRCI) em conjunto com a Controladoria-Geral da Uniatildeo (CGU) e o

Banco do Brasil inauguraram o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de

Lavagem de Dinheiro instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasiacutelia

O objetivo do laboratoacuterio eacute criar soluccedilotildees para a anaacutelise tecnoloacutegica de dados

propiciando a elaboraccedilatildeo de sistemas que possibilitem aos profissionais que atuam

no Sistema Financeiro Nacional e nas instituiccedilotildees da justiccedila e da policia combater os

crimes de lavagem de dinheiro4 Trata-se sobretudo de mais uma medida que visa

construir instrumentos de controle de praacuteticas criminosas de lavagem de capital e

seus crimes antecedentes

Por outro lado o Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro demonstra os esforccedilos das instituiccedilotildees que figuram no poacutelo de organismos

responsaacuteveis em combater a transformaccedilatildeo do dinheiro iliacutecito em dinheiro liacutecito Jaacute

vimos no primeiro capiacutetulo desse trabalho que haacute uma verdadeira forccedila-tarefa

envolvendo oacutergatildeos nacionais e internacionais na luta para identificar e rastrear os

caminhos seguidos pelo dinheiro advindo de crimes Interessa-nos mais de perto

verificar a participaccedilatildeo das instituiccedilotildees financeiras nesse processo

O art 9ordm da Lei nordm 96131998 cria obrigaccedilotildees para as pessoas juriacutedicas que

tenham atividades que possam contribuir para a pratica de lavagem de dinheiro As

4 Segundo informaccedilotildees do Ministeacuterio da Justiccedila o projeto do Laboratoacuterio foi destaque do ano na ediccedilatildeo 2007 do Precircmio Nacional de Excelecircncia em Informaacutetica Puacuteblica (CONIP) ocasiatildeo em que recebeu o tiacutetulo de melhor inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 03082007

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 26: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

instituiccedilotildees financeiras puacuteblicas e privadas na medida em que desenvolvem

atividades de ldquocoleta intermediaccedilatildeo ou aplicaccedilatildeo de recursos financeiros proacuteprios ou

de terceiros em moeda nacional ou estrangeira e a custoacutedia de valor de

propriedade de terceiros (Art 17 da Lei nordm 45951964 que dispotildee sobre a poliacutetica e

as instituiccedilotildees monetaacuterias bancaacuterias e creditiacutecias) estatildeo obrigadas a identificar e

manter os cadastros dos clientes atualizados registrar movimentaccedilotildees e transaccedilotildees

financeiras e comunicar operaccedilotildees que possam ter indiacutecio de lavagem de dinheiro

(Arts 10 e 11 da Lei nordm 9613) Eacute importante salientar ainda que o natildeo cumprimento

desses dispositivos legais acarretam responsabilidade administrativa para a

instituiccedilatildeo

No capiacutetulo primeiro desse estudo mostramos que a Lei nordm 96131998 criou o

COAF seguindo as orientaccedilotildees de organismos internacionais de combate ao crime

de lavagem de dinheiro5 O COAF

eacute a agecircncia nacional central responsaacutevel por receber (requerer) analisar e distribuir agraves autoridades competentes as denuacutencias sobre as atividades financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislaccedilatildeo ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro(COAF 2001 p 2)

Assim podemos observar que a atuaccedilatildeo do COAF estaacute diretamente

relacionada agraves pessoas obrigadas a elaborar mecanismos para o combate ao crime

de lavagem de dinheiro A relaccedilatildeo do COAF com as diversas pessoas obrigadas

ocorre por intermeacutedio de oacutergatildeos que fiscalizam regulamentam disciplinam

atividades especiacuteficas No caso das instituiccedilotildees financeiras compete ao BACEN

(Banco Central do Brasil) informar ao COAF as comunicaccedilotildees de suspeita de

lavagem de dinheiro Eacute o que podemos conferir por meio da anaacutelise do fluxo de

recebimento de comunicaccedilotildees de operaccedilotildees suspeitas elaborado pelo COAF

5 O Conselho de Controle de Atividades Financeiras eacute um oacutergatildeo brasileiro congecircnere ao FIU (Financial Intelligence Unit) instituiccedilatildeo existente em vaacuterios paiacuteses ligados ao FATF-GAFI e satildeo responsaacuteveis pela poliacutetica de combate a lavagem de dinheiro nas instituiccedilotildees financeiras

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 27: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Fonte COAF Relatoacuterio de Atividades de 2004 p 7 Como vimos o BACEN eacute o oacutergatildeo que recebe as comunicaccedilotildees que foram

feitas pelas instituiccedilotildees financeiras Nessa direccedilatildeo o BACEN instituiu as diretrizes

baacutesicas para as instituiccedilotildees financeiras criarem sistemas de verificaccedilatildeo de

operaccedilotildees de lavagem de dinheiro denominadas de anti-lavagem Logo apoacutes a

ediccedilatildeo da Lei nordm 96131998 o BACEN determinou por meio da Circular nordm 2852 de

03 de dezembro de 1998 os procedimentos a serem adotados na prevenccedilatildeo e

combate as atividades de lavagem de dinheiro definindo no art 1ordm incisos I II e III

que as instituiccedilotildees financeiras devem sem que sejam avisados os envolvidos

I - manter atualizadas as informaccedilotildees cadastrais dos respectivos clientes observadas quando for o caso as exigecircncias e responsabilidades definidas na Resoluccedilatildeo n 2025 de 24111993 e modificaccedilotildees posteriores

II - manter controles e registros internos consolidados que permitam verificar alem da adequada identificaccedilatildeo do cliente a compatibilidade entre as correspondentes movimentaccedilotildees de recursos atividade econocircmica e capacidade financeira

III - manter registro na forma a ser estabelecida pelo Banco Central do Brasil de operaccedilotildees envolvendo moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios metais ou qualquer outro ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro

A Circular nordm 28521998 determina que devam ser comunicadas as

operaccedilotildees de valor igual ou superior a R$ 1000000 (dez mil reais) bem como

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 28: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Art 1 sect 3ordm I - as operaccedilotildees que realizadas com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo em um mesmo mecircs calendaacuterio superem por instituiccedilatildeo ou entidade em seu conjunto o limite estabelecido no art 4 inciso I

Art 2 () agraves operaccedilotildees ou propostas cujas caracteriacutesticas no que se referem agraves partes envolvidas valores formas de realizaccedilatildeo e instrumentos utilizados ou que pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam indicar a existecircncia de crime conforme previsto na Lei n 9613 de 03031998 ou com ele relacionar-se

Uma outra medida normativa criada pelo BACEN a Carta-Circular nordm 2826

de 04 de dezembro de 1998 enumera a relaccedilatildeo de operaccedilotildees e situaccedilotildees que

podem configurar indiacutecio de ocorrecircncia dos crimes previstos na Lei que tipifica como

crime a lavagem de dinheiro

Assim a operacionalidade das medidas que visam suprimir as praticas de

lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional decorre do trabalho

desenvolvido em parceria entre o COAF o BACEN e as instituiccedilotildees financeiras

essas uacuteltimas ponta de lanccedila de todo processo gerado conforme a Lei nordm

96131998 Portanto nos aproximaremos um pouco mais das atribuiccedilotildees

destinadas agraves instituiccedilotildees financeiras

31 Da identificaccedilatildeo dos clientes e manutenccedilatildeo de registros

Cabe agraves instituiccedilotildees financeiras uma particular responsabilidade na questatildeo

da lavagem de dinheiro Sua estrutura contaacutebil e a competecircncia de seus

profissionais podem contribuir decisivamente para a reduccedilatildeo de manobras iliacutecitas

que comprometem o fluxo regular da economia

Qualquer alteraccedilatildeo anormal nos haacutebitos de pagamento de clientes regulares

precisa ser investigada e os emprestadores tambeacutem devem prestar atenccedilatildeo jaacute que

teacutecnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devoluccedilatildeo de um empreacutestimo

de forma mais raacutepida do que permitem a renda ou os recursos disponiacuteveis

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 29: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Geralmente eacute possiacutevel conhecer a renda declarada (ou capacidade financeira)

de um cliente no momento do pedido para o empreacutestimo Um caso a parte satildeo

obviamente empresas deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou

dirigidas por eles A respeito desse tema Callegari (2003) alerta que

O inciso VI tipifica os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional os quais tampouco estatildeo regulados no Coacutedigo Penal senatildeo na Lei 7492 de 16 de Junho de 1986 De acordo com a Lei de Lavagem a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores obtidos em consequumlecircncia de crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional configura o delito de lavagem (p160)

O emprego abusivo das normas que possibilitam aos bancos e outras

atividades financeiras eximirem-se da responsabilidade de identificaccedilatildeo de certas

atividades ou de determinados tipos de empresas tambeacutem contribuem para o

processo de ocultaccedilatildeo de dinheiro Isso ocorre porque diversas legislaccedilotildees com o

fim de agilizar a informaccedilatildeo concedem aos bancos a possibilidade de se eximirem

da responsabilidade de identificaccedilatildeo daquelas operaccedilotildees oriundas de

movimentaccedilotildees legiacutetimas efetuadas por clientes assiacuteduos ou conhecidos

Com isso a doutrina comenta que a praacutetica dessa relaccedilatildeo ou emprego

constante da mesma por parte da instituiccedilatildeo bancaacuteria contribui para facilitaccedilatildeo da

accedilatildeo dos lavadores Assim os criminosos utilizam sociedade fantasmas (ou de

fachada) ou de comum acordo com funcionaacuterios do banco Desse modo a criaccedilatildeo

de sociedades fantasmas isentam a instituiccedilatildeo financeira ou seus clientes do regime

de supervisatildeo Isso pode conceder aos lavadores um meio para evitar que sejam

identificadas pistas a respeito das transaccedilotildees por eles executadas em dinheiro

Com relaccedilatildeo a esse assunto o teoacuterico Callegari tece o seguinte comentaacuterio

As operaccedilotildees de engenharia financeira supotildeem um desafio para as autoridades detectarem a comissatildeo de delitos econocircmicos fundamentalmente pelo enorme volume do mercado financeiro e sua complexidade que exige um profundo conhecimento da realidade econocircmica e a regulaccedilatildeo juriacutedica do mundo das financcedilas Outros fatores do sistema financeiro tambeacutem favorecem como o segredo bancaacuterio ou a disparidade de regulamentaccedilotildees que regulam as

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 30: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

entidades situadas em vaacuterios paiacuteses mas que se conectam por redes de informaacutetica que agilizam as operaccedilotildees financeiras ateacute alcanccedilarem um freneacutetico ritmo quase impossiacutevel de ser controlado(2003 p48)

No entanto atualmente uma das obrigaccedilotildees dessas entidades econocircmicas

estaacute prevista na Lei nordm 96131998 e consiste na identificaccedilatildeo dos clientes e

manutenccedilatildeo de registros de operaccedilotildees realizadas De modo que dispotildee o Art 10

incisos I II e III

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em segredo de justiccedila

Essas satildeo diretrizes as quais bancos cassinos negociantes de pedras

preciosas dentre outros estatildeo obrigados a cumprir elaborando sistemas capazes

de armazenar esses dados cadastrais dos clientes e das operaccedilotildees

Ao encontro dessas medidas as instituiccedilotildees financeiras tambeacutem seguem as

orientaccedilotildees do FATF-GAFI organismo intergovernamental que desenvolve poliacuteticas

de combate agrave lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo Eacute formado por

31 paiacuteses e duas organizaccedilotildees internacionais Desde 1990 publica um documento

intitulado ldquoQuarenta Recomendaccedilotildeesrdquo que visa fornecer diretrizes que devem pautar

as accedilotildees dos membros que constituem o grupo para que coiacutebam o crime de

lavagem de capital Em 2000 o Brasil aderiu ao FATF- GAFI e adota as ldquoQuarenta

Recomendaccedilotildeesrdquo em versatildeo revista e atualizada no ano de 2003

Em relaccedilatildeo agraves recomendaccedilotildees da FATF-GAFI devemos prestar atenccedilatildeo

especial ao ldquodever de vigilacircncia relativo agrave clientela e de conservaccedilatildeo de

documentosrdquo (2003 p 7) Essa sugestatildeo do organismo intergovernamental prevecirc a

guarda da documentaccedilatildeo referente a transaccedilotildees financeiras e dados cadastrais dos

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 31: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

clientes que jaacute tenham encerrado operaccedilotildees com a instituiccedilatildeo por um prazo miacutenimo

de cinco anos O objetivo da preservaccedilatildeo desses documentos diz respeito a

investigaccedilotildees futuras sobre determinada operaccedilatildeo suspeita (FATF-GAFI 2003 p

7) Essa recomendaccedilatildeo tem suporte na legislaccedilatildeo brasileira e estaacute disposta na Lei nordm

96131998 determinando que

Art 10 sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela autoridade competente

Assim quando um cliente procura uma instituiccedilatildeo financeira para intermediar

uma transaccedilatildeo de valores ou capitais teraacute que preencher uma ficha com dados

pessoais e se for o caso de pessoa juriacutedica com os dados empresariais Essas

informaccedilotildees seratildeo guardadas pela instituiccedilatildeo financeira bem como todas as

operaccedilotildees feitas pelos clientes estaratildeo registradas Se em alguma transaccedilatildeo houver

suspeiccedilatildeo de crime de lavagem de dinheiro a instituiccedilatildeo financeira estaraacute obrigada

a levantar informaccedilotildees sobre a operaccedilatildeo e a origem do valor ou capital sem

contudo comunicar ao cliente que a transaccedilatildeo efetuada estaacute sendo verificada

Eacute claro que natildeo seria possiacutevel particularmente em instituiccedilotildees de grande

porte realizar essas operaccedilotildees e registros sem o aporte de sistemas operacionais

Nesse sentido a circulaccedilatildeo de informaccedilotildees entre instituiccedilotildees internacionais ocorre

na medida em que satildeo aperfeiccediloados instrumentos tecnoloacutegicos que permitam a

comunicaccedilatildeo das unidades que faccedilam parte do grupo FATF-GAFI Eacute aqui que entra

a contribuiccedilatildeo do Laboratoacuterio de Tecnologia contra o Crime de Lavagem de

Dinheiro que cumpre o papel de desenvolver esses sistemas

32 A obrigaccedilatildeo de comunicar

Pretendemos nesse momento discorrer sobre o papel das instituiccedilotildees

financeiras no processo de prevenccedilatildeo e combate ao crime de lavagem de dinheiro

tendo em vista que o dinheiro de origem criminosa ao circular por uma instituiccedilatildeo

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 32: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

financeira ganha aparecircncia legal A fim de evitar operaccedilotildees suspeitas de lavagem de

dinheiro as instituiccedilotildees financeiras elaboram mecanismos de controle das

transaccedilotildees por elas feitas Como vimos cabe as instituiccedilotildees financeiras identificar os

seus clientes e registrar as operaccedilotildees por eles efetuadas

Todavia a Lei nordm 96131998 tambeacutem prevecirc uma outra forma de participaccedilatildeo

das pessoas obrigadas a combater agrave lavagem de dinheiro As instituiccedilotildees financeiras

satildeo responsaacuteveis pela comunicaccedilatildeo de operaccedilotildees que pareccedilam suspeitas Cada

oacutergatildeo puacuteblico ou privado que faccedila parte do Sistema Financeiro Nacional passou a

dispor de procedimentos para a realizaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo

Esse procedimento deve englobar a verificaccedilatildeo da transaccedilatildeo suspeita

contendo o histoacuterico do cliente e a avaliaccedilatildeo da possiacutevel origem da operaccedilatildeo

quando haacute algum dado que possa embasar o movimento de valores Se

desconhecida a origem da operaccedilatildeo e se natildeo haacute justificativa declarada para aquele

aporte de dinheiro na transaccedilatildeo o funcionaacuterio da instituiccedilatildeo ou mesmo o proacuteprio

sistema operacional indicaraacute indiacutecio de lavagem de dinheiro Veja bem natildeo se trata

de um criteacuterio subjetivo haacute na proacutepria legislaccedilatildeo aqueles paracircmetros que despertam

a suspeita sobre determinada transaccedilatildeo que pode ocorrer por exemplo por se

tratar de transaccedilatildeo superior a declaraccedilatildeo de rendimentos do cliente ou aumento

substancial de movimentaccedilatildeo de capital do cliente ou ainda transaccedilatildeo de valor igual

ou superior a R$ 1000000

Outro dado importante o profissional da instituiccedilatildeo financeira por meio de

sistemas anti-lavagem forneceraacute dados que fundamentem a suspeita ou que

justifique a operaccedilatildeo aparentemente de origem ilegal Quando natildeo haacute elementos

suficientes que justifiquem a transaccedilatildeo caberaacute ao funcionaacuterio comunicar a operaccedilatildeo

suspeita a um setor especiacutefico da organizaccedilatildeo bancaacuteria voltado para anaacutelises mais

detalhadas sobre lavagem de dinheiro e caso este setor verifique fortes indiacutecios

entatildeo seraacute encaminhado ao oacutergatildeo receptor No caso das instituiccedilotildees financeiras

esse oacutergatildeo receptor eacute o BACEN este entatildeo o envia para o COAF

Dessa forma as instituiccedilotildees financeiras cumprem o seu papel determinado

por lei e fecham um ciclo possibilitando a repreensatildeo de crimes que podem ser

descobertos por meio da aplicaccedilatildeo de sistemas anti-lavagem Assim no proacuteximo

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 33: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

capiacutetulo o nosso objetivo se pautaraacute em observar qual o espaccedilo que as instituiccedilotildees

financeiras estatildeo determinando para o combate ao crime de lavagem de dinheiro

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 34: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

CAPIacuteTULO IV

SISTEMAS ANTILAVAGEM DE DINHEIRO UMA ANAacuteLISE

CRIacuteTICA

A tipificaccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro (Lei nordm 96131998) eacute um

exemplo de normatizaccedilatildeo que acaba forccedilando uma mudanccedila de atitude em vaacuterios

setores do Sistema Financeiro Nacional A imposiccedilatildeo legal que obriga as instituiccedilotildees

financeiras a criar procedimentos que verifiquem a existecircncia de operaccedilotildees ligadas agrave

lavagem de dinheiro promove a participaccedilatildeo desse segmento da economia no

combate ao crime

Todavia destacamos as poliacuteticas geridas pelo Banco Central do Brasil na

prevenccedilatildeo e combate ao crime de branquiamento de capitais Nesse sentido no

presente capiacutetulo dentro dessa complexa estrutura do Sistema Financeiro Nacional

enfocaremos o espaccedilo delimitado pelos bancos para o desenvolvimento de poliacuteticas

de combate ao crime de lavagem de dinheiro tendo em vista que eacute um dos setores

mais atingidos por essa praacutetica criminosa Isso ocorre sobretudo porque satildeo os

bancos responsaacuteveis por diferentes operaccedilotildees de depoacutesitos transferecircncias

pagamentos dentre outras atividades que acarretam a raacutepida movimentaccedilatildeo de

capitais no mercado interno e externo ambiente beneacutefico para a simulaccedilatildeo de

transaccedilotildees aparentemente legais

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 35: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

41 Perspectivas do setor bancaacuterio para o combate agrave lavagem de

dinheiro

O setor bancaacuterio insere-se no acircmbito das pessoas obrigadas a identificar e

comunicar ao COAF atividades que apresentem indiacutecios de crime de lavagem de

dinheiro conforme disposto no Art 9ordm da Lei nordm 96131998 de modo que

precisaram desenvolver procedimentos para conferir transaccedilotildees suspeitas Vimos no

capiacutetulo terceiro desse trabalho que as diretrizes baacutesicas para elaboraccedilatildeo desses

procedimentos satildeo coordenadas pelo COAF e pelo BACEN em cumprimento as

regras da Lei de lavagem de dinheiro e das recomendaccedilotildees do FATF-GAFI

O aperfeiccediloamento dos sistemas operacionais a capacitaccedilatildeo de funcionaacuterios

a constante atualizaccedilatildeo dos dados cadastrais dos clientes o compliance auditorias

internas satildeo algumas estrateacutegias adotadas pelas instituiccedilotildees bancaacuterias com o

objetivo de evitar praacuteticas de legalizaccedilatildeo do dinheiro originaacuterio de crimes Portanto eacute

interessante notar que os bancos que atuam no Brasil procuram adaptar rotinas que

visem prevenir e combater agrave lavagem de dinheiro

Essa postura do setor bancaacuterio pode ser percebida por meio da anaacutelise do

papel que conferem agrave poliacutetica de combate a essas praacuteticas delituosas dentro da sua

estrutura organizacional Uma breve visita as paacuteginas eletrocircnicas de algumas

instituiccedilotildees pode nos mostrar o valor atribuiacutedo agrave adesatildeo a praacuteticas coibentes de

lavagem de dinheiro Portanto a anaacutelise que passamos a fazer seraacute por meio das

informaccedilotildees divulgadas por quatro instituiccedilotildees bancaacuterias voltadas para o varejo uma

delas oficial e as demais privadas Lembramos que nos limitaremos a apreciar a

forma com que esses bancos propagam publicamente as suas poliacuteticas de combate

agrave lavagem de dinheiro

A comeccedilar pelo Banco do Brasil instituiccedilatildeo bancaacuteria oficial brasileira que traz

na seccedilatildeo de Notiacutecias da sua paacutegina eletrocircnica informaccedilotildees acerca da forma que o

banco atua contra o crime de lavagem de dinheiro Logo no tiacutetulo do informe

ldquoPrevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveisrdquo

demonstra que implementar poliacuteticas contra essa forma de crime eacute muito mais do

que dar cumprimento agrave norma legal pois

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 36: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro implicam necessariamente uma mudanccedila cultural somente alcanccedilada a partir da persistecircncia de accedilotildees que com o tempo vatildeo concretizando novos conceitos e atitudes na cultura da sociedade Eacute uma responsabilidade social que excede o fator econocircmico pois ao adotarmos uma postura ativa contra essa praacutetica combatemos tambeacutem outros males sociais como o desvio de dinheiro puacuteblico violecircncia criminalidade uso de drogas entre outros

A prevenccedilatildeo e o combate agrave lavagem de dinheiro satildeo um compromisso do Banco do Brasil para com a sociedade como forma de combater a praacutetica de crimes que ameaccedilam os poderes constituiacutedos e a ordem democraacutetica lesam os interesses coletivos e degradam a condiccedilatildeo humana Alem disso trata-se de uma obrigaccedilatildeo legal imposta pela Lei 961398 e pela regulamentaccedilatildeo dela decorrente (BANCO DO BRASIL Notiacutecias 2007)

Assim se confere ao combate ao crime de lavagem um valor relacionado agrave

defesa dos poderes constituiacutedos a garantia agrave ordem democraacutetica e a preservaccedilatildeo

da dignidade humana lembrando ainda que se trata de responsabilidade social e

natildeo de mero compromisso legal

Na mesma direccedilatildeo no site do HSBC banco privado que atua em todo

territoacuterio nacional encontramos na parte que destina a responsabilidade social da

instituiccedilatildeo informaccedilotildees sobre o combate agrave lavagem de dinheiro quando afirma que

No Brasil o HSBC manteacutem uma aacuterea dedicada ao combate da Lavagem de Dinheiro Baseados em criteacuterios que levam em conta a capacidade financeira do cliente ramo de atividade zona geograacutefica entre outros a equipe monitora todos os movimentos efetuados em conta corrente Certos criteacuterios geram alertas sob movimentaccedilotildees consideradas atiacutepicas pelo sistema que passam a ser analisados Se necessaacuterio o analista entra em contato com o gerente de relacionamento do cliente para solicitar explicaccedilotildees para o alerta Este gerente pode consultar os segmentos de produto no caso de derivativos e accedilotildees Casos mais graves satildeo encaminhados para um Comitecirc Executivo de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro onde eacute tomada a decisatildeo de encerramento de relacionamento comunicaccedilatildeo aos oacutergatildeos reguladores competentes (Bacen CVM SPC etc) ou arquivamento do caso (HSBC Responsabilidade Social 2007)

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 37: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Uma vez mais falamos em responsabilidade social e na implementaccedilatildeo de

procedimentos que desestimulem a tentativa dos lavadores de dinheiro utilizar o

setor bancaacuterio para esse fim

O Banco Santander por outro lado imprime ao combate agrave lavagem de

dinheiro um papel ligado a sua estrutura administrativa e visando sobretudo ldquoa

preservaccedilatildeo dos direitos dos acionistas e a transparecircncia na gestatildeo e na

comunicaccedilatildeo integrada com seus puacuteblicos estrateacutegicosrdquo (SANTANDER Governanccedila

Corporativa 2007) Na instituiccedilatildeo adotar medidas contra o crime de branquiamento

de capitais eacute uma das formas de resguardar a imagem e a reputaccedilatildeo da empresa e

manter a confianccedila dos clientes e investidores Divulga alguns procedimentos

adotados pelo banco instruindo que

O Santander tem forte compromisso com a prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro Contamos com riacutegidos controles na Prevenccedilatildeo implantados com base nas diretrizes adotadas internacionalmente pelo Grupo Santander e adaptados agrave legislaccedilatildeo local Todas as nossas poliacuteticas de prevenccedilatildeo estatildeo descritas no Manual de Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro incluindo raquo Legislaccedilatildeo especiacutefica raquo Modelo de organizaccedilatildeo interna raquo Poliacuteticas internas de conheccedila seu cliente raquo Procedimentos de detecccedilatildeo anaacutelise e comunicaccedilatildeo de operaccedilatildeo suspeita raquo Exemplos de operaccedilotildees suspeitas (SANTANDER Governanccedila Corporativa 2007)

Para realizar essa tarefa lanccedila matildeo do compliance modelo este que exige

que sejam seguidas por todos da organizaccedilatildeo o desenvolvimento da

responsabilidade corporativa em conformidade com as leis e regulamentos

O Banco Abn Amro Real eacute um outro exemplo que insere a questatildeo do

combate agrave lavagem de dinheiro no movimento de sustentabilidade desenvolvido

como princiacutepio institucional A ideacuteia apresentada engloba uma visatildeo de negoacutecios que

se sustenta na promoccedilatildeo de ldquoum sistema social justo ambientalmente equilibrado e

economicamente proacutespero por um periacuteodo de tempo longo e indefinidordquo (BANCO

REAL A sustentabilidade como princiacutepio 2007) Dessa forma a instituiccedilatildeo defende

uma postura de integridade que deve estar presente numa seacuterie de accedilotildees como a

prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro que se traduz na ldquopoliacutetica que descreve a filosofia

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 38: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

e abordagem do Conheccedila seu Cliente a fim de combater ativamente a lavagem de

dinheiro e o financiamento ao terrorismordquo (Idem ibidem)

Natildeo resta duacutevida que haacute uma postura ativa dessas instituiccedilotildees quanto ao

crime de lavagem de dinheiro A inclusatildeo de poliacuteticas que previnam esse tipo de

crime na estrutura organizacional dessas instituiccedilotildees bancaacuterias seja como

responsabilidade social ou no vieacutes de gestatildeo de negoacutecios demonstra o esforccedilo em

cumprir as determinaccedilotildees regulamentares e legais do BACEN e do COAF Aleacutem

disso transparece o engajamento desse segmento do Sistema Financeiro Nacional

com uma poliacutetica calcada em princiacutepios eacuteticos que visa minimizar os riscos

relacionados agrave reputaccedilatildeo e agraves operaccedilotildees da instituiccedilatildeo De maneira que afirma

Romantini

() a natildeo adoccedilatildeo de controles de prevenccedilatildeo agrave lavagem de dinheiro implica descontrole sobre os riscos relacionados agrave lavagem de dinheiro e consequentemente pode trazer seacuterios prejuiacutezos agrave instituiccedilatildeo Logo a decisatildeo sobre o quanto investir em controles internos depende de uma avaliaccedilatildeo dos riscos legais e de reputaccedilatildeo a que o banco estaacute sujeito em face dos custos desses controles tanto em termos de volumes de gastos quanto em perda de negoacutecios e clientes (2003 p 55)

Por fim salientamos que essa breve avaliaccedilatildeo das percepccedilotildees que alguns

bancos de varejo tecircm a respeito do combate agrave lavagem de dinheiro natildeo esgota uma

anaacutelise que eacute significativa quanto ao seu conteuacutedo mas natildeo eacute abrangente na

medida em que se limitou haacute poucas instituiccedilotildees que operam no Brasil

A seguir relacionamos notiacutecias divulgadas pela imprensa nacional que

expotildeem casos de crime de lavagem de dinheiro descobertos em investigaccedilotildees que

comeccedilaram com a suspeita de transaccedilotildees iliacutecitas por meio dos procedimentos de

combate e prevenccedilatildeo utilizados no Sistema Financeiro Nacional

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 39: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

42 Investigaccedilatildeo de delitos notiacutecias veiculadas ao crime de

lavagem de dinheiro

A comunicaccedilatildeo dos crimes de lavagem tem grande importacircncia pois muitas

das quadrilhas satildeo descobertas em consequumlecircncia desse tipo de comunicaccedilatildeo A

seguir alguns casos noticiados no Brasil para ilustrar quais satildeo as estrateacutegias e

accedilotildees praticadas nesse tipo de operaccedilatildeo

O jornal O Globo noticiou no corrente ano a prisatildeo de 11 pessoas em cinco

estados que faziam parte de uma quadrilha onde parte dos integrantes era

colombiana A quadrilha estava enviando cocaiacutena mensalmente para Europa e

movimentava quase 40 milhotildees por semana (O Globo 2ordf seccedilatildeo p10 23032007)

Dessa forma com o lucro feito sobre a venda da cocaiacutena na Europa e nos Estados

Unidos o capital total era reunido na Espanha Assim em aviotildees comerciais eram

enviadas diversas malas com doacutelares e euros para o Uruguai

Apoacutes essa trajetoacuteria o dinheiro acabava entrando no territoacuterio brasileiro

legalmente autorizado pelo Banco Central e escondido sob forma de investimentos

industriais e empresariais que pertenciam ao traficante Alexandre Pareja chefe do

Cartel do Vale do Norte Nessa operaccedilatildeo foram executados 40 mandados de busca

e apreensatildeo e 11 mandados de prisatildeo Tambeacutem foram interditados oito postos de

gasolina e o valor de 20 milhotildees em imoacuteveis

Situaccedilatildeo parecida ocorreu em 2006 quando no Uruguai eram mandadas

remessas de dinheiro que entravam legalmente no Brasil atraveacutes de transferecircncias

bancaacuterias Muitas vezes eram autorizadas tambeacutem pelo Banco Central sendo que

segundo a informaccedilatildeo recebida os recursos seriam dirigidos agrave induacutestria

petroquiacutemica (O Globo O Paiacutes 23 03 2007)

Atualmente o Ministeacuterio da Justiccedila estaacute aprofundando as discussotildees voltadas

para o combate agrave corrupccedilatildeo e agrave lavagem de dinheiro Esta uacuteltima constitui o principal

tema do proacuteximo encontro da ENCLA (Estrateacutegia Nacional de Combate agrave Lavagem

de Dinheiro e Recuperaccedilatildeo de Ativos) evento que deveraacute ocorrer em 2008 (Jornal

do Brasil Paiacutes p4 23112007)

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 40: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Portanto eacute possiacutevel constatar que as instituiccedilotildees financeiras estatildeo tentando

se atualizar investigando as novas modalidades de lavagem de dinheiro Uma das

novas taacuteticas segundo o Controle de Atividades Financeiras (COAF) eacute a diacutevida

simulada Apoacutes a mediaccedilatildeo de um acordo em cartoacuterio sendo este um acordo fictiacutecio

o dinheiro transforma-se em limpo quando depositado na conta bancaacuteria dos

beneficiaacuterios (Jornal do Brasil Paiacutes 23 10 2007)

Vaacuterias outras ocorrecircncias satildeo denunciadas pela imprensa que por razotildees de

sigilo agraves vezes satildeo abafadas a fim de natildeo comprometer sua apuraccedilatildeo pelas

autoridades No entanto podemos observar que a poliacutetica de comunicaccedilatildeo

desenvolvida no sistema BACENCOAF mais um instrumento que tem um papel

fundamental no combate ao crime de lavagem de dinheiro

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 41: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

CONCLUSAtildeO

No presente estudo foram apresentados a partir da anaacutelise dos capiacutetulos

trabalhados propostas que tecircm a intenccedilatildeo de contribuir para o combate e a

prevenccedilatildeo a lavagem de dinheiro no Brasil Algumas delas relacionadas agraves leis

brasileiras e outras mais voltadas para o Sistema Financeiro Nacional O nosso

objetivo consistiu sobretudo em demonstrar que as instituiccedilotildees financeiras

atualmente tecircm desenvolvido procedimentos que visam a prevenccedilatildeo e o combate

ao crime de lavagem de dinheiro

Afirmamos que haacute uma participaccedilatildeo ativa do segmento financeiro na luta

contra os crimes de lavagem de capitais que se aperfeiccediloa a cada ano Uma

mudanccedila de comportamento das instituiccedilotildees financeiras certamente teve iniacutecio a

partir da ediccedilatildeo da Lei nordm 9613 de 1998 que dentre outras medidas criou o COAF e

determinou uma seacuterie de obrigaccedilotildees que devem ser cumpridas pelas instituiccedilotildees

ligadas ao Sistema Financeiro Nacional Assim esse seria o ponta peacute inicial para o

desenvolvimento de sistemas cada vez mais elaborados que estatildeo sendo

implementados no setor com a finalidade de evitar praacuteticas de lavagem de dinheiro

No acircmbito das instituiccedilotildees financeiras haacute o controle de transaccedilotildees suspeitas

segundo os criteacuterios objetivos definidos em regulamentos do BACEN (Circular nordm

2852 de 03 de dezembro de 1998 e Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de

1998) que operacionalizam as obrigaccedilotildees de identificar os clientes e as transaccedilotildees

feitas pelos mesmos e a comunicaccedilatildeo dessas transaccedilotildees aos oacutergatildeos responsaacuteveis

quando apresentem indiacutecios de crime

Assim o papel das instituiccedilotildees financeiras na prevenccedilatildeo e combate agrave

lavagem de dinheiro ganha um sentido participativo e deixa de ser um dos setores

mais propiacutecios para a praacutetica desse crime Quando nos concentramos no setor

bancaacuterio e verificamos que algumas instituiccedilotildees de varejo colocam a poliacutetica de

combate ao crime de lavagem de capitais no espaccedilo destinado a responsabilidade

social observamos que natildeo se trata somente de seguir procedimentos determinados

por lei mas sim de uma posiccedilatildeo institucional que privilegia a eacutetica na gestatildeo de

negoacutecios

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 42: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Eacute claro que o posicionamento das instituiccedilotildees quanto ao branquiamento de

capitais estaacute relacionado ao risco que essas operaccedilotildees implicam para a imagem da

instituiccedilatildeo para a seguranccedila de transaccedilotildees legiacutetimas e ainda ao risco de puniccedilotildees

previstas na Lei nordm 96131998 que respondem pela a responsabilidade

administrativa da empresa

Todavia natildeo haacute de negar que aderir ao programa de combate ao crime de

lavagem determinado pelos oacutergatildeos reguladores do setor eacute tambeacutem sinocircnimo de

uma visatildeo institucional que cada banco pretende passar Transaccedilotildees financeiras

mais transparentes se traduzem em um ganho institucional na medida em que

favorece a percepccedilatildeo que os clientes parceiros acionistas e oacutergatildeos reguladores

tecircm do proacuteprio banco conferindo seguranccedila para todos aqueles que investem e

fazem operaccedilotildees com o seu dinheiro na instituiccedilatildeo afinal

A reputaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo bancaacuteria eacute talvez o seu maior patrimocircnio A credibilidade de um banco eacute um ativo intangiacutevel extremamente valioso que requer tempo e muito investimento para ser constituiacutedo (ROMANTINI 2003 p 53)

Atentos ao desenvolvimento tecnoloacutegico os bancos no Brasil tecircm uma das

estruturas mais informatizadas e ainda que apresentem problemas natildeo podemos

negar o avanccedilo no combate ao crime de lavagem de dinheiro na medida em que

certamente muitos crimes satildeo evitados pelo receio dessas operaccedilotildees serem

detectadas quando entram no sistema de uma instituiccedilatildeo financeira brasileira

Encerrando o presente trabalho importa lembrar a responsabilidade dos que

planejam e dos que administram sistemas contaacutebeis das instituiccedilotildees financeiras

Deles se espera que teacutecnicas mais sofisticadas envolvendo sem duacutevida recursos

eletrocircnicos devam ser testadas para controle do meio circulante Agraves instituiccedilotildees

universitaacuterias voltadas pra o campo das Ciecircncias Contaacutebeis cabe a grande

responsabilidade de contribuir tanto com a produccedilatildeo de pesquisas sobre a temaacutetica

como em formaccedilatildeo de pessoal especializado em lidar com a praacutetica de lavagem de

dinheiro

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 43: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA Clarisse de Almeida e (dezembro2003) Accedilotildees internacionais de combate agrave lavagem de dinheiro em instituiccedilotildees financeiras Uma visatildeo geral do grupo de accedilatildeo financeira sobre lavagem de capitais Jus Navigandi Teresina a 8 n 153 6 Disponiacutevel em www1juscombrdoutrinatextoasp Acesso em 09052009

BACEN Circular nordm 2852 de 03 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 2826 de 04 de dezembro de 1998 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3030 de 12 de abril de 2001 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 ______ Carta Circular nordm 3098 de 11 de junho de 2003 Disponiacutevel em wwwbacengovbr Acesso em 10052009 BANCO DO BRASIL (2007) Prevenccedilatildeo e Combate agrave Lavagem de Dinheiro todos somos responsaacuteveis In Notiacutecias 06062007 Disponiacutevel em httpwwwbbcombrportalbbpage1910552690011bbcodigoNoticia=2964ampcodigoMenu=580 Acesso em 03062007 BARBOSA Darli e PERRICONE Sheila (maio1999) A Lei de Lavagem de Dinheiro e suas implicaccedilotildees as instituiccedilotildees financeiras Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 88 n763p 432-455 BARROS Marco Antonio de (1998) Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas analise da lei n 9613 de 3 de marco de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 212p BRASIL Lei nordm 9613 de 03 de marccedilo de 1998 Dispotildee sobre crimes de ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ndash COAF e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em wwwpresidenciagovbr Acesso em 03062009 CALLEGARI Andreacute Luis (setembro2003) Participaccedilatildeo (punivel) de agentes financeiros no delito de lavagem de dinheiro Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 92 n815p 464-475

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 44: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

COAF Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadscartilhapdfview Acesso em 06062009

______ Relatoacuterio de Atividades de 2004 Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloadsrelatorios-coafRelatorio-Atividades-2004pdfview Acesso em 06062009 ______ (Setembro de 2001) 100 casos de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpswwwcoaffazendagovbrdownloads100_Casospdf Acesso em 06062009

FATF-GAFI (2003) Quarenta Recomendaccedilotildees Disponiacutevel em httpwwwfatf-gafiorgdataoecd385034030817PDF Acesso em 06062009

FURTADO Celso (1999) O longo amanhecer reflexotildees sobre a formaccedilatildeo do Brasil Rio de Janeiro Paz e Terra 1999

HSBC (2007) Disponiacutevel em httpwwwhsbccombrsobre-hsbcresponsabilidade-socialacordos-internacionaisshtml Acesso em 07062009 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA (03 de julho de 2007) Ministeacuterio da Justiccedila inaugura Laboratoacuterio Contra Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwmjgovbrdataPagesMJ7FABCBFCITEMID5079EB5C581F4E598BB9BC5AF189B7DAPTBRIEGUESThtm Acesso em 07062009 MOYANO Helios Nogues e VANNI Adriano Salles Lei n 96l398 - Uma armadilha para as instituiccedilotildees financeiras Boletim IBCCrim Satildeo Paulo v 6 n70p 17-18 set 1998 Ediccedilatildeo especial

PEREIRA Senador Francelino (2003) Discursos do Senado Volume XIV 12111997 Brasiacutelia Graacutefica do Senado

PINHEIRO A J (2001) Lavagem de Dinheiro uma Visatildeo Globalizada Satildeo Paulo EDUSP

QUADROS Vasconcelos (2007) ldquoAcordo Internacional para cercar golpistardquoJornal do Brasil seccedilatildeo Paiacutes Rio de Janeiro

REAL (2007) Sustentabilidade Disponiacutevel em httpwwwbancorealcombrindex_internashtmsUrl=httpwwwbancorealcombrsustentabilidadeo_que_fazemospraticas_de_gestaotpl_sustentabilidade_quefazemos_gestao_principiosshtm Acesso em 07062009 ROMANTINI Gerson Luiacutes O desenvolvimento institucional do combate agrave lavagem de dinheiro no Brasil desde a Lei 961398 Campinas sn 2003 Disponiacutevel em httplibdigiunicampbrdocumentcode=vtls000289843 Acesso em 26082007

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 45: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

SANTANDER (2007) Compliance e Prevenccedilatildeo agrave Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel em httpwwwsantandercombrportalgsbscripttemplatesGCMRequestdopage=2260 Acesso em 07062009

SILVA Costa J (2002) Crimes do colarinho branco Satildeo Paulo Saraiva

SILVA Rodney (1ordm semestre de 2002) A Lavagem de Capitais - Noccedilotildees gerais e aspectos procedimentais Revista do Centro de Ensino Superior de Catalatildeo Ano IV nordm 6 Disponiacutevel em httpwwwcesucbrrevistaed-1ALAVAGEMDECAPITAISpdf Acesso em 10052009

ZIEGLER Jean (2001) O crime organizado pode matar a liberdade O Globo Rio de Janeiro

WERNECK Antocircnio (2007) ldquoPresa Quadrilha de Traacutefico e Lavagem de Dinheirordquo Jornal O Globo Seccedilatildeo O Paiacutes Rio de Janeiro

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 46: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

ANEXO

LEI Nordm 9613 DE 3 DE MARCcedilO DE 1998

Dispotildee sobre os crimes de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens

direitos e valores a prevenccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sistema

financeiro para os iliacutecitos previstos nesta Lei cria o Conselho

de Controle de Atividades Financeiras - COAF e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

Dos Crimes de Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens Direitos e Valores

Art 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo

movimentaccedilatildeo ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou

indiretamente de crime

I - de traacutefico iliacutecito de substacircncias entorpecentes ou drogas afins

II - de terrorismo

II ndash de terrorismo e seu financiamento (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de

972003)

III - de contrabando ou traacutefico de armas municcedilotildees ou material destinado agrave sua

produccedilatildeo

IV - de extorsatildeo mediante sequumlestro

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 47: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

V - contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive a exigecircncia para si ou para

outrem direta ou indiretamente de qualquer vantagem como condiccedilatildeo ou preccedilo

para a praacutetica ou omissatildeo de atos administrativos

VI - contra o sistema financeiro nacional

VII - praticado por organizaccedilatildeo criminosa

VIII ndash praticado por particular contra a administraccedilatildeo puacuteblica estrangeira (arts

337-B 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo

Penal) (Inciso incluiacutedo pela Lei nordm 10467 de 1162002)

Pena reclusatildeo de trecircs a dez anos e multa

sect 1ordm Incorre na mesma pena quem para ocultar ou dissimular a utilizaccedilatildeo de

bens direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo

I - os converte em ativos liacutecitos

II - os adquire recebe troca negocia daacute ou recebe em garantia guarda tem

em depoacutesito movimenta ou transfere

III - importa ou exporta bens com valores natildeo correspondentes aos verdadeiros

sect 2ordm Incorre ainda na mesma pena quem

I - utiliza na atividade econocircmica ou financeira bens direitos ou valores que

sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste

artigo

II - participa de grupo associaccedilatildeo ou escritoacuterio tendo conhecimento de que sua

atividade principal ou secundaacuteria eacute dirigida agrave praacutetica de crimes previstos nesta Lei

sect 3ordm A tentativa eacute punida nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 14 do Coacutedigo

Penal

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 48: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

sect 4ordm A pena seraacute aumentada de um a dois terccedilos nos casos previstos nos

incisos I a VI do caput deste artigo se o crime for cometido de forma habitual ou por

intermeacutedio de organizaccedilatildeo criminosa

sect 5ordm A pena seraacute reduzida de um a dois terccedilos e comeccedilaraacute a ser cumprida em

regime aberto podendo o juiz deixar de aplicaacute-la ou substituiacute-la por pena restritiva de

direitos se o autor co-autor ou partiacutecipe colaborar espontaneamente com as

autoridades prestando esclarecimentos que conduzam agrave apuraccedilatildeo das infraccedilotildees

penais e de sua autoria ou agrave localizaccedilatildeo dos bens direitos ou valores objeto do

crime

CAPIacuteTULO II

Disposiccedilotildees Processuais Especiais

Art 2ordm O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei

I ndash obedecem agraves disposiccedilotildees relativas ao procedimento comum dos crimes

punidos com reclusatildeo da competecircncia do juiz singular

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos

no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes

III - satildeo da competecircncia da Justiccedila Federal

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econocircmico-

financeira ou em detrimento de bens serviccedilos ou interesses da Uniatildeo ou de suas

entidades autaacuterquicas ou empresas puacuteblicas

b) quando o crime antecedente for de competecircncia da Justiccedila Federal

sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime

antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido

ou isento de pena o autor daquele crime

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 49: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

sect 2ordm No processo por crime previsto nesta Lei natildeo se aplica o disposto no art

366 do Coacutedigo de Processo Penal

Art 3ordm Os crimes disciplinados nesta Lei satildeo insuscetiacuteveis de fianccedila e liberdade

provisoacuteria e em caso de sentenccedila condenatoacuteria o juiz decidiraacute fundamentadamente

se o reacuteu poderaacute apelar em liberdade

Art 4ordm O juiz de ofiacutecio a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou representaccedilatildeo

da autoridade policial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico em vinte e quatro horas havendo

indiacutecios suficientes poderaacute decretar no curso do inqueacuterito ou da accedilatildeo penal a

apreensatildeo ou o sequumlestro de bens direitos ou valores do acusado ou existentes em

seu nome objeto dos crimes previstos nesta Lei procedendo-se na forma dos arts

125 a 144 do Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 - Coacutedigo de Processo

Penal

sect 1ordm As medidas assecuratoacuterias previstas neste artigo seratildeo levantadas se a

accedilatildeo penal natildeo for iniciada no prazo de cento e vinte dias contados da data em que

ficar concluiacuteda a diligecircncia

sect 2ordm O juiz determinaraacute a liberaccedilatildeo dos bens direitos e valores apreendidos ou

sequumlestrados quando comprovada a licitude de sua origem

sect 3ordm Nenhum pedido de restituiccedilatildeo seraacute conhecido sem o comparecimento

pessoal do acusado podendo o juiz determinar a praacutetica de atos necessaacuterios agrave

conservaccedilatildeo de bens direitos ou valores nos casos do art 366 do Coacutedigo de

Processo Penal

sect 4ordm A ordem de prisatildeo de pessoas ou da apreensatildeo ou sequumlestro de bens

direitos ou valores poderaacute ser suspensa pelo juiz ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

quando a sua execuccedilatildeo imediata possa comprometer as investigaccedilotildees

Art 5ordm Quando as circunstacircncias o aconselharem o juiz ouvido o Ministeacuterio

Puacuteblico nomearaacute pessoa qualificada para a administraccedilatildeo dos bens direitos ou

valores apreendidos ou sequumlestrados mediante termo de compromisso

Art 6ordm O administrador dos bens

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 50: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

I - faraacute jus a uma remuneraccedilatildeo fixada pelo juiz que seraacute satisfeita com o

produto dos bens objeto da administraccedilatildeo

II - prestaraacute por determinaccedilatildeo judicial informaccedilotildees perioacutedicas da situaccedilatildeo dos

bens sob sua administraccedilatildeo bem como explicaccedilotildees e detalhamentos sobre

investimentos e reinvestimentos realizados

Paraacutegrafo uacutenico Os atos relativos agrave administraccedilatildeo dos bens apreendidos ou

sequumlestrados seratildeo levados ao conhecimento do Ministeacuterio Puacuteblico que requereraacute o

que entender cabiacutevel

CAPIacuteTULO III

Dos Efeitos da Condenaccedilatildeo

Art 7ordm Satildeo efeitos da condenaccedilatildeo aleacutem dos previstos no Coacutedigo Penal

I - a perda em favor da Uniatildeo dos bens direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-feacute

II - a interdiccedilatildeo do exerciacutecio de cargo ou funccedilatildeo puacuteblica de qualquer natureza e

de diretor de membro de conselho de administraccedilatildeo ou de gerecircncia das pessoas

juriacutedicas referidas no art 9ordm pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade

aplicada

CAPIacuteTULO IV

Dos Bens Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro

Art 8ordm O juiz determinaraacute na hipoacutetese de existecircncia de tratado ou convenccedilatildeo

internacional e por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente a apreensatildeo

ou o sequumlestro de bens direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art 1ordm

praticados no estrangeiro

sect 1ordm Aplica-se o disposto neste artigo independentemente de tratado ou

convenccedilatildeo internacional quando o governo do paiacutes da autoridade solicitante

prometer reciprocidade ao Brasil

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 51: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

sect 2ordm Na falta de tratado ou convenccedilatildeo os bens direitos ou valores apreendidos

ou sequumlestrados por solicitaccedilatildeo de autoridade estrangeira competente ou os

recursos provenientes da sua alienaccedilatildeo seratildeo repartidos entre o Estado requerente

e o Brasil na proporccedilatildeo de metade ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de

boa-feacute

CAPIacuteTULO V

Das Pessoas Sujeitas Agrave Lei

Art 9ordm Sujeitam-se agraves obrigaccedilotildees referidas nos arts 10 e 11 as pessoas

juriacutedicas que tenham em caraacuteter permanente ou eventual como atividade principal

ou acessoacuteria cumulativamente ou natildeo

I - a captaccedilatildeo intermediaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos financeiros de terceiros

em moeda nacional ou estrangeira

II ndash a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou

instrumento cambial

III - a custoacutedia emissatildeo distribuiccedilatildeo liquumlidaccedilatildeo negociaccedilatildeo intermediaccedilatildeo ou

administraccedilatildeo de tiacutetulos ou valores mobiliaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Sujeitam-se agraves mesmas obrigaccedilotildees

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros

II - as seguradoras as corretoras de seguros e as entidades de previdecircncia

complementar ou de capitalizaccedilatildeo

III - as administradoras de cartotildees de credenciamento ou cartotildees de creacutedito

bem como as administradoras de consoacutercios para aquisiccedilatildeo de bens ou serviccedilos

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartatildeo ou qualquer

outro meio eletrocircnico magneacutetico ou equivalente que permita a transferecircncia de

fundos

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 52: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring)

VI - as sociedades que efetuem distribuiccedilatildeo de dinheiro ou quaisquer bens

moacuteveis imoacuteveis mercadorias serviccedilos ou ainda concedam descontos na sua

aquisiccedilatildeo mediante sorteio ou meacutetodo assemelhado

VII - as filiais ou representaccedilotildees de entes estrangeiros que exerccedilam no Brasil

qualquer das atividades listadas neste artigo ainda que de forma eventual

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorizaccedilatildeo de

oacutergatildeo regulador dos mercados financeiro de cacircmbio de capitais e de seguros

IX - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas nacionais ou estrangeiras que operem no

Brasil como agentes dirigentes procuradoras comissionaacuterias ou por qualquer forma

representem interesses de ente estrangeiro que exerccedila qualquer das atividades

referidas neste artigo

X - as pessoas juriacutedicas que exerccedilam atividades de promoccedilatildeo imobiliaacuteria ou

compra e venda de imoacuteveis

XI - as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem joacuteias pedras e metais

preciosos objetos de arte e antiguumlidades

XII ndash as pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas que comercializem bens de luxo ou de alto

valor ou exerccedilam atividades que envolvam grande volume de recursos em espeacutecie

(Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VI

Da Identificaccedilatildeo dos Clientes e Manutenccedilatildeo de Registros

Art 10 As pessoas referidas no art 9ordm

I - identificaratildeo seus clientes e manteratildeo cadastro atualizado nos termos de

instruccedilotildees emanadas das autoridades competentes

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 53: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

II - manteratildeo registro de toda transaccedilatildeo em moeda nacional ou estrangeira

tiacutetulos e valores mobiliaacuterios tiacutetulos de creacutedito metais ou qualquer ativo passiacutevel de

ser convertido em dinheiro que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente

e nos termos de instruccedilotildees por esta expedidas

III - deveratildeo atender no prazo fixado pelo oacutergatildeo judicial competente as

requisiccedilotildees formuladas pelo Conselho criado pelo art 14 que se processaratildeo em

segredo de justiccedila

sect 1ordm Na hipoacutetese de o cliente constituir-se em pessoa juriacutedica a identificaccedilatildeo

referida no inciso I deste artigo deveraacute abranger as pessoas fiacutesicas autorizadas a

representaacute-la bem como seus proprietaacuterios

sect 2ordm Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo deveratildeo ser

conservados durante o periacuteodo miacutenimo de cinco anos a partir do encerramento da

conta ou da conclusatildeo da transaccedilatildeo prazo este que poderaacute ser ampliado pela

autoridade competente

sect 3ordm O registro referido no inciso II deste artigo seraacute efetuado tambeacutem quando a

pessoa fiacutesica ou juriacutedica seus entes ligados houver realizado em um mesmo mecircs-

calendaacuterio operaccedilotildees com uma mesma pessoa conglomerado ou grupo que em

seu conjunto ultrapassem o limite fixado pela autoridade competente

Art 10A O Banco Central manteraacute registro centralizado formando o cadastro

geral de correntistas e clientes de instituiccedilotildees financeiras bem como de seus

procuradores (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

CAPIacuteTULO VII

Da Comunicaccedilatildeo de Operaccedilotildees Financeiras

Art 11 As pessoas referidas no art 9ordm

I - dispensaratildeo especial atenccedilatildeo agraves operaccedilotildees que nos termos de instruccedilotildees

emanadas das autoridades competentes possam constituir-se em seacuterios indiacutecios

dos crimes previstos nesta Lei ou com eles relacionar-se

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 54: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

II - deveratildeo comunicar abstendo-se de dar aos clientes ciecircncia de tal ato no

prazo de vinte e quatro horas agraves autoridades competentes

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas

a) todas as transaccedilotildees constantes do inciso II do art 10 que ultrapassarem

limite fixado para esse fim pela mesma autoridade e na forma e condiccedilotildees por ela

estabelecidas devendo ser juntada a identificaccedilatildeo a que se refere o inciso I do

mesmo artigo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10701 de 972003)

b) a proposta ou a realizaccedilatildeo de transaccedilatildeo prevista no inciso I deste artigo

sect 1ordm As autoridades competentes nas instruccedilotildees referidas no inciso I deste

artigo elaboraratildeo relaccedilatildeo de operaccedilotildees que por suas caracteriacutesticas no que se

refere agraves partes envolvidas valores forma de realizaccedilatildeo instrumentos utilizados ou

pela falta de fundamento econocircmico ou legal possam configurar a hipoacutetese nele

prevista

sect 2ordm As comunicaccedilotildees de boa-feacute feitas na forma prevista neste artigo natildeo

acarretaratildeo responsabilidade civil ou administrativa

sect 3ordm As pessoas para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou

regulador faratildeo as comunicaccedilotildees mencionadas neste artigo ao Conselho de

Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele estabelecida

CAPIacuteTULO VIII

Da Responsabilidade Administrativa

Art 12 Agraves pessoas referidas no art 9ordm bem como aos administradores das

pessoas juriacutedicas que deixem de cumprir as obrigaccedilotildees previstas nos arts 10 e 11

seratildeo aplicadas cumulativamente ou natildeo pelas autoridades competentes as

seguintes sanccedilotildees

I - advertecircncia

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 55: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

II - multa pecuniaacuteria variaacutevel de um por cento ateacute o dobro do valor da operaccedilatildeo

ou ateacute duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela

realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo ou ainda multa de ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais)

III - inabilitaccedilatildeo temporaacuteria pelo prazo de ateacute dez anos para o exerciacutecio do

cargo de administrador das pessoas juriacutedicas referidas no art 9ordm

IV - cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para operaccedilatildeo ou funcionamento

sect 1ordm A pena de advertecircncia seraacute aplicada por irregularidade no cumprimento

das instruccedilotildees referidas nos incisos I e II do art 10

sect 2ordm A multa seraacute aplicada sempre que as pessoas referidas no art 9ordm por

negligecircncia ou dolo

I ndash deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertecircncia no prazo

assinalado pela autoridade competente

II ndash natildeo realizarem a identificaccedilatildeo ou o registro previstos nos incisos I e II do

art 10

III - deixarem de atender no prazo a requisiccedilatildeo formulada nos termos do inciso

III do art 10

IV - descumprirem a vedaccedilatildeo ou deixarem de fazer a comunicaccedilatildeo a que se

refere o art 11

sect 3ordm A inabilitaccedilatildeo temporaacuteria seraacute aplicada quando forem verificadas infraccedilotildees

graves quanto ao cumprimento das obrigaccedilotildees constantes desta Lei ou quando

ocorrer reincidecircncia especiacutefica devidamente caracterizada em transgressotildees

anteriormente punidas com multa

sect 4ordm A cassaccedilatildeo da autorizaccedilatildeo seraacute aplicada nos casos de reincidecircncia

especiacutefica de infraccedilotildees anteriormente punidas com a pena prevista no inciso III do

caput deste artigo

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 56: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Art 13 O procedimento para a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas neste Capiacutetulo

seraacute regulado por decreto assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa

CAPIacuteTULO IX

Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras

Art 14 Eacute criado no acircmbito do Ministeacuterio da Fazenda o Conselho de Controle

de Atividades Financeiras - COAF com a finalidade de disciplinar aplicar penas

administrativas receber examinar e identificar as ocorrecircncias suspeitas de

atividades iliacutecitas previstas nesta Lei sem prejuiacutezo da competecircncia de outros oacutergatildeos

e entidades

sect 1ordm As instruccedilotildees referidas no art 10 destinadas agraves pessoas mencionadas no

art 9ordm para as quais natildeo exista oacutergatildeo proacuteprio fiscalizador ou regulador seratildeo

expedidas pelo COAF competindo-lhe para esses casos a definiccedilatildeo das pessoas

abrangidas e a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees enumeradas no art 12

sect 2ordm O COAF deveraacute ainda coordenar e propor mecanismos de cooperaccedilatildeo e

de troca de informaccedilotildees que viabilizem accedilotildees raacutepidas e eficientes no combate agrave

ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores

sect 3o O COAF poderaacute requerer aos oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica as

informaccedilotildees cadastrais bancaacuterias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades

suspeitas (Incluiacutedo pela Lei nordm 10701 de 972003)

Art 15 O COAF comunicaraacute agraves autoridades competentes para a instauraccedilatildeo

dos procedimentos cabiacuteveis quando concluir pela existecircncia de crimes previstos

nesta Lei de fundados indiacutecios de sua praacutetica ou de qualquer outro iliacutecito

Art 16 O COAF seraacute composto por servidores puacuteblicos de reputaccedilatildeo

ilibada e reconhecida competecircncia designados em ato do Ministro de Estado da

Fazenda dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do

Brasil da Comissatildeo de Valores Mobiliaacuterios da Superintendecircncia de Seguros

Privados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional da Secretaria da Receita

Federal de oacutergatildeo de inteligecircncia do Poder Executivo do Departamento de Poliacutecia

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009
Page 57: LAVAGEM DE DINHEIRO EM INSTITUIÇÕES · PDF fileoutras formas de contrabando. Todavia, a técnica mais rápida e segura é a transferência eletrônica dos fundos, ... “lavagem

Federal do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores e da Controladoria-Geral da Uniatildeo

atendendo nesses quatro uacuteltimos casos agrave indicaccedilatildeo dos respectivos Ministros de

Estado (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 10683 de 2852003)

sect 1ordm O Presidente do Conselho seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica

por indicaccedilatildeo do Ministro de Estado da Fazenda

sect 2ordm Das decisotildees do COAF relativas agraves aplicaccedilotildees de penas administrativas

caberaacute recurso ao Ministro de Estado da Fazenda

Art 17 O COAF teraacute organizaccedilatildeo e funcionamento definidos em estatuto

aprovado por decreto do Poder Executivo

Art 18 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 3 de marccedilo de 1998 177ordm da Independecircncia e 110ordm da Repuacuteblica

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Iris Rezende

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

  • Rio de Janeiro
  • 2009