José Agostinho de Macedo - Os Burros Ou O Reinado Da Sandice - Poema

download José Agostinho de Macedo - Os Burros Ou O Reinado Da Sandice - Poema

of 148

Transcript of José Agostinho de Macedo - Os Burros Ou O Reinado Da Sandice - Poema

  • o

  • Os iurros,ou

    (-' fbemaao cia, t/ancuce

    k

    'i i >

  • Os Antros,

    6? c/cci?ia/:/o ' SEIS CAXTOS.

    Facit indignatio versum.JuTETf il

    patus,HA OFFICINA DE EIGNOUXA 1"! DEi FRA>-C=-EOrRGEOIS-S.-Mirni::

    m Drrc xxvrr.

    *

  • Prolog.

    O Poeta que canta os Burros no temimaginao assas forte para os descrevertaes como ellesso, nem um corno tam

    grande e tam retorcido com que po-^utirar sons dignos de tal raa.A expresso Burro em Portuguez signi-

    fica o mximo de estupidez e baixeza :no sei se a immensa quantidade que temexistido em Portugal d'estes quadr-pedes, ter infludo na organizao hu-mana, para que sejam boje tantos Por-tuguezes transformados em Burros : OBrasil ao menos tem-nos dado umaprova da possiMlidade disto com os seusmacacos. E tradio e constante persua-so em Portugal, que certos homensexpiam certos crimes, e cumprem certosfados , transformando-se em Burros , aque hoje se d o nome de Lobishomens;

  • ij PROLOGO.e que o nico modo de llies acabar ofado, feri-los, ou bem cbicot-Ios.

    Estes contos,

    que se perdem na his-toria da Sociedade, vem-se boje entrens mais que nunca verificados; com adifferenca, que outro tempo era um, ououtro Burro que de noite andava orne-jando, cbamando assim d'algum modo osoccorro, e a cura ; mas boje tem-se tor-nado uma molstia tam geral, que paralhes valer preciso organizar um Corpoforte, e uma Sociedade para os zurzr elivra-los da doena ; visto que , com oscouces que do ju netos , nem conhecemo bem que se lhes quer fazer; nem selhes pode valer, sendo poucos os chari-tativos que se acham isentos da molstia

    ,

    e at muito mais difficil a cura, por seterem mettido n'isto os Touros Inglezes,que teem cime, que tornando - se osBurros outra vez gente, lhes sacudamalgum dia o jugo.Os Poetas Inglezes teem conhecido nos

    seus compatriotas um certo predominiopara Touro; razo porque os teem des-

    ^WMMIMMWf'' 1 ' < " '"

  • PROLOGO. iijeripto em seus Poemas

    ,

    ja como Touros,ja como Diabos : eisaqui porque Miltontransformou no Pandemonio os Diabos,isto os Touros

    ,cm Anos : e os Fran-

    cezes conhecendo igualmente o predo-minio de ligeireza , teem descripto osseus beroes ja como ares de rapina

    ,ja

    como aves domesticas; e assim as outras

    Xaes. constante hoje

    ,

    que as nossas idasvem todas pelos sentidos; e dos objec-tos com que bdmos. e de que somoscercados, vera as nossas propenses chbitos : que muito pois que vivendo-sea cada momento em Portugal rodeadosde Burros, se acabe por fim em o ser;e que o fado de Lobishomem seja maisgeral

    !

    Verdade que ha entes que teemmenos affinidade para esta espcie, e quemais resistem a tal doena ; eis porqueem Portugal ha alguns que o no po-dem ser.Do cruzar das raas provem orga-

    nizaes originaes e mixtas; esta a razo

  • ir PROLOGO,porque os Portuguezes, em quanto an-dam n'este fado, junctam bestialidadeo atrevimento ; sendo elles os que fo-mentaram a maior intriga entre El Reie seu Filho, matando aos couces o pri-meiro, quando cuidavam da-los no se-gundo : sendo tambm elles os que se-pararam o Brasil de Portugal ; e emfim osque chamaram os Inglezes para os mon-tar, entregando-lhes os fortes , e o reino :em uma palavra, esteja certo o Leitorque n'este Poema nada ha de exagerado,nem de ficticio ; mas sim phenomenos eraridades, taes como Bestas chapadasdarem conta d'uma Monarchia

    ,como

    sempre taes Bestas deram.Conhecido o remdio a tal molstia

    ,

    fao votos os mais sinceros para quealgum Magico apparea (como tradioque ja houve outrora) para poder livrarPortugal de tal peste.

    li iwi ii mi j r

  • 0$ I31UT0S-

    O REINADO DA SANDICE

    CANTO PRIMEIRO.

    C Ja??t.

    O Zanga, Numenque em minha alma entornasFel em torrentes, que me inspiras versos

    Que so do Crime , e da Impostura aoute,Bafeja-me; aqui stou, que canto os BurrosEm que de Lvsia Heroes mudados foram

    ,

    Dignos de alto cantor, dignos da forca ,Se mais azada a satyra no foraA conserva-los em perptua infmia.

  • 2 OS BURROS.Homens

    ,homens de bem no lenhais susto

    ,

    Que eu vil quadrilha de Pedreiros zurzo,

    E impostores bypocritas e AulicosQue as lellras , a razo, e a Ptria aviltam:Somente esta a burrical caterva.

    Qual de tantos Heroes primeiro, Zanga,Me mandas celebrar? Teu guincho escuto ;Tampelona immortal, s'vandija illuslreTu que fizestes vezes mil de Jud,.s,E mil vezes da Ptria o Deus trahiste ;Tu, que entregastes a Macena o archoteP'ra a cinzas reduzir Portugal lodo;Tu

    ,que outrora enforcado em statna sendo

    Aos Burros, teus iguaes,junctar-te foste:

    Tu, que Ptria voltando, escra visada,Com Magistrados taes la deparaste,Que ja tendo-te morte condeuinado,Puro depois te acharam e innocente .'

    Tu que o largo trazeiro ao P.ti beijavas.Ao mesmo, que outro tempo, matar qu'n.ts;Tu que at aquelles traioas-teQue livrado te tinham do supplcio,E que, primeiro Eunucho e Visir sendo,Guerra entre o Pae e Fiiho suscilas-le

    ,

    Separando o Brasil de Portugal,E Portugal de todo destruindo ;Tu Burro es, e dos Infernos Burro.Tambm tu Calham , malvada rara

    Achars o Ingar que te compete

    ;

  • CAUTO PRIMEIRO. 3Ta pygmeu , mas manhoso e fodaz Burro,Que Lysia a Albion, inuito ha , vendesteP'ra de Barras entreteres Serralho,

    E Paulina Palmella em Paris daresDuzentos francos mil

    ,suor dos Lnsos.

    Tn da casta es Barro damninho,D'aquella casta a quem os PortugaezesA cabea tirar e ps dev'riam.O Arajo Ministro, que, imitando-te

    ,

    Portugal aos Francezes entregara,

    l>i- Vienna ao Congresso te fez irPara la ostentares sabena e tretasDe a Amos dous servir ao mesmo tempo :Tam voraz Burro sempre te mostraste

    ,

    Que do dono a rao jamais te aprouve.Tambm tu , delle a par , seu digno ajoujo

    Orang-outang disforme dom Domingos,Que o titulo de Conde te encaixaramQuando descabear-te so deviam:Asno, aqum d'Albicn as putas chamam'< Horrendo, cujo e porco sodomita Tu

    ,depois d'a Franceza enxovalhares,

    ( Que ao basbaque marido o Padre emprenha 1Por mulher ao Cardoso a impingiste;Tu, que com c teu celebre TractadoConta dos Lnsos , e de tudo destes

    ;

    Es Barro tam matreiro, e taes e tantosServios

    , de forca dignos , has feito ,Que nanca em Lisboa e Rio te apanharnu.

  • 4 OS BURROS.Bem pouco se te d que a Ptria chore;Embaixador em Roma agora te achas

    ,

    Que em manhas raahometicas te iguala.Toma logar aqui rasteiro Brainer,

    Com os Lusos outrora suberbno;Mas com os Francos humilianle Burro:Tu

    ,temendo que os Lusos te amanhassem

    ,

    Ao Rio practicar fostes baixezas;

    Tam calejado e malhadio slavas,

    Que por mais de annos trs ao Taa fosteEsporadas soffrer, vergalho e arres

    ,

    Dos Lusos , dos Macacos mofa sendo.Taes mataduras ascarosas tinhas,Que at mesmo o Valena te fugia.Vilezas taes fizestes la no Rio

    ,

    E tanto em Sancla-Cruz pala andaste,

    Que um velho e manhoso Burro oheteveIres do Papa a Roma o pe beijar,E a borla e ndio cu aos Carbonrios

    :

    Sendo pelo Asno trmulo depoiss Tuillerias representar mandadoAquelle que mordeste e abocanhaste;Porque sempre contrario aos Borbons foste .'Tal a condio da Lusa gente

    ,

    Que os Burros que mais couces lhe disparamDe reg-la somente encoDtrem dignos :E tal do Luso Rei era a fraqueza

    ,

    Que o reino arruinou por inconstante,Empregando os velhacos que o trairiam.

  • CANTO PRIMEIRO.Em a classe primeira occupars

    Teu logar 6 Silvestre ex-con gregado.Que Lysia reformai* em Coimbra q'rias,Mas que a no fugires para Setbal,E de la (graas ao Grilo A rins, e sucia

    ]

    No primeiro navio p'ra a Alemanha,A merecida paga receberas.Tu, o Burro ou cbapado sneiro esQue tantas no Brasil patadas destesQue, a no ser do Prncipe a molleza,Para a costa Africana te enviara.Evitara-se assim co'a IrmandadeO Monarcha trabires e a Monarcbia :Porm tal foi depois tua insolncia

    ,

    Que do reino , a final, te sacudiram.Tu Cndido , tambm , do Alveitar filho ,

    Major das dzias,que no campo dic'o

    De Marte , extra-portas de Grenoble,Para melhor a Napoleo servires,

    ( Pois deus seitis de lctica no tinhas )Cos soldados , Dulin (i) te misturava ,Obrigando-te esquerda, e direita

    A dares voltas mil no exercicio.Tauta raiva te linha a Lasa tropa

    ,

    Que, em Wa grana , no maior calor da briga,De metralha te deu no poucos tires,De que trouxeste a perna escalavrada :

    Mas tendo tu servido contra os Lusos,

    Justo era,que elles ja feitos jumentos

    ,

  • 6 OS BUBROS.Governados por ti a ser viessem ;Pois a Burros so taes governar devem.Tambm tu porcalho coronel Pego,

    Que no assalto terrvel de SjrmlenskoO Luso batalho sacrificaste;Porm como abi perdeste o filho

    ,

    Te fez Napoleo Baio d'Iinperio,E com a cruz-da-bonra te brindou

    ,

    Que agora mesmo cm Portugal no largas

    :

    Do hbito de Avis ao lado a trazes.Pena que de Wagram no conflictoNo deixasses a ossada , mas valeu-teFicares guardando a ponte; que sem issoLevaras c'os balazios no bandulhoCom que ha muito queriam premiar-teOs teus mesmos soldados , em desforraDas grandes arrochadas que lhe davas.Tu me pedes tambm logar primeiro

    Arrumador dabispotada iinmundaDo bellico Hospital roubado aos FradesDictos Capachos

    ,ou Seringas dictos :

    Tu da esquadria apstata perjuroAbrantes Verspelle

    , heroe dos Burros

    ,

    Tu, que quizeste ja servindo os FrancosOs tristes Lusos albardar, e albardas;Tu, que apenas largastes a sotainaE a chave que na cinta te pendia

    ( Com que abrias a porta do conventoAos ndios e vermelhos frades Bentos)

  • CANTO PRIMEIRO.I ogo com vis embustes em CoimbraA Antnia padeira seduzistes,E c'o suor das putas te formaste :

    De uma que o capello te alcanou ,Com a tua pharmacia, cabo destes.Mais emfim c'uina torta te ajoujaste;A qual

    ,pouco te d que o Guedes monte ,

    Comtanoque do pae dinheiro arranques.No me esqueo de ti , Lacerda , es Burro ,

    Burro malvado que o Algarve e o PortoCom srdida cubica rapinaste ;Porm mais em Lisboa encheste a garraQuando ao trdo Pamplona succedeste.

    D'elle a parte colloco tu Barradas,

    Que das Cannas-da-Quinta o Sulto es ,E dos Trolhas o insigne Gran' Mestre.

    Mais apto a destruir que a edificar,

    A runa da Ptria cooperastes.Tambm tu bonifrate Barbacena,

    Que no crach e fitas te embasbacas ;Tu autmato vile miservel

    ,

    Que Boneco te arvoraram na intriga,

    E que as ordens risca executavasDos carrascos de Lysia, e teus Carrascos.

    Mencionado tambm sers Torres,Tu Burro alvar, t na figura Burro,E Ministro dos Trolhas duas vezes

    ,

    Que da Ptria nos ltimos arrancos,

    Em p;; ri ilha c'os outros, no deixastes

  • 8 OS BURROS.De extorquir, para o filho, viuva o officio-

    Chefe dos Cornos , Lancerote primo,Que para os lados todos couceavis

    ,

    E s partes mui bem zurrar sabias;Co titulo de Conde te compraram.Porque o soldo augmentastes aos Ministros,E a grau' commenda ao Pampelona destes.Tambm tu Burro e trmulo Saldanha

    ,

    Que do Prncipe Inglez a libr tinhasQuando cabo de Lysia dar cuidavas;O que sempre a final obetiveste.

    Vicente Pedro teu logar me pedes

    ,

    Magro Investigador de antigos trapos,Da triste intil papelada ensossa

    ,

    Que a ti, e ao Abrantes enviavamDa trolha e da esquadria heroes jumentos

    ,

    Seringadores da Vaccina immunda,

    Do Bernardino, edo Baeta asneiras.No me apertes Acrcio, eu te conheo;

    Vejo os volumes cinco; es Burro, es Burro:Irs na recua em teu logar decente.

    Responde ao teu rival, que la do RioO clebre General vingou das botasDe macio veludo, e a AcademiaIS"a entrada do Junot mostra innocente, (2)E ao crneo Foyos o panai empurraDo acertado convite ao Scio dignoDos Burros Acadmicos

    ,

    quaes elle.

    Joo Bernardo, o Bacharel ao cauto

  • CANTO PRIMEIRO.Dar princpio e 6m , e outros o enfeite ;>~unca existia na terra outro mais asno :Coin eilc quiz Sandice eui Lvsi.i o reinoFundar, qual vejo universal da Asneira;E por premio depois d'altos serviosEHe

    , e infinitos mais, transforma em Barros.Do patriota Lol o genro e scio

    ,

    [ Que escapou por milaqre justa pagaQue aquelle

    ,por igual manha obtivera

    )

    Do Patro a pequena inda corrompe,

    Adjudando-o a quadrilha dos EunuchosLopes

    ,Rendufe, Pampiona

    ,Abrantes.

    Cm ja, quanto era obsceno, prodazindo-lhe;Outro, entretendo o pobre Pae com snstos:Aquelle, v2jens dictando Outra-banda;AquelToutro, purgantes receitando ;E este, que no Par Sulto ja fora,E boje dos Maes o Polcbinella

    ,

    E ser para sempre o heroe dos Asnos.Tal outrora se viu a potestadeDo desforme Pripo, quando expulsoDe Lampesaqce foi ; porque lascivoAs fmeas desflorava aos habitantes.

    ( Eterna infmia de meus versos foge,Que at n'iso calar me manda a ZaDga.Tu Gosto, tu Razo, tu Amor da Ptria

    Sereis Mecenas de um Poema eterno.Se tem Tami;a Dunciada e Pope,Se o Sena tem Lutiins, tem Lvsia os Burros,

  • to OS BURROS.Qual lenha inais dir Posteridade.Queixai-vos Asneires que a perda vossa .Pois qupr ser Lobo queui lhe vcsle a pelle.Tinha acabado da venal tarefa

    Joo Bernardo o Bacbarel immundo;Sribre o bocte prfido empilhandoOs feitos vis

    ,que o Rbula perjuro,

    De nome o Simas, de instituto o Trolha,Com chicana defende, e as partes rouba.Do Escriptorio de Anaz dando c'o vultoXo conhecido Botequim das parras

    ,

    Que rege o chefe dos luminaristas,Que pede terras e vermelhas fitasPorque algum sebo c'os Bretes tem gasto;Encheu de quente ponche as ermas tripas,Ponche almoo, jantar, merenda e ceia

    ,

    Com que a rallada mchina sustenta,Salvo se algum dos Jumentes seus scios,Que as minas teem na banca aladroada

    ,

    E em dado certo de chumbinho prenhe,i\"a tasca lhe vai dar chanfana immunda

    ,

    Humedecendo o esfago sedentoDe azedo carrasco medido a selte,Com tarraadas trs, rivaes de almude :Tal lhe foi n'este dia o fado amigo.Eile pagando aos scios lhes repeteAo gentil Caracol, gentil Vimeiro,Co soneto Ananaz ds odes suas.A voz, o gesto, a lettra emtrno espalham

  • j TO PRIMEIRO.

    Fiio sueco de Egvpcia dormideira.

    >~a subitanea Jethargia involio

    Deixa o Congresso o Bacharel, e foge;

    E no centro da ftida posiigaAlcova, e sala, e gabinete, e tudo,

    Vai c'os podres lazarentos membros.Frende-lhe o somno envicz.';dcs olhos,

    Onde em viva expresso lhe falia a asneira:Respira , sorve o monco, e bufa, e ronca ;

    peito arqueja como arqueja um folie;Da verdenegra escancarada bocaAs ensanchas dos beios se alargaram ,Elles, e o pingo impertiuene cobremA mal de pllos povoada barba ;De reconcavas ventas atulhadas

    De mormo, e de tabaco o compassadoRelornello infernal sabe de assobio ,Que sempre vem no fim

    ,que sempre acaba

    A cavatina do toante rouco.

    Na semi-alma emtanlo atrapalhadaCos densos fumos do liquor sarrenloMil confusas imagens se apresentam;Inda que pouco mais com luz distincta.N'alma as conceba o vigilante Orate.

    A imagem de um jantar pilhado a denteDo Caes-da-lama na taberna escura,A phantasia era nctares lbe banha ;Offerecida , casual torradaCom prazer se lhe antolha em manh fria;

  • J2 05 BURROS.De siinonte ou rap pitada avulsaAs almejantes ventas lhe consola;Como Co que sonhando aboca a LebreEst dando no ar co'a tromba estalos.De mais alto calibre ideias grandesSuccedem ao prazer da venta e tripa;Surge-ihe n'alma o Botequim-das-Pairas.A Raiva em forma de um Cao ja velhoAnte o Sandeu se mostra , a grenha hirsuta

    ,

    Com dons olhos de purpura e remela,

    Com boca aberta e grande,os cantos cheios

    De espuma verde-niar, co* as cordoveiasD'ambos os lados da guela inchadas ;Perfeita copia da feroz Megera.Em meio dos Carngos, ia resurge

    Em sonhos, (enviado por Silvestre)O tolo Embaixador, que alli disputaAltos planos, que so se dirigiam

    ( A fiin de assegurar a paz ao mundo

    )

    A entregar de Hespanba e Lysia os reinosAo engeitado filho do atroz Corso.O Fernando Thomaz , F.lle, Carvalho,E Silvestre Pinheiro, e outros muitosGusmentos burricaes , talvez um dia

    A Ris subir podessem , retirandoAos pannos dos Bretes os spus direitos ,A manteiga , batata, graxa, loua,Anzoes das nossas requestadas peas ,Que de Lusos heroes fizeram tolos

  • CANTO PRIMEIRO. i3Qnando o maior dos Ris que osthronos viramComprou com ellas Principaes a Roma,Monsenhores, e Conexos, e a lurbaQue com farta pinguissima mesadaNntre inda agora ociosidade e putas.Se menos ouro aos pontaps andasse,Teria-mos nas mos arado e lana

    ,

    Ilouvera Magalhes,Castro, Albuquerque,

    Nenhum Futre cruzara a foz do Tejo dar lies de tctica e tarimba

    ;

    Nem rstico Breto metera as ventasNa sala de um Governo. Ah'. qu'inda a AuroraInda o bero do Sol c'o nome assusta !Peas funestas

    ,que sem tino demos

    Por assobios , birimbaus , escovas ,Por ver um Urso c' um Macaco em cima.Assim corria a noite, assim sonhando

    Cosia o vinho o Bacharel Javardo,

    T que a luz da manh desponte e rompa.

    E penetrando o tecto esburacadoCom raio avivador desperte o alarve,Saltar fazendo da moda enxerga,Onde insecto roaz tem couto eterno

    ,

    chochino, e vestir camisa immunda,

    Que nunca viu sabo, bemeomo a caraOutra agua no viu mais que a do baptismo

    ,

    f Se acaso os pes que do Jordo vieram,Netos de Barraz no se esqueceramD'esta, no gran' naufrgio, arca segura.

    )

  • m OS BURROS.Kisque quasi ao romper dos ecos a Aurora

    ,

    Quando nem toda luz, nem sombra todaDo rocio do eco se orvalha a terra,A phantasia do Sandeu se amostraUm sempre seu, mas trbido pbanlasma;Grenba empessada traz, denso o sobrolhoQue os dous olhos estpidos Ibe assombra;O nariz aebatado, as ventas largas,A boca enorme e vasta, a lingua em prancha.Treme o Javardo do pbanlasma vista;K da poda manta os descarnadosSarnentos braos alongou, cuidandoQue afugentava o aveio medonhoJa vertical ftida posilga.

    No temas , filho,

    ( lhe diz elle ) attenta

    N'este fucinho do Trigoso imagem,

    Do meu ventre cahiste, em meu regao.

    Eu te acolhi contente, e tu pendesteD'estas esguias asininas tetas.

    Olha o charco , olha a barra onde apontasteCo a dura frente para o cho nascendo :Sou tua me, sou teu brazo Sandice,Tudo o que has visto em Frana obra minha:Surdo da Frana a renovar o mundo ;Eu puz no throno dos Borbons o Corso ;Trouxe Hespanha Jos , e guias ao Tejo

    ;

    Eu prezidi na Conveno de Cintra;Entre a prole iufuiita, e que eu na terra

    D'este ventre yasei, tu te distingues

  • CASTO PRIMEIRO. iUlustre chefe, capataz dos tolos;

    No tem rival , nem similhante ha outroSeva o tolo Linhares corntigo hcmbreia ,.Nem mais asno do que tu Readufe.Nem sero teus iguaes meus filhes gmeosLoretto e Soledade, ambos Yicentes;Nem Vicente o doctor mestre da turba ,Quede Plato Republicas sonhando,A rapinanie Grei chamara ao Tejo,Que maldiz a fatal Septembrizada,Que em vez de forca o conduzira s Ilhas.Vacilla o reino mea , vacilla o filho;

    Quasi aludas as paredes vejoDo gran' paiacio que no Cabos kihaDepois que o gran* Marquez chorado agora,Eia vid i sua conhecido a poucos.Deu preo s leltras, aos cultores prmio,De todo afugentou gothicas sombras,Fez brilhante surgir philosophia;

    La foi achar um Prebendado gordoDicto grande Vernei

    ,que Lusa terra

    Da sapincia a luz primeiro entorna :Das leis ao kbvrintho , vil chicanaFez sueceder um Cdigo sublime :Era em legar de clculo sabidaA taboada de Garrido a-Abriu da Geometria o templo augusto,Fez terra patente a terra , o mundo

    ;

    As boas artes arrancou das sombras:

  • rfi OS BURROS.Do seiscentismo a lngua emporcalhadaDos conceitos salvou com que um Tarouca

    Um Ericeira, e Gorgorista corjaA mettra no abysmo, ou nas secretas;Indaque eu forca fiz por conserva-laRa mesma Calda com Manuel de Souza,Co profundo Cenculo dos Nadas.Ja tinha dado avivador arrancoDo Monarcha maior que a terra vira,( Se um pouco menos desse s Sacristias )Com Alexandre de Gusmo ; BrochadoDo Cahos a tirou , faltou-lhe apenasSaber um pouco basculhar Vieira.Do Tibre a Arcdia se plantou no Tejo :

    Carrapato Garo ftido e feioTirou do lodo a maga poesia

    ,

    D'aquelle lodo que delicias minhas,

    ( No qual espero chafurdar de novoSo comtigo, e com Pato as musas todas)Teve ingenho

    ,mas pobre, e no de todo

    Devera a rhyma desterrar de Lysia :Da vulgar poesia base aindaQuando lyra se ajuncta o som cadente,Ou canta pica tuba os altos feitosDo pacfico heroe, de heroe guerreiroAlguma cousa fez magro Baslio,Poeta d'arte , natureza nada.

    Deu leis scena prfido e tyrannoDe meninos um mestre ,involto em sombra

  • CAUTO PRIMEIRO. i?Quaes costumam no Tfjo os Gnios rarosSempre ignorados ser, sempre esquecidos:Este e Pimenta

    ,que nas tbuas punha

    Nuas as Graas, natureza nua,

    Quaes as poz Aristophanes,Menandro

    ,

    No Sena Molier, Goldoni em Adria :Deu cabo de Solis . cabo de Lope

    ,

    E enterrou Calderon (filho d'esta r.lma !Surgiu que dor!) um Quita, a quem talentoFez grande sem doctrina e ensossas regras ;Entre pentes e sebo e cabelleirasSeguiu de perto a natureza

    ,e pde

    Sem vergonha segni-la,e sem rebuo

    ,

    De Moscho, e de lheocrito no idyllio,

    ( Sabendo apenas Portuguez o monstro .' 1Pieproduzia simplicidade ingnua

    ;

    No soneto seguiu sbrio e sisudoNobre conceito do epigramma grego

    ,

    Sem empolados emphasis d'aquelle.Que o golpe pinta

    ,que no Touro dera

    Co' a espada Ferrabraz Conde da Torre

    ,

    Que co'a ponta cavando a terra , formaNa mesma terra ao Touro a sepultura :Algum tom liberal guarda nos versos

    ,

    Parece que lhe cahem de fcil veia.O Tejo deve a Eipino de NonacriaReproduzido tom de versos limpos

    ,

    Que visos teem de siso , e de harmonia.Com taes ideias, cora sciencias festas

  • jS os burros.Tinha meu reino proclamado em Lysia.Mas oh.1 que e este o sculo funestoDe um throno ora no ar, um throno em terra !Sempre cuidei que a Pedreirada immeasaQue acarretara os Vndalos do Sena,Mantivesse por sculos meu Slio!Que do campo senhor fosse Pamplona,E subalternos generaes do chefePalmeilas e Patrcios , Pvoas , trampa.sinto um dia importuno... acorda , filho !Lettras em Portugal ! Javardo , acorda

    :

    Mette os hombros empresa,em li confio

    ;

    Meu reino vacillante em li repousa:T por instincto machinales asno.Toma o basto de general dos tolos;Forma Estado Maior, Sulto (3) presida.D'esle Estado Maior depende tudo

    ,

    Te diz Jos Sebastio no livroPeito por elle na fumosa Londres :( Um so no vai la ter que auctcr no seja -.

    )

    Todos a eilo o Principe adorando,

    Porque a vida tirar lhe no poderam.Levanla-le Bernardo, e a turba ajuncla

    Dos filhos meus, iniinensos e mimosos,Escrevam lodos, vi virei no Tejo,Poro do Globo que me escapa eia parle

    ,

    Pois nem lodo o celeste Maonismolnda pde illustrar

    ,provindas faltam ;

    En c'os Pedreiras meus um juz conservo

  • CANTO PRIMEIRO. 19A posse universal da terra toda,Em ferros tive a Europa em sombra iuvolta;OndeqQerque viver Canning, existo.Eu fiz no inundo referver cabeas ;As bases abalei dos tbronos todos;Ea fiz sonbar Republicas sonhadas;Cortes convoquei ja, mas esvaram-se

    ;

    Ainda as chamarei, no esmoreas.Todo o Governo popular trampa

    ,

    Pois todo vai cahir nas mos de um tigreQue entre canalha mais astuto surge.Meu filho Maby

    ,meu filho Jatques

    ,

    O meu fiiho Raynal , da Europa a bolaDe fumo encheram , de esperanas loucas

    ;

    Porque os maiores sabiches no pensamComo esse Machsccz que em versos cantaMeus feitos immortaes, e os teus Javardo

    ;

    E da cabea aos ps Republicano,Mas qual fora Pompeu, qual Tullio, ou Bruto,Labieno e Cato, e os mais da sucia,Que nenhum Bonaparte albardar pde.Para o padar de um Burro o mel no nasce

    ;

    Deixemos isto agora. Ajuncta os sbiosNo gabinete do charoto e ponche

    ,

    Que ao Grande Eolo '4) os patriotas BurrosEntre tigellas consagrar costumam.Onde os ihemas se do , e as quadras surgem.D'este meu ventre se escoaram todos,E tu sahiste parto atravessado,

  • 20 OS BURROS.Mais tolo

    ,e mais alvar : Bernardo acorda

    ,

    Cos sbios delibera,eu vou couitigo.

    Disse, e desfez-se sbito nos ares :Esquecendo-lhe ainda o Padre Foyos

    ,

    Atrs tornando lb'o mostrou na cellaQue traduzia Euripedes, e foi-se.Rompendo a taipa da remela immunda

    Abriu Bernardo esgaziados olhos,E viu raiar a luz , deixa assustadoA posilga hedionda

    ,a manta , as pulgas ;

    Encorliados ps poz no sobrado ;Um resto de camisa ao couro ajusta;Atamancando nos quadris as calas,Enfia as vezes mil tombadas botas ;Nos hombros com sentido , e mais nos braosEncaixa pouco a pouco a porca e tristeJa sem frisa subtil sobrecasaca

    ,

    Ao penetrante frio escudo iinbelje:Mas inda assim na espinha , inda amostravaVivos signaes de antiga caldeirada

    ,

    De chocas conservando a barra eterna;Que Bernardo o Sandeu trampa por fora,Como n'alma o Sandeu trampa por dentro.Da primeira pitada a caixa em lastro

    Deixa logo ficar, sorveu d'um jacto;Em grossos borbotes ja corre o pingo

    ,

    Eis lhe accode co' a mo , suspende o fluxo ,Outra vez o resorve : assim do TejoNa praia os cagalhes tornam, retornam

  • CANTO PRIMEIRO. ;Co contnuo vaivm das mansas ondas.A tampa bacial poz na cabea ,Chapeo de felpa pobre , e rico em sebo.D'uma pernada so se poz na roa

    ,

    Sem soffrer dous jejuns miolo e tripa ,No conhecido botequim se enfia :Co corpo emporcalhou marmrea meza ,Todo n'ella encostando a tromba immunda:Veio astuto Jos ja mestre em contas,No lyceu dos Caurin; doctor formado;As ventas lhe arrumou torrada e copo ;Foi depois trabalhar c'o giz na porta

    ,

    Sem nico P. G. de riscos cheia;Que inda at-agora nos cafs, na tascaNo consta que o Sandeu rao pagasse.Subitamente no poro da panaO almoo inteiro o Jacareo sepulta ,Sem que movesse a burrical queixada

    ,

    De cujo motu treme o farto IzidroSe alguma vez do jogo a sucia o levaA encher de mofo o bucho auachoreUOnde nnnca o fastio achou guarida.Filhou de um lado casual pitada

    ,

    Erma deixando a caisa ao dono absorto;Na venta cavallar toda a sepulta,Sorve os resqucios nos immundos dedos:A perna escaletal cruzou na pema,Inclinando o toutio a barba encostaNo arcabouo do peito ; os beios quatro

  • 22 OS BURROS.Dos rizes soltos badanando ondeiam >Taes da Rozaura

    ,Calceteira

    , e muitasQue eu vejo andar, badanaro badanas.N'esta altitude estpida e troinbuda

    ,

    Qual um Bezerro desmamado, ficaCo'a paura consolado o bruto immovel.Baila-lhe emtanto nos miolos ocosDa me Sandice o vulto atoleimado,Na confusa memoria inda alguns restosRevolvendo do estpido discursoQue vezes tantas lhe lembrara em sonhos.Cresce, que tempo, dos Sandeus a turba

    ,

    Tam basto enxame de joguinho e copo :Sadam o Sandeu c' um viva ensosso

    ,

    Como toa se do no ces os grossosDo equilbrio europeu calculadores.Fica Bernardo immove! como um corno

    ,

    Qual por dentro no juizo e n'alma.Vai-se engrossando o fio, o assombro cresce

    Na turba dos Sandeus vendo a viseiraDa venta primognita cabida;Embicam n'ella , e se lhe pem de roda.

    Entra o gran' Bacalhau , doctor em nada ,Que a tola filha empanzinar deixaraEm quanto o esposo, traduclor de oficiosNo campo de Mercrio e Cornos brilha.A cfila cresceu, o apito soa

    Na escura estancia que chamar costumaOs membros Sesso, quando ha tigelias,

  • CANTO PRIMEIRO. 2

    5

    Todos embocui limiar sebento:Vai aps elles carrancudo e tristeSandeu

    ,cahida a beira , onde aluiorreimas,

    Ja canada do ca, poz natureza.So na tolice iguaes

    ,e iguaes se assentam ;

    E de um lado da tabola redondaft'um moxo raso se escondeu Javardo:E com Jorge ou com Pedro

    ,ergue-se o nanno.

    Quaes em Carlhago os Tyrios , e os TroianosBoquiabertas esto, pendentes ficamTodos da boca do velhaco EneasQuando rainha Dido a arenga embute

    ,

    Em que elle mais que o Monitor mentia 1Taes em roda da banca os membros todosTesos esto , suspensos e direitos,

    Como assestados do Sandeu nas ventas.Elle ento comeou, dando co' a dextraSobre a meza cambaia uma porrada

    :

    Hides ouvir a Fox... gentil discurso... Uma risada universal se escutaNo exrdio do Orador ; pallido exclama : Ento que isto ? E Serra, ou Luz em scena

    ,

    Ou sou eu a fallar ? Arre , auditrio...Se vocs esto bbados , eu deixoEste excelso logar, podem cose-la

    ;

    Mas se querem cuvir-me ento calada. A fora invicta de eloquentes vozesConteve a solta gargalhada em todos :Elle ento comeou : Roncava scios

  • 24 OS BURROS.Na manta involto

    , no covil deitado;>o foi ponche ou vinhaa

    , era a verdade,A me coinmum me appareceu, Sandice;Inda lhe escuto a voz n'estas orelhas!Alheio de cuidar n'alta venturaDe ver a Deusa tutelar da Europa,Vi aquelle avejo de boca aberta

    ,

    ( Seu brazo, seu signal ) gritando : Acorda,Eis em Lysia abala o imprio nosso;Eis a fora da inrcia

    ,herana minha

    ,

    Quasi no Tejo reduzida a nada;So me resta o Telegrapbo, o Mercrio :Se acaso morre o S

    , e espicha Acursio ,E se os tractados da Vaccina acabam

    ,

    Que me fica , Lambaz? a Academia ?Mas nem todos so meus quantos a formam.Nem todos que a compem agora escrevemMemrias sobre pesos e medidas

    ,

    Ou belidas em olhos de cavallo

    ;

    Nem todos fazem planos de batatas,

    Nem todos querem dar feijes tropa,

    Nem todos buscam phrases de Quinhentos,Nem todos Bentos so , nem Frei Luis todos.Tenho um corpo de exrcito potente

    ,

    Tenho Times, e tenho Morning-Chronicle;Mas contos annuaes oitenta , custam

    ;

    Nem menos ao Palmella emporta a mecha,

    Que os Jumentos de Lysia acham barata.Combater preciso , scios todos ;

  • CANTO PRIMEIRO. 2Tracta-se a nossa causa , a da Sandice :

    Vem tarde, e muito tarde nm Jalapeiro

    Quando o Cltico humor no corpo velho.Obstemos todos ao fatal principio;Opponde nova luz sandice e trevas,Escrevei scios meus , eis a victoria;

    Escrevei qual se escreve em Frana aora.

    Venha o dia natal dos Jorges todos,Ou legtimos sejam , ou bastardos (5):Venha

    ,qual Csar pequenino , ao Tejo

    O tam celebrado hoje , Jorge Canning,Ou mesmo de Bronsw ick o Jorge quarto,Que- America toda o jugo ho posto.Conde , Baro, Marquez , Duque , Vaivode ,De leve fato, de trajos tam modesto,Oue o povo alvar cuidou que era PaizanoAfeito a ver os capites da bicha.Oh quanto o povo Tortuguez simples!Se ha mais albardas n'este mundo, venham. digno d'ellas, porque no conheceSo no gesto e chapeo o heroe guerreiro.

    Nem tu tornando, como espero, Abrantes,Tubuciaua Academia acimaFars ir outra vez: Bivar honrado,Se um voto menos te livrou da forca

    ,

    No podesie evitar que em torno d'ella(Porque abafava com calor o dia )No d'esses vezes trs serena volta ,Co pardo e liso couro ao sol patente,

  • 26 OS BURROS.Onde ingnuo igual teu Carrasco dictoDescarregou sonora sapatadaQne o povo de prazer deixava absorto

    ,

    Pedindo ao ceo qne a gargantilha tuaSe atasse nos paus trs , onde ondeanteTeu mascavado corpanzil ficasse!Aos rapazes o Couto ensina grego ;

    Compoz o Calhariz em francez versos ;Um mestre, outro ministro : em letlras ambos,Inda menos que eu sou, iguaes a zero.Oh potente, oh fatal metromania I

    Annes Barrasco, e sabicho pedautp,N'essa, que empinas, tonsurada boln

    ,

    Jamais ostentars sciencia occul aEm quanto a triste viuvez debaixoD'esse corpo lambaz se refocilla.De Tacilo profundo as promettidasVerses irs deixando ao fim do mundo.Qual do Salitre em carunchosa praa

    Vemos o co de filia inda aaimado ,Que pula e barafusta , e ja co' a bocaD dentadas em vo no Touro ao longe;O Rolo preto por fallar ardendo(Rbula infame

    ,novelleiro infausto,

    Do rapazio tragador lagarto,

    Do Simas successor na banca e geiio,Qne inda no sei porque da forca escapa)Em quanto o heroe sandeu na barra esteveDava pulos de ca, jml suspendendo

  • CARIO PRIMEIRO. :A desinteria de palavras ocas;O queixo em convulses , a boca espuma,Pedro de Souza ( diz ) poe-te a meu lado

    :

    Se eu me vir afogado , e afogar todosITeste diluvio atroadorde vozes,Que chega a preamar no sesso e boca;Tu

    ,Sandeu dos Sandeus

    ,chefe e monarcha

    Assalvajado Agameno dos Asnos,

    Eu Achilles serei ; embora empunhesO basto de Jordo , eu lenho a espada.Meu pae no foi Peleu , nem me foi Tbetis ;Um frade foi Bernardo e uma GallegaQue de geilo pilhou na estrebaria

    :

    V que se espora de tam nobre casta !Eu comtigo darei das lettras cabo :Ka testa d'este exrcito potente.Onde no levarei conquistas nossas?O heroein-iior que Scipio

    ,

    que Csar,

    jNao passou de Mosco w, e eu so comtigo,Os estandartes plantarei da Asneira?{o Plo Aquilonar, no Plo opposto.Da China ao Tibre , do Danbio a Javairei correndo, campio dos Tolos.Padres Conseriplos

    ,o meu voto este:

    As armas, Asneires !... E o fado escuro,Que no mundo no quer gostos completos,A Sesso perturbou, poz em fugida.

    Qual piquete de Trtaros Calmucos,Qual do frreo Cossaco o bando immundo,

  • ?8 OS BURROS.Das altas lrres de Paris bispado

    ,

    Caheno Franco esquadro, que um Duque levaA passar o Hellesponto , e ir ler Prsia ;Que n'um momento a pantomima corja,Largando trapos, espelhinhos, pentes,E sem rabo deixando as sacras guias,Vira de popa com ligeiras gambias :De paizanos assim, e granadeiros,Co general de Villa-Franca testa

    ,

    Cahiu na sala das Sesses a turba;A taba mandando os oradores.

    FIM DO PRIMEIRO CANTO.

  • CANTO SEGUJNDO. 2g

    CANTO SEGUNDO.

    t^V Ota/ c/n.

    Em lanto a me Sandice oppressa e cheiaDo peso enorme do voraz cuidado

    De se ver de tal sorte perseguida,

    E os planos seus de todos transtornados,Com os quaes dar em Lysia leis contava

    ,

    E os Portuguezes reduzir a Burros;Ento, sem perder tempo, corajosa,Nos cascos Burricaes volve o negocio.Assim das Cortes os conscriptos padresDe San' Carlos pera assistindo,Todos a par do Rei empertigados

    ,

    Em o meio das danas e cantatasCuidam na ptria , e no trampinha cdigo,Que um piparote lanar por terra

    ,

    Apenas um Infante em Lysia assome.

    Deixa a posilga ftida ascorosa

  • 3o OS BURROS.Em que o Javardo estlido roncava;Desenrola e sacode as pandas azas

    ,

    D deus pinchos no ar, pousa no Sena,

    Da pedreirada, e d'ella asylo augusto.Por toda a parte observa as obras suas

    ,

    (Em Moral, em poltica,em governo

    Tudo que for Francez cheira a Sandice! )E no se pde ter que em gosto immersaE acocorando as ndegas no desseNas caldeiras, retortas e lambiquesDo mestre Vauquelin tamanho peido

    ,

    Que o o estampido lhe ouviu Pedro de SouzaNo Tamisa, e no Tejo ouviu-lh'o Abrantes.Um sal-fixo deixou nas ventas todasDa Instituio Vaccinica, e seus Membros:D'esta arte ento desonerando o ventreA quadro mais gostoso os olhos volve.Das Tuillerias ao terrao eis voa:E viu n'um canto a me de BonaparteCom trs velhos Abbs rezando as contas;(ISo ha sem devoo Puta ou Larapio 1

    )

    Deu no goto Sandice a Tartaruga,

    E espremendo-se mais deu novo estoiro;Nas salas rebombou do Pao augusto;Cuidou que era um trovo tremendo a velha

    ;

    Bentos,por Fescb

    , e por Maury , dous cotoA san' Napoleo devota accende;Sancto que os Neris na Folhinha punhamFeito por elles so martyr no Egypto.

  • AMO SEGUNDO. 3fNovo estoiro do venre ento SandiceSoltou gostosa , e revoon mais alto ,E de Monl-Mart nos Moinhos postaA vela o sesso poz ; com trinta salvasOs alliados ao congresso cham?,E a morada do filbo de la vendo,Logo para Fantin dirige o voo

    ,

    E do Paruplona o tecto antigo basca,Que pela zrroela se distingue.Ainda juncto casa stava o campoDe brancos Malmequeres guarnecidoOnde elle e a cara esposa se entrelinbaiaQaando ambos indecisos fluctuavamSobre o que em Portugal fazer dtv'riam.Rumas e rumas de papel jaziamDo vestbulo entrada , virgens restosDo rapsodio-jornal Contemporneo.Pela sala, em molduras se divisamDe todos os Borbons, as fieis cpias;Mas pela inversa parle encaixes tinhamQue do Corso a famlia resguardavam.Tendo bem tHdo a me Sandice visto,E as despedidas ao livreiro feito,A rua de la Paix direita voltaOnde a Paulina do Palmella assiste,E onde de Lysia se tractava a sorte.Viu que em quanto nos braos da Baccbanle

    torpe e curto satvro cbaforda,

    Brito, e o eunucio Radem&ker

  • 3 OS BURROS.O alino apromptavam na antecamera.Contente ja com islo a me Sandice,O cio Burrical expor no qu'rendo,La para o novo Delphos s'encaminbaAonde todos os Pascasios LusosA consultar accodem em cardumeSobre a materna lingua um Francez mouco.Tal a desgraa de Lysia hoje,Que a um stranho, so porque dos Trolhas

    ,

    Conselhos e avisos se demandamAcerca do que bem saber se deve;Ou alis so a Lusos perguntar-se.D'alli praa Carousel se atira

    Onde ve mais gentis, mais dignas scenas,E onde um casaro medonho ve,Onde outrora Barras , Marat outroraRepublicanas mximas dictaram,Que alto e maio, a granel, a eito, a rodoMandavam n'outro tempo Guilhotina.Riu-se de ver a habitao mimosaOnde ella ouvida foi, e onde traaraDa morte, e da igualdade o plano excelso

    ,

    D'onde o Corso tirou modelo exactoDos Duques, dos Bares , Prncipes, Condes;Grande episodio da epopea eternaQue Luciano fez, Nolasco extracta.

    Vai ver ao Pantheon nacional os ossosDe Voltaire fallador, Jacques mijado,Que os caboucos abrira

    ,onde alicerces

  • CAUTO SEGUNDO. .33Teve eerna Republica sonhada

    ,

    Onde Fabricios sos, e ingnuos Curis,Quaes Danton . quaes Barrere, e o Corso outroraAs rdeas suavssimas tiveram,Dos olhos da Sandice objectos dignos!Conhece em tanta asneira as obras suas

    ;

    De prazer se mijou , limpa-se e voa,

    E no Instituto nacional se chimpa :Este o bairro mimoso corja eternaDos qu'indadictos so Niveladores:Gnios senhores das cabeas ocas,Que d'Eva antiga aos filhos desditososPromettiam salvar da sombra espessaDa escravido dos Ris, duros tvrannos,E a todos darem Bonaparte o justo :Gnios sublimes das naes ou mestres,Cujo macio corpo , e unida foraDa terra inda afugenta honra e virtude.N'nma caverna escura

    ,onde inda a furto

    Nem cala a luz do sol, nem brilha o dia,

    Onde apenas do tecto hmido e tristeLanterna quasi moribunda pende,Morada os Gnios teem que o mundo infestam:D'alli vo de tropel varrer do GloboOs dbeis restos de sciencia e pejo:Vampiro ou Diabo maior que todos

    ,

    E mais cornudo que os que Milton sentaNa Sala grande, Pandemonio dieta;( Do Ariosto Breto lembrana dignai"1

    3

  • 4 OS BURROS.Tinha o fucinho chato, as ventas fundas

    ,

    A pelle cr de cal, chavelhos tortos,Sobre os cornos a prumo , alia e prffltudaSe eleva esguia carapua ou mitraIgual quella que empalmara outroraDo Diogo Manique o substiluto,Que o chocolate atroz sepulta em Mafra :Quando agarrando o Hippolvto espiolhaDa Confraria Pedreiral as opas,Vestimenta, avantal , luvas e trolha,Ou tralhoada das visagens pecas,Que em Lojas treze sustentou LisboaCo'a Loja me no pedreiral MosteiroDos exemplares Cnegos Regrantes.Bem no fundo da lobrega cavernaSentado est n'uin throno de Argamassa

    ,

    D'onde inspira o nivel qu'inda no viramSeno na Guilhotina os homens livres,D'onde deu cabo da mesquinha Europa.E d'onde encheu de papeles o Tejo,Que sem estranha proteco assentam,Que no pde existir, ou viver Lysia.Dando co'a indstria nacional em terra,E embutindo o diaphano panninbo,E chal a trs vintns

    ,passado um anno

    T da Estrella o zimbrio em troca levamQuando la virem que nos fica em cofrePapel e pataces de cobre immundo;Dando leis onde outrora as leis diclara

  • CANTO SEGUNDO. 33Com honra o Luso , e com valor ao mundo,Mettendo um corno pela boca dentro .Aos sisudos Vares da Ptria amigos

    ,

    Que se finam de zanga ao ver patifesImpando de Patres no Barco alheio :D'onde do Abrantes veio a repostinhaDada de boca ao Lobo na gaiola,( Oh memoria de mais ! ) e impressa outroraNo Jornal impostor dos dous carrascos

    ,

    Que muito tempo a pacincia ao mundoCom papeis velhos e sedios rallam;Jornal

    .que no Rio outrora , s nuvens ia,

    Pescando uma penso dada a velhacosExecutores da rapina Corsa

    ,

    Por nove mezes ordens espalhandoDo General em Chefe boca cheia.Do monstro na caverna , aos ps estava

    Fouch de Nantes com punhal na dextra,

    Quefe direitos da fria,e da canalha

    Com tanto sangue sustentou na terra.A mo direita cabisbaixo tinhaCabeudo Sieyes , macaco infame

    ,

    Que com planos e clculos furadosA Bonaparte abrira a estrada ao throno.N'um mocho raso de cortia podreDos Publicistas se assentava o Gnio

    :

    Philantropica gente , oca e farfante,

    Cujo miolo referveu co' a lendaDo Social-Contracto escuro tanto

  • 36 OS BURROS.Como a Carta burrical do Canning.O Gnio Gazetal sentado estava

    N'um soph de papel,mentira e lixo,

    Da boca lbe sabia loucura e phrases,De que atulhadas vo cabeas ocas,Que d'este Globo os Botequins entulham

    ,

    Que tu Caes-do-Sodr ves em cardumesDe tarde

    ,e de manb , de noite e sempre

    Pender contnuo estpidos e immoveisDo lbio alvar do Jornalista trampa

    ,

    Que dos pobres ( por ser de siso pobre )Chamado , e como tal se vende:Cujas graas insulsas e arenguicesDelicias hoje so dos manteigoeiros :E se com ellas cuida inchar o ventfeAo grande Lord Cjnning, filho da Gran

    ,

    Tambm o sesso a outros c'o elles liinp iQuando os bellos futuros prophetisaDa vil escravido aos Lusos posta

    ,

    A. ns do Tejo filhos e senhoresQue o ganhmos sem futres ao Mouro ousado,E ao cobarde Hespanhol tirmos sempre

    ,

    Calar nos manda,empobrecer nos deixa...

    Oh Ptria minha! se chegasse um diaEm que deveras conhecer qnizesses,Que filhos tens

    ,que em mrito

    ,em sciencia

    ,

    Em virtude, em valor, em gnio,em artes,

    Fanfarres Europeus e llheos excedem.Que senhora uma vez de Lybin

    , e d'Asia ,

  • CAUTO SEGUNDO. 3;>"Ameriea

    ,e de ti tens homens raros!

    -Olha esta penna , desenrola a espada

    0'Albuquerque iinmortal , seremos tudo ,Sem ricaos Bretes, qu'ind'outio diaPescar deixmos Bacalhau no Banco,Em qae ufano mijou marujo honrado,Que do Indosto co' as prolas voltavaE melai do Brasil , rezar o TeroE embebedar-se no Beato e Penha!Oh Ptria ! oh Lusos ! oh Nobreza antiga!E vs quarenta Heroes

    ,que a Ptria escrava

    Arrancas-te do jugo estranho e duro,

    Se ento podeste,quem vos prende agora? ..

    Rua , rua os Arcos, que em sangue, em armasNo vos chpgam ao cu !... E crime um votoQue a Ptria amada em vo me arranca d'a Ima!..Mas eu torno aos Sandeus, aos Burros torno,Tomo os pincis

    ,

    que o Gazetal retrato,

    Digno de Horcio ou Juvenal traavam.Das mos o Gnio por cardumes lana

    (Brbaro termo !) Boletins s pilhas,Que a vil mentira e confuso derramam

    ,

    Que ps de barro do Colosso iminenso,

    Na Pedreiral opinio sustentamVacilante existncia ao Grande Imprio,Que chamam sem vergonha a um desbaratoVictoria digna da Ovao Romana

    ;

    Do louro eterno aos generaes Palhaos

    ,

    Que, co' as calas na mo, d'Almeida fogem.

  • 38 OS BURROS.Esles os Gnios so que entre os mais Gnios

    Teem seus dceis em levantados thronos :Dos charlates os sculos so estes !Poucos havia em Portugal outrora,Porque fora o paiz de honra e virtude

    ,

    Bastava aos velhos Portuguezes esta ;Mais pde um siso hom que os livros toos

    ,

    So preciso em governar juizo,

    A fora,a Lei , desinteresse e Ptria.

    D'este estouvado Gnio parto, criaCharlato militar, d'alli retorna

    Com mais medo no cu, na boca planosDe ataques , marchas , retiradas

    ,

    postos,

    General no caf, cago no campo;D'alli delgado chicolinho trouxe,

    E o barretinho de dormir, na rua,Como quem anda passeando em casa;De ferro ou de lato grossa cadeia

    ,

    Que a cala ao calcanhar lhe prende airosa;D'alli vem seini-Inglez o Eleziario

    ,

    Que a tropa em monosyllahos eommanda ;D'alli vem mais ufano , e mais carrasco

    Medico impostor palavras todo ;(Esta de charlates mais fina raa: )Azote e oxignio arrota Abrantes:De assassino em receita anda ajoujado;Hoje o mister de governar o mundo;De Esculpio um discpulo no viveQue no manqueje charlato de platios;

  • CANTO SEGUNDO. 3g.Basta-lhe um anno de Mondego, cuidaQue ja pode entre Cnsules sentar-se,Ser Cotta , e Pansa , e Ccero e Metello

    ,

    Mandar Libra Scipio , e PrsiaCrasso mandar, Germnico ao Danbio,Pompeu aos Hespanhoes, e Mrio aos Cimbro.;,Que e' pouco mais que receitar Jalapa

    ,

    De maldicta Vaccina encber rapazes,Sinapisar o ca , dar tom ao membro :Dize-o tu Pelourinho , onde encostadoN'um miservel srdido GallegoSe apresentara o corpolento Paiva

    ,

    O carrasco levando retaguarda,

    E dos flancos e frente a turba immensaDos narigudos Phariscus escribas;Sobre dous cornos slidos levavaNa frente o Semanrio , obrinha sua,Por qne devera Oriental jornada

    ,

    Onde se erguem trs paus, fazer a besta;Porm ha Becas que parecem Paivas !...Doctor em Taboada o FinanceiroQu'inda outro dia ds moedas tinhaDe ordenado

    ,aprendiz, d'alli ja marcha

    Panudo, ufano, circunspecto e grave,De elstico chapeo. hirto pescoo,

    Necker se julga, Necker se assoalhaCom venha ca para a semana inteiro;Bufa, e se assenta, e de sommar a contaAcaba vezes cem , cera vezes erra.

  • 4o OS BURROS.Dous furos mais distante o torto existe

    Gnio de traduces,delicia , emprego

    De muitos Sbios que apascenta o Tejo.Traduziu Antnio de Arajo em verso,Traduz agora dePalmella o Conde,E

    , o pernas d'egoa Cndido, vertiaTara , os das Lettras e Artes , Annaes burros ;Recheiado armazm de Gallecismos,E de pbrases insulsas mixtiforias.Traduziu .Pedegacbe

    , e todos deramCo' a lingua lusa nos Infernos quintos :Das pestilentes traduces este,E ser sempre o desgraado fructo !A tanto precepicio , a tanta quedaLeva os humanos a f-ital maniaDe escrever sempre e figurar em lettrasSem gnio original, que dado a poucos.

    Por muito tempo equilibrada esteveSobre nm grupo de trbidos vapores,Como banhada em nctares, Sandice,Vendo do ar a eschola das crianasAqum d mama no asinino peito

    :

    So lhe suspende a maternal ternuraDentro do ventre a harmnica fallinha: Oh d'esta pana puritanas crias

    ,

    Minha esperana (diz) firmes columnasDe meus domnios na illuslrada Europa! Eis a tal guincho a estpida catervaA segunda fazendo me babosa

  • CANIO SEGU.NDO 4'Berro igual entoava. O me que queres? Quero nora conquista , outra colniaOnde espancada fui, onde espancadosForam sem compaixo Bravos de Jena.Eu ja la tenho rebanhado um trooDe illustres filhos meus , brazes do Tejo

    ,

    Que,como vs, o Corso ho bem servido :

    Todos os que este gran' Sandeu no viram ,>"em . nas usurpaes, o segundaram,Incapazes e ineptos so ;>'ra tudo.

    A glria minha hoje, meus amigos

    ,

    Patriotismo mudar em ir3tantisse ;Ea agora empregar so quero aquellesQue mais contrrios foram aos Beis fracos

    ,

    Porque mais longo assim ser meu reino;Visto enrgicos Beis serem ja raros:Vereis a colleeo que la vos mostro ,Vereis aquelles que o Junot serviramE a Ptria aMacena entregar qu'riaia:Ergue entre elles o estlido toutioUm

    ,que por natura e fado ha muito tredo

    ,

    Gran' Marquez de Palmella se intitula.Desde que o fiz nascer o trago d'6Iho;Tinha na mente um Burro a me debaixo

    ,

    Tinha na mente um Burro o pae decimaQuando a semente burrical vasaram.'E elle, elle o meu predestinado,Tem cabea de corno e sem miolo :Eu que dos filhos meus conheo a rcna

  • 4a OS BURROS.Attesto ao inundo que nenhum mais asnoHouve at-gora de asinina espcie;Ou componha , ou discorra

    ,ou falle Burro :

    ISada dos cascos burricaes lhe surdeQue no seja de um Burro, ou couce ou dente ;Um bando o segue de Sandeus menoresQue sombra d'elle na tolice medram,Quasi rivaes alguns com elle bombreiani;Mas quando a agulha burrical levanta .Quando dobra e desdobra a orelha esguia,Tanto d'elles acima as ancas ergue,Quanto entre vimes sepulcral cypreste.Com todos in.da espero erguer meu throno

    ,

    E afugentar de 1'ortugal inteiroDa importuna sciencia ainda ;is relquias ;Mas sem vs que farei ? Sem vs no possoEntrar em campo, e conseguir viclorias!Surgi, vinde comigo. Inda acabadoSandice me de se vasar no linha ,Ja da caverna fora os Gnios todosBatendo as negras azas se arrojavam :Turvo se fez o ar, e a Natureza

    Sentiu no vasto corpo um forte espasmo :

    O dia se enluctou; mais apressadaSurgiu a noite das cimerias sombras :Pelo reino animal somente os BurrosDeram signal de si , zurraram todos;

    Os de Cacilhas , e de Vallada , a pino

    ,

    Como por forca magica , elevaram

  • CASTO SEGUNDO. 43Todas a fluz elsticas orelhas;Pelas barrigas os lamprees bateram

    ,

    E o rabo, as moscas enxotando , ondeia.Nunca longe da terra o vo erguendo

    Tardo e pesado a me vinham seguindo,Quaes vem na revoada inda adejandoAtrs da gralha me gralhas pequenas:Ella lhe marca o trilho , ao guincho attentamCom que a audcia reprime, se atrevidoMais algum d'ei'es, se remonta e sobe:

    Arre la para o cho ^Ihe diz Sandice}Deixai que as guias c'os diabos subam,Tu so n'um ar mais crasso, e mais sedi.oVentila as azas cartilaginosas,

    Descobre no .Morcego a imagem tuaQue evita um ar subtil cosido terra:Se queres repousar toma flegoEm lodosa lagoa , em charco iimnundo

    ;

    No pinches, alto no, que o precipcioNunca temeram nimos rasteiros. A voz da me reprime a turba airadaAmor d'altanaria, e da suberba;Tudo co'a terra se coseu n'um ponto :Com rasteiro andamento assim proscgueinVereda conhecida at Bayonna.Alli bons Patriotas LusitanosForam pedir um Rei , tendo-o tam certoN'esse Heroe vencedor do Piei MalucoQue s trancas deu dos campos Africanos;

  • 44 OS BURROS.Na ilha ou cu de Judas escondido,D'onde s vezes se apraz de noite em sonhosSahir, niostrar-se jumental caterva.Porua Sandice na conquista attenlaDeu signal de marchar; desfilam todos:Ja sobre a Hespanha a cfila voavaContente de observar no estrago e sangueEffeitos da Sandice

    ,effeitos d'elles :

    Roubos, mortes, catastrophes so suas,

    Cidades ermas, e talados campos,

    Extincta a joventude e velhos curvosSob o peso de cornos e cadeias;Templos em cinzas , muros arrasados

    ,

    Sobre as aras thuricreruas extinctossacerdote, a cndida donzella,

    Que um sacrosancto voto aos ceos unii\i;As Infulas vestaes inda conservamNa ja pallida frente, e as mos cruzadasSobre o peito lhe tem da morte o gelo.Pedreiros infernaes eis obras vossas;Eis as vistas politicas so tuasBernardino Joo , doctor BemSca

    ,

    Na Gazeta de Almada heroe cantado;Bacharel Wanzeller, ex-Grillo e bestaQue atrellado ao Falco viu ir LisboaBuscar (devendo a forca ) Ilha Terceira.

    Satisfeitos co'a vista os Gnios voam,Tocam do Coa as margens pedregosas,E no podem voar, que fino e rallo

  • CANTO SEGUNDO. 45Inda o ar que circunda o Imprio Luso,Que monstros taes em fluido mais crassoSo podem existir. Ento SandiceDos largos poros do pesado corpoDeixa sahir vapor ftido escuro;Engrossaram-se os claros orizontes;Por onde quer que passa sombra noite.Vem do Mondego s limpidas vertentes,E desde um teso levantado bispamJa n'esse tempo a quasi nada Atbenas,Depois que a me Sandice o cu tancbaraNas crystallinas aguas do Mondego,Transformando o Museu n'um cagatorio,E mudando o anatmico escalpelloEm penna Gazetal que asneiras verte. Temos vencido aqui (bradou SandiceAos Gnios todos que a phalange formam )Vamos capital, tctica estaDos Generaes ou cardadores Corsos.

    Disse , deu costas , e a phalange voa

    ;

    Vertical ao Rocio espande as azas,E absorta no prazer busca o JavardoQue ao conbecido Botequim se acoutaQuando a noite desdobra o manto escuro

    ,

    E a turba dos Caes , e dos CaixeirosDespejada a gaveta ao poncbe accodem

    ,

    Tudo observa a Sandice aos Scios brada : este o domicilio, este o viveiroDonde vamos tirar Conquistadores

  • 46 OS BURROS.Com que entre gente Lusa edifiquemosTSovo Reino que aos astros sublimemos:Seja de orates Portugal a casa

    ,

    Asnos tenha em saber que opponha Frana.O Gnio ento da nova poesia

    Acotovela a me que se babavaOuvindo o filho coxo e cego em tudo,E lhe diz sussurrando : me campmos !Estou pasmado da colnia nossaTam florescente ja no Tejo undoso !Que em mil versos fataes fermenta e arde! Isto tudo que observas (lhe dizella)Conquista minha filho; inda no vistesO que minha potencia , o que meu brao,Olha alem para dentro

    ,olha o Trigoso

    ,

    Rosto feito ao pico , beio cahido,

    Caldeirada ambulante,e que parece

    Um bacio de dentro para fora ;N'este vivo monturo erguer pretendoDo meu imprio o throno mais seguro

    ,

    E ja se eleva, e ja se immortalizaTanto no Popular do meu Carvalbo,Que em Londres tanto aproveitado tem

    ,

    E os outros filhos meus Borges e Moura;Pois ja com Sir Robert Wilson andam.Eu agora aqui fico , observar ideQuanto em Lisboa immeusa se offerece;Ide ultimar a comraisso d'asneira ;Charles Stuart aqui esperar devo;

  • CAUTO SEGUNDO. 4 7Nem longa pode ser sua demora;Tudo prestes leveu d'aqui, de LondresO Barradas, Lacerda, e o Porlo-Sancto,Muito de dia e noite trabalharam ;A. elles que deveremos tudo

    :

    Bemcomo ao Aguiar,e mais ao Abrantes

    ,

    Que do Rei aggravaram a molstia,Para assim desgostoso annuir a tudo:S' elle espicha, meus filhos ( como creio )Ento de certo a victoria nossa ;E com o Pedro qne eu ba muito conto;Pela cidade nova dividi-vos

    ;

    N'ella meu reino e esperana eu fundo.Da rua Augusta, Capellistas

    ,e Ouro

    ,

    Fanqueiros, Algibebes, e da PrataOs Patres convocai, e os seus Caixeiros.Destribu dos Eleitores a lista,Que elles mui bem fazer a escolha sabem

    ,

    E ja dos Trolhas mesmo a trampa gostam.Ide assim preparando o Imprio e throno,Que hoje comeo a conquistar Lisboa;Tomando a capital, eu veno o reino.Vou-me escanchar no Bacharel Bernardo

    ,

    E toda quanta sou,n'alma de trampa

    ,

    Minha morada , meu prazer, chimpa r-me.E pois a Noite taciturna e friaVem o manto estendendo, e os astros brilham,Eu aqui fico Gnios, que chegadaDo gran' Congresso a hora, em que alto plano

  • 48 OS BURROS.Da parvoce universal se forme iEu devo presidir

    ,geral ataque

    Em toda a linha da sciencia e gostoA manh se dar ; Gnios soa vossa.

    TIM DO SGCTBO C>TO.

  • CANTO TERCEIRO. 49

    CANTO TERCEIRO

    PREPARATRIO.

    O carregado ponche ,o gro picante,Mil e mil vezes repetido, linhaFeito rodar estlidas cabeasAos cair.pies do litterato beco,Que era roda estavam da marmrea banca

    ,

    Das Artes, das Sciencias disputando,Do gnio do Miguel, e do chicoteCom que mui bem zurzidos tinham sido.Mas ja da casa mystica secreta,Onde se joga noite

    ,onde se ajuncta

    O conselho dos cies qual em VenezaA ventilar d'Eslado altas matriasl'ois de Judas ao cu foram as Cortes

    Por qual das frestas no se sabe aindaOu por cima

    ,oa por baixo agudo apito.

    4

  • 5o OS BURROS.Quaes em Gaita de corno os Ris das armaiSobiam em Madrid chamar a Cortes :D'esta guisa chamando a vil catervaPar' o Congresso estpido e profundo

    ,

    Qual a assobio conhecido accodemDe Pancas na charneca ou Vendas-Novas,E Espinhao-de-Co, ladres matreiros:Assim surgem da banca, largam copoAo ouvir dos canbes o estampido

    ,

    Que a chegada de Stuart annunciam ;Ao qual, n'um escaler, alm da Barra,Ha muito, a me Sandice

    ,esperar fora.

    Formam conselho os Asnos n'alta Corte;E ja nos bancos ensebados, todosQuasi iguaes na Sandice , se assentaram :Preside o gran' Sandeu. Quaes do Dentista

    ,

    Charlato de Paris, pendentes ficamA roda d'alta banca os Chanfaneiros,E os nojentos Caes do Caes-da-pedraQuando elle entoa a divinal prelengaEm que promette esmigalhar os queixosCom permisso do Proto-Medicato ;Assim de palmo abrindo enormes bocas,Ficam da boca do Sandeu pendentesPor largo tempo os sessos, e os sessores.Elle alarga a bochecha, assopra e grita : Venerveis Vares em prosa e verso,

    Grandes Mestres de critica e dentada

    ,

    Padres Conscriptos de Gazeta e ponche.

  • CAMO TERCEIRO. 5iParece-ine que sinto escarranchada

    l\ n meu cachao a minha me Sandice;( O.-de eu e vs eslaes , por fora existe

    )

    Eila decreta , e tinha decretado

    Que em Lysia o Reino da Sandice expire.Bemcomo o nosso Jorge Canning, ClintonMandou conquistador, para que os LusosBeber da merda , honrados , o mandassem ,El la me escolhe a mim n'esta rdua empresa ;Mas cm vs que farei ? Sem vs sou nada.Daios cabo das letras importunas ;Ponha-se fogo triste Academia

    ;

    Se a deixmos de pe, talvez que um tempoSurja

    ,e lhe esqueam planos de batatas,

    E cuide em mais que em manuscriptos velhos,E um corpo inteiro d de Historia Lusa

    ,

    E no va mendiga-lo aos Estrangeiros.Ja que o Tiigoso , Frei Luis , e suciaOccupados esto na causa nossa

    ,

    Que os Burros todos a salvar so tende,

    E que sem elles Academia nada;Extingui-la apenso) melhor fora ;Pois mais uma Sesso vale das Cameras

    ,

    Que cem mil Acadmicas arengas;Mais bem nos fez causa da Sandice

    ,

    Do Fernandes as brutas gritarias,

    O Passe por la bem senhor BrasilE os couces, que o alvar Borges CarneiroAo Prncipe atirava

    ,e aos Brasileiros

    ,

  • 52 OS BURROS.Que todas as arengas Bonifacias,E as somnias todas que gastou Roivides.Com Jumentos vinte oito

    ,em Trolha mestre,

    Nas Cortes Eslas cem , venci trs annos;

    Estes e os outros entretinha o Chefe,

    Como,outrora

    ,o Corso o seu Senado;

    Aos primeiros conPrindo as mores honras,

    E os outros lanando margem todos.Assim como de Rbespierre a morteEm Frana a queda da Sandice trouxe

    ,

    Tambm perda do Heroe Fernandes,De nosso Imprio se seguiu a perda:Mas a consolao ao menos temos,Que

    , em quanto o Heroe nosso padecia ,O jumento Loul diariamenteVezes vinte da parte do Rei iaIndagar os progressos que a ascarosaDoena, n'elle Burro , ia fazendo :

    E que, se da Igreja cabo deu o Infante ,O Marquez firmemente prometteraDe restaurar-nos procurar maneira.Vs sabeis muito bem que elle foi vctimaDo cio Burrical -t e causa nossa:1'orm o scio nos deixou e genro

    Que as suas e nossas manhas seguir sabe.Ns os mores favores hoje alcanmosD'um estranho Patrono, Eolo dicto ,Que dos Eunuchos todos gran' Mestre.O Palmella ja nosso, e outros muitos

  • CANTO TERCEIRO. 53Fidalgos orelhudos; e at lemosIVaftes iiluminados

    ,qne outro tempo

    Involvidos no escuro loa andavam,Sem o valor e apreo dar saberemDe ser nutrido com batatas Burro

    ,

    Ou com bolota, como fora outrora;

    E que os Burros cabresto em Albion no teem,Mas sim de forte couro liso freio.Do Trigoso a conquista, e a acquisioDe Sir Charles Stuart, e da Condea

    ,

    Que Anadia se chama,fruclos foram

    De fadigas canaos e suores.Pacincia e corajem ter devemos :Ja

    ,o velho Dono, a zurrar matmos.

    E agora a granel andmos todos.Dono quer ser Miguel , e quer ser Pedro :Tambm pela criana lord Canning.Quando muitos um Burro montar querem

    ,

    Sempre elle , do que as manhas sabe , foge;Porque a manha a chicote, e a espora leva.O diabo do Miguel no nos faz conta

    ,

    Nem o Pedro (a ca vir) nos serviria;Pois que o Congresso a pontaps levou

    ;

    Mas como longe est, zurrar nos deixa,E da pequena e Canning o Tutor,Albardados per elle antes sejamos;Ja que ao Pedro e Brasil tambm albarda.Pois feno ( em caso mau ) e asylo , temos.Assentam lodos uniformemente

    ,

  • 54 OS BURROS.Que jumentada igual nunca sabiraDe humanos cascos , de toneis de ponche :Este o maior brazo do Imprio nosso ;Este dilata o Reino da Sandice

    ,

    Dos Lusos ao saber bestial pe cunho. Saltando eslava por fallar o Paio;

    Levantou-se orador, grunhiu d'esta arte : k Vos, Asnos , scios meus , e meus modelos,

    Sabeis ser o Theatro aeschola aberta,Onde aprende a JNaro patifarias

    ,

    Onde se estraga , se corrompe o gosto,

    Onde a linguagem Lusa se emporcalha,

    Onde as mulheres se refinam todasNa grand' a He d'ornar de corno a frenteDos que lhe arrastram conjugal carroa ;Sabeis que alli se estuda , alii se aprendeComo presente o pae

    ,e a me presenle

    ,

    Donzella mestra na modesta Walsa,

    No so cartinha embuta , encaixe e metiaTudo o que ella quizer grosso e mido:Como a patro forreta empalme o gimboNamorador Caixeiro, que inda ha poucoDe Basto ou Guimares veio em tamancosCo' a ceroula no cu pegada e rola

    ,

    E ja nos Botequins,

    ja no Theatro,Em poltica, em Dramas decidindo,Na plalea alugado desapprovaO que nunca intendeu

    ,com couce e zurro-

    Tal o macaco vemos do Gameiro

  • r\MO TERCEIRO. 55Que quinquilhciro no Brasil ja fora

    Feito hoje Embaixador; e tambm vemosO Rodrigues tripeiro

    ,que outro tempo

    Vendia em Londres a cebola as dzias,

    Secretario e secreta em Turim ser.Graas mil Sandice sejam dadas,E outras tantas ao Sandeu Palmella.E ess' outro que de Priapo blasonaLopes jumenlo, que exaltava tantoOs louvores que Jorge (diclo quarto )A seu burro marzapo prodigara ;E o como por guins trinta comprar,(QueemSancta-Cruz o Pedro lhe quebrara) (i)Lm apostio dente, enviado foraMinistro a Stokolmo, ahi deixandoSeu 61ho Encarregado, em quanto em stampasDe Villa-Flor ao Conde mostrar veioDos Csares doze as eternas manhas.Assim se fanda da Sandice o Imprio;E assim

    ,entre ns

    , medrando hade ir.Gnios dous me dominam vil e asno:

    Dos Fidalgos d'agora, eis a apanagem:Se os Francos chegam, vo o cu beijar-lheSe vem Inglezes

    ,vo pedir- lhe albarda :

    Dos Heroes Lusos a ascendncia esta.Estes Asnos agora , nova regraConformes segnem; pois assentam todos,Que. quanto mais com Stranhos se humilharem.Mais nobres ho de ser, em casa

    ,e honrados .

  • 56 OS BURROS.Nos Burros esta regra origem leve;Pois, aquelles, que ao monta-los, se acaapam

    ,

    Do em a manjadoura, grandes coucesA oulros Burros, que p'ra carga servem.Islo a Loul, e a Brainer bem surtiu

    ;

    Pois se vilezas no Brasil fizeram

    ,

    E pontaps e arrocho Ia sofficram,Alcanando depois os maiores postos

    ,

    Em logar do da forca que m'rcciam,Vingana muito bem ento tiraramUm, o Real decoro achincalhando;O outro, o Throno , e a Nao vendendo.O vastssimo Imprio da SandiceFunda-se em traduces, e eslas so minhasQuero trazer eu so de novo a LysiaCom iraduccs o imprio da Ignorncia.

    Traduzi, traduzi, r'digi Jornaes;

    E depois de assolar, queimar a Ptria ,Escrevei

    ,

    publicai Contemporneos ;Porque enlo vil tratante e sar.dea sendo ,A primeiro Ministro aspirareis

    IVaquella Ptria, que trabiste em tudo.

    E at mesmo aquclle que em sotainaDe Porteiro servia aos padres Bentos ,

    Ser dos do Conselho no Serralho:

    Tal hoje a pedreiral IrmandadeD'csses Fradinhos, que o Sotaina vai ,A par d'um digno Padre ate fazendoDo jumcnlo Patrcio um Cardeal.

  • CANTO TERCEIRO. 57 Alto la lhe bradoa risonho, insalsoO Major Daniel Rodrigues Costa,Assustador do Rapazio iramundo

    ,

    Quando insomne as recrutas farejandoCo tero patamal Lisboa entulha :Tudo (exclama com voz pausada e tola )A meu esforo deve o Imprio vosso.Quarenta annos ha ja que eu posto em campContra a razo batalho, e contra as lettras

    :

    Ningum mais graas disse, e teve menos

    ,

    Nem zangou mais a pacincia ao Mundo.Roucos se fazem com meu nome os cegos

    ,

    Nenhuma esquina se ujou sem elle :Volumes vinte e quatro impressos tenho,Eu mesmo que os compuz no sei que dizemDe rhymas varias dous volumes conto

    ,

    Que cousa seja um verso inda hoje ignoro :Animoso atirei comigo sceua

    ,

    ( Cousa co vista mais ! ) As patcadasVinham atrs de mim malhar-me em casaDepois de fartas de malhar na pea !meu Mundo, Hospital, Barco, Almocreve,

    Podem fazer-me o General dos Burros;Nem mais que desejar Sandice tinha;Os dous Galenos Coimbres seus filhosF.m seu docto Jornal me immortalisam,E ambos a par de mim se acciamam Asncs

    !

    Ou deixai-me escrever, eu so no campo,

    Ou por mim vs seguindo a estrada aberta,

  • 58 OS BURROS.Sede vs Danieis .Sandice tudo. grande o voto do cominutn (gritava

    O Silvestre Pinheiro ) mas eu vejoO povo Luso n'outro estado agora.E para vos instruir que a me SandiceEm Inglaterra e Erana ha viajado.Foi sempre tal em Franca o amor s lettras,Que mui raro em Paris o logar hojeAonde se no leia, e at cague.Os de cus Inspectores, e de cloacasLendo esto os Jornaes, em quanto os outro 1;\ o a tripa vasando

    ; porm logoPara o sesso alimpar os Jornaes tomam :Durante que o Francez a qualquer cantoA bota, ou o sapato engraxar faz,Le o Jornal. No aougue o CarniceiroLendo o Constitucional a carne corta:Kas Praas os Saloios Jornaes leein

    ;

    E tal esta mania em Paris,

    Que de carga os Jumentos,que atrs se acham,Ler todos sabem; stando assim ao alcanceDas tenes e politica dos donos :Eis a causa porque os Francezes BurrosSe destinguiram sempre em toda a Europa :Mas sem fallar-mns nos Albinos Asnos,

    ( Que acima um furo aos outros se avantajamCos seus longos Jornaes de duas varas)Dizemos

    ,que o progresso d'esta raa

    Tem ja civilisado o Mundo inteiro,

  • CAUTO TERCEIRO. 5gA couces, e a zurrar os Ris matando.Do Constncio (2) e Benthan, alvares Burros,Assas lies aqui se nos mandaram :O velho Burro Verdier ja temos

    ,

    >"'habitao do qual os scios todos

    Em Paris, por6a se ajunctavam,( Qual em Delphos um Burro ) a consulta-lo .Ea mesmo a conferir com elle ia.Ns tivemos Jornaes, oh feliz poca !A no ser o rapaz excominungadoQue no houvramos ns t-aqui feito?Mas corajem, amigos meus

    ,corajem.

    Agora um gran' Jumento nos protege :Palmella ja dos nossos, mos obra.

    Gazetas, meus Senhores, e mais Gazetas,

    Que , de tedas , a mor Sandice esta.Na sria redaco se ajunctem todos,Quaes ja , no escuro Tamisa, outro tempo

    ,

    Em ajoujo os dons Mestres d'alta trolha,

    Abrantes e Nolasco se ajunctaramPor ordem do Sodoinico Roivides,Para o Investigador trampa escreverem

    ,

    Em o qual ao Hippolyto retruquemSobre os milhes que o Funchal sisara :E chegando depois Palmella o Burro

    ,

    As ('jres de Lamego assoalhassem.grande Padre Amaro, ou ladro dicto,

    Que dos Trolhas a caixa gatunara,De que elle mesmo Thesoureiro fora

    ,

  • fio OS BURROS. hoje do Palinella o jornalista ;Que o mesmo ( ja se intende) que ser nossoEmfim este o sculo das luzes.Se outrora ouro faziam os Alchymislas

    ,

    Tambm boje a Gazeta poder temDe os Portuguezcs transmudar em Burros

    ,

    Qnaes ja todos vo sendo, excepto poucos;E muitas Alcoboas ter LysiaOnde centos engordem de Bernardos.Que ser sem o Times o Palmella?

    E sem Constitucional o Burro Abrantes (3) ?Ah sem Gazetas nunca houvera Acursios !E sem Gazeta os bacamartes cincoNo vieram quebrar do Mundo as bolas,Nem conservar aos psteros zangadosDe asneiras tantas a memoria eterna !Milagrosos Jornaes, por onde a farto,Quizeram ser Fouchs frades Vicentes,Que cabo d'elles deu, mas no de todo.Phrenesi Gazetal doctos Pedreiros,Tonsurados, Maons da Loja-Mestra,De quem foi Venervel o Loretto

    ,

    Que ao Hippolyto hospedar se gloriaQuando se escapuliu da toca Bicha( No Rocio existente) para Londres ,Onde

    ,alfim

    ,Redactor' foi c'o Nolasco.

    No paradouro dos illustres sbiosQue vo no Tejo das gales fugindo,Gazeta , scios meus , Gazeta tudo -.

  • CARTO TERCEIRO. tiDa queda da Sciencia a causa ella :Autes de haver Jornaes e AcademiasViu-;e na Europa o Templo da Sciencia.

    Qual quando volve o gordurento EntradoNos Aougues se escuta alto sussurro,Ou como em Maio nos floridos camposDe Burros um coreto alto solfeja:Tal no immuudo salo dos Asnos soaClamor universal d'applausos tolos

    ,

    Que o grande achado aos sessos levantaram.A sade do membro aos cascos sobeAhuo fervido ponche em palanganas:Mais que todos bebeu Sandeu Bernardo,E de mofo sorvendo a caixa alheiaDa boca jumental bafordas vasa.

    IH DO CISTO TBiCEliO.

  • 62 OS BURROS.

    CANTO QUARTO

    t-c.

    Na conhecida enxerga esburacadaTinha apenas Sandeu lanado os ossosEmbainhados pela manta immunda

    ,

    Prompto somno lhe prende os vesgos olhos,Que elle a receita de os fechar conservaRepetindo a si mesmo um seu sonetoQue a fora tem da Egypcia dormideiraNa pesada lethargica virtude!Ento mais um motivo accresce e sobeDo Carrasco a dose assalvajadaQue sobre as Ostras sepultou no bucho.Dous roncos dava ja

    ,

    qual no chiqueiroCostuma dar o grunhidor Cochino

    ,

    Ou qual Bernardo que estirado esperaQue o badalo infernal toque a completasN'um dia duplex de jantar Bernardo.

    Eis que Avejo bem conhecido, altenta

  • CAUTO QUARTO. C3Sobrestanle posila , horrendo e fiio.Mais alto ainda que o Doctor Sangrado!Doslaiios deslisou surriso tolo,Arregaando os proininentes beios

    ,

    Qnal Burro que cheirou da Barra o mijo,E alcatrusando o lombo o ar atroaDa popa e'o cachorro em salva inteira : Filho

    ,(o iSume lhe diz ) comtigo estive

    Na tasca immnnda das pnxantes Ostras;

    A Sesso presidi na sombra involta,Que prpria c natural da essncia minhaDe prazer me molhei quando escutava

    ,

    Quando dos Membros recolhia os votos;De meu Imprio firmes alicerces

    ,

    Firmes columnas das conquistas minhas.Nada mais preciso , a Europa minhaDepois que a praga Gazetal sua lGrande empresa acabaste, filho

    ,agora

    Cumpre a devida recompensa darte

    ,

    Bemcomo Thetis no Cames ao Gama ;Que depois de ceiar lhe moslra o mundoDentro de bolas de crystal mettido :Assim eu como exrdio ao prmio iminensoQue guardo para ti , e aos outros guardo

    ,

    Destino os meus Alcaares mostrarte,

    Onde vers o qne Mortaes co Tiram.Nume assim fallou : pelo gasnate

    Ou da beia travando ao vil Javardo,

    Em corpo e semi-ahna ao ar o sobe.

  • 64 OS BURROS.Bambaleam-lhe as pernas, de uma iTellasLogo cahiu desirmanada bota;A perna lhe Geou despida, esguia

    ,

    Mas na cr, e uo laivo igual outraQu'inda sustem caritativo couro.La vo fendendo espaos dilatadosT cliegara um logar Pantana dicto,Onde tudo vai dar quanto a toleimaDe Morgados e Vates esperdia

    ,

    Quanlo s Naes Embaixadoras furtamPara com luxo entreterem as Putas ;Quanto, trabindo a Ptria, se adquire

    ,

    E que tambm depois leva o Diabo.Aqui da me Sandice o Pao estava

    ,

    De mo estranha ou nova architectura;Tem salas, galerias, tem janellas,Qual d'Alcobaa outrora a estrebaria

    ,

    Antes que o facho destruetor de MssenaChegasse ao Coro , Manjadoura, a tudo :Fica n'um valle dilatado , ameno ,Qual nos fez Dom Rodrigo o Campo-grande.Do ar descia c'o Sandeu, Sandice,

    E vai cruzando o prtico da Estancia. As armas! (grita a sentinella) s armas .'

    A grande Guarda se ajunclou n'um ponto;Magote digno do potente Nume!De aspecto vrio , e de diverso trajo ,Da canalha composto alli-gritcnte,

    Que no Caej-do-Sodr se ajuncla e vive.

  • NTO QUARTO.Tocaram rufos trs, e o som pareceIgual flauta juuiental , se em MaioPeproduz!r-se a Natureza intenta :^~o tem Sandice mor defensa que esta IA todos sobrepuja, excede a lodos

    Capito da estpida quadrilha,

    Da tctica dos Mam'lucos do ParEra o Villa-Flor ndio e asneiro

    ,

    Que esfregando as verilhas corre frente;Dando n'isto a intender qne sempre prontoEst para cubrir as Burras todasOu seja em cama esbelta, ouja n'um charcoA escadaria Sandial sobiam :

    Aqui e alli Javardo ia notandoOs Bnstos dos Heroes que em nicho estavamEntre coluuinas inil de ordem Toscana,Com capiteis do Gothico pesado.Dos Heroes, entre os Bastos mais distinctos

    Stavam , em Galeria,os Paes da Ptria

    ,

    Que de Sandeus so ptimos synonymos.O Fernandes estava, e o gago MouraQue fizera ao Janot d'alcovileiro

    ,

    Slava o desnarigado e alvar Medico,

    Os asnos Bentenconrt , Ann.cs , Trigoso,

    E o esqueleto fodaz Castello-Branco :Os da Sucia , alfim, todos estavam,Cada um

    ,por pilar, tendo um bacio :

    Distinco que a me Ptria lhe outorgara,

    \ isto do= Benemritos a ordem

  • 66 OS BURROS.

    No terem oulro tempo conseguido.Em outra Galena, em maior vullo

    ,

    Corpo Diplomtico se via.ureas grossas cadeias ao pescooO Palinella, Funchal, e o Matheus tinham

    ,

    Com queha muito os Bretes os presionavam

    .

    Segue-se de Yilla-Scca o sandeu Busto,Que aos Credores fugiu para Moamba ;E de la a Turim chegado havendo

    ,

    Secretario se fez do Anadia,E pelo Meternique agora pago.Segae-se-lhe o Guerreiro sevandija

    ,

    Que os pratos ao Roivides alimpava,E hoje, por servir a Jorge Canning, Ministro dos Csares na Corte.Tambm do Kap'litano jaz o BustoQue agora la em Nap'les Lysia advoga

    ,

    Porque gente capaz no ha ja n'ella.Dous Bustos Jumentinhos se seguiam

    ,

    Que em Turim o Linhares besta deixara,Que honra tanta lhe ho feito, e me Sandice.Seguia-se do Moraes Sarmento o BustoQue em Copenhague a Canning ora serve.Do Brito escriba , a par lhe stava o vulto

    ,

    Que oBiainer Jumento substitura;De um Asno , qual elle , snecessor digno.Logo, em baixo relevo, ao pe se lia Chevalier aitache son Excellence

    Como elle se dizia e assignava.

  • CANTO QUARTO. 67Que do Havre

    ,

    quebrado, a Paris foraPr'a fazer de Mercrio ao Marialva. Filho vais ver as maravilhas todasQue meu potente brao alli junctara;Obras so minhas , de meus filhos obras;Aqui seguras vo da Eternidade ;Duras so ellas que nem traa as chucha.Ves esta sala

    ,que de espera dieta,

    ( Chamam-lhe os bons crilicos palheiro )Estas estantes toscas e grosseiras

    ,

    De calhamaos ensebados cheias,

    (As mesmas moscas se aqui pousam dormem 1

    1

    Tso sabes de quem so ? Olha este BustoDa cabecinha leve e venta larga,Capito d'alabardas, e d'archeiros,

    As obras todas so do Palmellinha;So do Cames a traduceo famosa

    ;

    So as Cartas ao Times dirigidas,

    E assignaJas Lm Brasileiro em Londres

    -

    Cartas que ao Times muito bem renderam.So Memorias escriptas na Minerva

    ,

    Tvo Investigador peas differentes,

    E no Sovela,ou Campeo insertas :

    Tudo quanto aqui ves, elle o escreveu.

    Anda meu filho , no detenhas muitoTeus estpidos olhos n'esta sala,Tens muito mais que ver : so bagatellaDo Foyos , do Cenculo as asneiras.Olha iramen ;o salo de Vates cheio :

  • 68 OS BURROS.A estante

    Portugal tem mais que todas!Olha n'este recanto as obras todas

    Que o gordo, traduziu, Padre das hervas;

    D'agro-mana possudo a eito,

    Aos Lusos deu theoreticas batatas,Planos de arroz e mel , cevada e milho

    ,

    Fazendeiros da America e mellao,Co' as estampinhas mil, (trabalho intil)Que a Dom Rodrigo o bom, milhes custaramTS

    T

    a abertura das chapas e matrizesDas lettras calcographicas de trampa.

    O Iractado da Abelha aqui conservo,Que ensina so despovoar colmeias.

    Olha a par d'isto como brilha ufanaDe tomos cinco pejadinha estante!Historia Augusta da Invaso se chamamOs inteis gelados bacamartes ;Nao precisam na frente auctor pintado,Dizem por fora e dentro Acursio , Acursio !

    !

    Ora agora vem ca, Sandeu, chegasteA grande sala que uma vez somenteServe no anno Pedreirada nossa, (i)

    venervel Maldonado mudo,

    Zarolho Costa,que dos filhos mestre

    Do Seabra se diz ; doctor VicenteO consultado orculo dos tolos;Rodrigo Pinto, thesoureiro d'elles;E os mais abysmos da sciencia ou trolha,Que o vcloanico Hippolyto salvando,

  • CgffO QUARTO. 69Ficavam na esparrella , s Ilhas foram;Aqui tinham Sesso do Grande Oriente.Olha a rica armao franjada d'ouro;Olha o docel de veludilho negro,

    Os ricos avantaes, e as luvas brancas,

    A espada, a caveirinha, a trolha , o prumo,\ esquadria , o compasso , a mitra , os cornos.

    Os d'alto grau na Pedreirada mestres,

    Que igualdade sonhando, e idades de ouro,Do estouvado Francs no conheceramEssa fatal Revoluo de sangue

    :

    Fiaram-se em Ladres que ao Tejo vinham,Mais alarves que os Vndalos

    ,que os Hunos,

    Roubar somente, e desprezar Pedreiros:Cheios de ideias vs Republicanas,Reproduzir no Tejo imaginaramDe Cato, de Pompeu dourados dias,Elles chefes ficando , os mais escravos.Mijaram-lhe na escorva os Protectores,Alimparam-lhe a bolsa, s trancas deram

    ,

    Erma deixando no meu Pao a sala:Tal o que os Bretes fazer pretendem.Fique outra vez fechada

    ,avante vamos.

    Desarqueia o sobrolho, eu sei que tristeTe ficou n'esse corpo a alma de Corno

    ;

    Alguma cousa dos Pedreiros ocosEsperavas obter, tem pacincia!

    jNo Museu do Palcio agora entremos :Aqui lenho o meu turono

    , e sou Rainha.

  • 7o OS BURROS.E este o Busto do Sandeu Vandelli

    ,

    Aquella estatua Bonifcio Andrade;Os trs Reinos aqui classificaram,Ordenadores Coinuiissarios ambos.Vai vendo

    ,filho meu , sobre os armrios

    Dos subalternes na sciencia intilOs Bustos, emargilla, em greda, em bumus,Dos correios da morte em longo fio

    ,

    Aqui ves os retratos na direita;

    Do Museu da Sandice enfeites dignos!Acol o Ricardo tens, gran' Trolha,

    Que em Coimbra a Calherina divertia,Ao que Reitor dos Nobres ser devera,E Manica depois dignidade,Agente d'Albion

    ,dos Lusos Rgulo;

    Fazendo-o eu d'Estado Conselheiro,Pois tal gente compele a tal Estado.De Mello Franco a estatua envernizada

    ,

    Co' a essncia da Vaccina , aqui contempla ;De ranhosas crianas rodeiadoEste assassino est , co'a lancctinha

    Mettendo o pus, e consolando a Morte,Pois sem ella as trazer , bexigas forma.Olha a estatua do Medico DelgadoPor timbre tem na base o Cemitrio,Por lana tem nas mas a sura e libiaDe um medonho esqueleto a quem mataraCom vinte gros de trtaro chumbado.Do Xavier alli ves a negra estatua,

  • CANTO QUARTO. 71Furada barretina tem por casto;Da Hygiena obra-prima , e inveno sua ,Tom que , nos bospi^aes , ou la no cani["

    ,

    A moleira ventilados soldado?.Do Consuncio eisaqui o grosso Busto:Eile diz nos Annaes ter vaccinadoAs crias do Mar.ins, Genioux

    ,e Lsuues:

    E elle que de Lysia expulso sendo,

    Por tanabem vaccinar querer a Ptria,Mandado

    , ein meu reinado , foi America ,Para tirar o ventre de lazeii a

    :

    F-epara na encarnada fita da OrdemDe Christo, que os Sandeus Trolha; lbe deram;Ordem

    ,que elle em Paris boje no larga

    ,

    Mas que tanto algum dia achincalhava,Da Raposa , co'as uvas , nv neira.Tal a cartilha d'estes meninos,Maldizerem os Beis

    ,e as Jerarchias

    Quando d'elles o cu nem cheirar podem.Dessecados

    ,tambm

    ,alli tens Asnos ,

    E as tripas do Fernandes em conserva

    ,

    Treciosa reliquia para os Barros.Vai no Reino animal nietteudo a tromba,Aqui teus Mochos trs embalsamados.Virados para o cu conservam bicos :Imagens so dos crticos que ao sensoDos Escriptores bons dentada atiram,olha Lagartos mil, Cobras seiscentas,Que o veneno da Satyra caspirain

  • 72 OS BURROS.Na virtude e saber de homens honrados.Aqui de Escarabeos cardume immensoGuardo em frascos d'espirito-de-vinho

    :

    Zuniram nos ouvidos,e quebraram

    Com sussurro importnno ao Mundo as bolas;Bemcomo aturdem novelleiros ocos

    ,

    Por praas e cafs, theatro e tudo,

    Com mentirosas burricaes noticias.Oito Lobos-cervaes, de palha cheios,Fora d'aquelle armrio as trombas lanam ;Imagens so dos Commissarios destros,Que a immensa pana abarrotando , folgamCo' a fome e descalcez de Heroes da Ptria

    ,

    Que o nobre sangue e generoso entornam,E marchando em jejum mastigam louros,Quaes no Oriente seus Avs colheram

    ;

    Os mesmos so que c Indo avassallaram;Teem brao os Lusos, mas no teem cabea:Se houvera um Albuquerque , adeus Bifes !

    Olha agora o paiz da Ornitholgia :De milhafres tu ves cem mil espcies.ISos cantos do Museu tenho em poleirosAlguns de garra e bico mais adunco

    ,

    Imagens so dos rapinantes finos :Bilhetes e guineos

    ,patacas , tudo

    Que a fome vende, a ladroeira compra.Alguns no ninho eslo muito anafados

    ;

    Retratos so dos usurrios duros,A quem contractos exclusivos nutrem ;

  • CAMO QUARTO. : 5Tecin quintas , teeni jardins , coches , palcios ,Teeui argntea chapada em peito imiuundo,

    Qu'inda outro dia se encurvou c'o pesoDe canja em que levou caixa de assucai;Em quanto o benemrito gemendoBanha o po com suor, se acaso o come ;Mas tem honra

    ,que excede em preo os cofres

    Qae usura vil e monoplio atulham.De Ratazanas de fucinhos vrios

    Alli tenho um caixo pejado e cheio;So de dente roaz , cauda comprida:Imagens so dos que nos outros mordem,E teeui rabo de palha e baldas muitas;Lisboa cheia vai d'esta ratada !Cem mil Camalees de aspecto e coresMudveis sempre como o ar se muda;So mais leves que o ar, d'elle se nutrem;Dentro d'aquella vidracinha os tenho :Retrato vivo de tratantes muitos,Que mudam rumo como sopra o vento

    ;

    Jacobinos,ladres

    ,rebeldes

    ,falsos :

    Porm se os Despanhoes em Lysia entram;Se o Rapaz em Lisboa feito Rei;Se da Trolha o Reinado e Reino expira

    ,

    E o preto veiado em rubro muda,De 'S illa-Franca as variegadas fitas,Que tanto

    , em outro tempo, se pediram,

    Os vestidos, a flux , s'enchero d'ellas

    ,

    E a casaca virar ho de q'rer todos.

  • 74 OS BURROS.Abraules d'este lote, e Abrantes outros,

    ( Cujo nome immorlal no cabe em verso )Mastigam n'este Reino a dous carrilhos;E as Gals com bolor! . . . e a Forca s moscas ! . .

    .

    De Cigarras aqui conservo um cento,

    Que inda assim mesmo em blsamo enterra-lasDas cantiguinhas as no deixa a teimaNas quentes sestas do calmoso Agosto,Quando o ar se esbraseia e escalda a terra

    ,

    Racham co'a linda voz t sccos troncos!Poetas so dos Botequins de Lysia.

    Deixemos animaes que n'estcs PaosNunca teein fim quadrpedes e insectos;So guias no Museu nunca aninharam

    !

    A meu jardim botnico encaminhaAgora os loDgos ps

    ,que s berras corres:

    Nenhuma planta extica vegetaN'este meu logradouro

    ,apenas cardos,

    Pasto mimoso de esfaimados Burros.Para os Vates aqui de herva-babosaCoroas immortaes

    ,grinaldas crescem;

    Com minha mesma mo lhes cinjo os cornos,Cingi com ella a cabecinha ao PatoNo Elogio fatal chamado o Nome,Foi vergonha de Arthur, de Lysia opprobrio;Nuno a par de um Breto no esforo e glriaInda menos que o Carcome em proezas !Oh Gals

    ,onde estais ? Forca

    ,que fazes

    Que no penduras em teus paus o Pato'.

  • CANTO QUARTO.A planta que entre todas multiplica

    ,

    E mais me cresce aqai,prospera c sobe

    ,

    Sandeu dos Sandeus a parasita ;Pega-se s outras , e lhe chucha os suecos:Que emblema , filho meu , de tudo , e todo-Quantos em Lysia alvar vegetain troncos'.No vivem do que e seu , vivem dos outro;.Do reino mineral contempla agora

    Alguns nobres metaes; olha ouro em brutoPegado a terra inerte , e a duras pedras,Que nunca se empregou da vida em usos:La tens na sociedade imagens d'isto

    ,

    Tens cofres de milho pegado a pedras,

    Que insensveis aos ais , ao pranto, ao lueto,Eternamente ferrolhados jazem ;No servem para si, nem para os outros.Olha cem barras de pesado chumbo;Imagens so de corpolentos BurrosTardos de corpo, e de miolo tardos,Da humana sociedade intil peso :Taes Cnegos da S dzimos comem

    ,

    Do coro lasca vo , da tasca s Putas;O corpo arrastam rothonchudo inerte,Com rezas machiuaes zangando as almasDos defunclos que S seus bens deixaram

    ,

    Com rezas machinaes,

    que em quanto a bocaSalmeia e desahna , a alma voandoOu lhe anda na taverna , ou na mesada.So pesados qual chumbo os Impostores,

  • 76 OS BURROS.Que os tomates ao Mundo andam quebrando

    ,

    Ou com longo aranzel de heroes fidalgos,Ou com subidas ideaes valias.

    Basta ja de jardim, vamos sala

    Onde conservo apuros de gravura.Tens muito que admirar nos Ouadros-Mestres:Olha bem p'ra o Congresso de Vienna :Nota a postura

    , e ve como em cadei aO cago do Palmella est sentado;E como logo frente se fez pr.Qual

    , se de todos, o primeiro fora.garbo com que mostra na cadeira

    Aos outros um papel, que ningum olha.Qual seja esse papel, talvez, perguntes?E a vil concesso, que fez a Castlereagh,De os Vasos serem nossos visitadosDos mares, por Albion, em toda a altura

    ;

    E ser defeso aos Lusos o compraremO que bem lhes convenha em seus Dominios.Olha aquelle que ao Lord beija o trazeiro,O Saldanha ou Conde de Porto-Sanclo:O outro o Lobo , Prusso de origem :Por servir ao Congresso, todos Condes :Eis a Cfila, que expediu o Arajo;E de expedio tal os resultados :A todos no Congresso o cu beijando;Pedindo a todos o cabresto e albarda;Cayana dando aos que nes roubam tudo ;Ficando sempre ns sem Olivena

    :

  • CANTO QUARTO.E ousa este Bugio inda pintar-seEui Quadro tal, que de todo brra,E aqueiles que taes Bestas la mandaram ?Olha aquelia parede, toda cheiaDe Lords gTandes, e pequenos Lord-

    .

    Meio corpo estes teem , e aqueiles todo

    ;

    Um corre em Talavera, oulro e sentadoNo mais alto da Linba a Ter FrancezesJogando uo Sobral bola e cbinquilbo :Este ao Porto chegou depois que o FrancoCarregado de alampadas s'esgueira

    ,

    Com tigelinhas Jos Pedro o mostra,

    Senado entre paus com trs bogias,

    O Baro do Sobral com vidros vrios :Ei-lo num leno de tabaco expresso;' Isto agora mais fino , obra d'ellesTicianos, Britnicos Carraches!)N'uin marotinho a Badajoz escala ;N'um chal a Burgos o castello toma ;Numa caneca em Salamanca ceia ;N'um taboleiro de Xaro bastardoDe victoria em victoria , obtm victoria :La vai n'uin bule caminhando a Frana ;Na manteigueira se aquartela em Vera ;N'uma escovinha o Bidassoa passa;Ataca Arispe n'uma carteirinha.Anglia d'esta arte o Heroe produz em tu:lo

    ,

    De Lamparinas n'uma Caixa expressoLana os pontes nas aguas do Garona;

  • 7 8 OS BURROS.Em Panninbo estampado, ei-lo em Tolosa

    ;

    ]Vum Bidet de amarello entra em Bayonna..Sem que elle ao rabo d'uma chua lanceA mo robusta , os ossos desconjuncteA tanto artista que o produz em cacos,Em lenos , em papeis , em gesso , em trapos

    .

    Ora fechemos a revista filho,

    Que estou canada de fallar-le agora;Outro dia vers os Monumentos.

    FIM DO QUARTO CXriTO,

  • CANTO QUINTO. 79

    CANTO QUINTO.

    Quero Sandeu satisfazer-te essa alma ,Dando-te a ver eternos Monumentos

    Do meu potente brao e mente obtusa:Tu sabes quem eu sou, sabes que a EuropaHa muito tempo minhas leis acceita.Que eu n'alma dos Philosophos metlidaO grande avcbitectei projecto insanoDe desterrar do Globo bonra e vergonha

    :

    Eu me encaixei dos Sbios no miolo ,"NVlles a ideia lisonjeira excito

    De uma frugal Republica assisada :Soube que eui Frana o reformar GovernoEra na areia apresentar c'os Bodes:

    Do dicto ao feito vai grande interrallo;Erabella Republica sonhadaEm meu filho Mabli , meu filho Jacques

    :

    Se os costumes so bons as Leis teem fora .E se feem forca as Leis iguaes so todos;

  • 8o OS BURROS.As Leis n'uma Republica teem foraSe os Chefes annuaes do Throno passamPara a charrua, para o campo herdado :Fiz que Jacques fallasse em Curi , em Bruto

    ,

    Em Cincinnalo, Scipio, Serrano;Fiz-lhe dizer que o titulo Virtude

    Lida era mais que Prncipe,

    que Duque;Que so no tempo de uma justa guerra,Empunhasse o basto just