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1 JORNAL da Volume I | Número VI Janeiro | Fevereiro | Março de 2017

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JORNAL daVolume I | Número VIJaneiro | Fevereiro | Março de 2017

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O Jornal da SBDOF é um informativo da Sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial (SBDOF).

Os textos assinados e aqui publicados representam a opinião dos respectivos autores e não a posição oficial da Sociedade.

Diretoria da SBDOF – Biênio 2015 – 2017

Presidente: João Henrique PadulaVice-presidente: Paulo Afonso Cunali

Secretária: Liete Figueiredo ZwirTesoureiro: Rodrigo Estevão Teixeira

Comissão de Ensino e Pesquisa: Paulo César Rodrigues ContiComissão de Saúde Pública: Roberto Pedras

Comitê de Projetos: Simone CarraraComissão de Comunicação: Juliana Stuginski Barbosa e Rodrigo Wendel

Comitê de Divulgação ao Leigo: Adriana Lira Ortega

Editor do Jornal da SBDOF: Reynaldo Leite Martins JúniorDiagramação: Time Comunicação

Foto capa: Ana Cristina Lotaif

/sbdof @sbdof @sbdof sbdof.com

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FALA PRESIDENTE

Prezados sócios,

Recentemente, estive reunido com a atual coordenadora de Saúde Bucal, Dra. LÍVIA MARIA ALMEIDA COELHO DE SOUZA, com a proposta de capacitação em DTM e Dor Orofacial da SBDOF destinada à atenção básica de saúde.

Prontamente a Secretaria da SBDOF encaminhou o documento para análise do Ministério da Saúde, conforme recomendação da coordenadora, para seguir os trâmites necessários. O texto referido acima é o mesmo do jornal 5. Copiei e colei. Somente houve mudança do nome da coordenadora de saúde bucal. A antiga coordenadora durou pouco no cargo. Desta vez, a reciprocidade e receptividade da nova coordenadora, Dra. Lívia, foi muito maior e pude entender melhor a tramitação do processo dentro do Ministério da Saúde. A proposta vai passar pelo núcleo de educação no gabinete de atenção básica. Na sequência, a Dra. Lívia faz o convencimento sobre a importância dessa ação. Após elaborada, a capacitação segue para o Ministro da

Saúde que, com o aval da AJUR (assessoria jurídica), o trabalho é validado e encaminhado aos gestores nacionais de saúde.

Sim, teremos que respeitar o protocolo e não sabemos exatamente em quanto tempo conseguiremos concluir essa importante ação.

O que faço é não procrastinar, mas persistir. Faremos o nosso III Congresso nos dias 2 e 3 de junho deste ano e, por isso, convido a todos para que se mobilizem e divulguem. Além da robusta programação científica, com nomes expressivos da especialidade no Brasil, confirmamos também a presença do Prof. Sandro Palla e da Profa. Ambra Michelotti. Com certeza faremos um excelente III Congresso!Um forte abraço e até breve!

João Henrique Padulaé especialista em DTM e Dor Orofacial,

membro fundador e atual Presidente SBDOF

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MIRANDO NO KANOE ACERTANDO EM ASG

Como a DTM/DOF entrou na sua vida profis-sional? O que te levou a se interessar por uma área que, em princípio, parece ter pou-co em comum com dentista? Comigo, foi

mais ou menos assim:Logo que acessei a página da Faculdade São Leopol-

do Mandic na internet pela primeira vez, busquei pelo título que tanto almejava: Especialista em Odontologia Estética. Meus olhos brilharam ainda mais ao ler o nome do coordenador do curso: Paulo Kano. Adoro fazer restaurações diretas, semi-indiretas e indiretas.

Sou daqueles (poucos) dentistas que sabem de cor e salteado qual a diferença entre transparência, opa-cidade e translucidez, o que é opalescência, índice de refração, quais são as técnicas de fotopolimerização e quais os tipos de cerâmicas, quais são ácido-sensíveis e suas indicações, por exemplo.

Fácil, não é? Parece! Pergunte para dez colegas que fazem odontologia estética, veja quantos sabem as respostas corretas. Desapontado? Pois é, se você leu este simples texto até aqui, deve estar se pergun-tando: quem é esse chato de galocha? Ok, concordo. Devo ser mesmo. Mas não sou o (único) culpado disso. Não, senhor. Os responsáveis são, além do Kano, um tal de Hirata, Kina, Scopin, Newton Fahl e, principalmente, um tal de Luiz Narciso Baratieri.

O mais famoso dentista brasileiro (ou o melhor mar-queteiro, para muitos) de todos os tempos sempre dizia que o mais importante era fazer bem os procedi-mentos clínicos e não ser, necessariamente, especialista na área. Isso pesava em mim, claro.

FALA SÓCIO

Geraldo Destefani

Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, pela São Leopoldo Mandic - Campinas.Título de capacitação em Odontologia do Sono, pelo Instituto do Sono de São Paulo.

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Mas eu fazia e faço bem as mi-nhas restaurações, então queria muito esse título. Nos seus cursos, ele martelava sempre na tecla do ensino continuado, do treino, do aprendizado diário. ASG dizia que, além disso, era preciso ter dúvidas sempre, questionar.

Quem assistiu “O Dia do Bruxis-mo” (eu assisti duas vezes), ouviu a importância que a Adriana Lira Ortega dá ao tema. Em uma aula no Instituto do Sono, Paulo Cunali disse que repetiu centenas de ve-zes um procedimento clínico em laboratório, pelo aprimoramento, pela excelência. Como tinha tem-po para decidir, aproveitei e fui checar outros cursos, e aí começou uma guinada profissional, a hora que a bússola da sua vida confunde a proa com a popa.

Foi então que a minha parte emocional, eu mesmo, ouviu mais uma vez, a minha parte racional, a minha esposa: “E essa DTM, o que você acha?”. “Não acho nada, nem sei o que é...”, pensei. “Vamos pesquisar sobre essa especializa-ção, quem sabe você se interessa.

Além do mais, todo mundo faz restauração. Dá uma olhada, va-mos amadurecer a ideia. Se você não gostar, faça a Estética, que é o seu sonho”.

Meio emburrado, meio chatea-do eu disse um “Tá bom” e deixei para depois. Durante o meu perí-odo de estudo, sagradamente, das oito às nove, de segunda a sábado, comecei a ler alguma coisa sobre DTM no Google (logo onde).

A curiosidade inicial foi se trans-formando em interesse real. Pouco tempo depois de ser apresentado a essa nova área da Odontologia (pelo menos para mim), decidi: era DTM/DOF, na São Leopoldo Man-dic, que eu iria estudar.

E quem vai ser o responsável pelo curso? Um tal de ASG. Nun-ca ouvi falar. Interessante que já na especialização, em uma aula naque-les dias, ele disse “Como é que a pessoa vai fazer um curso de es-pecialização e não pergunta, não sabe quem vai dar o curso? ”.

Nessa hora, uma espaçonave em forma de carapuça estacio-nou no centro da minha cabeça,

ou buscando os termos técnicos do nosso dialeto, eu diria que ela estacionou sua maior parte (terço médio e posterior) no osso parie-tal, a menor parte (terço anterior) na sutura coronal e osso frontal e seus pneus na parte escamosa do osso temporal ipsolateral.

Com a decisão tomada, chega-va a hora de definir o itinerário, pois a longa jornada iria começar. Campinas fica a aproximadamente 97 km de São Paulo. Sinop, onde moro, fica 500 km de Cuiabá, e da capital dos mato-grossenses até Campinas, mais 1.437 km.

No início, era passar uma noite congelando no “balanço do busão” (até hoje me pergunto por que todo motorista acha que 16ºC é a temperatura ideal para dormir), chegar de madrugada em Várzea Grande (cidade análoga à Cuiabá), pegar um táxi que se recusava sem-pre em ligar o taxímetro, ir ao pior aeroporto do país (segundo pes-quisas, embora eu concorde total-mente) e esperar mais seis ou sete horas até o embarque. Moleza!

Graças ao bom Deus, isso foi

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somente no começo. Logo, Si-nop, minha cidade, ficou chique. O portentoso aeroporto general João Baptista Figueiredo (aquele dos lemas “Me esqueçam”; “Prefi-ro o cheiro de cavalo a cheiro de povo”; “Eu prendo e arrebento”) construído há tempos e que enri-queceu muitos, começou a operar. Havia apenas uma dificuldade: a chuva.

Sem instrumentos para a orien-tação dos comandantes e do pes-soal em solo, se São Pedro abrisse a torneira do céu, não tinha jeito. E aqui chove de novembro a março quase todos os dias. No entanto, era melhor que passar a noite na câmera frigorífica transvestida de “busão”.

Na verdade, a chuva causava somente dois problemas: o pouso e a decolagem. Somente isso. Fora isso, show de bola. Claro, algumas vezes saí de Cuiabá cheguei em Sinop, não pousei. Voltei à capi-tal, esperei, dormi lá, peguei novo voo, cheguei em Sinop e... não pou-sei! That happens.

Mas voltando ao tema central desse texto, e ASG? Bom, escutei de tudo um pouco, prós e con-tras: “Estamos na melhor escola e temos o melhor dos professores”; “Ele já foi pior...”; “Ele só respeita o pessoal do exterior” ; “Que outro professor leva a gente para estu-dar lá fora ou traz os caras aqui? ”; “Bipolar”; “Meio desorganizado”; “Não tem melhor que ele”; “O livro dele não é ruim, não”.

Os extremos que, a meu ver, as pessoas demonstram em relação ASG, o amor total ou a aversão, remete a um lema ufanista da dita-dura dos anos 60, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, ou ainda de outro lema, esse dos anos 70, do timão, o Co-rinthians, “ame-o ou odeie-o”. Pa-rece que as pessoas não têm meio

termo com ele. Bobagem. Penso que como qualquer um de nós, ele tem seus dias bons e ruins, embora, como disse um colega de classe, ele parece ter mais dias ruins do que nós.

Certa vez, em um desses dias, ele perguntou, já no meio do curso e caminhando pela sala, semblante meio fechado: “Por que o músculo dói? ”. É porque está isquêmico, pensei, e talvez fosse a resposta que ele queria escutar. Mas não falei. Naqueles dias, é melhor não arriscar. Em uma outra situação, estava eu atendendo na parte da manhã e uma colega muito querida, a Germana, mestre em DTM/DOF, me ligou. “O ASG está aqui em Sorriso, dando um curso e pergun-tou por você.” Putz, eu nem sabia! Larguei uma agenda cheia e parti,

quase 80 km. Cheguei no interva-lo, ele sentado, uns poucos colegas perto. Aproximei, ele me cum-primentou e sapecou: “Pô meu, eu venho no Mato Grosso dar um cur-so e você não vem assistir a minha aula?” Adiantava explicar? Aliás, o “pô” e o “enfins” são duas marcas registradas dele.

Em um momento mais light de uma aula, liguei o notebook e co-loquei a música Viva la vida do Coldplay e lá veio ele: “Pô, olha a música que esse cara gosta”- ele é fã do Chico Buarque. Na divulga-ção da especialidade, ele me aju-dou muito. Desenvolvi um folder com um texto e fotos e o mesmo solicitou que eu enviasse para que ele o aprimorasse algumas vezes.

Nessa mesma época, disse estar chateado por uma colega ter me

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criticado por telefone, quando ele sugeriu meu nome a ela para cooperar em um caso clínico, no qual estava tendo dificuldades e pediu socorro ao professor. “Re-leve”, ele me aconselhou.

Quando compreendi a necessidade de estudar os distúrbios respiratórios do sono e sua relação com a dor, fui a sua procura. Disse que tinha visto um curso de final de semana e tinha até feito a matrícula. Ele me olhou, com aquele olhar de desaprovação e lascou na bucha: “Você quer fazer marketing ou quer estudar a sério como você está fazendo aqui?”. Como a minha resposta foi óbvia, ele emendou: “Então vá ao Insti-tuto do Sono, em São Paulo estudar com a Cibele Dal Fabro e diga que mandei um abraço para ela”. Eu fui.

Perdi meu pai nesse período e, além da dor emocio-nal, outros dissabores aconteceram. Fora da minha fa-mília, ele foi a única pessoa a quem confidenciei o que acontecia. Tivemos uma ou outra rusga. Quem não tem? Uma delas foi no último dia de curso, quando eu disse que ele havia falado tal coisa e ele bradou um “Não coloque essas palavras na minha boca”. Até hoje acho (não ache nada perto dele; “Achou, fumou”, ele dizia), aliás, acredito que ele tenha dito. “Enfins...”.

No dia seguinte, na despedida e indo embora para São Paulo, começar novos estudos, solicitei a palavra e agradeci ao ASG pelo alto nível e pela perseveran-ça em ensinar a ciência que ele tem. E também pela

oportunidade de ser educado por professores do gabarito intelectual e pedagógico de uma Liete Zwir e Adriana Lira Ortega, por exemplo, e pela paciência e carinho dos pre-ceptores e pelos colegas de turma. “Você é o meu mentor”, finalizei.

Não me encaixo em nenhum dos extremos em relação a ASG, até porque convivi pouco com ele depois da es-pecialização. Raramente trocamos mensagens e nos en-contramos, na sua imensa maioria, em congressos.

Mas, seguramente, sou muito grato e tenho um profun-do respeito e admiração pela sua capacidade intelectual, pela sua dedicação em ensinar, pedindo em troca apenas o seu empenho e disposição. Foi graças a ele que exerço uma especialidade que me preenche e que me possibilita melhorar a qualidade de vida de inúmeras pessoas, que sofriam há meses, anos ou décadas. Analisando de uma maneira crítica e impessoal, ele parece querer que você apenas demonstre força de vontade em aprender o que ele quer te ensinar.

A última vez que nos encontramos foi em Brasília, em um evento satélite da SBDOF, trocamos um cumprimento e fomos tomar um café. No final do congresso, despedi dos amigos e, ao sair, o vi conversando com uma colega. Ele me abraçou, desejou boa viagem e depois que me vi-rei e ia saindo, ele se voltou e disparou: “Pô meu, só te vejo no Facebook”. Nada mais ASG do que isso. Nada mais Antônio Sérgio Guimarães.

Antônio Sérgio Guimarães no Programa Bem-Estar da TV Globo

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ENTREVISTA GUNNAR CARLSSON

APRESENTAÇÃO

Com mais de 400 trabalhos publicados, (alguns considerados verdadeiros clássicos), além de livros nas áreas de Prótese, Implantodontia e DTM e Dor Orofacial, o Professor Gunnar

E. Carlsson, da Universidade de Gotemburgo, é com certeza um dos maiores nomes da Odontologia no mundo.

Tem uma forte ligação com o Brasil, tendo estado aqui em várias oportunidades ministrando aulas, não só em grandes centros, mas também no interior do Brasil, sempre abrilhantando sua participação nos eventos em que participou.

Tal brilho não se limita ao campo acadêmico-científico, mas se estende às relações pessoais: portador de carisma e simpatia raras, fez diversos amigos entre os alunos e professores que aqui conheceu.

Tentamos trazê-lo para o nosso III Congresso da SBDOF, mas infelizmente a sua aposentadoria, aliada à dificuldade de um longo voo ao Brasil, fizeram com que sua presença entre nós não pudesse ser concretizada.

Teremos que nos contentar, portanto, com um belo texto em que conta sua longa trajetória na Odontologia e especificamente no campo das Disfunções Temporomandibulares, além de podermos ter a honra de tê-lo como Membro Honorário da nossa SBDOF, caso a Assembleia assim o decida.

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Recentemente, fui convida-do para participar como palestrante internacional no III Congresso da So-

ciedade Brasileira de DTM e Dor Orofacial (SBDOF). Infelizmente tive que recusar esse amável con-vite, pois acabo de deixar a “vida acadêmica” no início de 2017 e, após 47 anos na Universidade de Gotemburgo, retornei a Umeå, mi-nha cidade natal, uma distância de 1000 quilômetros. Mas, pela “insis-tência” de colegas brasileiros, fui persuadido a escrever um breve relato pessoal sobre minha carrei-ra científica na área da Fisiologia Estomatognática. Uma narrativa mais longa foi publicada há 10 anos como capítulo de um livro sobre a história dos transtornos tempo-romandibulares (1). O texto a seguir é uma versão condensada e atua-lizada.

Muita coisa na vida acontece ao acaso. Assim foi com a escolha de minha profissão. Minha relação com a Fisiologia Estomatognática também começou por mero aca-so. Na escola secundária eu nunca tinha pensado em me tornar um Dentista. Eu simplesmente come-cei o curso de Odontologia para escapar da ameaça de um serviço militar prolongado.

Eu nasci, cresci e comecei meu serviço militar em uma pequena cidade ao norte da Suécia (Umeå, no paralelo 64). Realizei meus es-tudos odontológicos na Royal Dental School de Estocolmo. Os

cinco anos na Faculdade de Odon-tologia passaram sem grandes difi-culdades. Eu não era nem um aluno brilhante e tão pouco um estudan-te malsucedido, e não pensava em seguir carreira na área de pesquisa.

Depois da formatura, eu traba-lhei por três anos como Dentista Clínico Geral no Sistema Dental Nacional de Saúde em uma peque-na cidade na Lapônia, no norte da Suécia. A saúde bucal nessa região era extremamente precária, a pre-sença de cárie dentária era muito comum e muitas pessoas, mesmo os jovens, escolhiam a extração dentária em vez de tratamento restaurador. Um tratamento mui-to comum em pacientes adultos que chegavam à clínica era uma prótese total dupla. Os pacientes raramente voltavam para fazer ajustes, o que nos levou a acredi-tar que os pacientes com próteses totais eram fáceis de manusear (quando, na verdade, era mais pro-vável que eles não voltassem por

morarem muito longe, geralmente de 100 a 250 km de distância, e eles mesmos acabavam fazendo os ajustes necessários nas próteses).

Não consigo me lembrar de ter diagnosticado pacientes com Dis-função Temporomandibular (DTM) durante meus três anos na clínica. Isso provavelmente pode ser ex-plicado pelo fato de que nós não tínhamos nossa atenção voltada para as DTMs. Nosso treinamen-to odontológico não incluía tais problemas, e a maioria esmaga-dora das necessidades de nossos pacientes estavam relacionadas à dor de dente e à cárie dentá-ria. Apenas alguns anos depois foi que nossas investigações epi-demiológicas ao norte da Suécia e na Finlândia demonstraram cla-ramente que os sinais e sintomas de DTM eram bastante comuns em pessoas que viviam nessas re-giões. Estudos posteriores mos-traram que isso era verdade em todo o mundo.

UM RELATO PESSOAL DE MEUS 67 ANOS NA ODONTOLOGIA, COM FOCO NA FISIOLOGIA

DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICOA personal story about 67 years in dentistry, with a focus on TMD/Stomatognathic Physiology

Gunnar E Carlsson, LDS, Odont Dr/PhD, Dr Odont hc, Dr Dent hc, Dr Dent hc, FDSRCS

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Durante meu período na Lapônia, uma nova Faculdade de Odontolo-gia foi criada em Umeå, minha cidade natal, o que me motivou a tentar uma formação especializada lá. A maioria dos primeiros cinco anos na Facul-dade de Odontologia em Umeå, eu passei no departamento de Próte-se Dentária onde eu completei o meu treinamento especializado nessa área. Minha tese “Mudanças nas mandíbulas e perfil facial após extrações e tratamento protéti-co” foi publicada e defendida em 1967, há exatos 50 anos em abril desse ano (2). Nessa época, eu já havia trocado o departamento de Prótese Dentária pelo depar-tamento de Fisiologia Estomatog-nática. Isto foi devido ao fato de que eu não obtive um cargo que eu pleiteava naquele departamento. Em vez disso, me ofereceram uma posição semelhante no departa-mento de “Análise Oclusal e Pró-tese Dentária Periodontal”, sem que eu tivesse nenhuma experiên-cia nessa área. Mais tarde, o depar-

tamento mudou de nome - e muito do seu conteúdo - para a Fisiologia Estomatognática. Nos anos seguin-tes, combinando o trabalho clíni-co com pacientes com distúrbios funcionais do sistema mastigatório, pesquisa e ensino, eu consegui que essa disciplina alcançasse o status de “especialidade” na Universida-de de Umeå.

A opinião dominante na época era que as interferências oclusais eram a principal causa de DTM e, consequentemente, o ajuste oclu-sal seria a primeira escolha para o tratamento de pacientes com DTM. O livro texto do Dr. Ulf Posselt, Fisiologia da Oclusão e Reabilitação, publicado pela primeira vez em 1962, tinha seu foco principal na Oclusão Den-tária. Articuladores, arcos faciais e registro da posição mandibu-lar ocupavam a parte principal da seção de auxiliares de diag-nóstico. Outra parte extensa do livro era sobre a análise funcional, que se concentrava na análise da oclusão tanto na clínica quanto em modelos montados em articulador. Reabilitação Oclusal foi definida como a correção da desarmonia funcional e desordem no sistema mastigatório pela eliminação de interferências oclusais. A segunda edição, publicada em 1968 após a morte de Posselt, adotou uma vi-são mais fisiológica sobre o sistema mastigatório, mas a forte ênfase na oclusão permaneceu (3).

A importância da oclusão foi certamente enfatizada também no best-seller internacional Oclu-são, de Ramjord e Ash, publica-do pela primeira vez em 1966 e reimpresso várias vezes, com sua quarta e última edição em 1995

(4). Este livro era impressionante, bem escrito, fácil de ler, e teve re-almente um grande impacto não só

naqueles que trabalharam na disci-plina da Fisiologia Estomatognáti-ca, mas também sobre os clínicos gerais.

No final da década de 1960, uma nova Faculdade de Odontologia foi estabelecida em Gotemburgo, na Suécia. Como eu possuía uma tese e realizava pesquisa em duas discipli-nas, em 1969 fui nomeado profes-sor de Fisiologia Estomatognática na nova escola. Foi emocionante ir para aquela nova Faculdade de Odontologia e participar do desen-volvimento de atividades de ensino, clínica e pesquisa nessa área. Anexa ao departamento havia uma clínica para pacientes que apresentavam vários distúrbios funcionais do sis-tema mastigatório, principalmente DTM. Havia mais de 1000 novos pacientes por ano encaminhados à clínica por Dentistas generalistas e também por Médicos.

Essa grande quantidade de no-vos pacientes encaminhados à clí-nica possibilitaram a realização de diversos estudos clínicos. Era roti-neiro eu entregar aos novos den-tistas que vinham ao departamen-to para especializar-se na área um projeto de pesquisa simples para eles desenvolverem com a ajuda de um ou dois dos membros mais

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antigos da equipe. Dessa forma, eles tomavam conhecimento do que era o método científico e po-diam então decidir se desejavam ou não continuar com um projeto mais complexo, que poderia levar até a uma tese de doutorado. Du-rante meu tempo como professor, 25 colegas completaram o dou-torado; muitos deles se tornaram chefes de clínicas especializadas em DTM e vários fizeram carreira acadêmica em outras universida-des (*nota do tradutor: entre eles, Martti Helkimo e Tomas Magnus-son).

Para facilitar o ensino na matéria, participei na edição e redação de vários livros didáticos, alguns dos quais foram escritos em inglês e tra-duzidos para outras línguas (5-8). Um

deles, escrito em conjunto com To-mas Magnusson (9) foi mais tarde tra-duzido para o português e ampliado com mais alguns capítulos pelo Dr. Antonio Sergio Guimarães (10). Du-rante muitos anos, tive o prazer de cooperar com Sérgio (como sempre o chamei) em palestras para Dentis-tas brasileiros no Brasil e na Suécia, e também em cursos em Portugal. Du-rante minhas muitas visitas ao Brasil, eu realmente gostei da atmosfera amigável entre os colegas e, claro, a natureza emocionante e bela do seu país.

Durante meus 26 anos como professor eu fui muito ativo na clí-nica, no ensino e na pesquisa, mas também na organização acadêmica (ver CV resumido). Depois de me aposentar na universidade, tive o

privilégio de ser nomeado Profes-sor Emérito e continuar em uma sala própria na faculdade. Lá, eu continuei com projetos de pesqui-sa e também como editor-chefe da Acta Odontológica Scandina-vica até 1997, e em seguida até 2004 para o mesmo posto no In-ternational Journal of Prosthodon-tics. Na verdade, publiquei mais de 150 trabalhos durante os 21 anos após a minha aposentadoria totalizando mais de 400 artigos ao longo de minha atividade acadê-mica. Mas agora, finalmente, deixei a vida acadêmica para aproveitar a vida de um aposentado “normal”.

ALGUMAS IDEIAS PESSOAIS SOBRE

A FISIOLOGIA ESTOMATOGNÁTICA

Se Fisiologia Estomatognática for definida com base na anatomia funcional e fisiologia do sistema mastigatório, não há grande pro-blema no assunto, desde que se aceite a busca pelo melhor conhe-cimento naquele momento. O pro-blema cresce quando os distúr-bios funcionais e sua etiologia são adicionados, incluindo o campo “obscuro” das DTMs. Como todos sabemos, a história da DTM está cheia de controvérsias, muitas das quais ainda não foram resolvidas.

Caminhamos um longo percurso desde a década de 1970, quando fortes crenças sem sustentação científica nos diziam que eliminan-do todas as interferências oclusais poderíamos curar o Bruxismo e as DTMs. Hoje, aqueles de nós que reconheceram a importância dos Cuidados de Saúde Baseados em Evidências olham de forma dife-rente para o problema e não têm tanta certeza sobre difíceis ques-tões relacionadas às DTMs. Barry Sessle, o respeitado cientista e editor-chefe do Journal of Oro-

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facial Pain and Headache, expres-sou da seguinte maneira a situação complexa nesta área: “Uma varie-dade de fatores, desde o estresse psicológico e variações oclusais passando pelo gênero do indivíduo e a qualidade de seu sono, podem estar relacionadas à expressão de condições de dor crônica como as DTMs ou a Odontalgia Atípica”.

Como escrevemos em nosso livro de DTM (9), pensamos que existe suficiente conhecimento ba-seado em experiência clínica e evi-dências científicas para apresentar um conceito clínico de diagnósti-co e tratamento das DTMs, que tem funcionado bem tanto para nós como para muitos outros co-legas e, mais importante, ajudado aos muitos pacientes. Esse concei-to baseia-se em métodos simples que, em grande parte, são aplicá-veis na prática clínica odontoló-gica geral. No entanto, o dentista deve saber reconhecer os proble-mas que irão requerer diagnósticos diferenciais devido às numerosas causas da Dor Orofacial e DTM. Essas ideias exigem que a gradua-ção e/ou pós-graduação disponha de ensino adequado. Também são

necessárias clínicas especializadas com profissionais especialmente treinados para o tratamento de pacientes complexos, que apre-sentam DTMs incomuns, ou outras e síndromes de dor crônica e Dor Orofacial difíceis de diagnosticar.

O futuro da Fisiologia Estomatognática

Olhando para trás em direção ao século passado, é fácil imagi-nar que muito ainda vai continuar a acontecer no campo das DTMs. Novos conceitos serão debatidos e comparados com opiniões ante-riores. Parte da comunidade odon-tológica manterá crenças prévias; outros adotarão novos conceitos. Algum conhecimento da história das DTMs tornará mais fácil com-preender a grande variedade de opiniões conflitantes, que existi-ram e ainda permanecem nessa área.

Ninguém pode ainda sustentar que a sua posição em relação às DTMs é a única correta. É eviden-te que existem muitas causas pos-síveis de DTM, uma vez que existe uma série de distúrbios e condi-ções abrigadas sob o guarda-chuva

“DTM/Dor Orofacial”. Devemos aceitar a grande variedade de conceitos, mas continuar a explo-rar cientificamente o fascinante e complicado mundo das DTMs e Dor Orofacial.

Dor é a razão mais comum para que os pacientes com DTM procu-rem atendimento, e para aqueles com Dor Orofacial isto é claro, e justifica o crescente interesse na pesquisa na área de Dor. Isso tam-bém explica a mudança de nome da principal revista nesse campo que passou a chamar-se Journal of Orofacial Pain e mais tarde mudou novamente para Journal of Orofa-cial Pain and Headache (*nota do tradutor: inicialmente chamou-se Journal of Craniomandibular Prac-tice and Orofacial Pain). O nome anterior incluía os distúrbios cra-niomandibulares, e a definição clás-sica de DTM compreende além de dor também os distúrbios funcio-nais. Estou convencido de que a maioria dos pacientes com DTM sofrem de uma combinação de dor e disfunção. Está bem estabeleci-do que a maioria desses pacientes pode ser tratada com sucesso com métodos relativamente simples,

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disponíveis também para os clíni-cos gerais.

Alguns pacientes com DTM precisarão de mais atenção quanto ao diagnóstico e esforços terapêu-ticos e devem ser encaminhados para um ambiente especializado. Uma pequena parte dos pacien-tes com DTM e problemas de Dor Orofacial, especialmente aqueles com dor crônica, podem precisar de ajuda em uma clínica de dor multidisciplinar. A pesquisa da dor tem feito um enorme progresso nas últimas décadas, mas o grande

Referências:

1. Carlsson GE. Half a century with Stomatognathic Physiology. In: Chung SC, Fricton JR (eds) The past, pre-sent and future of temporomandibular disorders and orofacial pain. Seoul, Korea: Shinhung International, 2006:175–201.

2. Carlsson GE. Changes in the jaws and facial profile after extractions and prosthetic treatment(dissertation). Trans Roy Schools Dent Stockholm, Umeå 1967;2: 12.

3. Posselt U. Physiology of occlusion and rehabilitation Oxford: Blackwell, 1st ed 1962; 2nd ed, 1968.4. Ramfjord S, Ash MM. Occlusion (1st, 2nd, 3rd ed). Philadelphia: WB Saunders; 1966, 1971, 1983. Ash MM,

Ramfjord S. Occlusion (4th ed);1995.5. Zarb GA, Carlsson GE (eds). Temporomandibular joint - function and dysfunction. Munksgaard, Copenhagen,

1979.6. Zarb GA, Carlsson GE, Sessle BJ, Mohl ND. Temporomandibular joint and masticatory muscle disorders. Munks-

gaard, Copenhagen 1994.7. Mohl ND, Zarb GA, Carlsson GE, Rugh JD (eds). A Textbook of Occlusion. Chicago: Quintessence, 1988.8. Zarb GA, Bolender CL, Carlsson GE (eds). Boucher’s Prosthodontic treatment for edentulous patients. 11th

ed. St. Louis: Mosby, 1997.9. Carlsson GE, Magnusson T. Management of temporomandibular disorders in the general dental practice.

Chicago: Quintessence, 1999.10. Carlsson GE, Magnusson T, Guimaraes AS. Tratamento das disfunções temporomandibulares na clinica odonto-

logiga. São Paulo: Quintessence, 2005.

Gunnar E Carlsson’s CVGunnar E Carlsson, L.D.S., Odont Dr/PhD, Dr Odont hc, Dr Dent hc, Dr Dent hc, FDSRCS (Eng)

Dr. Carlsson foi Professor e chefe do Departamento de Fisiologia Estomatognática (com sua clínica para pacien-tes de DTM) na Faculdade de Odontologia, Universidade de Gotemburgo, Suécia, de 1969 a 1987, e Professor e chefe do Departamento de Prótese Odontológica na mesma Faculdade 1987 a 1995. Ele é agora Professor Emérito. Foi Diretor da Faculdade de Odontologia em 1974-1977 e 1987-1990.

Dr. Carlsson publicou mais de 400 artigos e vários capítulos de livros sobre Prótese Dentária, Oclusão e Disfun-ções Temporomandibulares. Foi editor chefe do International Journal of Prosthodontics de 1997 a 2004 e ocupou a mesma posição para a Acta Odontológica Scandinavica de 1991 a 1997. Foi co-presidente do International College of Prosthodontists 1998-1999. Continuou sua atividade científica e palestras internacionais e foi autor ou co-autor de 32 publicações nos últimos 5 anos (2012-2016).

aumento do conhecimento teórico ainda não resultou em uma melhora correspondente no manejo clíni-co da dor crônica. Esperamos em breve ver um importante avanço também nesse aspecto. Muitos clí-nicos são tentados a experimentar novas drogas e métodos que são atraentemente propagandeados. No entanto, enquanto eles não fo-rem comprovados como melhores do que os atuais, é prudente nos atermos ao nosso conhecimento e habilidades clínicas no uso de mé-todos simples que têm ajudado

tantos pacientes de DTM.O futuro dessa área promete

ser emocionante oferecendo de-safios tanto na investigação quanto no tratamento clínico dos muitos pacientes com DTM e Dor Oro-facial. E, como um agradecimento especial aos membros de sua so-ciedade, espero que o entusias-mo dos antigos representantes da Fisiologia Estomatognática seja herdado e desenvolvido por no-vas gerações de pesquisadores e clínicos.

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Prezados Colegas,O nosso III Congresso Brasileiro de Dor Orofacial

vem aí. É com muita satisfação que convidamos todos os sócios da SBDOF, assim como os demais dentistas, fisioterapeutas, médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e outros profissionais de saúde para participarem deste importante evento.

Os temas das palestras foram cuidadosamente escolhidos com prioridade no enfoque clínico baseado no melhor nível de evidência científica. Questões controversas e presentes na prática diária também serão debatidas. Será o cenário ideal para aprofundar os temas propostos e compartilhar conhecimento.

Vamos vivenciar juntos esta experiência!

Contamos com sua participação!

Diretoria da SBDOFJoão Henrique Padula – Presidente Paulo Afonso Cunali – Vice Presidente Liete Zwir – SecretariaRodrigo Teixeira – Tesoureiro

III Congresso Brasileiro de Dor OrofacialJuliana Stuginski Barbosa – Coordenadora Geral Liete Zwir – Coordenadora CientíficaAdriana Lira Ortega – Comissão de Trabalhos Científicos

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André Porporatti - Dor neuropática pós-tratamento odontológico: um problema comum?As dores neuropáticas pós-tratamento odontológico são dores contínuas de intensidade moderada a grave, localizadas na região dentoalveolar, não secundárias a outras doenças ou patologias. Esta palestra irá abordar o papel do cirurgião-dentista no seu diagnóstico, por meio de testes clínicos, dentários, neurológicos e exames de imagem. A compreensão de seus fatores patogênicos e psicossociais irá nortear a conduta clínica nestes casos.

Antônio Sérgio Guimarães - Consequências da automedicação em pacientes de DTMA automedicação é uma prática bastante difundida não apenas no Brasil, mas também em outros países. Na maioria dos países industrializados, vários medicamentos de uso mais simples e comum estão disponíveis em farmácias, drogarias ou supermercados, e podem ser obtidos sem necessidade de receita médica (analgésicos, antitérmicos, etc). A decisão de levar um medicamento da palma da mão ao estômago é exclusiva do paciente. A responsabilidade de fazê-lo depende, no entanto, de haver ou não respaldo dado pela opinião do médico ou de outro profissional de saúde. Para encurtar os caminhos para a obtenção do alívio dos incômodos que o afligem, em inúmeras ocasiões, diante de quaisquer sintomas, especialmente os mais comuns como aqueles decorrentes de viroses banais, o brasileiro se vê, de pronto, impulsionado a utilizar os medicamentos populares para gripe,

febre, dor de garganta, etc; ou a procurar inicialmente orientação leiga, seja dos amigos íntimos ou parentes mais experientes ou até mesmo do farmacêutico amigo, em busca de solução medicamentosa (“vou lá na farmácia do Sr. Paulo para tomar uma injeção para gripe”). A mídia televisiva e vários outros meios de comunicação e propaganda como o rádio ou “outdoors” insistem com seus apelos a estimular a todos a adotar tal postura, inserindo no final da propaganda a sua tradicional frase “persistindo os sintomas um médico deve ser consultado”, como se isso os isentasse de toda e qualquer responsabilidade. O problema é universal, antigo e de grandes proporções. A automedicação pode ser considerada uma forma de não adesão às orientações médicas e de saúde. Há, contudo, meios para minimizá-la, por exemplo, programas de orientação para profissionais de saúde (Rev. Assoc. Med. Bras. vol.47 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2001). O objetivo dessa apresentação é mostrar as consequências do emprego da automedicação em pacientes com DTM e como instituir um programa não farmacológico para o controle da DTM e dor promovendo assim a autoeliminação da automedicação.

Bruno D’Aurea Furquim - Fatores genéticos e DTM: qual a importância clínica?Apesar de possuir fatores e mecanismos semelhantes, a resposta à dor é caracterizada por substancial diferença interpessoal, que pode ser atribuída a fatores como: idade, sexo e fatores genéticos. Independentemente do risco familiar, genótipos diferentes podem

Os temas das palestras foram cuidadosamente escolhidos com prioridade no enfoque clínico baseado no melhor nível de evidência científica. Questões controvertidas e presentes na prática diária serão debatidas. Será o cenário ideal para aprofundar os temas propostos e compartilhar conhecimento.Segue abaixo um breve resumo das palestras:

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influenciar a suscetibilidade ao desenvolvimento da doença ou à resposta a um determinado tratamento. Portanto, os sintomas de DTMs devem ser entendidos como uma resposta complexa e peculiar, com queixas específicas, podendo ser amplificados ou atenuados em função da composição genética individual.

Cesar Waisberg - O movimento: além da anatomia e biomecânicaA dor crônica vem mostrando um aumento em sua incidência a cada ano. Isto nos leva a refletir sobre aquilo que está sendo feito para conter este avanço e, mais do que isso, o que está sendo feito com sucesso. A Fisioterapia na área de DTM/DOF, assim como em outras áreas, conta com diversos recursos para lidar com o paciente com dor, crônica ou não. A palestra irá mostrar que além dos já tradicionais recursos utilizados, a fisioterapia, no âmbito mundial, vem se dedicando e utilizando em algumas frentes, o modelo da Pain Neuroscience Education (PNE), que, apesar de ser algo relativamente recente, já possui trabalhos que confirmam os bons resultados. Considero ainda importante focar em aspectos biopsicossociais, mais especificamente, a cinesiofobia e o pensamento catastrófico. Diversos artigos nos mostram que o paciente com dor obtém melhores resultados com o movimento do que com o repouso. Baseado nisto, o foco da palestra é abrir a mente dos profissionais que lidam com pacientes com dor, mostrando que o movimento pode ir além da anatomia e da biomecânica.

Cibele Dal Fabbro - Sono e Dor OrofacialA literatura tem mostrado que existe uma relação recíproca entre qualidade do sono e dor. O reconhecimento do distúrbio do sono ou de um sono não repousante influencia o tratamento das desordens dolorosas. Por outro lado, estímulos dolorosos e Desordens Dolorosas interferem no sono, assim como um Distúrbio do Sono contribui para a experiência da dor. Dessa forma, o manejo de um Distúrbio de Sono quando presente pode contribuir para a melhora e controle dos quadros álgicos, dentre eles a Dor Orofacial. Iremos abordar a literatura e formas de reconhecer clinicamente essa relação recíproca tão comum na clínica de dor.

Daniel Bonotto - Dispositivos interoclusais em DTM articular: por que funcionam?Historicamente, os dispositivos interoclusais têm sido a modalidade terapêutica mais indicada pela

Odontologia para diferentes tipos de disfunção temporomandibular. A boa efetividade, excelente custo benefício e o caráter reversivo das placas oclusais explicam essa popularidade. Entretanto, seu exato mecanismo de ação ainda permanece incerto, sendo motivo de controvérsia. Em DTM articular, a indicação muitas vezes é justificada por uma provável ação mecânica, modificando o posicionamento e a relação côndilo-disco articular ou alterando a intensidade de pressão sobre tecidos retrodiscais. Por outro lado, diferentes explicações para sua efetividade têm sido levantadas: alívio da dor pelo estímulo de vias sensoriais trigeminais; efeito placebo; influência sobre a percepção cognitiva de hábitos parafuncionais; regressão à média ou ainda o próprio curso natural da doença. O objetivo da palestra é discutir os modelos de mecanismo de ação dos diferentes tipos de dispositivos oclusais utilizados no manejo de DTM articular sob o prisma das evidências atuais.

Daniela Franzen - Abordagem psicossocial na clínica de dorO envolvimento do eixo II – os fatores psicossociais- é amplamente comprovado e uma comorbidade muito presente nos pacientes com dor orofacial. Isso leva o cirurgião-dentista, especialista ou não em dor a necessitar de um conhecimento maior sobre a interface da psicologia com a odontologia e a influência de condições como a ansiedade, o estresse e as psicopatologias, como a depressão, a distimia e o transtorno do pânico, entre outras, no aparecimento e manutenção das condições dolorosas. Veremos as evidências mais atuais para auxiliar o clínico na compreensão destes fenômenos com uma visão mais ampla e humanizada do paciente e ao mesmo tempo, com a maior objetividade possível para um tratamento efetivo.

Daniela Godoi Gonçalves - Sensibilização central - como se explicam as dores crônicasA sensibilização central é definida como um estado de amplificação dos sinais no Sistema Nervoso Cen-tral (SNC), e se expressa como uma hipersensibilidade dolorosa. Vários processos estão envolvidos no de-senvolvimento da sensibilização central, mas resumi-damente podemos dizer que existe uma disfunção do SNC. Nesse processo ocorrem alterações no proces-samento das informações sensoriais no cérebro, mau funcionamento dos mecanismos descendentes de con-trole da dor, e um aumento na atividade das vias que

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facilitam a dor. Dessa forma, pode-se dizer que há o desenvolvimento de um estado que predispõe a mais dor, mais sensibilidade, e onde a capacidade inerente dos indivíduos de lidar com estímulos dolorosos e com a dor em si, está prejudicada. A sensibilização central pode estar associada a diversas condições dolorosas, como nos estados de dor crônica e em especial as que acometem o sistema musculoesquelético, como a DTM. A dor crônica nem sempre está associada a um trauma ou lesão presente, e muitas vezes se mantém devido a alterações no sistema nervoso. O desenvol-vimento da sensibilização central está fortemente re-lacionado às alterações funcionais e morfológicas de estruturas do SNC, incluindo predisposição genética, lesões estruturais, estresse, distúrbios do sono, alte-rações emocionais como depressão e ansiedade, per-manência aumentada de um estímulo doloroso, entre outros. Nessa apresentação, iremos discutir aspectos relevantes para o desenvolvimento da dor crônica re-lacionados à sensibilização central em pacientes com DTM, baseado na literatura mais recente sobre o tema.

Debora Bevilaqua Grossi - Mecanismos de dor cervical e sua relação com DTMA dor cervical é uma queixa comum entre os pacientes com DTM e pode ser atribuída a diferentes fatores. Apesar de ainda não ter sido demonstrada uma relação entre causa e efeito, os sinais e sintomas cervicais parecem estar relacionados com a severidade da DTM e a presença dessas queixas na região cervical parecem ser perpetuadoras da disfunção na ATM, isto é, colaboram para que o quadro de dor e disfunção na ATM se agravem e tenham maior impacto na vida do paciente. As razões para essa relação podem ser explicadas pela associação biomecânica entre a coluna cervical e o sistema estomatognático, exemplificado pela frequente postura anteriorizada da cabeça que pode levar a mandíbula em retrusão e favorecer maior impacto articular. Este impacto pode ser aumentado se os músculos craniocervicais estiverem mais tensos e encurtados. No entanto, esta relação entre dores cervicais e DTM é também decorrente da convergência de informações dos nervos sensoriais aferentes da face e da coluna cervical no subnúcleo caudal trigeminal no tronco encefálico. Por isso, uma dor originária do pescoço pode ser percebida na região da face e vice-versa. Recentes estudos têm ainda demonstrado que a avaliação da DTM deve incluir a avaliação de todo o sistema craniocervical uma vez que evidências científicas demonstram que a

amplitude e o desempenho muscular da coluna cervical destes pacientes estão prejudicado e, portanto, deve ser avaliado e ser objeto de atenção especial para o tratamento mais efetivo destes pacientes.

Eduardo Januzzi - Viscossuplementação: quais os resultados clínicos?A viscossuplementação da ATM é uma técnica minimamente invasiva, de baixo custo e morbidade, com bons resultados para os deslocamentos do disco com e sem redução, para a osteoartrose e para a osteoartrite, sobretudo quando se estabelece um correto diagnóstico e um protocolo de tratamento efetivo. Complementarmente, torna-se importante destacar que pacientes com artralgia temporomandibular, associada à limitação da função por deslocamentos do disco sem redução e travamento desta articulação, muitas vezes apresentam dificuldade no manejo clínico e podem requerer procedimentos mais invasivos como a artrocentese. Contudo, podem apresentar condições que limitem a aplicação da técnica, ou, ainda, previnam sua execução oportuna, tornando a viscossuplementação uma alternativa interessante a ser considerada sob esse contexto. Os desfechos explorados na literatura para demonstrar a eficácia da viscossuplementação envolvem principalmente dor, recuperação funcional e qualidade de vida. Nesse caso, nosso grupo tem explorado a associação de produtos objetivando otimizar seus efeitos biomecânicos e farmacológicos, com resultados bastante promissores, incluindo para o diagnóstico e avaliação dos resultados, exames de imagem na mensuração da osteoartrose e osteoartrite, por exemplo, diminuição significativa de osteófitos, aplainamentos, esclerose e erosão da cabeça da mandíbula após 6 meses de tratamento. Possibilita também, avaliar as alterações morfológicas dos discos articulares 6 meses após a viscossuplementação. Serão apresentados resultados decorrentes da pratica clínica e pesquisas realizadas com esse protocolo que sugerem novas perspectivas de uso e avaliação da viscosuplementação.

Fábio Sato - Ponto e Contraponto: Disfunções Articulares: até que ponto o tratamento é conservador?A apresentação terá como objetivo discutir como a cirurgia da ATM, em especial os procedimentos minimamente invasivos, podem auxiliar no tratamento dos casos limítrofes entre o tratamento clínico e o cirúrgico. Serão apresentadas algumas possibilidades de tratamento cirúrgico e discutidos casos em que o

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tratamento cirúrgico foi empregado com sucesso em conjunto com o tratamento clínico para melhora dos sinais e sintomas da Disfunção Temporomandibular.

Giovana Fernandes - Bruxismo em Vigília: um novo capítulo na relação com DTM?Por definição, bruxismo é uma atividade da musculatura mastigatória caracterizada por apertar ou ranger os dentes e/ou segurar ou empurrar a mandíbula. O bruxismo é frequentemente agrupado e genericamente referido como uma única entidade, porém, fortes evidências científicas sugerem que este apresenta duas manifestações circadianas distintas: bruxismo do sono e bruxismo da vigília. A etiologia de ambas ainda não está totalmente esclarecida, mas tais manifestações já são consideradas duas entidades separadas com diferenças em suas etiologia e fisiopatologias. O bruxismo da vigília é, principalmente, caracterizado pelo apertar dos dentes e parece estar associado a fatores psicológicos, tais como: ansiedade e estresse. Durante décadas, o bruxismo é considerado um fator de risco para Disfunção Temporomandibular (DTM), entretanto, pouco ainda se sabe sobre a associação da DTM com as diferentes manifestações circadianas do bruxismo. Recentemente, os estudos estão demonstrando uma forte associação entre o bruxismo da vigília e a DTM dolorosa. É sugerido que a atividade repetitiva de apertar os dentes durante o dia aumenta os níveis de substâncias inflamatórias nos músculos da mastigação. Entretanto, é necessário considerar não só os mecanismos periféricos envolvidos com o bruxismo da vigília, mas também sua participação e interação com o desenvolvimento ou presença dos mecanismos centrais envolvidos na etiologia da DTM dolorosa. Com base nas evidências científicas mais atuais e relevantes, esta apresentação terá como objetivo principal discutir a associação do bruxismo da vigília com a DTM dolorosa, considerando os mecanismos periféricos e consequentes mecanismos centrais envolvidos na etiologia da DTM.

João Batista Macedo - Ponto e contraponto: toxina botulínica na DTMDisfunção Temporomandibular (DTM) é um termo co-letivo que reúne várias alterações nos músculos da mastigação e/ou nas articulações temporomandibula-res, bem como estruturas associadas. A toxina botulí-nica tipo A (TBA), segundo a literatura, é uma opção terapêutica dentre várias outras opções em casos de DTM. Segundo Francisco, Tan e Green (2012) e Dutt,

Rammani, Thakur e Pandit (2015) a TBA atuaria: 1)Cli-vando proteína de ligação na terminação axônica da placa motora, gerando relaxamento da musculatura es-triada esquelética; 2) Bloqueando a secreção das glân-dulas sudoríparas e salivares; 3) Inibindo a liberação de neurotransmissores da dor, como CGRP, substância P e glutamato, tanto em caso de sensibilização periférica como central. A TBA quando aplicada nos masseteres e/ou temporais, pode apresentar efeitos adversos, como: atrofia muscular, fadiga ao mastigar, diminuição da amplitude do sorriso e osteogenia. Efeitos que são dose-dependentes, ou seja, se colocar doses elevadas existe maior possibilidade, porém são efeitos tempo-rários. A atrofia muscular normalmente é uma opção terapêutica escolhida pelo profissional e pelo pacien-te em casos de hipertrofia dos masseteres e/ou tem-porais. A diminuição da amplitude do sorriso e devido ao grande relaxamento do masseter fazendo com que o risório tenha redução de sua ancoragem (a origem do risório é na fáscia do masseter). A literatura demonstra (Warner et al.,2006; Rafferty et al., 2012 e Darbois et al., 2015) que osteopenia corresponde à diminuição da densidade óssea medular e não cortical, que é tempo-rária, não significando que essa diminuição seja patoló-gica e que a maior calcificação seja o ideal.

Jorge Alberto vonZuben - Neurociência: como reagir diante da Dor CrônicaDiante das experiências vividas na dor crônica, reagimos de forma instintiva, ou seja, inconsciente. A partir disto, facilitamos disfunções orgânicas e emocionais como estresse emocional, diminuição do limiar de dor, liberação excessiva de cortisol e adrenalina. Como podemos controlar esses fenômenos.

José Tadeu Tesseroli de Siqueira - Neuralgia do trigêmeo: nova classificação, velho tratamento?A neuralgia do trigêmeo (NT) é exemplo de uma doença conhecida há milênios. Destacam-se, e decorrem da própria fama, o sofrimento e o desespero que causa ao paciente que dela sofre. Seus critérios de diagnóstico também são conhecidos há muito tempo; os tratamentos disponíveis na atualidade permitem o controle da dor e uma vida normal. Entretanto, a demora no diagnóstico e na maioria das vezes a realização de procedimentos iatrogênicos, como a exodontia, aumentam o drama do paciente. Enfim, quais são as dificuldades clínicas, principalmente na clínica odontológica? O primeiro deles é o diagnóstico diferencial da NT com as odontalgias e outras dores

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orofaciais. Essa questão também é antiga, pois em grande parte a queixa de dor é no dente ou em suas adjacências. Procedimentos corriqueiros e indolores, como escovar os dentes, ingerir líquidos, mastigar e engolir podem ser o terror do paciente com NT, pois desencadeiam a crise neurálgica. O segundo é o fato de ser uma doença neuropática e que veio para ficar, o que faz com que o controle da dor varie de medicação à neurocirurgia. É exemplo de uma doença crônica. São objetivos da apresentação mostrar os critérios de diagnóstico da NT, bem como seu diagnóstico diferencial com outras dores orofaciais, e os tratamentos disponíveis na atualidade. A par disso, salientar o papel e a importância do cirurgião-dentista para o paciente com NT, principalmente a fase de diagnóstico, mas também pela necessidade de atenção odontológica permanente ao mesmo.

Leonardo RigoldiBonjardim - Testes quantitativos sensoriais - já é possível utilizar na clínica de DTM?O advento de técnicas e recursos que possibilitaram construir uma relação mensurável entre as sensações corpóreas e os estímulos aplicados, abriu caminho para o surgimento da Ciência dos fenômenos sensoriais, o que inclui, em grande medida, a mensuração e avaliação da dor. A partir de então, o uso dos testes quantitativos sensoriais tem avançado dentro das Ciências da Saúde. Apesar de ter sido originalmente elaborado para caracterizar e avaliar dores neuropáticas, sua aplicação tem se estendido para outros tipos de dores crônicas, como as dores musculoesqueléticas, em particular, as disfunções temporomandibulares (DTMs). Assim, será abordado o papel dos testes quantitativos sensoriais como um biomarcador que pode adicionar informações ao diagnóstico e/ou ao tratamento das DTMs. Baseado no que há de evidência científica sobre esse tema, será discutido onde estamos e onde devemos avançar para a utilização desses testes na realidade clínica.

Paulo Cesar Rodrigues Conti - Ponto e Contraponto: Disfunções Articulares: até que ponto o tratamento é conservador?Os distúrbios da ATM são frequentemente encontrados em pacientes com DTM. Deslocamentos do disco articular, artralgias e processos degenerativos fazem parte dessa gama de manifestações, com comprometimento das funções mastigatórias. Como parte do tratamento terapias invasivas, como reabilitações oclusas extensa, terapia ortodôntica e cirurgia aberta da ATM têm sido sugeridas. No entanto,

estudos de acompanhamento longitudinal, que definem a progressão natural das doenças demonstram que tais processos progridem, na maioria das vezes, de forma extremamente benigna. Ou seja, não apresentam pioras significativas com o tempo.Outro fato a ser destacado é o sucesso reportado em ensaios clínicos randomizados de terapias reversíveis, como mudança de hábitos, farmacoterapia e uso de dispositivos intraorais. Assim sugere-se que tais procedimentos façam parte de estratégias de controle das patologias da ATM.

Paulo Cesar Rodrigues Conti - Cefaleias atribuídas a DTM, contração muscular e dor: uma análise críticaCefaleias primárias e as DTMs são altamente preva-lentes, além de apresentarem altos graus de comor-bidade. Apesar de bastante discutido, o mecanismo de “contração muscular”, presumidamente envolvido nessas entidades parece nem sempre responder pe-los sinais e sintomas de dor facial e craniana, caracte-rísticos dessas manifestações. Conhecimentos de me-canismos de condução das dores trigeminais, além de resultados de pesquisas onde melhoras nas dores nem sempre acompanham o “relaxamento muscular” ques-tionam essa histórica associação. Tais fatos impactam diretamente na elaboração de estratégias de controle desses pacientes. O sucesso dos dispositivos intraorais é um exemplo. Diversos estudos demonstram que o mecanismo de ação desses aparelhos vai muito além de diminuição da atividade dos músculos da mastigação. Assim, esta atividade objetiva apresentar e discutir, sob a ótica da evidência, a potencial relação (ou não) entre as DTMs, cefaleias primárias e a contração mus-cular, e quais os impactos no tratamento.

Rafael Santos Silva - Antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes - por que utilizá-los no controle da dor por DTM?As DTMs compreendem uma série de sinais e sintomas que afetam as articulações temporomandibulares, a musculatura mastigatória, e estruturas associadas. Seu tratamento baseia-se em múltiplas abordagens, conservadoras e reversíveis. Dentro desse contexto, a terapia farmacológica representa uma opção rápida e de baixo custo que auxilia no tratamento como um todo, especialmente nos casos crônicos com envolvimento central e presença de comorbidades. Dentre os medicamentos utilizados com o perfil citado, destacam-se os antidepressivos tricíclicos e os anticonvulsivantes. Esta palestra tem como

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objetivo fazer uma análise crítica, baseada na literatura pertinente, do papel destes agentes farmacológicos no controle da dor associada à DTM.

Reynaldo Leite Martins - Ponto e contraponto: toxina botulínica na DTMO uso da Toxina Botulínica na área de DTM e Dor Orofacial tem se tornado rotina em muitos consultórios. O tema é relevante e atual, e a SBDOF teve uma conduta interessante ao propor uma discussão no formato de simpósio, onde poderemos discorrer se, quando, como e porquê utilizá-la. O formato de “ponto/contraponto”, com mais de um palestrante, seguido de uma discussão enriquecerá o debate.

Ricardo Tanus Valle - Deslocamentos de discos: qual a melhor opção de controle?Apesar do conhecimento limitado sobre as etiologias das DTMs, o prognóstico da maioria delas é favorável com tratamentos conservadores! Baseado nas melhores evidências disponíveis e em anos de experiência no tratamento desses pacientes, iremos abordar em nossa palestra quais as melhores opções de controle nos deslocamentos dos discos articulares.

Ricardo Tesch - Reabsorções Condilares - Estratégias Terapêuticas InovadorasO processo degenerativo da articulação temporomandibular (ATM) é caracterizado clinicamente pela presença de ruídos de crepitação, que podem ou não estar acompanhados de artralgia. Este diagnóstico é idealmente confirmado, e o processo degenerativo quantificado, por imagens de tomografia computadorizada. A ocorrência dessas lesões degenerativas nas ATM de pacientes candidatos a procedimentos de cirurgia ortognática é frequente, e o procedimento cirúrgico pode aumentar o risco de agravamento de quadros preexistentes, inclusive com a possibilidade de recidiva da deformidade dentofacial. Estratégias terapêuticas disponíveis envolvem protocolos capazes de produzir efeitos sobre a dor e incapacidade funcional, visando a interrupção da progressão da doença. Contudo, não tem demonstrado eficácia no reparo dos defeitos da cartilagem articular e osso subcondral. A abordagem terapêutica inicial utiliza de terapias não cirúrgicas ou minimamente invasivas, baseadas na supressão da carga articular parafuncional e na administração de drogas e materiais biológicos, como os condroprotetores e viscossuplementos. Procedimentos cirúrgicos mais

invasivos, como as cirurgias abertas da ATM para colocação de próteses, são reservados para casos isolados e refratários à terapia conservadora. Como nova modalidade terapêutica, a medicina regenerativa prevê o uso de biomateriais associados, ou não, a células e fatores de crescimento. Essas terapias visam manter, substituir ou reparar as funções de órgãos existentes. Dentre os procedimentos de medicina regenerativa, o transplante autólogo de condrócitos parece ser a alternativa terapêutica mais promissora no que se refere à eficácia e segurança, tendo indicação em casos graves e refratários aos protocolos mais conservadores de tratamento. O primeiro procedimento em seres humanos de transplante autólogo de condrócitos de septo nasal, para a regeneração de lesões da ATM por reabsorção condilar pós-cirúrgica, foi realizado em um paciente retrognata do gênero masculino de 27 anos de idade. Os resultados clínicos e as reconstruções tridimensionais das imagens tomográficas das ATMs, antes e 6 meses após o procedimento de injeção da terapia celular, serão apresentados e discutidos.

Stephanie Teixeira - Toxina Botulínica – Apresentação e ModeraçãoA toxina botulínica é uma neurotoxina, produzida pela bactéria Clostridium botulinum, que apresenta como clássico mecanismo de ação a inibição da liberação de acetilcolina no terminal nervoso periférico. Sua utilização em patologias acompanhadas de distúrbios do movimento mostrou que existem benefícios em outros aspectos clínicos, como o alívio das condições dolorosas concomitantes. Seu uso clínico requer do injetor conhecimento da doença, da anatomia, da fisiologia, da farmacologia e da farmacocinética, porém a sua adequada utilização pode promover o alívio dos sintomas de diferentes pacientes, em diferentes indicações por vários meses.

Vitor Panhóca - Laserterapia em DTM: existe um protocolo?A laserterapia com aparelhos de baixa potência tem sido utilizada na odontologia com efeito antiálgico principalmente em tratamentos de hipersensibilidade dentária, movimentação dental na ortodontia e disfunção temporomandibular (DTM). Na aplicação de laser de baixa potência para efeito antiálgico o odontólogo clínico necessita ter conhecimento em dosimetria para programar estes aparelhos e realizar um protocolo eficiente. A definição de um protocolo de tratamento com laser de baixa potência em

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disfunção temporomandibular demanda conhecimento das variáveis físicas e clínicas para se obter uma dose ideal para se atingir o efeito final desejado. O objetivo desta palestra é apresentar as variáveis físicas e clínicas que influenciam no tratamento da DTM envolvendo os aparelhos de laser de baixa potência. Isto não se refere a uma definição matemática apenas de doses clínicas envolvendo potência do aparelho, área focal da ponta do aparelho e tempo de tratamento a ser feito. Apresentaremos informações esclarecedoras e inequívocas no sentido de se quantificar doses de luz para que se alcance o fim desejado nos tecidos-alvos a serem tratados na DTM de maneira eficaz. A intenção é que o clínico entenda todas as variáveis envolvidas na laserterapia para obter melhor discernimento em escolher um protocolo apropriado de tratamento em DTM.

Vera Lucia Mestre Rosa - Exames de imagem em DTM: quais os avanços nos últimos anos?Pacientes com dor orofacial e problemas na função mandibular constituem um amplo e heterogêneo grupo com uma variedade de diagnósticos de disfunção temporomandibular - DTM (Laskin 2006 e Scrivani 2008).Nesses anos todos, as imagens por tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética ainda dominam as imagens diagnósticas para as

disfunções temporomandibulares intra-articulares.Desarranjos do disco e osteartrite são as desordens intra-articulares mais comuns. A artrite reumatoide não é tão comum, mas é a artrite mais recorrente que pode envolver a articulação temporomandibular (ATM).Imagens para os problemas intramusculares ainda não estão bem estabelecidas em se tratando das disfunções temporomandibulares à exceção do edema intramuscular que pode ser amplamente visível nas imagens por ressonância magnética com o protocolo T2. A elastrossonografia pode ser utilizada para avaliação de pontos gatilhos. (Skidar e col., 2009)Mais da metade dos 62 voluntários assintomáticos apresentaram efusão articular, pontos ou linhas de aumento de sinal em T2 ao longo das superfícies articulares (Westesson e col, 1992) Alterações intramedulares, sendo a detecção de osteonecrose na cabeça da mandíbula com IRM mostrou sensibilidade de 78%. (Lahreim e col., 2012)Padrões de Intensidade de Sinal de IRM da medular óssea podem indicar presença de edema e osteonecrose nas cabeças de mandíbula. (Lahreim e col., 1999).As imagens na disfunção temporomandibular têm sua relevância nos distúrbios intra-articulares e passa sem sombra de dúvida, por um prévio exame clínico que poderá diferenciar os problemas musculares dos intra-articulares.

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Roberto Brígido de N. Pedras CD MScProf. Adjunto da Faculdade de Odontologia do Centro Universitário Newton PaivaCoordenador do Serviço de Dor Orofacial da Clínica da Dor do HC/ UFMGCoordenador da Comissão de Saúde Pública da SBDOF

Nos dias 28 e 30 de novembro, foi lançado o Protocolo de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial (DTM e DOF) da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte – SMS

BH, fruto de intensas discussões de um grupo de Den-tistas especialistas nessa área, Dentistas generalistas, gestores na área de Saúde municipal e o Coordenador Odontológico da Clínica da Dor Orofacial do Hospital das Clínicas da UFMG, Dr. Roberto Brígido Pedras, re-presentante da Sociedade Brasileira de Disfunção Tem-poromandibular e Dor Orofacial (SBDOF).

O lançamento do protocolo foi seguido por um cur-

COMISSÃO DE SAÚDE PÚBLICA

so para mais de 300 profissionais que atuam nas unidades de atenção primária à Saúde do município de Belo Hori-zonte. O objetivo do curso foi qualificar os Cirurgiões--Dentistas generalistas da rede pública para atuarem no manejo das DTMs, orientando quanto à etiologia, diag-nóstico e tratamento dessas condições. A capacitação visa melhorar o atendimento e acompanhamento dos usuários do serviço público de Saúde do município que sofrem de algum tipo de DTM.

O Protocolo está disponível no Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Secretaria de Saúde, aqui.

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• Anatomia do sistema mastigatório

• Neuroanatomia das vias sensitivas e as motoras da face (V, VII, IX e V)

• Mecanismos neurais da dor orofacial

• Conceitos básicos da dor • Nocicepção, dor, sofrimento, comportamento doloroso;

• Fatores que influenciam a experiência da dor;

• Dimensões da dor;

• Dor aguda x crônica.

• Semiologia aplicada à dor orofacial • Anamnese e exame físico;

• Exames complementares (Imagenologia aplicada).

• Diagnóstico diferencial das dores orofaciais • Cefaleias primárias e outras comorbidades (cervicalgia, fibromialgia, transtornos mentais) • Bruxismo do sono e em vigília

• Disfunções temporomandibulares

• Epidemiologia e Etiologia;

• Patologias musculares;

• Patologias articulares;

• Tratamento não invasivo e baseado em evidências das DTMs. (Dispositivos interoclusais, farmacologia dos AINES e relaxantes musculares, terapia física e estratégias comportamentais)

Conteúdo Programático em DTM e DOF para a Graduação

Comissão de Ensino e Pesquisa e Comissão de Saúde Pública

Coordenação: Paulo César Rodrigues Conti Roberto Brígido de Nazareth Pedras Participantes: Anne Buss Becker Fábio Renato Pereira Robles Gustavo Augusto Seabra Barbosa José Stechman Neto Madalena Caporali Pena Rabelo Márcio José Martins Rabelo Reynaldo Leite Martins Júnior Wagner Simm

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MUITO ALÉM DA DOR:Por Ana Cristina Lotaif

Sou Cirurgiã-Dentista formada pela Universida-de de São Paulo no campus de São Paulo, minha cidade natal. Um ano após a graduação, cursei a Residência em Dor Orofacial e o Mestrado

em Biologia Oral na University of California Los Ange-les (UCLA). Morei em Los Angeles por oito anos onde posteriormente à pós-graduação fui Professora Clínica Assistente em período integral da Divisão de Ciências Diagnósticas na University of Southern California (USC). Lá, eu lecionei para alunos da graduação e pós-gradu-ação em Dor Orofacial, além de ser responsável pelo funcionamento do Centro de Dor Orofacial e Medici-na Oral entre os anos de 2002 e 2007.

Sou Diplomada pela Academia Americana de Dor Orofacial (ABOP – AAOP), Certificada em Odontolo-gia na Medicina do Sono pela Associação Brasileira do Sono (ABS) e Sócia Fundadora da nossa Sociedade Bra-sileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofa-cial (SBDOF). Atualmente, trabalho exclusivamente no atendimento de pacientes de DOF, DTM e Odontolo-gia do Sono em São Paulo.

Mas, “Muito Além da Dor” tenho uma atividade recre-ativa que me distrai e me inspira muito: “artes”, simples-mente, ou “arte-terapia”, como muitos preferem chamar.

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Meu interesse por artes plás-ticas vem desde a infância. Aos sete anos de idade disse para mi-nha mãe que queria fazer um curso de artes porque sentia que só as aulas no colégio eram muito pou-co: comecei então a fazer aulas particulares, mas quando cheguei à quinta série tive que parar devi-do à carga horária e compromissos escolares. Nessa época, eu dizia que seria pintora ou professora de artes quando crescesse... coisa de criança... ou não?

Os anos passaram, a adolescên-cia chegou e comecei a me interes-sar mais por música. Como eu gos-tava de cantar, resolvi aprender a tocar violão. Meu talento musical não era tão grande e anos depois quando os estudos do instrumento ficaram mais difíceis e necessitan-do mais dedicação do que inspira-ção, eu parei com as aulas, mas con-tinuei a tocar por diversão. Nesta idade eu já havia decidido que queria ser dentista. Nem sei bem o porquê, não tenho parentes den-

tistas, eu simplesmente sabia que era isto que eu queria ser.

Na faculdade eu me destaca-va por minha habilidade manual. Fui monitora de Escultura Dental por vários períodos, adorava! Na verdade, fui monitora de todas as disciplinas da área de Dentística. Mas eu queria muito estudar fora do Brasil, queria fazer uma pós--graduação nos Estados Unidos. Foi

quando um professor com quem eu estagiava em um curso de DTM me disse “se for estudar nos EUA, estude algo que não temos aqui no Brasil”. Assim, em 1998, eu come-cei a Residência em Dor Orofacial na UCLA.

No início estranhei, pois não era só um curso de DTM, tínhamos que aprender sobre Cefaleias, Dores Neuropáticas, Odontologia do Sono e Biologia Oral. Era algo novo para mim e eu gostava muito, mas ao mesmo tempo sentia falta da parte manual e artística da Odon-tologia.

Comecei então a fazer pe-quenos trabalhos manuais em casa quando tinha tempo, eu desenha-va, pintava e até bordava. Mas, sem conseguir colocar essas ati-vidades dentro de minha rotina acadêmica, eu acabei parando e me esquecendo completamente do quanto eu gostava e de como aquilo me fazia bem.

Então, em 2015 durante uma viagem de navio, eu fiz algumas au-las de artesanato e isto foi uma ex-periência maravilhosa. De repente voltou a minha vontade de me ex-pressar através da arte. Lembrei e senti como qualquer tipo de ativi-

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dade manual era prazerosa para mim!Faz um ano e meio que frequento aulas de artes

plásticas uma ou duas vezes por semana. Aprendo di-versas técnicas e uso diferentes materiais. É um curso livre, onde cada aluno escolhe o que quer fazer, por exemplo, pintura a óleo, aquarela, artesanato com ca-baças, mosaico, argila, “quilling”, entre várias outras mo-dalidades. O fato de sempre aprender algo novo e de sempre poder escolher, desde formas, cores, ou mate-riais não deixa de ser uma modalidade de terapia que nos auxilia a incorporar e lidar com os nossos sentimen-tos, estresse e rotina diária. Todo esse processo faz parte de um autoconhecimento e desenvolvimento de capacidades pessoais, proporcionando autonomia, organização de ideias e socialização. Além disto, criar algo com as próprias mãos e depois admirá-lo e até receber elogios por isso, para mim, gera uma satisfação e bem-estar que nem consigo descrever.

“A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, tra-duz o intraduzível.” Leonardo da Vinci.

Recomendo ARTES para todos! Até quem acha que não tem talento, irá se surpreender e se sentir gratifi-cado, tenho certeza.

Então, mãos à obra (ou às artes!).

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