cirurgia da articulação temporomandibular e sua associação com ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE ODONTOLOGIA CIRURGIA DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E SUA ASSOCIAÇÃO COM CIRURGIA ORTOGNÁTICA DOS MAXILARES EM UM MESMO TEMPO CIRÚRGICO : UMA REVISÃO DE LITERATURA. Carla Souza Lage Belo Horizonte 2010

Transcript of cirurgia da articulação temporomandibular e sua associação com ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA

CIRURGIA DA ARTICULAO TEMPOROMANDIBULAR E SUA

ASSOCIAO COM CIRURGIA ORTOGNTICA DOS MAXILARES

EM UM MESMO TEMPO CIRRGICO : UMA REVISO DE

LITERATURA.

Carla Souza Lage

Belo Horizonte

2010

Carla Souza Lage

CIRURGIA DA ARTICULAO TEMPOROMANDIBULAR E SUA

ASSOCIAO COM CIRURGIA ORTOGNTICA DOS MAXILARES

EM UM MESMO TEMPO CIRRGICO : UMA REVISO DA

LITERATURA.

Monografia apresentada ao Curso de

Especializao em Cirurgia e Traumatologia

Buco-Maxilo-Facial como requisito parcial

obteno do ttulo de Especialista.

Orientador: Prof. Dr. Evandro Guimares de

Aguiar

Belo Horizonte

2010

AGRADECIMENTOS

Agradeo acima de tudo ao Meu Deus porque Ele tornou possvel a realizao desse sonho

e me capacitou para que eu pudesse conclu-lo com xito.

Aos meus pais, pelo seu amor incondicional e por acreditarem em mim e me fortalecerem

todas as vezes em que precisei.

Aos meus irmos e familiares que se preocuparam comigo e oraram a Deus para que me

abenoasse em todos os meus caminhos.

Aos meus amigos que souberam entender as dificuldades encontradas nessa caminhada e

partilharam comigo as tristezas e alegrias.

Aos colegas de curso, especialmente minha dupla, Jos Augusto. S ns sabemos o quanto

foi difcil e ao mesmo tempo gostoso todos os momentos que passamos juntos. Os apertos

nos plantes , as vitrias frente a cada cirurgia e at mesmo os nossos encontros aps uma

aula cansativa para desabafarmos as dificuldades e compartilharmos as felicidades. Vocs

vo deixar muita saudade!

Aos nossos mestres, pelos ensinamentos e pacincia. Obrigado por compartilharem conosco

todos os conhecimentos e experincias, vocs tm participao ativa no nosso sucesso

profissional. Agradeo em especial ao professor Evandro Aguiar, por toda sua dedicao,

sabedoria e disciplina e por confiar em mim e almejar meu crescimento.

Aos amigos e funcionrios da UFMG e do Hospital Municipal Odilon Behrens pelo

companherismo, acolhimento e carinho.

RESUMO

As desordens temporomandibulares (DTM) constituem patogenias relativamente comuns na

populao em geral e, especialmente, nos pacientes portadores de deformidades faciais

candidatos a cirurgia ortogntica. Diversas so as modalidades cirrgicas para correo das

DTMs, cada uma com suas indicaes, vantagens e desvantagens especficas. No existe

um consenso quanto ao melhor tratamento para a regio da articulao temporomandibular.

Vrios estudos tm sido desenvolvidos com a inteno de se alcanar resultados cada vez

mais precisos. A nova conduta proposta - cirurgia ortogntica e cirurgia de ATM com

ancoragem simultaneamente - tem-se mostrado como uma alternativa confivel e de sucesso

para o tratamento de tais patogenias. O presente estudo tem como objetivo explicitar as

diferentes modalidades cirrgicas da ATM, especialmente a cirurgia ortogntica e cirurgia

de ATM em um mesmo tempo cirrgico, enfatizando a utilizao de mini-ncoras para

estabilizao do disco articular e/ou cndilo mandibular.

Palavras-chaves: Cirurgia ortogntica; Cirurgia de ATM; Desordens temporomandibulares.

ABSTRACT

Temporomandibular joint (TMJ) disorders are relatively common conditions in the general

population, especially, between the patients with dentofacial deformities that are benefit

from corrective surgical intervention by orthognatic surgery. There are so many surgical

options for the correction of TMJ pathologies, each one with its specific indication,

advantages and disadvantages. There is no agreement in concern to the best treatment to be

offer to these patients. So many studies have been developed intending to achieve better

results. The new conduct proposed orthognatic surgery and TMJ surgery at the same

surgical time seems to be a reliable and successful alternative for the treatment of these

pathologies. The present study aims to clarify different surgical options to the TMJ region,

especially, orthognatic surgery and TMJ surgery simultaneously. Emphasizing the use of

mini-anchors to stabilization of the articular disc and/or mandibular condyle.

Key words: orthognatic surgery; temporomandibular joint surgery; temporomandibular joint

dysfunction and disorders

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 01 - Componentes da ATM......................................................................

18

Figura 02 - Dimenses do cndilo mandibular....................................................

19

Figura 03 - Aspecto triangular da fossa articular.................................................

20

Figura 04 - Eminncia articular............................................................................

20

Figura 05 - Disco articular...................................................................................

21

Figura 06 - Componentes articulares. Disco articular (n.3)................................

22

Figura 07 - Tecido retrodiscal (vermelho), disco e ligamento posterior (amarelo)

e msculo pterigideo lateral superior (azul) e inferior

(rosa).................................................................................................

23

Figura 08 - Shunt arteriovenoso..........................................................................

24

Figura 09 - Disco articular...................................................................................

25

Figura 10 - Cpsula articular...............................................................................

26

Figura 11 - Ligamento temporomandibular (2), cpsula articular (1) e ligamento

estilomandibular..............................................................

27

Figura 12 - Ligamentos esfeno e estilomandibular.............................................

29

Figura 13 - Disco maleolar..................................................................................

29

Figura 14 - Msculo masseter e msculo temporal............................................

31

Figura 15 - Msculos pterigideo medial e lateral superior e inferior...............

33

Figura 16 - Msculo digstrico e infra-hiideos ...............................................

35

Figura 17 - Nervo facial e meato acstico externo.............................................

36

Figura 18 - Esquema artria maxilar...................................................................

37

Figura 19 - Artria maxilar e suas origens e terminaes...................................

38

Figura 20 - Aspecto clnico e radiogrfico de hiperplasia condilar....................

63

Figura 21 - Paciente com quadro de osteocondroma unilateral.......................... 64

Figura 22 - Esquema cirrgico e pea anatmica do caso de

osteocondroma.......................................................................................

65

Figura 23 - Radiografia transcraniana ATM normal................................................

67

Figura 24 - Artroscopia............................................................................................

70

Figura 25 - Imagem por ressonncia magntica de hiperplasia condilar.................

74

Figura 26 - IRM....................................................................................................... 75

Figura 27 - Deslocamento anterior de disco sem reduo.......................................

76

Figura 28 - Posio normal do complexo cndilo-disco no ps-operatrio............

76

Figura 29 - Cortes de TC de ATM..........................................................................

77

Figura 30 - Cintilografia ssea demonstrando alterao no metabolismo sseo na

ATM ....................................................................................................

77

Figura 31 - Acesso pr-auricular.............................................................................

81

Figura 32 - Acesso endaural...................................................................................

82

Figura 33 - Acesso Al Kayat..................................................................................

83

Figura 34 - Acesso retromandibular.......................................................................

84

Figs.35,36 - Acesso intrabucal.................................................................................

85

Figura 37 -

Figura 38 -

Pararitdectomia....................................................................................

Artroplastia..........................................................................................

86

92

Figura 39 - Eminectomia........................................................................................ 94

Figura 40 - Radiografia panormica demonstrando a prtese Vitek-Kent............ 95

Figura 41 - Prtese confeccionada a partir de prottipo.......................................

96

Figura 42 -

Figs.43,44 -

Osteotomia vertical dos ramos mandibulares......................................

Mini-ncoras Mitek.............................................................................

98

107

Figura 45 - Tcnica cirrgica de instalao das mini-ncoras...............................

110

Figura 46 - Osseointegrao das mini-ncoras microscopia eletrnica.............. 113

Figura 47 - Aspecto radiogrfico das mini-ncoras................................................ 113

LISTA DE ABREVIATURAS E MEDIDAS

ATM - Articulao temporomandibular

cm -

C Trachomatis -

DTM -

Centmetros

Chlamydia trachomatis

Desordens temporomandibulares

G1, G2, G3 -

IRM -

mm -

OVRM -

PCR -

Grupo 1, Grupo 2, Grupo 3

Imagem por Ressonncia Magntica

Milmetros

Osteotomia Vertical dos Ramos Mandibulares

Protena C Reativa

TC -

% -

Tomografia Computadorizada

Por Cento

SUMRIO

1 INTRODUO.................................................................................................

14

2 OBJETIVO........................................................................................................

15

3 METODOLOGIA.............................................................................................

16

4 REVISO DE LITERATURA......................................................................... 17

4.1 Anatomia da articulao temporomandibular..................................................... 17

4.1.1 Conceito e classificao...................................................................................... 17

4.1.2 Componentes da articulao temporomandibular............................................... 18

4.1.2.1 Partes duras: cndilo mandibular, fossa articular ou glenide e eminncia

articular...............................................................................................................

18

4.1.2.2 Partes moles: cartilagem articular, disco articular, membrana e lquido

sinovial, cpsula articular e ligamentos.............................................................

21

4.1.3 Msculos envolvidos na mecnica da ATM...................................................... 30

4.1.3.1 Msculo masseter............................................................................................... 30

4.1.3.2 Msculo temporal................................................................................................ 32

4.1.3.3 Msculo pterigideo lateral................................................................................. 32

4.1.3.4 Msculo pterigideo medial................................................................................ 34

4.1.3.5 Msculo digstrico.............................................................................................. 35

4.1.4 Inervao da ATM.............................................................................................. 36

4.1.5 Angiologia ou vascularizao da ATM ............................................................. 37

4.1.3.3 Msculos da mastigao.....................................................................................

37

5 DESORDENS E DISFUNES DA ARTICULAO

TEMPOROMANDIBULAR (DTMS)............................................................

39

5.1 Conceito, histrico e epidemiologia das DTMs................................................. 39

5.2 Desenvolvimento das desordens temporomandibulares...................................... 41

5.3 Classificao das desordens temporomandibulares............................................ 42

5.3.1 Desordens intracapsulares................................................................................... 44

5.3.1.1 Desarranjo do complexo cndilo-disco: desarranjo interno da

ATM....................................................................................................................

45

5.3.2 Incompatibilidade estrutural das superfcies articulares..................................... 48

5.3.3 Desordens articulares inflamatrias.................................................................... 50

5.3.3.1

5.3.3.2

5.3.4

5.3.4.1

5.3.4.2

5.3.5

5.3.5.1

5.3.5.2

5.3.5.3

5.3.6

Sinvoites e capsulites..........................................................................................

Retrodiscites.......................................................................................................

Artrites...............................................................................................................

Osteoartrite e osteoartrose.................................................................................

Reabsoro condilar interna...............................................................................

Poliartrites...........................................................................................................

Artrite traumtica................................................................................................

Artrite infecciosa ou reativa................................................................................

Artrite reumatide...............................................................................................

Hipomobilidade mandibular crnica...................................................................

50

51

52

52

54

55

55

55

58

59

5.3.6.1

5.3.6.2

5.3.6.3

5.3.7

5.3.7.1

5.3.7.2

Anquilose.............................................................................................................

Contratura muscular............................................................................................

Impedimento do processo coronide .................................................................

Desordens do crescimento...................................................................................

Hiperplasia condilar............................................................................................

Neoplasias : Osteomas e Osteocondromas..........................................................

59

59

61

62

62

64

6

6.1

6.2

6.3

6.4

MTODOS DE DIAGNSTICO DA ATM: EXAME CLNICO E

IMAGINOLOGIA.............................................................................................

Artrografia ou artroscopia...................................................................................

Imagem por Ressonncia Magntica (IRM).......................................................

Tomografia Computadorizada............................................................................

Cintilografia ssea...............................................................................................

66

70

74

77

78

7

7.1

7.1.1

7.1.2

7.1.3

7.1.4

7.1.5

7.1.6

7.1.7

TRATAMENTO CIRRGICO DAS ATMS...............................................

Acessos cirrgicos mais usados para cirurgia aberta da ATM............................

Acesso pr-auricular............................................................................................

Acesso endaural..................................................................................................

Acesso Al Kayat..............................................................................................

Acesso retromandibular.......................................................................................

Acesso submandibular ou Risdon.......................................................................

Acesso intrabucal................................................................................................

Ritidectomia.......................................................................................................

79

79

81

81

82

83

84

85

86

8 MODALIDADES CIRRGICAS PARA CORREO DE

DESORDENS INTRACAPSULARES NA ATM.........................................

87

8.1 Discoplastia, discectomia, plicatura de disco,

discopexia............................................................................................................

87

8.2

8.3

8.4

Artroplastia: condilectomia, condiloplastia e

eminectomia........................................................................................................

Reconstruo articular.........................................................................................

Osteotomia vertical dos ramos mandibulares (OVRM)......................................

92

95

98

9 CIRURGIA ORTOGNTICA E ATM.........................................................

100

10 O USO DE MINI-NCORAS PARA CIRURGIA DE

REPOSICIONAMENTO DE DISCO ARTICULAR EM CIRURGIA

ORTOGNTICA..............................................................................................

106

10.1 Tcnica cirrgica................................................................................................. 108

10.2 Osseointegrao das mini-ncoras......................................................................

112

11 DISCUSSO..................................................................................................... 115

12

CONCLUSO...................................................................................................

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...........................................................

123

124

14

1 INTRODUO

A Cirurgia Buco-maxilo-facial, desde h alguns anos, tem se defrontado com srios desafios no

tratamento cirrgico das deformidades faciais e das disfunes da articulao temporomandibular

(ATM), estejam essas associadas ou no.

Para que se possa oferecer o melhor tratamento ao paciente necessrio um conhecimento amplo

e acurado sobre anatomia da ATM, os diversos tipos de disfunes e as diferentes modalidades

cirrgicas existentes, bem como solues diversas para pequenas e grandes deformidades faciais.

Tem sido levantada, neste mbito, uma nova conduta para pacientes portadores de deformidades

faciais com disfunes da ATM: a cirurgia ortogntica em associao com cirurgia de ATM.

Tal modalidade foi proposta primariamente por Larry M. Wolford e Cottrell em 1993. (MEHRA

e WOLFORD, 2001b). E a partir de ento, diversos estudos de cunho cientfico tm sido

realizados e tm comprovado e validado a eficcia do procedimento.

15

2 OBJETIVO

O presente estudo tem como objetivo apresentar uma reviso de literatura sobre a anatomia,

disfunes e modalidades cirrgicas de tratamento da ATM procurando ressaltar atravs do relato

de estudos de autores renomados, a nova conduta proposta para pacientes com deformidades

faciais e desordens temporomandibulares: a cirurgia ortogntica e cirurgia de ATM

simultaneamente.

16

3 METODOLOGIA

Reviso de artigos e trabalhos presentes na literatura cientfica no que se refere ao tema: cirurgia

ortogntica e cirurgia de ATM.

Fontes: BIREME, PUBMED, SCIELO: Biblioteca da Faculdade de Odontologia da Universidade

Federal de Minas Gerais.

Palavras-chaves: cirurgia ortogntica; cirurgia de ATM; desordens temporomandibulares (DTM).

Perodo de levantamento cientfico encontrado: 1934 a 2010

Perodo de levantamento do presente estudo: Maio a Novembro de 2010.

17

4 REVISO DE LITERATURA

4.1 Anatomia da articulao temporomandibular (ATM)

4.1.1 Conceito e classificao

Segundo Peter Reher et al. (2001), no se pode estudar a articulao temporomandibular (ATM)

sem lembrar-se de que ela faz parte de um sistema bem mais amplo, o sistema estomatogntico.

Este sistema composto pela ATM, dentes e estruturas anexas, ossos (maxila, mandbula, calota

craniana, hiideo), lbios, bochecha, lngua, saliva, msculos (da mastigao, da deglutio da

lngua, da expresso facial), sistema nervoso (proprioceptivo e exterioceptivo), sistema vascular e

linftico. O sistema estomatogntico executa e auxilia importantes funes no organismo, como a

mastigao, a fonao, a deglutio e a respirao.

Este mesmo autor afirma que a ATM classificada como uma articulao sinovial biaxial

complexa. sinovial por possuir uma membrana sinovial que produz o lquido sinovial. biaxial

por se movimentar em dois planos, embora alguns autores afirmem que em seu conjunto, ATM

direita e esquerda e mandbula, seja triaxial.

Finalmente, ela complexa, denominao dada s articulaes que apresentam um terceiro osso,

dividindo a articulao funcionalmente em duas. (REHER et al., 2001; OKESON, 2008;

DAWSON, 2008). Sendo que o disco funciona como o terceiro osso.

A ATM certamente uma das mais complexas articulaes do corpo. Ela proporciona um

movimento de dobradia em um plano e dessa forma pode ser considerada uma articulao

ginglemoidal. No entanto, ao mesmo tempo proporciona movimentos de deslize, o que a

classifica como uma articulao artroidal. Assim ela pode ser tecnicamente considerada uma

articulao gnglimo artroidal. (OKESON, 2008).

18

4.1.2 Componentes da articulao temporomandibular (ATM)

A ATM composta basicamente por partes duras e partes moles. Considerando-se como partes

duras as superfcies articulares sseas e como partes moles a cartilagem articular, o disco

articular, a membrana sinovial, a cpsula articular e os ligamentos da ATM. (REHER et al.,

2001;OKESON, 2008).

Fig.1. Componentes da ATM.

Fonte: DAWSON, 2008.

4.1.2.1 Partes duras: cndilo mandibular, fossa articular ou glenide e eminncia articular

O cndilo mandibular se articula na base do crnio com a poro escamosa do osso temporal.

Esta poro composta pela fossa mandibular cncava, na qual o cndilo se situa e chamada de

fossa articular ou glenide. (OKESON, 2008).

19

O cndilo mandibular tem um formato elptico e convexo com dimenses de 15 a 20 mm ltero-

medialmente, de 8 a 10 mm ntero-posteriormente (Fig. 2) e recoberto por cartilagem hialina.

Ele se estreita em direo ao ramo numa regio chamada colo condlico, que por ser mais estreita

susceptvel a fraturas. (GABRIELLI, ARAJO e MEDEIROS, 2007).

Fig.2. Dimenses do cndilo mandibular.

Fonte: GABRIELLI, ARAJO e MEDEIROS, 2007.

A fossa mandibular tem como limite anterior o tubrculo articular, como limite posterior a parte

timpnica do temporal (tubrculo ps-glenide, bainha do processo estilide e parede anterior do

meato acstico externo placa timpnica). Tem como limite medial a espinha do esfenide e

limite lateral a crista que une o tubrculo da raiz do zigoma ao tubrculo ps-glenide. Em seu

limite posterior o osso delgado e separa a fossa mandibular da fossa mdia do crnio. A fossa

mandibular tem funo passiva como receptculo do cndilo da mandbula, sendo o tubrculo

articular e o prprio cndilo mandibular os elementos ativos na dinmica articular. (REHER et

al., 200).

Segundo Dawson (2008), para o plo medial da fossa articular servir como ponto de rotao, esta

deve ser compatvel para receb-lo. Seu formato triangular cumpre esta funo mecnica muito

bem (Fig. 3) e, alm disso, a poro medial da fossa reforada com um osso espesso, de tal

forma que tambm pode servir como um ponto de parada para a fora superior dos msculos

elevadores e para a fora interna dos msculos pterigideos mediais. A posio mais superior

tambm a posio onde o plo medial puxado contra o tubrculo articular medial (com o disco

interposto). Esta relao estabiliza a posio mais medial da mandbula em relao cntrica e

impede qualquer translao lateral enquanto o conjunto cndilo-disco estiver na posio mais

superior.

20

Fig.3. Aspecto triangular da fossa articular. Fig. 4. Eminncia articular, n(1).

Fonte: DAWSON, 2008. Fonte: www.fosjc.unesp.br/anatomia/atm/ATM3.htm

O teto posterior da fossa mandibular bem fino, indicando que esta rea do osso temporal no

designada para suportar foras pesadas. Na parte imediatamente anterior fossa mandibular h

uma proeminncia ssea chamada eminncia articular. A eminncia articular, entretanto, consiste

de um osso espesso e denso, por isso mais susceptvel de tolerar tais foras. (OKESON, 2008).

O contorno fortemente convexo da eminncia de suma importncia. J que o aspecto anterior

do cndilo altamente convexo, pode-se ver o propsito e a importncia do disco articular

bicncavo que se adapta entre duas superfcies convexas (DAWSON, 2008, traduo do autor),

auxiliando a cinemtica do movimento. (GABRIELLI, ARAJO e MEDEIROS, 2007).

O grau de convexidade da eminncia articular altamente varivel, mas importante, porque a

inclinao dessa superfcie determina a trajetria do cndilo quando a mandbula est

posicionada anteriormente. (OKESON, 2008).

http://www.fosjc.unesp.br/anatomia/atm/ATM3.htm

21

4.1.2.2 Partes moles : cartilagem articular, disco articular, membrana e lquido sinovial,

cpsula articular e ligamentos

Gabrielli, Arajo e Medeiros (2007) definem a ATM como uma articulao sinovial que promove

movimentos livres e complexos sobre as superfcies articulares, sendo estas estruturas submetidas

a carga e esforo repetitivo. Assim sendo, o lquido sinovial, a cartilagem hialina e o disco

articular tm um papel fundamental no sentido de evitar o desgaste prematuro daquelas

estruturas. A cpsula articular e os ligamentos a ela associados tm como funo preservar a

integridade articular e limitar seus movimentos.

Estes mesmos autores conceituam o disco articular como sendo uma placa cartilaginosa que

relaciona o cndilo e a eminncia articular, duas estruturas convexas, que sem ele no

conseguiriam interagir durante o movimento. O disco divide a articulao em dois

compartimentos, sendo um superior e outro inferior, e se insere ao redor da cpsula articular.

Num corte sagital, o disco tem formato em S, com cerca de 3 mm de espessura na regio

posterior, 1 mm no segmento central e 2 mm na poro anterior.

Fig. 5. Disco articular (n.1)

Fonte: www.fosjc.unesp.br/anatomia/atm/ATM2.htm

http://www.fosjc.unesp.br/anatomia/atm/ATM2.htm

22

O disco articular composto de tecido conjuntivo denso fibroso, na maior parte destitudo de

vasos sanguneos e fibras nervosas. A periferia extrema do disco, entretanto, ligeiramente

inervada. No plano sagital o disco pode ser dividido em trs regies de acordo com sua espessura.

A rea central a mais fina e chamada zona intermediria. O disco se torna consideravelmente

mais espesso anterior e posteriormente a ela. A borda posterior geralmente mais espessa do que

a anterior. Numa articulao normal a superfcie articular do cndilo est localizada na zona

intermediria do disco, circundado pelas bordas anterior e posterior, que so mais espessas.

(OKESON, 2008).

Fig.6. Componentes articulares. Disco articular (n.3).

Fonte: DAWSON, 2008.

Okeson (2008) defende que numa vista anterior o disco geralmente mais espesso medialmente

do que lateralmente, o que corresponde a um espao maior entre o cndilo e a fossa articular em

direo parte medial da articulao. A forma mais precisa do disco determinada pela

morfologia do cndilo e da fossa mandibular. Durante o movimento, o disco de certa forma

flexvel e pode se adaptar s demandas funcionais das superfcies articulares. Entretanto,

flexibilidade e adaptabilidade no significam que a morfologia do disco sempre ser alterada

reversivelmente durante a funo. O disco mantm sua morfologia a menos que foras destrutivas

ou mudanas estruturais ocorram na articulao. Se estas mudanas ocorrerem, a morfologia do

disco pode ser irreversivelmente alterada, produzindo mudanas mecnicas durante a funo.

23

O disco articular inserido posteriormente a uma regio de tecido conjuntivo frouxo que

altamente vascularizada e inervada. Essa rea conhecida como tecido retrodiscal ou insero

posterior, ou ainda zona bilaminar (Fig.7) . Superiormente, delimitada por uma lmina de tecido

conjuntivo que contm muitas fibras elsticas lmina retrodiscal superior. Esta prende o disco

articular posteriormente placa timpnica. Na borda inferior do tecido retrodiscal est a lmina

retrodiscal inferior, que prende a borda inferior do limite posterior do disco margem posterior

da superfcie articular do cndilo. A lmina retrodiscal inferior composta principalmente de

fibras colgenas, e no de fibras elsticas, como na lmina retrodiscal superior. Anteriormente,

entre as inseres do ligamento capsular, o disco tambm preso por fibras tendinosas ao

msculo pterigideo lateral superior. (OKESON, 2008).

Fig.7. Tecido retrodiscal (vermelho), disco e ligamento posterior (amarelo)

e msculo pterigideo lateral superior (azul) e inferior (rosa).

Fonte: DAWSON, 2008.

Da mesma forma, Gomes (2000) ressalta que a zona bilaminar formada por tecido conjuntivo

especializado e situa-se entre a extremidade posterior do disco e a cpsula. constituda por dois

feixes, um mais superior e um mais inferior. O superior liga a extremidade posterior do disco

cpsula e parede timpnica, composta essencialmente por fibras elsticas e d ao disco uma

capacidade de se mover funcionalmente para anterior com considervel liberdade. E o feixe mais

inferior composto essencialmente por fibras de colgeno que liga o conjunto cndilo-disco

cpsula e parede timpnica.

24

Segundo Reher et al. (2001) esta rea corresponde ao tecido retrodiscal e recebe este nome,

porque neste consegue-se distinguir duas lminas teciduais, portanto, zona bilaminar.

A parte remanescente do tecido retrodiscal est inserida posteriormente a um grande complexo

venoso, o qual se enche de sangue quando o cndilo se move para frente. medida que cada

conjunto cndilo-disco percorre a eminncia, ele evacua o espao acima da fossa. A natureza no

pode ter um vcuo, ento o tecido retrodiscal deve expandir-se para preencher o espao deixado

pelo conjunto cndilo-disco. Ela o faz pela perfuso de sangue numa rede vascular espalhada

pelos tecidos retrodiscais esponjosos. As paredes dos vasos sanguneos so elsticas e a expanso

dos vasos preenche o espao. Quando o cndilo e o disco retornam relao cntrica, o sangue se

esvai e os vasos diminuem de tamanho. Esse shunt arteriovenoso (Fig.8), tambm conhecido

como joelho vascular, torna o tecido retrodiscal altamente vascular e ricamente inervado. Se o

disco deslocado anteriormente, o cndilo faz presso neste tecido, causando dor. (OKESON,

2008; DAWSON, 2008).

Fig.8. Shunt arteriovenoso.

Fonte: DAWSON,2008.

25

Muitas das confuses sobre o disco resultam de seu diagrama, em ilustraes, como um pequeno

capuz redondo assentado no topo do cndilo. Ele, na verdade, envolve o cndilo medial e

lateralmente (Fig.9) e sua borda posterior muito espessa. Quanto mais ngreme a inclinao da

eminncia, mais espesso o tubrculo distal do disco, esta uma caracterstica que parece indicar a

importncia do disco como uma das estruturas que determinam a posio mais superior do

cndilo. O posicionamento funcional do disco um fator crtico nos movimentos mandibulares e

diversas desordens resultam de sua incoordenao. (DAWSON, 2008).

Fig. 9. Disco articular.

Fonte: DAWSON, 2008.

Reher et al. (2001) afirma que a cpsula formada por feixes fibrosos verticais, sendo bastante

delgada e frouxa, de modo a permitir uma amplitude considervel dos movimentos mandibulares.

Ela muito delgada na regio medial e na regio anterior onde o msculo pterigideo lateral se

insere, sendo mais reforada lateralmente pelo ligamento lateral. A cpsula bem inervada e

proporciona estmulo proprioceptivo sobre a posio e movimento da articulao. Ela possui um

feixe de fibras profundo e outro superficial. O feixe profundo constitudo por fibras curtas que

vo do cndilo s bordas do disco. Este feixe constitui os chamados ligamentos discais medial e

lateral que se fixam aos respectivos plos do cndilo. O feixe superficial constitudo por fibras

longas verticais que vo do temporal mandbula. As inseres do feixe superficial da cpsula

so: no temporal, anteriormente na vertente anterior do tubrculo articular, posteriormente na

fissura tmpano-escamosa, lateralmente no arco zigomtico e tubrculo da raiz do zigoma e

medialmente na base da espinha do esfenide.

26

Reher et al.(2001) define a cpsula articular como um tecido fibroso que envolve toda a

articulao, retendo o lquido sinovial. Do ponto de vista histopatolgico, deve-se ressaltar a

importncia do lquido sinovial e saber que alteraes no seu fluxo e comprometimento do seu

metabolismo bioqumico podem predispor os tecidos articulares a malformaes adaptativas e

degenerativas.

Fig.10. Cpsula articular. Fonte: GABRIELLI, ARAJO e MEDEIROS, 2007.

A cpsula tambm definida por Gabrielli, Arajo e Medeiros (2007) como um cone fibroso

frouxo que contorna a articulao. Os ligamentos que compem a regio so: o lateral, o medial,

o posterior, o esfenomandibular, o estilomandibular e o pterigomandibular. Estes ligamentos tm

a funo primordial de limitar o movimento mandibular.

Como em qualquer sistema articular, os ligamentos tm um papel importante na proteo das

estruturas. Eles no atuam ativamente na funo da articulao, mas agem passivamente como

agentes limitadores ou de restrio de movimentos.

Segundo Okeson (2008), trs ligamentos funcionais principais suportam a ATM : o ligamento

colateral, o ligamento capsular e o ligamento temporomandibular. Existindo tambm dois

ligamentos acessrios : o esfenomandibular e o estilomandibular.

27

Fig. 11. Ligamento temporomandibular (2), cpsula articular (1) e ligamento estilomandibular.

Fonte: www.fosjc.unesp.br/anatomia/atm/ATM6.htm

Os ligamentos discais so verdadeiros ligamentos compostos de tecido conjuntivo fibroso

colagenoso, o que no permite o estiramento. Eles atuam para restringir o movimento do disco

fora do cndilo. Em outras palavras, eles fazem o disco mover passivamente com o cndilo

quando este desliza anterior e posteriormente. Sendo assim, so responsveis pelos movimentos

de abertura da ATM, a qual ocorre entre o cndilo e o disco articular. (OKESON, 2008).

Enquanto os ligamentos discais tracionam o disco medida que o cndilo se move, sua rotao

no cndilo determinada pelo grau de contrao ou liberao do ventre superior do msculo

pterigideo lateral. (DAWSON, 2008).

Os ligamentos discais tm suprimento vascular e so inervados. Sua inervao proporciona

informao sobre a posio da articulao e movimento. Esforo nesses ligamentos produz dor.

(OKESON, 2008).

28

Toda a ATM circundada e envolvida pelo ligamento capsular. As fibras do ligamento capsular

so inseridas superiormente no osso temporal ao longo das bordas das superfcies articulares da

fossa mandibular e eminncia articular. Inferiormente, as fibras do ligamento capsular se inserem

no pescoo do cndilo. O ligamento capsular age para resistir a qualquer fora medial, lateral, ou

inferior, que tende a separar ou deslocar as superfcies articulares, retendo o lquido sinovial. O

ligamento capsular bem inervado e proporciona estmulo proprioceptivo sobre a posio e o

movimento da articulao. (OKESON, 2008).

Para este autor, o ligamento lateral ou temporomandibular composto de duas partes, uma

poro externa e oblqua, e uma poro horizontal e interna. A poro oblqua do ligamento

impede a queda excessiva do cndilo, e desse modo, atua para limitar a extenso da abertura

bucal. Esta poro tambm influencia a abertura normal da mandbula. A poro horizontal

interna limita o movimento posterior do cndilo e disco e protege os tecidos retrodiscais de

trauma criado pelo deslocamento posterior do cndilo. A poro horizontal tambm protege o

msculo pterigideo lateral de estiramento ou sobrextenso. A efetividade do ligamento

temporomandibular demonstrada durante casos de trauma extenso na mandbula. Em tais casos,

o pescoo do cndilo pode fraturar antes mesmo que os tecidos retrodiscais sejam lesados ou o

cndilo penetre na fossa craniana mdia.

O ligamento esfenomandibular (Fig.12) um dos dois ligamentos acessrios da ATM. Ele

emerge da espinha do osso esfenide e se estende para baixo, para uma pequena proeminncia

ssea na superfcie medial do ramo da mandbula chamada lngula. Ele no tem nenhum

significado como limitante de movimento. (OKESON, 2008).

29

Fig.12. Ligamentos esfeno e estilomandibular.

Fonte: www.acbo.org.br/revista/biblioteca/atm/.

Ainda segundo Okeson (2008), o outro ligamento acessrio o estilomandibular. Ele emerge do

processo estilide e se estende para baixo e para frente at o ngulo e bordo posterior do ramo da

mandbula. Ele se torna rgido quando a mandbula protruda, mas se torna mais relaxado na

abertura mandibular. O ligamento estilomandibular desta forma limita movimentos protrusivos

excessivos da mandbula.

Um novo componente tem sido descrito na literatura, o ligamento discomaleolar (Fig.13). Ele

uma estrutura fibrosa que se estende desde a regio pstero-superior do disco, passa atravs da

fissura petrotimpnica para o ouvido mdio at se unir ao martelo. Por esta fissura passa outra

estrutura fibrosa bem definida que uma extenso do ligamento esfenomandibular, o que pode

justificar a sintomatologia otolgica associada s patologias da ATM (zumbidos, autofonia,

hipoacusia, vertigens e dores). (GOMES, 2000).

Fig.13. Disco maleolar.

Fonte: www.scielo.com..br/

http://www.acbo.org.br/revista/biblioteca/atm/http://www.scielo.com..br/

30

A membrana sinovial um tecido conjuntivo ricamente vascularizado, constitudo por numerosos

capilares sinoviais, responsveis pela produo do lquido sinovial. A membrana sinovial

localiza-se no interior da ATM, em reas perifricas, livres de atrito. Existem duas membranas,

uma para cada compartimento da ATM. So comuns pregas, vilosidades e coxins adiposos em

nmero varivel que se projetam da membrana sinovial para dentro da cavidade articular. A

membrana sinovial tambm contm vasos linfticos e poucas fibras nervosas. Ela forma e secreta

por dilise do plasma sanguneo, o lquido sinovial, que lubrifica , d proteo biolgica e

nutrio ATM, principalmente para o disco. (REHER et al., 2001).

4.1.3 Msculos envolvidos na mecnica da ATM

Quatro so os pares de msculos que formam um grupo chamado de msculos da mastigao:

masster, temporal, pterigideo medial e pterigideo lateral. Embora no seja considerado

msculo da mastigao, o msculo digstrico tambm desempenha um papel importante na

funo mandibular. (OKESON, 2008).

4.1.3.1 Msculo masster

um msculo retangular que se origina do arco zigomtico e se estende para baixo at o aspecto

lateral da borda inferior do ramo da mandbula. Sua insero na mandbula se estende da regio

do segundo molar na altura do bordo inferior posteriormente at o ngulo da mandbula.

constitudo de duas pores: uma poro superficial que consiste de fibras que correm para baixo

e ligeiramente para trs e uma poro profunda que consiste de fibras que correm numa direo

predominantemente vertical. (DAWSON, 2008).

31

Fig.14. Msculo masster e msculo temporal.

Fonte: NETTER, 2000.

Dawson (2008) acrescenta ainda que as fibras do msculo masster, quando se contraem,

projetam a mandbula para cima e os dentes so trazidos para contato. Quando a mandbula

protruda e uma fora de mordida aplicada, as fibras da poro profunda estabilizam os cndilos

contra a eminncia articular respectiva.

Segundo Reher et al.(2001), ele irrigado pela artria massetrica, ramo da artria maxilar. O

feixe que vem da fossa infratemporal passa atravs da incisura da mandbula. O msculo

drenado por veias massetricas, que seguem o trajeto inverso da artria, drenando posteriormente

para o plexo venoso pterigideo e da para a veia maxilar. inervado pelo nervo massetrico, um

ramo do nervo mandibular.

32

4.1.3.2 Msculo temporal

um msculo largo, em forma de leque, que se origina da fossa temporal na superfcie lateral do

crnio. Suas fibras se aproximam na medida em que o msculo corre para baixo entre o arco

zigomtico e a superfcie lateral do crnio para formar um tendo que se insere no processo

coronide e borda anterior do ramo ascendente. (OKESON, 2008).

um msculo elevador da mandbula cujas fibras posteriores colaboram na retruso da

mandbula. Tambm auxilia o msculo pterigideo lateral nos movimentos de lateralidade, por

contrao ipsilateral. o principal msculo posicionador da mandbula. (REHER et al., 2001).

Tal autor afirma que ele irrigado pelas artrias temporais profundas, ramos da artria maxilar.

drenado por veias temporais profundas, que seguem o trajeto inverso das artrias, drenando

posteriormente para o plexo venoso pterigideo e da para a veia maxilar.

A fscia temporal alm de proteger e conter o msculo temporal tem grande importncia na

sustentao do arco zigomtico, para evitar que ele se frature devido fora excessiva produzida

pela musculatura na regio. (REHER et al., 2001).

4.1.3.3 Msculo pterigideo lateral

Okeson (2008) afirma que por muitos anos o msculo pterigideo lateral foi descrito como tendo

duas pores distintas: uma inferior e outra superior (feixes). Como o msculo parecia

anatomicamente como uma nica pea em estrutura e funo, esta descrio foi aceita at que

estudos provaram que estas duas pores funcionam de maneira distinta.

33

Dessa forma, ele passou a ser descrito por diversos autores como dois msculos diferentes:

Msculo pterigideo lateral inferior: Origina-se na superfcie externa da

placa pterigidea lateral do esfenide e se insere na fvea pterigidea no

pescoo ou cabea do cndilo. Sua funo projetar o cndilo para baixo,

percorrendo a eminncia, trazendo tambm o disco articular para frente,

movimento de translao unilateral (lateralidade, juntamente com os

demais msculos da mastigao) e movimento protrusivo quando da

contratura bilateral.

Msculo pterigideo lateral superior: Origina-se na superfcie

infratemporal da asa maior do esfenide, se estendo quase horizontalmente

para trs, inserindo-se na cpsula articular da ATM e, indiretamente, na

borda anterior do disco articular (revelado em inmeros estudos e

abrangendo cerca de 30% a 40% da insero de suas fibras), sendo que

grande parte de suas fibras (60% a 70%) se inserem no colo condlico.

Torna-se ativo somente em conjunto com os msculos elevadores da

mandbula, especialmente durante fortes mordidas. Auxilia tambm na

movimentao ntero-posterior do disco articular, juntamente com os

ligamentos discais. (OKESON, 2008; DAWSON, 2008; REHER et al.,

2001).

34

Fig.15. Msculos pterigideo medial e lateral superior e inferior.

Fonte: NETTER, 2000.

4.1.3.4 Msculo pterigideo medial

Origina-se na face medial da lmina lateral do processo pterigideo (da fossa pterigidea) do

osso esfenide e se insere na superfcie ssea da face medial do ramo da mandbula, que

marcada, pelas rugosidades pterigideas. Alguns autores afirmam que um feixe menor dele

tambm se origina do processo piramidal do osso palatino e da tuberosidade da maxila.

(OKESON, 2008).

O msculo irrigado por artrias pterigideas mediais, ramos da artria maxilar. inervado pelo

ramo pterigideo medial, originado do nervo mandibular. (REHER et al., 2001).

35

4.1.3.5 Msculo digstrico

Embora o msculo digstrico geralmente no seja considerado um msculo da mastigao, ele

tem um papel importante na funo da mandbula. Ele dividido em duas pores. O feixe

posterior se origina na chanfradura do mastide, medial ao processo mastide; as fibras do feixe

posterior correm para frente, para baixo e para dentro at o tendo intermedirio inserido no osso

hiide. O feixe anterior se origina numa fossa na superfcie lingual da mandbula, bem acima da

borda inferior e prximo linha mdia e suas fibras se estendem para baixo e para trs para

inserir no mesmo tendo intermedirio, como o feixe posterior. (OKESON, 2008).

Fig.16. Msculo digstrico e infra-hiideos.

Fonte: Netter, 2000.

Para este mesmo autor, quando o msculo digstrico se contrai e o osso hiide fixo pelos

msculos supra-hiideos e infra-hiideos, a mandbula abaixada e puxada para trs na medida

que os dentes perdem o contato. Quando a mandbula est estabilizada, o msculo digstrico com

os supra-hiideos e infra-hiideos elevam o osso hiideo, o que uma funo necessria para a

deglutio.

36

4.1.4 Inervao da ATM

Como toda articulao, a ATM inervada pelo mesmo nervo que fornece inervao motora e

sensorial aos msculos que controlam o sistema mastigatrio (o nervo trigeminal). Ramos do

nervo mandibular fornecem a inervao aferente. A maioria da inervao fornecida pelo nervo

aurculo-temporal quando ele deixa o nervo mandibular por trs da articulao e sobe

lateralmente e superiormente para envolver a regio posterior da articulao. Inervao adicional

fornecida pelos nervos profundotemporal e massetrico. (OKESON, 2008).

Segundo Gabrielli, Arajo e Medeiros (2007), o tronco principal do nervo facial emerge do

crnio atravs do forame estilomastideo e se relaciona topograficamente com a ATM. Citados

por eles, Al-Kayat e Bramley em 1979, descreveram a relao deste nervo com o meato acstico

externo e concluram que a distncia entre o ponto mais inferior do meato e o nervo varia entre

1,5 e 2,8 cm (mdia 2,3 cm) e a do ponto mais anterior do meato ao nervo facial varia de 0,8 a 3,5

cm (mdia 2,0 cm) (Fig.17).

Fig.17. Nervo facial e meato acstico externo.

Fonte: GABRIELLI, ARAJO e MEDEIROS, 2007.

Gabrielli, Arajo e Medeiros (2007) afirmam que o nervo aurculo-temporal um nervo sensitivo

que inerva parte do pavilho auditivo, meato acstico externo, membrana timpnica e pele da

regio temporal. Ele descreve um trajeto para a regio temporal numa relao anterior ao meato e

posterior aos vasos temporais superficiais. Entretanto, usualmente lesado durante o acesso pr-

auricular, sem qualquer seqela significativa.

37

4.1.5 Angiologia ou vascularizao da ATM

A ATM fartamente irrigada por uma variedade de vasos que a circundam. A maioria dos vasos

proveniente da artria temporal superficial, posteriormente; anteriormente, da artria menngea

mdia; inferiormente, da artria maxilar interna. Outras importantes artrias so a auricular

profunda, anterior timpnica e a artria farngea ascendente. O cndilo recebe a irrigao vascular

atravs de seu estreito espao pela artria alveolar inferior e tambm recebe irrigao de vasos

alimentadores que entram diretamente dentro da cabea condilar atravs de vasos maiores.

(OKESON, 2008).

A artria cartida externa tem dois ramos terminais que se relacionam diretamente com a ATM,

que so o temporal superficial e o maxilar. Os vasos temporais freqentemente so ligados

durante um acesso pr-auricular. A artria maxilar se relaciona diretamente com o cndilo

mandibular pelo lado medial, o que dificulta procedimentos como a condilectomia, por exemplo.

Leso desse vaso provoca hemorragia grave e de difcil controle. A veia retromandibular se

relaciona posteriormente com a borda posterior da mandbula e limita os lobos superficial e

profundo da glndula partida, por onde passa o nervo facial. (GABRIELLI, ARAJO e

MEDEIROS, 2007).

Fig.18. Esquema artria maxilar.

Fonte: ROHEN, YOKOCHI e LUTGEN-DRECOLL, 2006.

38

Fig.19. Artria maxilar e suas origens e terminaes.

Fonte: ROHEN, YOKOCHI e LUTGEN-DRECOLL, 2006.

39

5 Desordens e disfunes da articulao temporomandibular (DTMs)

5.1 Conceito, histrico e epidemiologia das DTMs

Por definio, desordem um distrbio da funo, de uma estrutura ou de ambos. (STEDMAN,

2003).

A desordem temporomandibular (DTM) qualquer desordem que afeta ou afetada pela

deformidade, doena, desalinhamento ou disfuno da articulao temporomandibular. Isto inclui

a deflexo oclusal das articulaes temporomandibulares (ATMs) e as respostas associadas da

musculatura. (DAWSON, 2008).

De acordo com Wyatt citado por Valle-Corotti et al. (2007), o termo desordens

temporomandibulares se refere a alteraes clnicas caracterizadas por sinais e sintomas

envolvendo os msculos mastigatrios ou a articulao temporomandibular, ou ainda ambos.

Quem primeiramente introduziu para a carreira odontolgica a rea das DTMs foi James Costen

em 1934, atravs de um artigo. Costen foi um otorrinolaringologista que baseado em onze casos,

primeiramente, sugeriu para os dentistas que mudanas nas condies dentais eram responsveis

por vrios sintomas nos ouvidos. Logo aps seu artigo, os clnicos comearam a questionar a

preciso das concluses com relao etiologia e tratamento das DTMs. (OKESON, 2008;

VALLE-COROTTI et al. ,2007).

Okeson (2008) afirma que foi no final da dcada de 50 que foram escritos os primeiros livros

descrevendo as disfunes mastigatrias. As condies mais comuns descritas naquela poca

foram as desordens da dor na musculatura mastigatria. Pensava-se geralmente que a causa mais

comum destas desordens era a desarmonia oclusal. Ocluso, e mais tarde o estresse emocional,

foram aceitos como os principais fatores etiolgicos das desordens funcionais do sistema

mastigatrio nos anos 60 e meados dos anos 70.

40

Ento, a partir dos anos 70, houve uma exploso de interesse nas DTMs. Foi tambm nesta

poca que a carreira odontolgica tomou conhecimento de que as dores das desordens eram

provenientes tambm de fontes intracapsulares. Estas informaes redirecionaram os

pensamentos dos profissionais na rea. Foi no final dos anos 70, que os profissionais comearam

a reconhecer totalmente e apreciar a complexidade do tema. (OKESON, 2008).

A causa dos sintomas das DTMs tem sido altamente debatida na Odontologia desde a poca de

Costen. Bell et al. citados por Valle-Corotti et al. (2007), sugeriram que a interferncia oclusal

deve ser considerada como um fator etiolgico das DTMs. Com a inteno de elucidar esta

relao, muitos autores tm estudado Classe I e II dentria, mordida cruzada posterior e anterior,

sobreposio horizontal e vertical, sugerindo que tais alteraes so responsveis pela instalao

dos sintomas de DTM.

De acordo com estudos j realizados, parece que a porcentagem de pessoas na populao em

geral com algum tipo de DTM varia de 40% a 60%. (OKESON, 2008).

Miloro e Henriksen (2010) afirmam que de acordo com vrias anlises demogrficas, a disfuno

temporomandibular deva existir em cerca de 10% a 30% da populao em geral.

Conti et al. citados por Valle-Corotti et al.(2007), em uma amostra de 310 pacientes com idade

mdia de 18.8 anos, observaram uma prevalncia de mdia, moderada e severa DTM

correspondente a 49.35%, 10.32% e 0.97%, respectivamente. Estes autores citados concluram

que, embora a prevalncia de DTM fora relativamente alta, a necessidade de tratamento

(moderada a severa DTM) na populao pesquisada foi 11.29%.

Resultados similares foram encontrados por Valle-Corotti, et al.(2003), em uma populao de

200 pacientes com Classe II e III dentria, com ou sem tratamento ortodntico. Os resultados

desses estudos mostraram ausncia de DTM em 62.5% dos pacientes, mdia DTM em 34% e

moderada DTM em 3.5%, o que indica que uma pequena poro da populao pesquisada requer

tratamento para a disfuno.

41

A disfuno temporomandibular (DTM) uma condio relativamente comum: 12% a 87% da

populao americana estimadamente possui pelo menos um sinal de disfuno. DTM ocorre mais

freqentemente em mulheres do que homens (proporo 8:1). A causa mais comum de disfuno

o deslocamento anterior e/ou medial do disco articular (tambm conhecido como desarranjo

interno da ATM). (MEHRA e WOLFORD, 2001a; MEHRA e WOLFORD, 2001b).

Uma pesquisa recente avaliou os perfis de necessidades mdicas em 1819 pacientes com DTM

indicando que tais pacientes requerem nveis elevados de servios mdicos em comparao com a

idade e gnero envolvidos. Para a grande maioria das categorias diagnosticadas, a proporo do

nmero de admisses entre pacientes portadores e no-portadores de DTM foi de 2:1. (HENRY,

PITTA e WOLFORD, 2001).

5.2 Desenvolvimento das Desordens Temporomandibulares

Embora os sinais e sintomas dos distrbios do sistema mastigatrio sejam comuns, a

compreenso de suas causas pode ser muito complexa. No h uma nica causa que justifique

todos os sinais e sintomas. Durante uma funo normal do sistema mastigatrio podem ocorrer

eventos que influenciam a funo. Estes eventos podem ser de origem local e/ou sistmica.

Muitos eventos so tolerados pelo sistema sem nenhuma conseqncia, portanto nenhum efeito

clnico notado. Entretanto, se algum evento significante, este pode exceder a tolerncia

fisiolgica do indivduo, criando uma resposta do sistema que pode ser vista como uma variedade

de sintomas clnicos associados com DTMs. (OKESON, 2008).

42

Tal autor afirma que a causa das DTMs complexa e multifatorial. Fatores que aumentam o

risco so chamados fatores predisponentes. Fatores que causam o incio das DTMs so

chamados fatores desencadeantes e os fatores que interferem com a cura ou aumento da

progresso das DTMs so chamados de perpetuantes. Em alguns instantes um nico fator pode

desempenhar um ou todos esses papis. O tratamento bem sucedido das DTMs depende da

identificao e controle de tais fatores.

Fatores oclusais no so certamente os nicos fatores etiolgicos das desordens

temporomandibulares. Outros fatores muito importantes, tais como trauma, estresse emocional,

fontes de estmulo de dor profunda e at fatores sistmicos podem ser os principais contribuintes

para o seu desenvolvimento nos pacientes. (OKESON, 2008).

5.3 Classificao das Desordens Temporomandibulares

Segundo Dawson (2008), mesmo quando a DTM ocorre em diferentes formas, suas classificaes

so agrupadas numa sndrome, em vez de serem colocadas em tipos especficos de desordens

com diferentes etiologias que necessitam de tratamentos especificamente direcionados.

Para este autor, quando as desordens funcionais esto presentes, geralmente caem em trs amplas

categorias:

desarranjo do complexo cndilo-disco

incompatibilidade estrutural das superfcies articulares

desordens inflamatrias articulares.

43

As duas primeiras categorias tm sido coletivamente referidas como desordens de interferncia

do disco. Este termo foi primeiramente introduzido por Bell em 2002 para descrever uma

categoria de desordens funcionais que surgem de problemas com o complexo cndilo-disco.

Alguns desses problemas so devidos a um desarranjo ou alterao da ligao do disco ao

cndilo; outros so devidos a uma incompatibilidade entre a superfcie articular do cndilo, disco

e fossa. Ainda outros, so devido ao fato de que estruturas relativamente normais foram

estendidas alm das suas capacidades normais de movimento. (OKESON, 2008).

Para Dawson (2008), as DTMs podem ser classificadas em diversas formas. Para o clnico geral,

a abordagem mais lgica para o diagnstico reconhecer que as fontes mais provveis de dor ou

disfuno na ATM podem ser separadas em trs grandes categorias, desta forma:

Desordens da musculatura mastigatria

Desordens intracapsulares estruturais reversveis e irreversveis; e no-adaptativas.

Condies que mimetizam as DTMs.

Dawson (2008) defende que um engano pensar que a DTM s se refere dor. A dor um

sintoma comum da deformao estrutural, mas nem toda deformao estrutural causa dor. Este

o motivo pelo qual o diagnstico diferencial das DTMs deve procurar os sinais e sintomas.

Okeson (2008) afirma ainda que a dor em qualquer estrutura articular (incluindo as ATMs)

chamada de artralgia. Parece lgico que tal dor se origine das superfcies articulares quando a

articulao sofre carga exercida pelos msculos. impossvel que isto ocorra numa articulao

saudvel, j que no h inervao das superfcies articulares. Artralgia, portanto, pode se originar

somente de nociceptores localizados nos tecidos moles que circundam a articulao. Trs tecidos

periarticulares contm tais nociceptores: os ligamentos do disco, os ligamentos capsulares e os

tecidos retrodiscais. Quando estes ligamentos so alongados ou os tecidos retrodiscais so

comprimidos, os nociceptores mandam sinais e a dor sentida. No se consegue diferenciar entre

as trs estruturas, ento qualquer nociceptor que for estimulado nessas estruturas irradiar sinais

que sero sentidos como dor articular.

44

Para Wolford, Cassano e Gonalves (2009), as condies mais comuns que causam dor na ATM

so, aleatoriamente:

deslocamento do disco articular

artrite reativa

reabsoro condilar interna em adolescentes

hiperplasia condilar

osteomas e osteocondromas

patogenias de ATM em estgio avanado (doenas auto-imunes, artrite reativa avanada,

articulaes operadas vrias vezes, implantes aloplsticos de ATM falhos, ausncia da

ATM, injrias traumticas, anquilose).

Mehra e Wolford (2001a) afirmam que alguns pacientes com desordens internas de ATM,

algumas vezes, so assintomticos ou tm sintomas subclnicos.

5.3.1 Desordens intracapsulares

Segundo Dawson (2008), desordem intracapsular qualquer doena, deformao, ou desordem

que envolve os tecidos dentro da cpsula da ATM.

Para este autor, o prognstico antecipado com ou sem tratamento deve estar relacionado escolha

da terapia. Devemos determinar se o tratamento ser pior que a doena. A idade do paciente, o

estado de sade, e a atitude emocional em relao ao problema so consideraes importantes na

deciso do tipo de tratamento a ser executado.

45

Sempre que possvel, o tratamento mais seguro e mais conservador a resposta adaptativa do

paciente num ambiente de tranqilidade neuromuscular. Se o dano s partes articulares no foi

alm do estgio de auto-reparo, o tratamento geralmente consiste na correo das desarmonias

estruturais que causam o deslocamento mandibular. Quando os desarranjos no disco so vistos, as

desarmonias estruturais podem ser encontradas em ambas as extremidades da articulao. Nem a

articulao e to pouco a ocluso esto corretamente relacionadas, ento ambas devem ser

reorientadas para atingir a harmonia necessria ao sistema. Existem muitas maneiras

conservadoras de tratar os pacientes, mas em alguns a desarmonia to significativa que no

existem solues simples. O objetivo do tratamento, porm, permanece o mesmo, que obter a

melhor harmonia possvel entre as articulaes e a ocluso, para que no haja deslocamento

mecnico da mandbula e, conseqentemente, nenhum estmulo incoordenao muscular que

sobrecarregue a articulao e a dentio. (DAWSON, 2008, traduo do autor).

5.3.1.1 Desarranjo do complexo cndilo-disco: desarranjo interno da ATM

O termo desarranjo interno geralmente utilizado para denotar uma relao anormal entre o

complexo cndilo-disco e a eminncia articular. (TRUMPY et al.,1997) .

Estes mesmos autores afirmam que autpsias j realizadas tm detectado desarranjo interno da

ATM em 10% a 47% da populao em geral, embora a DTM existente no tivesse sido

diagnosticada clinicamente.

Da mesma maneira, Okeson (2008) relata que as desordens do complexo cndilo-disco se

apresentam de vrias formas, a maior parte delas pode ser vista como uma continuidade de

eventos progressivos. Elas ocorrem por causa das mudanas de relacionamento entre o disco

articular e o cndilo.

46

Deslocamento do disco articular um desarranjo interno comum e pode resultar em diminuio

do espao articular; clicks, rudos ou crepitao durante a funo mandibular; artrite; reabsoro

condilar; deformidades maxilares; malocluso; inflamao e compresso do tecido bilaminar

todos esses podendo causar diversos graus de dor e disfuno. (MEHRA e WOLFORD, 2001b).

Kirkos et al. citados por Trumpy et al. (1997) encontraram deslocamento anterior de disco

atravs de Imagem por Ressonncia Magntica (IRM) em 32% de voluntrios assintomticos.

Isso sugere que o deslocamento anterior de disco pode ser uma variante anatmica na populao,

ao invs de uma anormalidade.

A quantidade de rotao do disco no cndilo tambm determinada pela morfologia do disco,

pelo grau de presso intrarticular e pela ao do msculo pterigideo lateral superior, assim como

da lmina retrodiscal superior. (OKESON, 2008).

Para Okeson (2008), a lmina retrodiscal superior a nica estrutura que pode retrair o disco

posteriormente. O disco, portanto, mantm sua posio no cndilo durante o movimento, devido

sua morfologia e aos seus ligamentos. Sua morfologia (com as bordas anteriores e posteriores

mais espessas) oferece uma caracterstica de autoposicionamento que, em conjunto com a presso

intrarticular se equilibra no cndilo. Se a morfologia for alterada e os ligamentos se tornarem

alongados, ento permitido que ele escorregue (translade) sobre a superfcie articular do

cndilo.

A insero do msculo pterigideo lateral superior puxa o disco no s para frente como tambm

medialmente ao cndilo. Se esta ao deste msculo for prolongada, com o passar do tempo a

borda posterior do disco pode se tornar mais delgada. medida que esta rea fica fina, o disco

pode ser deslocado numa direo mais ntero-medial. Como a lmina retrodiscal superior oferece

pouca resistncia na posio articular fechada, a posio medial e anterior do disco mantida.

medida que a borda posterior do disco se torna mais delgada, o disco pode se deslocar alm do

espao discal para que o cndilo fique posicionado na borda posterior do disco. Esta condio

conhecida como deslocamento funcional do disco. (OKESON, 2008).

47

O fator etiolgico mais comum associado com este colapso da funo normal de rotao do disco

no cndilo o trauma. Isto pode ser um macrotrauma ou microtrauma, como aqueles associados a

uma hiperatividade muscular crnica e instabilidade ortopdica. (OKESON, 2008).

Este mesmo autor defende a subclassificao em: deslocamento de disco com reduo e sem

reduo. Ele afirma que se o travamento ocorre apenas ocasionalmente e a pessoa pode resolv-lo

sem assistncia, ele chamado de deslocamento funcional com reduo. Esta condio pode ou

no ser dolorida dependendo da severidade e da durao do travamento e da integridade das

estruturas articulares. Se for aguda, tendo um histrico de curta durao, a dor articular pode estar

apenas associada ao alongamento dos ligamentos. Como os episdios de capturar ou travar se

tornam mais freqentes e crnicos, os ligamentos entram em colapso e a inervao perdida. A

dor se torna menos relacionada com os ligamentos e mais com as foras aplicadas nos tecidos

retrodiscais.

O prximo estgio de desordem do disco conhecido como deslocamento funcional do disco sem

reduo. Esta ocorre quando a pessoa incapaz de retornar o disco deslocado para sua posio

normal no cndilo. A boca no pode ter a sua abertura mxima porque a posio do disco no

permite a translao total do cndilo. Tipicamente, a abertura inicial de 25 a 30 mm

interincisalmente, o que representa a mxima rotao articular. Quando o paciente abre a boca de

forma ampla, a linha mdia da mandbula desviada para o lado afetado. O paciente tambm

capaz de fazer movimento lateral normal para o lado afetado. Entretanto, quando o movimento

feito para o lado no afetado, ocorre uma restrio do movimento (o cndilo do lado afetado no

pode transladar alm do disco anteriormente desalojado funcionalmente). (OKESON, 2008).

48

5.3.2 Incompatibilidade estrutural das superfcies articulares

As incompatibilidades estruturais das superfcies articulares podem causar vrios tipos de

desordens de interferncias do disco. Elas aparecem quando as superfcies deslizantes normais do

trajeto so alteradas de tal forma que a frico e a aderncia inibem a funo articular.

(DAWSON, 2008; OKESON, 2008).

Algumas desordens de desarranjo do disco resultam de problemas entre as superfcies articulares.

Numa articulao saudvel, as superfcies articulares so firmes e suaves e quando lubrificadas

pelo lquido sinovial, se movem praticamente sem atrito entre si. Entretanto, se estas superfcies

se tornam alteradas por algum motivo, o movimento prejudicado. Alteraes podem ocorrer

devido lubrificao insuficiente ou por causa de aderncias entre as superfcies. (OKESON,

2008).

Para este autor, se por alguma razo o lquido diminuir, a frico entre as superfcies articulares

aumenta podendo ocorrer abraso das superfcies e levar a um colapso ou criao de aderncias.

Basicamente, os quatro tipos de incompatibilidade estrutural das superfcies articulares so:

desvio na forma, aderncias e adeses, subluxao ou hipermobilidade e deslocamento

espontneo ou travamento aberto.

Os desvios na forma so causados por mudanas nas silhuetas das superfcies articulares. Eles

podem ocorrer no cndilo, na fossa ou no disco. As alteraes na forma das superfcies sseas

podem ser um achatamento do cndilo ou fossa ou at mesmo uma protuberncia ssea no

cndilo. Mudanas na forma do disco incluem tanto adelgaamento das bordas quanto as

perfuraes. (OKESON, 2008).

49

Okeson (2008) afirma que o termo aderncia significa que as estruturas articulares se tornaram

temporariamente coladas, mas no houve nenhuma mudana fsica que comprometesse os

tecidos. Uma vez gerada fora suficiente para separar os tecidos, a funo normal retorna.

Geralmente, resultam de uma sobrecarga esttica prolongada nas superfcies articulares,

diminuindo a lubrificao. Se, entretanto, a aderncia se mantm por um perodo significativo de

tempo, pode se formar um tecido fibroso entre as estruturas articulares e uma adeso verdadeira

pode acontecer. Esta condio representa uma juno mecnica, que limita a funo normal do

cndilo-disco e fossa.

Tanto microtrauma quanto macrotrauma so os principais fatores etiolgicos nos problemas de

adeses da ATM. Outro fator comum a hemartrose, que uma hemorragia dentro da

articulao. A hemartrose pode ocorrer quando os tecidos retrodiscais so rompidos por um

trauma externo na mandbula ou por interveno cirrgica. (DAWSON, 2008; OKESON, 2008).

A subluxao uma outra condio de irregularidade estrutural existente que representa um

movimento sbito do cndilo para a frente durante o ltimo estgio da abertura bucal. Ela mais

provvel de acontecer numa ATM de quem tem uma parede posterior mais curta e ngreme e uma

parede anterior mais longa e plana. Numa articulao subluxada, o movimento rotacional

mximo do disco alcanado antes da translao mxima do cndilo. Portanto, medida que a

boca abre, a ltima poro do movimento translatrio ocorre com um desvio fsico do cndilo e

do disco de uma s vez. Isto anormal e cria um rpido salto para frente e um rudo surdo no

complexo cndilo-disco. (OKESON, 2008).

Outra condio comum o deslocamento espontneo ou travamento na abertura. Para Okeson

(2008), este deslocamento representa uma hiperextenso da ATM que resulta numa condio que

fixa a articulao numa posio aberta evitando qualquer translao. Esta condio referida

clinicamente como um travamento aberto, pois o paciente no consegue fechar a boca.

50

Este mesmo autor afirma que imagens da ATM numa posio de travamento aberto

demonstraram que o disco pode tambm ser encontrado posterior ao cndilo. A posio exata do

disco pode variar e certamente justificam estudos posteriores, mas em ambos os casos o cndilo

encontrado frente da crista da eminncia articular com o espao discal em colapso, no

permitindo o retorno normal do cndilo na fossa.

5.3.3 Desordens articulares inflamatrias

As desordens inflamatrias da ATM so caracterizadas por uma dor profunda, contnua,

geralmente acentuada com a funo e com efeitos excitatrios centrais secundrios. Estes

aparecem como dor reflexa, sensibilidade excessiva ao toque (hiperalgesia) ou co-contrao

protetora aumentada. Estas desordens so classificadas basicamente de acordo com as estruturas

envolvidas: sinovites, capsulites, retrodiscites e artrites. (DAWSON, 2008).

5.3.3.1 Sinovites e capsulites

Apresentam-se clinicamente como uma nica desordem, pois o diagnstico diferencial muito

difcil. A nica maneira de diferenci-las usando a artroscopia. Como o tratamento para ambas

idntico, se torna apenas acadmico separ-las em duas condies. Normalmente, surgem aps

um trauma nos tecidos, tais como macrotrauma (agresso fsica) ou o microtrauma (compresso

nos tecidos pelo deslocamento posterior do cndilo). O trauma tambm pode surgir de uma

abertura exagerada da boca ou movimentos abusivos. s vezes a inflamao se espalha para as

estruturas adjacentes. (OKESON, 2008).

51

Segundo este mesmo autor, a dor contnua se origina na regio articular e qualquer movimento

que alongue os ligamentos capsulares aumenta esta dor. Os ligamentos capsulares podem ser

palpados pela presso dos dedos sobre o plo lateral do cndilo. A dor causada por este

procedimento indica uma capsulite. Uma abertura mandibular limitada secundria dor

comum, logo nota-se uma sensao de travamento. Se estiver presente o edema da inflamao, o

cndilo pode ser deslocado inferiormente, o que cria uma desocluso dos dentes posteriores

ipsilaterais.

5.3.3.2 Retrodiscites

A inflamao dos tecidos retrodiscais pode resultar de um macrotrauma. Este pode,

repentinamente, forar o cndilo posteriormente contra os tecidos retrodiscais. Quando o trauma

causa uma injria a estes tecidos pode resultar uma reao inflamatria secundria. O

microtrauma tambm pode causar retrodiscite, como nas fases progressivas de desordens de

interferncia de disco. Durante estas condies o cndilo gradualmente invade a lmina

retrodiscal inferior e os tecidos retrodiscais. Isto gradualmente danifica estes tecidos, levando

retrodiscite. (OKESON, 2008, traduo do autor).

O mesmo autor afirma que a limitao do movimento mandibular devido artralgia. Uma

sensao de parada suave est presente, a menos que a inflamao esteja associada com o

deslocamento do disco. Se os tecidos retrodiscais incharem devido inflamao, o cndilo pode

ser levemente forado para frente e para baixo na eminncia articular. Isto cria uma malocluso

sbita, a qual observada clinicamente como uma desocluso dos dentes posteriores ipsilaterais e

contatos fortes dos dentes anteriores contralaterais.

52

5.3.4 Artrites

Este grupo de desordens inflamatrias merece especial ateno. O termo artrite significa

inflamao das superfcies articulares. Muitos tipos de artrite podem afetar a ATM. Para Okeson

(2008) so utilizadas as seguintes categorias: osteoartrite, osteoartrose e poliartrite.

5.3.4.1 Osteoartrite e osteoartrose

Osteoartrite representa um processo destrutivo atravs do qual as superfcies de osso articular do

cndilo e da fossa se tornam alteradas. Geralmente, considera-se uma resposta do organismo ao

aumento de carga na articulao. Conforme a carga continua, a superfcie articular se torna mais

macia (condromalcia) e o osso subarticular comea a ser reabsorvido. (OKESON, 2008).

Tal sobrecarga funcional danosa s superfcies porque sem o disco presente, a lubrificao e a

nutrio dadas pelo fluido sinovial tambm so perdidas. Assim, as superfcies articulares sofrem

um colapso progressivo, causando perda da altura condilar, o que parece ser progressivo sempre

que o disco perdido e dificulta a manuteno da harmonia oclusal. (DAWSON, 2008).

Uma degenerao progressiva eventualmente resulta em perda da camada cortical subcondral,

eroso ssea e subseqente evidncia radiogrfica de osteoartrite. Radiograficamente, as

superfcies parecem estar erodidas e achatadas. (OKESON, 2008).

O mesmo autor afirma ainda que importante notar que as mudanas radiogrficas so vistas

apenas em estgios avanados da doena e podem no indic-la de forma precisa.

Embora a osteoartrite seja uma categoria de desordem inflamatria, ela no uma verdadeira

condio inflamatria. Geralmente, uma vez que a carga seja diminuda, a condio artrtica pode

se tornar adaptativa ainda que a morfologia ssea continue alterada.

53

A osteoartrite dolorida e os sintomas so acentuados pelos movimentos mandibulares. A

crepitao (som de atrito articular) um achado comum. Normalmente ela est associada com o

deslocamento do disco ou perfurao. (OKESON, 2008).

A doena articular degenerativa varia entre os pacientes, sendo afetada por diversos fatores como

a sade, a nutrio e as mudanas corporais como as que ocorrem nos desequilbrios hormonais.

(DAWSON, 2008).

Okeson (2008) defende que o incio da osteoartrite na ATM aparentemente mais complexo em

funo do que pode ser explicado exclusivamente pela sobrecarga muscular. Parece haver uma

tendncia significativa da doena nas mulheres, mas clinicamente existe uma predisposio

aumentada para os sintomas relacionados incoordenao muscular nas mulheres. O papel que o

desequilbrio hormonal desempenha pode estar diretamente relacionado aos distrbios no

metabolismo do clcio que afetam as funes sseas e musculares. O achado comum de

osteoartrite unilateral levanta algumas dvidas sobre um fator metablico generalizado como

causa principal e parece indicar que a resistncia do hospedeiro mais um fator contribuinte.

Apesar disso, a osteoartrite no parece ser iniciada na ausncia de sobrecarga e ainda, a reduo

da carga na articulao danificada parece interromper a patogenia e estimular remodelamento

regenerativo. A sobrecarga das superfcies articulares pode ser devida aos altos nveis de

atividades parafuncionais, especialmente quando as estruturas articulares no esto

adequadamente engajadas para aceitar estas foras, o que se denomina, instabilidade ortopdica.

(OKESON, 2008).

Para este mesmo autor, o estgio adaptativo foi referido como osteoartrose. A osteoartrose

confirmada quando as mudanas estruturais no osso subarticular so vistas nas radiografias, mas

no so relatados sintomas clnicos de dor pelo paciente.

54

5.3.4.2 Reabsoro condilar interna

Segundo Wolford, Cassano e Gonalves (2009), a reabsoro condilar interna uma condio

patolgica mediada por hormnios, afetando primariamente adolescentes do sexo feminino

(mdia de 9:1, em relao ao sexo masculino). Usualmente se inicia na fase de crescimento

puberal. Acredita-se que nesta fase, os hormnios femininos estimulam a hiperplasia dos tecidos

sinoviais, os quais produzem substratos qumicos que destroem os ligamentos que normalmente

estabilizam o disco ao cndilo. O disco comea ento a se apresentar deslocado anteriormente e o

cndilo ento cercado por este tecido sinovial hiperplasiado que continua a liberar substratos

qumicos que penetram na cabea do cndilo, causando reabsoro interna do cndilo e criando

uma diminuio lenta, mas progressiva, do tamanho do cndilo e conseqente retruso da

mandbula.

Interessantemente, 25% dos pacientes com este quadro so assintomticos quanto dor e sons

articulares. O nico protocolo de tratamento que demonstrou eliminar a patogenia da ATM e

permitir sua tima correo com a deformidade dentofacial associada, foi desenvolvido por Larry

Wolford (WOLFORD e CARDENAS; MORALES-RYAN et al.; WOLFORD et al., 2002 apud

WOLFORD, CASSANO e GONALVES, 2009) e inclui:

remoo do tecido bilaminar e sinovial hiperplsicos ao redor do cndilo.

reposio e estabilizao do disco articular com a tcnica de mini ncoras Mitek.

cirurgia ortogntica indicada para cada caso.

55

5.3.5 Poliartrites

Segundo Okeson (2008), as poliartites representam um grupo de desordens nas quais as

superfcies articulares se tornam inflamadas. Cada uma identificada de acordo com fatores

etiolgicos.

5.3.5.1 Artrite traumtica

Ocorrem mudanas nas superfcies articulares, as quais sendo grande o suficiente produzem a

inflamao destas superfcies. O paciente relata uma artralgia constante acentuada com o

movimento. Existe uma limitao de abertura mandibular secundria dor. Uma malocluso

sbita pode existir se o edema estiver presente. (OKESON, 2008).

5.3.5.2 Artrite infecciosa ou reativa

Uma artrite infecciosa pode resultar de uma invaso bacteriana causada por uma ferida penetrante

ou por uma infeco difusa de estruturas adjacentes, ou at mesmo por uma bacteremia seguida

de uma infeco sistmica. Dentre os sintomas, podemos destacar a presena de dor constante

acentuada pelo movimento, o edema articular e a elevao da temperatura dos tecidos. A

realizao de estudos sanguneos e a aspirao de fluidos da cavidade articular podem ajudar no

diagnstico. (OKESON, 2008).

56

De acordo com Henry, Pitta e Wolford (2001), artrite reativa uma artrite inflamatria que

ocorre como uma conseqncia de infeco em outros locais do corpo. A artrite reativa

freqentemente se inicia a partir de infeces urogenitais por Chlamydia trachomatis e infeces

gastrointestinais por Yersinia, Salmonella, Shigella ou Campylobacter. O processo patolgico

que leva artrite reativa pode ser resultado tanto de uma resposta imune a um antgeno

bacteriano ou mesmo da presena de uma bactria vivel junto aos tecidos sinoviais. Os

microrganismos responsveis so parasitas obrigatoriamente intracelulares.

As linhagens de C trachomatis podem ser classificadas por anti-sricos ou anticorpos

monoclonais em 15 sorotipos diferentes. O ciclo de desenvolvimento de tais microrganismos

pode ser influenciado por antibiticos, nutrientes e fatores relacionados ao hospedeiro. (HENRY,

PITTA e WOLFORD, 2001).

Tais autores declaram que os fatores envolvidos com a localizao dos microrganismos nas

articulaes em geral incluem: vascularizao sinovial, molculas de adeso das clulas

endoteliais sinoviais e fatores sistmicos. Os microrganismos provavelmente so carreados pelas

clulas das linhagens moncito-macrfagos dos stios da mucosa infectada para as articulaes

atravs da vascularizao local.

Ressaltam tambm que adolescentes do sexo feminino sexualmente ativas so reportadas como as

de maior risco para infeco por C trachomatis e infeces repetidas, tal incidncia pode alcanar

24%.

Para tais autores, testes sorolgicos podem ser muito teis na avaliao inicial e na distino dos

pacientes com DTM, para diagnosticar exposio subclnica ou inaparente a C trachomatis ou

outra bactria associada com artrite reativa.

57

Marcadores de IgG podem indicar uma exposio passada a C trachomatis. Essa imunoglobulina

pode permanecer na circulao mesmo aps um ano da infeco ativa. Marcadores de IgM so

indicativos de infeco recente. Marcadores de IgA podem estar baixos durante a infeco

primria, mas elevados em infeces recorrentes ou crnicas. Uma diminuio na produo local

de fator de necrose tumoral no fluido sinovial da ATM em comparao com o plasma sanguneo

tambm foi reportada. A produo de citocinas pr-inflamatrias, assim como o fator de necrose

tumoral, com subseqente inflamao articular pode ocorrer em resposta parede

peptdeoglicano-polissacardeos das bactrias, como j demonstrado em modelos animais. A

incidncia de tais citocinas tem sido tambm encontrada em uma boa porcentagem das

articulaes com diminuio da doena articular, mas no em ATMs de pacientes que possuam

somente disfuno muscular mastigatria. (HENRY, PITTA e WOLFORD, 2001).

Em seu estudo, Henry, Pitta e Wolford (2001), selecionaram 41 pacientes do sexo feminino, com

desarranjo interno de ATM j diagnosticados por imagem por ressonncia magntica (IRM). Foi

feita a dosagem sorolgica de anticorpos para C trachomatis atravs de imunofluorescncia

indireta, possibilitando identificao de 8 sorotipos. Os resultados obtidos revelaram 3 pacientes

(7%) com marcadores de anticorpos sricos que foram considerados positivos para infeco ativa

por C trachomatis. 11 pacientes (27%) com idade mdia de 38 anos, foram considerados como

tendo uma infeco anterior por C trachomatis, baseados nos nveis de IgG e IgA encontrados.

Em 86% dos pacientes com sorologia positiva fora reportado no questionrio sintomas de

alteraes no trato geniturinrio. Cerca de 86% deles tambm reportaram artralgia nas demais

articulaes do corpo, como nas costas, joelhos e quadris. 2 dos pacientes estudados tinham

tecido bilaminar biopsiado anteriormente para se avaliar a presena de C trachomatis por PCR

(anlise de protena C reativa): um paciente foi positivo para PCR e negativo para IgG e o outro

foi negativo para PCR, porm foi encontrada uma exposio passada ao C trachomatis pela

sorologia positiva para IgG. Estes achados de PCR negativa representam provavelmente uma

discrepncia de amostragem do tecido bilaminar coletado da ATM.

58

Os resultados demonstraram ainda uma freqncia aumentada de anticorpos sricos especficos

para C trachomatis, assim como outras bactrias presentes na ATM, sugerindo que as bactrias

funcionam como a fonte das mudanas patolgicas observadas junto s articulaes com

desenvolvimento de resposta inflamatria.

5.3.5.3 Artrite reumatide

A artrite reumatide afeta mltiplas articulaes do organismo. A causa exata desta desordem

sistmica ainda desconhecida. Caracteriza-se por uma inflamao das membranas sinoviais que

se estende para os tecidos conjuntivos adjacentes e para as superfcies articulares, que ento se

tornam espessas e doloridas. Conforme se exerce fora nestas superfcies, as clulas sinoviais

liberam enzimas que danificam os tecidos articulares, especialmente a cartilagem. Em casos

severos at o tecido sseo pode ser reabsorvido, com uma perda significativa de suporte condilar.

(OKESON, 2008).

Embora a artrite reumatide esteja mais comumente associada com as articulaes das mos, ela

tambm pode ocorrer na ATM e quase sempre bilateral. O histrico das queixas em mltiplas

articulaes um achado diagnstico muito significativo. Em casos severos, onde o suporte

condilar foi perdido, resulta uma malocluso sbita, caracterizada por contatos posteriores fortes

e uma mordida aberta anterior. O diagnstico confirmado por exame de sangue. (OKESON,

2008).

59

5.3.6 Hipomobilidade mandibular crnica

uma restrio indolor de longa durao. A dor pode aparecer somente quando uma fora

usada na tentativa de abrir a boca alm de suas limitaes. A condio pode ser classificada de

acordo com a sua etiologia em anquilose, contratura muscular ou resistncia feita pelo processo

coronide. (OKESON, 2008).

5.3.6.1 Anquilose

s vezes, as superfcies intracapsulares da articulao desenvolvem adeses permanentes as

quais impedem os seus movimentos normais. Isto chamado de anquilose. (OKESON, 2008).

Para este autor, quando a anquilose est presente, a mandbula no pode transladar na fossa,

resultando numa amplitude muito pequena de movimento. A anquilose pode resultar de uma

adeso fibrosa da articulao ou mudanas fibrticas no ligamento capsular. s vezes pode-se

desenvolver uma anquilose ssea verdadeira, na qual o cndilo se une fossa articular.

A origem mais comum da anquilose o trauma. Este trauma causa um dano nos tecidos,

resultando numa inflamao secundria. O trauma tambm pode causar hemartrose ou

sangramento dentro da articulao, a qual