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561 IV COBRAE - Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas - Salvador-BA Estabilização de taludes rochosos na RST/471, através de soluções de retaludamento, concreto projetado, muro de gabiões e rede guarda-pedras. Strauss, M. Azambuja Engenharia e Geotecnia Ltda., Porto Alegre, RS, Brasil, [email protected] Azambuja, E. Pontifícia Universidade Católica do RGS, Porto Alegre, RS, Brasil, [email protected] Alves, J. O. STE. Serviços Técnicos de Engenharia S.A., Canoas, RS, Brasil, [email protected] Resumo: A RST/471 é uma rodovia em fase de adequação e ampliação dentro do programa corredores de exportação do governo do estado do Rio Grande do Sul. O projeto previa taludes com inclinações usuais nas estradas do RGS, ou seja, 4:1 (V:H) em rocha e 1:1 em solo. No entanto, durante a execução da terraplanagem, deparou-se com fenômenos de instabilidade nos taludes de corte em rocha em 33 pontos da rodovia, totalizando 9 km de extensão. Estes fenômenos estão diretamente relacionados ao grau intenso de fraturamento das rochas no trecho em questão. Para estabilizar os taludes foram projetadas soluções em retaludamento associado a bacia de retenção, muros de gabiões, concreto projetado, rede-guarda-pedras e outras. Um breve histórico da problemática e a descrição das principais soluções de estabilização adotadas são apresentados neste trabalho. Abstract: The RST/471 is a roadway in process of adequation and ampliation, in the program “Exportation Ways” of Rio Grande do Sul government. The roadway design had predicted slopes with usual inclination in the Rio Grande do Sul roadways, 4:1 (V:H) to rocks and 1:1 to soils. Whatever, during the excavations began the instabilization of the cut rock slopes in 33 roadway segments, summing 9km length. This phenomena was directly related to the joint rate of the rocks in that region. To estabilizate the slopes was designed solutions like down-slope with a retention trench, gabion walls, shotcrete, rockfall protection netting and other ones. In this paper is writed an overview about the problem and a

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Estabilização de taludes rochosos na RST/471, atravésde soluções de retaludamento, concreto projetado,muro de gabiões e rede guarda-pedras.

Strauss, M.Azambuja Engenharia e Geotecnia Ltda., Porto Alegre, RS, Brasil, [email protected]

Azambuja, E.Pontifícia Universidade Católica do RGS, Porto Alegre, RS, Brasil, [email protected]

Alves, J. O.STE. Serviços Técnicos de Engenharia S.A., Canoas, RS, Brasil, [email protected]

Resumo: A RST/471 é uma rodovia em fase de adequação e ampliação dentro do programacorredores de exportação do governo do estado do Rio Grande do Sul. O projeto previa taludescom inclinações usuais nas estradas do RGS, ou seja, 4:1 (V:H) em rocha e 1:1 em solo. No entanto,durante a execução da terraplanagem, deparou-se com fenômenos de instabilidade nos taludes decorte em rocha em 33 pontos da rodovia, totalizando 9 km de extensão. Estes fenômenos estãodiretamente relacionados ao grau intenso de fraturamento das rochas no trecho em questão. Paraestabilizar os taludes foram projetadas soluções em retaludamento associado a bacia de retenção,muros de gabiões, concreto projetado, rede-guarda-pedras e outras. Um breve histórico daproblemática e a descrição das principais soluções de estabilização adotadas são apresentadosneste trabalho.

Abstract: The RST/471 is a roadway in process of adequation and ampliation, in the program“Exportation Ways” of Rio Grande do Sul government. The roadway design had predicted slopeswith usual inclination in the Rio Grande do Sul roadways, 4:1 (V:H) to rocks and 1:1 to soils.Whatever, during the excavations began the instabilization of the cut rock slopes in 33 roadwaysegments, summing 9km length. This phenomena was directly related to the joint rate of the rocksin that region. To estabilizate the slopes was designed solutions like down-slope with a retentiontrench, gabion walls, shotcrete, rockfall protection netting and other ones. In this paper is writedan overview about the problem and a

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1. INTRODUÇÃO

A RST/471 inicia na cidade de Soledade, nocentro/norte do Rio Grande do Sul, edesenvolve-se na direção norte-sul até a cidadedo Chuí, extremo Sul do Estado (Figura 1). Até adécada passada esta rodovia possuia umageometria por vezes desfavorável, com curvasfechadas e rampas acentuadas, e vários trechosincompletos, até mesmo sem ligação porestradas vicinais. A partir do final da década de90 começou a implementação das obras deadequação desta rodovia, dentro do programado Governo Estadual “corredores deexportação”, a fim de facilitar o escoamento daprodução do norte e centro do estado até oPorto de Rio Grande.

O trecho onde situa-se o objeto deste trabalhoé Barros Cassal – Herveiras, com 47km deextensão. Este trecho foi projetado pela STE eestá sendo executado pela construtora AndradeGutierrez. Toda fiscalização dos projetos e obrasé realizada pelo Departamento Autônomo deEstradas de Rodagem, DAER/RS.

Figura 1: mapa de situação, sem escala.

No entanto, os projetos de contençõesdescritos ao longo deste trabalho concentraram-se em um sub-trecho de 25km, entre GramadoXavier e Herveiras, onde estão praticamentetodos os fenômenos de instabilidade de taludesrochosos do referido trecho.

A partir de premissas geométricas de projeto,todos os taludes rochosos foram previstos cominclinação 4:1 (V:H) e os taludes em solo cominclinação 1:1. Os taludes em solo mostraram-se, de modo geral, estáveis após encerrados osserviços de terraplanagem deste trecho. Noentanto, os taludes rochosos resultaraminstáveis, em praticamente todos os cortes.Devido à altura elevada dos cortes, de até 24m(Figura 2), implicando em grande risco aosusuários ou operários, foi decidido pela imediataintervenção de estabilização dos taludes. Foramentão projetadas intervenções em 33 pontos,totalizando 9km de rodovia.

Figura 2: corte no km24+300, com 24m de altura.

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2. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS

Segundo mapeamentos geológicos, o sub-trecho em questão se desenvolve ao longo deuma área onde predominam basaltos e riodacitosda Formação Serra Geral. Inspeções de campoconfirmaram tal predominância.

Estruturalmente, em mapas na escala1:250.000, esta região apresenta falhastectônicas dominantes possuem direção NW-SE. No entanto, em fotos aéreas, imagens desatélite e por inspeção de campo foi possívelobservar que no trecho em estudo hálineamentos significativos também nas direçõesNE-SW, N-S e L-W.

Esse fraturamento tectônico intensoassociado às estruturas internas dos derramesgeraram rochas extremamente fraturadas. O graude fraturamento médio observado nos taludesdo trecho foi de 10frat/m, chegando em algunslocais a 20frat/m. Esta condição pode serobservada na foto da figura 3.

Figura 3: fraturamento típico das rochas no trecho.

3. METODOLOGIA DE PROJETO

As características geológicas citadas acima,associados aos cortes verticalizados, geraramos seguintes fenômenos de estabilidade:

- Queda de blocos;- Rupturas planares, condicionadas por

juntas de rocha;- Tombamento;- Rupturas circulares.O primeiro mecanismo foi o que mais ocorreu

nos taludes dentro do trecho em estudo. Osegundo e o terceiro foram observados apenasem alguns pontos específicos, onde o mergulhoe a direção de mergulho propiciaram taissituações. O último mecanismo foi o menosobservado, ficando restrito a regiões onde arocha estava muito alterada ou a capa de solosuperficial.

Uma vez conhecidos os principaismecanismos de instabilidade a seremcontrapostos, foi criada a seguinte metodologiade projeto:

i. cadastro de todos os taludes do trecho,caracterizando-os e identificando osmecanismos de instabilidade predomi-nantes;

ii. concepção da solução de estabilizaçãoa ser aplicada;

iii. definição dos parâmetros de projeto;iv. dimensionamento da solução de esta-

bilização;v. detalhamento da solução de estabiliza-

ção.Todas as etapas foram rigorosamente

conduzidas, no intuito de conceber soluçõestecnicamente corretas, porém ao menor custopossível. Este princípio é fundamental nestecaso, uma vez que pela grande escala desoluções demandadas, pequenas alterações deprojeto poderiam significar grandes alteraçõesno custo final.

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4. CADASTRO DE INSTABILIDADES

O cadastro de instabilidade é, na verdade,uma etapa de apoio ao projeto. Nesta faseprocede-se uma inspeção de campo, vistoriandoponto a ponto e levantando as informações quese farão necessárias no projeto propriamente dito.

As informações coletadas em cada taluderochoso foram:

- características geométricas (altura,extensão, inclinação, bancada, etc.)

- características de drenagem (talude secoou com evidências de surgências d’água)

- descrição geológica (tipo de rocha e/ousolo)

- características estruturais (levantamentode mergulho e direção de mergulho dasjuntas, por amostragem, grau defraturamento e macro rugosidade);

- registro de histórico de ocorrências (se jáhouve fenômenos de instabilidade nolocal e de que tipo)

5. CONCEPÇÃO DAS SOLUÇÕES DEESTABILIZAÇÃO/REMEDIAÇÃO

A solução de estabilização a ser adotada emcada talude está condicionada, em primeirolugar, ao fenômeno de instabilidadepredominante e, em segundo lugar, ao custo decada solução.

Para garantir o cessamento dos fenômenosde instabilidade observados ao longo de todoo trecho, foram projetados os seguintessistemas de contenção/estabilização:

- retaludamento com bacia de retenção;- concreto projetado;- grampeamento de rocha;- rede guarda-pedras- muros de gabiões;- solo grampeado;- barreira flexível;- malha chumbada.

Para os pontos aqui estudados, a soluçãode retaludamento com bacia de retenção é a queapresenta menor custo. Porém, traz consigo aônus de, na maioria dos casos, seu off-settransgredir a faixa de domínio, o que implicariaem novas desapropriações para sua execução.

A desapropriação em si não chega a ser umcusto que comprometa a solução deretaludamento, mas o processo de desapro-priação, com todos os seus tramites burocrá-ticos, poderia implicar em um tempo incom-patível com o prazo de execução da obra. Destaforma, em todos os pontos onde a solução deretaludamento trensgrediu a faixa de domínio,foi proposta uma solução alternativa, no casoda desapropriação se tornar inviável.

As soluções propostas para cada trecho sãolistadas na tabela a seguir.

A seguir são apresentadas as característicasde cada solução bem como sua metodologia dedimensionamento.

6. RETALUDAMENTO E BACIA DERETENÇÃO

Para resolver o problema de quedas freqüentesde blocos em taludes rochosos, a solução deretaludamento, ou abatimento dos taludes,associado a uma bacia de retenção tem sidocitada por alguns autores da área de mecânicadas rochas (Hoek & Bray, 1981 e Pelizz et al.,2003).

O retaludamento traz consigo os seguintesbenefícios diretos:

- redução do volume de queda de blocos;- redução da energia dos blocos que

chegam ao pé do talude;- aumento da segurança do talude quanto

à estabilidade global (no caso de taludesextremamente fraturados ou com planosmergulhantes para a pista).

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A bacia de retenção têm por funçãoexclusivamente complementar a intervenção deretaludamento, garantindo a retenção de 100%

Tabela 1: soluções de estabilização na RST-471

dos blocos que venham a cair, eliminando osriscos de atingir a rodovia. Uma seção tipo destasolução é apresentada na figura 4.

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6.1. Dimensionamento

A geometria necessária para a solução decontenção por retaludamento foi determinadatrecho a trecho, com auxílio do programacomputacional Rocfall, considerando a seçãomais crítica de cada trecho e verificação daestabilidade global através da análise estruturalpor meio de estereogramas.

6.1.1.Padrão Geométrico

O padrão geométrico das soluções deestabilização por retaludamento procurourespeitar critérios já adotados no projeto deterraplanagem da rodovia e não criar muitasvariações geométricas a fim de tornar suaexecução simples e rápida.

Taludes- taludes de corte em rocha sã ou pouco

alterada: foram estudados taludes cominclinação 1,5:1 e 2:1 (V:H);

- taludes de corte em solo ou rocha muitoalterada: inclinação 1:1;

BanquetasAs banquetas foram previstas segundo o

mesmo padrão de terraplanagem do projetooriginal da rodovia, possuindo 3m de largura,sendo previstas nas seguintes situações:

- a cada 10m de altura de talude, medido apartir do fundo da bacia de retenção;

- quando há mudança de material, de 3ªcategoria para 1ª ou 2ª categoria.

Bacias de RetençãoAs bacias de retenção começam 50cm

afastadas do pavimento. As dimensõesanalisadas nos projetos foram:

- profundidades (em relação aoacostamento): 1,5m, 1,2m, 1m ou 0,7m.

- largura do fundo: a partir de 1m, acrescidase analisadas a cada 50cm.

6.1.2.Parâmetros Geotécnicos/geológicos

Os parâmetros geotécnicos/geológicos foramobtidos trecho a trecho a partir de dadoscoletados durante a etapa de levantamentogeológico.

Figura 4: Seção tipo da solução de retaludamento associada à bacia de retenção

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Os parâmetros necessários ao dimensiona-mento de cada trecho são:

- Rt : coeficiente de restituição tangencial;

- Rn : coeficiente de restituição normal;

- Ø : ângulo de atrito interno da rochaaparente no talude;

- rugosidade do talude;- mergulho e direção de mergulho das

famílias de juntas aflorantes nos taludes.Os dois primeiros parâmetros (R

t, R

n) foram

obtidos a partir de duas retro-análises empontos já escavados e onde houve queda deblocos, corroborados por valores típicos para arocha local.

O ângulo de atrito interno da junta foideterminado através do slip test com cincoamostras de rocha. Para os ensaios realizadosresultou um ângulo de atrito interno médio de36º, com variações menores que 3º para cadaensaio.

Este valor de ângulo de atrito interno estápróximo a valores típicos para derramesbasálticos (Hoek & Bray, 1981 e Goodman, 1989).

Portanto, os valores adotados para estesprimeiros parâmetros são os apresentados aseguir.

Tabela 2: parâmetros para análise computacional

A rugosidade do talude é considerada peloprograma Rocfall como um desvio padrão apartir da inclinação do talude.Este valor foiobtido fazendo várias medidas de inclinaçõesde faces de rocha aflorante no talude ecalculando-se o desvio padrão destaamostragem em relação à inclinação do própriotalude.

O mergulho e direção de mergulho dasprincipais famílias de juntas em cada trechoforam medidos por amostragem e representadosem estereogramas.

6.1.3.Análise estatística de queda de blocos

A partir dos parâmetros geotécnicos acimacitados e do padrão geométrico proposto, paracada trecho de projeto foi analisada a queda deblocos para diversas geometrias de talude,buscando encontrar as combinações dedimensões da bacia com inclinação do taludeque garantissem a retenção de 100% dos blocosantes do acostamento, ou seja, que nenhum blocoatinja sequer o acostamento da rodovia.

Dentre as combinações bacia-taludepossíveis, foi sempre adotada a que implicasseem menor volume de escavação, exceto sehouvesse algum impedimento devido àpresença de planos instabilizantes que exigissetaludes mais suaves.

A análise propriamente dita das quedas deblocos foi realizada com auxílio do programacomputacional RocFall. Para cada geometria foianalisada a queda de pelo menos 1000 blocos.

Nas figuras 5 e 6 são apresentados osresultados gráficos da análise no km40+240, coma solução de retaludamento e com a geometriado projeto original, respectivamente.

6.1.4.Análise estrutural dos taludes rochosos

A análise estrutural dos taludes rochososconsiste na determinação da existência demassas de rocha instáveis condicionadas porjuntas, ou descontinuidades, da estrutura darocha em cada trecho de projeto.

Esta análise é realizada com o auxílio deestereogramas das juntas em cada talude. Paratal foi consideradoo método de Markland, o qualcontempla fenômenos de ruptura planar, rupturade cunhas e tombamento.

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Nas figuras 7 e 8 são representados osestereogramas do km 24+335, lado direito, coma representação do talude do projeto originale com a solução de retaludamento,respectivamente. Também nos estereogramasestão traçadas as linhas para análise segundoo método de Markland.

Pode-se observar que neste caso, com ageometria original, havia várias juntaspropiciando risco de rupturas translacionais(pontos azuis dentro da área hachurada). Como retaludamento tal risco foi totalmenteeliminado.

Nos casos em que é constatada a situaçãode instabilidade, são adotados os seguintesprocedimentos, por prioridade:

- Cálculo do volume de material instável.Caso possa ser totalmente absorvidopela bacia de retenção, não requerintervenção complementar de estabili-zação;

- Solução do problema por abatimento dotalude até a inclinação mínima 1,5:1(V:H);

- Análise de estabilidade da massa e, senecessário, indicação de solução decontenção complementar.

Figura 5: Análise de queda de blocos no km40+240 LDcom a solução projetada de retaludamento. 100% dosblocos retidos antes do acostamento.

Figura 6: Análise de queda de blocos no km40+240 LDsem a solução de retaludamento. 53% dos blocos retidosantes do acostamento

Figura 7: estereograma do km 24+335 ao km 24+520LD com a geometria do talude do projeto original.

Figura 8: estereograma do km 24+335 ao km 24+520LD com a geometria do talude reprojetada.

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7. MUROS DE GABIÕES

A solução de muro de gabiões foi proposta emtrechos onde a solução de retaludamento combacia de retenção implica na transgressão dafaixa de domínio definida no projeto original.Este muro permite verticalizar os últimos metrosde desnível do corte, evitando assim atransgressão da faixa de domínio.

A adoção de gabiões para constituição dosmuros se deu pelos seguintes motivos:

- Disponibilidade de material pétreo dequalidade em abundância na região;

- Facilidade e velocidade construtiva, umavez que não há necessidade de uso deconcreto ou argamassa, portanto, semtempo de espera para cura;

- Muro altamente drenante, minimizandorisco de acúmulo d´água no seu tardoz;

Esta solução foi adotada para alturas de murode no máximo 7,5m, a partir da qual a soluçãotorna-se anti-econômica devido à grandedimensão de base que se faz necessária paragarantir a sua estabilidade.

Abaixo é apresentada uma seção tipo dasolução com muro de gabiões.

7.1. Dimensionamento

A parte da solução em retaludamentoassociado à bacia de retenção (abaixo do murode gabiões) segue metodologia dedimensionamento idêntica à que foianteriormente exposta.

Já os muro de gabiões, como qualquer murode gravidade, deve apresentar estabilidade, comfator de segurança superior a 1,5, quanto aosseguintes fenômenos:

- Tombamento;- Deslizamento;- Capacidade de carga da fundação.Esta análise foi realizada, para cada trecho

de projeto, na seção de maior altura de muro,obtendo dimensões tais de muro que garan-tissem os níveis de segurança supracitados.

Este dimensionamento foi realizado comauxílio do programa computacional GawacWin.

Os parâmetros geotécnicos dos materiais aconter, foram adotados a partir de valores típicosconservadores e também a partir de dadosobtidos para fins da análise de queda de blocos.Estes parâmetros são apresentados na tabela aseguir.

Figura 9: Seção tipo da solução de estabilização com muro de gabiões

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Tabela 3: parâmetros geoténicos paradimensionamento dos muros de gabiões.

A ruptura global não foi analisada, uma vezque as fundações dos muros de gabiões foramprevistas sempre em rocha, convenientementeafastadas do talude. Quando da presença dejuntas na rocha, mergulhantes para a pista, quepudessem vir a gerar uma ruptura da fundaçãodo muro de gabiões, tal solução não foi adotada.

8. GRAMPEAMENTO DE ROCHA ECONCRETO PROJETADO

A rocha grampeada também foi projetada comosolução ao retaludamento, onde este transgride afaixa de domínio. Esta solução só foi proposta emcortes de maior altura, onde a solução alternativacom muro de gabiões se torna inviável. A figura 10apresenta uma seção tipo desta solução.

8.1. Dimensionamento do concreto projetado

O dimensionamento do concreto projetado foibaseado em análise de equilíbrio no estado limiteúltimo.

As regiões estabilizadas por concretoprojetado, para fins de dimensionamento, foramdivididas em duas: (a) muito fraturada - >5frat/m, e (b) medianamente fraturada - <5frat/m.Segundo esta classificação, considerou-se queno primeiro caso podem ser formados planosde deslizamento interligando as várias fraturas,e no segundo só podem ocorrer deslizamentossegundo as juntas existentes.

8.1.1.Rocha muito fraturada

Neste caso, para fins de dimensionamento,considerou-se a hipótese de que a massa a serestabilizada por cada chumbador pode serformada por uma cunha delimitada na face poruma área exatamente igual ao espaçamentoentre chumbadores, no topo por uma juntaperpendicular ao talude e na face interna porum plano de inclinação α em relação ao talude.Esta inclinação é variada de modo a se obter ovalor de maior criticidade.

Figura 10: Seção tipo da solução em concreto projetado e rocha grampeada.

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Embora seja improvável a existência deplanos da rocha que coincidam com a inclinaçãoα calculada, aceita-se a possibilidade da suaformação interligando juntas, devido ao altograu de fraturamento da rocha.

A poro-pressão deve ser considerada nomodelo de cálculo uma vez que o concretoprojetado é um revestimento pouco permeável,permitindo o acúmulo d´água no seu tardoz.

Considerou-se, portanto, a possibilidade deacúmulo d´água na hipótese de falha de umbarbacã exatamente na base da cunha, ou seja,com poro-pressão zero no topo (junto aobarbacã efetivo) e máxima na base da cunha,conforme modelo abaixo. Obviamente esta poro-pressão também deve ser considerada na juntade topo da cunha.

A resistência ao cisalhamento foi conside-rada tanto no plano de base da cunha (interno),τj, quanto nos planos laterais, τjl. Para o cálculoda resistência foi considerado o critério deBarton (Hoek & Bray, 1994).

Com os critérios de cunha, poro-pressão eresistência ao cisalhamento definidos, écalculada a força demandada ao tirante paragarantir a estabilidade da cunha com um fatorde segurança 1,3 (segundo NBR11682).

Quanto às tensões geradas sobre ofaceamento de concreto projetado, foiconsiderado o comportamento mecânico derocha grampeada, ou seja, a máxima força nochumbador ocorre junto ao plano dedeslizamento, de forma que a força transmitidapelo chumbador ao faceamento é igual a estamáxima força menos a força consumida pelaaderência nata de cimento/rocha nocomprimento que o chumbador atravessa acunha ativa. Considera-se que esta força sejadistribuída uniformemente em todo o contatoda cunha analisada com o concreto projetado.

Para cálculo das solicitações de projeto doconcreto projetado, foi considerado comomodelo uma laje contínua com apoios no localdos chumbadores, sofrendo a laje umcarregamento contínuo igual à pressão geradapela cunha ativa.

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8.1.2. Rocha medianamente fraturada

Neste caso, para fins de dimensionamento,considerou-se que o único esforço que ocorresobre o concreto projetado é de acúmulo deágua entre dois barbacãs, ou seja, considerou-se uma distribuição de poro-pressão triangular,com poro-pressão zero nos barbacãs, conformemodelo abaixo. A área de concreto projetada foiaquela com dimensões iguais ao espaçamentoentre chumbadores, mas centralizada em relaçãoao diagrama de poro-pressões, de forma a sofrera máxima pressão possível.

Para o dimensionamento do chumbador, estedeve simplesmente resistir à resultante dapressão d´água atuante sobre a placa deconcreto projetado, com fator de segurança 1,75e possuir comprimento de ancoragem, após asuperfície de ruptura da cunha teórica, suficiente.

Para cálculo das solicitações de projeto doconcreto projetado, as considerações sãoidênticas ao caso da rocha muito fraturada.

8.2. Dimensionamento da rocha grampeada

Nos trechos onde há risco de queda de massasmais significativas, segundo descontinuidadesda rocha mergulhantes para a pista, sãoprevistos chumbadores mais robustos ecompridos para conter tais massas.

Os parâmetros geotécnicos são obtidos,preferencialmente, a partir de retro-análise deplacas que já romperam e de parâmetros típicospara os materiais envolvidos nas análises.

Para fins de cálculo de resistência aocisalhamento é utilizado o critério de Barton(Hoek & Bray, 1981).

Quanto à poro-pressão, o diagrama depressões considerado é o triangular devido auma coluna d´água da altura do espaçamentoentre placas. O máximo valor do diagrama é nabase da trinca vertical e nulo no topo da trincae junto ao talude.

A contribuição dos chumbadores naestabilidade das placas é considerada pelacomponente da resistência à tração paralela aoplano de deslizamento e oposta ao movimentode ruptura.

Os fatores de segurança considerados nodimensionamento, conforme as normas daABNT, são 1,3 para a estabilidade global dosistema, 1,75 para a resistência à tração doschumbadores e 2,0 para o comprimento deancoragem.

9. OUTRAS SOLUÇÕES

Outras soluções de contenção foram adotadasno trecho devido a demandas específicas. Aseguir são apresentadas, resumidamente, estassoluções com as principais características.

9.1. Rede guarda-pedras

Utilizada em locais onde há risco de quedaapenas de pequenos blocos e a pequenasalturas (menos que 10m). Em taludes com maisde 10m de altura, por vezes foi utilizadoassociado à solução de concreto projetado.

Na figura 11 é apresentada uma seção tipoda solução em rede guarda-pedras, associada aconcreto projetado e rocha grampeada.

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9.2. Barreira flexível

Utilizada apenas em um ponto, consiste naexecução de uma barreira vertical na primeirabancada acima da rodovia, a fim de contereventuais blocos que se desprendam de cotassuperiores. Esta barreira é formada por telametálica e reforçada por cabos de aço, sendoeste conjunto apoiado em montantes metálicosfixados à rocha. Esta solução possui avantagem de poder solucionar o problema detaludes extremamente altos com apenas umaobra executada próximo ao nível da rodovia.

Ao lado é apresentada uma montagemfotográfica da solução.

Esta solução também foi utilizado empequeno trecho de 22m, onde durante osserviços de escavação acabou gerando umover-hang junto ao pé do talude. Foramprojetados 8 gigantes com no máximo 3,5m dealtura.

10. ESTÁGIO ATUAL

As obras encontram-se paralisadas desdesetembro de 2004.

Das soluções propostas só foram imple-mentados dois pequenos trechos antes decessadas as obras.

Figura 12: Montagem fotográfica da solução de barreira

flexível.

Figura 11: Seção tipo da solução de rede guarda-pedras associada a concreto projetado e rocha grampeada.

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Na figura 13 é apresentada uma foto ondepode-se vislumbrar o talude com abatimento 2:1(V:H) e a bacia de retenção projetada com 1m deprofundidade e 1m de largura de fundo.

Figura 13: Solução de retaludamento com bacia de

retenção

11. CONCLUSÕES

O trecho de implantação da RS/471 entreGramado Xavier e Herveiras interceptou umaregião com rochas praticamente aflorantes eextremamente fraturadas. Tal condição geroutaludes de corte com constantes fenômenos deinstabilidade, como queda de blocos,tombamento e deslizamento. Perante a elevadaaltura dos cortes, com até 24m de altura, e apequena distância destes à rodovia, gerou umasituação de extremo risco aos operários da obrae aos usuários da estrada.

A solução mais econômica para estabili-zação dos taludes foi a execução deretaludamento associado a bacia de retenção.Também é uma solução adequada do ponto devista executivo, uma vez que consisteessencialmente em atividades de terraplanagem,as quais predominam na obra da rodovia emquestão e que portanto, a construtora têmabsoluta condição de implementar.

Os taludes resultaram com inclinações de2:1 ou 1,5:1 (V:H) e as bacias com profundidadesde até 1m e largura de fundo de até 3,5m.

A principal desvantagem da solução deretaludamento é a largura, em planta, que elaocupa. Desta forma, nos taludes mais altos oscortes para retaludamento acabam invadindo afaixa de domínio estipulada no projeto original.

Perante a possibilidade de novasdesapropriações implicarem em prazosincompatíveis com a obra, foram lançadastambém soluções alternativas que nãoinvadissem a faixa de domínio, sendo elas:

- Concreto projetado;- Rocha grampeada;- Rede guarda-pedras;- Barreira flexível;- Muro de gabiões;- Malha chumbada;- Solo grampeado.No presente momento as obras do trecho

viário em questão estão totalmente paralisadas,tendo sido executados apenas dois pequenostrechos com retaludamento e bacia de retenção.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hoek, E. e Bray, J. W. (1981) Rock SlopeEngineering. E&FN Spon, London.

Goodman, R. E. (1989) Introduction to RockMechanics. John Wiley & Sons, New York.

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Pelizza, S., Peila, D. e Oggeri, C. (2003)Consolidamento e bonifica dei pendii inroccia. Proc. XIX ciclo di conferenze digeotecnica di Torino. Politecnico di Torino,Torino.