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1 I I S S C C S S - - N N o o t t í í c c i i a a s s Boletim Informativo do Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte Abril 2005 Ano 3 – No. 3 www.cespu.pt/iscsnoticias CONTEÚDOS Entrevista Entrevista ao Prof. Doutor Vítor Seabra, Director do Curso de Ciências Farmacêuticas.................... Opinião Notas sobre Pedagogia no Ensino Superior …………………..………. Divulgação Geral: Investigação Intramuros ................. Investigação no Departamento de Ciências Farmacêuticas…………… Fluoroquinolonas- uma aposta de futuro……………………………… O meu percurso na Investigação …. O estudo da Imunologia no ISCS- N: o início de um percurso………... O Grupo de Biologia Molecular e Celular…………………………….. Cromossomas sob tensão…………. Investigação científica no ISCS-N... Divulgação Científica Notícias da Ciência e Tecnologia.... Os Antibióticos e o Impacto na Evolução Bacteriana..…………...... Corantes Alimentares e Sudan I..…. Água- Recurso cada vez mais valioso…………………………….. Notas Breves Informações..................................... Pág. 2 4 5 5 6 6 9 10 11 13 14 15 16 17 19 EDITORIAL O ISCS-Notícias * é publicado após o início de cada semestre lectivo (Nov. e Abr.) e é o boletim do ISCS-N, que visa dar a conhecer as actividades dos seus docentes, assim como divulgar notícias com particular interesse para os docentes e discentes deste Instituto. Este boletim encoraja todos os docentes a participarem (para tal deverão enviar os seus artigos para [email protected]). Os artigos publicados são da inteira responsabilidade dos seus autores. Aos editores reserva-se a função de rever e de seleccionar os artigos a serem publicados. Email: [email protected] Website: www.cespu.pt/iscsnoticias Editores: Carlos Caldas, Corsina Velazco Henriques, Elsa Cardoso, Elsa Logarinho, Hassan Bousbaa, Joaquim Merino, Jorge Quintas, José Carlos Andrade. * Aprovado em plenário do Conselho Científico do ISCS-N de 23/05/03. Distribuição gratuita. O Ensino e a Investigação, dois elos indissolúveis numa Universidade, são um contributo fundamental para o desenvolvimento de uma Sociedade. O Ensino Superior não implica só a transmissão de conhecimentos através de esquemas teóricos e práticos, o Ensino Superior tem também um objectivo, um compromisso fundamental, o de investigar. A Investigação é a razão da sua própria existência, a coluna vertebral, o alicerce das Instituições de Ensino Superior. Por outro lado, a exigência da carreira académica requer da docência universitária o seu percurso obrigatório na investigação científica, reflexo do seu avanço nessa alma mater. Investigar significa poder cognitivo e criativo, dar vazão às ideias, e poder contar com o ambiente propício, para executar essas ideias. Ainda mais enriquecido fica o assunto que se investiga, fundamental ou aplicado, quando é uma parte de um projecto com objectivos claros que visam soluções que contribuam para a saúde do Homem. Na nossa jovem Instituição, vislumbram-se já algumas acções concretas de Investigação. Encontrarmos todos uma linguagem comum de apoio e estímulo, de compreensão e respeito pelos trabalhos que desenvolvemos, só nos enaltecerá. Embora sabendo que os primeiros passos requerem muito esforço e sacrifício, começamos a definir um caminho e a demonstrá-lo através de produções científicas concretas. Por isso, neste número do ISCS-Notícias, dedicamos uma secção à Investigação Intramuros. Com este termo referimo-nos às actividades de investigação realizadas ou em curso no Instituto, deixando em aberto o convite para a participação de outros colegas na divulgação dos trabalhos que estão a desenvolver intra e/ou extramuros. Corsina Velazco Henriques

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Ano 2 - Nº 1 ISCS-Notícias

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IISSCCSS -- NNoottíícciiaass

Boletim Informativo do Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte Abril 2005 Ano 3 – No. 3 www.cespu.pt/iscsnoticias

CONTEÚDOS Entrevista Entrevista ao Prof. Doutor Vítor Seabra, Director do Curso de Ciências Farmacêuticas.................... Opinião Notas sobre Pedagogia no Ensino Superior …………………..………. Divulgação Geral: Investigação Intramuros ................. Investigação no Departamento de Ciências Farmacêuticas…………… Fluoroquinolonas- uma aposta de futuro……………………………… O meu percurso na Investigação …. O estudo da Imunologia no ISCS-N: o início de um percurso………... O Grupo de Biologia Molecular e Celular…………………………….. Cromossomas sob tensão…………. Investigação científica no ISCS-N... Divulgação Científica Notícias da Ciência e Tecnologia.... Os Antibióticos e o Impacto na Evolução Bacteriana..…………...... Corantes Alimentares e Sudan I..…. Água- Recurso cada vez mais valioso…………………………….. Notas Breves Informações.....................................

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EDITORIAL

O ISCS-Notícias* é publicado após o início de cada semestre lectivo (Nov. e Abr.) e é o boletim do ISCS-N, que visa dar a conhecer as actividades dos seus docentes, assim como divulgar notícias com particular interesse para os docentes e discentes deste Instituto. Este boletim encoraja todos os docentes a participarem (para tal deverão enviar os seus artigos para [email protected]). Os artigos publicados são da inteira responsabilidade dos seus autores. Aos editores reserva-se a função de rever e de seleccionar os artigos a serem publicados. Email: [email protected] Website: www.cespu.pt/iscsnoticias Editores: Carlos Caldas, Corsina Velazco Henriques, Elsa Cardoso, Elsa Logarinho, Hassan Bousbaa, Joaquim Merino, Jorge Quintas, José Carlos Andrade. *Aprovado em plenário do Conselho Científico do ISCS-N de 23/05/03. Distribuição gratuita.

O Ensino e a Investigação, dois elos indissolúveis numa Universidade, são um contributo fundamental para o desenvolvimento de uma Sociedade. O Ensino Superior não implica só a transmissão de conhecimentosatravés de esquemas teóricos e práticos, o Ensino Superior tem também um objectivo, um compromisso fundamental, o de investigar. A Investigação é a razão da sua própria existência, a coluna vertebral, o alicerce das Instituições de Ensino Superior. Por outro lado, a exigência da carreira académica requer da docência universitária o seu percurso obrigatório na investigação científica, reflexo do seu avanço nessa alma mater. Investigar significa poder cognitivo e criativo, dar vazão às ideias, e poder contar com o ambiente propício, para executar essas ideias. Ainda mais enriquecido fica o assunto que se investiga, fundamental ou aplicado, quando é uma parte de um projecto com objectivos claros que visam soluções que contribuam para a saúde do Homem. Na nossa jovem Instituição, vislumbram-se já algumas acções concretas de Investigação. Encontrarmos todos uma linguagem comum de apoio e estímulo, de compreensão e respeito pelos trabalhos que desenvolvemos, só nos enaltecerá. Embora sabendo que os primeiros passos requerem muito esforço e sacrifício, começamos a definir um caminho e a demonstrá-lo através de produções científicas concretas. Por isso, neste número do ISCS-Notícias, dedicamos uma secção àInvestigação Intramuros. Com este termo referimo-nos às actividades de investigação realizadas ou em curso no Instituto, deixando em aberto o convite para a participação de outros colegas na divulgação dos trabalhos que estão a desenvolver intra e/ou extramuros.

Corsina Velazco Henriques

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Entrevista

Nesta entrevista, o Prof. Doutor Vitor Seabra, Director do Curso de Ciências Farmacêuticas do ISCS-N, revela-nos o seu percurso profissional, assim como alguns aspectos ligados à Licenciatura em Ciências Farmacêuticas. Na qualidade de Coordenador do Gabinete de Investigação & Desenvolvimento, transmite-nos medidas e perspectivas para a Investigação no Instituto a médio prazo. Quando e/ou porquê decidiu seguir o curso de Ciências Farmacêuticas? Aquando da minha candidatura ao Ensino Superior no ano de 1984, o curso de Ciências Farmacêuticas foi um dos que me atraiu atenção, pois conseguia conciliar duas áreas de que muito gostava, a Biologia e a Química. Por isso, não foi difícil optar por ingressar na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, como alternativa ao ingresso no curso de Medicina que, por menos de duas décimas, ficou fora do meu percurso académico. Nessa época quem esperasse um ano tinha a sua média de entrada majorada em um valor, o que me daria grandes hipóteses de garantir a minha entrada em Medicina, mas resolvi, e ainda bem, seguir o meu “feeling” de cursar uma área que abarcava, de forma muito mais abrangente, as duas áreas de que mais gostava. Assim se compreende que o passo seguinte fosse na área da Toxicologia, que essencialmente, estuda o efeito adverso dos químicos sobre os organismos vivos. O seu percurso académico inclui o doutoramento em Londres e um pós-doutoramento no laboratório do Doutor Thurman, na Carolina do Norte. Quais os aspectos mais marcantes desta experiência? Realizei o meu doutoramento em Londres, Reino Unido, e um dos aspectos mais marcantes que posso salientar dessa experiência foi aprender a pensar sozinho ou com pouca ajuda directa, não sem apoio porém, obrigando-nos a ser mais autónomos. O pragmatismo inglês funciona muito bem no ensino da busca de explicações para aquilo que acontece à nossa volta, nomeadamente no nosso pequeno mundo do laboratório. Ensina e procura desenvolver as ferramentas essenciais para que o indivíduo se possa afirmar como tal perante os demais, procurando na sustentabilidade dos seus raciocínios e na lógica da resolução dos problemas, desmistificar as barreiras da incerteza que um doutorando enfrenta no seu árduo percurso. Foi um período probatório, que todos os que por ele passaram se lembram como uma etapa da vida a ultrapassar com bons e menos bons momentos, porém, todos importantes. A experiência pessoal foi muito enriquecedora, o contacto com pessoas provenientes de muitos países, com línguas, hábitos e credos diferentes foi muito boa e apercebi-me que o Nosso Mundo tem outra dimensão, que a nossa pátria Lusitana ajudou a descobrir e que, de forma mais activa, os Portugueses devem procurar manter essa abertura para que as ligações que mostraram ao mundo, possam definitivamente passar por aqui de novo.

Nos EUA, a experiência foi completamente diferente, quer em termos científicos que em termos pessoais; a língua falada foi exclusivamente o Inglês, o ambiente de trabalho era muito diferente daquele que estava habituado. Os laboratórios e as bibliotecas funcionam todos os dias e a qualquer hora, a pressão para publicar, o partilhar de recursos e informações entre os diferentes membros do grupo ou de grupos colaboradores, a facilidade com que se estabelecia “networking” entre os investigadores, se houvessem interesses comuns. Foi uma experiência muito enriquecedora, que vivamente recomendo. Contrasta definitivamente com a maior parte das Instituições que estão sedeadas na Europa, e mais concretamente em Portugal. Foi um grande choque regressar a Portugal, para ter ocupações exclusivamente de docência.

Quando integrou o corpo docente do ISCS-N? Qual a sua experiência profissional neste Instituto? Integrei o corpo docente do ISCS-Norte em Outubro de 1998, como Professor Auxiliar. Fui Vice-Presidente do então Conselho Cientifico Coordenador e, posteriormente, Presidente por breve tempo. Fui membro da Comissão Cientifico-Pedagógica que assegurou a transição entre os anos de 2000 e 2001 e, desde essa data, asseguro a coordenação da Licenciatura do Curso de Ciências Farmacêuticas e participo em quase todos os Conselhos que existem no Instituto, desde o Directivo ao Pedagógico. Como prevê que irá evoluir o curso de Ciências Farmacêuticas no âmbito do Processo de Bolonha? De acordo com o que está perspectivado, o curso de Ciências Farmacêuticas irá evoluir no sentido de permanecer com 5 anos ou com 6 anos, de acordo com a Directiva comunitária 85/432/CEE e com os pareceres da comissão de acompanhamento nomeada pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior para a área das Ciências Farmacêuticas. Como Director do curso de Ciências Farmacêuticas, quais os motivos que salientaria para que novos alunos procurem esta licenciatura neste Instituto?

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Como Director do Curso de licenciatura em Ciências Farmacêuticas do ISCS-Norte, posso referir que os alunos podem esperar da mesma, um curricula voltado para a realidade profissional que os espera no mercado de trabalho, procurando não descurar a vertente científica de que um Curso Superior se deve primordialmente revestir. O curso procura dotar os seus licenciados das ferramentas adequadas à fácil integração e adequada adaptação às crescentes mudanças no mundo actual, quer a nível cientifico quer económico-social, permitindo aos jovens licenciados que enfrentam os desafios iniciais do primeiro emprego, que o façam com confiança e perante o horizonte abrangente das oportunidades que se lhes deparam.

Quais os principais aspectos que levaram à acreditação desta licenciatura? Os principais aspectos foram, sem dúvida, o cumprimento dos requisitos que constituem o acto farmacêutico, que fundamentaram a nossa candidatura e que passam pelo cabal cumprimento, dentro da medida do possível, entre o que a Ordem dos Farmacêuticos solicita e aquilo que achamos ser a nossa prerrogativa quando nos propomos a ensinar e a licenciar cidadãos no âmbito das competências a atribuir aos licenciados em Ciências Farmacêuticas. Quais as perspectivas profissionais dos alunos finalistas de Ciências Farmacêuticas? Os alunos finalistas (estagiários do corrente ano lectivo) não estarão certamente a recear pela sua empregabilidade; as solicitações do mercado e da sociedade à participação do Farmacêutico como agente de saúde, e a escassez de recursos humanos na área da Farmácia de Oficina (o grande empregador dos nossos licenciados), deverão garantir nos próximos anos números próximos do pleno emprego. No entanto, duvido que a esta conjuntura seja sustentável a médio prazo; nessa altura, o treino, as competências adquiridas e a adequação às solicitações do mercado de trabalho serão determinantes para a continuidade da boa integração dos licenciados e da boa aceitabilidade pelos potenciais empregadores.

Existe uma área científica que o “apaixone” particularmente? A área científica que me apaixona é a área da Hepatotoxicologia, mais particularmente a alargada franja do conhecimento que proporciona explicações mecanísticas, relativas aos fenómenos que ocorrem aquando da participação das células do sistema imune na toxicidade mediada por xenobióticos, a nível hepático. Na qualidade de coordenador da unidade I&D poder-nos-ia dizer que medidas concretas da CESPU estão em vigor para apoiar a investigação, nomeadamente realizada ou a realizar pelos docentes desta Instituição? Como coordenador do Gabinete de I&D posso adiantar que a CESPU reserva para esta área novidades consideráveis no que respeita a fundos para serem usados pelos seus colaboradores para projectos integrados em áreas de I&D. Será organizada dentro em breve, no início do mês de Abril e no Campus de Gandra, uma sessão de apresentação relativa ao plano quadrienal, de forma a informar os colaboradores da CESPU quanto às oportunidades de financiamento de actividades de I&D a serem contempladas pela Cooperativa.

Como é que se perspectiva a investigação a médio prazo nesta Instituição? Perspectivo que a investigação a médio prazo na CESPU terá um lugar de maior destaque, nomeadamente no envolvimento dos docentes e outros colaboradores na realização de trabalhos intramuros, de índole I&D. Vamos passar por várias fases, a primeira com a dotação de infra-estruturas e equipamento, a integração de docentes e discentes em projectos constituídos ou a constituir, muito apoiados pela Cooperativa, até que chegaremos à “crise de crescimento”, por essa altura os financiamentos externos terão de representar a maior fatia do bolo. Os próximos meses serão cruciais para a implementação de medidas, que já deveriam ser sido conseguidas há cinco anos. No entanto, se formos capazes de hipotecar algumas etapas do processo, conseguiremos cumprir as exigências que são acometidas, a quem quer prestar um serviço que se aproxime da excelência.

Elsa Cardoso e Elsa Logarinho

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Opinião

Notas sobre Pedagogia no Ensino Superior

O que ouço, esqueço O que vejo, recordo

O que faço, aprendo. Confúcio

O aluno: A síndrome do espectador Actualmente, a maioria dos alunos chega à Universidade sem hábitos de estudo e de trabalho. Aparentemente chegam com a ideia de que uma aula, seria como um espectáculo. A única diferença, seria a de que teriam de tirar algumas notas. Assim, o aluno adopta a atitude de um espectador. Ora, é do conhecimento geral, que aprender matemática, ou qualquer outra ciência, não pode ser feito só “de ouvir falar”. Se assim fosse, bastaria pôr os alunos a “ver as cassetes”, e o professor estaria a mais no sistema. Aprender exige trabalho, dedicação, meditação e concentração. A apreensão de conceitos matemáticos, filosóficos ou outros, para um aluno que está a iniciar o Ensino Superior, não acontece apenas por ouvir alguém falar disso, ou como resultado de uma leitura em diagonal. A apreensão de um conceito, até ele se tornar operativo, isto é, até que sejamos capazes de o utilizar num outro qualquer contexto, é um processo que leva o seu tempo e dá trabalho. Voltando ao espectáculo... Admitamos que assistir a uma aula de matemática, ou de outra coisa qualquer, para quem está na atitude de espectador, é certamente “uma seca”. Para começar, o espectáculo é, com certeza, muito pouco aliciante, tendo em vista os outros espectáculos a que o aluno está habituado. Comparemo-lo, por exemplo, com um filme, em que se gastam milhões para o realizar, onde é usada a mais moderna e sofisticada tecnologia, e onde se dispõe de todos os meios para fazer dele um concentrado de ilusões, seduções e emoções, e chegaremos à conclusão que o professor de matemática ou física, numa sala de aula, por mais que se esforce, não tem a mínima hipótese de competir com tal espectáculo (os professores das outras disciplinas também não, evidentemente...). É por aqui que, na minha perspectiva, se deve começar. Há que mudar esta mentalidade, e fazer compreender ao aluno, de preferência antes de ir para a Universidade, que uma aula não é um espaço dedicado ao espectáculo, mas sim um lugar de trabalho, onde ele não vai para se distrair, mas para adquirir formação e conhecimentos. O seu objectivo, enquanto aluno, deve ser aprender, e deverá esforçar-se por atingir os objectivos de cada disciplina. Para o aluno, aprender é o seu trabalho. No entanto, para que a aprendizagem seja efectiva, a forma mais eficiente de o conseguir creio que passa pela adaptação, a cada caso, da máxima de Confúcio, acima citada. Não se aprende sem se “mexer na massa”. E isto é tão verdade para a jardinagem, a natação, andar de bicicleta, como para a matemática ou a filosofia. Só que, cada matéria de estudo, tem a sua maneira própria de “mexer na massa”. O Professor Penso, portanto, que a principal atitude pedagógica do Professor deve ser a de encontrar estratégias de fazer o aluno “mexer na massa”. Fazer com que ele envolva a sua massa cinzenta no trabalho que tem para fazer na aula, e eventualmente fora dela... Tradicionalmente, a nível universitário, o ensino das disciplinas é feito em aulas teóricas e aulas práticas. Nas aulas teóricas explana-se a matéria correspondente ao

programa da disciplina, sequencialmente, de forma a que as matérias tenham um desenvolvimento lógico e coerente. Nas aulas práticas faz-se a aplicação da teoria à resolução de problemas. Estas aulas têm como objectivo clarificar e cimentar os conceitos, e torná-los operativos. Em termos abstractos é lógico que assim seja. No entanto, em termos concretos, este método não me parece ser o que produz a melhor aprendizagem dos alunos. Penso que deveria existir uma maior dialéctica entre aulas teóricas e as práticas, ou mesmo só aulas teórico-práticas. Algo do género: a aula teórica dá os conceitos, as propriedades, as técnicas e exemplifica, após o que se passa à prática, com propostas de problemas para os alunos, que estes têm de resolver nas aulas, sozinhos ou com a ajuda do Professor, e só depois disso regressar à teoria para uma discussão mais profunda, visando a sua integração no corpo geral da matéria. Esta forma de proceder tem a vantagem seguinte: quando se regressa à teoria, o aluno já tem uma ideia mais precisa dos conceitos e, portanto, apreende melhor a essência das matérias. Tanto quanto julgo, pela minha experiência pessoal, quando se dá uma matéria nova, nova teoria, o aluno em geral não está em condições de abranger o alcance dos novos conceitos e tem, por conseguinte, dificuldade em perceber as suas consequências. E é nas aulas práticas que, ao manusear o novo conceito, se vai apercebendo das suas implicações e se vai tornando capaz de perceber as respectivas consequências. Já vários alunos me disseram que era nas aulas práticas que aprendiam as matérias. Notas suplementares Este texto pretende ser um pequeno contributo para a discussão em torno das “boas estratégias” pedagógicas a serem utilizadas no Ensino Superior. Aceitam-se contribuições para o aprofundamento desta questão, e todas as sugestões serão bem-vindas. O texto não aborda, nem é esse o seu objectivo, aquelas questões que são unanimemente reconhecidas como indispensáveis, tais como: condições físicas do local da aula, número de alunos por turma, organização das matérias, materiais de estudo, atitude do Professor, etc. A máxima de Confúcio, apesar de ter sido proferida há 2500 anos, mantém a sua validade. Há muita gente que apesar de nunca ter ouvido falar dela procede em conformidade. Ela encerra um concentrado de experiência, que é facilmente aceitável pelo senso comum, e deveria ser levado em conta por qualquer Professor e por qualquer política de ensino. Gostaria de terminar lembrando as citações de G. Polya (Matemático húngaro), do seu livro “Como Resolver Problemas”: “- O estudante deve adquirir tanta experiência de trabalho independente quanto for possível. Mas se for deixado sozinho com um problema, sem qualquer ajuda ou com ajuda insuficiente, é possível que não faça qualquer progresso.” “- Uma das tarefas mais importantes do Professor é a de ajudar os seus alunos. Esta tarefa não é fácil; exige tempo, prática e bons princípios”. Estas citações encerram em si todo um programa de trabalho, que posto em prática poderá melhorar o aproveitamento dos nossos alunos.

João Carvalho Prof. Auxiliar Equiparado, ISCS-N

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Divulgação Geral Investigação Intramuros

Investigação no Departamento de Ciências Farmacêuticas A investigação no ISCS-N no âmbito da Biofarmácia e Tecnologia Farmacêutica iniciou-se em 1999. Numa primeira fase, a actividade desenvolveu-se devido a uma intensa colaboração com os Departamentos de Tecnologia Farmacêutica das Faculdades de Farmácia das Universidades de Coimbra e do Porto. Desde 2001, e após se ter verificado que existiam condições para avançar de uma forma mais autónoma, embora mantendo a parceria com as instituições mencionadas, que se tem trabalhado no desenvolvimento de dois projectos de investigação abaixo descriminados, com o objectivo de incentivar os alunos dos últimos anos do Curso de Ciências Farmacêuticas para a investigação. A partir de 2002, na sequência da apresentação de um projecto de investigação na área da nanoencapsulação, um conjunto de docentes dos Cursos de Ciências Farmacêuticas e Medicina Dentária decidiram iniciar um trabalho experimental sobre a microencapsulação de enzimas. I- Microencapsulação de fármacos peptídicos Os objectivos principais estão relacionados com a valorização de fármacos recorrendo à microencapsulação. Esta técnica normalmente incluída nos novos sistemas terapêuticos, tem vindo a ser utilizada em várias áreas como a indústria alimentar, indústria química, biotecnologia, etc. Aplicou-se um sistema de microencapsulação para veicular fármacos peptídicos de peso molecular elevado. Como fármacos modelo foram escolhidas três proteínas, a albumina (PM = 60 KDa), a hemoglobina (64 KDa) e a insulina (6 KDa). Os objectivos principais do projecto eram: 1. Minimizar as perdas de fármaco durante a preparação da forma farmacêutica; 2. Proteger o fármaco contra a proteólise gástrica e intestinal; 3. Diminuir a degradação pré-sistémica do fármaco pelas peptidases do epitélio intestinal; 4. Contribuir para o estudo da relação entre a absorção intestinal de fármacos peptídicos e o poder bioadesivo do alginato e quitosano. II-Aumento da biodisponibilidade oral do piroxicam Introdução O piroxicam é um fármaco anti-inflamatório não esteróide (NSAIDs) com efeitos analgésicos e antipiréticos, utilizado para o tratamento de artrite reumatóide, osteoartrite e contusões traumáticas. No entanto, a eficácia terapêutica deste fármaco é comprometida devido ao facto de apresentar uma solubilidade muito reduzida. Esta solubilidade constitui o factor limitante da etapa de absorção no trato gastrointestinal podendo levar a uma absorção errática

em função do veículo utilizado para administrar o fármaco. Por outro lado, o piroxicam tal como a maioria dos NSAIDs, apresentam efeitos colaterais secundários importantes ao nível do efeito nocivo sobre a mucosa gástrica. Para aumentar a solubilidade de um fármaco pode-se recorrer a uma alteração da estrutura ou da forma do fármaco. Estas técnicas executadas ao nível da química de síntese são morosas e envolvem equipamento analítico sofisticado o que incompatibiliza a sua adopção pelo laboratório de Tecnologia. A farmacotecnia recorre a um outro tipo de técnicas, nomeadamente à dispersão do fármaco num meio dispersante com características hidrofílicas, à encapsulação molecular em moléculas designadas por ciclodextrinas, ou ainda à técnica de microencapsulação. Em parceria com os Laboratórios de Tecnologia das Faculdades de Farmácia das Universidades de Coimbra e do Porto, temos vindo a utilizar as três estratégias farmacotécnicas descritas. Resultados Os resultados obtidos são ainda preliminares, constituindo por vezes meros indicadores de que o trabalho pode ser efectuado nas instalações do ISCS-N. Por outro lado, permitiu-nos obter informações sobre equipamento que, de alguma forma, poderá ser necessário na execução dos dois projectos em curso, mas que se encontra disperso pelos vários departamentos do ISCS-N. O resultado mais saliente foi, no entanto, o envolvimento de seis alunos que contribuíram decisivamente para a concretização de grande parte dos objectivos traçados através de projectos, tendo revelado uma enorme persistência perante as dificuldades. Comunicações nacionais

António J. Ribeiro, Sofia A. Gomes, Mónica Matos, Susana Vale, Domingos C. Ferreira (2001). “Properties of solid dispersions of piroxicam in polyethylenoglycol”. II Jornadas da Sociedade Portuguesa de Ciências Farmacêuticas, Lisboa. Comunicações internacionais (posters)

António J. Ribeiro, Susana Vale, Liliana Tavares, Francisco Veiga, Domingos Ferreira (2002). “Dissolution/in vitro permeability properties of solid dispersions of PEG-solid dispersions of piroxicam”. Reunião anual da American Association of Pharmaceutical Scientists, Toronto.António J. Ribeiro, Catarina Silva, Liliana Tavares, Susana Vale, Francisco Veiga (2002). “Ionic-interaction made microparticles for oral delivery”. Reunião anual da American Association of Pharmaceutical Scientists, Toronto. Publicações

António J. Ribeiro, Catarina Silva, Liliana Tavares, Margarida Figueiredo, Domingos Ferreira, Francisco Veiga (2003). “Encapsulation of Hemoglobin in Chitosan-Alginate Microspheres by Emulsification/Internal Gelation”. Rev Port Farm, 12:133.

António J. Ribeiro

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Fluoroquinolonas- uma aposta de futuro Desde há alguns anos que o estudo da interacção de fármacos com sistemas heterogéneos tem vindo a constituir um tema de interesse para a nossa equipa de investigação do Centro de Química da Universidade do Porto. Uma atenção particular passou a ser dada à interacção de fármacos com ácidos biliares, tendo estes últimos compostos proporcionado a ponte para o mesmo tipo de estudos com vesículas lipossómicas. Os trabalhos têm sido efectuados com dois objectivos distintos: modelar o local e o mecanismo de interacção dos fármacos com membranas biológicas e caracterizar, do ponto de vista físico-químico, diferentes formulações lipossómicas para serem utilizadas como vectores de fármacos. As fluoroquinolonas são actualmente os nossos fármacos de eleição. Elas são um grupo de agentes anti-bacterianos de grande importância clínica, cujo alvo de acção, no interior das bactérias, torna imprescindível a sua capacidade de permeabilizar as membranas celulares, sendo a membrana externa das bactérias gram (-) a principal barreira de acesso. Assim, apesar da sua extensa utilização terapêutica, permanecem muitas questões no que respeita ao mecanismo molecular cinético da sua entrada na célula bacteriana1. A importância das fluoroquinolonas na terapia anti-bacteriana, aliada aos efeitos secundários, fenómenos de resistência e à baixa solubilidade em água, tem conduzido a um aumento considerável do interesse da indústria farmacêutica na preparação de vectores e sistemas de libertação controlada, tais como os lipossomas. Os lipossomas podem incorporar com relativa facilidade uma grande variedade de compostos hidro ou lipossolúveis, constituindo uma das possíveis organizações moleculares que ocorrem espontaneamente quando moléculas de fosfolípidos são dispersas em meio aquoso. A investigação realizada com lipossomas como sistemas transportadores tem vindo a expandir-se de um modo notável, conferindo-lhes um significativo grau de protecção contra a hidrólise enzimática ou inactivação de fármacos por enzimas bacterianas 2. O principal interesse na utilização de formulações lipossómicas de fluoroquinolonas reside no aumento da concentração do fármaco no local de acção. Estas formulações contribuem para i) vectorização ao tecido infectado, ii) aumento da concentração intracelular do antibiótico e iii) redução da toxicidade dos fármacos. Neste trabalho pretende-se comparar a actividade in vitro e a acumulação em bactérias, de formulações lipossómicas de fluoroquinolonas (com diferente composição lipídica, integrando ou não proteínas membranares) com a das fluoroquinolonas livres, correlacionando o comportamento observado com as características fisico-químicas e morfológicas das diferentes formulações utilizadas3. Como complementaridade, determinamos o papel de algumas porinas nesta acumulação, utilizando diferentes estirpes

bacterianas de E. coli algumas das quais mutantes no que respeita à presença de determinadas porinas4,5. Temos investido também na síntese de fluoroquinolonas complexadas com diferentes metais de transição de forma a avaliar um possível aumento da eficiência anti-bacteriana acompanhado de uma redução de alguns tipos de resistência a estes fármacos. Estes estudos, de cariz microbiológica, têm sido realizados aqui no Instituto no laboratório de Microbiologia contando, desde Outubro passado, com a ajuda da Maria Teresa, uma aluna do 5º ano do Curso de Ciências Farmacêuticas que começou a trabalhar connosco no âmbito de uma proposta extra-curricular. O nosso trabalho tem sido realizado em colaboração com outras Universidades: Dr. Manuel Prieto do Complexo Interdisciplinar do Instituto Superior Técnico, nos estudos de fluorescência com resolução temporal; Prof. Anthony Watts do Departamento de Bioquímica da Universidade de Oxford, nos estudos estruturais por NMR de estado sólido; Prof. Mathias Winterhalter do Instituto de Farmacologia e Biologia Estrutural da Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, na purificação das porinas. O trabalho insere-se em dois projectos de investigação: “Avaliação do efeito modelador do ambiente lipídico da membrana na interacção de fármacos com o transportador de fármacos P-glicoproteína”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia- POCTI/QUI/34308/99-, e “Avaliação da estrutura e funções da proteína membranar OmpF na acumulação de fluoroquinolonas e derivados”- POCTI/SAU-FCT/56003/04.

Catarina Mansilha 1. Koebnik R, Locher KP and Van Gelder P (2000). Structure and function of bacterial outer membrane proteins: barrels in a nutshell. Molec Microb 37: 239-253. 2. New RRC (1989). Liposomes: a pratical approach. Ed. IRL Press. Oxford. 105-108. 3. Sanic A, Kilinc M, Erdogan S, Ozer A and Durupinar B (2001). Comparision of the in vitro efficacies of liposomal–vancomycin with vancomycin and liposomal–ofloxacin with ofloxacin against Staphylococcus aureus. Clinical Microbiology and Infection, Vol.7, 1. 4. Furneri PM, Fresta M, Puglisi G and Tempera G (2000). Ofloxacin-loaded liposomes: in vitro activity and drug accumulation in bacteria. Antimicrobial Agents and Chemotherapy 9: 2458-2464. 5. Mortimer PGS and Piddock LJV (1993). The accumulation of five antibacterial agents in porin-deficient mutants of E. coli. J Antimicrob Chemother 32: 195-213.

O meu percurso na Investigação No Perú e noutros países Ao iniciar este espaço com este sugestivo título, gostaria de referir em primeiro lugar que o meu rumo na investigação deparou-se com novos destinos já que, de maneira nunca imaginada, me vi repentinamente neste lindo país onde cheguei graças ao suplicante apelo do meu esposo de querer

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voltar ao seu país de origem, Portugal. Deixei desta maneira o meu país, Perú, e tudo o que isso envolve, família, amigos e o meu centro de trabalho, o Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional Mayor de San Marcos em Lima, Universidade onde me coube a honra de ter trabalhado em carácter de Dedicação Exclusiva durante mais de 25 anos. Aí realizei toda a minha carreira Académica até chegar ao topo da categoria Docente Universitária. Como qualquer outra Universidade secular, a Universidade de San Marcos abrigou no seu seio personalidades de grande projecção na vida nacional e dignos representantes a nível Internacional. O meu percurso de investigação na Universidade, foi influenciado e bastante enriquecido graças ao apoio e incentivo que sempre encontrei aí desde o primeiro momento. Recordo bem o grande investigador, que me modelou um pouco e que sempre admirei, o Professor Doutor Héctor Colichón Arbulù, investigador nato, com grandes conhecimentos e enorme criatividade. Com ele trabalhei na área da Microbiologia Médica, adquirindo os primeiros conhecimentos acerca das bactérias responsáveis por diversos processos infecciosos no Homem, O interesse do estudo, naquela época, estava dirigido para uma bactéria, a Bartonella bacilliformis, que causa problemas graves de saúde, anemia e verrugas maciças em todo o corpo e que era de difícil crescimento laboratorial. A equipa de trabalho conseguiu criar e produzir um meio de isolamento e estudou-se a estrutura antigénica e a virulência da bactéria. Também estudámos o grupo das Enterobactérias, entre elas a Salmonella e Escherichia coli enteropatogénica, introduzindo testes rápidos de identificação para a sua classificação assim como estudos de metodologias novas para contagem de bactérias causadoras de infecções urinárias, entre outros. No Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil, onde fiz a Especialização, o Mestrado e mais tarde o Doutoramento em Microbiologia graças às Bolsas de Estudo atribuídas pela Organização Mundial de Saúde e Organização dos Estados Americanos, recebi toda uma bagagem riquíssima de conhecimentos nas diferentes áreas da Microbiologia, orientando os meus estudos de investigação nos Cocos Patogénicos Gram positivos, especificamente o Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e o grupo de Staphylococcus Coagulase Negativo. Nesses estudos contei com a orientação dos cientistas, Professores, C. Solé- Vernin da Universidade de São Paulo- na tese de mestrado- e de L. Benchetrit e E. Penido da Universidade Federal do Rio de Janeiro na tese de Doutoramento. Os trabalhos realizados com Staphylococcus aureus foram direccionados a estudos epidemiológicos utilizando marcadores biológicos tais como, bacteriófagos, antibióticos e agentes químicos que conseguiam distinguir com precisão as estirpes epidémicas hospitalares em casos de surtos, diferenciando bem a fonte da infecção. Quanto ao Staphylococcus Coagulase Negativo, este grupo de bactérias que aparentemente não é patogénico, pode, porém, estar implicado em infecções insidiosas de certa severidade, tais como endocardite sub-aguda, bacteriemias e infecções urinárias. Uma das suas

características é a tendência para adquirir resistência aos antibióticos. Estes microrganismos foram tema da minha tese de Doutoramento. Assim, utilizando um elevado número de cepas de origem infeccioso hospitalar, classificámos estas bactérias, aplicando métodos convencionais e de taxonomia numérica. Incluiu-se no estudo a detecção de enterotoxinas e resistência aos antibióticos. Este último aspecto das resistências, foi acrescentado com estudos de transferência genética por transdução entre estirpes e detecção de plasmídeos responsáveis dessa característica. Para me aperfeiçoar no estudo dos bacteriófagos de Staphylococcus aureus e outros detalhes da sua fisiologia, viajei a Bona, Alemanha, apoiada por uma Bolsa que ganhei da DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst). Aí, trabalhei no Instituto de Microbiologia e Imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Bona. Treinei-me na extracção, produção, estandardização e quantificação de bacteriófagos, no Laboratório de Referência Nacional de Fagotipagem de Staphylococcus aureus chefiado pelo Prof. Doutor H. Brandis, que na época era também Director desse importante Instituto. Mais tarde, com a finalidade de realizar outros estudos sobre a resistência genética no grupo dos Staphylococcus Coagulase Negativo e Staphylococcus aureus, viajei novamente para a Alemanha, ainda na fase da redacção da minha tese de Doutoramento, através de uma Bolsa concedida pela DAAD. Desta vez, o destino foi Munique, no Institut Botanik und Mikrobiologie der Technische Universitat Munchen. Trabalhei no Laboratório de Biologia Molecular, chefiado pelo Prof. S. Schleifer junto com o Prof. F.Gotz. Fizemos estudos de transferência genética por transformação, extracção e isolamento de plasmídeos para transferência intra e inter espécies de numerosas cepas de Estafilococos provenientes de processos infecciosos hospitalares e iniciei algumas técnicas de mapeamento genético. Concluído o tempo da Bolsa em Munique, regressei ao Brasil para a defesa da tese de Doutoramento. Quando voltei à minha Universidade, em Lima, Perú, organizei e formei o Primeiro Laboratório Nacional de Referência para Fagotipagem de Staphylococcus aureus no Instituto de Medicina Tropical. Este laboratório de referência foi reconhecido pelo Laboratório Internacional de Referência de Colindale, Londres, Inglaterra e contou com o suporte financeiro do Organismo Nacional Peruano de Apoio à Investigação por um projecto de investigação que ganhei por concurso. Funcionou como Serviço para a fagotipificação na identidade de estirpes responsáveis de surtos epidémicos e efectuámos também estudos epidemiológicos hospitalares.Durante este tempo vários jovens realizaram trabalhos experimentais de monografias para obtenção das suas Licenciaturas. Foram estas as últimas actividades de investigação que realizei no Perú. Investigação em Portugal Quando cheguei em 1991 ao -naquela época designado- Instituto Superior de Ciências Dentárias, convidada pelo, então Director, Professor Doutor Oliveira Torres, para leccionar aulas de Microbiologia no curso de Medicina

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Dentária, encarei essa oportunidade de trabalho como um novo desafio. Organizei o Laboratório de Microbiologia e, em cada viagem anual que fiz ao Perú, para férias, trouxe comigo variadas espécies microbianas doadas pelo meu antigo centro de trabalho, essenciais para o desenvolvimento das aulas práticas dos alunos, enriquecendo assim o nosso actual laboratório. Senti que seria impensável não unir a Docência à Investigação, mas esta teria que ser de interesse para a Medicina Dentária. Para isso tinha que sustentar-me em muita documentação bibliográfica, quase inexistente na altura. No Brasil, durante o período de especialização, tinha feito um curso teórico e prático de uma semana, sobre bactérias orais e fungos leveduriformes, especificamente orientado para a cárie e estomatite por Cândida albicans, mas por aí se ficavam os meus conhecimentos nessa área. No ano seguinte, decidi fazer uma escala no Brasil, aquando da minha viagem de férias ao Perú e através dos meus colegas Professores da UFRJ, consegui um livro editado nesse ano (1992) por Slots & Taubman, “Contemporary Oral Microbiology and Immunology”, que para mim foi um verdadeiro achado. O livro, continha tudo o que era importante conhecer da Microbiologia Oral e, aquilo que despertou ainda mais o meu interesse, foi verificar que os próprios autores dos diversos capítulos eram investigadores dos microrganismos orais e, portanto, muitas das descrições correspondiam aos resultados dos seus próprios estudos. Com este livro como base, pude diferenciar a minha disciplina em dois grandes capítulos, a Microbiologia Geral e a Microbiologia Oral. Consegui captar nesses tempos o entusiasmo e participação dos alunos de Medicina Dentária, nomeadamente, Cristina Coelho e Filomena Salazar. Esta última fez o seu trabalho de Proficiência, obrigatório naquela época para as Licenciaturas, sobre as infecções periodontais e análise microscópica para detecção das bactérias causais a partir de amostras clínicas. Outros alunos do curso também se interessaram pelas infecções orais provocadas por estes microrganismos, e alguns iam periodicamente ao laboratório para praticar ou mesmo para realizar os seus trabalhos de Proficiência para obtenção das suas Licenciaturas. Como é evidente este interesse demonstrado pelos alunos foi para mim extremamente estimulante e motivador na consecução de avanços que viessem a dar maior consistência ao Laboratório e, assim, poder dar um contributo ao Curso. Os trabalhos iniciais foram apresentados no Congresso do GIRSO (Groupment International pour la Recherche Scientifique en Stomatologie et Odontologie) realizado aqui, na cidade do Porto. Através das informações obtidas acerca dos Laboratórios de Microbiologia Oral existentes a nível europeu, a Direcção do Instituto apoiou-me no estabelecimento de contactos (1995) com o Laboratório de Bacteriologia Bucal da “Faculté de Chirurgie Dentaire- Université Paul Sabatier”, Toulouse, França, liderado pela Professora D. Duffaut-Lagarrigue. A partir desse momento, e para reforçar o contacto, estabeleceu-se um protocolo entre ambas as entidades. Desta maneira, viajei periodicamente a Toulouse, com a finalidade de conhecer as técnicas e obter as referências bibliográficas

necessárias, o que nos permitiu entender melhor a importância do diagnóstico microbiológico na etiologia da doença periodontal. Conscientes da necessidade de ter apoio científico-financeiro para desenvolver os nossos trabalhos laboratoriais submetemos, em 1995, um projecto de investigação a concurso para estudar os microrganismos causadores de doenças infecciosas buco-dentárias que apresentamos à Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT). Infelizmente não foi aprovado. Com base nos contactos estabelecidos com a Universidade de Toulouse, Cristina Coelho, já licenciada em Medicina Dentária e Assistente de Microbiologia inscreveu-se em 1997-98 como aluna de Doutoramento nesta Universidade, apoiada por uma Bolsa de PRODEP. Iniciou o trabalho experimental no nosso laboratório sob a orientação da Professora Duffaut e de mim própria. Em Julho de 2002, defendeu sua Tese intitulada “Actinobacillus actinomycetemcomitans et Capnocytophaga, dans le système écologique buccal chez dês individus sains et dês patients porteurs de parodontite”. Este trabalho foi apresentado no mesmo ano, num Congresso de Periodontologia em Lisboa. Estão sendo trabalhados os artigos para publicação. A propósito de um evento de Medicina Dentária em 1996, na cidade de Lisboa, tivemos conhecimento que o prestigioso cientista Professor Doutor J. Slots iria participar com uma palestra. Resolvemos, o grupo de Microbiologia e o grupo de Periodontologia, este a cargo do Professor José Júlio Pacheco, enviar-lhe um convite para a realização de um curso Teórico e Prático de Microbiologia Oral no nosso Instituto, convite que gentilmente aceitou. Daí em diante, semana a semana, preparámos a organização do curso, que se realizou em Junho de 1998. O Professor Slots veio com outro cientista, colaborador, Doutor Adolfo Contreras. Este curso teve enorme êxito e nele participaram profissionais dentistas e Professores de várias Universidades, assim como os alunos do nosso curso, facto que agradou muito o Professor Slots. Todas as metodologias actuais de identificação das bactérias periodontopatogénicas foram feitas nas aulas práticas, desde métodos convencionais até sondas de ADN e PCR. Foram utilizadas nas práticas, amostras clínicas directamente obtidas de pacientes da Clínica Dentária pelo próprio Professor Slots. Este curso teve enorme êxito e recebeu amplo apoio do nosso Instituto, da CESPU e de diversas entidades, entre elas a FCT, Indústria Farmacêutica, Firmas que fornecem equipamentos e materiais laboratoriais entre outras ajudas valiosas. O Curso encerrou com uma Mesa Redonda integrada pelo Professor Slots, Professora Duffaut, da Universidade de Toulouse, Professor Alcoforado da Universidade de Lisboa, Professor José Júlio Pacheco e eu. No acto de encerramento, o Professor Slots fez um reconhecimento público pela forma como foi conduzido este curso. Posteriormente desloquei-me à Califórnia, ao laboratório de Microbologia Oral chefiado pelo Professor Slots na “University Southern of Califórnia”, onde permaneci por um mês. Participei nos trabalhos que aí realizam, a partir de amostras clínicas periodontais de diversas cidades da América. Nessa altura foi feita uma análise por PCR para

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a detecção de vírus a partir da amostra de uma paciente com a Doença de Papillon-Lèfevre, já examinada na Clínica Dentária da nossa escola na altura do curso. Este caso mereceu a publicação de dois artigos numa revista conceituada de Periodontologia. Um outro trabalho de Tese de Doutoramento, no qual uma parte do estudo microbiológico foi realizado no nosso laboratório e outra parte no Laboratório de Microbiologia liderado pelo Professor Doutor Miguel Vinhas da Universidade de Barcelona, e que está prestes a ser defendido na Universidade de Barcelona, é a de Filomena Salazar, Licenciada em Medicina Dentária no nosso Instituto e Assistente da Disciplina de Periodontologia. Esta Tese está sob a minha orientação e do Prof. J.J. Pacheco. A tese intitula-se “Uma contribuição para o conhecimento das periodontites no Norte de Portugal- Aspectos Clínicos e Microbiológicos”. Alguns dos resultados foram apresentados num Congresso em Santiago de Compostela no ano passado. Por último, sob conhecimento e indicação do Professor Doutor Joaquim Moreira, Director do Curso de Medicina Dentária, tenho vindo a orientar a Tese de Mestrado em Sáude Pública de Marta Mendonça Moutinho Relvas, Licenciada em Medicina Dentária pelo ISCS-N. É aluna do Mestrado de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. A tese, cujo título é “Cárie: uma doença multifactorial” tem várias vertentes, entre elas a microbiológica, e encontra-se em fase de redacção. Estamos a preparar dois trabalhos para serem apresentados em próximos Congressos. Finalmente gostaria de sublinhar que estes trabalhos foram e são realizados com materiais fornecidos pela própria Instituição. Por isso, gostaríamos de expressar o nosso sincero reconhecimento pelo apoio recebido por parte do Director do Instituto, Professor Doutor Jorge Proença, do Director do Curso de Medicina Dentária, Professor Doutor Joaquim Moreira e da Administração CESPU, na pessoa do seu Presidente, Professor Doutor António Almeida Dias. É minha esperança que para realçar ainda mais o brilho que a Instituição tem, graças à gestão, dedicação e empenho dos seus responsáveis, venham também a ser definidas estratégias e linhas de investigação que nos diferenciem e destaquem. Será muito saudável para todos e, unindo esforços, estou segura que veremos a nossa Instituição no rumo da Investigação que ansiamos.

Corsina Velazco Henriques

O estudo da Imunologia no ISCS-N: o início de um percurso Desde o início do meu doutoramento tenho exercido investigação na área da Imunologia. Mais especificamente, tenho estudado o papel dos linfócitos T e de moléculas do complexo major de histocompatibilidade classe I (MHC-I) clássicas (HLA) e não clássicas (HFE, CD1d) em relação com a sobrecarga de ferro e a infecção pelo vírus da hepatite C. Nestas duas doenças incidi o meu estudo no órgão

principalmente afectado, o fígado. Como é comum no conhecimento científico, quando se começa a estudar algo mais aprofundadamente, o interesse cresce à medida que se progride na investigação pois mais nos apercebemos do quão pouco sabemos. Assim foi comigo no que respeita ao Sistema Imunológico, aos linfócitos T e ao fígado. Inúmeras questões sobre estes temas permanecem por explorar. Qual o papel dos hepatócitos na diferenciação dos linfócitos T? Qual o papel das moléculas MHC-I na regulação da diferenciação e nas propriedades efectoras dos linfócitos T? Poderia enumerar muitas outras questões que carecem de investigação, mas limito-me a expor estas, uma vez que estão subjacentes ao que tenho realizado nos últimos meses e ao que tenciono continuar a realizar no futuro. Recordo os tempos de doutoramento como uma benesse para a realização do sonho de investigar: tive a sorte de ser paga para fazer o que gosto (com uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia, FCT); e além disso essa é uma altura em que não nos temos de preocupar demasiado com o financiamento, que fica da responsabilidade de quem nos orienta. Mas findo esse período, surgiu a oportunidade de leccionar no ensino superior, algo que também me agrada bastante. A coordenação das responsabilidades de docência (no ISCS-N) e investigação (no Instituto de Biologia Molecular e Celular, IBMC), acrescidas das então novas responsabilidades de maternidade, tornou difícil ter “três vidas” em três locais distintos: o ISCS-N, o IBMC e o lar. Foi assim que comecei a levar a cabo algumas experiências aqui no ISCS-N. Fruto do início do projecto de investigação do Grupo de Biologia Molecular e Celular (GBMC), a existência de um laboratório com o equipamento necessário para efectuar experiências de Bioquímica e Biologia Molecular e Celular, permitiu-me encetar alguma investigação aqui. Esta investigação teve portanto o apoio do ISCS-N e a colaboração do Doutor Fernando Arosa, do IBMC, que faz investigação na área da biologia dos linfócitos T. De realçar também a existência no Instituto de um citómetro de fluxo, aparelho imprescindível para um imunologista. Neste projecto, o principal objectivo tem sido estudar o papel dos hepatócitos e da IL-15 na activação e sobrevivência dos linfócitos T. Aqui, pudemos ver que a linha celular de hepatócitos HepG2 expressa esta citocina assim como o receptor IL-15Ra ao nível de mRNA. O meu interesse pelos linfócitos T e pelas moléculas MHC-I na Saúde em geral, levaram-me a escrever um projecto para me candidatar a financiamento da FCT, relacionado com o papel destes agentes na doença da artrite reumatóide. Em variadas respostas imunológicas existe uma diferença intrigante entre os sexos masculino e feminino. Poderão o estrogénio e as moléculas MHC-I (que além das conhecidas propriedades clássicas na apresentação de antigénios, podem desempenhar um papel regulador de receptores à superfície das células1) estar implicados neste dimorfismo sexual, nomeadamente no que diz respeito à artrite reumatóide, via regulação de sinalização dos linfócitos T2? Para responder a esta questão foi submetido um projecto à FCT em colaboração com o Doutor Fernando Arosa e

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com outro docente desta Instituição, o Dr. Domingos Araújo, médico reumatologista. Aguardamos resposta sobre o pedido de recurso apresentado à FCT. Nos tempos difíceis que correm para quem quer fazer investigação, a esperança e o sonho têm ainda lugar em mim. O futuro é no entanto uma incógnita… 1. Stagsted (1998). Journey beyond immunology. Regulation of receptor internalization by MHC-I and effect of peptides derived from MHC-I. APMIS Suppl 85:1. 2. Santos SG, Powis SJ, Arosa FA (2004). Misfolding of major histocompatibility complex class I molecules in activated T cells allows cis-interactions with receptors and signaling molecules and is associated with tyrosine phosphorylation. J Biol Chem 279: 53062-70.

Elsa Cardoso O Grupo de Biologia Molecular e Celular

Neste número do ISCS-Notícias dedicado à Investigação Científica no Instituto, tem lugar a apresentação do Grupo de Biologia Molecular e Celular (GBMC) que funciona no laboratório de Investigação nas instalações do edifício IV. O grupo iniciou a sua actividade de investigação intramurus há um ano, após idêntico tempo para instalação. Como é que nasceu o Grupo de Biologia Molecular e Celular, GBMC? A criação do GBMC é o culminar de um trabalho de colaboração há já uma década com a Elsa Logarinho no laboratório de Genética Molecular do IBMC (Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto) liderado pelo Prof. Doutor Claudio Sunkel. Na altura eu era um pós-doutorado e a Elsa uma aluna de doutoramento. Durante a investigação do dia a dia, nasceu uma cumplicidade científica que se traduziu em várias publicações em conjunto, pelo que a ideia de trabalhar juntos num laboratório nosso foi surgindo naturalmente. Numa era em pleno e rápido desenvolvimento como a da Biologia Molecular, a ideia de nos juntarmos pareceu-nos a mais sensata. Também tínhamos uma ideia bem clara das linhas de investigação a seguir. A ideia foi exposta ao Director do Instituto, Prof. Doutor Jorge Proença, que a acolheu com agrado, manifestando logo o seu apoio. O Prof. Doutor Vítor Seabra, na dupla qualidade de Director do Instituto, em substituição do Prof. Doutor Jorge Proença, e de responsável do gabinete de Investigação e Desenvolvimento (I&D) junto à CESPU, teve um papel crucial. Qual é a a composição do GBMC? O Grupo é composto por três investigadores: Elsa Logarinho (Prof. Auxiliar do ISCS-N, Regente de Biologia Molecular e Genética) e Hassan Bousbaa (Prof. Associado do ISCS-N, Regente de Biologia Celular), e uma bolseira de investigação, Tatiana Resende, licenciada em Biologia Aplicada pela Faculdade de Ciências de Lisboa. Acolhemos alunos dos diversos cursos do Instituto curiosos em saber o que investigamos, chegando mesmo

alguns a estagiar no laboratório dentro da disponibilidade que o horário lectivo lhes permite. Neste momento, encontra-se a estagiar a aluna Ângela Andrade Campos, do 5º ano de Ciências Farmacêuticas. Também recebemos, em visitas de estudo, alunos das escolas do ensino secundário.

O que investigamos? Erros durante a divisão celular podem conduzir a uma incorrecta partilha do material genético entre as células filhas. É sabido que cromossomas a mais ou a menos no genoma (aneuploidia) são associados às anomalias genéticas no recém-nascido e também ao desenvolvimento de vários tipos de cancro no homem. É por isso que investigamos a via de sinalização que regula a integridade da divisão celular (ver também artigo “Cromossomas sob tensão”). Esta via, conhecida por checkpoint mitótico, monitoriza as interacções entre os microtúbulos do fuso mitótico bipolar e os cinetocoros, estrutura proteica que se estende desde o centrómero e que permite a ligação dos cromossomas aos microtúbulos. Quando ocorre um erro na ligação microtúbulos-cinetocoro, o checkpoint mitótico detecta-o e atrasa o andamento da mitose, impedindo assim a separação das duas cópias dos cromossomas, ou cromátidas irmãs, até que o erro seja corrigido. O mecanismo molecular do checkpoint mitótico não está completamente explorado. Nesse sentido focamos a nossa investigação sobre três questões específicas: 1) como é que um erro na ligação microtúbulos-cinetocoro activa o checkpoint mitótico?; 2) como é que o sinal inibidor é gerado e depois propagado através de toda a célula?; e 3) haverá mais proteínas cinetocorianas para além das já conhecidas? Para responder às duas primeiras perguntas utilizamos a estratégia do silenciamento de genes por RNAi (RNA de interferência, para saber mais ver artigo no Nº0 do ISCS-Notícias) e a análise microscópica e molecular do fenótipo resultante, em células humanas em cultura. A resposta à 3ª pergunta é abordada através de uma

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análise proteómica. Pensamos que a elucidação destes aspectos contribuirá significativamente para a compreensão dos mecanismos que levam à transformação de uma célula normal em célula tumoral, bem como para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para combater/prevenir o cancro. Qual é a fonte de financiamento do GBMC? O projecto de investigação em fase de execução no laboratório tem financiamento da FCT- Fundação para a Ciência e para a Tecnologia. Este financiamento contempla uma bolsa de investigação (BI). Por seu lado, a CESPU garante a logística do funcionamento, e tem assegurado as condições necessárias para o normal desenvolvimento do referido projecto. Deve-se reconhecer que a CESPU tem demonstrado uma postura de interesse pela investigação científica no seio do ISCS-N. Mantemos ainda a esperança de uma resposta positiva a um projecto submetido à FCT por Elsa Logarinho como investigadora principal. Agradecimentos. Aproveitamos esta oportunidade para agradecer, pela primeira vez, o apoio efectivamente dado pelas estruturas do Instituto, nomeadamente à Direcção do Instituto na pessoa do Prof. Doutor Jorge Proença, à Direcção do Departamento de Ciências Farmacêuticas e ao Gabinete I&D na pessoa do Prof. Doutor Vítor Seabra, à Direcção de Administração da CESPU na pessoa do Prof. Doutor António Almeida Dias. A todos, pessoal docente e não docente, que diariamente prestam a sua ajuda. Recebemos com muito agrado a notícia da aprovação de mais um projecto de investigação para financiamento pela FCT que envolve três dos nossos colegas, o Prof. Doutor António Ribeiro, a Profª. Doutora Roxana Moreira e o Prof. Doutor Vitor Seabra. Espero que seja o início de uma nova era no Instituto: a da produção de conhecimento através da Investigação Científica que dignifica qualquer Instituição de Ensino Superior.

Hassan Bousbaa Laboratório de Investigação

Grupo de Biologia Molecular e Celular Cromossomas sob tensão Distribuir metade de cada cromossoma replicado com precisão para ambas as células filhas é o principal desafio que se impõe a uma célula em divisão. Alguns mecanismos inerentes a este processo começam agora a ser evidentes, e apontam para que seja a tensão mecânica entre as duas cromátidas de um cromossoma replicado o aspecto crucial na correcta orientação e distribuição cromossómica. Esta é a área de investigação sobre a qual me debruço, bem como o grupo de investigação GBMC do ISCS-N. No início da divisão celular (mitose), os cromossomas estão dispostos aleatoriamente. As suas duas cromátidas irmãs constituintes, cada uma contendo uma das duas moléculas de ADN iguais produzidas durante a

replicação, têm que ser orientadas de tal modo que possam ser separadas para direcções opostas, ou seja, para as duas células filhas. Para segregar cromossomas, as células eucarióticas formam fusos, arranjos bipolares de polímeros de microtúbulos (MTs) formados a partir da proteína tubulina. Os MTs do fuso ligam-se a um complexo multiproteico existente em cada cromátida, o cinetocóro. Quando a mitose inicia, os MTs começam um processo de procura e captura dos cinetocóros. A fidelidade da segregação cromossómica em mitose requer a ligação anfitélica dos cinetocóros irmãos a MTs provenientes de pólos opostos do fuso (bi-orientação). Mas sendo a ligação dos cinetocóros um processo aleatório, é propensa a erro, podendo resultar em má orientação cromossómica e aneuploidia, factores que estão na origem de cancros e malformações fetais. Erros de ligação são aqueles em que apenas uma cromátida está ligada ao fuso (ligação monotélica), em que ambas as cromátidas estão ligadas a MTs do mesmo polo (ligação sintélica), ou em que uma cromátida está ligada simultaneamente a MTs de polos opostos (ligação merotélica) (Fig. 1). No entanto, embora estes erros de

ligação ocorram frequentemente, são quase sempre corrigidos antes da fase de segregação cromossómica pelas células filhas (anafase). Apesar de os mecanismos de detecção e resolução dos problemas de orientação estarem ainda pouco compreendidos, encontra-se bem estabelecido que um mecanismo de escrutínio, o “checkpoint” mitótico, atrasa a anafase até que todos os cromossomas bi-orientem correctamente1. A anafase é iniciada pelo complexo promotor da anafase (APC): uma enzima ligase de ubiquitina que promove a dissolução da união entre as cromátidas irmãs. Mas enquanto existir um erro de ligação, a activação do APC é suprimida pelo sistema de transdução de sinal do checkpoint mitótico. Cinetocóros que não estejam ligados apropriadamente ao fuso recrutam as proteínas Mad2, Bub1, Bub3 e BubR1, entre outras, que geram uma cascata sinal que actua ultimamente para inibir o APC. Recentemente, estudámos quais os aspectos da interacção cinetocóro-microtúbulos capazes de desencadear a activação desta

Ligação monotélicaCheckpoint ON

Ligação anfitélicaCheckpoint OFF

Ligação merotélicaCheckpoint ON

Ligação sintélicaCheckpoint ON

tensão

Figura 1. A fidelidade da segregação cromossómica em mitose requer a ligação anfitélica dos cinetocóros irmãos a MTs provenientes de pólos opostos do fuso (bi-orientação). O checkpoint mitótico é o mecanismo de escrutíneo que detecta as ligações incorrectas quer monitorizando a ausência de ligação a MTs (ligação monotélica), quer a ausência de tensão entre os cinetocóros irmãos (ligação sintélica e ligação merotélica).

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cascata sinal2. Mais concretamente, analisámos o comportamento das proteínas de checkpoint Bub1, Mad2, Bub3 e BubR1 em resposta quer à ocupação insuficiente dos cinetocóros por MTs quer à ausência de força de tensão entre os cinetocóros irmãos, uma força gerada pelo facto das cromátidas irmãs estarem unidas quando puxadas pelos MTs de pólos opostos. Para se analisar o comportamento na ausência de tensão, tratámos as células com taxol, uma droga que em pequenas doses interfere com a dinâmica dos MTs suprimindo os efeitos de tensão nos cromossomas bi-orientados, sem no entanto afectar a ocupação dos cinetocóros pelos MTs. Nestas condições, verificámos que apenas as proteínas BubR1 e Bub3 se acumulam nos cinetocóros. Para se analisar o efeito da tensão na ausência de MTs, analisou-se a localização cinetocórica destas proteínas em células lisadas com detergente antes da fixação. Apesar da ausência de MTs nestas células, é possível simular-se o efeito da tensão mediante fosforilação de proteínas cinetocorianas, um sinal químico que nas células vivas responde directamente à tensão- cinetocóros sob tensão são desfosforilados. Observámos que, na ausência de MTs, as proteínas Mad2 e Bub1 se localizam nos cinetocóros independentemente do estado de fosforilação (ou seja, de tensão), mas que as proteínas BubR1 e Bub3 só se localizam em cromossomas fosforilados. Concluiu-se que as diferentes proteínas monitorizam diferentes aspectos da interacção do cinetocóro com o fuso: Mad2 e Bub1 respondem à falta de MTs, e BubR1 e Bub3 respondem à falta de tensão (Fig. 2).

Estudos de micromanipulação cromossómica em células vivas3 forneceram a primeira evidência de que a tensão entre dois cinetocóros- gerada apenas no estado bi-orientado- descrimina entre ligações bi-orientadas e sintélicas. Contudo, estes estudos foram conduzidos em células em meiose I, a primeira divisão da gametogénese. Durante esta fase, dois cromossomas homólogos e não

duas cromátidas são ligados a pólos opostos, pelo que a relevância deste trabalho em mitose permaneceu obscura. Estudos em cromossomas mitóticos mostraram que os cinetocóros de cromátidas irmãs apontam em direcções opostas independentemente de estarem ligados a MTs. Assim, quando um cinetocóro se liga ao fuso, pode forçar geometricamente o cinetocóro irmão a apontar para o pólo oposto e deste modo prevenir a sintelia. Mas um trabalho recente, no qual foram induzidas ligações sintélicas frequentes em mitose, sugere a existência de mecanismos adicionais capazes de assegurar a bi-orientação e que dependem da actividade de uma proteína cinase (enzima que fosforila outras proteínas), conservada em eucariotas, designada Ipl1/Aurora B4. Consistentemente, estudos em levedura mostraram que a tensão gerada na ligação física entre cinetocóros bi-orientados juntamente com a actividade Ipl1/Aurora B, e não uma arquitectura cromossómica específica, são suficientes para assegurar a ligação correcta das cromátidas irmãs5. Neste trabalho, foi construído um minicromossoma artificial circular com dois cinetocóros. Apesar de se tratar de uma única molécula de ADN, este cromossoma bi-orienta eficazmente demonstrando que a ligação física entre dois cinetocóros é suficiente para que se gere tensão. A actividade cinase Ipl1/Aurora B é necessária para remover as ligações sintélicas, quer em levedura quer em vertebrados, e o mecanismo parece envolver a detecção de ausência de tensão e despolimerização coordenada dos MTs ligados aos cinetocóros, de modo a libertar o cromossoma da sintelia e permitir a activação do checkpoint mitótico até que esse cromossoma bi-oriente. Com base nos nossos resultados e nestas importantes observações, o passo seguinte será a compreensão a nível molecular dos mecanismos de correcção: Como é detectada a tensão? Quais as proteínas cinetocorianas cuja fosforilação é sensível à tensão? Como está relacionada a detecção de tensão pelas proteínas de checkpoint com a actividade cinase Aurora B? Quais os substratos da cinase Aurora B que uma vez fosforilados promovem a despolimerização de MTs? Porque todos estes aspectos carecem de estudo, e porque a sua elucidação é de grande repercussão na área da Oncobiologia, eu e o Prof. Hassan submetemos um projecto à Fundação para a Ciência e Tecnologia, o qual esperamos venha ainda a ser aprovado, e estamos confiantes vir a encontrar em breve algumas das respostas como fruto do trabalho de investigação do grupo GBMC a decorrer já no ISCS-N.

Elsa Logarinho Laboratório de Investigação

Grupo de Biologia Molecular e Celular

1. Nicklas RB (1997). Science 275: 632-7. 2. Logarinho E, Bousbaa H, Dias JM, Lopes C, Amorim I, and Sunkel CE (2004). J Cell Sci 117: 1757-71. 3. Nicklas RB and Koch CA (1969). J Cell Biol 43, 40–50. 4. Lampson MA, Renduchitala K, Khodjakov A and Kapoor TM (2004). Nature Cell Biol 6, 232–237. 5. Dewar H, Tanaka K, Nasmyth K & Tanaka TU (2004) Nature 428, 93–97.

P

P P

P

Cromossomas não ligados

Mad2 Bub1

P

P P

P

Cromossomas mono-orientados

PP

P P

Cromossomas bi-orientadossob tensão

BubR1Bub3

P

P P

PP

P P

P P P

P P

Cromossomas bi-orientados sem tensão (+ taxol)

Figura 2. Diferentes proteínas do checkpoint mitótico monitorizam diferentes aspectos da interacção do cinetocóro com o fuso: Mad2 e Bub1 acumulam em cinetocóros que carecem de ligação a microtúbulos, mas estão ausentes em cinetocóros ligados mas sem tensão; enquanto BubR1 e Bub3 localizam nos cinetocóros em resposta à falta de tensão, mais concretamente, em resposta à fosforilação de epítopos cinetocorianos dependente da ausência de tensão. Uma vez bi-orientados, os cromossomas deixam de acumular estas proteínas nos cinetocóros cessando, desse modo, a emissão de sinal para activação do checkpoint mitótico.

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Investigação Científica no ISCS-N

Quando os editores deste boletim me abordaram para escrever umas linhas sobre o trabalho científico que tenho a decorrer, em colaboração com outros colegas, considerei o seu propósito de grande utilidade já que é do interesse de todos, colegas docentes, funcionários e alunos, saber a natureza das iniciativas científicas que estão em curso na nossa Instituição. Assim, e de forma muito sucinta, vou tentar divulgar o âmbito do nosso estudo, que abarca como temas principais a Saúde e o Ambiente e usa como métodos de trabalho diversas tecnologias, como sejam as histológicas e microscopia electrónica (e.g. detecção citoquímica e observação de organelos alvo), as bioquímicas (e.g., ensaios enzimáticos, entre outros) e as químicas (identificação e quantificação de compostos orgânicos em misturas biológicas complexas). Objectivando estes propósitos, posso dizer que nos interessa verificar se no ambiente que nos rodeia (estudo das águas de um rio tipo localizado na zona de implantação da nossa Escola) existem, ou não, determinados poluentes ambientais, já encontrados em vários rios europeus situados perto de regiões industrializadas1,2. Estes poluentes, vulgarmente divididos em três categorias, Farmacêuticos, Industriais e Naturais, são, infelizmente, quase todos nocivos para a saúde, mesmo em concentrações muito baixas (ng/mL). Portanto, o nosso interesse recai sobre alguns disruptores endócrinos. Como em Portugal, ao contrário de outros países europeus, não existe um controlo ambiental sistemático de alguns importantes poluentes este aspecto torna-se por si só objecto do nosso trabalho. Além disso, no caso de certas classes de disruptores endócrinos existem ainda relativamente poucos estudos, principalmente referentes a poluentes naturais. Este facto é extremamente grave, pois alguns destes compostos, ainda que sejam de origem natural (produzidos por plantas e potencialmente eliminados em excesso na indústria do móvel e culturas animais), apresentam uma potência e toxicidade muito superior à dos compostos orgânicos sintetizados pelo Homem3. Como, este se encontra no topo da cadeia alimentar, não é de estranhar que todos os efeitos nefastos encontrados no ambiente acabem por se reflectir também na sua saúde. Se nos for questionado qual a principal causa da toxicidade destes compostos podemos dizer, sem qualquer sombra de dúvida, que é a sua estrutura química. No caso de alguns compostos, esta torna-os muito semelhantes às hormonas sexuais produzidas nas gónadas (ovários e testículos) da maior parte dos vertebrados. Este facto, confere-lhes a capacidade de conseguirem invadir a maior parte dos sistemas biológicos de forma muito rápida e eficaz introduzindo-lhes alterações, que na maior parte dos casos, são extremamente prejudiciais. A semelhança com os estrogénios endógenos é tão grande que são quase sempre designados de xenoestrogénios. Vários estudos publicados nos últimos anos demonstraram que grande parte destes xenoestrogénios (o nosso estudo abarca mais de uma dúzia de poluentes distribuídos entre os três grupos atrás referidos) têm actividade reconhecidamente cancerígena, enquanto outros são responsáveis por produzirem infertilidade e/ou produzirem malformações congénitas muito graves. Concretizando, pensa-se que estes compostos promovem, em organismos aquáticos: 1- modificação do padrão

normal da síntese e metabolismo hormonal com inevitável ocorrência de desequilíbrios dos ciclos reprodutivos (hermafroditismo, infertilidade ou nascimentos múltiplos); 2- ligação destes poluentes aos mesmos receptores endógenos que se tornam incapazes de executarem as suas funções normalmente; 3- aumento do número de receptores celulares com incremento significativo da resposta hormonal (disfunções sexuais graves e actividade cancerígena); 4-modulação endócrina. Neste processo, ocorrem modificações nas mensagens normalmente produzidas pelas hormonas endógenas e originam-se alterações das actividades celulares (actividade cancerígena)4. Paradoxalmente, os compostos naturais quando controlados dentro de certos limites de concentração têm uma acção biológica benéfica, i.e., actuam como anti-tumorais limitando não só a proliferação de células cancerosas (mama e próstata) como contrariam a libertação de radicais livres5,6 …. Que mecanismos biológicos estão por de trás deste fenómeno? Até à data muito pouco se sabe, pelo que o nosso estudo também se irá concentrar nesta área. Assim, e após determinarmos o tipo e quantidades de poluentes existentes no nosso “habitat” alvo, iremos avaliar os parâmetros biológicos referidos anteriormente, usando como modelo de estudo um animal aquático. Como agentes agressores, usaremos os compostos previamente encontrados. Este tipo de estudos, de natureza bioquímica, serão realizados in vitro (placas com meios de incubação) e mais tarde in vivo. Ambos os resultados serão comparados, já que nunca devemos pensar que um produto sendo tóxico in vitro o será também, pelo menos de forma inevitável, in vivo; a possibilidade do fígado converter poluentes em produtos menos agressivos e/ou até inócuos é sempre uma hipótese plausível. Por isto, estudos de toxicidade hepática associados ao processo metabólico irão também ser levados a cabo, focando vias por nós já estudadas7. Neste projecto global, está integrado o trabalho conducente ao grau de Doutor de uma docente do ISCS-N, pelo que gostava de realçar que parte do financiamento do mesmo está a cargo de uma entidade estatal, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). No entanto, sem o suporte da nossa Instituição, que tem vindo cada vez mais a incentivar os docentes a concorrerem a bolsas e a projectos, nunca seria possível cumprir o nosso complexo plano de trabalhos. Por isto, e para finalizar, sinto aqui a necessidade de expressar o meu agradecimento ao apoio incondicional dado pela Direcção do nosso Instituto ao trabalho aqui resumidamente apresentado.

Maria João Rocha Profª Associada do Departamento

de Ciências Farmacêuticas 1. Spengler P, Korner W and Metzger JW (2001). Enviro Toxicol Chem 20(10): 2133-2141. 2. Korner W, Spengler P, Bolz U, Schuller W, Hanf V and Metzger JW (2001). Environ Toxicol Chem 20(10): 2142-2151. 3. Arukwe A (2001). Marine Pollution Bulletin 42(8): 643-655. 4. Thibaut R, Debrauwer L, Perdu E, GoksØyr A, Craverdi JP and Arukwe A (2002). Aquat Toxicol 56 : 177-190. 5. Whitehead SA, Cross JE, Burden C and Lacey M (2002). Human Reprod 17(3): 589-594. 6. Whitehead SA and Lacey M (2003). Human Reprod 18(3): 487-494. 6. Rocha MJ, Rocha E, Resende AD and Lobo-da-Cunha A (2003). BMC Biochem 4: 2 (http://www.biommedcentral.com/1471-209/4/2).

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Divulgação Científica Notícias da Ciência e Tecnologia 2005, o Ano Internacional da Física 2005 foi declarado o Ano Internacional da Física. É uma preocupação justificada face ao declínio no interesse pela Física a nível mundial, apesar do seu papel vital no desenvolvimento da ciência e tecnologia que caracterizam o mundo moderno.

É uma bela homenagem que coincide com o centenário dos trabalhos de Albert Einstein sobre a teoria da relatividade, a teoria quântica e do movimento browniano, publicados num mesmo ano (o Ano do Milagre) na prestigiosa revista científica alemã Annalen der Physik. Sarah Tomlin (2005). 2005: Year of Physics: So, what's your theory? Nature 433: 8. Terapias de RNAi entram na fase de ensaios clínicos O princípio da terapia génica tradicional baseia-se na reposição do gene cuja ausência é responsável pela doença. Este princípio sofreu ultimamente uma inversão: a terapia génica pode ser utilizada com o objectivo de silenciar genes que desobedecem a uma regulação normal. A estratégia do silenciamento génico baseia-se nas vantagens de uma técnica chamada RNA de interferência (RNAi) que destrói de maneira específica o mRNA alvo, eliminando assim a proteína codificada pelo mesmo. Esta acção destrutiva passa por pequenos fragmentos (21 nucleotídeos em média) de RNA de cadeia dupla, designados siRNA (short interfering RNA), capazes de levar um complexo enzimático (RISC) até ao mRNA alvo, reconhecido por emparelhamento de bases complementares, induzindo a sua degradação pelas enzimas do complexo (ver figura). A técnica funciona principalmente em células de cultura de vários organismos. Mas foi só a partir de 2002 que os investigadores chegaram à conclusão que a técnica de RNAi poderia, com sucesso, interferir in vivo com a produção de proteínas nos mamíferos. Um dos obstáculos que a terapia de RNAi precisa de ultrapassar, aliás partilhados com a terapia génica tradicional, é a questão do alvo celular, i.e., como direccionar os siRNAs até ao tecido onde supostamente deverão actuar. Mas o facto de que a injecção local dos

siRNAs, directamente no tecido alvo, parece resultar pelo menos nos animais do laboratório, abre expectativas para o futuro deste tipo de terapia. De qualquer modo, devido à sua alta especificidade, eficácia e estabilidade,

vários investigadores do mundo inteiro estão a dedicar um esforço significativo com vista a desenvolver estratégias de terapias de RNAi. Está em vista uma variante desta abordagem terapêutica que consiste em transfectar (introduzir dentro da célula) células estaminais com vectores virais capazes de produzir siRNA anti-HIV, para depois as reintroduzir no paciente com a expectativa de que se desenvolvam em células sanguíneas maduras, capazes de travar a infecção pelo HIV. Robinson R (2004). RNAi Therapeutics: How Likely, How Soon? PLoS Biol 2(1): e28. Sobreviver, comendo-se Como é que os bébés de mamíferos se alimentam depois de perderem a placenta, única fonte de alimentação? É que os primeiros nutrientes provenientes do leite demoram a aparecer, o que implicaria um início difícil, até arriscado, da vida extra-uterina. A resposta veio de um estudo feito em murganhos recém-nascidos. Um processo celular conhecido por autofagia é desencadeado imediatamente após o nascimento e actua durante várias horas. Durante a autofagia, a célula degrada os componentes do seu próprio citoplasma dentro de pequenos sacos ou autofagossomas. Murganhos com alterações genéticas que impedem a formação de autofagossomas morrem dentro de um dia após o nascimento, com níveis de aminoácidos muito reduzidos. Isto quer dizer que a primeira fonte de energia e de produção de proteínas é a autofagia. Kuma A, Hatano M, Matsui M, Yamamoto A, Nakaya H, Yoshimori T, Ohsumi Y, Tokuhisha T, and Mizushima N (2004). The role of autophagy during the early neonatal starvation period. Nature 432: 1032–1036. O potencial de regeneração apesar da idade O poder de regeneração dos tecidos é mais acentuado nos indivíduos jovens do que nos idosos. Mas será que este declínio na regeneração com a idade é irreversível? A

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resposta é não, conforme mostra um estudo recentemente publicado na revista Nature. Cruzando a circulação sanguínea de dois murganhos, um jovem e outro idoso, a equipa de investigação liderada pelo Prof. Rando observou que as propriedades regenerativas do músculo e do fígado do animal idoso rejuvenesceram graças ao soro do animal jovem. Este “banho de juventude” na regeneração alargou-se também às moléculas que controlam a proliferação (Notch no caso do músculo, e cEBP� no caso do fígado) que foram restauradas nos tecidos do animal idoso. Estes resultados sugerem que as células estaminais (stem cells) e progenitoras retêm o potencial proliferativo mesmo quando estão “velhas”, e que o padrão jovem da sinalização molecular pode reactivar a regeneração dos tecidos. Conboy IM, Conboy MJ, Wagers AJ, Girma ER, Weissman IL, and Rando TA (2005). Rejuvenation of aged progenitor cells by exposure to a young systemic environment. Nature 433: 760–764.

Hassan Bousbaa

Os Antibióticos e o Impacto na Evolução Bacteriana Actualmente, fala-se muito sobre a correcta utilização dos antibióticos com fins terapêuticos. Centenas de trabalhos científicos demonstram que esta utilização pode ser prejudicial ao Homem quando não utilizados apropriadamente, podendo ainda acrescentar problemas na Saúde do paciente. Num interessante artigo abordado por Baquero e colabs1 acerca do efeito dos antibióticos sobre as bactérias, os autores analisam com um olhar científico-filosófico este assunto, levando o tema ao fenómeno da evolução. Conseguem estabelecer um paralelismo efeito-evolução comparável à evolução de sistemas biológicos de alta hierarquia. Assim, consideram que a evolução actua sobre indivíduos que possuem uma estrutura com potencial suficiente para se manter, replicar, reconstruir, dispor de mecanismos que evitam processos de desordem e caos, que possam contrariar a ordem perfeita da sua natureza e mesmo provocar a sua própria morte. Neste sentido, os microrganismos em termos de evolução, têm a capacidade de se adaptarem às mudanças ou, pelo menos, resistir a alterações prejudiciais contínuas até à sua morte. Por outro lado, estando sujeitos a um tempo de vida limitado, a única forma de manter-se como indivíduos é multiplicando-se. A evolução nos organismos inferiores ou procariotas pode envolver moléculas, tais como péptidos e proteínas, que podem sofrer mudanças que afectam sua estabilidade química na estrutura modular, resultantes de forças ambientais relativamente simples que exercem uma pressão selectiva dentro do universo da proteína. A evolução dos organismos inferiores pode envolver genes, operões, fragmentos cromossómicos estáveis, elementos genéticos móveis, tais como, plasmídeos, transposões, integrões, inserção de sequências e “nuons”. Este último termo introduzido por Stephen Gould em 1992, refere-se a qualquer ácido nucleico que possa actuar como unidade elementar de selecção incluindo, portanto, genes, fusão

de genes, módulo de gene codificante de uma proteína catalizadora dominante, regiões intergénicas, intrões, exões, promotores, reforçadores (enhancers), regiões que saem, se introduzem ou terminam, pseudogenes, microsatélites e longos ou curtos elementos de mistura diversificados ou intercalados. A evolução destes organismos é exercida sobre unidades de selecção que são, tipicamente, clones microbianos ou linhagem de células com conteúdo genómico particular, que os autores denominam de microbiomes, e que possuem metagenomes, e que incluem espécies de uma única classe ou comunidades de espécies microbianas, situações estas que os autores preferem chamar de “sistemas” para descrever a estrutura de indivíduos da mais alta complexidade. Os diferentes tipos de indivíduos sujeitos a forças evolucionárias estabelecem um gradiente de hierarquia desde a mais baixa até a mais alta complexidade. De facto, esta teoria hierárquica liga a teoria de investigação evolucionária com a ciência da complexidade, reflectindo uma propriedade quase universal de sistemas complexos. A interacção entre indivíduos de diferentes níveis pode ser imaginada sob a forma de redes altamente estruturadas, em que cada nível de uma rede constitui um ambiente para os indivíduos dentro dessa rede, o que significa que algumas mudanças que aí ocorrem criam forças selectivas, favorecendo só alguns desses indivíduos. Por regra geral, o número de indivíduos microbianos de mais baixa complexidade tendem a ser mais numerosos e uniformes do que aqueles de nível superior de complexidade. Portanto, os sistemas mais complexos são mais resistentes que os sistemas mais simples o que significa também tendência para serem mais independentes a mudanças ambientais comuns ou antecipadas. Assim, os indivíduos que morrem como consequência de uma mudança são substituídos por outros quase idênticos, que estão disponíveis, sendo deste modo reparado o sistema. Em níveis de complexidade mais elevada, os indivíduos que degeneram podem também compensar as perdas em unidades dentro do sistema, isto é, unidades estruturalmente diferentes podem realizar a mesma ou similar função dentro do sistema. Os organismos mais simples, com mais poder de multiplicação biológica, asseguram a sua permanência através da redundância. Em suma, a redundância caótica e degeneração tendem a prevenir eventos desordenados em sistemas de alta complexidade levando a características de tolerância altamente optimizada. A interacção entre indivíduos redundantes, chamados também indivíduos de conectividade, aumenta tal tolerância. Porém, se um sistema que está em risco de se tornar caótico não puder encontrar elementos redundantes ou degenerados para substituir aqueles que está a perder, podem surgir novas unidades para cumprir o requerido por essa ameaça da função que necessita. Este recurso, ou inovação, é uma importante componente de tolerância dentro de sistemas complexos. De facto, estas quatro medidas de escape ao caos, nomeadamente- redundância, degeneração, conectividade e inovação- frequentemente actuam sinergicamente e assim podem evitar eventos catastróficos dentro do desenvolvimento evolucionário. Esta sinergia é particularmente relevante para

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organismos como as bactérias, caracterizados por enormes tamanhos populacionais. Quando se fala de sobrevivência, esta pode ser o resultado da incorporação de novos elementos estranhos. É evidente que quanto maior for o dano, mais difícil será reordenar os seus elementos e a reconstrução pode não corresponder exactamente ao sistema original. Embora efeitos caóticos na vida microbiana possam levar ao surgimento de novas ordens, esta nova ordem pode criar mais distorção ou desordem no sistema, mas esta situação também pode promover novamente uma nova ordem seguindo, consequentemente, a direcção inexorável da evolução, é claro, dependendo da capacidade evolucionária do indivíduo. Os antibióticos são agentes que promovem o caos nos sistemas microbianos, o que se traduz em desordens funcionais e morte em muitas classes de bactérias. A perda funcional de uma bactéria de maior nível dentro de um sistema particular como, por exemplo, o intestino, pode vir a ser reparada por populações redundantes que sobrevivem a tais variações, por populações que degeneraram de outras populações de bactérias cumprindo uma função similar, por populações importadas migrando de um sistema conectado, ou eventualmente, pelo surgimento de novas variantes de organismos. A nível de um organismo individual, uma única célula bacteriana, pode vir a ser reparada do dano que segue um desafio antibiótico com genes redundantes ou degenerativos. Este reordenamento pode depender da substituição das funções do antibiótico, inibido por genes estranhos que podem desactivá-lo por efeito de mutação ou por recombinação, inovação dependente que leva à resistência antibiótica. Frequentemente, há sinergias entre essas estratégias parecidas recuperadas de forma independente, uma a nível de população e a outra a nível individual. De facto, John Roth, da Universidade de Utah, e Dan Anderson, do Instituto de Doenças Infecciosas da Suécia, apontam para uma ligação entre genes de redundância e mutações adaptativas. Obviamente, o alvo do antibiótico é a célula bacteriana e não genes ou proteínas individuais. Contudo, os antibióticos actuam sobre o número, distribuição e características estruturais de tais componentes celulares. Assim mesmo, os antibióticos têm um segundo impacto evolucionário sobre alguns elementos tais como, plasmídeos, integrões, operões, genes, sequencias de inserção e proteínas. Os antibióticos ou outros agentes que promovem desordens através de todas as hierarquias da evolução de indivíduos, podem ser os elementos disseminadores que activam esse estado. No local onde ocorrem os eventos de desordem como, por exemplo, nos hospitais, onde se instalam e se seleccionam diferentes tipos de clones bacterianos, os genes ou proteínas que carregam estes clones podem ser enriquecidos. O processo amplificador selectivo aumenta a possibilidade de interacção entre certos clones, elementos genéticos e outras moléculas. Desta maneira podem ocorrer as melhores combinações, aumentando a sobrevivência local em número, e facilitando as possibilidades de maior adaptação que reflectem uma classe de capitalismo genético- o rico tende a ser mais rico. É claro que esta situação conduz a

riscos, a diversidade de clones bacterianos pode chegar ao colapso num dado ambiente, danificando e destruindo, por vezes, importantes funções vitais, que acabam por fragilizar o indivíduo dentro do sistema. Compensando esta tendência, um novo grupo de clones redundantes ou degenerativos podem entrar no sistema. Contudo, a original diversidade de elementos genéticos, críticos para assegurar a sobrevivência de todos estes organismos bacterianos submetidos a outras pressões, permanece baixo e, provavelmente, pode evoluir consequentemente para manter a nova estrutura. Assim, uma nova ordem fica estabelecida. Os autores desta análise pormenorizada acerca da evolução, como recurso dos microrganismos para preservar sua viabilidade frente à acção dos antibióticos, encerram esta nota chamando a atenção para a necessidade de um seguimento na vigilância do estabelecimento de novas ordens biológicas na microbiosfera, e concluem que as consequências para a saúde humana são difíceis de predizer devido ao facto de a classe humana continuar a necessitar de antibióticos. Portanto, deve ser minimizado o impacto desta prática. Baquero F, Coque TM and Canton R (2003). ASM News 69(11): 547-552.

Corsina Velazco Henriques

Corantes Alimentares e Sudan I A coloração dos alimentos é uma prática que vem desde a antiguidade. De facto, a par dos conservantes, os corantes foram os primeiros aditivos alimentares a serem utilizados. Os antigos egípcios e romanos utilizavam já corantes naturais como o ocre (óxidos de cor amarela, avermelhada ou acastanhada), açafrão, extractos de beterraba, de cenoura ou de ervas para dar mais cor aos seus preparados culinários. Hoje em dia, os corantes alimentares são substâncias adicionadas a géneros alimentícios para recuperar a cor perdida em tratamentos tecnológicos, para obter uma cor mais uniforme e estável, ou para conseguir produtos de imitação. Não é permitido o seu emprego para sugerir uma melhor qualidade ou para dissimular situações de deterioração de alimentos. A sua utilização está regulamentada por legislação nacional e europeia. Às substâncias autorizadas como corantes alimentares é atribuído um código (E1 seguido 2 ou 3 algarismos), estabelecidos os critérios de pureza e as condições da sua utilização, nomeadamente quais os alimentos a que podem ser adicionados e as respectivas doses máximas. De acordo com a sua origem podemos distinguir corantes naturais e artificiais. Os corantes naturais são compostos extraídos de substâncias vegetais, animais ou minerais. Existem também corantes idênticos às substâncias naturais, mas obtidos por síntese química. A Curcumina (E 100), extraída do açafrão; a Cochinilha (E 120) extraída do insecto como o mesmo nome e os óxidos e hidróxidos de ferro (E 172), são exemplos de corantes naturais. São, normalmente, melhor aceites pelos consumidores e aparentemente mais seguros.

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Os corantes artificiais ou sintéticos são obtidos por síntese química e não têm moléculas homólogas na natureza. Devem ser compostos hidrossolúveis e de peso molecular elevado para minimizar a sua absorção a nível do tracto gastrointestinal. Dependendo da estrutura química distinguem-se os corantes azóicos e os não azóicos. A Tartarazina (E 102) é o corante azóico mais conhecido enquanto a Eritrosina (E 127) é o não azóico mais utilizado. Os corantes artificias são os aditivos que mais frequentemente colocam problemas e cuja inocuidade toxicológica é ainda discutida, principalmente os azóicos. O recente alerta (Fevereiro 2005) sobre Sudan I em determinados produtos alimentares (molho inglês) à venda em Portugal e a consequente recolha de todos os lotes suspeitos, despertou a atenção dos meios de comunicação e dos consumidores. O Sudan I ou 1-fenilazo-2-naftol (Figura 1), é um corante industrial do grupo dos azóicos, utilizado na coloração de plásticos, ceras, graxas para sapatos e outros materiais sintéticos. A sua utilização como corante alimentar não está autorizada pela União Europeia, pelo que não é tolerada a sua presença em nenhum produto alimentar. A International Agency for Research on Cancer (IARC) classifica-a como substância cancerígena de grupo 31 o que significa que não há evidências directas de que cause cancro em humanos. No entanto, o seu potencial carcinogénico para os humanos foi já demonstrado em ensaios efectuados com células hepáticas recombinantes2.

A presença de Sudan I em alimentos comercializados na UE foi referida pela primeira vez em Maio de 2003 pelas autoridades francesas. Tratavam-se de produtos feitos à base de malagueta importados da Índia. Em resposta, a Comissão Europeia determinou, que todas as importações de frutos do género Capsicum (malagueta, piri-piri, pimentão) e produtos à base desses frutos, fossem acompanhadas de um relatório analítico que

demonstre não conterem Sudan I e que todos os estados membros implementassem um programa de monitorização dos produtos importados ou já no mercado (Decisão 2003/460/EC)3. A aplicação destas medidas foi mais tarde alargada à pesquisa dos corantes Sudan II, Sudan III e Sudan IV (Decisão 2004/92/CE)4. No entanto, a legislação europeia é omissa no que respeita à metodologia analítica a aplicar.

Provavelmente por existirem poucos estudos sobre métodos de doseamento destes corantes em produtos alimentares. A maior parte dos métodos descritos são simples e relativamente fáceis de implementar em análise de rotina, envolvem cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) com detecção por UV/Vis5,6. No entanto, a detecção e quantificação dos corantes pode ser difícil quando presentes em quantidades muito baixas, sobretudo em alimentos com vários pigmentos, que podem dificultar a identificação dos corantes. Nessas situações, o método mais indicado seria HPLC combinado com espectrometria de massa7 que permite uma correcta identificação dos corantes presentes em quantidades na ordem do µg/kg. Os aditivos alimentares em geral e os corantes em particular, são normalmente alvo da desconfiança por parte dos consumidores e classificados por estes como um dos principais perigos associados com a alimentação. No entanto, são os hábitos alimentares e as toxi-infecções alimentares que representam maior perigo para a saúde pública. Por outro lado, a forma rápida e eficaz como as entidades europeias competentes lidaram com o caso do Sudan I, é uma garantia para consumidores e produtores de que os alimentos disponíveis no mercado são seguros e que a introdução, voluntária ou não, de produtos perigosos na cadeia alimentar está controlada. 1. http://www.inchem.org/documents/iarc/vol08/sudani.html. 2. Stiborova M, Martinek V, Rydlova H, Hodek P e Frei E (2002).

Cancer Res 62: 5678-5684. 3. http://europa.eu.int/eur-lex/pri/pt/oj/dat/2003/l_154/

l_15420030621pt01140115.pdf. 4. http://europa.eu.int/eur-lex/pri/pt/oj/dat/2004/l_027/

l_02720040130pt00520054.pdf. 5. Mazzetti M, Fascioli R, Mazzoncini I, Spinelli G, Morelli I e Bertoli

A (2004). Food Addit Contam 21: 935-941. 6. FSA (Food Standards Agency). Method 145a. Collaborative trial 145

of a method for the detection and determination of Sudan I in chilli products by HPLC. www.food.gov.uk/multimedia/pdfs/145a.pdf.

7. Tateo F e Bononi M (2004). J Agric Food Chem 52: 655-658.

José Carlos Andrade Água - Recurso cada vez mais valioso Apesar de, desde sempre, nos termos habituado a considerar a água como um bem necessário mas infinito, na realidade cada vez mais se considera a água como um recurso essencial em “vias de extinção”. Apesar de 70% da superfície terrestre ser composta por água, de toda essa água apenas 2,5% é doce e desse valor 70% está sob a forma de glaciares. Restam apenas 0,75% para suprir as necessidades de 6 biliões de habitantes do planeta. Mas não é esse número o responsável pela falta de água, o problema está na desigualdade de distribuição, na contaminação e no desperdício. Mais de 1/3 da população mundial não tem acesso diário e regular a água potável, nem a serviços de saneamento adequados. De tal forma que, em 4 de Dezembro de 2002, o Comité dos Direitos Económicos Sociais e Culturais das Nações Unidas declarou formalmente que o acesso à água potável é um Direito do Homem. A situação em Portugal é também preocupante, tendo em conta a acelerada desertificação da zona sul do país e o

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Fig. 1. Estrutura química do Sudan I ( 1-fenilazo-2-naftol)

Fig. 2. Frutos do género Capsicum

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período de precipitação limitada que se tem verificado nos últimos meses. Por essa razão, cada vez mais se houve falar do Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água que resultou de um estudo elaborado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) com o apoio do Instituto Superior de Agronomia (ISA), promovido pelo INAG e MAOT. Este programa, cuja implementação foi já pedida pela Quercus, pretende proceder a um uso cada vez mais eficiente da água disponível, ou seja, optimizar a sua utilização sem pôr em causa as necessidades vitais, a qualidade de vida e o desenvolvimento socio-económico. Neste programa são descritas 87 medidas nos sectores urbano, agrícola e industrial.

É, por isso, necessária a adopção de comportamentos quotidianos que contribuam activamente para a preservação dos meios aquáticos e para a diminuição do consumo de água, limitando-se assim a necessidade de tratamentos cada vez mais complexos e caros. Há

pequenos gestos diários que muito podem contribuir para um decréscimo acentuado do consumo de água. Verificar periodicamente o bom estado de funcionamento de torneiras (gastos até 4 L/h) e autoclismos (25 L/h), e não deixar correr a água enquanto se lava os dentes ou as mãos. Usar as máquinas da roupa (150 L/lavagem) e louça (60 L/lavagem) apenas com a carga completa. Regar os jardins ao fim da tarde ou ao amanhecer. Um banho de imersão gasta 260 L de água enquanto num duche de 5 minutos se gastam apenas 25 L. A produção de papel reciclado gasta menos água que a produção de papel virgem- 1 tonelada de papel reciclado poupa 25 mil litros de água. A utilização de qualquer produto, particularmente de uso doméstico, poderá vir a ter como destino a sua integração nos cursos de águas, por lixiviação dos terrenos ou derrame acidental ou intencional. Na protecção dos recursos hídricos também muito poderá ser feito: i) não utilizar detergentes em excesso, não lavar zonas comuns com grandes quantidades de lixívia que, por reacção com matéria orgânica, origina compostos clorados potencialmente nocivos; ii) utilizar alternativamente produtos biodegradáveis para a maioria das utilizações domésticas; iii) utilizar adubos com moderação, bem como herbicidas e pesticidas. Desta forma contribuímos para a auto-depuração natural dos meios aquáticos com menores repercussões ambientais, e diminuição na necessidade e custos no tratamento das águas. A contribuição individual pode ser uma mera gota no oceano mas, pelo menos, com alguns destes pequenos gestos não “se mete água”.

Cristina Morais Couto Regente da disciplina de Hidrologia

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Notas Breves Informação

Instituto Superior de Ciências da Saúde-Norte Ciclo de Conferências No próximo dia 12 de Maio irá ter lugar na sala de Congressos da Alfândega do Porto o 1º Ciclo de Conferências do ISCS-N dedicado ao tema “Saúde e Ciclo Vital”. Este evento contará com a participação de várias personalidades de grande prestígio científico a nível nacional e internacional. Departamento de Ciências Formação Avançada Bousbaa, H. (2005). Attachment and tension in activating and silencing the mitotic checkpoint. Programa de Doutoramento GABBA, IBMC, Porto Janeiro 24- Fevereiro 4. Logarinho, E. (2005). On the way to bi-orientation: sensing and correcting improper attachments. Programa de Doutoramento GABBA, IBMC, Porto Janeiro 24- Fevereiro 4.

Departamento de Ciências do Desporto Publicações Já estão à venda dois novos livros de Educação Física: Guedes, G., Esteves, J., Mendes, N., Brito, P., Pinto, R. e Lima, T. Educação Física no Ensino Primário. Edições CESPU. Guedes, G., Vargas, A. S., Barros, J. e Aragão, S. Desenvolvimento Infantil. Edições CESPU. Departamento de Medicina Dentária Formação Avançada No âmbito do Departamento de Ciências Dentárias do ISCS-N, realiza-se no dia 15 de Abril de 2005 um Curso de Higiene e Assepsia em Medicina Dentária ministrado pela Profª Doutora Duffaut da Universidade de Toulouse. Dado o interesse para os alunos da licenciatura em Medicina Dentária informamos que serão relevadas as faltas aos alunos que frequentarem o referido Curso. Mais, acrescentamos que estas participações serão contempladas no Suplemento ao Diploma a implementar, de acordo com as orientações da Declaração de Bolonha, como actividades curriculares cumpridas durante o período da Licenciatura. Jornadas O núcleo de Medicina Dentária da AE em conjunto com os alunos finalistas do Curso encontram-se a preparar as XIII Jornadas de Ciências Dentárias do Norte, que decorrerão em simultâneo com as Jornadas das outras licenciaturas do ISCSN. Serão levadas a cabo na cidade do Porto, no Centro de Congressos da Alfândega, nos dias 13 e 14 de Maio de 2005.

Para estas Jornadas os alunos contam com o apoio científico da Comissão Cientifico-pedagógica do Curso. Mestrados Curso de Mestrado em Cirurgia Oral Encontra-se a terminar o 1º Ano do 1º Curso de Mestrado em Cirurgia Oral, sob a Coordenação dos Professores Doutores Horácio Costa, José Júlio Pacheco e António Almeida Dias. Iniciamos em Janeiro de 2005 o 2º Curso de Mestrado em Cirurgia Oral. Curso de Mestrado em Oclusão Clínica Iniciamos em Dezembro de 2004 o 1º Curso de Mestrado em Oclusão Clínica, sob a Coordenação dos Professores Doutores Josep Ustrell, Joaquim Moreira e José Júlio Pacheco. Progressão académica A Licenciada Maria Cristina de Paiva-Manso Trigo Cabral vai defender a sua tese de Doutoramento subordinada ao tema “Estudo do tecido ósseo relacionado com patologias dos maxilares e influências de materiais exógenos” sob a orientação do Prof. Doutor António Cabral Campos Felino e co-orientação da Prof.ª Doutora Maria Helena Raposo Fernandes, na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, no próximo dia 8 de Abril de 2005, pelas 11 horas. Publicações Pinho, T., Ustrell, T. e Correia, P. (2004). Orthodontic camouflage in the case of a skeletal Class III malocclusion. World Orthodontic 5(3): 213-223. Pinho, T. (2004). Skeletal Class III in a case with upper lateral incisors agenesis. Gnatos 2004;5:33-41. Pinho, T. (2004). Classe II, divisão 1, tratada sem extracções – caso clínico. Rev Port Estomatol, Med Dent e Cirurg Maxilofacial 45(4): 229-243. Glesse, S., Saba-Chujfi, E., Carvalho, A., Pacheco, J.J. e Salazar, F. (2004). Estudo Epidemiológico da influência da Doença Periodontal no trabalho de Parto Pré-Termo na Cidade Brasileira de Santa Cruz do Sul- RS. Rev Port Estomatol, Med Dent e Cirurg Maxilofacial 4: 205-214. Departamento de Psicologia

Comunicações Ledo, S. (poster). “Psychological impact of a carrier result from pre-symptomatic genetic testing for Familial Amyloidotic Neuropathy". European Meeting of Psychosocial Aspects in Genetic, Munique, Junho de 2004. Bruno, P. (poster). “Membro Fantasma ou o Mistério das Sensações”. X Congresso Luso-Brasileiro de Anatomia, Porto, Outubro de 2004. Formação Avançada Rocha, J.. Participação no MSc Genetic Counselling, University of Manchester, entre os dias 14 e 17 de Março de 2005, com as seguintes actividades:

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- Counselling Skills Workshop: “Roots of cognitive-narrative intervention for termination of pregnancy”; - 2nd year MSc genetic counselling students: “Termination of Pregnancy” Review of papers; - 2nd year MSc genetic counselling students: “Termination of pregnancy” Role play session; - Narrative research in prenatal diagnosis, at Nowgene. Jornadas O Núcleo de Psicologia Clínica, em colaboração com uma Comissão Científica de docentes do Departamento de Psicologia, está a organizar as VI Jornadas de Psicologia Clínica que, este ano, abordarão o tema “Entre a Psiche e o Soma”, e que irão decorrer nos dias 13 e 14 de Maio. Publicações Ferreira de Sousa, R. (2004). «A noção de coração no Egipto faraónico», em Percursos do Oriente Antigo, Instituto Oriental da Universidade de Lisboa, pp. 529-554.

Ferreira de Sousa, R. (2004). «The notion of the Heart and Idea of Man: The Effect of Anthropological Notions on Medical Practices», em Egyptology at the Dawn of the Twenty-first Century, American University in Cairo Press, Cairo, New York, Vol. 3, pp. 191-195. Ferreira de Sousa, R. (2004). O relato de uma aventura portuguesa nas Terras do Preste João, em Gil Vicente 5, pp. 191-195. Leite, M. (2005). Programa de promoção da adesão terapêutica em crianças diabéticas, pp. 155-174, in Guerra, M. e Lima, L. (Eds), Intervenção psicológica em grupos em contexto de saúde. Lisboa: CLIMEPSI. Fleming, L., Ledo, S., Rocha, J.C. e Sequeiros, J. (2004). O impacto psicológico do teste pré-sintomático na doença de Machado-Joseph – Resultados preliminares. Arquivos de Medicina 18: 72-75. Venâncio, C. e Vieitas, P. (2004). Da janela do meu quarto. Saúde Mental Vol VI, nº 1. Gonçalves, M. e Vieitas, P. (2004). Camila "A luz da lua era...quarto crescente". Saúde Mental Vol VI, nº 5. Carvalho, M. e Vieitas, P. (2005). Caso Clínico João “Só”. Saúde Mental.

Instruções aos autores O ISCS-Notícias (Boletim do Instituto Superior de Ciências de Saúde-Norte) publica vários tipos de artigos que incluem textos de opinião, de divulgação geral e/ou científica e notas breves. Estes devem ser preparados obedecendo a determinadas normas gerais, abaixo indicadas. A decisão de publicação em qualquer das modalidades será sempre comunicada aos autores. Caso haja eventuais modificações a propor, os autores disporão de um prazo a definir pelos editores, para as efectuarem. Normas gerais Todos os documentos deverão ser enviados em suporte digital. Artigos de opinião ou de divulgação geral e/ou científica Título: conciso, de preferência sem abreviaturas, não devendo ultrapassar as 20 palavras; Corpo do texto: não devendo ultrapassar duas páginas (letra “Times New Roman”, tamanho 11, espaçamento simples), já

com as ilustrações (figuras legendadas, tabelas, etc.); Autor(es): nome(s), departamento(s) e/ou curso(s); Referências bibliográficas: em numeração árabe, por ordem de aparecimento no texto. Notas breves Têm como objectivo dar a conhecer acontecimentos ocorridos ou a decorrer entre a publicação de dois números do ISCSNotícias. Mestrados, doutoramentos, provas académicas: nome, título, nome do orientador, data e local de realização; Conferências, jornadas, etc.: nome do evento, data, local; Publicações científicas ou didácticas: autor(es), data, título, revista (livro), editora, páginas. Comunicações: autor(es), ano, título, nome evento, local, data(s). Prémios: nome, título, entidade patrocinadora.