Introducao a Disciplina Antropologia Missionaria EAD 2013 2

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PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS Como este curso trata de antropologia e missiologia torna-se necessário pontuarmos os pressupostos teológicos que seguiremos. OBJETIVOS DA AULA Entender que a ausência de uma comunicação viável, inteligível e aplicável do evangelho em outra cultura ou segmento social tem gerado duas consequências desastrosas no movimento missionário mundial: o sincretismo religioso e o nominalismo evangélico PROFESSOR Prof. Esp. Gedeon J Lidório Jr Bacharel em Teologia, Pós-graduado em Missão Urbana, Pós-graduado em Informática na Educação e Habilitado em Antropologia Cultural. ANTROPOLOGIA CULTURAL E MISSIONÁRIA Apresentação da disciplina Neste curso você encontrará uma proposta de pesquisa cultural através do método Antropos (método de pesquisa sociocultural), que é composto por três capítulos maiores: o primeiro lhe empresta o mesmo termo: Antropos (que visa a pesquisa etnográfica); o segundo é o Pneumatos (visando a pesquisa fenomenológica) e por fim o Angelos (de aplicabilidade teológica a partir de padrões culturais definidos). Baseado em Antropologia Missionária, de Ronaldo A Lidório WWW.TEOLOGIAONLINE.COM.BR Rua Martinho Lutero, 277 Gleba Palhano, Londrina, PR Telefone (43) 3371 0240 - (43) 3371 0241 (43) 3371 0244 INTRODUÇÃO

Transcript of Introducao a Disciplina Antropologia Missionaria EAD 2013 2

  • PRESSUPOSTO S TEO LG ICO S

    Como este curso trata de antropologia e

    missiologia torna-se necessrio pontuarmos

    os pressupostos teolgicos que seguiremos.

    OBJ ET IVOS DA AULA

    Entender que a ausncia de uma

    comunicao vivel, inteligvel e

    aplicvel do evangelho em outra

    cultura ou segmento social tem gerado

    duas consequncias desastrosas no

    movimento missionrio mundial: o

    sincretismo religioso e o nominalismo

    evanglico

    PROFESSO R

    Prof. Esp. Gedeon J Lidrio Jr

    Bacharel em Teologia, Ps-graduado em

    Misso Urbana, Ps-graduado em

    Informtica na Educao e Habilitado em

    Antropologia Cultural.

    A N T R O P O L O G I A C U L T U R A L E

    M I S S I O N R I A

    A p r e s e n t a o d a d i s c i p l i n a

    Neste curso voc encontrar uma proposta de

    pesquisa cultural atravs do mtodo Antropos

    (mtodo de pesquisa sociocultural), que

    composto por trs captulos maiores: o primeiro

    lhe empresta o mesmo termo: Antropos (que visa

    a pesquisa etnogrfica); o segundo o

    Pneumatos (visando a pesquisa fenomenolgica)

    e por fim o Angelos (de aplicabilidade teolgica a

    partir de padres culturais definidos).

    Baseado em Antropologia Missionria, de

    Ronaldo A Lidrio

    W W W . T E O L O G I A O N L I N E . C O M . B R Rua Martinho Lutero, 277 Gleba Palhano, Londrina, PR

    Telefone (43) 3371 0240 - (43) 3371 0241 (43) 3371 0244

    INTRODUO

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    ANTES DE MAIS NADA ... uma introduo

    Nosso objetivo ao expor neste curso o material de

    Antropologia Missionria do INSTITUTO ANTROPOS (Prof.

    Dr. Ronaldo A Lidrio) neste curso abordar a

    antropologia como aliada no desenvolvimento de ideias,

    fomentao de estudo e conhecimento humano e,

    sobretudo como uma ferramenta prtica no processo de

    adaptao pessoal, desenvolvimento de projetos e

    exposio do evangelho no campo missionrio.

    Nossa inteno foi preparar uma metodologia vivel e

    compreensvel tanto para acadmicos e prticos, enquanto

    na incumbncia de abordar um novo grupo tnico ou

    segmento social. Ela direcionada especialmente para um

    contexto tnico especfico apesar de estar sendo tambm

    aplicada em diversos outros contextos, inclusive urbanos e

    multiculturais.

    Apresento o que foi desenvolvido que passou a chamar de

    Mtodo Antropos de Pesquisa Sociocultural a partir de

    uma metodologia mais incipiente na qual propunha a

    observao de uma cultura especfica a partir de 4

    dimenses distintas e complementares: a histrica, tica,

    tnica e fenomenolgica. Apesar desta metodologia inicial

    mostrar-se relevante e til tal abordagem omitia captulos

    importantes no estudo de uma cultura como os atos da

    vida e da providncia, alm de perceber tambm a

    necessidade de uma abordagem mais detalhada em certas

    reas da fenomenologia da religio como o totemismo, a

    magia, os ritos e os mitos. Por fim seria necessrio tambm

    desenvolver mais a aplicao dos processos de

    comunicao e evangelizao a partir das hipteses e

    concluses culturais. Desta forma, em 1996, ministrei a

    primeira capacitao antropolgica com base na presente

    metodologia, o Mtodo Antropos. Ele foi desenvolvido ao

    longo de 9 anos enquanto morvamos com a tribo

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    Konkomba-Bimonkpeln no nordeste de Gana e foram

    aplicados, a partir dali, em dezenas de etnias em vrios

    pases. Mais recentemente inseri ao longo do mtodo as

    perguntas direcionadoras permitindo, assim, que voc use

    tal questionrio direcionador como um roteiro de pesquisa

    cultural. So, no total, 418 perguntas especficas.

    Quando Hesselgrave1 afirma que contextualizar tentar

    comunicar a mensagem, trabalho, Palavra e desejo de Deus

    de forma fiel Sua Revelao e de maneira significante e

    aplicvel nos distintos contextos, sejam culturais ou

    existenciais, ele expe um desafio Igreja de Cristo:

    comunicar o evangelho de forma teologicamente fiel e ao

    mesmo tempo humanamente inteligvel e relevante. E este

    talvez seja o maior desafio de estudo e compreenso

    quando tratamos da evangelizao em contexto

    intercultural.

    O mtodo Antropos construdo sobre 3 amplas

    abordagens. Para a primeira emprestamos o nome do

    mtodo, Antropos, e trata do estudo etnogrfico do grupo

    alvo. A segunda abordagem chama-se Pneumatos e

    abranger a pesquisa fenomenolgica. Por fim a

    abordagem Angelos ir propor a utilizao de suas

    concluses para projetos de comunicao e evangelizao.

    Estas 3 abordagens formam o presente mtodo.

    Cdigos receptores

    H uma clara diferena entre informao, interpretao e

    associao. A informao uma mensagem transmitida a

    outro, seja de forma verbal, no verbal, escrita, encenada

    etc. Um indgena caador pode informar a um branco

    urbano sobre o uso da intuio durante a caa. Apesar de

    ser, em si, uma informao, no significa que ser

    processada e compreendida devidamente. Isto porque s

    1 Hesselgrave, David J. Plantar igrejas: Um guia para misses nacionais e

    transculturais. So Paulo: Vida Nova, 1984.

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    compreendemos informaes que possuam paralelo com

    um valor j estabelecido.

    A partir de tal paralelo geramos a interpretao e,

    posteriormente, a associao. A interpretao, ou seja, a

    decodificao da informao se d a partir dos cdigos

    conhecidos, em nossa prpria cultura. Quando a

    informao passada de forma prxima o suficiente

    conseguimos decodifica-la usando os cdigos que j

    possumos e utilizamos em nosso dia a dia. Quando tal no

    funciona no h compreenso da informao, ou h m

    compreenso. Quando funciona abre-se uma janela para a

    associao. A associao se d quando, aps uma

    informao ser recebida, compreendida e interpretada, o

    receptor percebe um espao em sua vida ou sociedade

    onde a mesma poderia lhe ser util. A associao, portanto,

    a aplicao de elementos compreendidos e interpretados

    da informao.

    A comunicao, portanto, pode ser definida como um

    processo em que uma informao (formal ou informal) seja

    transmitida, decodificada, interpretada e associada ao

    universo de quem a recebe. Isto independe, claro, de sua

    aceitao ou rejeio.

    Compreendemos uma mensagem quando conseguimos

    decodifica-la. E para decodifica-la utilizamos os nossos

    prprios cdigos. O processo de criptografia utilizado para

    salvaguardar mensagens confidenciais semelhante. Uma

    mensagem, em Portugus, por exemplo, passa por um

    processo criptogrfico que a torna ilegvel. Para

    criptografa-la, porm, necessrio a utilizao de um

    cdigo pr-definido pois este deve ser o mesmo utilizado

    para descodifica-la e assim torna-la idntica sua forma

    original. Duas fontes distintas (quem envia e quem recebe)

    precisa, portanto, partilhar o mesmo cdigo. As vezes,

    quando tal mensagem cai em mos adversrias que

    desejam l-la, o que fazem utilizar programas que

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    possam descobrir o cdigo usado, ou um cdigo prximo.

    Quando descobrem um cdigo prximo e o utilizam para

    ler a mensagem, conseguem muitas vezes l-la mas no

    com perfeio. Na guerra fria estes processos custaram

    caro, pois transmitiam mensagens partidas ou com sentido

    inexato. O fato que, quando mais prximo for o cdigo

    mais perfeito ser a compreenso da mensagem.

    Culturalmente falando possumos cdigos universais que

    fazem com que a humanidade possa partilhar de valores

    tambm universais. Possumos, porm, cdigos particulares

    que definem nossa identidade social, grupal ou tnica. Tais

    cdigos particulares fazem com que compreendamos bem

    nossa prpria mensagem mas, se a transmitimos com

    nossos prprios cdigos, aquele que a recebe ter incrvel

    dificuldade para compreende-la. A no ser se o agente que

    a recebe possui habilidade para interpretar os cdigos de

    quem a envia.

    Ao transmitirmos uma mensagem, ou a mensagem do

    evangelho, por exemplo, precisamos, assim, pensar nos

    cdigos receptores. Tais cdigos so, possivelmente, o

    captulo principal na vida de algum que deseja transmitir

    uma mensagem que seja plenamente compreendida. Tais

    cdigos receptores envolvem a lngua, a cultura e o

    ambiente.

    O que propomos aqui, de forma ilustrativa, decodificar a

    sociedade que h de receber nossa mensagem e utilizar

    tais cdigos para traduzir tal mensagem antes de ser

    enviada. Chegar de forma clara, compreensvel e aplicvel.

    O trabalho, portanto, feito na fonte, ou seja, por aquele

    que pretende transmiti-la.

    O mtodo Antropos, de certa forma, est centrado em uma

    base terica de busca dos cdigos receptores para o

    manuseio da mensagem a ser transmitida, vestindo-a de

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    tal forma que chegue bem ao que a recebe, mantendo seu

    contedo, mas decoficando-a na fonte.

    Um exemplo para podermos ilustrar de forma geral o

    conceito. Entre os Konkombas de Gana, a expresso uja

    significa homem. Usado, porm, no para definir o gnero

    masculino, mas sim uma posio social, aquele que

    casado, possui uma roa e possui filhos. Os que no sao

    uja so ainda ubo, que traduzimos por crianas, mas

    literalmente seriam crianas, adolescentes e jovens. No

    cdigo lingustico e sociocultural Konkomba, portanto, no

    possvel ser um uja, aceito pelos ujaman, homens da

    tribo, sem que se possua esposa e filhos, o que

    obviamente discrimina terrivelmente aqueles nesta

    situao. Ao apresentarmos Jesus Cristo precisamos pesar

    os cdigos de comunicao.

    Nosso cdigo sociocultural prev e aceita um homem, ou

    seja, um ser masculino parte da sociedade adulta de um

    grupo, como sendo algum solteiro, sem filhos e sem roa.

    Nossa medio se d to somente pela idade, apesar de

    que homem em Portugus possua significado mais

    extenso, para os quais acrescentamos outros cdigos,

    como homem de verdade, por exemplo.

    Para comunicarmos o significa de homem referindo-se a

    Cristo para um Konkomba, teramos assim algumas

    possibilidades. Uma delas comunicar em nosso cdigo,

    ou seja, usando a expresso uja para Cristo, e explicar-

    lhes nosso cdigo, ou mesmo o cdigo utilizado

    socioculturalmente na tradio histrica bblica. Quem era

    um homem para um judeu, quem um homem para um

    brasileiro. Com isto ns oferecemos os cdigos como

    chave para que possam nos entender. Os resultando so

    obviamente pfios visto que nem sempre h um interesse

    forte o suficiente do receptor para compreender a

    mensagem transmitida. Tambm tais cdigos, to comuns

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    para ns, certamente soam estranho ao ouvido de quem

    os recebe em um primeiro momento.

    Se utilizarmos seus prprios cdigos, porm, para vestir

    nossa mensagem e transmiti-la de forma que faa sentido,

    estaremos assim facilitando a comunicao (transmisso

    de mensagem, interpretao e associao) bem como

    estaremos assegurando o contedo da mensagem

    transmitida. Aqui est um ponto de claro equvoco

    daqueles que se contrape contextualizao da

    mensagem com receio de que seu contedo seja

    distorcido. A no contextualizao, ou m contextualizao

    que certamente provocar a distoro. Desta forma,

    evitando a contextualizao, o agente transmissor da

    mensagem (imaginemos o missionrio, um professor ou

    um pregador) sair da sala de aula com um sentimento de

    que foi fiel raiz daquilo que tencionou transmitir. Porm

    ser um sentimento equivocado pois na mente daqueles

    que ouviram tal mensagem, enviada apenas com os

    cdigos transmissores, ser, certamente, interpretada da

    maneira mais estranha possvel.

    Seria o equivalente a, simplesmente afirmarmos, usando

    puramente nossos cdigos transmissores, que Yesu ye

    uja, Jesus homem. A pergunta, talvez silenciosa, que

    nos aguardar quem sua esposa e seus filhos, e onde

    est sua roa.

    Como desejvamos comunicar a Palavra de Deus de forma

    fiel nos debruamos no estudo da cultura e parte deste

    estudo nos levaria s categorizaes humanas. Ali (nos

    cdigos socioculturais Konkombas) fomos descobrir que

    h diversas formas atribudas ao uja, uma delas, o

    ujabor que define o homem a partir de seu status de

    envio e no de casamento. Um mensageiro, mesmo

    solteiro, enviado com uma grande mensagem, poderia

    conviver com o povo Konkomba como ujabor. Ao

    comunicarmos Cristo como ujabor e Uwumbor abor

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    homem e filho de Deus utilizvamos o cdigo do povo

    na fonte, para comunicarmos algo que no desejvamos

    que fosse mal compreendido. Houve boa compreenso e

    base para o ensino que viria depois.

    O relacionamento entre cdigos em um segundo

    momento, quando uma mensagem nova transmitida,

    um assunto tambm que nos interessa (quando um grupo

    socioculturalmente definido passa a reconstruir alguns de

    seus cdigos lingustica e culturalmente - a partir de

    novas informaes recebidas) porm, por no ser essencial

    para a exposio do presente mtodo deixaremos para

    uma prxima oportunidade.

    Ensino normativo e capacitao

    Faamos, inicialmente, uma diferenciao entre ensino

    normativo e capacitao. O ensino normativo objetiva a

    transmisso de conhecimento e habilidade de

    reconhecimento, bem como assimilao de valores. A

    capacitao visa aplicar este conhecimento em

    determinado contexto e circunstncia, fornecendo, assim,

    um guia de interpretao e aplicabilidade em sua rea alvo

    de estudo. Este curso , portanto, oriundo das capacitaes

    antropolgicas, objetiva fomentar o uso da Antropologia

    como instrumento aplicativo na dinmica da

    evangelizao. Tanto provendo instrumentos facilitadores

    de uma comunicao inteligvel e relevante, quanto

    discutindo cuidados na preservao da cultura e

    cosmoviso de um povo.

    Entendo que o preparo missionrio clssico formado a

    partir de um trip de estudos: missiologia, antropologia e

    lingustica. Observando nossas escolas e centros de

    formao missionria creio ser evidente que a antropologia

    o p mais fraco. Organizaes missionrias tm

    concludo que o retorno precoce de missionrios est

    ligado majoritariamente a problemas relacionais internos

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    (na equipe de trabalho) ou externos, com o povo alvo.

    Porm, o fator que mais contribui para prejuzos

    permanentes de comunicao do evangelho, bem como na

    formao de igrejas sincrticas, a falta de anlise

    sociocultural (antropolgica) no ambiente de trabalho.

    Participo de uma consultoria missiolgica que se viu,

    recentemente, envolvida com um sincretismo mgico, na

    comunicao do evangelho entre um povo o qual

    chamarei de Zweti. Trata-se de um grupo tnico africano

    animista, centrado na manipulao de elementos naturais

    (magia) e formado por diversos cls, todos totmicos. A

    equipe missionria, a procura da terminologia e exemplo

    cultural para o elemento perdo, compreendeu que este

    estava ligado ao Batik, quando um pano sujo era lavado

    em gua corrente por representantes da etnia, levando-os

    a conclurem que seus atos impuros estavam perdoados.

    Era uma prtica tradicional e realizada de maneira formal.

    Durante algum tempo foi amplamente utilizado pela

    equipe missionria para expor o conceito de perdo na

    apresentao do evangelho. Percebeu-se recentemente,

    porm, que esta cerimnia (Batik) era realizada apenas por

    um cl na etnia, e um cl endogmico, ou seja, onde o

    casamento ocorria apenas entre si, de forma restrita. Os

    outros cls, exogmicos, no compreenderam que aquela

    mensagem poderia ser direcionada a eles e se definiram

    (perante a mensagem do evangelho) na categoria de

    imperdoveis. Observando o fato percebemos que faltou,

    neste caso, apenas uma breve etnografia e estudo

    fenomenolgico, os quais poderiam facilmente evitar o

    comprometimento da mensagem na comunicao do

    evangelho.

    Alvos gerais

    Temos dois desafios medida que compreendemos

    melhor a Antropologia e a usamos como instrumento de

    aferio cultural.

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    Primeiramente fazer uma ponte entre Antropologia e

    Missiologia. Ou seja, conciliar os temas como instrumentos

    que visam expor um evangelho fundamentado

    biblicamente, de forma comunicvel, compreensvel e

    aplicvel em um determinado contexto cultural.

    Em segundo lugar gerar concluses e instrumentos que

    nos ajudem a aplicar o conhecimento da antropologia na

    facilitao desta comunicao do evangelho.

    Alvos especficos

    1. Expor a Antropologia e sua relevncia no contexto

    missionrio.

    2. Interligar o estudo etnogrfico, etnolgico e

    fenomenolgico como mecanismos de mapeamentos

    tnicos.

    3. Desenvolver um 'roteiro cultural' que facilite a gerao

    de estratgias evangelizadoras e promova cuidados no

    trato cultural.

    4. Capacitar pessoas chaves para reproduzirem o contedo

    aqui proposto em suas reas de atuao como agncias e

    campos missionrios, seminrios e cursos preparatrios,

    preparo de equipes de campo ou grupos de pesquisa.

    Metodologia

    Para compreendermos melhor a metodologia a ser

    utilizada devemos observar a existncia de vrias

    abordagens para o estudo antropolgico. Franz Boas

    descreve a sntese dos principais mtodos de estudo

    antropolgico em seu artigo As limitaes do mtodo

    antropolgico comparativo2. Alguns mtodos partem da

    observao da sociedade ou segmento social. Outros

    2 Boas, Franz. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

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    possuem as idias, herdadas por outros estudiosos como

    fundamento para a organizao do estudo. H mtodos

    comparativos e outros categorizadores. Seguiremos neste

    estudo uma abordagem mais etnolgica categorizadora

    olhando para a Antropologia com a inteno de

    desenvolver pastas que venham a nos ajudar na

    compreenso da cultura alvo, percepo de seus

    horizontes e limitaes sociais, assim como aberturas para

    a comunicao de uma mensagem de forma relevante e

    compreensvel.

    Esta abordagem no a ideal para o desenvolvimento de

    um ambiente terico acadmico, puramente gerador de

    ideias. Porm a tenho encontrado como uma boa

    alternativa para um estudo intencional com expectativas

    conclusivas sob a orientao antropolgica.

    H trs grandes blocos de mtodos utilizados para o

    estudo antropolgico. O primeiro podemos chamar de

    descritivos, o segundo de cognitivos e o terceiro de

    categorizadores.

    Os mtodos descritivos estudam o homem a partir da

    observao da sociedade ou segmento social. So mais

    etnogrficos e seguem a linha de pensamento de Levi-

    Strauss3, Evans-Pritchard e Radcliffe-Brown. Desta forma

    algum poderia descrever a praia do Boa Viagem, no

    Recife, em um sbado de vero como um ajuntamento

    humano sob ambiente adequado que aglomera cerca de

    12.000 pessoas provindas de 23 nacionalidades que se

    postam principalmente na areia, e no na gua, e

    participam tanto dos esportes de praia quanto se

    aglomeram nas barraquinhas onde so servidos lanches

    tropicais incluindo peixes e crustceos. Ou seja, seria

    utilizarmos a abordagem descritiva, daquilo que se v, da

    forma como percebido, para expor um fato social.

    3 Ver Levi-Strauss, Claude. O pensamento selvagem. Campinas: Papirus,

    2002.

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    Os mtodos cognitivos estudam o homem e suas ideias.

    Seguindo a linha de pensamento de Mauss, Malinowsky e

    Geertz4 estes mtodos descrevem, analisam e interpretam

    ideias que formam os fatos sociais. A procura aqui no

    por uma descrio do fato mas sim por um estudo das

    ideias que o geram, motivam e perpetuam. Desta forma a

    mesma praia de Boa Viagem poderia ser descrita por

    algum como um movimento iniciado pelo desejo de

    nivelao social e lazer onde todos, sem distino de cor e

    classe socioeconmica partilham o ambiente e o que lhe

    oferecido. Tal aglomerao se d sob a motivao do

    divertimento e lazer, porm tambm se transforma em

    ambiente de encontros e relacionamentos. A imagem

    coletiva encontrada nesta praia confunde-se com a prpria

    imagem brasileira que expe, como estereotipo, pessoas

    alegres e festeiras, no afeitas ao trabalho mas ao lazer,

    forte apelo sexual e um mundo organizado sob o comando

    do entretenimento.

    Os mtodos categorizadores estudam os fatos sociais

    atravs de categorizaes explicativas. So mais

    etnolgicos e seguem a linha de pensamento de Eliade,

    Boas e Filoramo. Desta forma algum poderia descrever

    esta praia de Boa Viagem como um movimento social

    formado por grupos e ideias heterogneas. Estruturalmente

    h ali cinco classes representadas: os frequentadores, que

    participam de forma rotineira da praia, os transeuntes,

    formado por turistas e outros frequentadores espordicos, os

    comerciantes mveis, que caminham por toda a praia

    vendendo seu produto, os comerciantes fixos, que possuem

    ou administram barraquinhas em pontos permanentes, e os

    funcionrios, que prestam servio geral como salva-vidas,

    bombeiros e outros. Suas funes so assim definidas: ....

    Neste curso voc encontrar uma proposta de pesquisa

    cultural atravs do mtodo Antropos (mtodo de pesquisa

    4 Ver Geertz, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge

    Zahar, 2001.

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    sociocultural), que composto por trs captulos maiores:

    o primeiro lhe empresta o mesmo termo: Antropos (que

    visa a pesquisa etnogrfica); o segundo o Pneumatos

    (visando a pesquisa fenomenolgica) e por fim o Angelos

    (de aplicabilidade teolgica a partir de padres culturais

    definidos). Apesar de utilizarmos o expediente descritivo e

    cognitivo estes so principalmente mtodos

    categorizadores. Os motivos para tal so trs: a) nem todos

    os missionrios e pesquisadores tm acesso a um material

    antropolgico mais amplo, fazendo com que o

    desenvolvimento de categorias diminua as possibilidades

    de disperso na pesquisa fornecendo, assim, roteiros a

    serem seguidos; b) as categorizaes contribuem para o

    registro dos fatos sociais e suas anlises, bem como futuro

    processo de comparao com outros mtodos

    antropolgicos; c) possibilita mais facilmente o

    desenvolvimento de propostas teolgicas para

    comunicao do evangelho de acordo com o perfil cultural

    concludo.