Escola Missionaria V.N.D

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TILA 01 ESTUDOS SOBRE ANTROPOLOGIA TOTAL 1046 - PAGINA 6 ASSUNTOS! A imagem de Deus A liberdade humana As conseqüências do pecado "...homem e mulher os criou" Quem Somos? Por que, Calabar? APOSTILA Nº 01 ESTUDOS SOBRE ANTROPOLOGIA SOBRE ANTROPOLOGIA A IMAGEM DE DEUS A Integridade Original da Natureza Humana Professor Diego Roberto Escola Missionaria Eclesiastica Voz no Deserto Introdução: Este talvez seja um dos capí tulos mais importantes que estudaremos. Tentaremos responder perguntas como: Em que consiste a imagem de Deus no homem? Que efeito teve a queda do homem sobre a imagem de Deus? O que queremos dizer quando afirmamos que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus? O conceito de imagem de Deus é o coração da antropologia cristã. Precisamos entender bem este conceito.

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TILA 01 ESTUDOS SOBRE ANTROPOLOGIA TOTAL 1046 - PAGINA 6 ASSUNTOS! A imagem de Deus A liberdade humana As conseqncias do pecado "...homem e mulher os criou" Quem Somos? Por que, Calabar? APOSTILA N 01ESTUDOS SOBRE ANTROPOLOGIA SOBRE ANTROPOLOGIA A IMAGEM DE DEUS A Integridade Original da Natureza Humana Professor Diego Roberto Escola Missionaria Eclesiastica Voz no Deserto Introduo: Este talvez seja um dos captulos mais importantes que estudaremos. Tentaremos responder perguntas como: Em que consiste a imagem de Deus no homem? Que efeito teve a queda do homem sobre a imagem de Deus? O que queremos dizer quando afirmamos que o homem foi criado imagem e semelhana de Deus? O conceito de imagem de Deus o corao da antropologia crist. Precisamos entender bem este conceito. 2 O homem distingue-se das demais criaturas de Deus, porque foi criado de uma maneira singular. Apenas do homem dito que ele foi criado imagem de Deus. Esta expresso descreve o homem na totalidade de sua existncia, ele um ser que reflete e espelha Deus. (Gn 1:26-28). Tambm disse Deus: Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana; tenha ele domnio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos cus, sobre os animais domsticos, sobre toda a terra e sobre todos os rpteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem sua imagem, imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abenoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos cus e sobre todo animal que rasteja pela terra. (Gn 1:26-28). A imagem de Deus no homem no algo acidental, mas algo essencial natureza humana. O homem no pode ser homem sem a imagem de Deus. O homem a imagem de Deus, no simplesmente a possui, como se fosse algo que lhe foi acrescentado. "Imagem" e "Semelhana"? Qual o significado destas palavras? Aqui eu quero ver com os irmos, os 4 estgios da imagem de Deus no homem. A imagem original, a imagem desfigurada, A imagem original, a Imagem desfigurada, A imagem restaurada e a Imagem aperfeioada. 1 - A imagem de Deus no homem originalmente No Velho Testamento encontramos apenas trs passagens que tratam de forma especfica a questo da imagem de Deus. (Gen. 1:26-28; 5:1-3; 9:6). "Faamos o homem nossa imagem e semelhana" . Sobre o significado das palavras "Imagem e Semelhana" entendemos que elas no se referem a coisas diferentes, embora alguns defensores da f do passado tivessem crido diferente (1). Veja as razes porque entendemos que estes dois termos querem significar a mesma coisa: Em Gen. 1:26, aparecem as duas palavras "imagem e semelhana"; em 1:27 o autor usou apenas o termo "imagem"; em 5:1 ele resolve substituir o termo por outro - "semelhana", e, em 5:3, o autor novamente volta a usar as duas palavras , contudo em ordem diferente daquela usada em 1:26 - "semelhana e imagem" e em 9:6 ele volta a usar apenas um dos termos, optando agora pelo termo "imagem". Isto, deixa suficientemente claro para ns que "imagem e semelhana" so termos sinnimos, e que querem dizer a mesma coisa. Caso no fosse assim, o autor no faria estas mudanas alternando os termos. O Que Significa ser Criado Imagem e Semelhana? Escola Missionaria V.N.D 3 Mas o que entendemos por Imagem e Semelhana? Por estes dois termos queremos dizer que o homem foi criado para refletir, espelhar e representar Deus. Nossos primeiros pais foram criados para refletir as qualidades que haviam em Deus, e isto em perfeita obedincia, sem pecado. Agostinho diz que o homem foi criado "capaz de no pecar" (2). O homem podia agir perfeitamente e obedientemente na adorao , no servio a Deus, no domnio e cuidado da criao e no amor e companheirismo uns com os outros. Berkhof diz que na concepo reformada, a Imagem de Deus consiste na integridade original da natureza do homem, integridade esta expressa: a. No Conhecimento Verdadeiro - Cl 3:10 "E vos revestistes do novo homem, que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" b. Na Justia - Ef. 4:24 "E vos revestais do novo homem, criado segundo Deus, em justia e retido procedentes da verdade" c. Na Santidade - Ef 4:24 "E vos revestiais do novo homem, criado segundo Deus, em justia e retido procedentes da verdade"(3) Van Groningen assevera que: Ao criar a humanidade sua prpria imagem, Deus estabeleceu uma relao na qual a humanidade poderia refletir, de modo finito, certos aspectos do infinito Rei-Criador. A humanidade deveria refletir as qualidades ticas de Deus, tais como "retido e verdadeira santidade"... e seu "conhecimento" (Cl 3:10). A humanidade deveria dar expresso s funes divinas em ralao ao cosmos e atividades tais como encher a terra, cultiv-la e governar sobre o mundo criado. A humanidade em uma forma fsica, tambm refletiria as prprias capacidades do Criador: apreender, conhecer, exercer amor, produzir, controlar e interagir (4) Percebemos nas palavras do Dr. Van Groningen que ele apresenta a imagem de Deus como tendo uma trplice relao: A. Relao com Deus, B. Relao com o prximo C. Relao com a criao. Iremos verificar em nosso estudo que em seu estado glorificado, os santos refletiro esta imagem e semelhana restaurando no estado final, esta trplice relao em sua perfeio. Antes do homem cair em pecado, ele refletia perfeitamente a imagem de Deus. Tudo estava em perfeita harmonia. Mas em que consistia este refletir a imagem de Deus?(5) 1 - O homem reflete a imagem de Deus como um ser que relacional. Ele no um ser que vive isolado, assim como Deus no vive s. Deus Tripessoal, e se relaciona entre as pessoas da Trindade (Gn 1:26 - "Faamos o homem ... ") 4 O homem uma pessoa, e como tal ele se relaciona. Foi por isto que Deus lhe fez uma companheira. 2 - O homem reflete a imagem de Deus pela sua capacidade de dominar sobre as outras coisas criadas O homem foi colocado como "senhor" da terra, para govern-la e cuidar dela. (Gn 1:26-28). O domnio do homem sobre as coisas criadas parte essencial de sua natureza. Nesse sentido, o homem imita o Seu Criador, pois Deus o Senhor soberano e absoluto exercendo domnio sobre toda a terra. A Deus pertence o domnio e o poder; ele faz reinar a paz nas alturas celestes. J 25:2 O teu reino o de todos os sculos, e o teu domnio subsiste por todas as geraes. O SENHOR fiel em todas as suas palavras e santo em todas as suas obras. Sl 145:13 Dn. 4:3,25,34 Quo grandes so os seus sinais, e quo poderosas, as suas maravilhas! O seu reino reino sempiterno, e o seu domnio, de gerao em gerao. V. 3 Sers expulso de entre os homens, e a tua morada ser com os animais do campo, e dar-te-o a comer ervas como aos bois, e sers molhado do orvalho do cu; e passar-se-o sete tempos por cima de ti, at que conheas que o Altssimo tem domnio sobre o reino dos homens e o d a quem quer. v. 25 Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao cu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domnio sempiterno, e cujo reino de gerao em gerao. v. 34 Se algum fala, fale de acordo com os orculos de Deus; se algum serve, faa-o na fora que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glria e o domnio pelos sculos dos sculos. Amm! I Pe 4:11 Domine ele de mar a mar e desde o rio at aos confins da terra. Sl 72:8 3 - O homem reflete a imagem de Deus por Ter atributo que chamamos "essenciais" nele; sem os quais ele no poderia continuar sendo o que : a) Poder intelectual: a faculdade de raciocinar, inteligncia e outras capacidades intelectivas em geral, que refletem aquilo que Deus tem. b) Afeies naturais: a capacidade que o homem tem de ligar-se emocionalmente e afetivamente a outros seres e coisas. Deus tem esta capacidade. c) Liberdade moral: Capacidade que o homem tem de fazer as coisas obedecendo a princpios morais. d) Espiritualidade: A Escritura diz que o homem foi criado "alma vivente" (Gn 2:7). a natureza imaterial do homem. Deus esprito, e num certo sentido, o homem tem traos desta espiritualidade. 5 e) Imortalidade: Depois de criado, o homem no deixa mais de existir. A morte no para o corpo, mas para o homem. Morte separao e no cessao de existncia. A imortalidade essencial para Deus (I Tm 6:16). O homem, num carter secundrio derivado, passa a Ter a imortalidade. 2 - A queda e a Imagem Desfigurada Como sabemos, este estado de integridade ("posso no pecar") no foi mantido at o fim pelos nossos primeiros pais. Veio a desobedincia e consequentemente a queda. Nossos primeiros pais, criados para refletir e representar Deus no passaram no teste. Provados, caram e deformaram a imagem de Deus neles. Podemos fazer a seguinte pergunta: Quando o homem caiu, perdeu ele totalmente a Imago Dei? Respondemos que em seu aspecto estrutural ou ontolgico (aquilo que o homem ), no foi eliminado com a queda, o homem continuou homem, mas aps a queda, o aspecto funcional (aquilo que o homem faz) da imago Dei, seus dons, talentos e habilidades passaram a ser usados para afrontar a Deus. Para Calvino, a imagem de Deus no foi totalmente aniquilada com a Queda, mas foi terrivelmente deformada Ele descreveu esta imagem depois da queda como "uma imagem deformada, doentia e desfigurada" (6). O homem antes criado para refletir Deus, agora aps a queda, precisa ter esta condio restaurada. Restaurao esta que se estender por todo o processo da redeno. Esta renovao da imagem original de Deus no homem significa que o homem capacitado a voltar-se para Deus, a voltar-se para o prximo e tambm voltar-se para a criao para govern-la. 3 - Cristo e a Imagem Renovada Num sentido, como j dissemos, o homem ainda portador da imagem de Deus, mas tambm num sentido, ele precisa ser renovado nesta imagem. Esta restaurao da imagem s possvel atravs de Cristo, porque Cristo a imagem perfeita de Deus, e o pecador precisa agora tornar-se mais semelhante a Cristo. Lemos em Cl. 1:15 "Ele a imagem do Deus invisvel" e em Romanos 8:29 que Deus nos predestinou para sermos "Conforme a imagem de Seu Filho ..." (I Jo 3:2; II Co 3:18) 4 - A Imagem Aperfeioada A completao da perfeio dos cristos ser a participao da final glorificao de Cristo Jesus. No somos apenas herdeiros de Deus, mas tambm co-herdeiros com Cristo, "Se com ele sofremos, para que tambm com ele sejamos glorificados" (Rm 8:17). No podemos pensar em Cristo separado de seu povo, nem de seu povo separado dele. Assim ser na vida futura: a glorificao dos cristos ocorrer junto com a glorificao do Senhor Jesus . exatamente isto que Paulo nos ensina em Cl 3:4:

6 "Quando Cristo que a nossa vida, se manifestar, ento vs tambm sereis manifestados com ele, em glria" A glorificao voltar perfeio com a qual fomos criados por Deus, voltar a imagem de Deus. Este o propsito ltimo de nossa redeno. Esta perfeio da imagem ser o auge, a consumao do plano redentivo de Deus para o seu povo. E isto s possvel em Cristo. Em Cristo, o eleito no apenas volta ao que era Ado antes de pecar, mas vai um pouco mais frente: Note as palavras de Anthony Hoekema: Devemos ver o homem luz de seu destino final (...) Ado ainda podia perder a impecabilidade e bem aventurana, mas aos santos glorificados isso no poder mais ocorrer. Ado era "Capaz de no pecar e morrer"(posse non peccare et mori), os santos na glria, porm "no sero capazes de pecar e morrer" (non posse peccare et mori). Esta perfeio, que no se poder perder, aquilo para o qual o homem foi destinado e nada menos do que isto (7) Sabemos que os santos glorificados, em seu estado final no vo pecar nem morrer. Vrias passagens das Escrituras nos garantem isto. (Is. 25:8 I Cor. 15:42,54; Ef. 5:27; Ap. 21:4) Paulo em sua carta aos Efsios nos ensina que o propsito de Deus para sua igreja, apresent-la "a si mesmo Igreja gloriosa, sem mcula, nem ruga, nem coisa semelhante, porm santa e sem defeito" (cf. Ef. 5:27) Nesta dispensao, at a Segunda Vinda de Cristo, carregamos conosco, conforme lemos em I Cor. 15:49, a "imagem do que terreno", mas na glorificao, teremos plena e perfeitamente a "imagem do celestial", ou seja, a imagem de Cristo. No porvir, nossa vida ser gloriosa, porque teremos a imagem de Cristo, seremos como Ele , e Cristo sendo a imagem de Deus, teremos a imagem de Deus de volta em ns de forma completa e perfeita. Calvino comentando este texto de I Cor. 15:49 diz: Pois agora comeamos a exibir a imagem de Cristo, e somos transformados nela diria e paulatinamente; porm esta imagem depende da regenerao espiritual. Mas depois seremos restaurados plenitude, que em nosso corpo, quer em nossa alma, o que agora teve incio ser levado completao, e alcanaremos, em realidade, o que agora esperamos(8) Note ainda as palavras de Joo: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda no se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque havemos de v-lo como ele " I Jo. 3:2 O que Joo nos diz, que, na ocasio da Segunda Vinda de Cristo, seremos assemelhados a Ele, perfeita e completamente. E como Cristo a imagem de Deus invisvel, os santos glorificados tero a imagem de Cristo. Isto significa dizer que a nossa imagem na glorificao, ser restaurada imagem de Deus. Esta semelhana a Deus e a Cristo o propsito final da nossa redeno, ou seja, a glorificao. 7 Por enquanto, a imagem de Cristo em ns est em processo contnuo conforme nos diz Paulo em II Cor. 3:18 que estamos "sendo transformados de glria em glria" , mas aps a nossa ressurreio, poderemos refletir a perfeio desta imagem, que Deus comeou em ns, e assim, s ento, poderemos ser tudo aquilo para o qual fomos destinados pelo Pai. Neste processo de restaurao da imagem de Deus em ns, atravs de Cristo, chamamos de santificao que a "conformidade progressiva imagem de Cristo aqui e agora (...); a glria a conformidade perfeita a imagem de Cristo l e ento, Santificao a glria comeada; glria a santificao completada" (9) Gerrit C. Berkouwer, telogo holands, nos mostra que a verdadeira imagem de Deus se pode conseguir apenas em Jesus Cristo que a imagem perfeita de Deus. Ser renovado imagem de Deus tornar-se parecido com Jesus (10). Todo o povo de Deus, de todas as naes, tribos, lnguas, estar ento com Deus por toda a eternidade, glorificando a Deus pela adorao, servio e louvor. Todos nossos atos sero enfim feitos sem pecado com perfeio e a o propsito que Deus estabeleceu para seus remidos ter sido alcanado. A Imagem de Deus para Joo Calvino (1509 - 1564) - Veja como Calvino responde s seguintes questes sobre a Imagem de Deus: 1 - Onde situa-se a imagem de Deus no homem? R: Segundo Calvino, ela encontrada fundamentalmente na alma do homem. 2 - Em que constitui originalmente a imagem de Deus? R: Com base em Cl 3:10 e Ef 4:24, Calvino conclui que a imagem de Deus no homem inclua originalmente o verdadeiro conhecimento, justia e santidade. 3 - Existe algum aspecto sob o qual o homem decado ainda a imagem de Deus? R: Antes da queda, de acordo com Calvino, o homem possua a imagem de Deus em sua perfeio. A queda, contudo, teve um efeito devastador sobre esta imagem. A imagem de Deus no totalmente aniquilada pela queda, mas terrivelmente afetada, deformada. 4 - O que a queda fez imagem de Deus? R: O que aconteceu foi que quaisquer dons ou habilidades que o homem reteve, tais como razo e a vontade foram pervertidos e deturpados pela queda. Todas as suas faculdades esto viciadas e corrompidas. 5 - Como a imagem de Deus renovada no homem? 8 R: Para Calvino, esta imagem restaurada pela f e comea na converso. a nossa conformao com a pessoa de Cristo. Isto uma obra da graa de Deus que se inicia na regenerao e progressivamente termina na glorificao dos santos. 6 - Quando ser completada a renovao da imagem de Deus? R: Calvino responde: Na vida por vir. Seu explendor pleno ser alcanado apenas no cu. NOTAS (1) Tertuliano (160-225); Orgenes e Clemente de Alexandria (Ver Hoekema: Criados Imagem de Deus (So Paulo, Ed. Cultura Crist, 1999), 46-8 (2) Santo Agostinho, citado por Hoekema, op cit, p. 98 (3) L. Berkhof, Teologia Sistemtica (So Paulo: Luz para o Caminho, 1990), 206 (4) Gerard Van Groningen, Revelao Messinica no Velho testamento (Luz para o caminho: Campinas) 1995 (5) Extrado adaptado de Apostila do Dr. Hber C. de Campos. (6) As Institutas, I, XV, 3 (7) Anthony Hoekema - Criados Imagem de Deus (So Paulo, Ed. Cultura Crist , 1999), 108 (8) Joo Calvino, Comentrio de I Corntios , (Edies Paracletos, So Paulo, 1996), 488 (9) F. F. Bruce, citado por Geoffrey B. Wilson, Romanos - Um Resumo de Pensamento Reformado, (SP - PES) 130 (10) G.C.Berkouwer, Man, The image of God, p. 107 EXERCCIOS PARA FIXAO DA MATRIA 1) O que significa dizer que o homem foi criado imagem e semelhana de Deus? 2) "Imagem" e "Semelhana" so termos que querem dizer a mesma coisa ou coisas diferentes? 3) Segundo Berkhof, em que consiste a integridade original da natureza do homem? 4) Como o homem reflete a Imagem de Deus? 5) Com a queda, o homem perdeu a imagem de Deus? Justifique: 6) Como a imagem de Deus renovada no homem? A LIBERDADE HUMANA Rev. Diego Roberto "Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem forado para o bem ou para o mal, nem a isso determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza" Confisso de F de Westminster, Captulo IX, seo 1 9 Quando estudamos a doutrina do Homem, torna-se inevitvel enfrentarmos a questo da liberdade. Os telogos reformados, os chamados calvinistas, tm sido criticados como algum que no cr que o homem seja livre. Isto no verdade, e os membros da IPO que tm acompanhados os ltimos estudos, j perceberam isso. Ns cremos que o homem tem liberdade sim, mas a questo que precisamos definir muito bem : O que ser livre? O que entendemos por liberdade? Muita confuso j tem sido criada em torno do termo "livre", e isto porque ele pode ser visto em vrios sentidos. A maioria dos nossos irmo na f diz acreditar no "Livre Arbtrio" Contudo, a maioria no tem a menor idia do que isto significa. A vontade, faculdade que todo homem tem, tem sido exaltada como a fantstica capacidade que a alma tem para discutir sobre coisas, fatos da vida. Mas as pessoas esto dizendo que o arbtrio (vontade) livre, precisamos perguntar: De que a vontade livre? De que ela capaz? Para provar que arbtrio (vontade) no livre lano mo de 2 proposies: 1. O Mito da Liberdade Circunstancial: A vontade pode ser livre para planejar, mas no para executar. Quando se diz que a vontade livre, obviamente no quer dizer que ela determina o curso da nossa vida. No escolhemos doena. pobreza ou dor; No escolhemos nossa condio social, nossa cor, ou nossa inteligncia. Ningum pode negar que o homem tem vontade, e que esta faculdade de escolher o que dizer, fazer, pensar, etc. ... tem nos frustrado bastante. Pensando em nossa liberdade circunstancial, podemos projetar um curso de ao, mas no podemos realizar o intento. Em outras palavras, nossa vontade tem a capacidade de tomar uma deciso, mas no o poder de realizar seu propsito. ( PV 16:9; Jr 10:23; Lc 12:18-21) Sim. O homem pode escolher e planejar o que tiver vontade. Mas a sua vontade no livre para realizar nada contrrio vontade de Deus. 2. O Mito da Liberdade tica: Diz-se que a vontade do homem livre para decidir entre o bem e o mal. Mas livre do que? livre para escolher o que? A vontade do homem a sua capacidade de escolher entre alternativas. A sua vontade, de fato, decide qual a sua ao entre um certo nmero de opes. Nenhum homem compelido a agir contrrio sua vontade, nem forado a dizer aquilo que no quer. Sua decises no so formadas por uma fora externa, mas por foras internas. 10 A vontade toma decises, e estas decises tomadas no esto livres de influncias. O homem escolhe com base nos sentimentos, gostos, entendimentos, anseios, etc. Em outras palavras, a vontade no livre do homem mesmo. Suas escolhas so feitas pelo seu prprio carter. Sua vontade no independente de sua natureza. A vontade inclinada quilo que voc sente, ama, deseja e conhece. Voc sempre escolhe com base em sua disposio; de acordo com a condio do seu corao. A Bblia diz que nossa vontade no livre, ao contrrio, ela escrava do corao - ( Gn 6:5; Rm 3:12; Jr 13:23 ). A capacidade de escolha do corao do homem livre para escolher qualquer coisa que o corao ditar; assim, no existe qualquer possibilidade de um homem escolher agradar a Deus sem que haja a prvia operao da Graa Divina. Note o texto bblico: "Ns O amamos porque Ele nos amou primeiro" I Jo 4:19 Se carne fresca e salada de tomate fossem colocadas diante de uma leo faminto, ele escolheria a carne. a natureza que dita sua escolha ( Jr. 13:33 ) Por isto no existe livre arbtrio. O arbtrio humano, assim como toda a natureza humana, inclinado s e continuamente para o mal. (Jr 13:23). No existe livre arbtrio a menos que Deus mude o corao e crie um novo corao em submisso e verdade, o homem no pode decidir por Jesus para Ter a vida a vida eterna. ( Jo 3:7; Ez 11:19; 36:26; Atos 16:14 ). A vontade no livre. Pelo contrrio, ela escrava, escrava do corao pervertido; escrava da natureza ( Jr. 17:9; 12:2; Mc 7:6,21 ). Foi a vontade de escolher o fruto proibido que nos atirou na misria. S a vontade de Deus tem realmente liberdade, e se quiser pode dar vida. (Jo 1:12-13) A ORIGEM DA VERDADEIRA LIBERDADE (posse non peccare) Definio: Liberdade a capacidade de fazer o que agradvel a Deus. Quando Ado e Eva foram criados, tinham a capacidade de escolher como a verdadeira liberdade. Nas palavras de Agostinho, nossos primeiros pais eram "capazes de no pecar" (posse non peccare). Eles poderiam permanecer no estado de tentao que a serpente lhes imps. Ado tinha o Livre arbtrio, tinha a capacidade de fazer a escolha certa. Possua a verdadeira liberdade. Contudo, ainda no era a liberdade perfeita; era verdadeira, porm no perfeita. Pois havia a possibilidade da queda. Note as palavras da Confisso de F de Westminster, Captulo IX, seo 2 11 "O homem, em seu estado de inocncia, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que bom e agradvel a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder" A VERDADEIRA LIBERDADE PERDIDA (non posse non peccare) Quando nossos primeiros pais ( Ado e Eva ) caram em pecado, perderam aquela Liberdade que o Criador lhes havia dado. Perdeu no a capacidade de escolher, mas a verdadeira liberdade, ou seja, perdeu a capacidade de escolher aquilo que agrada a Deus. Novamente fazemos meno do pensamento de Agostinho. Diz ele: podemos dizer que antes da queda, o homem era "capaz de no pecar". Aps a queda "no ser capaz de no pecar" (non posse non peccare) As Escrituras ensinam de maneira muito clara que a humanidade decada perdeu a sua verdadeira liberdade. (Joo 8:34; Romanos 6:6,17-20 ) A VERDADEIRA LIBERDADE RESTAURADA (posse non peccare) No processo de redeno, o homem decado comea a restaurar sua liberdade perdida na queda. Agostinho chamou o estado do homem regenerado de "posse non peccare" - posso no pecar, porque a redeno significa libertao da "escravido vontade". Vamos dar um olhada em algumas passagens das Escrituras que mostram que a liberdade para fazer a vontade de Deus, restaurada na regenerao, operada pelo Esprito Santo em ns. (Jo 8:34-36; Gl 5:1,12,13; II Co 3:17-18; Rm 6:4-6; 14-18; 22 ) A verdadeira liberdade no licena para pecar ; no significa fazer o que bem quiser. Segundo o apstolo Pedro (I Pe 2:16), quem tem liberdade, usa-a para servir a Deus. O exerccio de nossa liberdade envolve nossa responsabilidade neste processo que chamamos de santificao. A VERDADEIRA LIBERDADE APERFEIOADA (non posse peccare). Em nosso processo de santificao, que a verdadeira liberdade no processo de redeno, ainda podemos pecar, mas no estado glorificado, na vida por vir, nossa liberdade ser aperfeioada. Ento, como disse Agostinho; estaremos no estado "no posso pecar" (non posse peccare). Quando estivermos com nossos corpos glorificados, j no seremos mais impedidos em obedecer a Deus com a perfeio que Ele deseja. 12 Cf. I Co 15:42-43 ; Ap 21:4 Esta glorificao no ser apenas na alma, mas tambm no fsico. A Imago Dei, ( Imagem de Deus ) antes ofuscada por causa do pecado de Ado, chegar a sua perfeio por ocasio da Segunda Vinda de Cristo, quando ento, seremos ressuscitados e habitaremos para sempre com o Senhor (cf. I Tes. 4:13-18). o estado final dos Santos Glorificados Na nossa glorificao, seremos restaurados novamente perfeita imagem de Deus. Em nosso estado glorificado, vamos poder refletir Deus em sua plenitude. Reporto-me ao Dr. Van Groningen, que afirmou que Deus ao nos criar sua imagem e semelhana nos deu trs mandatos que delineiam os deveres pactuais de Deus com o homem: So eles: os mandatos Espiritual, o Social e o Cultural. A glorificao ( a imagem aperfeioada ) implica em que : A. O Homem passar a ter um relacionamento perfeito com Deus. ( Mandato espiritual ) De acordo com as Escrituras, os remidos na glria vo poder desfrutar da comunho plena com Deus; vo Ter uma viso de Deus na face de Cristo ( ap. 22:4 ); vo desfrutar da completa iseno do pecado; vo adorar plenamente o Deus verdadeiro ( Ap. 19:6,7 ). Prestaro um genuno servio ao Rei das naes ( Ap. 22:3 ). Tudo isso tinha sido perdido na Queda. B. O homem passar a Ter um relacionamento perfeito com o prximo (Mandato Social) No estado glorificado, ou seja, com a Imagem de Deus aperfeioada, os santos no mais vo se relacionar egosticamente, no haver ressentimentos, mentiras, odio ou manipulaes. Amor e comunho o que marcar definitivamente o relacionamento entre todos os irmos. As diferenas desaparecero. Todos os membros desta Famlia estaro agora e para todo o sempre na Casa do Pai. C. O homem passar a Ter um relacionamento perfeito com o cosmos. ( mandato Cultural ). Paulo em Romanos 8:21 nos diz que "a prpria criao ser redimida do cativeiro da corrupo...". No apenas o ser humano ser redimido, mas tambm toda a criao. No apenas o homem espera por um novo comeo, mas tambm a criao o espera de forma expectante (Ef 8:19). A glria por vir tambm receber uma criao redimida da corrupo do tempo presente. Em Isaas, Deus j prometeu criar novos cus e uma nova terra (vv. 22 e 23) para o seu povo se regozijar. Se com a Queda, o homem perdeu o domnio sobre a criao, agora no estado de glria, ele vai exercer o domnio, o governo sobre a natureza. Vai herdar a terra. No mais vai destru-la como antes. Pelo contrrio, o homem vai cumprir o mandato e governar sobre toda a terra, ( G, 1:27,28 ) agora redimida do cativeiro da corrupo. 13 AS CONSEQNCIAS DO PECADO Rev. Diego RobertoA Queda dos nossos primeiros pais Introduo: A queda de nossos primeiros pais, trouxe conseqncias desastrosas no apenas para eles, mas tambm para toda a humanidade. Entender o que aconteceu com Ado e Eva aps o primeiro pecado chave para compreendermos a situao em que o homem se encontra hoje. Isto porque, Ado no agiu como uma pessoa particular, mas como representante de toda a humanidade. I - CONSEQNCIAS PARA ADO E EVA: Veja o que nos diz a Confisso de F de Westminster : "Por este pecado eles decaram da sua retido original e da comunho com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma" Captulo VI, seo 2 "Por este pecado", diz a Confisso de F de Westminster: 1) Decaram da sua retido original e da comunho com Deus (imagem desfigurada) 2) Tornaram-se mortos em pecado (escravos do pecado) 3) Inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma (depravao total) Ao estudar o texto de Gnesis 3:7-24, vemos as seguintes conseqncias para nossos primeiros pais: GNESIS 3:7-24 1-) Aps o pecado foram dominados por um sentimento de vergonha. V.7 Antes tinham conscincia da nudez, mas no tinham vergonha. (Gn 2:25) "Ento foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais". (Gn 3:7) Antes tinham conscincia da nudez, mas no tinham vergonha. Veja o texto abaixo: "Ora um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e no se envergonharam". (Gn 2:25) 14 O resultado de terem comido o fruto proibido, no foi a aquisio da sabedoria sobrenatural, como satans havia dito (v. 5), ao contrrio, agora eles descobriram que foram reduzidos a um estado de misria. 2-) Aps o pecado sentiram o peso de uma conscincia culpada (Gn 3:7) Agora eles reconheciam que haviam pecado contra Deus, e resolveram fazer vestes de folha de figueira para se cobrirem. interessante observar que em Gn 3:7 afirma que os "olhos de ambos foram abertos". Obviamente que no se trata de olhos fsicos porque estes j estavam bem abertos antes, mas trata-se de olhos espirituais, os olhos do entendimento, os olhos da conscincia, que agora passam a ver e se acusarem. Eles agora "percebem" que esto ns. Perderam o estado da inocncia. Percebem no apenas a nudez fsica, mas a nudez da alma que muito pior, pois esta impede o homem de perceber Deus. A nudez de Ado e Eva a perda da justia original da imagem de Deus. Todos os seres humanos nascem agora ( aps a Queda ) nesta condio e as Escrituras dizem que necessrio que recebamos as "vestes brancas" - Ap 3:18; "vestes de salvao" - Is 61:10, que a justia original que Cristo nos traz de volta. Eles agora estavam percebendo que a sua condio fsica espelhava a sua condio espiritual. 3-) Aps o pecado, tiveram medo e fugiram - v.8 "E ouviram a voz do Senhor Deus que passeava no jardim pela virao do dia; e esconderam-se Ado e sua mulher da prsena do Senhor Deus, entre as rvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Ado e disse-lhe: Onde ests? E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me" Gn 3: 8-10 Ado e Eva se escondem ao chamado de Deus. Conscincia culpada sempre produz medo e fuga. Mas que tolice! Pensaram eles que poderiam se esconder de Deus? Pecaram e agora tm medo da sentena condenatria que Deus pode proferir contra eles. O pecado os separou de Deus, rompeu a comunho com Deus. E sempre assim. A menos que a obra de Cristo seja realizada em nosso favor, estaremos frente a frente com o juzo de Deus - Hb 2:3. 4-) Aps o pecado procuraram uma soluo intil para seu pecado. Gn 3:7. Eles tentam salvar as aparncias, ao invs de procurar o perdo de Deus. Fabricando aquelas cintas de folha de figueira, eles estavam to somente fazendo uma tentativa de acalmar a prpria conscincia. 15 Hoje em dia tambm assim. Os descendentes de Ado tm medo de serem descobertos em suas transgresses. Mas seu objetivo principal no buscar o perdo, mas sim, aquietar a conscincia e fazem isto assumindo o papel de religiosos, parecendo aos outros que esto bem vestidos. Mas no obstante nossas roupas religiosas, o Esprito Santo nos faz ver a nossa nudez espiritual. No adianta dar desculpas esfarrapadas. Precisamos nos humilhar diante daquele que tudo v. 5-) Aps o pecado, h uma fuga da responsabilidade - Gn 3:10 "E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me" Gn 3:10 Ado tenta encobrir sua culpa, colocando a culpa em Eva (v 12), que por sua vez, culpou a serpente (v 13). Eles no aceitaram a responsabilidade pelo erro. Ao contrrio transferiram a responsabilidade para o outro. No assim tambm em nossos dias? 6 -) Aps o pecado eles tentaram arranjar uma justificativa - Gn 3:12 "... a mulher que me deste" Ado chega a ser insolente. Ele no disse: "A mulher me deu do fruto e eu comi ...", mas disse: "A mulher que Tu me deste ...". Em outras palavras, Ado disse: "Se tu no me tivesses dado essa mulher, eu no teria cado". Hoje em dia, ns podemos estar fazendo o mesmo. Em nossos esforos de se justificar, acabamos por culpar a Deus dos pecados que cometemos - Pv 19:3. Exemplos: A razo tentou eximir-se de culpa, culpando o povo Ex 32:22-24. Saul fez o mesmo - I Sam 15:17-21. Pilatos deu ordem para crucificar Jesus e depois atribuiu o crime aos judeus - Mt 27:24. 7-) Aps o pecado, a mulher daria a luz em meio a dores ( Gn 3:16-19) Nesta sentena que Deus profere contra a mulher, vemos que a maldio foi mitigada. Isto porque, a gravidez era uma bno visto que a mulher daria luz e se multiplicaria sobre a terra e o descendente nasceria para pisar a cabea da serpente. Mas a dor e o desconforto do parto so conseqncias da queda. 8-) Aps o pecado, a Terra foi amaldioada. (Gn 3:17) A natureza sofre junto com a humanidade, compartilhando assim as conseqncias da queda. 16 As Escrituras descrevem esta maldio em trs maneiras: a) O sustento ser obtido com fadiga v 17. Assim como a mulher ter seus filhos com dor, o homem haver de comer o fruto da Terra por meio de trabalho penoso. Antes da queda, o trabalho de Ado no jardim era prazeroso e agradvel, mas de agora em diante, seu trabalho, bem como o dos seus descendentes ser seguido de cansao e tribulao. b) A Terra produzir cardos e abrolhos v 18. O cultivo da terra seria mais difcil do que antes. Cardos e abrolhos aqui significam: plantas indesejveis, desastres naturais, enchentes, insetos, secas e doenas. A natureza foi subvertida com o pecado do homem. (Rm 8:20-21). c) No suor do rosto comers v 19. O trabalho rduo se tornaria a poro do homem. A vida no seria fcil. 9-) Aps o pecado, a morte alcana o homem - v 19: A palavra "morte" ocorre na Bblia, com 3 sentidos diferentes, embora o conceito de separao seja comum aos trs: a) Morte Fsica: Ecl 12:7 b) Morte Espiritual: Rm 6:23; 5:12 c) Morte Eterna: Mt 25:46 10-) Aps o pecado, foram expulsos da presena de Deus - Gn 3:22-24. Estar fora do jardim era equivalente a estar fora da presena de Deus. Era a ira de Deus se revelando aos nossos primeiros pais pela desobedincia deles. (Judas 6) II - AS CONSEQNCIAS PARA A RAA HUMANA: No tpico anterior vimos que a queda trouxe conseqncias desastrosas para os nossos primeiros pais. Mas estas conseqncias no ficaram restritas apenas ao dem. Toda a raa humana sofre as conseqncias do pecado dos nossos primeiros pais. Assim se expressa a nossa Confisso de F: "Sendo eles ( Ado e Eva ) o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a 17 sua posteridade, que deles procede por gerao ordinria" Captulo VI, 3 (Sl 51:5; 58:3-5; Rm 5:12, 15:19) Em vista da queda, o pecado tornou-se universal; com excesso do Senhor Jesus, nenhuma pessoa que tenha vivido sobre a terra esteve isenta de pecado. Esta mancha que atinge a todos os homens recebe o nome na Teologia de PECADO ORIGINAL. Vamos estud-lo agora. O PECADO ORIGINAL O que o pecado original? Usamos esta expresso por trs razes: 1) Porque o pecado tem sua origem na poca da origem da raa humana. Em outras palavras, pecado original porque ele, se deriva do tronco original da raa. 2) Porque a fonte de todos os pecados atuais que mancham a vida do homem. 3) Porque est presente na vida de cada indivduo desde o momento do seu nascimento. O pecado original pode ser dividido em dois elementos: Culpa original e Corrupo original. 1-) Culpa original: Culpa real e pena real. A culpa o estado no qual se merece a condenao ou de ser passvel de punio pela violao de uma lei ou de uma exigncia moral. Podemos falar de culpa em dois sentidos: Culpa Potencial ou Culpa de Ru ( Inerente ao ser humano ) Esta culpa inseparvel do pecado, jamais se encontra em quem no pecador e permanente, de modo que, que uma vez estabelecida no removida nem mesmo com o perdo. Ela faz parte da essncia do pecado. Os mritos de Jesus Cristo no tiram esta culpa do pecador porque esta lhe inerente. O fato de Cristo Ter morrido pelo pecador no o torna inocente, mas apenas livre da condenao, livre da penalidade da lei, justificado portanto. Culpa (de fato) Real ou Pena do Ru: Esta culpa no inerente ao homem, mas o estatuto penal do legislador, que fixa a penalidade da culpa. Pode ser removida pela satisfao pessoal ou vicria das justas exigncias da lei. 18 neste sentido que Jesus levou nossa culpa, isto , pagando a penalidade da lei. Jesus no levou nossa culpa potencial, mas sim nossa culpa real. Em outras palavras, Jesus no levou nossa culpa, pagou nossa pena. 2-) Corrupo original: O pecado inclui corrupo. Por corrupo entende-se a poluio ou contaminao inerente qual todo pecador est sujeito. uma realidade na vida de todos os homens. o estado pecaminoso, do qual surgem atos pecaminosos. Enquanto a culpa tem a ver com a nossa posio perante a lei, a corrupo tem a ver com a nossa condio perante a lei. Como uma implicao necessria de nosso comprometimento com a culpa de Ado, todos os seres humanos nascem em um estado de corrupo. Esta corrupo que se propaga e afeta todas as partes da natureza humana recebe o nome de Depravao Total e que resulta numa incapacidade total. Vejamos agora em nosso prximo estudo, os dois aspectos da Corrupo original: Depravao Total ou Generalizada e a Incapacidade Espiritual. "...homem e mulher os criou" Pr. Gilson Aristeu de Oliveira "Disse mais o Senhor Deus: No bom que o homem esteja s; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idnea. Ento o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, ento, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem. Ento disse o homem: Esta agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela ser chamada varoa, porquanto do varo foi tomada. Criou, pois, Deus o homem sua imagem; imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Ento Deus os abenoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do cu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra". (Gn 2. 18, 21-23; 1.27,28) "Homem e mulher os criou" diz a Escritura Sagrada e nessa pequena expresso est todo o mistrio de ser adam, o ser humano como Deus o criou. O homem e a mulher so iguais em dignidade e destino sobrenatural, mas to paradoxais com respeito natureza humana. E por conta das diferenas, alis, significativas diferenas, j houve quem dissesse que eles pertencem a planetas distintos: o homem da Terra, mas a mulher veio de algum outro planeta... uma aliengena! Pensa e reage de modo to diferente! H quem seja muito ferino com a mulher. Por exemplo, Cato, pensador romano, disse: "Consente que a mulher, uma s vez, chegue ao p de igualdade contigo [estava falando a um homem], e desse momento em diante, ela se tornar superior a ti". Vejam, porm, o que uma mulher disse a respeito das outras mulheres. Foi Mme. de Stal assim se expressou: "Alegro-me por no ser homem, j que o sendo teria que me casar com uma mulher." No entanto, Plutarco opinou: "As mulheres, quando amam, pem no amor algo divino. Esse amor como o Sol que anima a Natureza." Que coisa linda disse ele a respeito do amor feminino! Escola Missionaria Eclesistica V.N.D 19 Nada disso invalida o relevante fato que homem e mulher tm vises diferentes do mundo, da vida, do amor, mas se completam. E um escritor evanglico dos nossos dias, o Pr. Jaime Kemp, tambm deu a sua opinio dizendo que "Eva foi criada para ser a pea que faltava no quebra-cabea da vida de Ado" . COMPREENDENDO AS DIFERENAS Homem e mulher so iguais, mas so diferentes. Que contradio essa? So iguais na mesma vida vegetativa e faculdades sensoriais, so iguais nos mesmos atributos intelectuais e no mesmo destino natural e sobrenatural, nas mesmas causas comuns. E, no entanto, so to diversos, visto que cada sexo tem caractersticas prprias. Se o homem tem maior fora fsica, e preparado para grandes esforos nesse campo, a mulher tem muito mais fora intrnseca, como que preparada para no gemer enquanto sofre, nem cansar. A mulher tem graa, tem ternura, tem feitio delicado. E se o homem se doa ao trabalho, e dele faz o seu centro de interesse; a mulher se doa integralmente a quem ama (marido, filhos), e faz do lar o seu centro de ateno. Se ele busca o exerccio do poder, da chefia, da conquista do mundo exterior, da imposio de ideais; ela atua mais diretamente sobre aqueles a quem ama. de uma presena impressionante no seu lar. Se ele tem esprito de deciso, de iniciativa, uma viso segura e clara dos objetivos (por isso, "chefe de famlia"), ela possui delicadeza, sensibilidade, dedicao, beleza fsica, e o dom da maternidade fsica e espiritual (por isso chamada "me de famlia"). As diferenas no devem se tornar obstculo ao amor. Pelo contrrio, ambos devem conhec-las, identific-las, aceit-las e no consider-las como barreira, como pedra-no-meio-do-caminho do amor e do casamento. verdade que desentendimentos at podem surgir por conta dessas diferenas. Acontece, e muito. No esqueamos, no entanto, que para o equilbrio do lar fundamental que homem e mulher coexistam, e coabitem (mesmo que ela seja de outro planeta!), mas vivam com suas caractersticas. Alis, nem devemos olhar para isso, nem devemos olhar para as divergncias, seno para o seu aspecto de complementao. No foi assim que o Senhor projetou?: "No bom que o homem esteja s; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idnea". (Gn 2.18). Uma ajudadora, uma auxiliadora, uma complementao naquilo que o homem no sabe nem pode fazer; ajudadora que esteja sua altura, "que lhe seja idnea", diz o texto. por essa razo que temos dentro de ns foras poderosssimas que agem sem que, sequer, percebamos. E uma delas a busca do carter oposto. a necessidade da anttese, e esse o milagre do amor: so dois necessitados que se completam. CONTINUANDO AS DIFERENAS Nietzche, filsofo extremamente racional do sculo passado, e, ao mesmo tempo, muito cnico, desejando expressar a natureza da mulher deixou o seguinte: "Tudo na mulher um enigma, e tudo na mulher tem uma soluo: chama-se gravidez." H estruturas psquicas bem distintas no homem e na mulher. J sabemos que o homem pensa de um jeito, e a mulher pensa de outra maneira. Elas decorrem do fato que a natureza guiada por Deus no sobrecarrega as criaturas de atributos de que no necessitam,. Isso quer dizer que em cada ser, em cada criatura, uma forte e expressiva nas qualidades de que precisa. Assim, o homem tem certas qualidades que no se encontram na mulher, e vice-versa. A se completam. Precisam disso para cumprir as suas tarefas, mas so fracos, razo porque um necessita do outro, completando-o. O homem tem tudo o que falta mulher, e vice-versa. Ou seja, virtudes masculinas na mulher so defeitos, como modos femininos no homem no so convenientes 20 Este no um trabalho sobre psicologia cientfica. A nfase h de ser no exatamente nas diferenas, mas em como conhec-las e administr-las, ou como utiliz-las adequadamente, e assim enriquecer a vida do casal. E sabem o qu? Nem sempre a mesma palavra ou expresso significa a mesma coisa para o homem e para a mulher. Por exemplo, que significado tem a expresso "lua de mel" para certos homens? Que significa a mesma expresso para as mulheres? Quando fao as entrevistas pr-matrimoniais, essa uma das perguntas. Exatamente isso: "Que significa para voc, minha filha, "lua de mel?" E, geralmente, vem uma idia to romanceada para a moa, e ela pretende ficar em lua de mel toda a vida. O rapaz, quantas vezes, tem outra idia, e discutimos as duas, e chegamos a uma sntese. O trao basilar da natureza masculina a dinmica. E por esse motivo que todo menino brinca pensando em um algo que o leve para longe. "Voc quer ser o qu?" E ele fala: "Aviador (marinheiro, astronauta, caminhoneiro)". Isso coisa de menino: ele foi feito para a ao, para a combatividade, para o trabalho pesado. Mas a mulher delicada. delicada mas no fraca. corajosa diante da dor. E um mdico pediatra amigo meu dizia "Me no cansa." Mas no uma questo de fora fsica. verdade que ela sofre variao no seu temperamento; dada depresso em certos momentos; tem alegria no outro momento. Alis, o marido no deve se alarmar com isso, no; compreenda sua mulher: h momentos da vida em que ela est altamente deprimida; talvez na hora seguinte ela esteja diferente e o marido que no conhea e compreenda essa diferena feminina vai ter muitos problemas em casa, porque no vai entender a pobre da sua mulher. Conseqncias: ela espera do marido proteo, segurana, estabilidade, e ele no as d. Por outro lado, falando em tese, o pensamento masculino devagar, abstrato, mas tem muita lgica. J perceberam que os sistemas filosficos, que as grandes teorias cientficas, as frmulas universais vieram todas de homens com seus pensamentos puxando lgica e abstrao? E a a mulher vai exclamar amargurada: "Meu marido no me compreende..." difcil mesmo!... Nicolas Berdiaeff deixou registrado que "existe uma profunda e trgica desinteligncia, uma estranha e dolorosa incompreenso entre o amor do homem e da mulher." E dizem que a Esfinge propunha o seguinte enigma: "Decifra-me ou devoro-te" (no de espantar que a Esfinge fosse uma mulher). O trao fundamental da natureza feminina a esttica. Da que o homem, que dinmico, estaria perdido sem a mulher (como Deus fez tudo to perfeito!) Seu pensar intuitivo, e no incomum, no fora de comum, ouvirmos da esposa: "Sinto que assim." E aquelas mulheres que dizem para os maridos: "Tome cuidado com Fulano; ele tem alguma coisa em que eu no confio." muito prprio da mulher ser intuitiva. Desse modo, no foi por acaso que na Idade Mdia muitas mulheres foram queimadas como feiticeiras, somente porque estavam exercitando o seu poder de intuio. Entre os gregos, a Sabedoria era representada como ... uma mulher: Atenas. Em Delfos, havia um orculo, uma profetisa, e era... uma mulher. Quem venceu Sanso, aquele homem de fora extraordinria debaixo do poder de Deus? Quem o venceu seno... uma mulher muito astuciosa. Csar levou dezessete anos para vencer o Norte da Europa; Clepatra o venceu em dezessete dias... Isso bem coisa de mulher. Pois ; so essas as filhas de Eva: sentidos mais agudos que os do homem, ouvido mais apurado que o do homem, e o povo at diz que "corao de me no dorme." E como dizia o mdico nosso irmo em Cristo, "me no cansa". 21 O homem tem viso de conjunto, mas a esposa tem viso de detalhes. E ela se influencia mais facilmente e decide com o corao. Quantas vezes impulsiva, tem juzo rpido; ele usa a reflexo, decide com a cabea. E como conseqncia, pela viso global das coisas, fixa normalmente os objetivos remotos; enquanto a esposa, pela dedicao, pelo senso do particular, pela acuidade realiza esses objetivos. Por isso, preciso haver essa indissolubilidade, essa solidariedade entre ele e ela. AINDA AS DIFERENAS O homem est mais preocupado em conquistar do que ser conquistado, razo porque o Esprito Santo atravs de Paulo ordena aos homens: "Maridos, amai a vossas mulheres, como tambm Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Ef 5.25). da natureza masculina o conquistar. Est pouco atento aos detalhes, e at parece, apenas parece, desinteressado na esposa. A mulher tem afetividade como centro da sua personalidade. A mulher um grande corao! mais receptora ao amor, e o exprime atravs de certas coisas pequenas: a maneira como se veste, como coloca flores na casa, como prepara os pratos na hora do almoo (a sabedoria popular diz que "O corao do homem se alcana pela boca"), e outros pequenos detalhes. Meu irmo querido, observe essas coisinhas pequenas na sua casa porque a sua esposa est lhe dizendo no com palavras, "eu te amo". Lio: o marido deve procurar compreender essas pequenas delicadezas, e manifestar o amor. Ao passo que no deve a esposa armar uma tragdia grega dizendo que ele no a ama se esquecer alguma data. Marido muito desligado disso mesmo, de esquecer datas! J imaginou a data em que vocs se encontraram pela primeira vez, e ele se esqueceu desse dia to importante na vida dos dois?! Em vez de armar um escndalo porque ele esqueceu, sugira antes, dois dias antes: "Mas que bom, no , que daqui a dois dias vamos completar o aniversrio de nosso primeiro encontro..." Faa uma sugesto de leve que d muito mais resultado do que reclamar do esquecido do marido. Ns temos atitudes diferentes quanto ao lar e quanto sociedade. O homem inclinado para o exterior. E mais uma coisa: reclamao no prende o homem em casa! No reclame, no: pior; a que ele quer sair mesmo. Reclamao no vai tirar o homem do baba (como se diz Bahia), da pelada, ou de grupos ou de sociedades que ele freqenta. Para a mulher, o centro vital o lar, quase como extenso de sua capacidade de ser me, um psiclogo completou dizendo que para a mulher, o lar como se fosse uma extenso do seu tero! E como doloroso descobrir no comeo do casamento que voc no o mundo do seu marido. Mas sua religio, sua espiritualidade muito mais sentimental e afetiva, e a prtica religiosa se torna uma necessidade espontnea dentro de casa. No caso, a espiritualidade dele s vezes mais fria, e, s vezes, mais por dever do que por servir. Para harmonizar essas diferenas, necessrio se torna o trabalho contnuo, e o desejo de adaptao. Procure, portanto, no atribuir aos gestos e palavras do outro um segundo significado. H muita gente que quer fazer isso: Porque ele disse uma coisa, ela l outra; ela disse uma coisa, ele escuta outra. Talvez no seja isso o que ele est dizendo, no o que ele queria dizer. Mas no use tambm as caractersticas prprias do sexo para encobrir ou justificar defeitos individuais seus. O marido professor, est no sof lendo, meditando ou estudando. A esposa chega e diz: "J que voc no est fazendo nada, venha me ajudar com essa pia entupida (ou com essa escada, etc.)." Pronto; matou o casamento! Ele est fazendo alguma coisa: est se preparando, est estudando, est se melhorando; 22 No que no esteja fazendo nada. Ou no caso daquele outro que gosta de trabalhar com as mos, pegar na tinta, no pesado. Quando sai, deixa a sujeira no cho. A mulher que se identifica tanto com a casa que no pode ver sujeira, diz assim: "Sujou a casa, limpa depois." Ele, porque no compreende, tambm ridiculariza o quadro que ela comea a pintar, o tapete que comea a tecer, e diz algo que machuca a alma da esposa. Os tipos humanos so tambm, diferentes. H os extrovertidos que amam sair, amam o movimento, so "rueiros"e festeiros. H pessoas que so introvertidas, so tranqilas, caseiras, mais apreciadoras de um livro do que de bater perna no shopping. Por instinto, um homem muito racional vai se casar com uma mulher muito sentimental. Isso no problema, no. O problema querer faz-la entender a linguagem da razo, a linguagem objetiva, exata, e dizer que ela no tem lgica quando explode sentimentalmente. Ela, por sua vez, reclama que o tom racional do marido esteriliza os sonhos e a prpria vida. Na verdade, uma a linguagem das cincias exatas, outra a linguagem das metforas. Jesus at a usou. Veja Mateus 13.1-23. A metfora est nos versos 3 a 9. Ele no disse "quem tem ouvidos para ouvir oua"? Mas, nem todos tinham. Por isso, Ele explicou, e recontou-a nos versos 18 a 23. Esses aparentemente dspares (os conceitos exatos e as expresses metafricas) so perfeitos para a unio do casal, para que se completem. Talvez o casal no saiba administrar essa unio, e quando perderem o outro, vo dizer "Eu era feliz e no sabia". verdade; h diferenas entre o homem e a mulher. Por isso se necessitam tanto, e, ao mesmo tempo, tm tanta dificuldade de se conhecerem. o homem que discute o futuro, a mulher que reage ao momento presente ("Deixa de conversar bobagem - diz ela - e vem ajudar o menino a fazer os deveres"). Creio que esse gosto pelo presente e por detalhes que faz com que a conversa nas rodas de mulheres casadas seja principalmente em um desses trs temas: filhos (ou netos), empregadas ou cirurgia que j fizeram, ou precisam fazer. So assuntos imediatos, coisa de mulher! J o marido pega o jornal, pronto, ela se sente infeliz e abandonada. O USO DA PALAVRA E o uso da palavra? Para o homem, a palavra expresso de idias e expresses. Mas para a mulher, expresso de sentimentos e emoes, razo porque conta oito vezes a mesma histria para o marido. Ela no quer inform-lo, no: quer descarregar a emoo. L fora, usam dizer que mulher fala demais, "Fala pelos cotovelos", e um telogo curioso e criativo disse que no cu haver um momento de grande tormento para as mulheres, descrito em Apocalipse 8.1: "Quando abriu o stimo selo, fez-se silncio no cu, quase por meia hora." Uma tortura para as mulheres essa meia hora de silncio! A mulher quer a palavra. Foi perfeitamente pertinente, ento, que a palavra se tenha feito carne no ventre de uma mulher. E porque a palavra significa emoo, ela quer ouvir do marido (no importa se duzentas vezes) a expresso mgica "Eu te amo". o carinho da palavra. E ela quer ouvir, apesar de o saber. H uma historinha que diz que a esposa reclamou do marido: "Voc j no diz que me ama..." E ele responde: "Olha, ns estamos casados h 17 anos. No dia do casamento eu disse que a amava e basta; no precisa dizer mais; no j disse diante das testemunhas? " Ela quer ouvir, apesar de o saber, porque a mulher conquistada e seduzida pelo ouvir. No foi assim que a nossa me primeira foi seduzida e conquistada pela palavra da serpente? (cf. Gn 3.1-6). 23 Por outro lado, h maridos que no sabem dizer "Eu te amo", mas falam como podem ou sabem: aquele vestido que d de presente, aquele jantar fora um dia, e assim por diante. CASE-SE COM ELE E TAMBM COM... Minha irm querida, case-se com ele e tambm com a profisso dele. O filsofo espanhol Ortega Y Gasset disse que o homem ele e suas situaes de vida ("Eu sou eu e as minhas circunstncias"). O mdico, por exemplo, no tem hora; o pastor vive em funo da igreja 24 horas no ar; o professor, da sala de aula; o comerciante, do seu comrcio. De modo que nunca fale da profisso dele com desprezo; e nem fale da profisso dela, meu irmo, como coisa desnecessria. E mais uma coisa: no reclame se ela vai tanto ao salo de beleza. para voc que ela est se embelezando; para voc que ela est ressaltando essa beleza. Ela quer que voc a veja e aprecie. Vejam que encontro bonito descrito em Gnesis 24. 63-65: "Sara Isaque ao campo tarde, para meditar; e levantando os olhos, viu, e eis que vinham camelos. Rebeca tambm levantou os olhos e, vendo a Isaque, saltou do camelo e perguntou ao servo: Quem aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? Respondeu o servo: meu senhor. Ento ela tomou o vu e se cobriu". Modstia por um lado (a modstia oriental, as mulheres se cobriam como o fazem ainda hoje nos pases rabes), mas, ao mesmo tempo, ela se embelezou para Isaque. Por que no dizer para ela, ento, no esprito do Cntico dos Cnticos: "Tu s toda formosa, amada minha, e em ti no h mancha. Quo doce o teu amor, minha irm, noiva minha! Quanto melhor o teu amor do que o vinho! E o aroma dos teus ungentos do que o de toda sorte de especiarias!" (4.7,10). Alis, a mulher por natureza vaidosa. Veja a reao das mulheres quando passam diante de um espelho. ("Espelho, espelho meu, existe outra mulher mais bonita do que eu?"). Porque ns somos iguais e diferentes; porque temos iguais e diferentes necessidades; porque a irm necessita ser protegida, acariciada e amada: porque o irmo precisa de ser igualmente elogiado, apreciado, que h certas condies. Sim; a mulher quer isso mesmo: ser amada e protegida (necessidade o que cada um deseja para se manter equilibrado), mas quer liberdade para exercer os seus papis de me, esposa e profissional, e as pequenas expresses de carinho e interesse significam para a mulher muito mais, muito alm do que ns, os homens, podemos imaginar. Ela deseja que o marido seja amante e companheiro, mas delicado. E o seu marido tambm, amada irm, precisa saber que competente, digno de confiana, deseja uma esposa que cuide do lar, dos filhos, e que se interesse pelo seu trabalho, mas no reclame dos seus passatempos. Queixas e reclamaes no resolvem! Pelo contrrio, o que eu encontro nos Provrbios at uma condenao: "As rixas da mulher so uma goteira contnua" (Pv 19.13b). Imagine uma goteira pingando durante toda a noite? E tambm: "Melhor morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda." (Pv 21.19) Est na Escritura... Agora, s para as irms um segredinho de um homem para as mulheres (os companheiros que me perdoem): o homem cede muito mais (muito, muito mais) a uma suave persuaso e um tratamento sedutor que s reclamaes e exigncias. DILOGO Muito ajuste de diferenas se resolve com dilogo. Palavrinha boa! Dilogo significa "atravs (dia) da palavra (logos)". o que algum chamou de "O dever de sentar-se". preciso sentar para conversar, 24 sentar para trocar idias, porque dilogo no casamento o encontro da psicologia masculina com a feminina. Dilogo avaliao. E um pensador disse que "Ainda no nos conhecemos porque no tivemos ainda a coragem de nos calar juntos" (Maeterlinck). O dever de sentar-se e avaliar o casamento a trs: O Senhor nosso Deus e o casal; dilogo sob o olhar de Deus. E para esse dilogo h condies: preciso respeitar o outro, por isso use linguagem afetuosa. preciso saber escutar, razo porque Jesus Cristo mandou que nos amssemos, e no que nos amassemos uns aos outros. Buscar compreender as necessidades do outro. Se algum tem sede, guaran no serve. Se a esposa precisa de ateno, no adianta dar uma pulseira. Alis, d a pulseira e ateno! Dialogar no reclamar, (pode at s-lo), mas , realmente, sorriso, perdo, colocar na mesa problemas, sucessos, alegrias e preocupaes; troca de idias, e se insere na linha da comunho. No casamento e no dilogo, marido e mulher esto em p de igualdade; so companheiros ("companheiro" aquele que come po comigo: co+panis ), e so camaradas ("camarada" quem habita a mesma cmara, o mesmo quarto). Dilogo um encontro das psicologias masculina e feminina, j o dissemos. Outrossim, alm das palavras, a orao dilogo, o passeio a dois dilogo, o passeio com os filhos tambm dilogo. Sim; orem juntos; escolham a melhor hora de conversar; procurem definir o problema bsico. Onde h acordo? Onde est o desacordo? Oua primeiro, e s depois responda, porque at para isso a Escritura tem uma recomendao: "Responder antes de ouvir, estultcia e vergonha." (Pv 18.13; cf. Tg 1.19). Como voc pode contribuir para resolver? Termino com este poema que diz: AMOR s a minha amada, s minha e eu sou teu. Est escrito. Uniremos nossas almas e corpos e ficaremos ligados em corpo e almas. Est escrito. E nem o vento que sopra do deserto, nem o tempo que desgasta, nem a morte que amedronta , nem os sensatos que falam de razo, 25 nada destruir o nosso amor, porque o nosso amor um baluarte e os aguaceiros da vida no poderiam extingui-lo porque ele uma chama de Deus, e o fogo de Deus arde para alm de todos os dilvios. Est escrito: amar penetrar nas fronteiras de Deus. Seremos uma porta aberta: a quem entrar serviremos a Festa com colares engranzados de nuvens, oferecer-lhe-emos o nosso riso como presente para levar, abrir-lhe-emos as mos para receber em depsito todos os fardos. Seremos uma s taa derramada, seremos um s corpo oferecido, entregar-nos-emos festa da vida. QUEM SOMOS? Pr. Gilson Aristeu de Oliveira Nossa reflexo sobre identidade. Que nos identifica como cristos, salvos, regenerados, nascidos de novo, tornados novas criaturas? Que convocao, chamada, temos da parte de Deus Pai que faz diferena no mundo em que vivemos e atuamos? DEUS NOS CHAMA PARA QUE SEJAMOS ADORADORES A tarefa primordial da Igreja de Jesus Cristo celebrar o Seu Nome, ador-Lo, cultu-Lo. Afirmou o Senhor Jesus Cristo em Joo 4.23,24: "Mas a hora vem, e agora , em que os verdadeiros adoradores 26 adoraro o Pai em esprito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus Esprito, e necessrio que os que o adoram o adorem em esprito e em verdade". Tudo o mais decorrente do culto. Foi para cultuar e adorar a Deus que fomos trazidos f e salvao. Deus nos convoca para a adorao. No entanto, em muitos casos, apenas nos divertimos. Fomos chamados para cultuar, mas fazemos na igreja pardia de teatro, de circo, de programa de auditrio; somos espectadores, quantas vezes, mas no cultuantes. O objetivo da adorao despertar a conscincia da santidade de Deus. Um aspecto do culto encontrado em Romanos 12.1: "Rogo-vos pois, irmos, pela compaixo de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifcio vivo, santo e agradvel a Deus, que o vosso culto racional". O verdadeiro culto, ento, medido pela transformao de quem cultua pelo fato de estar na presena de Deus. Mede-se por uma nova viso de Deus, por uma compreenso que torna a caminhada diria, a aventura do dia a dia mais profunda com Deus na nossa vida, com Cristo no nosso corao, com o Esprito Santo segurando a nossa mo. O verdadeiro culto incomoda a nossa vida e o modo como temos vivido. Que falta em nossos dias em relao a essa reverncia e temor a Deus? O que anda acontecendo em muitas igrejas evanglicas mais programa de auditrio que profundidade na palavra. Mas h quem prefira o raso de uma religio infantil profundidade do culto racional, do culto em esprito e do culto em verdade. E deste modo, quando o crente est com a sua vida apagada e cheia de desobedincia, e de rebeldia e de pecado, o louvor no sai DEUS NOS CHAMA PARA QUE SEJAMOS INTERCESSORES Orao um fenmeno espiritual. Consiste numa queixa, num grito de angstia, num pedido de socorro. Consiste numa serena contemplao de Deus, princpio imanente e transcendente de todas as coisas. A orao um ato de amor e adorao para com Aquele a Quem se deve a vida. Ora-se como se ama, ou seja, com todo o nosso ser. No h necessidade de eloqncia para que seja atendida. Foi o caso do cego Bartimeu, que ao ouvir que Jesus estava passando, exclamou "Jesus, filho de Davi, tem misericrdia de mim!" Mc 10.46ss). Ele s tinha o grito. Nada mais. Orao uma batalha. Para essa batalha, temos que vestir a armadura do crente (Ef 6.11). Nela, enfrentamos hostes espirituais, os poderes de Satans. Orao prestar ateno a Deus. Voc tira tempo para falar com Ele, o Pai, e, tambm, para ouvi-Lo . Grandes intercessores na Bblia no escolhem lugar para orar: Agar orou no deserto (Gn 21.16); Moiss fez acabar uma rebelio com orao (Ex 15.24,25); Ana teve um filho como resposta orao (1Sm 1.27,28); Samuel derrotou uma nao inimiga pela orao (1Sm 7.9,10); Gideo provou a vontade de Deus atravs da orao (Jz 6.39,40); Elias pela f e orao venceu os profetas de Baal (1Rs 18.37,38); Davi pediu misericrdia (Sl 51.10ss); Salomo santificou a Casa de Deus pela orao (2Rs 20.1,2,5); Ezequias acrescentou anos vida pela orao (2Cr 18.3); Josaf saiu de uma situao difcil 27 pela orao ((2Cr 18.3); Daniel pediu auxlio pela orao (9.16); Esdras recebeu orientao divina porque orou (Ed 8.21,22); Zacarias viu o sonho de sua vida realizado pela orao (Lc 1.13). Voc pode ser intercessor em qualquer lugar: Ezequias orou na cama (2Rs 20.1); Jonas em alto mar (Jr 2.1); Jesus o fez no Calvrio (Lc 23.34); Jairo, na rua (Lc 8.41); Pedro orou no terrao (At 10.9); Paulo e Silas estavam na priso (At 16.25), e um criminoso no nomeado o fez nos seus ltimos momentos de vida (Lc 23.42). Ora-se como se ama: com todo o ser. No h necessidade de eloqncia para ser atendido, j o dissemos. Pedro fez uma orao com trs palavras (Mt 14.30); o publicano com sete palavras (Lc 18.13); Salomo fez uma longa orao na consagrao do templo (2Cr 6.12-42). Mas, como orar? A Bblia to clara... Sem hipocrisia, exorta-nos Mateus 6.5. Hipocrisia uma representao, uma pea de teatro; faz-de-conta com extrema maldade (Mt 15.7,8). Secretamente, ensina Mateus 6.6. Isso corresponde, at, a ficar a ss com Deus mesmo na multido. Com f, atesta Hebreus (11.6). De modo definido como o declara Mateus 6.7,8 e Marcos 11.24. Com insistncia, mesmo (Lc 18.1-7; Mt 15. 21.28). Com submisso fala Romanos 8.21, aguardando o que Deus quer fazer em ns. Com esprito de perdo, como expresso em Marcos 11.25,26. E, por fim, em nome de Jesus(Jo 14.14). Muita orao deixa de ser atendida por falta desses importantes elementos ou pela presena de motivos indesejveis. So oraes estreis pelo egosmo, mentira, orgulho, falta de f e de amor, teimosia e desobedincia a Deus (Zc 7.12,13; Dt 1.45; Pv 28.9), Pecado (Sl 66.18; Is 59.2; 1.15; Mq 3.4; Sl 66.18), desarmonia no lar ((1Pe 3.7); vaidade (J 35.12,13), falta de perdo (Mt 6. 14,15), indiferena (Pv 1.28), amor prprio exaltado e maus objetivos (Tg 4.3). De tudo isso, decorre que quem ora tem senso de incapacidade e insuficincia, compreende necessitar de ajuda extra e clama a Deus. Paulo disse "A nossa suficincia vem de Deus" (2Co 3.5), e Jesus exortou que "... sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5b). Quem ora tem f (Hb 11.6). Se quer ser atendido, ore com f (Mt 21.21,22; Jo 11.40). DEUS NOS CHAMA PARA QUE SEJAMOS FACILITADORES (1Co 16.14) Temos de Deus muito o que repassar aos outros: o evangelho deve ser repassado (Mt 28.19,20). Porque somos facilitadores do reino de Deus, o produto da vida crist deve ser repassado (Ef 2.8ss), o fruto do Esprito deve ser repassado (Gl 5.22,23). O fruto do Esprito um programa de vida a ser facilitado, repassado e posto em ao: AMOR (Cl 3.14). Deus amor; o amor perdoa (1Co 13) ALEGRIA (Rm 14.17). No so sorrisos; "Alegrai-vos no Senhor"; Cuidado com a confiana mal colocada (deve ser posta no Senhor); PAZ (Rm 12.18) PACINCIA (Cl 3.12,13).Mesmo na provocao; BENIGNIDADE (Cl 3.12); BONDADE (Gl 6.10); 28 FIDELIDADE (Pv 20.6) MANSIDO e DOMNIO PRPRIO (Pv 25.28) Sobre o amor, lembremos que no evangelho h o amor de Deus por ns; o nosso amor por Deus; o nosso amor pelos outros. Quanto ao amor de Deus por ns, conforme expresso em Joo 3.16; 1Joo 4.19. O que distingue o evangelho de qualquer outro sistema religioso, teolgico ou filosfico o verbo "dar". Deus deu. Agostinho ensinou que "Deus ama a cada um de ns como se s houvesse um de ns para amar". Em relao ao nosso amor por Deus, amo realmente a Deus e a Cristo? Em Joo 21, h uma expressiva pergunta de Jesus: "Simo, filho de Joo [ponha seu nome e sobrenome], amas-me?" Como podemos ser facilitadores se perdemos o primeiro amor? O terceiro tema o nosso amor pelos outros. Ou colocamos em ao ou no somos facilitadores de coisa nenhuma. CONCLUSO Quem somos? Essa foi a pergunta proposta. Percebeu que responsabilidade temos? Adoradores, Intercessores e Facilitadores do reino de Deus. Como Ele bom: elegeu-nos em Cristo, deu-nos uma comisso, sustenta-nos na obra, e espera que sejamos responsveis. Dele dependemos; nEle esperamos. "POR QUE, CALABAR?" O MOTIVO DA TRAIO Gilson Aristeu de Oliveira A figura de Calabar insere-se na histria ptria colonial durante a poca da invaso dos holandeses no Nordeste (1630-1654). Morador de Porto Calvo, Alagoas, passou para o lado holands em 1632. Conseqentemente, desprezado pela maioria das pessoas como traidor; outros, porm, acreditam que Calabar amava a sua terra natal e fez uma escolha sbia. Mas, afinal, por que ele teria passado para o outro lado? Qual a razo da traio? I. Contexto Para entendermos o drama de Calabar, temos de lembrar do contexto histrico.1 Portugal e suas colnias estavam debaixo do domnio espanhol desde que Filipe II conquistara a coroa portuguesa em 1580. Com isso, ele pode afirmar com razo que no seu imprio o sol nunca se punha. Somente sessenta anos depois, em 1640, Portugal se livraria de Castela e constituiria de novo um reino independente sob o governo de D. Joo IV. Mas a histria de Calabar se desenvolveu inteiramente no contexto do Brasil ibrico, quando, por algum tempo, no havia previso de mudanas polticas. Domingos Fernandes Calabar2 deve ter nascido durante a primeira dcada do sculo XVII, no atual Estado de Alagoas, na regio de Porto Calvo, sendo filho de pai portugus e de me indgena, de nome ngela lvares.3 Era, assim, um mameluco,4 e foi batizado numa igreja da parquia de Porto Calvo.5 O menino foi educado numa escola dos padres jesuitas e, homem feito, ainda antes da invaso 29 batava, possua trs engenhos de acar naquela regio.6 Ento, em 1630, a segunda onda de invasores holandeses alcanou a costa do Nordeste. Portugal e a Holanda geralmente gozavam de um bom relacionamento, inclusive por causa do seu inimigo comum, a Espanha. Na poca do reino unido ibrico (1580-1640), a invaso flamenga fazia parte da guerra dos oitenta anos que a Holanda travava contra o domnio espanhol sobre os sofridos Pases Baixos (1568-1648).7 A Ibria continuou tentando recapturar suas provncias perdidas e esmagar a reforma religiosa naqueles rinces. A Europa sempre se admirava de como os Filipes conseguiam colocar exrcitos bem equipados to longe das suas terras, e sabia que o segredo era a riqueza oriunda principalmente das colnias americanas, inclusive do Brasil. De l no vinha ouro nessa poca, e sim grandes caixas do apreciado acar, branco e mascavo. Eram umas 35.000 caixas de 300 quilos cada uma por ano.8 O paladar europeu estava se adaptando ao novo produto e o preo do acar estava em alta. A Holanda procurava "estancar as veias do rei da Espanha," pelas quais flua tanta riqueza, e muitos holandeses apoiaram de corao os esforos da Companhia das ndias Ocidentais no sentido de causar "prejuzo ao inimigo comum."9 O domnio holands do Nordeste durou quase um quarto de um sculo (1630-1654) e teve trs perodos distintos. A primeira etapa abrange os anos da resistncia ibrica e do crescimento do poderio neerlands (1630-1636). O segundo perodo compreende a resignao lusa e o florescimento da colnia holandesa (1637-1644). Os ltimos anos compem a insurreio dos moradores portugueses e o fenecimento do domnio flamengo at a expulso final (1645-1654). So perodos de aproximadamente sete, oito e nove anos, respectivamente. O florescimento da colnia holandesa coincidiu com a presena do Conde Joo Maurcio de Nassau-Siegen como governador do Brasil holands, e deveu-se em grande parte sua pessoa. Especialmente na poca nassoviana, mas de fato durante todo o perodo holands, o Nordeste era como que um enclave renascentista10 no Brasil colonial, com uma forte influncia crist reformada. A histria de Calabar parte integrante do primeiro perodo da ocupao holandesa, a da resistncia ibrica contra os conquistadores recm-chegados. Olinda, a capital da capitania de Pernambuco, caiu nas mos dos holandeses em fevereiro de 1630. Sua conquista fez parte da "primeira guerra mundial... contra o rei do planeta."11 A composio das tropas invasoras refletia esse aspecto global, semelhana dos atuais Gidees Internacionais, incorporando holandeses, frsios, vales, franceses, poloneses, alemes, ingleses e outros. Envolvidos na guerra contra Madri, todos se alegraram quando os "espanhis" bateram em retirada.12 Essa luta contra a Espanha tinha implicaes profundamente religiosas. Embora a instruo do almirante Lonck estipulasse que todos os padres jesutas e outros religiosos teriam de abandonar o pas, ela reafirmava a "liberdade de conscincia, tanto para os cristos como para os judeus, desde que prestassem juramento de lealdade..., assegurando-lhes que (a Holanda) no molestaria ou investigaria as suas conscincias, mas que a religio reformada seria publicamente pregada nos templos..."13 Foi institudo um governo civil; um dos membros desse Alto Conselho era o mdico Servaes Carpentier.14 O exrcito ficou sob o comando do coronel Diederick van Waerdenburch, o governador, presbtero da Igreja Reformada, homem estimado pelas tropas. Em 1631, foi conquistada a Ilha de Itamarac e construdo o Forte de Orange sob a superviso do capito protestante Chrestofle Arciszewski, um nobre polons.15 Todavia, a expanso foi lenta, e outras tentativas de ampliar a conquista vieram a fracassar por causa da resistncia dos luso-brasileiros, que eram grandes conhecedores da regio e haviam adotado a ttica de guerrilhas ("capitanias de emboscada"), o que deixou os holandeses praticamente encurralados. O prprio almirante Lonck quase caiu numa emboscada no istmo entre o Recife e Olinda, e o pastor Jacobus Martini foi morto no 30 mesmo trecho.16 O centro da resistncia portuguesa estava localizado a uns seis quilmetros do litoral, em um terreno alagadio no lugar denominado Arraial do Bom Jesus.17 A Ibria enviou uma armada de mais de 50 navios para recapturar Pernambuco, sendo que a maior parte da contribuio dada por Lisboa veio de emprstimos compulsrios de "cristos novos" (judeus convertidos compulsoriamente ao catolicismo romano).18 Em setembro de 1631, a batalha naval de Abrolhos, no litoral pernambucano, ficou sem vencedor. Em seguida, as tropas espanholas, sob o comando do no muito benquisto conde napolitano Bagnuolo, desembarcaram em Barra Grande, no sul de Pernambuco, a cerca de cinco lguas do maior povoado da regio, Porto Calvo, s margens do Rio das Pedras. Entre eles estava Duarte de Albuquerque Coelho, o novo donatrio de Pernambuco, autor das famosas Memrias Dirias19 sobre os primeiros oito anos dessa guerra colonial. Por ora a situao era de empate, os holandeses dominando o mar, os portugueses as praias. II. Histria Essa situao de virtual equilbrio no Nordeste continuou at 22 de abril de 1632, quando um soldado de nome Calabar, homem muito forte e audaz, deixou o campo portugus e passou para o lado dos holandeses. Foi apenas por um breve perodo, pouco mais de trs anos, mas teve conseqncias para toda a poca flamenga. Calabar no foi o nico a passar para o outro lado, mas sem dvida foi o mais importante entre eles. Era um homem inteligente e grande conhecedor da regio, que j tinha se distinguido e ficado ferido na defesa do Arraial sob a liderana do nobre general Matias de Albuquerque.20 Inicialmente, os holandeses no confiaram muito nele.21 No entanto, dez dias depois Calabar provou pela primeira vez o que podia fazer, levando as tropas do coronel Van Waerdenburch a saquear Igarau, a segunda cidade de Pernambuco, para onde uma parte das riquezas de Olinda tinha sido transportadas. Durante os meses seguintes, muitas campanhas foram feitas pelas colunas volantes batavas sob a orientao de Calabar, que tornou-se amigo do coronel alemo Sigismund von Schoppe. Por outro lado, o general Matias tentou "por todos os meios possveis (reduzir Calabar), assegurando-lhe no s o perdo, mas ainda mercs, se voltasse ao servio de el-rei; e esta diligncia repetiu por muitas vezes, no que se gastou algum tempo; mas vendo que nada bastava para convenc-lo, tratou de outros meios."22 Em 1633, com a ajuda de Calabar, foi conquistado o litoral norte, desde Itamarac at a fortaleza dos Reis Magos, e com isso o Rio Grande do Norte, o que levou a contatos amigos com os tapuias, indgenas antropfagos daquela regio. Na parte sul, foi tomado o valioso ancoradouro do Cabo Santo Agostinho, o que privou os portugueses do porto mais prximo do Arraial, dificultando o recebimento de reforos de Lisboa e o envio de acar para Portugal. Nessa altura, o coronel Sigismund, como o mais velho dos oficiais, assumiu o comando das tropas terrestres. No mar, o almirante Jan Cornelis Lichthart, que falava portugus, tornou-se amigo de Calabar, que lhe ensinava as entradas dos rios. Do outro lado, os portugueses prosseguiam com suas tentativas de destruir Calabar. Assim, em maro de 1634, o general Matias prometeu a Antnio Fernandes, um primo irmo com quem Calabar fora criado, "que lhe faria merc que o contentasse se pudesse mat-lo em algum ataque." Antnio aceitou a comisso mas foi morto na tentativa.23 31 Enquanto isso, Calabar se adaptava mais e mais sociedade dos invasores e tornou-se um indivduo estimado e respeitado, inclusive na "igreja catlica reformada."24 Prova disto que, quando nasceu um filhinho do casal, foi batizado na Igreja Reformada do Recife. O livro de batismo dessa igreja registra que no dia 20 de setembro de 1634, Calabar esteve ao lado da pia batismal com o seu filho nos braos. O menino foi, ento, batizado "Domingo Fernandus, pais Domingo Fernandus Calabara e Barbara Cardoza."25 Como testemunhas, ali estavam o alto conselheiro Servatius Carpentier, o coronel Sigismund von Schoppe, o coronel polons Chrestofle Arciszewski, o almirante Jan Cornelisz Lichthart e uma senhora da alta sociedade.26 O pastor oficiante foi provavelmente o Rev. Daniel Schagen.27 No final de 1634, a Paraba tambm havia se rendido aos invasores. Alguns sacerdotes (exceto os jesutas) inclusive tiveram a permisso de assistir aos ofcios religiosos. Houve at um padre, Manuel de Morais, S.J., que passou para o lado invasor. Dessa forma, os holandeses ocuparam a faixa litornea desde o Cabo Santo Agostinho at o Rio Grande do Norte. A Espanha no podia fazer muito devido aos grandes problemas que enfrentava na Alemanha (com o avano do exrcito sueco para ajudar a Reforma contra as tropas do imperador), a perda de uma frota carregada de prata do Mxico (devido a um furaco), problemas no Ceilo, vrios anos de seca em Portugal, etc. Novamente orientados por Calabar, os holandeses continuaram a expanso para o sul e, em maro de 1635, atacaram Porto Calvo, a terra natal do prprio Calabar. Os defensores, liderados por Bagnuolo, fugiram para o sul, e com a ajuda de frei Manuel Calado do Salvador28 os moradores da regio submeteram-se aos holandeses. Dessa forma, o Arraial ficou isolado e, depois de trs meses, em junho, Arciszewski conquistou aquela fortificao lusa, os religiosos recebendo permisso para levarem as suas imagens. Matias de Albuquerque havia fugido para o sul com aproximadamente 7000 moradores que preferiram acompanh-lo a ficar sob o domnio flamengo. A nica estrada da regio pantanosa de Alagoas que podia ser usada por carros de boi passava por Porto Calvo, e nessa altura estava em poder do major Picard e de Calabar, acompanhados de uns 500 homens. Matias viu-se forado a atacar a praa, que teve de pedir condies de entrega. Picard tentou salvar a vida de Calabar e finalmente foi combinado que ele ficaria " merc d'el-rei."29 Porm, como disse o historiador De Laet, a proteo concedida foi " espanhola" e um tribunal militar o condenou a ser enforcado e esquartejado como traidor.30 O frei Manuel o assistiu nas ltimas horas31 e ao anoitecer do dia 22 de julho de 1635 a sentena foi executada. Foi tambm enforcado um judeu, Manuel de Castro, "homem de nao," que estava ali a servio dos holandeses.32 Poucas horas depois, os portugueses continuavam a sua retirada em direo Bahia, levando consigo cerca de 300 prisioneiros holandeses. Nenhum dos moradores cuidou de enterrar o soldado executado. Dois dias depois, chegaram a Porto Calvo as foras combinadas dos coronis Sigismund e Arciszweski, que ficaram enfurecidos ao achar os restos mortais do seu amigo e compadre Calabar. Foram colocados num caixo e sepultados com honras militares. Querendo vingar-se da populao lusa, foram dissuadidos por Calado, "o frei dos culos," especialmente pelo fato de que os holandeses precisavam dos "moradores da terra" para a plantao da cana-de-acar e a criao do gado. III. Motivos Por que Calabar teria passado para o lado do invasor? Capistrano de Abreu pergunta: "Talvez a ambio ou esperana de fazer mais rpida carreira, ou desnimo, a convico da vitria certa e fcil do invasor"?33 Reconheamos que, com esta inquirio, entramos no campo da especulao histrica, pois no h indcios concretos nos documentos, somente aluses vagas.34 Deve ter havido motivos claros e outros ocultos, motivos diurnos e noturnos.35 Alm disto devem ter existido foras que o 32 empurravam para fora do crculo portugus e outras que o atraam para dentro do campo holands, foras centrfugas e centrpetas. Lembremos ainda que uma deciso dessas geralmente no se toma de um dia para o outro. Havia motivos que se cristalizaram com o tempo, at que algo levou o barril de plvora a explodir. A. Fugitivo? A primeira pergunta deve ser: ser que Calabar era um fugitivo? O confessor de Calabar, antes da sua execuo, foi o frei Manuel Calado do Salvador, vigrio da parquia de Porto Calvo. Treze anos depois, em 1648, no auge da revolta contra os holandeses, ao escrever O Valeroso Lucideno, seu livro panegrico em louvor do lder Joo Fernandes Vieira, Calado afirmou que Calabar era um contrabandista, que inclusive teria cometido grandes furtos e vrios crimes atrozes na parquia de Porto Calvo e, temendo a justia, fugiu com Brbara para o campo do inimigo.36 As Memrias de Duarte Coelho, escritas em 1654, acompanham Calado nessa opinio.37 Vrios historiadores, como Varnhagen e outros, mantm esse veredito.38 Mas o cnego Pinheiro lembra que "os mais graves cronistas como Brito Freyre (1675), e frei Jos da Santa Teresa (1698), no falam nesses crimes atrozes atribudos pelo Valeroso Lucideno e seu Castrioto Lusitano compilador."39 Quanto s Memrias do donatrio Duarte de Albuquerque Coelho, temos de observar que o autor (cujo irmo Matias, cognominado o "terrbil,"40 era o general da resistncia portuguesa), escrevendo sobre a traio de 1632, no mencionou motivo algum, somente se admirou de que um homem to corajoso, que ficou ferido duas vezes na defesa da sua terra, no sentisse dio dos invasores.41 Mas, depois, quando tratou da morte de Calabar, disse que foi um "castigo reclamado por sua infidelidade," acrescentando que tinha "cometido grandes crimes, e para evitar a punio fugiu passando-se para o inimigo."42 Ser que Coelho refletia boatos do campo portugus depois da traio, alm de referir-se aos crimes de guerra ocorridos nas incurses dos holandeses com Calabar entre 1632 e 1635, inclusive em Barra Grande e Camaragibe, ambos distritos no litoral da parquia de Porto Calvo?43 Quanto s informaes de Calado, temos de reconhecer que elas nem sempre so muito precisas,44 e so s vezes romanceadas;45 alm disso, conforme C. R. Boxer, elas freqentemente eram um tanto caluniadoras e no necessariamente fidedignas.46 Talvez Flvio Guerra seja o autor mais sistemtico na rejeio da idia de fuga por roubo e outras razes dessa natureza. Ele argumenta: a) Calabar era um homem de posses que no aceitou dinheiro dos holandeses; b) ele no poderia ter defraudado bens do estado no Arraial; c) no h documento nenhum que fale em fraude; d) essa alegao surgiu somente alguns anos depois da morte de Calabar.47 Reconhecemos, porm, que esse jovem inteligente e proprietrio de engenhos de acar talvez no tenha herdado essas propriedades; talvez fosse mesmo um contrabandista e como tal pudesse ter cometido algum furto ou crime antes da traio. Entretanto, seja como for, naqueles dias de guerra dificilmente esse corajoso e astuto defensor do Arraial seria entregue nas mos da justia enquanto o general Matias e o donatrio Duarte estavam a seu favor. Por outro lado, depois da traio, depois de tantas tentativas de reconduzi-lo gentilmente, depois de tantos prejuzos e mortes causados na conquista de Igarau, Itamarac, Rio Grande, Paraba e boa parte do sul de Pernambuco, depois de tantas tramas abortadas para liquid-lo, no havia chance nenhuma de escapar das garras dos seus justiceiros comandados pelo general Matias, com ou sem crimes cometidos antes da traio.48 B. Teria Segurana? Mas, sendo fugitivo do lado portugus, teria realmente segurana se passasse para o outro lado? Inteligente como era, Calabar deve ter calculado o perigo que estava correndo. Ser que ele teria tido medo de, no fim, ser abandonado pelos holandeses? Creio que no. Intimamente ele deve ter tido a php 33 certeza de que no seria como Frei Calado sugeriu, que os holandeses "se servem (dos seus ajudantes) enquanto os ho mister, (mas) no tempo da necessidade e tribulao, os deixam desamparados e entregues morte."49 A proteo dada posteriormente aos seus aliados judeus e ndios e a resistncia em render-se finalmente aos portugueses por causa dos mesmos (atestada pelo prprio Calado),50 mostra que no provvel que isto tenha acontecido. Mas, pela ltima vez em Porto Calvo, com soldados relutantes, restando pouca gua e munies, com lenha amontoada pelos sitiantes debaixo da casa forte para queim-los,51 e depois de "mais de meio-dia no ajuste dos artigos de rendio, porque o inimigo insistia em levar consigo Domingos Fernandes Calabar," o prprio soldado Calabar sabia que era impossvel escapar e, querendo poupar as vidas dos seus amigos e subordinados, "disse com grande nimo estas palavras ao governador Picard: 'No deixeis, senhor, de concordar no que se vos exige pelo que me diz respeito, pois no quero perder a hora que Deus quis dar-me para salvar-me, como espero de sua imensa bondade e infinita misericrdia'."52 Deve ter pedido, ainda, que cuidassem bem da sua mulher, com quem fugira para o campo holands,53 e de seus filhos, pois ia entregar-se sozinho. De fato, o governo cuidou bem da famlia do seu nobre capito, pois a sua viva passou a receber para cada um dos seus trs filhos menores o salrio de um soldado, num total de 24 florins mensais, equivalente ao salrio de um mestre-escola, o que no acontecia com a famlia de pastor e capelo do exrcito tombado no servio da Companhia.54 Por outro lado, o prprio major Alexandre Picard deve ter ficado arrasado com o triste fim do colega, e ns o encontramos depois na Holanda recuperando-se na casa do seu irmo pastor em Coevorden.55 C. Exemplos de "Traidores" Fugindo em busca de refgio ou no, tambm temos de lembrar que a poca conhecia muitos exemplos de "traidores," de ambos os lados. Embora Calabar fosse considerado em abril de 1632 como o primeiro a desertar do Arraial,56 os documentos testificam que j havia passagens dos dois lados. Alguns soldados franceses a servio da Companhia das ndias Ocidentais passaram para o campo portugus devido religio, e houve judeus que fizeram a viagem em direo oposta pelo mesmo motivo. Sabemos de escravos que fugiram dos seus donos para obter mais liberdade entre os holandeses,57 de grupos de ndios tupis que deles se aproximaram,58 e tambm de soldados napolitanos que debandaram para o lado invasor. O "vira-casaca" holands mais conhecido foi o capito Dirk van Hooghstraten que, em 1645, entregou a fortaleza do Cabo Santo Agostinho aos portugueses por um bom dinheiro (que ainda no havia recebido quatro anos depois).59 Houve pessoas que trocaram de campo at duas vezes, e entraram para a histria com honras, como o padre jesuta Manuel de Morais e o prprio Joo Fernandes Vieira. O primeiro tinha liderado os ndios na resistncia contra o invasor, mas passou para o campo do inimigo depois da queda da Paraba. Foi enviado Holanda, onde casou-se com uma holandesa e, para ressarcir-se das despesas que teve, cobrou Companhia das ndias Ocidentais pela ajuda prestada no Brasil. Depois de alguns anos, Morais deixou mulher e filhos, voltando para o Nordeste como negociante. Quando, no incio da revolta, foi capturado pelos portugueses, salvou sua pele passando de novo para o campo catlico romano. Quando foi preso pela Inquisio, defendeu-se habilmente diante dos seus inquisidores, insistindo que nunca tinha quebrado seus votos sacerdotais, mas, no reconhecendo o matrimnio hertico, somente tinha se amancebado com mulheres reformadas.60 Por sua vez, Joo Fernandes Vieira ajudou um conselheiro holands a achar o tesouro enterrado do seu antigo patro portugus e conseguiu crditos e mais crditos da Companhia at, em 1645, proclamar a "guerra da liberdade divina" para livrar o Brasil dos "herticos," aos quais ficou devendo 300.000 florins, importncia altssima para a poca.61 De fato, em tempo de guerra, a traio est "no ar." 34 D. Interpretao Econmica Revendo esses poucos exemplos, poderamos ento postular que a interpretao mais simples para o caso de Calabar seria econmica. Talvez Calabar, como grande conhecedor da regio e dos acessos pelos rios, j fosse contrabandista antes e depois da invaso,62 e teria passado para os invasores em busca de dinheiro. Embora tudo indique que ele no precisava disto, pois j tinha adquirido propriedades e gado em Alagoas, um bom dinheiro sempre teria sido bem-vindo. Mas, se foi contrabandista, de certo havia cmplices, como deixou transparecer o seu prprio confessor. que Calado relatou alguns detalhes da confisso de Calabar (com permisso do mesmo) ao general Matias; entretanto, este ordenou ao padre "que no se falasse mais nesta matria, por no se levantar alguma poeira, da qual se originassem muitos desgostos e trabalhos" (sem dvida para alguns portugueses importantes).63 Mas, afinal, ser que este moo abastado teria passado para o inimigo por dinheiro, pensando em aumentar a sua fortuna? Southey o acha mais provvel.64 Calado no o diz, nem Coelho, que somente menciona que Calabar passou a receber o soldo de um sargento-mor.65 Tambm, atravs dos anos, no apareceu nenhum indcio disto nos documentos, nem a mais ligeira referncia como nos outros casos de peso. Ao contrrio, h indicaes de que ele recusou o suborno.66 Por outro lado, no parece muito provvel que Waerdenburch teria oferecido a Calabar o ttulo de capito caso mudasse de lado, pois desconfiava dele. Se prometeu algo nesse sentido, teria sido mais por uma questo de honra do que por uma razo financeira.67 E. Questo de Honra Uma interpretao bem mais provvel essa questo de honra; talvez de glria, mas muito mais de reconhecimento, respeito, bom nome, dignidade. Vivendo no sculo XVII, por ser mestio e no portugus "de sangue puro," Calabar, apesar das suas qualidades, de certa forma era um inferior por causa da cor da sua pele, ainda que atualmente algumas pessoas tenham dificuldade em admitir esse fato histrico. Ainda quase um sculo e meio depois, o vice-rei do Brasil mandou degradar um cacique indgena que antes tinha recebido honras reais, pois "havia desprezado as mesmas se baixando tanto que se casou com uma negra, manchando seu sangue."68 Mestiagem aviltada num Brasil mestio. Na poca de Calabar a situao no era muito melhor e parece que at os holandeses sabiam da discriminao racial contra Calabar.69 Talvez baseando-se na histria de Southey, o romancista Leal faz Calabar pensar em "vingana de tantos desprezos e tantas humilhaes com que me tm amargurado os da vossa raa."70 E outro romancista, Felcio dos Santos, bem pode ter razo quando faz o napolitano conde Bagnuolo insultar Calabar chamando-o de negro. Seria mesmo o estopim que o fez sair do acampamento do Arraial do Bom Jesus e passar para os holandeses.71 Anos depois, o prprio governador de Pernambuco (1661-1664)