Integração de recursos educativos abertos num modelo pedagógico de ensino-aprendizagem

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Universidade de Aveiro 2010 Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa Departamento de Comunicação e Arte PAULO MANUEL DE MATOS PEREIRA Integração de Recursos Educativos Abertos num Modelo Pedagógico de Ensino-Aprendizagem Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/ ou envie um pedido por escrito para Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California 94105, USA.

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Investigação realizada numa escola em como na prática integrar Recursos Educativos Abertos nas escolas, desenvolvendo ao mesmo tempo a Open Education e literacia digital de professores e alunos.

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Universidade de Aveiro 2010

Departamento de Didctica e Tecnologia Educativa Departamento de Comunicao e Arte

PAULO MANUEL DE MATOS PEREIRA

Integrao de Recursos Educativos Abertos num Modelo Pedaggico de Ensino-Aprendizagem

Esta obra foi licenciada com uma Licena Creative Commons - Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported. Para ver uma cpia desta licena, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/ ou

envie um pedido por escrito para Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California 94105, USA.

Universidade de Aveiro 2010

Departamento de Didctica e Tecnologia Educativa Departamento de Comunicao e Arte

PAULO MANUEL DE MATOS PEREIRA

Integrao de Recursos Educativos Abertos num Modelo Pedaggico de Ensino-Aprendizagem

Dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Multimdia em Educao, realizada sob a orientao cientfica do Doutor Pedro Alexandre Ferreira dos Santos Almeida, Professor Auxiliar do Departamento de Comunicao e Arte da Universidade de Aveiro.

O jri

Presidente

Prof. Doutor Antnio Augusto de Freitas Gonalves MoreiraProfessor Associado da Universidade de Aveiro

Prof. Doutor Fernando Antnio Albuquerque CostaProfessor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade de Lisboa

Prof. Doutor Pedro Alexandre Ferreira dos Santos AlmeidaProfessor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Dedico este trabalho aos meus pais e minha irm. Aos meus pais, pelo apoio que me dedicaram ao longo da vida, por sempre terem acreditado nas minhas capacidades e, acima de tudo, pelas asas que foram moldando em meus ombros para que nunca deixasse de voar e tivesse a fora e a viso de alcanar os meus sonhos minha querida irm, pela infinita pacincia, carinho, compreenso, e respeito que sempre demonstrou pelas minhas prioridades e por sempre ter estado a meu lado, apesar de tantas vezes, eu no ter estado ao seu Ao meu pai, por sempre ter estado presente nos momentos em que dele precisei e que, embora da sua forma to peculiar, nunca me deixou desamparado, e ter sempre querido que eu chegasse mais longe minha Me em Especial porque me criou para que eu fosse capaz de subir montanhas, para que pudesse atravessar oceanos e tempestades e por nunca me deixar perder o brilho que trago no olhar, a vontade de querer conhecer, aprender e crescer e porque nunca, mas nunca deixou de me cuidar e acarinhar

Agradecimentos

Agradeo a todos os professores e alunos do Agrupamento de Escolas do Caramulo, pela disponibilidade, pacincia e, acima de tudo, pelo empenho e vontade de aprender e inovar que demonstraram. Agradeo em especial Equipa de Professores que mais directamente comigo trabalhou, pois sem a sua colaborao, empenho e disponibilidade, nada poderia ter sido conseguido. Aos meus Amigos: queles verdadeiros e que, de facto, sempre me apoiaram, deram fora e acarinharam nos momentos mais difceis. Obrigado pela coragem e por terem acreditado em mim, mesmo quando eu, muitas vezes, deixei de o fazer Bem-haja a todos. Em especial minha querida Amiga Carla Pinto: minha irm de alma, com quem tantos momentos, sorrisos, lgrimas e sonhos foram partilhados e que, de forma diferente, mas sentida, a meu lado realizou caminhadas onde ambos crescemos e nos apoimos no sentido de um objectivo Ao meu orientador Doutor Pedro Almeida, pela amizade, pacincia e compreenso demonstradas durante o percurso que at aqui realizmos e pela disponibilidade nos momentos de maior aflio.

Palavras-chave

Recursos Educativos Abertos (REA), inovao curricular, investigao-aco, investigao educacional, modelo

pedaggico de aprendizagem, partilha.

Resumo

Esta investigao nasceu da motivao em promover a criao, utilizao e divulgao de Recursos Educativos Abertos (REA) num Agrupamento de Escolas, envolvendo escolas e professores de ciclos diferentes, na expectativa de testar e validar a utilizao de REA num modelo de ensinoaprendizagem, orientado para a inovao tecnolgica e curricular. Definindo como ponto de partida diferentes disciplinas/professores, implementou-se um conjunto de actividades conducentes criao de Recursos Educativos Abertos (REA) suportadas, sempre que possvel, em ferramentas FLOSS, adequadas para o efeito. Adoptou-se uma metodologia de investigao-aco, com um duplo objectivo: agir sobre a comunidade de professores e alunos, aumentando ao mesmo tempo o seu conhecimento, bem como o do investigador. Foi uma actividade desenvolvida de forma cooperativa, maioritariamente por grupos de

professores e envolvendo tambm alunos, de forma a transformar uma determinada realidade do processo de ensino aprendizagem, mediante uma actuao prtico/ reflexiva sobre ela, com o objectivo final da sua incluso num Modelo Pedaggico de Aprendizagem mais actual, passvel de implementao em outros Agrupamentos de Escolas Nacionais e baseado na produo e partilha de Recursos Educativos Abertos (REA).

Keywords

Open Education Resources (OER), curriculum innovation, action research, educational research, pedagogical learning model, sharing and openness.

Abstract

This research aims to answer the question: why not promote the creation, use and disclosure of Open Educational Resources (OER) in a Group of Schools, involving schools and teachers of different learning levels, expecting to test and validate the use of OER, in a learning-teaching model towards curricular innovation. Defining, as a starting point, different subjects and teachers from distinct academic areas, we have implemented a set of activities leading to the creation of Open Educational Resources (OER) supported, when possible, in FLOSS tools. We adopted an action research methodology with a dual purpose: to act within a community of teachers and students, while increasing at the same time their knowledge, as well as the researchers. The activity was developed cooperatively, mostly by groups of teachers and also involving students, in order to process a certain reality of the teaching-learning process, through practical/reflective action towards it, with an ultimate goal: the inclusion of OER in a Learning Educational Model, adapted to the XXI century, capable of being implemented by others in the Portuguese School System and based on the production and sharing of Open Educational Resources (OER).

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ndiceNota Introdutria ........................................................................................................... 3 CAPTULO I 1. Introduo ................................................................................................................. 5 2. Situao-problema .................................................................................................... 7 3. Finalidades e objectivos ............................................................................................ 9 4. Motivaes ...............................................................................................................11 5. Resultados esperados ..............................................................................................15 CAPTULO II 1. Descrio da Situao TIC em Portugal ...................................................................17 Ao nvel da tecnologia...............................................................................................19 No domnio dos contedos .......................................................................................19 No mbito das competncias ....................................................................................20 Caracterizao do mbito tecnolgico das escolas e a sua evoluo .......................22 2. Enquadramento Terico ...........................................................................................29 2.1. Histria dos REA e o seu desenvolvimento........................................................29 2.2. Definio de Recursos Educativos Abertos........................................................35 2.3. Aspectos facilitadores, obstculos e motivaes produo de REA ................38 2.4. A propriedade e o licenciamento dos REA .........................................................42 2.5. REA - Um ciclo de construo e partilha do conhecimento ................................46 Promovendo o movimento .................................................................................47 Promovendo a criao e a utilizao .................................................................48 A remoo de barreiras......................................................................................49 2.6. Recursos Educativos Abertos: algumas iniciativas de sucesso ..........................51 2.7. O papel da UNESCO: a aposta nos REA como um paradigma educacional de excelncia ........................................................................................57 2.8. O Construtivismo e o construtivismo-social: a teoria do conhecimento na base desta investigao e da criao dos REA. ..................................................59

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CAPTULO III METODOLOGIA ..........................................................................................................67 1. Os paradigmas scio-crtico e interpretativo na base desta Investigao-aco ......67 2. O professor-investigador: numa aproximao metodologia de investigao-aco..................................................................................................70 3. A Investigao-aco ...............................................................................................72 3.1. Breve resenha histrica .....................................................................................72 3.2. Descrio, fundamentos e processo ..................................................................76 3.3. Algumas finalidades essenciais quando aplicadas em sala de aula. ..................80 3.4. Fases do processo metodolgico.......................................................................81 4. Caracterizao do territrio de interveno (meio) ...................................................85 4.1. Localizao Geogrfica......................................................................................85 4.2. Contexto socioeconmico e cultural: breve historial ...........................................86 5. Caracterizao do agrupamento ..............................................................................87 5.1. Estabelecimentos de Ensino ..............................................................................87 5.2. Recursos fsicos ................................................................................................88 5.3. Recursos humanos - pessoal docente ...............................................................90 5.4. Recursos humanos - pessoal discente...............................................................92 6. Faseamento da investigao em funo das tarefas previstas para o estudo ..........97 7. Recolha de dados: tcnicas de recolha de dados utilizadas ...................................103 CAPTULO IV 1. Condies pr-existentes que influenciaram a forma como se desenvolveu esta investigao .......................................................................................................113 2. Os diferentes Ciclos de Investigao aplicados ......................................................115 3. Implementao do estudo no terreno .....................................................................120 3.1. Definio do pblico-alvo/parceiros desta investigao ...................................120 3.2. Implementao/articulao do estudo ..............................................................123 1 Ciclo da Investigao-aco .........................................................................126 2 Ciclo da Investigao-aco .........................................................................136 3 Ciclo da Investigao-aco .........................................................................141 4 Ciclo da Investigao-aco .........................................................................146

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CAPTULO V 1. Apresentao dos dados dos questionrios relativos aos professores do agrupamento ..............................................................................................................151 2. Apresentao dos dados dos questionrios relativos aos alunos do agrupamento .........................................................................................................161 3. Apresentao dos dados de monitorizao de acessos plataforma Moodle e Pgina Web do Agrupamento...............................................................................167 4. Anlise e discusso dos resultados ........................................................................171 4.1. Anlise e discusso dos resultados relativos aos professores .........................171 4.2. Anlise e discusso dos resultados relativos aos alunos .................................178 4.3. Anlise e discusso das correlaes estabelecidas entre os dados dos questionrios de professores e alunos....................................................................181 4.4. Anlise e discusso dos dados das sesses/reunies dos grupos de discusso................................................................................................................189 4.5. Anlise e discusso dos resultados em funo das situaes problema identificadas............................................................................................................194 4.6. Anlise e discusso dos resultados em funo das finalidades e objectivos desta investigao .................................................................................195

CAPTULO VI 1. Concluses ............................................................................................................199 2. Limitaes do estudo .............................................................................................203 3. Sugestes para investigaes futuras ....................................................................204 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...........................................................................207 ANEXOS..............215

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ndice de GrficosGrfico 1 - N de alunos por computador .........................................................................23 Grfico 2 - Alunos por computador com acesso Internet ...............................................23 Grfico 3 - Percentagem de professores e alunos que usa o computador e/ou Internet na sala de aula............................................................................................24 Grfico 4 - Percentagem de docentes que utilizam material pedaggico em formato digital ............................................................................................................25 Grfico 5 - Percentagem de escolas com plataformas de gesto de aprendizagem por Direco Regional e percentagem de utilizao da plataforma .................................26 Grfico 6 - Faixa etria ..................................................................................................151 Grfico 7 Ciclos de docncia ......................................................................................151 Grfico 8 - Posse de computador porttil .......................................................................151 Grfico 9 - Posse de computador fixo ............................................................................151 Grfico 10 Utilizao de REA em actividades lectivas ................................................152 Grfico 11 - Criao de REA..........................................................................................152 Grfico 12 - Grau de utilizao/produo de REA..........................................................152 Grfico 13 - Publicao na plataforma Moodle...............................................................152 Grfico 14 - Conhecimentos informticos antes dos REA .............................................153 Grfico 15 - Depois da utilizao dos REA ...................................................................153 Grfico 16 - reas em que aumentaram os conhecimentos informticos .......................153 Grfico 17 - Recursos educativos mais procurados na Internet .....................................154 Grfico 18 - Necessidade de utilizar software livre .........................................................155 Grfico 19 - Diferente software livre utilizado .................................................................155 Grfico 20 - Gosto por utilizar REA ................................................................................155 Grfico 21 - Conhecimento de REA para a sua disciplina ..............................................155 Grfico 22 - Interesse em produzir REA para a disciplina ..............................................156 Grfico 23 - Apoio/recursos necessrios........................................................................156 Grfico 24 - Gosto em aprender a fazer REA em diferentes formatos ...........................156 Grfico 25 - Tipos de REA com interesse em criar ........................................................156 Grfico 26 - Melhor forma para aprender a fazer REA ...................................................157 Grfico 27 REA livres e gratuitos ................................................................................157 Grfico 28 - Partilha de REA na Internet ........................................................................157

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Grfico 29 Incmodo pela uso em outras escolas dos REA criados ...........................158 Grfico 30 - Gosto pela utilizao dos seus REA ...........................................................158 Grfico 31 - Alterao na forma de ensinar e aprender..................................................158 Grfico 32 - Influncia/alteraes nos alunos ................................................................158 Grfico 33 - Criao de REA pelos alunos .....................................................................159 Grfico 34 - Contexto de criao de REA pelos alunos..................................................159 Grfico 35 - Percentagem de REA colocados Moodle ...................................................159 Grfico 36 - Importncia da colocao no Moodle .........................................................159 Grfico 37 - Distribuio por anos lectivos .....................................................................161 Grfico 38 - Posse de computador porttil .....................................................................161 Grfico 39 - Posse de computador fixo ..........................................................................161 Grfico 40 - Alunos com ligao pessoal Internet .......................................................161 Grfico 41 - Conhecimentos informticos antes de REA ................................................162 Grfico 42 - Aumento de conhecimentos informticos depois de utilizar REA ...............162 Grfico 43 - reas em que aumentaram os conhecimentos informticos .......................162 Grfico 44 - Utilizao de REA versus procura de recursos na Internet .........................163 Grfico 45 - Tipo de recursos mais procurados..............................................................163 Grfico 46 - Gosto por utilizar REA em aula ..................................................................163 Grfico 47 - Aprender a criar REA em diferentes formatos ............................................163 Grfico 48 - Recursos que gostariam de aprender a fazer/gerir .....................................164 Grfico 49 - Melhor forma de aprender a criar REA .......................................................164 Grfico 50 - REA livres e gratuitos ................................................................................164 Grfico 51 - Partilha na Internet dos REA criados pelos alunos .....................................164 Grfico 52 - Utilizao dos seus REA nas suas aulas ....................................................165 Grfico 53 - Utilizao de REA por outros alunos ..........................................................165 Grfico 54 - REA alterou sua forma de aprender ...........................................................165 Grfico 55 - Alteraes na forma de aprender ...............................................................165 Grfico 56 - Importncia dos REA estarem reunidos na plataforma Moodle ..................166 Grfico 57 - Acessos Plataforma Moodle do Agrupamento .........................................167 Grfico 58 - N de acessos Pgina de Internet da Escola ...........................................170

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ndice de Quadros Quadro 1 - Limitaes modernizao tecnolgica no ensino em Portugal ....................21 Quadro 2 - Factores inibidores de uma maior utilizao das TIC na escola .....................22 Quadro 3 - Aspectos facilitadores para um incremento na produo de REA ..................39 Quadro 4 - Barreiras/obstculos produo de REA.......................................................39 Quadro 5 - Outras iniciativas/projectos em REA ..............................................................56 Quadro 6 - Constituio do Agrupamento de Escolas do Caramulo.................................88 Quadro 7 - Recursos de espao na Escola-plo ..............................................................89 Quadro 8 - Recursos de hardware no Agrupamento de Escolas do Caramulo.................90 Quadro 9 - Situao Profissional do pessoal docente em 2008-2009 ..............................91 Quadro 10 - Distribuio por disciplina do pessoal docente em funes ..........................92 Quadro 11 - Distribuio dos alunos no Pr-escolar ........................................................92 Quadro 12 - Distribuio dos alunos no 1 Ciclo do Ensino Bsico ..................................92 Quadro 13 - Distribuio dos alunos no 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico ..........................93 Quadro 14 - Distribuio dos alunos pelos diferentes Ciclos de Ensino ...........................93 Quadro 15- Tcnicas de recolha de dados utilizadas, sua aplicao e a quem se destinaram ................................................................................................106 Quadro 16 - Nmero e tipos de questes utilizadas para cada questionrio ..................109 Quadro 17 - Nmero de questionrios aplicados a alunos e professores.......................110 Quadro 18 - Equipa inicial de Professores .....................................................................122 Quadro 19 N de acessos por pas Plataforma Moodle ............................................168 Quadro 20 - N de acessos plataforma Moodle por cidades portuguesas ...................169

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ndice de Figuras

Figura 1 - Mapa Conceptual dos Recursos Educativos Abertos .......................................37 Figura 2 - Tringulo de Lewin ..........................................................................................73 Figura 3 - Fases previstas para a nossa Investigao-aco ...........................................82 Figura 4 - Mapa do Concelho de Tondela ........................................................................85 Figura 5 - Mapa do Territrio Educativo do Caramulo ......................................................86 Figura 6 - Fases da investigao em funo das tarefas .................................................97 Figura 7 - Representao esquemtica dos ciclos de investigao aplicados ...............115 Figura 8 - Modelo de investigao-aco de Kemmis ....................................................124 Figura 9 - Os momentos da investigao-aco segundo Kemmis ................................125 Figura 10 - cran de entrada no servio de correio electrnico da escola .....................131

ndice de Anexos

Anexo I - Questionrio acerca da utilizao de Recursos Educativos Abertos aplicados aos professores do Agrupamento.215 Anexo II - Questionrio acerca da utilizao de Recursos Educativos Abertos aplicados aos alunos do Agrupamento;220 Anexo III Plano da Aco de Formao ministrada Agrupamento de Escolas do Caramulo: A Plataforma Moodle e os Recursos Educativos Abertos (REA .223 Anexo IV Plano da Aco de Formao ministrada Agrupamento de Escolas do Caramulo: Quadros Interactivos - Como utilizar na sala de aula 224

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a educao s cumpre os seus deveres para com os alunos e para com a sociedade se for baseada na experincia.

John Dewey

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Nota Introdutria Com o sucesso alcanado nos ltimos anos pelo Movimento do Software Livre, cedo pensadores, investigadores e educadores se perguntaram: porque no aplicar estes mesmos princpios e filosofia, na disponibilizao de cursos e contedos educativos de forma livre e aberta? Surgiram, assim, os Open Educacional Resources, em portugus, Recursos Educativos Abertos - REA. Tm sido utilizados em grande escala um pouco por todo o mundo, por Instituies de Ensino Superior e organizaes no governamentais, no sentido de abrir o conhecimento a todos que dele necessitam e, muitas vezes, desenvolvendo-se num objectivo de nivelador social. Seguindo a mesma linha de pensamento, colocmo-nos a seguinte questo: porque no promover a criao, utilizao e disponibilizao de Recursos Educativos Abertos (REA) num Agrupamento de Escolas, envolvendo escolas e professores de ciclos diferentes? Tendo por base esta questo, surgiu este projecto de Investigao. Definindo como ponto de partida diferentes disciplinas/professores, implementou-se um conjunto de actividades conducentes criao de Recursos Educativos Abertos (REA) apoiado, sempre que possvel, em ferramentas FLOSS, adequadas para o efeito. Adoptmos para o estudo uma metodologia de investigao-aco, na lgica de um duplo objectivo: o de agir sobre uma comunidade de professores e alunos, aumentando no s o seu prprio conhecimento como, ao mesmo tempo, o conhecimento do investigador. Foi uma actividade desenvolvida de forma colaborativa, maioritariamente por grupos de professores, envolvendo tambm os seus alunos, de forma a transformar uma determinada realidade do processo de ensino aprendizagem existente, mediante uma actuao prtico/reflexiva sobre ela, em outra e com um objectivo final: o da incluso das dinmicas implcitas nos Recursos Educativos Abertos num Modelo Pedaggico de Aprendizagem baseado na produo e partilha de REA, estabelecendo uma metodologia de ensino/ aprendizagem diferente, inovadora e tecnologicamente actual, potenciadora das tecnologias de informao e comunicao e passvel de implementao em outros Agrupamentos de Escolas Nacionais.

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CAPTULO I1. Introduo Numa sociedade progressivamente mais competitiva, onde o protagonismo individual e a busca do sucesso social esto cada vez mais institucionalizados, os Recursos Educativos Abertos (REA) e a utilizao de FLOSS (Free Libre Open Source Software) surgem como uma alternativa prtica, democrtica e inteligente, capaz de colocar alguma igualdade no sistema social, em contextos especficos. Assim, valores como a cooperao, a partilha, o esprito de comunidade, elevam, no s o grau de conhecimento, mas tambm, o crescimento humano, contrariando as enraizadas influncias corporativas e monopolistas do software proprietrio e da produo individual fechada e no partilhada de recursos, por parte de educadores. Inspirando-se no sucesso do movimento do software livre, conhecido tambm como movimento FLOSS (Free Libre Open Source Software), que tem vindo a consolidar-se ao longo dos ltimos anos em projectos de renome, como Linux, Apache ou o Mozilla, pesquisadores e educadores, de uma forma gradual, tm vindo a apostar na ideia da criao, utilizao e reutilizao de diferentes recursos educativos, de uma forma livre, utilizando Internet como plataforma de excelncia. Paralelamente, instituies de ensino universitrio de renome internacional, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), criaram iniciativas importantes, como o MIT OpenCourseWare (MIT OCW), que abriram as portas do conhecimento, no s para alunos da prpria instituio mas, virtualmente, a qualquer pessoa interessada em aprender em qualquer parte do mundo, disponibilizando online um nmero imenso de materiais dos seus cursos, de forma livre e aberta. Se, a princpio, esta atitude pareceu estranha e descabida, logo de imediato foi seguida por outras instituies de renome um pouco por todo o globo. Deu-se assim, incio a um processo, em diversas instituies acadmicas e em diferentes pases, no sentido de disponibilizar contedos abertos (open content) desenvolvidos de forma colaborativa, abrangendo, ainda, todo um conjunto de recursos e ferramentas digitais utilizados no desenvolvimento e disponibilizao destes mesmos contedos. Surgiram assim os Open Educational Resources (OER) - Recursos Educativos Abertos (REA). A sua importncia e abrangncia tem sido de tal ordem que, ao longo dos ltimos anos, a UNESCO e a OCDE tm vindo a debruar-se acerca desta temtica, desdobrando-se em5

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estudos, conferncias e reunies, estabelecendo inclusivamente os Recursos Educativos Abertos (REA) como o Paradigma de excelncia do futuro, como pode ser lido na Declarao da Cidade do Cabo, para a Open Education. E no panorama nacional? Enquanto professor e educador, constato que conceitos como Open Educational e Open Resources, e palavras como partilha, cooperao, solidariedade, criao partilhada, abertura e partilha de recursos educativos, soam estranhas no s no ambiente acadmico universitrio, como tambm e, mais ainda, nos nveis de ensino do 1, 2 e 3 ciclos do Ensino Bsico e Secundrio. No entanto, sendo este um dos paradigmas educacionais do futuro, torna-se urgente alterar o estado das coisas e conseguir motivar e envolver os professores nesta dinmica. Acresce-se ainda que, com o ambicioso Plano Tecnolgico da Educao j em fase final de implementao nas escolas portuguesas, prioritrio promover e estabelecer diferentes modelos pedaggicos de aprendizagem, ou corremos o risco de estar a dotar as escolas de infra-estruturas tecnolgicas de topo que, no sendo acompanhadas por pedagogias funcionais efectivas, se podem tornar apenas em monos alojados em salas ou sofisticadas mquinas de escrever e de jogos. , portanto, urgente e necessrio actuar.

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2. Situao-problema No sentido da construo de um projecto de investigao-aco como o que pretendemos, torna-se necessrio, antes de mais, recuperar aqui os princpios advogados por Kurt Lewin na dcada de 40. Este psiclogo social defendia, que a necessidade de se proceder, de se iniciar a uma investigao, deveria ter como base os problemas de um determinado grupo social e serem sentidas, de facto, no seu quotidiano, devendo a partir da ser pensada e desenvolvida pelos envolvidos, de uma forma discutida, colaborativa e partilhada. Na sua opinio que, como investigadores tambm ns subscrevemos, apenas dessa vivncia podero surgir as situaes problemas, as questes investigativas que, por sua vez, devero orientar um processo de investigao. Ao longo da minha prtica docente tenho observado, com alguma surpresa, as mltiplas resistncias, por parte dos docentes, em actualizar conhecimentos, em integrar as tecnologias de informao e comunicao na sala de aula e, acima de tudo, em partilhar conhecimentos, informao e recursos fora da escola e do seu grupo restrito de trabalho. Quando falamos em partilhar, fazemo-lo de forma abrangente: no consideramos partilha, apenas aquela realizada ao nvel de um determinado departamento curricular, dos recursos que produz para e com os seus alunos, mas, de forma mais abrangente, uma partilha centralizada ao nvel de toda escola ou do agrupamento de escolas. Verifica-se de modo generalizado que, quando muito, so partilhados alguns recursos entre docentes de um mesmo departamento ou disciplina, mas raramente de forma centralizada ou organizada e quase nunca, numa disponibilizao sistemtica dos mesmos para fora da escola e abertos utilizao por qualquer pessoa. Mais ainda, nos ltimos anos, tem-se vindo a verificar um intensivo apetrechamento tecnolgico das escolas em recursos de hardware, no crescimento da internet e da cultura digital, de aplicaes orientadas para o ensino/aprendizagem que, no entanto, muito pouco se vm traduzidas na sala de aula em actividades funcionais e prticas realizadas por professores e no acto de ensinar. Caso flagrante, so as ambiciosas medidas do Plano Tecnolgico da Educao, que tm vindo a ser implementadas nas escolas pblicas portuguesas e em todos os nveis de ensino e que, em muito pouco, parecem ter mudado o estado da educao em Portugal e, mais especificamente, as vivncias e a forma de ensinar e aprender. Foi tendo como base conceptual estas reflexes, as razes que lhe esto subjacentes e a necessidade de inovar na educao,7

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que chegamos s situaes-problema de base desta investigao, que podemos sintetizar nas alneas seguintes:

O nmero reduzido de recursos educativos digitais produzidos por professores ou por professores e/com alunos;

Ausncia de um esprito de partilha/divulgao/abertura dos materiais criados;

Pouco interesse/motivao na criao de recursos educativos em formato digital;

Inexistncia de uma cultura digital associada criao e partilha de recursos educativos e na utilizao da tecnologia de informao e comunicao na sala de aula.

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3. Finalidades e objectivos A finalidade desta investigao a criao de uma Comunidade de Educadores pensante, criadora e dinamizadora de Recursos Educativos Abertos (REA) para o 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico, demonstrando a viabilidade da adopo dos princpios da Open Education, numa primeira fase, no Agrupamento de Escolas do Caramulo e posteriormente, no sistema nacional de ensino. Mais ainda e, como consequncia, pretende-se uma crescente utilizao responsvel e produtiva das tecnologias de informao e comunicao e das tecnologias Web2.0 na sala de aula.

Este trabalho tem como objectivos essenciais: A utilizao generalizada de Recursos Educativos Abertos, integrados no Modelo Pedaggico de Aprendizagem utilizado nas Escolas do 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico;

A criao de uma Comunidade Educativa local de Professores e Alunos, que promova o desenvolvimento colaborativo de Recursos Educativos Abertos (REA) e os disponibilize de forma livre, em formato de objectos e materiais de aprendizagem, centralizada num Agrupamento de Escolas.

Contribuir para uma utilizao mais generalizada de ferramentas de produo de materiais educativos e de ferramentas de comunicao (apostando no FLOSS), utilizando recursos Web2.0, especficos a cada tipo de aula e contedo a produzir.

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4. Motivaes Numa altura em que a tecnologia se implantou de forma definitiva na sociedade e, nas escolas, se torna uma realidade cada vez mais presente e constante, no h como nos alienarmos dela. Com projectos mais ou menos audazes e eficazes, o computador e a educao digital entraram, de facto, na escola e no dia-a-dia tanto de professores como de alunos. O rpido desenvolvimento e o aparecimento constante de novas tecnologias, com as potenciais vertentes de utilizao na sala de aula, novos processos e novos mtodos de criao de conhecimento, tm conduzido a uma rpida desactualizao dos conhecimentos, o que vem acentuar, de forma urgente, a necessidade e o desafio de transitar, criar e/ou alterar paradigmas educacionais: "da educao e formao para um emprego ao longo da vida, para o novo paradigma da aprendizagem ao longo da vida" (Forsyth, 1996). Surge, assim, a necessidade de procurar novos modelos e novas estratgias de ensino/aprendizagem, no sentido de se ser capaz de responder s exigncias de uma nova educao que emerge e de uma nova sociedade do conhecimento em cclica evoluo e mudana, onde cada ciclo d origem a novos ciclos, novas estratgias e novas ferramentas da aprendizagem. este o contexto da Sociedade de Informao e Comunicao, em permanente mudana, exigindo dos docentes o repensar urgente e o renovar das suas prticas lectivas e onde os Recursos Educativos Abertos surgem, no nosso entender, como o paradigma de excelncia. Acrescentemos ainda que, na nossa opinio, a educao no pode ser vista como uma actividade meramente tcnica e desligada das realidades e problemas sociais, morais e polticas. Muito pelo contrrio, a educao e o acto de ensinar devem ser encarados como um acto comprometido e interligado com valores morais e sociais, que levem os professores e educadores a questionar a sua prtica educativa e a forma como disponibilizam o conhecimento que produzem. Torna-se assim necessrio alterar a figura do professor, do aluno e do prprio processo de ensino-aprendizagem. neste sentido que seguem as nossas motivaes. Bebendo, pois, na concepo crtico-social de Carr e Kemmis (1988) e complementando com as ideias de Schn (1992) acerca da reflexo em aco, julgamos que educao e o acto de ensinar, devem avanar no sentido da reflexo sobre a prtica educativa e a adopo de uma posio crtica correlacionada com o social e com o acto de aprender. Sem qualquer dvida, nossa motivao uma mudana dos processos de ensino aprendizagem e da prpria prtica docente, implicando, por isso, um questionar, de uma forma crtica, das relaes entre a educao e a sociedade, tornando cada professor um investigador do seu prprio processo de11

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ensino-aprendizagem. Pretende-se que, este acto de questionar crtica e socialmente correlacionado, v no sentido de levar o professor a inovar, a melhorar, a aprender questionando, a compreender os contextos educativos em que se movimenta, tendo, como fim ltimo, o aumento da qualidade da educao. Defendemos, pois, uma investigao na escola e desde a escola, realizada por docentes e com docentes, envolvendo alunos e para os alunos, com o objectivo de dar resposta s situaesproblema prprias da sua sala de aula, de cada aluno e de cada escola. No esquecendo a correlao entre o social, o moral e o escolar e, numa resposta aos argumentos supracitados, torna-se evidente a utilizao de Recursos Educativos Abertos, apoiados em Software Livre e/ou de cdigo aberto para a concretizao dos nossos objectivos e na resposta s nossas motivaes. Com a criao digital de Recursos Educativos Abertos (REA), pretende-se que a sala de aula sirva de laboratrio para o desenvolvimento profissional dos docentes e que, desta forma, a investigao, em vez se ser apenas uma metodologia de resoluo de problemas, seja encarada como um modelo de formao contnua, de aumento e melhoria da sua literacia digital, em suma, que leve os docentes a interessarem-se pelos aspectos pedaggicos do ensino e a motivarem-se por integrar investigao na docncia, enquanto, ao mesmo tempo, integram de forma prtica e com resultados imediatos, as tecnologias de informao e comunicao no acto de ensinar. Mais ainda, quando suportada essa prtica com a utilizao de software livre, no s se promovem os princpios da partilha e da criao partilhada, como tambm damos resposta s dificuldades da escola em adquirir software proprietrio especfico, para as necessidades de cada disciplina. Desta forma, tambm a escola deixa de estar to dependente das condicionantes econmicas, e ao mesmo tempo, promove nos seus professores e alunos, os princpios de criao partilhada, desenvolvendo uma funo social co-responsabilizada no acto de criar de forma livre e com ferramentas livres, segmentos e estruturas de conhecimento que estaro ao dispor de qualquer aprendente, virtualmente, em qualquer parte do mundo. Mais ainda, recorrendo a um projecto de investigao-aco, por todas as suas caractersticas e pela importncia dada criao partilhada e de autoformao, no sentido do melhoramento das prticas lectivas, enveredamos na construo hipottica de um projecto que, em termos conceptuais, foi estruturado para ser aplicado no Agrupamento de Escolas do Caramulo e junto de um conjunto de docentes que, pelas suas caractersticas pessoais e profissionais, poder servir de embrio de algo que, aps uma primeira fase de aplicao, poder crescer e alargar-se a toda a comunidade escolar12

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e, quem sabe at, estabelecer-se como um paradigma de aprendizagem, passvel de adopo por outros agrupamentos de escolas. Com base nos objectivos previstos para este projecto, a utilizao de uma metodologia de investigao-aco pareceu-nos ser ento a mais adequada, uma vez que a sua nfase se coloca na resoluo de problemas educativos - o mbito e cerne desta investigao - com a interveno directa e activa do investigador. Acrescente-se, tambm, que de extrema importncia o seu contributo para o conhecimento prtico e compreenso pessoais do investigador, bem como os de todos os envolvidos nesta investigao, sejam eles professores ou alunos, sendo ainda compatveis com a condio do investigador enquanto professor neste agrupamento de escolas e logo, tambm ele, implicado directamente da investigao. tambm bastante apelativo, porque permitir experimentaes prticas nos contextos reais de sala de aula, enquanto ao mesmo tempo poder facilitar a colaborao, a troca de saberes, a cooperao e o retorno imediato aos professores envolvidos e, necessariamente, a envolver. Tratando-se de um mtodo que, pelas suas caractersticas, est directamente ligado inovao e com um efectivo potencial de colocar em prtica um modelo conceptual crtico de inovao curricular, imediatamente transforma a sala de aula num local privilegiado onde iro acontecer as mudanas e onde as inovaes curriculares e tecnolgicas estaro orientadas no sentido da melhoria do ensino e da sua qualidade, bem como da qualidade das aprendizagens. Portanto e, em suma, segue no sentido da alterao/mudana de um paradigma de aprendizagem, rumo a um outro mais concertado com as inovaes tecnolgicas e sociais que vivenciamos actualmente na escola. ainda de referir que, pela situao pessoal privilegiada do investigador enquanto professor e educador, constata que conceitos como Educao Aberta e Partilhada, Recursos Abertos, bem como, palavras como partilha, cooperao, solidariedade, criao partilhada, abertura e partilha de recursos educativos so, quando muito, clichs sociais para a maioria dos professores. Torna-se, pois, importante alterar esta situao e conseguir motivar e envolver os mesmos numa dinmica de construo partilhada e tecnologicamente actual, no sentido de promover e estabelecer novos modelos pedaggicos de aprendizagem. Na nossa opinio, esta alterao social, esta mudana na forma de ensinar e aprender, conduzir a uma maior satisfao pessoal e profissional, a uma melhoria dos programas e conhecimentos acadmicos, a uma maior diversificao de estratgias e actividades, aportando a um conhecimento partilhado, global e socialmente aberto, que levar a maiores e melhores aprendizagens dos alunos, rumo ao13

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sucesso educativo, motivado, interessado e reconhecido como mais-valia pessoal e social. Como afirmava Morais et al (1989), se os professores, actores essenciais neste processo, permanecerem ancorados aos mtodos que aprenderam durante a sua formao profissional e no se adaptarem s novas realidades, ento a escola do futuro ser a mesma que a escola do presente e a do passado. , pois, no sentido de uma escola do futuro, diferente e inovadora, que seguimos e apostamos.

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5. Resultados esperados Tendo por base as concepes de Elliot (1990) quando caracterizava a dinmica de uma investigao-aco, como uma forma de produzir novos conhecimentos, reflectindo sobre determinada realidade, no sentido de actuar para a alterar, num dilogo fludo entre todos os participantes, colocando investigador e participantes numa construo partilhada do conhecimento e envolvendo um trabalho colaborativo, dialogante, conjunto e de carcter construtivista, emergem quase que por uma lgica funcional e articulada com o tema desta investigao, um conjunto de resultados esperados que, embora possam parecer vastos, se fundem numa dicotomia prpria, indo ao encontro das dinmicas do tema tratado e s situaes-problema elencadas para esta investigao. Assim, e de uma forma sucinta, apresentam-se os seguintes resultados esperados: A criao pelos professores do agrupamento de REA em formatos diversos; Atravs dos REA, promover um aumento da literacia digital/conhecimentos informticos tanto de professores como de alunos, promovendo uma maior utilizao da Internet enquanto ferramenta educativa; Implementar uma maior utilizao de programas OSS/FLOSS; Desenvolver a necessidade de investigao e de criao de outros

cenrios/recursos tecnolgicos de aprendizagem a partir dos REA; Criao de uma comunidade local investigativa, dialogante e cooperativa de professores, empenhados na utilizao das novas tecnologias de informao e comunicao no acto de aprender; Estimular um maior empenho, motivao e interesse, tanto no acto de ensinar como no acto de aprender, por professores e alunos, respectivamente; A criao de Recursos Educativos Abertos pelos alunos; Desenvolver nos alunos um esprito de aprendizagem colaborativa, investigativa autnoma e partilhada; Potenciar a utilizao educativa e eficaz de uma plataforma de aprendizagem e a sua disponibilizao de forma livre e aberta; Introduzir mudanas no processo e no acto de ensinar e aprender, alterando comportamentos no sentido da utilizao e rentabilizao das TIC e da Internet no ensino, utilizando a colaborao e a partilha de conhecimentos como formas de aprendizagem.15

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CAPTULO II1. Descrio da Situao TIC em PortugalBaseada em diferentes estudos do GEPE (2008)1

A Estratgia de Lisboa2 (adoptada pelo Conselho Europeu em 2000 e revista pelo Conselho Europeu e Comisso Europeia em 2005) em conjunto com o Programa Educao e Formao 20103, definiram para o espao europeu um conjunto de linhas de orientao, com vista plena integrao dos seus cidados na sociedade de informao e do conhecimento. O desenvolvimento de competncias em tecnologias da informao e comunicao (TIC) e a sua integrao transversal nos processos de ensinoaprendizagem tornaram-se objectivos incontornveis dos sistemas de ensino um pouco por toda a Europa. Assim, e na prossecuo destes mesmos objectivos, em Portugal, as Grandes Opes do Plano 2007 e o Quadro de Referncia Estratgico Nacional 2007 2013, estabeleceram um conjunto de metas, aces e medidas concretas para a modernizao tecnolgica da educao e das escolas portuguesas, com a integrao das TIC nos processos de ensino e de aprendizagem e nos sistemas de gesto da escola. Um estudo de diagnstico do realizado pelo Ministrio da Educao sobre a modernizao tecnolgica do sistema de ensino em Portugal4 chegou s seguintes concluses: a) As escolas mantm uma relao desigual com as TIC. necessrio reforar e actualizar o parque informtico na maioria das escolas portuguesas, aumentar a velocidade de ligao Internet e construir redes de rea local estruturadas e eficientes; b) As TIC necessitam de ser plena e transversalmente integradas nos processos de ensino e de aprendizagem, o que implica reforar a infra-estrutura informtica, bem como desenvolver uma estratgia coerente para a disponibilizao de contedos educativos digitais e para a oferta de formao e de certificao de competncias TIC dos professores; c) As escolas necessitam de um modelo adequado de digitalizao de processos que garanta a eficincia da gesto escolar.

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Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao (GEPE) em: http://www.gepe.min-edu.pt http://www.planotecnologico.pt/InnerPage.aspx?idCat=337&idMasterCat=334&idLang=1&site=estrategiadelisboa (Verificado em 15 de Maro de 2010) 3 http://ec.europa.eu/education/policies/2010/et_2010_en.html (Verificado em 15 de Maro de 2010)4

http://www.oei.es/noticias/spip.php?article2501 (Verificado em 15 de Maro de 2010)

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Perante este diagnstico, desenvolveu-se o Plano Tecnolgico da Educao (PTE)5, aprovado pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 137/2007, de 18 de Setembro6, que pretende a modernizao tecnolgica do ensino atravs de um conjunto articulado de projectos, cuja execuo tem vindo a ser implementada pelo Ministrio da Educao, em colaborao com um grupo alargado de parceiros pblicos e privados, junto das escolas de ensino pblico nacionais. Apesar de se verificar que, ao longo dos ltimos anos, as escolas tm vindo a ser dotadas de infra-estruturas tecnolgicas diversas, continua-se ainda na prossecuo da sua modernizao ao nvel das melhores da Europa. Assim, porque achamos importante realizar neste projecto de investigao uma caracterizao dessa evoluo, quando comparada com a realidade anterior, basemo-nos no estudo de diagnstico realizado pelas estruturas do Ministrio da Educao para a implementao do PTE e em estudos preparatrios e de implementao realizados pelo GEPE (Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao). Constatmos que as metas definidas no PTE foram traadas com base num profundo conhecimento da realidade, que resumidamente, interessa aqui apresentar, em jeito de contextualizao. Estes estudos sobre a modernizao tecnolgica do ensino em Portugal so, neste contexto, um importante retrato da realidade das escolas portuguesas e constituem uma ferramenta de trabalho fundamental para preparar a implementao de projectos tecnolgicos na escola, tal como o mbito deste nosso trabalho e, acima de tudo, ajudam a perceber o contexto onde nos movimentamos, de onde viemos e para onde vamos. Julgamos serem essas as premissas e o olhar que um investigador deve possuir. Os estudos supracitados foram realizados com uma orientao para dois segmentos: ao nvel da caracterizao do que existe e ao nvel da previso/objectivos a que se propem, sendo concretizados em trs eixos distintos e diferenciados: tecnologia, contedos e competncias. Seguiremos a mesma lgica na nossa caracterizao, mas extrairemos apenas o conjunto de dados que consideremos relevantes para esta investigao e para a construo da contextualizao que necessitamos.

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http://www.pte.gov.pt

http://www.pte.gov.pt/idc/idcplg?IdcService=GET_FILE&dID=11496&dDocName=001952 (Verificado em 15 de Maro de 2010)

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Ao nvel da tecnologia: No que se refere a computadores, as escolas portuguesas apresentam um nvel de dotao reduzido, agravado pela elevada percentagem de computadores com mais de trs anos (56%). Assim, uma das metas ser a de aumentar e requalificar o parque informtico existente e garantir que so colmatadas as deficincias dos estabelecimentos de ensino cujos equipamentos so mais antigos. Tambm ao nvel de equipamentos de apoio, como videoprojectores, impressoras e quadros interactivos, se observam limitaes: o rcio de alunos por impressora superior a 40; aproximadamente 70% dos equipamentos tem mais de 3 anos; o nmero de videoprojectores inferior a 1 projector por cada 7 salas de aula e apenas 1/3 das escolas dispe de quadros interactivos. A reduzida disponibilidade destes equipamentos constitui, pois, uma forte barreira utilizao de tecnologia nas escolas, pelo que tambm uma das metas do referido plano. Relativamente conectividade, grande parte das escolas regista velocidades de acesso limitadas; de igual modo, um nmero elevado de computadores (mais de 20 000) no se encontra ainda ligado Internet. Apesar de mais de 90% das escolas possurem redes locais, observam-se insuficincias em 30% dos estabelecimentos de ensino. As redes de rea local cresceram de forma ineficiente e no estruturada e, na maior parte dos estabelecimentos, encontram-se confinadas a reas pr-definidas e limitadas, restringindo a sua utilizao, pelo que se torna crucial requalific-las. Outra constatao importante que os nveis de utilizao das TIC em Portugal so muito inferiores aos dos pases da Unio Europeia, sendo a reduzida disponibilidade de equipamentos para utilizao livre de docentes e, principalmente, utilizao por alunos, uma das principais barreiras sua utilizao. Da a importncia da disponibilizao de computadores e do acesso Internet fora dos perodos de aula e dentro da escola. No domnio dos contedos: Em termos de caracterizao, no panorama nacional, a utilizao de contedos e de aplicaes significativamente mais baixa do que nos pases da Unio Europeia e a utilizao dos contedos por alunos em sala de aula, cerca de 60% menor daquela registada, por exemplo, na Finlndia (pas de referncia utilizado para o estudo). Dada a importncia que estes contedos em formato digital desempenham na adopo e na utilizao de tecnologia, essencial desenvolver a produo de contedos e aplicaes de qualidade em lngua portuguesa, bem como criar mecanismos de certificao e licenciamento dos mesmos. De forma inferida, o mesmo estudo revela ser necessrio19

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criar mecanismos de incentivo sua utilizao, de forma a assegurar uma continuidade e sustentabilidade no apenas necessria, como essencial. No que concerne s plataformas virtuais de conhecimento e de ensino-aprendizagem, pelo papel relevante que desempenham na promoo, produo e utilizao de contedos ao nvel europeu, torna-se prioritrio o desenvolvimento localizado dentro das escolas de plataformas de ensino-aprendizagem (LMSs ou CMSs) e de e-learning e a promoo da sua utilizao, sendo uma das prioridades educativas estabelecidas. Nas escolas portuguesas, comeam a dar-se os primeiros passos na utilizao destas plataformas de partilha de conhecimento. Contudo, observam-se j algumas limitaes ao nvel das funcionalidades disponibilizadas e do tipo de utilizao efectuada. Dado o papel crtico que as mesmas assumem na produo e dinamizao dos recursos educativos, torna-se crucial repensar os modelos actuais, de forma a garantir que todo o seu potencial catalisador de modernizao tecnolgica , de facto, real e educativamente explorado. Verifica-se tambm que, apesar do aumento de dotao de equipamentos e dos esforos para aumentar a utilizao do correio electrnico, esta forma de comunicao ainda muito pouco utilizada dentro das escolas - menos de 1/3 delas disponibiliza endereos de e-mail a docentes e no docentes, contrapondo com a percentagem de 70% que o efectiva a nvel europeu. Por isso, prioritrio e crtico acelerar a adopo e utilizao do correio electrnico dentro das instituies, entre todos os intervenientes da comunidade escolar, principalmente por professores e alunos, pois a sua utilizao possui um comprovado efeito catalisador na utilizao da tecnologia e de um aumento da eficincia da gesto. O estabelecimento em termos de produtividade, de uma Sociedade de Informao e do Conhecimento eficaz, ter obrigatoriamente que implicar a alterao dos mtodos tradicionais de ensino e de aprendizagem, com uma natural e necessria introduo de novas ferramentas educativas/tecnolgicas e a criao de materiais pedaggicos e de contedos adequados e tecnologicamente actuais. No mbito das competncias: No obstante o esforo significativo realizado nos ltimos anos na formao de professores, com a instituio de mdulos de formao em tecnologia para docentes frequentados por mais de 30 000 docentes por ano - a realidade nacional continua ainda distante da mdia europeia. Verifica-se uma grande falta de qualificaes tanto de professores como de alunos, sendo esta situao apontada como uma forte barreira utilizao das tecnologias em processos de ensino-aprendizagem. Deste modo, parece20

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nos evidente inferir destes estudos que imperativo reequacionar o actual modelo de formao de docentes, luz do que se observa nos pases de referncia, estabelecendo metas e mecanismos de certificao de competncias e desenhando programas de formao modulares, contnuos e progressivos, que garantam uma efectiva

operacionalizao nas escolas. Porque em outros pases de referncia, no obstante o apetrechamento e a formao adequados, a utilizao de tecnologia tem enfrentado resistncia por parte dos agentes de ensino, torna-se fundamental a definio de objectivos de aplicao das TIC na actividade lectiva, com reflexos efectivos na avaliao e na gesto administrativa, de forma a garantir a participao dos mesmos. No que aos alunos diz respeito, torna-se mais do que nunca prioritrio acelerar a formao na rea da tecnologia, antecipando no tempo o contacto dos alunos com as ferramentas bsicas relacionadas com as TIC e assegurando que a sua utilizao no esteja confinada a disciplinas especficas, mas que faa parte do dia-a-dia da escola e dos mtodos de ensino-aprendizagem de todas as disciplinas.Quadro 1 - Limitaes modernizao tecnolgica no ensino em Portugal7

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Fonte: GEPE, Modelo GEPE n. 700, Maro de 2007, dados preliminares; Anlise A.T. Kearney.

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De acordo com o mesmo estudo diagnstico, foi ainda analisado e identificado um conjunto de factores que se consideraram como inibidores de uma maior utilizao das TIC na escola. Apresentamos no quadro seguinte o resumo dessas concluses, devendo os valores indicados ser analisados numa escala de 1 a 4.

Quadro 2 - Factores inibidores de uma maior utilizao das TIC na escola8

Caracterizao do mbito tecnolgico das escolas e a sua evoluo Relativamente aos principais indicadores de modernizao tecnolgica, nos ltimos cinco anos, o nosso pas apresentou uma evoluo muito significativa, embora se observe ainda um atraso face mdia europeia e aos objectivos traados no mbito do Programa Educao e Formao 2010. Com efeito, e em relao ao nmero de alunos por computador, nos ltimos 5 anos observou-se uma melhoria na ordem dos 40%. Como

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Fonte: GEPE, Modelo GEPE n. 700, Maro de 2007, dados preliminares; Anlise A.T. Kearney.

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forma de caracterizao e previso, apresentam-se de seguida alguns grficos e quadros que ilustram a situao. Grfico 1 - N de alunos por computador9

Pela observao do grfico, verifica-se uma significativa evoluo ao longo dos ltimos anos em relao ao nmero de alunos por computador. De 2001 a 2006, observou-se uma melhoria na ordem dos 40% e tendo vindo progressivamente a crescer nos ltimos anos. Pretende-se atingir a meta dos 5 alunos por computador em final de 2010.

Grfico 2 - Alunos por computador com acesso Internet9

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Fonte: GEPE / ME; Empirica Report 8/2006; anlise A. T. Kearney (escolas pblicas dos ensinos bsico e secundrio).

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A conectividade das escolas foi medida pela percentagem de escolas com ligao Internet e pelo rcio de alunos por computador com ligao Internet. Tambm nestes indicadores se observam melhorias muito significativas: no que se refere ao nmero de alunos por computador com ligao Internet, o rcio decresceu de 39 alunos em 2001 para 16 alunos em 2006. Outro dado que podemos considerar, o a da percentagem de professores e alunos que utiliza o computador e/ou Internet, de facto, na sala de aula. Apresentamos o grfico que se segue para efeitos dessa caracterizao. Grfico 3 - Percentagem de professores e alunos que usa o computador e/ou Internet na sala de aula10

Constatamos pela anlise dos dados que, em comparao com os pases de referncia, a situao portuguesa encontra-se abaixo da mdia. Para efeitos desta investigao, apesar de considerarmos baixos os dados relativos aos professores, mais preocupantes so a percentagem reduzida de alunos que utilizaram o computador em situao de aula, colocando-nos a ns prprios, de forma emprica, as seguintes perguntas: Quantas vezes o tero, de facto, utilizado? Em que contexto? Com algum valor educativo? Para consulta ou produo de informao? Quanto a estas questes e outras que se colocaram no nosso esprito, no encontrmos respostas. Uma outra anlise que importa transpormos para este estudo a da reflexo acerca da utilizao de contedos digitais, de aplicaes multimdia e de plataformas de ensinoaprendizagem por escolas, professores e alunos, dentro da sala de aula. A nvel10

Fonte: Emprica report 8/2006; anlise A. T. Kearney.

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internacional, para alm do incentivo produo de contedos para utilizao no ensino e nas escolas, assiste-se tambm a uma tendncia de desenvolvimento e promoo de plataformas colaborativas de interaco e partilha de conhecimento, contribuindo para um processo de modernizao tecnolgica. A nvel nacional, comeam tambm j a verificar-se situaes de utilizao de plataformas de ensino-aprendizagem com resultados positivos, embora j se observem tambm algumas limitaes ao nvel das funcionalidades utilizadas e do tipo de utilizao, de facto, concretizado nas escolas com os alunos. No entanto, constatmos pela anlise dos diversos estudos do GEPE que realizmos, que a noo de Recursos Educativos Abertos (REA) no faz parte do lxico e das realidades das escolas portuguesas. Mais ainda, pelo impacto que a utilizao destas plataformas tem na promoo da produo e utilizao de contedos, com um respectivo desenvolvimento de competncias tecnolgicas, julgamos importante repensarem-se os modelos actuais, de forma a garantir que so explorados em todo o seu potencial, reforando o efeito catalisador de uma modernizao tecnolgica das escolas em si prprias. Analisando a caracterizao da utilizao de contedos em formato digital pelos professores, surge o seguinte grfico, realizando um cruzamento de dados entre Portugal e as duas referncias utilizadas no supracitado estudo de diagnstico: a Unio Europeia e a Finlndia.Grfico 4 - Percentagem de docentes que utilizam material pedaggico em formato digital11

Pela anlise do grfico, verificamos que, quando em comparao com as mdias dos pases de referncia, Portugal est ainda um pouco aqum dos objectivos pretendidos,

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Fonte: Emprica report 8/2006; anlise A. T. Kearney.

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pelo que esta ser tambm uma rea prioritria de interveno do PTE. Uma vez mais, verificamos que o conceito de REA no est presente. No deveria o mesmo ser considerado na prossecuo destes objectivos? Deixamos a questo, em jeito de reflexo pessoal. Relativamente s plataformas de ensino-aprendizagem, alm de servirem de incentivo produo de contedos para utilizao no ensino e nas escolas, assiste-se tambm a uma tendncia internacional de desenvolvimento e promoo de plataformas virtuais de conhecimento, de acesso livre e gratuito, nomeadamente de plataformas de apoio aprendizagem e de plataformas de apoio publicao, organizao e partilha de contedos. Nos pases de referncia, uma componente muito importante do processo de modernizao tecnolgica consistiu na criao e dinamizao de plataformas colaborativas e de e-learning, de que so exemplo os seguintes stios na web: na Finlndia, http://www.edu.fi/frontpage.asp?path=498, e na Irlanda http://scoil.net.

Entretanto, comeamos a assistir, neste momento, em Portugal, a iniciativas deste gnero, estando j disponveis em mais de metade das escolas referenciadas neste estudo, plataformas de ensino-aprendizagem.

Grfico 5 Percentagem de escolas com plataformas de gesto de aprendizagem por Direco Regional e percentagem de utilizao da plataforma12

Do grfico anterior, verificamos pela anlise distribuda por Direces Regionais de Educao que, em mdia, 52% dessas escolas j possuem plataforma de ensino-

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Fonte: Emprica report 8/2006; anlise A. T. Kearney.

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aprendizagem, sendo o Moodle a plataforma de eleio em 59% dos casos, com 846 stios registados em servidores portugueses13. No entanto, alguns destes registos no pertencem exclusivamente a escolas e existem vrias escolas que tm as suas plataformas alojadas em servidores externos, pelo que no foram contabilizados para este estudo. Mais ainda, de acordo os mesmos estudos, e nas entrevistas efectuadas aos diversos agentes, a receptividade utilizao da plataforma Moodle muito positiva, havendo escolas em que se observam taxas de crescimento na utilizao na ordem dos 300%. Apesar de ainda estar numa fase inicial, a forma de utilizao da plataforma Moodle, indicia desde j algumas limitaes: utilizada fundamentalmente por professores e entre professores, no estando a sua utilizao generalizada restante comunidade escolar; utilizada como canal de interaco e comunicao entre agentes e como canal de distribuio de material de aula. Isto quer dizer que, maioritariamente, utilizada como um novo canal, em formato tecnolgico, mas para as prticas de ensino tradicionais; No esto a ser exploradas todas as potencialidades das plataformas, no se verificando ainda o necessrio papel catalisador na alterao das prticas pedaggicas e a necessria alterao de paradigmas de aprendizagem; Desta forma, e dado o papel essencial que as plataformas de ensino-aprendizagem assumem nos processos de inovao tecnolgica e pedaggica, os mesmos estudos concluem que importante contornar as limitaes observadas e assegurar a criao de um efeito de rede colaborativa forte. Mais ainda, importante encorajar a utilizao e a explorao de todas as suas principais funcionalidades, tanto por alunos, professores e entidades externas ao estabelecimento de ensino, assim como monitorizar o desempenho e o grau de satisfao dos agentes com as solues utilizadas, com vista a maximizar os benefcios e a impedir a deteriorao do efeito de rede pretendido. No entanto, pela anlise dos dados e objectivos j alcanados, podemos concluir que, neste relatrio, os nveis de abertura - opennes - dessas redes/plataformas Moodle no foram abordadas, definidas ou sequer sugeridas/encorajadas. No se estabeleceram efectivas formas de actuao para alcanar objectivos e, mais uma vez, o conceito de recurso educativo, aberto, partilhado ou livre ou o conceito de Recurso Educativo Aberto13

Fonte: moodle.org

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(REA) no foram sequer considerados. Consideramos que estes estudos poderiam ter tido em linha de conta, formas de operacionalizao de objectivos e ter tomado como referncia outros estudos e realidades de outros pases ou, no mnimo, ter considerado as orientaes educativas, as prioridades para a educao a nvel mundial, estabelecidas dentro de organizaes de mbito global como a UNESCO14 ou dos estudos desenvolvidos pela OCDE15. Sem uma reflexo mais orientada e um estudo prtico dos resultados reais e efectivos das polticas de Educao Aberta Open Education j alcanados um pouco por todo o globo, ser difcil, na nossa opinio, sairmos da realidade limitada j efectivamente diagnosticada neste estudo e, neste momento, instalada nas nossas escolas. Esperamos que este trabalho de investigao possa ir ao encontro desses objectivos ou que, pelo menos, possa servir de base de reflexo para que outros estudos e implementaes se efectivem nas nossas escolas e que, atravs dele, se possam motivar outros investigadores e professores para a implementao efectiva de projectos em REA ou Recursos Abertos no panorama escolar nacional.

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Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

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2. Enquadramento Terico Dada a escassa bibliografia ou estudos de referncia em Portugal, foi necessrio recorrermos a uma fonte diversificada e dispersa de informao, onde destacamos: estudos diversos da UNESCO, da OECD e do CETIS. 2.1. Histria dos REA e o seu desenvolvimento. A histria dos Recursos Educativos Abertos iniciou-se em 1994 quando Wayne Hodgins cunhou o termo learning object - objecto de aprendizagem, que definiu como sendo um pequeno componente (component) de ensino/aprendizagem que pode ser reutilizado inmeras vezes em contextos de aprendizagem diferenciados e distintos (Wiley, 2000). O termo Open Educational Resources, em portugus, Recursos Educativos Abertos, tem assim as suas razes nos primeiros esforos de padronizao e estabelecimento de um conceito acerca dos objectos de aprendizagem. Em 1998, David Wiley acrescentou, no meio acadmico, o termo contedo aberto, antecipando a noo de que os princpios basilares do movimento FOSS (Free Open Source Software Software Livre de Cdigo Aberto) poderiam ser aplicados a contedos. Mais ainda, introduziu a primeira licena aberta adoptada internacionalmente de forma mais abrangente, a Open Content License/Open Publication License16 - David Wiley (2005). Com a rpida disseminao da ideia de contedos abertos para alm do mbito educacional, em 2001, Larry Lessig e outros membros da escola de direito de Harvard fundaram a Creative Commons e com ela, um conjunto elaborado de licenas que permitiram o estabelecimento de diferentes direitos de autor, de forma a facilitar a partilha e rpida disseminao desses mesmos contedos. Na mesma altura, o Massachusetts Institute of Technology (MIT)17, resolveu tambm disponibilizar grande parte dos seus cursos para fins acadmicos de forma livre e ao pblico em geral, atravs da web, anunciando a sua iniciativa OpenCourseWare (OCW)18, (Wiley, 2006). Em 2002, dada a importncia e o crescimento destas iniciativas, a UNESCO19 e a William and Flora Hewlett Foundation20 patrocinaram um frum internacional intitulado: Forum on the Impact of Open Courseware for Higher Education in Developing

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http://opencontent.org/opl.shtml http://mit.edu/ http://ocw.mit.edu/OcwWeb/web/home/home/index.htm http://portal.unesco.org http://www.hewlett.org/

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Countries, voltado para a discusso da disponibilizao de recursos educacionais de forma universal, cunhando a o termo Open Educational Resources, com a seguinte definio que se transcreve na sua verso original: Open Educational Resources are defined as technology-enabled, open provision of educational resources for consultation, use and adaptation by a community of users for non-commercial purposes. They are typically made freely available over the Web or the Internet. Their principal use is by teachers and educational institutions support course development, but they can also be used directly by students. Open Educational Resources include learning objects such as lecture material, references and readings, simulations, experiments and demonstrations, as well as syllabi, curricula and teachers' guides. (UNESCO, 2002)21 Em Setembro de 2007, organizada pelo Open Society Institute22 e a Fundao Shuttleworth23, realizou-se em Cape Town, na frica do Sul, um encontro que reuniu participantes de vrias naes. O objectivo dessa reunio foi o de acelerar os esforos para promover os recursos abertos, bem como as tecnologias e as prticas pedaggicas a elas associadas. Foram ainda definidas formas de ampliar e aprofundar os esforos de uma educao aberta (open education), trabalhando em conjunto e em esprito de partilha. O primeiro resultado concreto deste encontro foi a Cape Town Open Education Declaration24. Tratou-se, ao mesmo tempo, de uma declarao de princpio, uma declarao de estratgia e de uma declarao de compromisso, concebida para provocar o dilogo, para inspirar a aco e para ajudar o movimento da educao aberta a crescer e expandir-se. Esta declarao continua actual e publicada online, onde j foi assinada por centenas de alunos, educadores, formadores, autores, escolas, faculdades, universidades, editoras, sindicatos, sociedades profissionais, polticos, governos, fundaes e outras iniciativas ligadas educao aberta, um pouco por todo o mundo, evidenciando um esforo e uma preocupao global no desenvolvimento e manuteno dos princpios da Educao Aberta e dos Recursos Educativos Abertos. Ao abordar-se o conceito de REA, surge a necessidade de esclarecer alguns conceitos que esto na sua gnese e que a ele se associam. Quase imediatamente, surge-nos o

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http://www.unesco.org/education/news_en/080702_free_edu_ress.shtml (Verificado em 15 de Maro de 2010) http://www.soros.org/ http://www.shuttleworthfoundation.org/ http://www.capetowndeclaration.org/read-the-declaration (Verificado em 15 de Maro de 2010)

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conceito de contedo aberto (Open Content), ligado noo de recurso educativo. Esta associao surge com naturalidade, pois, se considerarmos todos os recursos que compem o contexto dos REA, os contedos abertos so, no essencial, a sua principal componente, sendo que todos os demais recursos, tais como softwares de autoria, ferramentas de pesquisa, CMSs, LMSs e licenas de uso para contedos e softwares, servem, de alguma forma, para dar apoio disponibilizao desses contedos abertos, utilizando como plataforma de disseminao a prpria Web. Podemos assim afirmar que, o que se convencionou chamar de Recursos Educativos Abertos, no mais do que uma evoluo natural de um processo que se iniciou com o movimento dos chamados Contedos Abertos (Open Content) (Wiley, 2005). O termo Contedo Aberto, ou Open Content, como referido anteriormente, foi criado por David Wiley e teve como base o movimento e princpios do software livre de cdigo aberto - Free Libr Open Source Software (FLOSS). Inspirou-se nos principais pressupostos deste movimento/filosofia, para uma criao de contedos digitais educacionais que fossem ao encontro dos mesmos ideais de liberdade do software, significando ter a liberdade para utilizar, executar, estudar, adaptar, distribuir e redistribuir outras adaptaes do software original. (Rosen, 2005; FSF, 2007). No podemos deixar aqui de mencionar Eric Raymond, reconhecido investigador e participante empenhado nos desenvolvimentos do GNU25 que, ao reflectir sobre o desenvolvimento de software no contexto FLOSS, dissertou acerca do modelo de desenvolvimento do Linux, em contraposio com o modelo tradicional de desenvolvimento de software (software proprietrio), no seu livro The Cathedral and the Bazaar26. Estas reflexes estiveram tambm na base das primeiras conceptualizaes acerca dos REA. Segundo Raymond, no modelo tradicional da Catedral, o software desenvolvido por uma estrutura hierrquica bastante definida, com programadores de topo a trabalhar isoladamente, at que uma verso final esteja pronta. O autor estabelece, assim, uma analogia com a forma como eram construdas as antigas catedrais. Contrapondo a este modelo da Catedral, desenvolveu um modelo imagem do Bazar, onde no existe uma hierarquia bem definida e onde todos podem contribuir, criando o que quiserem de uma forma aleatoriamente organizada, sendo que, as vrias

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http://www.gnu.org/philosophy/philosophy.html http://catb.org/~esr/writings/homesteading/ (Verificado em 15 de Maro de 2010)

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verses so disponibilizadas sucessivas vezes, assim que tiverem algo de novo a acrescentar, at se chegar a uma verso final, construda em parte por todos os seus utilizadores (Raymond, 2000). Dentro da mesma filosofia, Raymond cunhou ainda dezanove princpios que, pela sua pertinncia e abrangncia julgamos importantes para a gnese dos REA, e que, por encontrarmos um certo paralelismo na sua filosofia de criao e crescimento, importa aqui destacar: - Cada bom trabalho de software inicia-se pela tentativa de resolver um problema pessoal que incomoda o programador/utilizador, ou seja, no mundo FLOSS, o desenvolvimento de software vem da necessidade dos programadores encontrarem novas funcionalidades em softwares existentes; - Bons programadores sabem como escrever um programa. Grandes programadores sabem o que reescrever ou reutilizar. No necessrio que se reescreva todo o cdigo, perante a j existncia de um, que possa servir de estrutura para um novo cdigo com mais e novas funcionalidades; - Para resolver um problema, inicia-se procurando um que seja pessoalmente interessante ou que se pretenda ver solucionado. A melhor abordagem iniciar por uma soluo pessoal do dia-a-dia e depois expandi-la, pois, geralmente, o problema de um, torna-se um problema tpico de um grande nmero de utilizadores. Estas premissas indicam que o principal factor de motivao e impulsionador do movimento FLOSS o interesse dos participantes em resolver problemas em comum. Colocamo-nos ento a questo: No sero estas tambm as premissas que esto por detrs do desenvolvimento de contedos abertos e de Recursos Educativos Abertos e, em especial, quando realizado em contexto acadmico, por professores/educadores? Por comungarmos de forma global com estas ideias e pela anlise da literatura realizada, iremos aprofundar um pouco, ao longo do nosso estudo, esta teorizao. Assim, todos estes princpios advogados por Raymond que esto presentes no desenvolvimento de FLOSS podem e devem ser aplicados ao desenvolvimento de Contedos Abertos (Wiley, 2007). Este autor afirma que no se podem desenvolver contedos abertos sem a premissa de que todo o bom trabalho se inicia com uma pesquisa das necessidades dos utilizadores e, assim, como no FLOSS, um bom REA deve iniciar-se na necessidade pessoal do professor/educador em resolver um problema,

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ou de ir ao encontro de uma necessidade, culminando numa disponibilizao dos seus contedos em formato digital (Wiley, 2007). Como j foi referido, as primeiras iniciativas alargadas de utilizao de REA tiveram o seu incio em instituies americanas importantes, tendo como pioneira o MIT27, com a sua iniciativa OpenCourseWare28. O OpenCourseWare do MIT (MIT OCW) comeou a ser delineado quando o seu director, Robert Brown, solicitou um posicionamento da instituio em relao Educao Distncia e atravs da Internet. Como resultado, foi criado um conjunto de recomendaes que serviriam posteriormente de ideia base para o OpenCourseWare. Assim, no dia 4 de Abril de 2001, o Presidente do MIT, Charles Vest, anunciou o incio do projecto MIT OpenCourseWare (OCW) (Long, 2002). Esta iniciativa no pretendia disponibilizar um conjunto de aulas online, mas tratava-se de um processo complexo que tinha como objectivo fazer com que o material utilizado na maioria dos cursos de graduao e ps graduao da instituio, ficasse disponvel de forma livre na Web, para que qualquer utilizador, virtualmente, em qualquer parte do mundo (Long, 2002). Actualmente, o MIT OCW uma iniciativa em grande escala, com a publicao de diversos cursos, provenientes do seu prprio corpo docente. Atravs desta iniciativa, foi possvel partilhar, de maneira aberta, os contedos e cursos do MIT, com educadores, alunos matriculados e outros interessados, um pouco por todo o mundo. Entre os recursos disponibilizados de maneira livre esto o syllabi, as notas de aula, os calendrios de cursos, os problemas para aulas com as suas respectivas solues, os exames, as listas de leitura, os vdeos de aulas, entre muitos outros. Todos estes recursos abrangem actualmente 1900 cursos, de 34 departamentos e de todas as cinco Escolas da instituio (MIT OCW 2007). Acima de tudo, esta iniciativa tornou-se o exemplo, a base conceptual e prtica para muitas outras que, entretanto, se desenvolveram um pouco por todo o mundo, em modelos mais ou menos semelhantes e cujas taxas de sucesso tm servido para promoo e divulgao dos REA. Acrescente-se tambm que, desde cedo, a UNESCO29 apadrinhou o conceito de Recursos Educativos Abertos, tendo procedido ao longo dos ltimos anos a inmeros encontros internacionais, fruns, debates e reunies, no sentido da sua promoo, divulgao e estabelecimento enquanto referncia de ensino/aprendizagem (compilados

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http://ocw.mit.edu/index.html http://ocw.mit.edu/OcwWeb/web/home/home/index.htm http://oerwiki.iiep-unesco.org/index.php?title=Main_Page

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na sua maioria por: Susan DAntoni: 2009, 2010). Sendo esta instituio a agncia das Naes Unidas responsvel pela educao, com a sua rede de Delegaes e Comissariados um pouco por todo o mundo, estava numa posio privilegiada para informar e desafiar os estados membros, acerca do movimento dos Recursos Educativos Abertos e do seu imenso potencial em contribuir para melhorar o acesso ao conhecimento e educao para todos. Mais ainda, o Internacional Institute for Educational Planning (IIFP)30 (pertencente UNESCO), organizou e implementou uma iniciativa de dois anos com o objectivo de aumentar a sensibilizao para os Recursos Educativos Abertos a um nvel internacional. Para alcanar este objectivo, desenvolveu a criao de uma comunidade internacional de REA, envolvendo escolas, universidades, fundaes, institutos, investigadores e muitos outros interessados na temtica. Entretanto, alguns fruns foram criados e estruturados como seminrios virtuais, iniciados com a apresentao de um documento de anlise, seguidos de discusso e debate intensas: o primeiro, em 2005, apresentou os REA, bem como alguns exemplos de boas prticas e utilizadores/produtores de REA, as suas experincias, relatos e caminhos trilhados. O segundo, em 2007, deu a conhecer o relatrio31 de um estudo acerca dos REA desenvolvido pela OCDE (Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico). Como se torna evidente, estes so apenas o culminar de diferentes estudos, conferncias e debates, tendo este gnero de iniciativas se multiplicado e desenvolvido um pouco por todo o mundo. Em meados de 2007, uma Comunidade Internacional de Interesse havia-se estabelecido, com cerca de 650 membros de 98 pases, incluindo 67 pases em desenvolvimento. Actualmente, est criada a UNESCO OER Community32 (Comunidade REA da UNESCO), constituindo-se como um reconhecido espao de promoo, de troca e partilha internacional de informaes, recursos, discusses, pontos de vista e exemplos de boas prticas, esperando-se que, nos prximos tempos, todos os pases participem e adoptem o que se veio a denominar como movimento REA, de forma a adequar-se s estruturas educativas nacionais de cada pas e s necessidades especficas dos seus cidados, medida que evoluem no apenas para sociedades da informao mas, mais importante que isso, para sociedades de conhecimento/informao partilhadas.

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Em portugus Instituto Internacional para o Planeamento da Educao http://www.unesco.org/iiep/virtualuniversity/forumsfiche.php?queryforumspages_id=33| http://oerwiki.iiep-unesco.org/index.php?title=Main_Page

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2.2. Definio de Recursos Educativos Abertos Sendo o conceito de Recursos Educativos Abertos relativamente recente e muito lato (UNESCO, 2007), torna-se necessrio apresentar esclarecimentos acerca de algumas ideias e noes e tambm, ao mesmo tempo, realizar um enquadramento

histrico/temporal para uma definio e compreenso efectiva do mesmo ao longo do tempo, at chegarmos sua definio mais actual. Como j foi dito, o termo Recursos Educativos Abertos surgiu pela primeira vez numa conferncia patrocinada pela UNESCO em 2002. A, foram definidos como: um conjunto aberto de recursos educacionais, potenciados pelas tecnologias de informao e comunicao, servindo para consulta, uso e adaptao e novamente reutilizados por uma comunidade de utilizadores com propsitos no comerciais. (Johnstone, 2005). Naturalmente, a definio tem evoludo ao longo dos ltimos anos, considerando-se actualmente os REA como: materiais educacionais digitais disponibilizados de forma livre e aberta para a comunidade acadmica em geral, que os utiliza para o ensino, aprendizagem e pesquisa. Virtualmente, esto abertos a qualquer pessoa que queira aprender, podendo ser usados, adaptados, reutilizados e, acima de tudo, partilhados (use, reuse, adaptation, and sharing), (Hyln, 2006). A definio de REA tornou-se, no entanto, bastante abrangente, incluindo no s contedos de aprendizagem ou seja, cursos, mdulos de contedo, objectos de aprendizagem entre outros, mas tambm, ferramentas de software livre para apoiar o desenvolvimento, uso, reutilizao, busca e organizao de contedos, bem como CMSs e LMSs e ferramentas de autoria. Mais ainda, os REA contemplam os chamados recursos de implementao, solues que abrangem licenas de propriedade intelectual, de forma a promover a publicao de materiais abertos, o seu licenciamento, bem como alguns recursos de localizao de contedos. Johnstone (2005), citada por Hyln (2006), apresenta talvez uma definio mais abrangente e completa de Recursos Educativos Abertos e que, para ns, enquanto professores e educadores, interessa reter e reflectir, uma vez que define os REA de acordo com a sua funo no processo de ensino-aprendizagem. Segundo este autor os REA incluem: - Recursos de aprendizagem, abrangendo mdulos de contedos, objectos de aprendizagem, ferramentas de avaliao e comunidades de aprendizagem, entre outros;35

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- Recurso para apoiar professores, contemplando ferramentas e materiais que os ajudam a criar, a adaptar e a reutilizar REA, bem como outras ferramentas de suporte em formato livre; - Recursos para garantia da qualidade, que garantam a qualidade da educao e a qualidade das prticas educacionais. Mais ainda, Johnstone (2005) afirma que os REA no podem ser entendidos como um sistema que garanta a atribuio de um diploma, pois no se tratam de substitutos dos materiais de aprendizagem abertos e distncia ou de e-learning, utilizados pelas universidades. Considera os REA como uma forma de facultar acesso a recursos que, em si mesmos, possuem valor educativo e que se revelam da maior importncia para aqueles com nenhum, ou limitado acesso aos recursos educativos tradicionalmente acadmicos, mas, no entanto, no podem actuar em substituio destes. Ao reflectirmos sobre Recursos Educativos Abertos, somos confrontados com o termo OpenCourseWare (OCW). Este um termo que no possui uma traduo literal na lngua portuguesa, mas que importa aqui clarificar. Normalmente, aplicado aos materiais de um curso, estabelecidos num ambiente virtual de aprendizagem, por norma online e que tm vindo a ser criados e a multiplicar-se em universidades um pouco por todo o mundo. So cursos livres, em formato aberto, passveis de serem alterados, reutilizados e que se encontram acessveis atravs da Internet. So, provavelmente, neste momento, a forma mais estandardizada de Recursos Educativos Abertos, estabelecida nas instituies de ensino superior, um pouco por todo o mundo. Assim, citando Hyln (2005), os REA podem incluir-se nas seguintes categorias: - OpenCourseWare e contedos; - Ferramentas de software aberto; - Material livre e aberto para situaes de e-learning construdos por elementos de universidades e faculdades; - Repositrios de objectos de aprendizagem; - Cursos educacionais livres. Verificamos, pois, que a definio de REA , ao mesmo tempo, pouco especfica e muito abrangente, uma vez que uma larga variedade de objectos e materiais online podem ser considerados recursos educativos, desde cursos a componentes de cursos, coleces de36

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museus, jornais