Ideias Tipo Exportação, por Joana Barbosa e Vinícius Maestri

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O aeromóvel deve funcionar a partir de 2017 JOANA - Poa tipo exportação.indd 2 28/12/2011 15:07:07

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O Rio Grande do Sul tem chamado a atenção do mundo com projetos em áreas distintas: o Aeromóvel, o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial. Reportagem de Joana Barbosa, fotos de Vinícius Maestri

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  • O aeromvel deve funcionar a partir de 2017

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  • Ideias tipo exportao

    Por Joana Barboza | Foto Vincius Maestri

    O Rio Grande do Sul tem chamado a ateno do mundo com projetos em reas distintas: o Aeromvel, o Ora-

    mento Participativo e o Frum Social Mundial.

    Tradicional exportador de personalidades po-lticas e celebridades do mundo da beleza, da moda, da cultura e do esporte, o Rio Grande do Sul tambm vende ideias para o resto do mundo. Aeromvel, Oramento Participativo e Frum Social Mundial so iniciativas que possuem duas coisas em comum: o fato de to-das terem vivenciado um perodo embrionrio na capital gacha e, posteriormente, despertado o interesse de estrangeiros. Trs proje-tos conhecidos mundialmente, concebidos de maneiras diversas e que tomaram rumos divergentes.

    A trajetria dos trs comeou com um espao curto de tempo entre um e outro. Histrias que at mesmo chegaram a se encon-trar, em um determinado momento. Primeiro apareceu o Aero-mvel, um ideal de transporte pblico urbano que prometia ser superior aos demais em questo de agilidade e sustentabilidade. Possuiu uma linha de teste, que foi implementada em 1984 na fren-te ao Gasmetro, na Avenida Loureiro da Silva. Mas nunca chegou a funcionar plenamente, embora tenha inspirado outros pontos do planeta.

    Depois, surgiu o Oramento Participativo, criado pelo Partido dos Trabalhadores (PT). considerado, at hoje, uma das formas mais eficientes de democracia participativa do mundo. Por ltimo, em 2001, o Frum Social Mundial, evento organizado por movi-mentos sociais que tem como foco debater uma viso de mundo de esquerda. O primeiro veio de uma motivao pessoal; o segundo, para sanar uma deficincia local; e o terceiro foi desenvolvido para contemplar o mundo.

    Um barco vela de ponta cabea

    O inventor do Aeromvel, Oskar Coester, tem uma maneira cientfica de explicar a forma de funcionamento da tecnologia. Fundamentado na propulso pneumtica, o ar soprado por ven-tiladores centrfugos industriais de alta eficincia por meio de um duto localizado dentro da via elevada que o trem percorre. O vento produzido empurra uma aleta, e o carro se movimenta sobre rodas de ao apoiadas em trilhos-guia. o mesmo princpio do barco vela, s que de cabea para baixo, ilustra Coester, de maneira sucinta.

    O projeto, que se iniciou como uma forma de prazer, hoje tem

    um modelo em funcionamento em Jacarta, capital da Indonsia. Em Porto Alegre, h uma promessa de operao como auxiliar de transporte urbano para 2017. O ex-funcionrio da Varig, que sem-pre gostou de fsica, conta que a revoluo do transporte areo, na dcada de 1960 que possibilitou que distncias cada vez maiores fossem percorridas em menos tempo foi o que o instigou a bus-car uma forma mais gil de locomoo nos centros urbanos. Hoje, a distncia no mais contada em quilmetros e sim em tempo, expe. No entanto, para acelerar o trfego era necessrio encon-trar uma alternativa para o sistema de mobilidade que ignorasse os obstculos por onde passava. Isso com baixo custo de implantao e operacionalizao e que causasse pouco impacto ao meio am-biente. A, a via elevada comeou a tomar forma.

    O engenheiro, tambm, conta que medies comprovaram que o gasto de energia do transporte metade do consumido por um nibus convencional e 8,5 vezes inferior ao de um automvel para carregar uma pessoa por um quilmetro. Apesar das vantagens, o projeto que j encantou o mundo no deslancha. Em 1982, o Mi-nistrio dos Transportes assinou contrato e a instalao de uma li-nha piloto em Porto Alegre, com capacidade para 300 passageiros, poderia se tornar uma realidade. Um ano depois, o sonho foi por gua abaixo, em funo de uma troca de governo. Mesmo assim, conclu os veculos com recurso prprio. E desde 1983 eles esto l, em pleno funcionamento.

    A linha, apesar de no ser regular, na poca chamou ateno de um americano que trabalhava para o governo indiano, que acredi-tou que o aeromvel era o futuro do transporte pblico. Imagina, anda sob trilhos e pesa cinco vezes menos do que qualquer trem, de ficar impressionado mesmo, conta o inventor. Em Jacarta, loca-lizado dentro do Parque Tamn Mini, o aeromvel j transportou 20 milhes de passageiros no trajeto de 3.200 metros.

    Na cidade em que a tecnologia foi inventada, o transporte funciona esporadicamente. Qualquer mudana de paradigma demorado para as pessoas entenderem do que voc est falando, analisa Coester. Mas com as obras previstas para a Copa de 2014, o sonho parece que finalmente sair por completo do papel. O pro-jeto ganhar seu primeiro trecho comercial em solo brasileiro. A obra, que pretende interligar o Aeroporto Internacional Salgado Filho estao do Trensurb, ter aproximadamente 900 metros. O novo modelo nacional ser capaz de transportar at 13 mil pas-sageiros por dia, percorrendo o trecho em menos de um minuto.

    P R O J E T O S

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    Participao para o mundo

    A mesma Porto Alegre que aguarda o funcionamento de uma forma re-volucionria de transporte inventada beira do Guaba viu se expandir para um mundo a ideia, nascida aqui, de que a melhor pessoa para saber das defi-cincias de uma cidade o prprio morador. Esta a essncia do Oramento Participativo. O OP um debate entre Governo Municipal e populao que busca a adequao peridica das necessidades locais, explica a assessora de comunicao da Secretaria Municipal de Governana Local, Indai Dillen-burg. A iniciativa, de 1989, foi criada para que os cidados influenciassem na deciso do destino do oramento pblico para a sua regio.

    Entretanto, a ideia deu to certo que o Oramento Participativo tem se consolidado como referncia democrtica para o mundo. Indai conta que o fato de a Organizao das Naes Unidas (ONU) ter reconhecido o OP como uma das 40 melhores prticas de gesto pblica urbana no mundo e o Ban-co Mundial ver o processo como um dos exemplos bem-sucedidos de ao comum entre Governo e sociedade civil despertou o interesse de diversas cidades. Todo ano, representantes de prefeituras do Brasil e do mundo che-gam Capital com o objetivo de conhecer as iniciativas feitas aqui, falar com lideranas comunitrias e conhecer obras decididas pela populao, fala.

    Conselheiro do OP da regio da Restinga e membro da Coordenao do Conselho do OP (COP), Andr Seixas acredita que a forma de consulta de-sempenha um papel de importncia fundamental dentro das regies. um momento em que as pessoas tm poder de expor suas opinies e sugestes de como melhorar o local onde elas vivem. E o melhor que eles possuem a certeza de que so, realmente, levados em considerao, explica.

    Pelos clculos da Prefeitura, pelo menos 300 cidades, dentre elas Saint--Denis (Frana), Rosrio (Argentina), Montevidu (Uruguai), Barcelona (Espanha), Toronto (Canad), Bruxelas (Blgica), Belm (Par), Santo Andr (So Paulo), Aracaju (Sergipe), Blumenau (Santa Catarina), Belo Horizonte (Minas Gerais) e recentemente Nova York (Estados Unidos), importaram e introduziram em sua cultura uma forma de Oramento Participativo. Cada local apresenta diferentes metodologias e formas de executar o processo. Para a assessora, as modificaes so para obedecer realidade local, s pe-culiaridades das regies. O OP de Porto Alegre foi pioneiro, mas o respeito s especificidades dos locais onde ele venha a ser implantado o que enriquece o processo. Quem melhor do que o prprio morador para especificar as principais deficincias do local? Ningum. Ele vive ali, v o que falta diaria-mente, sente na pele. Por isso que esse projeto tem alcanado cada vez mais sucesso, afirma Seixas.

    Quem melhor do que o prprio morador para especificar as principais deficincias do local? Ningum.

    Andr Seixas

    DIVULGAO DA PREFEITURA DE PORTO ALEGRE

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  • Outro mundo possvel

    O slogan do Frum Social Mundial (FSM) fala sobre o desejo de um novo mundo. O evento, que acontece desde 2001, nasceu em Porto Alegre com a proposta de processo mundial permanente de busca e construo de alternativas s polticas neoliberais. Contraponto explcito ao Frum Econmico Mun-dial, a proposta foi idealizada para ser grande - como possvel observar no nome. O contexto em que F-rum Social foi desenvolvido composto pela queda do muro de Berlim, no qual a ganncia incontrolvel dos homens aumentava a diferena entre ricos e pobres e havia constantes protestos que lutavam pelo ideal de igualdade. No meio a todo esse barulho surgiu essa proposta, conta Chico Whitaker, autor do livro Desa-fio do Frum Social Mundial: Um modo de ver.

    Desde o comeo, os encontros foram realizados na Capital, (2001, 2002, 2003 e 2005), Mumbai (2004), Nairbi (2007), Belm (2009), Dakar (2011). Em 2012, voltam a Porto Alegre. Para 2013, ainda esto decidindo o local, mas ser Maghreb, na Tunsia, ou no Egito, conta o assistente de Relaes Internacio-nais do Frum Social Mundial, Andr Bailo.

    O evento, que acontece uma vez por ano, foi en-carado inicialmente como uma iniciativa poltica vista como uma luz de esperana, nova e forte, num horizonte bloqueado relembra Whitaker, integrante do Comit Organizador do FSM. Com o passar do

    tempo, o Frum conquistou credibilidade pelo traba-lho que estava desenvolvendo. A partir dele, surgiram outros eventos semelhantes. Whitaker explica que esse crescimento proporcionou uma fase totalmente nova, apresentando uma face diversa ao capitalismo. Superou-se o simples protesto e entramos numa fase propositiva. Ou seja, poderiam afirmar que outro mundo possivel, frase com que se lanou a mobili-zao em Porto Alegre.

    O lanamento do Frum Social Mundial foi pen-sado para no deixar margens para dvida quanto a sua proposta ou objetivo. Por isso, ele aconteceu exa-tamente nos mesmos dias em que estava ocorrendo, na poca, o Frum Econmico Mundial de Davos, na Sua. A iniciativa serviu para chamar a ateno para uma alternativa ao modelo econmico dominante uma mobilizao internacional que ficou conhecida como o esprito de Porto Alegre.

    Na opinio de Whitaker, o papel do Frum parece no ser suficiente. Em todos os continentes, a gran-de maioria das pessoas tm uma verso insuficiente ou distorcida da natureza e dos objetivos do FSM. Apesar dos meios alternativos de comunicao, poucas pesso-as sabem que os Fruns esto sendo realizados, afir-ma. Whitaker encara trs desafios como sendo perma-nentes: a difuso de sua mensagem de esperana em todo o mundo; a afirmao da sociedade civil como ator poltico autnomo; e a construo efetiva de uma nova cultura poltica.

    Porto Alegre volta a sediar o Frum Social Mundial em 2012

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