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    Artigo de reviso

    RBAFS

    Revista Brasileira deAtividade Fsica & Sade

    SOCIEDADE BRASILEIRA DE ATIVIDADE FSICA E SADE

    Brazilian Journal ofPhysical Activity and Health

    Rev Bras Ativ Fs Sade p. 340-351DOIhttp://dx.doi.org/10.12820/rbafs.v.20n4p340

    1 Escola Superior de Educao Fsica,

    Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS,

    Brasil

    2 Universidade Federal do Rio Grande, Institutode Educao, Educao Fsica, Rio Grande, RS,

    Brasil

    3 Escola Superior de Educao Fsica,

    Universidade da Regio da Campanha, Bag, RS,

    Brasil

    Exerccio intermitente de altaintensidade como alternativa nareabilitao cardiovascular: uma

    metanliseHigh intensity intermittent trainingas an alternative in cardiovascularrehabilitation: a meta-analysisVictor Silveira Coswig1

    Leandro Quadro Corra2

    Antnio Evanho Pereira de Souza Sobrinho3

    Fabrcio Boscolo Del Vecchio1

    RESUMOO objetivo desta metanlise testar a hiptese de que exerccios intermitentes de alta inten-sidade (HIIT) apresentam efeito superior ao exerccio contnuo de intensidade moderada(MICE) sobre o VO

    2pico, FC

    pico, frao de ejeo do ventrculo esquerdo (LVEF) e dilatao

    arterial fluxo-mediada (FMD) em pacientes com infarto agudo do miocrdio (IAM), doen-a arterial coronariana (DAC) e insuficincia cardaca (IC). As bases de dados eletrnicasPubMed, EBSCOhost e Science Direct foram acessadas, alm de buscas nas referncias dosprprios artigos. Incluram-se 12 artigos com total de 239 pacientes que realizaram sessesde HIIT (61,885,88 anos) e de 276 que realizaram MICE (62,434,85 anos). Verificou-se efeito favorvel ao HIIT em comparao ao MICE no VO

    2pico (Z=8,22; p

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    Exerccio intermitente e reabilitao cardiovascular 341

    INTRODUO

    A atividade fsica integra a abordagem mdica para preveno das doenascardiovasculares, que configuram a primeira causa de mortalidade no mundoentre 2000 e 20121,2, e recomendaes para a prtica de atividade fsica envol-

    vem exerccios com longa durao (20 a 40 min), em intensidade moderada

    (40 a 80% VO2max), com frequncia mnima de trs sesses semanais3-7.Entre-tanto, poucas pessoas dispem/disponibilizam muito tempo para se exercitar,e o exerccio intermitente de alta intensidade (HIIT) se constitui como alter-nativa vivel para esta barreira8-10. O HIIT exerccio que intercala atividadede curta durao e intensidades elevadas com recuperao ativa ou passiva,sendo que as aes/esforos podem durar entre 5 minutos e seis segundos comintensidades acima do limiar anaerbio/mxima fase estvel do lactato11,12, atde modo all-out13. Vale lembrar que tais exerccios foram incorporados nas di-retrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia para reabilitao de pacientescom insuficincia cardaca14, por atuar sobre mecanismos centrais15-18e peri-fricos15que incrementam a aptido fsica.

    Previamente, observou-se em pessoas com doena arterial coronaria-na, insuficincia cardaca e elevado risco cardiovascular que este modelo deexerccio pode ser mais tolerado em comparao ao exerccio contnuo comintensidade moderada (MICE)9. Ele tambm parece ser mais eficiente paramelhorar o pico do consumo de oxignio (VO

    2pico)

    e funo de ejeo do ven-

    trculo esquerdo em pacientes com insuficincia cardaca crnica, sem riscosadicionais aos programas de reabilitao19, e tais melhoras reduz a chance demorbi-mortalidade em diferentes contextos20. Evidncias apontam para van-tagens do HIIT sobre o MICE no que diz respeito melhoria da aptido21-23e reduo na presso arterial de repouso20, distensibilidade arterial, funoendotelial, capacidade oxidativa muscular e estoques de glicognio15. Alm

    disso, o aumento do VO2picopoderia reduzir a taxa de mortalidade em aproxi-madamente 15%20.

    Assim, este estudo objetivou quantificar o tamanho do efeito de interven-es com exerccios MICE e HIIT em variveis cardiovasculares de pacientescom infarto agudo do miocrdio (IAM), doena arterial coronariana (DAC) einsuficincia cardaca (IC). Adicionalmente foram testadas as respostas parafrao de ejeo do ventrculo esquerdo (LVEF) e para vasodilatao mediadapelo fluxo (FMD).

    MTODOS

    Este estudo de metanlise foi conduzido a partir da anlise de ensaios clnicosrandomizados. A reviso sistemtica de literatura e a realizao de seus passosmetodolgicos seguiram as indicaes do modelo PRISMA -Preferred Repor-ting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses24.

    A busca dos artigos incluiu estudos produzidos nos ltimos 10 anos e foirealizada entre os meses de outubro e novembro de 2014. A mesma foi realiza-da por trs pesquisadores (mestres em educao fsica) de forma independentee, quando no houve consenso entre os revisores sobre a incluso dos manus-critos no estudo, eles se reuniram e consultaram um quarto pesquisador queavaliou o trabalho e definiu sua incluso ou no na reviso.

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    342 COSWIG ET AL.Rev Bras Ativ Fis Sade Pelotas/RS 20(4):340-351 Jul/2015

    Para acessar os estudos, foram conduzidas buscas nas bases de dados ele-trnicas PubMed, EBSCOhost e Science Direct. Utilizaram-se os termos dabase de dadosMedical Subject Heading(MeSH), a saber: cardiovascular diseasesOR metabolic diseases OR chronic diseases. Em conjunto com os termos MESH,foram utilizados high intensity training/exercise, OR interval training/exercise,OR intermittent training/exercise, OR low volume training/exercise OR aerobic

    interval training/exercise.Alm da busca pelos descritores, pesquisaram-se osnomes dos autores que escrevem sobre o tema e foram recuperadas pesquisasencontradas nas referncias dos estudos includos na reviso.

    Inicialmente os artigos foram avaliados pelos ttulos, que deveriam in-formar sobre a comparao entre o exerccio intermitente e outros modelosde exerccio que fossem realizados de forma contnua apenas em indivduoscom algum tipo de doena cardaca. Na sequncia, pela leitura dos resumos,foram mantidos apenas estudos que apresentaram comparaes pr e ps de-terminado perodo de interveno. Por fim, os artigos ainda elegveis nestaetapa foram lidos na ntegra e se mantiveram apenas os que apresentavam pelomenos resultados do consumo de oxignio pico VO

    2pico, considerado principal

    varivel de interesse.Aps seleo final dos estudos, os mesmos foram avaliados e classificados

    a partir daPhysiotherapy Evidence Based Database(PEDro) para fins de descri-o, com intuito de verificar-se a validade interna dos trabalhos e a existnciade informaes suficientes para interpretao da estatstica apresentada nosmesmos25. Esta escala composta por 11 questes que tm como finalida-de permitir tal avaliao e, quanto maior o nmero de questes estiveremapresentadas nos estudos, melhor seu design e facilidade de interpretao dosmesmos. Aps avaliao dos estudos, foram extrados os principais resultadose tabulados em planilha doExcel 2010.A anlise dos dados ocorreu no pacoteestatstico BioEstat 5.3.Listaram-se os artigos includos assim como todos ex-

    cludos com descrio de porque os mesmos no se enquadravam a pesquisa.Para apresentao dos dados descritivos foram utilizados valores absolu-

    tos, mediana, valores mnimos e mximos para algumas variveis, bem comomdias e erros padro para outras. Para as comparaes das investigaes uti-lizou-se o nmero de indivduos em cada protocolo de exerccio (intermitente

    x contnuo), a mdia e o desvio padro de cada estudo na condio ps inter-veno, para isto utilizou-se a ferramenta estatstica metanlise para dadoscontnuos do pacote estatstico selecionado. Os resultados so apresentadosatravs da mdia das diferenas, erro padro, escore Z, valor p e intervalo deconfiana. Os resultados individuais dos estudos apresentam resultados atra-

    vs da diferena entre as mdias, intervalos de confiana superior e inferior e

    o peso. Estas anlises foram feitas para o VO2pico, FCpico, LVEF e FMD.

    RESULTADOS

    Foram encontrados 1168 ttulos pelos descritores utilizados. Destes, 45 foramselecionados pelo ttulo. Na leitura dos ttulos, 18 foram excludos por teremsido realizados com diabticos, hipertensos, pacientes com sndrome meta-blica, obesos, com doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC) e idosos(n=27). Na sequncia, a partir da leitura dos resumos foram excludos mais 18estudos. Destas excluses, cinco ocorreram porque os estudos no apresenta-

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    QUADRO 1 Sntese dos estudos includos na metanlise.

    EstudoCaractersticasdo grupo

    Nmero desujeitos

    Caracterstica do treinoFrequnciae durao

    Equipamento Desfecho

    Moholdt etal.35

    Infarto agudodo miocrdio

    HIIT= 30MICE= 59

    HIIT 4 x de 4 minutos (85 - 95% daFCmax) com 3 minutos de intervaloa 70% da FCmax. Tempo total 38minutos.MICE 60 minutos em casa comaquecimento e exerccios defortalecimento e 35 minutos decaminhada.

    2 x semanadurante 12semanas

    Caminhadana esteira

    O HIIT aumentou mais o pico decaptao de O2em comparaoao MICE em pacientes quetinham infartado.

    Conraads etal.27

    Doenaarterialcoronariana

    HIIT= 100MICE=100

    HIIT (85-95% VO2picoou 90-95 FCpico)10 min aquecimento 4 x 4minutosde esforo por 3 de pausa total 38minutos.MICE (60-70% VO2picoou 65 - 75%FCpico) exerccio contnuo, 5 minutosde aquecimento, 37 de exerccio e 5de recuperao - total 47 minutos

    3 x semanadurante 12semanas

    Cicloergmetro

    Foi observada melhoriasemelhante na funoendotelial entre o HIIT e o MICEem pacientes com DAC.

    Rognmo etal.40

    Doenaarterialcoronariana

    HIIT= 8MICE= 9

    HIIT (entre 85 e 95% da FCpico) 5minutos de aquecimento seguido de 4x 4 minutos entre 80 - 90% VO2pico, 85e 95% FCpicocom intervalos ativos de3 minutos entre 50 e 60% VO

    2pico

    , 65 -75% FCpico tempo total 33 minutos.MICE (entre 60 e 70% da FCpico)tempo total 41 minutos.

    3 x semanadurante 10semanas

    Caminhadana esteira

    O HIIT provocou maior aumentono VO2pico em comparao aoMICE em pacientes com DACestvel.

    Currie etal.26

    Doenaarterialcoronariana

    HIIT= 7MICE= 7

    HIIT (at a 4 semana 1 minuto a88% da Pmx(variando de 80 a 99%)por 1 de recuperao a 10%; da 5-8 semanas 105%12%; da 9 a12semanas 10712%)MICE 30 minutos contnuos dasemana 1 a 4 (entre 55 e 65%VO2pico); 40 minutos da 5 a 8 e 50minutos da 9 a 12

    2 x semanadurante 12semanas

    Cicloergmetro

    Nenhum dos modelos deexerccio provocou alteraes nafuno autonmica cardaca empacientes com DAC.

    Freyssin etal.22

    Insuficinciacardaca

    HIIT= 12MICE= 14

    HIIT 3 sries de 12 repeties de30 segundos de esforo entre 50 e80% da Pmxpor 60 de recuperaototal com intervalo de 5 minutosentre as sries, total 168 min/semde exerccioMICE 45 minutos contnuos comFC correspondente ao limiarventilatrio 1, total 360 min/sem

    5 x semanadurante 8semanas

    Cicloergmetro

    O HIIT parece ser mais efetivoque o MICE na melhoria dacapacidade submxima deexerccio em pacientes cominsuficincia cardaca.

    Fu et al.32 Insuficinciacardaca

    HIIT= 15MICE= 15

    HIIT 5 vezes de 3 minutos a 80%(~80%FCR) VO2picoseparados por 3minutos de intervalo a 40% VO2picoMICE 30 minutos contnuos a 60%VO2pico(~60% FCR)

    3x semanadurante 12semanas

    Cicloergmetro

    O HIIT pode melhorar asrespostas hemodinmicascentrais e perifricos aoexerccio. No entanto, MICE podeapenas manter as respostasfisiolgicas ao exerccio no nvelpr interveno.

    Iellamo etal.33

    Insuficinciacardaca

    HIIT= 8MICE= 8

    HIIT de 2 a 4 sries de 4 minutosentre 75 e 80% da FCR comintervalos ativos entre as sriesentre 45 e 50% da FCRMICE 30 a 45 minutos entre 45 e60% da FCR

    2 x a 5 x Caminhadana esteira

    Os dois modelos de exerccioinduziram a modificaessignificativas na capacidadeaerbia em pacientes cominsuficincia cardaca apsinfarto.

    Wisloff etal.28

    Insuficinciacardaca

    HIIT= 9MICE= 9

    HIIT 4 sries de 4 minutos entre 90e 95% FCpicoo tempo total da sessofoi de 38 minutosMICE entre 70% e 75% da FCpicocomdurao de 47 minutos

    3 x semanadurante 12semanas

    Caminhadana esteira

    O VO2picoaumentou maiscom o HIIT em comparaoao MICE (46% versus 14%,respectivamente p

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    teve durao mais longa foi de 24 semanas. Sete destes foram realizados compacientes de ambos os sexos e cinco apenas com homens.

    No somatrio dos estudos houve 527 participantes. Destes 239 realizaram assesses de exerccio intermitente com uma mediana de 11 participantes. O queteve menos envolveu sete participantes26e o que teve maior nmero recrutou10027. Em relao a participao nos grupos MICE, 276 sujeitos foram alocadospara este modelo de exerccio com mediana de 13,5 participantes por estudo. Ascaractersticas gerais dos participantes dos estudos esto apresentadas na tabela 1.

    TABELA 1 Descrio das caractersticas gerais dos participantes dos estudos, atravs de mdia dp e valores mnimos e mximos.

    DescrioExerccio intermitente Exerccio contnuo

    Mdia dp Mnimo Mximo Mdia dp Mnimo Mximo

    Idade (anos) 61,88 5,89 54,00 76,50 62,43 4,85 55,00 74,40IMC* (kg/m2) 27,22 1,54 24,50 28,90 27,11 1,56 24,10 29,50

    VO2pico (mL/kg.min)# 19,38 7,10 10,70 31,80 19,53 7,05 10,60 32,20

    IMC: ndice de Massa Corporal; * Em relao ao IMC obteve-se informaes de 9 estudos. #Valo-res referentes linha de base.

    Para analisar as diferenas no VO2pico

    aps a interveno, foram utilizadosos 12 estudos revisados e a sumarizao destes achados apresentada na Fi-gura 2. Nela, evidencia-se vantagem do HIIT sobre o MICE, com mdia dasdiferenas de 2,8 mL/kg.min (p=0,0001).

    Smart etal.34

    Insuficinciacardaca

    HIIT= 10MICE= 13

    HIIT 60 minutos de exerccio a 70%VO2pico(60 segundos de esforo x 60segundos de pausa)MICE 30 minutos contnuos a 70%VO2pico

    3 x semanapor 16semanas

    Cicloergmetro

    O HIIT aumentou mais acapacidade funcional emcomparao ao MICE.

    Koufaki etal.38

    Insuficinciacardaca

    HIIT= 8MICE= 9

    HIIT 30 segundos a 100% do pico depotncia x 1 minuto a 20-30% picode potncia (2 x 15 minutos).

    MICE 40 minutos contnuos a 40-60% VO2pico.

    3 x semanadurante 24semanas

    Cicloergmetro

    O HIIT uma modalidade detreinamento vivel e bemtolerado em programas de

    reabilitao cardaca, mas seusefeitos no foram melhores queo MICE.

    Dimopouluset al.39

    Insuficinciacardaca

    HIIT= 10MICE= 14

    HIIT 30 segundos de exerccio a100% do pico da taxa de trabalhopor 30 segundos de pausa por 40minutos.MICE 40 minutos de exercciocontnuo a 50% do pico da taxa detrabalho.A intensidade foi aumentada a cadams em 5% para o MICE e 10% parao HIIT

    3 x semanadurante 12semanas

    Cicloergmetro

    Os dois modelos de exercciomelhoram a capacidade dese exercitar em pacientescom insuficincia cardaca.Entretanto o HIIT melhora maisa diferena entre a FCpicoe a FCaps um minuto da interrupodo exerccio, que um marcadorde atividade parassimptica,sugerindo maior contribuiodo SNA.

    Roditis etal.31

    Insuficinciacardaca

    HIIT= 11MICE= 10

    HIIT 30 segundos de exerccio a100% do pico da taxa de trabalhopor 30 segundos de pausa por 40minutos.MICE 40 minutos de exercciocontnuo a 50% do pico da taxa detrabalho.Durante o 2 e o 3 ms asintensidades foram 55 e 60% dopico de potncia de trabalho para oMICE e 110 e 120% para o HIIT.

    3 x semanadurante 12semanas

    Cicloergmetro

    Os dois modelos de exercciomelhoraram a cintica do O

    2

    em pacientes com insuficinciacardaca. Porm a fase IIda cintica que um ndiceindireto da capacidade oxidativado msculo mais afetada peloMICE.

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    No entanto, para a FCpico

    , um destes estudos no trazia a informao22e,consequentemente, no foi includo e a anlise para esta varivel apresentadana Figura 3. Para esta varivel, no houve diferena entre os protocolos detreinamento (p< 0,246).

    FIGURA 2 Comparao das respostas da VO2picoentre protocolos HIIT e MICE (n=12).1: infarto agudo do miocrdio; 2: doena arterial coronariana; 3: insuficincia cardaca; MD: M-

    dia das diferenas; HIIT: Exerccio Intermitente de Alta Intensidade; MICE: Exerccio contnuo deintensidade moderada.

    Ainda na Figura 3 so apresentados os dados da sntese dos estudos queinvestigaram a LVEF. Dos 12 estudos elegveis, apenas 4 apresentaram estamedida, sendo que um destes foi excludo por no apresentar os valores demdia e desvio padro28. Como sntese, os resultados sugerem que protocolosde HIIT parecem ser mais eficientes para a melhora da LVEF (p=0,001).

    Por fim, a Figura 3 tambm ilustra a sntese das repostas da FMD a partirdos protocolos de treinamento. A partir destes dados sugere-se que no hdiferena entre os protocolos para esta varivel (p=0,9).

    DISCUSSO

    O principal achado desta metanlise foi identificar que o HIIT apresenta me-lhora na aptido cardiorrespiratria maior (~2 vezes) do que MICE. A suma-rizao dos ensaios clnicos randomizados indica que, quando considerado o

    VO2pico,

    protocolos de HIIT parecem apresentar efeito superior na reabilita-o de pacientes com problemas cardiovasculares, quando comparados aos

    MICE (p=0,001). Efeito superior do HIIT tambm pode ser identificado namelhora no volume de ejeo do ventrculo esquerdo (p=0,001). J quanto

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    FCpico

    e funo endotelial,parece no haver diferena significante entre as

    propostas de treinamento estudadas (p

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    Os mecanismos que explicam o aprimoramento do VO2pico

    a partir doHIIT envolvem aspectos prioritariamente perifricos, como o aumento naPGC1-, enzima responsvel pela biognese mitocondrial e na taxa de re-ceptao de Ca2+pelo retculo sarcoplasmtico29,30, o que promove maior efi-cincia da distole e, consequentemente, maior fora e rapidez contrtil nasstole27. Adicionalmente, melhoras gerais do sistema cardiovascular tambm

    envolvem aspectos centrais, como LVEF31-33, e perifricos, como a FMD26,33,34.Fundamentalmente, at a dcada de 1980, a aplicao de exerccios em

    pacientes com reduo da LVEF era associada a aumento do risco para mor-bidades e mortalidade35. Apesar disso, atualmente a aplicao de exerccios bem aceita, inclusive, os estudos includos nesta reviso envolvem pacientescom LVEF menor do que 40%, o que indica presena de doena cardaca oca-sionada por disfuno ventricular. Destes, trs avaliaram o impacto do HIIT edo MICE nesta varivel31-33e, quando sumarizados, indicaram melhora supe-rior com protocolos intervalados (p=0,001). Os achados indicaram que almde promover remodelamento cardaco positivo, pelo aumento do ventrculoesquerdo e consequente aumento do volume de ejeo, o HIIT influenciou na

    reabilitao do remodelamento patolgico31-33. J quanto FMD, valor me-nor do que 5,5% indicador de aumento da morbidade e mortalidade poreventos cardiovasculares em at trs vezes quando comparado a valor maiordo que este26,33,34. A partir disto, Conraads et al.27, indicaram melhora clinica-mente significante pela evoluo dos pacientes a 6,4%. Neste caso, apesar deexerccios promoverem aprimoramento e do baixo nmero de evidncias, osresultados desta metanlise no indicam diferena entre HIIT e MICE, o quecontraria a hiptese inicial, justificada pelo fato de que um dos mecanismosenvolvem o aumento da produo de xido ntrico, o que teria maior impactocom protocolos de maior intensidade34.

    Quanto prescrio do HIIT, algumas indicaes foram previamente es-

    tabelecidas9,14,29,36. Dentre as sugestes, Weston et al.29, recomendam que pa-cientes cardiometablicos sejam inseridos em programas de HIIT trs vezespor semana com durao de 40 min que envolvem esforos de 4 min (85 a95% da FC

    pico) e recuperao de 3 min (0 a 70% da FC

    pico). Ainda, consideran-

    do pacientes com sndrome metablica (inclusive cardiopatias), Del Vecchioet al.36, indicam processo de progresso de HIIT que inicia com protocoloscom estmulos mais longos e submximos e avana para protocolos curtose mximos at atingir protocolos supramximos, inclusive com esforos re-petidos na maior intensidade possvel (all-out). Piepoli et al.14, apontam que,em pacientes com IC, alternem-se esforos curtos (10-30seg) de intensidademoderada a alta (50-100% do pico de capacidade para se exercitar) com recu-

    peraes longas (60-80seg) em intensidade baixa ou de modo passivo. Por fim,quando considerados pacientes com doena coronariana, Guiraud et al.9, in-

    vestigaram quatro diferentes protocolos de HIIT com vistas a identificar umdestes como timo, considerando tempo at a exausto, tempo gasto prximoao VO

    2max, conforto do paciente e segurana. Os protocolos diferiam entre si

    quanto ao tempo de esforo (15 ou 60 seg) e quanto ao tipo de recuperao(passiva ou ativa), todos em razo de esforo e pausa de 1:1. Os autores con-cluram que exerccios a 100% da potncia aerbia mxima eram toleradose seguros para esta populao e que a recuperao passiva promoveu maiortempo at a exausto e, com isso, o protocolo de 15seg de esforo e pausa com

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    recuperao passiva pareceu ser o mais indicado para equilibrar os parmetrosavaliados (tempo at a exausto, tempo gasto prximo ao VO

    2max, conforto do

    paciente e segurana).Em pacientes com insuficincia cardaca crnica, constataram-se melho-

    ras no VO2pico

    (27%), durao do exerccio (47%) e captao de O2 duranteexerccio mximo (18%), no observadas no protocolo contnuo22. Em suma,

    parece que exerccios intermitentes de alta intensidade se apresentam comoestratgia eficiente e segura para pacientes com problemas cardiovasculares.Quando comparados aos tradicionais contnuos usualmente recomendados,eles parecem apresentar maior eficincia (VO

    2picoe LVEF) ou pelo menos efi-

    cincia equivalente (FCpico

    e FMD). Complementarmente, deve-se fazer a res-salva que um dos maiores problemas associados a intervenes com exercciospara reabilitao cardaca a aderncia aos programas14e se indica que existeboa aderncia dos pacientes a esta modalidade de exerccio29,35,37, que por vezespode at mesmo ser maior que a aderncia a protocolos contnuos34.

    CONCLUSO

    A presente metanlise identificou que exerccios intermitentes de alta inten-sidade apresentam benefcios superiores ao exerccio contnuo executado emintensidades moderadas no que diz respeito a ganhos no pico de consumomximo de oxignio e melhoria da capacidade de ejeo do ventrculo esquer-do em pessoas com problemas cardiovasculares. J a frequncia cardaca e afuno endotelial destes pacientes parecem no responder de modo diferentea estes protocolos. Cabe por fim ressaltar que os autores no sugerem a exclu-so de outras modalidades de treinamento como protocolos contnuos ou deexerccios de resistncia. Deste modo, se destaca a sugesto de que protocolosintermitentes de alta intensidade sejam indicados nas recomendaes das di-

    ferentes organizaes de sade.

    REFERNCIAS1. World Health Organization [Internet]. The top 10 causes of death. [Atualizado em Maio

    2014] Disponvel em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs310/en/2014.2. Schmidt MI, Duncan BB, Silva GAe, Menezes AM, Monteiro CA, Sandhi MB, et

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    Exerccio intermitente e reabilitao cardiovascular 351

    ENDEREO PARACORRESPONDNCIAVICTOR SILVEIRA COSWIGEscola Superior de Educao Fsica daUniversidade Federal de PelotasEndereo: R. Lus de Cames, 625.Bairro: Trs Vendas, Pelotas RS.Cep: 96055-630Fone: (53) 3273-2752

    RECEBIDO 07/10/2015APROVADO 14/10/2015

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