Herança Multifatorial - remendel.ufpr.br§a... · Características que se manifestam quando é ......
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Características dicotômicas versus quantitativas
Todas as características de qualquer indivíduo pode ser divididas em dois tipos principais:
Características descontínuas ou dicotômicas: o indivíduo tem ou não tem (mendelianas)
Características contínuas ou quantitativas, que todos têm, mas em diferentes graus (estatura, o peso, a pressão sangüínea
Fenótipos mendelianos podem ser divididos em
classes fenotípicas distintas
aa Aa AA
normal albino
1 : 3
Prop. Genotipica
Prop. Fenotipica
(1:2:1)
75%
25%
Interação
alélica:
dominância
gametas A a
F2 A AA Aa
a Aa aa
indivíduo sem
albinismo ou albino
Este tipo de variação, na qual o caráter
apresenta apenas estados contrastantes, é
chamado variação fenotípica descontínua
(discreta)
CARACTERES QUALITATIVOS
Parentais Variedade anãs x variedade alta
F1 Todas altas
F2 1/4 anãs 3/4 altas
? Parentais Variedade anãs x variedade alta
F1 Todas médias
F2 Anãs intermediárias altas
1760 – Joseph Kölreuter
experimento com tabaco
1866 – Gregor Mendel
experimento com ervilha
P Vermelha Branca
AA aa
F1 Cor intermediária
Aa autopolinizada
gametas A a
F2 A AA Aa
a Aa aa
Resumo dos resultados da F2
Alelos ativos 2 1 0
Genótipos AA (1) Aa (2) aa (1)
Proporção
fenotípica 1 2 1
Fenótipo Vermelha Rosa Branca
a) Controle em um locus (n=1)
Caso hipotético para a coloração de flores (dominância incompleta)
1a tentativa para explicar – 1 gene com dominância incompleta
Distribuição descontínua
Caráter simples: Cor de flores
Dominância
incompleta
Ainda não explica a ampla gama
de fenótipos encontrados na
altura das plantas de milho
P1 Vermelha Branca
AABB aabb
F1 Cor intermediária
AaBb autopolinizada
gametas AB Ab aB ab
AB AABB AABb AaBB AaBb
F2 Ab AABb AAbb AaBb Aabb
aB AaBB AaBb aaBB aaBb
ab AaBb Aabb aaBb aabb
Alelos ativos 4 3 2 1 0
Genótipos AABB (1) AABb (2)
AaBB (2)
AaBb (2)
AAbb (2)
aaBB (2)
Aabb (2)
aaBb (2) aabb (1)
Proporção
fenotípica 1 4 6 4 1
Fenótipo Vermelha Vermelha
claro Intermediária
rosa
clara Branca
b) Controle em dois locus (n=2), dominância incompleta
P1 Vermelha Branca
AABBCC bbaacc
F1 Cor intermediária
AaBbCc autopolinizada
c) Controle em três locus (n=3)
gametas ABC ABc AbC aBC Abc aBc abC abc
ABC ABCABC ABcABC AbCABC aBCABC AbcABC aBcABC abCABC abcABC
ABc ABCABc ABcABc AbCABc aBCABc AbcABc aBcABc abCABc abcABc
AbC ABCAbC ABcAbC AbCAbC aBCAbC AbcAbC aBcAbC abCAbC abcAbC
F2 aBC ABCaBC ABcaBC AbCaBC aBCaBC AbcaBC aBcaBC abCaBC abcaBC
Abc ABCAbc ABcAbc AbCAbc aBCAbc AbcAbc aBcAbc abCAbc abcAbc
aBc ABCaBc ABcAbc AbCaBc aBCaBc AbcaBc aBcaBc abCaBc abcaBc
abC ABCabC ABcabC AbCabC aBCabC AbcabC aBcabC abCabC abcabC
abc ABCabc ABcabc AbCabc aBCabc Abcabc aBcabc abCabc abcabc
Alelos ativos 6 5 4 3 2 1 0
Genótipos
AABBCC(1)
aBCABC(2)
ABcABC(2)
AbCABC(2)
ABcABc(1)
AbCAbC(1)
aBCaBC(1
AbcABC(2)
aBcABC(2)
abCABC(2)
AbCABc(2)
aBCABc(2)
aBCAbC(2)
AbcABc(2)
aBcABc(2)
abCABc(2)
AbcAbC(2)
aBcAbC(2)
abCAbC(2)
AbcaBC(2)
aBcaBC(2)
abCaBC(2)
AbcAbc(1)
aBcaBc(1)
abCabC(1) abcABc(2)
abcAbC(2)
abcaBC(2)
aBcAbc(2)
abCAbc(2)
abCaBc(2)
abcAbc(2)
abcaBc(2)
abcabC(2) abcabc(1)
Proporção
fenotípica 1 6 15 20 15 6 1
Fenótipo Vermelha Branca
Este tipo de variação, na qual o caráter
apresenta variação gradual, é chamada de
variação fenotípica contínua
CARACTERES QUANTITATIVOS
HERANÇA POLIGÊNICA
Imaginou-se que as características poligênicas
não eram mendelianas, ou seja, não
segregavam como fatores mendelianos
simples….
Por quase 20 anos, biólogos lutaram para conciliar
a complexidade de características quantitativas
com a simplicidade da teoria de Mendel
A hipótese dos genes múltiplos
1909 – H. Nilsson – Ehle (Suécia)
Herança da cor de grãos em trigo. Três genes que se distribuem independentemente
(A, B e C) supostamente controlam a cor dos grãos. Cada gene tem 2 alelos. Os alelos
para pigmentação (em letras maiúsculas) são semidominantes em relação aos alelos para
falta de pigmentação (em letras minúsculas).
aabbcc AABBCC
AaBbCc
Vermelho escuro
Vermelho
intermediário
Branco
Cada classe de F2 leva um
número diferente de alelos
contribuintes de pigmento
0 alelos pig 6 alelos pig
O trabalho de Nilsson – Ehle mostrou que
um padrão complexo de herança podia ser
explicado pela segregação e distribuição de
vários genes e alelos.
Uma característica de herança complexa não
apresenta as proporções mendelianas simples,
mas segue as mesmas leis.
Na determinação do caráter quantitativo existem
vários genes e alelos com efeito cumulativo: efeito
aditivo
Herança poligênica é um tipo de herança, na qual
participam dois ou mais pares de genes com segregação
independente, resultando em um efeito cumulativo de
vários genes envolvidos, cada um contribuindo com uma
parcela para a formação da característica.
Pontos importantes:
Davenport (1913), sugeriu que 2 genes determinam a cor da pele:
A = B : + melanina
a = b : - melanina
2 genes 5 categorias de coloração da pele humana.
Há uma variação contínua ou
gradual, o que significa que entre os
extremos (negro e branco) existem
diversos fenótipos intermediários.
Característica é determinada pelo efeito
aditivo dos vários alelos
Controle em dois locus - COR DA PELE EM HUMANOS
Como explicar as várias tonalidades entre brancos e negros?
Fenótipos Genótipos
Branco aabb
Pardo claro Aabb, aaBb
Pardo médio AAbb, aaBB,
AaBb
Pardo escuro AABb, AaBB
Negro AABB
Fenótipos 1/16 : 4/16 : 6/16 : 4/16 : 1/16
B PC PM PE N
Resultados genotípicos e fenotípicos que seriam obtidos a partir do
cruzamento de dois indivíduos pardos médios, duplo-heterozigotos:
Pardo médio
Pardo médio Pardo médio
Pardo médio Pardo médio
Pardo claro
Pardo claro
Pardo claro Pardo claro
Pardo
escuro
Pardo
escuro
Pardo
escuro
Pardo
escuro
Pardo médio
Pardo médio Pardo médio
Altura
Peso
Vigor geral
Tamanho do corpo
Cor da pele
Cor dos olhos
Pressão arterial
Malformações congênitas
Aspectos comportamentais
Inteligência
Susceptibilidade a doenças (depressão, distúrbio bipolar,
estresse, esclerose múltipla,câncer, diabetes, doenças do
coração, autoimunes…)
Alguns exemplos de características poligenicas e multifatoriais:
. . . Grande maioria das características de importância evolutiva,
econômica, clínica…..
Existem 2 tipos de herança multifatorial:
1. Características que variam continuamente na
população;
2. Características que se manifestam quando é
ultrapassado um um limiar genético subjacente
Características de variação contínua tais como tamanho,
altura, peso, pressão são controlados por vários fatores,
tanto genéticos quanto ambientais
Existem características descontínuas que também são
multifatoriais
Ex.: algumas pessoas nascem com
fenda labial. Sabe-se que esta
condição se deve a fatores genéticos e
ambientais, mas ela não é uma
característica quantitativa no sentido
usual
Pessoas a expressam ou não
A manifestação é descontínua
Entretanto, os fatores genéticos e ambientais que predispõem
uma pessoa a apresentá-la variam quantitativamente
Quando a variável subjacente excede um determinado nível, a característica
aparece
Este tipo de característica é chamada de característica com limiar
Herança com limiar
Algumas pessoas possuem alelos
que as predispões a desenvolver
a fenda labial. Há, de fato uma
tendência genética a desenvolver
a condição. Só nas pessoas cuja
tendência ultrapassa o limiar de
fato estão em risco normais
AABBCCDD….. aabbccdd…..
Há um acúmulo de alelos de
susceptibilidade, predisposição
Limiar
O conceito de limiar é usado para explicar como as características poligênicas também podem ser dicotômicas
Exemplos de doenças
complexas com limiar
• Artrite reumatóide
• Câncer
• Esclerose múltipla
• Obesidade
• Diabetes
• Asma alérgica
• Hipertensão
• Doenças cardíacas
• Doenças psiquiátricas: esquizofrenia, autismo...
Monogênica
Poligênica
Multifatorial
Determinada por um gene com pouca ou nenhuma influencia
ambiental
Característica controlada por vários
genes
Combinação de influências genéticas e
ambientais
Trabalho de Eduard W. East (1913) Estudou o tamanho da corola de flores do tabaco
Em uma linhagem pura, o tamanho da corola tinha em média 41mm e em
outra, tinha em média 93mm
Entretanto, dentro de cada linhagem pura, East observou variação fenotípica
Mas se eram linhagens puras, como explicar a variação fenotípica???
Herança do tamanho da corola em tabaco. Pelo menos 5 genes parecem estar envolvidos
Variação
genética
Variação
ambiental
Segregação
genética
Influências
ambientais
HERANÇA MULTIFATORIAL
(QUANTITATIVA)
VF = VG + VA
Recorre-se a um modelo de análise baseado em descrições
estatísticas da fenótipo em uma população
Média (x̅ ou μ) – centro da distribuição
Variância (s2) – dispersão dos dados ao redor da média
Desvio padrão (s) – raiz quadrada da variância
1 - coletar os dados (constituir a amostra)
2 – representá-los graficamente como uma distribuição de
freqüência
Como estudar características quantitativas?
Tempo de maturação do trigo
linhagens parentais puras
(homozigotas)
Linhagem A – amadurece rápido
Linhagem B – amadurece lentamente
as distribuições em F1 e F2 indicam
que estas populações tinham tempos de
maturação intermediários
a distribuição F2 reflete a
segregação genética que ocorre
quando as plantas F1 são produzidas
Objetivo da descrição: divisão da variação observada na característica em
componentes genético e ambiental
decomposição da variação fenotípica
quanto da variação é devida a diferenças genéticas e
quanto é devida a causas ambientais
VF = VG + VA
Utiliza-se a variância
s2F = s2G + s2A
Variancia fenotípica (VF) total =
14,26 dias
Para estimar a VA podemos usar
os dados da população parental e
de F1
– são geneticamente uniformes
Portanto, a variabilidade dentro de
cada uma destas 3 populações
reflete diferenças resultantes do
efeito ambiental
VA = (VA+VB+VF1)/3
(1,92+2,05+2,88)/3
= 2,28 dias
Como temos a VA, podemos
calcular a VG por subtração
VF = VG + VA
VG = VF - VA
Isolando VG:
VG = 14,26 – 2,28
= 11,98 dias
VF = VG + VA
14,26 dias = 11,98 dias + 2,28 dias
Significa que a maior parte da variância
no tempo de maturação de F2 se deve a
diferenças genéticas entre os indivíduos
Qual a utilidade em se decompor a variação fenotípica?
Sabendo os valores de VG e VA, podemos calcular a
herdabilidade (H2) da característica
Herdabilidade – parâmetro genético que nos dá idéia
de quanto de uma variação fenotípica é devida a causas
genotípicas
H2 = VG
VF = VG
VG + VA
Herdabilidade no sentido amplo
H2 varia de 0 a 1
Se próxima de 0 – pouco da variabilidade é atribuível
a diferenças genéticas
Se próxima de 1 – a maior parte da variabilidade é
atribuível a diferenças genéticas
Na população F2 do trigo:
VF = VG + VA
14,26 dias = 11,98 dias + 2,28 dias
H2 = VG = 11,98 = 0,84
VG + VA 14,26
Este resultado nos diz que 84% da variabilidade
observada no tempo de maturação do trigo se
deve a diferenças genéticas entre indivíduos
O restante da variação (16%) é uma função da
resposta dos indivíduos à variação do ambiente
Interpretação
Herdabilidade
A herdabilidade é a proporção da variância fenotípica que é atribuível à variância genética
O que a herdabilidade responde é: quanto das diferenças entre os indivíduos resultam de diferenças genéticas entre eles, e quanto resulta de diferenças ambientais?
A herdabilidade é propriedade de um caráter, em uma
população em um determinado ambiente.
Isto não pode ser extrapolado. Dizer, por exemplo, que a
herdabilidade do tempo de maturação do trigo é 84% está
errado – é somente na população que calculamos
Portanto, populações diferentes podem ter valores
diferentes de herdabilidade
Pontos importantes
A herdabilidade NÃO indica o grau em que uma
característica é geneticamente determinada.
A herdabilidade indica o grau em que os genes
determinam a variação em uma característica.
Herdabilidade no sentido amplo
H2 = VG
VG + VA
VG – inclui todos os fatores que fazem com que os genótipos
exibam fenótipos diferentes:
efeitos dos alelos individuais
as relações de dominância entre os alelos
interações epistáticas entre genes
Capacidade de fazer previsões de como serão os
fenótipos depende do tipo de interação entre os alelos
Portanto, a variação que resulta de dominância e
epistasia tem pouco poder preditivo
Ex.: tipo sanguíneo ABO (VF=VG)
Por causa da dominância dois indivíduos com o
mesmo fenótipo pode ter genótipos diferentes
Tipo A : IAIA ou IAi
Sendo assim, se duas pessoas do tipo A tiverem filho,
não podemos prever exatamente que fenótipo o filho
terá (A ou O)
A dominância nos impede de fazer uma previsão exata!!
Nossa capacidade de fazer previsão melhora quando os
genótipos não são confundidos por dominância
Ex.: cor das flores (branca, vermelha, rosa) (VF=VG)
aa – branca
Aa – rosa
AA - vermelha
Fenótipo depende do número de A – efeito aditivo
Podemos saber exatamente qual será o resultado
dos cruzamentos
Agora podemos decompor a variância genética:
Va = variância genética aditiva
Vd = variância de dominância
Existe ainda a variação devida a efeitos epistáticos,
que, como a dominância, são de pouca ajuda na previsão
de fenótipos
Ve = variância epistática
Juntos, estes três componentes constituem a variância
genética total:
VG = Va + Vd + Ve
VF = Va + Vd + Ve + VA
Destes 4 componentes só a Va é útil em prever os
fenótipos da prole a partir dos fenótipos dos seus genitores
Esta variância, como fração da variância fenotípica total é
denominada de herdabilidade no sentido restrito
h2 = Va
VF
E o que podemos fazer
conhecendo a herdabilidade?
2. SELEÇÃO ARTIFICIAL (MELHORAMENTO
GENÉTICO)
1. PREVER O FENÓTIPO DA PROLE
Previsão de fenótipos
Considere a seguinte situação a respeito de valores de QI:
Marcio e Fernanda fizeram teste de
padrão de inteligência (QI)
QI Marcio = 110
QI Fernanda = 120
QI médio da população = 100
Marcio e Fernanda tiveram um filho - Orlando - que foi
dado para adoção.
Os pais adotivos querem saber o QI de Orlando.
Se o QI não tivesse componente genético, qual seria a melhor estimativa
para o QI do Orlando?
A média da população = 100
Entretanto, vários estudos indicaram que a variação nos valores de
QI têm componente genético
Estimativas da herdabilidade do QI = 0,4
Significa que 40% da variação observada nos valores de QI se
deve aos efeitos aditivos dos alelos
Podemos usar esta estatística juntamente com os QIs dos pais para
prever o valor do QI do Orlando.
QIO= μ + h2 [QIM + QIF] – μ
2
A melhor estimativa é:
QIO= μ + h2 (QIP– μ)
Diferença entre o valor médio
dos pais e a média da
população
QIO= 100 + 0,4 (115 – 100)
QIO= 106
Substituindo:
T = QI
M=Marcos
F=Fernanada
O=Orlando
P=Pais
A herdabilidade no sentido restrito
traduz a diferença entre o valor
médio parental e a média da
população
Adicionando esse valor à média
podemos prever o fenótipo da
prole
115 – 100 = 15
6 + 100 = 106
x 0,4 = 6
Diferença
herdável
A herdabilidade no sentido restrito nos diz a proximidade com que a
prole se assemelha com a média dos pais
Considerações importantes
O valor do QIO é um valor preditivo
Se procurássemos centenas de casais com QI médio
parental de 115, seria esperado que os QIs dos filhos
formassem uma distribuição de frequencias, cujo valor
médio seria 106
Entretanto, existiriam crianças com QI mais altos ou mais
baixos, ou até mesmo mais alto que os valores dos pais
Isso se deve à segregação mendeliana dos alelos que
influenciam o QI e de fatores do ambiente
Em ambiente sem estímulo, o QI do
Orlando pode ser inferior a 106
Em ambiente com muito estímulo, o QI
do Orlando pode ser superior a 106