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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA
HÉLIO DIAS DA COSTA
STANISLAW PONTE PRETA E A DESCONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA DITADURA: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO SATÍRICA EMPREENDIDA
NO FEBEAPA 1 (1965-1966)
CURITIBA 2008
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HÉLIO DIAS DA COSTA
STANISLAW PONTE PRETA E A DESCONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA DITADURA: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO SATÍRICA EMPREENDIDA
NO FEBEAPA 1 (1965-1966) Monografia apresentada ao curso de História, Setor de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, como requisito à obtenção da graduação em História Orientadora: Prof.ª Judite Maria Barbosa Trindade
CURITIBA 2008
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SUMÁRIO
1. Introdução.................................................................................................................05 2. Contextualização......................................................................................................11 3. Análise das crônicas.................................................................................................16 3.1 O Festival de Besteira...............................................................................................17 3.1.1 As contradições e obviedades nas medidas governamentais retratadas no
Festival de Besteira............................................................................................18 3.1.2 A banalização do uso do poder no “Festival de Besteira”.................................20 3.1.3 A incapacidade administrativa no “Festival de Besteira”..................................21 3.2 O Informe Secreto....................................................................................................24 3.3 Meio a Meio.............................................................................................................25 3.4 Garotinho Corrupto..................................................................................................26 3.5 O General Taí...........................................................................................................27 3.6 O conjunto das análises............................................................................................30 4. Conclusão.................................................................................................................31 5. Referências...............................................................................................................33
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RESUMO
O assunto desta monografia é a crônica humorística do Febeapa 1 de Stanislaw Ponte Preta, publicada no ano de 1966. Com a leitura de autores pertinentes ao assunto dos efeitos do humor, fui conduzido a questionar se as crônicas humorísticas de Stanislaw desconstroem a imagem da ditadura militar implantada no Brasil ao ano de 1964. Após o debate historiográfico pertinente, foi produzida uma contextualização abarcando detalhes da vida do autor mesclados ao quadro político da década de 60 até os primeiros anos da intervenção militar no Brasil. Tal contextualização ofereceu subsídios à análise das crônicas em meio ao contexto histórico em que estavam inseridas. Por meio de comparações, hipérboles, valorizações e demais artifícios de linguagem o autor oferece ao leitor novas imagens de representação de figuras como delegados, deputados, prefeitos, secretários de diversos órgãos públicos e até o próprio presidente, conduzindo os leitores, através do riso provocado pelo escárnio, à comparação e a desconstrução de imagens de poder previamente estabelecidas no imaginário coletivo.
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1. Introdução
A grande família de humoristas da qual faz parte Ponte Preta certamente remonta a
uma das maiores genealogias brasileiras: a do humor. Stanislaw Ponte Preta, nosso
homem, é herdeiro de um movimento de achincalhação construído por nomes tais
Machado de Assis, Hilário Tácito, Juó Bananére, Mendes Fradique, João do Rio, Lima
Barreto, Barão de Itararé, dentre outros – só para citar os mais famosos. Todos estes,
sobretudo nos séculos XIX e XX, trabalharam em descobrir e representar o humor através
de suas obras; com seus estilos e particularidades sempre procuraram no cotidiano a
inspiração para a próxima piada. Stanislaw não é diferente, contudo – e isso nos chama a
atenção – veio ao mundo e a público justo à época da intervenção militar no Brasil que
teve início no ano de 1964. Não se furtando à oportunidade de participar desse grande
evento, tratou de ser porta voz de um dos festivais mais democráticos que ocorreram nessa
época, o FEBEAPA – sigla que denomina o Festival da Besteira que Assola o País.
Escolheu como palco de sua representação os jornais e como linguagem as crônicas
satíricas que nele eram publicadas. Para dar mais visibilidade e sobrevida às suas crônicas
lançou o livro/coletânea Febeapa 1 no ano de 19661. É a partir de algumas crônicas dessa
coletânea que se desenvolve este trabalho.
Minha fonte, portanto, advém dos jornais publicados à época. O próprio gênero
literário utilizado pelo autor, as crônicas, é típico desse tipo de publicação. Contudo, nem
sempre a análise de periódicos foi considerada fidedigna para a apreensão do saber
histórico. Até o advento das discussões propostas pela escola dos Annales a partir de 1930,
não havia um debate para sua inclusão na categoria de fontes que pudessem ser
consideradas enquanto tais. Houve um processo onde não se pode desprezar a luta contra o
peso de certa tradição que, associada ao ideal de busca da verdade, julgava-a possível
somente através do estudo de documentos fidedignos por meio de um método
convincente2. No entanto, o desenvolvimento de discussões e a elaboração de um método
específico trouxeram a possibilidade da inclusão de periódicos – bem como de seus
componentes, como o são as crônicas – no âmbito do que é considerado fonte para o
estudo da História e hoje, as ditas “enciclopédias do cotidiano” – a saber, os jornais –
podem ser inspiradores de diversos temas acadêmicos como o aqui proposto.
1 PONTE PRETA, Stanislaw. Febeapa 1. Primeiro Festival da Besteira que Assola o País. Rio de Janeiro: editora do autor, 1966. 2 LUCA, Tânia Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. São Paulo: contexto, 2005. Pág. 112.
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Estes novos panoramas só puderam ser abertos através de novos aportes analíticos
provenientes da interação da História com outras Ciências Humanas como, por exemplo, a
Sociologia, a Psicologia, a Antropologia e etc. Esta aproximação promoveu uma ampliação
das margens disciplinares utilizadas por historiadores e permitiu o aumento do interesse
pelo episódico, pelas diferenças, em detrimento da História Total, a qual não foi deixada de
lado, mas foi fragmentada para que pudesse ser melhor apreendida3. No campo literário – e
aqui já se incluem fontes como os periódicos – a mudança ficou por conta da valorização
da forma, estilo e termos que os textos utilizam4. No Brasil é somente a partir da década de
1970 que o estudo da História por meio da imprensa tendo como objeto jornais teve
entrada definitiva no campo de estudos históricos. Daí em diante o que se observa é um
constante desenvolvimento das temáticas envolvendo periódicos. A problemática proposta
por esta monografia envolve certo movimento literário criado nos e para os jornais – as
crônicas – e sua relação com o movimento político da ditadura. Tânia Regina de Luca
afirma que:
O papel desempenhado por jornais e revistas em regimes autoritários, seja na
condição de difusores da propaganda política do regime ou abrigando formas sutis de contestação, resistência ou projetos alternativos, tem encontrado eco nas preocupações contemporâneas, inspiradas na renovação da abordagem do político.5
É justamente sobre essa afirmação que se encontra a relevância científica dessa
pesquisa e é em meio a este debate historiográfico que se insere este objeto de pesquisa.
A crônica, portanto, insere-se nessa pesquisa como produto dos e para os
periódicos. Nem sempre, todavia, ela foi o lugar do escárnio, como preferiu Stanislaw a
utilizar. Nas primeiras décadas do século XIX, na França, o termo Feuilleton designava um
lugar específico do jornal: o rez-de-chaussée, ou o rés-do-chão6. Espaço vazio com
finalidade de entreter o feuilleton é primo próximo da crônica moderna. O modelo remonta
a Paris e esse espaço a que estamos nos referindo, em princípio, foi utilizado para a
publicação de romances em fatias diárias. Alexandre Dumas, Stendhal e Baudelaire são
alguns dos autores que tiveram obras publicadas nesses espaços. O “rés-do-chão” da
primeira página poderia ser considerado um espaço desprestigiado – e realmente o era –
mas a destinação que foi dada a ele passou a valorizá-lo de tal forma que em pouco tempo
o público consumidor passou a assinar os jornais com o intuito precípuo de acompanhar as
3 LUCA, T. R. Op. Cit. Pág 113. 4 LUCA, T. R. Op. Cit. Pág 114. 5 LUCA, T. R. Op. Cit. Pág 129. 6 MEYER, Marlyse. Voláteis e versáteis. De variedades e folhetins se fez a chronica. In: CANDIDO,
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novelas que eram nele publicadas. Logo aquele espaço reservou-se a publicações diversas,
a maioria delas tendo o intuito de divertir. O nome dado ao espaço também sofreu
mudanças e de “folhetim” virou “variedades”7. A sessão variedades aprimorou o “rés-do-
chão” na arte da publicação despropositada. Nas palavras de Marlyse Meyer este era o
espaço do vale-tudo8 que deu-se, então, à publicação de contos, notícias leves, anedotas,
críticas, resenhas e, dentre outros, finalmente a crônicas. Foi nesse espaço, portanto, que
nasceu a crônica que estamos nos referindo, filha do jornal e da era da máquina9. Note-se,
nasceu da simplificação do espaço de publicação destinada ao folhetim, aos romances, aos
contos, à literatura em geral. Enquanto crônica, no “rés-do-chão” da folha de jornal, deixou
de lado toda a intenção de informar e comentar para ficar, sobretudo, com a função de
divertir10. A simplificação também se deu no estilo já que trouxe consigo a proposta da
oralidade na escrita. A princípio a crônica moderna foi chamada “Crônica” através do
simples processo de apropriação do termo, não havendo relação nenhuma de forma e
conteúdo com as crônicas do passado senão pela natureza intrínseca – e até etimológica –
de ligação com o tempo, com seu presente histórico do qual não se pode dissociar11.
A crônica moderna firma-se nos jornais como literatura descompromissada, que
não tem obrigação de estabelecer opinião. Torna-se o espaço literário do fofoqueiro, do
escarnecedor, do existencialista. E quanto mais distancia-se do século XIX, mais a crônica
firma seu estilo ao rés-do-chão, ajudando o leitor a restabelecer a dimensão entre coisas e
pessoas12. Seu estilo busca a oralidade e seu conteúdo o que é comum a qualquer leitor
estabelecendo-se aí um canal direto de comunicação, que não pretende oferecer um ponto
de vista acerca de algo, mas a própria identificação entre o algo e o leitor.
Como retratos ficcionais do cotidiano de conteúdo diversificado as crônicas
expressam um “tempo social”, onde seu autor, por algum motivo é conduzido ao registro,
tendo de optar pela inserção de alguns aspectos e o abandono de outros. Concordando com
a afirmação de Margarida de Souza Neves, “é enquanto se apresentam como ‘imagens de
um tempo social’ e ‘narrativas do cotidiano’, ambos considerados ‘construções’ e não
‘dados’, que as crônicas são consideradas documentos.”13 A reinvenção da realidade por
Antônio (org.) A crônica. Campinas: Unicamp, 1992, pág. 96.
7 MEYER, M. Op. Cit. Pág. 99. 8 MEYER, M. Op. Cit. Pág. 128. 9 CÂNDIDO, A. Op. Cit. Pág. 14. 10 CÂNDIDO, A. Op. Cit. Pág. 15. 11 BERBERI, Elizabete. Impressões: a modernidade através das crônicas. Monografia (Graduação em
História) – Setor de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba 12 CÂNDIDO, A. Op. Cit. Pág. 14. 13 NEVES, Margarida de Souza. Uma escrita do tempo: memória, ordem e progresso nas crônicas cariocas.
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parte da narrativa crônica é testemunho de um tempo vivido que oferece ao historiador
indícios de um imaginário coletivo, criado pelo discurso e representado pelo autor. Apesar
de ficcional nenhuma crônica advém do vácuo. Muito pelo contrário ela é fruto de um
sistema e materialização de um “vácuo” onde flutua o imaginário, onde vive o “espírito do
tempo”14. Ela representa uma sobreposição entre ficção e realidade que traz como
resultado a compreensão de um modelo estrutural significante15. E como significação não
se quer aqui dizer que a crônica traga uma mensagem explícita ideológica. Mas se quer
dizer que, para além dessa mensagem explícita existe outra que independe até mesmo da
vontade do autor; mensagem não resumível; não compreendida senão como a própria
forma de significação do tempo a que se refere a crônica; mensagem codificada à estrutura
presente quando da sua publicação. Stanislaw Ponte Preta e o Febeapa 1 são entendidos
enquanto signos de seu tempo, leitura no limite entre fantasia e realidade, que refletem o
pensamento em voga no momento de sua elaboração16. A crônica de Stanislaw, em última
instância, por sua forma e conteúdo, pretende oferecer ao leitor um espelho, através do
qual pode-se enxergar tanto a si mesmo, quanto focalizar o mundo ao seu redor,
acontecendo isso através do humor. São “dimensão do imaginário social, um espaço
discursivo e de interpretação que favoreceu, ou pelo menos, moldou a compreensão dos
acontecimentos no momento em que foram vividos.”17 Nesse sentido elas representam a
materialização em palavras das piadas e resenhas do cotidiano; essa é a crônica moderna
em Stanislaw. Não um documento/monumento18 que pretende-se enquanto registro da
memória, mas um documento que mal pretende-se. Que tem a pretensão de durar não mais
que uma edição do jornal de sua publicação. Documento testemunho de um inconsciente
coletivo que não pretende entender-se enquanto estilo literário, mas que se contenta, e
contenta a quem a acompanha, simplesmente existindo.
Tendo em vista, então, tudo o que foi dito acima, fica evidente a relação entre
Stanislaw e seu tempo e – não posso pensar diferente – essa relação merece e deve ser
questionada. Quatro autores, portanto, me forneceram as diretrizes aos questionamentos.
In: CÂNDIDO, Antônio. A Crônica. São Paulo: Unicamp, 1992. pág. 76.
14 NEVES, M. S. Op. Cit. pág. 82. 15 O conceito de modelo estrutural significante foi tomado de Pierre Sorlin que o utiliza para explicar a
sobreposição entre ficção e realidade no cinema. SORLIN, Pierre. La storia nei film: interpretazione del
passato. Firenze: La Nuova Italia, 1984. Pág. 31. 16 BERBERI, E. Op. Cit. Idem. 17 MORAES, Dislane Zerbinatti. E foi proclamada a escravidão. Stanislaw Ponte Preta e a representação
satírica do golpe militar. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 24, numero 47, 2004. pág. 62. 18 LE GOFF. Jacques. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1992.
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Roger Chartier, nas “Origens Culturais da Revolução Francesa”19, trata das literaturas
subversivas que atuam como condicionantes ao advento dessa revolução20, e contribuiu
significativamente para a escolha de minha fonte e abordagem de leitura. Foram utilizadas
algumas idéias suas sobre o lugar social da literatura subversiva e qual seu peso político
em meio à construção das diversas representações da imagem do poder. Dislane Zerbinatti
Moraes, em artigo publicado na Revista Brasileira de História21, tratou da análise literária
da representação satírica do golpe militar em Stanislaw e ajudou-me a firmar minha
escolha da fonte e a traçar os primeiros passos para definição da problemática. Peter
Burke, em sua obra “A fabricação do Rei”22 trata da construção da imagem do soberano
Luís XIV, dedicando alguns capítulos aos movimentos contrários ao rei que tentam
construir outras imagens, ou desconstruir a imagem oficial. Estes capítulos forneceram-me
o argumento central, que se caracterizou como tema desta monografia quando pretendo
pensar na desconstrução da imagem da ditadura. Por fim Henri Bergson e sua obra que
trata do riso23 forneceu-me a ferramenta para o estudo do efeito do riso provocado pelas
crônicas de Stanislaw. A partir desses quatro autores formulei minha hipótese: Stanislaw,
em suas crônicas, promove a desconstrução da imagem da ditadura? Tal pergunta conduz
ao primeiro capítulo que visa contextualizar o autor em seu tempo oferecendo um rápido
histórico anterior ao advento da intervenção militar pretendendo evidenciar os motivos
gerais que conduziram os militares ao poder. Neste capítulo também falarei sobre os
primeiros anos de intervenção, época pertinente à publicação de nossa fonte.
Finalizada a contextualização passou-se à verificação das representações e da idéia
de desconstrução em algumas crônicas extraídas do Febeapa 1. Para isso foram escolhidas
as crônicas “o festival de besteira”, “o informe secreto”, “meio a meio”, “garotinho
corrupto” e “o general taí”. Em cada uma foi observado o processo pelo qual Stanislaw
opera a desconstrução. As crônicas são analisadas individualmente procurando-se atentar
ao lugar de origem da comicidade, ou seja, quem esta fornecendo o material cômico a ser
satirizado, e aos recursos literários utilizados por Sérgio Porto a fim de promover a
desconstrução das figuras representadas.
19 CHARTIER, Roger. Espacio publico, critica y desacralización em el siglo XVIII: las origenes
culturales de la Revolución Francesa. Barcelona: Editorial Gedisa, 1995. 20 CHARTIER, R. Op. Cit. 1995, pág. 14. 21 MORAES, D. Z. Op Cit. 22 BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1994. 23 BERGSON, Henri. O RISO. São Paulo: Martins Fontes: 2001.
10
Entendendo, por fim, a produção literária de Stanislaw como um testemunho, e o
ponto de vista do cronista como um lugar de conformação de uma parcela da opinião
pública da época, pretende-se, nos próximos capítulos, estudar a desconstrução da imagem
do poder da ditadura presente nas representações satíricas das crônicas de Stanislaw.
11
2. Contextualização:
O carioca Sérgio Porto nasceu no dia 11 de janeiro de 1923. Daí até o ano de 1952
foi um anônimo brasileiro, servidor público, funcionário do Banco do Brasil. Tais trinta
anos de convivência cotidiana com a realidade do cidadão comum estavam maturando um
dos grandes cronistas humorísticos que o Brasil viu nascer no século XX. No ano
supracitado o ainda Sérgio Porto publicara seu primeiro livro de crônicas “O homem ao
lado”, único livro que viria publicar com seu verdadeiro nome24. Após 1952 Sérgio Porto
se tornou Stanislaw Ponte Preta. Foi em 22 de novembro de 1955, no jornal Diário
Carioca, que Porto lançou sua primeira crônica sob a assinatura do maior achincalhador
nacional daquelas décadas25. O nome é herança de um personagem – Serafim Ponte
Grande – de Oswald de Andrade, outro grande cronista daquele século. É, contudo, a
capacidade de comunicação de Stanislaw, o coloquialismo com destaque para o diálogo
entre o narrador e o leitor – recurso literário denominado função fática – que o tornam
personagem único em seu tempo26. Como se não bastasse, Stanislaw atinge o ápice de sua
carreira em meio a uma década de grandes dificuldades políticas e econômicas. Com o
desenvolvimento e reconhecimento de seu trabalho, suas crônicas passaram a ser
publicadas em jornais de grande circulação como o Última Hora e o Tribuna da Imprensa
além de revistas como O Cruzeiro, Manchete, Fatos e Fotos e Mundo Ilustrado27.
Nas palavras do próprio Stanislaw Ponte Preta, de tudo o que ele acompanhou da
História do Brasil, desde Getúlio até o último presidente eleito à sua época, João Goulart,
não há como se precisar quando começou o Festival da Besteira que Assola o País.
Todavia o autor aponta a “Redentora”28 como ponto de partida para que tivesse êxito o
festival. A “Redentora” foi o apelido dado por Stanislaw à intervenção militar de 1964,
ponto culminante de uma década marcada por uma longa crise financeira e política onde os
militares assumiram o governo brasileiro através de um golpe de estado. Entendendo esse
golpe como um processo histórico, prosseguiremos a uma breve introdução acerca dos
anos anteriores a 1964.
O governo brasileiro no início da década de 1960 estava nas mãos de Jânio Quadros
que assume sob os auspícios de novos rumos para a política governamental e financeira. O
24 SERGIO, Renato. Dupla exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.
pág 127. 25 SERGIO, R. Op. Cit, pág 150. 26 SERGIO, R. Op. Cit, pág 130. 27 SERGIO, R. Op. Cit, pág 150. 28 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 5.
12
desgaste da política empreendida por Kubitschek era alvo inequívoco de seu discurso.
Logo à posse, um programa antiinflacionário e medidas de restrição de gastos agradaram
os credores internacionais de modo que o novo governante assumia sob boas expectativas
no exterior. O Brasil vinha de uma época de grande euforia desenvolvimentista. Juscelino
Kubitschek empreendeu uma política de atração de capital estrangeiro investindo
pesadamente no desenvolvimento da indústria local. O alto preço dessa euforia já vinha
sendo observado no próprio governo JK. A dívida externa aumentou vertiginosamente
assim como a inflação, atingindo as classes menos favorecidas. Dessa forma um novo
presidente deveria, em primeiro lugar, recuperar a confiança dos credores no sentido de
oferecer alternativas ao pagamento das dívidas, bem como deveria oferecer à população
esperança de que a inflação seria controlada.
Contudo, como afirma Skidmore, o presidente “gastava muito de sua energia em
assuntos sem importância29” e medidas pouco usuais como a proibição dos biquínis nas
praias do Rio ou a proibição do uso de lança perfumes no carnaval carioca desgastavam
sua imagem frente à opinião pública. Além disso Quadros, já aos primeiros meses de
governo, pouca ou nenhuma importância parecia dar às opiniões de seus aliados. Fato que
merece destaque é a visita do presidente a Cuba denotando certa neutralidade
constrangedora por parte do governo brasileiro com relação aos acontecimentos
internacionais que dividiam o mundo em dois blocos (o capitalista e o socialista). Foi em
seu governo que Ernesto Che Guevara foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul,
maior comenda nacional. Sendo assim, em um prazo de menos de um ano, mais
precisamente em Agosto de 1961, estoura uma crise onde críticas ao governo centraram-se
na questão da política externa. Inábil para tomar decisões básicas e pouco capaz em
escolher colaboradores eficientes, em meio a um quadro depressivo30, Jânio Quadros
surpreende a nação entregando sua carta de renúncia ao Congresso, ao que é prontamente
atendido, deixando em voga a questão da sucessão.
João Goulart era o vice-presidente e, portanto, sucessor natural ao cargo vago por
Jânio. Entretanto não foi com facilidade que este foi aceito como presidente. Seu passado
histórico alarmava certos quinhões da sociedade devido a sua ligação escancarada à
herança política deixada por Getúlio Vargas. Recaíam sobre Jango, ainda, acusações de
proximidade ao comunismo e medo de sua posição de agitador em meio a classe operária.
29 SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco, 1930-1964. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. pág 243. 30 SKIDMORE, T. E. Op. Cit. pág. 249.
13
Quando da entrega da carta de renúncia por parte de Jânio, o vice estava em visita à China
comunista. Dessa forma um dos setores de oposição mais ferrenha à sua posse era o
militar. Todavia – e isso dificultou a oposição – não havia unanimidade dentro dessa
oposição. Havia radicais que sob hipótese nenhuma admitiam a posse de Goulart e havia os
legalistas, que apontavam ao direito constitucional do vice assumir a presidência, acima de
qualquer ameaça que este pudesse oferecer. Fato é que a renúncia de Jânio fora tão
inesperada que apanhara desprevenidos todos os setores envolvidos no embate político
aventado pela sucessão. Conquanto estendia-se a discussão em torno da posse, a opinião
pública crescia em torno da questão da legalidade, afinal, se o direito era o de Jango
assumir, este deveria ser empossado – essa era a opinião corrente. Com um acordo político
João Goulart assume, então, sob o sistema parlamentarista no dia 7 de setembro de 1961. A
partir daí o presidente iniciou um lento e trabalhoso processo para ganhar confiança e obter
base governista para que, só então, pudesse exercer poder presidencial de fato. Era
necessário também, como feito por seu predecessor, reconquistar a confiança dos credores
externos para que houvesse condições financeiras à governabilidade. Aliás, como já
comentado, era justamente no campo econômico que residiam os maiores problemas da
nação. Essa herança antiga fazia com que desde o pós-guerra o Brasil não gozasse de
tempos de estabilidade, o que dificultava sobremaneira a aceitação dos presidentes frente a
opinião pública. Não foi diferente com Jango; sua política de combate a inflação não foi
eficaz no longo prazo, sendo este um dos pontos de seu enfraquecimento em meio ao
cenário político.
Como desde o início Jango estava longe de ser figura bem quista na posição que
ocupava, sua habilidade em tecer alianças para alcançar apoios e aprovações às suas
medidas era muito exigida. Contudo o presidente também não demonstrou segurança e
nem tampouco coerência em seu jogo político, fato que acabava por deixá-lo sem pontos
firmes de apoio no congresso. Em outubro de 1963 já existia um forte movimento em
setores das forças armadas conspirando a deposição do presidente. Havia também um
grande receio que, em virtude do quadro de falta de governabilidade vivido por Goulart,
sobreviesse um golpe onde fosse dissolvido o congresso e, como no caso de Vargas, o
então presidente passasse a exercer poder ditatorial. Contudo isso não aconteceu.
Adiantando-se a qualquer movimento golpista os militares, sob a bandeira da defesa da
democracia, tomaram o poder a fim de promover a ordem econômica e social inexistente
àquela época. No dia 31 de março de 1964 tropas de Minas Gerais e São Paulo saíram às
ruas e Jango fugiu do Brasil indo refugiar-se no Uruguai. Vago o poder, no dia 15 de abril
14
assume o general Castelo Branco que governa de 1964 a 1967, assumindo posição
autoritária frente a qualquer ameaça que se considerasse subversiva ao regime imposto. Em
seu governo vários parlamentares tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus
direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam intervenção
militar. Seu governo também foi responsável pela instauração dos quatro primeiros Atos
Institucionais, além da promulgação de uma nova constituição em janeiro de 1967.
De acordo com o pensamento dos líderes do ocorrido em 64, o movimento político-
militar não tinha por objetivo apenas a deposição do então presidente. Sua meta principal
era combater a subversão e a corrupção, bem como a infiltração comunista na
administração pública, sindicatos e em todos os setores da vida pública nacional. No dia
nove de abril de 1964 a junta militar baixou o primeiro ato institucional, composto de 11
artigos onde era aberta a concessão ao comando revolucionário de cassar mandatos
legislativos, suspender direitos políticos, promover demissões de funcionários públicos e
demais prerrogativas necessárias em defesa à segurança pública. Além disso, este ato
institucional determinava eleições indiretas para a presidência. Já no dia seguinte a edição
do ato circulava a primeira lista dos políticos a terem seus mandatos cassados. No dia
seguinte era confirmada a eleição de Castelo Branco à presidência. Mais alguns dias era
editada nova lista de políticos a serem cassados. No mês de outubro, com a chegada do
período de eleições a governadores, os setores mais radicais das forças armadas chamaram
a atenção à ameaça das oposições crescerem nos estados. Tais setores conhecidos como
“linha dura”, passaram a pressionar o governo no sentido de um maior fechamento do
regime. Houve reações e, diante da crise que se aguçava entre os setores civil e militar, o
presidente Castelo Branco anunciou a edição do ato institucional numero dois, redefinindo
de forma ainda mais autoritária os termos do primeiro ato institucional.
O AI-2, dentre outras concessões, permitia ao presidente decretar estado de sítio
sem consultar o congresso nacional, intervir nos estados, decretar recesso no congresso,
demitir funcionários civis e militares incompatíveis com a revolução, emitir atos
complementares que se julgassem necessários e baixar decretos-leis acerca dos assuntos de
segurança nacional. Tal ato representou uma grande vitória da “linha dura” rumo a
centralização total do poder, contudo em fevereiro de 1966 o ato institucional numero três
incrementaria essa centralização. Estabelecia-se neste ato as eleições indiretas também ao
cargo de governador além dos prefeitos dos municípios passarem a ser nomeados pelos
governadores. As únicas eleições que ainda mantinham-se diretas eram as que escolhiam
nossos deputados federais e senadores. Castelo Branco pretendia colocar nos postos-chave
15
estaduais e municipais, pessoas de confiança que garantissem a continuidade do sistema
implantado em 1964.
Após este terceiro ato houve ainda mais quatorze atos institucionais, todos impostos
e planejados de forma a garantir controle ditatorial da situação política vivida. Estes atos
resumiam em si o caráter antidemocrático do regime estabelecido. Stanislaw Ponte Preta só
sobreviveu a quatro desses atos. Sua morte, meses antes do quinto ato institucional, livrou-
lhe de uma perseguição que seria certa, visto ser este o ato que mais feriu a liberdade de
expressão política e cultural do país. No Febeapa 1 vivemos a realidade da instauração dos
dois primeiros atos institucionais.
É importante mencionar que não existe nenhuma menção específica direta aos fatos
políticos anteriores a 1964 no Febeapa 1. O próprio autor, como já comentado, indica a
intervenção militar como ponto de partida do festival. Sua problemática, portanto, não gira
em torno das questões políticas e econômicas enfrentadas pela nação, mas gira em torno da
forma de governo proposta para enfrentar esses problemas. É interessante observar que,
apesar das turbulências do início da década que conduziram a nação ao estado de
intervenção militar, Stanislaw não faz menção a outros fatos senão os posteriores à
intervenção. São estes os “anos de ouro” do Febeapa 1 e não aqueles que lhe sucederam.
O jornalista Sérgio Porto assistiu a todos os eventos citados acima a cavaleiro. Sua
posição destacada na imprensa de uma das principais cidades do país lhe garantia as
melhores informações disponíveis. Além de suas crônicas, Sérgio Porto tinha agitada vida
pública devido ao seu trabalho na TV e ligação com figuras proeminentes do cenário
artístico-cultural brasileiro como se pode ver na biografia de Sérgio Porto escrita por
Renato Sérgio. Stanislaw Ponte-Preta, persona humorística de Sérgio Porto, mantinha,
portanto, estreita comunicação social com seu tempo e lugar de atuação, era a máscara com
a qual Sérgio entrava no cotidiano31. Era também o lugar onde se conformava o imaginário
coletivo vivido. Suas crônicas não advinham do vácuo, mas de fatos realmente ocorridos
interpretados sob o olhar de um interlocutor que ao substituir a plenitude e a complexidade
das coisas reais pelo mundo abstrato32 das crônicas – como veremos no próximo capítulo –
ou ao recolocar ao leitor o regime ditatorial em geral no lugar dos indivíduos reais, operava
a desestruturação intelectual deste regime oferecendo ao seu público uma mudança de
perspectiva, como veremos, uma desconstrução da imagem representada em suas
narrativas.
31 SÉRGIO, R. Op. Cit, pág 143. 32 CHARTIER, R. Op. Cit, pág. 21.
16
3. Análise das crônicas:
Vimos, no capítulo anterior, os antecedentes que conduziram os militares ao poder.
Afirmou-se que não existe menção aos períodos anteriores ao regime militar nas crônicas
desta coletânea, o que leva a crer ser a ditadura o mote fundamental da comicidade em
Stanislaw. Na coletânea Febeapa 1, as crônicas publicadas remontam aos anos de 1965 e
1966, os dois primeiros de intervenção militar no Brasil. Foram escolhidas cinco crônicas
de um total de cinqüenta e uma, consideradas aqui suficientes para demonstrar os
processos utilizados por Sérgio Porto no sentido de, pela comicidade, desconstruir a
imagem da ditadura. “O festival de besteira”, “O informe secreto”, “Meio a meio”,
“Garotinho corrupto” e “O general taí”, serão analisadas uma a uma procurando evidenciar
peculiaridades de estilo que atuam na corrosão de uma imagem pretendida. Ao fim da
verificação nas crônicas, no que denominou-se “o conjunto das análises”, ofereceremos um
panorama geral das conclusões auferidas.
A idéia de representação é fundamental quando pensamos na comicidade em
Stanislaw Ponte Preta. Representação, no Febeapa 1, é a construção da imagem do regime
militar através dos diversos personagens transfigurados por Stanislaw em palavras ao
longo de suas crônicas. À medida que o autor recoloca ao leitor uma situação que
realmente aconteceu sob um novo prisma de análise onde o humor passa a ser o catalisador
da leitura, observamos uma resignificação dos personagens apresentados e dos fatos
ocorridos onde a mudança de perspectiva é liderada pela desestruturação ocasionada pelo
riso. Aqui ocorre a aliança entre e idéia de representação e a idéia de desconcerto gerada
pelo riso. Henri Bergson, em seu livro que trata especificamente do riso e seus efeitos,
afirma que o este é uma reação social em busca de um aperfeiçoamento geral, reprimindo
fraquezas de caráter, excentricidades e demais sintomas que não são comuns ao convívio
pretendido. O riso causado pela representação cômica em Stanislaw é, portanto, um gesto
social de correção a uma situação não almejada. Vejamos abaixo alguns exemplos onde a
análise da construção literária empreendida pelo autor nos conduz à conclusão de que o
riso, realmente, desconstrói a imagem da ditadura como aqui se tem proposto.
3.1 O Festival de Besteira
“O festival da besteira” constitui a mais longa crônica de todo o livro Febeapa 1.
Em verdade o festival da besteira é um conjunto de pequenas notas retiradas – segundo o
17
próprio autor – de uma coluna sua do jornal Última Hora33. É a primeira crônica do livro,
escrita em tom de introdução, onde Stanislaw aponta a origem do Festival da Besteira que
Assola o País: o golpe militar de 1964, apelidado de intervenção “redentora”. É a partir
desse ponto que começa a ocorrer um movimento de banalização do poder onde
autoridades e “otoridades” já não se diferem senão pela grafia incorreta da segunda
palavra34. É nessa crônica, também, que Stanislaw estabelece as balizas temporais sob as
quais foi escrito o Febeapa 1, situando-o entre os anos de 1965 e 196635. Ao fim desta
introdução o autor explica, ainda, como se dá a organização do livro. Ele é dividido em
duas partes, a primeira dedicada ao Febeapa, escrita em tom de reportagem e a segunda é
uma “coleção de crônicas e casos do cotidiano sem compromisso com a verdade nua e
crua.” 36 Tal frase nos revela que além do humor, havia o caráter de denúncia por parte das
crônicas à medida que havia uma metade da obra que pretendia ter compromisso com a
verdade dos fatos narrados.
Os fatos fundadores do Festival são lançados na crônica à “base da bagunça para se
respeitar a [então] atual conjuntura”37, e dessa forma o autor vai, parágrafo a parágrafo
oferecendo imagens ao leitor de seu tempo histórico vivido. De todas as notas publicadas
nessa primeira crônica pudemos apurar algumas semelhanças que nos levaram a agrupá-las
em conjuntos de afinidade. Algumas chamam a atenção às contradições e obviedades das
medidas governamentais, outras à banalização do uso do poder e outras, ainda, chamam a
atenção a total incapacidade administrativa por parte de algumas figuras retratadas.
3.1.1 As contradições e obviedades nas medidas governamentais retratadas no
“Festival de Besteira”:
A contradição é clara quando Stanislaw conta que depois da intervenção em todos
os sindicatos o governo enviou uma delegação ao Conselho de Administração da OIT
(organização internacional do trabalho) para participar da comissão de liberdade sindical38.
No nordeste, em Recife, quem tocasse buzina na zona considerada de silêncio deveria
pagar uma multa de duzentos cruzeiros. Certo deputado estadual, tendo se distraído, tocou
a buzina e foi prontamente abordado por um guarda. O deputado sacou uma nota de mil
33 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 6. 34 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 5. 35 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 6. 36 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 29. 37 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 6.
18
cruzeiros, mas o guarda não tinha troco. O deputado deu mais quatro buzinadas ficando,
assim, quite com a justiça39. Outro deputado, dessa vez em Brasília, lançou projeto para se
tornar obrigatório, em todas as solenidades onde se tocasse o hino nacional, o canto do
mesmo pelas autoridades presentes40. No lançamento da nota de cinco mil cruzeiros uma
confusão: qual seria a melhor imagem a ser utilizada para retratar Tiradentes. Por resolução
presidencial optou-se pela forca, afirmando Castelo Branco ser essa a efígie que melhor se
ajustava à memória de Joaquim José da Silva Xavier. No dia seguinte, no diário oficial é
lançada uma nota de retificação: “onde se lê Joaquim José, leia-se José Joaquim”. A
primeira forma estava correta o que obrigou nova correção no diário oficial do dia seguinte
onde leu-se: “fica sem efeito a retificação publicada do diário oficial do dia 19/04/1966 na
página 4101”41. O secretário de saúde de Brasília concedia entrevista acerca da
inauguração de um novo hospital e afirmava que logo à inauguração o hospital seria
entregue ao público, podendo até receber doentes que necessitassem de cuidados
médicos42. Para fechar o festival de contradições e obviedades, Stanislaw descobriu que a
procuradoria geral da justiça militar encaminhou ao juiz corregedor um IPM instaurado na
DOPS para apurar atividades subversivas.
Dentre o grande universo de notas políticas apresentadas por Stanislaw que tratam
das obviedades e contradições das medidas governamentais escolhemos as seis acima para
evidenciar a comicidade que desestrutura as figuras retratadas. A primeira nota traz um
caso de contradição absurda. Um país que tinha acabado de intervir em todos os seus
sindicatos era convidado a participar de uma mesa de discussões internacionais acerca da
liberdade sindical. O autor define o fato acima como uma “resolução interessante”43. O
recurso de Stanislaw a essa nota foi o de evidenciar um fato adicionando o adjetivo
qualitativo “interessante” a uma atitude de todo condenável. Através da valorização do fato
o autor descaracteriza a ação.
No caso do deputado nordestino que deu mais quatro buzinadas para ficar quite
com a justiça um caso de excesso de rigor aliado ao “jeitinho brasileiro” de se resolver os
problemas. Não observamos nessa nota qualquer comentário por parte do autor. O simples
fato já evidencia a comicidade do ocorrido; a contravenção foi usada a favor da justiça.
Nada mais contraditório.
38 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 7. 39 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 11. 40 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 15. 41 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 22. 42 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 24.
19
A obrigatoriedade do canto do hino nacional por parte das autoridades entra para o
rol das obviedades. Um projeto de lei que torne obrigatório algo que deveria ser
espontâneo causa estranheza ao leitor. Tal projeto vai contra a natureza da figura de uma
autoridade. Enquanto representante legal do cidadão brasileiro as autoridades deveriam ser
guardiãs dos costumes cívicos pertinentes a nossa nação. Mas não é o que se observa.
Pretende-se tornar contraventor aquele que, no exercício de função pública, se esqueça de
seus deveres cívicos.
No caso de Tiradentes a confusão observada em decorrência da grafia correta do
nome completo do mártir é inaceitável. O comentário de Stanislaw é enfático: “ora, todo
mundo sabe que o nome do mártir era Joaquim José, até mesmo aquele samba da escola de
samba Império Serrano, que venceu o carnaval, mas os que estavam salvando o país
tinham dúvidas.”44 Chamamos a atenção a esta última observação que fala dos
“redentores”. O recurso utilizado por Stanislaw é o da comparação. O autor afirma que
todos sabiam, ricos e pobres, mas os salvadores de 1964 tinham dúvidas. Pela comparação
Stanislaw desautoriza o grupo dominante enquanto detentor e defensor da memória
histórica brasileira. E termina a crônica contente pelo governo não ter cometido erro ainda
maior: “felizmente a coisa parou por aí, do contrário iam acabar escrevendo Xavier com
‘CH’.”45
O comentário de Stanislaw quanto ao secretário de saúde de Brasília é vexatório:
“Não é formidável! Um hospital que atende doentes necessitando de cuidados médicos.
Queremos crer que esta inovação revolucionou a medicina.”46 O recurso a esta crônica é o
da hipérbole. O exagero expresso no “queremos crer que esta inovação revolucionou a
medicina” valoriza a obviedade da afirmação do secretário expondo-o ao ridículo.
Mas o IPM aplicado ao DOPS foi deixado por último por ser a maior expressão de
contradição expressa por Stanislaw ao longo desse primeiro conjunto de crônicas. O fato
do setor de investigação da polícia militar ser colocado sob investigação em decorrência da
suspeita de atividades subversivas é sintomático. Stanislaw está alertando o leitor quanto
ao fato do governo não confiar nem em seu setor de combate à subversão. Stanislaw
comenta ao seu leitor que “quando isto aconteceu, todo mundo pensou que era
43 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 7. 44 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 22. 45 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 46 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 24.
20
brincadeira”47. Para o autor não pode ser atitude de um governo sério uma investigação sob
seu setor de investigações. É contraditoriamente absurdo.
E dessa forma, em se tratando das obviedades e contradições, valendo-se de
comparações, valorizações e hipérboles, Stanislaw Ponte Preta oferece ao leitor imagens de
fatos e figuras reais que, devido a sua ação desatenta, antinatural ou absurda, se
desintegram enquanto detentoras de valor público/cívico. Ao tempo que manejam seu
poder de forma atabalhoada são desautorizadas pelo uso incorreto que fazem desse poder.
Falamos acima de uma comissão de representação, dois deputados, o próprio presidente,
um secretário de saúde e do setor de investigação governamental. Todos setores ou figuras
diretamente vinculados ao que Stanislaw denominou, na crônica que trata da confusão em
torno de Tiradentes, salvadores. Ora, se os “salvadores” são retratados pelo autor enquanto
relapsos ou atrapalhados no uso que fazem do poder público não podemos deixar de
concluir que haja, nas representações de Stanislaw, raízes de uma desconstrução que se
opera na natureza das figuras retratadas. Ocorre, com o riso, a desautorização das figuras
detentoras do poder.
3.1.2 A banalização do uso do poder no “Festival de Besteira”:
A banalização na utilização do poder também é retratada nas notas dessa primeira
crônica do livro Febeapa 1. Em Minas Gerais, se conta do secretário de Segurança que
proibia que “mulher se apresentasse com pernas de fora em bailes carnavalescos para
impedir que apareçam fantasias que ofendam as Forças Armadas”48. Em Brasília o diretor
de suprimento proibira o consumo de Vodca para contribuir no combate ao comunismo49.
No Rio de Janeiro, na cidade serrana de Petrópolis, o prefeito baixou uma portaria ditando
normas para banhos de mar à fantasia50. E bastam essas três notas para que observemos as
irregularidades quanto ao uso do poder.
A denúncia em tom sarcástico é clara quando Stanislaw observa que o uso do
poder de governo havia se tornado de tal forma arbitrário, que medidas coercitivas de
motivos menores poderiam ser levantadas tão somente pela vontade da pessoa que detinha
o poder. Como falado na contextualização, os atos institucionais foram, gradativamente,
centralizando o poder de forma a tornar totalmente livre a edição de regras e normas para o
47 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 17. 48 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 8. 49 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 50 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 9.
21
regimento da vida social. Os objetivos da intervenção militar haviam se tornado tão
incertos que a preservação de um suposto padrão moral tornava-se relevante em meio a um
grande esquema de reorganização da pátria. Os comentários de Stanislaw não deixam
espaço à interpretação. No caso de Minas Gerais, Stanislaw apela ao consenso masculino:
“como se perna de mulher alguma vez na vida tivesse ofendido as armas de alguém!”51.
Quanto ao prefeito de Petrópolis uma palavra define a edição da portaria:
“impressionante”52. Ao caso da Vodca em Brasília não existe sequer comentário. A piada
já viera pronta.
É nessa banalização do uso do poder que Stanislaw deve ter encontrado a qualidade
para o seu Festival: besteira. Tal palavra remonta à falta de razão, falta de inteligência,
futilidade. Todos os fatos expostos acima atentam à falta de razão. Editar normas para
banho de praia em uma cidade serrana e proibir o consumo de uma bebida típica em prol
de um combate ideológico são medidas que ao mesmo tempo em que evocam o absurdo de
simplesmente existirem, apontam à incapacidade administrativa por parte dos governantes
“salvadores”. E é evidenciando esta incapacidade, que Stanislaw nos oferece as imagens
mais ácidas dos interventores “redentores”, conforme veremos abaixo.
3.1.3 A incapacidade administrativa no “Festival de Besteira”:
Stanislaw não deixa de retratar a incapacidade administrativa de alguns
governantes. Aqui a atenção recai toda sobre a ignorância dos personagens que fazem parte
dos relatos. No interior cearense, com a chegada da época de secas, foi dirigida uma
circular a todos os prefeitos solicitando informações após a passagem do equinócio. A
resposta recebida foi a seguinte: “Doutor Equinócio ainda não passou por aqui. Se chegar
será recebido como amigo, com foguetes, passeata e festas.”53 Em São Paulo a tentativa de
estréia da peça Electra escrita por Sófocles por volta de 400 a.C. foi frustrada por agentes
do DOPS que compareceram ao local para prender o autor da peça sob acusação de
subversão54. Na câmara dos deputados era instituído o dia da vovó “porque existem tantos
dias e ninguém ainda se lembrou da avózinha”. O deputado, segundo Stanislaw, ainda não
havia reparado que existe o dia das mães e que jamais mulher nenhuma conseguiu ser avó
51 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 8. 52 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 9. 53 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 54 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 12
22
sem ser mãe antes55. Em João Pessoa foi presa uma mulher que, por ter vivido 22 anos nos
Estados Unidos, não falava mais o português corretamente e estava a conversar em inglês
em público. O motivo alegado da prisão foi o de que se estava falando inglês em público,
era porque talvez fosse agente comunista. Para encerrar, no Mato Grosso, um delegado
entregou seu relatório acerca de um crime político ocorrido com a seguinte conclusão: “A
vítima foi encontrada às margens do Rio Sucuriu retalhada em quatro pedaços, com os
membros separados do tronco, dentro de um saco de aniagem amarrado e atado a uma
pesada pedra. Ao que tudo indica parece afastada a hipótese de suicídio”56.
O riso provocado pelas crônicas acima é o que mais se aproxima do escárnio, ou
seja, do desprezo, do desdém. Uma idéia básica quando pensamos na figura de um
governante, oficial de polícia ou um deputado é que essa pessoa é minimamente preparada
para exercer a função a qual ela foi designada. Os atos relapsos e ignorantes relatados não
combinam com a idéia inicial que se tem da função exercida. Isso causa estranhamento ao
leitor conduzindo-o ao riso. A não identificação entre função a se exercer e funcionário que
exerce a função, por parte do leitor, faz com que, em um exercício automático da
percepção, separemos a função do funcionário colocando-os em níveis distintos de análise,
passando o leitor a enxergar o funcionário como pessoa inapta e, portanto, passível de riso.
Todos os fatos acima, como visto, advém das mais diversas esferas sociais e das
mais diversas regiões do país. Essa universalidade acaba denotando a generalização de um
problema: o da inaptidão ao poder por parte do regime dominante. É essa a mensagem das
crônicas quando expõe ao ridículo o governante, o deputado ou delegado. Todos fazem
parte de um grupo incapaz ou de “cocorocas” como prefere Stanislaw. Pessoas de idéias
ultrapassadas que só estão no poder em decorrência da intervenção “redentora”.
O prefeito que no nordeste não sabia ser o equinócio a fase em que o sol, passando
pelo equador, torna igual a duração do dia e da noite é o retrato do despreparo. Em abril de
1966, época do relato, o Brasil já vivia a fase em que os prefeitos eram indicados pelos
governadores, que, por sua vez, eram eleitos indiretamente ao seu cargo. Com isso
Stanislaw remete a culpa dessa ignorância ao sistema que indicou esse prefeito ao seu
cargo. Em última instância, a ignorância recai sobre o regime ditatorial regido pelos atos
institucionais que determinaram tal situação.
Em São Paulo, os agentes do DOPS que quiseram prender Sófocles são expostos ao
ridículo da ignorância cultural. A necessidade da busca por um inimigo invisível cegava a
55 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 14. 56 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 16.
23
lei a tal ponto do pensador católico Tristão de Ataíde afirmar ser a maior inflação nacional
a da estupidez57, ao que Stanislaw concorda plenamente. Concordância essa que se verifica
no caso da mulher que foi presa como possível agente comunista por falar em inglês em
público. Novamente a busca por um inimigo parece ter vendado o bom senso das
autoridades envolvidas.
O deputado que quis instituir o dia da vovó também é exposto ao ridículo frente à
obviedade da afirmação de Stanislaw: “jamais mulher nenhuma conseguiu ser avó sem
antes sem mãe”.
Por fim o caso do delegado e seu relatório. Stanislaw inicia esse pedaço de crônica
com a afirmação de que o “policial é sempre suspeito” o que já coloca ao leitor o tom da
leitura. Com o desenvolver da crônica e o fechamento absurdo que o delegado aponta ao
caso realmente somos levados a levantar suspeita quanto à aptidão do oficial da lei. A
obviedade de que uma pessoa esquartejada não possa ter se suicidado, aliado à afirmação
de que o policial é sempre suspeito coloca ao leitor a comparação entre duas afirmações: a
afirmação absurdamente lógica do policial e a oferecida por Stanislaw. A desconstrução
observada sempre coloca ao leitor a separação de uma determinada situação em dois níveis
de análise distintos, como já falado. A primeira é a do cargo ou título que se confere à
pessoa retratada. A segunda é a própria pessoa enquanto ser. Quando a pessoa pratica
algum ato que desautoriza-a como portadora do título ou do cargo ocupado isso é
imediatamente denunciado pela piada – como vimos no caso do delegado – e fica claro ao
leitor que, apesar do poder instituído doado a essa pessoa, não existe relação de capacidade
entre essa pessoa e a utilização que ela faz desse poder.
Henri Bergson afirma que o riso é uma reação do mecânico sobreposto ao vivo58.
Em todos os casos acima observados o leitor não consegue observar encarnação,
incorporação entre os cargos ocupados pelas figuras relatadas e as próprias pessoas que
ocupam os cargos a que foram designadas. Dessa forma o delegado, o deputado, o
secretário de saúde, o prefeito, o DOPS, o secretário de segurança, a delegação enviada ao
conselho da OIT, o secretário de segurança e até o próprio presidente estavam apenas
exercendo – e muito mal – uma função. Isso faz de todas essas figuras, representadas
através das crônicas, passivas de riso. É dessa forma que a longa crônica “O festival da
besteira” recoloca ao leitor a relação entre a ficção e a história – já que ela, segundo o
57 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 12. 58 BERGSON, H. Op. Cit, pág. 22.
24
autor, trata de fatos realmente ocorridos – agindo assim como elemento representativo de
um discurso.
3.2 O Informe Secreto
Apesar da caça aos inimigos invisíveis já ter sido tema de uma das notas na crônica
analisada anteriormente, Stanislaw dedica toda uma crônica ao tema da caça aos cidadãos
considerados subversivos, empreendida pelo DOPS. Na crônica “o informe secreto”
Stanislaw conta que se soube que um general do serviço secreto havia feito uma grande
descoberta. Como essa descoberta foi tratada com segredo o alvoroço tomou conta do
círculo de relacionamentos do general. A grande expectativa girava em torno de quem seria
o próximo subversivo a ser apanhado, todavia o fim da história aponta que a descoberta era
a de um cargo vago de fiscal de renda cujo qual havia sido prontamente ocupado pelo filho
do referido general59.
Stanislaw inicia a crônica definindo a atividade de um oficial do serviço secreto:
“ficava o dia inteiro dentro de uma sala vendo se havia conspiração, manifesto,
contrabando, mau olhado e demais crimes contra a nação.”60 A palavra mau olhado é o
motivador de riso da frase. Toda pretensa seriedade da atividade do general, com a
inserção dessa palavra, tende a ser substituída pela subjetividade da procura de um inimigo
que não existe. A inversão proposta por Stanislaw com a simples inserção de um termo
torna a atividade do general sem propósito. A conclusão dada pelo autor é ainda mais
enfática: “a coisa era de uma monotonia de fazer inveja ao cotidiano de Brasília.”61 Não
havia inimigo a ser procurado e a comparação nos leva à conclusão de que a “falta do que
fazer” padrão era a de Brasília, capital administrativa. Da figura que simboliza o grupo
dominante, o general, ao lugar de atuação administrativa do grupo dominante, Brasília, não
sobra espaço à seriedade. Ambos são destituídos de sua retidão no serviço ao público para
serem expostos ao escárnio da parte dos leitores.
Outro ponto que pode passar despercebido, mas que também pode ser levantado
enquanto denúncia, é a questão do nepotismo. Enquanto todos, preocupados, tentavam
descobrir quem seria o próximo a ser cassado pelo regime, em um final surpreendente,
59 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág 33-34. 60 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 33. 61 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem.
25
descobrem que se tratava apenas de uma boa vaga no funcionalismo público, descoberta
pelo general, a qual foi ocupada pelo filho do mesmo.
O recurso utilizado pelo autor para promover o riso no “informe secreto” é o da
inversão. Todas as dicas dadas ao longo da redação da crônica indicam a um final que não
acontece. Quando nos deparamos com a conclusão oferecida somos surpreendidos e
levados a concordar com a afirmação de Stanislaw: “o homem fez um serviço belíssimo.
Descobriu um cargo vago de fiscal de renda e nomeou o filho dele. São quinhentos e
cinqüenta mil por mês e mais as multas. Tá bem?”62. Para o general, sem dúvida, foi um
ótimo negócio. Ao leitor, não resta escolha senão realmente considerar que se tratou de um
belo serviço em benefício próprio.
Quando o leitor aguarda a utilização correta do poder outorgado ao general, se
depara com a má utilização que este faz deste poder instituído. Novamente ocorre a não
identificação entre a atividade a ser exercida e a intenção de quem está a exercer a
atividade. Novamente ocorre a sobreposição de uma situação não esperada em detrimento
do que seria natural.
3.3 Meio a Meio
Na crônica “meio a meio” conta-se da cassação de mandato do deputado José
Antônio da Silva sob a acusação de comunismo e subversão. Contudo na conclusão de seu
processo optou-se pelo arquivamento do caso devido à falta de provas frente a acusação
formulada.
Para essa crônica nosso autor aponta à precipitação, a arbitrariedade e a contradição
de um governo que pelo Ato Institucional numero um decretou a cassação dos direitos
políticos e civis de todos os cidadãos acusados de subversão e ameaça à segurança do país.
Certamente, pela conclusão da crônica, o referido deputado nada tinha a ver com qualquer
tipo de subversão. Mas, como conclui Stanislaw, para que a decisão pela cassação ficasse
acertada, uma idéia poderia ser considerada: “José Antônio da Silva fica sendo um ótimo
cidadão as segundas, quartas e sextas e um comunista nojento as terças, quintas e sábados.
Aos domingos ele descansa”.63 Através de uma solução tão absurda quanto a da cassação
arbitrária do deputado o autor, pela utilização do efeito de comparação hiperbólica dá ao
leitor a “correta” medida do peso da balança da justiça operada pela “redentora”.
62 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 34. 63 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 36.
26
A precipitação e a arbitrariedade são denunciadas quando da instalação de um
inquérito policial militar sem a apuração de motivos preliminares. A contradição acontece
quando do arquivamento do inquérito pela “inexistência do ilícito penal”64. Todos os três
adjetivos acima desqualificam a medida da cassação informando ao leitor as “qualidades”
inerentes a um IPM: não se baseia em regras, não requer investigação e pode ser arquivado
tão facilmente quanto pode ser instaurado. Trata-se de medida banal que se má utilizada –
como aconteceu – conduz à esculhambação, como afirma o autor ao longo da crônica. Um
instrumento que é dotado de tais qualidades, utilizado pelo governo que se pretendeu
revolucionário – ou “redentor” como gosta de afirmar Stanislaw – conduz ao riso pela falta
de habilidade em se manejar a justiça. Para Bergson, toda rigidez de movimentos ou
caráter “será então suspeita para a sociedade por ser o possível sinal de uma atividade
adormecida e também de uma atividade que se isola, que tende a afastar-se do centro
comum em torno do qual a sociedade gravita.”65 Como a sociedade não pode intervir por
meio de alguma repressão material ela responde à esta excentricidade com um gesto social:
o riso. E este riso se torna desconcertante na exata medida em que se processa sobre uma
inaptidão ou um defeito.
3.4 Garotinho Corrupto
Stanislaw traz a notícia de que em Curitiba um jardim de infância chamado
“Pequeno Príncipe” fora fechado sob acusação de ministrar educação marxista aos seus
alunos. O maior dos alunos da escola tinha 5 anos66.
Mais uma vez, pelo artifício da comparação, o autor pretende evidenciar o abuso
que se fazia com relação a utilização da autoridade. Segundo Stanislaw “coitado do
garotinho, que mal sabendo o a, e, i, o, u, terá de soletrar ‘Kruchev’, ‘Stalin’, ‘Gromyko’ e
outras bossas.”67 Tal hipérbole remete o leitor ao absurdo imaginado pelos militares ao
aventarem a idéia de que se possa oferecer educação marxista a uma criança em pleno
ensino infantil.
Ponte Preta também conduz o leitor ao autor do livro “Pequeno Príncipe”, Saint-
Exupéry, que mais de uma vez esteve perdido no deserto do Saara quando de seu trabalho
no correio aéreo francês. Segundo Stanislaw por duas vezes o referido autor caiu com seu
64 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 65 BERGSON. H. Op. Cit. pág 14. 66 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág 43-43. 67 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 44.
27
avião no deserto e, estando perdido, por fim, encontrou salvação. Mas, “mesmo que Saint-
Exupéry estivesse vivo, jamais imaginaria que iria cair nesse deserto de idéias, no qual
acaba de aterrissar sem a menor esperança de salvamento.”68 A comparação entre o
gigantesco deserto do Saara e o deserto de idéias no qual vive o regime militar brasileiro dá
o tom do escárnio a essa crônica. O autor está afirmando que nem o maior deserto do
mundo ofereceria desafio tão grande a Saint-Exupéry, quanto o vazio que representava a
política brasileira. A relação entre a aridez de um deserto e a aridez intelectual do regime
dominante brasileiro é o mote do riso a essa crônica.
3.5 O General Taí:
Nesta última crônica a ser analisada, Stanislaw nos traz o retrato por ele imaginado
do servidor público brasileiro e fala também sobre o sentimento de perseguição sofrido por
aqueles que de alguma forma desaprovavam o regime instaurado. Um personagem
chamado Genésio, ao que tudo indica trabalhador de algum órgão público nacional, acabou
aderindo de maneira entusiástica ao movimento militar. Era dos mais otimistas e dos
primeiros a tecer elogios às medidas econômicas, todavia, com o tempo, apesar de seu
entusiasmo, sua situação financeira não mudou e a inflação não parou de subir. Seu salário
já não era mais suficiente e o que eram elogios ao governo passaram a ser críticas. No
trabalho, o conhecido defensor das medidas econômicas passou a manifestante público
contra aquela situação vivida. Certo dia, em casa, sua empregada informou-lhe que o
“general” estava lhe aguardando. Assustadíssimo Genésio fugiu pela janela sem saber que,
na sala de sua casa encontrava-se tão somente um vendedor da General Eletric desejando
fazer a demonstração de um novo modelo de aspirador de pó69.
A mensagem desta última crônica em meio a este estudo sobre a desconstrução da
imagem da ditadura é sintomática; mesmo os mais entusiastas defensores do regime
militar, com o tempo, acabariam por constatar que tudo não passava de ilusão
momentânea. A esperança em se trazer à nação ordem e progresso era um discurso que não
condizia à realidade do cidadão comum.
“Quando houve aquela marcha de senhoras ricas com Deus pela família e etc, ficou
a favor, principalmente do etc.”70 Em resposta a uma das últimas medidas de João Goulart
68 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 69 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág 49-51. 70 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 49.
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– o comício na Central do Brasil – um grupo de conservadores anti-Jango organizaram-se
em torno de um movimento que denominou-se “marcha da família com Deus pela
liberdade”. Stanislaw inicia sua desconstrução modificando o nome do movimento
definindo-o como marcha de senhoras ricas. Nisso ele encerra o seu entendimento sobre o
que seria um grupo de conservadores. Contudo o “etc.” define o lugar onde se encaixou o
personagem dessa crônica. Por não se tratar de mulher nem muito menos ser rico, Genésio
não tinha lugar no movimento. “Genésio aderiu à ‘Redentora’ muito mais por vocação do
que por convicção”71 Segundo Stanislaw Genésio era muito adesista, não queria ficar sobre
o muro e por ver tanto “cocoroca” aderindo resolveu fazer sua opção.
“Adaptou-se à nova ordem com impressionante facilidade e chegou a ser um dos
mais positivos dedos-duros no ministério”72. O dedurismo (corruptela de dedo-durismo73) é
uma das causas do Festival da besteira, segundo Stanislaw. É a versão brasileira, podemos
dizer, do macartismo americano, ou seja, da busca em meio ao corpo social dos elementos
vinculados ao comunismo. Nas crônicas pudemos observar que o “dedurismo” representa
também o fato de se ignorar os próprios problemas, apontando causas externas como razão
das dificuldades vividas.
“Quando veio a tal política financeira do Dr. Campos, foi dos primeiros a aplaudir a
medida.”74 Genésio não esperou os efeitos da reforma econômica para oferecer sua
opinião. Como entusiasta, o que fosse decidido e implementado era a medida da verdade.
“O que sei é que o Genésio deu o grande durante uns quatro ou cinco meses.
Depois, como era filho de Jacaré com cobra d’água, caiu de novo no seu chatíssimo
cotidiano e só ficou elogiando a ‘redentora’ por vício ou talvez por causa de uma leve
esperança de se arrumar ainda.”75 Por um curto espaço de tempo Genésio conseguiu
manter sua postura otimista; após esse tempo, como não era rico, voltou à realidade do
salário baixo aliado à alta inflação. Oportunista, no entanto, ainda manteve posição de
entusiasta assumido, tendo esperança em conseguir algo melhor dentro de sua repartição
pública. Mas Stanislaw alerta que “aquilo não era revolução pra quem vive de ordenado.”76
Genésio não fazia parte da faixa social a ser beneficiada pelas benesses do novo regime
político, ou seja, o ocorrido em abril de 1964 era um movimento não universal, que previa
a melhoria para setores que Genésio não fazia parte. E, seguindo a narrativa, quando
71 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 72 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 73 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 5. 74 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 49. 75 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 50.
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Genésio foi à feira fazer compras, finalmente, em meio a todos aqueles descontentes, ele
viu a realidade econômica a sua volta e se pôs a “praguejar mais do que trocador de
ônibus.”77
“Voltou pra casa, arrasado. Daí por diante entrou pro time dos descontentes de
souza.”78. Devido ao caráter de Genésio, de algum lado do muro ele tinha que ficar. Por ter
sido atingido pela realidade e não ter sido beneficiado pelo sistema, apesar de ter sido um
entusiasta dedo-duro, não poupou esforços em se tornar, doravante, enérgico opositor. Em
meio a um quadro de perseguição política arbitrária – como já vimos ao longo das várias
crônicas anteriores – Genésio passou a viver sob o medo de chegar a sua vez de ser
intimado pela polícia. Foi quando, certo dia em casa, sua empregada avisou-o que um
General estava aguardando-o em sua sala. Genésio “pulou pela janela e está, até agora,
escondido no sítio do sogro, em Jacarepaguá.”79 Ficou sem saber que era só um
representante da General Eletric querendo fazer a demonstração de um novo aspirador de
pó.
A figura representada nessa crônica por Stanislaw, como já afirmado, é a do
cidadão comum brasileiro. Funcionário público, insolente quanto ao engajamento político,
concordou com o etc. da marcha da família com Deus e aderiu ao novo regime sem
qualquer reflexão ideológica. Tornou-se entusiasta até constatar que o movimento não
melhoraria sua situação por qualquer via. A partir daí tornara-se opositor e vivia
amedrontado em razão da perseguição arbitrária da parte do governo. A desconstrução,
nessa última crônica opera-se a partir do cidadão que aderiu às promessas do novo regime.
Sem qualquer profundidade em seu engajamento, ele é enganado e utilizado como massa
de manobra e assim, o próprio brasileiro é exposto ao ridículo em meio a proposição do
autor. Obviamente, recai sob a ditadura o ônus de se constituir enquanto regime não
universal, antidemocrático, que se utiliza do cidadão comum como mera peça de um jogo,
todavia a ênfase da crônica está toda sob Genésio que, amedrontado, foge do General.
Coincidência ou não, a marca General Eletric é americana, assim como se discute ainda
hoje a influência americana sob a revolução de 1964.
76 PONTE PRETA, S. Op Cit. Pág. 50. 77 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 78 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem. 79 PONTE PRETA, S. Op Cit. Idem.
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3.6 O Conjunto das análises:
Como afirmado por duas vezes ao longo das análises acima, existem dois níveis de
análise quando olhamos para as crônicas enquanto representação de uma realidade.
Quando Stanislaw fala do delegado, do deputado, do general ou mesmo do presidente,
temos uma idéia pré-concebida do que sejam essas figuras. Estas idéias foram construídas
em meio a um imaginário coletivo ao longo da vivência de cada leitor. Em geral a imagem
que se tem não difere muito de leitor para leitor. Aqui se encontra o primeiro nível de
análise. Existe uma idéia comum do que seriam as figuras representadas por Stanislaw em
suas crônicas.
No segundo nível de análise se encontra a imagem que estas figuras nos oferecem
através da lente, ou do foco dado por Stanislaw Ponte Preta. Em suas crônicas o autor dá
ênfase às situações em que estas imagens oferecidas nitidamente diferem daquelas pré-
concebidas em meio ao imaginário coletivo. É como se o autor desenhasse essas figuras ao
leitor sob transparências que ao serem sobrepostas sob as imagens originais, dão ao leitor a
sensação de deformidade. O foco de Stanislaw conduz o olhar do leitor a caricaturas das
imagens originais. Tal idéia encontrou substrato tanto em Bergson quanto em Chartier.
Ambos chamam atenção, ao longo dos livros analisados e citados, às caricaturas
produzidas quando da representação de imagens. Segundo Bergson, a arte do caricaturista
é captar movimentos às vezes imperceptíveis e, ampliando-os, torná-los visíveis para todos
os olhos80. A transparência, a qual nos referimos, sobreposta à imagem original revela ao
leitor as deformidades que diferem a idéia pré-concebida da realidade mostrada. Essa
diferença, em um primeiro momento, conduz ao riso, como qualquer caricatura conduziria.
Contudo, e aqui se encontra o efeito da desconstrução, a tendência é que o riso conduza à
reflexão. Se existem duas imagens estas precisam ser consideradas de maneiras distintas.
Uma é a imagem do consenso geral, pré-concebida, e outra é a imagem caricaturizada,
deformada. Sendo assim, as crônicas de Stanislaw Ponte Preta, ao longo do Febeapa 1,
desconstroem a imagem da ditadura ao tempo que conduzem o leitor à identificação desses
dois níveis de representação separando a imagem pré-concebida daquela que, pelos
recursos demonstrados, informam ao leitor defeitos de caráter, deformidades de conduta
que não condizem ao que originalmente deveriam ser.
80 BERGSON, H. Op. Cit. pág 19.
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4 Conclusão:
Vimos, através da contextualização do tempo histórico anterior e presente às
crônicas, que o Brasil passava por séria crise financeira e institucional onde, ao transcorrer
de dois mandatos democráticos, pouco havia sido conseguido em prol de livrar o país da
crise daqueles anos. Politicamente havia um grande hiato de poder onde parecia não haver
figura com carisma suficiente para agregar maiorias e governar soberanamente. O que
havia eram pequenos grupos políticos de relação muito instável que, por falta de
articulação, deram espaço ao advento do governo militar. Todavia Stanislaw Ponte Preta
parece, em movimento apolitizado, ter encontrado o lugar de identificação de uma maioria
unânime: o humor. Certamente suas piadas provocavam o riso naqueles que
acompanhavam seu trabalho nos periódicos contemporâneos à época.
Comentamos na introdução deste trabalho que as crônicas de Stanislaw eram
espaços destinados à conformação de uma opinião. Contudo temos nas crônicas mais que
opinião: observamos denúncia. Arbitrariedade, precipitação, falta de preparo, são pontos
comuns nas comparações hiperbólicas que conduzem o leitor a constatação de absurdos
inaceitáveis às figuras retratadas. Sérgio Porto devia ter claro que, apesar das denúncias,
pouco ou nenhum eco elas teriam em termos de destituir o poder instaurado. Não creio ser
esse seu objetivo. Mas devia saber sim que aquelas denúncias teriam grande peso na vida
daqueles leitores que, em seu espaço de descontração, na coluna de variedades de seu
jornal favorito, encontrariam aquela forma de diversão que se dissemina de maneira tão
eficiente e veloz quanto corrosiva: a piada. É natural que pessoas procurem o riso como
descontração em meio ao dia a dia de seus trabalhos. O que fez Sérgio Porto foi aliar
informação a descontração, oferecendo denúncia sob o formato de chistes, gracejos.
Sérgio Porto utilizou o riso como arma de combate à pretensão do regime
instaurado. Sua definição do regime dá o tom dessa pretensão: “revolução redentora”. Com
suas denúncias o autor nos mostra que o regime militar não tinha talento para redimir,
como era sua pretensão. E através da desconstrução empreendida pela comparação que o
leitor faz dos dois níveis de representação oferecidos quando do relato das crônicas,
Stanislaw desqualifica todas as figuras vítimas de suas chacotas.
Segundo Roger Chartier, a literatura se torna o lugar da vida política quando esta é
alijada do poder81. Tal afirmativa encontra eco no Febeapa 1. Com o advento do regime
ditatorial militar e as instaurações do atos institucionais, que gradativamente garantiram o
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fim da democracia em todas as esferas públicas, como mostrado ao longo da
contextualização, de fato não havia mais espaço a vida política no Brasil. Esta passou a se
resumir a manifestações espontâneas individuais literárias, como a de Stanislaw. Tratando
do Antigo Regime pré-revolução francesa Chartier ainda afirma que “ao debilitar a ‘vida
pública’, ao separar as ‘classes altas’ do exercício do poder, a monarquia criou as
condições que autorizaram a hegemonia filosófica.”82. Com hegemonia filosófica Chartier
está se referindo ao lugar de onde passou-se a viver política, a saber, a literatura em todas
as suas formas de manifestação. Sendo assim, concordando com Chartier e adaptando suas
afirmativas ao caso da ditadura brasileira pós 64, podemos afirmar que, além da
desconstrução empreendida, Sérgio Porto está participando do novo espaço de discussão da
vida política no Brasil. Acresce-se, devido a este fato, importância às denúncias de
Stanislaw.
Como afirmamos, os governos anteriores a abril de 64 não tem espaço dentro do
Febeapa 1. Por isso fez-se necessária uma contextualização que abarcasse os anos
anteriores à “revolução”: para evidenciar que o problema de Stanislaw estava com a forma
de governo e não com os problemas enfrentados pelo governo. Sua crítica e, no limite, sua
operação de desconstrução através do riso, tem como inimigo o regime militar
antidemocrático. Esta é a bandeira invisível de sua luta; o que observamos ao longo do
capítulo que tratou da análise de suas crônicas. Do delegado ao próprio presidente não
sobrou espaço à reverência. Pelo contrário, pela acidez da comicidade observada, o
desconcerto tornou completamente irreverentes as figuras representadas e, dessa forma,
Stanislaw Ponte Preta, em seu tempo histórico, foi agente inequívoco da desconstrução da
imagem da ditadura através das crônicas analisadas do Febeapa 1.
81 CHARTIER, R. Op Cit. pág 23. 82 CHARTIER, R. Op Cit. pág 24.
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5 REFERÊNCIAS
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