Guia Cuidadores de Pessoas Bipolares

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  • transtorno bipolarGuia para cuidadores de pessoas com

    Lesley Berk

    Editores (Brasil)Mrcio Gerhardt Soeiro-de-Souza Ricardo Alberto MorenoVasco Videira Dias

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    Editores (Brasil)

    Mrcio Gerhardt Soeiro-de-Souza

    Mdico do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Ricardo Alberto Moreno

    Coordenador do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Presidente da Associao Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB).

    Vasco Videira Dias

    Programa de Investigao em Doena Bipolar, Hospital de Santa Maria, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, (FMUL), Portugal.

    Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    O transtorno bipolar consiste em episdios de humor em que o pensamento, as emoes e o comportamento de um indivduo alteram-se visivelmente durante um perodo considervel, interferindo em seu cotidiano. Essa enfermidade pode comprometer no somente a vida da pessoa acometida, mas tambm a de sua famlia, seu cnjuge e seus amigos. Por isso, ter conhecimento de alguns sintomas ou episdios pode ajudar a identificar quando o paciente apresenta essa doena.

    Se voc um adulto que tem um relacionamento prximo a um portador do transtorno bipolar, importante saber mais sobre a doena, para que possa ajudar o seu ente querido. Voc pode obter informaes prticas e confiveis aqui, no Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar. Esta obra proporciona informaes e sugestes sobre como o transtorno pode ser gerido e tratado, e alguns recursos que podero ajudar no cuidado dirio do paciente.

    Essas informaes e sugestes so uma combinao dos ltimos resultados de pesquisas realizadas, com as opinies consensuais de painis internacionais de cuidadores, de pessoas com transtorno bipolar, de clnicos e de pesquisadores, todos eles especialistas e com experincia nessa enfermidade.

    Este guia no substitui as orientaes mdicas. Ao contrrio, oferece acesso a informaes adicionais para que voc, o cuidador, ou a pessoa a quem est ajudando conhea mais sobre o transtorno bipolar. Com as informaes aqui contidas, voc ficar mais preparado para compreender as consideraes feitas pelo mdico e, ento, discuti-las com mais segurana.

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  • DaDos InternacIonaIs De catalogao na PublIcao (cIP)

    ndices para catlogo sistemtico

    1. Transtorno bipolar : Tratamento 616.895

    B512g BERK, Lesley

    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar / Lesley Berk. So Paulo: Segmento Farma, 2011.

    112 p.

    ISBN 978-85-7900-036-2

    1. Transtorno bipolar Tratamento. I. Ttulo.

    CDD 616.895

    ImPRESSo No BRaSIL2011

    Rua Anseriz, 27, Campo Belo 04618-050 So Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br [email protected]

    Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente editorial: Cristiane Mezzari Capa: Eduardo Magno Designer: Andrea T. H. Furushima Revisoras: Patrizia Zagni e Renata Del Nero Cd. da publicao: 11779.08.11

    o contedo desta obra de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es). Produzido por Segmento Farma Editores Ltda., em agosto de 2011.

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  • Autores

    Lesley Berk

    Orygen Youth Health Research Centre, Centre for Youth mental Health, University of Melbourne, Parkville, Australia.Department of Psychiatry, University of Melbourne, Parkville, Australia.

    Mrcio Gerhardt Soeiro-de-Souza

    Mdico do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Ricardo Alberto Moreno

    Coordenador do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Presidente da Associao Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB).

    Vasco Videira Dias

    Programa de Investigao em Doena Bipolar, Hospital de Santa Maria, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, (FMUL), Portugal.Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

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  • Claire M. Kelly

    Orygen Youth Health Research Centre, Centre for Youth mental Health, University of Melbourne, Parkville, Australia.

    Seetal Dodd

    Department of Psychiatry, University of Melbourne, Parkville, AustraliaSchool of Medicine, Deakin University, Geelong, Australia.

    Michael Berk

    Orygen Youth Health Research Centre, Centre for Youth mental Health, University of Melbourne, Parkville, Australia.Department of Psychiatry, University of Melbourne, Parkville, AustraliaBipolar Disorder Research Program, Hospital Santa Maria, Faculty of Medicine, University of Lisbon, (FMUL), Portugal.School of Medicine, Deakin University, Geelong, Australia.

    Anthony F. Jorm

    Orygen Youth Health Research Centre, Centre for Youth mental Health, University of Melbourne, Parkville, Australia.

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  • Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar .................................................1

    captulo 1: Transtorno bipolar ................................... 3Episdios bipolares ..................................................................................3

    Episdio manaco .......................................................................................3Episdio hipomanaco ...............................................................................4Episdio depressivo ...................................................................................5Episdio misto ............................................................................................5

    Diferentes tipos de transtorno bipolar ....................................................6Qual a prevalncia do transtorno bipolar? .............................................7

    Padres da doena ...................................................................................7 possvel prever a ocorrncia de um episdio? ....................................7Com que frequncia as pessoas tm recadas? ......................................7Diferentes graus de bem-estar entre episdios ......................................8

    Causas e fatores desencadeadores de episdios bipolares ......................8Fatores biolgicos .......................................................................................8Fatores ambientais e pessoais ...................................................................9Forma como o transtorno bipolar gerido ............................................9

    Transtorno bipolar e outras condies mdicas associadas .................10

    captulo 2: Tratamento e gesto da doena ..........11Tratamento mdico ................................................................................11

    Qual tipo de tratamento mdico pode ajudar? ....................................12Terapia eletroconvulsiva (ECT) ....................................................................... 14Terapias adicionais que por vezes so usadas

    para suplementar a teraputica ........................................................... 15

    Tratamento psicolgico .........................................................................16

    Reduzir desencadeadores da doena e fazer ajustes no estilo de vida ......18

    Sumrio

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  • Lidar com os sinais de alerta da doena ................................................19

    Desenvolver um bom sistema de suporte ..............................................21

    captulo 3: Apoio pessoa que se encontra doente .................................22

    Ajudar a pessoa com um episdio bipolar ............................................23Comunicar-se calmamente .....................................................................23Ajudar a pessoa a procurar tratamento .................................................24Ajudar a pessoa a monitorizar a doena ...............................................24Ajudar a pessoa se ela necessita ir para hospital ..................................24Apoiar a pessoa com depresso ..............................................................26Apoiar a pessoa com mania ou hipomania ...........................................27

    Lidar com comportamentos manacos ou hipomanacos arriscados ou inapropriados .............................28

    Tome precaues ......................................................................................28Estabelea limites para o tipo de

    comportamento que est disposto a aceitar ....................................29O que se pode fazer quando a pessoa

    est prestes a ter um comportamento arriscado? ...........................30Lidar com uma crise bipolar ..................................................................31

    Obtenha ajuda ..........................................................................................31Comunique-se de forma calma e clara ..................................................32

    Planos para os momentos em que a pessoa se encontra gravemente doente ..................................33

    Quem contatar em caso de crise ............................................................33Quando e como agir em nome da pessoa? ..........................................33Qual informao fornecer? .....................................................................34Para qual hospital ou centro mdico pode ir a pessoa? .....................34Hospitalizao involuntria/internamento compulsrio ....................34Quem faz o qu? .......................................................................................34

    Ajudar a prevenir o suicdio ..................................................................35Perceber e agir perante sinais de alerta de suicdio .............................35Se ocorreu suicdio ...................................................................................38

    Apoiar a pessoa aps um episdio bipolar ............................................38

    Apoiar a pessoa com sintomas leves ou com dificuldade de lidar com suas atividades ..........................40

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  • captulo 4: Ajudar a pessoa a manter-se estvel e a aproveitar a vida ...............41

    Apoiar o tratamento mdico da pessoa .................................................41O que fazer se a pessoa decidir reduzir

    ou interromper a medicao?............................................................42Oua as razes que a pessoa tem para fazer

    essas alteraes em seu regime teraputico ......................................... 43Diga pessoa que compreende suas razes e,

    se for o caso, d-lhe uma perspectiva diferente ................................... 43Discuta suas preocupaes com

    a pessoa utilizando afirmaes polidas ............................................... 44Encoraje a pessoa a falar abertamente

    sobre tirar a medicao com o mdico ................................................ 44Adapte sua resposta de acordo

    com o quo doente ou quo bem a pessoa est ................................... 44Ajude a resolver as dificuldades

    de se lembrar de tomar a medicao ................................................... 45

    Voc est considerando tratamento psicolgico? .................................45

    Ajudar a reduzir os episdios bipolares ................................................46Identificar desencadeadores ....................................................................46Estilos de vida que ajudam a manter-se estvel....................................47Ajuda prtica .............................................................................................48Reduo de conflitos ................................................................................48

    Ajudar a prevenir recorrncias, reconhecendo sinais de alerta da doena .................................48

    Conhecer os sinais de alerta da pessoa ..................................................49Identificar os sinais de alerta da pessoa

    quando estes ocorrem ........................................................................49Comunicar-se com a pessoa sobre seus sinais de alerta .....................50Formas de apoiar a pessoa quando

    aparecem sinais de alerta ...................................................................50

    Ajudar a pessoa a ganhar confiana e a viver bem com o transtorno bipolar ...................................52

    Ajude a pessoa a viver bem com a doena ............................................52Reconstruir a confiana ...........................................................................52Evite que a doena esteja no centro de sua vida ...................................53

    Ajudar a pessoa a ajustar seu bem-estar ................................................53

    Recuar e deixar a pessoa fazer as coisas por si prpria .........................54

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  • captulo 5: Tomar conta de si prprio .....................55Use estratgias que o ajudem a lidar com o estresse .............................55

    Manter-se organizado ..............................................................................56Repor as energias ......................................................................................56Desenvolver expectativas realistas .........................................................56Estabelecimento e manuteno de limites ............................................57Desenvolver seu prprio grupo de apoio ..............................................58Passos para a resoluo de problemas ...................................................59

    Tome conta de sua sade e seu bem-estar .............................................60Desenvolver hbitos saudveis ...............................................................60Reduzir seu prprio estresse ou a depresso ........................................61

    Sinais de estresse ............................................................................................... 61Sinais de depresso ........................................................................................... 61

    Adaptar-se a cuidar de algum ..............................................................62Conformar-se com a doena ..................................................................62Reconhecer suas reaes naturais e

    decidir como lidar com a situao ....................................................63Sentimentos de revolta ..................................................................................... 63Sentimentos de tristeza ou rejeio ................................................................. 64Sentimentos de culpa e de responsabilizao .................................................. 65Sentir que se quer desistir e afastar-se da pessoa ............................................ 66

    Manter ou reconstruir a relao ............................................................67Utilizar boas tcnicas de comunicao ..................................................67

    Escutar ativamente .......................................................................................... 68Fazer um pedido positivo de mudanas .......................................................... 68Expressar de forma calma seus sentimentos

    sobre o comportamento da pessoa ....................................................... 69Resoluo de problemas em conjunto .............................................................. 70Alcanar um compromisso em conjunto ......................................................... 70Comunicar pontos positivos ............................................................................. 71

    Reconhecer os pontos positivos .............................................................71O lado positivo de ser cuidador .............................................................72Pontos positivos sobre a pessoa ..............................................................72As tarefas que o cuidador consegue

    fazer e o apoio que d .........................................................................72

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  • captulo 6: Formas de tomar conta de si prprio em situaes desafiadoras especficas ........................73

    Se a pessoa se encontra doente h muito tempo ...................................73Formas de lidar com a situao

    se a pessoa fica doente com frequncia ...........................................73

    Reduzir o estresse quando ocorre uma crise bipolar ............................74Formas de reduzir o estresse durante

    uma crise relacionada doena ........................................................74

    Se existe demasiado conflito entre o cuidador e a pessoa .....................75

    Se a pessoa est doente, irritvel e muito crtica ...................................75O que fazer se a pessoa se encontra doente,

    irritvel e muito crtica ......................................................................75

    Se a pessoa estiver fisicamente agressiva ...............................................76Formas de se proteger se a pessoa j mostrou

    comportamentos agressivos anteriormente ....................................77

    Lidar com as consequncias negativas de comportamentos de risco .....................................................77

    captulo 7: Trabalhar em conjunto com a pessoa para lidar com a doena .......79

    Qual o grau de envolvimento que dever adotar na ajuda pessoa com a doena ....................................80

    Tenha cuidado para no ficar demasiado envolvido ...........................81Verifique com a pessoa a melhor forma de ajud-la ............................81

    Ajudar sem mencionar a doena ...........................................................81

    Falar com a pessoa sobre como pode ajudar .........................................81O momento certo importante ..............................................................82Mantenha aberta a comunicao sobre a doena ................................82Utilize linguagem comum .......................................................................82Pergunte o que pode fazer para ajudar ..................................................82

    Fazer acordos e planos ...........................................................................82Quando criar um plano ...........................................................................83

    Trabalhar em conjunto com a pessoa e seu mdico ..............................83

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  • Apoiar a pessoa que est desapontada com uma recorrncia...........................................84

    Quando a pessoa tem dificuldades com suas estratgias de gesto de doena ........................................85

    Dificuldades em ajudar a pessoa a lidar com a doena .........................86Se a pessoa no quiser sua ajuda ............................................................86Se a pessoa recusar receber tratamento para a doena .......................86

    Escute, observe e avalie o quo doente ou o quo bem a pessoa se encontra.................................................... 87

    Agir de forma apropriada ................................................................................ 87Reagir caso a pessoa recuse responsabilizar-se

    sobre a gesto da doena....................................................................89

    captulo 8: Lidar com o estigma, a discriminao e a divulgao da doena .....................90

    Formas de lidar com o estigma e a discriminao ................................91Mantenha-se informado ..........................................................................91Reconhea que existe mais da pessoa

    para alm da doena ...........................................................................91Rodeie-se de pessoas que aceitam a doena .........................................92Pense cuidadosamente antes de decidir falar

    contra o estigma ou a discriminao ...............................................92Formas de ajudar a pessoa a lidar com o estigma .................................93

    Divulgar a doena ou seu papel de cuidador ........................................94

    captulo 9: Recursos ......................................................95Lidar com o transtorno bipolar ........................................................95

    Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) ........................................96Associao Brasileira de Familiares, Amigos e

    Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) .................................96Associao Brasileira de Transtorno Bipolar ........................................96

    Referncias .......................................................97

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  • Prefcio

    Este livro um guia de valor inestimvel para lidar com pessoas que sofrem de perturbaes do humor graves, como a doena bipolar e a depresso maior. O livro lida com uma rea longamente negligenciada de interao com a pessoa doente da perspetiva do cuidador, ajudante, familiar ou amigo preocupado. Ajudar a dar apoio a algum com a maioria das outras doenas mdicas provavelmente mais previsvel. Lidar com perturbaes do humor pode ser muito mais misterioso e para alm dos conhecimentos gerais das pessoas e da sua zona de conforto. Contudo, a um doente deprimido, em virtude dos seus sintomas da doena irritabilidade, negao da doena, pouca crtica e um sentimento de desesperana , necessita de bastante apoio. Da mesma forma, os prprios sintomas da doena num paciente maniforme irritabilidade, negao da doena, fraco juzo crtico e um sentimento de infalibilidade fazem com que a ajuda a ele seja imperativa, mas muito difcil.

    Este livro oferece um conjunto de conselhos prticos sobre vrias circunstncias com as quais algum poder ter de se confrontar. As sugestes dadas so simples e explcitas, mas tambm apoiadoras e reconfortantes. O livro foi escrito por alguns dos maiores especialistas do mundo em perturbaes do humor e reflete a vasta experincia deles em apoiar pacientes e seus familiares.

    Recomendo fortemente este livro a todas as pessoas que lutam para ajudar um amigo ou um familiar com perturbaes do humor. Uma vez que estas so doenas altamente prevalentes na populao em geral, ter de lidar com os problemas encontrados e

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  • tratados de forma to clara neste livro muito comum, envolvendo muitos milhes de pessoas em todo o mundo. Este livro ser, portanto, extremamente til para um grande nmero de doentes e seus cuidadores.

    Robert M. Post

    Professor of Psychiatry, George Washington University School of Medicine, Penn State School of Medicine, Hershey, Pennsylvania, USA

    Chief, Bipolar Collaborative Network, Bethesda, Maryland, USA

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  • Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    O transtorno bipolar pode afetar no s a vida da pessoa com a doen a, mas tambm a de sua famlia, seu cnjuge e seus amigos. Pessoas importantes na vida de uma pessoa so muitas vezes uma ajuda para lidar com a doena. No entanto, a famlia, o cnjuge e os amigos podem ter de conviver com o transtorno bipolar de algum que lhes querido sem terem, contudo, acesso informao sobre como lidar com o transtorno e sobre o impacto que este poder ter em suas vidas.

    Se voc um membro adulto da famlia, cnjuge ou amigo e uma fonte primria de apoio a uma pessoa com transtorno bipolar, ento este guia foi criado para voc.

    Esta obra proporciona informaes e sugestes sobre: otranstornobipolar:comopodesergeridoetratado,ealguns

    recursos que podero ajudar; maneiras de ajudar a pessoa adulta com transtorno bipolar

    (o transtorno bipolar pode apresentarse de formas variadas na infncia e na adolescncia);

    formas de lidar com o impacto pessoal da doena, como seproteger e tomar conta de si mesmo.

    Essas informaes e sugestes so uma combinao dos ltimos resultados de pesquisas realizadas, com as opinies consensuais de painis internacionais de cuidadores, de pessoas com transtorno bipolar, de clnicos e de pesquisadores, todos eles especialistas e com experincia em lidar com transtorno bipolar.

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  • Nem todas as informaes e sugestes sero relevantes para voc. A perturbao bipolar pode manifestarse de diversas formas, e as experincias de vrios cuidadores diferem umas das outras. Determinar o que funciona com voc para lidar com sua situao poder ser um processo de tentativa e erro. No decorrer desse caminho, fundamental reconhecer e dar crdito a si mesmo por tudo aquilo que j est fazendo para ajudar a pessoa com transtorno bipolar a lidar com sua situao.

    Este guia no pretende ser um substituto de conselhos do mdico. Recomendamos vivamente que voc, o cuidador, ou a pessoa a quem est ajudando, possa discutir com o mdico assistente todas as questes relacionadas ao tratamento. Embora este guia tenha direitos autorais, pode ser reproduzido livremente para fins no lucrativos, desde que a fonte seja citada. Quaisquer questes e dvidas podero ser enviadas para Lesley Berk ([email protected]) na Austrlia ou para Vasco Videira Dias ([email protected]), Mrcio Gerhardt SoeirodeSouza ([email protected]) e Ricardo Alberto Moreno ([email protected]) no Brasil.

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  • O transtorno bipolar mais do que as alteraes de humor que as pessoas experienciam em resposta aos pontos altos e baixos de suas vidas. O transtorno implica episdios de humor em que o pensamento, as emoes e o comportamento de uma pessoa alteramse visivelmente durante um perodo considervel, o que afeta o cotidiano. Por vezes, a pessoa poder ter apenas alguns sintomas em vez de um episdio propriamente dito. Ter conhecimento de alguns sintomas ou episdios que podem ocorrer pode ajudar a identificar quando o paciente apresenta essa doena.

    Episdios bipolares

    Pessoas com transtorno bipolar podem experienciar estados de mania, hipomania ou estados mistos. A maioria das pessoas experiencia tambm depresso at certo nvel.

    Episdio manaco

    A mania envolve humor excessivamente feliz, exaltado ou irritado e pelo menos trs ou quatro dos seguintes sintomas:

    Transtorno bipolarcaptulo 1

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  • 4Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    confianaexcessivaousentimentodeimportnciaaumentada (grandiosidade);

    poucanecessidadededormir,oudormirmuitomenosque

    o habitual; fala-semaisqueohabitual;

    distrai-sefacilmente(perdadeconcentrao);

    aumentode atividadesdirigidasporobjetivos (por exemplo, no trabalho e na vida social ou sexual) ou desassossego e agitao;

    fazem-sevriasatividadesestimulantes,mascomelevadorisco de consequncias negativas (como excesso de compras, de apostas ou desinibio sexual);

    fugadeideias.

    Um episdio de mania ocorre quando: apessoaestemfasemanacahpelomenosumasemanaou

    necessita de hospitalizao; essessintomasdesestabilizamotrabalho,asrelaesouocoti

    diano da pessoa.

    Podem ocorrer sintomas psicticos, como alucinaes (quando se percebem coisas que no esto realmente l), delrios (fortes convices que no esto baseadas na realidade) ou pensamentos desorganizados e confusos.

    Episdio hipomanaco

    Um episdio de hipomania ocorre quando: apessoatemsintomassemelhantesaosdemania,mases

    tes so mais leves e no condicionam tanto suas atividades cotidianas;

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  • 5Transtorno bipolar

    no existem sintomas psicticos e a pessoa no necessita ser hospitalizada;

    ossintomasduramhpelomenosquatrodias;

    ossintomassoperceptveisaoutraspessoas.

    Episdio depressivo

    Um episdio depressivo ocorre quando, h pelo menos duas semanas, a pessoa est com humor deprimido (tristeza e sensao de vazio) ou tem perda de interesse ou prazer na maior parte do tempo, bem como pelo menos quatro dos seguintes sintomas:

    faltadeenergiaoucansao;

    estarperceptivelmentemaislentooumuitomaisagitadoeincapaz de se acalmar;

    alteraesperceptveisdeapetiteedepeso;

    problemasdesono(porexemplo,dormirdemaisounoconseguir adormecer);

    sentimentosdeinutilidadeedeexcessodeculpa;

    dificuldadedeconcentrao,depensamentooudetomada

    de decises; pensamentosrecorrentesdesuicdiooumorte.

    Quando uma pessoa experiencia um episdio depressivo, seus sintomas so suficientemente graves para a fazerem sentirse angustiada ou para ter uma influncia desestabilizadora em seus relacionamentos, seu trabalho ou nas atividades dirias. Poder haver tambm sintomas psicticos, os quais esto descritos no item Episdio manaco.

    Episdio misto

    Um episdio misto ocorre quando a pessoa tem sintomas tanto de mania quanto de depresso, simultaneamente, durante pelo menos

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  • 6Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    uma semana. Os sintomas causam uma desestabilizao significativa no cotidiano dela, podendo ser necessria a hospitalizao. Por exemplo, podemse vivenciar alteraes de humor rpidas (feliz, triste e irritvel), estar inquieto, irritado, incapaz de dormir, alm de ter sentimentos de culpa e vontade de suicidarse.

    Diferentes tipos de transtorno bipolar

    Existem diferentes tipos de transtorno bipolar, incluindo: Transtorno bipolar do tipo I: inclui um ou mais episdios de

    mania ou episdios mistos. A maioria das pessoas tambm tem sintomas depressivos.

    Transtorno bipolar do tipo II: inclui pelo menos um episdio de hipomania e um episdio de depresso.

    Ciclotimia: inclui hipomania e sintomas depressivos leves (no propriamente um episdio de depresso) que so experienciados, na maioria dos casos, em um perodo de pelo menos dois anos.

    Quando o transtorno bipolar no se enquadra em nenhu-ma das categorias descritas: por exemplo, uma pessoa pode experienciar sintomas leves de depresso e hipomania por um perodo inferior a dois anos, como est especificado para ciclotimia. Outro exemplo pode ser uma pessoa com episdios depressivos, mas com experincias de elevao de humor demasiado leves, ou de curta durao, que no podem ser diagnosticadas como mania ou hipomania.

    Uma pessoa pode experienciar sintomas de depresso mais frequentemente que outros sintomas. Muitas pessoas com transtorno bipolar, especialmente aquelas que sofrem de transtorno bipolar tipo II, passam muito mais tempo com vrios nveis de sintomas depressivos do que com elevaes bipolares de humor.

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  • 7Transtorno bipolar

    Qual a prevalncia do transtorno bipolar?

    provvel que cerca de um em cada cem adultos tenha transtorno bipolar do tipo I. Quando se inclui o transtorno bipolar do tipo II, essa prevalncia aumenta para quatro em cada cem adultos1.

    Padres da doena

    A maioria das pessoas com transtorno bipolar experiencia episdios recorrentes com diferentes graus de bemestar entre eles, sendo tais episdios nem sempre previsveis.

    possvel prever a ocorrncia de um episdio?

    Por vezes, episdios bipolares seguem um padro determinado (por exemplo, depresso costuma ocorrer aps hipomania, ou, ento, h um padro sazonal), o que pode tornar o transtorno bipolar mais previsvel. No entanto, para muitas pessoas no existe um padro determinado claro.

    Conhecer o que desencadeia um episdio (por exemplo, perturbaes nos padres do sono veja Reduzir desencadeadores da doen a e fazer ajustes no estilo de vida) e quais so os sinais de alerta de que um episdio bipolar est prestes a ocorrer (veja Lidar com os sinais de alerta da doena) poder ajudar a pessoa e aqueles que cuidam dela a reconhecer e responder a momentos de maior risco.

    Com que frequncia as pessoas tm recadas?

    Algumas pessoas encontramse bem e estabilizadas durante longos perodos, enquanto outras tm recorrncias frequentes. Em mdia, a maioria das pessoas tem um episdio a cada dois ou trs anos, no entanto outras tm um tipo de doena mais crnico e passam de um episdio para o outro. Pessoas com mais de quatro recorrncias por ano so consideradas como tendo transtorno bipolar com ciclos

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  • 8Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    rpidos. Se o paciente tem recorrncias frequentes, no se deve perder a esperana, pois os padres da doena podem alterarse e, com o tempo, a doena poder ficar mais controlada.

    Diferentes graus de bem-estar entre episdios

    O transtorno bipolar pode incluir perodos em que o paciente no apresenta sintomas. No entanto, pessoas podem experienciar sintomas leves entre os episdios, denominados sintomas subsindrmicos. Podese verificar que alguns desses sintomas leves dificultam certas tarefas dirias ou relacionamentos com outros (por exemplo, falta de energia, sentirse alheado ou irritvel, diminuio do sono ou fuga de ideias).

    Se a pessoa teve uma depresso leve constante ao longo de dois anos, poder sofrer de distimia. Sintomas depressivos prolongados tambm podem ser consequncia de perdas e alteraes decorrentes da doena.

    Mesmo quando a pessoa no tem sintomas de depresso ou mania, ainda se pode verificar que a doena afetou certas capacidades. Por exemplo, ela poder no se lembrar to bem como anteriormente de certos assuntos, ou poder ter dificuldades de concentrao ou desempenho. Por outro lado, algumas pessoas mantm um funcionamento normal entre episdios bipolares. claro que o desenvolvimento da doena difere de pessoa para pessoa.

    Causas e fatores desencadeadores de episdios bipolares

    Veja a seguir os fatores que podem causar transtorno bipolar e afetar o padro da doena.

    Fatores biolgicos

    A causa do transtorno bipolar semelhante de outras doenas, como o diabetes ou a asma, em que a pessoa tem uma vulnerabilida

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  • 9Transtorno bipolar

    de biolgica para desenvolver determinados sintomas. Essa vulnerabilidade refletese tanto em alteraes qumicas e de funcionamento do crebro quanto em alteraes hormonais e imunolgicas do organismo. Certos medicamentos demonstraram reduzir algumas dessas alteraes enquanto a medicao se encontra no sistema dessa pessoa. Os pesquisadores esto tentando descobrir marcadores biolgicos especficos para o transtorno bipolar que tornaro mais fcil o diagnstico e o tratamento da doena no futuro.

    Os genes de uma pessoa influenciam sua probabilidade de desenvolver transtorno bipolar, mas este no o nico fator que contribui para a doena. Gmeos verdadeiros partilham exatamente os mesmos genes. Se o transtorno bipolar fosse 100% gentico, era de se esperar que se um gmeo sofresse dessa doena, o outro tambm a desenvolveria. Embora exista um risco aumentado de o outro gmeo desenvolver a doena, isso nem sempre se verifica2. O transtorno bipolar desenvolvese a partir de interaes de certos genes com certos fatores ambientais.

    Fatores ambientais e pessoais

    Sintomas bipolares podem ser desencadeados por fatores ambientais e pessoais denominados triggers ou desencadeadores (por exemplo, um evento estressante ou a interrupo dos padres de sono). No entanto, por vezes se iniciam episdios sem um fator desencadeador. Para mais informaes sobre desencadeadores, veja Reduzir desencadeadores da doena e fazer ajustes no estilo de vida.

    Forma como o transtorno bipolar gerido

    Existem algumas formas de gerir a doena que podem ser teis (veja o captulo 2) e outras formas que nem sempre so teis e que at agravam a doena (por exemplo, beber lcool para reduzir o humor deprimido pode agravar a depresso). Muito embora as boas estra

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    tgias de gesto e o tratamento da doena possam ajudar a pessoa a manterse bem, o transtorno bipolar uma doena complexa, estando o portador sujeito a recorrncias. No entanto, gerir a doena e fazer as coisas que aprecia e que so importantes ajuda muitas pessoas com transtorno bipolar a ter uma boa qualidade de vida, mesmo sofrendo da doena3,4. Mesmo quando h recorrncias, existem vrias formas de tratar e tentar reduzir as consequncias negativas que por vezes surgem.

    Transtorno bipolar e outras condies mdicas associadas

    O transtorno bipolar ocorre muitas vezes associado a outras condies. Por exemplo, comum as pessoas com essa doena terem problemas com lcool ou com drogas ou sofrerem de perturbaes de ansiedade. Ter transtorno bipolar e outra condio associada pode ser mais desafiador para o portador e seus cuidadores. Ambas as condies tm de ser tratadas.

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  • Tomar medicao por tempo indefinido (mesmo quando a pessoa se encontra bem) pode ajudar a prevenir recorrncias e reduzir hospitalizaes e o risco de suicdio5,6. A medicao tambm pode reduzir os sintomas se o paciente est em uma fase aguda da doena. Por essas razes, ela considerada tratamento de primeira linha para o transtorno bipolar. Cuidadores e clnicos, que do suporte e apoio, podem ajudar a pessoa a manterse bem e a aproveitar a vida.

    Tratamento mdico

    Algumas pessoas sentem que a medicao prescrita em primeira linha para o transtorno bipolar as ajuda a manter o humor estvel e lhes d uma oportunidade de ter uma boa qualidade de vida. Trabalhando em conjunto com o mdico, pode ser necessrio que a pessoa experimente diferentes medicaes em monoterapia ou em associao, ou diferentes doses para determinar o que funciona melhor para ela. No quadro 1, veja algumas informaes que devem ser conhecidas sobre a medicao para o transtorno bipolar.

    Tratamento e gesto da doena

    captulo 2

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Qual tipo de tratamento mdico pode ajudar?

    As medicaes que demonstraram trazer o maior benefcio no tratamento do transtorno bipolar foram os estabilizadores de humor e os antipsicticos atpicos (Quadros 2 e 3). O uso de antidepressivos em monoterapia para tratar o transtorno bipolar no recomendado, uma vez que poder desencadear estados de hipomania, mania e estados mistos, ou ento ciclos rpidos (Quadro 4)8. A medicao ansioltica (benzodiazepinas) por vezes utilizada por curtos perodos para aliviar inquietao, ansiedade, pnico ou insnia (Quadro 5). Diferentes medicaes e combinaes podero ser utilizadas para reduzir diferentes tipos de episdios bipolares.

    Quadro 1. Alguns fatos importantes relativos medicao para o transtorno bipolar

    Frequentemente, a medicao demora algum tempo at comear a fazer efeito e as pessoassebeneficiaremdelaemsuatotalidade.Podesertilsaberaproximadamentequantotempoamedicaolevarasurtirefeito.

    Seapessoaparar de tomar a medicao que lhe fez bem,osbenefciosdesapareceromedidaqueamedicaodeixadeestaremseusistema5,7.

    Os medicamentos podero ter alguns efeitos secundrios, e alguns dos cuidadores e portadoresdetranstornobipolarpodemachartilsabermaissobreosefeitossecundriosmais comuns damedicao em causa.Alguns desses efeitos tm carter temporrio, oupodem ser ultrapassados por meio de um ajuste da dose ou da troca dos medicamentos, oquedeterminadopelomdico.Porvezes,odoentepodedecidircontinuaratomarumamedicao,poisosbenefciosqueestatrazparaseuhumorultrapassamodesconfortodosefeitossecundrios.Essasescolhassopessoais.

    Paraseinterromperaprescriodealgunsmedicamentos,temdeserfeitaumasuspen-so gradual.

    Seapessoaapresentanovos sintomas, amedicaoqueajudoua estabilizar seuhumorbipolar pode necessitar de ajuste.

    Osexames de sangue sonecessriosparamonitorizarosnveisdealgunsmedicamentos. Apessoadeveverificarcomseumdicooufarmacuticoseamedicaoquetomapoder

    ter alguma interao negativa comoutromedicamentoqueelatambmesttomando. Algunsmedicamentosnosorecomendadosduranteagravidez e a amamentao. Alteraes na dietapoderosernecessriasenquantosetomadeterminadamedicao.

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    Tratamento e gesto da doena

    Quadro 2. Estabilizadores de humor

    Quadro 3. Antipsicticos atpicos

    Nome qumico Como ajudam?

    Ltio os estabilizadores de humor podem ajudar a reduzir os sintomas de episdios agudos, alm de manterohumorestvel,prevenindorecorrnciasno tratamento prolongado5,7. Certos estabilizadores de humor ajudam a reduzir o risco de suicdio6. Podelevarmesesatqueapessoaexperiencienatotalidadeosbenefciosdessamedicao.

    cidovalproico

    Carbamazepina

    Lamotrigina

    Quadro 4. Antidepressivos

    Nome qumico Como ajudam?

    ISRSs (sertralina, paroxetina, fluoxetina, escitalopram, fluvoxamina)

    Apesardealiteraturanoserclaraemrelaoaotranstornobipolar,osantidepressivospodemajudaralgumaspessoasquetmdepresso,desdequeestejamtomando,emassociao,umestabilizadordehumor8.Tricclicos (amitriptilina,

    imipramina, clomipramina)

    outros (mirtazapina, reboxetina, bupropiona)

    Lamotrigina

    Nome qumico Como ajudam?

    olanzapina os antipsicticos atpicos podem ajudar a reduzir a mania, e alguns so utilizados para tratar adepressobipolareprevenirrecorrncias5. Tambm so utilizados para tratar ansiedade, psicose,desassossegoeperturbaesdosono.

    Quetiapina

    aripiprazol

    Risperidona

    Paliperidona

    amissulprida

    Ziprasidona

    Clozapina

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    No quadro 2 possvel encontrar alguns exemplos de medicao utilizada para tratar o transtorno bipolar. A primeira coluna esquerda apresenta o nome qumico ou genrico da medicao, a coluna seguinte tem exemplos de nomes de marca associados a empresas farmacuticas, e a ltima coluna apresenta algumas informaes relativas a cada grupo de medicamentos.

    Terapia eletroconvulsiva (ECT)

    Quando uma pessoa est gravemente deprimida ou em risco (por exemplo, parou de comer ou dormir, ou apresenta tendncia suicida) e outros tratamentos no parecem ajudar, a ECT pode ser eficaz para estabilizar o humor9. Essa terapia mais eficaz para reduzir depresso grave, no entanto tambm pode ajudar a reduzir sintomas de outro tipo de episdios. Com a ECT, a pessoa anestesiada e uma estimulao eltrica aplicada em uma rea especfica de seu crebro. Confuso temporria ou perda de memria podem ocorrer durante um perodo aps esse tratamento.

    Quadro 5. Benzodiazepinas

    Nome qumico Como ajudam?

    Clonazepam Asbenzodiazepinaspodemajudaraaliviaraansiedade, o pnico, o desassossego e a insnia. Estaanicamedicaoutilizadanotratamentodotranstornobipolarcomoadjuvante(sempreutilizadaemassociao).Dosesmaiselevadassoeventualmentenecessriasparaobterosmesmosbenefcios,oquesignificaqueessesmedicamentosdevemserutilizadosdurantecurtosperodosesomentequandonecessrio,emvezdeseremprescritosparatratamentodirioeprolongado.

    Diazepam

    Lorazepam

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    Tratamento e gesto da doena

    Terapias adicionais que por vezes so usadas para suplementar a teraputica

    Alguns estudos demonstraramque os cidos graxos mega3 ajudam a reduzir a depresso em associao medicao habitual10.

    SeumapessoatemumdficitdevitaminaD(quepodeserverificado em um exame sanguneo), a tomada de suplementos dessa vitamina em conjunto com a medicao habitual pode ajudar a reduzir a depresso. No entanto, a vitamina D ainda no foi estudada em pessoas com transtorno bipolar11.

    Ohipericonofoiavaliadoemestudosparautilizaono

    transtorno bipolar, podendo ter um efeito negativo quando tomado com certos medicamentos prescritos para tratar essa doena.

    Oexercciofsicotilparareduziradepressoetembenefcios

    adicionais para a sade em geral12. No h evidncia de benefcios na reduo da depresso bipolar ou da ansiedade13.

    Ainvestigaoparamelhorarotratamentodadoenabipolar est em curso. Existem atualmente alguns tratamentos a serem testados que podem ajudar, como o antioxidante Nacetilcistena (NAC), que pode ter algum benefcio na reduo dos sintomas depressivos bipolares quando combinado com o tratamento vigente da pessoa. Outros medicamentos so a curcumina e a cetamina, mas mais informaes e estudos so necessrios antes de esses agentes se tornarem globalmente recomendados14,15.

    ATENO: A informao deste guia introdutria, e para qualquer deciso quanto ao tratamento, recomendamos uma consulta ao mdico. Adicionalmente, existem diretrizes para o tratamento que podem ser consultadas em Guias sobre o transtorno bipolar e o seu tratamento.

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Tratamento psicolgico

    Os tratamentos psicolgicos que demonstraram proporcionar maiores benefcios incluem psicoeducao, terapia cognitivocomportamental (cognitive behavioral therapy CBT), terapia focada na famlia (family focused therapy FFT), terapia interpessoal de ritmo social (interpersonal and social rhythm therapy IPSRT) e programas de cuidados reforados (Quadros 6 e 7). Esses programas teraputicos psicossociais especializados foram adicionados medicao habitual de pessoas com transtorno bipolar e conduzidos por profissionais de sade especializados. Os benefcios dessas terapias incluem redues de certos tipos de recorrncias bipolares, do tempo de doena, de hospitalizao e melhoria do desempenho nas atividades cotidianas. Por exemplo, em um estudo de psicoeducao em grupo, as pessoas com perturbao bipolar que participaram do grupo de psicoeducao demonstraram uma reduo de recorrncias bipolares mais acentuada do que aqueles que participaram de

    Quadro 6. Tratamentos psicolgicos para pessoas com perturbao bipolar

    Psicoeducao

    Napsicoeducao,pretende-seensinarediscutirsobreassuntoscomootranstornobipolar,seustratamentoseformaspositivasdecomogeriradoenaedeestarbem16.

    Terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou terapia de cognio

    Estasabordagensenvolvempsicoeducaofocadanoapoiopessoa,naalteraodeseuspadresdepensamento,afimdeajud-laamudaremonitorizarseuhumoreadeterminarpequenosobjetivosparaaumentarosnveisdeatividadequandoseestdeprimido17-19.

    Terapia interpessoal de ritmo social (IPSTR)

    IPSTRapsicoeducaofocadaemajudarpessoasaregularemseuspadresdesonoesuasatividadesdiriasesociais,almdelidarcomasalteraeseperdasporvezesassociadasaotranstorno bipolar20.

    Programas de cuidados reforados

    Soprogramasde longaduraoqueenvolvempsicoeducaoe contatos frequentes comumaenfermeiracoordenadoraparaajudarapessoaamonitorizarseuhumoresuamedicao,trabalhandotodosemequipecomomdicoassistente21,22.

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    Tratamento e gesto da doena

    um grupo de apoio sem psicoeducao16. Alguns desses benefcios, especialmente aqueles relacionados depresso, podem ainda ser experienciados cinco anos aps o tratamento.

    Quando os cuidadores trabalham em conjunto com a pessoa, ajudandoa a lidar com a doena, observamse resultados positivos. Por exemplo, as pessoas com transtorno bipolar que participaram da terapia focada na famlia (FFT) encontraramse mais estveis durante mais tempo e tiveram menos recorrncias e hospitalizaes do que aquelas que no receberam esse tratamento23. A FFT tambm ajudou a melhorar o cotidiano e a reduzir a durao de episdios depressivos24. Os cuidadores que participaram de um grupo de psicoeducao para cuidadores tambm experienciaram menos angstia relacionada com a doena do que aqueles que no participaram25. Os familiares tambm se beneficiaram de uma reduo de recorrncias hipomanacas e manacas26.

    Quadro 7. Tratamentos psicolgicos que incluem famlia ou cuidadores

    Terapia focada na famlia

    AFFTincluiapessoacomperturbaobipolarepelomenosummembrodesuafamlia23,24. Trata-se de informao e discusso sobre a doena, seu tratamento, formas de geri-la,resoluodeproblemasemelhoriadacomunicaofamiliar.

    Grupo de psicoeducao para cuidadores

    Estasabordagensenvolvemgruposparacuidadoresdepessoascomtranstornobipolar26. os cuidadorespodemaprendermaissobreadoenaeseutratamento,almdeformasdeajudaraprevenirrecorrncias,delidarcomapressofamiliaredecuidardesiprprios.

    Certas pessoas com transtorno bipolar podem beneficiarse mais com certos tipos de terapias psicolgicas19,27. No entanto, geralmente os resultados das pesquisas sugerem que combinar medicao com terapias psicolgicas especializadas pode ajudar no tratamento do transtorno bipolar, e isso recomendado nos guias de orientao para o tratamento (veja o captulo 9).

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Para mais informaes, caso o cuidador ou a pessoa com transtorno bipolar estejam considerando terapia psicolgica, veja Voc est considerando tratamento psicolgico?

    Reduzir desencadeadores da doena e fazer ajustes no estilo de vida

    Desencadeadores so fatores de tenso que aumentam o risco de a pessoa desenvolver sintomas (Quadro 8). A presena de desencadeadores no implica automaticamente o aparecimento da doena. Reconhecer um desencadeador possibilita pessoa reduzir o fator de tenso ou encontrar formas de lidar com esse fator. Os desencadeadores tambm podem agravar os sintomas bipolares caso a pessoa j esteja doente.

    Para se manter bem, a pessoa pode necessitar fazer alguns ajustes em seu estilo de vida e em seus objetivos. A dimenso desse ajuste

    Quadro 8. Desencadeadores comuns dos sintomas bipolares

    Desencadeadores comuns incluem:

    Acontecimentos de vida positivos ou negativos de grande tenso: (por exemplo, o nascimentodeumbeb,umapromoo,aperdadoemprego,ofimdeumrelacionamentoouo mudar-se de casa)28.

    Ruptura de padres do sono: (porexemplo,emrazodefadigascausadasporviagemoudeeventossociais).Reduesnotempodesonopodemcontribuirparadesenvolversintomasmanacosouhipomanacos,eaumentosnotempodesonooudedescansopodem,porvezes,levarasintomasdepressivos29.

    Ruptura da rotina: Um plano estruturado (por exemplo, horas certas para deitar-se e acordar, atividadesregularesecontatossociais)podeajudaramantertantoospadresdesonoquantoosnveishabituaisdeenergia30.

    Estimulao excessiva do exterior: (por exemplo, desorganizao, trnsito, barulho, luz,multides,prazosnotrabalhoouatividadessociais)3.

    Estimulao excessiva pela prpria pessoa:(porexemplo,estimulaodemuitasatividadeseexcitaoquandoapessoatentaalcanarobjetivosdesafiantesoutomarsubstnciasexcitantescomoacafena,nocafounaCoca-Cola,ounicotina,emcigarrosouadesivosdenicotina)3,31.

    Abuso de lcool ou de drogas/substncias entorpecentes32. Interaes pessoais conflituosas e estressantes33

    Doena que no tratada ou gerida

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    Tratamento e gesto da doena

    pode diferir de pessoa para pessoa. Normalmente, demora algum tempo para a pessoa fazer essas mudanas e determinar como pode viver bem com a doena.

    Lidar com os sinais de alerta da doena

    Os sinais de alerta so alteraes no comportamento da pessoa, na forma como pensa ou sente, que so muito mais leves do que os sintomas reais e indicam que ela pode estar desenvolvendo um episdio bipolar. Muitas pessoas recebem sinais de alerta da doena. O paciente pode apresentar sinais de alerta comuns ou pode ter seus prprios sinais individuais (Quadro 9). Perceber esses sinais rapidamente pode permitir a preveno da ocorrncia de um episdio. Se a pessoa no recebe sinais de alerta, ento reconhecer e tentar gerir os sintomas o mais rpido possvel pode reduzir a gravidade e a durao do episdio.

    Quadro 9. Sinais de alerta comuns e pessoais de mania e hipomania

    Os sinais de alerta mais comuns para a mania so quando a pessoa34,35:

    Temdiminuiodosono Estmaisativaoutemmaisobjetivos(estcheiadeenergia) Estmaissocivel Estmaisirritvel Falamaisdoqueohabitual Noconsegueconcentrar-sebemoudistrai-sefacilmente Temmuitaautoconfiana,presunosaoudemasiadootimista Temhumorelevado Temfugadeideias

    Os sinais de alerta mais comuns de hipomania so quando a pessoa36,37: Temhumorelevado Estagitadaouinquieta Falamuitorapidamente Pensamaisrapidamentequeousual Dormemenosqueohabitual Estirritveleimpaciente

    (continua)

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Quadro 10. Sinais de alerta comuns e pessoais de depresso

    Os sinais de alerta de depresso mais comuns soquandoapessoa:34

    Temmenorinteresseemfazercoisasquenormalmentelhedoprazer Temmenorinteresseemestarjuntodeamigoschegados Estansiosaoumuitopreocupada Temperturbaesdosono Estchorosaetriste

    Outros sinais de alerta da depressosoquandoapessoa: Estmuitocansada Negligenciadeterminadastarefasefazmenoscoisas Temdoresfsicas Estmaisesquecida Retira-seouesquiva-sedeinteraessociais

    Mais sinais de alerta pessoais de depressosoquandoapessoa: Noquerfazertelefonemas Perdeoseusentidodegosto

    Essessinaissomuito individuaisepessoais.Podesertilnotarseapessoasecomportadeformadiferenteantesdeficardeprimida.

    Porvezes,apessoapodetermaisdificuldadesemcertasreasdofuncionamentoqueprecisamserdiferenciadasdossinaisousintomasdedepresso.Essasdificuldadesdefuncionamentonodescritaspodemtambmdificultaracapacidadedeapessoarealizarcertastarefasouafetarsuaqualidadedevida39.

    Outros sinais de alerta para hipomania ou mania registrados so quando a pessoa: Temmuitomaisideiaseplanos Comeaaparticipardeatividadesdemaiorrisco Temumaumentonoapetitesexual Bebemuitolcool Temossentidosmaisapurados (porexemplo, tudoaparentaestarmuitomaiscolorido,os

    cheiros esto mais intensos)

    Sinais de alerta pessoais para hipomania e maniaExemplosdeoutrossinaisdealertapessoaissoquandoapessoamudaacordecabelocommaiorfrequncia,usamaismaquiagemouvesteroupasmaissedutoras.Essessinaissomaisrarosepodemajudarseforpossvelperceberqueapessoasecomportadeformadiferenteenotria, antes de ficar hipomanaco ou manaco.

    importantenotarqueapessoanemsempretemconscinciaparaperceberqueessasalteraessosinaisdealertadadoena38. alguns cuidadores e pessoas com transtorno bipolar trabalham emconjuntoparareconheceremessessinais(vejaAjudar a prevenir recorrncias, reconhecendo sinais de alerta da doena ).

    (continuao)

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    Tratamento e gesto da doena

    Desenvolver um bom sistema de suporte

    Muitas pessoas com transtorno bipolar recomendam e sugerem o desenvolvimento de boas redes de apoio40, as quais podem incluir:

    Certosmembros da famlia e amigos para fazer companhia e ajudar com a doena quando necessrio. Resultados de pesquisas demonstraram que os cuidadores podem dar assistncia pessoa para reduzir recorrncias de mania e hipomania, e o apoio apropriado pode ajudar na depresso26,41.

    Pessoasconhecidas, embora mais distantes, podero ajudar em certos momentos (por exemplo, um vizinho pode levar as crianas para a escola).

    Colegasdetrabalhoescolhidosououtras pessoas que partilhem os mesmos interesses.

    Grupos de apoio de pessoas que esto na mesma situao so uma oportunidade de comunicao com pessoas que pensam da mesma forma.

    Um bom relacionamento com omdico ou a equipe mdica poder ajudar a pessoa a lidar com a doena e a tirar maior proveito do tratamento.

    Quadro 11. Sinais de alerta comuns e pessoais de episdios mistos

    Pessoasquetmepisdiosmistospodemapresentarsinaisdealertatpicosdedepressooudemania.Ossinaisdealertadeepisdiosmistossoquandoapessoa36: Estagitadaouinquieta Perdepeso Distrai-sefacilmente Sente-secansada Comeaaparticipardeatividadesdemaiorrisco Perdeointeressenascoisas Falamuitodepressa Temalteraesdosono

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  • Os cuidadores diferem na quantidade e na forma de apoio que do (por exemplo, alguns apenas ajudam quando h uma emergncia, enquanto outros ajudam a pessoa a prevenir recorrncias). A fase e a gravidade da doena iro influenciar o tipo de apoio de que a pessoa necessita, e ela poder no precisar de tanta ajuda quando se encontra bem. H muitas coisas que se pode fazer para dar apoio a uma pessoa com transtorno bipolar, mas devese determinar o que funciona em cada situao, com cada doente e cuidador (veja Qual o grau de envolvimento que dever adotar na ajuda pessoa com a doena). Seguemse as sugestes para suporte da pessoa nas diferentes fases e gravidades da doena, e o captulo 4 incide sobre as formas de ajuda para evitar que a pessoa tenha recorrncias e aproveite a vida.

    Existem diferentes tipos de suporte que podem ser fornecidos (Quadro 12).

    Apoio pessoa que se encontra doente

    captulo 3

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    Quadro 12. Diferentes tipos de apoio

    Alguns exemplos de diferentes tipos de apoio:

    Ajudaprtica(porexemplo,seapessoaprecisardecaronaparairaomdicooudeajudaparacuidar da casa caso esteja doente).

    Informaesesugestes(porexemplo,discutircomapessoasobreseusrecursosousobreinformaesarespeitodadoena).

    Companheirismo(porexemplo,conversarefazercoisasquesointeressantesedivertidaspara a pessoa).

    Apoioemocional(porexemplo,dizerpessoaqueelaimportanteequeacreditaemsuacapacidadedelidarcomadoenaedeterumaboavida).

    Apoionoverbal(porexemplo,estardisponvelparaouvir,monitorizarsintomasoufazerumgestoencorajadorpodemserformasdedarapoio).Nemsemprenecessriofalarparasedar apoio.

    Ajudar a pessoa com um episdio bipolar

    Existem formas de se comunicar com a pessoa e ajudla quando ela est tendo um tipo especfico de episdio bipolar.

    Comunicar-se calmamente

    Quando a pessoa est doente, melhor no se comunicar com ela de modo muito emocional ou com um tom de voz elevado (por exemplo, gritando ou expressando preocupao repetidamente e de forma emotiva). Tenha em mente que a pessoa est doente e tente no reagir por impulso ao que ela possa dizer ou fazer (por exemplo, se ela est irritada, tente no responder da mesma forma).

    Dar apoio no quer dizer concordar com o que a pessoa diz quando est doente. Podese aceitar que aquilo que a pessoa diz muito real para ela (por exemplo, Eu sei que est convencido a se despedir do emprego, mas eu no tenho tanta certeza de que isso seja uma boa ideia). Validar seu sentimento por detrs do que esto dizendo pode ser uma forma de dar apoio (por exemplo, Consigo ver que est cansado de seu trabalho, mas aguarde at se sentir melhor antes de tomar a deciso de se despedir).

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Ajudar a pessoa a procurar tratamento

    Podese encorajar a pessoa a contatar o mdico ou equipe mdica de sade mental, caso ela ainda no o tenha feito, alm de oferecerse para ajudla a receber tratamento. Encoraje a pessoa a definir, como objetivo primrio ficar bem. Se ela se encontrar gravemente doente ou se existir um risco relativo a seu bemestar ou ao de outras pessoas, esta necessita de assistncia urgentemente (veja Lidar com uma crise bipolar).

    Ajudar a pessoa a monitorizar a doena

    Mantenhase em contato com a pessoa e observea, ouaa e, com algum tato, descubra como ela tem passado. Dessa forma, podese ajudar a monitorizar sintomas para ver se estes esto piorando. Tambm existem mtodos mais formais que a pessoa pode utilizar para monitorizar seu humor. Para mais informaes, acesse: www.healthyplace.com/bipolar.../bipolarmood.../ menuid67/ ou http://bipolar.about.com/library/howto/htchart.htm [em ingls]. Se a pessoa precisa de ajuda, podese ajudla com essa monitorizao.

    Ajudar a pessoa se ela necessita ir para hospital

    Alguns episdios so mais graves que outros. Embora em sua maioria as pessoas possam ser tratadas em casa, por vezes portadores de transtorno bipolar precisam ser tratados no hospital.

    A hospitalizao pode ser recomendada se: apessoaestcomumacrisebipolar,emqueseencontragra

    vemente doente e com dificuldade de desempenhar suas atividades, ou quando h a possibilidade de fazer algo perigoso ou com consequncias que ponham sua vida em risco (veja Lidar com uma crise bipolar);

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    oapoioeotratamentonoestoajudandoareduzirossintomas;

    asalteraesnotratamentoimplicamumasupervisoconstante de uma equipe mdica;

    paraalmdotranstornobipolar,apessoatambmprecisade

    ajuda para tratar problemas de lcool ou de drogas; apessoatemsintomascomumefeitonegativoemsuavidae

    necessita se concentrar em sua recuperao.

    Se a pessoa tem sintomas graves e est tendo dificuldades para desempenhar suas atividades, devese encorajla a perguntar a seu mdico ou equipe mdica de sade mental se a hospitalizao a ajudaria. Em alguns pases existem instituies que oferecem ambientes calmos e controlados para pessoas que no se encontram to gravemente doentes, o que tambm pode ser uma opo a avaliar com o mdico.

    Se o mdico recomendar a hospitalizao, devese encorajar a pessoa a pedir admisso voluntria em vez de ser admitida no hospital contra a prpria vontade (internamento compulsrio). Fale com a pessoa e convenaa de que ir para o hospital uma oportunidade de ter tempo para se recuperar longe das presses.

    Em situaes extremas, a hospitalizao involuntria, ou internamento compulsrio, pode ser recomendada (veja Planos para os momentos em que a pessoa se encontra gravemente doente).

    Se a pessoa for admitida no hospital, o cuidador pode: senecessrio,providenciarinformaesparaajudarnotrata

    mento (por exemplo, informaes sobre sintomas e medicao recente);

    falarcomaequipemdicadeformaaadequarsua interao

    com o doente, para que este se sinta mais confortvel, uma vez que ele pode se encontrar mais vulnervel ao contato social;

    aproveitarotempoqueapessoapassanohospitalparadescansar.

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Apoiar a pessoa com depresso

    Existem algumas sugestes de formas de apoiar a pessoa com depresso (Quadro 13).

    Quadro 13. Dicas para apoiar a pessoa com depresso

    Seapessoaestdeprimida,possvel,almdeapoi-lanotratamento:

    Dizer-lhe que ela importante e que se preocupa com elabomexpressarpreocupaocomapessoa,masnoaopontodeela se sentir oprimidaedesamparada.

    No obrigue a pessoa a falar ou a acordar para a vidaQuandoumapessoaestdeprimida,elapodenosercapazdedizeroquesenteouqualtipodeajudaprecisa.Evitedizerpessoaquetemdeserecomporouacordarparaavida.Porvezes,simplesmenteestarpresente,semdizeroqueelatemdefazer,podeserreconfortante.

    Considere o risco de suicdioEmbora nem todas as pessoas com transtorno bipolar sejam suicidas, a depresso um momento de elevado risco de suicdio. Para mais informao sobre sinais de alerta para osuicdioeformascomooscuidadorespodemajudar,vejaAjudar a prevenir o suicdio.

    Encoraje-a a alcanar pequenos objetivosNo tente obrigar a pessoaa fazer algoqueela achemuito enervante ouquepara ela sejaexcessivo.Considereencoraj-laafazeralgomaisfcil,especialmenteseissolheproporcionarumamnimasensaodeconcretizaooudeprazer.Senecessrio,dividaatarefaempassosaindamenores(porexemplo,seestivermesmomuitodoente,convide-aprimeiroatomarsol,antesdeconvid-laadarumpasseio).

    No tente assumir o controleSeverificarqueapessoaestfazendoascoisasdemodomuitodevagar,nosesobreponhanemfaatudoporela.Seapessoaestivertodeprimidaapontodenosercapazdeconcretizarcertatarefa,considerefaz-latemporariamenteoudeleg-laaalgum.

    Encoraje uma rotina diria sempre que possvelOhumorbipolarpodequebrararotinaouospadresdesonodapessoa,eessaquebrapodeagravarohumor.Porexemplo,dormirduranteodiapodedificultaroadormecernoite,edeitare acordar em horas certas pode ajudar.Ter algo a fazer pelamanh pode ajudar a pessoadeprimidaalevantar-senahoracerta.

    Proporcione algum sentido de perspectivaAjudar a pessoa a perceber suas conquistas (independentemente de quo pequenas forem)podeterumefeitopositivoemseuhumor.Considereaindamencionareventoseexperinciaspositivascasoestesaconteam(reconheaquaisquerboasnotciasqueapessoareceba).

    Tenha em mente que aquilo que conforta uma pessoa no necessariamente o que conforta outra

    (continua)

    11779 Guia bipolar.indd 26 28/07/2011 11:56:56

  • 27

    Apoio pessoa que se encontra doente

    Porexemplo,enquantoalgumaspessoascomsintomasdedepressopensamqueirosesentirmelhor com o tempo, para outras pessoas esse pensamento pode no significar nada.

    Se a pessoa fica apreensiva excessivamente e est preocupada com um problema em particular, considere uma das seguintes opes:

    diga-lhequeosproblemasparecemsermaioresdoquesonarealidadeporcausadadoenaesugiraadiarasoluoatqueapessoasesintamelhor;

    convideapessoaafazeralgoqueadistraiadesuaspreocupaes; seapessoanoestivermuitodoente,conversecomelasobreaspossveissoluesparao

    problemaeajude-aafazeralgosimplesnosentidoderesolv-lo.

    Seja amvel, paciente e atencioso com a pessoa, mesmo que seus atos no sejam recprocos ou que aparentem no estar ajudando

    possvel sentir-se frustrado se seu apoio no aparenta estar ajudando e compreensvelsentir-se assim.A depresso pode ser persistente. No pare de dar apoio pessoa apenasporque aparentemente ela no est melhorando, apreciando ou retribuindo seus esforos.Enquantoapessoaestiverdeprimidadifcil apreciar sejaoque for.Noentanto,elapoderainda necessitar de seu apoio.

    vitaltomarcontadesiprprio(Captulo5)quandoapessoaqueapoiaestdeprimida,umavezqueoscuidadorespodemficarexaustosetambmdeprimidos.

    Paraternoodecomolidarcomsinaisdealertaousintomasiniciaisdedepresso,vejaFormas de ajudar a pessoa com sinais de alerta de depresso (Quadro 20).

    (continuao)

    Apoiar a pessoa com mania ou hipomania

    Seguemse algumas sugestes de como apoiar a pessoa que est manaca ou hipomanaca (Quadro 14).

    Quadro 14. Dicas para apoiar a pessoa que est manaca ou hipomanaca

    Seapessoaestmanacaouhipomanaca,possvel,almdeapoi-lanotratamento(vejaAjudar a pessoa com um episdio bipolar ):

    Ajudar a criar um ambiente calmoReduzirosdesencadeadoresquepodempiorarossintomaspodeajudar (porexemplo,reduzirestmulosquepiorammaniaouhipomania, comobarulho,desorganizao, cafena,encontrossociais).Seomdicoprescreveumedicaoparaajudarapessoaarelaxar,adescansarouadormirparareduzirasuamaniaouhipomania,pensesobredequeformapoderajudarapessoaaefetivamenteatingirisso.

    (continua)

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    (continuao)

    Lidar com comportamentos manacos ou hipomanacos arriscados ou inapropriados

    Se a pessoa est manaca, muito hipomanaca ou com um episdio misto, seu comportamento pode tornarse inapropriado ou arriscado (por exemplo, gasto excessivo de dinheiro, desinibio sexual, conduo de veculos perigosa). A seguir, encontramse algumas maneiras de como tentar, tanto quanto possvel, prevenir ou reduzir esse tipo de comportamento e suas consequncias.

    Tome precaues

    Converse com a pessoa, quando esta se encontrar relativamente bem, sobre precaues que poderiam ser tomadas para prevenir atividades de risco e suas respectivas consequncias (por exemplo, pea para ela lhe entregar seus cartes de crdito temporariamente para evitar gastos excessivos ou absurdos, darlhe as chaves do carro para prevenir uma conduo descuidada, imprudente e de risco, ou para ficar em

    No acredite que tem de participar dos inmeros projetos e objetivos da pessoa

    Tenha cuidado para no ser arrastado pelo humor manaco ou hipomanaco da pessoa.

    Formas de comunicao quando a pessoa est manaca ou hipomanaca

    Respondahonesta,ponderadaesucintamenteeeviteentraremlongasconversasoudiscussescomapessoa.Pessoascomhumorelevadoestovulnerveisesensveis,apesardesuaconfianaaparente,tendemaofender-sefacilmente.Seapessoacomearadiscutir,tentenoseenvolver.Considereadiaradiscusso(porexemplo,diganumtomamvel,masfirme,algocomo:Seiqueestetemaimportanteparavocetemosdediscuti-lo,masagoraestouchateadoecansado.Discutimosesseassuntoamanhdemanhquandoeuestiverpensandomelhor).Tambmpodeajudarfalarsobretemasneutros.

    Estabelea limites para determinados comportamentos

    Seocomportamentodapessoamuitoarriscadoouabusivo,podesernecessrioestabelecerlimites a seu comportamento (veja Lidar com comportamentos manacos ou hipomanacos arriscados ou inapropriados)

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    casa no caso de problemas de promiscuidade ou de comportamentos socialmente inaceitveis). Se no passado tiverem ocorrido consequncias negativas graves, tome medidas mais extremas para prevenir que estas voltem a acontecer no futuro (por exemplo, se a pessoa gastou grandes quantias de dinheiro, podese colocar algumas restries em seu acesso ao banco ou a seu dinheiro, como necessitar de duas assinaturas para valores elevados de compras ou manter contas bancrias separadas).

    Estabelea limites para o tipo de comportamento que est disposto a aceitar

    uma deciso pessoal estabelecer limites para se proteger (e proteger sua famlia) de comportamentos relacionados doena que considere inaceitveis. Tenha em mente que no pode controlar o comportamento da pessoa, mas sim a forma como lida com isso. Tenha cuidado para no aceitar abusos verbais, emocionais, fsicos ou financeiros simplesmente porque a pessoa est doente.

    Existem formas de estabelecer limites a um comportamento em particular para tentar diminuir o risco de este voltar a acontecer, como:

    Digapessoaqualocomportamentoqueopreocupaefaa

    um pedido de forma positiva para que ela tente evitar esse tipo de comportamento no futuro. Mencione os benefcios que adviro para a pessoa, para voc e para a famlia.

    Diga pessoa que o comportamentodela ultrapassouum

    limite pessoal e explique qual esse limite e quais as consequncias associadas falta de respeito por ele. Tambm pode ajudar especificar os benefcios que adviro para ambos se esse limite for respeitado. Se falar das consequncias, tem de estar disposto a mantlas e, em caso extremo, plas em ao.

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Se deixar claro pessoa quais comportamentos relacionados com a doena no so aceitveis e estabelecer limites, ela saber com o que contar e ter a opo de decidir o que quer fazer para prevenir esse tipo de comportamento no futuro. Se a pessoa se esforar para esse fim, essencial que reconhea seu esforo. Saber que ela est tentando respeitar seus limites tranquilizador.

    O que se pode fazer quando a pessoa est prestes a ter um comportamento arriscado?

    Se a pessoa que est prestes a fazer algo arriscado estiver doente, ela necessita de ajuda mdica. Alm de ajudla a procurar assistncia mdica, o que se pode fazer para prevenir esse comportamento arriscado depender do tipo de comportamento dela. Por exemplo, se a pessoa est em risco de levar a cabo projetos que podero ter consequncias negativas, tente, com tato, parar ou adiar as decises sobre esses projetos (por exemplo, Tenho de pensar mais profundamente sobre essa ideia).

    Se a pessoa se ofender por voc no concordar com suas ideias ou planos arriscados, digalhe que gosta dela e est preocupado com as possveis consequncias. Embora a agresso no seja comum, se perceber que h possibilidade de a pessoa se tornar agressiva, poder ausentarse para assegurar sua segurana (veja Se a pessoa estiver fisicamente agressiva).

    Pode haver apenas uma pequena oportunidade para convencer a pessoa a reduzir o comportamento arriscado antes de ela se tornar demasiado manaca e perder conscincia de sua doena. Se tiver essa oportunidade, considere as seguintes opes:

    Peapessoaparanoteressecomportamentoarriscadoefaledos benefcios que viro (por exemplo, se ela estiver hipomanaca: Eu preferia que ficssemos em casa em vez de ir festa, assim poderemos ter uma noite calma juntos e voc poder pr o sono em dia).

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    Estabeleaa ligaoentreohumorbipolardela e a ideiaou

    atividade arriscada. Pergunte pessoa seoque elapensa sobreumdeterminado

    projeto no est sendo demasiado otimista a ponto de no ver os riscos ou as consequncias negativas.

    Encoraje a pessoa a adiar a concretizao de uma ideia arriscada at que ela se encontre bem, definindo um objetivo especfico de bemestar (por exemplo, Que tal esperar at o mdico dizer que est com o humor estabilizado para pr essa ideia em prtica, ou at conseguir dormir a noite toda durante uma semana?).

    Recomendepessoanobeberlcooloutomaroutrasdrogas, uma vez que essas substncias aumentam o risco de agir impulsivamente.

    Embora por vezes seja possvel prevenir um comportamento arriscado, ainda pode acontecer de a pessoa adotlo e ter de lidar com as consequncias negativas (veja Lidar com as consequncias negativas de comportamentos de risco).

    Lidar com uma crise bipolar

    Uma crise bipolar inclui momentos em que a pessoa est gravemente manaca ou depressiva, incapacitada de desempenhar suas atividades ou de tomar conta de si prpria ou de outros, ou em risco de suicdio ou de outras consequncias negativas. Obter ajuda e comunicarse calmamente pode ajudar a superar uma crise bipolar.

    Obtenha ajuda

    Se pensa que a pessoa est chegando ao ponto de crise, telefone ao mdico ou equipe mdica de sade mental e contelhes suas preo cupaes (caso a pessoa no telefone). No hesite em contatar a equipe de crise

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    de sade mental ou um mdico caso ocorra uma crise. Se a pessoa precisar urgentemente ser contida para no causar dano a si mesma ou aos outros, poder ser preciso ligar para a polcia. Se estiver em perigo, tenha em vista sua prpria segurana antes de pedir ajuda mdica para a pessoa (veja Se a pessoa estiver fisicamente agressiva).

    Caso no obtenha a ajuda de que precisa desses servios de emergncia, seja persistente e contate outro mdico (por exemplo, o mdico de famlia), ou leve a pessoa a um servio de urgncia de um hospital. Por vezes, os cuidadores sentem que os servios de urgncia de sade no so capazes de os ajudar numa crise e que precisam cuidar em casa da pessoa gravemente doente. Se est tratando de uma pessoa gravemente doente em casa, assegurese de que tem o apoio necessrio (por exemplo, de mdicos, famlia, amigos e, se necessrio, de um advogado).

    Pode valer a pena descobrir linhas telefnicas de apoio em sua rea de residncia que podem dar assistncia pessoa ou a sua famlia e amigos em momentos de crise, sendo uma fonte valiosa de ajuda. Os conselheiros so habitualmente formados para ouvir e ajudar pessoas a lidar com momentos de crise e podem sugerir servios de sade apropriados. Sua lista telefnica local deve ter os nmeros de telefone das linhas de apoio de sua rea.

    Comunique-se de forma calma e clara

    Durante uma crise, fale com a pessoa clara e calmamente. No aconselhvel dar a ela demasiadas instrues. No argumente, critique ou aja de forma ameaadora. Se for apropriado, d pessoa opes de escolha, de forma a assegurla de que ela ainda detm algum tipo de controle sobre a situao (por exemplo, se est tentando dissuadila de tomar uma atitude arriscada, pode perguntarlhe: Quer dar um passeio ou prefere ver um filme?).

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    Planos para os momentos em que a pessoa se encontra gravemente doente

    Quando a pessoa se encontra relativamente bem, podese fazer planos com ela sobre o que fazer quando ela ficar gravemente doente, o que pode ajudlo a se sentir mais preparado. Podese ajudar a pessoa a ser tratada da forma que ela preferir quando estiver gravemente doente, caso isso seja planejado com a devida antecedncia. Este um tipo de diretiva preconcebida. Quando a pessoa se encontrar relativamente bem, considere conversar sobre os temas a seguir.

    Quem contatar em caso de crise

    O cuidador deve descobrir quem a pessoa prefere que seja contatado no caso de ficar gravemente doente e caso precise pedir tratamento em nome dela. Devem existir diferentes servios locais para dar assistncia pessoa numa crise (por exemplo, equipe mdica de sade mental, bombeiros). importante tambm descobrir se determinados servios de urgncia do assistncia a pessoas com transtorno bipolar quando estas se encontram muito doentes, mas no em perigo imediato de se prejudicarem ou prejudicarem outros. Caso viva num local remoto sem servios de urgncia locais, descubra onde poder encontrar ajuda caso necessite urgentemente. Se a pessoa tiver desenvolvido uma boa relao com seu mdico, este tambm poder ajudar num momento de crise.

    Quando e como agir em nome da pessoa?

    Discuta acordos de procurao, caso sejam necessrios, para que voc ou outros possam tomar decises urgentes em nome da pessoa, de forma temporria e em situaes especficas.

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Qual informao fornecer?

    Com base em sua experincia anterior, a pessoa pode preferir um tipo de tratamento a outro. Pergunte a ela quais informaes deve dar aos mdicos ou ao hospital (por exemplo, informaes sobre o histrico de sua doena e do tratamento e sobre seu plano de sade e segurana social). Assegure pessoa que reconhece a sensibilidade e confidencialidade dessas informaes.

    Para qual hospital ou centro mdico pode ir a pessoa?

    O cuidador deve conferir quais hospitais podem admitir a pessoa, uma vez que em alguns deles ela s poder ser admitida se possuir um plano de sade especfico ou se tiver sido referenciada por mdicos associados ao hospital. Em caso de existir a possibilidade de escolha, a pessoa pode preferir um determinado hospital. Assegurese de que tem os endereos e contatos para chegar ao hospital no caso de ser necessrio.

    Hospitalizao involuntria/ internamento compulsrio

    Se a pessoa j esteve gravemente doente, pode ser necessrio discutir com ela sob quais condies deve ser considerada a hospitalizao contra sua vontade (internamento compulsrio). Poder serlhe til ter uma ideia sobre os procedimentos para o internamento compulsrio, caso venha a necessitar. Confirme pessoa que as aes relativas ao internamento compulsrio so aceitveis para ela e que no iro deteriorar sua relao de longo prazo.

    Quem faz o qu?

    Se a pessoa est temporariamente incapacitada de completar certas tarefas por se encontrar muito doente, poder ser til estabelecer pre

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    viamente quem faz o que, permitindoa partilhar de algumas tarefas. A pessoa pode sentirse aliviada sabendo que existe um plano caso seja necessria a tomada de decises urgentes.

    Ajudar a prevenir o suicdio

    Nem todas as pessoas com transtorno bipolar so suicidas. No entanto, o risco de suicdio elevado nessa doena, e os cuidadores precisam levar a srio qualquer meno casual ou at ocasional de pensamentos suicidas.

    Quadro 15. Se a pessoa est suicida no momento

    Se a pessoa est suicida no momento Pea ajuda mdica:contateomdicoouaequipemdicadesademental.Seapessoase

    encontraremperigoimediatodeautoagresso,ligueparaosserviosdeurgnciaouleve-aparaoserviodeurgnciamaisprximo.

    No deixe a pessoa sozinha: se no puder estar com ela, pea a algum para lhe fazercompanhia.

    Retire quaisquer meios que a pessoa tenha para se matar (por exemplo, feche chavequaisquermedicaesearmas).

    Contate uma linha de ajuda para suicdio ou crise.

    Seapessoatemumplano de preveno de suicdio, ajude-a a segui-lo.

    Seapessoaestsuicidanomomento,possvelqueelavenhaaressentir-sedequalqueraoquetomeparapreveni-ladesematar.Noentanto,nodeixequeissooimpeadeagirparaajud-la.

    Perceber e agir perante sinais de alerta de suicdio

    Como cuidador, existem algumas coisas que voc pode fazer com os profissionais de sade e a prpria pessoa a fim de ajudla a reduzir o risco de suicdio. Seguemse algumas sugestes:

    Noevitefalarsobresuicdio,umavezqueapessoapodesentirse incapaz de discutir seus pensamentos e intenes suicidas.

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Sepensaqueapessoapodersersuicida,pergunte-lhediretamente se tem alguns pensamentos nesse sentido.

    Seapessoa temalgunspensamentos suicidas,oua-os sema

    julgar. Digalhe que ouviu realmente como se sente, recomende assistncia mdica e, se necessrio, ajudea a obtla.

    Tenhaemvistaqueapessoapoderexpressarpensamentossuicidas de modo indireto em vez de verbal.

    Aprendaareconhecerossinaisdealertadequeapessoaest

    tornandose suicida ou planejando suicidarse num futuro prximo (Quadro 16).

    Tenha noo dos fatores que aumentam o risco de suicdio

    (Quadro 17). Conversecomapessoa sobredeque formaspodeajud-laa

    ultrapassar os momentos em que ela se sente suicida. Ajudeapessoaadesenvolverumplanoparaprevenirosuicdio

    em que ambos possam confiar no caso de ela se sentir suicida. Mesmoqueapessoatenhaapenaspensamentossuicidasoca

    sionais e vagos, e no tenha fatores que aumentem o risco, continue a encorajla a falar sobre esses pensamentos com seu mdico. Mantenhase atento a esses pensamentos caso eles se tornem mais especficos, frequentes ou intensos.

    Nemsemprefcilavaliaroriscodesuicdio.Senoestconfiante na extenso do risco, ajude a pessoa a obter uma avaliao com o mdico ou o servio de sade mental.

    Notentelidarcomosuicidasozinho.Contateafamliaeos

    amigos em quem possa confiar (veja Reduzir o estresse quando ocorre uma crise bipolar).

    Existem organizaes dedicadas a prevenir o suicdio. Algumas delas dispem de apoio, informaes e, ocasionalmente, formao para os cuidadores (veja Ajudar a prevenir o suicdio).

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    Quadro 16. Exemplos de sinais de alerta de suicdio

    1. Expressa a sua inteno de se matar

    Apessoapodeameaarmatar-seoumencionarsuaintenocasualmente. Elapodeescreveroufalarsobresuicdiooumortedeumaformamaisgeral.

    2. Tem um plano para se matar: ter um plano aumenta o risco de suicdio e, nesse caso, a pessoa precisa de ajuda mdica urgentemente.

    3. Tem alteraes de humor ou de comportamento, como:

    Estcomumepisdiomistooudepressoouteveumdessesepisdiosrecentemente. Sente-sedesesperada(porexemplo,apessoanotemesperananofuturoounoencontra

    razesparaviver). Trata de todos os seus assuntos para no deixar nenhum pendente quando morrer (por

    exemplo,escreveotestamento,fazumsegurodevida,ofereceseuspertences,vendeacasa). Apatiaefaltadeinteressepelascoisasdequecostumavagostar. Isolamentodafamliaedosamigos(porexemplo,cancelaeventoseisola-se). Ansiedade,agitaoeinsnia. Maiorimprudncia,umavezquenoseimportacomoquevaiacontecernofuturo. Aumento de uso de lcool e drogas umapessoa suicida que est intoxicada temmaior

    probabilidadedeagirimpulsivamenteedetentarcometersuicdio. Raivaextrema,humorirritveloudesejosdevingana. Umamelhoriasbitadehumor.Porvezes,quandoapessoatemumplanoparasematar,o

    seu humormelhora temporariamente. Se ela tem falado de suicdio e seu humormelhorarepentinamente,pergunte-lheseaindatemaintenodesematar.

    Nota:Podeajudarestaratentoasinaisdealerta.Noentanto,porvezesapessoapode tentarsuicidar-sesemavisoprvio.Adicionalmente,ossinaisdeavisopodemsertoindividuaisquecompreensvelquepossamterpassadodespercebidos.

    Um sinal de alerta algo que uma pessoa faz ou diz que indica que ela tem intenes de se matar no futuro prximo (minutos, horas, dias, semanas). Alguns exemplos so quando a pessoa:

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    Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar

    Quadro 17. Fatores que aumentam o risco de suicdio no transtorno bipolar

    Fatores que aumentam o risco de suicdio no transtorno bipolar so quando a pessoa:

    Tevepensamentossuicidasanteriormenteoujtentousuicidar-se. Temoutrapessoadesuafamliaquemorreudesuicdio. Estcomumepisdiomistooucomdepresso,outeveumdessesepisdiosrecentemente. Temciclosrpidos(vejaPadres da doenaparamaisinformaosobreciclosrpidos). Temumplanoparasematar(porexemplo,osmeiosouomomentoparafaz-lo). Temumnmeroconsiderveldeepisdiosbipolaresoudehospitalizaes. Temsintomasentreepisdios. Temansiedadeouproblemascomlcooloudrogas,almdesuadepressobipolar. Vivesozinha.

    Nota: Emboraestessetratemdefatoresderiscocomuns,osuicdiopodeacontecermesmoqueeles no estejam presentes.

    Se ocorreu suicdio

    Se uma pessoa est determinada a suicidarse, existe apenas um limitado conjunto de coisas que podem ser feitas para evitlo. No se culpe. Ningum deve passar por isso sozinho.

    Apoiar a pessoa aps um episdio bipolar

    O que se necessita aps um episdio bipolar pode variar de pessoa para pessoa. A pessoa pode necessitar de tempo para melhorar e superar o impacto que o episdio teve em sua vida, e talvez no seja capaz de retomar imediatamente a suas atividades dirias, podendo o cuidador ter de ajustar suas expectativas para atendla.

    Se a pessoa esteve manaca, ela poder sentirse envergonhada e tentar distanciarse daqueles que souberam o que aconteceu enquanto esteve nesse estado. Por vezes ela poder nem se lembrar do que aconteceu enquanto esteve manaca.

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    Apoio pessoa que se encontra doente

    Existe um semnmero de maneiras de ajudar a pessoa aps um episdio da doena. Considere as seguintes sugestes:

    Algumasdaspossveisnecessidadesdapessoaenquantoestiver

    em recuperao so descanso, rotina, amor, amizade, ter algo para fazer e ter expectativa em algo.

    Seapessoativersintomasouestivercomdificuldadesparalidar com a situao, perguntelhe como pode ajudla.

    Operodoapsumepisdiodadoena(especialmenteaps

    um episdio de depresso) pode ser um momento de alto risco para o suicdio. preciso estar alerta para os sinais de que a pessoa se encontra suicida (veja Ajudar a prevenir o suicdio).

    Quandopossvel,foque-senoscomportamentospositivosede

    bemestar, em vez de na perturbao e no comportamento problemtico (por exemplo, converse com a pessoa sobre o que ela est fazendo para se manter bem, em vez de falar sobre o que aconteceu enquanto ela se encontrava doente).

    Faaascoisascomapessoaemvezdeparaela,umavezqueisso

    poder ajudar a reconstruir sua autoconfiana. Encoraje apessoa ano tentar fazer tudoaomesmo tempo.

    Inicialmente, pode ser mais fcil para ela dar prioridade a tarefas bsicas e fazer atividades menos estressantes.

    Deixeapessoaserecuperaremseuritmo,masencoraje-aativamente ou convidea a fazer coisas, no caso de ela estar sentindo dificuldade em retomar a vida novamente.

    Seapessoasentirdificuldadeeminiciartarefas,encoraje-aa

    determinar pequenos objetivos que sejam facilmente geridos. Ofereaseuapoionocasodeapessoaestarcomdificuldades

    de concentrao ou de recordarse (por exemplo, ajudea a lembrarse de seus compromissos, apontandoos num bloco).

    Tenteestardispo