Grupo II - O Livro Do Ega

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Ficha de Trabalho Português Prof.ª Paula Marçal 1 5 1 0 1 5 2 0 2 5 O livro do Ega! Fora em Coimbra, nos dois últimos anos, que ele começara a falar do seu livro, contando o plano, soltando títulos de capítulos, citando pelos cafés frases de grande sonoridade. E entre os amigos do Ega discutia-se já o livro do Ega como devendo iniciar, pela forma e pela ideia, uma evolução literária. Em Lisboa (onde ele vinha passar as férias e dava ceias no Silva) o livro fora anunciado como um acontecimento. Bacharéis, contemporâneos ou seus condiscípulos, tinham levado de Coimbra, espalhado pelas províncias e pelas ilhas, a fama do livro do Ega. Já de qualquer modo essa notícia chegara ao Brasil. E sentindo esta ansiosa expectativa em torno do seu livro — o Ega decidira-se enfim a escrevê-lo. Devia ser uma epopeia em prosa, como ele dizia, dando, sob episódios simbólicos, a história das grandes fases do Universo e da Humanidade. Intitulava-se Memórias de Um Átomo, e tinha a forma de uma autobiografia. Este átomo (o átomo do Ega, como se lhe chamava a sério em Coimbra) aparecia no primeiro capítulo, rolando ainda no vago das nebulosas primitivas: depois vinha embrulhado, faísca candente, planta que surgiu da crosta ainda mole do globo. Desde então, viajando nas incessantes transformações da substância, o átomo do Ega entrava na rude estrutura do Orango, pai da Humanidade — e mais tarde vivia nos lábios de Platão. Negrejava no burel dos santos, refulgia na espada dos heróis, palpitava no coração dos poetas. Gota de água nos lagos de Galileia, ouvira o falar de Jesus, aos fins da tarde, quando os apóstolos recolhiam as redes; nó de madeira na tribuna da Convenção, sentira o frio da mão de Robespierre. Errara nos vastos anéis de Saturno; e as madrugadas da Terra tinham-no orvalhado, pétala resplandecente de um dormente e lânguido lírio. Fora omnipresente, era omnisciente. Achando-se finalmente no bico da pena do Ega, e cansado desta jornada através do Ser, repousava — escrevendo as suas Memórias... Tal era este formidável trabalho — de que os admiradores do Ega,

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Ficha de TrabalhoPortugusProf. Paula Maral

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O livro do Ega! Fora em Coimbra, nos dois ltimos anos, que ele comeara a falar do seu livro, contando o plano, soltando ttulos de captulos, citando pelos cafs frases de grande sonoridade. E entre os amigos do Ega discutia-se j o livro do Ega como devendo iniciar, pela forma e pela ideia, uma evoluo literria. Em Lisboa (onde ele vinha passar as frias e dava ceias no Silva) o livro fora anunciado como um acontecimento. Bacharis, contemporneos ou seus condiscpulos, tinham levado de Coimbra, espalhado pelas provncias e pelas ilhas, a fama do livro do Ega. J de qualquer modo essa notcia chegara ao Brasil. E sentindo esta ansiosa expectativa em torno do seu livro o Ega decidira-se enfim a escrev-lo. Devia ser uma epopeia em prosa, como ele dizia, dando, sob episdios simblicos, a histria das grandes fases do Universo e da Humanidade. Intitulava-se Memrias de Um tomo, e tinha a forma de uma autobiografia. Este tomo (o tomo do Ega, como se lhe chamava a srio em Coimbra) aparecia no primeiro captulo, rolando ainda no vago das nebulosas primitivas: depois vinha embrulhado, fasca candente, planta que surgiu da crosta ainda mole do globo. Desde ento, viajando nas incessantes transformaes da substncia, o tomo do Ega entrava na rude estrutura do Orango, pai da Humanidade e mais tarde vivia nos lbios de Plato. Negrejava no burel dos santos, refulgia na espada dos heris, palpitava no corao dos poetas. Gota de gua nos lagos de Galileia, ouvira o falar de Jesus, aos fins da tarde, quando os apstolos recolhiam as redes; n de madeira na tribuna da Conveno, sentira o frio da mo de Robespierre. Errara nos vastos anis de Saturno; e as madrugadas da Terra tinham-no orvalhado, ptala resplandecente de um dormente e lnguido lrio. Fora omnipresente, era omnisciente. Achando-se finalmente no bico da pena do Ega, e cansado desta jornada atravs do Ser, repousava escrevendo as suas Memrias... Tal era este formidvel trabalho de que os admiradores do Ega, em Coimbra, diziam, pensativos e como esmagados de respeito: - uma Bblia!Os Maias, Ea de Queirs

1. Seleciona a alnea correta.

1.1. Identifica a funo sinttica de pelos cafs (ll. 2-3)a) complemento direto b) complemento agente da passivac) complemento oblquo d) modificador do grupo verbal

1.2. O sujeito do predicado discutia-se j o livro do Ega (ll. 3-4) a) sujeito simplesb) sujeito nulo indeterminado

c) sujeito compostod) sujeito nulo subentendido

1.3. A utilizao da palavra ele em ele vinha passar as frias (l. 5) contribui para a coesoa) frsicab) lexicalc) referenciald) interfrsica

1.4. Indica o processo de formao da palavra omnipresente (l. 25)a) composio morfossintticab) composio morfolgica

c) amlgamad) extenso semntica

1.5. A palavra falar (l. 21) formada pora) derivao por conversob) truncao

c) amlgama d) derivao no afixal

1.6. Identifica a modalidade em Tal era este formidvel trabalho (l. 27): a) epistmica com valor de certezab) apreciativa

c) dentica de permissod) epistmica com valor de probabilidade

1.7. Classifica o orao que ele comeara a falar do seu livro, contando o plano (ll. 1-2)a) subordinada adjetiva relativa restritiva b) subordinada substantiva completiva

c) subordinada adjetiva relativa explicativad) subordinada adverbial consecutiva

1.8. O recurso estilstico presente em Gota de gua nos lagos de Galileia (l. 20) a) um paradoxob) um eufemismo

c) uma metforad) uma metonmia

1.9. Indica o tempo e modo de tinham levado (l. 7):a) pretrito imperfeito do indicativob) pretrito mais que perfeito composto do conjuntivo

c) pretrito perfeito composto do indicativod) pretrito mais que perfeito composto do indicativo

1.10. Identifica a funo sinttica de pai da Humanidade (l. 18):a) vocativob) sujeito simples

c) complemento do nomed) modificador do nome apositivo

2. Responde s questes:

2.1. Indica a classe e subclasse do vocbulo quando (l. 21).

2.2. Classifica a orao onde ele vinha passar as frias(l. 5).

2.3. Refere a funo sinttica de de uma autobiografia (l. 13)

2.4. Indica o processo de formao da palavra autobiografia (l. 13)

2.5. Indica a classe do vocbulo Tal (l. 27).

2.6. Refere a funo sinttica de este formidvel trabalho (l. 27)