GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou...

164
GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA Carlos Alexandre Sá Todos Direitos Autorais Reservados - Catho Online - Carlos Alexandre Sá Material de Apoio do Curso Online Gerência Financeira na Prática

Transcript of GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou...

Page 1: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICACarlos Alexandre Sá

Todos Direitos Autorais Reservados - Catho Online - Carlos Alexandre SáMaterial de Apoio do Curso Online Gerência Financeira na Prática

Page 2: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

APRESENTAÇÃO DO CURSO

Neste curso você conhecerá os principais conceitos que regem a área financeira e verá um panorama geral para entender o funcionamento dos diversos setores que compõem o departamento financeiro.

Importantes mudanças de ordem tanto conjuntural e quanto estrutural têm provocado profundas altera-ções nas prioridades, na estrutura e nos processos do Departamento Financeiro.

A reengenharia dos serviços financeiros, a informatização interna das empresas e a crescente informa-tização externa dos bancos estão forçando a revisão da estrutura e dos métodos de trabalho da Tesoura-ria.

Por outro lado, a moderna Tesouraria está deixando de ser um departamento que apenas liquida com-promissos para estar cada vez mais comprometida com o planejamento financeiro.

Após discorrer sobre o impacto das novas tecnologias na estrutura e nos processos do Departamento Financeiro, este curso dá uma visão do ambiente em que são concebidas e desenvolvidas estas opera-ções, mostrando como atua o Banco Central e como se formam as taxas de juros.

Você aprenderá também como analisar cada uma das principais operações de captação e de aplicação financeira, inclusive em seus aspectos tributários, o fluxo de caixa projetado de curto prazo e o planeja-mento financeiro.

Poderá testar no Excel, de forma muito divertida, várias hipóteses de planos financeiros em uma em-presa fictícia e comparar os resultados obtidos de forma a optar pela melhor solução.

Ao final, você verá a importância de se ter um bom sistema de aprovação e liquidação de compromis-sos, as novidades que existem nesta área e como determinar o limite de crédito para clientes de forma a aumentar as vendas de forma segura.

Aproveite essa experiência o máximo possível. Certamente será importante para o seu desenvolvimen-to profissional.

Este curso conta com a ferramenta Glossário. No final dessa apostila, você encontrará uma lista de todos os termos sobrescritos pela letra “G” no decorrer do curso. Quando você encontrar um termo exem-ploG, significa que esse termo se encontra no glossário.

Neste curso você terá a oportunidade de:

Entender as transformações pelas quais a área financeira está passando.

Conhecer a estrutura e principais atividades do departamento financeiro.

Conhecer quais são as operações de financiamento de capital de giro e suas características.

Conhecer quais são as aplicações disponíveis do mercado e suas características.

Entender como projetar as entradas e saídas da empresa por meio do fluxo de caixa.

Aprender a fazer o planejamento financeiro.

Compreender o funcionamento do setor de Contas a Pagar, os documentos utilizados e os procedimentos corretos para liquidar compromissos.

Conhecer o setor de Crédito e Cobrança. Verá dois métodos para determinar crédito de clien-tes, além de procedimentos de cobrança.

Parabéns por sua escolha!

Page 3: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

SOBRE O AUTOR

Este curso foi desenvolvido por Carlos Alexandre Sá.

Mestre em Finanças e Economia Empresarial na Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas.

Pós-graduado em Administração Industrial na Universidade da Holanda.

Especializado na Societé Sateco, em Paris, e no Conder Group, em Winchester, na Inglater-ra.

Graduado em Engenharia Civil pela PUC-RJ.

Graduado em Administração de Empresas na antiga Universidade do Estado da Guanabara.

Foi diretor financeiro e diretor superintendente de empresas nacionais e multinacionais.

Atualmente é professor convidado da Fundação Getúlio Vargas e palestrante do IBEF-Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro e do IDEMP – Instituto de Desenvolvimento Empresarial.

É sócio da Cash Flow Solutions, empresa de consultoria na área de tesouraria.

Page 4: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

MENSAGEM DO AUTOR

Caros amigos,

Bem-vindos ao fascinante mundo das finanças!

Nos negócios, o sucesso é medido em dinheiro. Administrá-lo bem é ao mesmo tempo uma arte e uma ciência. Foi pensando nisso que montamos este curso, que apresenta os conceitos fundamentais da ges-tão financeira, dando a você, um enfoque eminentemente prático. Aprender fazendo é a nossa filosofia.

Ao longo deste curso você vai aprender técnicas de aplicação imediata no seu dia-a-dia. A partir do pri-meiro módulo você já vai sentir que seus horizontes vão se abrir. Provavelmente você vai adquirir conhe-cimentos que nem suspeitava que existissem. Isso tudo com uma linguagem simples e acessível, mesmo quando formos obrigados a navegar por assuntos aparentemente complexos.

Ao final do curso você vai se sentir muito mais à vontade ao negociar com os bancos, muito mais se-guro ao negociar com seus clientes e fornecedores e vai transmitir autoridade quando dialogar com seus superiores hierárquicos. Este é um curso que, com certeza, vai ajudá-lo a pavimentar o caminho que o levará ao topo do sucesso profissional.

Espero encontrá-lo em breve.

Até lá!

Page 5: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

5

SUMÁRIO

Módulo 1 - A Administração Financeira

1.1 - As transformações da Área Financeira ........................................................................ 8

1.2 - A estrutura do Departamento Financeiro .................................................................... 11

1.3 - A Gerência Financeira ................................................................................................. 14

1.4 - Fluxo de Caixa ............................................................................................................ 17

1.5 - Relacionamento Bancário ........................................................................................... 25

1.6 - Sistema de Informações Gerenciais ........................................................................... 34

Módulo 2 - Operações de financiamento do capital de giro

2.1 - Formação das taxas de juros ...................................................................................... 39

2.2 - Operações pré-fixadas e pós-fixadas ......................................................................... 42

2.3 - Principais operações de financiamento do capital de giro .......................................... 44

Módulo 3 - Aplicações Financeiras

3.1 - Risco e Retorno .......................................................................................................... 63

3.2 - Informações gerais ..................................................................................................... 68

3.3 - Aplicações Financeiras de Curto Prazo ...................................................................... 70

Módulo 4 - Fluxo de Caixa Projetado

4.1 - Introdução ................................................................................................................... 89

4.2 - Compromissos e previsões ......................................................................................... 92

4.3 - Projetando as entradas de curto prazo ...................................................................... 96

4.4 - Projetando as saídas de curto prazo .......................................................................... 99

4.5 - O Planejamento Financeiro .........................................................................................101

Page 6: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

6

Módulo 5 - O contas a pagar

5.1 - O contas a pagar e seus documentos ........................................................................109

5.2 - O fundo fixo de caixa ..................................................................................................114

5.3 - A aprovação de pagamento ........................................................................................116

5.4 - Os juros e as multas de mora .....................................................................................120

5.5 - A liquidação de compromissos ...................................................................................121

5.6 - Práticas de Contas a Pagar ........................................................................................124

5.7 - Irregularidades ............................................................................................................125

5.8 – Os relatórios de controle de pagamentos ..................................................................127

Módulo 6 - Crédito e Cobrança

6.1 – O crédito e cobrança ..................................................................................................131

6.2 – Limite de crédito - método Caso a Caso ....................................................................132

6.3 – Limite de crédito - método Contábil ...........................................................................141

6.4 – A Cobrança ................................................................................................................151

Glossário ............................................................................................................................159

Referências Bibliográficas ...............................................................................................162

Page 7: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

7

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

MÓDULO 1

A ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Neste módulo iremos falar sobre a Administração Financeira. Veremos as mudanças pelas quais a área está passando, a estrutura do departamento financeiro e as principais ativida-des que estão sob sua responsabilidade. Falaremos ainda sobre relacionamento bancário, um assunto de extrema relevância para o gerente financeiro. Isso tudo nos dará a base necessária para a compreensão dos módulos seguintes, que aprofundarão os assuntos.

A história que veremos no módulo será a da gravadora Ritmo & Hits, uma empresa em cres-cimento cuja área financeira passou por grandes mudanças nos últimos anos. Ela irá ilustrar alguns dos conceitos vistos no módulo.

1.1 – As transformações da Área Financeira

1.2 – A estrutura do Departamento Financeiro

1.3 – A Gerência Financeira

1.4 – Fluxo de Caixa

1.5 – Relacionamento Bancário

1.6 – Sistema de Informações Gerenciais

Page 8: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

8

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

MÓDULO 1A ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

1.1 - AS TRANSFORMAÇÕES DA ÁREA FINANCEIRA

O Sr. Fonseca é o diretor financeiro da Ritmo & Hits, uma gravadora de música brasileira.

Ele começou a trabalhar na empresa em 1992, como gerente de tesouraria, e nessa época a área financeira vivia uma situação bem diferente da atual. Veremos qual era o cenário e como ele foi modificado.

A inflação chegava a 2% ao dia, ou seja, mais de 80% ao mês e quase 1.250% ao ano. Existiam aplicações financeiras por um dia que rendiam mais de 2,5% ao dia! Era a chamada “ciranda financeira”.

O Sr. Fonseca ficava muito atento às aplicações. Deixar o dinheiro parado em conta corrente seria imperdoável – a empresa certamente perderia muito dinheiro, o que poderia custar seu emprego. Toda gestão financeira era, então, centrada na gestão do caixa.

Depois de 1994 a situação mudou. Com o Plano Real, as taxas de inflação foram drasticamente reduzidas. Além disso, as aplicações de curtíssimo prazo passaram a ser fortemente tributadas pelo IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A saída da conta corrente passou a pagar 0,38% de CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Essas medidas, so-madas, liquidaram a ciranda financeira.

Atualmente, como veremos mais adiante neste curso, uma aplicação financeira com prazo inferior a um certo número de dias não compensa, pois os tributos devidos são superiores ao rendimen-to obtido. Assim, a gestão financeira se deslocou da gestão do caixa para a gestão do fluxo de caixa.

O Sr. Fonseca precisou se adaptar às suas novas atribuições. De um dia para o outro seu cargo tinha outro foco e foi preciso flexibilidade, disposição e competência para manter seu cargo.

As mudanças não pararam por aí. Em 1992, quando o Sr. Fonseca começou a trabalhar na gravadora Ritmo & Hits, a empresa era pequena, estava começando seus negócios. Como era desejado, ela cresceu e tornou-se uma das principais gravadoras do país.

A empresa passou a receber mil pedidos por dia. Isso significa mil aprovações de crédito, mil lançamentos nas estatísticas de vendas, mil consultas ao almoxarifado para ver se há mercado-ria no estoque, mil notas fiscais para emitir e outras tantas contratações de frete, despachos de mercadoria e assim por diante.

A Ritmo & Hits tornou-se uma empresa “intensiva de transações”. Isso significa que o número de informações a processar é muito grande. Essa situação vem acontecendo com um grande número de empresas.

Conforme os números de transações foram aumentando, houve um problema no departamento financeiro da empresa do Sr. Fonseca. Com a estrutura existente, não havia condições de pro-cessar os pedidos que aumentavam a cada dia. E a área financeira já estava inchada. Só sob o a gerência do Sr. Fonseca havia vinte funcionários.

Page 9: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

9

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Uma situação plenamente favorável para a empresa se tornou em problema! Quantos funcio-nários precisariam ser contratados para não frear as vendas, para não fazer do departamento financeiro um gargalo que atrapalhasse o crescimento da empresa toda?

O Sr. Fonseca encontrou a solução, o que lhe rendeu o cargo de diretor financeiro da gravadora. Essa solução incluía diversas mudanças e reformulações nos processos da área, e sobre isso vamos falar durante todo o curso. Uma dessas mudanças foi a informatização.

Com o avanço da informática, as empresas passaram a usar o computador para controlar seus processos.

No início, como foi implementado na Ritmo & Hits seguindo a proposta do Sr. Fonseca, por exem-plo, os pedidos eram apenas controlados no computador, assim como os estoques, pagamentos etc. Mas ainda não era possível a integração de processos. Os dados gerados por um sistema tinham que ser redigitados ou exportados para os demais programas que dependessem deles.

Houve, então, uma segunda etapa. A informatização passou a integrar os diversos sistemas, eli-minando o problema citado de redigitação ou exportação de dados por troca de arquivos.

Isso possibilitou a automação de processos rotineiros. Várias rotinas que demandavam muito tempo e trabalho passaram a ser executadas pelo computador. Alguns exemplos são a emissão de relatórios, de notas fiscais e cheques e a conciliação bancária, entre outros.

Enfim, houve a integração de parceiros. A troca de informações eletrônicas – e não mais de do-cumentos físicos – permite que as empresas, clientes, fornecedores e bancos troquem arquivos eletrônicos. Os computadores dos parceiros “conversam” entre si e só há interferência humana quando surge algum problema. É a gestão feita por exceção.

Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras.

Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas mudanças nas rotinas financeiras.

A gravadora Ritmo & Hits passou por todas as transformações. A primeira com a informatização, ainda não integrada. Com isso, o trabalho ficou mais simples, mas os sistemas ainda não eram tão eficazes. Depois, com a integração do sistema financeiro com as outras áreas, o trabalho operacional foi reduzido. Os computadores davam conta dele. A equipe do Sr. Fonseca encolheu. Dos vinte funcionários que havia anteriormente sob a responsabilidade do Sr. Fonseca, apenas nove foram mantidos. O resto pôde ser remanejado para outras áreas que também cresciam junto com a empresa.

E isso não significou perda de dinheiro. Pelo contrário: os pedidos cresceram até chegar aos mil men-sais da atualidade.

O Sr. Fonseca não perdeu poder por ter menos subordinados. Pelo contrário: uma boa parte de sua promoção deveu-se à sua proposta de informatização.

Agora vamos analisar as transformações descritas anteriormente que a história do Sr. Fonseca ajudou a ilustrar. Vimos que os fatores de mudança – fenômenos – foram o fim da “ciranda financeira”, o aumento do número de empresas intensivas de transações e o avanço da informática. Alguns desses fenômenos são conjunturais e outros estruturais.

O fim da “ciranda financeira” é um fenômeno conjuntural. Se a inflação disparar, o fenômeno pode vol-tar. O fantasma do dragão continua presente. Já o advento da informática e o número cada vez maior de empresas intensivas de transações são estruturais. Têm natureza permanente, ou seja, vieram para ficar.

Como vimos, o aumento exponencial do número de informações a processar e a substituição da troca de documentos pela troca de informações eletrônicas são estruturais, isto é, irreversíveis.

Surge, então, um questionamento importante: como isso afeta as empresas que ainda não são (e que talvez nunca venham a ser) intensivas de transações?

Page 10: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

10

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Mesmo as empresas que nunca venham a ser intensivas de transações são afetadas de duas manei-ras. Primeiro, o fato de uma empresa não ser intensiva de transações não quer dizer que ela não venha a transacionar com empresas que sejam intensivas de transações. Se, ou quando isso acontecer, as em-presas com as quais ela vai transacionar vão impor estes novos procedimentos como condição para que venham a fazer negócios.

Por outro lado, se é verdade que nas empresas que não são intensivas de transações os novos proce-dimentos podem não ser uma imposição de ordem operacional (mas sim uma opção), também é verdade que estes novos procedimentos podem trazer economias operacionais significativas e, por isso, devem ser perseguidos.

Para se ter uma idéia do que isso significa, recentemente, em um seminário sobre Gestão de Tesou-raria, foi apresentado um caso de uma empresa que realizava, em média, cerca de 200.000 pagamentos por mês e possuía apenas três funcionários na tesouraria!

Antes de finalizar este tópico, é interessante observar o papel fundamental desempenhado pelos ban-cos no processo de informatização e modernização dos procedimentos financeiros.

Os bancos têm investido maciçamente em informatização porque são grupos enormes e possuem re-cursos. Por isso, eles têm sido os grandes agentes de modernização dos serviços financeiros.

Vários procedimentos tiveram origem no relacionamento das empresas com seus bancos, foram testa-dos nos departamentos financeiros e depois adotados por outras áreas.

Exemplo

Um exemplo é a cobrança bancária. Há quantos anos as empresa terceirizam suas cobranças para os bancos? Quando isso começou a ser feito, o termo “terceirização” nem existia. Como funcionou bem, a terceirização passou a ser usada em vários serviços que não representam a ati-vidade fim da empresa. A mesma coisa aconteceu com a troca de informações eletrônicas. Este movimento foi iniciado pelos bancos em seu relacionamento com seus clientes. Como funcionou bem, foi estendido para o relacionamento da empresa com seus clientes e fornecedores.

Page 11: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

11

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

1.2 - A ESTRUTURA DO DEPARTAMENTO FINANCEIRO

Conheça os funcionários do departamento financeiro da gravadora Ritmo & Hits. O Sr. Fonseca é o di-retor financeiro. Além dele, há mais oito funcionários, cada um responsável por um setor do departamento. Todos têm funções de extrema relevância dentro da empresa.

Rodolfo Fonseca, diretor financeiroÉ o responsável pela área estratégica de seu departamento e delega as atividades operacionais a seus gerentes. Além da supervisão do departamento, é de sua competência o estabelecimento das diversas políticas, como a política de concessão de crédito, de relacionamento bancário, de captação de recursos e de aplicação dos excessos de caixa. Como a gravadora Ritmo & Hits é uma empresa de capital aberto, é o responsável pelo relacionamento com o mercado. É ainda ele quem monitora e acompanha os programas estratégicos e os projetos especiais da área financeira.

Logo abaixo da Diretoria há a divisão em duas Gerências: a Gerência de Financeira (também chamada de Tesouraria) e a Gerência de Controladoria.

Miriam Alves, gerente de tesourariaÉ, em última análise, a responsável pelo planejamento financeiro e pelo gerenciamento do fluxo de caixa, de forma a garantir a otimização de seus recursos. Além da supervisão geral do setor, é ela quem coordena, dia a dia, o contato com os bancos, as operações de empréstimo e de aplicação, as operações envolvendo moeda estrangeira e as operações de proteção (hedge) com derivativosG.

A Tesouraria (ou Gerência de Financeira) se subdivide nos setores de Contas a Pagar, Crédito e Cobrança e Caixa.

Guilherme Andrade, contas a pagarSua principal responsabilidade é acompanhar e controlar as dívidas. É ele quem atesta a legiti-midade dos documentos a pagar, garantindo que representam produtos ou serviços efetivamente fornecidos dentro das condições acordadas, e prepara os processos de pagamento antes de encaminhá-los para liquidação.

Fábio Peixoto, crédito e cobrançaSua principal função é administrar os recebíveis. É ele quem decide os limites de crédito a serem concedidos aos clientes, controla as cobranças e serve de interface com os responsáveis pelo contencioso.

Rodrigo Silva, caixaÉ responsável pela gestão operacional do caixa e da contas bancárias. É ele quem emite os ins-trumentos de liquidação, faz a conciliação bancária, controla as aplicações financeiras e organiza a documentação que será enviada para a Contabilidade após a liquidação do compromisso.

Cristiano Ferraz, gerente de controladoriaÉ o responsável pelo acompanhamento e controle da situação patrimonial da empresa. Normal-mente é ele quem, além de supervisionar sua área, mantém-se atualizado em relação à legis-lação em vigor, prepara, analisa e interpreta para a diretoria os relatórios financeiros, serve de interface da empresa com sua assessoria jurídica, seus auditores e as autoridades tributárias.

Esta gerência se subdivide nos setores de Contabilidade, Orçamento e Custos.

Ana Paula Barbosa, contabilidade

Page 12: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

12

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

É a responsável pelo registro, em livros próprios, dos fatos contábeis da empresa e pela emissão de relatórios que expressem com fidelidade sua situação patrimonial. Classifica os documentos dentro do plano de contas contábil, controla as diversas contas correntes, inclusive as contas não bancárias (c/c de sócios, vendedores, entre empresas do mesmo grupo, etc.), controla con-tabilmente o imobilizado e o patrimônio líquido, procede às análises de contas quando isso se faz necessário e gerencia os tributos diretos e indiretos em todos os seus aspectos.

Adriano de Souza, orçamentoÉ o responsável pela preparação, acompanhamento e controle dos diversos orçamentos da em-presa - orçamento de receita e de despesa, de caixa e de capital (ou de investimentos). É ele quem recolhe, dos diversos setores, dados que lhe permitam elaborar os orçamentos e posterior-mente acompanha os desvios entre o orçado e o realizado.

Tânia Figueira, custosÉ a responsável pela elaboração dos custos padrãoG e pelo acompanhamento entre o orçado e o realizado. É baseada em suas informações que a Contabilidade controla a conta “Estoque de Produtos em Elaboração” e “Estoques de Produtos Acabados”.

Você conheceu os principais funcionários do Departamento Financeiro da gravadora Ritmo & Hits. Ao mesmo tempo, observou a estrutura tradicional de um departamento desta área. Na verdade, essa estru-tura é esquemática, ou seja, os departamentos financeiros podem ter inúmeras variantes deste modelo. Podemos encontrar a seção de crédito e cobrança na área comercial, o setor de contas a pagar na conta-bilidade e assim por diante.

Veja o organograma tradicional do departamento financeiro:

Claro que, dependendo do tamanho da empresa, muitos setores poderão ser fundidos em um ou, ao contrário, ser expandidos em mais de uma seção.

É comum, em empresas de médio ou pequeno porte, o contador acumular as funções do controller e o gerente financeiro realizar as atividades do contas a pagar, por exemplo. Já nas grandes corporações, as responsabilidades de um setor são decompostas em suas múltiplas funções e novos departamentos são criados para se ocupar delas. Podemos, então, ter uma Diretoria de Planejamento para cuidar do orça-mento ou uma Diretoria de Tesouraria para administrar os recursos financeiros.

Vimos que a área financeira é claramente dividida em duas partes: a Gerência Financeira e a Contro-ladoria. Agora veja um comparativo em relação à natureza dos serviços desenvolvidos por estas duas áreas.

A Controladoria está preocupada com os direitos adquiridos e as obrigações assumidas pela empresa independentemente de terem gerado saídas ou entradas de caixa.

A Gerência Financeira está interessada exclusivamente nas entradas e nas saídas de caixa.

A Controladoria analisa a empresa pelo prisma do regime de competência.

Page 13: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

13

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

A Gerência Financeira vê a empresa pela lente do regime de caixa.

A Controladoria acompanha a evolução do Patrimônio Líquido.

Gerencia Financeira acompanha a evolução do saldo do Disponível.

O principal instrumento de trabalho da Controladoria é o balanço patrimonial.

O principal instrumento de trabalho da Gerência Financeira é o fluxo de caixa.

Nós, neste curso, estamos preocupados exclusivamente com a Gerência Financeira.

Page 14: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

14

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

1.3 - A GERÊNCIA FINANCEIRA

Antigamente era comum ver Gerências Financeiras que controlavam muito e não gerenciavam nada.

Atualmente, a moderna Gerência Financeira é uma grande gestora da liquidezG cujas funções são ge-renciar, negociar e monitorar a dívida, os recebíveisG e o disponível da empresa. Para desempenhar estas funções, a nova Gerência Financeira apoia-se no seguinte tripé:

Sistema de gerenciamento do fluxo de caixa eficiente, que lhe garanta que:

a empresa não possui recursos ociosos ou subutilizados;

não vão faltar recursos para a empresa liquidar seus compromissos;

a parcela do lucro que não consegue virar caixa seja a mínima possível nas circunstâncias da empresa;

a alta direção da empresa será alertada para todas as circunstâncias que possam fragilizar sua estrutura de capital de giro.

Relacionamento bancário adequado, que lhe garanta que está:

trabalhando com um número adequado de bancos que não seja nem tão grande que aumente muito seus custos operacionais, nem tão pequeno que aumente muito seus riscos;

se relacionando com os bancos certos em termos de serviços oferecidos, taxas, tarifas e qua-lidade de serviços prestados;

tirando o melhor proveito das facilidades disponibilizadas pelos bancos com os quais trabalha.

Bom sistema integrado de informações gerenciais, que lhe permita:

gerenciar a dívida da empresa;

monitorar a forma como estão sendo gerenciados os recebíveis da empresa;

acompanhar, analisar e interpretar o fluxo de caixa da empresa;

Integrar o sistema corporativo ao o sistema bancário.

Além de ter as características vistas na página anterior, a Gerência Financeira deve ser eficiente, ágil e segura. Veja mais sobre isso abaixo.

Page 15: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

15

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Eficiente

Há tarefas que agregam muito valor e pouco custo e outras que agregam muito custo e pouco valor. As primeiras são aquelas que exigem qualificação profissional para serem executadas. A negociação de um contrato de empréstimo, por exemplo, é uma tarefa que agrega muito valor e pouco custo já que exige um profissional qualificado para realizá-la.

Já as tarefas que agregam muito custo e pouco valor são aquelas que não exigem qualificação profis-sional para serem realizadas. A conciliação bancária, por exemplo, enquadra-se nesta categoria porque não exige um profissional altamente qualificado para fazê-la.

Não se está dizendo que as tarefas que agregam pouco valor e muito custo sejam desnecessárias e que, por isso, não precisam ser realizadas. Quem, em sã consciência, poderia dizer que a conciliação bancária é uma atividade supérflua e desnecessária? O que se está dizendo é que essas tarefas não de-vem ser realizadas por funcionários altamente qualificados e, por isso, caros. A nova Gerência Financeira deve concentrar seus esforços no desempenho de tarefas que agreguem valor à empresa, automatizando, descentralizando ou terceirizando aquelas que só agregam custo.

Ágil

A arquitetura da nova Gerência Financeira deve propiciar um ágil processo de tomada de decisões. Uma das formas de se obter rapidez nas decisões é facilitar a circulação da informação. As duas principais estratégias para isso são:

reduzir a distância entre o ponto em que surge o problema e o local onde ele será resolvido (descentralização);

fazer a informação circular em vez do documento (informação partilhada). Este ponto será tratado em detalhes ainda neste módulo, mais adiante, quando falarmos da troca eletrônica de informações.

Segura

A Gerência Financeira lida com a mais volátil de todas as mercadorias – o dinheiro. Para conciliar o objetivo de agilizar o processo decisório com a necessidade de segurança, a estrutura da Gerência Finan-ceira deve possuir um azeitado sistema de dispositivos de segurança que detectem rapidamente tanto o erro quanto a fraude. O problema da segurança dos processos na área financeira é tão sério que todas as vezes que um novo procedimento trouxer economias operacionais mas comprometer a segurança do processo, recomenda-se que a empresa fique do lado da segurança.

Mais adiante voltaremos a estes assuntos discutindo-os em detalhes.

A gerência financeira da Ritmo & Hits procura acompanhar a modernização da área financeira. Sabe-mos que isso colabora para que a empresa seja mais competitiva no mercado e, certamente, é um dos motivos que transformou-a em uma das principais gravadoras do país.

O Sr. Fonseca deu início ao processo de modernização do departamento financeiro quando propôs a informatização dos processos, o que facilitou o controle, diminuiu as possibilidades de erro ou fraude, agilizou e tornou os processos mais eficazes. Foi possível deslocar recursos humanos, que antes se ocu-pavam com trabalho operacional, para funções que agregassem mais valor. Além disso, facilitou a tomada de decisão por disponibilizar a informação.

A modernização é um processo dinâmico. Portanto, ela não terminou quando a solução proposta pelo Sr. Fonseca foi implementada. Ela continua dia a dia. Por exemplo: no princípio os sistemas não eram integrados. Depois foi possível fazer isso, o que maximizou os resultados.

Todos os dias novas ferramentas são criadas. Os responsáveis pela gerência financeira devem ficar

Page 16: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

16

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

atentos para implementá-las sempre que isso for viável e trouxer benefícios para a empresa. Esse é o desafio atual. As empresas que saírem na frente estarão em vantagem. E os profissionais também. Fique atento!

Page 17: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

17

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

1.4 - FLUXO DE CAIXA

Chamamos de fluxo de caixa o método de captura, registro e apresentação de entradas e saídas de caixa em relatórios estruturados de forma a permitir a análise e a interpretação das variações do saldo do Disponível.

O Disponível é a conta do Ativo em que são registrados os recursos dos quais a empresa pode dispor no curtíssimo prazo.

No balanço patrimonial abaixo é possível visualizar melhor a abrangência do Disponível.

Ativo PassivoDisponível Exigível de Curto Prazo

Caixa Folha e EncargosDepósitos Bancários à Vista TributosNumerário em Trânsito Empréstimos BancáriosAplicações de Curtíssimo Prazo Fornecedores

OutrosRealizável de Curto Prazo Exigível de Longo Prazo

Aplicações de Curto prazo Empréstimos e FinanciamentosRecebíveisEstoquesOutros

Realizável de Longo Prazo Patrimônio LíquidoAplicações de Longo Prazo Capital

ReservasLucros Acumulados

PermanenteInvestimentosImobilizado

Caixa – Representando dinheiro em espécie em poder da empresa. Como não é seguro manter em caixa elevadas quantias em dinheiro, na maioria das empresas o caixa compreende apenas os Fundos Fixos de CaixaG.

Depósitos Bancários à Vista – Representando os recursos depositados em contas correntes de livre movimentação.

Numerário em Trânsito – Representando, entre outros, cheques em mãos que tenham sido recebidos e não depositados, pagáveis irrestrita e imediatamente, remessas para filiais feitas por meio de cheque ou ordem de pagamento e remessas de filiais ou de terceiros quando conhecidas até a data de encerramento do exercício;

Aplicações de Curtíssimo Prazo – Como a Lei das S/AG não especifica o que é “curtíssimo prazo”, as empresas têm certa liberdade para fixar seus próprios critérios. Algumas empresas entendem que somente devem constar do Disponível as aplicações de liquidez imediata, ou seja, aquelas que podem ser resgatadas, no todo ou em parte, a qualquer momento. Outras, seguindo a legislação norte-americana, consideram como sendo de curtíssimo prazo as aplicações cujo prazo de vencimento seja igual ou inferior a três meses. O importante é que a Gerência Financei-ra adote o mesmo critério adotado pela Contabilidade.

Page 18: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

18

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

A definição de fluxo de caixa vista na página passada tem duas conseqüências importantes:

1. Somente devem ser registradas no fluxo de caixa as entradas ou as saídas de caixa que alte-rem o saldo do Disponível.

Exemplo

Suponha que a gravadora Ritmo & Hits possua $100.000 de saldo em sua conta corrente de livre movimentação e decida sacar $80.000 para aplicar em uma aplicação de liquidez imedia-taG. Esta operação não deve ser lançada no fluxo de caixa, pois o saldo do Disponível não se alterou. Houve apenas uma transferência de recursos entre duas subcontas do Disponível.

2. O saldo do fluxo de caixa deve ser conciliado diariamente com o saldo do Disponível. Essa ação garante que:

Não houve omissão de lançamentos, ou seja, a empresa não deixou de lançar nenhuma entrada e nenhuma saída. Se a conciliação não for feita, pode acontecer de o banco fazer dé-bitos ou créditos avisados na conta corrente e estes lançamentos não serem capturados pelo fluxo de caixa. Isso faria com que o saldo do fluxo de caixa deixasse de ser igual ao saldo do Disponível.

Não houve lançamentos em duplicidade, ou seja, nenhuma entrada ou saída foi lançada duas ou mais vezes.

Não houve erro de digitação.

Exemplo

Uma situação em que isto pode ocorrer é com a CPMF. Este imposto é apurado pelo banco com base nas saídas havidas na conta corrente no período que vai da quarta-feira de uma semana até a quarta-feira da semana seguinte e é debitado na primeira próxima sexta-feira. Toda quarta-feira o banco informa no extrato da conta corrente a previsão do CPMF. Pode acontecer de o funcionário da Gerência Financeira, distraidamente, lançar a previsão como se fosse uma saída e na sexta-feira lançar novamente a mesma CPMF pelo aviso bancário. A conciliação diária detecta estes fatos e evita que o erro seja cometido.

O fluxo de caixa em um determinado período é definido pela seguinte equação:

Saldo Final = Saldo Inicial + Entradas – Saídas

Assim representada:

Saldo Final – é o saldo do Disponível no final do período.

Saldo Inicial – é o saldo do Disponível no início do período.

Entradas – são as entradas de caixa ocorrentes no período que alteraram o saldo do Disponível.

Saídas – são as saídas de caixa ocorrentes no período que alteraram o saldo do Disponível.

Page 19: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

19

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Vê-se, pela fórmula acima, que quando olha para trás, o fluxo de caixa integra as contas pagas com as contas recebidas. Neste caso, é chamado de fluxo de caixa realizado. Quando olha para frente e integra as contas a pagar com as contas a receber, temos o fluxo de caixa projetado.

Para facilitar a visualização e a análise do fluxo de caixa, tanto as entradas quanto as saídas são de-compostas em contas e subcontas. Esta estrutura em vários níveis que decompõe as entradas e as saídas em contas e subcontas é chamada de plano de contas da Tesouraria, que é a base do fluxo de caixa.

O plano de contas da Tesouraria permite:

A comparação do comportamento de uma conta em dois momentos diferentes do tempo.

A projeção de uma conta baseada em seu comportamento passado.

A estrutura do plano de contas da Tesouraria, tal como acontece com o plano de contas da Contabili-dade, varia de empresa para empresa, dependendo das características do negócio. Por outro lado, dife-rentemente do que acontece com o plano de contas da Contabilidade, para o qual a legislação estabelece os contornos, o plano de contas da Tesouraria depende quase que exclusivamente do discernimento da pessoa que o estrutura.

Exemplo

No entanto, damos algumas dicas de como deve ser preparado o plano de contas. E, melhor, ele tem algo em comum com uma receita de omelete: deve ser tão simples e sucinto quanto possí-vel.

O plano de contas não deve ter nem contas de mais nem de menos. O problema de ter muitas contas é que a informação fica muito fragmentada, o que dificulta a identificação das informações relevantes. Verifique se é realmente necessário abrir contas para despesas de pequeno valor ou que só ocorrem uma vez por ano ou se é possível lancá-las em uma conta de “Diversos” ou

“Outros”. Por outro lado, se o plano de contas tiver muito poucas contas, corre-se o risco de se englobar em uma conta só despesas de naturezas diferentes. Com isso a projeção das despesas desta conta fica prejudicada.

Veja agora, de forma ilustrativa, as possíveis divisões de um plano de contas.

As contas de Entrada podem ser decompostas em:

Recebido de Clientes: são registrados os valores efetivamente recebidos de clientes pela venda de bens produzidos ou de serviços prestados.

Outras Entradas Operacionais: são registrados os dividendos e os juros recebidos, estes últimos referentes a aplicações financeiras.

Entradas Patrimoniais: são registrados os aportes de capital em dinheiro recebidos de acio-nistas e as vendas de participações acionárias e de imobilizado.

Entradas Financeiras: são registrados os resgates de aplicações financeiras não registradas no Disponível, os empréstimos obtidos, o valor líquido referentes a duplicatas descontadas e as transferências de coligadas e controladas.

Entradas Diversas: são registradas as entradas que não tenham sido registradas nas contas acima, como reembolsos diversos, devoluções em dinheiro, prêmios de seguros, ressarcimentos e indenizações recebidas etc.

Page 20: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

20

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Estas contas deverão ser decompostas em tantas subcontas quantas julgadas necessárias pela Te-souraria.

As contas de Saída podem ser decompostas em:

Saídas Administrativas: compreendem as saídas referentes a aluguéis, despesas de condo-mínio, material de escritório, material de limpeza etc.

Saídas Comerciais: compreendem as saídas referentes a comissões, royalties, publicidade e propaganda etc.

Saídas Industriais: compreendem as saídas referentes a fornecedores nacionais, fornecedo-res estrangeiros, despesas de importação, manutenção de máquinas etc.

Folha e Encargos: compreendem as saídas referentes a salários, encargos, seguros de vida, seguro-saúde, vale-transporte, ticket-refeição, rescisões, indenizações etc.

Serviços de Terceiros: compreendem as saídas referentes a serviços corporativos, assim entendidos como aqueles que beneficiam a empresa como um todo e que, portanto, não tenham sido classificados em nenhuma outra conta, como consultorias empresariais, manutenção predial, assessoria jurídica etc.

Impostos e Taxas: compreendem as saídas referentes a impostos e taxas como IPI, ICMS, PIS, Cofins, IRPJ, CSSL etc.

Saídas Financeiras: compreendem os juros pagos referentes a operações financeiras, amorti-zações de empréstimos e transferências de coligadas e controladas.

Saídas Patrimoniais: compreendem as saídas referentes aos dividendos pagos, às prestações de operações de leasing financeiro e às aquisições de participações acionárias e de imobilizado.

Saídas Diversas: compreendem as saídas não operacionais que não tenham sido registradas nas contas acima, como depósitos efetuados a qualquer título, ou outros.

Veja abaixo um modelo de plano de contas.

Entradas

Recebido de Clientes

Recebido em cheque ou dinheiro

Recebido de cartões de crédito

Recebido em cheques pré-datados

Recebido de vendas a prazo

Diversos

Outras Entradas Operacionais

Dividendos recebidos

Juros de aplicações

Outros

Entradas Patrimoniais

Page 21: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

21

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Aportes de capital

Venda de participações

Venda de imobilizado

Outros

Entradas Financeiras

Resgates de aplicações

Contrato de Capital de Giro

Desconto de Duplicatas

Transferências de coligadas

Outros

Entradas Diversas

Reembolsos

Devoluções

Indenizações

Outros

Saídas

Saídas Industriais

Fornecedores Nacionais

Fornecedores Estrangeiros

Despesas de Importação

Força

Subempreiteiros

Outros

Saídas Comerciais

Comissões

Propaganda e Promoções

Fretes

Despesas de Viagens

Outras

Saídas Administrativas

Água e Esgoto

Page 22: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

22

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Luz

Telefone

Material de Escritório

Material de Limpeza

Manutenção de Equipamentos

Manutenção de Imobilizado

Seguros Diversos

Material para Computador

Outros

Despesa de Pessoal

Honorários

Folha

Adiantamentos

Rescisões

Assistência Médica

Refeições

Vale-transporte

Seguros de Vida em Grupo

INSS

FGTS

IRRF

Uniformes e Materiais de Proteção

Outros

Serviços de Terceiros

Advogados

Auditorias

Serviços Técnicos

Outros

Saídas Financeiras

Juros sobre Empréstimos

Amortização de Principal

Transferências para coligadas

Page 23: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

23

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Despesas Bancárias

Outras

Impostos e Taxas

ICMS

IPI

PIS

Cofins

IRPJ

Contribuição Social

IPTU

Auto de Infração

ISS

Outros

Saídas de Veículos

Combustíveis e Lubrificantes

Manutenções Diversas

Seguros

IPVA

Multas Diversas

Outras

Saídas Patrimoniais

Dividendos

Compra de Imobilizado

Leasing

Investimentos

Outras

Saídas Diversas

Diversas

O plano de contas observado possui três níveis:

Primeiro nível – onde estão classificadas as Entradas ou as Saídas

Segundo nível – onde estão classificadas as Contas. Exemplo: Saídas Administrativas.

Page 24: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

24

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Terceiro nível – onde estão classificadas as subcontas. Exemplo: aluguel e condomínio.

Não há necessidade de o plano de contas ter mais do que três níveis. Os relatórios do fluxo de caixa devem poder ser tirados em qualquer nível. Quando mais alto o nível hierárquico de quem recebe o rela-tório, menos detalhado ele deve ser.

Os relatórios do fluxo de caixa podem ser apresentados em vários formatos. Dois formatos muito utili-zados são:

1. Movimento diário – apresenta o plano de contas e possui duas colunas. Na primeira, são lançadas as entradas e as saídas ocorrentes no dia; na segunda, são lançadas as entradas e as saídas acumuladas no mês até o dia do relatório. Esse relatório normalmente é tirado no segundo ou no terceiro nível. É um relatório muito utilizado por pequenas empresas por ser muito simples de ser obtido, podendo inclusive ser tirado à mão, sem o auxílio do computador.

2. Movimento do mês – cada linha corresponde a uma conta e cada coluna a um dia do mês. É o relatório mais utilizado por empresas de qualquer tamanho. Normalmente é tirado no segundo ou no terceiro nível. Pode ser gerado em planilha eletrônica.

Page 25: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

25

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

1.5 - RELACIONAMENTO BANCÁRIO

Vamos vivenciar agora a fase em que a gerente financeira da Ritmo & Hits foi definir o relacionamento bancário da empresa. Até então ela trabalhava com apenas um banco, o que não supria mais as necessi-dades da gravadora, que estava em franca expansão.

O que a gerente financeira da gravadora gostaria, em termos de relacionamento bancário seria a situ-ação ideal para qualquer empresa: trabalhar com apenas um banco que suprisse todas as suas necessi-dades.

Dizemos que esta seria a situação ideal porque não apenas reduziria os custos administrativos de gerenciar contas bancárias, como também daria à empresa condições de obter melhores termos de nego-ciação pelo fato de poder oferecer uma maior reciprocidade.

Não se deve desprezar os custos administrativos gerados pela multiplicação do número de bancos com os quais se trabalha. Quanto maior esse número, maior será o número de gerentes que o gerente financei-ro terá que atender, de fichas cadastrais a preencher e atualizar e de contas correntes a conciliar.

Por outro lado, trabalhar com apenas um banco nem sempre é possível e quase nunca é prudente. A necessidade de se trabalhar com mais de um banco pode ser imposta por:

necessidade de linhas de crédito;

imposições de ordem operacional;

segurança;

conveniências de ordem política.

Selecionando os bancos com os quais vai trabalhar

A primeira indicação quanto ao número de bancos com os quais uma empresa vai trabalhar pode vir de suas necessidades de linhas de crédito. Mesmo que um único banco estabelecesse um limite de crédito que satisfizesse completamente as necessidades da empresa, seria imprudente e, portanto, desaconse-lhável trabalhar apenas com este banco.

Neste caso específico, a empresa trabalharia com mais de um banco não apenas para poder comparar taxas, como também para não ficar sujeita a eventuais restrições impostas por este seu único banco. Sen-do assim, no caso de empresas tomadoras líquidas de recursosG, o processo de seleção deve ser iniciado pela determinação das suas necessidades de limite de créditos.

As necessidades de limites de crédito têm que ser definidas tanto do ponto de vista quantitativo, (ou seja, em termos de volume de recursos), como também em termos qualitativos (ou seja, em termos do tipo de operações de que a empresa precisa para operar o seu negócio). E isso deve estar muito bem equacionado antes das negociações com os bancos.

Exemplo

A gravadora Ritmo & Hits importa matéria-prima, vende seus produtos no mercado nacional e internacional, tem uma cobrança cujo produto deseje aplicar na data de recebimento (ou, como se diz no mercado, em D+0), tem necessidade de empréstimos de médio prazo e, mensalmente, tem um volume muito grande de pagamentos nos dois últimos dias do mês. Portanto, a gravadora tem as seguintes necessidades de limite de crédito:

Cartas de fiança bancária para poder financiar suas importações de matéria-prima.

Page 26: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

26

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Adiantamentos de Contratos de Câmbio para financiar suas exportações.

Contas garantidas para assegurar os saques feitos sobre as cobranças esperadas no dia.

Contratos de empréstimo e/ou descontos de duplicatas para atender às necessidades de capital de giro.

Desconto de notas promissórias para financiar o desencaixe de fim de mês.

Definidas quais as linhas com as quais vai trabalhar, o gerente financeiro passa então a tentar quanti-ficar qual será sua necessidade de crédito para cada uma destas linhas.

Exemplo

A gerente financeira identificou as seguintes necessidades de linhas de crédito:

Cartas de Crédito ................................................... $ 3.000.000

Adiantamento de Contratos de Câmbio ................. $ 5.500.000

Contas Garantidas .................................................... $ 500.000

Operações de médio prazo ..................................... $1.500.000

Total ...................................................................... $10.500.000

Além das necessidades de linhas de crédito, pode ser que existam imposições de ordem operacional que obriguem a empresa a trabalhar com mais bancos do que desejaria o seu administrador financeiro. É o caso de empresas que trabalham com governos estaduais, que só pagam suas contas por meio de seu banco oficial, por exemplo. Ou determinados clientes que, por um motivo ou por outro, somente pagam por um determinado banco e que possui força bastante para nos impor seus procedimentos administrativos.

Exemplo

Como a gravadora tem uma loja virtual, trabalhar com certa variedade de bancos facilita a compra dos produtos pelos clientes internautas. Seria interessante que o banco tivesse um bom sistema de pagamento via Internet.

Existem ainda motivos de ordem política para se trabalhar com determinada instituição bancária. É aquele banco que socorreu a empresa em um momento de dificuldades ou aquele outro que possui um diretor amigo do presidente da empresa.

Exemplo

Na época em que a gravadora estava começando, era preciso capital para investir e criar uma boa estrutura. O dono da empresa, Sr. Paulo Gomes, recorreu então a várias insituições financei-ras. Foi o Banco Vale Ouro que formeceu o empréstimo nas melhores condições e desde então

Page 27: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

27

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

existe um forte laço entre a Ritmo & Hits e essa instituição bancária. Nem sempre ele oferece os produtos e serviços que precisamos, mas tentar descartá-lo criaria enormes atritos e seria um grande erro político.

Deve-se ter em mente que o objetivo sempre é reduzir o número de bancos com os quais se trabalha. Quando isto não é possível, paciência. O executivo financeiro tem que se adaptar a estas circunstâncias. Afinal de contas, o que não seria sensato seria colocar a administração na frente do negócio, ou seja, colocar a burocracia na frente dos interesses comerciais da empresa. Muitos executivos, por não compre-enderem esta verdade e se esquecerem de que a atividade financeira é uma atividade-meio e não uma atividade-fim, criam atritos dentro da organização que quase sempre acabam por arranhar a sua própria imagem.

Chegamos ao final da primeira fase de nosso processo de seleção de bancos.

Definimos, ainda que aproximadamente, com quantos bancos a empresa vai trabalhar em função de suas necessidades de crédito e imposições operacionais e definimos quais as instituições financeiras são irremovíveis devido a conveniências políticas.

Estamos prontos, portanto, para darmos início ao processo de seleção propriamente dito.

Para isso vamos definir, tão detalhadamente quanto possível, quais as necessidades da empresa quanto aos serviços bancários que pretende utilizar.

Diante do que analisamos até agora, vimos que o Banco Vale Ouro não poderá ser descartado. Assim, já temos um banco definido com o qual teremos que trabalhar. Também vimos que a loja virtual pede um ou mais bancos populares, já que quanto mais clientes tiverem, mais facilitado será o acesso à compra. Vimos ainda que a gravadora precisará de contas de crédito, adiantamento de contratos de câmbio, contas garantidas e operações de médio prazo. Teremos que ver quais bancos oferecem as melhores condições diante de nossas necessidades. Provavelmente teremos que trabalhar com, no mínimo, três bancos.

Os bancos são freqüentemente percebidos pelo mercado como verdadeiros “supermercados” em que todos os produtos são igualmente disponíveis para todos os clientes.

A realidade, no entanto, não é exatamente esta. O mercado financeiro brasileiro segmenta-se rapi-damente e cada instituição tem especialidades que a distinguem das demais. Além disto, os bancos não disponibilizam todos os seus produtos para qualquer cliente.

Ao selecionar as instituições financeiras com as quais vai trabalhar, a empresa deve procurar enxergar como essa instituição financeira irá se integrar com o seu ciclo produtivo, também dito ciclo de negócios.

Isso quer dizer que cada empresa possui características que a distingue das demais no que diz respei-to à forma como fatura seus produtos ou serviços, liquida seus compromissos, capta ou aplica recursos. A empresa irá buscar uma instituição financeira que melhor a satisfaça em termos de serviços oferecidos, qualidade de atendimento e tarifas.

O ciclo de negócios da empresa

Podemos formular perguntas cujas respostas nos direcionem à escolha mais acertada:

Page 28: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

28

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

A empresa possui clientes no interior ou somente nas capitais e grandes centros?

A empresa possui filiais? Estas filiais faturam, cobram e fazem pagamentos ou Gerência Finan-ceira é centralizada na matriz?

Que tipos de liquidações a empresa faz (folha, fornecedores, tributos etc.)?

Que tipo de instrumento de liquidação é o mais apropriado para cada fornecedor?

Qual o perfil dos principais fornecedores da empresa? São firmas grandes e bem estruturadas com as quais se possa integrar eletronicamente ou são empresas pequenas e desestruturadas?

A empresa trabalha com importação e exportação?

No que diz respeito às aplicações e às operações financeiras, devemos observar, entre outras coisas, o seguinte:

A empresa é tomadora ou doadora líquida de recursos?

Quais suas necessidades de linhas de crédito?

Trabalha com carta de crédito?

Trabalha com Adiantamentos de Contrato de Câmbio?

Tem necessidade de contas garantidas?

Recorre regularmente a empréstimos de curtíssimo prazo (hot money)?

Desconta cheques pré-datados?

Recorre a contratos de Capital de Giro e descontos de duplicatas?

Em que ativos a empresa aplica seus excessos de caixa?

Quais são os volumes aplicados?

Está realizando algum plano de expansão que necessite de financiamento?

Ao selecionar a instituição financeira com a qual você pretende terceirizar seus serviços de Tesouraria, verifique se:

O banco já terceiriza a Tesouraria de alguma outra empresa? Quem? Há quanto tempo?

O banco está realmente interessado nesta parceria?

Qual o conceito que este banco goza quanto à qualidade dos serviços que presta?

Prepare um questionário com todos os pontos citados anteriormente antes de começar a conversar com os bancos. Após cada entrevista, procure tabelar as informações obtidas. A partir da análise da tabu-lação da pesquisa, é possível ter uma primeira idéia dos bancos que oferecem as melhores condições.

Isso, no entanto, ainda está longe de nos permitir tomar uma decisão final quanto ao processo de sele-ção de bancos. Até agora ainda não abordamos a questão da informatização externa dos bancos, ou seja, de como nossa empresa vai se comunicar com os bancos eletronicamente.

Infelizmente, a experiência mostra que, quando se trata da analisar o grau de informatização externa

Page 29: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

29

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

de um banco, o assunto não pode ser resolvido apenas com entrevistas e conversas. Nestes casos, ape-sar de o processo ser trabalhoso e demorado, é necessário assistir pessoalmente a uma demonstração do sistema do banco.

Para sistematizar este processo, deve-se preparar com antecedência um questionário a respeito dos principais pontos que se deseja pesquisar para que sirva como um guia que oriente a apresentação a assistir. Insista com o funcionário do banco que o está atendendo para que ele siga o seu roteiro de forma que você veja o que quer ver e não o que ele quer lhe mostrar.

De posse destas informações, o administrador financeiro estará em condições de iniciar as negocia-ções com os bancos e selecionar quais aqueles com os quais irá trabalhar e em que termos.

É curioso observar que ao final deste processo nunca se chega exatamente aonde se queria, mas também nunca se fica exatamente onde se estava. Sempre muda alguma coisa. Quase sempre se verifica que aquele banco no qual a empresa concentrava suas operações poderia oferecer condições um pouco melhores do que as que vem oferecendo. Dependendo do tamanho da empresa que está fazendo a sele-ção e do interesse que as instituições têm em trabalhar com ela, é possível mesmo que se consiga assinar um protocolo detalhando as condições do acordo alcançado.

Chegamos ao final da seleção. É bem possível que se tenha reduzido o número de bancos, muito em-bora este ainda seja maior do que se gostaria. Não foi possível se livrar dos bancos que foram impostos pelas necessidades operacionais e pelas conveniências políticas.

Como fazer para, nestas condições, racionalizar o trabalho e reduzir os controles? A primeira provi-dência é eleger qual será o banco centralizador. Aquele que, em virtude dos limites de crédito oferecidos, dos serviços disponibilizados, do preço das tarifas etc. será o principal banco da empresa. Neste banco serão concentradas as aplicações e as cobranças e de suas contas correntes serão pagas as contas. Os demais bancos funcionarão como bancos auxiliares. Em alguns deles nos vamos procurar trabalhar com saldo “zero”, não como meio de maximizar os rendimentos financeiros da empresa, mas como recurso para reduzir o trabalho administrativo das reconciliações. Algumas vezes será mesmo possível operar com um determinado banco sem ter que abrir conta corrente. Nestes casos, as eventuais liquidações de operações deverão ser feitas com cheques ou DOC, nunca por meio de débitos em conta de forma a evitar a abertura de mais uma conta corrente.

Interligando-se com os Bancos eletronicamente

Existem duas maneiras pelas quais uma empresa pode se interligar com seus bancos via computador: pelo sistema “on-line” ou pelo sistema “off-line”.

No sistema “on-line”, também chamado de “office-banking”, a empresa conecta-se a um banco de cada vez e durante a ligação faz consultas, efetua pagamentos e envia informações ou instruções. A maioria dos bancos desenvolveu excelentes serviços de “office-banking” que permitem que o cliente efetue quase todas as operações sem ter que sair de casa ou de seu local de trabalho. O problema do “office-banking” surge no momento em que se trabalha com vários bancos. Neste caso, para cada conexão é preciso fazer uma ligação e, dependendo do número de bancos com os quais se trabalha e do volume de informações a consultar, isso pode demandar um tempo incompatível com a agilidade de que se necessita. Além disso, depois de recebidas, estas informações ainda têm que ser consolidadas pela empresa.

Page 30: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

30

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

No sistema “off-line”, também chamado de EDI, entre o banco e o cliente existe um provedor que im-porta os arquivos do banco e os exporta para o cliente e vice-versa. Como este provedor está conectado a vários bancos, com uma única ligação telefônica (ou um único canal, como se diz em linguagem técnica) o cliente pode se comunicar com todos os bancos com os quais trabalha. Este provedor é chamado ge-nericamente de VAN.

O provedor de EDI disponibiliza uma caixa postal eletrônica semelhante à da internet. A diferença é que esta é um sistema aberto, ao qual todos têm acesso. Já o EDI é um sistema fechado.

Uma vez importados os arquivos dos bancos, as informações contidas neles ficarão residentes no disco rígido do computador da empresa e atualizarão a base de dados do sistema corporativo. Estas infor-mações, então, serão acessadas pelo sistema corporativo e não mais consultadas em tela ou por meio dos relatórios dos aplicativos dos diversos sistemas de “office-banking”.

EDI: Sigla em inglês “Electronic Data Interchange”, ou seja, intercâmbio eletrônico de dados.

VAN: sigla em inglês “Value Added Network”, ou seja, Rede de Valor Agregado.

Sistema coorporativo: Chamamos de “sistema corporativo” ao sistema de informações gerenciais usado pela empresa. Ele poderá ser desenvolvido internamente ou adquirido de empresas especializa-das.

Vê-se daí que o EDI difere de uma simples caixa postal eletrônica por se tratar de um intercâmbio de documentos padronizados entre aplicativos de parceiros comerciais. Os documentos trocados são padro-nizados porque, na verdade, são arquivos formatados dentro de um “lay-out” que possa ser entendido por um aplicativo.

Finalmente, não se trata de um sistema aberto. Somente parceiros que tenham concordado em trocar arquivos poderão entrar no sistema.

Page 31: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

31

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Além de fazer a transferência de dados, o provedor de EDI também trata a informação transferida convertendo “lay-outs”, protegendo-a por meio de senhas de acesso e criptografia, compactando-a, tiran-do “back-up” dos arquivos transferidos de forma a permitir sua recuperação em caso de necessidade e possibilitando parcerias etc.

No sistema de Tesouraria, toda vez que entra dinheiro sai documento, e, inversamente, toda vez que sai dinheiro entra documento.

O EDI representa a terceira onda – ou terceira geração – no que se refere a sistemas de Tesouraria.

Conheça abaixo as três gerações de Sistemas de Tesouraria.

Na primeira onda, tanto a troca de documentos quanto a troca de instrumentos de liquidação são físicas. As empresas vendedoras de primeira geração enviam aos seus clientes ou aos seus bancos cobradores Faturas, Duplicatas, Borderôs, Avisos de Cobrança e instruções de cobrança sob a forma de documentos físicos. As empresas compradoras, por sua vez, preparam os instru-mentos de liquidação (cheques, DOCs, Ordem de pagamentos etc.) e os enviam fisicamente aos fornecedores ou aos bancos cobradores.

Na segunda onda, a troca de documentos é física e a troca de instrumentos de liquidação é eletrônica. Neste caso, as empresas vendedoras enviam aos seus clientes ou aos seus bancos cobradores Faturas, Duplicatas, Borderôs, Avisos de Cobrança e instruções de cobrança sob a forma de documentos físicos. No entanto, as empresas compradoras pagam por meio de instru-mentos eletrônicos de liquidação, que fazem a transmissão por computador.

Na terceira onda, tanto a troca de documentos quanto a troca de instrumentos de liquidação são eletrônicas. São relativamente poucos os documentos que ainda precisam circular fisica-mente nas operações de Tesouraria. Entre eles podemos citar os documentos que necessitam de assinatura para efeitos legais perante terceiros, como contratos de mútuo e Notas Promissó-rias, documentos para instrução de protestos, Notas Fiscais e documentos para o desconto de duplicatas.

Page 32: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

32

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Vantagens do EDI:

1. Possibilidade de, com apenas uma ligação telefônica, conectar-se a todos os bancos com os quais se trabalha.

2. Substituição do fluxo de papéis entre a empresa, fornecedores e clientes por um fluxo de infor-mações sem papéis.

3. Rapidez de instalação, já que com um único programa a empresa se conecta a vários bancos. Isso agiliza a entrada de novos bancos no sistema.

4. Facilidade de operação pelo fato de utilizar um único programa para se comunicar com vários bancos. A conseqüência é a redução dos custos e dos prazos de treinamento do pessoal na utilização do sistema.

5. Possibilidade de consolidar dados de vários bancos, aumentando o controle sobre as opera-ções.

6. Utilização de um “lay-out” único de arquivos.

O fato de várias empresas estarem ligadas a um mesmo provedor de EDI possibilita que não apenas sejam trocados documentos financeiros, mas também documentos de outras naturezas, agilizando a cir-culação de informações e proporcionando expressivas economias operacionais aos seus participantes.

Usamos o EDI para enviar aos clientes lista de preços e receber pedidos de mercadoria. Disponibiliza-mos informações sobre a situação dos pedidos, limites de crédito aprovados, utilizados e disponíveis etc.

Esse é apenas um exemplo de uso. Mas são possíveis várias outras trocas de documentos via EDI. Cada empresa deve levantar as suas necessidades e aproveitar ao máximo a facilidade de comunicação que esse sistema proporciona.

Page 33: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

33

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Uma outra possibilidade interessante é o chamado “Open-EDI”, que combina Internet e EDI.

Esse sistema foi desenhado para permitir a comunicação entre duas empresas quando uma possui um provedor de EDI e a outra não, mas tenha acesso à Internet.

Neste caso, em primeiro lugar, os dois parceiros acordam quais documentos vão trocar entre si: pedi-dos, confirmação de pedidos, alteração de pedidos, avisos de cobrança etc. A partir daí, o provedor de EDI de um dos parceiros disponibiliza um “web-site” na Internet onde poderão ser encontrados os formulários que serão preenchidos e recebidos pelos parceiros. Estes formulários (que nada mais são do que arquivos padronizados) circularão conforme mostrado no esquema abaixo.

Um de nossos fornecedores não está conectado ao EDI e precisamos enviar um pedido. Assim, o Open-EDI foi a solução para viabilizar esta transação.

Este pedido será enviado via EDI para o “web-site”, onde será coletado e impresso pelo fornecedor. Para enviar uma confirmação do pedido, o fornecedor preencherá um formulário que estará disponível no

“web-site” e o enviará, via Internet, para o nosso provedor de EDI.

O “open-EDI” democratizou o uso do EDI permitindo o acesso ao sistema de pequenas empresas que, de outra forma, não poderiam participar do processo.

Chama-se genericamente de EDI Financeiro a troca de informações entre uma empresa e seus bancos e de EDI Mercantil a troca de informações entre a empresa e seus parceiros (clientes e fornecedores).

Apesar dessa distinção, o que se observa na prática é um entrosamento cada vez maior do EDI Finan-ceiro com o EDI Mercantil.

Mais adiante, quando tratarmos da cobrança e da liquidação de compromissos, voltaremos ao assunto da comunicação eletrônica entre clientes, bancos e fornecedores.

Page 34: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

34

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

1.6 - SISTEMA DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS

O fato de a troca física de documentos estar sendo substituída pela troca eletrônica de informações aumenta muito a importância de se ter um bom sistema de informações gerenciais.

A manipulação do documento é uma forma, ainda que imperfeita, de se manter em contato com a rea-lidade. Quando o documento deixa de circular e é substituído por uma informação eletrônica, tudo do que dispomos são os relatórios de controle. Se o sistema não for bom ou se o processo de alimentação do sistema de dados for imperfeito, corre-se o risco de circular a mentira com a velocidade do átomo!

Ao projetar um SIG*, deve-se, em primeiro lugar, definir quais serão suas extensão e amplitude.

A extensão diz respeito à área geográfica coberta pelo SIG. Define quais filiais, departamentos, escritó-rios, fornecedores, empresas terceirizadoras de serviços, bancos, seguradoras, transportadoras etc. serão integrados no sistema.

Em seguida serão definidos os canais de comunicação entre os diversos pontos da rede. Algumas filiais, por exemplo, podem ser ligadas via satélite. Outras, por seu movimento, talvez justifiquem uma linha dedicada, ou seja, bloqueada exclusivamente para este fim. Podem existir situações que justifiquem apenas ligações via modem, caso em que o sistema não trabalhará em tempo real, exigindo a importação e a exportação de arquivos. Algumas empresas terceirizadoras de serviços podem ser integradas na rede como, por exemplo, a empresa que faz a contabilidade externa. Outras serão ligadas via EDI. E assim por diante.

A amplitude da plataforma define quais os processos serão abrangidos pelo SIG. É preciso definir quais são os processos críticos da Tesouraria, ou seja, aqueles que merecem ser informatizados por sua impor-tância e volume de trabalho envolvido.

Exemplo

Por exemplo: em uma empresa que emita dez cheques por dia a conciliação bancária não é crítica. Já em uma empresa que emita diariamente cinco mil instrumentos de liquidação, este processo é crítico e deverá ser informatizado.

Todo processo de informatização da Tesouraria deve ser precedido de um levantamento de volume para determinar quais são os processos críticos e que, portanto, devem ser informatizados, e quais os processos que, por não serem críticos, talvez não precisem ser informatizados e que admitam um controle manual ou por meio de planilhas eletrônicas.

Normalmente, mas nem sempre, os principais programas de um sistema de informações gerenciais da Tesouraria são:

Contas a Receber

Contas a Pagar

Fluxo de Caixa

Controle de Contas Correntes

*SIG: Abreviação de Sistema de Informação Gerencial

Page 35: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

35

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

A forma como estes e outros programas se interligam é mostrada no chamado “macrofluxo” do sistema de informações da Tesouraria.

O quadro abaixo dá uma idéia de um macrofluxo de sistema de informações de Tesouraria.

O sistema de faturamento, além de estar interligado com o contas a receber, também alimenta de informações os programas de controle de estoques, controle de frete, estatística de vendas etc.

O sistema de contas a pagar, além de estar interligado com o programa de fluxo de caixa, tam-bém se comunica com o programa de folha de pagamentos, de controle de operações financeiras etc.

O sistema de aplicações financeiras está interligado com o sistema de contas a receber.

Depois de decidir quais processos serão informatizados e como serão interligados no sistema de infor-mações gerenciais, chegou a hora de escolher o sistema que será adquirido.

O processo de seleção de um software de Tesouraria é delicado e, se não for bem conduzido, pode trazer prejuízos financeiros e frustrações.

A primeira coisa que se deve fazer é relacionar todas as características de cada um dos programas que compõem o sistema e classificar estas características em Essenciais, Importantes, Desejáveis e In-diferentes.

De posse destas planilhas será possível analisar e comparar os vários sistemas pré-selecionados.

Finalmente, é bom lembrar que as planilhas são apenas uma sugestão. Ao selecionar um sistema de informações gerenciais, cada empresa deverá relacionar as características que deseja que o sistema pos-sua e, se necessário, modificar as planilhas anexas adaptando-as às suas necessidades.

O EDI, Open EDI e Sistema de Informações Gerenciais, como vimos, trazem vários benefícios às empresas. Mas, por outro lado, há que se ter cautela. Quando se eliminam papéis, a dependência fica toda sobre o sistema. Por isso, ele deve ser totalmente confiável. O cuidado na hora de defini-lo deve ser máximo. Uma análise muito bem feita a respeito das necessidades da empresa deve preceder qualquer definição.

Page 36: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

36

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

RESUMO

Nos últimos anos a área financeira das empresas passou por mudanças conjunturais e estrutu-rais. A implantação do Plano Real e conseqüente queda da inflação, a aprovação da CPMF pelo Congresso Nacional e a entrada em vigor da nova tabela do IOF são do primeiro tipo. O advento da informática e o número cada vez maior de empresas intensivas de transações são do segundo tipo.

Os bancos têm um papel fundamentel na modernização dos departamentos financeiros. Bons exemplos são a terceirização e a troca de informações eletrônicas, que começaram nessas insti-tuições e depois foram expandidas para as empresas.

Tradicionalmente o departamento financeiro tem uma Diretoria Financeira, que se divide em Gerência Financeira e Controladoria. A Gerência Financeira, por sua vez, se divide nos setores de Crédito e Cobrança, Caixa e Contas a Pagar. Os setores que compõem a Controladoria são Contabilidade, Orçamento e Custos. Porém, os departamentos financeiros podem apresentar inúmeras variações deste modelo. Este curso tratará especificamente da Gerência Financeira.

A moderna Gerência Financeira é uma gestora de liquidez cujas funções são gerenciar, nego-ciar e monitorar as dívidas, os recebíveis e o disponível da empresa. Para isso se apóia em um tripé composto pelo fluxo de caixa, bancos e sistemas. Ela deve ser eficiente, ágil e segura.

O fluxo de caixa é o método de captura, registro e apresentação de entradas e saídas de caixa em relatórios estruturados de forma a permitir a análise e interpretação das variações do saldo do Disponível (conta do Ativo em que são registrados os recursos dos quais a empresa pode dispor no curtíssimo prazo). As subcontas do Disponível são: Caixa, Depósitos Bancários à Vista, Numerário em Trênsito e Aplicações de Curtíssimo Prazo.

A definição de fluxo de caixa tem duas conseqüências importantes: somente devem ser regis-tradas no fluxo de caixa as entradas ou saídas que alterem o saldo do Disponível e o saldo do fluxo de caixa deve ser conciliado diariamente com o saldo do Disponível.

O fluxo de caixa em um determinado período é definido pela seguinte equação: Saldo Final = Saldo Inicial + Entradas – Saídas.

A situação ideal para qualquer empresa seria trabalhar com um único banco, mas isso nem sempre é possível e quase nunca é prudente. É necessário, portanto, fazer uma análise das ne-cessidades de crédito e das imposições de ordem operacional e política, para, baseado nessas análises, selecionar os bancos com os quais se irá trabalhar. O objetivo deve ser sempre reduzir o custo operacional sem aumentar os riscos. A seleção deve ser feita com entrevistas nas insti-tuições bancárias, que devem demonstrar inclusive como funciona seu sistema de informatização externa.

A empresa pode se interligar aos bancos on-line (office-banking), em que uma ligação é feita para cada conexão. Os dados consultados deverão ser consolidados posteriormente e muitas vezes não tem a agilidade de que a empresa necessita. No sistema off-line, ou EDI, existe um provedor entre a empresa e o banco que importa e exporta arquivos. É um sistema fechado, que pode interligar as várias instituições bancárias, fornecedores, clientes e demais parceiros da em-presa. As informações trocadas são acessadas e processadas pelo próprio sistema da empresa.

Há três gerações de Sistemas de Tesouraria. Na primeira, tanto a troca de documentos quanto a troca de instrumentos de liquidação são físicas. Na segunda, a troca de documentos é física e a troca de instrumentos de liquidação é eletrônica. Já na terceira, tanto a troca de documentos quanto a troca de instrumentos de liquidação são eletrônicas. O EDI representa esta última ge-ração.

O EDI agiliza a circulação de informações e proporciona economias operacionais.

Page 37: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

37

Modulo 1´Gerencia Financeira na Pratica´^

Outra possibilidade é o “Open-EDI”, que foi desenhado para permitir a troca de informações en-tre uma empresa que possui um provedor de EDI e outra que possua apenas conexão à Internet. Essa opção democratizou o uso EDI, permitindo o acesso a empresas antes impossibilitadas.

O EDI Financeiro é a troca de informações entre uma empresa e seus bancos e o EDI Mercantil é a troca de informações entre uma empresa e seus parceiros (clientes e fornecedores). Na prá-tica, há uma distinção cada vez menor, já que cada vez há um entrosamento maior entre ambos.

Deve se definir a extensão e amplitude do Sistema de Informações Gerenciais, que deve fun-cionar perfeitamente. Depois de decidir quais processos serão informatizados e como serão in-terligados, é hora de escolher o sistema que será adquirido. Esse processo deverá ser feito cuidadosamente com base nas características desejadas e em sua importância.

Page 38: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

38

MÓDULO 2OPERAÇÕES DE FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO

Neste módulo veremos quais são as principais operações de financiamento do capital de giro, ou seja, a que tipo de empréstimo é possível recorrer quando se trata de financiar os eventuais descompassos entre a entrada e a saída de recursos necessários às operações comerciais da empresa.

Vamos ver também como fazer os cálculos para cada tipo de operação. E, para entender melhor as taxas de juros cobradas, antes demonstraremos como elas são formadas.

Por fim, concluiremos o módulo conhecendo as garantias que o banco exige para liberar estas operações.

O sr. Joaquim Teixeira, um bananicultor, é o personagem que irá nos acompanhar durante todo esse caminho e dará seu exemplo.

2.1 - Formação das taxas de juros

2.2 - Operações pré-fixadas e pós-fixadas

2.3 - Principais operações de financiamento do capital de giro

Page 39: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

39

MÓDULO 2OPERAÇÕES DE FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO

2.1 - FORMAÇÃO DAS TAXAS DE JUROS

Taxas de juros

Esse é um assunto fundamental quando se trata de operações financeiras.

Afinal, como se formam as taxas de juros no mercado?

Por que existe uma distância tão grande entre as taxas de juros definidas pelo COPOMG e as pratica-das pelo mercado?

Banana. Um produto bem comum no Brasil, certo?

Todos sabemos que quanto maior a oferta de bananas no mercado, menor será seu preço.

Se, por outro lado, há escassez de bananas no mercado, seu preço será maior. É a chamada lei da oferta e da procura, válida para qualquer mercadoria.

Isso explica por que a expressão “preço de banana” é válida no Brasil, país tropical, mas não em países frios, onde o cultivo da banana não é possível e, portanto, é um produto importado.

Pense nisso...

O que isso tem a ver com a formação da taxa de juros? Você consegue imaginar?

O dinheiro tem algo em comum com as bananas: também é uma mercadoria e, por isso, também está sujeito à lei da oferta e da procura. Quanto maior a oferta de dinheiro, menor o seu custo e, quanto menor a oferta de dinheiro, maior o seu custo.

Ora, o custo do dinheiro é o juro. Então podemos dizer que, quanto maior for a oferta de dinheiro, menor serão as taxas de juros e vice-versa.

Se for assim tão simples, porque não reduzir ao mínimo as taxas de juros de forma a facilitar a vida das pessoas e das empresas?

O problema não é tão simples quanto parece.

Em primeiro lugar não se reduz a taxa de juros tabelando-a. É preciso aumentar a oferta de dinheiro e para isso ser feito é preciso tê-lo. Se o governo não tem este dinheiro, teria que emitir papel moeda, o que geraria inflação.

Em segundo lugar, com a taxa de juros mais baixa o crédito fica mais barato e o consumo é estimulado. Nem sempre o aumento do consumo pressiona a inflação. Mas, em determinadas circunstâncias, isso pode ocorrer.

O governo, então, precisa calibrar a taxa de juros do mercado de forma a equilibrar o consumo e a taxa de inflação. Isso é feito por meio da política econômica.

A política econômica é composta de uma política fiscal e uma política monetária.

Quem executa a política fiscal do governo é o Ministério do Planejamento por meio do orçamento, que é submetido ao Congresso para aprovação todos os anos.

Page 40: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

40

Quando aumenta seus gastos (muitas vezes gerando, inclusive, déficits orçamentários), o governo inje-ta dinheiro na economia e isso pressiona as taxas de juros para baixo. Inversamente, à medida que reduz seus gastos, deixa de injetar dinheiro no mercado e pressiona as taxas de juros para cima. Todo gasto governamental tem a capacidade de injetar dinheiro na economia. Mesmo que seja, em exemplo irreal, ao pagar pessoas para cavar e tapar buracos sem criar nenhuma riqueza.

A política monetária é executada pelo Banco Central, cuja principal função é a defesa da moeda, ou seja, o controle da inflação.

Chamamos, então, de política monetária as diversas ações do Banco Central que têm por objetivo con-trolar a expansão da moeda e do crédito de forma a controlar as taxas de juros, procurando adequá-las às necessidades de crescimento econômico e estabilidade dos preços.

Para alcançar estes objetivos, o Banco Central utiliza as operações de mercado aberto, os chamados “depósitos compulsórios” e a política cambial.

O controle da liquidez por meio de operações do mercado aberto consiste na compra ou venda de títu-los do Tesouro Nacional da carteira do Banco Central ou de títulos de sua própria emissão.

O Banco Central avalia diariamente a liquidez, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação no mer-cado. Caso constate um excesso de liquidez, o Banco Central vende títulos. Entregando títulos ao mercado e recebendo dinheiro pela venda destes títulos, reduz o meio circulante. Em caso de escassez de liquidez, faz o contrário: resgata estes títulos e entrega dinheiro, aumentando o meio circulante no sistema.

Para compreender os “depósitos compulsórios” é preciso entender também a capacidade que as insti-tuições financeiras possuem de criar moeda escritural.

Ao emprestar a seus clientes, a instituição financeira cria meios de pagamento que, ao serem utilizados pelo tomador do empréstimo, geram depósito em outra instituição financeira, a qual, por sua vez, passa a dispor de recursos para emprestar a outro cliente, e assim sucessivamente. A repetição deste mecanismo mostra a capacidade que as instituições financeiras possuem de multiplicar a moeda.

Isso significa que, quando um banco empresta, digamos, R$ 10.000,00 para um cliente, este emprésti-mo viabiliza transações que, no conjunto, somam algumas vezes R$ 10.000,00.

Vimos que o excesso de liquidez, isto é, o excesso de dinheiro em circulação, pode pressionar a in-flação. Então, para reduzir esta capacidade de geração de moeda, o Banco Central exige que algumas instituições financeiras – especificamente bancos comerciais, bancos múltiplos com carteiras comerciais e caixas econômicas – mantenham uma parcela de seus recursos nas chamadas “reservas bancárias compulsórias”. Elas são nada mais do que depósitos compulsórios não remunerados que devem ser feitos em espécie no próprio Banco Central. As instituições podem ficar sujeitas a recolhimentos junto ao Banco Central de até 100% dos depósitos a vista e de até 60% de outros títulos contábeis. Com menos recursos disponíveis para emprestar, os bancos passam a cobrar taxas de juros mais elevadas, reduzindo, desta forma, o consumo e, em conseqüência, pressionando a inflação para baixo.

O terceiro instrumento que o Banco Central usa para irrigar ou enxugar o mercado é a política cambial, ou seja, a compra ou a venda de divisas.

A compra ou a venda de divisas funciona de forma semelhante à compra e venda de títulos públicos. Toda vez que o Banco Central vende divisas, entrega dólares de sua reserva cambialG e recebe Reais, ele está, dessa forma, “enxugando” o mercado. Toda vez que o banco Central compra divisas, recebe dólares e entrega Reais, ele está “irrigando” o mercado.

Lembra que falamos do preço da banana no início deste módulo?

Vamos conhecer agora um bananicultor, ou seja, um produtor das bananas.

Page 41: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

41

Sr. João Teixeira é dono de um sítio de 100 hectares, onde nasceu há 60 anos. Seu pai já cultivava bananas nesta época. Sua propriedade é modelo do cultivo desta fruta. A experiência de décadas e sua ânsia por sempre aprender mais são fatores do seu sucesso.

Para definir o preço da banana, Teixeira precisa partir dos custos que teve para sua produção. Ele sabe que nesta safra a produção de cada quilo de banana lhe custou R$ 0,50, entre mão-de-obra, impostos, material, máquinas, desgaste etc. A partir daí ele vai definir o preço de venda aos intermediários, levando em conta também, é claro, o seu lucro. Porém, ele sabe que vender o quilo a menos de R$ 0,50 significa prejuízo.

Ao calcular a taxa de juros que vai oferecer a seus clientes, os bancos agem de forma semelhante ao que o Sr. Joaquim Teixeira faz para definir o preço da banana ou a qualquer empresa quando fixa seus preços de venda.

O ponto de partida é o custo de captação dos recursos. Este custo é a média ponderada do custo de oportunidade de seus recursos próprios, o custo dos depósitos não remunerados de seus clientes e o custo de suas captações internas e externas (ou seja, provenientes de empréstimos tomados pelo Banco no Brasil e no exterior), ajustados pela necessidade de congelar uma parte destes recursos em depósitos compulsórios no Banco Central. Levam em consideração também os custos dos tributos e seus custos fixos. Analisam as oportunidades do mercado e definem a meta de remuneração dos acionistas.

Ao fixarem os preços de seus produtos, se deparam com um problema: a inadimplência esperada de alguns de seus clientes.

As empresas de classificação de risco comercial, tais como a SERASA, a SCI-Equifax e outras, classifi-cam as instituições não financeiras de acordo com o risco que representam e estimam a sua probabilidade de inadimplência destas empresas.

Baseados nestas informações, os bancos definem as taxas que vão oferecer a seus clientes de acordo com o risco que representam. Quanto maior for o risco, maior deve ser o retorno. Teoricamente, a taxa de juros oferecida a um cliente representa a taxa que torna o banco indiferente a emprestar para aquele cliente ou a um cliente cujo risco de inadimplência seja praticamente zero.

Ao dar uma idéia do ambiente em que os bancos tomam algumas de suas decisões de crédito, espe-ramos contribuir para facilitar o diálogo das empresas com seus bancos e preparar o aluno para o tópico que se segue: a captação de recursos para o financiamento do capital de giro.

Page 42: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

42

2.2 - OPERAÇÕES PRÉ-FIXADAS E PÓS-FIXADAS

Os juros cobrados em uma operação financeira podem ser calculados a taxas pré-fixadas ou pós-fi-xadas. Uma taxa é pré-fixada quando é definida no momento do fechamento do negócio e não varia ao longo do contrato. Quando uma operação é fechada a uma taxa de juros pré-fixada, a inflação pode cair ou subir, a cotação do dólar pode despencar ou disparar, o Banco Central pode reduzir ou aumentar a taxa referencial de juros, mas a taxa de juros da operação não se altera.

Já a taxa de juros pós-fixada é composta de duas parcelas, uma delas fixa e a outra variável. A parcela da taxa de juros que é fixa é chamada de taxa de juros real. A parcela variável evolui de acordo com um indexadorG que é definido no momento do contrato.

São inúmeros os indexadores utilizados pelas instituições financeiras para contratos de empréstimos e financiamentos. Os mais comuns em operações para o financiamento do capital de giro são o dólar e o CDI.

CDI - Certificados de Depósito Interbancários

Os Certificados de Depósito Interbancários (CDIs) foram criados na década de 80 como um instrumen-to que permitisse às instituições financeiras emprestar dinheiro entre si de forma a garantir o “fechamento” de seus fluxos de caixa. Assim, as instituições com sobras de caixa emprestam àquelas que apresentam escassez de recursos. Os CDIs são títulos das próprias instituições financeiras e possuem características idênticas às de um Certificado de Depósito Bancário. Sua negociação, no entanto, está restrita ao merca-do interbancário.

As operações com CDI são realizadas sem qualquer interferência do Banco Central. Estão, portanto, livres de impostos. A troca destes papéis é feita eletronicamente, sem contratos, sendo que as transações ficam registradas nos sistemas das próprias instituições e na CETIP – Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos. Diariamente a CETIP publica a taxa média dos CDIs negociados entre as maiores instituições financeiras do país no dia anterior. É esta a taxa que servirá de base de cálculo nos contratos pós-fixados em CDI.

E quando é que se deve optar por um empréstimo a taxas pré-fixadas ou pós-fixadas? Será que tanto faz uma ou outra?

Vimos as duas situações em que o Sr. Teixeira estaria ao escolher entre uma operação pós-fixada e uma pré-fixada. Vimos que seria pior se ele escolhesse a pós-fixada. Você acha que é isso o que acontece sempre? As empresas devem sempre buscar as operações pré-fixadas?

Nem sempre as operações pré-fixadas são a melhor opção.

Quando o empréstimo é feito a taxas pré-fixadas, sabe-se, desde o momento do fechamento do contra-to, o quanto se pagará de juros. Isso não ocorre quando os juros são pós-fixados. Neste caso, se o indica-dor disparar, o tomador do empréstimo sairá perdendo; já se o indexador despencar, ele sairá ganhando.

É por isso que, quando a empresa tem a percepção que as taxas de inflação ou as cotações do dólar ou as taxas de juros vão subir, deve dar preferência a operações de empréstimo a taxas de juros pré-fixadas porque, assim, estará “travando” estas taxas em seu ponto mais baixo. Por outro lado, caso a empresa ache que as taxas do indexador de seu contrato vão cair, deve dar preferência a contratos de empréstimos a taxas pós-fixadas.

IOF - Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro

As operações de financiamento e empréstimo entre pessoas jurídicas estão sujeitas à incidência do IOF. A base de cálculo deste imposto é o valor dos recursos entregues ou colocados à disposição do tomador do empréstimo e a alíquota, que quando se tratar de pessoa jurídica é 1,5% a.a ou 0,0041% a.d.

Page 43: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

43

(=1,5% a.a. : 365 dias). Esse valor é fixo. É um dos poucos impostos no Brasil que não mudam de alíquota há décadas.

Por isso, quando uma empresa faz um contrato de empréstimo em moeda nacional com um banco ou com outra pessoa jurídica, ela não recebe exatamente a quantia que tomou emprestado. Isso acontece porque quem empresta retém o valor correspondente ao IOF.

Quando o contrato previr amortizações parciais do principal da dívida, o IOF é calculado proporcional-mente aos dias em que o cliente efetivamente utilizou o saldo devedor.

Está lembrado que o Sr. Joaquim tomava emprestado R$ 100.000,00 para pagar em seis meses (ou seja, 180 dias)? Independentemente de as taxas de juros serem pré-fixadas ou pós-fixadas, o banco rete-ria R$ 738,00 de IOF e entregaria somente R$ 99.262,00 ao seu cliente. Veja os cálculos abaixo:

Cálculo do IOF devido:

R$ 100.000 x 180 dias x 0,0041% a.d.= R$ 738,00

Cálculo do líquido a receber:

R$ 100.000 - R$ 738 = R$ 99.262,00

Se o principal da dívida fosse amortizado em duas prestações iguais, trimestrais e sucessivas de R$ 50.000, o cálculo do IOF devido seria feito conforme o cálculo abaixo:

1ª. parcela:

R$ 100.000 x 90 dias x 0,0041% a.d. = R$ 369,00

2a. parcela:

R$ 50.000 x 90 dias x 0,0041% a.d. = R$ 184,50

Total

R$ 553,50

Page 44: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

44

2.3 - PRINCIPAIS OPERAÇÕES DE FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO

As operações de empréstimo bancário para financiamento de Capital de GiroG mais comuns no mer-cado são:

Desconto de Títulos e Duplicatas

Operações de Capital de Giro

Contas Garantidas

Desconto de Títulos e Duplicatas

O desconto é uma modalidade de empréstimo de financiamento de capital de giro concedido por meio de adiantamento garantido por títulos ou notas promissórias de crédito com recebimento futuro. Os juros são cobrados antecipadamente na data de liberação dos recursos com base na taxa de juros (também chamada de taxa de desconto) e no prazo a decorrer de cada título.

No caso da Duplicata, o emitente do título, ao negociá-lo, é obrigado a endossá-lo transferindo para a instituição financeira seus direitos creditícios. Apesar desta transferência de direitos creditícios, a empresa emitente continua responsável pela liquidez do título negociado de tal forma que, se o sacado não pagar, a instituição financeira poderá debitar seu valor na conta corrente do emitente.

É importante notar que os descontos de Notas Promissórias, Duplicatas e cheques pré-datados são das poucas operações financeiras que, juntamente às operações em moeda estrangeira e aos juros de mora, têm seus encargos financeiros calculados pelo regime de juros simples. Explicaremos por que isso acontece mais adiante.

O sr. Teixeira recebeu, no início de dezembro de 2003, uma nota promissória no valor de R$ 15.000,00 cujo vencimento era somente no dia 05/01/04. Como precisava do dinheiro imediatamente, no dia 16/12/03 descontou-a com o Banco do Povo. A taxa de desconto negociada foi de 4% a.m. Vamos ver qual foi o valor líquido recebido pelo sr. Teixeira.

1. Prazo a decorrer do título – 20 dias corridos.

2. Cálculo do IOF

R$ 15.000 x 20 dias x 0,0041% a.d. = R$ 12,30

3. Cálculo dos juros

a) taxa proporcional = (4% x 20 dias) : 30 dias = 2,67%

b) juros = R$ 15.000 x 2,67% = R$ 400,50

4. Cálculo do líquido recebido

R$ 15.000 - R$ 12,30 - R$ 400,50 = R$14.587,20

Observe que não se mencionou a data exata de emissão da duplicata, que é irrelevante para o cálculo dos juros e do valor líquido a receber. O que importa é o prazo a decorrer do título.

É importante notar que, no caso do desconto de títulos e duplicatas, a taxa de juros efetivamente paga pelo tomador do empréstimo acaba sendo maior do que a taxa nominal de desconto. Veja por quê.

Sabemos que a taxa de juros de um empréstimo é a relação entre o juro pago e o principal da dívida, referida a um período de tempo. No caso que vimos, o Sr. Teixeira tomou emprestado, ou seja, recebeu, R$ 14.599,50 (= R$ 15.000 - R$ 400,50) e pagou R$ 400,50 de juros. A taxa de juros no período de 20 dias foi, então:

Page 45: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

45

R$ 400,50 : R$ 14.599,50 = 0,0274 ou 2,74%

Para encontrarmos a taxa mensal que seja proporcional a 2,74% no período de 20 dias, temos:

Como se vê, neste caso, Sr. Teixeira pagou efetivamente 4,11% ao mês. Isso é mais do que os 4% a.m. que ele poderia pensar que estava pagando devido ao fato de ser esta a taxa de desconto cobrada.

Quando uma empresa envia um ou mais títulos para serem descontados, estes títulos são relacionados em um documento conhecido como “borderô”.

No dia 07/03/03 a empresa do Sr. Teixeira, Bananas Miranda, descontou os seguintes títulos a uma taxa de desconto de 4%. Vamos calcular o valor do borderô sabendo que o IOF é de 1,5% a.a.

BORDERÔ DE DESCONTO DE DUPLICATABanco: Banco do Povo Data 07/03/03Taxa: 4,00%IOF: 1,50%Dupl. Nº Sacado Vencto. Nº de Dias Valor Juros IOF Líquido

1349 Empresa Alfa 04/04/03 28 12.002,56 448,10 13,81 11.540,65 534/1 Empresa Beta 21/03/03 14 36.153,75 674,87 20,80 35.458,08 9122 Empresa Gama 24/03/03 17 15.652,40 354,79 10,94 15.286,68 309 Empresa Delta 07/04/03 31 24.367,00 1.007,17 31,04 23.328,79

Total 88.175,71 2.484,92 76,59 85.614,20

Os juros da primeira duplicata foram calculados pela equação:

O IOF foi calculado pela equação:

IOF = Valor do título x número de dias x 0,0041% a.d. = R$ 12.002,56 x 28 x 0,0041% = R$ 13,81

Será que o fato de o desconto de títulos e duplicatas ser calculado pelo regime de juros simples é bom ou é ruim para o tomador do empréstimo?

Sabemos, como nos demonstra a matemática financeira, que o montante, quando calculado pelo regi-me de juros simples, evolui segundo uma linha reta (daí a expressão “juros lineares”). Quando calculado pelo regime de juros compostos, evolui segundo uma curva exponencial (daí a expressão “juros exponen-ciais”).

Isso significa que o montante calculado pelo regime de juros compostos evolui muito mais rapidamente do que quando calculado pelo regime de juros simples.

Basta dizer que um capital aplicado a uma taxa de 2% a.m. calculado no regime de juros simples dobra em 50 meses. Se este mesmo capital for aplicado à mesma taxa de 2% a.m. só que calculado pelo regime de juros compostos, ele dobra em apenas 35 meses.

Page 46: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

46

Evolução do montante no regime de juros simples

Evolução do montante no regime de juros compostos

Será então que tomar um empréstimo no regime de juros simples é sempre melhor do que no regime de juros compostos?

O melhor meio de mostrar qual é a resposta correta é por um exemplo.

Imagine que duas empresas tomaram emprestados R$ 100.000 cada, para pagar em seis meses. Em ambos os casos a taxa de juros era de 10% ao ano. O empréstimo da primeira empresa era calculado no regime de juros simples; o da segunda, no regime de juros compostos. Os cálculos abaixo demonstram quanto cada uma pagou no final do período.

1ª empresa:

M = P x [1 +( i x n)] = 100.000 x [1 + (0,10 x 0,5)] = R$ 105.000

2ª empresa:

M = P x (1 + i)n = 100.000 x (1 + 0,10)0,5 = R$ 104.880

Onde:

M = montante

P = principal

I = taxa de juros

N = prazo da operação

Page 47: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

47

Curiosamente, a empresa que tomou emprestado no regime de juros compostos acabou tendo um desembolso menor do que a que tomou emprestado no regime de juros simples e isso vai contra nossa intuição. Como explicar o acontecido?

Observe a figura abaixo:

Se o prazo dos dois empréstimos fosse de um ano, as duas empresas teriam pago o mesmo, ou seja, juros de R$ 10.000. Se o prazo da operação fosse superior a um ano, a empresa que tivesse tomado em-prestado a juros compostos teria desembolsado mais. Como o prazo do empréstimo foi inferior ao período de capitalização (um ano), a empresa que tomou a juros simples acabou pagando mais.

Portanto, todas as vezes que o prazo da operação for inferior ao período de capitalização, o regime de juros simples produz um montante superior ao montante produzido pelo regime de juros compostos.

Operações de Capital de Giro

As operações de capital de giro são empréstimos com os prazos variados (geralmente superiores a 30 dias) para pagamento de juros e amortização do principal. Os juros cobrados podem, por sua vez, ser pré-fixados ou pós-fixados.

No caso de contratos de capital de giro em moeda nacional, os juros são sempre calculados no regime de juros compostos.

Existem casos em que a remuneração de quem empresta pode ser cobrada, no todo ou em parte, ante-cipadamente. Quando toda a remuneração é cobrada antecipadamente na liberação dos recursos, diz-se que os juros foram cobrados “na cabeça”. Quando somente parte dos juros é cobrada no ato de liberação dos recursos, denomina-se esta parcela antecipada de comissão “flat” ou TAC - Taxa de Abertura de Crédito.

Apesar de sabermos que existem meses com 28, 29, 30 e 31 dias e anos com 365 dias e com 366 dias, a convenção do mercado é considerar todos os meses com 30 dias corridos e todos os anos com 360 dias corridos. Mais adiante veremos que o mercado também convencionou que o ano possui 252 dias úteis independentemente dos dias da semana em que caiam os feriados.

Operações em Moeda Nacional com Juros Pré Fixados

Ao calcular o valor das parcelas de uma operação de capital de giro com juros pré-fixados, siga os

Page 48: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

48

seguintes passos:

1. Calcule o número de dias entre a data de entrada em vigor do contrato e a primeira prestação e entre as prestações sucessivas.

2. Calcule para cada prestação a taxa de juros no período que seja equivalente à taxa da opera-ção. Lembre-se de que duas taxas são equivalentes quando, aplicadas no regime de juros com-postos sobre um mesmo principal e por um mesmo período, produzem um mesmo montante.

3. Aplique a taxa de juros encontrada sobre o saldo devedor. Isso porque o tomador do emprés-timo só deve pagar juros sobre os recursos efetivamente utilizados no período. Caso a operação preveja amortizações parciais, à medida que o saldo devedor vai diminuindo, os juros devidos vão diminuindo também.

Exemplo

O sr. Teixeira fez um contrato de capital de giro com juros pré-fixados no valor de R$ 100.000,00. Ele quer saber qual o valor das parcelas que deverá pagar ao banco.

A taxa de juros foi pré-fixada em 20% a.a. O valor total do contrato é de R$ 100.000,00. Vamos calcular as duas primeiras parcelas.

Instituição Banco do Povo Valor em R$: 100.000,00 Descrição Capital de Giro Taxa de Juros ao ano: 20,00%Contrato nº 123.456/04 IOF: 369,82 Assinatura 09/jan/04 Líquido Recebido: 99.630,18

Prestação Data Principal Juros Total Saldo1 9/fev/04 20.000,00 100.000,002 9/mar/04 20.000,00 80.000,00

3 9/abr/04 20.000,00 60.000,004 10/mai/04 20.000,00 40.000,005 9/jun/04 20.000,00 20.000,00

1. Cálculo da 1a. prestação:

a) Prazo: 31 dias

b) Taxa de juros equivalente no período: [(1,20)31/360 - 1] = 0,0158238

c) Cálculo dos juros: R$ 100.000 x 0,0158 = R$ 1.582,38

d) Total da prestação: R$ 20.000,00 + R$ 1.582,38 = R$ 21.582,38

2. Cálculo da 2a. prestação:

a) Prazo: 29 dias

b) Taxa de juros equivalente no período: [(1,20)29/360 - 1] = 0,014795

c) Cálculo dos juros: R$ 80.000 x 0,0158 = R$ 1.183,63

d) Total da prestação: R$ 20.000,00 + R$ 1.183,63 = R$ 21.183,63

Page 49: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

49

Você também pode fazer os cálculos usando a calculadora financeira HP 12C de forma muito mais simples.

Usando a calculadora, teríamos para a primeira prestação:

n = 31 : 360 = 0,86111 ano

i = 20% a.a.

PV = 100.000

FV = ?

1. O prazo da operação deve ser expresso na mesma unidade de tempo da taxa de juros. Como a taxa de juros está expressa em anos, o prazo da operação foi expressa em anos também. Daí dividirmos o prazo (31 dias) por 360.

2. Neste exercício, o valor presente é sempre igual ao saldo devedor.

Digitando Viso Comentário

0,8611 n 0,86 Períodos em anos

20 i 20,00 Taxa de Juros ao ano

100.000 CHS FV - 100.000,00 Saldo devedorPV 121.582,38 Montante procurado

Para encontrar o valor das demais prestações é só repetir os cálculos demonstrados.

Instituição Banco X Valor em R$: 100.000,00 Descrição Capital de Giro Taxa de Juros ao ano: 20,00%Contrato nº 123.456/04 IOF: 373,92 Assinatura 09/jan/04 Líquido Recebido: 99.626,08

Prestação Data Principal Juros Total Saldo1 9/fev/04 20.000,00 1.582,38 21.582,38 100.000,002 9/mar/04 20.000,00 1.183,63 21.183,63 80.000,00

3 9/abr/04 20.000,00 949,43 20.949,43 60.000,004 10/mai/04 20.000,00 632,95 20.632,95 40.000,005 9/jun/04 20.000,00 306,19 20.306,19 20.000,00

Dica

Antes de começar a negociar com seu banco, consulte o site do Banco Central do Brasil - www.bcb.gov.br - para ter um balizamento de como andam as taxas de juros praticadas pelas diversas instituições financeiras.

Page 50: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

50

Operações em Moeda Nacional com Juros Pós Fixados em CDI

As taxas do CDI são publicadas diariamente no site da CETIP e expressas em termos de juros anuais. Para determinar a taxa do CDI acumulada entre duas datas é necessário criar uma tabela de fatores na qual o fator de um dia é igual ao fator do dia anterior multiplicado por [1 + (CDI do dia anterior/100)] (1 / 252), conforme mostrado abaixo:

Data CDI Fator

01/dez/03 17,23 1,00000002/dez/03 17,21 1,00063103/dez/03 17,22 1,00126204/dez/03 17,22 1,00189305/dez/03 17,22 1,00252508/dez/03 17,23 1,00315709/dez/03 17,22 1,00379010/dez/03 17,23 1,00442311/dez/03 17,21 1,00505712/dez/03 17,20 1,005691

Na tabela, o fator do primeiro dia é sempre 1. O fator do segundo dia foi calculado conforme a equação abaixo:

[(1+0,1723)(1 / 252)] x 1,000000 = 1,000631

Os demais fatores foram calculados da mesma maneira. Na tabela, a variação do CDI entre os dias 02/12/03 e 12/12/03 é dada pelo quociente da divisão do fator da data final pelo fator da data inicial. Assim temos que:

Variação = [(1,006324 : 1,001262) – 1] = 0,005056 ou 0,5056 %

Acontece que nem sempre as operações são calculadas com base em 100% da variação do CDI. De-pendendo das circunstâncias, os bancos podem cobrar um pouco mais ou um pouco menos do que 100% da variação do CDI. Quando o banco cobra um pouco menos do que 100% da variação do CDI, estas taxas são denominadas em expressões do tipo: 95% do CDI. Quando são superiores a 100% da variação do CDI, as taxas são denominadas em expressões do tipo: 103% do CDI. Nestes casos, o cálculo do fator diário se faz pela fórmula:

Fn = F(n-1) x { [1 + (P% x CDI(n-1))] (1 : 252)]}

Onde:

Fn - fator no dia

F (n-1) - fator no dia anterior

P% - porcentagem do CDI

CDI(n-1) – CDI no dia anterior

O sr. Teixeira assinou no dia 10/10/03, em nome de sua empresa, um contrato de capital de giro no valor de R$ 100.000. O prazo do contrato era dois meses e o principal seria amortizado em duas parcelas iguais mensais e sucessivas de R$ 50.000 cada, com vencimentos nos dias 10/11/03 e 10/12/03. O con-trato previa ainda pagamento de juros mensais nas mesmas datas de amortização do principal. A taxa de

Page 51: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

51

juros pactuada foi de 103% do C.D.I. Vamos ver qual o valor das prestações pagas.

Data Amortização Fator Juros Prestação Saldo10/11/03 50.000,0010/12/03 50.000,00

Data CDI Fator 100% Fator 103%08/out/03 19,72 1,00429521 1,0043934709/out/03 19,71 1,00501242 1,0051307610/out/03 19,73 1,00573082 1,0058682413/out/03 19,74 1,00645007 1,0066069514/out/03 19,74 1,00716983 1,00734654

06/nov/03 18,76 1,01910825 1,0196510007/nov/03 18,75 1,01980347 1,0203660710/nov/03 18,75 1,02049915 1,0210812911/nov/03 18,75 1,02119532 1,0217970112/nov/03 18,76 1,02189229 1,02251323

08/dez/03 17,23 1,03383513 1,0348500009/dez/03 17,22 1,03448715 1,0355210910/dez/03 17,23 1,03513993 1,0361922611/dez/03 17,21 1,03579243 1,0368642212/dez/03 17,20 1,03644499 1,03753590

1. Cálculo da primeira prestação

a) Cálculo dos juros

Fator do dia 10/10/03 – 1,00586824

Fator do dia 10/11/03 – 1,02108129

J=[(1,02108129 : 1,00586824)-1] x $100.000 = R$ 1.512,43

b) Cálculo da prestação

R$ 50.000 + R$ 1.512,43 = R$ 51.512,43

Observação: Repare que no cálculo das prestações no caso dos juros pós-fixados em CDI pelo método acima não foi necessário calcular o número de dias entre as datas das prestações.

2. Cálculo da segunda prestação

a) Cálculo dos juros

Fator do dia 10/11/03 – 1,02108129

Fator do dia 10/12/03 – 1,03619226

J=[(1,03619226 : 1,02108129)-1] x R$ 50.000 = R$ 739,95

b) Cálculo da prestação

Page 52: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

52

R$ 50.000 + R$ 739,95 = R$ 50.739,95

Data Amortização Fator Juros Prestação Saldo10/10/03 1,00586824 100.00010/11/03 50.000,00 1,02108129 1.512,43 51.512,43 50.00010/12/03 50.000,00 1,03619226 739,95 50.739,95

Operações em Moeda Estrangeira com Juros Pré Fixados

As operações em moeda estrangeira são feitas com recursos externos obtidos pelos bancos e repas-sados a seus clientes com uma margem de lucro denominada “spread”. Estas operações podem oferecer quatro vantagens em relação aos empréstimos feitos em moeda nacional. São elas:

1. Estão isentas do pagamento do IOF.

2. Os juros são calculados pelo regime de juros simples.

3. Os prazos podem ser mais dilatados.

4. Como as taxas de juros externas são bem inferiores às cobradas no Brasil, há a possibilidade de estas operações saírem mais baratas do que se tivessem sido feitas em Reais.

No entanto, as operações em moeda estrangeira trazem embutido um grande problema: o risco cam-bial.

Se a cotação da moeda estrangeira disparar em relação ao real, o custo do empréstimo pode se tornar proibitivo. São inúmeros os exemplos que ilustram este problema. Nos últimos cinco anos, em pelo menos duas ocasiões a cotação do dólar disparou: durante a crise cambial de janeiro de 1999 e no final de 2002. Inúmeras empresas que estavam endividadas em moeda estrangeira tiveram prejuízos enormes.

Quando as empresas são exportadoras e, portanto, têm contas a receber em moeda estrangeira, pode acontecer de a desvalorização cambial não ser grave. Basta que o valor dos empréstimos em moeda es-trangeira seja próximo aos valores a receber pelas exportações feitas. Neste caso, a desvalorização que encarece as operações em moeda estrangeira aumenta os valores a receber e a situação se equilibra. Já as empresas que não possuem ativos em moeda estrangeira, caso queiram tomar recursos nestas moe-das e não estejam dispostas a correr riscos, podem proteger suas posições com as chamadas operações de “hedge”. São operações sofisticadas e que fogem ao escopo deste curso.

Nas operações em moeda estrangeira, a taxa de câmbio usada no cálculo da amortização do principal e dos encargos é sempre a “taxa de venda”, ou seja, a taxa pela qual o banco vende a moeda estrangeira. Quando se trata de dólar norte-americano, o Banco Central publica diariamente a chamada PTAX, que é a média ponderada da taxa de venda do dólar comercial apurada no dia anterior. Sendo assim, somente no dia seguinte é que se vai saber qual foi a PTAX. Isso quer dizer que, na prática, as operações denomi-nadas em PTAX são sempre liquidadas em D+1, isto é, as variações cambiais são apuradas com base na variação da moeda havida entre um dia antes da data inicial e um dia antes da data de cada prestação.

Vamos ver mais uma vez um exemplo envolvendo o sr. Teixeira.

Exemplo

O sr. Teixeira tem recebimentos em dólar, já que exporta suas bananas. Por isso avaliou que a operação em moeda estrangeira não seria muito arriscada.

No dia 07/01/03, fechou com um banco uma operação no valor de US$ 100.000. A cotação do dólar norte-americano no dia anterior ao dia da assinatura do contrato era de R$ 3,7197. O prazo

Page 53: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

53

da operação é de dois anos. Os juros deverão ser pagos semestralmente e o principal deverá ser integralmente pago no final.

Vamos calcular o valor da primeira prestação que venceu no dia 07/07/03. A taxa de juros da operação é de 24% a.a. e a cotação do Dólar no dia 04/07/03 era R$ 3,2182.

Observação: Como o dia 07/07/03 caiu numa segunda-feira, o dia útil imediatamente anterior foi o dia 04/07/03.

1. Cálculo da taxa de juros proporcional

Considerando que o período tem 181 dias e que as operações em dólar são sempre calculadas no regime de juros simples, teremos que a taxa de juros proporcional é dada pela fórmula:

2. Cálculo dos Juros em US$

Juros = Principal x Taxa de Juros = US$ 100,000 x 12,0667% = US$ 12,066.67

3. Cálculo da prestação em R$

US$ 12,066,67 x R$ 3,2182 / US$ = R$ 38.832,95

Como a Contabilidade lança os juros e a variação cambial em contas separadas, para efeitos contábeis esta prestação deverá ser decomposta em:

Juros = US$ 12,066.67 x R$ 3,7197 / US$ = R$ 44.884,39

Variação Cambial = US$ 12,066.67 x (R$ 3,2182 – R$ 3,7197) = -R$ 6.051,43

Observação: As operações em moeda estrangeira não são necessariamente calculadas pela taxa do dia anterior, ou seja, o PTAX. Estas operações podem eventualmente ser negociadas pelo dólar do dia (chamado no mercado de “dólar pronto”) e a taxa de câmbio utilizada é a taxa de venda no momento do fechamento do contrato de câmbio.

Calcule agora o quanto o sr. Teixeira receberia e o quanto desembolsaria na primeira prestação da operação do exemplo anterior, caso houvesse fechado a operação com base no dólar pronto e a moeda norte-americana fosse cotada a R$ 3,7135 no dia 07/01/03 e a R$ 3,2143 em 07/07/03.

Importante

No dia 07/01/03, o sr. Teixeira fechou com um banco uma operação no valor de US$ 100.000. O prazo da operação é de dois anos. Os juros deverão ser pagos semestralmente e o principal deverá ser integralmente pago no final.

A taxa de juros da operação é de 24% a.a.

Como o dia 07/07/03 caiu numa segunda-feira, o dia útil imediatamente anterior foi o dia 04/07/03.

Os valores em dólar tanto da operação quanto dos juros continuaria o mesmo. O que mudaria seria seu valor em reais. Assim teríamos que:

Page 54: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

54

1. Valor recebido pelo sr. Teixeira na assinatura do contrato

US$100.000 x R$3,7135/US$ = R$ 371.350,00

2. Valor da primeira prestação

US$ 12,066,67 x R$ 3,2143/US$ = R$ 38.785,90

Operações em Moeda Estrangeira com Juros Pós Fixados

O principal indexador das operações pós-fixadas em moeda estrangeira é a LIBOR (London Inter Bank Offered Rate).

A LIBOR é uma taxa básica referencial de juros a ser praticada a partir mês do iniciado e pode ser co-tada para 1, 3, 6 ou 12 meses de tal forma que se pode calcular com até um ano de antecedência o valor de uma prestação de um contrato em moeda estrangeira indexado à Libor.

1 mês 6 7/16 % a.a. ou 6,44 % a.a2 meses 6 11/16 % a.a ou 6,69 % a.a6 meses 6 7/8 % a.a ou 6,88 % a.a12 meses 7 9/32 % a.a ou 7,28 % a.a

O sr. Teixeira fez um contrato de empréstimo pós-fixado em moeda estrangeira pela Libor para ampliar sua produção. Vamos ver como foram feitos os cálculos.

No dia 5 de maio de 2.003 o sr. Teixeira contratou um empréstimo de US$ 1,000,000 à Libor, mais 3%. O contrato previu pagamento de juros semestrais e principal no final. Vamos calcular o valor em US$ da primeira prestação de juros, paga no dia 05/11/03.

A primeira prestação foi cobrada dentro de 184 dias, ou seja, no dia 5 de novembro de 2.003, que caiu em uma quarta feira. O valor da prestação, em dólar, foi calculado conforme a seqüência abaixo.

1. Cálculo da taxa proporcional

2. Cálculo dos Juros

Juros = US$ 1,000,000 x 5,04977% = US$ 5.049,78

Suponha agora que a operação do sr. Teixeira fosse de apenas três meses e que vencesse no dia 05/08/03, que a cotação do Libor para três meses fosse 6,75% e que o banco houvesse cobrado uma taxa de juros de LIBOR + 3,25%. Qual seria o montante em dólares que o sr. Teixeira teria que pagar?

O prazo da operação seria, neste caso, 92 dias corridos. Assim, teríamos que:

1. Cálculo da taxa proporcional

2. Cálculo dos Juros

Juros = US$ 1,000,000 x 2,55556% = US$ 25,555.56

Page 55: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

55

Contas Garantidas

As contas garantidas são uma forma de empréstimo de financiamento do capital de giro pela qual o banco disponibiliza para seu cliente um limite dentro do qual podem ser feitos saques a descoberto. É semelhante ao cheque especial das pessoas físicas.

Os recursos das contas garantidas costumam ser mais caros do que os obtidos em operações de capital de giro ou em desconto de duplicatas. Um dos motivos disso acontecer é que o banco é obriga-do a manter recursos disponíveis para que o cliente saque no momento que quiser. Por isso, as contas garantidas devem ser usadas, de preferência, em empréstimos de curtíssimo prazo que não possam ser financiados nem com descontos de duplicata nem com operações de capital de giro.

Nas contas garantidas os juros são cobrados em função do saldo devedor e do número de dias de utilização do crédito e podem ser pré-fixados ou pós-fixados.

Atualmente a modalidade mais comum de indexação de contas garantidas é o CDI. É importante notar que, como no caso das contas garantidas, o saldo devedor pode variar diariamente em função dos depósi-tos ou saques havidos, os juros devidos em um dia somam-se ao saldo devedor do dia anterior para formar a base de cálculo sobre a qual incidirá a taxa de juros.

O quadro abaixo representa o saldo da conta corrente ao longo de sete dias de uma semana. Os saldos negativos representam os valores utilizados na conta garantida.

Dia Saldo1 (12.523,56)2 (22.540,45)3 15.957,124 4.459,445 16.579,526 16.579,527 16.579,52

Vamos calcular

1. O valor dos juros pagos pela empresa Bananas Miranda nos três primeiros dias do período, sendo que a taxa de juros cobrada pela instituição financeira para este tipo de operação é de 10,71% a.m. pré-fixados.

2. O valor dos juros pagos pela empresa nos dois primeiros dias do período, sendo que a institui-ção financeira cobra juros equivalentes a 102% da variação do CDI, considerando que a taxa do CDI seja 18,71% no primeiro dia e 18,76% no segundo.

1. Juros pré-fixados

a) Cálculo da taxa de juros diária equivalente a 10,71% a.m.

b) Cálculo dos juros diários

1º dia - R$ 12.523,56 x 0,3397% = R$ 42,55

Page 56: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

56

2º dia - (R$ 22.540,45+$42,55) x 0,3397% = R$ 76,71

3º dia - (R$ 42,55 + R$ 76,71) x 0,3397% = R$ 0,41

Os saldos devedores das contas garantidas também estão sujeitos ao IOF na alíquota de 0,0041% a.d. No exemplo acima, teríamos que:

1º dia - $12.523,56 x 0,0041% = $0,5135

2º dia - ($22.540,45+$42,55) x 0,0041% = $0,9259

3º dia - ($42,55 + $76,71) x 0,0041% = $0,0049

2. Juros pós-fixados em CDI

a) Cálculo da taxa de juros equivalentes no 1º dia

b) Cálculo da taxa de juros no 2º dia

c) Cálculo dos juros diários

1º dia - R$ 12.523,56 x 0,06933% = R$ 8,68

2º dia - (R$ 22.540,45 + R$ 8,68) x 0,0695% = R$ 15,67

Vamos ver se você entendeu como funciona a conta garantida. O cheque especial da pessoa física é calculado da mesma forma que a conta garantida. Na verdade as duas operações são quase idênticas. A diferença é que, no caso das contas garantidas oferecidas para a as empresas, como os valores en-volvidos são, geralmente, muito mais elevados do que no caso das pessoas físicas, o banco pode pedir garantias para liberar o crédito.

Imagine que o seu banco lhe dê um cheque especial de R$ 5.000,00 e lhe cobre uma taxa de juros de 5% ao mês. Quanto você pagaria de juros nos dois primeiros dias de utilização do cheque especial se seu saldo negativo fosse R $2.000 no primeiro dia e R$ 3.000 no segundo dia?

Primeiro vamos calcular a taxa de juros diária que é equivalente a 5% ao mês.

Agora, calculamos os juros e o IOF no 1º dia:

Juros = R$ 2.000 x 0,001628 = R$ 3,26

Page 57: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

57

No segundo dia, os juros do primeiro dia seriam acrescidos ao saldo devedor do primeiro dia e passa-riam a pagar juros também. Assim, teríamos que:

Juros = (R$ 3.000 + R$ 3,26) x 0,001628 = R$ 4,89

Existe ainda uma modalidade de cálculo de taxas de juros pós-fixadas indexadas em CDI sobre a qual não falamos e que ultimamente tem sido muito utilizada no cálculo dos juros de contas garantidas.

Nesta modalidade, as taxas são definidas em função da taxa diária equivalente ao CDI mais um so-brepreço. Neste caso a taxa é denominada como: CDI + 0,4% a.m. A taxa efetiva mês é determinada calculando-se a taxa equivalente ao mês do CDI e somando o sobrepreço. A taxa efetiva dia é obtida determinando-se a taxa equivalente dia do CDI e somando-se o spread dividido por 30.

O sr. Teixeira também já usou essa modalidade de empréstimo.

Vamos ver quais os juros pagos pela Bananas Miranda sobre o saldo devedor de R$ 400.000 de uma conta garantida, negociada a uma taxa de juros pós-fixada equivalente a CDI+0,4% a.m. A taxa do CDI naquele dia era 17,90%a.a.

1. Cálculo da taxa equivalente dia do CDI

ie = 1,179 (1/252) – 1 = 0,000654

2. Cálculo da taxa equivalente dia do contrato

i’e = 0,000654 + (0,004 : 30) = 0,000787

3. Cálculo dos juros

R$ 400.000 x 0,000787 = R$ 314,79

Nesta modalidade de cobrança de juros, a taxa diária cobrada nos sábados, domingos e feriados nacio-nais é simplesmente igual ao spread dividido por 30, já que a variação do CDI nestes dias é zero.

Agora que aprendemos a calcular os juros de uma conta garantida, estamos em condições de entender o funcionamento desta modalidade de empréstimo.

Na verdade, o que acontece na prática é que, ao aprovar um limite de conta garantida para um cliente, o banco abre uma conta garantida que não é diretamente observável pelo cliente. Todas as vezes que o saldo da conta corrente fica negativo, o banco transfere recursos da conta garantida para a conta corrente e cobra juros pela utilização destes recursos. À medida que vão ocorrendo depósitos na conta corrente, estes são transferidos para a conta garantida até que seu saldo devedor zere.

Vê-se daí que quem utiliza a conta garantida acaba pagando CPMF duas vezes: a primeira quando fez o débito que causou o saldo negativo e a segunda quando cobriu o saldo devedor da conta garantida. Vamos ver com um exemplo da conta garantida do sr. Teixeira como isso acontece.

Vamos calcular os juros diários da conta garantida do sr. Teixeira, que apresentava os saldos na tabela que você vê abaixo. Sabe-se que o banco cobra uma taxa de juros de 7% a.m. pré-fixados e capitalizados pelo regime de juros compostos.

Page 58: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

58

Dia Saldo1/10 (10.000)2/10 (15.000)3/10 (12.000)4/10 5.000

Sabemos que os juros são calculados multiplicando-se o valor do principal pelo fator de capitalização menos um. Então, vamos calcular o fator de capitalização para um dia, subtrair um e armazenar este valor.

[(1+0,07)(1 : 30) – 1] = 0,002258

Agora, para calcular o valor dos juros diários, basta multiplicar o valor do saldo devedor pelo número acima.

Temos, então, que:

1º dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .R$ 10.000 x 0,002258 = R$ 22,58

2º dia No segundo dia, os juros do primeiro dia se somam ao saldo devedor do segundo dia e passam a pagar juros também. (R$ 15.000 +R$ 22,58) x 0,002258 = R$ 33,92

3º dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .(R$ 12.000 + R$ 22,58 + R$ 33,92) x 0,002258 = R$ 27,22

4º dia A partir do quarto dia, caso o saldo da conta permaneça positivo até o final do mês e o cliente não houver negociado com o banco a possibilidade de fazer uma liquidação prévia do contrato, o banco continuará a calcular juros sobre os juros devidos até que estes sejam cobrados, o que normalmen-te ocorre no primeiro dia útil do mês subseqüente. Assim, no quarto dia, temos: R$ 83,72 x 0,00258 = R$ 0,189026

5º dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . (R$ 83,72 + R$ 0,189026) x 0,002258 = R$ 0,189453

6º dia . . . . . . . . . . . . . . . .(R$ 83,72 + R$ 0,189453 + R$ 0,189026) x 0,002258 = R$ 0,189880

O quadro mostra as transações ocorridas no caso demonstrado. Os valores apresentados em negrito representam o que o cliente vê no seu extrato e os valores em cinza representam as operações feitas pelo banco e que não são observadas pelo cliente. Apesar de o quadro só apresentar as transações até o dia 13, caso o cliente não tiver negociado com o banco a possibilidade de fazer uma liquidação prévia do contrato, os juros continuarão sendo cobrados até o último dia do mês. Repare que, como dissemos, o saldo devedor está sujeito à incidência do IOF na alíquota de 0,0041% a.d.

Conta Garantida

Banco Banco XYZ Data: 02/12/03Agência 123 Juros: 7,00%c/c nº 1.234.567/00 IOF: 1,50% a.a

Page 59: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

59

Dia Histórico Valor Saldo IOFDiário

JurosDiário

JurosAcumulados

01/10/03 Saldo Inicial A (10.000,00)01/10/03 (10.000,00) 0,41096 22,57833 22,58

02/10/03 Saque (5.000,00) (15.000,00)02/10/03 Juros (22,58) (15.028,58) 0,32000 33,91848 56,50 03/10/03 Depósito 3.000,00 (12.000,00)03/10/03 Juros (33,92) (12.056,50) 0,50000 27,22156 83,72 04/10/03 Depósito 17.000,00 5.000,00 05/10/03 Juros (83,72) (83,72) 0,00344 0,18902 83,91 06/10/03 Juros (83,91) (83,91) 0,00345 0,18945 84,10 07/10/03 Juros (84,10) (84,10) 0,00346 0,18988 84,29 08/10/03 Juros (84,29) (84,29) 0,00346 0,19031 84,48 09/10/03 Juros (84,48) (84,48) 0,00347 0,19074 84,67 10/10/03 Juros (84,67) (84,67) 0,00348 0,19117 84,86 11/10/03 Juros (84,86) (84,86) 0,00349 0,19160 85,05 12/10/03 Juros (85,05) (85,05) 0,00350 0,19203 85,24 13/10/03 Juros (85,24) (85,24) 0,00350 0,19246 85,44

As garantias

Em operações de empréstimo para capital de giro os bancos normalmente pedem o aval do diretores da empresa, garantias reais (duplicatas) e Notas Promissórias. Quando se tratam de empresas de primei-ra linha e, dependendo dos valores envolvidos, as garantias reais podem ser dispensadas.

Quando o contrato prevê o pagamento de juros pós-fixados, é impossível saber exatamente qual vai ser o valor de liquidação do contrato. Por isso o banco solicita que a empresa tomadora assine uma Nota Promissória em branco, a ser preenchida com os valores do contrato em caso de inadimplência. Algumas empresas estranham e se recusam a cumprir esta exigência. A legislação, no entanto, prevê a existência das Notas Promissórias vinculadas. Se a Nota Promissária for preenchida com elementos em desacordo com o previsto no contrato, é caracterizado comportamento abusivo e ela perde seu valor.

As garantias pedidas pelos bancos devem ser suficientes para cobrir o principal da operação, seus encargos financeiros e uma margem de segurança para fazer face a eventuais inadimplências que tirem das duplicatas sua característica de garantia.

Compete à empresa, no entanto, controlar o nível das garantias durante a vigência do contrato para não entregar ao banco credor mais garantias do que o acordado. Isso pode ser feito por meio de um re-latório.

Banco Operação Valor Saldo em aberto Garantias Dupl.

InativasDupl.

Ativas Total

Bco. do Povo 159.753 100.000 100.000 115.000 15.000 120.000 135.000Bco. Beta 09191 80.000 80.000 96.000 90.000 90.000Bco.Gama 1825-1 300.000 200.000 230.000 30.000 180.000 210.000Bco.Gama 1825-2 400.000 400.000 460.000 50.000 510.000 560.000

Page 60: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

60

RESUMO

1. O dinheiro é uma mercadoria e, por isso, está sujeito à lei da oferta e da procura. Quanto maior a oferta de dinheiro, menor o seu custo e, quanto menor a oferta de dinheiro, maior o seu custo. O custo do dinheiro é o juro. Portanto, quanto maior for a oferta de dinheiro, menor serão as taxas de juros e vice-versa.

2. É por meio da política econômica que o governo calibra a taxa de juros para equilibrar consumo e inflação.

3. A política econômica é composta de uma política fiscal e uma política monetária.

4. A política fiscal do governo é executada por meio do orçamento. Quando aumenta seus gastos, o governo injeta dinheiro na economia e isso pressiona as taxas de juros para baixo. Quando re-duz seus gastos, deixa de injetar dinheiro no mercado e pressiona as taxas de juros para cima.

5. Política monetária são as diversas ações do Banco Central que têm por objetivo controlar a expansão da moeda e do crédito de forma a controlar as taxas de juros. Para isso o Banco Cen-tral utiliza as operações de mercado aberto, os chamados “depósitos compulsórios” e a política cambial.

6. O controle da liquidez por meio de operações do mercado aberto consiste na compra ou venda de títulos do Tesouro Nacional da carteira do Banco Central ou de títulos de sua própria emis-são.

7. Para reduzir a capacidade de gerar moeda das instituições financeiras, o Banco Central exige que algumas delas mantenham uma parcela de seus recursos nas chamadas “reservas bancá-rias compulsórias”. Elas são depósitos compulsórios não remunerados que devem ser feitos em espécie no próprio Banco Central.

8. A política cambial acontece pela compra e venda de divisas.

9. Os juros cobrados pelos bancos são calculados com base no custo de captação dos recursos. Levam em conta diversas variáveis, como seus custos fixos, custo dos tributos, oportunidades de mercado etc. E, claro, consideram o risco de inadimplência do cliente.

10. Os juros podem ser calculados a taxas pré-fixadas ou pós-fixadas. Uma taxa é pré-fixada quando é definida no momento do fechamento do negócio e não varia ao longo do contrato. A taxa de juros pós-fixada é composta de duas parcelas, uma delas fixa e a outra variável. A parce-la da taxa de juros que é fixa é chamada de taxa de juros real. A parcela variável evolui de acordo com um indexador que é definido no momento do contrato.

11. Os indexadores mais comuns em operações para o financiamento do capital de giro são o dólar e o CDI. Os CDIs são títulos das próprias instituições financeiras e possuem características idênticas às de um Certificado de Depósito Bancário. Sua negociação, no entanto, está restrita ao mercado interbancário.

12. As operações de financiamento e empréstimo entre pessoas jurídicas estão sujeitas à inci-dência do IOF. A base de cálculo deste imposto é o valor dos recursos entregues ou colocados à disposição do tomador do empréstimo e a alíquota, quando se tratar de pessoa jurídica, é 1,5% a.a. ou 0,0041% a.d.

13. As operações de empréstimo bancário para financiamento de Capital de GiroC mais comuns no mercado são: Desconto de Títulos e Duplicatas, Operações de Capital de Giro e Contas Ga-rantidas.

14. O desconto é uma modalidade de empréstimo concedido por meio de adiantamento garantido por títulos ou notas promissórias de crédito com recebimento futuro. Os juros são cobrados ante-cipadamente na data de liberação dos recursos com base na taxa de juros e no prazo a decorrer

Page 61: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 2´

61

de cada título.

15. No caso da Duplicata, o emitente do título, ao negociá-lo, é obrigado a endossá-lo transferindo para a instituição financeira seus direitos creditícios. Apesar desta transferência de direitos credi-tícios, a empresa emitente continua responsável pela liquidez do título negociado.

16. As operações de capital de giro são empréstimos com os prazos variados (geralmente supe-riores a 30 dias) para pagamento de juros e amortização do principal. Os juros cobrados podem ser pré ou pós-fixados. Em contratos de capital de giro em moeda nacional, os juros são sempre calculados no regime de juros compostos. - Existem casos em que a remuneração de quem em-presta pode ser cobrada, no todo ou em parte, antecipadamente. Quando toda a remuneração é cobrada antecipadamente, na liberação dos recursos, diz-se que os juros foram cobrados “na cabeça”. Quando somente parte dos juros é cobrada no ato de liberação dos recursos, denomina-se esta parcela antecipada de comissão “flat” ou TAC - Taxa de Abertura de Crédito.

17. As contas garantidas são uma forma de empréstimo de financiamento do capital de giro pela qual o banco disponibiliza para seu cliente um limite dentro do qual podem ser feitos saques a descoberto. É semelhante ao cheque especial das pessoas físicas.

18. Em operações de empréstimo para capital de giro os bancos normalmente pedem o aval do diretores da empresa, garantias reais (duplicatas) e Notas Promissórias. Quando se tratam de empresas de primeira linha e, dependendo dos valores envolvidos, as garantias reais podem ser dispensadas.

Page 62: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

62

MÓDULO 3APLICAÇÕES FINANCEIRAS

Neste módulo iremos falar sobre as aplicações disponíveis no mercado às quais é possível recorrer quando há excesso de caixa. Veremos suas principais características e como são feitos os cálculos do seu retorno. Assim você terá informações essenciais para fazer sua própria análise e tomar as decisões mais acertadas.

Para ilustrar os conceitos, contaremos com o exemplo de Manuela Santos, uma investidora que conhece muito bem as aplicações de que vamos tratar aqui.

3.1 - Risco e Retorno

3.2 - Informações Gerais

3.3 - Aplicações Financeiras de Curto Prazo

Page 63: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

63

MÓDULO 3APLICAÇÕES FINANCEIRAS

3.1 - RISCO E RETORNO

Antes de começarmos a falar das aplicações financeiras propriamente ditas, é preciso entender dois conceitos fundamentais: o que é “risco” e o que é “retorno”.

Em finanças, chamamos de retorno os ganhos em decorrência de uma aplicação ou investimento. O retorno, por sua vez, é composto de duas parcelas. Para exemplificarmos isso, vamos apresentar Manuela Santos e uma situação vivida por ela.

Exemplo

Manuela é uma investidora. Graças à sua visão de negócios, comprou um terreno por R$ 15.000 numa região que, segundo sua análise, seria valorizada.

Após alguns anos, esse era o cenário que cercava o terreno comprado por Manuela: casas de alto nível foram construídas na região, que agora conta com uma ótima infra-estrutura. O terreno de Manuela valorizou-se bastante.

Imagine então que ela tenha revendido o terreno por R$ 40.000. Durante os anos que separaram a data de compra da data de venda ela não explorou o terreno, ou seja, não gerou rendimento durante o período e, ao contrário, houve gastos (IPTU, condomínio etc). Mesmo assim o preço de venda foi superior ao de compra acrescido destes gastos. Houve, portanto, um retorno.

Essa situação exemplifica a primeira parcela do retorno: a valorização do investimento feito.

Imagine agora uma outra situação possível: Manuela, percebendo a valorização da região do terreno, constrói uma casa, investindo o total de R$ 200.000 (incluindo a compra do terreno, a construção da casa e despesas com condomínio e IPTU) e a aluga. O valor do aluguel é de R$ 1.500, mais condomínio e IPTU. Ao completar dois anos de aluguel, Manuela vende a casa por R$ 300.000.

Aqui foi representada a segunda parcela do retorno: os rendimentos recebidos no período em que esteve de posse da aplicação feita. O aluguel de um imóvel é um retorno, da mesma forma que os juros de uma aplicação.

O retorno de Manuela foi, além dos R$ 100.000 da diferença do valor da venda da casa e do que investiu (R$ 300.000 – R$ 200.000), a soma de dois anos de aluguel (24 X R$ 1.500), equivalente a R$ 36.000. Seu retorno, portanto, foi de R$ 136.000.

Se você tivesse que escolher entre duas aplicações igualmente seguras, uma que rendesse R$ 1.000 e outra que rendesse R$ 2.000 no mesmo período, qual seria sua opção?

É provável que você tenha percebido que as informações dadas não são suficientes para saber qual é a melhor escolha. Antes de se decidir, você certamente precisaria perguntar qual seria o investimento inicial nos dois casos. Não basta medir o retorno por seu valor absoluto.

Falamos que o rendimento das aplicações seria de R$ 1.000 e R$ 2.000, mas o investimento inicial poderia ser de R$ 10.000 e R$ 100.000, respectivamente. Desta forma, o primeiro investi-mento seria bem mais rentável e, portanto, a melhor opção.

Page 64: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

64

Vemos, então, que para compararmos investimentos que envolvam riscos iguais temos que comparar o retorno com o valor investido, em um mesmo período de tempo. Chamamos a relação entre o retorno e o principal investido de taxa de retorno. A taxa de retorno nada mais é do que a rentabilidade do investi-mento e deve estar sempre referida a uma unidade de tempo.

Manuela adquiriu ações no valor de R$ 10.000. Qual foi a taxa de retorno sabendo que, ao final de um ano, vendeu as ações por R$ 12.000 e que neste período recebeu R$ 1.000 de dividendos?

Investimento: R$ 10.000

Retorno: R$ 3.000

Taxa de retorno: R$ 3.000 : R$ 10.000 = 0,30 ou 30% ao ano.

Esse é o conceito de risco em finanças: a incerteza quanto aos resultados futuros. Não significa que os resultados sejam necessariamente ruins, basta que sejam incertos.

Abaixo você vê os tipos de risco que vamos discutir.

1. Risco de calote: Representado pela incerteza de receber de volta o valor aplicado ou o rendimento devido.

2. Risco de liquidez: Representado pela incerteza de conseguir se desfazer, sem prejuízo, da aplicação feita a qualquer tempo.

3. Risco de retorno: Representado pela incerteza quanto ao rendimento da aplicação.

Existem outros tipos de risco e outras formas de classificá-los. Na teoria das carteirasG, os riscos são classificados em “sistemáticos” e “não sistemáticos” ou em “diversificáveis” e “não diversificáveis”G. Um outro tipo é o chamado risco soberano, que é a incerteza de que uma aplicação feita no exterior não seja prejudicada pelas mudanças da legislação local.

De agora em diante, ao longo deste módulo, sempre que falarmos de “risco” estaremos nos referindo ao risco de retorno, a menos que seja explicitado o contrário.

Você conheceu Manuela no começo deste módulo. Jovem, mas já experiente, Manuela é uma inves-tidora muito bem-sucedida. Ela sente-se desafiada frente aos riscos. Mas se engana quem pensa que ela gosta de altos riscos. Pelo contrário, o desafio que ela percebe é encontrar a melhor relação entre o retorno de um investimento e o seu risco. É conhecer o máximo sobre as aplicações e descobrir aquela cujo retorno compensa os riscos corridos.

Por suas competências, ela é uma pessoa indicada para nos conduzir no decorrer deste módulo.

Um investimento sem riscos. O sonho de todo investidor conservador, com aversão aos riscos.

Será que existe um investimento livre de riscos, considerando o mundo inteiro?

Na prática não existem investimentos totalmente livres de risco. Só para se ter uma idéia, os investi-mentos considerados mais seguros do mundo são os títulos do Tesouro norte-americano – as Treasury Bills, as Treasury Notes e as Treasury Bonds. No entanto, como veremos quando tratarmos dos papéis de renda fixa, ao aplicar nestes papéis o investidor pode saber exatamente o quanto vai resgatar na data de vencimento do título, mas não tem certeza do quanto vai receber caso queira se desfazer deste papel an-tes de seu vencimento. Isso significa que nem mesmo os papéis mais seguros do mundo estão totalmente livres de risco, já que possuem um risco de liquidez.

Da mesma maneira que o retorno pode ser quantificado para efeitos de comparação pela taxa de retor-no entre dois ou mais investimentos, o risco também pode ser medido.

Page 65: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

65

A medida do risco é o desvio padrão. Para compreender este conceito, imagine que acompanhamos diariamente, ao longo de um mês, o retorno de dois investimentos e registramos nossas observações no gráfico abaixo.

Este exemplo é meramente elucidativo, já que o comportamento de um investimento ao longo de um mês é insuficiente para se tirar qualquer conclusão a respeito de suas características.

Repare que o investimento cinza apresenta uma dispersão em torno da média menor do que a do investimento preto. O desvio padrão dá a medida da dispersão dos valores em torno da média. Aqui não estamos interessados na fórmula de cálculo do desvio padrão. Basta que entendamos o conceito.

O mercado se refere ao desvio padrão como volatilidade. Quanto mais volátil for um investimento, mais arriscado (ou seja, mais imprevisível) ele é. Na figura, o investimento cinza é menos volátil (e, portanto, menos arriscado) que o investimento preto.

Quando se tratam de aplicações financeiras, risco e retorno são indissociáveis. O mercado precifica o risco e cobra um prêmio de risco que será tanto maior quanto maior for a volatilidade de um investimento. É por isso que, quanto maior for o risco, maior terá que ser o retorno de uma aplicação. Chamamos de prê-mio de risco a diferença entre a taxa de retorno exigida pelo mercado sobre um determinado investimento e a taxa de retorno obtida por uma aplicação livre de risco.

Qual o prêmio de risco de um investimento cujo rendimento esperado é 30% a.a., sabendo que taxa de retorno de um investimento “livre de risco” é 16,5% a.a.

O prêmio de risco é 13,5% a.a. (=30% - 16,5%).

O que o exemplo mostra é que, a menos que a taxa de retorno esperada seja, no mínimo, 13,5% a.a. acima da taxa de retorno do investimento livre de risco, o mercado não estará disposto a correr o risco daquela aplicação.

No Brasil, os títulos públicos são considerados os parâmetros do investimento livre de risco. Isso por-que, teoricamente, se o governo não possuir recursos para resgatá-los no vencimento, pode emitir moeda para fazê-lo.

Vejamos agora como risco e retorno se inter-relacionam.

Repare na figura da próxima página. Neste cenário temos duas aplicações, uma cinza e outra preta. A cinza possui uma taxa de retorno média superior à taxa de retorno média da preta. Além disso, a aplicação cinza é também menos volátil, ou seja, menos arriscada. Dizemos em finanças que, neste caso, a aplica-ção cinza domina a aplicação preta no risco e no retorno.

Page 66: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

66

Nesta circunstância, 100% dos investidores com expectativas racionais dariam preferência à aplicação cinza.

Considere agora o cenário abaixo. Vemos que as duas aplicações possuem a mesma volatilidade, mas a taxa de retorno média da aplicação preta é superior à da aplicação cinza. Neste cenário, 100% dos in-vestidores com expectativas racionais dariam preferência à aplicação preta, pois ela equivale à aplicação cinza no que diz respeito ao risco, mas a domina no retorno.

No cenário abaixo, a taxa de retorno média dos dois investimentos é igual, mas o investimento verme-lho é menos volátil e, portanto, menos arriscado. Este é um caso em que os dois investimentos se equiva-lem quanto ao retorno, mas o investimento preto é dominado pelo cinza no que diz respeito ao risco. Agora, 100% dos investidores com expectativas racionais dariam preferência à aplicação cinza.

Até aqui tem havido unanimidade entre os investidores quando se trata de optar entre as duas aplica-ções. A situação se complica no cenário abaixo. Agora a aplicação preta domina a cinza quanto ao retorno, mas é dominada por ela quanto ao risco.

Qual a opção dos investidores, considerando que podem aplicar todos os seus recursos tanto no inves-timento cinza quanto no preto ou podem, ainda, aplicar em ambos na proporção que preferirem?

Não há uma resposta que possa ser apontada como correta. Neste caso, a preferência de cada in-vestidor vai depender do seu grau de aversão ao risco. Quanto mais avesso ao risco for o investidor (ou seja, quanto mais conservador), maior será a proporção de recursos que destinará ao investimento cinza. Quanto menos avesso ao risco ele for, maior a proporção de recursos que investirá na aplicação preta.

Repare se a resposta que você escolheu indica seu grau de aversão aos riscos. Esse exercício pode dar indícios do seu perfil de investidor.

Veja as possíveis classificações de um investidor em relação ao risco. Aproveite para perceber qual é o tipo em que você se encaixa.

Page 67: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

67

Avesso ao risco: Um investidor avesso ao risco é aquele que exige um prêmio para assumir um risco. Quanto mais avesso ao risco for, maior será o prêmio que exigirá.

Neutro ao risco: O investidor neutro ao risco seria aquele que escolhesse sempre as apli-cações que dessem o maior retorno, sem se preocupar com os riscos envolvidos. Embora seja difícil imaginar tal tipo de comportamento na prática, vários modelos econômicos utilizam esta abstração para chegar às suas conclusões.

Propenso ao risco: O investidor propenso ao risco (a quem alguns autores se referem como “amante do risco”) seria aquele que escolheria sempre a opção mais arriscada, independentemen-te de seu retorno. Ele, na verdade, não estaria buscando o retorno, mas arriscando pelo prazer de arriscar. Este tipo de investidor não é contemplado pela teoria econômica porque não possui expectativas racionais.

Vemos, então, que cada investidor tem um grau diferente de aversão ao risco. O problema é que não se consegue avaliar com precisão este grau de aversão ao risco antes de o investidor fazer suas opções de investimento. Este fenômeno é chamado em microeconomia de princípio da preferência revelada.

Por tudo o que foi visto até agora, chegamos a duas conclusões.

A primeira é que não existem aplicações completamente livres de riscos.

A segunda é que, quando se trata de escolher onde aplicar seus excessos de caixa, existem algumas regras que são comuns a todas as empresas. No entanto, a decisão final quanto à composição de sua carteira vai depender do grau de aversão ao risco da pessoa que tem a palavra final sobre o assunto, ou seja, não existe uma regra que seja aceita por todos indistintamente.

Page 68: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

68

3.2 - INFORMAÇÕES GERAIS

Títulos de renda fixa e títulos de renda variável

Dizemos que um investimento é de renda fixa quando produz um fluxo de caixa pré-determinado por um prazo limitado. O fato de um fluxo de caixa ser pré-determinado não significa que saibamos com an-tecedência o valor exato de suas entradas ou saídas. Significa que as regras de formação das entradas e das saídas são pré-estabelecidas.

Os títulos de renda fixa podem ser pós-fixados ou pré-fixados, dependendo de se as taxas de juros podem variar ou não ao longo do período da aplicação. Trata-se do mesmo conceito discutido no tópico 2.2 do módulo 2. Se o investidor tem a percepção de que as taxas de juros vão cair, deve dar preferência a aplicações pré-fixadas para “travar” as taxas em seu ponto mais alto. Quando, ao contrário, acreditar que as taxas de juros vão subir, deve buscar aplicações pós-fixadas.

Quando um investimento não possui um fluxo de caixa pré-determinado e seu prazo é indefinido, ele é chamado de renda variável.

Renda fixa:

São considerados títulos de renda fixa investimentos como:

1. Certificados de Depósito Bancário

2. Notas Promissórias comerciais (commercial papers)

3. Títulos públicos

4. Debêntures

5. Export Notes.

6. Letras hipotecárias (modalidade de aplicação recentemente relançada pela Caixa Econômica Federal)

Renda variável: As ações são papéis de renda variável.

Existem, ainda, dois outros tipos de operações que, por suas características, não se enquadram em nenhuma das duas classificações citadas anteriormente – títulos de renda fixa ou variável. São os equi-valentes à caixa (expressão que deriva do inglês “Cash Equivalent”), também chamados de caixa remu-nerado, e os derivativos. As contas de poupança e os fundos de investimento, por possuírem baixíssimo risco, liquidez imediata e prazos indefinidos, são classificados como equivalentes à caixa. Os derivati-vos são operações cujo valor deriva (daí o seu nome) do comportamento de um ativo subjacenteG. Os derivativos não são ativos; são contratos. Além disso, por serem operações extremamente sofisticadas, fogem completamente do escopo deste cursoG.

Neste curso trataremos apenas de aplicações de renda fixa e dos equivalentes à caixa.

Taxas de juros

Vimos no módulo anterior que as taxas pelas quais os bancos emprestam seus recursos são função, principalmente, de suas taxas de captação e do risco do cliente. Vimos também que as instituições fi-nanceiras emprestam dinheiro entre si nas chamadas operações interbancárias. A média ponderada das taxas de juros das operações interbancárias havidas ao longo de um dia é a taxa do CDI, que serve de parâmetro para a maioria das operações pós-fixadas em moeda nacional no mercado.

Ora, se um banco tanto pode captar recursos de outro banco pagando a taxa do CDI quanto pode em-

Page 69: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

69

prestar para outra instituição financeira pela mesma taxa, porque iria transacionar com uma empresa não financeira por estas mesmas taxas se o risco, neste caso, é quase sempre maior?

É por esta razão que, quando uma empresa pequena ou média quer aplicar seus excessos de caixa, quase nunca consegue uma taxa superior à do CDI e, quando quer tomar emprestado, quase nunca con-segue uma taxa inferior ao CDI.

Aspectos Tributários

As aplicações de um modo geral estão sujeitas a quatro impostos: o IOF - Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros, o Imposto de Renda, o PIS e o Cofins. Além desses tributos, quando o cliente faz uma aplicação paga também 0,38% de CPMF sobre o valor dos recursos que saíram de sua conta corrente para adquirir o investimento.

O IOF incide sobre os ganhos financeiros em aplicações em títulos de renda fixa e sua alíquota é decrescente em função do prazo da aplicação (número de dias decorridos entre a data da aplicação e a data de seu resgate). Aplicações de um dia pagam 96% de IOF sobre o ganho financeiro auferido. A partir do trigésimo dia de aplicação, os rendimentos financeiros ficam isentos do IOF. Veja abaixo a tabela de incidência do IOF. A coluna “Nº. de dias” refere-se ao prazo da aplicação.

Nº de dias Alíquota Nº de dias Alíquota Nº de dias Alíquota Nº de dias Alíquota1 96% 9 70% 17 43% 25 16%2 93% 10 66% 18 40% 26 13%3 90% 11 63% 19 36% 27 10%4 86% 12 60% 20 33% 28 6%5 83% 13 56% 21 30% 29 3%6 80% 14 53% 22 26% 30 0%7 76% 15 50% 23 23%8 73% 16 46% 24 20%

Se um investidor fizesse uma aplicação de R$ 1.000.000 e resgatasse R$ 1.000.050 no dia seguinte, o IOF corresponderia a 96% de R$ 50 (ou seja, R$ 48), pois o prazo da aplicação foi de apenas um dia. Caso aplicasse R$ 1.000.000 e resgatasse R$ 1.000.500 dez dias depois, o IOF cobrado seria de 66% de R$ 500, ou seja, R$ 330.

As aplicações financeiras de uma forma geral estão sujeitas ao Imposto de Renda na fonte à alíquota de 20% incidentes sobre os ganhos financeiros auferidos já descontados do IOF, quando este for devido.

Além disso, os ganhos financeiros havidos nestas operações devem ser incluídos na declaração do Imposto de Renda da empresa. Neste caso, se a empresa tiver tido lucro tributável no exercício, estará sujeita ao pagamento de 15% de Imposto de Renda, 10% de Adicional do Imposto de Renda sobre o lucro tributável que exceder a R$ 240.000 e 9% de Contribuição Social sobre o Lucro. Evidentemente que, nes-tes casos, a empresa poderá descontar o Imposto retido na fonte do imposto a pagar.

Em nossos exemplos não vamos considerar os impostos que devem ser pagos na declaração.

Por outro lado, como os ganhos brutos em uma aplicação são considerados “receitas financeiras”, es-tão sujeitos ao pagamento do PIS e do Cofins nas alíquotas de 1,65% e 7,60%, respectivamente, sobre o rendimento financeiro.

Isso tudo faz com que, como veremos adiante, em alguns casos os impostos a pagar sejam superiores aos ganhos obtidos nas aplicações.

Page 70: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

70

3.3 - APLICAÇÕES FINANCEIRAS DE CURTO PRAZO

Como este módulo trata de aplicações de excessos de caixa para os efeitos do planejamento financeiro de curto prazo, e como as instituições não-financeiras em geral não aplicam seus excessos de caixa de curto prazo em títulos de renda variável, trataremos aqui somente dos papéis de renda fixa e das aplica-ções equivalentes à caixa.

Primeiramente falaremos das aplicações de renda fixa.

Vimos que um investimento é de renda fixa quando produz um fluxo de caixa pré-determinado por um prazo limitado e que pode ser pós-fixado ou pré-fixado, dependendo de se as taxas de juros são flutuantes ou estão vinculadas ou não a um indexador.

Antes de entrarmos na análise de cada um dos principais papéis de renda fixa, vamos discutir nas pró-ximas páginas algumas características que são comuns a todos eles.

Quando se tratam de cálculos financeiros envolvendo papéis de renda fixa, é muito comum os prazos das operações serem medidos em dias úteis em vez de dias corridos. Para efeitos dos cálculos financei-ros, consideram-se dias úteis o número de dias corridos entre duas datas, menos os sábados, domingos e feriados nacionais.

Quando isso ocorre, não se pode utilizar os recursos de uma calculadora financeira para determinar o número de dias úteis entre duas datas. Temos, então, que utilizar calendários especiais que nos forneçam essa informação ou a planilha Excel, que dispõe de uma função que calcula o número de dias úteis entre duas datas levando em consideração os feriados no período.

Esta função da planilha Excel, que na versão em português do programa chama-se DIATRABALHO-TOTAL e na versão em inglês NETWORKDAYS, encontra-se no sub-conjunto Data e Hora da tabela de funções, dentro do menu Inserir. A sintaxe desta função é DIATRABALHOTOTAL (data_inicial;data_final;feriados).

Antes de começar a usar a planilha fornecida, verifique se a função DIATRABALHOTOTAL está insta-lada em seu computador. Para isso, clique no menu “Ferramentas”. Em seguida, clique em “Suplementos”. Agora clique em “Ferramentas de Análise” par ativar esta função. Seu computador estará pronto para utilizar a planilha.

Observação: Quando nem todos os seus recursos foram inseridos na instalação do Excel no computa-dor, esta planilha pode não funcionar. Porém, na maioria dos casos essa função está ativada.

Existem papéis que pagam rendimentos periódicos; outros, não. Os rendimentos periódicos pagos por um título de renda fixa são freqüentemente chamados de cupon. Por esta razão, os papéis que não pagam rendimentos periódicos são chamados genericamente de títulos zero cupon.

No gráfico abaixo você visualiza o fluxo de caixa de um título que custa R$ 1.000,00, com prazo de dois anos e que paga cupon semestral de R$ 30,00.

Page 71: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

71

Vamos começar pelos títulos zero cupon. É comum conhecer seu valor (denominado valor de face do título) na data do resgate. Neste caso, o valor de mercado pelo qual o título será adquirido vai depender da remuneração desejada pelo investidor. Observe os cálculos abaixo.

Manuela quer adquirir no dia 15/01/2004 um título zero cupon com R$ 1.000 de valor de face e que vença no dia 01/09/2004. Vamos ver qual seria o preço máximo que ela estaria disposta a pagar por este título caso deseje um rendimento bruto de 16% a.a.

Na planilha “Dias Úteis” encontramos que do dia 15/01/04 ao dia 01/09/04 existem 161 dias úteis. Os feriados no período são: Carnaval (24/2/04), Paixão (09/04/04). Tiradentes (21/04/04) e Corpus Cristi (10/06/04). O gráfico representa o fluxo de caixa do papel.

Para encontrar o valor presente deste papel que nos conduza a uma taxa de retorno de 16% a.a. temos que dividir o valor de face pelo fator de capitalização (1,16)161 / 252.

Valor Futuro (VF) = 1.000

n = 161 d.u. (abreviação de “dias úteis”)

i = 16% a.a. ou 0,16 a.a.

Valor Presente (VP) = ?

Temos então que:

Agora tente resolver as duas questões abaixo.

1. Quanto valeria este título no dia 15/06/04 caso a taxa de juros permanecesse constante?

2. Suponha que no dia 15/06/04 a taxa de juros passasse de 16% a.a. para 20% a.a. Se Manuela desejasse se desfazer deste título naquela data, qual o valor máximo pelo qual conseguiria ven-der o papel?

Solução da questão 1:

VF = 1.000

n = 57 d.u.

Page 72: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

72

i = 16% a.a.

VP = ?

donde:

Solução da questão 2:

VF = 1.000

n = 57 d.u.

i = 20% a.a.

VP = ?

donde:

Repare que o valor presente diminuiu quando a taxa de juros aumentou. O que os exemplos acima mostram é que quem compra um título pré-fixado para garantir uma taxa de retorno pode perder dinheiro caso as taxas de juros aumentem e o investidor tenha que se desfazer do papel antes de seu vencimento. É por isso que afirmamos no início deste módulo que nem os títulos do Tesouro norte-americano, que são considerados a aplicação mais segura do mundo, estão livres do risco de liquidez.

Vejamos agora os cálculos para um papel de renda fixa que paga cupon.

Manuela quer um papel com prazo de dois anos. Este papel paga R$ 50 por semestre e seu valor de face é R$ 1.000. Vamos ver qual o preço máximo que Manuela estaria disposta a pagar por este título caso deseje um rendimento bruto de 16% a.a.

Veja abaixo o gráfico do fluxo de caixa deste papel.

Page 73: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

73

Cálculo da taxa de juros semestral equivalente a 16% a.a.

Ie = (1,16)1/2 -1= 0,077 ou 7,70% a.s.

O valor presente deste fluxo de caixa é calculado pela equação abaixo:

Este problema poderia ser mais facilmente resolvido com o auxílio da calculadora financeira HP12C.

Digitando Visor Comentário

50 g PMT 50

3 g FV 3 N° de fluxos iguais e con-secutivos

1.050 g PMT 1.050

7.7 i 7.7 Taxa de juros

F PV 909,87 Valor Presente

Exercício

Calcule agora qual seria o valor presente de um título com prazo de cinco anos, valor de face de R$ 1.000,00 e que pagasse cupons semestrais de R$ 60,00 caso a taxa de juros fosse 16% a.a.

Depósitos de Prazo Fixo (CDBs e RDBs)

O Certificado de Depósito Bancário – CDB – e o Recibo de Depósito Bancário – RDB – são papéis de emissão da própria instituição financeira e têm como finalidade captar os excessos de caixa de quem tem para emprestar a quem está com escassez de recursos.

A diferença entre os CDBs e os RDBs está no fato de os CDBs serem transferíveis, podendo ser res-gatados (mesmo que com prejuízo) antes de seu vencimento. Já os RDBs são intransferíveis e, em caso de resgate antes do prazo, não rendem quaisquer juros. Além disso, em caso de falência da instituição financeira lançadora do papel, as aplicações em CDBs estão garantidas, até um determinado valor, pelo Fundo Garantidor de Crédito, enquanto as aplicações em RDBs não estão garantidas.

Page 74: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

74

Estas vantagens fazem com que os RDBs tenham praticamente deixado de ser negociados no Brasil.

Outras características dos CDBs:

1. Têm sido emitidos com um prazo mínimo de 30 dias e máximo de 2 anos.

2. Podem ser resgatados a qualquer tempo, no todo ou em parte, após o 30º dia de aplicação.

3. Podem render juros pré-fixados ou pós-fixados. O indexador mais utilizado tem sido o CDI.

4. Tanto a taxa pré-fixada quanto o percentual da taxa do CDI (no caso de aplicações pós-fixa-das) definidos por ocasião da aplicação podem permanecer inalterados durante todo o prazo da operação, mesmo havendo resgates antecipados, bastando, para isso, que esta condição tenha sido negociada com o banco.

5. Os juros são calculados pelo regime de juros compostos.

6. As instituições financeiras exigem um valor mínimo de aplicação nestes papéis.

7. O Imposto de Renda retido na fonte é, em ambos os casos, 20% sobre a diferença maior havi-da entre o valor aplicado e o valor de resgate.

Manuela aplicou R$ 100.000 em um CDB de 45 dias úteis a uma taxa pré-fixada de 20% ao ano. Va-mos calcular qual o valor do resgate.

a) Cálculo dos juros

J = VP x [(1 + i)n – 1] = $100.000 x [(1,20) (45 / 252) - 1] = R$ 3.309,32

b) Cálculo dos tributos

Como o prazo da aplicação foi superior a 30 dias, não há a incidência do IOF. Neste caso o Imposto de Renda na fonte é:

R$ 3.309,32 x 20% = R$ 661,86

Para calcularmos o ganho líquido, temos que considerar a CPMF, o PIS e o Cofins também. Neste caso, temos que:

CPMF = R$ 100.000 x 0,38% = R$ 380

PIS = 1,65% x R$ 3.309,32 = R$ 54,60

Cofins = 7,60% x R$ 3.309,32 = R$ 251,51

c) Ganho líquido

R$ 3.309,32 - R$ 661,86 - R$ 380,00 – R$ 54,60 – R$ 251,51 = R$ 1.961,35

Observação:

Note bem que ganho líquido é uma coisa e valor de resgate, é outra. O valor de resgate, neste caso, é de R$ 2.647,46 (= R$ 3.309,32 - R$ 661,86). O ganho líquido é de R$ 1.961,35.

Page 75: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

75

Exercício

Qual seria o ganho líquido de Manuela se houvesse aplicado, no dia 10/10/03, R$ 100.000 em um CDB e o tivesse resgatado no dia 10/12/03, sabendo que este papel rendeu 95% do CDI no período? Use a tabela do CDI abaixo.

Data CDI Fator 100% Fator 95%08/10/03 19,72 1,004295 1,00413009/10/03 19,71 1,005012 1,00481510/10/03 19,73 1,005731 1,00549913/10/03 19,74 1,006450 1,00618514/10/03 19,74 1,007170 1,006872

08/12/03 17,23 1,033835 1,03236609/12/03 17,22 1,034487 1,03298710/12/03 17,23 1,035140 1,03360811/12/03 17,21 1,035792 1,03423012/12/03 17,20 1,036445 1,034852

Cálculo dos juros

Fator 95% em 10/10/03: 1,005499

Fator 95% em 10/12/03: 1,033608

Juros = Valor Aplicado x (fator em 10/12/03 : fator em 10/10/03)

Juros = R$ 100.000 x [(1,033608 : 1,005499) - 1] = R$ 2.795,53

Cálculo dos tributos

Como o prazo da aplicação foi superior a 30 dias, não há incidência do IOF. Neste caso o Imposto de Renda na fonte é:

R$ 2.795,53 x 20% = R$ 559,11

Para calcularmos o ganho líquido, temos que considerar a CPMF também. Neste caso, temos que:

CPMF = Valor investido x 0,38% = R$ 100.000 x 0,38% = R$ 380

PIS = 1,65% x R$ 2.795,53 = R$ 46,13

Cofins = 7,60% x R$ 2.795,53 = R$ 212,46

Ganho líquido

Ganho líquido = Valor investido – Imposto de Renda – CPMF – PIS - Cofins

Ganho líquido = R$ 2.795,53 - R$ 559,11 - R$ 380,00 – R$ 46,13 – R$ 212,46 = R$ 1.597,83

Page 76: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

76

Export Notes

Os contratos de cessão de créditos de exportação, conhecidos no mercado como Export Notes, são títulos emitidos por empresas exportadoras que necessitem antecipar receitas de contratos de exportação. Trata-se, portanto, de venda de direitos creditícios cujo sistema de cálculo é semelhante ao do desconto de duplicatas. A remuneração do investidor é a taxa de desconto aplicada sobre o valor de face do título.

Manuela aplicou US$ 100,000 no dia 04/07/03 em uma Export Note com vencimento em 04/11/03. Qual foi seu ganho líquido ou sua perda? A taxa de desconto foi 12% a.a. e as taxas de câmbio são as indicadas na tabela abaixo.

Data PTAX01/07/03 3,22837802/07/03 3,22519903/07/03 3,22027004/07/03 3,21826607/07/03 3,214324

31/10/03 2,99507003/11/03 2,99513904/11/03 2,99123305/11/03 2,98808206/11/03 2,98808207/11/03 2,989460

Considere que:

O prazo da operação seja computado em dias corridos.

A taxa de conversão do dólar seja a PTAX.

O Imposto de Renda na fonte incide à alíquota de 20% sobre o ganho financeiro da operação.

PIS e Cofins incidem sobre o valor bruto do ganho nas alíquitas de 1,65% e 7,60% respectiva-mente.

Por ser uma operação em moeda estrangeira, os juros são calculados pelo regime de juros simples.

1. Cálculo do desconto

Já vimos que as operações em moeda estrangeira são calculadas no regime de juros simples. Calculamos 123 dias corridos entre a data da compra e a data de resgate do título. O cálculo do desconto é feito de forma semelhante ao cálculo de desconto de um título ou duplicata visto no módulo anterior. Então:

VF = US$ 100,000

n = 123 dias corridos

i = 12% a.a ou 0,12 a.a.

VP = ?

donde:

Page 77: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

77

O valor presente do título, expresso em dólares, é, então, igual a US$ 95,900

2. Cálculo do ganho líquido

Valor aplicado: US$ 95,900 x R$ 3,220270 = R$ 308.823,89

Valor resgatado: US$ 100,000 x R$ 2,995139 = R$ 299.513,90

Resultado da operação: R$ 299.513,90 – R$ 308.823,89 = -R$ 9.309,99

Além deste prejuízo, Manuela também perdeu R$ 1.173,53 (=R$ 308.823,89 x 0,38%) referentes à CPMF sobre o valor da aplicação. Como não houve lucro na operação, não houve incidência nem do Im-posto de Renda, nem do PIS, nem do Cofins.

No exemplo, Manuela perdeu porque, no período, o real se valorizou frente ao dólar. Apesar disso, essas aplicações são especialmente interessantes para empresas com dívidas em moeda estrangeira. A desvalorização cambial que aumenta o valor da dívida também valoriza a aplicação e ajuda a equilibrar o risco cambial. No exemplo, caso Manuela tivesse dívidas em dólar, teria tido uma perda na operação com a Export Note. mas, por outro lado, a valorização do real frente ao dólar teria reduzido sua dívida e a situação teria se equilibrado.

Qual o valor pago por um investidor que houvesse adquirido no dia 04/06/04 uma Export Note de US$ 100.000 de valor de face com vencimento no dia 01/12/04, sabendo-se que o PTAX no dia 03/06/04 era R$ 3,1335 e que a taxa de desconto pactuada era de 12% a.a.?

1. Cálculo do desconto

n = 180 dias

i = 12% a.a.

Desconto = US$ 100.000 x (0,12 x 180 : 360) = US$ 6,000.00

2. Valor Líquido

US$ 100.000 - US$ 6,000.00 = US$ 94,000.00

3. Valor Líquido em Reais

US$ 94,000.00 x R$ 3,1335 = R$ 294.549,00

Títulos Públicos

Vimos que um dos instrumentos de que o Banco Central dispõe para controlar o volume de moeda em circulação (e, conseqüentemente, os preços) é a emissão de títulos públicos, que são papéis emitidos pelo Governo e que rendem juros para seus compradores.

Page 78: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

78

Antigamente eram emitidos pelo Banco Central e pelo Tesouro Nacional. Atualmente, só o Tesouro Nacional emite títulos públicos. No entanto, quem vende os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacio-nal é o Banco Central. Quando o Banco Central quer vender títulos públicos, faz um leilão destes papéis. Somente as instituições financeiras autorizadas podem participar desses leilões, chamados de mercados primários.

São várias as razões pelas quais os bancos compram os títulos do Governo. Conheça algumas delas:

1. São papéis seguros que possuem uma boa rentabilidade. São, por conseguinte, boas aplica-ções para os excessos de caixa dos bancos.

2. Os fundos de investimento de renda fixa, como veremos um pouco mais adiante, aplicam uma grande parte de seus recursos nestes títulos. Os bancos precisam, portanto, possuir estes títulos para vender para os fundos.

3. As empresas estatais são obrigadas a aplicar seus excessos de caixa em títulos públicos. Muitas empresas privadas também necessitam destes títulos para darem como garantia de ope-rações financeiras ou quando participam de concorrências. Os bancos precisam ter um estoque destes papéis para vender para estes clientes.

4. São uma aplicação interessante também para instituições não-financeiras.

Os bancos adquirem, então, títulos públicos não apenas para aplicarem seus excessos de caixa, mas também para vender aos clientes. Uma vez adquiridos estes papéis dos bancos, as empresas não-finan-ceiras não precisam esperar até o vencimento desses títulos para resgatá-los. Podem vendê-los a qualquer tempo para outras empresas não-financeiras que estejam interessadas em comprá-los. Este mercado em que são transacionados títulos públicos de prazo decorrido é chamado de mercado secundário.

Os títulos públicos se dividem em três grandes grupos. São eles:

1. As LTNs - Letras do Tesouro Nacional. Estes títulos são pré-fixados e não possuem cupon, ou seja, não pagam juros periódicos. Seu valor de face é sempre um múltiplo de R$ 1.000 e seu rendimento é função do deságio com que são comprados.

Uma LTN de R$ 1.000 que vence em um ano e que vale hoje R$ 854,70 rende 17% a.a., confor-me o gráfico e memória de cálculo abaixo:

2. As LFTs – Letras Financeiras do Tesouro - Estes títulos são pós-fixados e não possuem cupon, ou seja, não pagam juros periódicos. Seu valor nominal na data base (ou seja, seu valor de lançamento) é sempre um múltiplo de R$ 1.000 e seu rendimento é a taxa SELIC.

Uma LFT de R$ 1.000 com prazo de um ano, caso a variação da taxa SELIC neste período tiver sido de 20%, seria resgatada por R$ 1.200 conforme o gráfico e a memória de cálculo seguinte:

Page 79: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

79

M = P x(1+ i) x n = R$ 1.000 x 1,20 x 1ano = R$ 1.200

Observe que no caso das LTNs o valor de vencimento do título é sempre R$ 1.000 ou um múltiplo de R$ 1.000. Já no caso das LFTs o valor de lançamento é sempre R$ 1.000 ou um múltiplo de R$ 1.000.

3. As NTNs – Notas do Tesouro Nacional – são títulos que podem ser pré-fixados ou, depen-dendo da série de emissão, pós-fixados e indexados a vários índices, como o dólar, o IPCA, o IGPM e a TR. Uma das diferenças entre as NTNs e as LTNs e LFTs é que quase todas as NTNs pagam juros semestrais.

No dia 14 de junho de 2004 o Banco Central lançou NTN-D com prazo de 2 anos, cupons semes-trais e taxa de juros de 6% ao ano. Os cupons seriam pagos nos dias 11/12/2002, 09/06/2003, 08/12/2003 e 04/06/2004. Supondo que o valor de lançamento correspondesse a US$ 1,000, qual o valor em US$ dos cupons? Considere os prazos em dias corridos.

Primeiro temos que calcular o número de dias corridos entre datas.

1º cupon – 180 dias

2º cupon – 180 dias

3º cupon – 182 dias

4º cupon – 179 dias

O gráfico abaixo ilustra o esquema de pagamento do papel.

O quadro abaixo apresenta, de forma resumida e simplificada, os títulos públicos e suas principais características.

Título Rentabilidade Atualização Taxa de Juros CuponLTN pré-fixada não há não há não háLFT pós-fixada taxa SELIC não há não há

NTN-B pós-fixada IPCA definida na emissão semestralNTN-C pós-fixada IGP-M definida na emissão semestral

Page 80: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

80

NTN-D pós-fixada dólar definida na emissão semestralNTN-F pré-fixada não há definida na emissão semestralNTN-H pós-fixada TR não há não há

Aplicações equivalentes a caixa

Quase todo mundo teve um cofre uma vez na vida. A idéia era usá-lo para guardar dinheiro e resgatá-lo a qualquer momento que precisássemos. Podemos fazer um paralelo com as aplicações equivalentes à caixa, nome que damos aos investimentos de curto prazo, com alto grau de liquidez, ou seja, que sejam rapidamente conversíveis em uma quantidade conhecida de moeda.

As principais aplicações equivalentes à caixa disponíveis para as pessoas jurídicas são a caderneta de poupança e os fundos de investimento.

Cadernetas de Poupança

As cadernetas de poupança de pessoas jurídicas com fins lucrativos diferem das cadernetas de pou-pança das pessoas físicas ou das pessoas jurídicas sem fins lucrativos pelo fato de sua remuneração ser trimestral e não mensal. Estas aplicações estão isentas de qualquer tipo de imposto para as pessoas jurídicas não tributadas com base no lucro realG. A base de cálculo do rendimento é o menor saldo diário apresentado em cada período. Sua taxa de retorno é a TR na data de aniversário mais 0,5% a.m.

O menor saldo da caderneta de poupança de uma empresa tributada com base no lucro real foi R$ 10.000. Vamos calcular o retorno bruto deste investimento sabendo que as cotações da TR nas datas de aniversário da aplicação eram:

Mês 1 – 0,1502%

Mês 2 – 0,1832%

Mês 3 – 0,1878%

Cálculo do montante

VF = 10.000 x [(1,001502 x 1,001832 x 1,001878) x 1,005)] = 10.102,47

Cálculo do retorno

10.102,47 – 10.000,00 = 102,47

Devido a seu baixo rendimento, a caderneta de poupança tem sido muito pouco utilizada como opção para os excessos de caixa de empresas privadas com fins lucrativos.

Fundos de investimento

Os fundos de investimento são condomínios de investidores que colocam seus recursos para serem administrados por uma instituição devidamente autorizada pelo Banco Central para fazê-lo.

Podem ser classificados quanto à composição de sua carteira em três grandes categorias principais:

Page 81: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

81

1. Fundos de Renda Fixa

2. Fundos de Renda Variável

3. Fundos de Renda Mista

Cota - é a fração ideal do patrimônio líquido de um fundo. Seu valor em reais varia à medida que o patrimônio do fundo também varia. Exemplo: um investidor adquiriu cotas de um fundo por R$ 153,1469. Caso, após 30 dias, as cotas deste fundo estivessem valendo R$ 154,6001, isso significaria que o fundo rendeu 0,9489% ao mês conforme os cálculos abaixo.

Patrimônio Líquido - é o valor de mercado dos ativos que compõem a carteira do fundo, já descontadas as despesas inerentes à sua administração e as taxas de administração e “perfor-mance”.

Provisão - é o reconhecimento de despesas que ainda não tenham sido pagas mas que já tenham sido abatidas do valor do patrimônio liquido do fundo. Exemplo: provisão de Imposto de Renda.

Data de Cotização - é a data em que os recursos são convertidos em cotas, no caso de uma aplicação, ou as cotas são convertidas em reais, em caso de resgate. Quando os recursos são convertidos em cotas no mesmo dia da aplicação e as cotas são convertidas em caixa no mesmo dia do resgate, dizemos que a data de cotização é D+0. Quando este prazo é de dois dias, dize-mos que a data de cotização é D+2, e assim por diante.

Taxa de Administração - é a taxa cobrada pela instituição financeira para administrar o fundo. Varia de fundo para fundo e de instituição para instituição, além de poder variar dependendo do montante aplicado. É calculada em função do patrimônio médio do fundo no ano. Exemplo: 2%, ou seja, 2% a.a sobre o patrimônio médio do fundo. Neste caso, a taxa de administração é calcu-lada diariamente multiplicando o valor do patrimônio líquido do fundo naquele dia por 2% : 252.

Quanto menor a taxa de juros do mercado, maior é o impacto da taxa de administração na remu-neração de um fundo. Se a rentabilidade de um fundo for 16,5% ao ano, uma taxa de administra-ção de 3% a.a. representaria menos de 20% desta rentabilidade. Se a taxa de retorno for 9%, a mesma taxa de administração consumiria mais de 33% da remuneração do investidor.

Taxa de Performance – é a taxa percentual cobrada pela instituição administradora do fundo sobre uma parcela da taxa de retorno que exceder um determinado índice previamente estabele-cido. Exemplo: 15% sobre o IBOVESPA. Significa que o fundo cobrará uma taxa de 15% da taxa de retorno do fundo que exceder a taxa de retorno do índice IBOVESPA.

Alavancagem – é o conceito que define o grau de utilização de recursos de terceiros para aumentar as possibilidades de ganhos. As operações a descoberto no mercado de futuros ou de opções são exemplos de operação de alavancagem, pois representam a possibilidade de usufruir a possível valorização de um título sem ter que desembolsar imediatamente todo o valor da compraG.

Fundos Referenciados - são fundos que possuem pelo menos 95% da carteira composta por ativos financeiros que acompanham, direta ou indiretamente, a variação de um indicador de de-sempenho denominado “benchmark”. Assim, quem aplica em cotas de um fundo referenciado se contenta com uma taxa de retorno igual ou próxima à de seu indicador de desempenho, mesmo que esta seja negativa.

Se, por exemplo, um investidor aplicar em cotas de um fundo cambial e a cotação do dólar cair,

Page 82: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

82

este investidor tem que estar preparado para o fato de que o valor da cota do fundo pode cair mais ou menos na mesma proporção.

Apenas os fundos referenciados estão autorizados a manter em sua denominação a referência a algum indicador, como, por exemplo, fundo DI, fundo cambial etc. Esses fundos, por não estarem preocupados em maximizar os ganhos de seus cotistas, mas apenas em manterem a paridade com a taxa de retorno de seu indicador de desempenho, não são obrigados a manter um sólido corpo técnico. Por isso, suas taxas de administração costumam ser, na média, menores do que as dos fundos não-referenciados. Alguns nem cobram taxa de administração.

Fundos Conservadores - são fundos com posições no mercado de derivativos de até uma vez seu patrimônio líquido. Estes fundos podem comprometer até 5% de seu patrimônio líquido com garantias das operações no mercado de futuros (margens iniciais) e prêmios de opções. Se-gundo o Banco Central, este percentual é suficiente para o fundo fazer “hedge” e, portanto, não possui caráter especulativoG.

Fundos Moderados - são fundos com posições no mercado de derivativos de até três vezes seu patrimônio líquido. Podem comprometer até 20% de seu patrimônio com margens iniciais e prêmios de opçõesG.

Fundos Agressivos - são fundos com posições no mercado de derivativos superiores a três vezes seus patrimônios líquidos. Estes fundos podem comprometer até 50% de seu patrimônio com margens iniciais e prêmios de opções.

À medida que o investidor vai adquirindo cotas de um fundo, as quantias aplicadas vão sendo “empilha-das”. As aplicações mais antigas ficam na parte mais baixa da pilha e as aplicações mais recentes ficam na parte mais alta. Quando há um resgate, as cotas resgatadas são retiradas da parte mais baixa da pilha, ou seja, as cotas mais antigas são sempre resgatadas antes das cotas mais recentes.

Suponha que um investidor tenha feito as seguintes aplicações em um fundo de investimentos:

1º de janeiro 10.000 cotas15 de janeiro 10.000 cotas31 de janeiro 10.000 cotas

Se no dia 5 de fevereiro o investidor resgatar 11.000 cotas, as 10.000 primeiras cotas resgatadas serão retiradas do investimento feito em 1º de janeiro, e as 1.000 cotas restantes, do investimento feito em 15 de janeiro.

É importante, para efeitos tributários, compreender este sistema de resgate. No nosso exemplo, as 10.000 primeiras cotas resgatadas estão isentas do IOF já que foram aplicadas há mais de 30 dias. As 1.000 cotas restantes, não. O Imposto de Renda incidirá, na alíquota de 20%, sobre a diferença a maior entre o valor das 10.000 primeiras cotas na data da aplicação e seu valor na data do resgate. Este mesmo imposto incidirá, na alíquota de 20%, sobre a diferença a maior entre o valor das demais 1.000 cotas na data da aplicação e seu valor na data do resgate, líquidos do IOF.

É importante dizer que os bancos, em vez de cobrarem o Imposto de Renda reduzindo o valor das cotas, mantém o valor das cotas e reduz o número de cotas do investidor. Para o investidor dá no mesmo. Este sistema é conhecido no mercado como “come-cotas”.

FIF – Fundo de Investimento Financeiro e FAQ - Fundo de Aplicação em Cotas

Atualmente os fundos podem ser classificados em dois grandes grupos: os FIFs – Fundos de Inves-

Page 83: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

83

timento Financeiro e os FAQs – Fundos de Aplicações em Cotas. A diferença entre estes dois fundos é que os FIFs aplicam diretamente em ativos de renda fixa e/ou de renda variável e/ou em derivativos. Já os FAQs são fundos que aplicam seus recursos em cotas dos FIFs.

Na prática, isso significa que é mais fácil saber em que ativos os FIFs estão investindo do que os FAQs, já que os administradores dos fundos disponibilizam esta informação.

Para compreender melhor, imagine a seguinte situação: digamos que você possua cotas de um fundo de renda fixa e que queira saber a composição da carteira deste fundo. O administrador do fundo lhe in-formaria que, naquele momento, a carteira do fundo possuía a seguinte composição:

CDB 3,25%LFT 86,14%NTN-D 1,25%NTN-F 0,44%OC* 7,89%

No caso dos FAQs, seria necessário conhecer as carteiras dos diversos FIFs cujas cotas compões sua carteira. Já os FAQs possuem a vantagem de serem muito flexíveis na distribuição de seus recursos entre FIFs conservadores, moderados e agressivos, diversificando os seus riscos e montando carteiras que sejam adequadas ao grau de aversão ao risco de seus investidores. Além disso, nem sempre os bancos aceitam que seus clientes apliquem diretamente nos FIFs.

Os FIFs são fundos administrados por instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. Seus recursos são aplicados em títulos de renda fixa ou variável tais como CDBs, títulos públicos, ações de empresas de capital aberto, ouro e derivativos.

Dividem-se em:

Fundos DI

Fundos Cambiais

Fundos de Renda Fixa Pré ou Pós-fixados

Fundos de Renda Variável

É fundamental que o investidor conheça os riscos do fundo em que pretende investir para que se cer-tifique de estar tomando a decisão de investimento mais adequada a seu perfil.

Os FAQs são fundos cujas aplicações são compostas exclusivamente por cotas dos FIFs com prazos de atualização iguais ou inferiores aos do FIF do qual possui cotas. O FAQ não pode aplicar mais do que 25% de seu patrimônio em um mesmo fundo, exceto quando este fundo for administrado por uma institui-ção do mesmo grupo financeiro do FAQ.

Fundos DI - têm um risco mínimo. Possuem um mínimo de 95% de seus ativos investidos em papéis indexados ao CDI e podem ser alavancados.

Fundos Cambiais - seus ativos estão investidos em títulos da dívida pública ou privada, inde-xados ao dólar e/ou derivativos cambiais.

Fundos de Renda Fixa Pré ou Pós-fixados - suas carteiras são compostas por títulos da dívida pública ou privada, com taxas pré-fixadas ou pós-fixadas. Quando a taxa de juros sobe, os títulos pós-fixados protegem o investidor, pois o valor de seu investimento sobe na mesma proporção. Quando os juros caem, os títulos pré-fixados travam a taxa de retorno em seu ponto mais alto.

Fundos de Renda Variável – possuem ampla flexibilidade em sua política de investimento. Os

Page 84: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

84

investidores devem estar atentos ao regulamento de cada fundo, pois nele estão descritas as estratégias e políticas de investimento. Podem ser classificados em:

Fundos Passivos - são fundos referenciados que seguem um “benchmark” (normalmente o IBOVESPA) e se comprometem a buscar uma taxa de retorno semelhante a este índice. Estes fundos não podem ser alavancados.

Fundos Ativos - procuram obter uma taxa de retorno superior à do “benchmark”. Seus ad-ministradores normalmente indicam no regulamento qual política será aplicada para perseguir este objetivo.

Fundos de Renda Mista – podem ser divididos em dois tipos principais:

Fundos Multiportfólio ou Mistos - sua carteira é composta por ativos de renda fixa (públicos os privados) e um máximo de 49% em ativos de renda variável.

Fundos Livres ou Derivativos – têm perfil de risco mais agressivo, que combina diversos tipos de ativos e indexadores. Podem trabalhar alavancados, assumindo inclusive posições de patrimônio líquido negativo.

Ao final deste módulo, você deve estar se perguntando: mas afinal, qual a melhor apli-cação? Será que existe uma regra que seja comum a todos os investidores na hora de aplicar seus excessos de caixa?

A resposta é: não! A começar pelo fato de que empresas que sejam percebidas pelas instituições financeiras como representando riscos diferentes terão acesso a taxas diferentes na hora de fazer suas aplicações. Por outro lado, empresas com diferentes graus de aversão ao risco também farão escolhas diferentes na hora de compor sua carteira de aplicações.

No entanto, existem diretrizes que devem ser seguidas.

Antes de aplicar em um fundo, leia com atenção seus regulamentos.

Existem alguns fundos agressivos que, caso seu patrimônio líquido fique negativo, podem soli-citar aos cotistas uma cobertura em dinheiro. Isso significa que, nestes casos, o cotista, além de perder o que aplicou, ainda tem que desembolsar uma quantia adicional para cobrir o prejuízo do fundo.

Estude a composição da carteira do fundo no qual pretende aplicar e verifique se está compatí-vel com seu perfil de investidor no que diz respeito ao seu grau de aversão ao risco.

Se você pretende aplicar em um fundo referenciado, verifique se, nos últimos anos, o rendimen-to do fundo tem acompanhado a evolução de seu índice de referência.

Certifique-se de que não vai precisar do dinheiro aplicado nos próximos dias. Não se esqueça de que, dependendo do prazo da aplicação, os tributos a pagar podem ser maiores do que o ganho financeiro.

Uma alternativa que talvez seja interessante para empresas que possuam excessos de caixa para aplicar em prazos mais curtos é adiantar o pagamento de fornecedores mediante um des-conto sobre o valor da dívida. Estas aplicações não estão sujeitas ao pagamento do IOF.

Verifique se a carteira do fundo no qual pretende aplicar não está descasada com o passivo de sua empresa. Se, por exemplo, sua empresa possui dívidas indexadas ao dólar, pode ser acon-selhável aplicar em um fundo cambial de forma a se proteger de uma desvalorização do real em relação à moeda norte-americana.

Não tome decisões precipitadas.

Page 85: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

85

Compare taxas e negocie sempre.

Lembre-se, sobretudo, de que a rentabilidade de uma aplicação no passado não é garantia de rentabilidade no futuro!

Page 86: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

86

RESUMO

1. Em finanças, retorno são os ganhos havidos em decorrência de um aplicação ou investimento e é composto de duas parcelas: a valorização do investimento feito e os rendimentos recebidos no período em que esteve de posse da aplicação.

2. A taxa de retorno é a rentabilidade do investimento e deve estar sempre referida a uma unida-de de tempo.

3. Em finanças, risco é a incerteza em relação a resultados futuros. Existem o risco de calote, o risco de liquidez e o risco de retorno, entre outros.

4. Não existem investimentos livres de riscos. A medida do risco é o desvio padrão, referido pelo mercado como volatilidade. É a medida da dispersão dos valores em torno da média. Quanto mais volátil um investimento, mais arriscado é.

5. Prêmio de risco é a diferença entre a taxa de retorno exigida pelo mercado sobre um deter-minado investimento e a taxa de retorno obtida por uma aplicação livre de risco. Quanto maior a volatilidade de um investimento, maior o prêmio de risco.

6. Há investimentos mais arriscados cuja taxa de retorno é alta e investimento mais seguros, com taxa de retorno mais baixa. A preferência dos investidores irá depender de seu grau de aversão ao risco. Os três perfis de investidores são: avesso ao risco, neutro ao risco e propenso ao risco.

7. Um investimento é de renda fixa quando produz um fluxo de caixa pré-determinado por um prazo limitado. Os títulos de renda fixa podem ser pós-fixados ou pré-fixados.

8. São títulos de renda fixa: Certificados de Depósito Bancário, Notas Promissórias comerciais (commercial papers), Títulos públicos, Debêntures, Export Notes, Letras hipotecárias.

9. Quando um investimento não possui um fluxo de caixa pré-determinado e seu prazo é indefini-do, ele é chamado de renda variável. As ações são papéis de renda variável.

10. Outros dois tipos de operações: os derivativos e os equivalentes à caixa. Os derivativos não são abordados neste curso por se tratarem de operações extremamente sofisticadas. Os equi-valentes à caixa são representados pelas contas de poupança e os fundos de investimento, por possuírem baixíssimo risco, liquidez imediata e prazos indefinidos.

11. A média ponderada das taxas de juros das operações interbancárias havidas ao longo de um dia é a taxa do CDI. Dificilmente uma empresa consegue uma taxa superior à do CDI quando quer aplicar seus excessos e uma taxa inferior ao CDI quando quer tomar emprestado. Isso porque o risco é maior do que negociar com as próprias instituições financeiras.

12. As aplicações de um modo geral estão sujeitas a quatro impostos: o IOF - Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros, o Imposto de Renda, o PIS e o Cofins, além de 0,38% de CPMF sobre o valor dos recursos que saíram de sua conta corrente para adquirir o investi-mento.

13. É comum os prazos das operações de papéis de renda fixa serem medidos em dias úteis em vez de dias corridos. Dias úteis são número de dias corridos entre duas datas menos os sábados, domingos e feriados nacionais.

14. Os rendimentos periódicos pagos por títulos de renda fixa são frequentemente chamados de cupon. Por isso, papéis que não pagam rendimentos periódicos são chamados de títulos zero cupon.

15. O Certificado de Depósito Bancário – CDB – e o Recibo de Depósito Bancário – RDB – são papéis de emissão da própria instituição financeira e têm como finalidade captar os excessos de caixa de quem tem para emprestar a quem está com escassez de recursos. Os CDBs são trans-feríveis, podendo ser resgatados (mesmo que com prejuízo) antes de seu vencimento, enquanto

Page 87: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 3´

87

os RDBs são intransferíveis e não rendem juros se forem resgatados antes do prazo. Por essas e outras vantagens do CDB, fizeram com que os RDBs praticamente não sejam mais negociados no Brasil.

16. Os contratos de cessão de créditos de exportação, Export Notes, são títulos emitidos por em-presas exportadoras que necessitem antecipar receitas de contratos de exportação. Trata-se da venda de direitos creditícios cujo sistema de cálculo é semelhante ao do desconto de duplicatas. A remuneração do investidor é a taxa de desconto aplicada sobre o valor de face do título.

17. Os Títulos Públicos são emitidos pelo Banco Central, servem como instrumentos para contro-lar a inflação, são vendidos por meio de leilões e rendem juros e aos seus compradores. Dividem-se em três grandes grupos: LTNs – Letras do Tesouro Nacional, LFTs – Letras Financeiras do Tesouro e NTNs – Notas do Tesouro Nacional.

18. As cadernetas de poupança de pessoas jurídicas com fins lucrativos têm remuneração trimes-tral. Estão isentas de qualquer tipo de imposto para as pessoas jurídicas não tributadas com base no lucro realG. A base de cálculo do rendimento é o menor saldo diário apresentado em cada período. Sua taxa de retorno é a TR na data de aniversário mais 0,5% a.m. Devido a seu baixo rendimento, tem sido muito pouco utilizada como opção para os excessos de caixa de empresas privadas com fins lucrativos.

19. Os fundos de investimento são condomínios de investidores que colocam seus recursos para serem administrados por uma instituição devidamente autorizada pelo Banco Central para fazê-lo. Podem ser classificados quanto à composição de sua carteira em três grandes categorias principais: Fundos de Renda Fixa, Fundos de Renda Variável e Fundos de Renda Mista.

20. Atualmente os fundos podem ser classificados em dois grandes grupos: os FIFs – Fundos de Investimento Financeiro e os FAQs – Fundos de Aplicações em Cotas. A diferença entre eles é que os FIFs aplicam diretamente em ativos de renda fixa e/ou de renda variável e/ou em deriva-tivos. Já os FAQs são fundos que aplicam seus recursos em cotas dos FIFs.

21. Os FIFs dividem-se em: Fundos DI, Fundos Cambiais, Fundos de Renda Fixa Pré ou Pós-fi-xados e Fundos de Renda Variável.

22. Não existe uma regra comum a todos os investidores para aplicarem seus excessos, mas há algumas recomendações a serem observadas.

Page 88: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

88

Modulo 4´

MÓDULO 4FLUXO DE CAIXA PROJETADO

Neste módulo você conhecerá uma ferramenta essencial para qualquer empresa: o fluxo de caixa. Você verá como projetar as entradas e saídas com o máximo de precisão possível e, usando as informações obtidas com o fluxo de caixa, verá como realizar um planejamento finaceiro acertado.

A personalidade da vez é Roberto Dias, um proprietário e diretor de colégio que precisou acumular também a função de gerente financeiro. Ele está fazendo o fluxo de caixa de sua empresa e suas dúvidas vão nos ajudar a esclarecer vários conceitos.

4.1 - Introdução

4.2 - Compromissos e previsões

4.3 - Projetando as entradas de curto prazo

4.4 - Projetando as saídas de curto prazo

4.5 - O Planejamento Financeiro

Page 89: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

89

Modulo 4´

MÓDULO 4FLUXO DE CAIXA PROJETADO

4.1 - INTRODUÇÃO

Vamos começar esse módulo com uma pergunta: qual a diferença entre fluxo de caixa pro-jetado e planejamento financeiro?

Muitos profissionais ainda confundem fluxo de caixa projetado com planejamento financeiro. Evidente-mente são duas coisas distintas.

O fluxo de caixa projetado é o produto final da integração das contas a receber com as contas a pagar. Seu objetivo é identificar as faltas e os excessos de caixa, as datas em que ocorrerão, por quantos dias e em que montantes. É a partir dele que fazemos o planejamento financeiro.

O planejamento financeiro é um conjunto de operações de captação e de aplicação de recursos sele-cionados entre as várias opções possíveis por conduzir aos melhores resultados. Se a empresa é toma-dora de recursos, ou seja, precisa fazer empréstimos para fechar seu fluxo de caixa, a melhor estratégia será a que conduzir ao menor custo financeiro. Já se a empresa é doadora de recursos, ou seja, possui excessos de caixa para aplicar, a melhor estratégia será aquela que conduzir à melhor relação risco/retor-no, como vimos no módulo anterior.

Simplificando, podemos imaginar que o fluxo de caixa é a informação e o planejamento financeiro de-cide quais as melhores ações diante disso.

Esse é um dos aspectos do fluxo de caixa.

Conheça Roberto Dias. Ele é o dono e diretor administrativo do Colégio Paulo Freire, inaugura-do recentemente. Profissionalmente, Roberto até então havia exercido somente a atividade de professor. Por isso sua experiência administrativa é restrita. Antes de montar o colégio fez vários cursos sobre empreendedorismo, finanças, contabilidade e administração em geral para prepa-rar-se para suas novas atividades, mas só agora está realmente pondo a mão na massa. Como é um negócio pequeno, ele precisou acumular várias funções, como acontece na maioria das pequenas empresas.

Em geral, a projeção das entradas é mais difícil do que a das saídas. Isso acontece porque possuímos mais controle sobre as saídas do que sobre as entradas. Podemos cortar despesas, mas não podemos obrigar o cliente a comprar. Então, de uma maneira geral, quem determina o horizonte da projeção do fluxo de caixa de curto prazo são as entradas.

O planejamento financeiro depende quase sempre das entradas. Primeiro precisamos saber de quanto dispomos para gastar para depois decidirmos onde gastar. Por isso poderíamos dizer que, em princípio, o horizonte do fluxo de caixa projetado de curto prazo deverá cobrir:

O prazo de faturamento de uma empresa que comercialize produtos de consumo corrente.

ou

Page 90: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

90

Modulo 4´

O período coberto pela carteira de pedidos de uma companhia que possua contratos de longo prazo.

Se a empresa faturar todos seus produtos a 60 dias, o horizonte coberto por seu fluxo de caixa proje-tado deveria ser de, no mínimo, 60 dias, porque já sabemos o quanto vence neste período. Para projetar as entradas, nossa dúvida é apenas com relação à inadimplência dos clientes. Veremos mais adiante que, baseados no perfil de inadimplência dos clientes, podemos estimar as entradas e fazer um planejamento financeiro que cubra este período. Esse é o caso do Roberto, o dono do colégio. Suas entradas acontecem a cada 30 dias por meio das mensalidades. A dúvida fica por conta dos atrasos e da inadimplência.

Exemplo

Imagine uma mineradora que possui contratos de fornecimento de longo prazo com clientes de primeiríssima linha. A empresa sabe o quanto vai fornecer e o quanto vai faturar. Pelo perfil dos clientes, a empresa também sabe quando ocorrerão as entradas. Então, o fluxo de caixa projeta-do e, conseqüentemente, o planejamento financeiro, poderão cobrir um horizonte mais distante.

No entanto, existem casos em que o prazo de faturamento é muito curto. Tomemos por exemplo o caso de uma empresa comercial (digamos, uma cadeia de lojas) que receba parte do pagamento de seus clientes à vista, sob a forma de cheques ou dinheiro, e parte a prazo, sob a forma de crediário ou cartões de crédito. Será que o fluxo de caixa de curto prazo ficaria restrito ao horizonte de uma semana, no caso da companhia industrial mencionada anteriormente, ou seria totalmente inviável no caso da empresa co-mercial?

Se por um lado é evidente que não se deve trabalhar sem uma projeção de fluxo de caixa de curto prazo e também que uma projeção de apenas uma semana é insuficiente para se fazer um adequado planejamento financeiro, por outro lado temos que nos conformar com o fato de que o fluxo de caixa não poderá ter o mesmo grau de certeza e, portanto, de precisão do fluxo de caixa projetado de empresas que concedem a seus clientes prazos de pagamento mais longos. Assim é que, qualquer que seja o caso, o horizonte mínimo a ser coberto por um fluxo de caixa projetado de curto prazo deve ser um mês.

Finalmente, existem casos de empresas que, mesmo faturando seus produtos ou serviços para paga-mento em 30 dias, sentem necessidade de trabalhar com um planejamento financeiro de prazo mais longo (digamos, 90 dias). Evidentemente isso é possível, mas a precisão do fluxo de caixa projetado de 30 dias será maior do que a precisão do fluxo de caixa projetado de 90 dias.

Em uma empresa bem estruturada, com um sistema informatizado e adequado de Contas a Pagar e de Contas a Receber, integrado a um programa de fluxo de caixa, mais uma rotina em que quaisquer informações relativas a direitos adquiridos ou obrigações assumidas sejam capturadas na sua origem, a atualização de informações que permitam a elaboração de um fluxo de caixa projetado de curto prazo não deveria constituir um problema.

Se a empresa ilustrada fosse assim, o setor de suprimentos, ao colocar um pedido ou contratar um serviço, informaria ao sistema de Contas a Pagar qual a previsão de entrega e de pagamento do material adquirido ou do serviço contratado. Nesse caso, o fluxo de caixa projetado seria atualizado automatica-mente.

O fato de não se possuir o valor exato da folha de pagamento não significa que este dado não deva ser levado em consideração por ocasião da preparação do fluxo de caixa projetado de curto prazo. Mas também não se deve inventar o valor.

O que se deve fazer é procurar estabelecer uma distinção entre o que seja um “compromisso” e o que seja uma simples “previsão”. E isso vale para quando se tem que lidar com quaisquer recebimentos ou pagamentos que se sabe que vão ocorrer mas ainda não se tem o seu valor exato no momento em que se prepara o fluxo de caixa projetado de curto prazo ou, ao contrário, se sabe o quanto se vai pagar mas

Page 91: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

91

Modulo 4´

não se sabe exatamente quando.

Você não precisará contar com os serviços de uma vidente para fazer as previsões para o fluxo de cai-xa. No decorrer deste módulo, você verá que existem métodos que irão ajudá-lo a realizá-las com a maior precisão possível. Mas antes entenda melhor a diferença entre compromisso e previsão.

“Compromisso” é toda a obrigação, a pagar ou a receber, que é líquida e certa. Se a empresa vendeu, entregou a mercadoria e faturou, o seu grau de certeza quanto ao montante a receber e à data de recebi-mento permite que ela trate este fato como um “compromisso”. O mesmo acontece com uma compra de mercadoria ou serviço que a empresa tenha adquirido e que tenha sido entregue e faturada.

No entanto, existem obrigações e direitos que, embora se saiba que tenham que ser pagos ou rece-bidos, não se sabe com antecedência seu valor exato. Nem por isso se vai deixar de incluí-lo em sua projeção de fluxo de caixa. Só que esta informação será tratada não como um “compromisso”, mas como uma “previsão”.

Também serão tratados como “previsões” os pedidos já colocados junto aos fornecedores e que ainda não tenham sido entregues, mas cujas condições comerciais já estejam determinadas e que, portanto, sejam conhecidas. Esse caso difere um pouco do exemplo dado anteriormente, em que a data de paga-mento era conhecida e o valor exato a ser pago, não. Aqui o valor da obrigação assumida muitas vezes é conhecido com precisão e o que não se sabe com certeza é sua data de liquidação, já que esta é em função de uma entrega que ainda não ocorreu e que pode não ocorrer na data prevista.

O problema que ocorre no caso das previsões é que a grande maioria dos sistemas informatizados de Contas a Pagar e Contas a Receber não atualiza as datas de vencimento previstas no caso de o recebi-mento não ter ocorrido na data aprazada, o que obriga a Tesouraria a uma revisão periódica destes casos com o objetivo de mantê-los constantemente atualizados.

Para evitar esse trabalho extra, seria interessante que as empresas que disponibilizam sistemas in-formatizados de Contas a Pagar, Contas a Receber e Fluxo de Caixa incluíssem em seus programas um módulo de atualização destes valores, ou que, na falta desse, permitissem ao menos uma listagem em separado do que fosse “compromisso” e do que fosse uma simples “previsão”.

Outra sugestão seria apresentar nos relatórios, tanto os de Contas a Pagar quanto os de Contas a re-ceber, os valores que representam “previsões”, seguidos de um asterisco como forma de identificá-los.

Em sistemas onde os programas de Contas a Pagar, Contas a Receber e Fluxo de Caixa são integra-dos ao programa de Contabilidade, a distinção do que é “compromisso” e do que é “previsão” é ainda mais importante. Nestes casos, o lançamento dos “compromissos” atualiza a Contabilidade. Já as “previsões”, por não serem lançamentos suportados por documentação hábil, não podem ser contabilizadas.

A forma como é estruturado o plano de contas da Tesouraria pode facilitar em muito a projeção do fluxo de caixa de uma maneira geral e das entradas em particular. Neste sentido, é recomendável que a conta

“Recebido de clientes” seja dividida em subcontas de acordo com o grau de certeza que temos em relação às diversas entradas. Vamos explicar isso melhor.

Page 92: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

92

Modulo 4´

4.2 - COMPROMISSOS E PREVISÕES

Analisando as diversas formas como os clientes pagam suas contas, observamos que estas produzem entradas com diferentes graus de certeza. As entradas provenientes de vendas pagas com cartões de crédito e vendas faturadas para grandes clientes de primeira linha são muito mais previsíveis do que as entradas provenientes de vendas de balcão pagas com cheques pré-datados. No caso de vendas pagas com cartão, é a administradora do cartão de crédito quem corre o risco da inadimplência. Já no caso de compras pagas com cheques pré-datados, quem corre o risco da inadimplência ou do calote é a cadeia de lojas. Por outro lado, as entradas provenientes de vendas pagas com cheques pré-datados são mais previsíveis do que as vendas de balcão pagas com cheque ou dinheiro. No primeiro caso, no momento da previsão a venda já aconteceu. Nossa dúvida é quanto à inadimplência dos clientes que pagaram com pré-datados. Já as vendas à vista ainda não aconteceram.

Então, no caso da cadeia de lojas, por exemplo, nossa projeção de entradas seria facilitada e ficaria mais precisa se decompuséssemos a conta “Recebido de clientes” nas seguintes sub-contas:

Recebido de Clientes

Recebido em cheque ou dinheiro

Recebido em cheques pré-datados

Recebido de cartões de crédito

Recebido de pequenos clientes

Recebido de grandes clientes

Agora, ao projetarmos as entradas, cada uma das subcontas será tratada separadamente e, no caso daquelas em relação às quais possuímos um elevado grau de incerteza (como é o caso das vendas de balcão pagas em cheque ou dinheiro), vamos verificar se podemos utilizar um método estatístico.

Todos sabemos que, ao lançarmos uma moeda que não esteja viciada, a probabilidade de sair cara ou coroa é de 50% cada. No entanto, ninguém espera que, lançando a moeda apenas quatro vezes, vá dar exatamente duas vezes cara e duas vezes coroa. Pode ser que caia quatro vezes cara ou quatro vezes coroa. À medida que o número de lançamentos vai aumentando, a proporção entre cara e coroa vai se aproximando de 50%. Há uma história que conta que, durante a Segunda Guerra Mundial, um prisioneiro, para passar o tempo, lançou uma mesma moeda 10.000 vezes e registrou os resultados. Conta-se que a proporção entre caras e coroas foi de 50,3% para 49,7%.

Vimos que, para um número pequeno de observações, a previsão estatística não funciona. Isso ocorre porque a lei dos grandes números ainda não entrou em funcionamento.

A lei dos grandes números diz que o resultado observado só se aproxima da previsão estatística quan-do o número de observações cresce muito. Um estatístico diria que o resultado observado só se aproxima da previsão estatística quando o número de observações tende ao infinito.

A conseqüência disto é que a abordagem estatística será tão mais precisa quanto mais pulverizados forem os agentes que atuam sobre um determinado fenômeno. Por isso é que, voltando ao assunto da previsão de entradas, o método estatístico só é eficiente quando as vendas são pulverizadas.

Exemplo

A decisão isolada de um consumidor de comprar ou não um exemplar da revista não tem qual-quer influência no fluxo de caixa da empresa fabricante deste produto. Já a decisão de um cliente

Page 93: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

93

Modulo 4´

de comprar ou não um carro na concessionária poderá ter um profundo impacto no fluxo de caixa da empresa. Isso acontece porque a venda de revistas é pulverizada por uma quantidade enorme de compradores ao passo que a venda de automóveis importados está concentrada em alguns poucos clientes. É por esse motivo que a abordagem estatística será muito mais precisa no caso da editora do que no caso da concessionária.

Quando as vendas não forem pulverizadas, não podemos utilizar o método estatístico. Temos que usar o método discricionário. O termo “discricionário” tem, neste contexto, a conotação de jul-gamento, discernimento. Por esse método a empresa deve avaliar quais as entradas referentes às vendas concentradas e faturadas e que vencem no período.

Vendas à vista pagas em cheques ou dinheiro

Imagine que você queira projetar as vendas pagas à vista com cheque ou dinheiro ao longo de um mês que possua 20 dias úteis. A tabela informa quanto as vendas acumuladas feitas à vista e pagas com cheque ou dinheiro representaram, dia a dia, em porcentagem do faturamento total, nos últimos quatro meses de vinte dias úteis.

Dia Útil Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Média1 2,13% 1,11% 0,98% 1,37% 1,40%2 4,40% 2,75% 3,33% 3,88% 3,59%3 7,71% 6,03% 6,14% 7,23% 6,78%4 10,68% 8,13% 8,85% 9,66% 9,33%5 12,94% 12,49% 11,28% 10,91% 11,90%6 16,89% 15,23% 15,07% 14,25% 15,36%7 19,99% 19,65% 19,06% 19,39% 19,52%8 24,90% 26,42% 25,40% 22,30% 24,76%9 30,26% 28,88% 28,41% 27,11% 28,66%

10 37,71% 33,56% 35,21% 31,84% 34,58%11 43,48% 36,03% 40,19% 36,47% 39,04%12 43,48% 38,82% 44,23% 38,27% 41,20%13 47,95% 43,46% 48,68% 46,08% 46,54%14 53,07% 47,44% 52,38% 51,38% 51,07%15 59,48% 52,05% 56,15% 59,94% 56,90%16 65,97% 58,47% 66,88% 62,91% 63,56%17 69,83% 64,09% 70,67% 67,22% 67,95%18 74,81% 69,77% 74,48% 73,83% 73,22%19 83,03% 77,10% 83,77% 79,14% 80,76%

100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Para entender a tabela, vamos tomar o mês 1 como exemplo. As vendas acumuladas no mês até o 5º dia útil representaram 12,94% do faturamento total do mês. Tomando vários meses com o mesmo número de dias úteis que o mês que estamos projetando, projetamos a venda acumulada e as pagas com cheque ou dinheiro, dia a dia, em relação à venda total do mês considerando a média dos meses anteriores. As-sim, a venda acumulada no 5º dia útil do mês que estamos projetando foi calculada como sendo:

(12,94% + 12,49% + 11,28% + 10,91) : 4 = 11,90%

Um analista mais atento observaria que a venda acumulada até 5º dia útil vem decrescendo ao longo do tempo. Ele provavelmente levaria este fato em consideração ao projetar a venda acumulada até o 5º dia útil do mês para o qual está projetando o fluxo de caixa.

Page 94: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

94

Modulo 4´

De posse do faturamento acumulado, dia a dia, a projeção da venda diária paga com cheque ou di-nheiro depende apenas da projeção da venda paga com cheque ou dinheiro do mês. Caso a venda paga com cheque ou dinheiro projetada para o mês seja, por exemplo, R$ 3 milhões, nós podemos projetar as vendas pagas com cheque ou dinheiro, dia a dia, da seguinte forma:

Dia Útil Média Acumulado Diário1 1,40% 41.901 41.9012 3,59% 107.705 65.8043 6,78% 203.350 95.6454 9,33% 279.892 76.5425 11,90% 357.145 77.2536 15,36% 460.881 103.7367 19,52% 585.683 124.8018 24,76% 742.657 156.9749 28,66% 859.947 117.291

10 34,58% 1.037.358 177.41111 39,04% 1.171.240 133.88212 41,20% 1.235.974 64.73413 46,54% 1.396.319 160.34514 51,07% 1.532.005 135.68615 56,90% 1.707.141 175.13616 63,56% 1.906.745 199.60517 67,95% 2.038.551 131.80518 73,22% 2.196.638 158.08819 80,76% 2.422.836 226.19720 100,00% 3.000.000 577.164

No exemplo, o faturamento diário é calculado subtraindo o faturamento acumulado até o dia para o qual se quer determinar o faturamento menos o faturamento acumulado até o dia útil imediatamente anterior.

Exemplo

O faturamento do 5º dia útil do mês é calculado subtraindo-se o faturamento acumulado até o 5º dia útil menos o faturamento acumulado até o 4º dia útil.

357.145 – 279.892 = 77.253

No entanto, existem casos em que o método demonstrado anteriormente deve ser utilizado com cuida-do para evitar que distorções prejudiquem nossas projeções.

Quando existir uma grande concentração de vendas em torno de uma data móvel, ou seja, que varia de ano para ano. O Natal, por exemplo, é uma data fixa, pois é sempre comemorado no dia 25 de dezembro. Já o Carnaval e a Páscoa são datas móveis, porque são comemorados em dias diferentes a cada ano. Isso significa que o método demonstrado pode ser utilizado sem a necessidade de ajustes para calcular as vendas diárias do mês de dezembro. Já uma loja que venda ovos de Páscoa terá que ajustar as vendas diárias em função do dia em que cai a páscoa naquele ano.

Quando as vendas apresentarem uma sazonalidade dentro do mês. Imagine que se queira projetar as entradas decorrentes da venda de pedágio em uma estrada privatizada. O número de carros que trafegam pela estrada varia de acordo com o dia da semana. Ao se projetar a venda diária de pedágio, tem-se que levar em consideração em que dia da semana cai cada dia do mês, de forma a ajustar a projeção de ven-

Page 95: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

95

Modulo 4´

das diárias. Teríamos que levar em consideração eventuais feriados durante a semana e que poderiam aumentar o movimento na estrada.

Feita a projeção diária das vendas, temos que acompanhá-la diariamente comparando o projetado com o realizado para ver se há necessidade de se refazer a projeção inicial.

Page 96: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

96

Modulo 4´

4.3 - PROJETANDO AS ENTRADAS DE CURTO PRAZO

Suponhamos agora que, no 6º dia útil do mês em curso, a venda paga com cheque ou dinheiro acumu-lada de nosso exemplo anterior esteja em R$ 380.000. Como nessa empresa, estatisticamente, no 6º dia útil de um mês de 20 dias úteis, a venda paga com cheque ou dinheiro acumulada representa, na média, 15,36% da venda total do mês paga com cheque ou dinheiro, concluímos que as vendas totais pagas desta forma estão tendendo muito mais para R$ 2.500.000 (R$ 380.000/15,36%) do que para R$ 3.000.000. Se esta tendência vem sendo observada desde o início do mês, temos que rever a projeção do faturamento e refazer o fluxo de caixa projetado.

Suponhamos que a empresa tenha projetado as vendas pagas com cheque ou dinheiro de um determi-nado mês de 20 dias úteis em R$ 3.000.000 e que no 9º dia útil estas vendas acumuladas do mês estejam em R$ 599.062 em vez dos R$ 826.200 projetados originalmente. Tudo indica que a meta estabelecida não será atingida. Será que vale a pena insistir com uma projeção que dificilmente acontecerá ou será que vale a pena rever as projeções? Vejamos como proceder nestes casos. Observe na tabela o faturamento projetado e o realizado até o 9º dia útil do mês em curso.

Dia Útil Projetado Real1 60.600 20.6302 126.900 70.1933 201.600 129.4514 284.700 186.5885 376.200 237.9416 476.100 317.8867 584.400 401.9698 701.100 535.7109 826.200 599.062

10 959.70011 1.101.60012 1.251.90013 1.410.60014 1.577.70015 1.753.20016 1.937.10017 2.129.40018 2.330.10019 2.539.20020 3.000.000

Para refazer a projeção de vendas baseada na nova série histórica representada pelas nove observa-ções havidas no mês temos que:

Interpolar uma curva à nova série histórica de nove observações.

Projetar esta curva para mais onze períodos de forma a completar os vinte dias úteis do mês.

Trace o gráfico representativo do faturamento diário acumulado, exibido na 3a coluna da tabela acima.

Coloque a ponta da seta do cursor sobre a linha obtida no gráfico e clique no botão direito do mouse. Neste momento será exibido na tela um menu. Selecione o submenu “Adicionar linha de tendência”.

Teste as várias linhas de tendência e verifique a que melhor se ajusta à curva original. Repita

Page 97: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

97

Modulo 4´

a seqüência do segundo passo.

Clique na etiqueta “opções” e marque “exibir equação no gráfico”. Clique OK.

Se você tiver planilha Excel à sua disposição agora, siga os passos acima. De qualquer forma, o gráfico obtido será semelhante ao da figura abaixo.

Linha de tendência

Para calcular a venda acumulada projetada para um determinado dia do mês, basta substituir o valor de “x” na equação da curva de tendência pelo dia do mês para o qual se quer calcular a venda projetada. Se, por exemplo, quisermos calcular a venda acumulada o último dia do mês (que será, é claro, a venda acumulada do mês), basta substituir o valor de “x” por 20 na equação.

Para testar seu aprendizado e reter o conhecimento, responda à seguinte pergunta:

Qual a venda acumulada paga com cheque ou dinheiro projetada para o 20º dia útil do exemplo acima?

Aplicando a equação apresentada no gráfico e substituindo o valor de “x” por 20 (correspondente ao vigésimo dia útil), temos que:

y = 22.665 x1,4991 ou seja y = 22.665 x 201,4991 = 2.021.761

Observa-se que a venda projetada inicialmente em R$ 3.000.000 no mês está superdimensionada, já que o valor correto estaria em torno de R$ 2.020.000.

Entradas provenientes de vendas faturadas

Vamos tratar agora do caso das vendas pulverizadas que tenham sido faturadas. Neste caso sabemos o que vence no período. Se todos os clientes pagassem sem atraso na data do vencimento, as entradas seriam iguais aos vencimentos. Infelizmente não é isso o que ocorre na prática. Temos, então, que calcular o quanto esperamos receber. As entradas previstas compreendem os recebimentos referentes a faturas que vencem no período e que serão pagas sem atraso mais as faturas vencidas em períodos anteriores e que serão pagas somente neste período.

Uma das maneiras possíveis de se estimar as entradas previstas para o período é com base no com-portamento deste segmento de vendas no passado. Suponha que possuamos um levantamento do perfil de inadimplência dos clientes deste segmento nos últimos 36 meses no quadro que você vê a seguir.

As expressões D+30, D+60, D+90 e D+120 significam recebimentos feitos um, dois, três ou quatro meses após o vencimento.

Page 98: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

98

Modulo 4´

Mês Faturado Recebido Recebido Recebido Recebido Recebido Incobrávelsem Atra-so

em D+30 em D+60 em D+90 em D+120

1 56,00% 30,00% 8,50% 3,50% 1,40% 0,60%2 52,00% 33,00% 8,00% 5,00% 1,10% 0,90%3 50,00% 35,00% 8,25% 4,75% 1,25% 0,75%4 48,00% 36,00% 7,50% 6,00% 1,50% 1,00%5 50,00% 35,00% 9,25% 4,25% 0,75% 0,75%6 49,00% 38,00% 6,50% 4,50% 1,75% 0,25%7 52,00% 33,00% 7,75% 4,50% 2,00% 0,75%8 180.000 51,00% 34,00% 8,25% 4,75% 1,40% 0,60%9 49,00% 36,00% 7,50% 5,00% 1,50% 1,00%10 50,00% 35,00% 6,50% 6,25% 1,75% 0,50%11 51,00% 34,00% 7,75% 5,00% 1,50% 0,75%12 53,00% 33,00% 7,75% 4,25% 1,25% 0,75%13 49,00% 36,00% 7,75% 4,75% 1,60% 0,90%14 49,00% 38,00% 7,75% 3,75% 1,00% 0,50%15 48,00% 36,00% 8,50% 5,50% 1,40% 0,60%16 50,00% 35,00% 8,00% 4,75% 1,50% 0,75%17 48,00% 36,00% 8,25% 5,00% 1,50% 1,25%18 49,00% 34,00% 8,50% 6,00% 1,60% 0,90%19 50,00% 35,00% 8,00% 5,00% 1,25% 0,75%20 192.000 47,00% 39,00% 7,50% 4,50% 1,40% 0,60%21 50,00% 35,00% 8,00% 5,00% 0,90% 1,10%22 48,00% 36,00% 8,25% 5,25% 1,50% 1,00%23 50,00% 35,00% 8,00% 4,75% 1,50% 0,75%24 46,00% 40,00% 7,00% 5,00% 1,10% 0,90%25 50,00% 35,00% 8,00% 4,50% 1,50% 1,00%26 48,00% 37,00% 7,75% 5,00% 1,50% 0,75%27 51,00% 34,00% 7,50% 5,50% 1,60% 0,40%28 50,00% 35,00% 7,25% 5,25% 1,75% 0,75%29 47,00% 37,00% 8,00% 5,50% 1,50% 1,00%30 45,00% 41,00% 6,75% 5,25% 1,40% 0,60%31 54,00% 32,00% 7,25% 4,50% 1,50% 0,75%32 52,00% 33,00% 7,75% 5,25% 1,25% 0,75%33 47,00% 37,00% 8,25% 4,75% 2,50% 0,50%34 50,00% 35,00% 8,00% 5,00% 1,25% 0,75%35 55,00% 31,00% 8,00% 4,00% 1,60% 0,40%36 49,00% 35,00% 9,00% 5,00% 1,40% 0,60% Média 49,81% 35,25% 7,85% 4,90% 1,45% 0,75%

Page 99: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

99

Modulo 4´

4.4 - PROJETANDO AS SAÍDAS DE CURTO PRAZO

O fluxo de caixa projetado de curto prazo nada mais é do que um modelo que construímos com o obje-tivo de verificar como se comportará o saldo de caixa no período considerado de forma a podermos traçar as políticas de captação ou aplicação de recursos da empresa. Este modelo será tão mais confiável quan-to melhor for a natureza das informações com as quais trabalha o encarregado de preparar a projeção.

As duas maiores dificuldades com as quais o profissional responsável pela elaboração do fluxo de cai-xa projetado de curto prazo se depara são:

A natureza do negócio da empresa cujo fluxo se está projetando.

A falta de uma disciplina financeira.

Evidentemente só se pode prever aquilo que seja previsível. Acontece que existem negócios que, por sua própria natureza, são mais previsíveis do que outros.

Está lembrado do Roberto Dias, apresentado no começo deste módulo? O colégio dele tem um baixo grau de inadimplência por parte de seus alunos.

Todas as matrículas são feitas no início do ano. Sabendo quanto cada aluno vai pagar, a previ-são da receita não tem problemas.

Todos as mensalidades vencem no mesmo dia.

A inadimplência é baixa, portanto a previsão de entradas também é segura.

As despesas tendem a ser mais fáceis de controlar do que as entradas.

O elemento responsável pela projeção do fluxo de caixa tem que ser informado sobre os compromissos que estão sendo assumidos pela empresa para que possa incluí-los em seu planejamento financeiro. Não é possível que a área financeira só seja informada dos compromissos assumidos quando chega o aviso de cobrança. O setor de suprimentos deveria dar entrada no sistema de contas a pagar de todas as compras feitas, seus valores, o nome do credor e o prazo previsto para recebimento e pagamento. O mesmo pro-cedimento deveria ser adotado por todos os departamentos com autoridade para assumir compromissos em nome da empresa. No último módulo, quando tratarmos do setor de Contas a Pagar, voltaremos a esse assunto.

Algumas sugestões que podem ser úteis para diminuir a indiciplina financeira:

Proibição de compras sem pedidos. Em empresas grandes, é recomendável que haja um procedimento que determine que as compras sem pedido sejam informadas e passem a constar nos relatórios da auditoria interna, como forma de coibir este procedimento.

Concentração de pagamentos em determinados dias da semana. Por este procedimento não seriam mais aceitos pedidos para pagamento à vista. Caso o dia de pagamentos fosse, por exemplo, a quarta-feira, o prazo de vencimento dos pedidos seria de três dias fora a semana, ou 10 dias fora a semana, ou 17 dias fora a semana e assim por diante. Este procedimento tem a vantagem de garantir ao Tesoureiro um horizonte de 10 dias “sem surpresas”.

Criação de um comitê de fluxo de caixa. Para que este comitê seja respeitado e prestigiado, é importante que seja instituído pelo próprio presidente da empresa e presidido por um represen-tante seu. Em empresas grandes, o comitê de fluxo de caixa é instituído por meio de uma Carta Corporativa do Presidente. A função dele é criar um comprometimento das pessoas envolvidas com o fluxo de caixa. Deverão fazer parte deste comitê representantes dos principais setores geradores de receitas ou de despesas escolhidos pelos diretores das áreas a que pertencem.

Page 100: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

100

Modulo 4´

Todos os dias 20 de cada mês, cada um destes representantes fornece sua projeção para o mês seguinte. Estes dados são consolidados no fluxo de caixa projetado e, no dia 25, o comitê se re-úne para analisar o fluxo de caixa do mês que termina, comparando o projetado com o realizado, e projetam o fluxo de caixa para o mês seguinte.

Page 101: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

101

Modulo 4´

4.5 - O PLANEJAMENTO FINANCEIRO

Os objetivos da projeção do fluxo de caixa de curto prazo são claros: servir de base para um plane-jamento financeiro que permita uma correta administração dos eventuais excessos e/ou escassezes de caixa previstas no período projetado.

As decisões tomadas a partir das informações obtidas do fluxo de caixa projetado de curto prazo serão quase sempre do tipo:

O quanto será aplicado, em que ativos e por quanto tempo.

O quanto pode ser retirado do giro sob a forma de investimentos ou de retirada dos acionistas e quais as conseqüências desta decisão.

O quanto terá que ser aportado à empresa sob a forma de empréstimos ou entradas não opera-cionais (aporte de capital dos acionistas ou venda de imobilizado), de forma a “fechar” o caixa.

Que tipos de captações deverão ser feitos, em que volumes e por quanto tempo.

Qual o caixa mínimo que a empresa deverá manter em seu “Disponível” para fazer face aos seus compromissos.

Como foi dito no início deste módulo, quando se trata de projeção de curto prazo a primeira regra é que, neste caso, o fluxo projetado deve levar em consideração todas as entradas e todas as saídas que se imagina que irão ocorrer no período, não importando que sejam operacionais ou não operacionais. O saldo inicial do fluxo de caixa projetado de curto prazo é o saldo do Disponível no final do período imedia-tamente anterior ao período projetado.

A segunda regra é que “quanto maior a incerteza quanto ao fluxo projetado, maior deve ser a margem de segurança com que trabalha a empresa”. Nem todas as empresas possuem o mesmo grau de certeza em relação ao seu fluxo de caixa projetado de curto prazo. Algumas possuem um fluxo de caixa mais previsível do que outras.

Tomemos como exemplo o Colégio Paulo Freire de Roberto Dias, apresentado no decorrer deste mó-dulo. Por trabalhar com uma pequena dose de incerteza, é possível operar com uma pequena margem de segurança. Assim, se o fluxo de caixa projetado do colégio fosse o mostrado na figura da próxima página, o administrador financeiro realmente poderia, com razoável margem de segurança, retirar do giro o exces-so de caixa correspondente à distância “ ” entre o menor saldo positivo acumulado e o eixo dos “x”, que a probabilidade de a estrutura de caixa da empresa se fragilizar seria relativamente baixa.

Imagine agora uma empreiteira de serviços públicos com várias obras, cada obra praticamente repre-sentando uma empresa, os recebimentos dependendo de conclusão de etapas, aprovação da fiscalização e liberação de verbas. É uma empresa que, pela própria natureza de seu negócio, trabalha com um ele-vado grau de incerteza. Neste caso, como ninguém possui uma bola de cristal, a solução desta empresa seria trabalhar com uma grande margem de segurança, mantendo sempre um elevado nível de recursos

Page 102: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

102

Modulo 4´

no Disponível.

O objetivo do planejamento financeiro é definir um conjunto de operações e aplicações financeiras que conduzam a um melhor resultado financeiro. Com efeito, uma determinada situação pode ser enfrentada de várias maneiras. Uma é sempre melhor que as demais. A função do planejamento financeiro é encon-trar esta melhor solução.

De um modo geral, necessidades de caixa por 30 dias ou mais devem ser cobertas por operações de capital de giro porque costumam ser as que cobram taxas de juros mais baixas. Se as necessidades de caixa forem inferiores a 30 dias e superiores a uma semana, a melhor captação costuma ser o desconto de duplicatas. Já necessidades de caixa por até uma semana poderão ser cobertas com recursos das contas garantidas. Estas operações, como vimos, cobram juros mais elevados, mas como as taxas de juros só incidem sobre o saldo devedor, os juros pagos acabam sendo menores do que o que seria pago em outros tipos de operações.

No caso de aplicações financeiras, temos que tomar cuidado para não aplicar recursos que serão necessários em um futuro muito próximo porque se corre o risco de se pagar mais imposto do que o ren-dimento financeiro obtido. Uma solução possível é antecipar o pagamento de fornecedores mediante uma taxa de desconto. Desta forma evitaríamos o pagamento do IOF e viabilizaríamos aplicações de prazos mais curtos.

No final do mês de julho, Roberto Dias projetou o fluxo de caixa do Colégio Paulo Freire para os meses de agosto e setembro. O quadro que você abaixo mostra a evolução projetada dos saldos de caixa no período projetado.

Considerando que a empresa possui um alto grau de previsibilidade, vamos fazer o planejamento para os meses de agosto e setembro sabendo que, no final de julho, as condições de aplicação de recursos eram as seguintes:

Captação de Recursos:

a) Desconto de duplicatas – taxa de desconto de 2,5% a.m. para duplicatas com vencimento de até 30 dias.

b) Capital de Giro – taxa pré-fixada de 2,00% a.m. para operações de 30 dias.

c) Conta Garantida – taxa pré-fixada de 7,00% a.m. e limite de crédito de R$25.000.

As aplicações financeiras de liquidez imediata estavam rendendo na ocasião 20% ao ano. Para facilitar as contas, vamos supor neste exemplo que a empresa está sujeita apenas ao pagamento de:

CPMF na alíquota de 0,38%;

IOF sobre os rendimentos das aplicações financeiras conforme a tabela progressiva abaixo:

Dia Saldo Dia Saldo Dia Saldo Dia Saldo1-ago 8.840 17-ago 958 1-set 19.415 17-set 24.055 2-ago 3.257 18-ago (1.924) 2-set 19.416 18-set 27.675 3-ago (7.302) 19-ago (1.923) 3-set 19.417 19-set 24.793 4-ago (26.719) 20-ago (1.922) 4-set (2) 20-set 27.890 5-ago (26.718) 21-ago 1.173 5-set 816 21-set 45.670 6-ago (26.717) 22-ago 3.407 6-set 17.663 22-set 61.290 7-ago (25.901) 23-ago 19.027 7-set 17.664 23-set 61.291 8-ago (9.054) 24-ago 26.177 8-set 22.513 24-set 61.292

Page 103: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

103

Modulo 4´

9-ago (4.204) 25-ago 30.882 9-set 22.514 25-set 68.440 10-ago (2.939) 26-ago 30.883 10-set 22.515 26-set 73.145 11-ago (7.744) 27-ago 30.884 11-set 23.778 27-set 79.078 12-ago (7.743) 28-ago 36.815 12-set 18.972 28-set 68.980 13-ago (7.742) 29-ago 36.717 13-set 23.277 29-set 69.454 14-ago (3.440) 30-ago 35.557 14-set 21.336 15-ago (5.381) 31-ago 29.974 15-set 24.053 16-ago (2.664) 16-set 24.054

A área situada abaixo do eixo horizontal do gráfico dá a medida da dependência da empresa de em-préstimos para fechar seu caixa. Vemos que do dia 3 ao dia 20 de agosto a empresa é tomadora de recur-sos. De acordo com o enunciado do problema, temos três alternativas para financiar este déficit de caixa: operação de Capital de Giro de 30 dias, desconto de duplicatas ou conta garantida. Temos, então, que calcular quanto custa cada uma destas opções para poder escolher a que apresente o menor custo.

1. Operação de Capital de Giro no valor de R$ 27.000 por 30 dias

IOF = (1,5 % : 365) x R$ 27.000 x 30 dias= R$ 33,29

Juros = R$ 27.000 x 2 % = R$ 540,00

CPMF = R$ 27.540,00 x 0,38% = R$ 104,65

Total = 33,29 + 540,00 + 104,65 = R$ 677,94

2. Desconto de duplicatas no valor de R$27.500

IOF = (1,5 % : 365) x R$ 27.500 x 17 dias = R$ 19,21

Juros = (R$ 27.500 x 17dias x 2,5%) : 30 dias = R$ 389,58

Total = 19,21 + 389,58 = R$ 408,79

3. Conta Garantida

Dia Saldo IOC Diário Juros Diários Juros Acumulados1-ago 8.840,00 2-ago 3.257,10 3-ago (7.301,80) 0,30 16,49 16,49 4-ago (26.718,90) 1,10 60,36 76,85 5-ago (26.717,90) 1,10 60,50 137,35 6-ago (26.716,90) 1,10 60,63 197,98 7-ago (25.900,60) 1,06 58,93 256,91 8-ago (9.054,10) 0,37 21,02 277,93 9-ago (4.203,70) 0,17 10,12 288,05

10-ago (2.938,90) 0,12 7,29 295,33 11-ago (7.744,20) 0,32 18,15 313,49 12-ago (7.743,20) 0,32 18,19 331,68 13-ago (7.742,20) 0,32 18,23 349,91

Page 104: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

104

Modulo 4´

14-ago (3.439,60) 0,14 8,56 358,46 15-ago (5.380,80) 0,22 12,96 371,42 16-ago (2.663,70) 0,11 6,85 378,27 17-ago 958,30 0,85 379,13 18-ago (1.924,10) 0,08 5,20 384,33 19-ago (1.923,10) 0,08 5,21 389,54 20-ago (1.922,10) 0,08 5,22 394,76 21-ago Total 6,99 394,76

Como já era de se esperar, a conta garantida, apesar de cobrar a taxa de juros mais alta, é a solução mais barata, já que só se paga juros sobre o saldo efetivamente devedor.

Passemos agora para o período projetado após o dia 20 de agosto, quando haverá excesso de caixa.

Uma das soluções seria a aplicação de R$ 15.500 do dia 22 de agosto até o final do período. O mon-tante a ser aplicado representa o saldo de caixa no dia 4 de setembro. Este é o máximo que a empresa poderia retirar de seu caixa sem ter que recorrer a bancos (lembre-se que o colégio apresenta um alto grau de previsibilidade e que, portanto, pode trabalhar com uma pequena margem de segurança).

Dia Saldo Dia Saldo Dia Saldo Dia Saldo1-ago 8.840 17-ago 958 1-set 19.415 17-set 24.055 2-ago 3.257 18-ago (1.924) 2-set 19.416 18-set 27.675 3-ago (7.302) 19-ago (1.923) 3-set 19.417 19-set 24.793 4-ago (26.719) 20-ago (1.922) 4-set (2) 20-set 27.890 5-ago (26.718) 21-ago 1.173 5-set 816 21-set 45.670 6-ago (26.717) 22-ago 3.407 6-set 17.663 22-set 61.290 7-ago (25.901) 23-ago 19.027 7-set 17.664 23-set 61.291 8-ago (9.054) 24-ago 26.177 8-set 22.513 24-set 61.292 9-ago (4.204) 25-ago 30.882 9-set 22.514 25-set 68.440

10-ago (2.939) 26-ago 30.883 10-set 22.515 26-set 73.145 11-ago (7.744) 27-ago 30.884 11-set 23.778 27-set 79.078 12-ago (7.743) 28-ago 36.815 12-set 18.972 28-set 68.980 13-ago (7.742) 29-ago 36.717 13-set 23.277 29-set 69.454 14-ago (3.440) 30-ago 35.557 14-set 21.336 15-ago (5.381) 31-ago 29.974 15-set 24.053 16-ago (2.664) 16-set 24.054

Agora podemos fazer uma segunda aplicação no valor de R$ 22.000 a partir do dia 8 de setembro até o final do período projetado. O resultado destas duas aplicações seria:

1ª. Aplicação

CPMF = R$15.500 x 0,38 % =(R$ 58,90)

Juros = R$15.500 x [(1,20)39 / 360 –1] = R$ 309,19

Imposto de Renda = R$ 309,19 x 20% = (R$ 61,84)

Total = 309,90 – 58,90 – 61,84 = R$189,16

Page 105: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

105

Modulo 4´

2ª. Aplicação

CPMF = R$ 22.000 x 0,38% = (R$ 83,60)

Juros = R$ 22.000 x [(1,20)22 / 360 –1] = R$ 246,49

IOF = R$ 246,49 x 26% = (R$ 64,09)

Imposto de Renda = (R$ 246,49 – R$ 64,09) x 20%= (R$ 36,48)

Total = 246,49 – 83,60 – 64,09 – 36,48 = R$ 62,32

As duas aplicações em conjunto renderão R$ 251,48 (=R$ 189,16 + R$ 62,32).

Uma outra alternativa, um pouco mais ousada, seria aplicar R$ 40.000 a partir do dia 24 de agosto até o final do período, mesmo sabendo que vamos ter que tomar dinheiro emprestado para cobrir o déficit de caixa que se forma a partir de 1º de setembro.

O resultado desta estratégia seria:

Aplicação Financeira:

CPMF = R$ 40.000 x 0,38% = (R$ 152,00)

Juros = R$ 40.000 x [(1,20)37 / 360 –1] = R$ 756,61

Imposto de Renda = R$ 756,61 x 20% = (R$ 151,32)

Total = 756,61 – 152,00 – 151,32 = R$ 453,29

Dia Saldo Dia Saldo Dia Saldo Dia Saldo1-ago 8.840 17-ago 958 1-set (5.159) 17-set (519)2-ago 3.257 18-ago (1.924) 2-set (5.158) 18-set 3.101 3-ago (7.302) 19-ago (1.923) 3-set (5.157) 19-set 219 4-ago (26.719) 20-ago (1.922) 4-set (24.576) 20-set 3.316 5-ago (26.718) 21-ago 1.173 5-set (23.758) 21-set 21.096 6-ago (26.717) 22-ago 18.953 6-set (6.911) 22-set 36.716 7-ago (25.901) 23-ago 34.573 7-set (6.910) 23-set 36.717 8-ago (9.054) 24-ago 1.604 8-set (2.061) 24-set 36.718 9-ago (4.204) 25-ago 6.308 9-set (2.060) 25-set 43.867

10-ago (2.939) 26-ago 6.309 10-set (2.059) 26-set 48.571 11-ago (7.744) 27-ago 6.310 11-set (796) 27-set 54.504 12-ago (7.743) 28-ago 12.241 12-set (5.601) 28-set 44.406 13-ago (7.742) 29-ago 12.143 13-set (1.297) 29-set 44.880 14-ago (3.440) 30-ago 10.983 14-set (3.238) 30-set 44.80615-ago (5.381) 31-ago 5.400 15-set (521)16-ago (2.664) 16-set (520)

Temos agora que financiar o déficit de caixa gerado pela aplicação financeira de R$ 40.000. Vamos

Page 106: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

106

Modulo 4´

financiá-lo utilizando os recursos da conta garantida, conforme a tabela abaixo:

Dia Saldo IOC Diário Juros Diário Juros Acumulados1-set (5.158,70) 0,21 16,42 16,42 2-set (5.157,70) 0,21 16,46 32,88 3-set (5.156,70) 0,21 16,51 49,39 4-set (24.575,80) 1,01 78,36 127,75 5-set (23.757,50) 0,98 76,00 203,76 6-set (6.911,00) 0,28 22,64 226,40 7-set (6.910,00) 0,28 22,71 249,10 8-set (20.600,60) 0,85 66,34 315,45 9-set (2.059,60) 0,08 7,56 323,01

10-set (2.058,60) 0,08 7,58 330,59 11-set (795,80) 0,03 3,58 334,17 12-set (5.601,10) 0,23 18,89 353,06 13-set (1.296,50) 0,05 5,25 358,30 14-set (3.237,70) 0,13 11,44 369,75 15-set (520,60) 0,02 2,83 372,58 16-set (519,60) 0,02 2,84 375,42 17-set (518,60) 0,02 2,84 378,26

4,70 378,26

O resultado final desta estratégia será:

453,29 - 4,70 – 378,26 = R$ 70,33

Esta alternativa é, portanto, pior do que a anterior.

Conclusão

A solução para o caso apresentado, dentro das opções disponíveis, é financiar o déficit inicial de caixa com os recursos da conta garantida e aplicar R$ 15.500 a partir do dia 22 de agosto até o final do perío-do.

O custo final desta estratégia seria – R$150,27 (=251,48 – 6,99 – 394,76).

O que o exemplo mostra claramente é que o planejamento financeiro não é uma atividade improvisada na qual o administrador financeiro vai resolvendo seus problemas de caixa à medida que eles vão sur-gindo. Ao contrário, o planejamento financeiro busca a solução que melhor atenda ao período projetado. Compreende-se, portanto, a frustração do administrador financeiro quando a indisciplina dos diversos departamentos da empresa joga por água abaixo seu planejamento financeiro. É preciso que as diversas áreas da empresa se conscientizem da importância de um bom planejamento financeiro e da necessidade de colaborar para o seu cumprimento. Infelizmente, a experiência mostra que esta colaboração só existe quando a mais alta autoridade da empresa, seja representada pelo principal acionista ou pelo principal executivo, valoriza o planejamento financeiro e exige seu cumprimento.

Page 107: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

107

Modulo 4´

RESUMO

1. Fluxo de caixa projetado e planejamento financeiro são duas coisas distintas. O fluxo de cai-xa projetado é o produto final da integração das contas a receber com as contas a pagar. Seu objetivo é identificar as faltas e os excessos de caixa, as datas em que ocorrerão, por quantos dias e em que montantes. É a partir dele que fazemos o planejamento financeiro. Por sua vez, o planejamento financeiro é um conjunto de operações de captação e de aplicação de recursos selecionado entre as várias opções possíveis por conduzir aos melhores resultados.

2. De uma maneira geral, são as entradas que determinam o horizonte da projeção do fluxo de caixa de curto prazo, que deverá cobrir: o prazo de faturamento de uma empresa que comercia-lize produtos de consumo corrente ou o período coberto pela carteira de pedidos de uma compa-nhia que possua contratos de longo prazo.

3. A atualização de informações que permitam a elaboração de um fluxo de caixa projetado de curto prazo não deveria constituir um problema em uma empresa bem estruturada, com sistema financeiro adequado e integrado.

4. Deve-se procurar estabelecer uma distinção entre o que é um “compromisso” e que seja uma simples “previsão”. E isso vale para quando se tem que lidar com quaisquer recebimentos ou pagamentos que se saiba que vão ocorrer, mas que ainda não se tenha o seu valor exato no momento em que se prepara o fluxo de caixa projetado de curto prazo ou, ao contrário, se saiba o quanto se vai pagar mas não se saiba exatamente quando.

5. A forma como é estruturado o plano de contas da Tesouraria pode facilitar em muito a proje-ção do fluxo de caixa de uma maneira geral e das entradas em particular. É recomendável que a conta “Recebido de clientes” seja dividida em subcontas de acordo com o grau de certeza que temos em relação às diversas entradas.

6. A lei dos grandes números diz que o resultado observado só se aproxima da previsão estatís-tica quando o número de observações cresce muito. A conseqüência disto é que a abordagem estatística será tão mais precisa quanto mais pulverizados forem os agentes que atuam sobre um determinado fenômeno. Por isso é que, a respeito da previsão de entradas, o método estatístico só é eficiente quando as vendas são pulverizadas. Ele pode nos ajudar a projetar dois tipos de entradas sobre as quais nosso grau de incerteza é grande: as entradas provenientes de vendas à vista pagas com cheques ou dinheiro e as vendas pulverizadas que tenham sido faturadas.

7. As duas maiores dificuldades com as quais o profissional responsável pela elaboração do fluxo de caixa projetado de curto prazo se depara são: a natureza do negócio da empresa cujo fluxo se está projetando e a falta de uma disciplina financeira.

8. O planejamento financeiro não é uma atividade improvisada na qual o administrador financeiro vai resolvendo seus problemas de caixa à medida que eles vão surgindo. Ao contrário, busca a solução que melhor atenda ao período projetado. Portanto, é compreensível a frustração do ad-ministrador financeiro quando a indisciplina dos departamentos da empresa joga por água abaixo seu planejamento. É preciso que as diversas áreas da empresa se conscientizem da importância de um bom planejamento financeiro e da necessidade de colaborar para o seu cumprimento. In-felizmente, a experiência mostra que esta colaboração só existe quando a mais alta autoridade da empresa valoriza o planejamento financeiro e exige seu cumprimento.

Page 108: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

108

MÓDULO 5O CONTAS A PAGAR

Neste módulo você vai conhecer o contas a pagar, setor da tesouraria responsável por ates-tar a legitimidade de um pagamento e preparar seu processo antes de encaminhá-lo para liquidação. Vamos ver os documentos usados, como ocorrem os pagamentos, os cuidados que devem ser tomados e outras informações importantes a respeito dessa atividade.

Dessa vez vamos fazer uma visita a uma rede de supermercados, a Pão Doce. Lá vamos conhecer Luiza Costa, gerente do setor de contas a pagar. Ela irá nos ajudar, dando várias informações a respeito do seu trabalho.

5.1 - O contas a pagar e seus documentos

5.2 - O fundo fixo de caixa

5.3 - A aprovação de pagamento

5.4 - Os juros e as multas de mora

5.5 - A liquidação de compromissos

5.6 - Práticas de contas a pagar

5.7 - Irregularidades

5.8 - Os relatórios de controle de pagamentos

Page 109: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

109

MÓDULO 5

O CONTAS A PAGAR

5.1 - O CONTAS A PAGAR E SEUS DOCUMENTOS

Como você deve saber, a função do setor de contas a pagar é atestar a legitimidade de um pagamento, garantindo que se tratam de produtos ou serviços efetivamente fornecidos dentro das condições acor-dadas com a empresa. Além disso, prepara os processos de pagamento antes de encaminhá-los para liquidação.

Luiza Costa, gerente do setor de contas a pagar da rede Pão Doce explica seu trabalho:

“Bom, imagine uma rede de supermercados como a nossa. A Pão Doce tem lojas espalhadas pelo país inteiro. Aqui, nesse setor pelo qual eu sou responsável, centralizamos o trabalho do contas a pagar de todas as lojas. Na verdade, a tesouraria toda é centralizada. Imagine a quantidade de pagamentos que devem ser feitos todos os dias. São milhares de fornecedores, reposições de estoque diárias... Realmente é muito trabalho. Somos uma empresa intensiva de transações. Fazemos cerca de 10.000 pagamentos por dia!

Se você está achando nosso setor grande, deveria ver há algum tempo. Éramos em 180 pessoas para dar conta do recado. Hoje somos em apenas 34 funcionários. Mas isso, claro, não aconteceu de uma hora para outra. Foi um processo que se deu conforme o nível de informatização dos bancos e da própria empresa foi aumentando. Mas isso é um fenômeno generalizado. Aconteceu em muitas das grandes e médias empresas.

Recentemente fizemos uma pesquisa sobre a atividade de aprovação de pagamentos e liquidação de compromissos, visitando e conversando com cerca de quinze empresas de médio e grande porte do Rio de Janeiro e de São Paulo. Além disto, conversamos longamente com o pessoal da área de produtos eletrônicos de dois grandes bancos de varejo. Nosso objetivo era verificar como o fato de as empresas estarem se tornando intensivas de transações e a crescente informatização dos bancos e das empresas estavam afetando a atividade de aprovação e liquidação de compromissos. A empresa Pão Doce, que acabamos de conhecer, poderia muito bem ser uma dessas empresas entrevistadas. Como vimos, o im-pacto dessas mudanças foi enorme. E é sobre isso que vamos falar no decorrer deste módulo. A rede Pão Doce servirá como modelo.”

Conheça os documentos que compõem o processo comercial que ficam, por exemplo, sobre a mesa de Luiza:

Pedido

Nota Fiscal

Fatura

Duplicata

Aviso de Cobrança

Page 110: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

110

Todo processo comercial tem início com um pedido. Quando o serviço ou a mercadoria é entregue, quem vendeu extrai uma Nota Fiscal para caracterizar a entrega e emite uma fatura, que é o documento de cobrança. Caso o estabelecimento que vendeu pretenda terceirizar a cobrança com um banco, tem que emitir uma duplicata. A forma que o banco tem de avisar ao devedor onde a fatura tem que ser liquidada é por meio de um Aviso de Cobrança.

O pedido

Dizemos que um contrato representa a lei entre as partes. Significa que duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas) podem acordar o que quiserem desde que não seja proibido por lei.

Exemplos

1. Duas empresas podem fazer um contrato de compra e venda e estabelecerem que a vende-dora não pode descontar as duplicatas emitidas contra a compradora. Isso pode ser feito, pois não existe qualquer lei que proíba esta cláusula. No entanto, se o negócio realizar-se no Brasil, a vendedora não pode exigir da compradora que o pagamento seja feito em dólar papel moeda. O preço do bem ou serviço negociado pode ser estipulado em qualquer moeda. Porém, caso o pagamento seja efetuado no Brasil, será obrigatoriamente feito em real, por ser essa a única moeda de curso legal em território nacional. A conversão de dólar para o Real será feita pela taxa de câmbio definida no contrato.

Uma vez celebrado o contrato, nenhuma das partes pode se arrepender sem o consentimento da outra parte. Isso quer dizer que uma das partes não pode descumprir qualquer cláusula do contrato sem que a outra parte tenha dado motivos para isso.

2. Uma empresa contratou um fornecimento com outra empresa. A compra não pode ser can-celada pelo comprador a menos que o vendedor tenha descumprido alguma cláusula contratual. Isso caracterizaria uma rescisão unilateral do contrato e sujeitaria a parte infratora às penalidades previstas em lei.

O que pode acontecer é o contrato ser condicional. Os contratos condicionais são aqueles que somente são considerados celebrados depois de verificada uma determinada condição.

3. As partes contratantes acordaram que o prazo de entrega seria de X dias corridos e contados a partir da data do pagamento de um sinal por parte do comprador ao vendedor. Enquanto o sinal não for pago, o contrato não entra em vigor. A lei prevê, no entanto, que, se antes da entrega do bem adquirido o comprador cair em insolvência, o vendedor poderá suspender a referida entrega até que o comprador lhe dê as garantias de que a dívida constituída será saldada.

O pedido aceito pelo vendedor corresponde a um contrato de compra e venda no qual o compra-dor e o vendedor acordam o produto ou serviço a serem negociados, o preço e as condições nas quais a operação se dará. Trata-se, portanto, de um contrato simplificado. Do ponto de vista me-ramente legal, muito embora o pedido possa ser feito verbalmente, é sempre aconselhável que seja confirmado por escrito para que, em caso de desacordo entre as partes, o caso possa ser resolvido na justiça. Neste sentido, o código comercial prevê que, na falta de um documento es-crito, a prova testemunhal somente será admitida como subsidiária de outras provas por escrito.

A extração do Pedido deveria ser um procedimento padrão nas empresas também por uma questão de segurança. Vários são os problemas gerados pelo fato de a empresa fazer compras sem que haja um pedido feito por escrito.

Sem que haja um pedido formal que especifique as condições em que o negócio foi fechado, o encarregado pela aprovação do pagamento não tem como atestar sua legitimidade. Nesses casos, o encarregado pela aprovação do pagamento costuma solicitar ao diretor que fez o pedido

Page 111: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

111

verbal que assine a Nota Fiscal autorizando sua liquidação. Já houve casos de funcionários do setor de contas a pagar que constituíram empresas fantasmas, simularam uma prestação de serviços e falsificaram a assinatura de um diretor aprovando o pagamento. Para evitar a prática dessa irregularidade, em uma das empresas que visitamos havia uma determinação para que, em caso de compras feitas sem pedido por escrito, o encarregado por sua aprovação informasse à auditoria o número e o valor da Nota Fiscal que estava sendo aprovada e o nome do diretor que aprovou seu pagamento. Segundo a pessoa com quem conversamos, esse procedimento cria um constrangimento tão grande para o diretor, ao ver seu nome citado no relatório dos auditores, que as compras sem pedido por escrito praticamente desapareceram.

Em outra empresa na qual estivemos foi narrado um caso recente de uma Nota Fiscal referente a uma compra de madeira do valor de R$ 18.000. A empresa estava fazendo uma obra de expan-são e consumindo aquele tipo de material. No entanto, naquele caso específico, ninguém sabia quem tinha autorizado aquela compra nem quem havia recebido o material. A assinatura que constava no canhoto da Nota Fiscal era ilegível. Para complicar a situação, a empresa vendedora era um fornecedor tradicional e merecedor de toda a confiança. Como resolver essa situação?

O setor de suprimentos deve manter um controle dos pedidos, principalmente daqueles cuja entrega é parcelada. Se um pedido é feito verbalmente, como controlá-lo?

Em alguns sistemas de informações gerenciais, todo pedido feito é confrontado com o orça-mento aprovado antes de ser liberado. O objetivo é evitar que compras não previstas no orça-mento só cheguem ao conhecimento da direção da empresa depois de o fato consumado. Se não existe um pedido por escrito, como fazer esta verificação?

A Nota Fiscal

É um documento que registra o fato gerador de vários tributos, entre eles o IPI, o ICMS, o ISS, o PIS e o Cofins. É por isso que, se a fiscalização detiver um veículo transportando mercadoria que não esteja acompanhada de Nota Fiscal, aquela pode ser apreendida. Uma venda sem Nota Fiscal caracteriza so-negação fiscal.

Todo o estabelecimento, exceto o de produtos agropecuários, emitirá Nota Fiscal:

Sempre que houver a transmissão de propriedade da mercadoria.

Sempre que houver a saída de mercadoria do estabelecimento.

No caso de a mercadoria cuja unidade não possa ser transportada de uma só vez, desde que o imposto deva incidir sobre o todo.

No reajustamento do preço do qual decorra acréscimo.

Existem ainda outros casos previstos em lei nos quais a emissão de nota fiscal é obrigatória. Vê-se, portanto, que existem vários tipos de Nota Fiscal. Existe um tipo de Nota Fiscal que caracteriza a transfe-rência de propriedade do bem ou da prestação do serviço, outro tipo para entregar partes de um pedido que já foi faturado, outro para fazer a devolução de um material e assim por diante. Neste módulo só trataremos das Notas Fiscais que caracterizam a transferência de propriedade de um bem ou a prestação de um serviço.

Quaisquer irregularidades observadas na Nota Fiscal devem ser comunicadas ao fornecedor por meio de um documento chamado Carta de Comunicação de Incorreções. Ela pode ser comprada nas papela-rias sob a forma de um formulário impresso.

Caso, ao conferir uma Nota Fiscal, sejam observadas incorreções, a Carta de Comunicação de Incorre-ções deve ser escrita em duas vias, sendo que uma deve ser enviada ao emitente da Nota Fiscal e a outra deve ser anexada ao documento que se procura corrigir.

Page 112: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

112

Na falta deste documento, a fiscalização pode desqualificar a despesa e o crédito tributário, ou seja, pode não autorizar que esta despesa seja abatida do lucro para efeito do cálculo do Imposto de Renda em empresas tributadas com base no lucro real e pode não autorizar que os impostos pagos sobre a nota sejam compensados com os impostos incidentes sobre a venda.

Existem várias situações irregulares envolvendo Nota Fiscal que exigem procedimentos especiais que a corrijam. Seria tedioso e improdutivo discorrer sobre todas elas. Por este motivo, limitamo-nos a enume-rá-las para que, em caso de necessidade, um contador ou um advogado seja consultado sobre o procedi-mento correto a ser adotado. Não se esqueça de que há prazos para que as providências cabíveis sejam tomadas!

Algumas destas situações são as seguintes:

Parte da mercadoria é entregue danificada.

As quantidades entregues são maiores do que as quantidades pedidas.

Sua empresa compra uma mercadoria, a Nota Fiscal é extraviada pela transportadora e a mer-cadoria lhe é entregue sem ela.

A Nota Fiscal é extraviada dentro do estabelecimento da empresa compradora.

Os valores das mercadorias constantes da Nota Fiscal são menores do que os acordados no pedido.

Os valores das mercadorias constantes da Nota Fiscal são maiores do que os acordados no pedido.

As quantidades das mercadorias constantes da Nota Fiscal são maiores do que as acordados no pedido.

As quantidades das mercadorias constantes da Nota Fiscal são menores do que as acordados no pedido.

O ICMS está destacado maior.

O ICMS está destacado menor.

O IPI está destacado maior.

O IPI está destacado menor.

A Fatura

A Nota Fiscal não é um documento de cobrança. É por isso que, quando se trata de Nota Fiscal sim-ples, não existe um campo onde estejam especificadas as condições de pagamento. Só se cobra por Nota Fiscal se o prazo de pagamento for inferior a 30 dias.

Quando o prazo de pagamento for igual ou superior a 30 dias, é obrigatória a extração pelo vendedor da respectiva fatura para apresentação ao comprador. A fatura é um documento cujo objetivo é caracteri-zar o cumprimento de uma obrigação contratual e a conseqüente constituição de um direito do vendedor de receber uma remuneração do comprador.

Hoje em dia está cada vez mais difundida a chamada Nota Fiscal-Fatura, que é um documento que engloba a Nota Fiscal e a Fatura.

Page 113: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

113

A Duplicata

É um título genuinamente brasileiro. Ao contrário do que ocorre com a fatura, cuja emissão é obrigató-ria nas vendas com prazo de pagamento igual ou superior a 30 dias, a duplicata não é de emissão obriga-tória. A lei diz que o comerciante poderá extraí-la.

A função da duplicata é informar ao banco cobrador as características da fatura a cobrar.

O nome duplicata vem justamente do fato de este título duplicar os dados da fatura. Sendo assim, a emissão da duplicata só faz sentido quando a cobrança é feita por terceiros. Quando a cobrança é feita em carteira, ou seja, quando o pagamento é feito diretamente ao credor, não existe a emissão da duplicata.

As quatro principais características da duplicata são:

1. A duplicata é título causal, ou seja, tem que ter como causa uma operação de compra e venda (e, portanto, uma fatura). Esse é o único negócio jurídico que autoriza sua emissão. Uma dupli-cata paga em atraso no cartório de protesto pelo valor nominal não inclui os encargos moratórios. No entanto, esse acréscimo não poderá ser cobrado por meio de uma duplicata porque os encar-gos moratórios não foram faturados. A emissão de duplicata, nesse caso, caracteriza a chamada

“duplicata fria” ou sem causa, o que é considerado crime de estelionato.

2. A duplicata é um título de apresentação, ou seja, deve ser apresentada para “aceite” do com-prador (neste caso, chamado de sacado). Ao receber o título para “aceite”, o sacado (ou seu preposto) deveria assinar um recibo de entrega. Este recibo seria a prova de que o título lhe foi apresentado. Como a duplicata é um título de apresentação, o comprador, tendo assinado um recibo, não poderia alegar mais tarde que nunca chegou a ficar em mora porque não tinha con-dições de conhecer o vencimento, valor e demais características da obrigação. Uma duplicata aceita representa uma dívida líquida e certa, contra a qual não existe qualquer contestação possí-vel. Não havendo o “aceite”, como comumente ocorre na prática comercial, este deve ser suprido pelo protesto para viabilizar a cobrança executiva. O protesto é, assim, um procedimento formal cuja função é substituir o “aceite”.

3. A Duplicata é título cambiariforme, isto é, pode ser avalizadaG, endossadaG e protestadaG.

4. A duplicata é um título de circulação, ou seja, pode ser negociada. É por isso que podemos descontar uma duplicata. No caso de uma duplicata descontada (ou seja, negociada), a empresa que emitiu a duplicata (chamada de sacador) transfere, mediante endosso, a propriedade do título para o banco.

É muito importante que a empresa vendedora arquive o recibo de entrega da mercadoria (canhoto da Nota Fiscal) carimbada e assinada pelo representante da compradora. Se o comprovante de entrega da mercadoria tiver sido extraviado, a cobrança judicial da duplicata não aceita não poderá ser pela via executiva por lhe faltar um dos requisitos reputados essenciais pela lei. Algumas empresas, inclusive, con-dicionam o pagamento da transportadora à devolução do canhoto da Nota Fiscal devidamente carimbada e assinada pela compradora.

No caso de extravio do recibo de entrega, a vendedora poderá solicitar uma verificação nos livros de entrada de mercadorias seus e do comprador para provar que a mercadoria foi entregue. O valor apurado servirá apenas para fundamentar pedido de falência, pré-excluída qualquer ação de cobrança.

O Aviso de Cobrança

É o documento utilizado pela instituição financeira para processar uma determinada cobrança e creditar o produto desta cobrança na conta corrente da pessoa, física ou jurídica, detentora dos direitos creditícios relativos ao título que originou este aviso.

O Aviso de Cobrança poderá ser emitido pela instituição financeira cobradora ou pela própria empresa vendedora, dependendo do tipo de cobrança, como veremos no próximo módulo.

Page 114: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

114

5.2 - O FUNDO FIXO DE CAIXA

Chamamos de fundo fixo de caixa ou caixa pequeno o dinheiro em espécie que é mantido nas empre-sas para fazer face a pequenas despesas, como passagens de ônibus dos mensageiros, despesas de copa, despesas com a postagem de cartas etc. A diferença entre as despesas pagas pelo fundo fixo de caixa e as despesas pagas pela tesouraria é que aqueles pagamentos não estão sujeitos a aprovação por parte do setor de Contas a Pagar. A empresa poderá ter mais de um fundo fixo de caixa. Quando a empresa é muito grande, poderá ter um fundo fixo na Gerência Administrativa, outro no Departamento do Pessoal, outro ainda na área de Manutenção e assim por diante.

Por se tratar de dinheiro em espécie, devemos tomar algumas precauções na administração do fundo fixo de caixa.

1. O responsável pelo fundo fixo de caixa deve assinar um Termo de Compromisso pelo qual:

a) Reconhece ter recebido da empresa a quantia especificada.

b) Compromete-se a não fazer uso pessoal desse dinheiro.

c) Compromete-se a prestar contas da quantia recebida.

d) Compromete-se a obedecer as regras estabelecidas pela empresa no que se refere à gestão do fundo fixo.

e) Autoriza o desconto em folha toda e qualquer quantia referente a pagamentos feitos pelo fundo fora das normas estabelecidas pela empresa.

2. Este Termo de Compromisso deve ficar arquivado na pasta do funcionário. Assim, se o funcio-nário deixar a empresa sem prestar contas da quantia recebida, esta poderá ser descontada de sua rescisão.

3. O dinheiro do fundo fixo deverá ser guardado em um cofre de gaveta ou equivalente.

4. A qualquer momento, a soma do dinheiro existente no fundo fixo mais as notas dos pagamen-tos efetuados deve ser igual à quantia recebida a título de fundo fixo.

5. Todas as vezes que o montante em dinheiro do fundo fixo atingir um determinado valor, o responsável por sua gestão deverá apresentar uma prestação de contas em formulário próprio e solicitar à tesouraria um reembolso em montante suficiente para restabelecer seu valor original.

6. Toda nota referente a um pagamento feito pelo fundo fixo deverá receber um carimbo com os dizeres “Pago pelo fundo fixo em...”. Isso evita que uma mesma nota seja apresentada várias vezes para acobertar pagamentos feitos pelo fundo fixo.

7. O fundo fixo não deve ser usado para:

a) Fazer pagamentos acima de um determinado valor a ser determinado pela empresa. Acima deste valor (digamos, R$ 300,00), o pagamento deverá ser obrigatoriamente feito pela tesou-raria.

b) Descontar cheques de funcionários.

c) Fazer adiantamentos a funcionários.

d) Comprar bens do Ativo Imobilizado.

Quando a empresa possui a tesouraria centralizada na matriz e filiais em várias praças, pode acontecer de ela ter necessidade de manter em cada uma destas filiais um fundo fixo de caixa mais robusto. Para evitar guardar quantias vultuosas em caixa, uma solução possível é a chamada conta matriz-filial. A conta

Page 115: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

115

matriz-filial, também chamada de conta-mãe e filha ou conta de saldo zero (zero balance account), é uma conta corrente-bancária cujo saldo é sempre zero.

Exemplo

Imagine uma empresa que possua uma tesouraria centralizada na matriz e quatro filiais situadas em praças distantes umas das outras. Imagine ainda que a empresa trabalhe com apenas um banco - o Banco X -, o qual possui agências nas praças em que a empresa tem filial. A empresa abriria uma conta no Banco X em cada uma das praças de suas filiais e autorizaria o gerente da filial a fazer saques e depósitos nessas contas. Todas as vezes que for feito um depósito na conta da filial, o banco transfere-o automaticamente para a conta da matriz. Todas as vezes que for feito um saque, o banco transfere recursos da matriz para a filial para cobri-lo. O saldo das contas-correntes das filiais é sempre zero.

A conta matriz-filal nada mais é do que uma forma de terceirizar o gerenciamento de um sistema de caixa único para os bancos. Para evitar uso abusivo, a empresa pode determinar junto ao banco o valor máximo que pode ser pago pela conta matriz-filal (digamos, R$ 400 por pagamento) e o valor máximo que pode ser pago por dia e por semana. Caso algum dos limites seja excedido, o banco bloqueia a con-ta-corrente da filial. Além disso, a empresa deve exigir que somente sejam pagos pela conta matriz-filial fornecedores que estejam cadastrados em seu setor de suprimentos. Também é recomendável que as filiais informem diariamente o quanto foi pago e recebido para que a matriz tenha uma idéia do saldo inicial no dia seguinte.

Uma das empresas que visitamos era muito grande. Nela, tanto o pessoal da obra do projeto de ex-pansão da fábrica quanto o pessoal da área de manutenção reclamavam muito que a falta de agilidade do processo de compras imobilizava seu trabalho. O problema foi solucionado abrindo uma conta matriz-filial para cada um desses departamentos.

Page 116: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

116

5.3 - A APROVAÇÃO DE PAGAMENTO

A aprovação de pagamento de materiais

Em nossa pesquisa, observamos uma clara tendência nas empresas industriais e comerciais de des-locar a responsabilidade pela aprovação dos pagamentos de materiais para o almoxarifado de matérias primas (no caso de empresas industriais) ou de materiais de revenda (no caso de empresas comerciais). Vejamos se esta tendência faz sentido.

Observe o diagrama abaixo. Ele representa o fluxograma de uma compra de material em uma empresa industrial tradicional.

Fluxograma do processo de compra de materiais

Suprimentos Almoxarifado Livros Fiscais Contabilidade Contas a Pagar Caixa

Dep. Industrial

Contabilidade

Tesouraria

Após uma tomada de preços, o setor de Suprimentos coloca o pedido junto ao fornecedor. Uma cópia do pedido é encaminhada ao Almoxarife, que fica aguardando a entrega da mercadoria.

Ao receber a mercadoria, o Almoxarife confronta a mercadoria recebida com a Nota Fiscal e com o pedido. A Nota Fiscal é recebida em duas vias. Se a mercadoria e a Nota Fiscal estão de acordo com o pedido, o Almoxarife carimba as duas vias indicando sua aprovação. Uma das vias é enviada para o setor de Livros Fiscais da Contabilidade para classificação e lançamentos e a outra cópia é encaminhada para o Setor de Contas a Pagar da Tesouraria.

No setor de Contas a Pagar, a Nota Fiscal é registrada no sistema de contas a pagar e fica aguardando a fatura e o Aviso de Cobrança. Se se tratar de Nota Fiscal-Fatura, o setor de contas a pagar fica aguardando só o Aviso de Cobrança. Quando este chega, o setor de Contas a Pagar confere a documentação, aprova o pagamento e monta o “processo” que será encaminhado ao Caixa para liquidação.

O Caixa prepara o instrumento de liquidação, colhe as assinaturas (ou senhas) e liquida o compromisso. Terminado o processo, toda a documentação é encaminhada à Contabilidade para classificação e lançamentos relativos à liquidação do compromisso.

Repare como o processo é longo e demorado. Antigamente ele funcionava porque o número de itens que eram comprados e recebidos era relativamente pequeno. Agora, imagine quantos itens deve comprar uma grande rede de supermercados ou uma grande loja de departamentos ou mesmo uma grande indús-tria. Essas empresas, por serem intensivas de transações, têm que agilizar esse processo.

Analisando o fluxograma acima, os técnicos em administração devem ter se questionado: por que o próprio pessoal do Almoxarifado não aprova o pagamento? Afinal de contas, eles estão de posse de todas as informações que precisam para fazê-lo: o pedido, a mercadoria e a Nota Fiscal! E mais: por que o pes-soal do Almoxarifado não classifica contabilmente a Nota Fiscal recebida e dá entrada tanto no sistema da contabilidade quanto no sistema de controle das contas a pagar?

Page 117: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

117

Novo Fluxograma do processo de compra de materiais

Suprimentos Almoxarifado Livros Fiscais Contabilidade Contas a Pagar Caixa

Dep. Industrial

Contabilidade

Tesouraria

Repare no novo fluxograma como o caminho percorrido pelo documento diminuiu. O processo agora termina no Almoxarifado! Depois de o pessoal do Almoxarifado dar entrada nos sistemas contábil e de controle das contas a pagar, quem circula não é mais o documento (que é físico); é a informação (que é eletrônica). Lembra-se do que conversamos no módulo 1 quando falamos da necessidade de agilizar a circulação da informação?

Para que este sistema funcione bem é importante que todo os materiais comprados pela empresa, independentemente de sua natureza ou do meio de transporte utilizado em sua entrega (pode ser até no bolso de um funcionário), dêem entrada no Almoxarifado para classificação contábil e registro nos sis-temas de contabilidade e controle das contas a pagar. Este princípio pelo qual todo o material adquirido passa primeiro pelo Almoxarifado é chamado de “portaria única”. A portaria única evita que Notas Fiscais sejam extraviadas dentro da empresa.

A aprovação de pagamento de serviços

A aprovação de pagamento de contratos de serviços costuma ser mais complexa do que a aprovação de pagamentos de materiais. O motivo é que cada tipo de contrato de serviço está sujeito a uma legislação diferente. Os prestadores de serviço são regidos por uma legislação, as cooperativas, por outra, a locação de mão-de-obra, por uma terceira, e assim por diante.

Evidentemente não temos como abordar neste curso cada um dos tipos de contratos de serviço. Por isso, vamos nos limitar a tratar de dois pontos que nos parecem da maior relevância quando se trata da contratação de serviços: a questão do vínculo empregatício e a responsabilidade de quem contrata pelas obrigações trabalhistas e previdenciárias do contratado.

A CLT – Consolidação das leis do Trabalho – em seu artigo 3, diz que:

Art.3º - Considera-se empregado toda a pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual ao empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Parágrafo Único - Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de tra-balhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual.

Então, para que seja caracterizado o vínculo empregatício, é necessário que quatro condições sejam verificadas de forma concomitante, ou seja, ao mesmo tempo. São elas:

A “pessoalidade” – quem é contratado é a pessoa e não a empresa.

A “habitualidade” – ou seja, que o serviço prestado exija contatos freqüentes e programados entre a empresa contratante e a pessoa contratada. É isso que a lei quer dizer quando se refere a “serviços de natureza não eventual”.

A “subordinação”- isto é, que exista uma relação de trabalho hierarquizada onde o contratan-te manda e o contratado obedece. É esse o significado da expressão “sob a dependência deste” (empregador).

Page 118: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

118

A “onerosidade” – quer dizer, quando o serviço contratado for pago e não prestado de favor.

Imagine que um ex-funcionário de uma estatal, muito bem relacionado com a diretoria da empresa, seja contratado por um fornecedor para representá-la junto a este seu cliente. O fornecedor troca e-mails e telefonemas diariamente com seu representante orientando-o sobre como conduzir os negócios que está tratando. A cada negócio fechado, o representante recebe uma comissão. Depois de algum tempo, o fornecedor resolve rescindir este contrato.

Caso o representante consiga caracterizar o vínculo empregatício, pode reclamar todos os direitos tra-balhistas que teria um funcionário normal, ou seja, férias, 13º salário, indenização por dispensa sem justa causa etc. Mesmo que o contrato tenha sido firmado entre o fornecedor e uma empresa de representação que tenha sido criada pelo ex-funcionário para prestar este serviço. Basta que ele consiga provar que:

Quem tinha os contatos na estatal era ele, pessoa física.

Os contatos entre ele e o fornecedor eram freqüentes.

Ele recebia orientação de como devia proceder.

Era remunerado por este serviço.

Vejamos agora o problema da responsabilidade em relação às obrigações trabalhistas. O Enunciado no 331 do Tribunal Superior do Trabalho diz que:

I. A contratação de trabalhadores por empresas interpostas é ilegal, formando-se vínculo empre-gatício diretamente com o tomador de serviços, salvo no caso de trabalho temporário;

II. A contratação irregular de trabalhador através de empresa interposta não gera vínculo de em-prego com órgãos da Administração Pública Direta, Indireta ou Funcional;

III. Não forma vínculo de emprego com o tomador de serviços de vigilância, de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta;

IV. O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica na responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empre-sas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial.

Exemplos de obrigações trabalhistas seriam o pagamento do salário mínimo da categoria, o pagamen-to de eventuais adicionais (como o adicional de insalubridade, por exemplo), pagamento de horas-extras, observância da jornada de trabalho das categorias diferenciadas etc.

Além disto, a Lei nº 8212/91, em seu artigo 31º, define a responsabilidade solidária de quem contrata para com as obrigações previdenciárias do contratado em relação aos empregados alocados nos serviços que estão sendo prestados à contratante.

O que o exposto mostra é a importância de se certificar de que a empresa prestadora de serviços está cumprindo suas obrigações trabalhistas e previdenciárias para com os empregados a serviço da empre-sa contratante. É por este motivo que algumas empresas exigem que as empresas contratadas façam uma folha de pagamento em separado para os empregados alocados em seu contrato e que paguem as obrigações trabalhistas e os encargos previdenciários destes empregados em folhas de pagamento e em guias de recolhimento em separado. Nestes casos, o pagamento da contratada fica condicionado à apre-sentação, juntamente com a Nota Fiscal de serviço, de uma cópia da folha de pagamento e das guias de recolhimento do INSS e do FGTS.

Page 119: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

119

Já houve casos de empresas que contrataram uma obra com uma empreiteira e, depois da obra pronta, a fiscalização exigir da empresa contratante a apresentação dos comprovantes do pagamento, pela em-preiteira contratada, das contribuições previdenciárias. Como a empresa contratante não possuía os com-provantes solicitados e não conseguia obtê-los da empreiteira, o INSS estipulou o valor devido e cobrou da contratante. Lembre-se de que, quando a responsabilidade é solidária, o contratante e o contratado se confundem, ou seja, são tratados como se fossem uma mesma pessoa.

Dá para ver também a importância de se ter uma boa assessoria jurídica na hora de redigir um contrato de serviços, seus aditivos e, também, em caso de dúvidas, na hora de liquidar o pagamento dos serviços prestados.

No caso dos contratos de serviços, quem atesta a legitimidade do serviço que está sendo cobrado é o departamento que o contratou. Nestes casos, o setor de contas a pagar apenas confere os dados e os cálculos contidos na Nota Fiscal de serviços.

Vimos no módulo 2 que os juros por atraso de pagamento são um dos raros casos em que os juros são calculados no regime de juros simples (os outros dois casos são o desconto de títulos e duplicatas e as operações em moeda estrangeira).

A legislação brasileira diz que “quando os juros moratórios não estiverem convencionados (ou seja, não forem fixados no contrato ou no pedido) ou o forem sem taxa estipulada, eles serão fixados pela taxa que estiver em vigor para a mora de pagamentos de impostos devidos à Fazenda Nacional”. Como a taxa de juros de mora no caso de impostos federais é a taxa Selic fixada pelo Copom, muitos juristas interpretam que este é o limite máximo de juros moratórios que podem ser cobrados. No entanto, é bom que se diga, não existe consenso a esse respeito, havendo alguns juízes que têm dado pareceres contrários a esse entendimento.

A prevalecer este ponto de vista, um contrato ou pedido pode fixar juros de mora inferiores à taxa Selic. Jamais acima desta taxa. No caso de o contrato não estipular qual a taxa dos juros de mora, aplica-se a taxa Selic.

Page 120: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

120

5.4 - OS JUROS E AS MULTAS DE MORA

A chamada Lei da Usura estabelece que ninguém pode cobrar multa de mora superior a 10% do valor devido. No entanto, o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu que esta multa não pode exceder a 2% do valor devido, desde que haja relação de consumo entre as partes. O que caracteriza esta “relação de consumo” é o fato de o comprador ser o usuário final (isto é, não tenha comprado para revender) do bem ou serviço adquirido.

Se uma empresa tiver comprado um computador para revender, ela poderá estar sujeita a uma multa de mora de 10% do valor devido em caso de atraso de pagamento (desde que esta multa esteja prevista em contrato). Caso este mesmo computador seja adquirido para uso próprio, a multa de mora não poderá exceder a 2%.

Page 121: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

121

5.5 - A LIQUIDAÇÃO DE COMPROMISSOS

Houve um tempo em que praticamente todos os pagamentos eram efetuados por meio de cheques. Atualmente o cheque está sendo cada vez menos utilizado.

O principal motivo que está levando esta forma de pagamento ser cada vez menos usada é que ela é cara para o cliente e para o banco. Além do custo do talão propriamente dito, tem-se ainda o custo admi-nistrativo da leitura ótica do código de barras, a leitura visual das informações preenchidas pelo correntista e a conferência de assinaturas. Por este motivo, as instituições financeiras vêm estimulando seus clientes a utilizarem cada vez mais os instrumentos de liquidação eletrônicos.

Atualmente, praticamente todos os tipos de compromissos podem ser liquidados eletronicamente. Hoje em dia, graças à informatização, os bancos disponibilizam uma gama de novos instrumentos de liquida-ção. Compete à empresa definir qual o instrumento mais adequado para cada situação em particular. Ao comparar os diversos instrumentos de liquidação, é importante avaliar o seu custo para ver se o que pa-recia atraente na teoria é viável na prática! Neste sentido, é interessante visitar o portal do Banco Central (www.bcb.gov.br). Este portal contém as tarifas cobradas por cada instituição financeira para cada tipo de serviço.

DOC – trata-se da transferência de recursos entre duas contas-correntes de bancos diferentes situados na mesma praça ou em praças diferentes. Essas transferências podem ser feitas eletro-nicamente para qualquer praça do país. O DOC é usado quando se tratam de cobranças feitas em carteira, ou seja, o credor não colocou o título em cobrança bancária.

TED – é um instrumento semelhante ao DOC e é utilizado para pagamentos cujos valores exce-dam a um determinado valor. Hoje em dia este valor é de R$ 5.000. Neste caso, a transferência pode ser feita praticamente em tempo real.

Crédito em Conta – são transferências de recursos entre contas-correntes de uma mesma instituição financeira. A grande vantagem deste instrumento de liquidação é o fato de ser um serviço prestado sem custo para os clientes do banco. Tal como o DOC, é usado para liquidar cobranças em carteira.

Débito Automático – é uma autorização que o cliente dá ao banco para debitar automatica-mente em sua conta-corrente um determinado pagamento. Sem que nos tenhamos dado conta, o débito automático representou uma revolução em termos de liquidação de compromissos. Isso porque pela primeira vez se trabalhou com o conceito de que o local de cobrança de uma pessoa física ou jurídica pode ser o seu banco e não o seu domicílio. Assim, quando um cliente autoriza seu banco a debitar, digamos, a conta do telefone em sua conta-corrente, o que acontece na prática é que ele (cliente) está informando à companhia telefônica que seu endereço de cobrança agora é o seu banco e não mais a sua residência. Este conceito foi usado mais tarde para tercei-rizar os serviços de tesouraria junto aos bancos.

Aviso de Cobrança – por este sistema, o usuário informa ao banco os dados do Aviso de Cobrança (cedente, portador, número, valor, vencimento etc.) para que a liquidação seja proces-sada eletronicamente. É usado para liquidar cobranças bancárias.

Ordem de Pagamento à Disposição – por este sistema o credor informa ao devedor em que banco (deve ser um banco com o qual o devedor trabalhe) e em que agência quer retirar o dinheiro. No dia estipulado, o credor se apresenta ao caixa da agência bancária especificada. O pagamento é efetuado em dinheiro mediante a identificação do beneficiário. A grande vantagem desse instrumento é o fato de eliminar os pagamentos em dinheiro feitos na tesouraria da em-presa devedora. Quando o credor é uma empresa, para poder receber, a pessoa que vai sacar o dinheiro deve apresentar ao banco, além da identificação, cópia do instrumento que lhe dá poderes para receber em nome da empresa.

Cheque Administrativo – é um cheque do banco contra o seu próprio caixa. É utilizado, a critério da instituição financeira, toda vez que uma Ordem de Pagamento à Disposição exceder um determinado valor. Por ser considerado “dinheiro vivo”, é também utilizado no pagamento de

Page 122: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

122

impostos e/ou indenizações trabalhistas realizadas em praças diferentes da praça em que está situada a tesouraria da empresa. Nesses casos a empresa envia eletronicamente um cheque administrativo para seu representante na filial para que ele providencie a liquidação do compro-misso.

Cartão - é usado para diversas finalidades, como para que empregados que não possuam conta-corrente possam sacar seus salários em caixas eletrônicos, para saques autorizados de funcionários (tais como adiantamento de despesas de viagem, por exemplo) e para pagamentos de pequenos fornecedores cadastrados e que, por qualquer motivo, não possam ou não queiram receber em contas-correntes.

Nas empresas industriais, a cobrança tende a ser mais complexa do que a liquidação de compromissos. Nelas, normalmente o número de clientes é maior do que o número de fornecedores. No entanto, quando se tratam de empresas comerciais, especialmente se estas empresas forem intensivas de transações, a situação se inverte. O grande problema passa a ser a liquidação de compromissos, os quais, muitas vezes, chegam a ser milhares por dia.

Pelo processo tradicional, a Nota Fiscal é entregue nas lojas juntamente com a mercadoria e o Aviso de Cobrança segue para a tesouraria. O pessoal do setor de Contas a Pagar faz o casamento da docu-mentação e envia para o Caixa liquidar. O Caixa prepara os cheques e paga. O gráfico abaixo ilustra essa situação.

Liquidação de Compromissos

Caso a empresa deseje terceirizar para seu banco a liquidação de seus compromissos, isso pode ser feito de duas maneiras.

No primeiro caso, diariamente a Tesouraria prepara um arquivo contendo as contas a pagar e o envia eletronicamente para o banco. O banco liquida estes compromissos e devolve um arquivo (chamado “ar-quivo de retorno”) com os comprovantes de pagamento. Este arquivo de retorno tem validade legal e fiscal. Veja bem que, neste processo, o endereço de cobrança da empresa continua sendo o seu escritório.

No segundo caso, o endereço de cobrança da empresa passa a ser o seu banco. Neste caso, os forne-cedores enviam eletronicamente para o banco pagador os avisos de cobrança com uma cópia de simples verificação para a empresa (exatamente como acontece quando você autoriza ao seu banco a debitar o valor da conta de luz em sua conta-corrente). Na data do vencimento dessas contas, caso a empresa não tenha se manifestado contra e desde que haja saldo em sua conta-corrente, o banco debita as contas que estão vencendo naquele dia em sua conta-corrente.

Na prática, o problema é um pouco mais complicado porque muitos fornecedores não trabalham com o banco do comprador e, por isso, não têm como se comunicar eletronicamente com ele. Os avisos de cobrança desses fornecedores são enviados fisicamente para um bureau de digitaçãoG, que dá entrada destes dados no sistema eletrônico do banco do comprador.

O sistema descrito acima tem um custo elevado, já que o banco tem que contratar um bureau de digi-tação. Por esta razão, este sistema não está disponível para qualquer cliente.

Page 123: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

123

Terceirização da Tesouraria

Um outro sistema de liquidação muito interessante é o chamado pagamento por Nota Fiscal. A principal característica é que ele elimina a necessidade do Aviso de Cobrança. Não existindo o Aviso de Cobrança, não há o chamado “casamento da documentação”, que é o que dá mais trabalho e o que mais atrasa o serviço. “Casar a documentação” significa montar um processo de pagamento onde constem o pedido, a Nota Fiscal, a fatura e o Aviso de Cobrança.

O pagamento por Nota Fiscal funciona mais ou menos assim:

Ao cadastrar um fornecedor, a empresa cadastra também o banco, a agência e a conta-corrente deste fornecedor.

Os contratos de fornecimento estipulam que o fornecedor não poderá descontar as duplicatas sacadas contra o comprador. Caso o fornecedor tenha necessidade de dinheiro, a empresa vendedora pode fazer uma antecipação do pagamento mediante um desconto.

Ao receber uma mercadoria, a empresa compradora confronta a mercadoria entregue com a Nota Fiscal-Fatura e com o pedido. Caso a mercadoria seja aprovada, a empresa compradora faz, eletronica-mente, um DOC para o fornecedor, programado para o dia do vencimento da fatura. Já vimos que o Aviso de Cobrança serve para informar em que banco está o título. Como a cobrança está em carteira, não há a necessidade do Aviso de Cobrança.

A empresa compradora mantém um portal onde o fornecedor pode, por meio de uma senha, acessar a situação de todas a faturas emitidas contra seu cliente. Este portal informa, além do número e da data de vencimento do título, a data em que foi liquidado ou a data para a qual está programado o pagamento.

Pagamento por Nota Fiscal

Page 124: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

124

5.6 - PRÁTICAS DE CONTAS A PAGAR

Portaria única – no caso de compras de materiais de qualquer natureza (matérias primas, insumos, material de escritório, material de limpeza, imobilizado etc.), a Nota Fiscal entra sem-pre pelo Almoxarifado. Os objetivos desta chamada portaria única (muito embora esta “portaria” possa ser o almoxarifado) são minimizar o problema de extravio de documentação e concentrar a manipulação da documentação em uma mesma área e sob a responsabilidade de pessoal treinado para este fim.

Contas a Pagar dentro do Almoxarifado – o raciocínio aqui é o de criar um departamento multidisciplinar reunindo pessoas envolvidas no processo de recebimento da mercadoria e apro-vação de seu pagamento.

Descentralização de pagamentos de pequeno valor – compras de pequeno valor que, por sua pouca importância, não justifiquem uma burocracia maior, são aprovadas e pagas nos pró-prios departamentos gestores e a documentação é posteriormente enviada para a contabilidade. Nestes casos a empresa deverá definir o valor máximo por operação, o valor máximo a ser pago por dia e o máximo a ser pago por este sistema, por mês. É conveniente que se estabeleça também que somente poderão ser pagos por este sistema fornecedores cadastrados no setor de suprimentos da empresa. Os pagamentos poderão ser feitos por cheque, utilizando a conta matriz-filial, e movimentada por pessoa (ou pessoas) com procuração para isso.

Concentração de pagamentos em datas certas – os pagamentos são sempre efetuados em um determinado dia da semana como forma de evitar pressões para que o setor de Contas a Pagar apresse a aprovação dos pagamentos devidos a um determinado fornecedor. Nestes casos, se a empresa decidir que o dia mais conveniente para efetuar pagamentos é, digamos, a quarta-feira, os pagamentos serão sempre efetuados em 10 dias, fora a semana, ou 17 dias fora a semana ou 24 dias fora a semana.

Materiais pré-aprovados – os materiais fornecidos por determinados fornecedores tradicio-nais (e que, por isso mesmo, podem ser considerados parceiros) são considerados como sendo pré-aprovados e descarregados imediatamente para posterior verificação. A idéia aqui é não reter o caminhão da transportadora. Esta solução é especialmente interessante em empresas que recebem mercadorias durante a noite, porque evita que eventuais dúvidas somente sejam esclarecidas no horário comercial do dia seguinte. As diferenças por acaso observadas são com-pensadas posteriormente.

Gerência de contratos - a crescente disseminação da terceirização das atividades-meio das empresas fez crescer muito o número de contratos a serem controlados dentro das organizações. Quando isso ocorre, o dilema “centralização vs. descentralização” agrava-se. Uma solução que tem sido cada vez mais utilizada é a da separação das atividades de gerenciamento e de fisca-lização dos contratos. Nestes casos o gerenciamento dos contratos é centralizado. No entanto, sua fiscalização é descentralizada. Já na fase preliminar, o setor responsável pelo gerenciamento dos contratos participa da negociação e redação do contrato garantindo sua perfeição técnica e jurídica. Ao longo da vida do contrato, o setor de gerenciamento de contratos zela por sua integri-dade. Já a fiscalização do contrato, ou seja, aquela pessoa, ou pessoas, que atesta a execução do serviço dentro das condições acordadas, está situada no departamento gestor. O fiscal diz apenas se o serviço foi executado (ou não) a contento. Todos os demais aspectos do contrato, como reajustamentos, cumprimento de obrigações legais pelo prestador do serviço, negociações, aditamentos, rescisões, etc., são conduzidos pelo órgão gestor de contratos. Este órgão central é também normativo, criando procedimentos que serão observados pelos encarregados pela fiscalização dos contratos. Do ponto de vista operacional, as Notas de Serviço sempre entram na empresa pelo setor de Gerência de Contratos e este trata de obter a aprovação dos fiscais situados nos departamentos gestores. Com isso procura-se evitar o extravio de documentação e erro na aprovação de pagamentos.

Pedido com o nome do destinatário – um outro procedimento que pode ser muito útil para evitar o extravio de documentação é fazer constar no pedido o nome da pessoa e o departamento para o qual devem ser encaminhadas as cobranças.

Page 125: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

125

5.7 - IRREGULARIDADES

Não se deve subestimar o risco representado por irregularidades, de diversas naturezas, no cotidiano das empresas. Levantamento recente feito pelo FBI – Federal Bureau of Investigation concluiu que nos Estados Unidos as fraudes em grandes corporações são responsáveis por desfalques na ordem de US$ 400 bilhões por ano.

No Brasil a estimativa é de que as fraudes dêem um prejuízo de aproximadamente US$ 18 bilhões por ano às 500 maiores empresas do país. Este montante representa 6% do faturamento destas empresas!

Veja algumas das irregularidades mais usuais pertinentes ao setor de Contas a Pagar:

1. Pagamento em duplicidade pela reapresentação de um documento. Incluem-se neste caso pagamentos feitos pelo Fundo Fixo de Caixa cujos documentos são posteriormente reapresen-tados à tesouraria para liquidação. A solução é carimbar os documentos liquidados informando a data da liquidação.

2. Adiantamentos feitos a fornecedores e não deduzidos de cobranças posteriores. É o caso de sinais que não são descontados das faturas posteriores. Quando se tratam de fornece-dores com os quais a empresa negocie pouco, este problema é relativamente fácil de resolver. O problema é especialmente grave quando a empresa possui muitas transações com um determi-nado fornecedor. Um exemplo são os despachantes aduaneiros. Os despachantes aduaneiros são profissionais responsáveis pela liberação nos portos de mercadorias importadas. Para fazer face às despesas de pagamentos de impostos, taxas de armazenagem, capatazia etc. estes profissionais pedem um sinal no valor aproximado das despesas que calculam que irão ocorrer e, posteriormente, prestam contas do dinheiro recebido. Se a quantia recebida foi superior às despesas havidas, devolvem a diferença. Caso contrário, cobram a diferença havida. Quando a empresa possui muitas importações, pode perder o controle dos adiantamentos feitos. A solução nestes casos é manter um controle de pagamentos por pedido.

3. Pagamentos feitos antecipadamente (ou seja, antes do prazo de vencimento da fatura), sem descontos. Uma antecipação de pagamento sem a contrapartida de um desconto financei-ro pode caracterizar um ato de liberalidade. O relatório de “Compromissos pagos”, que veremos na próxima seção, pode denunciar a ocorrência desta irregularidade.

4. Pagamentos de faturas referentes de Notas Fiscais estornadas. É o caso de mercadorias que tenham sido devolvidas e que, apesar disso, são cobradas e pagas. É por isso que o setor de Contas a Pagar envia um processo de pagamento para a Tesouraria efetuar a liquidação. Cons-tam deste processo: o pedido, a Nota Fiscal, a fatura e o Aviso de Cobrança.

5. Pagamentos integrais de Notas Fiscais sujeitas a descontos (caso de fornecimento de peças defeituosas, por exemplo). Novamente, a solução para evitar que esta irregularidade ocorra é o controle dos pedidos. Em empresas pequenas, este controle é feito manualmente no verso do pedido. Em empresas de médio e grande portes, este controle é informatizado.

6. Pagamento de faturas de valor diferente da soma das Notas Fiscais que as compõem. É mais um caso que pode ser evitado pelo controle de pedidos.

7. Pagamento integral de fatura referente a material que ainda não chegou ou cuja entrega foi parcial. Existem casos de empresas que são consultadas sobre o preço de determinada mer-cadoria que comercializam e, baseadas apenas nesta consulta, faturam a mercadoria como se o pedido tivesse sido feito e entregue! Existem ainda casos de empresas que fazem cobranças fantasmas em nome de associações que não existem. Novamente, um caso que pode ser evitado pelo controle de pedidos.

8. Pagamento de fatura sem o desconto de eventuais multas contratuais cadastradas. Nes-te caso, a empresa contratada infringiu uma ou mais cláusulas do contrato, foi multada, mas na hora de faturar não considerou a multa e cobrou o valor total sem desconto. Aqui também um controle de pedidos poderia evitar que isso ocorresse.

Page 126: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

126

9. Pagamento de Nota Fiscal de Serviço sem a dedução dos impostos retidos na fonte. A legislação manda que, em caso de prestações de serviço, alguns impostos, como Imposto de Renda, Contribuição Social sobre o Lucro, PIS e Cofins, sejam destacados no corpo da Nota Fiscal e retidos pelo comprador para posterior repasse ao órgão arrecadador. O fato de não descontar estes impostos do vendedor não exime o comprador de seu recolhimento. Assim, caso estes impostos não estejam destacados no corpo da Nota Fiscal de Serviços e, por isso, não sejam descontados pelo comprador, este arcará com o ônus de seu pagamento sem ter sido reembolsado pelo vendedor.

10. Pagamento de encargos financeiros indevidos referentes a financiamentos. Alguns tipos de financiamento são difíceis de calcular. Entre eles, estão alguns contratos de arrendamento mercantil. Daí muitas empresas efetuarem estes pagamentos sem verificar se foram calculados corretamente.

Page 127: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

127

5.8 - OS RELATÓRIOS DE CONTROLE DE PAGAMENTOS

Os principais relatórios com os quais o setor de Contas a Pagar trabalha são:

Compromissos em aberto - Esse relatório lista todos os fornecedores ordenados por ordem alfabética e todos os títulos ordenados por data de vencimento. Trata-se de um relatório im-portantíssimo para que o tesoureiro possa fazer sua programação de pagamentos. Os valores vencidos e a vencer são dispostos em colunas distintas para facilitar sua visualização. Todos os valores representando previsões são seguidos de um asterisco. Apresenta um subtotal por sub-conta e por conta e no final apresenta um Total Geral.

Agenda de pagamentos do dia - Esse relatório lista todos os pagamentos que vencem em um determinado dia. Com ele o tesoureiro trabalha para a emissão dos instrumentos de liquidação quando os pagamentos estão em dia. Quando os pagamentos estão atrasados, o tesoureiro quase sempre programa primeiro os compromissos vencidos. Neste caso ele trabalhará também com os relatórios Compromissos em Aberto e Posição de Atrasados. Se os dados estiverem atu-alizados, no dia do pagamento todos os títulos a pagar deverão estar no status “compromisso”. Se algum valor a pagar for impresso seguido de um asterisco, significando que ainda está no status “previsão”, isso quer dizer que os dados do programa precisam ser atualizados. Somente são relacionados os títulos que estiverem em aberto. Caso algum título tenha sido pago antes de seu vencimento ele, obviamente, não será listado.

Compromissos pagos - Todos os títulos pagos em um determinado período (a ser definido pelo usuário) são listados nesse relatório, que informará ainda quanto foi pago de juros ou qual o desconto obtido na sua liquidação. Os fornecedores são listados por ordem alfabética. As liquida-ções parciais são representadas na coluna “Total Pago” seguidas de um asterisco.

Posição de atrasados – Esse relatório é extremamente importante para fazer uma programa-ção de pagamentos nas empresas que, por dificuldades financeiras, sejam obrigadas a atrasar pagamentos. Nesse relatório, ao lado de cada total haverá um percentual indicando o quanto aquele atraso representa do Total Geral. Apresenta um subtotal por conta e subcontas e no final apresenta um Total Geral.

Page 128: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

128

RESUMO

1. A função do setor de contas a pagar é atestar a legitimidade de um pagamento, garantindo que se tratam de produtos ou serviços efetivamente fornecidos dentro das condições acordadas com a empresa. Além disso, prepara os processos de pagamento antes de encaminhá-los para liquidação.

2. Os documentos que compõem o processo comercial são: pedido, Nota Fiscal, fatura, duplicata e Aviso de Cobrança.

3. Um contrato representa a lei entre as partes. Significa que duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas) podem acordar o que quiserem desde que não seja proibido por lei. O pedido aceito pelo vendedor corresponde a um contrato de compra e venda no qual o comprador e o vendedor acordam o produto ou serviço a serem negociados, o preço e as condições nas quais a operação se dará. Trata-se, portanto, de um contrato simplificado. É aconselhável que o pedido seja con-firmado por escrito para que, em caso de desacordo entre as partes, o caso possa ser resolvido na justiça.

4. A Nota Fiscal é um documento que registra o fato gerador de vários tributos, entre eles o IPI, o ICMS, o ISS, o PIS e o Cofins. Uma venda sem Nota Fiscal caracteriza sonegação.

5. Ao receber uma Nota Fiscal, todos os seus campos devem ser conferidos para evitar proble-mas posteriores. Quaisquer irregularidades devem ser comunicadas ao fornecedor por meio de um documento chamado Carta de Comunicação de Incorreções, que pode ser comprada nas pa-pelarias sob a forma de um formulário impresso. Algumas irregularidades exigem procedimentos especiais para corrigi-las, devendo-se consultar um contador ou advogado.

6. A Nota Fiscal não é um documento de cobrança. Só se cobra por Nota Fiscal se o prazo de pagamento for inferior a 30 dias. Quando for igual ou superior a 30 dias, é obrigatória a extração pelo vendedor da respectiva fatura para apresentação ao comprador. A fatura é um documento cujo objetivo é caracterizar o cumprimento de uma obrigação contratual e a conseqüente cons-tituição de um direito do vendedor de receber uma remuneração do comprador. Está cada vez mais difundida a chamada Nota Fiscal-Fatura, um documento que engloba a Nota Fiscal e a fatura.

7. A duplicata é um título genuinamente brasileiro. Ela duplica os dados da fatura. Sua emissão não é obrigatória. A lei diz que o comerciante poderá extraí-la. Sua função é informar ao banco cobrador as características da fatura a cobrar. A duplicata é título causal, de apresentação, cam-biariforme e de apresentação.

8. O Aviso de Cobrança é o documento utilizado pela instituição financeira para processar uma determinada cobrança e creditar o produto desta cobrança na conta-corrente da pessoa física ou jurídica, detentora dos direitos creditícios relativos ao título que originou este aviso. Poderá ser emitido pela instituição financeira cobradora ou pela própria empresa vendedora, dependendo do tipo de cobrança.

9. Fundo fixo de caixa ou caixa pequeno é o dinheiro em espécie mantido nas empresas para fazer face a pequenas despesas. A diferença entre as despesas pagas pelo fundo fixo de caixa e as pagas pela tesouraria é que aqueles pagamentos não estão sujeitos a aprovação por parte do setor de Contas a Pagar. A empresa poderá ter mais de um fundo fixo de caixa. Por se tratar de dinheiro em espécie, devemos tomar algumas precauções na administração do fundo fixo de caixa.

10. Quando a empresa possui a tesouraria centralizada na matriz e filiais em várias praças, pode acontecer de ela ter necessidade de manter em cada uma dessas filiais um fundo fixo de caixa mais robusto. Para evitar guardar quantias vultuosas em caixa, uma solução possível é a chama-da conta matriz-filial.

11. Há uma clara tendência nas empresas industriais e comerciais de deslocar a responsabili-

Page 129: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 5´

129

dade pela aprovação dos pagamentos de materiais para o almoxarifado de matérias primas (no caso de empresas industriais) ou de materiais de revenda (no caso de empresas comerciais). Isso agiliza a circulação da informação.

12. A aprovação de pagamento de contratos de serviços costuma ser mais complexa do que a aprovação de pagamentos de materiais. O motivo é que cada tipo de contrato de serviço está sujeito a uma legislação diferente. Os dois pontos de maior relevância quando se trata da contra-tação de serviços são a questão do vínculo empregatício e a responsabilidade de quem contrata pelas obrigações trabalhistas e previdenciárias do contratado.

13. Os juros por atraso de pagamento são um dos raros casos em que os juros são calculados no regime de juros simples. A legislação brasileira diz que quando os juros moratórios não forem fixados no contrato ou no pedido ou o forem sem taxa estipulada, eles serão fixados pela taxa que estiver em vigor para a mora de pagamentos de impostos devidos à Fazenda Nacional, que é a taxa Selic. Muitos juristas interpretam que este é o limite máximo de juros moratórios que podem ser cobrados.

14. A multa de mora difere do juro de mora pelo fato de ser uma penalidade paga de uma só vez, independentemente do atraso. A chamada Lei da Usura estabelece que ninguém pode cobrar multa de mora superior a 10% do valor devido. No entanto, o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu que esta multa não pode exceder a 2% do valor devido, desde que haja relação de consumo entre as partes.

15. O cheque está sendo cada vez menos utilizado por seu alto custo. Atualmente praticamente todos os tipos de compromissos podem ser liquidados eletronicamente. Os principais instrumen-tos de liquidação eletrônicos são: DOC, TED, Crédito em Conta, Débito Automático, Aviso de Cobrança, Ordem de Pagamento à Disposição, Cheque Administrativo e Cartão.

16. Foram apresentadas três formas para agilizar a liquidação de compromissos: num deles o pa-gamento e feito pelo banco, mas o endereço de cobrança continua sem o escritório da empresa, no outro o endereço do banco passa a ser o banco, mas os pagamentos de fornecedores que não são clientes desse banco precisão ser enviados a um bureau de digitação e no último é o pagamento pela Nota Fiscal, que elimina a necessidade do Aviso de Cobrança.

17. Existem alguns procedimentos adotados por empresas de médio e grande portes que conci-liam os objetivos de agilizar a circulação da informação sem abrir mão da segurança do proces-so.

18. No Brasil a estimativa é de que as fraudes dêem um prejuízo de aproximadamente US$ 18 bilhões por ano às 500 maiores empresas do país. Por isso não se deve subestimar a capacidade de gerar prejuízo das irregularidades.

19. Os principais relatórios com os quais o setor de Contas a Pagar trabalha são: compromissos em aberto, agenda de pagamentos do dia, compromissos pagos e posição de atrasados.

Page 130: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

130

MÓDULO 6CRÉDITO E COBRANÇA

Neste módulo você vai conhecer o setor de Crédito e Cobrança. Vai ver dois métodos utiliza-dos para determinar o crédito de clientes, além de como pode e deve ser feita a cobrança.

Quem irá nos acompanhar no decorrer das explicações é Sandro Araújo, um consultor em análise de crédito que, com sua vasta experiência, terá muito o que nos dizer.

6.1 – O crédito e cobrança

6.2 – Limite de crédito - método Caso a Caso

6.3 – Limite de crédito - método Contábil

6.4 – A cobrança

Page 131: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

131

MÓDULO 6CRÉDITO E COBRANÇA

6.1 – O CRÉDITO E COBRANÇA

O setor de Crédito e Cobrança tem como principal função administrar os “recebíveis” da empresa. Algu-mas organizações ainda confundem as funções desse setor com as de uma mera cobrança. Não se dão conta de que suas funções se inserem em um contexto muito mais amplo.

Para que se tenha uma idéia da importância do setor de Crédito e Cobrança, basta lembrar que na maioria das empresas industriais os recebíveis costumam ser o terceiro maior ativo da companhia, atrás apenas do imobilizado e dos estoques. Em empresas de serviços que não trabalhem com estoques e não sejam obrigadas a fazer pesadas imobilizações, os recebíveis costumam ser o principal ativo da compa-nhia.

No entanto, apesar de sua importância, é no mínimo curioso comparar os investimentos que algumas empresas fazem na manutenção de seu imobilizado com o segundo plano a que é relegada a gestão dos recebíveis. Enquanto, no primeiro caso, grandes somas são investidas em oficinas de manutenção, téc-nicos e mão-de-obra especializada, quando se trata de equipar o setor de Crédito e Cobrança o que se observa são pessoas pouco qualificadas utilizando processos jurássicos.

Aparentemente, os administradores dessas empresas não se dão conta do risco que correm. Quando se toma conhecimento dos artifícios que são usados por pessoas inescrupulosas para desviar duplicatas e o produto de sua cobrança, mesmo em companhias bem administradas e bem informatizadas, fica-se imaginando o grau de vulnerabilidade das empresas que utilizam processos arcaicos.

Da mesma forma como o setor de Suprimentos é o responsável pela boa qualidade dos estoques da empresa, o setor de Crédito e Cobrança é o responsável pela boa qualidade de seus recebíveis. O pro-cesso que garante isso, impedindo que recebíveis de má qualidade sejam integradas ao seu Ativo, é um correto sistema de estabelecimento de limites de crédito.

O limite de crédito dado a um cliente representa o risco máximo que a empresa está disposta a correr com este cliente. O problema que se coloca é que, se por um lado, caso a empresa seja muito liberal no estabelecimento deste limite, sua exposição aos insucessos do cliente aumentam, por outro lado, se for muito restritiva, pode estar limitando desnecessariamente suas vendas e, por conseguinte, seus lucros.

O bom cliente merece ter um limite de crédito que não apenas não o impeça de trabalhar, como tam-bém não crie obstáculos ao crescimento de suas relações comerciais com o fornecedor.

Neste módulo vamos estudar dois métodos muito utilizados na determinação de limites de crédito: o método Caso a Caso e o método Contábil.

Page 132: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

132

6.2 – LIMITE DE CRÉDITO - MÉTODO CASO A CASO

O método Caso a Caso baseia-se quase sempre em informações cadastrais e na vivência do encarre-gado pela concessão do crédito na empresa.

Por mais anacrônico que possa parecer o método Caso a Caso, não se deve menosprezar a bagagem dos profissionais com vivência na área de crédito. Muitas vezes, tratam-se de pessoas com uma vivência profissional e um discernimento que não há sistema informatizado que substitua.

Exemplo

Além disso, em alguns casos não existem alternativas ao método Caso a Caso. Veja o exemplo do Sandro Araujo. Os serviços que presto são altamente especializados. As vendas são muito concentradas, ou seja, emito poucas faturas de elevado valor unitário. Para muitos de meus clientes, vendo meus serviços apenas uma vez na vida. O método Caso a Caso é, então, a única alternativa.

O grande problema do método Caso a Caso é que, dependendo do número de pedidos a aprovar, a análise em separado de cada situação em particular pode ser uma “chave inglesa” que estare-mos jogando nas engrenagens das vendas da empresa.

No método Caso a Caso, o profissional de crédito levanta a ficha cadastral do cliente ou lança mão das empresas de informações cadastrais para embasar suas decisões. A empresa pode apenas decidir se aprova ou não o pedido, como também pode determinar um limite de crédito para o cliente que está sendo analisado.

Nas próximas páginas veremos como a definição do limite de crédito é feita pelo método Caso a Caso.

Os Cs do Crédito

É baseado nos conceitos definidos pelos Cs do crédito que são preparadas as fichas cadastrais dos clientes.

Caráter

Informa as características da empresa e das pessoas que estão à frente do negócio. Deverão ser ana-lisados aspectos como:

Tradição – A empresa é nova ou tradicional no ramo? Lembre-se de que 80% das empresas que são criadas não sobrevivem aos primeiros cinco anos de vida!

Estrutura – Não que exista algum tipo de preconceito contra empresas familiares. Há empre-sas familiares em nosso país que operam com sucesso há várias gerações. Além disso, são elas que dão origem aos grandes grupos empresariais. No entanto, existem estatísticas que mostram que:

80% das empresas familiares desaparecem nos cinco anos que sucedem a saída de seu fundador.

Dos 20% que sobrevivem ao seu fundador, apenas 3% (ou seja, aproximadamente 1/7 das sobreviventes) crescem. As outras 17% são vendidas, estatizadas, estagnam ou diminuem de tamanho.

Page 133: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

133

Isso mostra como pode ser delicado o processo sucessório em uma empresa familiar. Os pro-blemas vão desde a falta de talento dos herdeiros às disputas internas de poder que acabam afetando a estabilidade da empresa.

Gestão – Qual o tipo de administração da empresa? É uma meritocracia ou uma “ação entre amigos”? As pessoas que estão à frente do negócio possuem uma história de sucesso? Possuem uma tradição de seriedade ou sua reputação é duvidosa ou desconhecida? A empresa tem condi-ções de sobreviver na ausência de seu principal executivo? Os executivos da empresa possuem um padrão de vida compatível com a saúde econômica de seu negócio?

Capacidade

Serão abordadas a capacidade técnica e financeira da empresa. Deverão ser analisados aspectos como:

Desempenho – Como estão as vendas da empresa em relação a seus concorrentes e em re-lação aos períodos anteriores? Quando se visita a empresa tem-se a impressão de trabalho ou, ao contrário, a impressão que prevalece é a de ociosidade?

Tecnologia - Como o mercado avalia a capacidade técnica da empresa? Será que ela está na ponta da tecnologia ou está utilizando tecnologia superada?

Concorrência – Como se posiciona a empresa em face dos concorrentes? Existe algum con-corrente que esteja ameaçando seriamente a estabilidade da empresa?

Administração – A empresa possui bons sistemas de informações gerenciais? Possui res-postas prontas, claras e convincentes para as indagações que são feitas sobre a gestão do seu negócio?

Pontualidade – A empresa tem pagado pontualmente seus compromissos? Apresentou cer-tidões negativas de INSS e FGTS? A empresa possui ações judiciais contra ela? Possui títulos apontados ou protestados? As empresas de informações cadastrais informam a existência de problemas conjunturais ou estruturais pelos quais a empresa esteja passando?

Capital

Serão abordados dados referentes à saúde financeira da empresa. Deverão ser analisados aspectos como:

Rentabilidade – A empresa tem dado lucro? Os capitais de terceiros têm financiado os des-compassos entre as entradas e as saídas ou estão simplesmente financiando prejuízos?

Fluxo de Caixa – O negócio da empresa é gerador de caixa suficiente para financiar suas operações ou a empresa está sendo financiada com recursos não operacionais? Caso a empre-sa não esteja gerando caixa, sua estrutura de capital está consolidada para suportar períodos de fluxo de caixa negativo sem aumentar sua dependência de empréstimos de curto prazo? A empresa tem suportado os recursos que têm sido retirados sob a forma de imobilizações ou pa-gamentos de dividendos ou isso tem fragilizado sua estrutura de capital de giro, aumentando sua dependência de empréstimos de curto prazo?

Estrutura de Capital – A empresa possui um caixa consolidado, ou seja, paga seus compro-missos em dia? Possui uma posição de recebíveis consolidada, ou seja, não é obrigada a adian-tar uma parcela muito grande de suas receitas sob a forma de negociação de suas duplicatas? Possui uma posição de estoque consolidada ou tem problemas de abastecimento de matéria-pri-ma ou material de revenda que ponham em risco sua produção e/ou suas vendas?

Exposição – Os ativos e passivos da empresa estão equilibrados ou a empresa está muito

Page 134: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

134

vulnerável às oscilações de taxas de câmbio ou taxas de juros? Caso a empresa esteja muito exposta, quais medidas têm sido tomadas para imunizá-la em relação aos riscos de câmbio e de juros?

Confiabilidade – A empresa possui capital aberto? Seus demonstrativos financeiros são audi-tados por empresa independente? Possui demonstrativos financeiros atualizados?

Colateral

Serão abordadas as garantias que a empresa oferece ou pode oferecer para suportar o negócio. De-verão ser analisados aspectos como:

Patrimônio – O patrimônio da empresa responde por seu passivo? O patrimônio dos proprie-tários responde pelos passivos da empresa? Em caso de inadimplência, os proprietários capita-lizariam a empresa?

Grupo Econômico – A empresa pertence a algum grupo empresarial forte e que responda por seu passivo?

Avais e Fianças – Os titulares da empresa garantem suas dívidas com avais ou fianças?

Condições

Serão abordados os demais aspectos da empresa que não tenham sido tratados nos outros itens e que possam afetar a capacidade de a empresa liquidar seus compromissos. Deverão ser analisados aspectos como:

Segmento – O segmento econômico no qual a empresa está inserida está passando por algum tipo de dificuldade?

Dependência – A empresa é muito dependente de um único fornecedor? A empresa é muito dependente de um único cliente? A empresa é muito dependente do mercado externo?

A Ficha Cadastral

A ficha cadastral é o conjunto de informações acerca de um determinado cliente que vai determinar seu conceito comercial e, conseqüentemente, seu crédito. As informações que comporão a ficha cadastral são, basicamente, de três naturezas: informações cadastrais, financeiras e comportamentais. Repare que estas informações abordam os conceitos contidos nos Cs do crédito.

Informações Cadastrais

Identificação – Apresenta a razão social da empresa e as anteriores (antecessoras), seu nome fantasia (se houver), número do CNPJG e grupo econômico ao qual pertence. Informa ainda a data de constituição, órgão competente de registro (Junta Comercial ou registro Civil de Pessoas Jurídicas) acrescido da data do último registro, número de filiais que a empresa possui e as cida-des onde estão localizadas.

Localização – Apresenta o endereço completo da sede da empresa com o nome da rua, núme-ro, bairro, cidade, estado, CEP, números de telefone, fax, caixa postal (e o CEP da Caixa Postal) e o endereço da caixa postal eletrônica. Quando o escritório comercial não estiver no mesmo endereço da fábrica, deverá conter os dados do escritório no mesmo nível de detalhe da sede social.

Page 135: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

135

Atividade – Indica o segmento econômico em que a empresa atua, os principais produtos co-mercializados, o código da atividade na Secretaria da Receita Federal, o número de empregados e o relacionamento da empresa no mercado internacional.

Controle – Mostra a nacionalidade do capital (nacional/estrangeira), o tipo de controle (público/privado), sua natureza (aberto/fechado) e os valores dos capitais social, realizado e autorizado. Apresenta ainda a identificação dos principais acionistas/sócios da empresa informando, para cada participante, a data de entrada na sociedade, a nacionalidade, o percentual de participação nos capitais total e votante.

Administração – Apresenta e qualifica os responsáveis pela gestão da empresa e especifica, para cada membro, o cargo ocupado, a nacionalidade, estado civil, a data de entrada indicativa do tempo de administração e o vencimento do mandato (mês/ano).

Conselho de Administração – Relaciona o nome, cargo e vencimento do mandato (mês/ano) dos membros do conselho de administração.

Outras informações sobre os sócios/administradores – Indica a data e o local de nascimen-to, nº do documento de identidade (RG), residência (endereço completo) telefone e tempo de resi-dência no endereço atual. Informa, para cada membro, a profissão, outras rendas com indicação da base da renda (mensal, semestral etc.) e origem (aluguel, aplicações etc.). Apresenta ainda a identificação do cônjuge, nome, identidade e o CIC.

Participações – Identifica as participações da empresa e de seus sócios/acionistas, admi-nistradores e conselheiros em outras sociedades. Informa as empresas ligadas (razão social, CNPJG, localização etc.). Com relação ao participante, são informados o nome, o percentual de participação no capital da ligada e o seu vínculo (acionista, conselheiro, sócio, gerente etc.).

Imóveis – Apresenta os imóveis declarados em nome da empresa e em nome de seus acionis-tas/sócios e administradores, com especificação do tipo do imóvel, localização, áreas do terreno e construída, valor de mercado e a informação da existência de ônus ou hipoteca.

Seguros – Mostra os contratos de seguros informados pela empresa, com detalhes da modali-dade (tipo de risco coberto), valor da cobertura e vencimento da apólice.

Informações Comportamentais

Produção – Destaca a linha de produtos detalhando, para cada produto, o percentual de parti-cipação nas vendas, a quantidade média mensal produzida e a capacidade total instalada.

Compras – Mostra a origem das compras destacando os percentuais das aquisições nos mer-cados interno e externo e o percentual adquirido nas empresas coligadas. Traz ainda a identifica-ção e a qualificação dos principais fornecedores especificando, para cada empresa, o percentual de participação nas compras totais e a informação da existência de vínculo acionário com a empresa analisada.

Projetos de expansão – Informa os projetos de investimento em andamento com informações sobre o montante previsto de recursos destinados ao desenvolvimento, prazo de execução e término previsto. Destaca também as fontes de recursos planejadas para o financiamento dos projetos (recursos próprios, de terceiros, dos acionistas etc.) e as melhorias e vantagens compe-titivas esperadas pela empresa.

Comercialização – Apresenta informações sobre o processo de comercialização da empresa, destacando o principal mercado consumidor, as marcas comercializadas e os percentuais de vendas realizadas nos mercados interno e externo. Destaca também os principais mercados da empresa (regiões geográficas, estados, países etc.). Informa o nome e CNPJ dos principais clientes e o percentual de participação nas vendas totais e a informação da existência de vínculo acionário com a empresa analisada.

Page 136: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

136

Informações bancárias – Informa os bancos com os quais a empresa trabalha e as operações financeiras em aberto.

Informações Financeiras

Balanço – Apresenta os três últimos balanços analisados, dos quais os dois anteriores serão sempre balanços e o mais recente poderá ser um balanço ou um balancete.

Demonstrações de resultados – Apresentam as demonstrações de resultados, evidenciando o resultado (lucro ou prejuízo) da empresa no período analisado, permitindo avaliar a rentabilida-de alcançada. Permite ainda que se veja qual o percentual de cada conta em relação ao fatura-mento líquido e o percentual de variação em relação ao exercício anterior.

Demonstrativos de fontes e usos – Mostram as fontes e as aplicações totais de recursos a curto e longo prazos, considerando as operações globais da empresa, tanto das atividades ope-racionais como das não operacionais.

Fluxo de Caixa – Obtido a partir dos balanços patrimoniais e do DOAR (Demonstrativo de Ori-gens e Aplicações de Recursos), mostra os recursos gerados internamente, operacionalmente e não operacionalmente.

Índices Financeiros – Apresenta um conjunto de índices financeiros que representam relações entre contas ou grupos de contas dos demonstrativos financeiros e que têm como objetivo ilustrar os diversos aspectos da vida financeira da empresa, como capacidade de liquidar compromissos, capacidade de remunerar os acionistas etc.

A partir dos dados obtidos na ficha cadastral, dos índices financeiros tirados dos demonstrativos finan-ceiros e das informações restritivas obtidas junto às fontes de informações pesquisadas, o analista de cré-dito procura definir o conceito comercial do cliente de forma a concluir se trata-se de empresa merecedora de crédito ou não. Este conceito comercial procura classificar os clientes dentro de determinados critérios de forma a que:

Clientes desfrutando de conceitos diferentes não recebam o mesmo tratamento na hora da determinação de seu limite de crédito.

Clientes apresentando um mesmo risco não recebam tratamentos diferentes quando da deter-minação do limite de crédito.

O objetivo final deste processo é a classificação dos clientes em categorias de acordo com o risco de crédito que representam. Por se tratar de serviço altamente especializado, a maioria das empresas prefere terceirizá-lo junto a firmas de informações cadastrais a desenvolvê-lo internamente.

Dentre as várias informações disponibilizadas nas fichas cadastrais fornecidas por empresas de infor-mações cadastrais, uma é especialmente útil para quem quer definir o limite de crédito para um determina-do cliente. Trata-se do “acúmulo máximo” e do “acúmulo médio” informados pelas empresas consultadas.

Algumas empresas de informações cadastrais trabalham com base em trocas de informações. Neste sistema, a base de clientes da firma de informações cadastrais fornece informações a respeito de seus próprios clientes. Essas informações são tabuladas, processadas, consolidadas e disponibilizadas. Uma das informações fornecidas diz respeito ao acúmulo de duplicatas sacadas contra a empresa consultada e que ainda se encontravam em aberto na data da consulta, não importando se estas duplicatas eram vencidas ou vincendasG.

Essas duplicatas em aberto representam o risco que a empresa vendedora estava correndo com seu cliente no momento da consulta. Como o limite de crédito é, por definição, o risco máximo que uma empre-

Page 137: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

137

sa está disposta a correr com um determinado cliente, o acúmulo informado nada mais é do que o limite de crédito utilizado pelo cliente no momento da consulta. Assim, o “acúmulo médio” representa a média aritmética dos limites de crédito informados e o “acúmulo máximo”, o maior limite de crédito informado. Estas informações podem servir de balizamento ao analista de crédito na hora de determinar o limite de crédito para uma empresa desconhecida.

Exemplo

Suponha que se deseje determinar o limite de crédito para uma empresa desconhecida que quei-ra comprar R$ 50.000 por mês. Consultando a ficha cadastral dessa empresa, verifica-se que o

“acúmulo médio” informado é R$ 15.000 e o “acúmulo máximo”, R$ 20.000. Baseado nesta infor-mação, o vendedor pode decidir que não é prudente dar um limite de crédito de 2,5 vezes o maior limite informado e concluir que, para iniciar uma relação comercial com o novo cliente, o melhor seria começar com R$ 15.000 e ir aumentando paulatinamente esse limite na medida em que a relação comercial for amadurecendo e que a empresa for conhecendo melhor seu novo cliente.

Na verdade, o que vai determinar o quanto o limite de crédito vai se situar acima ou abaixo do “acúmulo médio” vai ser o grau de aversão ao risco (lembram-se deste conceito explicado no módulo 3?) de quem tem a palavra final sobre este assunto. Quanto mais avesso ao risco (ou seja, quanto mais conservador) for quem decide, menor será o limite concedido. Quanto mais propenso ao risco for quem decide, maior será o limite concedido.

Outra informação importante na hora de determinar o limite de crédito pelo método Caso a Caso basea-do no “acúmulo médio” e no “acúmulo máximo” é o número de empresas que forneceram estes dados para a empresa de informação cadastral. Quanto maior for o número de informações recebidas, mais confiável será a informação. Além disso, quanto maior for o número de informações recebidas, mais diluída será a diferença entre elas.

Imagine que, ao receber a ficha cadastral de uma empresa, o “acúmulo médio” informado seja R$ 15.000 e o “acúmulo máximo”, R$ 50.000. Imagine ainda que somente cinco empresas tenham fornecido informações sobre o novo cliente. Com tão poucas informações, é possível que a dispersão entre os va-lores informados seja muito grande e que o “maior acúmulo” tenha “puxado” para cima o valor da média. Nesse caso, o valor do “acúmulo médio” estaria distorcido e a informação seria pouco confiável. Já se o número de informações recebidas fosse, digamos, 265, qualquer diferença ficaria muito diluída e o resul-tado final seria muito mais confiável.

Identificando os golpistas

Já se foi o tempo em que os golpistas eram facilmente identificáveis. Cada vez mais estes indivíduos sofisticam seus golpes e dificultam sua identificação antecipadamente. Tanto as empresas dos golpistas quanto as pessoas que são postas como seus titulares, na grande maioria das vezes, possuem uma ficha ilibada. No entanto, existem alguns sintomas que devem alertar o profissional encarregado da concessão do crédito da possibilidade de um golpe.

Aumento repentino e acentuado do número de pedidos de informações a respeito de uma de-terminada empresa feitos às firmas de informações cadastrais. Se, por exemplo, uma firma de in-formações cadastrais recebe, em média, duas consultas por mês a respeito de uma determinada empresa e, em um mês, recebe 15 consultas, isso deve deixar o profissional de crédito em alerta porque significa que a empresa em questão está tentando comprar muito na praça.

Alteração do Contrato Social com ampliação do objetivo social da empresa, principalmente se

Page 138: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

138

esta alteração tiver ocorrido logo após uma mudança de controle acionário. Exemplo: a empresa, originalmente, comercializava apenas programas de computador e altera seu objetivo social para passar a comercializar equipamentos de informática, móveis e equipamentos de escritório.

Objetivo social exageradamente amplo. Exemplo: consta como objetivo social da empresa algo como “Indústria, comércio e representação”.

A empresa tenta comprar bens completamente estranhos ao seu objetivo social. Exemplo: o objetivo social da empresa é a comercialização de produtos de higiene e limpeza e ela tenta comprar laticínios.

A empresa quer fazer uma compra e não discute o preço, mas quer um prazo ampliado para pagar. Isso pode significar que a empresa está querendo estocar para fugir ou então pedir uma concordata.

Acompanhamento do Cliente

É importante para o setor de Crédito possuir, no momento da aprovação de um pedido, informações relativas ao cliente contendo dados como limite de crédito, limite disponível, atraso médio etc. O objetivo deste relatório é fornecer essas informações de forma ordenada.

Nesse relatório deve constar:

Limite de Crédito Aprovado – Representa o risco máximo que a empresa está disposta a correr com um determinado cliente.

Limite de Crédito Utilizado - É a soma das duplicatas sacadas contra o cliente e que se encon-tram em aberto na data do relatório acrescidas do valor dos pedidos aprovados e pendentes.

Limite de Crédito Utilizado – Representa a diferença entre o limite aprovado menos o limite utilizado.

Faturamento Médio Mensal - É a média dos faturamentos mensais contra o cliente nos últimos seis meses. Caso o cliente somente tenha comprado nos últimos dois meses, então será a média dos últimos dois meses, e assim por diante.

Fatura Média – É a soma de todas as faturas emitidas contra o cliente em um determinado período divididas pelo número de faturas no período.

Maior Atraso – É o maior tempo decorrido entre a data de vencimento e a data de pagamento de uma fatura.

Atraso Médio – É a soma de todos os atrasos dividida pelo número de faturas pagas. As fa-turas pagas em dia são incluídas no cálculo com atraso igual a zero. Em caso de “Liquidações Parciais” o atraso é representado pelo número de dias decorridos entre a data de vencimento original e a data de liquidação do saldo remanescente.

Nota

Pelo acompanhamento dos atrasos, pode-se dizer se a situação da empresa está melhorando, pioran-do ou mantém-se estável.

Limite Utilizado 156.311 Data: 15/10/03Limite Disponível 173.689 Maior Atraso: 10Compra Média Mensal 228.829 Data: 31/01/04Fatura Média 74.793 Atraso Médio: 1,11

Page 139: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

139

Emissão Duplicata Valor Vencimento Pagamento Atraso05/07/03 2553 63.829,00 20/07/03 20/07/03 010/07/03 2651 82.100,00 25/07/03 25/07/03 0

15/07/03 2749 27.000,00 30/07/03 30/07/03 020/07/03 2847 40.950,00 04/08/03 04/08/03 013/08/03 2945 57.930,00 28/08/03 28/08/03 014/08/03 3043 68.900,00 29/08/03 30/08/03 122/08/03 3141 86.020,00 06/09/03 06/09/03 004/09/03 3239 53.032,00 19/09/03 19/09/03 005/09/03 3337 67.681,00 20/09/03 21/09/03 115/09/03 3435 68.000,00 30/09/03 03/10/03 119/09/03 3533 105.582,00 04/10/03 06/10/03 215/10/03 3631 243.982,00 30/10/03 30/10/03 011/11/03 3729 48.099,00 26/11/03 26/11/03 003/12/03 3823 25.476,00 16/12/03 18/12/03 207/12/03 3925 57.500,00 22/12/03 22/12/03 012/12/03 4023 104.844,00 27/12/03 27/12/03 023/12/03 4121 63.837,00 07/01/04 10/01/04 306/01/04 4219 106.323,00 21/01/04 1014/01/04 4317 49.988,00 29/01/04 2

Uma análise, mesmo rápida, da ficha cadastral acima nos fornece importantes informações sobre o cliente. Primeiro, e principalmente, observando na última coluna a evolução dos atrasos, percebemos que a situação financeira da empresa está se deteriorando. Vemos ainda que o máximo que o cliente pode comprar é R$ 173.689. Em uma situação normal, a empresa poderia considerar eventualmente vender para esse cliente além do limite de crédito pré-estabelecido. Diante do fato de a situação financeira do cliente estar piorando, isso seria imprudente.

Vejamos se você entendeu bem os conceitos expostos neste tópico.

Exercício

Suponha que estamos em julho de 2004 e que você possua uma confecção de roupas masculi-nas e femininas. Um cliente novo o procura querendo fazer uma compra no valor de R$ 50.000.

1. Trata-se de uma loja de materiais esportivos inaugurada há um ano e que também vende alguns artigos de vestuário do tipo japonas, coletes etc.

2. Seu proprietário era engenheiro de uma concessionária de energia elétrica, participou de um programa de demissão voluntária e, com o dinheiro recebido, montou a loja.

3. Não constam protestos contra a loja.

4. A empresa de informações cadastrais contatada relatou o seguinte número de consultas feitas sobre este novo cliente nos últimos nove meses:

junho/04 – 61 consultas

maio/04 – 67 consultas

abril/04 – 67 consultas

março/04 – 72 consultas

Page 140: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

140

fevereiro/04 – 63 consultas

janeiro/04 – 57 consultas

dezembro/03 – 56 consultas

novembro/03 – 70 consultas

outubro/03 – 83 consultas

5. O maior acúmulo relatado foi de R$ 71.327 e o acúmulo médio informado é R$ 19.692. Foi informado ainda que 52 empresas forneceram informações sobre o novo cliente.

6. O novo cliente achou seus preços um pouco “salgados” e está pechinchando. No entanto, aceitou o prazo de pagamento de 30 dias que você propôs.

Diante dos dados apresentados, pergunta-se:

a) Você forneceria para este cliente?

b) Qual o limite de crédito que você daria para este novo cliente?

Pelas informações recebidas, observa-se que se trata de um empresário sem experiência no ramo. Provavelmente ainda está arcando com o chamado “custo do aprendizado”, ou seja, ainda deve estar cometendo muitos erros. Isso por si só já recomenda prudência.

O fato de estar regateando o preço e não estar procurando dilatar o prazo de pagamento é um bom sinal. Além disso, nota-se que não houve um aumento súbito e acentuado do número de consultas nos últimos meses. Também o fato de estar querendo comprar um produto com o qual habitualmente negocia é um sinal positivo. Tudo isso o deixa um pouco mais tranqüilo de vender para este cliente, já que não apresenta o comportamento típico de um golpista.

No entanto, o limite de crédito que está pleiteando está muito acima do que o mercado, na média, lhe está concedendo. Talvez fosse prudente trabalhar mais próximo da média do mercado. O quanto mais próximo e se será acima ou abaixo da média do mercado vai depender do seu grau de aversão ao risco.

Page 141: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

141

6.3 – LIMITE DE CRÉDITO - MÉTODO CONTÁBIL

O método contábil, como o próprio nome indica, baseia-se em dados de balanço para determinar o limite de crédito de um cliente. Por esse processo, atribui-se uma “nota” à empresa analisada fundamen-tada em seus índices de balanço. Não existem limites para essa nota. Teoricamente, pode variar de - ∞ a + ∞*. Baseado nela, é determinado o limite de crédito como uma porcentagem do Patrimônio Líquido da empresa analisada. O limite de crédito é determinado como uma fração do Patrimônio Líquido, porque é ele que garante o crédito.

*A nota pode assumir qualquer valor, negativo ou positivo.

A seguir vamos expôr a mecânica do método estatístico. No exemplo dado, tanto os índices que vão compor a nota quanto seus pesos serão escolhidos de forma arbitrária. Mais adiante explicaremos como os índices são escolhidos com base em uma análise discriminante e seus pesos determinados por méto-dos econométricos.

Índices de Balanço

Os índices são relações existentes entre contas ou grupo de contas das demonstrações financeiras que permitem avaliar um determinado aspecto da situação econômica ou financeira de uma empresa.

Os índices podem se subdividir, quanto à sua natureza, em:

índices de estrutura (também chamados de índices de estrutura de capital);

índices de liquidez;

índices de rentabilidade;

Os índices de estrutura e de liquidez são índices financeiros, ao passo que os índices de rentabilidade são índices econômicos.

Os índices de estrutura nos informam como a empresa está se financiando e como seus recursos estão sendo alocados; os índices de liquidez permitem avaliar a capacidade de a empresa liquidar seus compromissos e os índices de rentabilidade nos dão uma idéia da capacidade de a empresa remunerar seus acionistas.

As “notas”

Observando os índices de balanço, verificamos que existem índices que, quanto mais elevados, melhor a situação da empresa, enquanto que existem outros os quais, quanto mais elevados, pior a situação da empresa.

Fazem parte do primeiro grupo, por exemplo, os índices de liquidez seca, liquidez corrente e rentabi-lidade sobre o Patrimônio Líquido. Na composição da “nota” da empresa, esses índices aparecerão com o sinal positivo. Já grau de endividamento e o prazo médio dos recebíveis fazem parte do segundo grupo. Neste caso, ao compor a “nota” da empresa, esses índices aparecerão com o sinal negativo.

Imagine que tenhamos escolhido arbitrariamente cinco índices para compor a nota da empresa que estamos analisando e que lhes tenhamos atribuído, arbitrariamente também, os seguintes pesos:

Liquidez Seca 3Liquidez Corrente 2

Page 142: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

142

Rentabilidade sobre o P.L. 2Prazo Médio dos Recebíveis 1Grau de Endividamento 1

Vamos calcular a nota de um cliente padrão cujo faturamento bruto anual seja R$ 1.000.000, cujo lucro líquido seja R$ 50.000 e que apresente o balanço patrimonial.

Baseado nos índices calculados, montamos o quadro abaixo:

Índice Valor Peso NotaLiquidez seca 0,8000 3 2,4000Liquidez Corrente 1,2000 2 2,4000Rentabilidade sobre o P.L 0,1136 2 0,2272Prazo Médio dos Recebíveis 0,2100 -1 -0,2100Grau de Endividamento 1,0682 -1 -1,0682Nota 3,7490

Ativo Circulante 420.000 Disponível 20.000 Contas a Receber 210.000 Estoques 140.000 Outras Contas a Receber 50.000

Realizável a Longo Prazo 40.000 Permanente 450.000

Total do Ativo 910.000 Passivo Circulante 350.000 Exigível de Longo Prazo 120.000 Patrimonio Líquido 440.000

Total do Passivo 910.000

Cálculo do Limite de Crédito

O limite de crédito será estabelecido como uma porcentagem do patrimônio líquido do cliente, obtido em função da nota obtida pelos critérios descritos e de seu conceito comercial.

Para isso vamos seguir os seguintes passos:

Calcular a nota da empresa considerada como sendo o melhor cliente da companhia.

Verificar o risco que a empresa tem ou já teve com esse cliente.

Calcular a nota da empresa abaixo da qual todas as empresas apresentam inadimplências.

Atribuir um limite de crédito igual a “zero” para esse cliente.

Calcular a nota para o cliente cujo limite de crédito se quer calcular.

Por interpolação, calcular o limite de crédito do novo cliente em função de seu patrimônio líqui-do.

Page 143: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

143

Vejamos como calcular a nota do cliente abaixo do qual todas as empresas apresentam inadimplên-cias.

Exemplo

Suponha que nossa empresa possua quinze clientes dos quais dez paguem em dia e cinco apre-sentem inadimplências. Imagine que, calculando as notas desses clientes, chegamos ao quadro que você vê abaixo.

Observa-se no quadro que todos os clientes com notas inferiores a -1,12 são inadimplentes. Essa será a nota a ser utilizada como limite inferior no processo de interpolação de valores que descreveremos a seguir.

A empresa considerada a melhor cliente obteve uma nota 8,89 e imagine que já tenhamos tido com ela um risco correspondente a 10% de seu patrimônio líquido. Nosso pior cliente, para quem só vendemos à vista, apresentou uma nota -1,12. Ajustando uma reta a estes dois pontos nós teremos o gráfico abaixo:

donde x = 4,86 %.

Se o limite de crédito corresponde a 4,86 % do Patrimônio Líquido da empresa, nós temos que o limite de crédito deste cliente é:

Limite de Crédito = 4,86 % x R$ 440.000 = R$ 21.402,20 � R$21.500,00

Clientes NotaPontuais

1 6,082 6,923 7,174 7,075 6,176 6,357 6,728 6,149 6,73

10 8,89

Page 144: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

144

Inadimplentes11 -1,9212 -1,1213 -1,1714 -1,5315 -1,35

Analisando os demonstrativos financeiros do melhor e do pior cliente de uma empresa, nós encontra-mos os índices abaixo:

Pior Cliente Melhor ClienteLiquidez Seca 0,10 0,85Liquidez Corrente 0,15 1,25Taxa de Retorno 0,15 0,06C a R / Vendas 0,05 0,20Grau de Endividamento 1,60 0,75

Exercício

Determine, utilizando o método Contábil o limite de crédito do cliente cujos demonstrativos finan-ceiros você vê abaixo sabendo que a empresa dá ao seu melhor cliente um crédito corresponden-te a 12% de seu Patrimônio Líquido.

Considere que as seguintes ponderações dos índices:

Liquidez seca 3Liquidez corrente 2Taxa de Retorno 2Contas a Receber / Vendas 1Endividamento 1

Ativo Circulante 1.159.540Disponível 43.765Contas a Receber 623.530Estoques 447.670Outras Contas a Receber 44.575

Realizável a Longo Prazo 118.250Ativo Permanente 1.100.000

Total do Ativo 2.377.790Passivo Circulante 934.900Exigível de Longo Prazo 282.890Patrimonio Líquido 1.160.000

Total do Passivo 2.377.790Vendas no Período 1.740.00Lucro líquido no Período 75.500

Page 145: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

145

1º Passo - Cálculo das notas do melhor e do pior clientes

Pesos Pior Cliente Nota Melhor Cliente NotaLiquidez Seca 3 0,10 0,30 0,85 2,55Liquidez Corrente 2 0,15 0,30 1,25 2,50Taxa de Retorno 2 0,15 0,30 0,06 0,12C a R / Vendas -1 0,05 -0,05 0,20 -0,20Grau de Endividamento -1 1,60 -1,60 0,75 -0,45Total -0,75 4,52

2º Passo - Cálculo da “nota” do cliente

Índices Pesos NotaLiquidez Seca 0,79 3 2,28Liquidez Corrente 1,24 2 2,48Taxa de Retorno 0,03 2 0,06C a R / Vendas 0,36 1 -0,36Grau de Endividamento 0,80 1 -0,80Total 3,66

3º Passo - Interpolação de Valores

4º Passo - Cálculo do limite de crédito

Limite de Crédito = R$ 1.160.000 x 10,65% = R$ 123.540

Análise Discriminante

Como já dissemos, no exemplo anterior os índices que compuseram as notas das empresas analisadas foram escolhidos arbitrariamente. Evidentemente esse procedimento não é tecnicamente correto. Uma das formas de se eleger os índices que comporão a nota dos clientes é por meio da chamada Análise Discriminante.

Discriminar quer dizer “estabelecer a diferença, distinguir”. A Análise Discriminante é a parte da estatís-tica que permite, dentro de um certo grau de certeza, dizer se um determinado elemento pertence ou não a um determinado grupo. Uma das maneiras de visualizar isso é comparando as curvas de distribuição de uma determinada característica mensurável de dois grupos.

Vejamos primeiro o que é uma curva de distribuição. Suponhamos que tenhamos selecionado uma amostra de 2.100 indivíduos adultos e tenhamos medido a altura dessas pessoas conforme a tabela que

Page 146: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

146

você vê abaixo.

Podemos construir um gráfico de barras representando esses valores e ajustar uma curva a esse grá-fico de barras. Esse gráfico chama-se histograma e a curva ajustada chama-se curva normal ou curva de Gauss.

A curva apresentada na figura acima, absolutamente simétrica, praticamente não existe na prática. O que normalmente existe são curvas com um certo grau de assimetria, como veremos adiante. Observando esta curva, percebe-se que, dada uma determinada altura, pode-se, até graficamente, obter a probabili-dade de se encontrar, dentro da população pesquisada, um indivíduo com uma altura acima ou abaixo daquela medida.

Altura Quantidade % < 1,30 100 4,761,30 – 1,40 200 9,521,40 – 1,50 400 19,051,50 – 1,60 700 33,331,60 – 1,70 400 19,051,70 – 1,80 200 9,52> 1,80 100 4,76

Total 2.100 100,00

Suponhamos agora que tenhamos uma população de 200 indivíduos, a metade constituída de jóqueis e a outra metade de jogadores de basquete, e que tenhamos medido a altura de todos eles e desenhado duas curvas de distribuição, uma para cada grupo, conforme a figura da próxima página.

Suponhamos que alguém nos informe que um elemento do grupo mede 1,80 m e nos pergunte, base-ado apenas nesta informação, se este elemento é jóquei ou jogador de basquete.

O que você responderia?

O elemento até poderia ser um joquéi, mas é altamente improvável, ao passo que a probabilidade de

Page 147: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

147

um jogador de basquete medir 1,80 m, ou mais, é muito elevada. O elemento selecionado deve, portanto, ser um jogador de basquete.

Na verdade, apesar de não podermos afirmar com 100% de certeza, observando as curvas da figura, verificamos que é altamente improvável que um jóquei meça 1,80 m, ao passo que a probabilidade de um jogador de basquete medir 1,80 m, ou mais, é muito elevada. O elemento selecionado deve, portanto, ser um jogador de basquete.

Observa-se que as curvas de distribuição de alturas destes dois grupos são tão distintas que pela simples menção da altura de um elemento nós podemos afirmar, com elevado grau de certeza, se este elemento é um jóquei ou um jogador de basquete.

No exemplo anterior existe uma relação muito forte entre a altura de um elemento do grupo e sua ati-vidade. Caso calculássemos a correlação destes dois dados (altura e atividade), ela seria muito elevada, indicando que esse parâmetro (altura) é altamente significativo para distinguir um jóquei de um jogador de basquete. O mesmo parâmetro poderia não servir para distinguir elementos de outros grupos, como engenheiros e médicos, por exemplo.

Usando o mesmo princípio, vamos avaliar diversos índices de balanço de várias empresas, solventes e insolventes, e avaliar o quanto estes índices são capazes de distinguir (discriminar) as empresas solven-tes das insolventes. O ideal é pegar os índices do último balanço de uma empresa antes de ela apresentar sindes de insolvência.

Digamos que tenhamos calculado o Grau de Endividamento e a Liquidez Geral de um grupo significati-vo de empresas solventes e de empresas insolventes e que os resultados sejam os mostrados nas figuras abaixo.

O que as figuras acima mostram claramente é que, no grupo observado, o Índice de Liquidez Geral é um indicador muito mais preciso na caracterização de um inadimplente do que o Grau de Endividamento. Isso porque as duas curvas de distribuição do Grau de Endividamento apresentam uma superposição muito grande e, conseqüentemente, uma zona de indefinição muito ampla. Qualquer valor situado nesta zona tanto pode ser de uma empresa solvente como de uma insolvente. Sendo assim, ao atribuir pesos a estes dois índices o analista deverá atribuir um peso maior ao Índice de Liquidez Geral do que ao Grau de Endividamento.

Tem havido muitas tentativas de desenvolver equações que ajudem ao analista de crédito a identificar

Page 148: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

148

empresas prestes a se tornarem insolventes. Abaixo são apresentadas algumas delas.

Kanitz

FI = 0,05 x1 + 1,65 x 2 + 3,55 x3 – 1,06 x4+0,33 x5

Onde:

FI = Fator de Insolvência

x1 = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido

x2 = Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo / Exigível Total

x3 = Ativo Circulante – Estoques / Passivo Circulante

x4 = Ativo Circulante / Passivo Circulante

x5 = Exigível Total / Patrimônio Líquido

Nota: Segundo este modelo, a empresa estará insolvente se FI for inferior a –3; entre 0 e –3 a empresa estará indefinida e acima de zero estará na faixa de solvência.

Elizabetsky

Z = 1,93 x1 – 0,2 x2 + 1,02 x3 -1,33 x4 – 1,12 x5

Onde:

Z = Total de Pontos

x1 = Lucro Líquido / Vendas

x2 = Disponível / Ativo Permanente

x3 = Contas a Receber / Ativo Total

x4 = Estoques / Ativo Total

x5 = Passivo Circulante / Ativo TotalNota: Segundo este modelo, o ponto crítico é 0,5. Abaixo deste valor a empresa estará insolvente.

Matias

Z = 23,792 x1 – 8,26 x2 – 9,868 x3 – 0,764 x4 – 0,535 x5 + 9,912 x6

Onde:

Z = Total de Pontos

x1 = Patrimônio Líquido / Ativo Total

x2 = Passivo Financeiro / Ativo Circulante

Page 149: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

149

x3 = Fornecedores / Ativo Total

x4 = Ativo Circulante / Passivo Circulante

x5 = Lucro Operacional / Lucro Bruto

x6 = Disponível / Ativo TotalNota: Segundo este modelo, o ponto crítico é zero. Abaixo deste valor a empresa estará insolvente

Pereira

Z = 0,722 – 5,124 x1 + 11,016 x2 – 0,342 x3 – 0,048 x4 + 8,605 x5 – 0,004 x6

Onde:

Z = Total de Pontos

x1 = Duplicatas Descontadas / Duplicatas a Receber

x2 = Estoque Final / CMV

x3 = Fornecedores / Vendas

x4 = Estoque Médio / CMV

x5 = (Lucro Operacional + Despesas Financeiras) / (Ativo Total – Investimento Médio)

x6 = Exigível Total / (Lucro Líquido + Imobilizado Médio)Nota: Segundo este modelo, o ponto crítico é zero. Abaixo deste valor a empresa estará insolvente.

Embora as equações tenham sido originalmente desenvolvidas para prever insolvências, nada impede que os índices escolhidos e suas respectivas ponderações sejam usados na determinação de limites de crédito pelo método Contábil.

As PonderaçõesVocê viu que os índices que comporão a equação que será usada na determinação do limite de crédito

pelo método Contábil poderão ser definidos por análise discriminante. E o que dizer de suas ponderações? Como atribuir pesos a estes índices?

Provavelmente o método tecnicamente mais perfeito é o Regressivo. A regressão é a área da esta-tística que busca estabelecer relações numéricas entre fenômenos observáveis. Caso existam relações entre, digamos, venda de carros e crescimento do PIB, venda de cerveja e investimento em publicidade e propaganda, vendas de passagens de avião e o preço da passagem, a regressão define-as. Estas rela-ções são definidas sob a forma de equações matemáticas. Entrando nestas equações com uma variável que conhecemos (digamos, a variação do PIB), obtemos a variável que buscamos (digamos, o aumento da venda de carros).

Quando a projeção de uma variável depende de apenas uma outra variável, a regressão é dita simples. No exemplo hipotético de um hospital, em que sua venda dependia apenas da venda de planos de saúde, estaríamos diante de uma regressão linear simples. Já no caso de fábrica de cerveja, em que a venda dependa da variação do PIB, da verba em publicidade e propaganda, da temperatura no verão e da ocor-rência de uma Copa do Mundo, teríamos uma regressão linear múltipla.

As técnicas regressivas são complexas e exigem um especialista experiente para manipulá-las com segurança. Além disso, foge do escopo deste curso uma visão em profundidade deste problema. Fica

Page 150: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

150

apenas o registro que a maneira mais correta e segura de se fazer a ponderação de índices nas fórmulas que serão utilizadas no método contábil de estabelecimento de limites de crédito é através da estatística.

Page 151: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

151

6.4 – A COBRANÇA

A Cobrança

Do ponto de vista operacional, as cobranças podem ser:

em carteira

bancária

jurídica

A cobrança em carteira é aquela que é feita diretamente pela empresa ou por seus funcionários ou prepostos. Pode ser feita nos escritórios da companhia ou através de agentes cobradores que, em muitos casos, são os próprios vendedores da empresa. As grandes desvantagens deste tipo de cobrança são as possibilidades de irregularidades que ela propicia. São comuníssimos os casos de cobradores que rece-bem contas em nome da empresa e, em vez de depositarem imediatamente o produto da cobrança, giram com esses recursos em benefício próprio. Também ocorre de o cobrador oferecer descontos ou dispensar encargos moratórios incidentes sobre pagamentos em atraso sem o conhecimento e o consentimento da empresa.

No entanto, apesar desses inconvenientes, existem casos em que a cobrança é tradicionalmente feita em carteira. É o caso, por exemplo, das empresas cuja cobrança é feita à vista, contra a entrega do pro-duto, pelos motoristas dos caminhões de entrega.

A cobrança bancária é aquela cujos títulos representativos da dívida são enviados para que o banco processe a cobrança. Os bancos podem custodiar esses títulos em mais de uma carteira. Assim temos que:

Carteira de cobrança simples - é aquela em que a cobrança não está vinculada a nenhum tipo de operação de empréstimo e que, portanto, o produto cobrado pode ser creditado imediata-mente na conta-corrente do cliente.

Desconto de Duplicatas - é o caso em que a empresa, por já ter negociado com o banco os títulos e recebido à vista o seu valor deduzido dos juros correspondentes, perde o direito sobre o produto de sua cobrança. Se o sacado* não efetuar a liquidação do título no dia de seu vencimen-to, o banco pode cobrar da empresa o valor equivalente da duplicata vencida e não paga.

*Expressão usada no mercado para designar o devedor, ou seja, a pessoa física ou jurídica, que comprou e que, portanto, tem que pagar.

Carteira de Caução - é aquela em que são entregues para cobrança títulos que foram dados pela empresa em garantia de uma operação financeira. O banco, ao receber o pagamento do título, pode reter o produto da cobrança para liquidar a operação no seu vencimento. Caso a em-presa possua títulos que possam substituir o título que está sendo pago, o banco pode transferir o saldo desta conta, chamada de vinculada, para a conta-corrente, de forma a dar ao cliente livre acesso aos seus recursos.

Nas cobranças jurídicas os títulos vencidos e não liquidados são enviados para um escritório especia-lizado em cobranças contenciosas para que sejam tomadas as providências necessárias à defesa dos interesses da empresa.

Qualquer que seja o agente da cobrança - o chamado “portador” -, é indispensável que a empresa exerça um controle rígido sobre os títulos sob sua responsabilidade.

Os principais tipos de cobrança disponibilizados pelas instituições financeiras são:

Page 152: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

152

Cobrança escritural com registro

Cobrança direta sem registro

Cobrança direta com registro

Cobrança automática

Cobrança programada

Débito automático

Carteira de cheques

Na cobrança escritural com registro, o cliente:

1. Envia a duplicata para o banco cobrar, não importa em que carteira.

2. O banco emite e envia ao sacado o aviso de cobrança.

Cobrança escritural com registro

As vantagens deste sistema são:

Por ter manipulado o título em cobrança e tê-lo registrado em seus controles, o banco sabe exatamente quantos e quais os títulos sob sua responsabilidade e quais as suas características.

O cliente pode, a qualquer momento, acessando o computador do banco, saber qual a situação daqueles títulos que foram enviados para cobrança.

Por estarem com os títulos fisicamente em seu poder, os bancos podem processar as instru-ções de cobrança enviadas pelo cliente, como prorrogação de prazo de pagamento, dispensa de juros de mora, autorização de protesto etc.

Desonera a Tesouraria do trabalho de emitir, manipular e enviar pelo correio os avisos de co-brança.

Os clientes sacados não podem alegar que não pagaram o título por não terem recebido o aviso de cobrança enviado.

No caso de empresas que não possuam um bom sistema de controle das contas a receber, a cobrança escritural com registro é uma segurança a mais conferida à sua posição de duplicatas em aberto.

Ao informar ao cliente quais os títulos que foram cobrados, o banco pode fazer menção ao nome do sacado e ao número que a empresa atribuiu ao título. Vamos ver mais adiante que, em algumas situações, isso não é possível no caso de cobrança direta.

As maiores desvantagens deste tipo de cobrança são:

O seu custo é mais elevado do que o da cobrança direta porque o banco arca com as despesas de impressão, manipulação dos avisos - trabalho que agrega muito custo e pouco valor, lembra-se?

O banco cobra por título processado, não importando se o título tenha sido pago ou não. No caso de empresas cuja cobrança seja muito pulverizada, ou seja, emita muitas duplicatas de pequeno valor unitário, esta diferença pode ser expressiva.

Page 153: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

153

Os avisos de cobrança levam mais tempo para chegar às mãos dos sacados. No caso de em-presa que dão prazos de pagamento muito curtos aos seus clientes, pode acontecer de o aviso de cobrança chegar após o vencimento do título.

No caso da cobrança direta ou “sem registro”, o próprio cliente:

1. Emite e envia diretamente pelo correio o aviso de cobrança. Muitas vezes este aviso de co-brança é emitido pelo computador juntamente com a Nota Fiscal de entrega e segue com a mer-cadoria para o sacado.

2. De posse do aviso de cobrança, o sacado pode pagá-lo, até a data de seu vencimento, em qualquer agência de qualquer banco ligado à rede nacional de compensação integrada.

Cobrança Direta, sem registro

As vantagens deste sistema de cobrança são:

Seu custo é mais baixo do que o da cobrança escritural.

O cliente recebe mais depressa o aviso de cobrança.

O banco só cobra por título efetivamente recebido.

Exemplo

Apenas para ilustrar o ponto levantado acima, vamos dar um exemplo em que a cobrança direta sem registro apresentou vantagens sobre a cobrança escritural com registro. Há alguns anos, um jornal de grande circulação cobrava de seus assinantes as prestações usando a cobrança escritural com registro. Como a inadimplência era elevada, o jornal acabava pagando pela co-brança de títulos que não haviam sido pagos. Além disso, como os valores das prestações eram pequenos, o custo da cobrança era proporcionalmente elevado. O jornal resolveu, então, passar a utilizar a cobrança direta sem registro. A economia obtida foi da ordem de R$ 150.000 mensais, ou R$ 1.800.000 por ano.

No entanto, ao avaliar vantagens da cobrança direta sem registro, o cliente não pode esquecer de acrescer ao valor da tarifa bancária o custo da emissão dos avisos de cobrança, o custo da manipulação dos avisos (colocação em envelope) e o custo de enviá-los pelo correio.

As maiores desvantagens deste tipo de cobrança são:

Por não ter manipulado o título - já que ele seguiu diretamente para o sacado -, o banco não possui qualquer informação quanto à sua existência.

Nos relatórios disponibilizados pelo sistema de contas a receber do banco, estes títulos não constam da posição de duplicatas em aberto.

Pela mesma razão, o banco não tem como acatar as instruções de cobrança e de protesto emitidas pelo cliente.

O retorno da informação dos títulos recebidos faz menção apenas ao número atribuído ao título

Page 154: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

154

pelo banco, sem qualquer menção ao número que o título recebeu na empresa nem ao nome do sacado. Isso obriga a que estas empresas, ao registrarem um título em seu sistema de contas a receber, possuam um campo onde possam indicar o número atribuído ao título pela instituição financeira de forma a que, ao receber a informação de cobrança do banco, possam estabelecer uma relação com seu número de registro.

Cobrança Direta com registro

Com o desenvolvimento e a difusão da interligação das empresas com seus bancos via modem, muitos dos problemas apontados puderam ser contornados.

Uma vez ligada ao computador do banco, a empresa pode informar os títulos que estão sendo envia-dos para cobrança, com ou sem registro, sem a necessidade de manipulação física do documento. Assim, mesmo no caso de a empresa enviar os avisos de cobrança diretamente a seus clientes, o banco pode ser informado eletronicamente de sua existência e características e pode, desta forma, acatar instruções de cobrança e de protesto.

Outro grande inconveniente da cobrança direta que foi superado pela informatização da intercomunica-ção com a instituição financeira é o fato, já mencionado, de a informação fornecida pelos bancos quanto aos títulos pagos fazer referência apenas ao número que o título havia recebido no banco. Atualmente o banco pode bloquear uma seqüência de numeração para os títulos, a ser definida pela empresa, atribuir a essa seqüência um dígito verificador vinculado à empresa, de forma que qualquer informação sobre o título faça menção a esse número. Basta então que a seqüência definida pela empresa corresponda à numeração de suas duplicatas.

Com o advento do EDI, uma empresa que possua cobrança em muitos bancos pode:

1. Enviar, com uma única ligação, todos os seus arquivos de cobrança para sua caixa postal.

2. Uma vez recebidos estes arquivos, o provedor de EDI os separa por instituição financeira, faz a conversão de arquivos para o lay-out de cada banco cobrador e os envia.

3. Os bancos cobradores, por sua vez, enviam os arquivos com os avisos de liquidação de co-brança para a caixa postal da empresa no provedor de EDI.

4. Todos os dias a empresa importa estes arquivos a seu computador, que atualiza automatica-mente a posição da cobrança dando baixa nos títulos recebidos.

Cobrança via EDI

A cobrança automática é um tipo de cobrança em que o banco emite e remete ao sacado os avisos de cobrança, periodicamente, a intervalos determinados pelo cedente (mensalmente, trimestralmente etc.). É ideal no caso de contratos de prazo indeterminado, onde o valor da prestação é fixo ou possui uma fórmula de reajuste previamente determinada (TR, US$ etc.). Este tipo de cobrança libera a Tesouraria de todo e qualquer trabalho de cobrança ativa.

Imagine uma empresa de locação de televisores em que as prestações sejam iguais, mensais e suces-sivas e que reajuste seus preços apenas uma vez por ano, em janeiro, pela variação do IPCA. Pelo pro-cesso de cobrança automática, a cada novo contrato de locação, a empresa informa ao banco os dados do cliente e as características do contrato de locação e o banco passa a emitir e enviar mensalmente os avisos de cobrança. Na data do reajuste de preços, o banco calcula e altera o valor do aluguel mensal.

Page 155: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

155

Já a cobrança programada difere da cobrança automática porque se aplica a contratos de prazo de-terminado, com início e fim, quando então a cobrança é automaticamente suspensa.

Seria o caso, por exemplo, de um colégio que cobrasse dos alunos 12 mensalidades por ano. Pelo pro-cesso de cobrança programada, o colégio informaria ao banco os dados de cada aluno e as características das mensalidades e, ao longo de 12 meses, o banco emitiria e enviaria aos alunos o carnê de cobrança. Ao final dos 12 meses, a cobrança seria automaticamente suspensa.

O débito automático é um sistema de cobrança pelo qual o cliente autoriza ao seu banco a debitar automaticamente em sua conta-corrente a quantia correspondente a uma determinada obrigação na data de seu vencimento (desde que a conta-corrente possua saldo suficiente para suportar o débito).

Sem que os clientes tenham se dado conta, o débito automático representou uma revolução em termos de cobrança pois, pela primeira vez foi usado o conceito de que o endereço de cobrança do cliente não era o seu domicílio ou a sede da empresa, mas o seu banco! Isso porque, quando um cliente autoriza ao seu banco a debitar em sua conta-corrente, digamos, o valor correspondente à sua conta telefônica, o que ele de fato está fazendo é comunicar à Companhia Telefônica que, de agora em diante, seu endereço de cobrança é o seu banco.

A partir daquele momento, as contas entregues na residência ou no escritório do cliente são apenas documentos para simples conferência. Tanto assim que estas contas possuem uma observação avisando ao caixa do banco para não receber aquela conta.

Já a carteira de cheques nada mais é do que uma carteira de custódia de cheques pré-datados. Nos dias dos vencimentos dos cheques, os valores recebidos são automaticamente creditados na conta do cliente. Esse serviço poupa ao cliente o controle dos cheques pré-datados.

Imagine que a empresa em que você trabalha encontre-se no seguinte impasse: o seu prazo de fatura-mento é de apenas sete dias. Você não pode alterar esse prazo, já que é uma imposição da matriz.

Você vinha usando a cobrança escritural com registro. Você enviava diariamente para seu banco co-brador as duplicatas a cobrar e o banco emitia e enviava para seus clientes os avisos de cobrança. Acon-tece que freqüentemente acontecia de o aviso de cobrança chegar no cliente após o prazo de vencimento da duplicata e isso já estava afetando sua relação com seus clientes.

Diante disso, você resolveu mudar seu processo de cobrança. O novo processo adotado foi a cobrança direta sem registro. Agora o aviso de cobrança é emitido pelo computador juntamente com a Nota Fiscal e segue com ela para o cliente juntamente com a mercadoria. Isso resolveu parte de seus problemas, já que o cliente não pode mais alegar que não pagou porque não recebeu o aviso de cobrança.

No entanto, agora você não tem como consultar o banco quanto à posição das duplicatas em aberto. O banco também não pode acatar algumas de suas instruções de cobrança, como prorrogações de datas de vencimentos, dispensa de juros de mora etc., já que as duplicatas que ainda não foram pagas não estão registradas em seu sistema.

Uma solução possível seria a adoção da cobrança direta com registro. Por este processo a empresa continuaria a emitir o aviso de cobrança juntamente com a Nota Fiscal e a enviar estes dois documentos (Nota Fiscal e Aviso de Cobrança) para o cliente com a mercadoria. Concomitantemente, você enviaria para o banco, eletronicamente, um arquivo contendo a relação dos títulos que estão sendo encaminhados para seus clientes. Neste caso, os clientes passariam a receber os avisos de cobrança antes da data de vencimento dos títulos e você continuaria a poder consultar junto ao seu banco a posição da cobrança, além de poder continuar a enviar instruções de cobrança para o banco.

Os relatórios de cobrança

Duplicatas em Aberto - Este relatório relaciona todas as duplicatas em aberto, vencidas ou a vencer. O relatório pode ser tirado relacionando todas as duplicatas em aberto ordenadas por ordem crescente de numeração ou grupando por cliente, por portador e por vendedor, indicando

Page 156: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

156

o número do documento, data de vencimento, dias de atraso, valor vencido, valor a vencer e totais.

Agenda de Vencimentos - Este relatório relaciona todos os recebimentos que vencem em um determinado dia ou dia a dia de uma determinada semana.

Duplicatas Recebidas - Este relatório relaciona todas as duplicatas recebidas, por cliente, por portador ou por vendedor, em um determinado período definido pelo usuário, indicando o nome do devedor, o número do documento pago, data de vencimento, data de pagamento, dias de atraso, valor do principal, valor dos juros recebidos, valor dos descontos obtidos e os totais.

Recebimentos em Atraso - Este relatório relaciona todos os recebimentos em atraso, referen-tes a duplicatas emitidas em um determinado período definido pelo usuário.

Page 157: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

157

RESUMO

1. O setor de Crédito e Cobrança tem como principal função administrar os “recebíveis” da em-presa.

2. Da mesma forma como o setor de Suprimentos é o responsável pela boa qualidade dos es-toques da empresa, o setor de Crédito e Cobrança é o responsável pela boa qualidade de seus recebíveis.

3. O limite de crédito dado a um cliente representa o risco máximo que a empresa está disposta a correr com ele. Dois métodos muito utilizados na determinação de limites de crédito são o método Caso a Caso e o método Contábil.

4. O método Caso a Caso baseia-se, quase sempre, em informações cadastrais e na vivência do encarregado pela concessão do crédito na empresa. O profissional de crédito levanta a ficha cadastral do cliente ou lança mão das empresas de informações cadastrais para embasar suas decisões. A empresa pode apenas decidir se aprova ou não o pedido, como também pode deter-minar um limite de crédito para o cliente que está sendo analisado.

5. Os Cs do Crédito é composto das seguintes definições: Caráter, Capacidade, Condições, Cola-teral e Comportamento. Esses conceitos são levados em conta na elaboração da ficha cadastral dos clientes.

6. A ficha cadastral é o conjunto de informações acerca de um determinado cliente que vai deter-minar seu conceito comercial e, conseqüentemente, seu crédito. As informações que comporão a ficha cadastral são, basicamente, de três naturezas: informações cadastrais, financeiras e com-portamentais. Repare que essas informações abordam os conceitos contidos nos Cs do crédito.

7. A partir dos dados obtidos na ficha cadastral, dos índices financeiros tirados dos demonstrati-vos financeiros e das informações restritivas obtidas junto às fontes de informações pesquisadas, o analista de crédito procura definir o conceito comercial do cliente de forma a concluir se trata-se de empresa merecedora de crédito ou não. O objetivo final deste processo é a classificação dos clientes em categorias de acordo com o risco de crédito que representam.

8. É cada vez mais difícil identificar os golpistas. Por isso é que se deve ficar atento a alguns sintomas que podem alertar sobre a possibilidade de um golpe.

9. É importante para o setor de Crédito possuir, no momento da aprovação de um pedido, infor-mações relativas ao cliente contendo dados como limite de crédito, limite disponível, atraso médio etc. O objetivo deste relatório é fornecer essas informações de forma ordenada.

10. O método Contábil baseia-se em dados de balanço para determinar o limite de crédito de um cliente. Por esse processo, se atribui uma “nota” à empresa analisada fundamentada em seus índices de balanço. Não existem limites para essa nota. Teoricamente, pode variar de - ∞ a + ∞. Baseado nela, é determinado o limite de crédito como uma porcentagem do Patrimônio Líquido da empresa analisada. O limite de crédito é determinado como uma fração do Patrimônio Líquido, porque é ele que garante o crédito.

11. Os índices de balanço são relações existentes entre contas ou grupo de contas das demons-trações financeiras que visam evidenciar um determinado aspecto da situação econômica ou financeira de uma empresa.

12. Observando os índices de balanço, verificamos que existem índices que, quanto mais eleva-dos, melhor a situação da empresa, enquanto que existem outros os quais, quanto mais elevados, pior a situação da empresa. Fazem parte do primeiro grupo, por exemplo, os índices de liquidez seca, liquidez corrente e rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido. Na composição da “nota” da empresa esses índices aparecerão com o sinal positivo. Já grau de endividamento e o prazo mé-dio dos recebíveis fazem parte do segundo grupo. Ao compor a “nota” da empresa, esses índices aparecerão com o sinal negativo.

Page 158: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^ Modulo 6´

158

13. O limite de crédito será estabelecido como uma porcentagem do patrimônio líquido do cliente, obtido em função da nota obtida pelos critérios descritos e de seu conceito comercial.

14. As cobranças podem ser: em carteira bancária ou jurídica.

15. Os principais tipos de cobrança disponibilizados pelas instituições financeiras são: cobrança escritural com registro, cobrança direta sem registro, cobrança direta com registro, cobrança au-tomática, cobrança programada, débito automático e carteira de cheques.

16. Os principais relatórios do sistema de contas a receber são Duplicatas em Aberto, Agenda de Vencimentos, Duplicatas Recebidas e Recebimentos em Atraso.

Page 159: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

159

GLOSSÁRIO

Aceite - É o reconhecimento por parte do sacado de que a dívida expressa por aquele título é le-gítima. O “aceite” é dado por meio da assinatura do sacado ou de um preposto seu na duplicata.

Aplicação de liquidez imediata – É uma aplicação que pode ser resgatada a qualquer tempo, no todo ou em parte.

Arrendamento mercantil - Operações também conhecida por “leasing”. São contratos nos quais a empresa contratante, em vez de comprar um bem, faz um contrato de arrendamento pelo qual aluga o bem com uma opção de compra no final do contrato. As prestações, neste caso, podem ser pré-fixadas ou pós-fixadas. No caso de prestações pós-fixadas, o cálculo da prestação pode não ser tão simples.

Avalizar - É o mesmo que garantir. A diferença entre o avalista e o fiador é que o avalista é consi-derado um garantidor solidário e o fiador, um garantidor subsidiário. Isso significa que o avalista e o devedor se confundem. Neste caso, o credor pode cobrar o devedor ou o fiador, como preferir. Já o fiador só responde pela parcela da dívida que o devedor não tiver condições de saldar. Se o fiador renunciar a este privilégio (que é o que tem acontecido), ele passa a ser equiparado a um avalista. Juridicamente, isso se chama “renúncia ao benefício de ordem”.

Bancos de varejo – Diz-se de bancos que possuem um grande número de agências.

Caixa único - É um sistema pelo qual a empresa centraliza todos os seus recursos em uma única conta corrente situada na matriz e distribui recursos para suas filiais ou escritórios regionais na exata medida de suas necessidades. O contrário do sistema de caixa único seria uma Tesouraria descentralizada em que cada escritório ou filial possuísse autonomia para pagar contas, receber de clientes, aplicar seus excessos de caixa ou tomar empréstimos em caso de escassez de re-cursos. Existe hoje uma tendência mundial no sentido de centralizar a Tesouraria e o caixa das empresas.

CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas é o número de cadastro da empresa junto à Secretaria da receita Federal.

Cobrança executiva - É um processo de cobrança mais rápido do que a cobrança ordinária.

Compromisso – No contexto financeiro, significa uma obrigação líquida e certa e que, por isso, tenha que ser paga. Exemplificando: se a mercadoria foi entregue nas condições acordadas no pedido, seu pagamento é um compromisso. No entanto, a empresa pode saber que tem que efetuar um determinado pagamento em um certo dia, mas ainda não sabe seu valor exato, pois ainda não recebeu a cobrança. É o caso, por exemplo, da conta de luz. Sabemos o dia em que vence e seu valor aproximado. No entanto, só saberemos o valor exato quando recebermos a conta. Estes casos são chamados de “previsões” e, nos relatórios de contas a pagar, devem ser seguidos de um asterisco para que possam ser identificados.

Copom (Conselho de Política Monetária) – Órgão colegiado composto pelo presidente do Bra-sil e sete diretores do Banco Central que se reúne 12 vezes por ano, sempre nas penúltimas terças e quartas-feiras do mês, para fixar a taxa básica de juros da economia.

Credor - É quem tem a receber.

Custo padrão - É o quanto deveria custar uma unidade produzida dentro de condições ideais de eficiência. Serve de parâmetro de comparação entre o projetado e o realizado de forma a que se possa analisar os desvios observados.

Derivativos - São operações em que o investidor compra ou vende um bem para liquidação em uma data futura. Estes bens, também chamados de ativos subjacentes, podem ser uma mer-cadoria (café, aço, açúcar etc.), uma moeda (o dólar, por exemplo), uma ação (Petrobrás, por exemplo) ou um índice (Índice de Preços ao Consumidor, por exemplo). Exemplo: suponha que em janeiro de 2004 um investidor compre US$ 100,000 a R$ 3,10 por dólar para liquidação no

Glossario´

Page 160: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

160

dia 03 de maio de 2004. Caso no dia da liquidação o dólar estiver cotado a R$ 3,20, o investidor ganhou pois comprou por R$ 3,10 o que está custando R$ 3,20. Caso no dia da liquidação o dólar estiver cotado a R$ 3,00, o investidor perdeu pois comprou por R$ 3,10 o que está custando R$ 3,00. Para garantir a operação, o comprador tem que depositar uma quantia chamada margem inicial. Esta quantia lhe será devolvida no final da operação. Existe também um outro tipo de operação onde o comprador adquire o direito (mas não a obrigação) de comprar o bem e paga um prêmio por este direito. Se na data de liquidação da operação o comprador verificar que vai ter um prejuízo, ele renuncia ao direito de comprar e perde o valor do prêmio. Exemplo: suponha que um investidor tenha comprado, em janeiro de 2004, o direito de comprar US$ 100,000 com vencimento em 17 de maio de 2004, a R$ 3,10 e tenha pago R$ 30.000 de prêmio por este direi-to. Caso na data de liquidação o dólar esteja cotado a R$ 2,90, o investidor não exerce o direito e perde o valor do prêmio. Nestes casos, diz-se que o investidor deixou a opção virar pó. (ver

“Operações a descoberto”)

Devedor - É quem tem que pagar.

Direito creditício - De um título refere-se ao direito de receber o produto da cobrança deste título.

Encargos moratórios - Esta expressão refere-se às multas e aos juros devidos por atrasos de pagamento.

Fiador - Ver avalizar.

Fluxograma - É um diagrama que mostra o encadeamento das atividades que compõem um processo.

Fundo fixo de caixa - É o dinheiro em espécie que as empresas mantêm em caixa para pagar pequenas despesas (geralmente despesas de escritório, como passagens de ônibus dos mensa-geiros, selos, material de copa etc). Também é chamado de caixa pequena.

Hedge - São operações cujo objetivo é proteger a empresa do risco de variação dos preços de um bem. Este bem pode ser uma mercadoria, uma moeda, uma ação ou um índice. A estraté-gia é fazer uma operação que produza um resultado oposto do resultado que se está querendo proteger. Exemplo: suponha que uma empresa tenha feito um empréstimo de US$ 1 milhão para vencimento no dia 03 de maio. O receio desta empresa é que o preço do dólar dispare, porque isso faria com o empréstimo ficasse mais caro. Uma das soluções possíveis neste caso seria comprar U$ 1 milhão para vencimento no dia 03 de maio. Neste caso, se o dólar subir a empresa perde de um lado (porque o empréstimo ficou mais caro), mas ganha na operação de Derivativo. (ver “Derivativos”)

Indexador - É um número que mede a variação da inflação ou do preço do dólar ou das taxas de juros. O principal indexador da inflação é o chamado Índice de Preços ao Consumidor Amplia-do, o IPCA. Outro exemplo de indexador é o CDI, que mede as variações das taxas de juros do mercado.

Insolvência - É a incapacidade de uma pessoa, física ou jurídica, pagar seus compromissos. Uma empresa insolvente está tecnicamente falida. A expressão “cair em insolvência”, neste con-texto, significa que a empresa perdeu sua capacidade de saldar suas dívidas.

Lei das S/A - Expressão pela qual é conhecida a Lei 6.404/76, que regula as sociedades por ações. Esta lei, em seu Capítulo XV, dispõe sobre a apresentação dos Demonstrativos Financei-ros (balanço patrimonial, demonstrativo de resultados etc.). Apesar de regular apenas as socie-dades anônimas, os dispositivos do Capítulo XV são adotados por todas as empresas obrigadas por lei a apresentar demonstrativos financeiros.

Livros Fiscais - Antigamente eram livros onde eram feitos os registros de entrada e saída de mercadorias e a apuração do ICMS e do IPI. Com a informatização da Contabilidade, estes livros foram substituídos por arquivos eletrônicos. No entanto, estes arquivos continuam sendo chama-dos de “Livros Fiscais”. O setor de Livros Fiscais compreende o grupo de pessoas na Contabili-

Glossario´

Page 161: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

161

dade responsáveis por manter atualizados estes arquivos.

Mora - Quer dizer atraso. A expressão “ficar em mora” significa “atrasar o pagamento”.

Operações a descoberto - São operações com derivativos pelas quais uma das partes vende um bem que não possui. Nestes casos o vendedor ou compra o bem para entregar ao comprador na data de liquidação do contrato ou, caso o comprador prefira, paga ao comprador o valor de mercado do bem adquirido.

Previsões - Ver “Compromissos”.

Recebíveis - São as contas que a empresa tem a receber de seus clientes decorrentes de ven-das feitas a prazo.

Relatórios postecipados – São relatórios que reproduzem uma situação existente em uma data passada. Exemplo: em um relatório postecipado tirado hoje, mas com data de 01/01/04, todos os títulos que estavam em aberto naquela data aparecem como estando em aberto, mesmo que já tenham sido liquidados na data de hoje.

Reserva cambial - São os dólares que o Banco Central tem guardado e que são provenientes das exportações brasileiras ou dos empréstimos que os bancos estrangeiros fazem ao Brasil.

Riscos diversificáveis - São riscos que podem ser diluídos combinando-se diversos tipos de investimentos em uma mesma carteira. Exemplo: seria muito arriscado colocar todos os recursos de uma carteira de investimentos em ações de empresas de petróleo, pois se o preço do petróleo despencar, os preços de todas as ações da carteira despencarão também. No entanto, se colo-cássemos parte dos recursos da carteira em ações de empresas que atuam no ramo da indústria automobilística, este risco seria diluído, pois, caso o preço das ações das empresas petrolíferas caíssem em conseqüência da queda do preço do petróleo, o preço das ações das empresas atuando na indústria automobilística subiriam, porque a procura por automóveis aumentaria. Os riscos não diversificáveis são os riscos que, teoricamente, não podem ser diluídos. Exemplo: no caso de uma grande depressão mundial, todas as empresas seriam afetadas por esta crise, inde-pendente do segmento econômico em que atue.

Riscos sistemáticos - São riscos decorrentes de ocorrências que afetam praticamente todas as empresas de um determinado universo econômico. Exemplo: uma depressão econômica afetaria quase todas as empresas de uma determinada economia. Os riscos não sistemáticos, também chamados de riscos específicos, são riscos que afetam apenas uma empresa. Exemplo: supo-nha uma empresa cujo sucesso esteja profundamente ligado à pessoa de seu dono, de tal modo ponto que o mercado questione as chances de sobrevivência do negócio no caso de sua morte. O risco de este executivo falecer é um risco específico desta empresa. Os riscos específicos são sempre diversificáveis; os sistemáticos, nem sempre.

Teoria das Carteiras - Área de Finanças que estuda como devem ser compostas as carteiras de títulos de aplicação financeira de forma a obter uma relação ideal entre risco e retorno.

Tomadora Líquida de Recursos - Diz-se de empresas que são obrigadas a tomar dinheiro em-prestado para pagar suas contas. É o contrário de doadora líquida de recursos, que se refere a empresas que têm excessos de caixa que podem ser aplicados.

Valor nominal - É o valor de face do título, ou seja, é o seu valor original.

Glossario´

Page 162: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Gerencia Financeira na Pratica´^

162

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUSTINI, C. A. “Capital de Giro”. Atlas.

DRUCKER, P. F. “Administrando o Futuro”. Pioneira.

FLEURIET, M. e KEDBY, R. e BLANC, G. “A Dinâmica Financeira das Empresas Brasileiras”. Edições Fundação Dom Cabral

FORTUNA, E. “Mercado Financeiro – Produtos e Serviços”. Qualitymark.

FREZATTI, F. “Gestão do Fluxo de Caixa Diário”. Atlas.

GITMAN, L. J. “Princípios de Administração Financeira”. Harbra.

JUER, M. “Praticando e Aplicando Matemática Financeira”. Qualitymark.

PUCCINI, A. “Matemática Financeira”. Editora Saraiva.

SÁ, C. A. “Estabelecimento do Limite de Crédito – uma nova abordagem para um velho pro-blema”. Qualitymark.

SECURATO, J. R. “Cálculo Financeira das Tesourarias”. Saint Paul Institute of Finance

ZDANOWICZ, J. E. “Fluxo de caixa”. Sagra-Dc Luzzatto

Referencias Bibliograficas^ ´

Page 163: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

EDUCAÇÃO EXECUTIVA ONLINE

Conheça todos os nossos títulos:

Desenvolvimento Gerencial

Administração de Compras

Administração Estratégica

Gestão de Projetos

Gestão de Tempo

Direito Empresarial

Gestão da Tecnologia da Informação

Redação Empresarial

Tendências em Gestão Empresarial

Etiqueta Empresarial

Planejamento e Gestão de Carreira

Plano de Negócios

Gestão de Pessoas

Finanças

Matemática Financeira

Contabilidade Financeira e Gerencial

Finanças Aplicadas a Empresas

Gerência Financeira na Prática

Economia

Fluxo de Caixa

Marketing e Vendas

Gerência de Marketing

Marketing Estratégico

Técnicas de Vendas

Gestão de Representantes Comerciais

Negociação

Prospecção e Fidelização de Clientes

Marketing de Relacionamento e CRM

Marketing de Serviços

Recursos Humanos

Administração de Recursos Humanos

Departamento Pessoal Modelo

Gestão de Cargos e Estratégias de Remuneração

Gestão de Equipes

Operações

Logística

Como Reduzir Custos em Telefonia

Redução de Custos e Soluções em Telefonia e Dados

6 Sigma

Lançamentos de novos títulos todos os meses. Confira em nosso site.

Informações:

(11) 3177 - 0770

[email protected]

www.cathocursos.com.br

Page 164: GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA - Empregos e Vagas de ... · Isso, evidentemente, impactou profundamente as rotinas financeiras. Como vimos, o avanço na informática gerou expressivas

Central de atendimento:

(11) 3177-0770

[email protected]

www.cathocursos.com.br

GERÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICACarlos Alexandre Sá

Todos Direitos Autorais Reservados - Catho Online - Carlos Alexandre SáMaterial de Apoio do Curso Online Gerência Financeira na Prática