George Steiner - A Ideia de Europa

download George Steiner - A Ideia de Europa

of 22

Transcript of George Steiner - A Ideia de Europa

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    1/22

    George SteinerA Ideia de Europa

    Prefcio de Jos Manuel Duro Barroso

    TRAD!"#$ MARIA DE %&TIMA ST' AB()

    Pagina*o$ rodap + ,, pginas

    gradi-a

    Esta o.ra foi digitali/ada e corrigida pelo Ser-i*o de 0eituraEspecial da Bi.lioteca Municipal de 1iana do 2astelo'2ontactos do Ser-i*o$Tel$ 3,4 456 676e89ail$ leituraespecial:c98-iana8castelo'pt

    2ontracapa$2o9e*a assi9'''

    ;A Europa feita de cafetarias< de cafs' Estes -o da cafetariapreferida de Pessoa< e9 0is.oa< aos cafs de #dessa fre=uentados pelosgangsters de Isaac Ba.el' 1o dos cafs de 2open>aga< onde ?ier@egaardpassa-a nos seus passeios concentrados< aos .alces de Paler9o' '''CDesen>e8se o 9apa das cafetarias e o.ter8se8 u9 dos 9arcadoresessenciais da ideia de Europa'''' e ter9ina assi9 este ensaio -erdadeira9ente ad9ir-el de GeorgeSteiner$;2o9 a =ueda do 9arFis9o na tirania .r.ara e na nulidade econ9icao de H co9o Trots@ procla9ou H o >o9e9 co9u9seguir as pisadas de Aristteles e Goet>e' 0i.erto de u9a ideologiafalida< o son>o pode< e de-e< ser son>ado no-a9ente' por-entura apenasna Europa =ue as funda*es necessrias de literacia e o sentido da-ulnera.ilidade trgica da condition >u9aine poderia9 constituir8se co9o

    .ase' entre os fil>os fre=uente9ente cansados< di-ididos e confundidosde Atenas e de Jerusal9 =ue poderKa9os regressar L con-ic*o de =ue a-ida no reflectida no efecti-a9ente digna de ser -i-ida'ISB) 48N7N863384gradi-a O44N 7N633

    GE#RGE STEI)ERA IDEIA DE ER#PAEnsaio introdutrio de Ro. Rie9en Prefcio de Jos Manuel Duro BarrosogradK-a

    TKtulo original ingls$ T>e Idea of Europe

    Q )eFus Pu.lis>ers< 3665;A cultura en=uanto con-ite Q Ro. RientenTradu*o$ Maria de %ti9a St' Au.nRe-iso do teFto$ 0Kdia %reitas2apa$ Multitipo H Artes Grficas< 0%otoco9posi*o$ Gradi-aI9presso e aca.a9ento$ Grfica Manuel Bar.osa %il>os< 0

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    2/22

    Reser-ados os direitos para todo o 9undo por$Gradi-a H Pu.lica*es< 0Rua Al9eida e Sousa< 37< rc< es=' H 7U8657 0is.oa Telefs' 37 UO 56NO4 H 37 UO 7U ,O H 37 U, U5 O6 %aF 37 U, U5 O7 H E9ail$geral:gradi-a'9ail'pt R0$ >ttp$VVV'gradi-a'pt l' edi*o$ Sete9.ro de366, Depsito legal n' 3U7 3U7 N66366,gradK-a

    Editor$ Guil>er9e 1alente1isite8nos na Internet >ttp$VW---'gradi-a'pt

    Prefcio2afs< no9es de ruas< as nossas raK/es culturais profundas e9 Atenas eJerusal9$ co9 o seu to9 aparente9ente ligeiro 9as assente e9 slidaerudi*o< George Steiner identifica a essncia da ideia de Europa')ascido e9 Paris de pais Xudeus austrKacos< repartindo a sua -ida pelaInglaterra e pela SuK*a< este grande intelectual H e esta pala-ra a=uite9 todo o seu sentido positi-o H a.re8nos os ol>os para no-as for9as deencarar o -el>o 2ontinente'%iel L sua nature/a de pensador itinerante< Steiner ;eFplica a ideia de

    Europa a partir da escala >u9ana< da sua geografia< de filsofoso9e9 =ue u9a -e/ se descre-eu a si prprio co9o u9 ;anar=uistaplatnico< no surpreendente =ue considere a 9ate9tica< Xunta9enteco9 o pensa9ento e a 9Zsica< u9a das trs acti-idades =ue define9 e

    dignifica9 >o9ens e 9ul>eres' E para ele< a Europa te98se distinguidonestes trs do9Knios< criando u9 precioso depsito de con>eci9ento e.ele/a para toda a >u9anidade'Pode a ideia de Europa so.re-i-er Ls atrocidades e ao .ar.aris9o< e9 =ueo continente 9ergul>ou na pri9eira 9etade do sculo FFY Tal-e/ seXa aindacedo para o desco.rir' Mas George Steiner pensa =ue pelo 9enos -ale apena tentar sal-8la e este curto 9as intenso li-ro representa u9 pe=uenopasso nessa Xornada de rea.ilita*o'Rea.ilita*o< relan*a9ento< reconstru*o''' # actual 9o9ento europeua< nu9a perspecti-a por -e/es econo9icista< a noconfundir a pri9a/ia concedida ao 9ercado e aos .ens e processos9ateriais' # nacionalis9o ou ;identitaris9o de outros recusa =ual=uer9o-i9ento de integra*o cultural =ue possa sugerir u9a di9inui*o decaracterKsticas nacionais ou regionais< para no di/er tnicas'E< contudo< precisa9ente a cultura e a sua eFpresso e9 ter9os deunidade na di-ersidade =ue nos candidata L esperan*a =uando pensa9os no

    futuro da Europa' Ao confrontar9o8nos co9 a puXan*a de outros continentesou das no-as econo9ias e9ergentes -e9os =ue neste territrio ao fi9 e aoca.o relati-a9ente pe=ueno =ue a Europa encontra9os recursos densa9entedistri.uKdos de inteligncia< de sensi.ilidade< de 9e9ria< de i9agina*oe de criati-idade' E at o pessi9is9o 9elanclico H to tKpico de tantosintelectuais europeus H re-ela u9 espKrito crKtico e auto8crKtico =ue aEuropa de-eria pro-a-el9ente eFportar e9 9aior =uantidade para sua-antage9 e segura9ente de outros'^ue9 di/ cultura di/ li.erdade e di/ diferen*a' A Europa te9 na li.erdadee na diferen*a H de =ue o pluralis9o linguKstico constitui pri-ilegiadaeFpresso H condi*o e garantia da sua di-ersidade' Esta< longe deconstituir u9 fardo< representa u9 trunfo na idade da glo.ali/a*o' Aocolocar tendencial9ente e9 contacto cada u9 co9 todos< a 9undiali/a*o

    O

    torna cada -e/ 9ais necessria a capacidade de integrar u9a 9aior-ariedade dos nossos siste9as polKticos< econ9icos e culturais' Adi-ersidade cultural da Europa d8nos 9ais condi*es e 9el>oresoportunidades para lidar co9 esta acrescida co9pleFidade' En=uanto nestecontinente >ou-er os recursos de inteligncia e de capacidade crKtica depensadores co9o Steiner no -eXo ra/es para o derrotis9o de tantosanalistas e tantos polKticos =uanto ao proXecto de li.erdade< diferen*a ecultura =ue esta nossa Europa'

    Jos Manuel Duro Barroso

    A cultura en=uanto con-iteDci9a Palestra )eFus

    I^uando T>o9as Mann deiFou a Europa< e9 7U4< para se instalar nos Estadosnidos< o.ser-ou< co9 toda a seriedade< nu9a conferncia de i9prensa dadaL sua c>egada a )o-a Ior=ue$ ;_o ic> .in< ist die deutsc>e ?ultur'` Para9uitas pessoas< esta declara*o constituiu 9ais u9a de9onstra*o da9undial9ente fa9osa arrogbncia do autor' Toda-ia< o seu ir9o< ]einric>

    Mann< sou.e8a interpretar 9el>or' )as suas 9e9rias< Ein eitalter Vird.esic>tigt< inicia o capKtulo ;Mein Bruder co9 o episdio atrs9encionado< a =ue acrescenta$ ;Sa.Ka9os agora o =ue o %austo de Goet>e=uis di/er< ao afir9ar$ _as du erer.t -on deinen 1tern >astErVir. esu9 es /u .esit/en'` As pala-ras de T>o9as Mann< segundo o seu ir9o9ais -el>o< no fora9 u9a eFpresso de arrogbncia< 9as de u9 profundosentido de responsa.ilidade'

    7 ;#nde eu estou< est a cultura ale9' [)' da T'\ 3 ;A=uilo =ue deteus pais >erdasteMerece8o para =ue o possuas' [)' do E'\

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    4/22

    77

    Se > algu9 =ue< na esteira de T>o9as Mann< granXeou o direito de di/er$;#nde eu estou< est a cultura europeia< George Steiner' E se ele

    fi/esse esta declara*o< esta seria< do 9es9o 9odo< no u9a eFpresso dearrogbncia< 9as de u9 sentido de responsa.ilidade'A dci9a Palestra )eFus constitui o prelZdio de u9a srie de encontrosorgani/ados pelo )eFus Institute< nas -speras da 2i9eira Intelectual areali/ar durante a Presidncia ]olandesa da nio Europeia 3665< =ue secentrar na =uesto de sa.er se a Europa continua ou no a ser u9a .oaideia e =ual real9ente a i9portbncia e rele-bncia polKtica do idealeuropeu de ci-ili/a*o' # facto de George Steiner< 9ais do =ue =ual=ueroutra pessoa< estar L -ontade na cultura europeia H =ue a.arca sculos e essencial9ente cos9opolita H constituiria ra/o suficiente para ocon-idar a proferir esta palestra'Mas > outra ra/o< u9a ra/o =ue est inti9a9ente relacionada co9 a>istria do prprio )eFus Institute' A pu.lica*o da dci9a Palestra)eFus parece ser a oportunidade perfeita para di/er 9ais ao leitor acerca

    desta institui*o'IIAntes da cria*o do )eFus Institute e9 75< foi editado o pri9eironZ9ero da re-ista )eFus< e9 77' Esta re-ista nunca teria -isto a lu/ dodia se no fosse u9a a9i/ade$ a a9i/ade entre o con>ecido editor deA9esterdo Jo>an Pola@ e eu prprio' As

    73

    nossas inZ9eras con-ersas e cartas acerca da necessidade de criar u9ano-a re-ista se9pre se centrara9 nu9 >o9e9< nu9 li-ro e nu9'a outrare-ista' Esse >o9e9 era George Steiner< o li-ro< o seu 0anguage and

    Silence e a re-ista< European Judais9' Jo>an era co8editor dessa re-istaorri-el9ente -erdadeira$ ;A Europa suicidou8se< ao 9atar os seusXudeus' A destrui*o de seis 9il>es de Xudeus europeus< a destrui*o do9undo de Ma>ler< Al.an Berg< ]of9annst>al< Broc>< ?af@a< 2elan< ?arl?raus< _alter BenXa9in H a lista infind-el H foi ta9.9 a destrui*ode 1esprit europen< da ideia de Europa'2o9 a perda desta ideia< nadaper9aneceu da Europa a no ser u9a entidade se9 cultura< se9 al9a< u9a

    entidade pura9ente geogrfica e econ9ica' 2ontudo< o George Steiner =uefe/ esta o.ser-a*o era ta9.9 o >o9e9 =ue prescindira de u9a carreirailustre nos Estados nidos' Depois da guerra< e aps concluir os estudosan Pola@ nunca se es=ueceu do =ue George Steiner nos dissera na=ueledia< e9 A9esterdo' De-o t8lo ou-ido repetir u9a centena de -e/es$;George

    7U

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    5/22

    Steiner te9 ra/o' 2ultural9ente< a Europa do sculo FF retrocedeu at LIdade Mdia' E< tal co9o os 9osteiros de ento< nosso de-er preser-ar a>eran*a cultural e trans9iti8la por todos os canais =ue ten>a9os L nossadisposi*o' Isso eFplica a fa.ulosa .i.lioteca de Jo>an< a sua editora e

    a sua li-raria$ At>enaeu9< e9 Spui< A9esterdo' %oi ta9.9 por isso =ue anossa re-ista )eFus te-e de ser criada$ para ser-ir a cultura europeia< oideal europeu de ci-ili/a*o H e9.ora< en=uanto -eKculo trans9issor deu9a >eran*a cultural< a )eFus nunca ten>a conseguido ser 9ais do =ue u9pe=ueno canal'IIIE9 7U5< T>o9as Mann te-e de redigir o o.iturio de u9 >o9e9 =ue se9prefora co9o u9 pai para si$ Sa99i Eisc>er< o seu editor >Zngaro Xudeu deBerli9< o >o9e9 =ue< e9 grande 9edida< tornou possK-el a sua =ualidade deautor' Mann recordou a seguinte troca de pala-ras< durante o Zlti9oencontro =ue ti-era co9 o >o9e9 idoso H X ento 9uito doente H -rios9eses antes' Eisc>er eFpri9ia a sua opinio acerca de u9 con>eci9ento9Ztuo$

    H ?ein Europer< sagte er @opfsc>Zttelnd'

    H ?ein EuropLer< ]err Eisc>er< Vieso denn nic>tsYH 1on groKYen >u9anen Ideen -erste>t er nic>ts'U

    U H )o Europeu< disse< a.anando a ca.e*a'H )o EuropeuY 2o9o assi9< sen>or %isc>erYH Ele no perce.e nada das grandes ideias >u9anistas' [)' do E'\

    75

    As grandes ideias >u9anistas' Isso a cultura europeia' %ora isso =ueMann aprendera co9 o seu 9estre< Goet>e' E o prprio Goet>e< na sua

    auto.iografia Dic>tung und _a>r>eit< indica co9o data de nasci9ento doseu >u9anis9o europeu$ 3, de #utu.ro de 7,74' )esse dia< o estudioso e>u9anista lric> -on ]utten escre-eu u9a carta ao seu a9igo _illi.aldPir@>ei9er na =ual eFplica-a =ue< e9.ora fosse de orige9 no.re< nodeseXa-a ser no.re se9 o ter 9erecido$ ;A no.re/a de nasci9ento pura9ente acidental e< por conseguinte< insignificante para 9i9' Procuronoutro local as fontes da no.re/a< e .e.o dessa nascente' A=ui< u9a -e/9ais< pode9os teste9un>ar o nasci9ento da no.ilitas literria$ a-erdadeira no.re/a a no.re/a de espKrito' As artes< as >u9anidades< afilosofia e a teologia< a .ele/a H cada u9a delas eFiste para eno.recer oespKrito< para per9itir L >u9anidade desco.rir e rei-indicar a posse dasua for9a 9ais ele-ada de dignidade' a >eran*a cultural< as i9portanteso.ras de poetas e pensadores< artistas e profetas< =ue u9a pessoa te9 de

    usar para a cultura ani9i [a eFpresso de 2Kcero\< o culti-o da al9a edo espKrito >u9anos H para =ue a pessoa possa ser 9ais do =ue a=uilo =ueta9.9 $ u9 ani9al' )a Zlti9a pgina da sua o.ra 0i*es de Mestresu9anaor eu' Esta a tradi*o do

    5 As 0i*es dos Mestres< 0is.oa< Gradi-a< 366,' [)' da T'\

    7,

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    6/22

    >u9anis9o europeu e9 =ue ele< desde tenra idade< foi educado pelo pai' )a=ual ele prprio se tornou professor< =uando perce.eu =ue tin>a u9 do9$;2on-idar os outros para o significado' Esta Zlti9a eFpresso< ;con-idaros outros para o significado< a prpria descri*o de George Steiner< ea 9ais profunda =ue con>e*o< para a=uilo =ue significa ser Professor de]u9anidades'I1

    A o.ra de George Steiner pode ser entendida< entre outras coisas< co9o u9cdigo 9oral intelectual$# b9ago de u9a cultura so as suas o.ras clssicasH ou seXa< inte9porais'So inte9porais e i9perecK-eis por=ue o seu significado transcende a9orte' )as pala-ras de ]lderlin$ ;_as .lei.et a.er< stiften dieDic>ter',2aracterKstico das grandes o.ras o facto de nos =uestionare9< deeFigire9 u9a reac*o' # torso arcaico de Apoio do fa9oso poe9a de Ril@edi/8nos< se9 9arge9 para dZ-idas$ ;Du sollst dein 0e.en ndern'N)o recue9os perante a dificuldade' Espino/a$ ;Todas as coisas eFcelentesso to difKceis =uanto raras'S os nscios ignora9 a i9portbncia da tradi*o< do facto e docon>eci9ento' ]lderlin$ ;_ir sind nur #riginal< Veil Vir nic>ts

    Vissen'O, ;# =ue per9anece< fundado pelos Poetas' [)' do E'\N ;De-es 9udar a tua -ida' [)' do E'\O ;S so9os originais< por=ue no sa.e9os nada' []' do E'\

    7N

    Ser crKtico significa ser capa/ de fa/er distin*es'Estar L -ontade no 9undo da cultura significa estar L -ontade e9 9uitos9undos< 9uitas linguagens$ estar L -ontade na >istria das ideias< naliteratura< na 9Zsica< na arte' Re=uer erudi*o e a capacidade de -er asrela*es eFistentes entre os -rios 9undos$ o neFus'] u9a rela*o entre linguage9 e polKtica< entre cultura e sociedade'Para co9preender os desen-ol-i9entos culturais< para -er =ue ideias

    -igora9 e =uais as conse=uncias =ue tero< indispens-el u9a refleFofilosfico8cultural' essencial ser elitista H 9as no sentido original da pala-ra$ assu9irresponsa.ilidade pelo ;9el>or do espKrito >u9ano' 9a elite culturalde-e ter responsa.ilidade pelo con>eci9ento e preser-a*o das ideias edos -alores 9ais i9portantes< pelos clssicos< pelo significado daspala-ras< pela no.re/a do nosso espKrito' Ser elitista< co9o eFplicouGoet>e< significa ser respeitador$ respeitador do di-ino< da nature/au9anos< e< assi9< da nossa prpria dignidade>u9ana'Resu9indo nu9a Znica frase o =ue aprendi co9 a tradi*o intelectual a =uepertence George Steiner$ o 9undo da cultura te9 u9a i9portbncia -italpara a =ualidade da -ida >u9ana' Mas a cultura ta9.9 -ulner-el' )o

    por acaso =ue u9a ditadura silencia os seus poetas e pensadores e i9pe acensura' E< neste perKodo de fascis9o da -ulgaridade [nas pala-ras deSteiner\< de censura do 9ercado e de ;econo9ia do con>eci9ento< ocon>eci9ento cultural e a7O

    refleFo filosfico8cultural esto a de.ilitar8se< ou 9es9o a tornar8sei9possK-eis< 9ais fre=uente9ente do =ue nos aperce.e9os'1

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    7/22

    # facto de T>o9as Mann ter podido di/er ;_o ic> .in< ist die deutsc>e?ultur4 a prpria ra/o por =ue te-e de escre-er Do@tor %austus< ro9ancee9 =ue tentou 9ostrar co9o o fascis9o esta-a relacionado co9 a sua .e98a9ada cultura ale9' # 9es9o se aplica no caso de George Steiner' 9a -e/=ue ele< co9o ningu9< est -ontade na cultura europeia< u9a grandeparte da sua o.ra< co9 inKcio e9 0anguage and Silence< caracteri/adapor =uestes co9o$ Por=u a trai*o dos a9anuenses'Y Por=u a liga*o

    ineg-el entre esteticis9o e .ar.aridadeY Por =ue ra/o a educa*oli.eral no conseguiu i9pedir a tortura< os ca9pos de 9orte< o]olocaustoY )o > necessidade de discutir9os< 9ais u9a -e/< ]eidegger eas suas tendncias fascistas< ou o oficial das SS =ue c>ega-a a casa etoca-a Sc>u.ert depois de 9ais u9 dia de carnificina' 1e9oseci9ento intelectual ne9 a educa*o Cli.eral oferece =ual=uer garantia de XuK/o 9oral cor8recto< =uanto 9ais u9a tica 9el>or' #s espKritoseruditos pode9 culti-ar o niilis9o e > inZ9eros intelectuais =ueo9as Mann< #sip e )ade/>daMandelsta9< Arnold Sc>n.erg< Dietric> Bon>oefer< Iosif Brods@< ]er89annBroc>< Al.ert 2a9us< Paul 2elan< Ren 2>ar< Andrei Tar@o-s@i< 1cla-]a-ei e o prprio George Steiner' Steiner< contra a corrente< per9aneceu

    fiel ao seu prprio cdigo 9oral intelectual< L sua -oca*o para;con-idar os outros para o significado< se9 ceder ao niilis9o< aopopulis9o ou L politi/a*o'Al9 disso< as prprias o.ras8pri9as da >eran*a cultural europeiateste9un>a9 a sua i9portbncia para a -ida >u9ana' ^ual=uer pessoa =ue noten>a ainda eFperi9entado o poder da arte pode -er< no li-ro de Pri9o0e-i< co9o ele reuniu corage9 para =uerer so.re-i-er a Ausc>Vit/recordando8se do 2anto de lisses na Di-ina 2o9dia de Dante' Ale@sander_at escre-e e9 M 2entur =ue sentiu su.ita9ente =ue conseguia suportar aPriso 0u.an@a de Estaline< e9 Mosco-o< =uando< nu9a 9an> do inKcio daPri9a-era< ou-iu< L distbncia< u9 frag9ento da PaiFo Segundo So Mateus' Estes dois eFe9plos .e9 con>ecidos ilustra9 =ue< a eFistir algo

    H para7

    al9 do a9or e da a9i/ade H =ue possa conferir sentido L -ida< a .ele/ada arte'A cultura 9ais no do =ue u9 con-ite< u9 con-ite ao culti-o da no.re/ade espKrito' A cultura fala discreta9ente$ ;Du sollst dein 0e.enndern' A sa.edoria =ue oferece re-elada< no por pala-ras< nas poractos' Ser ;culto re=uer 9uito 9ais do =ue erudi*o e elo=uncia' Maisdo =ue tudo o resto< significa cortesia e respeito' A cultura< co9o o

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    8/22

    a9or< no possui u9a capacidade para o.rigar' )o oferece garantias' Eu9ana 8nos oferecida pela cultura< pela educa*o li.eral'#s artistas e os intelectuais no de-ia9 ser reis< no de-ia9 se=uera9.icionar ser reis ou fa/er parte de u9a elite de poder' Mas u9asociedade =ue ignora o eno.reci9ento do espKrito< u9a sociedade =ue noculti-a as grandes ideias >u9anistas< aca.ar< no-a9ente< na -iolncia e

    na autodestrui*o'1IBernard de 2>artres< filsofo e 9onge do sculo Fii< deiFou8nos u9a das9ais .elas descri*es da rela*o eFistente entre alunos e respecti-os9estres$ ;Anes e9poleirados nos o9.ros de gigantes'E9poleirando8se nos o9.ros dos gigantes da tradi*o >u9anista europeia< o)eFus Institute procura ol>ar para a frente< e para trs e< assi9< serto eli8;De-es 9udar a tua -ida' [)' do E'\36

    tista co9o os gigantes so.re cuXos o9.ros se e9poleira' #u seXa$ aceitar

    a responsa.ilidade pela eFistncia continuada do 9el>or da culturaeuropeia< respeitar o seu cdigo 9oral intelectual< preser-ar u9 ideal deci-ili/a*o$ a Ideia de Europa'Ro. Rie9en Director fundador do )eFus Institute37

    A Ideia de Europa

    para 9i9 u9 enor9e pri-ilgio estar de -olta ao )eFus Institute$ estano a 9in>a pri9eira -isita' Este instituto tornou8se u9 dos centros dedilogo europeu e europeu transatlbntico< de discusso< de =uestes =ueultrapassa9 e9 9uito a di9enso polKtica' A.arca =uestes filosficascafs antigos ou definidores e9 Mosco-o< =ue X u9 su.Zr.io da &sia'Poucos e9 Inglaterra< aps u9 .re-e perKodo e9 =ue esti-era9 na 9oda< nosculo F-iii' )en>uns na A9rica do )orte< para l do posto a-an*ado

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    9/22

    galicano de )o-a #rlees' Desen>e8se o 9apa das cafetarias e o.ter8se8u9 dos 9arcadores essenciais da ;ideia de Europa'# caf u9 local de entre-istas e conspira*es< de de.ates intelectuaise 9eFericos< para o flbneur e o poeta ou 9etafKsico de.ru*ado so.re o.loco de aponta9entos' A.erto a todos< toda-ia u9 clu.e< u9a franco89a*onaria de recon>eci9ento polKtico ou artKstico8literrio e presen*aprogra9tica' 9a c>-ena de caf< u9 copo de -in>o< u9 c> co9 ru9

    assegura u9 local onde tra.al>ar< son>ar< Xogar Fadre/ ou si9ples9enteper9anecer a=uecido durante todo o dia' o clu.e dos espirituosos e aposterestante dos se98a.rigo' )a Milo de Stend>al< na 1ene/a de2asano-a< na Paris de Baudelaire< o caf al.erga-a o =ue eFistia deoposi*o polKtica< de li.eralis9o clandestino' Trs cafs principais da1iena i9perial e entre as guerras fornecera9 a agora< o locus daelo=uncia e da ri-alidade< a escolas ad-ersrias de esttica e econo9iapolKtica< de psicanlise e filosofia' ^ue9 deseXasse con>ecer %reud ou?arl ?raus< Musil ou 2arnap< sa.ia precisa9ente e9 =ue caf procurar'7N

    a =ue Sta99tisc> to9ar lugar' Danton e Ro.espierre encontrara98se u9aZlti9a -e/ no Procope' ^uando as lu/es se apagara9 na Europa< e9 Agostode 775< Jaurs foi assassinado nu9 caf' )u9 caf de Gene.ra< 0enineescre-eu o seu tratado so.re e9piriocriticis9o e Xogou Fadre/ co9Trots@')ote8se as diferen*as ontolgicas' 9 pu. ingls e u9 .ar irlands t9 asua prpria aura e 9itologias' # =ue seria da literatura irlandesa se9 os.ares de Du.linY #nde< a no eFistir o Museu9 Ta-ern< teria o Dr' _atsonencontrado S>erloc@ ]ol9es' Mas estes esta.eleci9entos no so cafs')o t9 9esas de Fadre/< no > Xornais L disposi*o dos clientes< nosseus suportes prprios' S 9uito recente9ente o prprio caf se tornou>.ito pZ.lico na Gr8Bretan>a< e 9ant9 o seu >alo italiano' # .ara9ericano dese9pen>a u9 papel -ital na literatura a9ericana e e9 Eros< no

    caris9a icnico de Scott Eit/gerald e ]u9p>re Bogart' A >istria do Xa// insepar-el dele' Mas o .ar a9ericano u9 santurio de lu/esdes9aiadas< 9uitas -e/es de escurido' 1i.ra co9 9Zsica< 9uitas -e/esensurdecedora' A sua sociologia e o seu tecido psicolgico so per9eadospela seFualidade< pela presen*a H deseXada< son>ada ou realH de 9ul>eres')ingu9 redige to9os feno9enolgicos L 9esa de u9 .ar a9ericano [cf'Sartre\' As .e.idas t9 de ser reno-adas< se o cliente =uiser continuar aser deseXado' ] ;seguran*as =ue eFpulsa9 os indeseX-eis' 2ada u9adestas caracterKsticas define u9a tica radical9ente diferente da=uela do2af 2entral ou do DeuF Magots ou do %lorian'3O

    ;]a-er 9itologia en=uanto eFistire9 pedintes< declarou _alter BenXa9inori/ontes percepcionadosdos ps >u9anos' #s >o9ens e as 9ul>eres europeus percorrera9 a p osseus 9apas< de lugareXo e9 lugareXo< de aldeia e9 aldeia< de cidade e9cidade' # 9ais das -e/es< as distbncias t9 u9a escala >u9ana< pode9 serdo9inadas pelo -iaXante =ue se deslo=ue a p< pelo peregrino at2o9postela< pelo pro9eneur< seXa ele solitaire ou gregrio' ] eFtenses

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    10/22

    de terreno rido< proi.iti-o > pbntanos os alpes ele-a98se' Mas nadadisto constitui u9 o.stculo intransponK-el' )o > Saras< Badlandsu9anidade europeia e a sua paisage9' Metaforica9ente< 9as ta9.99aterial9ente< essa paisage9 foi 9oldada< >u9ani/ada< por ps e 9os'2o9o e9 nen>u9a outra parte do glo.o< as costas< os ca9pos< as florestase os 9ontes da Europa< de 0a 2oruna a S' Peters.urgo< de Estocol9o aMessina< to9ara9 for9a< no tanto de-ido ao te9po geolgico co9o ao te9po>istrico8>u9ano'

    34

    )a ponta do glaciar est sentado Manfred' 2>ateau8.riand fala co9paiFo dos pro9ontrios roc>osos' #s nossos acres< encontre98se elesco.ertos de ne-e ou no /nite a9arelo do 1ero< so a=ueles -i-idos porBruegel< Monet ou 1an Gog>' #s .os=ues 9ais so9.rios t9 ninfas ou fadasaga e seussu.Zr.ios re-elara98se espectculo pZ.lico e o.Xecto de caricatura' Masso estas dea9.ula*es< co9 os seus des-ios< as suas 9udan*as .ruscas deitinerrio e passo< =ue se reflecte9 nas sincopas da prosa destepensador' A de 2>arles Pgu pro-a-el9ente a 9ais pulsante< a 9aisse9el>ante a u9 rufo de ta9.or< na literatura 9oderna' As frases 9arc>a9

    ineFora-el9ente e9 frente< as suas concluses soU6

    9arteladas no al-o pela .atida da=ueles pesados sapatos de passeio e.otas dos soldados de infantaria e9.le9ticos da -iso de Pgu' DaK oinco9par-el ;>ino de 9arc>a da sua peregrina*o a 2>artres e da ode =uea cele.ra')u9a era a9ericana< =ue a do auto9-el e do a-io a Xacto< 9alconsegui9os i9aginar as distbncias percorridas e colocadas ao ser-i*ointelectual e potico pelos 9estres europeus' ]lderlin -ai a p da1esteflia a Bordus e -olta' # Xo-e9 _ordsVort> ca9in>a de 2alais LBerner #.erland e -olta' 2oleridge< indi-Kduo corpulento< co9 -rias

    9aleitas fKsicas< percorre per die9< rotineira9ente< trinta a =uarenta=uil9etros< atra-s de terreno difKcil< 9ontan>oso< ao 9es9o te9po =ueco9pe poesia ou argu9entos teolgicos intricados' E considere8se o papeldo errante nalgu9a da nossa 9el>or 9Zsica$ nas fantasias e can*es deSc>u.ert< e9 Ma>ler' 9a -e/ 9ais< a profecia enig9tica de BenXa9inacode ao espKrito$ e9 toda a alegoria e lenda europeias< o pedinte =ue-ai de porta e9 porta< o pedinte =ue pode ser u9 agente di-ino oude9onKaco disfar*ado< c>ega a p'A >istria europeia est repleta de longas 9arc>as' #s soldados deAleFandre 9arc>ara9< o =ue e=ui-ale a di/er ;ca9in>ara9< desde a Grciacontinental Ls fronteiras da hndia e ao deserto lK.io' A o.ra A retiradados de/ 9il< de enofonte< continua a ser o clssico do desespero< daeFausto e da resistncia do soldado apeado< nu9a 9arc>a for*ada ru9o L

    so.re-i-ncia' #s =uil9etros percorridos pelasU7

    legies napolenicas< de Portugal a Mosco-o< desafia9 a credulidadeal de so.re-i-er L retirada da RZssiaistria europeia 9oderna< u9 9appa 9undi =ue ta9.9 odo te9po europeu'

    As ruas< as pra*as calcorreadas pelas 9ul>eres< crian*as e >o9enseuropeus so ce9 -e/es 9ais designadas segundo estadistas< figuras9ilitares< poetas< artistas< co9positores< cientistas e filsofos' Este o 9eu terceiro parb9etro' A 9in>a prpria infbncia e9 Paris fe/89e to9arop>ile Gaut>ier' As ruas e9 torno da Sor.onne t9 no9es degrandes 9estres da escolstica 9edie-al' 2ele.ra9 Descartes e Auguste2o9te' Se Racine te9 a sua rua< ta9.9 a t9 2orneille< Molire< Boileau'# 9es9o se aplica ao 9undo ger9anfono< L 9irKade de Goet>eplt/e eSc>illers8trassen< Ls pra*as =ue de-e9 o seu no9e a Mo/art ou Beet>o-en'

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    12/22

    # 9enino da escola e os >o9ens e 9ul>eres ur.anos da Europa >a.ita9-erdadeiras cb9aras de ressonbncia de feitos >istricos< intelectuaisu9ano' As a-enidasor das>ipteses< co9o e9 _as>ington< con>ecidas pela sua orienta*o< sendo onZ9ero seguido de ;)ort> ou ;_est' #s auto9-eis no t9 te9po deconsiderar u9a Rue )er-al ou u9 0argo 2opernicus'] u9 lado so9.rio nesta so.erania da rele9.ran*a< na autodefini*o daEuropa co9o lieu de la73 Respecti-a9ente< ;pin>eiro< ;cer< ;car-al>o e ;salgueiro' []' daT'\7U ;Pjr do Sol e ;%arol< respecti-a9ente' [)' da T'\UU

    9tnoire' #s escudos afiFados e9 tantas residncias europeias no fala9apenas de e9inncia artKstica< literria< filosfica ou polKtica$co9e9ora9 sculos de 9assacres e sofri9ento< de dio e sacrifKciopessoal' )u9a cidade francesa< u9a placa e-ocati-a de 0a9artine< o 9aisidKlico entre os poetas< confrontada< no lado oposto da rua< por u9ainscri*o =ue rele9.ra as torturas e eFecu*es de ele9entos daresistncia< e9 755' A Europa o local onde o Xardi9 de Goet>e =uaseconfina co9 Buc>enVald< onde a casa de 2orneille d para o largo no =ualJoana dArc foi .ar.ara9ente assassinada' #s 9e9oriais de assassKnioseran*a artKstica re-elara98se pro.le9ticos' certo =ue o restauro< 9ilK9etro a 9ilK9etro< dos antigos .airros de1ars-ia segundo as pinturas topogrficas do sculo F-iii u9 prodKgiode capacidade artKstica e recorda*o deli.erada' Assi9 co9o a restitui*oa Dresden de grande parte do seu .ril>o passado ou o renasci9ento fac8si9ilado de grande parte do esplendor da=uilo =ue foi 0eninegrado' Masca9in>ando por entre estes espectros slidos 8se assaltado por u9asensa*o sinistra< de profunda triste/a' ] algo errado e9 toda a=uelacorrec*o' 2o9o se 9es9o as perspecti-as de profundidade fosse9 9erasfac>adas' 9uito difKcil eFpri9ir atra-s de pala-ras a calide/< a aura=ue o te9po autntico< o te9po en=uanto pro8

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    13/22

    U5

    cesso -i-ido< confere ao Xogo da lu/ so.re a pedra< os ptios< ostel>ados' )o artifKcio do reconstruKdo< a lu/ te9 u9 tra-o a non'A =uesto < e-idente9ente< 9ais profunda' At u9a crian*a na Europa sedo.ra so. o peso do passado co9o to fre=uente9ente se do.ra so. o peso

    das 9oc>ilas escolares de9asiado c>eias' ^uantas -e/es< a-an*andopenosa9ente pela Rue Descartes< atra-essando a Ponte 1ecc>io ou passandopela casa de Re9.randt e9 A9esterdo< no 9e senti a-assalado< 9es9o nu9sentido fKsico< pela =uesto$ ;De =ue ser-eY ^ue pode cada u9 de nsacrescentar L i9ensidade do passado europeuY ^uando Paul 2elan entra noSena para se suicidar< escol>e o local eFacto cele.rado por Apollinairena sua grande .alada< u9 ponto situado so. as Xanelas do =uarto e9 =ueTs-etae-a passara a sua Zlti9a noite< antes de regressar L desola*o e L9orte na nio So-itica' 9 europeu culto apan>ado na teia de u9 in9e9oriatn si9ultanea9ente lu9inoso e sufocante' precisa9ente esta teia =ue a A9rica do )orte repudia' A sua ideologiate9 sido a do nascer do Sol e da futuridade' Ao declarar =ue ;]istria pala-reado inZtil< ]enr %ord forneceu a sen>a de acesso L a9nsia

    criati-a< a u9 poder de es=ueci9ento =ue su.Xa/ a de9anda prag9tica dautopia' # 9ais elegante dos no-os edifKcios possui u9 factor deo.solescncia de uns =uarenta anos' A guerra do 1ietna9e lan*ou u9aso9.ra =uase digna do -el>o 9undo< o on/e de Sete9.ro pro-ocou u9estre9eci9ento< u9 9e9ento 9ori na psi=ue a9ericana' MasU,

    estes so 9oti-os eFcepcionais e =uase certa9ente transitrios' Asrecorda*es 9ais fortes na sensi.ilidade e idio9a a9ericanos so as dapro9essa< da=uele contrato co9 >ori/ontes -astos =ue fe/ do 9o-i9ento e9direc*o ao #este< e< rapida9ente< da -iage9 planetria< u9 no-o den'DaK o crescente 9al8estar sentido e9 rela*o ao 9ero pensa9ento detransfor9ar e9 9e9orial a destrui*o [ter -ida .re-e\ do _orld Trade2enter' Entretanto< u9 9ausolu deli.erada9ente .rutal e< e9 9in>aopinio< despropositado< sepultar u9 espa*o central de Berli9' ^uo 9ais-erdadeiros ao 9anifesto de Jesus$ ;deiFai os 9ortos enterrar os seus9ortos< so os >o9ens e as 9ul>eres do )o-o Mundok# peso a9.Kguo do te9po -er.al pretrito na ideia e su.stbncia da Europaderi-a de u9a dualidade pri9ordial H =ue constitui o 9eu =uarto aFio9a$ a>eran*a dupla de Atenas e Jerusal9' Esta rela*o< si9ultanea9enteconflituosa e sincrtica< ocupou o de.ate teolgico< filosfico epolKtico desde os Doutores da IgreXa a 0eon 2>esto-< de Pascal a 0eoStrauss' # topos agora to rico e pre9ente co9o se9pre' Ser europeu tentar negociar< 9oral9ente< intelectual9ente e eFistencial9ente< osideais< afir9a*es< praFis ri-ais da cidade de Scrates e da cidade deIsaKas'

    So9os .Kpedes capa/es de sadis9o indi/K-el< ferocidade territorialo9ens e das9ul>eres e aproFi9a98se tanto =uanto algo se pode aproFi9ar da intui*o9etafrica de =ue fo9os real9ente criados L i9age9 de Deus'A 9Zsica indu.ita-el9ente planetria' )o con>ece9os =ual=uer

    co9unidade tnica< por 9uito rudi9entar< =ue no prati=ue u9 =ual=uer9odo de 9Zsica' # =ue -ale a pena considerar se =uais=uer destesdi-ersos constructos 9usicais ou for9as eFecuti-as i9plica9 os 9ilagresde sentido dos significados =ue nos so trans9itidos por Bac>< Mo/arto-en ou Sc>u.ert' 9 pe=ueno nZ9ero de centros no8europeuscontri.uKra9 de for9a funda9ental para a 9ate9tica< nota-el9ente a hndiae< durante algu9 te9po< o Islo' Mas a pica da conXectura e dade9onstra*o 9ate9tica< das >ipteses colocadas radical9ente para al9da representa*o 9aterial ou do entendi9ento co9u9 < na sua essncia< ada Europa e< por transferncia directa< da A9rica do )orte' Pode 9uito.e9 ser =ue o estudo da 9ate9tica pura< das desco.ertas aFio9ticas deEuclides ]iptese de Rie9ann< do Teore9a de Pitgoras recentede9onstra*o do lti9o Teore9a de %er9at< seXa o capKtulo 9ais su.li9e< a

    longa >oraUO

    do /nite< do ser do >o9e9' Di/ respeito i9aterialidade< L gra-idadedi-ertida da in-estiga*o 9etafKsica' 9a -e/ 9ais< > 9o9entos esiste9as filosficos eFteriores L Europa< 9as o fluFo so.erano dasuposi*o e da argu9enta*o< no9eada9ente e9 lgica e episte9ologiaecido< os trs acta cardinais co9.ina98se' A 9ate9tica >a.itaa 9Zsica< > u9a 9agia tanto de cadncia co9o de se=uncia aFio9tica nagrande filosofia' 2o9o alguns 9Ksticos e lgicos< co9o Eei.ni/< intuKra9u9 >o9e9 =ue no fosse ge9etra' Toda-ia< ele prpriodirigiu o intelecto ocidental ru9o a =uestes uni-ersais de sentidoeran*a de Atenas estende8se at 9uito 9ais longe' # -oca.ulriodas nossas teorias e dos nossos conflitos polKticos e sociais< do nossoatletis9o e da nossa ar=uitectura< dos nossos 9odelos estticos e dasnossas cincias naturais per9ance saturada de raK/es gregas< e9 a9.os ossentidos da pala-ra' ;%Ksica< ;gentica< ;.iologia< ;astrono9iao9ens edas 9ul>eres ocidentais [e< conse=uente9ente< a9ericanos\ =ue no ten>asido tocado pela >eran*a do >e.reu' Isto aplica8se tanto ao positi-istaistoricis9o9essibnico esto e9 acordo directo co9 os de A9os ou Jere9ias' A estran>apressuposi*o de %reud de u9 cri9e original H o assassKnio do pai Hespel>a< elo=uente9ente< o cenrio da =ueda de Ado' ] 9uito =ue seencontra 9ara-il>osa9ente prFi9o da pro9essa dos sal9os e de Mai9nidasna confian*a =ue Einstein te9 na orde9 cs9ica e na sua recusa tena/ docaos' # JudaKs9o e as suas duas notas principais de rodap< o2ristianis9o e o Socialis9o t856

    pico< so descendentes do Sinai< 9es9o nos locais onde os Judeus 9ais noera9 =ue u9 pun>ado de pessoas despre/adas e perseguidas'As rela*es nunca fora9 fceis' A o.sesso pela tenso entre Xudeus egregos le-ou L in-en*o da cristandade por Paulo' #s Doutores da IgreXaesto ansiosa9ente alertas para o 9agnetis9o dual da Atenas A 9in>a 9ul>er e eu ti-e9os o pri-ilgio de ser9os con-idados por)adine Gordi9er para a sua .ela casa na 2idade do 2a.o durante os 9aus9o9entos< os 9o9entos =ue antecedera9 a li.erta*o' Ela con-idou os

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    16/22

    c>efes do A)2< do Mo-i9ento de Resistncia )acional< incluindo os c>efes9ilitares< para Xantar' #s carros da PolKcia esta-a9 estacionados L portae anota-a9 os no9es de todos os con-idados< 9as no tocara9 e9 )adine'Esta-a8se co9pleta9ente seguro' Anota-a9 si9ples9ente =ue9 c>ega-a para oXantar' E9 toda a 9in>a -ida< o 9eu do9 principal te9 sido u9a falta detacto assinal-el H confesso89e culpado' Assi9< perguntei final9enteL=ueles trs grandes c>efes$ ;#u*a9< a ocupa*o pelas _affen SS foi 9uito

    9$ eles era9 9uito .ons a ocupar' Mas< de te9pos a te9pos< 9ata-a8se u9dos sacanas' 1ocs no tocara9 nu9 >o9e9 .ranco' )e9 u9' E9 Joanes.urgoefes do A)2 disse$ ;Eu posso responder' #scristos t9 os e-angel>os< -ocs< Xudeus< t9 o Tal9ude< o AntigoTesta9ento< o Mis>na>< os 9eus ca9aradas co9unistas a esta 9esa t9 Das?apital' )s< negros< no te9os nen>u9 li-ro'%oi u9 9o9ento tre9endo< para 9i9' A >eran*a de Atenas a Jerusal9< de=ue te9os u9 li-ro< de =ue te9os -rios li-ros' A=uela foi u9a respostaa-assaladora9ente triste e persuasi-a$ ;)o te9os nen>u9 li-ro'57

    pag e da Jerusal9 >e.raica' 2o9o =ue a -erdade de Jesus poderiaincorporar o legado indispens-el da Grcia clssicaY 9 legado tornado9ais pertur.ante pela sua trans9isso atra-s do 9undo ra.e e 9u*ul9ano'Muitas -e/es< as polaridades agu*a98se' EFiste u9 neo8paganis9oconsciente na filosofia e na esttica da renascen*a florentina' #puritanis9o do sculo 1II pode ser 9uito proFi9a9ente definido co9o u9atentati-a de recupera*o de Sio' # >elenis9o ro9bntico 9uitas -e/esarticulado nos ter9os de u9a crKtica acrri9a aos -alores >e.raico8na/arenos' Muito fre=uente9ente< o >u9anis9o europeu< de Eras9o a ]egele.raicos'Mas< aps u9a -ida de in-estiga*o escrupulosa< 0eo Strauss< e9.e.ido e9

    partes iguais no Tal9ude e e9 Arist8teles< e9 Scrates e e9 Mai9nidaseran*a grega e os i9perati-os da f e da re-ela*oprocla9ados na Tora>' # sincretis9o< por >a.ilidoso =ue fosse< teriase9pre fal>as' Assi9< a ;ideia de Europa < na -erdade< u9 ;conto deduas cidades'# 9eu =uinto critrio u9a conscincia prpria escatolgica =ue< segundocreio< pode ser eFclusi-a da conscincia europeia' Muito antes dorecon>eci9ento de 1alr da ;9ortalidade das ci-ili/a*es< ou dodiagnstico apocalKptico de Spengler< o pensa9ento e a sensi.ilidadeeuropeias tin>a9 enfrentado u9a finalidade 9ais ou 9enos trgica' A2ristandade nunca53

    a.andonou co9pleta9ente essa eFpectati-a de u9 fi9 para o nosso 9undo =ue9arcara to profunda9ente os seus dias pri9e-os< sinpticos' Muito depoisda=uilo =ue os >istoriadores deno9inara9 co9o ;o pbnico doC ano 9il< asprofecias de condena*o escatolgica e as nu9erologias =ue procura9 fiFara sua data po-oa9 a i9agina*o popular europeia' Mas estas eFpectati-ascol>era9 adeptos no apenas Xunto dos 9enos cultos' #cupara9 o espKritode< nada 9ais nada 9enos< )eVton' )u9 for9ato secular< intelectuali/ado

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    17/22

    encontra8se eFplicita9ente na teoria da >istria de ]egel u9 ;sentido deu9 final< tal co9o se encontrara na for9ula*o po9posa de entropia< de2arnot< da eFtin*o ine-it-el de toda a energia' Pense9os nasrepresenta*es panorb9icas das cidades europeias e9 c>a9as ou assoladaspor terrK-eis inunda*es =ue constitue9 u9 aspecto de-eras curioso daarte ro9bntica' co9o se a Europa< di-ersa9ente de outras ci-ili/a*eses de

    >o9ens< 9ul>eres e crian*as ten>a9 perecido de-ido L guerra< L fo9e< Ldeporta*o e L c>acina tnica' A Europa #cidental e a RZssia #cidentaltornara98se casas de 9orte< cenrios de u9a .estialidade se9 precedentesVit/ ou a do Gulag' Mais recente9ente< o genocKdio e atortura regressara9 aos Balcs' m lu/ H de-er8se8ia di/er ;Ls tre-asYHdestes factos< torna8se =uase u9a o.riga*o 9oral acreditar no ter9o daideia europeia e das suas >a.ita*es' 2o9 =ue direito de-erKa9osso.re-i-er L nossa prpria desu9anidade suicidaY2inco aFio9as para definir a Europa$ o caf a paisage9 a u9a escala>u9ana =ue possi.ilita a sua tra-essia as ruas e pra*as no9eadas segundoestadistas< cientistas< artistas e escritores do passado H e9 Du.lin< atnos ter9inais rodo-irios se indica o ca9in>o para as casas de poetas anossa descendncia dupla de Atenas e Jerusal9 e< por fi9< a apreenso

    de u9 capKtulo derradeiro< da=uele fa9oso ocaso >egeliano =ue enso9.ra aideia e a su.stbncia da Europa 9es9o nas suas >oras 9ais lu9inosas'E a seguirY

    ] duas -o/es =ue nos pode9 aXudar a encontrar o ca9in>o'E9 Muni=ue< no In-erno desesperado de 774877< MaF _e.er proferiu u9apalestra so.re o con>eci9ento e a cincia [_issensc>aft\ en=uanto55

    -oca*o' E9.ora no co9pleta9ente registada< a sua co9unica*o depressase tornou u9 clssico' A Europa Xa/ia e9 ruKnas' A sua ci-ili/a*o< a suae9inncia intelectual< da =ual o ensino secundrio ale9o tin>a

    constituKdo garantia e9.le9tica< re-elara8se i9potente face L de9nciapolKtica' 2o9o se podia restaurar o prestKgio< a integridade da -oca*odo erudito< pensador e 9estreY Profetica9ente< _e.er pre-iu aa9ericani/a*o< a redu*o L .urocracia gestora da -ida do espKrito naEuropa' 2o9o podia o ensino ser unido no-a9ente in-estiga*ocientKfico8erudita< ao intelecto especulati-o de pri9eira orde9Y Aru.rica a.Xecta da ;correc*o polKtica ainda no fora engendrada' Mas_e.er -iu e declarou o essencial$ ;A de9ocracia de-e ser praticada onde apropriado' A for9a*o cientKfica< contudo< '''C i9plica a eFistncia deu9 certo tipo de aristocracia intelectual' Antes de Benda< _e.er

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    18/22

    esta.eleceu o ideal austero de u9a -erdadeira intelectualidade$ ;A =ue9faltar a capacidade de colocar antol>os a si 9es9o '''C e de secon-encer de =ue o destino da sua al9a depende da correc*o ou no da suainterpreta*o de deter9inada passage9 de u9 9anuscrito< ser se9pre u9estran>o L cincia e ao estudo' #s insensK-eis L=uilo =ue Platodesigna-a co9o ;9ania< possesso do seu ser pela de9anda de -erdadestantas -e/es ardua9ente a.stractas< no utilitrias< de-e9 ir para outro

    sKtio' #s cientistas< os eruditos e os artistas esto< nas pala-ras de_e.er< co9pro9etidos co9 u9 ideal sacrificial< antigo co9o os pr8socrticos e caracterKstico do gnio da Europa'

    5,

    )u9 9o9ento no 9enos trgico< no 9uito antes da sua 9orte solitriao9e9 europeu' A Europa< afir9a ]usserl< ;designa a unidade de u9a -idaespiritual e u9a acti-idade criati-a' Esta espiritualidade criati-a te9o seu local de nasci9ento' A ;cincia8filosofia< co9o ]usserldesastrada9ente l>e c>a9a< originou8se na Grcia antiga' o 9ilagretico< ter entendido =ue as ideias ;de u9a for9a 9ara-il>osa9ente no-aeran*a europeia< o terico se aplica aoprtico so. a for9a de u9a crKtica uni-ersal de toda a -ida e seuso.Xecti-os' ] u9a distin*o 9arcada entre esta feno9enologia e o tecido;prtico89Ktico dos 9odelos do EFtre9o #riente e da Kndia' # actofulcral de conXecturar< t>au9a/ein< e do desen-ol-i9ento lgico8terico platnico e aristotlico na sua essncia' DaK< e9 Zlti9a anlise< oa-an*o da cincia e da tecnologia europeia< e depois a9ericana< so.retodas as outras culturas' # processo glo.al u9 processo de ideali/a*o

    no =ual 9es9o a no*o de Deus ;< por assi9 di/er< logici/ada e torna8se9es9o o -eKculo do logos a.soluto' A Europa es=uece8se de si prpria=uando se es=uece de =ue nasceu da ideia da ra/o e do espK85N

    rito da filosofia' # perigo< conclui ]usserl< ;u9 grande cansa*o'7O)o preciso 9o9ento e9 =ue ]usserl se eFpri9ia< o .ar.aris9o assola-a u9a-e/ 9ais a Europa< tal co9o no te9 cessado de fa/er< de SaraXe-o aSaraXe-o' 2itar as esperan*as orgul>osas de _e.er e ]usserl < s por sio retro-isor\< co9o aco9petncia re=uerida e9 ca9pos co9o a econo9ia e a polKtica 9onetria< ade9ografia< o direito< as rela*es industriais e a teoria da infor9a*oos passados a =ue c>a9a9os ]istria'#s dios tnicos< o nacionalis9o c>au-inista< as rei-indica*es regionaist9 sido o pesadelo da Eu854

    ropa' A li9pe/a tnica e o genocKdio tentado nos Balcs constitue9 apenaso eFe9plo 9ais recente de u9a praga =ue se estende L Irlanda do )orte< aoterritrio .asco e Ls di-ises entre fla9engos e -ales' A disse9ina*o9undial da lKngua anglo8a9ericana< a padroni/a*o tecnolgica da -ida=uotidiana< a uni-ersalidade da Internet< so legiti9a9ente consideradosgrandes passos ru9o a u9a eli9ina*o de fronteiras e dios antigos'Di-ersas organi/a*es H legais< econ9icas< 9ilitares e cientKficas Hpugna9 por u9 grau crescente de cola.ora*o e< e9 Zlti9a instbncia< unioeuropeia' # sucesso fantstico do 9odelo a9ericano< do seu federalis9o=ue a.arca distbncias i9ensas e cli9as di-ersos< apela L i9ita*o' Ja9aisa Europa de-er sucu9.ir no-a9ente L guerra intestina'Este ideal de >ar9onia ineg-el' Inspira i9portantes ele9entos europeusde pensa9ento e capacidade polKtica< desde 2arlos Magno' Mas< creioa@espeare ;u9a>a.ita*o local e u9 no9e identifica u9 carcter definidor' )o >;lKnguas pe=uenas' Toda a lKngua cont9< articula e trans9ite no s u9a

    carga Znica de recorda*o -i-ida< 9as ta9.9 u9a energia e9 e-olu*o dosseus te9pos futuros< u9a potencialidade para o a9an>' A 9orte de u9alKngua irrepar-el< redu/ as possi.ilidades do >o9e9' )ada a9ea*a aEuropa 9ais radical9ente H ;as suas raK/es H do =ue a onda detersi-a eeFponencial do anglo8a9ericano< e dos -alores e i9age9 9undial unifor9es=ue o Esperanto de-orador tra/ consigo' # co9putador< a cultura dopopulis9o e o 9ercado de 9assas fala anglo8a9ericano desde as discotecasde Portugal ao i9prio de co9ida rpida de 1ladi-osto@' A Europa 9orrerefecti-a9ente< se no lutar pelas suas lKnguas< tradi*es locais eautono9ias sociais' Se se es=uecer =ue ;Deus reside no por9enor'Mas co9o se podero e=uili.rar as proposi*es contraditrias daunifica*o econ9ico8polKtica co9 a=uelas da particularidade criati-aY2o9o podere9os dissociar u9a ri=ue/a sal-Kfica de diferen*as da longacrnica de dios 9Ztuos' )o sei a resposta' S sei =ue a=ueles 9ais

    s.ios do =ue eu t9 de a encontrar< e =ue a >ora tardia'A ;ideia de Europa est entretecida das doutrinas e da >istria da2ristandade ocidental' A nossa ar=uitectura< arte< 9Zsica< literatura epensa9ento filosfico encontra98se saturados de referncias e -alorescristos' A literacia europeia desen-ol-eu8se a,6

    partir do ensino cristo' As guerras religiosas entre catlicos eprotestantes dera9 for9a ao destino europeu e ao 9apa polKtico docontinente' ]ou-e certa9ente outros factores =ue dese9pen>ara9 o seupapel< 9as< a.soluta9ente insepar-el da =ueda da Europa na desu9anidadeoa>< est a designa*o crist do Xudeu co9o deicidaerdeiro directo de Judas' e9 no9e da -ingan*a sagrada do

    Glgota =ue os pri9eiros pogro9s -arre9 a Renbnia na Idade Mdia' Destes9assacres ao ]olocausto< o percurso certa9ente co9pleFo e por -e/essu.terrbneo< 9as ta9.9 indu.it-el' # isola9ento< a persegui*o< a>u9il>a*o social e polKtica do Judeu te9 sido integrante da presen*acrist< a =ual foi aFio9tica< na grande/a e a.Xec*o da Europa' #sca9pos de 9orte so fen9enos europeus locali/ados< por u9a intui*o9onstruosa< no 9ais catlico dos paKses europeus' 9a -e/ 9ais< oscrucifiFos escarnece9 o perK9etro de Ausc>Vit/']ou-e protestos coraXosos contra o dio anti8se9ita tanto dentro docatolicis9o ro9ano co9o e9 -rios ra9os do protestantis9o' Recente9enteecer e aanalisar< =uanto 9ais a retractar8se< o papel di-ersificado da2ristandade na >ora 9ais negra da ]istria' Ignorou si9ples9ente ouapagou con-encional9ente o enrai/a9ento do seu anti8se9itis9o nosE-angel>os< no repZdio de Paulo do seu po-o< nos,7

    inZ9eros teFtos teolgicos e ideolgicos produ/idos desde ento [noinKcio da dcada de 7,36< 0utero eFigia a 9orte pelo fogo de todos os

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    21/22

    Xudeus\' En=uanto a Europa no confrontar o -eneno do dio anti8se9ita=ue corre nas suas -eias< en=uanto no a.ordar e9 ter9os eFplKcitos alonga pr8>istria das cb9aras de gs< 9uitas das estrelas no nossofir9a9ento europeu continuaro a ser a9arelas'Actual9ente< a cristandade u9a for*a e9 declKnio' As igreXas es-a/ia98se e9 9uitas regies da Europa' )o prprio cora*o do territrio papaleran*a negra< confrontando8a se9 receios< a Europa deMontaigne e Eras9o< de 1oltaire e I99anuel ?ant pode< u9a -e/ 9aiso a seguir',3

    Esta tarefa pertence ao espKrito e ao intelecto' disparate supor =ue aEuropa ri-ali/ar co9 o poderio econ9ico< 9ilitar e tecnolgico dosEstados nidos' J a &sia< e e9 particular a 2>ina< prepara88se paraultrapassar a Europa e9 i9portbncia de9ogrfica< industrial e< por fi9ara9 a intensa claridade 9atinal daEuropa no pensa9ento grego e na 9oral Xudaica' E -ital =ue a Europa

    reafir9e certas con-ic*es e audcias de al9a =ue a a9ericani/a*o doplaneta H co9 todos os seus .enefKcios e generosidades H o.scureceu'DeiFai =ue as for9ule .re-e9ente'A dignidade do >o9o sapiens precisa9ente essa$ a percep*o dasa.edoria< a de9anda do con>eci9ento desinteressado< a cria*o de .ele/a'%a/er din>eiro e inundar as nossas -idas de .ens 9ateriais cada -e/ 9aistri-iali/ados u9a paiFo profunda9ente -ulgar e inane' Pode ser =ue< de9odos agora 9uito difKceis de discernir< a Europa -en>a a gerar u9are-olu*o contra8industrial< assi9 co9o gerou a prpria re-olu*oindustrial' 2ertos ideais de la/er< de Esta se9ana con>ecera98se as estatKsticas' Dos europeus =ue fa/e9 odoutora9ento na A9rica< entre O, a 46 por cento no regressa9' )o te9osnada a oferecer8l>es< claro =ue no regressa9' Para X< podKa9osre9uner8los ade=uada9ente$ neste sentido< sou u9 -erdadeiro

    9aterialistak,U

    pri-acidade< de indi-idualis9o anr=uico< ideais =uase apagados peloconsu9o conspKcuo e pelas unifor9idades dos 9odelos a9ericano ea9ericano8asitico< podero ter a sua fun*o natural nu9 conteFtoeuropeu< 9es9o =ue esse conteFto i9pli=ue u9a certa 9edida deapetrec>a9ento 9aterial' A=ueles =ue con>ecera9 a Europa durante as

  • 7/25/2019 George Steiner - A Ideia de Europa

    22/22

    dcadas de penZria< ou a Gr8Bretan>a durante a austeridade< sa.ero =uesolidariedades e criati-idades >u9anas pode9 despontar da po.re/arelati-a' )o a censura polKtica =ue 9ata$ o despotis9o do 9ercado de9assas e as reco9pensas do estrelato co9erciali/ado'Tudo isto sero son>os< tal-e/ i9perdoa-el9ente ingnuos' Mas trata8se defins prticos a =ue -ale a pena al9eXar' desesperada9ente urgentefa/er9os cessar< na 9edida do possK-el< a saKda dos nossos 9el>ores

    Xo-ens talentos cientKficos [9as ta9.9 >u9anKsticos\ da Europa de-idoLs ofertas ednicas dos Estados nidos' Se os nossos 9el>ores cientistaso pode< e de-e< ser son>adono-a9ente' por-entura apenas na Europa =ue as funda*es necessrias deliteracia e o sentido da -ulnera.ilidade trgica da condition >u9ainepoderia9 constituir8se co9o .ase' entre os fil>os fre=uente9ente

    cansados< di-ididos e confundidos de Atenas e de Jerusal9 =ue poderKa9osregressar L con-ic*o de =ue ;a -ida no reflectida no efecti-a9entedigna de ser -i-ida' Pode ser =ue estas pala-ras seXa9 insensatas< =ueseXa de9asiado tarde' Espero =ue no< s por=ue estou a di/er estaspala-ras na ]olanda< onde Baruc> Espino/a -i-eu e pensou'

    ,,