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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 400. O Espírito encarnado sente-se à vontade no seu en- voltório corporal? – É como se perguntasses se um prisioneiro se sente bem na prisão. O Espírito encarnado anseia sem cessar pela libertação, e quanto mais grosseiro for o envoltório, mais deseja livrar-se dele. 401. Durante o sono, a alma descansa, como o corpo? – Não. O Espírito nunca fica inativo. Durante o sono, os laços que o prendem ao corpo se afrouxam, e como o corpo não precisa dele, ele percorre o espaço e entra em contato mais direto com outros Espíritos. 402. Como se pode ter uma idéia da liberdade do Espírito durante o sono? – Pelos sonhos. Podes ter certeza de que, enquanto o cor- po descansa, o Espírito tem mais faculdades do que quando está acordado; lembra-se do passado e às vezes tem uma an- tevisão do futuro; adquire mais energia, e pode entrar em comunicação com outros Espíritos, seja neste ou num outro mundo. Frequentemente dizes: Tive um sonho estranho, hor- rível, que nada tem a ver com a realidade. Estás enganado, é muitas vezes uma recordação dos lugares e das coisas que viste e que verás em outra existência ou noutro momento. Como o corpo está entorpecido, o Espírito trata de romper sua ligação com ele, investigando o passado ou o futuro. Pobres homens, quão pouco sabeis sobre os fenômenos mais comuns da vida! Julgais-vos muito sábios, e as coisas mais simples vos confundem. Que fazemos quando dormi- mos? Que são sonhos? Diante dessas perguntas, que todas as crianças fazem, ficais perturbados. O sono liberta, parcialmente, a alma do corpo. Quando dormimos, ficamos momentaneamente no estado em que o homem fica constantemente após a morte. Os Espíritos que, na hora da morte, logo se desligam da matéria, tiveram so- nos lúcidos. Esses, quando dormem, buscam a companhia dos seres que lhes são superiores: viajam, conversam e se instruem com eles. Chegam mesmo a trabalhar em obras que, ao morrerem, encontram concluídas. Mais uma vez, isso deve ensinar-vos a não temer a morte, pois morreis to- dos os dias, conforme as palavras de um santo. Isso quanto aos Espíritos eleva- dos. Quanto à maioria dos homens que, na hora da morte, devem passar longas horas na perturbação, na in- certeza de que já vos falaram, esses, durante o sono, vão a mundos infe- riores à terra, onde antigos amores os chamam, ou em busca de prazeres ainda mais baixos do que os que têm aqui; vão atrás de doutrinas ainda mais vis, mais desprezíveis, mais no- civas do que as que professam entre vós. E o que gera a simpatia na terra não é outra coisa senão o fato de, ao despertar, a pessoa sentir-se ligada pelo coração àqueles com quem aca- ba de passar oito a nove horas de fe- licidade ou de prazer. O que também explica as antipatias invencíveis é o fato de sabermos, em nosso íntimo, que as pessoas com quem antipatiza- Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 2 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL O sono e os sonhos

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400. O Espírito encarnado sente-se à vontade no seu en-voltório corporal?

– É como se perguntasses se um prisioneiro se sente bem na prisão. O Espírito encarnado anseia sem cessar pela libertação, e quanto mais grosseiro for o envoltório, mais deseja livrar-se dele.

401. Durante o sono, a alma descansa, como o corpo?– Não. O Espírito nunca fica inativo. Durante o sono, os

laços que o prendem ao corpo se afrouxam, e como o corpo não precisa dele, ele percorre o espaço e entra em contato mais direto com outros Espíritos.

402. Como se pode ter uma idéia da liberdade do Espírito durante o sono?

– Pelos sonhos. Podes ter certeza de que, enquanto o cor-po descansa, o Espírito tem mais faculdades do que quando está acordado; lembra-se do passado e às vezes tem uma an-tevisão do futuro; adquire mais energia, e pode entrar em comunicação com outros Espíritos, seja neste ou num outro

mundo. Frequentemente dizes: Tive um sonho estranho, hor-rível, que nada tem a ver com a realidade. Estás enganado, é muitas vezes uma recordação dos lugares e das coisas que viste e que verás em outra existência ou noutro momento. Como o corpo está entorpecido, o Espírito trata de romper sua ligação com ele, investigando o passado ou o futuro.

Pobres homens, quão pouco sabeis sobre os fenômenos mais comuns da vida! Julgais-vos muito sábios, e as coisas mais simples vos confundem. Que fazemos quando dormi-mos? Que são sonhos? Diante dessas perguntas, que todas as crianças fazem, ficais perturbados.

O sono liberta, parcialmente, a alma do corpo. Quando dormimos, ficamos momentaneamente no estado em que o homem fica constantemente após a morte. Os Espíritos que, na hora da morte, logo se desligam da matéria, tiveram so-nos lúcidos. Esses, quando dormem, buscam a companhia dos seres que lhes são superiores: viajam, conversam e se instruem com eles. Chegam mesmo a trabalhar em obras que, ao morrerem, encontram concluídas. Mais uma vez, isso deve ensinar-vos a não temer a morte, pois morreis to-

dos os dias, conforme as palavras de um santo.

Isso quanto aos Espíritos eleva-dos. Quanto à maioria dos homens que, na hora da morte, devem passar longas horas na perturbação, na in-certeza de que já vos falaram, esses, durante o sono, vão a mundos infe-riores à terra, onde antigos amores os chamam, ou em busca de prazeres ainda mais baixos do que os que têm aqui; vão atrás de doutrinas ainda mais vis, mais desprezíveis, mais no-civas do que as que professam entre vós. E o que gera a simpatia na terra não é outra coisa senão o fato de, ao despertar, a pessoa sentir-se ligada pelo coração àqueles com quem aca-ba de passar oito a nove horas de fe-licidade ou de prazer. O que também explica as antipatias invencíveis é o fato de sabermos, em nosso íntimo, que as pessoas com quem antipatiza-

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• O sono e os sonhos

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mos têm uma consciência diferente da nossa, pois as conhe-cemos sem nunca tê-las visto com os olhos. É isso também o que explica a diferença, porque não procuramos fazer no-vos amigos quando sabemos que já temos outros que nos querem bem e nos amam. Em resumo: o sono influi mais na vossa vida do que pensais.

Graças ao sono, os Espíritos encarnados estão sempre em contato com o mundo dos Espíritos, e é isso que faz com que Espíritos superiores concordem, sem muita relutância, em encarnar entre vós. Deus determinou que, enquanto es-tiverem em contato com o vício, possam ir retemperar-se na fonte do bem, para que eles, que estão aqui para instruir os outros, não venham a fraquejar. O sono é a porta que Deus lhes abre para irem ao encontro dos seus amigos do céu; é o recreio após o trabalho, enquanto esperam a grande liber-tação, a libertação final, que deve levá-los de volta ao seu verdadeiro lugar.

O sonho é a lembrança do que vos-so Espírito viu durante o sono. Julgais, porém, que nem sempre sonhais, por-que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo que vistes. É que vossa alma não atingiu seu pleno desenvolvi-mento. Muitas vezes guardais apenas a lembrança da perturbação que se segue à vossa partida ou ao vosso regresso, a que se junta a recordação do que fizes-tes, ou do que vos preocupa quando acordados. Se não fosse assim, como ex-plicaríeis os sonhos absurdos que tanto as pessoas mais sábias como as mais simples têm? Os maus Espíritos também se servem dos sonhos para atormentar as almas fracas e sem energia.

Aliás, em breve ouvireis falar de uma outra espécie de sonhos; é tão an-tiga quanto a que conheceis, mas a ig-norais. O sonho de Joana d’Arc, o sonho de Jacó, o sonho dos profetas judeus e de alguns adivinhos indianos: esse sonho é uma lembrança da alma totalmente desligada do corpo, a lembrança da segunda vida de que há pouco vos falava..

Procurai distinguir bem essas duas espécies de sonhos dentre os que vos lembrais; sem isso, cairíeis em contradi-ções e erros que seriam desastrosos para vossa fé.

Os sonhos são resultado da emancipação da alma, que fica mais independente devido à suspensão da vida ativa e social. Daí uma espécie de clarividência indefinida, que se es-tende aos lugares mais distantes, ou a lugares que já vimos, e algumas vezes até mesmo a outros mundos. Daí, também, a lembrança que traz de volta à memória acontecimentos ocorridos na vida atual ou em existências anteriores; a estra-nheza das imagens do que acontece ou aconteceu em mundos desconhecidos que, misturados a coisas do mundo atual, for-mam esses aglomerados esquisitos e confusos que parecem

não ter sentido nem relação entre si.A incoerência dos sonhos explica-se, também, pelas

lacunas produzidas pela lembrança incompleta do que nos apareceu em sonho. O mesmo aconteceria com uma narra-tiva de que se tivessem omitido, ao acaso, frases ou parte de frases: os fragmentos que sobrassem, reunidos, não teriam qualquer significado racional.

403. Por que nem sempre nos lembramos dos sonhos?– No que chamais sono, só há o repouso do corpo, pois

o Espírito está sempre em atividade; é então que recupera um pouco da sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, quer neste mundo, quer em outros. Mas como o corpo é uma matéria pesada e grosseira, dificilmente con-serva as impressões recebidas pelo Espírito, porque o Espíri-to não as obteve através dos órgãos corporais.

404. Que pensar dos significados atribuídos aos sonhos?– Os sonhos não são realmente verídicos, como dizem

os adivinhos, pois é absurdo pensar-se que sonhar com de-terminada coisa prenuncie algo semelhante. São verídicos sob o ponto de vista de que apresentam imagens reais para o Espírito, mas que frequentemente não têm relação com o que acontece na vida corporal. Muitas vezes, também, como já dissemos, o sonho é uma lembrança e, finalmente, pode ser um pressentimento do futuro, se Deus o permite, ou a visão do que está acontecendo naquele instante em outro lugar, para onde a alma se transporta. Não tendes inúmeros exemplos de casos em que pessoas aparecem em sonho e vêm avisar seus parentes e amigos do que vai acontecer--lhes? Que são essas aparições senão a alma, ou o Espírito dessas pessoas que vêm comunicar-se com o vosso? Quando tendes certeza de que o que vistes realmente aconteceu, não é uma prova de que a imaginação de nada participou, prin-

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cipalmente se o acontecido não estava de modo algum no vosso pensamento quando acordados?

405. Muitas vezes vemos em sonho coisas que parecem pressentimentos e que não se realizam. A que se deve isso?

– Elas podem realizar-se para o Espírito, e não para o corpo, o que significa que o Espírito vê a coisa que deseja, porque vai ao seu encontro. Não se deve esquecer que, durante o sono, a alma fica mais ou menos sob a influência da matéria, e que, consequentemente, jamais se liberta com-pletamente das idéias terrestres; disso provém que as preocupações que se tem quando acordados po-dem dar ao que se vê a aparência do que se deseja ou do que se teme. Aí temos, realmente, o que se pode chamar de efeito da imaginação. Quando es-tamos vivamente preocupados com uma idéia, vinculamos a ela tudo o que vemos.

406. Quando vemos em sonho pessoas vivas, que conhe-cemos perfeitamente, praticarem atos de que absolutamente não cogitam, isso não é puro efeito da imaginação?

– ... de que absolutamente não cogitam... Que sabeis a respeito disso? Seu Espírito pode vir visitar o vosso, como o vosso pode visitar o delas, e nem sempre sabeis o que ele pensa. Aliás, muitas vezes também atribuís a pessoas que conheceis, e segundo vossos desejos, o que ocorreu ou está ocorrendo em outras existências.

407. O sono profundo é necessário para a libertação do Espírito?

– Não. O Espírito recupera sua liberdade quando os sen-tidos se entorpecem; para emancipar-se, ele se aproveita de todos os instantes de folga que o corpo lhe permite. Uma vez que as forças vitais estejam debilitadas, o Espírito se desprende, e quanto mais sem energia estiver o corpo, mais o Espírito se vê livre.

É assim que na sonolência, ou num simples entorpeci-mento dos sentidos, muitas vezes surgem as mesmas ima-gens que se apresentam no sonho.

408. Às vezes parece-nos ouvir em nosso íntimo palavras pronunciadas claramente e que não têm qualquer relação com o que nos preocupa. Qual é a razão disso?

– De fato, e podes ouvir até mesmo frases inteiras, prin-cipalmente quando os sentidos começam a ficar amorteci-dos. Às vezes é um eco fraquinho de um Espírito tentando comunicar-se contigo.

409. Frequentemente, num estado que ainda não é a so-nolência, quando estamos de olhos fechados, vemos imagens bem claras, figuras de que captamos os mínimos detalhes. É um efeito de visão ou de imaginação?

– Uma vez estando o corpo entorpecido, o Espírito pro-

cura partir a cadeia que o prende: ele se transporta e vê. Se o sono fosse profundo, o que viu seria um sonho.

410. Durante o sono, ou cochilando, às vezes temos idéias que nos parecem ótimas e que, apesar dos esforços que depois fazemos para lembrá-las, apagam-se da memória. De onde vêm essas idéias?

– São o resultado da liberdade do Espírito, que nesse momento se emancipa e goza mais plenamente das suas faculdades. Também são, frequentemente, conselhos dados por outros Espíritos.

410a. De que servem essas idéias e conselhos, uma vez que não nos lembramos deles e não podemos aproveitá-los?

– Algumas vezes, essas idéias pertencem mais ao mun-do dos Espíritos do que ao mundo físico. Geralmente, po-rém, embora o corpo esqueça, o Espírito lembra, e, no mo-mento adequado, a idéia reaparece como uma inspiração do momento.

411. O Espírito, nos instantes em que está desligado da matéria e age como Espírito, sabe qual será a época da sua morte?

– Com frequência a pressente, tem uma consciência bem nítida dessa época, e é o que, quando acordado, lhe dá a intuição disso. Por essa razão algumas pessoas, às vezes, prevêem sua morte com grande exatidão.

412. A atividade do Espírito durante o repouso ou sono do corpo pode fazer com que este se sinta cansado?

– Sim, porque o Espírito está preso ao corpo como um balão cativo preso a um poste; da mesma forma que as sa-cudidas do balão abalam o poste, a atividade do Espírito reage sobre o corpo e pode fazer com que se sinta cansado.

O Livro dos EspíritosCap. 8 - “Emancipação da Alma”

Allan KardecEditora do ConhECimEnto

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O princípio espiritual1. A existência do princípio espiritual é um fato que, por

assim dizer, tanto quanto o princípio material, não precisa de demonstrações; é, de certa forma, uma verdade axiomática: afirma-se por seus efeitos, como a matéria, pelos que lhe são próprios.

Segundo o princípio: “Tendo todo efeito uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente”, não há quem não perceba a diferença entre o movimento mecânico de um sino agitado pelo vento e o movimento do mesmo sino para dar um sinal, um aviso, atestando, por isso mesmo, um pensamento, uma intenção. Ora, como a ninguém pode ocor-rer a ideia de atribuir pensamento à matéria do sino, conclui--se que ele é movido por uma inteligência à qual ele serve de instrumento para que ela se manifeste.

Pela mesma razão, ninguém tem a ideia de atribuir pensamento ao corpo de um homem morto. Se o homem vivo pensa, então é porque há nele algo que não existe mais quando está morto. A diferença que há entre ele e o sino é que a inteligência que faz o sino mover-se está fora dele, ao passo que a que faz o homem agir está nele próprio.

2. O princípio espiritual é o corolário da existência de Deus; sem esse princípio, Deus não teria razão de ser, porque não se poderia conceber a suprema inteligência reinando durante a eternidade unicamente sobre a matéria bruta, do mesmo modo que não se conceberia um monarca terreno reinando durante toda a sua vida apenas sobre pedras. Como não se pode admitir Deus sem os atributos essenciais da Divindade: a justiça e a bondade, essas qualidades seriam inúteis se devessem ser exercidas só sobre a matéria.

3. Por outro lado, não se poderia conceber um Deus supremamente justo e bom criando seres inteligentes e sensíveis, para destiná-los ao nada, após alguns dias de sofrimentos sem compensações, comprazendo-se a observar a indefinida sucessão dos seres que nascem sem ter pedido, que pensam por um instante, apenas para conhecer a dor, e se extinguem para sempre, após uma existência efêmera.

Sem a sobrevivência do ser pensante, os sofrimentos da vida seriam, da parte de Deus, uma crueldade sem sentido. Eis por que o materialismo e o ateismo são corolários um do

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outro; ao negarem a causa, eles não podem admitir o efeito; ao negarem o efeito, não podem admitir a causa. O materialismo é, pois, coerente consigo mesmo, embora não o seja com a razão.

4. A ideia da perpetuidade do ser espiritual é inata no homem; está nele em estado de intuição e de aspiração; ele compreende que somente aí está a compensação para as misérias da vida, por isso sempre houve e sempre haverá mais espiritualistas do que materialistas, e mais deístas do que ateus.

À ideia intuitiva e à força do raciocínio, o espiritismo vem acrescentar a sanção dos fatos, a prova material da existência do ser espiritual, da sua sobrevivência, da sua imortalidade e da sua individualidade; ele especifica e define o que havia de vago e abstrato naquela ideia. Mostra-nos o ser inteligente atuando fora da matéria, quer depois, quer durante a vida do corpo.

5. O princípio espiritual e o princípio vital são uma coisa única e idêntica?

Partindo, como sempre, da observação dos fatos, dire-mos que, se o princípio vital fosse inseparável do princípio inteligente, haveria certa razão para que os confundíssemos; mas uma vez que se veem seres que vivem e não pensam, como as plantas; corpos humanos ainda animados de vida orgânica, quando já não existe qualquer manifestação do pensamento; uma vez que se produzem no ser vivo movimen-tos vitais independentes de qualquer atuação da vontade; que durante o sono a vida orgânica se acha em plena atividade, enquanto a vida intelectual não se manifesta por qualquer sinal exterior, há motivos para admitir-se que a vida orgâni-ca reside num princípio inerente à matéria, independente da vida espiritual que é inerente ao espírito. Visto que a matéria tem uma vitalidade independente do espírito, e que o espírito tem uma vitalidade independente da matéria, fica evidente que essa dupla vitalidade repousa em dois princípios diferen-tes (Cap. X, números 16 a 19).

6. O princípio espiritual teria sua fonte no elemento cósmico universal? Não passaria de uma transformação, um modo de existência desse elemento, como a luz, a eletricidade, o calor etc.?

Se assim fosse, o princípio espiritual sofreria as vicissi-tudes da matéria; ele se extinguiria pela desagregação, como o princípio vital; como o corpo, o ser inteligente teria apenas uma existência momentânea, e, ao morrer, voltaria ao nada, ou, o que daria na mesma, ao todo universal. Em resumo, isso seria a sanção das doutrinas materialistas.

As propriedades peculiares que se admitem como verda-deiras no princípio espiritual provam que ele tem existência própria, independente, uma vez que, se tivesse sua origem na matéria, ele não possuiria essas propriedades. Visto que a inteligência e o pensamento não podem ser atributos da matéria, remontando dos efeitos às causas chega-se à conclu-são de que o elemento material e o elemento espiritual são

dois princípios constitutivos do Universo. Individualizado, o elemento espiritual constitui os seres chamados espíritos, como o elemento material, individualizado, constitui os dife-rentes corpos da natureza, orgânicos e inorgânicos.

7. Uma vez admitido o ser espiritual, e não podendo sua origem estar na matéria, qual é o seu princípio, seu ponto de partida?

“Ao mesmo tempo que, desde o início dos tempos, Deus criou mundos materiais, ele criou igualmente seres espirituais. Sem isso, os mundos materiais não teriam propósito.”

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Aqui, os meios de investigação fracassam completamen-te, como em tudo que diz respeito ao princípio das coisas. O homem só pode constatar o que existe; quanto ao restante, apenas pode formular hipóteses, e, quer porque esse conheci-mento esteja acima da capacidade da sua inteligência atual, quer por ser-lhe inútil ou inconveniente possuí-lo agora, Deus não lho dá, nem mesmo pela revelação.

O que Deus lhe revela por seus mensageiros e que, aliás, o próprio homem poderia deduzir do princípio da suprema justiça que é um dos atributos essenciais da Divindade, é que todos têm um mesmo ponto de partida; que todos são criados simples e ignorantes, com igual aptidão para pro-gredir por sua atividade individual; que todos atingirão, por seus esforços pessoais, o grau de perfeição compatível com a criatura; que todos, sendo filhos do mesmo Pai, são obje-to de igual solicitude; que não há um mais favorecido ou melhor dotado do que outros, nem dispensado do trabalho imposto a outros para atingir a meta.

8. Ao mesmo tempo que, desde o início dos tempos, Deus criou mundos materiais, ele criou igualmente seres espirituais. Sem isso, os mundos materiais não teriam pro-pósito. Talvez se concebesse melhor os seres espirituais sem os mundos materiais, do que estes sem os seres espirituais. Os mundos materiais é que deviam fornecer aos seres espiri-tuais elementos de atividade para o desenvolvimento da sua inteligência.

9. Progredir é a condição normal dos seres espirituais, e a perfeição relativa é a meta que devem atingir; ora, tendo--os criado Deus desde toda a eternidade, e criando-os sem cessar desde o início dos tempos, haverá seres que atingiram o ponto culminante da escala.

Antes que a Terra existisse, mundos sucederam-se a mundos, e quando a Terra saiu do caos dos elementos, o espa-ço estava povoado por seres espirituais em todos os graus de adiantamento, indo dos que nasciam para a vida aos que, desde toda a eternidade, se haviam alinhado entre os puros espíritos, comumente chamados anjos.

União do princípio espiritual à matéria

10. Devendo a matéria ser o objeto de trabalho do espí-rito para o desenvolvimento das suas faculdades, era neces-sário que ele pudesse atuar sobre ela, por isso veio habitá-la, como o lenhador mora na floresta. Devendo a matéria ser, ao mesmo tempo, objeto e instrumento de trabalho, Deus, em vez de unir o espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de receber-lhe todas as impulsões da vontade e adequar-se a todos os seus movi-mentos.

Portanto, o corpo é ao mesmo tempo o invólucro e o instrumento do espírito, e, à medida que este adquire novas aptidões, ele assume um invólucro apropriado à nova espécie de trabalho que deve executar, assim como se dá a um arte-

são instrumentos menos rudimentares à medida que este se mostra capaz de fazer um trabalho mais bem acabado.

11. Para ser mais exato, deve-se dizer que é o próprio espírito que modela seu envoltório e o adapta às suas novas necessidades; ele o aperfeiçoa, desenvolve-lhe e completa-lhe o organismo à medida que sente necessidade de manifestar novas faculdades; em resumo, coloca-o à altura da sua inteli-gência. Deus lhe fornece os materiais; cabe a ele empregá-los. É assim que as raças avançadas têm um organismo ou, se o pre-ferirmos, um equipamento cerebral mais aperfeiçoado do que o das raças primitivas. Assim se explica, igualmente, o cunho especial que o caráter do espírito imprime aos traços fisionô-micos e à expressão corporal (cap. VIII, no. 7: Alma da Terra).

12. Desde que um espírito nasce para a vida espiritual, ele deve, para seu adiantamento, fazer uso das suas faculda-des, a princípio rudimentares; eis por que assume um envol-tório corporal apropriado ao seu estado de infância intelectu-al, envoltório que ele abandona para assumir outro, à medida que suas forças aumentam. Ora, como em todos os tempos houve mundos, e como esses mundos deram origem a corpos organizados aptos a receber espíritos, em todos os tempos os espíritos, não importa qual fosse seu grau de adiantamento, encontraram os elementos necessários à sua vida carnal.

13. Sendo exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Após ter funcionado por algum tempo, ele se desorganiza e se decompõe; não encontrando mais elementos para sua atividade, o princípio vital se extin-gue e o corpo morre. O espírito, para quem, privado de vida, o corpo deixa de ter utilidade, abandona-o, como se abandona uma casa em ruínas ou uma roupa imprestável.

14. Portanto, o corpo não passa de um invólucro desti-nado a receber o espírito; assim sendo, pouco importa sua origem e os materiais de que é construído. Quer seja uma criação especial ou não, o corpo do homem não deixa de ser formado de elementos iguais aos do corpo dos animais, ani-mado pelo mesmo princípio vital, ou melhor, aquecido pelo mesmo fogo, da mesma forma que é iluminado pela mesma luz, está sujeito às mesmas vicissitudes e às mesmas neces-sidades. Este é um ponto sobre o qual não há controvérsias.

Considerando-se só a matéria, e abstraindo o espírito, o homem não tem nada que o distinga do animal; mas tudo muda de aspecto quando se faz uma distinção entre a habi-tação e o habitante.

Numa choupana, ou com os trajes grosseiros de um campo-nês, um fidalgo não deixa de ser fidalgo. O mesmo acontece com o homem; não é sua veste de carne que o eleva acima do animal e faz dele um ser à parte, é o seu ser espiritual, seu espírito.

A Gênese – Allan Kardeccap XII “Gênese espiritual”

Editora do ConhECimEnto

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PERGUNTA: — Como poderíamos lograr desfazer esse condicionamento biológico da alimentação carnívora, sem sofrermos a violência de uma substituição radical?

RAMATÍS: — Alhures já vos temos dito que os peixes, os mariscos e os crustáceos são “corpos coletivos”, correspon-dentes a um só “espírito-grupo”, que lhes dirige o instinto e gera-lhes uma reação única e igual em toda a espécie. Um peixe, fora d’água ou dentro dela, manifesta sempre a mesma reação, igual e exclusiva, de todos os demais peixes do mesmo tipo. Entre milhões de peixes iguais, não conseguireis distin-guir uma única reação diferente no conjunto. No entanto, inúmeras outras espécies animais já revelam princípios de consciência; podem ser domesticadas e realizar tarefas distin-tas entre si. O boi, o suíno, o cão, o gato, o macaco, o carneiro, o cavalo, o elefante, o camelo, já revelam certo entendimento consciencial a parte, em relação às várias funções que são chamados a exercer. Eles requerem, cada vez mais, a vossa atenção e auxílio, a fim de se afirmarem num sentimento evo-lutivo para outros planetas, nos quais as suas raças poderão alcançar melhor desenvolvimento, no comando de organis-mos mais adequados às suas características. Quando o seu psiquismo se credenciar para o comando de cérebros huma-nos, as suas constituições psicoastrais poderão então retor-nar ao vosso globo e operar na linha evolutiva do homem terrícola. Eis o motivo por que Jesus nunca sugeriu aos seus discípulos que praticassem a caça ou a matança doméstica, mas aconselhou-os a que lançassem as redes ao mar.

Fisiologia da AlmaRamatís / Hercílio Maes

Editora do ConhECimEnto

O estudo do sono nos fornece indicações de grande impor-tância sobre a natureza da personalidade. Em geral, não se aprofunda muito com relação ao mistério do sono. Contudo, o exame atento desse fenômeno, ou seja, o estudo da alma e de sua forma fluídica durante a parte da existência que consa-gramos ao descanso conduzir-nos-á a uma compreensão mais acurada das condições do ser na vida do Além.

O sono possui não só propriedades restauradoras a que a ciência não conferiu o devido relevo, mas também um poder de coordenação e centralização sobre o organismo material. Ele pode, além disso, como acabamos de ver, provocar uma ampliação considerável das percepções psíquicas, bem como maior intensidade do raciocínio e da memória.

O que é, então, o sono? É simplesmente o desprendimento da alma, que sai do corpo. Diz-se: o sono é irmão da morte. Essas palavras exprimem uma verdade profunda. Sequestrada na carne, no estado de vigília, a alma recupera, durante o sono, sua liberdade relativa, temporária e, ao mesmo tempo, o uso de seus poderes ocultos. A morte será sua libertação completa, definitiva.

Já nos sonhos, vemos os sentidos da alma – esses sentidos psí-quicos, dos quais os do corpo são a manifestação externa e amor-tecida – entrarem em ação. À medida que as percepções externas se enfraquecem e se apagam, quando os olhos estão fechados, e o ouvido, suspenso, outros meios mais poderosos despertam nas profundezas do ser. Vemos e ouvimos com os sentidos internos. Imagens, formas, cenas a distância se sucedem e se desenrolam; travam-se conversas com pessoas vivas ou falecidas. Esse movi-mento, muitas vezes incoerente e confuso no sono natural, adquire precisão e aumenta com o desprendimento da alma no sono provo-cado, no transe de sonambulismo e no estado de êxtase.

Às vezes, a alma se afasta durante o descanso do corpo, e são as impressões de suas viagens, os resultados de suas indagações, de suas observações que se traduzem no sonho. Nesse estado, um laço fluídico ainda a liga ao organismo material, e, por esse vínculo sutil, espécie de fio condutor, as impressões e as vontades da alma podem se transmitir ao cérebro. É pelo mesmo processo que, nas outras formas do sono, a alma governa seu invólucro terrestre, fiscaliza-o, dirige-o. Essa direção, no estado de vigília, durante a incorporação, exercita-se de dentro para fora; efetuar--se-á em sentido inverso, nos diferentes estados de desprendi-mento. A alma, emancipada, continuará a influenciar o corpo, mediante o laço fluídico que continuamente liga o corpo à alma. Desde esse momento, com seu poder psíquico reconstituído, a alma exercerá sobre o organismo carnal uma direção mais eficaz e segura. A marcha dos sonâmbulos à noite, em lugares perigosos e com inteira segurança, é uma demonstração evidente disso.

O Problema do Ser e do DestinoLeon Denis

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Necessidade da eNcarNação

25. A encarnação é uma punição? Somente os espíritos culpados estão sujeitos a ela?

A passagem dos espíritos pela vida corpórea é neces-sária para que eles possam cumprir, com a ajuda das ações características do plano material, os desígnios que Deus lhes confiou. Portanto, ela é necessária para o seu próprio bem, pois as atividades a que se vêem obrigados a exercer contri-buem para o desenvolvimento da inteligência. Sendo sobe-ranamente justo, Deus tem a mesma consideração para com todos os Seus filhos. É por isso que dá a todos o mesmo pon-to de partida, a mesma capacidade, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de ação. Qualquer privilé-gio seria uma preferência, e toda preferência, uma injustiça. Assim, para todos os espíritos, a encarnação é apenas um estado transitório; é uma tarefa que Deus lhes impõe no iní-cio da existência, como primeira prova do uso que farão do livre-arbítrio. Aqueles que executam essa tarefa com zelo,

vencem mais rapidamente e menos arduamente os primeiros degraus da iniciação, e gozam mais cedo do fruto dos seus esforços. Ao contrário, os que fazem mau uso da liberdade que Deus lhes concedeu, retardam o seu progresso. É assim que, por negligência, podem prolongar indefinidamente a ne-cessidade de reencarnar, e é então que a encarnação se trans-forma num castigo. (São LuíS, Paris, 1859).

26. Observação: Uma simples comparação fará com que se entenda melhor essa diferença. O estudante só consegue graduar-se em Ciências após ter cursado todas as séries es-colares. Seja qual for o empenho que lhe é exigido, essas sé-ries são o único meio para atingir o seu objetivo, e não uma punição. O aluno estudioso executa melhor essa caminhada, encontrando nela menos dificuldades. O mesmo não ocorre com aquele que negligencia os estudos por preguiça, acaban-do por repetir algumas séries. Não é o trabalho escolar que se torna uma punição, mas a obrigação de ter que fazer no-vamente o mesmo trabalho.

Assim acontece com o homem na Terra. Para o espírito do selvagem, que está quase no início da vida espiritual, a encarnação é um meio de desenvolver sua inteligência. Mas para o homem esclarecido, em quem o senso moral se encon-tra amplamente desenvolvido, e que é obrigado a repetir eta-pas de uma existência corpórea cheia de angústias quando já poderia ter alcançado a ventura, torna-se um castigo a neces-sidade de prolongar sua permanência em mundos inferiores e infelizes. Aquele que, ao contrário, trabalha ativamente para o seu progresso moral pode não apenas abreviar a duração de sua encarnação material, mas também transpor de uma só vez os graus intermediários que o separam dos mundos superiores.

Os espíritos não poderiam encarnar uma única vez no mesmo globo e cumprir outras existências em esferas diferentes?

Essa suposição só seria admissível se todos os homens encarnados na Terra estivessem exatamente no mesmo ní-vel intelectual e moral. As diferenças existentes entre eles, do selvagem ao homem civilizado, mostram os degraus que precisam subir. Além do mais, a encarnação deve ter uma fi-nalidade útil. Então, qual seria o objetivo das encarnações de crianças que morrem em tenra idade? Apenas teriam sofrido sem proveito para si, ou para os outros. Mas Deus, cujas leis são todas soberanamente sábias, nada faz de inútil. E por isso quis que os mesmos espíritos, reencarnando no mesmo globo, numa nova oportunidade de contato, tivessem a chan-ce de reparar suas faltas recíprocas. Quis ainda estabelecer laços de família sobre uma base espiritual, considerando suas relações anteriores, e apoiar numa lei natural os princí-pios de solidariedade, de fraternidade e de igualdade.

É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.