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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Há tendências viciosas que, evidentemente, são inerentes ao espírito, porque têm a ver mais com o moral do que com o físico; outras parecem antes uma consequência do organismo, e, por esse motivo, cremo-nos menos responsáveis por elas: tais são as predisposições à cólera, ao desânimo, à sensuali- dade, etc. Hoje, é perfeitamente admitido pelos filósofos espiritu- alistas que os órgãos cerebrais, correspondentes às diversas aptidões, devem seu desenvolvimento à atividade do espírito; que esse desenvolvimento é, portanto, um efeito e não uma causa. Um homem não é músico por ter na superfície óssea do crânio a protuberância da música, mas tem essa protube- rância porque seu espírito é musical. Se a atividade do espírito atua sobre o cérebro, deve atuar igualmente sobre as outras partes do organismo. O espírito é, assim, o artífice do seu pró- prio corpo, que ele modela, por assim dizer, a fim de adequá-lo às suas necessidades e à manifestação das suas tendências. Isto posto, a perfeição do corpo das raças adiantadas não seria produto de criações dis- tintas, mas o resultado do trabalho do espírito, que aperfeiçoa sua ferramenta à medida que suas facul- dades aumentam. Por uma consequência natural deste princípio, as disposições morais do espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou menor ativi- dade, provocar uma secreção mais abundante de bílis ou de outros fluidos. É assim, por exemplo, que o glu- tão sente a boca salivar diante de um prato apetitoso. Não é a comida que consegue excitar o órgão do pala- dar, já que não há contato; é, portanto, o espírito, cuja sensibilidade é despertada, que atua, pelo pensamen- to, sobre aquele órgão, ao passo que, sobre um outro, a visão da mesma iguaria não produz qualquer efeito. É também pelo mesmo motivo que uma pessoa sensí- vel chora facilmente; não é a abundância de lágrimas que dá sensibilidade ao espírito, mas a sensibilidade do espírito que provoca a secreção abundante das lágrimas. Sob a influência da sensibilidade, o organis- mo se apropriou dessa disposição normal do espírito, como se apropriou da do espírito glutão. Seguindo esta ordem de ideias, compreende-se que um espírito irascível deve incitar um tempe- ramento bilioso; donde se conclui que um homem não é colérico por ser bilioso, mas é bilioso porque é colérico. O mesmo acontece com todas as outras disposições instintivas; um espírito frouxo e indolente deixará seu orga- nismo num estado de atonia compatível com seu caráter, ao passo que, se for ativo e enérgico, dará ao seu sangue, aos seus nervos qualidades bem diferentes. A ação do espírito sobre o físico é tão evidente, que frequentemente veem-se graves desordens orgânicas se produzirem como resultado de violentas comoções morais. A expressão popular: A emoção o deixou fora de si, não é tão destituída de sentido quanto se poderia supor; ora, que poderia deixar alguém fora de si senão as disposições morais do espírito? Pode-se, portanto, admitir que o temperamento é, pelo Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 8 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL A carne é fraca

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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1

Há tendências viciosas que, evidentemente, são inerentes ao espírito, porque têm a ver mais com o moral do que com o físico; outras parecem antes uma consequência do organismo, e, por esse motivo, cremo-nos menos responsáveis por elas: tais são as predisposições à cólera, ao desânimo, à sensuali-dade, etc.

Hoje, é perfeitamente admitido pelos filósofos espiritu-alistas que os órgãos cerebrais, correspondentes às diversas aptidões, devem seu desenvolvimento à atividade do espírito; que esse desenvolvimento é, portanto, um efeito e não uma causa. Um homem não é músico por ter na superfície óssea do crânio a protuberância da música, mas tem essa protube-rância porque seu espírito é musical.

Se a atividade do espírito atua sobre o cérebro, deve atuar igualmente sobre as outras partes do organismo. O espírito é, assim, o artífice do seu pró-prio corpo, que ele modela, por assim dizer, a fim de adequá-lo às suas necessidades e à manifestação das suas tendências. Isto posto, a perfeição do corpo das raças adiantadas não seria produto de criações dis-tintas, mas o resultado do trabalho do espírito, que aperfeiçoa sua ferramenta à medida que suas facul-dades aumentam.

Por uma consequência natural deste princípio, as disposições morais do espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou menor ativi-dade, provocar uma secreção mais abundante de bílis ou de outros fluidos. É assim, por exemplo, que o glu-tão sente a boca salivar diante de um prato apetitoso. Não é a comida que consegue excitar o órgão do pala-dar, já que não há contato; é, portanto, o espírito, cuja sensibilidade é despertada, que atua, pelo pensamen-to, sobre aquele órgão, ao passo que, sobre um outro, a visão da mesma iguaria não produz qualquer efeito. É também pelo mesmo motivo que uma pessoa sensí-vel chora facilmente; não é a abundância de lágrimas que dá sensibilidade ao espírito, mas a sensibilidade do espírito que provoca a secreção abundante das lágrimas. Sob a influência da sensibilidade, o organis-mo se apropriou dessa disposição normal do espírito, como se apropriou da do espírito glutão.

Seguindo esta ordem de ideias, compreende-se que um espírito irascível deve incitar um tempe-ramento bilioso; donde se conclui que um homem não é colérico por ser bilioso, mas é bilioso porque é

colérico. O mesmo acontece com todas as outras disposições instintivas; um espírito frouxo e indolente deixará seu orga-nismo num estado de atonia compatível com seu caráter, ao passo que, se for ativo e enérgico, dará ao seu sangue, aos seus nervos qualidades bem diferentes. A ação do espírito sobre o físico é tão evidente, que frequentemente veem-se graves desordens orgânicas se produzirem como resultado de violentas comoções morais. A expressão popular: A emoção o deixou fora de si, não é tão destituída de sentido quanto se poderia supor; ora, que poderia deixar alguém fora de si senão as disposições morais do espírito?

Pode-se, portanto, admitir que o temperamento é, pelo

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraConhecendo a Doutrina Espírita – 8

Estudos doutrinários do GEAELGEAEL

• A carne é fraca

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2 Conhecendo a Doutrina Espírita

A mentePerguntA: — Poderíeis explicar-nos algo proveitoso sobre a mente?

RAMATÍS: — A mente é o principal meio de ação do espírito sobre as formas ocultas ou visíveis da matéria; é res-ponsável por todas as criações e metamorfoses da vida. Há muitos séculos, já se citava, na Terra, o sábio aforismo hindu: “o homem se converte naquilo que pensa”; equivalente, também, ao conceito ocidental de que “O homem é o produto do que pensa”. O poder, ou a energia mental própria de todo espírito, serve para realizar seus objetivos, de conformidade com as aspirações da consciência. É um reflexo do poder do pensamento emanado da Mente Divina, manifestado através dos espíritos imortais.

O espírito do homem aciona, pelo pensamento, a energia sutilíssima da mente e atua, de imediato, através do duplo etérico, no corpo físico, onde cessa o impulso gerado no mundo oculto. Sob o processo mental, produzem-se modificações incessantes nas relações do indivíduo com o ambiente e as pessoas. Em conseqüência, o homem é o resultado exato do seu pensamento, porque a mente é o seu guia, em qualquer plano da vida. A mente, enfim, é a usina da inteligência, do progresso moral, físico, científico, artístico ou espiritual. É a base da felicidade ou da desventura, da saúde ou da doença, do sucesso ou da fracasso. A atitude mental pessimista do ser estigmatiza-lhe, nas faces, o temor, o desânimo ou a velhice prematura, enquanto os pensamentos otimistas dão juventude ao rosto velho, coragem ao fraco e desanuviam os aspectos desagradáveis. Através das diversas vidas físicas, o espírito educa e aprende a governar suas forças mentais, até plasmar sua forma angélica e usufruir a Ventura Eterna.

O homem pensa pela mente, sente pelo astral e age pelo físico. Sofre, por conseguinte, o bem ou mal que pensar, pois, há pensamentos destruidores e há pensamentos construtivos. O pensamento, sendo imaterial, possui um poder maior do que as realidades físicas. E deve conhecer, tanto quanto possível, a ação e o mecanismo da mente, a fim de governá-la como senhor, e não, ser seu escravo.

Sob a Luz do espiritismo

Ramatís / Hercílio MaesEditora do ConhECimEnto

menos em parte, determinado pela natureza do espírito, que é causa e não efeito. Dizemos em parte, porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o moral; por exemplo, quando um estado mórbido ou anormal é determinado por uma causa externa, acidental, independente do espírito, como a temperatura, o clima, os defeitos físicos congênitos, uma indisposição passageira, etc. O moral do espírito pode então ser afetado nas suas manifestações pelo estado patológico, sem que sua natureza intrínseca seja modificada.

Eximir-se das suas faltas pondo a culpa na fraqueza da carne, não passa de um subterfúgio para escapar à respon-sabilidade. A carne só é fraca porque o espírito é fraco, o que inverte a questão, e deixa ao espírito a responsabilidade por todos os seus atos. A carne, que não tem pensamento nem vontade, jamais prevalece sobre o espírito, que é o ser pensante e com vontade própria; é o espírito que dá à carne as qualidades correspondentes aos seus instintos, como um artista imprime à sua obra material a chancela do seu gênio. Liberto dos instintos da bestialidade, o espírito modela para si um corpo que não é mais um tirano para suas aspirações rumo à espiritualidade do seu ser; e é então que o homem come para viver, porque viver é uma necessidade, mas não vive mais para comer.

A responsabilidade moral dos atos da vida permanece, portanto, intata; mas a razão diz que as consequências dessa responsabilidade devem ser proporcionais ao desenvolvimen-to intelectual do espírito; quanto mais esclarecido for, menos desculpável é, porque com a inteligência e o senso moral nas-cem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.

Esta lei explica o insucesso da Medicina em certos casos. Visto que o temperamento é um efeito e não uma causa, os esforços tentados para modificá-lo são necessariamente anu-lados pelas disposições morais do espírito, que lhe opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica. É, pois, sobre a causa primeira que se deve atuar. Dai, se possí-vel, coragem ao poltrão, e vereis cessar os efeitos fisiológicos do medo.

Isto prova uma vez mais a necessidade, para o ato de curar, de levar em conta a ação do elemento espiritual sobre o organismo. (revista espírita, março de 1869.)

O Céu e o InfernoAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

A carne só é fraca porque o espírito é fraco!

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III - espírito e matériaNão há efeito sem causa; nada procede do nada. Esses são

axiomas, isto é, verdades incontestáveis. Ora, como se constata em cada um de nós a existência de forças e de poderes que não podem ser considerados como materiais, há a necessidade, para explicar sua causa, de se chegar a uma outra fonte além da matéria, a esse princípio que chamamos alma ou espírito.

Quando, descendo ao fundo de nós mesmos, querendo aprender a nos conhecer, a analisar nossas faculdades; quando, afastando de nossa alma a borra que a vida acumula, o espesso envelope de preconceitos, erros e sofismas que têm revestido nossa inteligência; penetrando nos recessos mais íntimos de nosso ser, encontramo-nos face a face com esses princípios au-gustos sem os quais não haveria grandeza para a humanidade: o amor ao bem, o sentimento de justiça e de progresso. Esses princípios, que se encontram em diversos graus, tanto entre os ignorantes quanto entre os homens de gênio, não podem vir da matéria, desprovida que está de tais atributos. E se a matéria não possui essas qualidades, como poderia formar, sozinha, os seres que delas são dotados? O senso do belo e do verdadeiro, a admiração que sentimos pelas grandes e generosas obras, não poderia ter a mesma origem que a carne de nossos membros ou o sangue de nossas veias. Está lá, na sua maior parte, como os reflexos de uma luz sublime e pura que brilha em cada um de nós, da mesma forma que o sol se reflete sobre as águas, quer estejam perturbadas ou límpidas.

Em vão se pretende que tudo seja matéria. E apesar de que ainda que nos ressintamos de poderosos impulsos de amor e de bondade, já conseguimos amar a virtude, o devota-mento, o heroísmo; o sentimento da beleza moral está grava-do em nós; a harmonia das coisas e das leis nos penetra, nos arrebata. E, com tudo isso, nada nos distinguiria da matéria? Sentimos, amamos, possuímos consciência, vontade e razão e procederíamos de uma causa que não encerra essas qualida-des em nenhum grau, de uma causa que não sente, não ama nem conhece nada, que é cega e muda? Superiores à força que nos produziu, seríamos mais perfeitos e melhores que ela!

Uma tal maneira de ver não suporta um exame. O ho-

mem participa de duas naturezas. Por seu corpo, por seus órgãos, deriva da matéria; por suas faculdades intelectuais e morais, é espírito.

Dizendo ainda mais exatamente, relativamente ao corpo humano, os órgãos que compõem essa admirável máquina são semelhantes a rodas incapazes de agir sem um motor, sem uma vontade que as coloque em ação. Esse motor é a alma. Um ter-ceiro elemento religa os dois outros, transmitindo aos órgãos as ordens do pensamento. Esse elemento é o perispírito, matéria etérea que escapa aos nossos sentidos. Envolve a alma, acompa-nha-a após a morte nas suas peregrinações infinitas, depuran-do-se, progredindo com ela, constituindo um corpo diáfano, va-poroso. Voltaremos, mais adiante, a comentar sobre a existência desse perispírito, chamado também de duplo fluídico.1

O espírito jaz na matéria como um prisioneiro em sua cela; os sentidos são as aberturas pelas quais se comunica com o mundo exterior. Mas, enquanto a matéria, cedo ou tarde, de-clina, periclita e se desagrega, o espírito aumenta em poder, fortifica-se pela educação e experiência. Suas aspirações se en-grandecem, se estendem para além da túmulo; sua necessidade de saber, de conhecer e de viver não tem limites. Tudo mostra que o ser humano pertence apenas temporariamente à matéria. O corpo não é senão uma vestimenta emprestada, uma forma passageira, um instrumento com a ajuda do qual a alma pros-segue, nesse mundo, sua obra de depuração e de progresso. A vida espiritual é a vida normal, verdadeira, sem fim.

1 Após alguns anos, uma certa escola se esforçou em substituir o dualismo da matéria e do espírito pela teoria da unidade de substância. Para ela a matéria e o espírito são estados diversos de uma só e mesma substância que, na sua evolução eterna, se afina, se depura, tornando-se inteligente e consciente. Sem abordar aqui a questão de fundo, que necessita de longos desenvolvimentos, é preciso reconhecer que a idéia que até agora se fazia da matéria estava errada. Graças às descobertas de Crookes, Becquerel, Curie, Lebon, a matéria nos aparece hoje sob estados muito sutis e, nesses estados, reveste-se de propriedades infinitamente variadas. Sua flexibilidade é extrema. A um certo grau de rarefação, transforma--se em energia. G. Lebon pode dizer, com aparente razão, que a matéria não é mais que a energia condensada e a energia, a matéria dissociada. Quanto a deduzir desses fatos que a energia inteligente, em um momento dado de sua evolução, torna-se consciente, é ainda uma hipótese. Para nós, há, entre o ser e o não ser, uma diferença de essência. Por outro lado, o monismo Haeckelien, recusando ao espírito humano uma vida independente do corpo e rejeitando toda noção de sobrevivência, termina logicamente nas mesmas conseqüências que o materialismo positivista e incorre nas mesmas críticas.

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4 Conhecendo a Doutrina Espírita

O espiritismo expandiu-se, invadiu o mundo. De início menosprezado, amaldiçoado, acabou por atrair a atenção e despertar interesse. Todos os que não se conservaram nas raias dos preconceitos e da rotina e que o abordaram com sinceridade, foram por ele conquistados. Agora, penetra por toda parte, senta-se em todas as mesas, toma lugar em todos os lares. A seus apelos, as velhas fortalezas seculares, a Ciência e a Igreja, até aqui, por si mesmas, herméticamente fechadas, abaixam suas muralhas, entreabrindo seus resultados. Logo se imporá como um mestre.

No Invisível – Léon Denis

Iv - harmonia do universoVimos acima a existência em nós de um princípio inteli-

gente e racional; retornamos agora até a fonte de onde decor-re para explicar sua origem pelo encadeamento das causas e dos efeitos. Os homens chamam essa fonte, na sua pobre e insuficiente linguagem, de Deus.

Deus é o centro de onde emanam e para onde retornam to-das as potências do Universo. Ele é o foco de onde se irradia toda idéia de justiça, solidariedade e amor; o objetivo comum para o qual todos os seres se encaminham, consciente ou inconsciente-mente. É de nosso relacionamento com o grande Arquiteto dos mundos que decorrem a harmonia universal, a comunidade e a fraternidade. Para sermos irmãos, com efeito, é preciso haver um pai comum, e esse pai somente pode ser Deus.

Deus, dirá você, tem estado presente sob aspectos tão es-tranhos, por vezes tão revoltantes para os homens crentes, que o espírito moderno se está afastando d’Ele. Mas que im-portam essas divagações sectárias? Pretender que Deus possa ser diminuído pelos propósitos dos homens equivale a dizer que o monte Branco e o Himalaia possam ser manchados pelo sopro de um mosquito. A verdade paira radiosa, deslum-brante, bem acima das obscuridades teológicas.

Para entrever esta verdade, o pensamento deve se desli-gar das regras estreitas, das práticas vulgares, rejeitar as for-mas pueris com as quais certas religiões têm envolvido o su-premo ideal. Deve estudar Deus na majestade de suas obras.

Na hora em que tudo repousa nas nossas cidades, quan-do a noite está transparente e o silêncio se faz sobre a terra adormecida, então, ó homens, meus irmãos, elevem seus olhos e contemplem o infinito dos céus!

Observem a marcha ritmada dos astros, evoluindo nas pro-fundezas. Esses fogos inumeráveis são mundos perto dos quais a Terra não é mais que um átomo, sóis prodigiosos contornados por cortejos de esferas e dos quais as distâncias espantosas que nos separam se medem por milhões de anos-luz. Por isso nos parecem simples pontos luminosos. Mas, dirijam para eles esse olho colossal da ciência, o radio telescópio, e vocês distinguirão suas superfícies, semelhantes a oceanos em chamas.

Procurem em vão contá-los; eles se multiplicam até nas regiões mais remotas e confundem-se na distância, como uma poeira luminosa. Observem também, como sobre os mundos vizinhos da Terra se desenham os vales e as montanhas, mares são cavados, nuvens se movem. Reconheçam que as manifes-tações da vida se produzem por toda parte, e que uma ordem admirável une, sob leis uniformes e por destinos comuns, a Terra e seus irmãos, os planetas errantes no infinito. Verifi-quem que todos esses mundos, habitados por outras socie-dades humanas, se agitam, se afastam e aproximam dotados

de velocidades diversas, percorrendo orbes imensos; por todo lado o movimento, a atividade e a vida se mostram em um espetáculo grandioso. Observem nosso próprio globo, a Terra, que parece nos dizer: “Vossa carne é a minha, vossos entes minhas crianças”. Observem-na, esta grande ama de leite da humanidade; vejam a harmonia de seus contornos, seus conti-nentes, no seio dos quais as nações germinam e crescem, seus vastos oceanos sempre em movimento; acompanhem a reno-vação das estações revestindo-a, cada vez, de verdes adornos ou de louras colheitas; contemplem os seres vivos que a po-voam: pássaros, insetos, plantas e flores; cada um deles é um cinzelado maravilhoso, uma jóia do estojo divino. Observem a si mesmos; vejam o desempenho admirável de seus órgãos, o mecanismo maravilhoso e complicado de seus sentidos. Que gênio humano poderia imitar essas delicadas obras-primas?

Considerem todas essas coisas e perguntem à sua ra-zão se tanta beleza, esplendor e harmonia, podem resultar do acaso, ou se não existe, sobretudo, uma causa inteligente presidindo a ordem do mundo e a evolução da vida. E se vo-cês me opusessem os flagelos, as catástrofes, tudo o que vem perturbar essa ordem admirável, lhes responderia: Sondem os problemas da natureza, não se fixem na superfície, desçam ao fundo das coisas e descobrirão, com surpresa, que as aparen-tes contradições mais não fazem que confirmar a harmonia geral, que são úteis ao progresso dos seres, único propósito da existência.

Se Deus fez o mundo, replicam triunfalmente certos ma-terialistas, quem então fez Deus? Esta objeção não tem sen-tido. Deus não é um ser que se junte à série dos seres. Ele é o Ser universal, sem limites no tempo e no espaço, por con-sequência infinito, eterno. Não pode haver nenhum ser acima nem ao lado dele. Deus é a fonte e o princípio de toda vida. É por ele que se religam, unem e harmonizam todas as forças individuais, e que sem Ele estariam isoladas e divergentes.

Abandonadas a si mesmas, não estando regidas por uma lei, uma vontade superior, essas forças não teriam produzido senão confusão e caos. O fato de existir um plano geral, um propósito comum, do qual participem todos as potências do universo, prova a existência de uma causa, uma inteligência suprema, que é Deus.

v - As vidas sucessivasComo tínhamos dito o homem deve antes de tudo apren-

der a se conhecer a fim de clarear seu porvir. Para caminhar com passo firme, precisa saber para onde vai. É conforman-do seus atos com as leis superiores que o homem trabalhará eficazmente para a própria melhoria e do meio social. O im-portante é discernir essas leis, determinar os deveres que elas

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nos impõem, prever as consequências de suas ações. O dia em que estiver compenetrado da grandeza de sua função, o ser humano poderá melhor se desapegar daquilo que o diminui e rebaixa; poderá se governar com sabedoria, preparar por seus esforços a união fecunda dos homens em uma grande família de irmãos.

Mas estamos longe desse estado de coisas. Ainda que a humanidade avance na via do progresso, pode-se dizer, entre-tanto, que a imensa maioria de seus membros caminha pela via comum, em meio à noite escura, ignorante de si mesma, nada compreendendo do propósito real da existência.

Espessas trevas obscurecem a razão humana. As radia-ções da verdade chegam empalidecidas, enfraquecidas, impo-tentes para aclarar as rotas sinuosas trilhadas pelas inumerá-veis legiões em marcha e para fazer resplender aos seus olhos o objetivo ideal e longínquo.

Ignorando seus destinos, flutuando sem cessar entre o preconceito e o erro, o homem maldiz, por vezes, a vida. Curvando-se sob seu fardo, lança sobre seus semelhantes a culpa das provas que suporta e que, muito frequen-temente, são geradas por sua imprevidência. Revol-tado contra Deus, a quem acusa de injustiça, chega mesmo, algumas vezes, na sua loucura e desespero, a desertar do combate salutar, da luta que, por si só, poderia fortificar sua alma, esclarecer seu julga-mento, prepará-lo para os trabalhos de uma ordem mais elevada.

Por que é assim? Por que o homem desce fraco e desarmado na grande arena onde trava sem tré-gua, sem descanso, a eterna e gigantesca batalha? É porque este globo, a Terra, está em um degrau in-ferior na escala dos mundos. Aqui residem em sua maior parte espíritos infantis, isto é, almas nascidas há pouco tempo para a razão. A matéria reina so-berana em nosso mundo. Nos curva sob seu jugo, limita nossas faculdades, estanca nossos impulsos para o bem e nossas aspirações para o ideal.

Além disso, para discernir o porquê da vida, para entre-ver a lei suprema que rege as almas e os mundos, é preciso

saber se libertar dessas pesa-das influências, desapegar-se das preocupações de ordem material, de todas essas coisas passageiras e cambiantes que encobrem nosso espírito e que obscurecem nossos julgamen-tos. É nos elevando pelo pen-samento acima dos horizontes da vida, fazendo abstração do tempo e do lugar, pairando, de alguma forma, acima dos deta-lhes da existência, que perce-beremos a verdade.

Por um esforço de vonta-de, abandonemos um instante

a Terra e gravitemos nessas al-turas imponentes. De cima se desenrolará para nós o imenso panorama das idades sem con-ta, e dos espaços sem limites. Da mesma forma que o solda-do, perdido no conflito, não vê senão confusão em torno dele, enquanto o general, cujo olhar abraça todas as peripécias da batalha, calcula e prevê os re-sultados; da mesma forma que o viajante, perdido nas sinuo-sidades do terreno pode, esca-lando a montanha, vê-las se fundir em um plano grandioso; assim a alma humana, da altura onde plana, longe dos ruídos da terra e longe dos baixios obscuros, descobre a harmonia universal. Aquilo que, aqui em baixo, lhe parece contraditó-

rio, inexplicável e injusto, quando visto do alto, se reata, se aclara; as sinuosidades do caminho se en-direitam; tudo se une, se encadeia; ao espírito, fasci-nado, aparece a ordem majestosa que regula o curso das existências e a marcha do universo.

Dessas alturas iluminadas, a vida não é mais, para os nossos olhos, como é para os da multidão – uma vã perseguição de satisfações efêmeras – mas antes um meio de aperfeiçoamento intelectual, de ele-vação moral, uma escola onde se aprende a doçura, a paciência e o dever. E essa vida, para ser eficaz, não pode ser isolada. Fora de seus limites, antes do nas-cimento e após a morte, vemos, em uma espécie de penumbra, desenrolar-se inúmeras existências atra-vés das quais, ao preço do trabalho e do sofrimento, conquistamos, peça por peça, retalho por retalho, o

pouco de saber e de qualidades que possuímos; por elas igual-mente conquistaremos o que nos falta: uma razão perfeita, uma ciência sem lacunas, um amor infinito por tudo que vive.

A imortalidade se assemelha a uma cadeia sem fim e se desenrola para cada um de nós na imensidade dos tempos. Cada existência é um elo que se religa, na frente e atrás, a elos distintos, a vidas diferentes, mas solidárias entre si. O pre-sente é a consequência do passado e a preparação do futuro. De degrau em degrau, o ser se eleva e cresce. Artesã de seu próprio destino, a alma humana, livre e responsável, escolhe seu caminho e, se este caminho é mau, as quedas que advirão, as pedras e os espinhos que a dilacerarão, terão o efeito de desenvolver sua experiência e esclarecer sua razão nascente.

Léon DenisTraduzido por Paulo A. Ferreira

(no próximo número continuaremos com as reflexões deLéon Denis, à respeito de O Porque da Vida).

Agradecemos ao tradutor a disponibilidade do texto.

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6 Conhecendo a Doutrina Espírita

226. I. O desenvolvimento da mediunidade corresponde ao desenvolvimento moral do médium?

— Não; a faculdade propriamente dita tem a ver com o organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não acon-tece com seu uso, que pode ser bom, ou não, conforme as qualidades do médium.

II. Sempre disseram que a mediunidade é um dom de Deus, uma graça, uma dádiva. Por que, então, não é privilégio dos ho-mens de bem, e por que se vêem pessoas indignas que dela são dotadas no mais alto grau e a usam de maneira errada?

— Todas as faculdades são dádivas pelas quais se deve agradecer a Deus, uma vez que há homens que delas são privados. Poderíeis também perguntar por que Deus dá boa visão a malfeitores, destreza a ladrões, eloqüência aos que dela se utilizam para dizer coisas más. O mesmo acontece com a mediunidade; há pessoas indignas que a possuem por-que, mais do que as outras, precisam dela para corrigir-se. Achais que Deus nega meios de salvação aos condenáveis? Ele os multiplica a cada passo; põem-nos nas mãos deles, e cabe-lhes aproveitá-los. Judas, o traidor, não fez milagres e não curou doentes, como apóstolo? Deus permitiu que tivesse esse dom para tornar-lhe mais odiosa a traição.

III. Os médiuns que fazem mau uso da sua faculdade, que dela não se utilizam para o bem, ou que não a aproveitam para instruir-se, sofrerão as conseqüências disso?

— Se usam mal sua faculdade, serão duplamente puni-dos, porque têm um meio a mais para instruir-se e não o aproveitam. Aquele que enxerga perfeitamente e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso.

IV. Há médiuns a quem, espontaneamente, e quase cons-tantemente, são feitas comunicações sobre um mesmo assun-to, sobre determinadas questões morais, sobre alguns vícios arraigados, por exemplo; isso tem alguma finalidade?

— Sim, e essa finalidade é esclarecê-los sobre um assunto repetido com freqüência, ou corrigi-los de certos defeitos; eis por que a um falarão insistentemente do orgulho, a outro, da caridade; é que só a repetição contínua poderá, finalmente, abrir-lhes os olhos. Não há médium que faça mau uso da sua faculdade, por ambição, ou por interesse, ou que a ponha em risco, devido a um grave defeito, como o orgulho, o egoísmo, a leviandade etc., que não receba, de quando em quando, advertências por parte dos Espíritos. O mal é que, na maioria das vezes, eles não acham que são dirigidas a si próprios.

Observação: Muitas vezes, os Espíritos fazem rodeios em suas lições; eles as dão de modo indireto, para deixar maior mérito a quem sabe aplicá-las a si mesmo, delas tirando pro-

veito; mas, a cegueira e o orgulho são tamanhos em algumas pessoas, que elas não se reconhecem na imagem que se lhes põe diante dos olhos. E, mais ainda: se o Espírito lhes dá a entender que é delas que se trata, elas se irritam, chamando-o de mentiroso, ou gaiato de mau gosto. Isso basta para provar que o Espírito tem razão.

V. Nas lições que são ditadas ao médium de modo gené-rico e sem aplicação pessoal, este não age como instrumento passivo, para servir à instrução de outrem?

— Muitas vezes, os avisos e conselhos não são dirigidos a ele individualmente, mas a outros a quem só podemos dirigir--nos por intermédio do médium, que, porém, deve aceitar a parte que lhe toca, se não estiver ofuscado pelo amor-próprio.

Não penseis que a faculdade mediúnica tenha sido dada para corrigir uma ou duas pessoas somente. Não. O objetivo é maior: trata-se da humanidade. Um médium é um instru-mento bem pouco importante como indivíduo; é por isso que, quando damos instruções que devam beneficiar a todos, nos servimos de médiuns que possuam as aptidões necessárias. Mas, tende como certo, tempo virá em que os bons médiuns serão muito comuns, de modo que os bons Espíritos não pre-cisarão servir-se de instrumentos ruins.

VI. Uma vez que as qualidades morais afastam os Es-píritos imperfeitos, como é que um médium dotado de boas qualidades transmite respostas errôneas, ou grosseiras?

— Acaso conheces todos os meandros da sua alma? Ali-ás, ele pode ser leviano e frívolo, sem ser depravado; e, além do mais, ele também precisa de uma lição, para que se man-tenha em guarda.

VII. Por que os Espíritos superiores permitem que pes-soas dotadas de grande poder como médiuns, e que poderiam fazer bem a muita gente, sejam agentes do erro?

— Os Espíritos procuram influenciá-las; mas, quando elas se deixam arrastar para um mau caminho, eles as dei-xam ir. Por isso servem-se delas a contragosto, porque a ver-dade não pode ter a mentira por intérprete.

VIII. É absolutamente impossível obter-se boas comuni-cações através de um médium imperfeito?

— Às vezes um médium imperfeito pode obter boas coi-sas, porque, se possui uma bela faculdade, os bons Espíritos podem servir-se dele, na falta de outro, numa circunstância especial; mas sempre apenas momentaneamente, pois, assim que encontrem um que melhor lhes convenha, os Espíritos lhe dão preferência.

Observação: Deve-se observar que, quando os bons Es-píritos julgam que um médium deixa de ser bem assistido, e,

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pelas suas imperfeições, torna-se presa de Espíritos engana-dores, os bons quase sempre provocam circunstâncias que lhes revelam os defeitos e os afastam das pessoas sérias e bem intencionadas, cuja boa-fé poderia ser traída. Neste caso, se-jam quais forem sas faculdades, não se deve lamentar.

IX. Qual o médium que poderíamos considerar perfeito?— Perfeito, ai de mim! Sabeis que não existe perfeição na

Terra, se assim não fosse, não estaríeis aqui; dizei, então, bom médium, e já é muito, porque os bons são raros. O médium per-feito seria aquele contra o qual os maus Espíritos jamais ousa-riam fazer uma tentativa de enganá-lo; o melhor é aquele que, só tendo afinidade com bons Espíritos, foi menos vezes enganado.

X. Se só simpatiza com bons Espíritos, como é que estes podem permitir que ele seja enganado?

— Algumas vezes os bons Espíritos o permitem com os melhores médiuns para exercitar-lhes o discernimento e en-sinar-lhes a distinguir entre o verdadeiro e o falso; e depois, por melhor que seja, um médium nunca é tão perfeito que não possa ser atacado num ponto fraco; isso deve servir-lhe de lição. As falsas comunicações que de quando em quando recebe são advertências para que não se considere infalível e não se envaideça, porque o médium que obtém as coisas mais notáveis deve vangloriar-se tanto quanto um tocador de realejo que consegue belas melodias girando a manivela do seu instrumento.

XI. Quais são as condições necessárias para que a pala-vra dos Espíritos superiores nos chegue isenta de qualquer alteração?

— Querer o bem; banir o egoísmo e o orgulho. Ambas as coisas são necessárias.

XII. Se a palavra dos Espíritos superiores só nos chega isenta de erros em condições difíceis de encontrar, isso não é um obstáculo à propagação da verdade?

— Não, porque a luz sempre alcança a quem deseja re-cebê-la. Todo aquele que quiser esclarecer-se deve fugir das trevas, e as trevas estão na impureza do coração.

Os Espíritos que considerais a personificação do bem não atendem de boa vontade ao chamado daqueles cujo coração esteja conspurcado pelo orgulho, pela cupidez e pelo egoísmo.

Portanto, que todos que desejam esclarecer-se se despo-jem de toda vaidade humana e curvem sua inteligência ante o poder infinito do Criador. Será a maior prova da sua sin-ceridade; e esta é uma condição que todos podem satisfazer.

227. Se, do ponto de vista da execução, o médium não passa de um instrumento, sob o aspecto moral ele exerce uma influência muito grande. Uma vez que, para comunicar-se, o Espírito estranho se identifica com o Espírito do médium, essa identificação só pode acontecer se houver simpatia entre ambos, se houver afinidade, se nos permitem dizê-lo. A alma exerce uma espécie de atração, ou de repulsão, sobre o outro Espírito, segundo seu grau de semelhança ou diferença; ora, os bons têm afinidade com os bons, e os maus, com os maus, donde se conclui que as qualidades morais do médium têm uma influência decisiva sobre a natureza dos Espíritos que se comunicam por seu intermédio. Se for depravado, os Espíri-

tos inferiores vêm agrupar-se ao seu redor, estando sempre a postos para tomar o lugar dos bons Espíritos que forem cha-mados. As qualidades que atraem os bons Espíritos são, de preferência: a bondade, a benevolência, a simplicidade de co-ração, o amor ao próximo, o desapego às coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade, e todas as paixões devido às quais o homem fica preso à matéria.

228. Todas as imperfeições morais são, também, por-tas abertas que dão acesso aos maus Espíritos; mas a que eles exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é a que menos a pessoa reconhece em si própria; o orgulho pôs a perder muitos médiuns dotados das mais belas faculdades, e que, não fosse isso, poderiam ter-se tornado pessoas notáveis e muito úteis, ao passo que, tornando-se vítimas de Espíritos mentirosos, suas faculdades primeiro se desvirtuaram, de-pois anularam-se, e mais de um se viu humilhado pelas mais amargas decepções

O orgulho, nos médiuns, se revela por sinais inequívocos, para os quais é necessário chamar ainda mais a atenção, uma vez que se trata de um dos defeitos que mais desconfiança deve inspirar quanto à veracidade das suas comunicações. Há, no início, uma confiança cega na superioridade dessas comuni-cações e na infalibilidade do Espírito que lhas transmite; daí provém um certo menosprezo por tudo que não venha deles, pois acham que têm o privilégio da verdade. O prestígio de nomes famosos, sob os quais se disfarçam os Espíritos tidos por seus protetores, os deslumbra, e, como seu amor-próprio não suportaria admitir que estão sendo enganados, rejeitam toda espécie de conselhos; evitam-nos, chegando a afastar-se dos amigos e de quem quer que possa abrir-lhes os olhos; quando fazem a gentileza de ouvi-los, não levam em consi-deração suas opiniões, pois duvidar do seu Espírito é para eles uma profanação. Ofendem-se com a menor objeção, com uma simples observação crítica, e chegam ao ponto de odiar até mesmo pessoas que lhes prestaram favores. Não querendo opositores, os Espíritos que provocam esse isolamento se em-penham em alimentar-lhes as ilusões, fazendo-os facilmente aceitar os maiores disparates como coisas sublimes. Assim, confiança na superioridade do que obtêm, desprezo pelo que não venha deles, exagerada importância atribuída a nomes importantes, rejeição a conselhos, aversão a qualquer crítica, afastamento dos que podem dar-lhes conselhos desinteressa-dos: eis as características dos médiuns orgulhosos.

Deve-se concordar, também, que o orgulho muitas vezes é incitado no médium pelos que o cercam. Se ele tem facul-dades um pouco mais transcendentes, é procurado e elogia-do; acha-se indispensável, e logo assume ares de presunção e desdém quando é chamado a colaborar. Mais de uma vez tivemos oportunidade de lamentar os elogios que fizemos a alguns médiuns, com a intenção de incentivá-los.

O Livro dos MédiunsAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

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8 Conhecendo a Doutrina Espírita

É preciso que se dê mais importância à leitura do evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.

20. “Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim!”, geralmente exclamam os homens, quaisquer que sejam sua po-sição social. Isso, meus queridos filhos, prova melhor do que todos os argumentos possíveis a verdade desta máxima, do eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”. Realmente, nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor são con-dições suficientes para a felicidade. E digo mais: nem mesmo o conjunto dessas três condições tão desejadas, pois continua-mente ouvimos entre as classes privilegiadas pessoas de diver-sas idades queixando-se amargamente de sua condição de vida.

Diante de tal constatação, é inconcebível aceitar que as classes trabalhadoras e ativas invejem com tanta cobiça a posição dos que a fortuna parece ter favorecido. Neste mun-do, por mais que se faça, cada um tem sua cota de trabalho e miséria, seu quinhão de sofrimento e decepção. Donde é fácil concluir que a Terra é um lugar de provas e expiações.

Portanto, aqueles que pregam que a Terra é a única mo-rada do homem, que só nela, e numa única existência, lhe é permitido atingir o grau máximo da felicidade, iludem a si próprios e a quem os ouve, pois já está provado por séculos de experiências que, só excepcionalmente, este globo apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo.

De modo geral, podemos afirmar que a felicidade é um so-nho do qual gerações sucessivas buscam alcançar sem jamais conseguir, pois, se o homem sábio é uma raridade neste planeta, mais raro ainda é encontrar aqui um homem totalmente feliz.

O conceito de felicidade na Terra é tão efêmero para aquele que não se guiar pela sensatez que, por um ano, um mês, uma semana completa de satisfação, todo o resto da existência se esvai numa sequência de amarguras e decep-ções. E notai, meus queridos filhos, que falo aqui dos que são felizes na Terra, daqueles que são invejados pelo povo.

Consequentemente, se a morada terrena se destina à expiação e às provas, com certeza devemos admitir que em outros lugares existem moradas mais privilegiadas, onde o espírito do homem, mesmo ainda aprisionado num corpo material, desfruta das alegrias inerentes à vida humana, em sua plenitude. Por isso, Deus semeou em vosso sistema esses belos planetas superiores, para onde vossos esforços e tendências vos levarão um dia, quando estiverdes suficiente-mente depurados e aprimorados.

Todavia, que não se conclua dessas minhas palavras que a Terra esteja destinada a ser um eterno lugar de penitência. Não! Certamente que não, pois, dos progressos já obtidos, podeis facilmente deduzir os progressos futuros, e dos me-lhoramentos sociais já conquistados, novos e mais proveito-sos melhoramentos virão. Essa é a grande tarefa que a nova doutrina revelada pelos espíritos deve ajudar a realizar.

Assim, queridos filhos, que um providencial estímulo vos anime, e que cada um de vós se liberte energicamen-te do homem velho! Empenhai-vos todos na propagação do

espiritismo, que já deu início à vossa própria regeneração. É um dever incentivar vossos irmãos a participar dessa sa-grada luz. Portanto, mãos à obra, meus queridos filhos! Que nessa reunião solene todos os corações aspirem ao grandioso objetivo de preparar, para as gerações futuras, um mundo em que a felicidade não será mais uma ilusão. (François-nicolas--Madeleine, Cardeal Morlot, Paris, 1863).