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1200000466 " 11'" 111111111111111111111111111 111111 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO GERMANO GLUFKE REIS A UTILIZAÇÃO DE FEEDBACKS COM MÚL TIPLASFONTES EM PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS Banca Examinadora Prof. Orientador: Joel Souza Dutra Prof.: Moisés Sznifer Prof.: Miguel Pinto Caldas

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

GERMANO GLUFKE REIS

A UTILIZAÇÃO DE FEEDBACKS COM MÚL TIPLASFONTES EM

PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS

Banca Examinadora

Prof. Orientador: Joel Souza Dutra

Prof.: Moisés Sznifer

Prof.: Miguel Pinto Caldas

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

GERMANO GLUFKE REIS

A UTILIZAÇÃO DE FEEDBACKS COM MÚLTIPLAS FONTES EM

PROGRAMAS DE DESENVQLVIMENTO DE LIDERANÇAS

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Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da FGV/EAESPÁrea de Concentração: Organização,Planejamento e Recursos Humanos comorequisito para obtenção do título de mestreem Administração

Orientador: Prof. Dr.Joel Souza Dutra

SÃO PAULO2000

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REIS, Germano Glufke. A Utilização de Feedbacks com Múltiplas

Fontes em Programas de Desenvolvimento de Lideranças. São

Paulo: EAESPI FGV, 2000. 168 pg. (Dissertação de Mestrado

apresentada ao Curso de Pós-Graduação da EAESP/FGV, Área de

Concentração: Organização, Planejamento e Recursos Humanos).

Resumo: O foco principal deste trabalho é analisar um recurso cada

vez mais empregado pelas organizações em programas de..desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback com

Múltiplas Fontes - também conhecido por Avaliação 360 graus,

Feedback 360 Graus, Avaliação Multivisão e outros nomes. Trata-

se de uma técnica na qual os participantes do programa recebem

simultaneamente feedbacks estruturados de seus superiores,

pares, subordinados e outros stakeholders.

Neste trabalho são analisadas as possibilidades e limitações deste

recurso em programas de desenvolvimento de lideranças. Para isso

é construido um referencial teórico que revisita os principais

conceitos sobre liderança e desenvolvimento de lideranças,

analisando como estes conceitos têm sido aplicados e

instrumentalizados no contexto organizacional; também são

levantados fatores que interferem na implementação do feedback

com múltiplas fontes e que devem ser gerenciados para que os

melhores resultados possam ser alcançados. A partir deste

referencial teórico e conceitual são estudadas as experiências de

três empresas instaladas no Brasil, levantando a forma como têm

aplicado o feedback com múltiplas fontes.

Palavras-Chaves: Avaliação 360 Graus Comportamento

Organizacional - Desenvolvimento de Lideranças - Feedback com

Múltiplas Fontes - Gestão de Pessoas - Liderança - Recursos

Humanos

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AGRADECIMENTOS

Ao terminar este trabalho e refletir sobre as pessoas a quem gostaria de agradecerpor

suas contribuições e apoio ao longo da trajetória do meu mestrado na EAESP/ FGV, e,principalmente, durante o desenvolvimento desta dissertação, foi inevitável emocionar-me.

As pessoas que participaram desta trajetória, muitas tão especiais, transformaram esta

etapa de minha vida em uma gostosa experiência de crescimento pessoal e profissional.

Muito tenho a agradecer à Isabel/a, minha carinhosa e amiga esposa, sustentação

essencial, do ponto de vista técnico e emocional. Obrigado pai e mãe por toda a ajudae

apoio; obrigado Carla, Guilherme, Rosinha, Tomás e Deco, pela morada e pelo porto

seguro que vocês representaram nesta minha vinda a São Paulo.

Gostaria de agradecer muito ao Joel, meu orientador, que não mediu esforços para

contribuir e opinar. Uma presença profunda e tranquila, manteve o meu ânimo em alta,

ampliando sempre o meu campo de visão para além deste trabalho.

Obrigado, muito obrigado mesmo aos amigos da IDEA, especialmente Moisés Sznifer,

Renato Ferreira Guimarães, Sandra Antunes e Stella Sznifer. Muitas contribuições de

.vocês e conversas que tivemos transparecem neste texto. Tantas outras levo guardadas

sempre comigo. Obrigado também a Carlos Marin que nos ensinou tanto sobre o

feedback com múltiplas fontes.

Obrigado aos colegas e professores da EAESP/ FGV. Alguns professores foiam

especialmente importantes para mim durante o mestrado, pessoas de quem recebi muito

apoio e com quem tive interações gratificantes: Prafa. Cecília Bergamini, Prof. Roberto

Venosa e Prof. Djair Picchiai.

Agradeço também aos amigos e colegas da ESPM, principalmente: Adriana Miguel,

Eduardo Loebel e Marcelo Aidar.

Obrigado à Capespelos importantes recursos a mim concedidos.

Finalmente, gostaria de agradecer muitíssimo aos nossos clientes. Junto com eles temos

aprendido continuamente; não pouparam esforços para contribuir com este trabalho no

que estivesse ao seu alcance.

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SUMÁRIO

Pág.

APRESENTAÇÃO 1

Desenvolvimento de lideranças: por que falar disto agora? 2

O interesse crescente pelo feedback com múltiplas fontes 8

Sobre a escolha do tema 11

Objetivos do trabalho 12

Escopo e desenvolvimento do trabalho 14

PARTE I - REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL 17

Capítulo '1 - Liderança como comportamento observável . 18

1.1. As abordagens clássicas de liderança 18

1.2. liderança como comportamento observável 23

1.3.Alinhando comportamentos de liderança à estratégia

organizacional 28

1.4. Vantagens e limitações dos "comportamentos observáveis" 31

Capítulo 2 - Desenvolvendo lideranças 34

2.1. Podem as organizações desenvolver líderes? 34

2.2. Desenvolvimento de lideranças como processo 40

Capítulo 3 - Feedback com múltiplas fontes 46

3.1. Origens e principais forças propulsoras 46

3.2. Conhecendo os resultados do processo de FMF 49

3.3. Feedback com múltiplas fontes e redes de trabalho 53

3.4. Implementação do feedback com múltiplas fontes 57

iii

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PARTE 11- ESTUDO DE CASO 73

Introdução 74

Capítulo 4 - Metodologia

4.1. Colocação do problema estudado

4.2. Objetivos específicos

4.3. Definição do método de pesquisa

4.4. Sobre o estudo de caso

4.5. Procedimentos para levantamento de evidências

77

777879

81

83

Capítulo 5 - O caso da empresa "A"

5.1. Visão geral da empresa

5.2. Tornando-se uma Global Advisory Firm

5.3. Objetivos do feedback com múltiplas fontes

5.4. Implementação

5.5. Interpretando os feedbacks recebidos

5.6. Impactos dos feedbacks com múltiplas fontes

5.7. Lições aprendidas e próximos passos

87

8791

97

99

107

122

132

Capítulo 6 - As experiências das empresas "B" e "C"

6.1. Empresa B

6.2. Empresa C

136

136

143

IV

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CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 149

Capítulo 7 - Conclusões e considerações finais 150

7.1. Sobre os casos analisados 150

7.2. Sobre a utilização dos feedbacks com múltiplas fontes em

programas de desenvolvimento de lideranças 157

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 16.2

ANEXOS 169

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LISTAGEM DE TABELAS E FIGURAS

Tabela Título Página

1 Técnicas de desenvolvimento de lideranças mais utilizadas 62 Taxonomia integrativa de práticas gerenciais 253 Fontes de evidências no estudo do caso da Empresa A 844 Gerentes Seniores: Dez maiores médias 1105 Gerentes: temas que obtiveram as maiores médias 1116 Gerentes Seniores: Dez menores médias 1137 Gerentes: temas que obtiveram as menores médias 1148 Gerentes: resumo das maiores e menores médias 115.9 Sócios: Dez maiores médias 11610 Sócios: Dez menores médias 11711 Sócios: temas que obtiveram as maiores médias 11812 Sócios: temas que obtiveram as menores médias 11813 Gerentes: opiniões quatro meses após o feedback 12314 Temas dos objetivos propostos pelos sócios 12715 Comportamentos de liderança que apresentaram 140

incrementos em uma segunda rodada de feedbacks naEmpresa B

Figura Título Página

1 Abordagem integrada de desenvolvimento de liderança na 29Westinghouse

2 O Ciclo de criação do conhecimento 423 Desenvolvimento de lideranças na Aramark 454 Rede de contatos de um gerente 545 Organograma de uma empresa de informática 546 Network informal de uma empresa de informática 557 Fontes de feedback em um processo com múltiplas fontes 578 Exemplo de questionário utilizado no FMF 609 Trecho de um relatório de feedback 6610 Organograma da Empresa A 8811 Departamento de auditoria de um escritório 9012 Goal Setting and Career Oevelopment Planning 134

VI

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APRESENTAÇÃO

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Este trabalho tem por foco principal analisar um recurso cada vez mais

empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de

lideranças: o Feedback com Múltiplas Fontes1 - também conhecido por

avaliação 360 graus, feedback 360 graus, avaliação multivisão e outros nomes.

Trata-se de uma técnica na qual os participantes do programa recebem

simultaneamente feedbacks estruturados de seus superiores, pares,

subordinados e outros stakeholders.

o interesse crescente por esta técnica, discutido adiante, acompanha um

grande interesse pelo próprio assunto liderança e também a busca contínua

das empresas por alternativas que as ajudem a transformar chefes em líderes

(8ennis, 1996; Zaleznik, 1997).

Desenvolvimento de lideranças: por que falar disso agora?

Liderança é um tema que soa sempre estimulante e provocador. Talvez um

pouco pelo fato de ser complexo e cercado de incertezas, ou de promissoras

quase e aparente certezas, caracterizando-se pela sobreposição de enfoques e

perspectivas, pela concorrência contínua de variáveis individuais, sociais e

contextuais, a maioria delas nem sempre controláveis. Talvez pela aura mítica

que ronda o tema, trazendo à memória sempre exemplos de líderes históricos

ou grandes executivos norte-americanos - como AI Ries, 8ill Gates ou Jack

Welch - que estimulam o desejo de alguns de serem assim, ou de terem

talentos assim, ou de compreendê-los e aprender com eles. Talvez por ser um

tema que tem a capacidade contínua de reacender-se, de continuar como

assunto relevante no circuito da teoria, pesquisa e prática organizacionais. Em

diferentes formas e cores, às vezes reapresentando o que já foi dito como se

fosse novo, trata-se de um campo largamente estudado e largamente

praticado, traduzindo-se em treinamentos, técnicas, ferramentas, dicas,

soluções promissoras para alavancar a liderança nas empresas.

1 Ao longo do trabalho o feedback com múltiplas fontes será abreviado como FMF.2

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Nos anos 80, ampliou-se a produção literária a respeito do assunto (Bryman,

1992). De fato, nestas últimas décadas o tema liderança renova-se para

atender aos novos desafios competitivos das organizações, devido à certeza de

que estão ocorrendo mudanças radicais na forma de se conduzir os negócios e

as empresas, o que transforma violentamente a prática gerencial. Se novas

dinâmicas competitivas e opções tecnológicas esgotam o paradigma da

organização enquanto máquina - para utilizar a metáfora de Morgan (1996),

referindo-se ao modelo fordista - e pressionam por configurações alternativas,

por novas capacidades organizacionais e pela contínua transformação, as

lideranças emergem como peça-chave na articulação e sustentação dessa

passagem. Assim, alguns tópicos têm sido particularmente marcantes na

geração do conhecimento sobre o tema nos últimos anos:

•. O papel estratégico do líder, como agente de construção do futuro (Hamel,

1997), como viabilizador de. capacidades orgànizacionais e de vantagens

competitivas (Ulrich & Lake, 1990).

•. O papel da liderança na articulação e implementação da mudança

organizacional (Kilmann, 1991; Kotler, 1997).

•. O líder como administrador do sentido, construindo uma percepção

compartilhada e um significado para o direcionamento e realidade

organizacionais (Senge, 1990; Bryman, 1996) e promovendo

comprometimento baseado na dinâmica motivacional dos liderados

(Bergamini, 1994).

•. A influência do líder na construção das crenças, valores e símbolos que

constituem a cultura de uma empresa (Schein, 1992).

•. A dissociação de liderança e hierarquia, caracterizando a primeira mais

como um processo de influenciar e organizar redes de trabalho (networks),

do que de comandar de cima para baixo (Hosking, 1988).

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Se, por um lado, o volume de produção escrita permanece vigoroso, a

popularidade do tema revela-se também pelos maciços investimentos em

estratégias voltados para o desenvolvimento de lideranças nas empresas

(Alpander, 1986; Vicere & Fulmer, 1998; Conger & Benjamin, 1999).

Transparece aí um intenso esforço de sintonizar gestores a um ambiente de

negócios caracterizado pela inconstância e complexidade, onde as práticas

gerenciais do modelo fordista-taylorista - caracterizados entre outros aspectos

pela previsibilidade, manutenção e controle- tornam-se insuficientes para a

eficácia e competitividade organizacionais.

Estes esforços provavelmente decorrem também do fato de que lideranças são

ainda um recurso escasso nas empresas, tal como reforça Kotter (1990), que

observou uma carência de habilidades de liderança em uma pesquisa

conduzida junto a doze das maiores companhias norte-americanas; a grande" ..•.~maioria dos gerentes dessas empresas foram percebidos como excelentes

chefes e fracos líderes. Os programas de desenvolvimento de liderança soam

então como promessa principalmente para transformar chefes em líderes, o

que parece bastante estimulante para as empresas. Isto possivelmente ajuda a

explicar porque os investimentos em desenvolvimento gerencial nos Estados

Unidos saltaram de 10 para 45 bilhões de dólares na última década (estimativa

de Nohria e Berkley, citados por Vicere & Fulmer, 1998).

Mas ...em que tipo de estratégias de desenvolvimento estas empresas estão

investindo?

Conger (1992), pesquisou os principais tipos de programas externos de

liderança procurados pelas empresas norte-americanas, observando a

existência de quatro abordagens básicas que alicerçam esses programas:

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• Programas conceituais: em geral oferecidos por universidades.

concentram-se no aprendizado cognitivo do que é a liderança. a partir

de teorias e modelos. São programas que caracterizam. por exemplo.

as diferentes abordagens de liderança. teoria X. etc.

• Programas centrados no desenvolvimento pessoal: influenciados

pelas abordagens humanistas da psicologia. baseiam-se na

expectativa de que o conhecimento e compreensão das próprias

aspirações. desejos e emoções são aspectos essenciais para a

formação de um líder. Um exemplo deste tipo de abordagem são os

programas que se utilizam de experiências e aventuras ao ar livre

(rafting. escalada. etc.).

• Programas focados no desenvolvimento de habilidades de

liderança: concentram-se em promover o aprendizado de

habilidades assumidas como relacionadas à liderança. É o caso. por

exemplo. dos workshops que se concentram em abordar. explorar e

exercitar temas como: criar uma visão do negócio.· comunicação

interpessoal, liderança de equipes, etc .

• Programas baseados em feedbacks: utilizam feedbacks de

diferentes fontes como principal instrumento. buscando percepções

de pares, subordinados e chefias sobre como o participante atua

como líder. Em geral, estes programas utilizam também enfoques de

desenvolvimento pessoal e de habilidades de liderança, oferecendo

aos participantes alternativas e caminhos para promoverem

melhorias nos principais pontos identificados nos feedbacks.

Uma pesquisa mais ampla, relatada por Vicere e Fulmer (1998). identificou as

principais técnicas utilizadas por organizações em diferentes partes do mundo

para desenvolver suas lideranças, entre 1982 e 1997. A tabela abaixo

apresenta os resultados desse estudo. As colunas indicam, em porcentagem. a

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freqüência em que cada uma das técnicas apareceu entre as três primeiras

escolhas das companhias pesquisadas.

1982 1987 1992 1997Job Rotation 20 72 58 64

Programas de desenvolvimento executivo In-Company 34 47 56 39

Forças-tarefas! projetos 28 32 39 68

Programas externos de desenvolvimento de executivos 37 48 33 30

Treinamentos on-the-job 20 28 28 45

Coaching/ mentoring 37 26 22 32

Feedback de desempenho 48 6 9 30, ,

Aprendizado com outros empregados 19 1 5 9

Tabela 1 - Técnicas de desenvolvimento de lideranças mais utilizadasFonte: Vicere, A. A. & Fulmer, R. M. , 1998, pg, 94. Tradução do autor.

Estes resultados sugerem o fortalecimento de técnicas que se encontram

distantes de cursos em sala de aula e de programas fechados. A pesquisa

evidenciou a multiplicidade de práticas e o interesse crescente por técnicas que

procuram gerar aprendizagem e desenvolvimento profissional no próprio local

onde ocorrem as ações e interações de trabalho.

Os resultados desta pesquisa sugerem também um grande desinteresse pelo

feedback de desempenhe/ a partir da segunda metade dos anos 80, e um

reaquecimento na segunda metade dos anos 90. Segundo a análise destes

2 A expressão utilizada pelos autores é performance feedbacks. Ao que parece, reterem-se aavaliações de desempenho, incluindo aí o feedback com múltiplas fontes. Diferenciam estasduas modalidades pelo fato da primeira estar mais vinculada a remuneração! promoção e utilizarapenas informações de cima para baixo; a segunda na maioria das vezes tem apenas objetivode desenvolvimento, não está diretamente vinculada a salário e utiliza informaçõesdisponibilizadas também por pares e subordinados.

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pesquisadores, isto pode ser atribuído principalmente à crescente utilização do

feedback com múltiplas fontes.

É difícil afirmar com certeza o quanto isto vale para o Brasil, uma vez que há

poucos dados disponíveis. Dois aspectos levam a intuir de que pode haver uma

tendência semelhante em multinacionais e empresas de maior porte: a prática

e convívio com organizações instaladas em território nacional e a tendência de

importação de conceitos e experiências de gestão norte-americanas. O que se

assumiu, na decisão pelo tema deste trabalho, é que este impulso e esta busca

por alternativas e respostas na esfera de desenvolvimento de lideranças é

assunto relevante também para as empresas brasileiras.

Um outro argumento estimula esta hipótese. Fischer (1998), revisitou os

estudos que investigaram os movimentos e mudanças empreendidos por'

empresas brasileiras nos anos noventa em função da busca por maior

competitividade. Estes estudos identificaram as principais respostas de

empresas nacionais a determinadas pressões, impactantes em praticamente

todos os ambientes de negócio: o processo de estabilização econômica, a

política de abertura de mercado, a tendência mundial de busca de qualidade e

competitividade, a adoção intensa de equipamentos automatizados nos

processos produtivos.

O autor aponta estas como as principais forças que têm compelido as

organizações a processos importantes de mudança na década de 90. Se, no

início da década, as respostas das empresas foram predominantemente do tipo

reativa-defensivas, centradas em redução de custos e enxugamentos, já a

partir de 1995 foram visíveis transformações mais amplas: maior destaque

passou a ser dado ao cliente e à qualidade dos produtos! serviços, ao

atendimento a especificações técnicas e à qualidade dos insumos; nesse

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período intensificam-se os programas de qualidade total, os redesenhos de

processos e crescem os investimentos em renovação tecnológica da produção.

Como resultado, Fischer destaca, muitas empresas experimentaram nos anos

noventa mudanças em suas configurações organizacionais, sistemas

operacionais, linhas de produtos! serviços e porte. Terceirização, redução de

níveis hierárquicos, fusões, maior utilização de tecnologia de informação foram

e ainda são práticas correntes nesse contexto.

o autor analisa como os modelos de gestão de pessoas das empresas

brasileiras se adaptaram gradativamente a estas mudanças. Afinal, muitas

delas - como a implementação de novos processos, intensificação do trabalho

em equipe, qualidade total, etc. - dependem do envolvimento das pessoas para

obterem êxito. No caso das lideranças dessas empresas, é possível especular

que essas pressões também compelem à revisão das práticas gerenciais e àforma de atuação das lideranças de empresas brasileiras. Frente a este

cenário, é de se supôr que o tema desenvolvimento de lideranças seja de

interesse neste instante.

Especificamente no caso de práticas que se utilizam do feedback com múltiplas

fontes em desenvolvimento de lideranças, o interesse de empresas norte-

americanas tem sido crescente na última década. No Brasil, não seria ousadia

excessiva esperar um aquecimento em torno do tema para os próximos anos.

o interesse crescente pelo feedback com múltiplas fontes:

o Feedback com Múltiplas Fontes - também conhecido como Avaliação

Multivisão ou, no caso de envolver informações provenientes de todo o entorno

do avaliado, Feedback 360 Graus - tem sido uma prática cada vez mais

freqüente em organizações ocidentais. Em 1993, uma pesquisa indicou que

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26% das empresas norte-americanas já utilizavam algum tipo de avaliação de

desempenho com múltiplos avaliadores (Newman, 1993). No mesmo ano, a

revista Fortune apresentou uma relação de 20 grandes empresas que vinham

utilizando algum tipo de avaliação dessa natureza, entre elas: Alcoa, AT&T,

BellSouth, DuPont, Hewlett-Packard, J.P. Morgan,. 3M, Motorola, Procter &

Gamble(Fonte: Fortune, 27 de dezembro, 1993, p.128). Romano (1994),

comenta que foram gastos 152 milhões de dólares com avaliações com

múltiplas fontes em 1992.

No Brasil, empresas como Aracruz, Amex, KPMG, Merck, Refinações de Milho

Brasil e Shell são alguns exemplos de corporações que já experimentaram a

técnica. Nos dois países, a utilização do instrumento tem -sido vinculada

principalmente a esforços de desenvolvimento de lideranças, embora nos

Estados Unidos já esteja crescendo a vinculação do feedback com múltiplas

fontes com a remuneração, promoção, avaliação formal de desempenho e

downsizing (London & Smither, 1995).

Nos últimos anos, artigos a respeito do assunto têm surgido de forma crescente

em revistas norte-americanas de administração e mesmo na imprensa. A

Fortune, por exemplo, publicou em 1994 um texto sobre o assunto, onde

descreve experiências na AT&T. O texto é entitulado: "O FEEDBACK 360

GRAUS PODE MUDAR A SUA VIDA : O que seu chefe, seus pares e seus

subordinados realmente pensam de você pode doer, mas encarar a verdade

pode ajudá-lo a ser um gerente melhor"( O'Reilly, 1994).

Como afirmaram os editores da revista Group & Organization Management,

"nos Estados Unidos a avaliação 360 graus evoluiu do status de ferramenta

'interessante de ter', para o status de 'temos que ter!' "(Church & Bracken,1997,

pg. 150). Ou, como ressaltam Edwards e Ewen: "a pergunta não é mais se as

companhias devem utilizar o feedback de 360 graus, mas como têm de fazê-lo"

(Edwards & Ewen, 1998, pg. 40).

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Em um artigo de 1997, no entanto, o uso do Feedback 360 Graus enquanto

panacéia foi duramente criticado (Waldman et alii, 1997). Estes autores

denunciam os riscos das pressões de modismos sobre a decisão de utilizar

novas práticas de gestão e desenvolvimento de pessoas. Na verdade, apontam

os autores, muitas organizações estão adotando o 360 Graus simplesmente

por que os seus concorrentes ou benchmarks já o fizeram. Isto já aconteceu

antes, com a TQM - Total Quality Management ou com o' trabalho em times: de

repente, torna-se uma prática que todos precisam ter. Contexto, objetivos,

implicações e limitações nem sempre são ponderados.

Más os autores advertem: "imitar sem compreender claramente o que outras

organizações têm realizado ou quais são os resultados esperados para uma

organização específica, representa uma estratégia questionável" (Waldman et

alii, 1997, pg. 87). Embora ressaltem a contribuição que o instrumento pode

proporcionar aos esforços de desenvolvimento gerencial, enfatizam que nem

todo contexto é propício para a sua utilização.

Se por um lado a popularidade do instrumento parece inquestionável, por outro

suas potencialidades ainda parecem pouco compreendidas ou, pelo menos,

insuficientemente estudadas (London & Smithers, 1995; Church & Bracken,

1997). Principalmente se considerado o menor número de artigos e pesquisas

publicados em veículos acadêmicos. A maioria das informações sobre os

resultados e impactos de intervenções dessa natureza encontram-se com os

próprios praticantes da metodologia - empresas e consultorias. Mesmo para

estes há uma dificuldade em avaliar com precisão os resultados obtidos com a

técnica (Waldman et alii, 1997).

Em suma, há indicações de:

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• Tendência de adoção do instrumento por um número cada vez maior de

empresas, tendência esta provavelmente válida para o cenário de práticas

de desenvolvimento de liderança no Brasil;

• Implementação muitas vezes sem uma avaliação crítica mais cuidadosa e

pouca compreensão das reais potencialidades, limitações e riscos do

instrumento;

• Dificuldades na aferição dos resultados alcançados;

• Inexistência de estudos com relação à utilização do feedback com múltiplas

fontes em empresas brasileiras.

Estes aspectos foram estimulantes na escolha e. definição do tema deste

trabalho.

Sobre a escolha do tema:

A motivação inicial pelo tema surgiu também da percepção de que este é um

assunto novo, ainda pouco explorado, e que, como tal, apresenta instigantes

possibilidades de investigação. Além disso, o fato do autor já ter atuado na

implementação de um processo de feedback com múltiplas fontes em uma

multinacional despertou curiosidade e entusiasmo adicionais. Como

participante do processo, teve a oportunidade de observar na prática suas

possibilidades, limites e dificuldades. Decorreu daí a busca por um

aprofundamento teórico e conceitual.

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À medida que as idéias amadureceram, ao longo do tempo, ficou mais claro

que este trabalho representaria também uma possibilidade de pensar

criticamente esta técnica e a sua utilização; consolidou-se o interesse pelo

tema em função da oportunidade de realizar realmente uma análise crítica da

técnica e de suas implicações para as estratégias de desenvolvimento de

lideranças adotadas pelas empresas. Significa uma mudança substancial e

desafiadora de ângulo de visão: de praticante e simpatizante, a observador

neutro e com olhar crítico e embasado, buscando delinear com maior precisão

o que é e o que se pode efetivamente esperar desta prática.

Este ponto é uma das principais contribuições do trabalho. Não é novidade

afirmar que continuamente surgem novas ferramentas de gestão, produtos

rapidamente consumidos e assimilados por empresas ansiosas por soluções

milagrosas. Neste .trabalho, a opção foi oferecer elementos que possam

contribuir como entendimento desta técnica e também com a decisão ou não

pela sua implementação. Aonde se pode efetivamente chegar com isto? Vale a

pena? Que cuidados devem ser tomados? Estas foram algumas perguntas que

guiaram a escolha do tema.

Objetivos do trabalho:

o objetivo geral deste trabalho é, portanto, contribuir com a compreensão do

feedback com múltiplas fontes enquanto técnica utilizada em esforços de

desenvolvimento de lideranças nas empresas, analisando as suas

possibilidades e limitações.

Este objetivo geral pode ser desdobrado nos seguintes objetivos específicos:

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A) Construção de referencial teórico e conceitual:

• Revisitar os principais conceitos sobre liderança e desenvolvimento de

lideranças, analisando como estes conceitos têm sido aplicados e

instrumentalizados no contexto organizacional;

• Identificar, a partir de pesquisas e literatura existentes, fatores que

interferem na implementação do feedback com múltiplas fontes e que

devem ser gerenciados afim de que os melhores resultados possam ser

alcançados;

• Discutir, a partir de evidências apresentadas pela literatura, limites e

possibilidades da utilização de múltiplos feedbacks em programas de

desenvolvimento de lideranças.

B) Estudo de caso:

• Estudar os casos de empresas instaladas no Brasil que têm utilizado o

feedback com múltiplas fontes, FMF, em contexto de desenvolvimento de

lideranças, analisando os seus objetivos e a forma como foi implementado,

a partir do referencial teórico e conceitual construído.

• Levantar evidências relacionadas aos resultados alcançados com a

utilização do FMF nestas empresas.

Os objetivos desta pesquisa serão detalhados adiante, na Parte 11- Estudo de

Caso.

13

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Escopo e desenvolvimento do trabalho:

A) Referencial teórico e conceitual:

No primeiro capítulo - Liderança como Comportamento Observável - são

revisitadas as principais abordagens que procuraram explicar a liderança nas

organizações: 1 - a abordagem baseada nos traços do líder; 2 - a abordagem

baseada em estilos de liderança; 3 - a abordagem contingencial; e 4 - um

movimento mais recente, conhecido como as novas abordagens de liderança.

São analisadas algumas implicações destas abordagens para os esforços de

desenvolvimento de lideranças empreendidos pelas empresas e a maneira

como têm sido instrumentalizadas, traduzidas na forma de comportamentos

observáveis. São indicadas vantagens e limitações deste enfoque, que é

utilizado com freqüência no feedback com múltiplas fontes ..

o segundo capítulo - Desenvolvendo Lideranças - concentra-se em discutir

a questão: até que ponto as organizações podem, efetivamente, criar condições

para promover o desenvolvimento de lideranças? Para isto, foram analisados

alguns estudos que procuraram explicar a forma como atributos de liderança

constituem-se ao longo da vida de uma pessoa, da infância à vida profissional.

Além de depender desta trajetória, a expressão da liderança ainda é

condicionada por aspectos como motivação para liderar e também de um

ambiente organizacional favorável. Diante desta complexidade, são apontados

alguns caminhos para analisar e responder a esta questão, caracterizando

alguns ganhos que realmente podem ser esperados de programas dessa

natureza. Também é apresentado um modelo conceitual que propõe

compreender o desenvolvimento de lideranças como um processo; este modelo

interrelaciona as diferentes técnicas de desenvolvimento de lideranças,

inclusive o feedback com múltiplas fontes, procurando caracterizar a

contribuição de cada uma e a forma como podem ser integradas nas

organizações.

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o terceiro capítulo - Feedback com Múltiplas Fontes - aprofunda-se

especificamente na utilização deste recurso. São revisitadas teorias e

experiências pioneiras que estimularam a sua utilização em programas de

desenvolvimento de lideranças e também pesquisas que têm investigado os

seus resultados, demonstrando conclusões promissoras. Também as novas

configurações organizacionais, uma vez que privilegiam a liderança baseada

em relacionamentos em várias direções e redes de trabalho, são tratadas como

argumento favorável à utilização de múltiplos feedbacks.

.r •

o capítulo 3 também analisa alguns aspectos chaves que devem ser

considerados na implementação e ·operacionalização do feedback com

múltiplas fontes. São considerados: 1. o delineamento do perfil de liderança e

desenvolvimento do instrumento de feedback; 2. a qualidade dos feedbacks

fornecidos; 3. o processamento das informações pelo receptor dos feedbacks ;

.e 4. a continuidade do processo e a sua integração com o sistema ou função

de gestão de pessoas da empresa.

8) Estudo de caso:

o quarto capítulo - Metodologia - discute a metodologia de pesquisa

empregada, o estudo de caso, e suas implicações para este trabalho; também

são descritas as fontes de evidências utilizadas.

o estudo de caso propriamente dito apresenta: 1. estudo em profundidade,

detalhado, do caso de uma empresa de auditoria e consultoria (quinto capítulo,

O Caso da Empresa A); 2. uma visão panorâmica, menos detalhada, das

experiências de outras duas empresas instaladas no Brasil, representantes de

outros setores (indústria de matérias primas, setor celulose e papel; bens de

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consumo, setor alimentos), compondo um painel comparativo com a primeira

(sexto capítulo, Os Casos das Empresas B e C).

Ao final do trabalho são propostas conclusões, caracterizando a forma como o

FMF pode contribuir com os esforços de desenvolvimento de lideranças

empreendidos pelas empresas e apontando algumas limitações deste recurso.

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PARTE I,

REFERENCIAL TEORICO ECONCEITUAL

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CAPíTULO 1· LIDERANÇA COMO COMPORTAMENTO OBSERVÁVEL

1.1. As abordagens clássicas de liderança:

A teoria e pesquisa sobre liderança tem se baseado em diferentes

perspectivas ao longo do tempo (Yukl, 1994; Bergamini, 1994; Bryman,

1995). A primeira abordagem clássica, a abordagem dos traços, forte nos

anos 40 e encabeçada por Stogdill, concentrou-se na identificação de

qualidades e características pessoais, muitas vezes inatas, que distinguem

líderes de não-líderes. Assim, auto-confiança, integridade, honestidade,

desejo de poder, entre outros, são exemplos de traços diferenciadores que

ampliam a 'probabilidade de sucesso como líder.

Naquele momento os estudos concentraram-se em identificar quem é o

líder, desconsiderando o contexto, a interação com os liderados e os

comportamentos que caracterizam a liderança. Provavelmente a grande

contribuição desta abordagem tenha sido propor caminhos para a seleção

de líderes, por meio da identificação do portfólio de traços de cada

candidato. Inexpressiva ênfase foi dada, no entanto, à possibilidade de se

desenvolver líderes.

A abordagem de estilos, impulsionada nos anos 50-60 pelas pesquisas da

Ohio State University e da University of Michigan, deslocou o foco das

características pessoais para a dinâmica comportamental do líder. A ênfase

passa a ser como o líder atua, procurando caracterizar os comportamentos

que produzem melhores resultados em aspectos como desempenho e

satisfação dos subordinados.

As pesquisas de Ohio propuseram duas dimensões que impactam a eficácia

da liderança: início de estrutura e consideração, e que se traduzem em

dois estilos diferentes de líderes. No primeiro, sobressaem-se

comportamentos orientados para a estruturação da tarefa, envolvendo

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comportamentos de planejamento, organização e controle do trabalho

executado; no segundo, destacam-se comportamentos voltados para a

consideração com os subordinados: relacionamento de confiança e

camaradagem, identificação de necessidades pessoais, etc. Em Michigan,

por outro lado, os trabalhos de Likert chegaram ao continuum orientação

parao empregado - orientação para a produção, delineando dois estilos

puros nos extremos, e diferentes combinações intermediárias. Nas duas

universidades, vale ressaltar, polarizam-se as ênfases na tarefa ou nas

pessoas.

A caracterização dos estilos comportamentais vem acompanhada de fortes

expectativas com relação ao treinamento de lideranças: sabendo como o

líder eficaz age, o aspirante a líder: saberá como deverá se portar e o que •

deve aprender a fazer. De fato, esta abordagem impulsionou a criação de

programas de treinamento baseados em estilos ideais. Um dos programas

mais conhecidos, desenvolvido por Blake e Mouton, foi baseado no "Grid

Gerenciai": matriz que cria oitenta e um estilos gerenciais, a partir do

cruzamento dos estilos orientação para as pessoas e orientação para a

produção. Tal como ressalta Bergamini:

Essas duas universidades foram as inspiradoras de

praticamente todos os demais programas de treinamento e

desenvolvimento em liderança oferecidos às empresas e

tiveram larga repercussão, não somente no mundo todo,

mas principalmente dentro das organizações norte-

americanas". (Bergamini, 1994, pg. 37)

A abordagem dos estilos produziu contribuições positivas: primeiro, como

enfatiza comportamentos ao invés de traços, permite uma operacionalização

da liderança e a maior utilização do conceito no cenário organizacional;

segundo, aproxima os liderados do processo, reforçando que a eficácia da

liderança passa pela interação e relacionamento; e, finalmente, modifica o

papel do chefe, incluindo a dimensão da gestão de pessoas e valorizando:

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consideração, orientação para o empregado, estilo democrático. Como

apregoa a possibilidade de treinamento de estilos, pressiona no sentido da

aquisição deste novo papel.

No entanto, esta abordagem também impõe uma armadilha importante ao

sugerir o domínio pessoal sobre o próprio estilo comportamental. A transição

de um estilo para outro não é tão simples como parece, encontrando fortes

limites na dinâmica psicológica do indivíduo. Além disso, a abordagem de

estilos desconsidera o contexto: neste enfoque a eficácia da liderança

depende apenas do comportamento individual e de um estilo ideal,

independente das características da tarefa, do grupo de trabalho e da

organização.

A abordagem contigencial, dominante até o início dos anos 80, propôs que

a eficácia do líder depende principalmente de fatores situacionais. Um dos

mais conhecidos exemplos desta abordageméo Modelo de Fiedlerque, de

forma bastante semelhante ao enfoque dos estilos, caracterizou dois tipos

básicos de líderes: aqueles que são motivados para o relacionamento e

os que são motivados para a tarefa. No entanto, nesta abordagem o

padrão comportamental é considerado fixo, estando ancorado na

personalidade do indivíduo; o que determinará a eficácia da liderança é o

contexto em que determinado estilo comportamental opera. Por exemplo:

um líder motivado para a tarefa tem maior sucesso em situações de alto ou

baixo controle, enquanto um líder motivado para o relacionamento encontra

maior sucesso em situações de controle moderado. A implicação desta

abordagem é que, como a personalidade da pessoa não pode ser mudada,

será necessário controlar a situação de trabalho ou alocar a melhor pessoa

para uma dada situação.

Um outro modelo, de menor sustentação acadêmica, é a Liderança

Situacional de Hersey e Blanchard, largamente utilizado em treinamentos de

liderança. Neste caso, diferentes níveis de maturidade (nível de habilidade e

motivação) dos liderados, demandarão diferentes estilos de liderança. No

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entanto, para este modelo, os estilos do líder são considerados móveis;

podendo ser alterados de situaçãO para situação, remetendo à perspectiva.

da abordagem dos estilos.

A abordagem contingencial desmistifica a idéia do líder universal e ideal;

reforçando a importância do contexto no qual ocorre a liderança. Isto tem

implicações importantes para os esforços de desenvolvimento

empreendidos pelas empresas: na medida em que aspectos situacionaiS

impactam o processo de liderança, até que ponto é possível esperar que

investimentos em treinamento e auto-desenvolvimento possam efetivamente

alavancar lideranças mais eficazes? Esta questão será levantada

novamente adiante; no momento vale ressaltar que a abordagem

contigencial privilegia a participação dos liderados no processo: suas

expectativas, motivações e também percepções a respeito do líder são

decisivos para a eficácia da liderança (Bergamini, 1994). A utilização da

. feedback com múltiplas fontes parece fazer sentido nesta perspectiva,

dando contornos visíveis à relação líder-liderados.

A partir dos anos 80 ganhou forma um movimento conhecido como as

novas abordagens de liderança. Embora composta de diferentes enfoques

que apresentam suas especificidades, traz à cena um tema comum: o líder

como administrador do sentido. Como afirma Bryman:

Juntos, estes enfoques revelam uma concepção do líder

como alguém que define a realidade organizacional por meio

da articulação de uma visão que é o reflexo de como ele ou

ela define a missão da organização e os valores que a

suportam. (Bryman, 1994, pg. 280).

Alguns autores procuraram caracterizar as diferenças entre chefes e líderes

(Bennis, 1996; Kotter, 1990; Zaleznik, 1997) ou entre líderes transacionais e

transformacionais (Bass, 1985). Nos dois enfoques, transparece na

liderança o caráter inspiracional, a dinâmica motivacional entre líderes e

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liderados e o compromisso com a mudança. Outros reforçam a importância

da criação de uma visão compartilhada (Kouzes & Posner, 1989; Kotter,

1997), capaz de mobilizar e orientar esforços rumo aos objetivos

organizacionais e à mudança.

Baseadas principalmente em estudos qualitativos realizados com empresas

e líderes de reconhecido sucesso, incluindo tanto personalidades famosas

como altos executivos, estas proposições procuram responder às dúvidas e

demandas atuais, decorrentes de um ambiente de negócios cada vez mais

competitivo· e em mutação. Intensifica-se o discurso e a pressão pela

mudança na forma como é compreendida a atuação gerencial. Como

propõe Bennis, comparando a eficiência do chefe à eficácia do líder: "O

;gerente faz certo as coisas; o líder faz a coisa certa" (Bennis, 1996, pg. 45).

O pensamento sobre liderança aproxima-a cada vez mais do desempenho

organizacional no cenário da competição: "Para que as organizações

possam vencer, a revolução - comandada por líderes com idéias, coração e

coragem para torná-Ias vivas - tem que se tornar um estilo de vida" (Tichy,

1997, pg. 24).

As abordagens clássicas da liderança oferecem um conjunto rico e amplo de

contribuições que se complementam mais do que se contradizem.

Certamente, deixaram as suas marcas nas organizações, orientando

comportamentos e estratégias de recursos humanos. Mas ...como

empreender a tradução destes conceitos para a realidade organizacional?

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1.2. Liderança como comportamento observável:

Ulrich, Zenger e Smalwood (1999), chamam a atenção para o fato de que as

organizações têm procurado responder a esta questão por meio da ênfase

nos atributos de liderança. Na última década, desenvolver líderes tem

significado principalmente investir na identificação e alavancagem dos

atributos que caracterizam os líderes eficazes. Os instrumentos e modelos

comumente utilizados, na prática, concentram-se em definir o que os

líderes são, sabem ou fazem:

Por trás do que chamamos de 'atributos de liderança' está

um conjunto de termos que às vezes se confundem e

sobrepõem, incluindo hábitos, traços, competências,

comportamentos, estilos, motivações, valores, habilidade e

caráter. Estes conceitos, coletivamente chamados de

'atributos de liderança' podem ser divididos em três

categorias: quem os líderes são (valores, motivações,

traços pessoais, caráter), o que os líderes sabem

(habilidades, traços), e o que os líderes fazem

(comportamentos, hábitos, estilos, competências). (Ulrich et

alü, 1999, pg, 4)

Os atributos em questão podem incorporar influências conceituais diversas,

da abordagem de traços à liderança transformacional. Sugerem

principalmente o foco no indivíduo e suas ações, mais do que no contexto,

depositando nele a principal parcela de responsabilidade pela eficácia da

liderança. Este aspecto será discutido adiante neste trabalho. Por ora, vale

abrir um parênteses para uma linha de estudos que parece ter influenciado

a forma como as empresas estão criando as suas estratégias e ferramentas

de desenvolvimento de lideranças: as pesquisas descritivas dos

comportamentos gerenciais. Isto por que muitas organizações têm utilizado

ferramentas centradas nos atributos da liderança, considerando os

comportamentos observáveis que caracterizam estes atributos. Exemplos já

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bastante conhecidos são as ferramentas de gestão de competências

(McLagan, 1997) e o próprio feedback com múltiplas fontes (Tornow &

London, 1998). Por isso é interessante comentar os estudos que procuraram

descrever as práticas gerenciais eficazes.

As pesquisas descritivas que se concentraram na análise de práticas

gerenciais esforçaram-se por identificar os comportamentos que

caracterizam a eficácia? da atuação gerencial. Estas pesquisas originaram.

diferentes taxonomias do conteúdo comportamental da atividade gerencial.

Um exemplo é a taxonomia dos papéis gerenciais proposta por Mintzberg

(1975), que descreve os papéis interpessoais, papéis informacionais e

papéis de tomada de decisão desempenhados por executivos em suas

ações cotidianas. Yukl (1994), por sua vez, identificou convergências entre

as taxonomias propostas por diferentes autores" e propôs uma taxonomia

integrativa, composta de quatorze práticas gerenciais, tal como demonstra o

quadro a seguir.

3 o sentido de eficácia nestes trabalhos não é consensual. Existem diferentes indicadores deeficácia da liderança: realização dos objetivos organizacionais, atitude dos liderados comrelação ao líder, nível de satisfação dos liderados, etc.40S autores analisados por Yukl foram Mintzberg, Morse & Wagner, Stogdill, Bowers &Seashore, House & Mitchell, Luthans & Lockwood e Page

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1. PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO: Determina objetivos e estratégias de longo prazo,alocando recursos de acordo com as prioridades; determina como utilizar os profissionais erecursos para realizar uma tarefa eficientemente; e determina como melhorar a coordenação,produtividade e a eficiência da unidade organizacional.

2. SOLUÇÃO DE PROBLEMAS: Identifica problemas relacionados ao trabalho, analisando-os demodo oportuno mas sistemático, para identificar causas e achar soluções, e agindodecisivamente para implementar soluções para problemas importantes ou crises.

3. DEFINiÇÃO DE PAPÉIS E OBJETIVOS: Designa tarefas, direcionando o modo de se fazer otrabalho e comunicando claramente as responsabilidades do trabalho, objetivos da tarefa,prazos e expectativas de desempenho.

4. INFORMAÇÃO: Dissemina informações relevantes sobre decisões, planos e atividades para aspessoas que delas precisam para realizar seu trabalho, providenciando materiais escritos edocumentos e respondendo solicitações de informações técnicas.

5. MONITORAMENTO: Reúne informações sobre as atividades e sobre condições externas queafetam o trabalho, checando seu progresso e qualida8e, avaliando os desempenhos individuais eda unidade organizacional, analisando tendências e prevendo eventos externos.

6. MOTIVAÇÃO E INSPIRAÇÃO: utiliza da emoção ou da lógica para gerar entusiasmo no trabalho,comprometimento com os objetivos da tarefa; e condescendência com as soucitações porcooperação, ajuda, apoio, ou recursos. Exemplifica comportamentos apropriados.

7. CONSULTA: Contata as pessoas antes de fazer mudanças que as afetem, encorajandosugestões para melhorias, incentivando a participação na tomada de decisões, incorporando asidéias e sugestões dadas nas decisões.

8. DELEGAÇÃO: Permite aos subordinados assumir substancial responsabilidade e discrição narealização de atividades no trabalho, lidando com problemas e tomando decisões importantes.

9. APOIO: Age amigavelmente e com deferência, sendo paciente e prestativo, mostrando simpatiae apoio quando alguém estiver aborrecido ou ansioso, ouvindo suas queixas e problemas,cuidando dos interesses dos colegas.

10. DESENVOLVIMENTO E 'MENTORING': Treina e aconselha para a carreira, facilitando aaquisição de habilidades de uma pessoa, desenvolvimento profissional e progresso na carreira.

11. ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS E CONSTRUÇÃO DE TIMES: Facilita a resolução construtivado conflito, e encoraja cooperação, trabalho em equipe e identificação com a unidade detrabalho.

12. NETWORKING: Socializa-se informalmente, desenvolvendo contatos com pessoas que são fontede informação e apoio, e mantém contatos através de interação periódica, incluindo visitas,chamadas telefônicas, correspondência e presença em reuniões e eventos sociais.

13. RECONHECIMENTO: Elogia e reconhece o desempenho eficaz, realizações significativas econtribuições especiais; expressa apreciação por contribuições e esforços especiais.

14. PREMIAÇÃO: Dá ou recomenda prêmios tangíveis, como aumento de salário ou promoção,diante de desempenho eficaz, realizações significativas e competência demonstrada.

Tabela 2 - Taxonomia integrativa de práticas gerenciais.Fonte: Yukl, 1994, pg. 69.

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Inventários de práticas gerenciais desta natureza são, no entanto,

descrições genencas e que não refletem contextos organizacionais

específicos. Evidentemente, é arriscado supôr que a eficácia da liderança

obedeça aos mesmos padrões em qualquer que seja a situação. Yukl

sugere a customização da taxonomia integrativa, priorizando de forma

diferenciada as 14 categorias, de acordo com a realidade de cada empresa.

Vale ressaltar, porém, que esta taxonomia absorveu influências das

abordagens clássicas de liderança. Por exemplo, os itens 1 e 3

(Planejamento e Organização e Definição de Papéis e Objetivos), estão

relacionados aos comportamentos de início de estrutura, dos estudos de

Ohio; já o item 9 (Apoio) relaciona-se à consideração.

Mais recentemente, Ulrich, Zenger e Smalwood (1999), propuseram um

sumário de atributos de lkierençe", também construído com base em

comportamentos observáveis, que divide o que líder deve "ser", "saber" e.

"fazer" em quatro categorias: criar uma direção, mobilizar o

comprometimento individual, alavancar a capacidade organizacional e

demonstrar caráter pessoal.

O modelo desenhado por estes autores incorpora elementos das novas

abordagens de liderança aos comportamentos observáveis que

caracterizam o líder, tais como: criação de um senso de direção (Por

exemplo: "consistentemente dá à organização uma clara direção" e "inspira

uma visão compartilhada"), construção dos valores organizacionais ("define,

dá forma e coloca em prática os valores essenciais"), articulação contínua

da mudança ("faz as mudanças acontecerem e atua como agente de

mudança"). Além disso, amplia o foco e o campo de atuação da liderança

(Por exemplo: "exibe forte orientação para o cliente" e "tem a visão,

habilidades e recursos necessários para formar redes de trabalho que vão

além de sua base de atuação").

5 Este modelo é eminentemente teórico, integrando conceitos sobre liderança que emergemde diferentes autores. Alguns deles: Edgar Schein, Rosabeth Kanter, Stephen Covey,Kenneth Blanchard, Kouzes & Posner, Peter Orucker e William Bridges.

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Se comparado à taxonomiade Yukl, este modelo assinala um compromisso

com a estratégia organizacional, numa concepção mais alinhada a conceitos

desta década. Por exemplo, utiliza a idéia de estratégia organizacional como

construção do futuro, tema explorado no trabalho de Prahalad e Hamel

(1995), segundo os quais, para crescer, uma empresa não deve apenas

esforçar-se em encontrar o melhor posicionamento em um dado mercado,

mas deve reinventar este mercado, criando e dominando as oportunidades

emergentes.

Outra diferença importante está em incluir nas práticas de liderança a

responsabilidade por orquestrar e alavancar capacidades organizacionais,

conceito utilizado com o seguinte sentido: "capacidade organizacional

refere-se aos processos, práticas e atividades que criam valor para ia

organização" (Ulrich et alii, 1999, pg.7).

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1.3. Alinhando comportamentos de liderança à estratégia

organizacional:

Algumas organizações têm buscado alinhar' as práticas de liderança àestratégia organizacional. Trata-se de delinear os comportamentos mais

adequados à viabilização das estratégias organizacionais, o que pode ser

exemplificado pela experiência da Westinghouse norte-americana, que

implementou um sistema integrado de desenvolvimento de lideranças, tal

como resume a figura 1.

Neste caso a empresa construiu um perfil de liderança baseado nas

competências individuais que entende como essenciais à consecução de

seus objetivos de negócios. O conceito de competências profissionais, no

entanto, ainda tem sido bastante debatido e ainda apresenta compreensões

diversas (Parry, 1996; McLagan, 1997), e determinadas lacunas conceituais

bem como carência de maior pesquisa (Collin, 1989). Pode, por exemplo,

ser compreendida como as tarefas e atividades de cada pessoa em suas

ocupações na organização, definindo responsabilidades e as atribuições de .

cada um. Pode, em outros casos, caracterizar os outputs, resultados ou .

entregas (deliveries) de cada pessoa ou equipe. Pode ainda, como no

caso da Westinghouse, representar conhecimentos, habilidades e atitudes

demandados na geração dos resultados esperados.

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o que desejamosrealizar?

Que tipo de pessoasprecisamos?

Como asidentificamos?

Como asdesenvolvemos?

Como as reconhecemose recompensamos?

ESTRATÉGIAS COMPETÊNCIAS DE DENTROLIDERANÇA Avaliações internas e

~Movimentação entre Premiações e incentivosEstabelecer uma forte .: discussões com o slaff funções e negócios anuaisbase financeira. Orientação para estratégico.

resultados: Educação executiva Divulgação eAtingir as metas de - orientação para o reconhecimento dosnegócios. negócio nas ações e Programas externos resultados de avaliações

resultados; '\. FORA t> Times de negóciosDesenvolver negócios- - pensamento r--. Movimentação parar---. Recrutamento externo Programas "consórcio" posições-chaves maischave globalmente. analítico.globais ou na indústria desafiadoras

Ampliar a margem de Estratégicas: Times de negócios Responsabilidadelucro operacional. - visão estratégica; adicional- orientação para o Forças tarefas

Criar organizações e cliente; Reconhecimento comambientes para o - inovação e mudança. Feedback 360 Graus açõessucesso.

esenvolvimento.", organizacional:- líder de equipe;- desenvolvimento de

pessoas;- postura aberta e

ética;- orientação global!

multicultural

'-"

Mensurado a partir dos objetivos estratégicos

Figura 1 - Abordagem integrada de desenvolvimento de liderança na Westinghouse.Fonte: Vicere, A. A. & Fulmer, R. M. ,1998. pg, 116. Tradução do autor

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o modelo integrado da Westinghouse utiliza as competências de liderança

como referência para outras funções e instrumentos de gestão de recursos

humanos, apontando estratégias e mecanismos de: recrutamento e seleção,

desenvolvimento e recompensa. Com relação às práticas de

desenvolvimento de liderança, utiliza um conjunto amplo de técnicas,

inclusive o feedback com múltiplas fontes: as lideranças recebem feedbacks

sobre a forma como as suas competências estão sendo percebidas por

pares, subordinados, etc. Como reforça Parry (1996), no entanto, a

utilização e aplicabilidade de instrumentos baseados em competências

depende, entre outros aspectos, de que sejam utilizados comportamentos

efetivamente observáveis e mensuráveis.

Na General Electric norte-americana ocorre algo semelhante (Ulrich et alii,

1999). Foram delineadas dez competências de liderança - caracterizadas na

forma de comportamentos observáveis - a- partir das percepções de seus

principais .executivos sobre a forma como 'os líderes irão promover a

cornpetitividade organizacional. Estas competências orientam um programa

de desenvolvimento de lideranças que utiliza técnicas diversas, por

exemplo: construção de projetos individuais de carreira, treinamentos,

participações em projetos específicos Uob assignments) e feedbacks de

pares, subordinados, clientes e chefias sobre o quanto os participantes

demonstram estas competências.

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1.4. Vantagens e limitações dos "comportamentos observáveis":

Alguns argumentos, portanto, parecem bastante estimulantes quanto à

utilização de abordagens baseadas em atributos de liderança - como no

caso dos modelos de competências - descrevendo estes atributos na forma

de comportamentos observáveis:

1. Procura alinhar a ação gerencial à necessidade de resposta

organizacional diante das demandas ambientais em um dado

momento;

2. Busca estabelecer e comunicar com maior nitidez o que é

liderança para uma determinada organização e como ela se

expressa nesse contexto;

3. Cria a possibilidade de visualização e mensuração desses

comportamentos, permitindo aferições relacionadas a eles, o que

pode ser de utilidade para diferentes funções de gestão· de

pessoas: seleção, remuneração, promoções, etc.

4. Oferece amplas possibilidades de orientar ações individuais e

organizacionais, bem como técnicas de desenvolvimento dos

atributos associados à liderança. Nesse sentido, serve de matéria-

prima para o feedback com múltiplas fontes .

. Embora este enfoque esteja sendo bastante utilizado pelas empresas,

alguns questionamentos podem ser levantados. Em primeiro lugar, é

importante observar que se concentra em compreender e enfatizar

comportamentos individuais, tal como propõe a abordagem dos estilos de

liderança; ou seja, é orientado por um pressuposto no qual o

comportamento individual é a chave para a liderança. No entanto, a

abordagem contingencial chama a atenção para o fato de que a liderança

não ocorre numa ausência de contexto. Pelo contrário, o grupo de liderados

e o ambiente organizacional podem ser decisivos para a eficácia de uma

liderança.

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Collin (1989), referindo-se a modelos baseados em competências, também

critica este enfoque: "Supostamente as qualidades individuais podem ser

produtos de relacionamentos entre pessoas, mais do que de fatores dentro

delas; ou uma função de seu papel ou resposta frente a uma determinada

situação" (Collin, 1989, pg. 23). A pergunta que decorre daí é: uma pessoa

que põe em prática os comportamentos que evidenciam um determinado

conjunto de atributos de liderança será necessariamente um líder eficaz?

Não necessariamente. E mais: irá produzir melhores resultados?

Ulrich et alii (1999), explicam que os modelos baseados em atributos de

liderança tendem a supervalorizar o que o líder é, sabe ou faz, dissociando

estas dimensões da geração de resultados. Não permitem compreender

com clareza que resultados organizacionais serão produzidos com estes

atributos, com estes comportamentos. Correm o risco de propôr conjuntos

de comportamentos observáveis genéricos e amplos, mensuráveis somente

no que diz respeito à sua freqüência e não quanto aos resultados que

produzem ou aos seus impactos nos objetivos organizacionais.

Por outro lado, existe o risco de inventários de atributos de liderança

descreverem comportamentos que, na realidade, se referem a traços (por

exemplo: "demonstra ser uma pessoa segura quando toma decisões") ou

que são surpreendentemente invisíveis ("pensa estrategicamente"), ou que

são comportamentos que as pessoas não sabem o que fazer para alavancar

ou não têm os recursos e habilidades disponíveis para fazê-lo, mesmo que

queiram. Nesses casos, limita-se a utilização de tal enfoque no

desenvolvimento de atributos de liderança; perdem o sentido descrições

comportamentais dessa natureza, além de colocarem em risco o

comprometimento daqueles que a utilizarão.

Existe uma expectativa de objetividade em tal enfoque, que se revela em

esforços e ferramentas de mensuração. No entanto, trata-se de campo

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repleto de nuances e subjetividades, tal como será discutido no Capítulo 3.

De forma geral, um mesmo enunciado de comportamento pode vir a ser

compreendido de maneira diversa por duas pessoas. Além disso, alguns

comportamentos podem ser claramente observados por pessoas situadas

em posições privilegiadas ao redor de uma liderança, e não sê-los por

outras.

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CAPíTULO 2 - DESENVOLVENDO LIDERANÇAS

2.1. Podem as organizações desenvolver líderes?

A existência de programas e estratégias voltadas ao desenvolvimento de

lideranças no contexto organizacional (Alpander, 1986; Vicere & Fulmer,

1998; Ulrich et alii, 1999) parece revelar uma forte expectativa de que sim...

que, de fato, pode-se desenvolver lideranças dentro. de uma organização de

forma programada. Mas, até onde este tipo de expectativa encontra suporte

em pesquisas e modelos teóricos? Em outras palavras: que resultados

pode-se efetivamente esperar de programas de desenvolvimento de

liderànças"?

Buscar respostas conclusivas para estas perguntas não é o objetivo

principal deste trabalho; significaria ampliar excessivamente o seu escopo.

No entanto, para chegar aos objetivos propostos, é obrigatório dedicar certa

. reflexão a respeito desta questão, uma das mais complexas a respeito da

liderança. Afinal, muitas são as explicações de quais são as origens dos

atributos pessoais (quer sejam traços, habilidades, competências ou estilos)

que fazem de alguém um líder em uma organização.

Conger (1996), identificou duas correntes de estudos a respeito das bases

psicológicas da liderança. Cada uma delas defende diferentes hipóteses e

gera diferentes implicações para as práticas de desenvolvimento de

lideranças: uma baseia-se nas influências de fatores inatos, a outra na

influência das experiências de vida.

6 Neste capítulo o termo "programa de desenvolvimento" refere-se a estratégias dedesenvolvimento profissional estruturadas, podendo integrar diferentes técnicas, que têmcomo objetivo alavancar determinados atributos (competências, comportamentos, traços,etc.). Estas técnicas incluem: treinamentos, action learning, feedbacks, etc. O tema serátratado com maior detalhe no próximo item.

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Há estudos que explicam os atributos de liderança do ponto de vista da

hereditariedade, de predisposições genéticas. Esta corrente pressupõe cpealgumas pessoas já nascem com um conjunto de características que irão

potencializar a liderança, o que fragiliza a importância de esforços

estruturados no sentido de se desenvolver atributos de liderança no

contexto organizacional. No entanto, mesmo os estudos que reforçam a,

posição de que determinados traços de personalidade são geneticamente

adquiridos admitem a influência de experiências e fatores ambientais.

o trabalho de Jaques e Canson (1998) tem um impacto importante sobre a.

compreensão da liderança. As pesquisas deste autor demonstram que a

complexidade de processamento de informação, uma dimensão cognitiva, é

decisiva para a capacidade profissional. Esta variável, denominada CMP,-

ComplexiÍy of Mental Processing é inata, varia de indivíduo para indivíduo,e

amadurece ao longo da vida segundo uma curva, específica de potencial.

Embora habilidades e comprometimento - que dependem de fatores

contextuais e ambientais - também exerçam influência sobre a capacidade

no trabalho. a CMP impacta a forma como uma pessoa consegue lidar e

respondera diferentes graus de complexidade.

Billis e Rowbotlom (1987), tendo como base os conceitos desenvolvidos por

Eliot Jaques, propõem a escolha das lideranças, em diferentes níveis

organizacionais ou até em equipes de trabalho, a partir desta dimensão

cognitiva: o líder escolhido deve ser preferencialmente aquele que se

encontra em estratos que o permitem lidar com níveis maiores de

complexidade, em comparação aos demais integrantes da equipe. A

conseqüência desta abordagem é imediata: algumas pessoas poderão

assumir este papel durante a vida, outras não.

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B) Influências da experiência de vida:

Estes estudos pressupõem que os atributos relacionados à liderança são

desenvolvidos principalmente a partir das experiências de vida. Esta

segunda perspectiva tem sido mais amplamente investigada, uma vez que

abre: maior espaço para intervenções. Os diferentes pesquisadores têm

concentrado os seus esforços principalmente em: 1 - experiências na

infância e adolescência; ou 2 - experiências na vida adulta.

Há fortes evidências de que as primeiras experiências de vida, na família e

também na escola, exercem influência decisiva na formação da

personalidade, impactando na formação de papéis, motivações pessoais,

auto-estima, auto-imaqern e padrões de relacionamento ínterpessoat. Estes

.. elementos têm sido compreendidos como elementos que impactam a

manifestação de comportamentos associados à liderança na vida adulta

(Conger, 1996, Robbins, 1998).

Bass (1990) revisitou as pesquisas voltadas a compreender as bases

psicológicas da liderança. Os focos deste trabalhos são variados e apontam

relações entre comportamentos de liderança e aspectos como: ordem de

nascimento, tamanho da família, características dos modelos paternos. Bass

observa que há uma multiplicidade de fatores ao longo da vida de uma

pessoa que, se combinados, contribuem com a formação de um líder. Além

dos aspectos genéticos, que impactam principalmente a dimensão cognitiva,

é preciso considerar os antecedentes familiares, os modelos educacionais e

de papéis, aprendizados sociais políticos em ambientes tanto informais

como formais.

A influência das experiências da infância sobre os líderes organizacionais

adultos tem sido tema intensamente estudado pelos autores de tradição

psicanalítica. Assim, Zalesnik & Devries, (1981), Melaine Klein (1995),

Lapierre (1995), entre outros, têm lançado luz à formação da personalidade

na vida infantil e à atualização de experiências do início de vida na

psicodinâmica, motivações e condutas dos líderes adultos. Zaleznik (1997)

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defende a idéia de que líderes são pessoas nascidas "duas vezes",

diferenciado-os de gerentes, pessoas nascidas "uma só vez". A formação do

líder, nesta teoria, dependeria da vivência de determinados conflitos

pessoais e de um ambiente turbulento que permitiriam à pessoa comecer-

se mais, redefinindo mais conscientemente os contornos da sua própria

identidade.

Embora a influência do primeiro período de vida seja inquestionável,

também a vida adulta pode conter experiências importantes para a formação

do líder, principalmente no contexto de trabalho. Tal opinião é suportada

pela pesquisa de McCall, Lombardo e Morrison (1988), com 191 execenvos,

onde a experiência em situações de trabalho surge como elemento decisivo

. na definição dos atributos necessários à liderança em contexto

organizacional. Os autores argumentam que estas experiências permitem

ter contato com alguns aspectos especialmente impactantes, como:

conhecer amplamente o negócio, atuar junto a executivos seniores.fidar

com situações politicamente tensas, gerenciar recursos, demitir pessoas.:

De forma semelhante, Kotter (1990) pesquisou 200 executivos e chegou à. conclusão de que as experiências de início de carreira são particularmente .

marcantes. Ele identificou as seguintes experiências como reais

oportunidades de desenvolvimento no ambiente organizacional:

Responsabilidades e tarefas desafiadoras no início de carreira;

- A visibilidade de líderes já existentes, atuando como modelos;

Atividades que ampliam o conhecimento e experiência;

Participação em equipes de projetos;

Ter executivos mais experientes como mentores e coaches;

Atuação em atividades que encontram-se fora das responsabilidades

centrais da pessoa;

Treinamentos.

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Diante destas constatações, pode-se compreender que o processo de

desenvolvimento de atributos de liderança envolve uma seqüência complexa

de eventos que desencadeiam-se ao longo da vida: inicia-se com a

combinação de determinadas predisposições genéticas, complementa-se

com experiências afetivas e sociais da infância e adolescência e consolida-

se com vivências e aprendizagens da vida adulta, especialmente na esfera

profissional.

No entanto, mesmo que todos os atributos de liderança estejam presentes

em um mesmo indivíduo, isto não é certeza de que ele efetivamente atuará

como um líder; há outros fatores envolvidos, por exemplo: a situação e o

grupo têm de ser os mais adequados, tal como demonstra a abordagem

contigencial da liderança, e tem de haver comprometimento, vontade de

atuar como líder em uma determinada situação.

o que se observa com isto é-que os programas de desenvolvimento de .

lideranças adotados pelas empresas competem com um conjunto amplo e

dinâmico de variáveis. Conger, referindo-se especificamente a treinamentos,

levanta a polêmica:

Como podemos motivar gerentes a serem líderes em

seminários de três dias, se um componente chave, aauto-estima, tem raízes na infância? Como, em uma

semana, podemos ensinar a habilidade de visualizar

oportunidades futuras de negócio, uma habilidade que

exige anos de experiência para ser desenvolvida? Como

podemos ensinar habilidades interpessoais para

compreender as necessidades e aspirações de liderados

em potencial, se estas habilidades apresentam um

componente genético? Seria terrivelmente irreal esperar

estes resultados de treinamentos, principalmente

quando ocorrem em experiências de três a cinco dias

(Conger, 1996, pg. 34).

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o que podem produzir, então, programas e treinamentos de liderança? A

partir das pesquisas de Kotter (1990), que analisou um conjunto amplo de

oportunidades de desenvolvimento, e de Conger (1996), que concentrou-se

em estudar os modelos de treinamento de lideranças mais utilizados pelas

empresas norte-americanas, pode-se propor algumas expectativas para

práticas desta natureza:

1. Mesmo havendo limites, impostos pela história e características de cada

um, é possível que ajudem a estruturar e sintetizar experiências e

conhecimentos pessoais relacionados à liderança. Determinadas'

habilidades podem ser desenvolvidas ou refinadas, sem que para isso a

pessoa tenha de aprender apenas pela observação ou por tentativa e

1,(, erro. Além disso, permitem que isto ocorra logo no início da carreira,

gerando parâmetros e referências diversificadas para as experiências

profissionais.

2. Alguns 'treinamentos contribuem com o desenvolvimento de habilidades

conceituais: podem, por exemplo, ajudar a compreender a organização

de forma estratégica e sistêmica; podem também criar um entendimento

do que diferencia gerentes e líderes. Nesse sentido, contribuem por

alterar a compreensão dos participantes sobre a realidade, ajudando a

rever modelos mentais (Senge, 1990; Senge et alii, 1994). Outros

treinamentos, com enfoques mais voltados ao crescimento pessoal,

ajudam o participante a conhecer-se mais, entendendo suas

motivações, auto-estima e a forma como se relaciona com as pessoas.

3. Algumas das oportunidade de desenvolvimento listadas por Kotter

(1990) podem propiciar um maior conhecimento sobre necessidades de

desenvolvimento, viabilizando focar, negociar e articular esforços

conjuntos de desenvolvimento, envolvendo o indivíduo e a organização.

Como ressalta Bass (1990), o desenvolvimento de um líder em contexto

organizacional requer esforços combinados do indivíduo - com suas

aspirações e projetos pessoais - e da organização - gerando

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oportunidades e estímulos ao desenvolvimento destes atributos.

4. Permitem ampliar a visibilidade do participante, fortalecendo sua rede

social ou evidenciando-o como talento em potencial.

Será que estes aspectos bastam para transformar gerentes em líderes? A

resposta é fácil: não necessariamente. Conger (1996) chama a atenção para

o fato de que muitas vezes os praticantes de treinamentos de liderança -

profissionais de recursos humanos, consultores e treinandos - normalmente

expressam expectativas muito mais otimistas. Na realidade é impossível

prever com exatidão de que forma estas experiências impactarão as

competências de cada um e também como ocorrerá a expressão destas

competências. Como aponta Bass (1990), referindo-se a treinamentos de

liderança, existe um conjunto de fatores que podem impactar a sua eficácia:

definição de critérios de eficácia, características do grupo e do próprio

treinando, atributos do instrutor, práticas de follow-up após o treinamento e

, consistência do treinamento com o ambiente organizacional (clima, resposta

, do superior imediato e integração do treinamento com as práticas de gestão

de pessoas).

2.2. Desenvolvimento de lideranças como processo:

De forma semelhante a Kotter (1990), Vicere e Fulmer (1998) investigaram

as técnicas atualmente utilizadas pelas empresas norte-americanas para

desenvolver lideranças. Como é possível perceber na Tabela 1, na

Apresentação deste trabalho, estas técnicas podem incluir: rodízios,

participações em projetos e forças tarefas, feedbacks, etc. Algumas

tendências foram percebidas:

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• Maior ênfase em atividades concentradas na experiência e no

ambiente de trabalho, reduzindo-se o tempo gasto em atividades de

sala de aula;

• Grande customização de programas: cada empresa desenha e

implementa o que seja mais adequado à sua realidade;

• Integração das iniciativas de desenvolvimento de liderança com

outras práticas de recursos humanos: seleção, avaliação de

desempenho, remuneração;

• Desenvolvimento de lideranças entendido como um processo

contínuo, que integra e estrutura diferentes técnicas, sendo guiado

pela estratégia da organização.

Com o objetivo de caracterizar o desenvolvimento de liderança como um

processo, no qual se integram consistentemente diferentes técnicas, Vicere

propõe a utilização de um modelo: o ciclo de criação do conhecimento

(Vicere & Fulmer, 1998). Este modelo amplia o ciclo de aprendizagem de

Kolb et alii (1978), no qual o processo de aprendizagem é caracterizado por

quatro fases: 1. experiências concretas, 2. observação e reflexão, 3.

formação de conceitos abstratos e generalizações, 4. teste das implicações

dos conceitos em novas situações. Já o processo proposto por Vicere passa

pela aprendizagem individual e expande-se para o grupo, para o nível

organizacional, gerando conhecimento. Pode ser esquematizado como

segue.

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~ conheCimentO)Ligação

Aprendizagem

Perspectiva /'- Nova Experiênci)

Desafio

(

Conhecimento

LigaçãoAPrendiZagem)

PerspectivaExperiência .

Figura 2 - O Ciclo de Criação do Conhecimento'Fonte: Vicere & Fulmer, 1998, pg. 95.

As diferentes etapas do ciclo podem ser explicadas da seguinte forma:

• Experiência: o conjunto de conhecimentos adquiridos pela experiência.

Neste ponto expressam-se as aptidões e habilidades já existentes.

• Perspectiva: nesta etapa do ciclo o conhecimento adquirido por meio da

experiência pode ser avaliado e checado em relação a novas

referências. Técnicas que podem oferecer esta nova perspectiva seriam:

cursos em sala de aula (in-company, cursos externos e programas-

consórcio), feedbacks, coaching e mentoring, programas baseados em

crescimento pessoal (Conger, 1996). Estas perspectivas criam

oportunidades principalmente de rever modelos mentais (Senge, 1990;

Senge et alii, 1994).

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• Aprendizagem: Segundo Vicere e Fulmer (1998), a aprendizagem

ocorre a partir dos insights promovidos por novas perspectivas, quando

estas se somam a experiências e conhecimentos já existentes.

• Ligação: Nesta etapa o que foi aprendido é colocado em prática,

experimentado e monitorado no ambiente de trabalho. Algumas técnicas

que podem ser utilizadas com este objetivo: avaliação de desempenho,

participação em forças tarefas e projetos, facilitação do desenvolvimento

de outros profissionais, aprendizagem em ação (action learning), projetos

aplicativos.

• Conhecimento: O compartilhamento das aprendizagens individuais e a '

possibilidade de trabalhos conjuntos caracteriza-se como uma

oportunidade de expansão do' processo de desenvolvimento do nível

individual para o nível organizacional. "Quando grupos de líderes

individuais têm a' chance de trabalhar juntos, dividir aprendizagens

pessoais e resolver problemas reais da empresa; desenvolvem formas

de criar novos conhecimentos organizacionais. De fato, criam novas

formas de pensar, operar e gerar resultados na organização" (Vicere &

Fulmer, 1998, pg. 114). Isto encontra ressonância nos trabalhos de

Nonaka (1991): segundo este autor, compartilhar o conhecimento

individual com os outros é a atividade central da criação de

conhecimento em uma empresa.

• Desafio e nova aprendizagem: Para dar prosseguimento ao processo

de aprendizagem e criação do conhecimento, os líderes devem ser

continuamente desafiados, envolvidos em novas situações de

aprendizagem. Em geral, isto pode ocorrer por meio de uma ampliação e

rodízio de responsabilidades ou área de atuação.

Vicere e Fulmer (1998) propõem utilizar este modelo como referência e guia

no desenho do processos de desenvolvimento de lideranças de empresas.

A figura a seguir apresenta uma ilustração disto, a partir da experiência real

da empresa norte-americana de alimentação Aramark, esquematizando o

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programa de desenvolvimento de lideranças da empresa. Este programa

integra diferentes técnicas, aliando aquelas voltadas à criação de novas

perspectivas (entre elas os múltiplos feedbacks) com intensivas

oportunidades de compartilhamento de experiências e aprendizado

conjunto.

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Módulo 1Introdução Administrando Análise de Planos e Pensamento Sumário

os ciclos da mercado programas de sistêmico: oLiderança em mudança desenvolvimen- centro da análise Introdução aoequipes de Diálogo com o to do negócio baseada em plano detrabalho O desafio da presidente fatos liderança

excelência em executivaserviços lntroduçâo ao

projeto de ação

Módulo 2Alinhamento Administração Discussões dos

organizacional: uma financeira: análise de projetos aplicativosforça para a crescimento

competitividade:[

Trabalho em projeto

J~Trabalho em projeto

Módulo 3Finalização das Apresentação dos Liderança

apresentações dos projetos aplicativos às estratégica 11projetos aplicativos unidades de negócio

e gestores Planejamento doMód.4'"~L- ~

E(")

Módulo 4

Apresentações de atualização dos projetos Explorando mudanças para a liderança deaplicativos mercado

-,',

Figura 3 - Desenvolvimento de Lideranças na AramarkFonte: Vicere, A. A. & Fulmer, R. M. , 1998, pg. 212. Tradução do autor.

i"(1)(1)Q.C'Dlo,..VJO>oG)tilc:_C/l

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CAPíTULO 3 - FEEDBACK COM MÚlTIPLAS FONTES

3.1. Origens e principais forças propulsoras:

Revisitar as raízes do feedback com múltiplas fontes, FMF, remete ao

movimento de relações humanas dos anos 50 e 60, e à prática do

Desenvolvimento Organizacional (Waldman et alii, 1997). Um dos

instrumentos utilizados por seus praticantes é o survey feedback que

utiliza questionários de avaliação para identificar e discutir discrepâncias

entre percepções dentro de um determinado grupo, buscando soluções

de melhoria. Trata-se de um instrumento de intervenção na dinâmica

interpessoal de um grupo, diferindo portanto do FMF, cuja utilização tem .

um foco maior no desenvolvimento profissional e melhoria de

desempenho.

Lepsinqer e Lucia (1997) ressaltam que, a partir da década de 50, duas

idéias centrais passaram a orientar o conteúdo·e a forma do feedback

recebido pelas pessoas nas organizações. Por um lado, a administração

por objetivos .ajudou a formalizar e focar o processo de feedback; por

outro,' pesquisas na área de motivação e satisfação no trabalho

estabeleceram uma relação entre feedback recebido e produtividade/

satisfação com o trabalho. Estas tendências impulsionaram práticas de

reuniões de feedback de desempenho, envolvendo supervisor e

empregado.

Em um trabalho clássico, Hackman e Oldham (1975), propuseram um

modelo para a análise das características do trabalho e que podem

interferir na motivação e desempenho de quem o executa. O modelo

pressupõe um diagnóstico que utiliza cinco dimensões: diversidade de

habilidades, identidade da tarefa, significado da tarefa, autonomia e

feedback. Estas dimensões estão relacionadas a estados psicológicos

que impactam o desempenho na tarefa: senso de importância e

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significado do trabalho, responsabilidade pelo resultado do trabalho,

conhecimento dos resultados da tarefa.

Neste modelo, a dimensão feedback refere-se ao grau em que um

indivíduo recebe informações diretas e claras, a respeito do seu

desempenho. O feedback pode vir da própria execução do trabalho

(intrínseco) ou de colegas e supervisores (extrínsecos), impactando no

conhecimento que uma pessoa tem dos reais resultados que alcançou

com o seu trabalho.

Entre os anos 60 e"70, experiências utilizando feedbacks em empresas

. tiveram como principal preocupação melhorar a precisão do feedback e a

amplitude das in"formaçõespor ele disponibilizadas, impulsionando

tentativas que incluíam as percepções de subordinados com relação às

ações de seus superiores. Nesse período, "diferentes estudos

'súbstancíaram a hipótese de que as percepções" de subordinados diretos

a respeito dos comportamentos de seus superiores eram acurados e"

geravam impactos positivos, uma vez que o gerente aprendia a forma

como os outros o percebiam. Por essa razão, companhias como a IBM

têm utilizado feedbacks de subordinados diretos nas suas discussões de

desempenho por mais de 30anos" (Lepsinger & Lucia, 1997, pg. 7).

Pesquisas realizadas em meados dos anos 80 no Genter for Creative

Leadership, focadas no desenvolvimento gerencial, apresentaram

conclusões interessantes e que estimularam a geração de experiências

mais estruturadas com feedbacks de múltiplas fontes. Uma delas é que

feedbacks no ambiente de trabalho são um importante elemento no

desenvolvimento profissional e pessoal, contribuindo com a aquisição e

amadurecimento de habilidades e com a melhoria de desempenho

(Lepsinger & Lucia, 1997; Tornow & London, 1998). Também importante

é uma outra constatação deste conjunto de estudos: a maioria dos

gerentes pesquisados percebem que atuam em ambientes

organizacionais carentes de oportunidades de feedback; a maior parte

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dos feedbacks recebidos relaciona-se a indicadores financeiros.

Na década de 90 intensificaram-se as experiências com a técnica e

também as pesquisas que procuram compreender os seus impactos no

ambiente organizacional. Várias delas apresentaram resultados

promissores, embora interpretem de formas diferentes os ganhos

individuais e organizacionais observados com a utilização do FMF.

Resultados dessas pesquisas são discutidos a seguir.

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3.2. Conhecendo os resultados do processo de FMF:

Pesquisadores de influência da psicologia social-cognitiva e da teoria da

aprendizagem social (Bandura, 1986), argumentam que o processo

promove ganhos relacionados ao auto-conhecimento dos participantes,

ou seja.: propicia um incremento na consistência entre auto-percepção e

percepção dos outros. A pesquisa longitudinal de Cheston (1997), por

exemplo, realizada com 70 participantes de programas de

desenvolvimento gerencial da NASA, encontrou evidências de que, em

uma segunda situação de FMF, houve maior congruência entre as auto-

avaliações e os feedback dos outros. Estes resultados foram mais nítidos

nos casos de gerentes que obtiveram escores mais baixos nos feedbacks

da primeira situação de FMF.

Sobre os impactos do FMF, Church e Bracken ressaltam:

Quando gerentes comparam os resultados das avaliações

feitas por seus colegas com suas próprias percepções, eles

são envolvidos num processo de reflexão que resulta em um

maior nível de consciência de seus atos e das conseqüências

que essas ações têm sobre os outros, em vários níveis,

dentro e fora da organização. (Church & Bracken, 1997, p.

150).

London e Smither (1995) reforçam a idéia de que esta maior consistência

tem correlação positiva com o desempenho profissional: pessoas cuja

auto-avaliação é congruente com a avaliação de outras tendem a

apresentar melhores resultados no trabalho. Esta congruência éinterpretada como uma habilidade que viabiliza monitorar e ajustar

continuamente, e com maior precisão, ações e comportamentos diante

das demandas organizacionais; em outras palavras, facilita o processo de

auto-regulação de um indivíduo em seu ambiente de trabalho.

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Estes pressupostos remetem à expectativa de que identificar e

compreender convergências ou discrepâncias entre uma auto-avaliação e

a avaliação dos outros pode ser uma experiência de aprendizagem. Em

função disso, 90% das experiências como o FMF utilizam este tipo de

análise (London & Smither, 1995).

Outras pesquisas procuraram identificar as mudanças comportamentais

ocorridas após contínuos feedbacks com múltiplas fontes. Smither et alii

(1995), por exemplo, estudaram os impactos de feedbacks de baixo para

cima e identificaram uma tendência de aumento na' freqüência dos

comportamentos utilizados como base do processo, que enfocavam

atributos como: comprometimento com a 'qualidade, comunicação,

suporte aos subordinados (coaching, estimulando a participação), etc. A

. conclusão desta pesquisa, realizada com 238 gerentes, foi que a.técnica

estimulou a busca de novos comportamentos. No" entanto,estas

mudanças não ocorreram de forma homogênea: os gerentes que

obtiveram os menores escores em um primeiro momento de feedback

foram os que apresentaram as maiores mudanças seis meses depois, em

uma segunda rodada.

De forma semelhante, pesquisas longitudinais (Hazucha et alii, 1993; ,

Goldsmith, 1996) encontraram evidências de mudanças comporta mentais

relacionadas à utilização do FMF: sugerem que os participantes do

processo tiveram mudanças comporta mentais, na direção daqueles

atributos que orientaram o processo.

A pesquisa de Hazucha et alii (1993) é particularmente interessante pois

demonstra também que estes resultados variam substancialmente de

pessoa para pessoa; na realidade, dependem de investimento individual

em auto-desenvolvimento, do suporte de chefias (coaching), e do suporte

organizacional (treinamento, remuneração consistente com

desenvolvimento profissional, etc.). Há uma convergência entre as

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conclusões destes autores com aquelas colocadas por Goldsmith (1996)

e também Ashford e Tsui (1991): as mudanças comportamentais são

mais evidentes naqueles profissionais que buscam continuamente novos

feedbacks por conta própria, independente de processos formais,

monitorando como são percebidos por pares, subordinados, clientes, etc.

'. !

Outros estudos apontam a importância de se utilizar diferentes fontes.

Uma pesquisa, por exemplo, evidenciou que. diferentes fontes de

feedback tendem a garantir um panorama mais amplo e completo sobre a

forma como os comportamentos de uma pessoa impactam o ambiente

organizacional (Saiam et alii, 1997). O estudo ressalta que dispersões nos

feedbacks de subordinados, chefias e pares não significam erros na

metodologia; pelo contrário, eventuais discrepâncias de pontos de vista

devem. ser tratadas como informações complementares, altamente

significativas e legitimadoras do' processo. Indivíduos situados .ern

diferentes ângulos do cenário orqanizacionale, portanto, apresentando

diferentes expectativas e padrões de relacionamento com o receptor dos

feedbacks, tendem a focar-se prioritariamente em diferentes tipos de

comportamentos. Assim, subordinados podem .concentrar a sua atenção

e até avaliar com maior precisão itens como "apoia o desenvolvimento de

seus subordinados, atuando como coach"; o mesmo ocorrendo com

relação aos pares, em itens como "participa da construção da estratégia

da empresa".

Em suma, é possível apontar três premissas centrais que têm orientado

as expectativas e estudos a respeito do feedback com múltiplas fontes:

J 1. O feedback estruturado, claro e cuidadoso pode ser um

instrumento efetivo de aprendizagem e desenvolvimento de

atributos de liderança;

~ 2. O fato dos feedbacks se originarem em diferentes fontes permite

uma compreensão mais completa e clara dos impactos dos

próprios comportamentos no ambiente organizacional. Ou, como

51

J

Page 60: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO …...vez..mais empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback

ressaltam Yukl e Lepsinger (1995, pg. 45): "Quando as pessoas

recebem feedbacks honestos e específicos de seus superiores,

colegas e subordinados elas passam a compreender como os seus

comportamentos afetam as outras pessoas e percebem a

necessidade de mudar alguns desses comportamentos."

3. Os resultados comportamentais irão depender de: diferenças

individuais, de empenho pessoal e de

organizacional favorável à mudança.

um ambiente

52

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3.3. Feedback com múltiplas fontes e redes de trabalho:

A utilização de feedbacks que incluem diversas fontes é coerente com um

cenário onde as empresas buscam novas formas de organização, para se '

adequarem às pressões da competitividade e à necessidade de mudare

responder prontamente a clientes e mercados. Pressões dessa natureza,

aliadas às atuais possibilidades das tecnologias de informação,

produziram configurações organizacionais orientadas mais por processos

do que por funções, a multiplicação de relações laterais e a arquitetura de

networks, tal como detalha Galbraith (1995). Nesse contexto, reduzem-

se os níveis hierárquicos e descentraliza-se o poder de decisão, diluído

em unidades com maior autonomia; estimula-se o fortalecimento e

autonomia das equipes de trabalho.

Na transição para este ambiente bem mais complexo, 'caracterizado pela

conectividade e comunicação em maior número de canais e direções, a

percepção do superior imediato passa a ser insuficiente como fonte de

feedback. Clientes internos e externos, equipes, pares, outras áreas

funcionais - diferentes interfaces dos processos de trabalho -

concentram cada uma delas preciosas percepções e informações a

respeito da atuação profissional, no processo de articulação e

mobilização de atores organizacionais na direção dos objetivos

organizacionais. É nesses relacionamentos que se dão as práticas de

liderança,

Yukl (1994), ressalta que os gerentes passam considerável parte do seu

tempo estabelecendo contatos que não são do tipo de "cima para baixo".

Na realidade, essa rede de contatos inclui relacionamentos verticais,

laterais e também com atores situados no ambiente externo da

organização, tal como exemplificado na próxima página.

53

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RepresentantesAlta gerência governamentais

Superioreslaterais Clientes

Pares Fornecedores

Subordinados Colegas delaterais profissão

ContatosSubordinados estratégicos na

indiretos comunidade

Figura 4 - Rede de contatos de um gerente.Fonte: Yukl, G. 1994, p. 23.

De fato; boa parte dos contatos de um gerente fazem parte do seu

network informal e são relações que ele tem de otimizar a fim de viabilizar

os objetivos organizacionais. Krackhardt e Hanson (1993), mapearam os

networks informais em uma empresa de informática que atua por projetos,

e identificaram os relacionamentos que efetivamente viabilizam os

resultados da companhia. Nesse caso, a estrutura organizacional formal

(figura 5) mostrou-se pouco representativa da dinâmica de relações do

sistema.

Sistemas de Corirokt de DadosSIern (VP)

Figura 5 - Organograma de uma empresa de informática.Fonte: Krackhardt, D.; Hanson, J. R. H. 1993, pg. 106. Trad. do autor.

54

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Uma primeira caracterização do network informal foi construída a partir da

busca por apoio, orientação e suporte técnicos na execução de um

projeto (figura 6). Nesse caso foi evidenciado que nem sempre eram os

chefes formais os principais responsáveis pela coordenação eficaz da

rede de trabalho. Um segundo mapeamento, desta vez baseado nas

relações de confiança entre os profissionais, demonstrou pontos de

convergência da rede, evidenciando pessoas cuja credibilidade

efetivamente influencia pessoas e equipes, mobilizando-as na direção de

objetivos.

"i.

.-------.:.--~---_ Bair

Thorras~Muller

t

.. • !

Figura 6 - Network informal de uma empresa de informática.Fonte: Krackhardt, D.; Hanson, J. R. H. 1993, pg. 107.

Num contexto com essa complexidade, torna-se insuficiente compreender

a liderança a partir de modelos tradicionais, baseados em traços e

comportamentos do líder, em relacionamentos de cima para baixo ou

sustentados na autoridade formal (Bryman, 1996). Hosking (1988),

propõe compreender a liderança como um conjunto de processos que

organizam um determinado sistema social, processos estes que

"contribuem com a estruturação de interações e relacionamentos,

atividades e sentimentos; processos nos quais as definições da ordem

social são negociados, considerados aceitáveis, implementados e

renegociados; processos nos quais interdependências são organizadas

de forma que, em menor ou maior grau, promovam os valores e

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Page 64: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO …...vez..mais empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback

interesses da ordem social" (Hoskinq, 1988, pg.147). Esse enfoque tem

determinadas implicações: 1 - o líder pode ou não ser formal; 2 - pode

haver um ou mais líderes num mesmo sistema social; 3 - o processo de

liderança não se restringe às fronteiras do nível hierárquico, de

determinada unidade ou mesmo da organização.

Em tal perspectiva, o networking faz parte do conjunto de habilidades de

organização que viabilizam a emergência de um líder em um determinado

sistema social; é o exercício contínuo da influência social na estruturação

de relacionamentos. Dessa forma, o. processo de liderança abrange

relacionamentos para cima, para os lados e também para fora da

organização, com clientes, parceiros, fornecedores.

o papel do feedback em ambientes organizacionais de grande

complexidade foi estudado por Ashford & Tsui (1991). "Dadas as

ambigüidades inerentes ao trabalho gerencial, os feedbacks de fontes

como superiores, pares e subordinados podem representar um

importante papel na habilidade individual de atuar como um gerente

eficaz. O feedback possibilita ao gerente ter um senso mais acurado

sobre como estas fontes percebem e avaliam o seu trabalho" (pg.251).

É importante destacar que, no FMF, os feedbacks são fornecidos pelos

integrantes do network pessoal do avaliado: quem dá os feedbacks são

as pessoas com quem o avaliado interage para viabilizar objetivos

organizacionais. Em outras palavras, isto significa que o processo facilita

o desenvolvimento não apenas da eficácia da liderança de cima para

baixo, mas da eficácia de liderança da rede como um todo, em todas as

suas direções.

56

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3.4. Implementação do feedback com múltiplas fontes:

Como técnica utilizada em programas de desenvolvimento de lideranças,

o FMF consiste em coletar informações provenientes de diferentes

perspectivas do ambiente interno e externo da organização. Quem emite

o feedback são pessoas situadas em diferentes posições ao redor do

receptor e que fazem parte de sua rede de contatos: seu superior

imediato, pares, subordinados e outros stakeholders.

Como já foi mencionado anteriormente, o FMF baseia-se em

comportamentos observáveis: é um processo que envolve o levantamento

das percepções que as pessoas têm a respeito de determinados

comportamentos da pessoa que· recebe os feedbacks. Estes

comportamentos são previamente escolhidos pela organização, em

função dos atributos de liderança que pretende estimular e alavancar.

Aqueles que fornecem os feedbacks avaliam,então, a freqüência com

que:o receptor coloca em prática esses comportamentos. Em geral são

treinados previamente para isso e o seu número pode variar de caso

para caso, mas tem sido freqüente envolver de 3 a 20 pessoas para cada

avaliado (Lepsinger & Lucia, 1997). Além disso, há uma auto-avaliação,

onde o receptor registra as suas próprias percepções.

INTERNAS I 1 AUTO-AVALIAÇÃO I I· EXTERNAS

chefias~

c:::V

~

receptor clientespares

subordinados

Figura 7- Fontes de feedback em um processo com múltiplas fontes.

57

Page 66: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO …...vez..mais empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback

Os feedbacks recebidos em geral servirão de base para a construção de

um plano de desenvolvimento pessoal ou para outras atividades de

continuidade propostas pela organização, tais como follow-ups e

treinamentos. Estas outras atividades dependem da forma como a

empresa posiciona o feedback em relação às suas práticas de

desenvolvimento de liderança.

A literatura sobre o assunto converge na direção de alguns cuidados

chaves que devem ser tomados na implementação doFMF. Devem ser

considerados os seguintes aspectos (Conger, 1999; Lepsinger.& Lucia,

1997; Van Velsor, 1998):

a. Delineamento do perfil de liderança .e desenvolvimento do

instrumento de teeâbec«:I

O processo inicia-se quando a organização define os atributos de

liderança - comportamentos observáveis - a serem utilizados. Isto ern .

geral envolve os principais gestores da companhia, que caracterizam o

perfil de liderança que melhor atenda ao contexto e estratégia

organizacionais. Podem ser utilizadas diferentes técnicas, que ajudarão a

compor o perfil de liderança final: observações em campo, entrevistas,

técnica do incidente crítico, entrevistas com os participantes do processo,

grupos piloto, entre outros. Existe a opção de utilizar um perfil pré-

definido, proveniente de um modelo teórico; é o caso, por exemplo, do

instrumento de Kouzes e Posner (1996), o Leadership Practices

Inventory, construído a partir de atributos de liderança descritos pelos

autores. Podem ser utilizados também modelos de competências já

existentes na organização.

Uma vez definidos os comportamentos a serem utilizados, a organização

poderá selecionar o tipo de questionário que melhor se adequa aos seus

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Page 67: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO …...vez..mais empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback

objetivos. A figura a seguir apresenta o trecho de um típico questionário

utilizado em FMF, baseado em uma escala de freqüência.

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o = não possuo informações suficientes

1 = nunca

2 = de vez em quando

3 = com razoável freqüência

4 = com grande freqüência

5 = sempre

Com que freqüência este gerente ...

1. Demonstra compreender como funcionam os negócios O 1 2 3 4 5

2. Comunica claramente a estratégia da companhia O 1 2 3 4 5

3. Identifica oportunidades de negócio, desenvolve contatos. O 1 2 3 4 5e, efetivamente, vende produtos e serviços da empresa " .

4. Negocia e esclarece metas e expectativas de ; O 1 2 3 4 5desempenho com a sua equipe

5. Busca saber das pessoas o que elas precisam para fazer O 1 2 3 4 5um trabalho melhor.

6. Apoia o desenvolvimento com feedback e coachinq O 12 3 4 5

Figura 8 - Exemplo de questionário utilizado no FMF.

Qualquer que seja o instrumento utilizado, é preciso certificar-se de que

ele seja efetivamente capaz de fornecer as informações esperadas (Van,

Velsor, 1998). Testes e procedimentos de validação devem ser

.conduzidos, a fim de que sejam identificados e minimizados erros

atribuíveis ao instrumento, tais como: ambigüidades, redundâncias,

dificuldades de compreensão e aplicabilidade da escala. Uma forma é

60

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testar o instrumento em grupo piloto ou realizar um teste estatístico de

repílcabilidade', a fim de checar se o instrumento é eficaz.

Além disso é necessário observar a consistência dos comportamentos

que compõem o perfil de liderança: se eles representam aspectos que

podem efetivamente ser observados, se não encerram assuntos

diferentes em um mesmo tópico e se traduzem realmente os atributos de

liderança demandados pela empresa.

b. Qualidade dos feedbacks fornecidos:

Em geral os feedbacks são fornecidos por 3 a 10 pessoas de cada fonte.

Este número mínimo é para garantir a confidencialidade dos

respondentes: o número máximo variaem função da possibilidade de se

lidar com uma logística que vai se tornando mais complexa, àmedida que

mais pessoas são envolvidas.

Evidentemente, deve-se escolher fornecedores de feedback que tenham

tido contatos de trabalho com o receptor, que tenham estado em sua

rede, no período que está sendo considerado. Se esta escolha parte do

próprio receptor tende a ocorrer um maior comprometimento com o

resultado (Yukl & Lepsinger, 1995); esta solução dificulta a logística e

corre o risco de concentrar as fontes em pessoas que têm opiniões já

conhecidas pelo receptor ou em fontes com que ele se sente mais

seguro, livre de "surpresas", e portanto filtrando possibilidades de

feedback que poderiam ser mais enriquecedoras.

7 Basicamente, isto consiste em testar o instrumento repetidas vezes, duas ao menos,em um mesmo grupo, sem dar-lhe o feedback dos resultados. Supondo que não houve aintervenção de outras variáveis que poderiam alterar os resultados, a análise estatísticadeve mostrar que não houve alterações significativas nestas novas aplicações.

6\

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A questão da confidencialidade é um fator importante para garantir a

qualidade dos feedbacks (Dalton & Hollenbeck, 1996; Van Velsor, 1998),

especialmente em ambientes onde as pessoas não estão habituadas ao

intercâmbio aberto de feedbacks. As informações tendem a ser mais

honestas quando a confidencialidade é assegurada.

Por outro lado, pesquisas demonstram que as diferentes fontes estão

naturalmente sujeitas a cometer alguns erros que podem alterar os

feedbacks fornecidos (Waldman et alii, 1998): podem ser excessivamente

rigorosas ou. excessivamente benevolentes em suas respostas, em

função de expectativas sobre como serão utilizados os seus feedbacks

(este efeito é particularmente evidente quando o processo está

diretamente relacionado à remuneração e promoção dos avaliados), ou

podem concentrar-se apenas na alternativa média da escala de resposta,

evitando assumir algum posicionamento .com relação - aos

comportamentos avaliados. o estilo pessoal do emissorimpacta a forma

como expressa o seu feedback, e o grau de diferenciação que nele

registra: alguns podem utilizar toda a escala, outros tendem a concentrar-

se em algumas partes dela (Robbins, 1998).

Robbins (1998), destaca também as possibilidades de ocorrem o "efeito

halo" - tendência de estender uma avaliação em um atributo para os

demais - e o "erro de similaridade" - onde o avaliador concentra-se em

observar e analisar com maior cuidado e atenção aqueles

comportamentos que mais percebe em si mesmo.

Saiam et alii (1997), lembram que, ao emitir um feedback sobre

determinado comportamento, uma pessoa explicita um julgamento, uma

avaliação; ou seja, empenha-se em um processo cognitivo onde pondera

um conjunto de variáveis e registros mentais para emitir a sua opinião.

Não é objetivo deste trabalho investigar os sofisticados aspectos

cognitivos que impactam o processo de FMF, porém é essencial ressaltar

a subjetividade e complexidade que o permeiam, uma vez que envolvem

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Page 71: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO …...vez..mais empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback

julgamentos pessoais e não apenas fatos, demandando cuidados em sua

implementação e também na interpretação das informações emitidas.

Estas considerações implicam a necessidade de que haja uma

preparação dos emissores para o processo. Esta preparação deve

explicitar os objetivos e o contexto, bem como quem o patrocina e apoia,

procurando dar sentido, credibilidade e clareza ao que está ocorrendo;

estes são elementos importantes para conquistar o comprometimento das

fontes. Uma das barreiras à implementação do processo é a ansiedade

gerada pelas dúvidas com respeito à forma como as informações serão

utilizadas (Van Velsor, 1998). Esta preparação deve, também, treinar os

participantes na utilização do instrumento e também nos cuidados para

que os erros sejam minimizados (Conger, 1:999). t·,

c. Processamento e utilização dos feedbacks pelo receptor:

Dalton e Hollenbeck (1996), destacam que o comprometimento do.

receptor para com os resultados dos feedbacks depende de um conjunto

de percepções:

1. De que as fontes têm competência para emitir os feedbacks,

realizando avaliações realísticas e objetivas. Em função deste

fato, Van Velsor (1998) propõe que os emissores dos

feedbacks sejam escolhidos pelos próprios receptores.

2. De que os atributos que guiam o processo - os

comportamentos de liderança -- e também os feedbacks

recebidos, são úteis e fazem sentido, que têm um significado

para o seu desenvolvimento profissional e, principalmente,

para a sua carreira em uma organização. Consequentemente,

há uma dinâmica motivacional importante em jogo: o

comprometimento para com o feedback recebido depende,

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por um lado, do quanto esses comportamentos estão

alinhados às próprias expectativas, interesses e

necessidades individuais dos participantes; por outro lado,

impõem que haja um alinhamento entre os atributos em

questão e os sistemas de reconhecimento e promoção da

empresa.

3. De que os comportamentos que compõem o perfil de

liderança são realizáveis ou que são atributos que

efetivamente podem ser desenvolvidos. A percepção de que

determinados comportamentos dependem de condições

organizacionais que estão fora do controle do receptor, ou de

habilidades e traços que não são acessíveis a ele, pode

inclusive ser fonte de frustração. Isto pode ocorrer, por

exernplo.. na seguinte situação: dado o comportamento "atua

. como coach junto aos subordinados" o receptor pode até

desejar melhorar a sua atuação como coach, em função de

feedbacks que recebeu, mas não tem o repertório para fazê-

lo ou, em função de suas metas de produtividade, percebe

que é impossível ter o tempo necessário para realizá-lo.

Outro aspecto a ser considerado é a forma de apresentação dos

feedbacks emitidos. Para assegurar a confidencialidade dos envolvidos,

isto em geral é realizado por meio de relatórios de feedback. Este deve

disponibilizar as informações em formatos que possibilitem o cruzamento

de dados e comparações: entre as percepções das diferentes fontes e

com relação aos outros participantes do processo. Além disso, é

recomendado que os relatórios permitam comparar os resultados das

auto-avaliações com os feedbacks dos outros (Yukl & Lepsinger, 1995).

Isto permite ao participante ver o quanto as suas percepções estão

alinhadas às das outras pessoas. No entanto, discrepâncias devem ser

exploradas e analisadas com cuidado pois podem ter diferentes razões:

podem representar uma auto-percepção imprecisa, mas também podem

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demonstrar falta de visibilidade ou interpretações diversas frente a um

mesmo item.

A figura 9 apresenta um trecho de um tipo de relatório gerado por uma

empresa norte-americana, Assessmenf P/us. O relatório completo permite

visualizar aspectos como:

~ número de avaliadores por grupo;

~ resultados da auto-avaliação;

~. resultados da avaliação da chefia;

~ médias das respostas dos pares, subordinados, sfakeho/ders;

~ amplitude da variação das respostas dadas pelos grupos;

~ médias dos resultados de todos os avaliados;

'.~ os dez comportamentos em que a pessoa teve as menores'

médias eos dez em queteve as maiores médias;

~ outras observações e comentários redigidos pelos avaliadores.

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Relatório defeedback para: José Exemplo

Símbolos Subordinados " ParesH Variação das respostas

O Média das respostas~ ~• Auto-avaliação Cf) 'ü ~ Cf) 'ü ~~ C:' 'ü ~ c: 'ü<(\) <(\)o :::1 c: o :::1 C

O Classificação do superior "O o O'"<(\) ~ "O o O'"

«\) ~.~ :::1 .~ :::1"O~ O'" Cf) "O (\) O'" Cf)

imediato ta 1;3 (\) (\) ta 1;3 .;:~

(\)... •..;;. ::s Q) .;: o- ;;. ::s Q) o-C\l S C\l SO Item com classificaçãoO'" ;;. (\) O'" ;;. (\)

(\) E -CIl "O ~ (\) (\)

S 'C\l "O ~ (\)"O o~ :a C\l "O

~ 1;3 :a ~mais alta o (\) N "O o (\)"O•.. N ~ (\) o(\) •.. N

•.. (\) O(\)(\) ~ (\) 00' •..

E [Ij Q) [IjQ)

... 00 ...S ~o o- :a u o-O Item com classificação S c ;;. E S S [Ij E c ;;. S E E :.a

'::S ::s (\) o o 'Q) '::S ::s (\) o o ~ 'Q)Q) ::I~ (\) ::s

mais baixa Z Z O U U ÇF.J ÇF.J Z Z O U U ÇF.J ÇF.J .~

1 2 3 4 5 1 2 3 4 5Negocia e esclarece metas e 8 (1) (4) (3) 9 (2) (3) (3) (1)expectativas de desempenho :r=o-. Q; 4.0 ;--.. Ir=Il.!!II-I 'Ç7 IL.!.J 3.3 4.0

Figura 9 - Trecho de um relatório de feedback.

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Em alguns programas os colaboradores recebem e analisam os seus

relatórios de feedback em workshops de lideranças - estes podem integrar

aspectos conceituais, bem como desenvolvimento de habilidades

específicas e atividades voltadas ao desenvolvimento pessoal. No encontro

os participantes são preparados para interpretar, compreender e utilizar as

informações recebidas.

Além disso, participam da "entrevista um a um" (Lepsinger & Lucia, 1998),

momento em que um consultor externo orienta o participante

individualmente, contribuindo com o processamento do feedback, com a

identificação de interrelações entre os dados e com a conexão disto ao

contexto da empresa e ao seu momento de carreira. Ao final, a pessoa

identifica os seus pontos fortes e oportunidades de melhoria e elabora um

plano pessoal de desenvolvimento ou um plano de ações de melhoria, com

metas e prazos definidos.

Evidentemente, há uma reação emocional natural frente aos feedbacks e

também é normal um certo grau de racionalização, onde o participante

encontra justificativas e explicações racionais que o afastam da

oportunidade de aprendizagem; a entrevista "um a um" cria uma situação

protegida para lidar com estas dimensões. Além disso, tem como objetivo

contextualizar os feedbacks recebidos, uma vez que a identificação de

pontos fortes e pontos a melhorar não é imediata: é preciso considerar o

momento da empresa, as diferenças entre as fontes e as aspirações e os

objetivos profissionais do próprio participante. É a partir dessa análise que o

participante define os pontos que realmente são prioritários para o seu

desenvolvimento profissional.

Van Velsor (1998), tendo como base as pesquisas sobre os resultados do

feedback 360 graus, afirma que as mudanças implementadas pelos

participantes dependem do suporte que recebem após o processo; a

quantidade e variedade do suporte tem correlação positiva com as

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melhorias apresentadas com o passar do tempo. Atividades de continuidade

são empregadas por muitas empresas, a fim de dar suporte às ações e

esforços de desenvolvimento, ampliando os resultados do feedback. Essas

atividades podem envolver: treinamentos nas habilidades enfatizadas pelo

processo, coaching, novos feedbacks e também avaliações periódicas das

mudanças alcançadas.

d. Integração ao sistema de gestão de pessoas:

. Evidentemente, não é possível imaginar o FMF isolado de outras práticas de

gestão de pessoas de.uma empresa. Os processos de recursos humanos- .....

seleção, remuneração, desenvolvimento, gerenciamento de desempenho,

etc. -devem estar integrados e orientados para a consecução da estratégia

e objetivos organizacionais (Ulrich, 1998); espera-se que, operem em

sintonia, reforçando e sustentando um ao outro. 00 contrário, corre-se o

risco de comunicar a importância de um dado comportamento de liderança e

remunerar um outro (Tornow, 1998).

Um ponto bastante discutido e controverso na literatura é justamente a

forma como deve ocorrer esta vinculação com as políticas e práticas de

remuneração (Lepsinger & Lucia, 1997; Dalton, 1998). Tem sido forte o

enfoque que propõe utilizar o FMF apenas com objetivos de

desenvolvimento profissional, isolado de avaliações de performance,

promoção e salários. Os argumentos baseiam-se em pesquisas e

experiências concretas que demonstram a forma negativa como tal

vinculação impacta a qualidade dos feedbacks, tornando-os informações de

pouca utilidade. Há relatos de empresas que criaram uma vinculação dessa

natureza e depois tiveram que voltar atrás, tal foi a repercussão negativa

(Dalton, 1998).

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Outra prática tem sido preservar o objetivo de desenvolvimento do FMF,

mas utilizar os seus resultados como inputs em sistemas de gerenciamento

de performance (Flannery et alii, 1996), que negociam, monitoram e avaliam

metas e resultados (com impactos em remuneração), e, em paralelo, criam

espaços para negociar e identificar necessidades e compromissos de

desenvolvimento de cada pessoa. O desenvolvimento profissional, neste

caso, é encarado como um vetor de desempenho e de resultados futuros;

as percepções de diferentes fontes ajudam a pessoa a identificar e

compreender os pontos onde deve investir. Uma experiência desta natureza

foi identificada no estudo de caso, na próxima parte.

,- ..

•No Capítulo 1 foi apresentado como aWestinghouse norte-americana define

os atributos de liderança de que necessita (naquele caso, competências de

liderança), a partir de suas estratégias, e como eles orientam processos de

captação, desenvolvimento e: recompensas. Nos modelos de competências

muitas empresas. têm encontrado um caminho para a integração de

diferentes práticas de .qestão de pessoas, utilizando os mesmos atributos

como referência para diferentes processos; no FMF, as competências de

liderança podem ser a base para os feedbacks de diferentes fontes.

Existe um risco, no entanto, em se refletir sobre a integração de práticas de

gestão de pessoas apenas em uma perspectiva instrumental, entendendo

estas práticas simplesmente como um conjunto de ferramentas de recursos

humanos que se interconectam. Não é raro encontrarmos em empresas

conjuntos inovadores e sofisticados de instrumentos que parecem

deslocados uns dos outros, às vezes sobrepostos e, na prática, incapazes

de operar e gerar valor por meio das pessoas. Em parte isto ocorre,

segundo Dutra (1996), em função de uma "importância excessiva aos

instrumentos de gestão em detrimento dos princípios que deveriam suportar

as relações entre a empresa e seus colaboradores" (pg. 138). No mesmo

trecho, o autor prossegue: "Os instrumentos são fugazes, e devem sê-lo,

pois são meios para se obter aquilo que desejamos, o que permanece no

tempo são os compromissos assumidos pela empresa e pelas pessoas no

69

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equacionamento dos problemas tratados. ~ este compromisso que lastreia

os princípios que nortearão as práticas de gestão de pessoas" (idem).

Fischer (1998) amplia este enfoque instrumental ao utilizar o conceito de

modelo de gestão de pessoas, a forma como os agentes organizacionais

dão contorno e sentido ao relacionamento entre empresa e pessoas. ~ uma

lógica de atuação que engloba: dimensões políticas, sociais e ideológicas,

valores e atitudes, normas, ações e instrumentos de gestão de pessoas.

,I., .

A conformação deste modelo decorre de pressões e características do

ambiente de negócios e da forma como uma organização pretende' nele se

posicionar. Assim, apontao autor, as pressões por competitividade sofridas

pelas empresas brasíleiras nos anos noventa têm compelido um número

. crescente de empresas para a constituição de um modelo de gestão de

.. pessoas para a competitividade. Trata-se de um modelo com contornos

. próprios, que se traduzem' em processos específicos, divisões de

responsabilidades, prioridades e práticas. Este modelo é caracterizado, por

exemplo, por: um ambiente de trabalho mais desafiantee estimulador do

desenvolvimento pessoal e profissional; uma intensa valorização do auto.•· ,

desenvolvimento; descentralização de responsabilidades de gestão de

pessoas antes alocadas na área de recursos humanos; esquemas de

remuneração mais flexíveis e ligados a resultados e competência; e assim

por diante (Fischer, 1998).

o fato é que as organizações têm sido continuamente bombardeadas por

ofertas sedutoras de instrumentos inovadores de recursos humanos - o que

inclui os programas de desenvolvimento de lideranças baseados em

feedbacks com múltiplas fontes - e, muitas vezes, os incorporam sem uma

compreensão mais criteriosa e mais ampla sobre como estes instrumentos

irão efetivamente atender às suas necessidades quanto à gestão de

pessoas; sem entender se fazem sentido na relação empresa-pessoas que

se pretende imprimir, dados os objetivos, características e contexto da

organização.

70

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3.5. Sobre as limitações do feedback com múltiplas fontes:

Embora a maioria das pesquisas apresentem resultados otimistas com

relação ao FMF, há estudos que chegaram a conclusões menos

promissoras. Conger (1992), por exemplo, examinou um programa de

desenvolvimento de lideranças baseado em FMF e constatou que apenas

uma pequena minoria de seus 20 participantes perceberam que o processo

ajudou-os significativamente a desenvolverem os seus atributos de

liderança. Observou, neste caso, que as mudanças alcançadas

dependeram intensamente da motivação individual para que isto

acontecesse, independente do conteúdo dos feedbacks. E mais: os

pontos onde ocorreram efetivamente mudanças eram aqueles que não

demandavam urna mudança pessoal radical. O que significa isto? Que,

de fato, as pessoas mudaram apenas aqueles aspectos que eram viáveis,

em função de suas características de personalidade, condições cognitivas e

.emocionais, etc.; ou seja, mesmo motivadas .para mudarem, dependiam de

condições pessoais pré-existentes, às vezes por elas desconhecidas, para

conseguir fazê-lo. No Capitulo 2 foram mencionados vários destes

condicionantes, alguns inatos, outros vinculados a experiências da vida

infantil, da vida adulta e assim por diante.

Normalmente assume-se como pressuposto que as mudanças individuais

indicadas pelos feedbacks dependem unicamente de escolhas racionais,

sendo que, na verdade, estas podem esbarrar em limites que estão fora do

mero domínio racional dos comportamentos, encontrando-se em dimensões

pessoais bem mais complexas.

Além disso, uma mudança comportamental pode ser limitada pelo próprio

contexto organizacional, como já foi mencionado, por falta de apoio,

estímulos ou das condições ambientais ou sociais mais propícias. É preciso

cuidado para balancear estas dimensões na interpretação dos feedb acks,

principalmente por que o FMF, o receber feedbacks, é sempre uma

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aprendizagem acompanhada de intensa mobilização emocional. Nem todos

podem estar preparados para recebê-los e utilizá-los produtivamente da

mesma forma, com a mesma intensidade. Talvez aí esteja a principal

contribuição das entrevistas "um a um" , com profissionais preparados, para

contextualizar e explorar de forma diferenciada os conteúdos dos feedbacks.

Também já foi mencionado que, mesmo tomados todos os cuidados

possíveis, o processo sempre envolverá certo grau de subjetividade nas

avaliações. Além disto, sempre haverá diferenças nos ângulos de visão dos

fornecedores de feedback, mesmo sendo eles de uma mesma fonte; alguns

terão uma visão privilegiada, facititando julgamentos mais precisos do que

outros, que se diluem no conjunto de avaliações.';-- ', -,. .

Por outro lado, Conger (1999) cita o caso de uma empresa que enfrentava

uma redução de market share, devido à sua dificuldade em identificaras

necessidades dos clientes. Ao mesmo tempo,' um processo de. Avaliação

360 Graus indicava que os gerentes tinham todos impecáveis avaliações em

dimensões relacionadas ao entendimento das necessidades dos clientes.

Esse exemplo é curioso pois aponta o quanto os feedbacks podem estar

afastados de resultados organizacionais efetivos. Por um lado, isto reforça

uma questão discutida no Capítulo 1, nas críticas aos "comportamentos

observáveis"; nesse sentido, Ulrich (1999) propõe a utilização de atributos

de liderança claramente vinculados a indicadores de resultados'

organizacionais. Por outro, deve-se entender que o FMF não pode estar

isolado de outros mecanismos ou processos de feedback da organização

(por exemplo, análise de indicadores de satisfação do cliente); pelo

contrário, é recomendável o exercício de triangulações entre estes

diferentes canais de feedbacks.

72.

Page 81: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO …...vez..mais empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback

PARTE 11

ESTUDO DE CASO

73

Page 82: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO …...vez..mais empregado pelas organizações em programas de desenvolvimento de lideranças, inclusive no Brasil: o Feedback

Introdução:

Tal como discutido anteriormente, a utilização crescente do feedback com

múltiplas fontes no cenário organizacional parece evidenciar, em muitos

casos, um forte anseio para atender às pressões de "modismos" (Waldman

et alii, 1997). Evidentemente, a utilização de instrumentos novos de recursos

humanos sem os devidos cuidados éticos e técnicos, e sem a compreensão

de suas reais potencialidades e implicações, pode trazer riscos para os

sujeitos da nova prática, para a trama social onde ela se insere e para a

própria credibilidade dos seus praticantes. A escolha pelo uso do feedback

360 graus como instrumento em geral apoia-se em um conjunto de

premissas que podem ser assim resumidas:

1. O feedback estruturado, específico e cuidadoso é um instrumento que

apoia e orienta o desenvolvimento de. atributos individuais de

-..liderança;

2. Recebendo feedbacks de diferentes fontes, a pessoa tem acesso a

informações mais completas e válidas dos impactos dos próprios(' . .comportamentos no ambiente organizacional; ela confronta a sua

auto-percepção com dados externos, ampliando o seu auto-

conhecimento e passando a conhecer com maior nitidez pontos fortes

e pontos em que precisa melhorar nas suas interações com pares,

subordinados, cliente, etc.

3. A definição, validação e comunicação de comportamentos de

liderança valorizados pela empresa são referenciais que irão orientar

mudanças comportamentais e esforços de auto-desenvolvimento,

alinhando-os a objetivos da empresa. As pessoas ficam sabendo

melhor o que precisam fazer para serem líderes na organização.

4. Em programas de desenvolvimento de liderança, a utilização do

feedback 360 graus ajuda os participantes do processo a

desenvolverem práticas de liderança alinhadas às necessidades

74

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organizacionais. O principal resultado esperado é o incremento dos

comportamentos de liderança demandados pela organização.

5. Outro resultado esperado é o incremento do feedback informal. Ou

seja, espera-se que os participantes do programa passem a buscar e

fornecer feedbacks com maior freqüência.

Mas a realidade tem se demonstrado bem mais complexa ... Embora hajam

pesquisas que dão sustentação a esses argumentos e expectativas, Church

(1997) e Conger (1992), também chamam a atenção para estudos que

mostram o contrário: nem sempre o feedback com múltiplas fontes leva aos

resultados esperados; ou, pelo menos, a resultados tão óbvios e imediatos.

Evidentemente, há inúmeras variáveis em jogo, por exemplo: a motivação

do participante para mudar comportamentos a partir das informações

recebidas; a própria dificuldade de se mudar comportamentos que estão

relacionados à formação da personalidade (Zaleznik,1997), ou ao potencial .

cognitivo de cada um (Jaques & Canson, 1994), e assim por diante. Emcontexto de programas de liderança esta complexidade se acentua: como já

fC?iapontado, não há consenso sobre que resultados se pode efetivamente

esperar destes programas.

O propósito desta pesquisa é justamente investigar a propriedade destas

premissas gerais a partir de experiências concretas realizadas no Brasil. O

objetivo principal é dar contornos cada vez mais claros às potencialidades e

limitações do feedback com múltiplas fontes e dessa forma contribuir para

uma compreensão cada vez mais precisa deste processo, indicando

caminhos para pesquisas e para a sua otimização.

Para isto foi realizado um estudo em profundidade junto a uma grande

empresa de auditoria e consultoria que tem empregado o FMF em um

contexto de desenvolvimento de lideranças no Brasil. Para compôr um

painel, uma visão panorâmica e comparativa de diferentes experiências

realizadas no Brasil, foram levantadas informações também em duas outras

empresas que vêm utilizando o FMF (uma indústria brasileira de matérias-

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primas, setor de celulose e papel, e uma empresa transnacional de bens de

consumo, que produz e comercializa produtos alimentícios).

, "

76

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CAPíTULO 4 - METODOLOGIA

4.1. Colocação do problema estudado:

A opção por uma determinada metodologia de pesquisa depende da

definição do problema a ser estudado. De fato, Selltiz et alii (1987)

ressaltam que o objetivo de toda investigação científica é buscar resposta

para um determinado problema; definir claramente este problema deve ser,

portanto, o primeiro passo de uma pesquisa. Gewansdznajder (1989) e

Eisenhardt (1989), explicam ainda que a colocação do problema é que

orienta essa investigação em suas diferentes fases, permitindo um foco para

os esforços despendidos. Marconi e Lakatos definem que o problema ué

uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de

real importância, para a qual se deve encontrar uma solução" ,(Marconi &

Lakatos, 1996, pg. 24).

Diante destes argumentos, torna-se importante explicitar o problema central

que orienta este trabalho. Para isto, foram utilizados os critériosde Kerlinger

(1992), segundo o qual um problema bem definido deve apresentar as

seguintes características: 1 - Deve ser simples, claro e em forma de

pergunta; 2 - Demonstra uma relação entre variáveis, fenômenos ou

constructos; 3 - Abre caminhos para uma investigação empírica. Assim, a

pergunta que orienta este trabalho pode ser assim representada: De que

maneira a utilização de feedbacks com múltiplas fontes em programas de

desenvolvimento de lideranças pode contribuir com o incremento das

práticas de liderança demandadas por uma organização?

Godoy (1995b) e Eisenhardt (1989) chamam a atenção para o fato de que

em muitos casos os problemas podem inicialmente ser bastante amplos; ao

longo da pesquisa podem ser reformulados, como resultado de um melhor

conhecimento do objeto ou fenômeno estudado, produzindo questões mais

focadas e específicas. Esta reformulação pode até mesmo ser fruto das

conclusões do trabalho e faz sentido principalmente em estudos

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exploratórios, quê abordem temas ainda pouco conhecidos, e em

abordagens qualitativas.

A fim de melhor delimitar o escopo desta pesquisa, a partir da questão

formulada, foram estabelecidos os seus objetivos específicos, enumerados

a seguir.

4.2. Objetivos específicos:

1. Estudar em profundidade o caso de uma empresa que tem utilizado o

feedback com múltiplas fontes em programa de desenvolvimento de

lideranças no Brasil (Empresa A), investigando os seguintes aspectos:

1.1.O contexto organizacional em que ocorreu o FMF e os objetivos pelos

quais foi implementado. Particularmente importante neste ponto éidentificar a forma como os esforços de desenvolvimento de

lideranças e como as práticas de liderança demandadas estão

alinhados a objetivos organizacionais, ao momento e às aspirações

da empresa estudada.

1.2.A forma como o FMF foi implementado e como foram gerenciados os

seguintes aspectos discutidos no referencial teórico e conceitual: a.

delineamento do perfil de liderança e desenvolvimento do instrumento

de feedback; b. qualidade dos feedbacks fornecidos; c.

processamento e utilização dos feedbacks pelo receptor; d.

integração ao sistema de gestão de pessoas.

1.3.A partir de uma análise dos conteúdos dos feedbacks emitidos,

identificar características do estilo de liderança predominante na

empresa e analisar a consistência destes feedbacks com os planos

de ações propostos pelos participantes do processo.

1.4. Levantar com participantes do processo e com a área de recursos

humanos percepções relacionadas aos impactos individuais e grupais

78

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do FMF; ou seja, levantar' em que medida percebem que as práticas

de liderança têm se encaminhado para os comportamentos

demandados pela organização.

2. Realizar um levantamento de outras duas experiências (Empresas B e

C), comparando semelhanças e diferenças em relação à Empresa A. no

que diz respeito aos objetivos esperados, contexto e forma de

implementação do programa.

4.3. Definição do método de pesquisa:

1,:

A escolha do método e, consequentemente, o delineamento da pesquisa

partem do tipo de problema a ser respondido e dos objetivos escolhidos.

Godoy (1995a) avalia que os métodos. quantitativos têm sido

tradicionalmente mais valorizados nas pesquisas sociais. Nas últimas

décadas, no entanto, tem crescido bastante o reconhecimento das

abordagens qualitativas, aspecto também mencionado por Campomar

(1991).

Como estas metodologias de pesquisa se diferenciam? Em linhas gerais, a

pesquisa quantitativa baseia-se na quantificação das relações entre

variáveis, permitindo confirmar ou refutar hipóteses previamente

estabelecidas e produzindo inferências estatísticas.

De maneira adversa,' a pesquisa qualitativa não procura

enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem

emprega instrumental estatístico na análise dos dados.

Parte de questões ou focos de interesses amplos, que

vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve

(Godoy, 1995a, pg.58).

79

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·A abordagem qualitativa pode lançar mão de técnicas como estudo de caso,

etnografia e análise documental (Godoy, 1995b). Segundo a autora, a

escolha por u~a abordagem qualitativa deve ser considerada nas seguintes

condições:

1. Diante de problemas pouco conhecidos, quando a pesquisa é

de natureza exploratória;

2. Quando a pesquisa busca compreender um objeto ou evento

como um todo, na sua complexidade;

3. Quando o fenômeno estudado envolve a compreensão do

sistema social que compõe a organização.

Diante destes primeiros argumentos a escolha por uma abordagem

qualitativa pareceu o mais adequado ao tema do trabalho e à questão

colocada. Como já foi mencionado anteriormente, este trabalho apresenta

um caráter de pioneirismo, uma vez que o tema ainda não foi estudado na

perspectiva de empresas brasileiras, caracterizando a sua natureza

exploratória. Além disso, os objetivos específicos da pesquisa propõem

estudar a utilização do feedback com múltiplas fontes e a questão da

liderança dentro do contexto de cada empresa: sua história, características,

especificidades, permitindo observar os impactos do processo ao longo do

tempo. Nesse sentido, o estudo de caso parece particularmente adequado

enquanto metodologia. "O estudo de casos é uma forma de se fazer

pesquisa social empírica ao investigar-se um fenômeno atual dentro de seu

contexto de vida real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não

são claramente definidas e na situação em que múltiplas fontes de evidência

são utilizadas" (Yin, 1989, pg. 23).

Da mesma forma, Goode e Hatt (1979) estimulam a utilização do estudo de

caso quando se pretende preservar o caráter unitário do objeto social

estudado, buscando compreender as suas especificidades e

desenvolvimento.

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4.4. Sobre o estudo de caso:

A escolha pelo estudo de caso é reforçada pelos argumentos de Yin (1989),

segundo os quais a utilização do estudo de casos é particularmente

adequada em pesquisas que reúnem, simultaneamente, as seguintes

características:

1. Definem objetivos exploratórios e/ou explanatórios. Ou seja,

pretendem dar resposta a questões do tipo o que, como, ou

porque.

2. Apresentam baixa possibilidade de controle de

comportamentos.

3. Concentram-se em eventos e acontecimentos atuais.

A força desta metodologia está na possibilidade de utilizar uma grande

variedade de evidências (documentos, entrevistas, observações, etc.) para

investigar eventos da vida real e sua trajetória, do passado até o momento

atual. Inclusive, autores como Van Maanem (1983) e Eisenhardt (1989)

propõem que é possível utilizar tanto dados qualitativos como quantitativos

nos estudos de caso, realizando o que chamam de "triangulações", que

confrontam e interrelacionam evidências de diferentes fontes.

A opção por esta abordagem é apoiada também pela argumentação de

Selltiz et alii (1987), segundo os quais ao se trabalhar em áreas

relativamente mal-formuladas, ainda com poucas experiências que possam

servir como guias, o método de caso contribui com a compreensão do

fenômeno e elaboração de hipótese futuras.

Críticos ao estudo de caso argumentam que a metodologia apresenta limites

quanto à possibilidade de gerar generalizações, se comparada aos métodos

estatísticos. Yin não concorda com esta opinião, ressaltando que o estudo

de caso permite generalizações de outra natureza: "Como os experimentos,

os estudos de caso são generalizáveis para proposições teóricas e não para

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populações ou universos" (Yin, 1989, pg. 21). Em outras palavras; o estudo

de caso destina-se à generalização analítica e não à generalização

estatística. Nesse sentido cresce a importância da fundamentação teórica e

conceitual, estabelecendo os contornos para a análise e compreensão dos

resultados

Segundo Selltiz et alii (1981), estudos desta natureza têm um caráter

indutivo e não hipotético-dedutivo. Ao invés de testar hipóteses, o estudo de

caso como metodologia permite construi-Ias, ou revisar hipóteses

preliminares.

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4.5. Procedimentos para levantamento de evidências:

Como já foi mencionado, foram três as empresas envolvidas nesta

pesquisa. Esta escolha ocorreu em função dos seguintes aspectos: todas

elas têm utilizado o FMF em contexto de desenvolvimento de lideranças há

pelo menos dois anos; elas compõem um conjunto de empresas atuantes

em diferentes setores e que têm diferentes origens (uma brasileira e duas

de origem estrangeira); a possibilidade de ter acesso à maioria das

evidências demandadas para a realização deste estudo. As organizações

são as seguintes:

• Empresa A: é uma das maiores firmas do mundo em serviços de

auditoria e consultoria (faz parte do conjunto de empresas

conhecido como as "big tive''), com matriz na Holanda. Esta

empresa foi escolhida para um estudo em profund idade em

função de um conhecimento prévio, pelo autor, da forma como o

FMF foi ali conduzido e em função da disponibilidade de um

conjunto maior de fontes de evidências, descritas a seguir.

• Empresa B: empresa de origem brasileira, é uma indústria de

matéria-prima do setor de celulose e papel. É uma das maiores

produtoras e exportadoras de celulose de fibra curta do mundo.

• Empresa C: transnacional, de origem norte-americana, atua no

setor de bens de consumo, alimentos. É líder de mercado em

algumas de suas marcas ..

83

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Na Empresa A, foram utilizadas as seguintes fontes de evidências:

Fontes de evidências Conteúdos explorados" Objetivo9

1.1Análise de documentosda empresa (manuais,caderno de missão evalores, dados dosprofissionais, formuláriosde goal setting)

Entrevistas semi-estruturadas com osresponsáveis porrecursos humanos (umsócio e um gerente), umano após os múltiplosfeedbacks

- Aspectos a melhorar 1.2, 1.4

- Sistemática e contexto do goal setting and career 1.2development plan e vinculação com o FMF

- Visão geral da empresa (estrutura. missão, produtos. etc.)

- O conceito de global advisory firm

- Valores, competências e etapas do goal setting and careerdevelopment plan (explicado adiante)

- Perfil demográfico dos participantes

- O contexto de mudanças da empresa e como isto impactaas práticas de liderança

- Objetivos do FMF e contexto em que foi implementado

- Como foi conduzido e gerenciado

- Percepções dos impactos do processo

1.1, 1.3

1.2

1.1

1.2

1.4

Análise dos conteúdosdos feedbacks recebidospor gerentes e sócios edos planos de açãodesenvolvidos pelossócios

- Características do estilo de liderança dos participantessegundo as diferentes fontes

- Consistência dos planos de ações com os feedbacksrecebidos

1.3

1.3

Pesquisa paralevantamento depercepções dosgerentes. 4 meses apósterem recebido osfeedback

- A freqüência com que investiram na realização dos seusplanos de ações. com que buscaram novos feedbacks e oquanto perceberam melhorias nos aspectos que sepropuseram desenvolver

- Com que freqüência receberam apoio dos seus coachespara a consecução dos planos de ações

1.4

1.2.

Tabela 3 - Fontes de evidências no estudo do caso da Empresa A

Este levantamento de informações procurou balancear os objetivos da

pesquisa com as possibilidades da empresa no momento em que se

desenrolava o estudo de caso. Por exemplo, era previsto analisar os

conteúdos de uma segunda rodada de feedbacks; por razões da

organização (implementação do sistema goal setting, descrito adiante) isto

teve de ser adiado, impossibilitando o uso destas evidências nesta

pesquisa. Por outro lado, a implementação deste sistema, quando a

8 As entrevistas semi-estruturadas e análises de conteúdo foram direcionados por estesaspectos. As entrevistas foram gravadas.9 Refere-se aos objetivos específicos da pesquisa.

84

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pesquisa estava em sua etapa final, trouxe contribuições também

importantes, não previstas no início.

Para levantar evidências a respeito dos impactos do processo na

organização, é importante destacar que foram utilizadas as seguintes

perspectivas, que ainda serão detalhadas mais adiante:

1. Levantamento com participantes do processo (gerentes da Empresa

A), pesquisando o quanto acreditavam terem alcançado melhorias

nos aspectos que se propuseram a desenvolver, a partir dos

feedbacks recebidos;

2. Análise dos aspectos que participantes do processo (sócios da

Empresa A) se propuseram a desenvolver, observando a consistência

entre os conteúdos destes aspectos e os conteúdos que emergiram

nos feedbacks de diferentesfontes;

3. Levantamento das percepções dos principais gestores da área de

recursos humanos quanto aos impactos do processo em

comportamentos dos seus participantes, aproximadamente um ano

após os múltiplos feedbacks. Nestas entrevistas foram levantados

acontecimentos, depoimentos e histórias que ilustram estas

percepções.

A análise de conteúdos, enquanto método de pesquisa em psicologia e

ciências sociais, engloba um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de

descrição do conteúdo das mensagens (Bardin, 1977, pg. 38). Neste estudo

de caso foi empregada especificamente a análise temática, para realizar a

interpretação dos feedbacks emitidos pelas fontes e a identificação dos

assuntos tratados nas ações elaboradas pelos sócios. Segundo Bardin

(1977, pg.105), os temas são "unidades de significação" que transparecem

naturalmente de um texto analisado, a partir da teoria e conceitos utilizados

na sua leitura. Os procedimentos desta análise serão detalhados adiante.

85

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As entrevistas tendem a gerar urT)leque de informações bastante rico em

uma abordagem qualitativa. No entanto, apresentam limites importantes,

principalmente a influência da subjetividade do entrevistador nos conteúdos

levantados. A diversidade de fontes e cruzamentos de perspectivas

utilizadas nesta pesquisa exploratória teve o sentido de abrandar este efeito.

As triangulações permitem confrontar informações, checando a sua

consistência e encontrando pontos a serem complementados. Por exemplo,

características do estilo gerencial descritas nas entrevistas foram

comparadas às percepções de pares, subordinados e chefias, ou seja, aos

feedbacks que emitiram para sócios e gerentes da organização.

Na Empresa S, o levantamento baseou-se em uma entrevista semi-

estruturada com um profissional que coordena as atividades de recursos

humanos e na análise de documentos disponibilizados pela empresa. Na

Empresa C o procedimento foi basicamente o mesmo, sendo que foram

realizadas duas entrevistas com o gerente de recursos humanos. Os

documentos analisados nestas empresas envolveram manuais,

instrumentos de avaliação, formulários, apostilas e transparências sobre o

processo; também foram consultados os sites oficiais destas organizações

na internet.

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CAPíTULO 5 - O CASO DA EMPRESA "A"

5.1. Visão geral da empresa:

A Empresa A presta serviços nas áreas de auditoria, impostos, consultoria,

finanças corporativas e consultoria atuarial. De origem européia e norte-

americana, societária, é uma das maiores firmas do mundo neste setor,

tendo resultado da fusão mundial de quatro empresas de auditoria e

consultoria de diferentes nacionalidades. Iniciou as suas operações no

Brasil ao final dos anos 80, quando absorveu uma firma brasileira. Vários

profissionais daquela empresa passaram a fazer parte do corpo técnico e

gerencial ou tornaram-se sócios da Empresa A.

A época do processo de feedback com múltiplas fontes (iniciado no final de

1997), a estrutura organizacional estava configurada tal como representa o

organograma a seguir. Trata-se de uma estrutura composta de escritórios

operacionais regionalizados - em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto

Alegre, São Carlos, Belo Horizonte e Salvador - cada um administrado

localmente por sócios com repport direto à presidência. Nos escritórios

operacionais, há sócios responsáveis pelas diferentes disciplinas -

impostos, consultoria, finanças corporativas - que respondem,

funcionalmente, a sócios responsáveis por cada disciplina a nível nacional.

87

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0000

I SÓCIOS

COMITÊEXECUTIVO

PRESIDENTE

I I I I I I I IAuditoria Impostos Consultoria Consultoria Finanças Depto. de Recursos Marketing Admi

Atuarial Corporativas Práticas Humanos FinaProfissionais

SÓCIOSRESPONSÁVEIS

PELOSESCRITÓRIOS

OPERACIONAIS

I I I I I I

nistr. enças

São Paulo Rio Belode Janeiro Horizonte

Curitiba PortoAlegre

Salvador São Carlos

Figura 10 - Organograma da Empresa A.Fonte: documentos da empresa.

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o Conselho de Sócios é composto de 5 membros eleitos por uma maioria

de sócios e regula as ações do Comitê Executivo. Este é responsável pelas

políticas, planejamento, supervisão e direção geral das atividades da

organização. Respondem ao presidente, além dos responsáveis nacionais

por cada disciplina, sócios com atribuições administrativas, encarregados de

diferentes áreas: recursos humanos, prática profissional, marketing,

administração e finanças. Por outro lado, o presidente e mais um integrante

do comitê executivo respondem à firma internacional.

Há, também, grupos multidisciplinares especializados por indústrias:

instituições financeiras, seguros, produtos industriais e automotivos, química

e farmacêutica, comunicações e eletrônicos, produtos de consumo,

alimentos e bebidas. Assim, respondem ao sócio responsável por um

escritório 10: os sócios de cada disciplina e os coordenadores de cada grupo.

Esta configuração é exemplificada no organograma da próxima página.

Cada cliente está sob a responsabilidade de um sócio, que é quem define e

coordena a equipe gerencial envolvida em determinado trabalho, a partir das

características e necessidades específicas do; cliente. "Normalmente uma

equipe de auditoria (muitas vezes assistida pelo pessoal da área de

impostos, por especialistas em auditoria de sistemas, por especialistas em

amostragem estatística, atuários e pelo pessoal da área de consultoria),

consiste do staff de auditoria, auditor-encarregado, gerente, sócio de

auditoria e lead pertnet". Além desses, também integram a equipe os

sócios revisores e outros sócios da Firma, que podem ser consultados com

relação a determinados assuntos da área contábil, auditoria e ramos de

atividade especializados" (Fonte: documentos internos da empresa).

10 Esta configuração varia, evidentemente, em função do porte de cada escritório.11 O lead partner é o sócio responsável por um determinado cliente, por criar umrelacionamento com ele; pode não atuar diretamente nos serviços prestados, mas certifica -se que as necessidades desse cliente sejam atendidas.

89

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r-1 SÓCIO RESPÓNSÁVEL J ISÓCIOS DE IAUDITORIA

Grupo 1 1I-- Sócio Coordenador 1•• •···••·••·•Gerente Coordenador

Gerentes Conselheiros I GERENTES DE IAUDITORIA

Grupo 2- Sócio Coordenador ~ 1Gerente Coordenador

Gerentes Conselheiros

~SupeNising

JGrupo 3 SeniorsI-- Sócio Coordenador r--

IGerente CoordenadorGerentes Conselheiros

Grupo 4 I Seniores Jr-- Sócio Coordenador r--, IGerente Coordenador ,

Gerentes Conselheiros

l JGrupo 5 Staff

r-- Sócio Coordenador .._.-!Gerente Coordenador

Gerentes Conselheiros,

Grupo 5Sócio Coordenador

,'---Gerente Coordenador

Gerentes Conselheiros

Figura 11 - Departamento de auditoria de um escritório.Fonte: documentos da empresa.

Sobrepõe-se a esta estrutura básica um complexo conjunto de comitês e

grupos de trabalho, tais como o comitê de contabilidade e auditoria, o grupo

de information risk management e os grupos nacionais de suporte na

prestação de serviços aos clientes. De forma geral, estes grupos atuam no

apoio e atualização técnica e de procedimentos profissionais, dão suporte

às operações das equipes de trabalho e buscam garantir a qualidade dos

serviços entregues aos clientes.

Há, ainda, os departamentos administrativos, cada um sob a

responsabilidade de um sócio. Na maioria das vezes os sócios que

desempenham estas funções atuam também em campo, conduzindo

projetos junto a alguns clientes, normalmente cuidando de relacionamentos

antigos.

90

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Nesta fàrma de organização, tornam-se freqüentes as interações e

relacionamentos de trabalho entre profissionais de diferentes disciplinas e

áreas, sendo que estas relações variam, de um projeto ou cliente para outro.

Na realidade, um esforço importante desta firma tem sido justamente no

sentido de alavancar a integração entre campos de atuação; tem procurado

promover a melhoria contínua dos serviços, bem como criar novas

oportunidades de serviços, integrando as diferentes disciplinas - auditoria,

impostos, consultoria, etc.

Isto remete ao conceito de redes de trabalho (networks), tal como discutido

no Capítulo 3. Significa que um gerente da Empresa A, para realizar os seus

objetivos de trabalho pode estarem contínuo contato e comunicação com

diferentes equipes de projetos, com profissionais de áreas diferentes, com o

sócio especialista de um segmento, com o sócio responsável pelo escritório,

etc. Além disso, como pode interagir com a área de recursos humanos, que

coordena e oferece os treinamentos de sua equipe, ou com o departamento

de práticas profissionais, que o orienta sobre determinada atualidade em .

contabilidade. Evidencia-se aí a idéia de liderança em várias direções,

influenciando sistemas complexos formados por relacionamentos e contatos ..

com pares, chefias, subordinados e clientes, tal como discutido

anteriormente.

5.2. Tornando-se uma Global Advisory Firm:

Mundialmente a Empresa A tem empreendido esforços no sentido da

criação de uma identidade única, de uma imagem e forma de ação

globalizada e única frente aos seus clientes, uma vez que foi construída a

partir da fusão de firmas que apresentavam suas especificidades, em

termos de procedimentos de trabalho, estilo de gestão, cultura e valores.

Esta tendência acompanha as mudanças dos próprios clientes, que se

globalizaram e demandam serviços e atendimento com características e

procedimentos uniformes no mundo inteiro.

9\

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Em função disso, um conjunto de políticas e ações tem procurado orientar e

alinhar procedimentos e formas de trabalho na firma ao redor do mundo. O

conceito de "global advisory firm" traduz esta aspiração. Segundo o

chairman internacional, a missão da firma é:

Our mission is to become the global advisory firm which

turns knowledge into value for the benefit of our clients,

people and communities. In doing this we wish move from

being a loose federation of national practices towards

something which is not only structured as a global

organisation, but which also looks, feels, thinks and acts.,

as a global organizatlon (Fonte: documentos internos da

empresa)

Três idéias centrais emergem deste .conceito: a criação de uma empresa

global, com feições homogêneas .ao redor do mundo (preservadas,

evidentemente, as especificidades locais); a multidisciplinaridade: não é

mais uma empresa que presta serviços de auditoria ou de consultoria ou de

impostos; neste conceito o serviço é assessorar o cliente; e a criação de

valor a partir do conhecimento.

Se esta política mundial impulsionou mudanças na Empresa A no Brasil nos

últimos três a cinco anos, alguns outros fatos também o fizeram, nesse

período: a perda do primeiro lugar e de algumas posições no ranking das

maiores empresas do setor no Brasil (do ponto de vista de resultados) e a

constatação de que internamente a empresa apresentava necessidades de

otimizar processos e métodos de trabalho, melhorar a comunicação entre

áreas, promover a preparação de sucessores, criar mecanismos para reter

talentos, entre outros aspectos. Segundo um dos entrevistados, percebeu-

se que a Empresa A havia crescido, tornara-se muito mais complexa, em

um ambiente globalizado (os clientes estavam globalizando-se) e mais

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competitivo 12, com um maior número de colaboradores, e precisava

adequar-se a isto; ainda trabalhava. como se fosse uma "firma de menor

tamanho" e ainda vivia da sensação de já ter sido a líder do setor.

Em função destes fatores de pressão, percebeu-se que seriam necessárias

mudanças operacionais e na estrutura organizacional, que ajustou-se à

configuração apresentada anteriormente. Este processo foi liderado

diretamente pelo presidente da firma e envolveu também revisões de

metodologias de trabalho, de controle de qualidade, intensificação de

treinamentos técnicos, introdução de treinamentos comporta mentais . em

diferentes níveis, entre outros. No entanto, mudar o jeito da firma operar

significaria mudar o jeito dos gestores conduzirem a firma, o estilo de

liderança. Por exemplo, foi mencionado que a maioria dos sócios e gerentes

de uma dada disciplina não estavam acostumados a compartilhar com

outras especialidades a prestação de um serviço ao cliente, a atuar em

equipes multidisciplinares, o que passou a ser uma característica da

empresa. Pelo contrário, era fortemente valorizada uma postura de maior

isolamento, onde cada um resolveria todos os problemas do seu cliente.

Estes e outros aspectos assinalaram que as mudanças organizacionais

demandariam mudanças comporta mentais importantes e que isto envolveria

intensamente as lideranças da firma. Por exemplo:

• Percebia-se um grande distanciamento entre níveis hierárquicos

("era muito difícil conseguir chegar à sala de um sócio", contou o

sócio entrevistado), sendo que isto ocorria do sócio para o gerente e

se reproduzia do gerente para o staff. O papel do staff era

principalmente de coletar dados; o sócio e o gerente é que

compreendiam o negócio e que deveriam lidar diretamente com o

cliente e com a análise das informações e com os resultados do

trabalho.

12 Na apresentação deste trabalho foi citada a tese de doutoramento de Fischer (1998), queanalisou as mudanças empreendidas por empresas brasileiras para tornarem -se maiscompetitivas e os impactos que isto gerou nas práticas de gestão de pessoas.

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Logo, a carência de interação lateral era complementada por uma

dificuldade de comunicação vertical, sendo que esta acontecia

principalmente em uma direção: de "cima para baixo". Segundo um

dos sócios entrevistados, "hoje existe uma demanda para que toda a

equipe, o que inclui o staff, conheça melhor o negócio e o cliente. Nós

achávamos que o staff não teria condições e postura para sentar em

uma mesa com um cliente, com o diretor de uma empresa. Hoje, para

fazer melhor o seu trabalho, mesmo que apenas coletando dados,

sabemos que tem que compreender e participar de todas as etapas

do trabalho".

• Em vários casos, parecia haver uma

responsabilidades operacionais no

demonstravam dificuldades em

centralização excessiva de

gerente. Os gerentes

delegar parte destas

.responsabilidades à sua equipe, já que, na sua percepção, ela não

dispunha dos conhecimentos e habilidades necessárias para isto.

Por outro lado, o desenvolvimento profissional era responsabilidade

apenas de cada pessoa ("antigamente, cada um deveria atuar como

autodidata" ressaltou o sócio entrevistado), sendo que muitos sócios

e gerentes não se envolviam no desenvolvimento dos subordinados.

Percebeu-se, no entanto, que os novos talentos e candidatos a

sucessores emergiam com maior freqüência em espaços onde

sócios ou gerentes envolviam-se com o processo de

desenvolvimento profissional do staff, ensinando, orientando,

fornecendo feedbacks.

• Outro aspecto apontado por entrevistados e que merece destaque é

a percepção de que, tradicionalmente, havia uma valorização maior

do conhecimento e habilidade técnicos, da disciplina de atuação, em

detrimento de habilidades como negociação, comunicação,

relacionamento interpessoal e até habilidade em vendas ("Entendia-

se, muitas vezes que só o sócio é que vende. Então um gerente era

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promovido a sócio e tinha que começar a fazer algo que não sabia:

vender").

Também o tempo de empresa era bastante valorizado; o domínio de

uma disciplina e o tempo de empresa emergiam como fatores

decisivos na alavancagem da carreira de um gerente ("era quase

impossível imaginar um sócio com menos de trinta e com menos de

dez anos de firma, como ocorre hoje").

Estes e outros aspectos estimularam os gestores da empresa a

empreenderem uma série de ações voltadas à renovação do estilo de

liderança da firma:

• Mudanças na sistemática de avaliação periódica de desempenho:

este era um processo eminentemente burocrático, voltado ao·

preenchimento de formulários e também direcionado quase que

exclusivamente a metas de produtividade. A nova sistemática

procurou enfatizar o diálogo e a negociação entre chefe e

subordinado na definição de objetivos de desempenho e incluiu

habilidades comportamentais na avaliação. Nesse sentido, procurou-

se dar um peso maior ao desenvolvimento das pessoas e equipes e

envolver os gerentes e sócios ativamente neste processo. Com o

tempo, principalmente após a realização do primeiro FMF, muitas

das avaliações deixaram de ser feitas individualmente e passaram a

ser feitas em grupos: o gerente reúne-se com o staff todo para

conversar a respeito das avaliações de cada um. Nesse contexto, o

sócio-consetheíro" passou a ter o seu papel de coach de gerentes

intensamente estimulado.

• Investimento em treinamentos comportamentais na formação de

gerentes, envolvendo negociação, comunicação, entre outros.

13 Os sócios-conselheiros são normalmente os responsáveis por áreas ou grupos e é a elesque os gerentes respondem.

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Realização de workshops de liderança para sócios e gerentes,

encontros estes voltados para: discussão e operacionalização da

missão e valores da firma, integração e melhoria do relacionamento

interpessoal, percepção do outro e auto-imagem.

• Mudança na sistemática de seleção de novos sócios: em 1998

ocorreu pela primeira vez um processo seletivo para sócios. Se,

anteriormente, apenas indicações e. votações do comitê eram

necessárias - em um processo eminentemente político - desta vez

houve um processo mais estruturado e criterioso, com diferentes

competências profissionais em jogo (neste caso, o conhecimento

técnico da disciplina permanecia muito importante; porém, foram

íntrcduzidos aspectos como capacidade de compreender o negócio

como um todo, conhecimentos em línguas e elementos

comportamentais, como habilidades interpessoais): os candidatos

indicados submeteram-se a um conjunto de entrevistas com um

head-hunter externo e também o relatório do FMF e aspráticas de

lideranças que nele constam foram analisadas pelo presidente, a fim

de validar as escolhas dos novos sócios. Ao final do processo, foram

promovidos gerentes com um perfil mais diversificado do que em

momentos anteriores; por exemplo, foram escolhidos profissionais

com menos de trinta anos de idade, com menos de dez anos de

empresa e a primeira mulher a entrar para a sociedade no Brasil.

• Realização de reuniões conjuntas anuais de sócios e gerentes

(anteriormente estes encontros envolviam apenas os sócios da

firma): nestes encontros são repassadas metas, discutidas questões

sobre os rumos e desafios enfrentados pela empresa, desenvolvidos

temas como liderança, coaching , e temas emergentes em gestão de

negócios.

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5.3. Objetivos do feedback com múltiplas fontes:

Neste contexto aconteceu também o FMF, inicialmente com um grupo de 65

gerentes seniores e depois envolvendo também os 45 sócios da firma. A

implementação do FMF contou com a intervenção direta e apoio político do

presidente da empresa, tendo sido coordenado pelo sócio e gerência de

recursos humanos, com o suporte de uma consultoria externa. O processo

teve início ao final de 1997, com os gerentes seniores 14, e ampliando-se em

1998 para mais um nível, com a participação dos sócios. O processo ainda

encontra-se em andamento, e a empresa deverá realizar novas rodadas de

feedbacks no futuro, adotando algumas mudanças que serão apontadas

adiante.

A escolha por iniciar o processo pelos gerentes ocorreu em função de dois

fatores: da necessidade de promover o desenvolvimento de profissionais

que possam, no futuro, ser os novos sócios da firma e da percepção de que

seria bastante difícil fazê-lo inicialmente com os sócios, sem que fossem

melhor conhecidos os seus resultados e impactos (imaginava-se que

poderia haver uma resistência tal que comprometeria o trabalho).

Com a utilização do FMF esperava-se comunicar aos profissionais da firma

- tanto receptores como fornecedores de feedback - que a empresa estava

passando por mudanças e que determinados comportamentos de liderança

(alguns bastante novos) seriam os mais coerentes com esta nova forma de

atuação da empresa; o processo tinha por objetivo estimular e orientar

esforços de auto-desenvolvimento na direção de um perfil de liderança

alinhado à aspiração da firma de ser uma global advisory firmo Isto significa,

a grosso modo, que os participantes iriam identificar, a partir de feedbacks

provenientes de múltiplas fontes, comportamentos e aspectos onde

deveriam melhorar e que elaborariam um plano para implementar estas

melhorias; a seguir, os participantes se empenhariam em ações e

14 Na carreira da firma, Gerente Sênior é o último patamar antes de um profissional tornar-sesócio.

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comportamentos voltados à concretização destas melhorias. Esperava-se

alcançar não apenas resultados individuais, mas, sobretudo, resultados

grupais: os grupos de gerentes e sócios apresentando alterações no estilo

de liderar a firma, segundo a direção apontada .. Embora a dimensão e o

contorno exato desta mudança não fossem muito claros, também não se

esperava resultados mágicos. Entendia-se o FMF como parte de um

processo maior de desenvolvimento de lideranças, que geraria resultados

no longo prazo.

Outras expectativas foram apontadas, nas entrevistas, como tendo

estimulado a escolha pelo FMF:

Pretendia-se que o processo fosse uma oportunidade de alavancar

o auto-conhecimento profissional dos participantes. Por um lado isto

significaria promover uma percepção mais clara a respeito da forma

como cada um estava atuando. (checar a auto-avaliação em relação

às .percepções dos outros); por outro, significaria cada um

compreender melhor como estava posicionado em relação às

próprias mudanças em andamento;

- Também era esperado que o processo estimulasse melhorias na

comunicação e relacionamento horizontal e vertical. Por um lado,

significava, para o participante, a oportunidade de reconhecer-se

em um todo, como participante de uma rede de relacionamentos;

por outro, significava receber inputs destes mesmos

relacionamentos e poder dar inputs mais claros, completos e

objetivos;

Permitiria sinalizar aos gestores e seus subordinados a importância

do staff e das equipes para o negócio e para os resultados atuais da

organização;

Finalmente, esperava-se que os resultados evidenciassem onde

estavam as principais carências do grupo como um todo, orientando

ações institucionais de apoio às mudanças esperadas.

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5.4. Implementação:

A seguir são descritas as etapas da implementação do FMF na Empresa A.

A) Grupo: Gerentes Seniores

Este grupo envolveu 65 gerentes, com idade média de 40 anos (d.p.=7.46) e

um tempo médio de empresa de 6 anos (d.p.=4.9). Deste grupo, 52% eram

do sexo masculino e 48 % do sexo feminino. Embora a maior parte (58%)

tenha formação em ciências contábeis, é um grupo com formações diversas:

há também economistas, administradores de empresas, advogados,

analistas de sistemas, pedagogos, engenheiros, entre outros.

: A.a) Desenvolvimento do inventário de práticas de liderança:

o FMF da Empresa A iniciou-se pelo desenvolvimento do Perfil de

Liderança para os Gerentes Seniores, ao final de 1997. Este instrumento

foi a base para os feedbacks, e caracterizou, na forma de comportamentos

observáveis, o conjunto de práticas de liderança compreendido pela firma

como essencial para a consecução de seus objetivos futuros, para a

construção de uma global advisory firmo

Nesta etapa foram entrevistados 30 profissionais da empresa, pessoas

identificadas como tendo um amplo conhecimento do negócio e que

poderiam caracterizar o perfil de liderança do gerente segundo as atuais

necessidades da firma. Destes profissionais, 20 eram sócios (incluindo o

presidente e membros do comitê executivo) e 10 eram gerentes.

Estas entrevistas foram realizadas por consultores externos, que

apresentaram como estímulo inicial um conjunto de exemplos de

comportamentos, levantados de modelos conceituais de liderança. Antes

das entrevistas, cada participante deveria analisar estes exemplos

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genéricos, delineando alterações e pontos a complementar de forma a

adequá-lo ao que entendia ser o perfil do gerente adequado à nova

realidade da Empresa A.

Nas entrevistas, cada pessoa deveria emitir as suas percepções, levando

em consideração que o perfil do gerente deveria adequar-se ao contexto de

mudança da empresa; deveria refletir um estilo gerencial que possibilitasse

à empresa realizar a sua aspiração de ser uma global advisory firmo Estas

contribuições e opiniões foram registradas e, a seguir, consolidadas pela

consultoria, que excluiu redundâncias e agregou percepções convergentes.

O resultado foi um draft do instrumento de feedback, revisado a seguir por

dirigentes da organização de forma a garantir a caracterização do Perfil de

..Liderança dentro dos objetivos da Empresa A. O resultado final foi um

conjunto de 68 sentenças (Anexo1), representando os comportamentos

observáveis que foram utilizados no questionário de feedback.

Uma análise desta sistemática de construção do instrumento é realizada ao

final do estudo de caso. Por ora, vale ressaltar alguns temas que

transparecem no instrumento e que evidenciam a sua conexão com os

esforços de mudança do estilo de liderança empreendidos pela firma. Por

exemplo:

• Atuação orientada não apenas para a consecução de objetivos de

curto prazo e para os negócios já existentes, mas também para a

criação de novos negócios (Exemplo de prática associada a este

tema: "Estimula seus pares e equipe de trabalho na busca de

oportunidades futuras, transcendendo os objetivos atuais da firma").

• Desenvolvimento de relacionamentos (networks) internos

("Desenvolve relacionamentos e parcerias com outras áreas da

empresa") e externos ("Desenvolve relacionamentos com a

comunidade, participando de associações, realizando palestras e

publicando artigos")

100

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+ r=nfase no desenvolvimento de pessoas e equipes ("Apoia o

desenvolvimento da equipe atuando como coach, provendo feedback

sistemático e constante" e "Negocia e define com sua equipe as

metas e expectativas de desempenho")

+ Alguns pontos referem-se especificamente à natureza e

características do negócio ("Identifica oportunidades para a expansão

dos negócios, sabendo avaliar benefícios e riscos" ou "Demonstra

conhecer bem o que é uma Advisory Firm: conhece a própria

empresa, seu mercado, produtos e serviços"). Nesse sentido,

também há comportamentos que transparecem um forte

compromisso com o conhecimento técnico, qualidade dos serviços,

foco no atendimento às necessidades dos clientes e integridade.

+ Por outro lado, é valorizada uma postura ativa frente às mudanças

("Participa ativamente de projetos da firma quanto. a novas

metodologias, treinamento e estratégias operacionais")

A.b) Utilização do instrumento junto ao grupo de gerentes:

Cada gerente recebeu feedbacks de 3 a 8 subordinados, de 3 a 8 sócios ou

pares e do sócio-conselheiro a quem responde 15, além de auto-avaliar-se. A

escolha dos avaliadores foi feita pela gerência de recursos humanos,

procurando envolver pessoas que efetivamente atuaram em projetos com os

gerentes ou que faziam parte de suas redes de contatos, procurando

envolver no processo fontes de diferentes áreas/ disciplinas. Foram

distribuídos em média 14 questionários por participante (total aproximado de

15 Na aplicação deste instrumento uma das fontes é composta de pares ou sócios. Istosignifica que, além de receberem feedbacks de outros gerentes, também os receberam desócios com quem trabalham lado-a-Iado, alguns de outras áreas, não se evidenciando aíuma relação de subordinação. A intenção com isto foi justamente propiciar a interação entredisciplinas. Como já foi mencionado, os sócios-conselheiros são normalmente osresponsáveis por áreas ou grupos e é a eles que os gerentes respondem. Os conselheirosrealizam avaliações de desempenho semestrais e atuam como coaches junto às gerências.

101._"

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910 questionários) havendo um índice de devolução de aproximadamente

90%. Esta etapa ocorreu no início de 1998.

o questionário era composto de duas partes:

1. Avaliação dos 68 comportamentos a partir da seguinte questão: "Com

que freqüência este gerente tem colocado em prática os seguintes

comportamentos?" Para isto foi utilizada uma escala de O a 5, onde: O

= não possuo informações suficientes; 1 = nunca; 2 = de vez em

quando; 3 = com razoável freqüência; 4 = com grande freqüência; 5 =sempre.

2. Comentários adicionais a partir das seguintes questões abertas:

Acho que seria útil se você continuasse a...

Acho que seria útil se você aperfeiçoasse ...

Acho que seria útil se você parasse de...

Antes da aplicação do questionário de feedback, os participantes, gerentes

e avaliadores, passaram por uma sessão de treinamento a respeito do FMF.

Neste encontro, sempre contando com a presença do presidente ou do

sócio responsável por recursos humanos, foram comunicados os objetivos

do processo, a forma como ocorreria, o que seria feito com os seus

resultados e os cuidados a serem tomados no preenchimento do

questionário, a fim de garantir a qualidade dos feedbacks fornecidos.

Também era assegurada a confidencial idade dos avaliadores.

Os participantes recebiam os questionários nestes treinamentos e o

depositavam respondidos, dias depois, em uma urna posicionada na

entrada da empresa. Os questionários respondidos seguiam direto para a

consultoria externa, onde eram processados os Relatórios de Feedback16.

16 o modelo de relatório utilizado assemelha-se àquele apresentado como exemplo nocapítulo 3.

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A.c) Workshop de liderança e leitura dos relatórios de feedback:

A leitura dos relatórios ocorreu em workshops de liderança, no primeiro

semestre de 1998, cada um contando com 15 a 25 gerentes. Nestes

encontros de dois dias e meio de duração foram desenvolvidas basicamente

as seguintes atividades 17:

+ Apresentação dos objetivos do FMF dentro do contexto atual da

firma;

+ Aporte de conceitos a respeito do tema liderança. Por exemplo:

liderança situacional e credibilidade e liderança. Estudo de caso

utilizando o modelo de liderança situacional;

+ Análise dos estilos de liderança individuais e predominantes no

grupo, tendo como base o modelo de liderança situacional;

• Exercícios vivenciais (experiência de liderar uma equipe, por

exemplo) e de auto-conhecimento (utilização da "Janela de Johari"

(Robbins, 1998) - para que cada um identificasse o seu estilo de

comunicação: o quanto conhece de si, o quanto mostra de si, o

quanto é conhecido e percebido pelas pessoas), onde foram

exploradas as relações destas atividades com os feedbacks de

diferentes fontes;

+ Exploração dos feedbacks. Envolveu o seguinte:

Orientações sobre como ler o relatório de feedback e como utilizá-

lo no desenvolvimento profissional. Caracterização do feedback

como instrumento de aprendizagem e auto-conhecimento.

Discussão sobre as reações pessoais frente aos feedbacks

(surpresa, ansiedade, justificativas, etc.);

17 Estes encontros não foram idênticos. Houve alterações e ajustes em função dasnecessidades específicas de cada grupo. A abordagem de .liderança situacional, porexemplo, não recebeu ênfase tão intensa em outros encontros.

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Análise dos resultados gerais do grupo de gerentes;

Estudo e reflexão individual sobre o relatório de feedback;

Entrevistas individuais com um consultor externo. Nesta reunião

eram discutidas percepções sobre os feedbacks recebidos,

estabelecendo relações internas (entre as fontes), com o contexto

da empresa, com a carreira e aspirações do participante. O

objetivo da reunião era identificar os pontos fortes e os pontos

onde o gerente iria investir esforços de desenvolvimento e

melhoria.

Elaboração de um plano de ação, no qual o gerente definiria os

passos e prazos para desenvolver-se nas oportunidades de .

melhoria identificadas por meio dos feedbacks. (Exemplos de

ações desenvolvidas pelos sócios são apresentadas-no Anexo 4).

No encontro os participantes foram estimulados a: buscar novos feedbacks

após o workshop, informalmente, a respeito dos comportamentos que se

propuseram a desenvolver e a compartilhar com os seus conselheiros os

planos de ações, buscando ajuda para a sua realização.

Algum tempo após os workshops, os sócios-conselheiros foram reunidos

para uma apresentação a respeito do FMF, seus objetivos e a forma como

havia sido conduzido. Neste encontro foi reforçado o papel de coach do

sócio-conselheiro e foram discutidas formas de receber e apoiar o plano de

ação do gerente. Foram reforçados, por exemplo, aspectos como: incentivar

o gerente a compartilhar o seu plano de ação, dar novos feedbacks sobre as

mudanças que se propôs a realizar, orientar nos aspectos que ainda

precisam ser melhorados, reconhecer o gerente nos pontos em que

alcançou melhorias.

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B) Grupo: Sócios

Este grupo envolveu 45 sócios, com idade média de 44 anos (d.p.=6.4) e,

em média, 17 anos de empresa (d.p.=7.2), todos eles do sexo masculino 18.

Neste grupo predominaram profissionais formados em ciências contábeis

(70%), mas também há economistas, engenheiros, advogados,

administradores de empresas.

B.a) Desenvolvimento do perfil de liderança para os sócios:

o inventário de práticas de liderança para sócios utilizou como base o

instrumento dos gerentes seniores. Alguns ajustes foram realizados, no

entanto, de forma a melhor alinhá-lo à atuação do sócio na organização. Por

exemplo, foram incluídos itens relacionados à definição dos rumos··

estratégicos da companhia, expansão dos negócios e gestão do

conhecimento. Estas adequações foram realizadas mediante sugestões da

consultoria externa, incorporando elementos do instrumento de feedback

com múltiplas fontes da Empresa A internacional.

Este draft do Perfil de Liderança do Sócio foi avaliado pelos integrantes do

Comitê Executivo e por um grupo de doze sócios, em meados de 1998.

Cinco pessoas manifestaram suas opiniões, propondo ajustes ao

instrumento final.

B.b) Workshop de liderança:

Em outubro de 1998 foi realizado o workshop de liderança, ocasião em que

os sócios foram preparados para o processo de feedback. Este encontro, de

dois dias de duração, teve um formato diferente daquele realizado com os

gerentes. Foi apresentado pelo presidente, por exemplo, o tema "Visão e

perspectivas de liderança na advisory firm", caracterizando a atuação dos

16 Em 199B, após a utilização do FMF, foi admitida a primeira mulher na sociedade.

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sócios em uma firma global de assessoramento aos clientes. Foram

revisitados também os valores da firma e seus impactos na atuação do

sócio e discutidas as transformações por que estão passando as

organizações e como isto impacta a atuação das lideranças.

Houve neste encontro um espaço maior para a emergência e discussão de

conflitos existentes no grupo, bem como de dificuldades relacionadas à

expressão de pontos de vista diversos com relação aos rumos da firma.

Foram discutidos e analisados aspectos que inibem a comunicação entre os

sócios.

"Após o workshop foram realizadas sessões de treinamento com os

avaliadores e distribuídos os questionários.

Para a avaliação dos 45· sócios que participaram." do processo, foram

distribuídos ao todo 654 questionários. O índice de devolução foi de 87%.

B.e) Entrevistas "um a um":

A leitura e análise dos relatórios individuais ocorreu, neste caso, diretamente

nas reuniões com os consultores externos, semanas depois do workshop de

liderança; estas reuniões estenderam-se até meados de 1999. Também a

elaboração do plano de ação ocorreu, em sua maioria nestas reuniões.

Estes planos deveriam conter: objetivos pessoais de desenvolvimento,

ações específicas para cada objetivo e indicadores que permitissem

monitorar a consecução dos objetivos (no Anexo 2 há um trecho do roteiro

de plano de ação utilizado; no Anexo 4 são apresentados exemplos de

ações desenvolvidas pelos sócios). Uma cópia do plano de ação deveria

ficar com o próprio sócio, para monitoramento, e outra deveria ser

encaminhada para o sócio de recursos humanos. Apenas três pessoas (5%)

não participaram destas entrevistas individuais.

\06

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5.5. Interpretando os feedbacks recebidos:

Neste tópico as informações que resultaram dos feedbacks para gerentes e

sócios foram analisadas e interpretadas qualitativamente, a fim de se

identificar características do estilo de liderança predominante na empresa e,

no próximo tópico, analisar a consistência destes feedbacks com os planos

de ações propostos por participantes do processo (Objetivo específico

número 1.3).

Para isto foi analisado um instrumento de que dispunha a empresa,

denominado "Relatório da Classe". Este instrumento consolida todos os

feedbacks recebidos pelos participantes do processo; ou seja, para cada um

dos comportamentos que compunham o questionário utilizado no FMF, foi

calculada a média de todas as avaliações realizadas 19. O Relatório da

Classe tem o mesmo formato de um relatório de feedback individual, mas

apresenta os feedbacks recebidos pelo grupo como um todo. Foram

analisados em separado o relatório do grupo de gerentes e o relatório do

grupo de sócios.

Em função do grande volume de informações disponíveis neste instrumento

(em torno de 68 itens), foram considerados apenas os dez comportamentos

que obtiveram as maiores médias e os dez comportamentos que obtiveram

as menores médias. Em cada grupo (gerentes ou sócios), as médias das

diferentes fontes foram analisadas em separado. As fontes consideradas

nesta análise foram os pares e subordinados diretos; embora os sócios-

conselheiros tenham emitido feedbacks para os gerentes, os seus dados

integrais não estavam disponíveis.

19 Tal como foi mencionado anteriormente, cada comportamento do questionário foi avaliadoa partir da seguinte questão: "Com que freqüência este gerente tem colocado em prática osseguintes comportamentos?" Para isto foi utilizada uma escala de O a 5, onde: O = nãopossuo informações suficientes; 1 = nunca; 2 = de vez em quando; 3 = com razoávelfrequência; 4 = com grande frequência; 5 = sempre. Assim, as médias foram calculadascom base nas respostas a esta escala e vão de 1 a 5; o zero foi desconsiderado no cálculodas médias.

107

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A seguir, foi realizada uma análise de conteúdos com os itens que

obtiveram as maiores médias: os comportamentos que apresentaram

temas/conteúdos semelhantes ou aproximados foram agrupados, compondo

categorias temáticas. O mesmo foi feito, em seguida, com os

comportamentos que obtiveram as menores médias.

Esta categorização baseou-se nos critérios definidos por Bardin (1977), que

discutiu os cuidados necessários para assegurar a aplicabilidade e rigor

desta técnica:

+ As categorias temáticas devem ser homogêneas, comportando

assuntos semelhantes.

+ A análise deve esgotar todos os elementos disponíveis. Neste caso,

todos os comportamentos que obtiveram as maiores ou menores

médias.

+ Um mesmo elemento do conteúdo não pode ser classificado

aleatoriamente em duas categorias diferentes.

+ Espera-se que codificadores diferentes possam chegar a resultados

aproximados.

+ As categorias devem ser pertinentes, adaptadas ao conteúdo e

objetivos da pesquisa.

A coerência destes agrupamentos foi checada por meio das informações

obtidas nas entrevistas semi-estruturadas, tal como será mencionado

adiante.

108

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A) Feedbacks fornecidos para gerentes:

A tabela 4 apresenta, portanto, as dez maiores médias obtidas pelos

gerentes como um todo, segundo os seus subordinados e pares! sócios.

Estas médias foram extraídas das respostas de aproximadamente 820

questionários; ou seja, foram respondidos 410 questionários por cada

fonte.20

Estes comportamentos foram agrupados em temas semelhantes, na tabela

5. Por exemplo, os comportamentos "67 - Demonstra ser honesto e ético

em seus relacionamentos pessoais e transações de negócios" e "68 - É

percebido como uma pessoa íntegra, que não está atrás de vantagens

. pessoais", foram aqrupados'em um mesmo tema: Integridade e ética. ;;

Alguns comportamentos permaneceram separados, para que não se

formassem categorias heterogêneas, com comportamentos excessivamente

diversificados. Algumas dúvidas podem haver, no entanto, uma vez que

determinados comportamentos podem ser relacionados a mais de um tema.

Os resultados desta análise sugerem, tal como será mostrado adiante, que,

apesar de suas limitações, este procedimento facilitou a identificação de

determinados padrões nas percepções das diferentes fontes.

20 Cada um dos 65 gerentes foi avaliado por 3 a 8 subordinados e por 3 a 8 pares ou sócios.

109

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Segundo os subordinados Segundo os pares ou sóciosmédia dp média dp

7.Demonstra ser 4.27 0.92 67.Demonstra ser 4.43 0.79

onesto e ético em honesto e ético emeus relacionamentos seus relacionamentosessoais e transações pessoais e transaçõese neoócios de negócios8.É percebido como 4.16 1.02 68.É percebido como 4.39 0.85ma pessoa íntegra, uma pessoa íntegra,ue não está atrás de que não está atrás deantagens pessoais vantacens pessoais2.Demonstra dominar 4.13 0.94 32.Certifica-se de que 3.99 0.90

S conhecimentos e sejam estabelecidos eabilidades técnicas mantidos os maisequeridos á realização altos padrões dee seu trabalho comportamento ético

nas açõesorganizacionais

7.Demonstra 4.02 0.66 59.Sabe trabalhar sob 3.93 0.88erseverança, não pressãoesiste mesmo em .,~;

ítuacões difíceis9.Busca maximizar os 4.01 0.94 52. Demonstrá dominar 3.90 0.86

resultados da empresa os conhecimentos ehabilidades técnicasrequeridos árealização de seutrabalho

1.Conhece o . 3,96 0.93 47.Responde 3.87 0.83

egmento de mercado prontamente áse seus clientes solicitações dos

clientesO.Empenha-se em 3.97 0.90 60.Empenha-se em 3.63 0.90

tingir excelência atingir excelênciaessoal em tudo o que pessoal em tudo o que

az faz3.Demonstra saber 3.96 0.99 33. Não hesita em 3.79 1.02

ida r com situações questionar outrosomplexas ou que escalões quando julgaxigem a manipulação necessárioanálise de um grande

olume de informacões9.Sabe trabalhar sob 3.95 0.99 57. Demonstra 3.76 0.92

ressão perseverança, nãodesiste mesmo emsituações difíceis

3.Assume como 3.94 1.05 41.Conhece o 3.76 0.87

esponsabilidade sua o segmento de mercadoeu próprio de seus clientesesenvolvimentoessoal e profissional

Tabela 4 - Gerentes Seniores: Dez maiores médias 21

21 o número que antecede cada comportamento corresponde ao número destecomportamento no inventário de práticas de liderança.

110

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Agrupados em temas, estes comportamentos podem ser visualizados da

seguinte forma:

Temas Subordinados Pares ousócios

Integridade e ética 67,68 32,67,68Conhecimentos e 41,52 41,52habilidades técnicas

Qualidade dos trabalhos 60 60Foco no cliente 59 47Perseverança 57 57Trabalho sob pressão 59 59 ,.. "

Lidando com a 53 -complexidade

Questionando superiores - 33Orientação para 29 - .resultados

Auto-desenvolvimento 63 -

Tabela 5 - Gerentes: temas que obtiveram as maiores médias22

É interessante observar que, neste quadro, predominam convergências

entre as fontes em torno de determinados temas: integridade e ética,

conhecimentos e habilidades técnicas, qualidade dos trabalhos, foco no

cliente, perseverança e trabalho sob pressão. Particularmente os dois

primeiros temas são representados por um número maior de

comportamentos, tanto nas avaliações de subordinados como nas de pares

ou sócios.

Supondo que estes dados indicam comportamentos que são percebidos

como mais freqüentes entre os gerentes, levantam a suposição de que o

grupo de gerentes é percebido como um grupo onde os comportamentos

22 Os números apresentados na tabela correspondem ao número de cada comportamentona tabela anterior.

111

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relacionados a integridade! ética e conhecimentos e habilidades técnicas

estão mais presentes ou visíveis no dia-a-dia de trabalho, nas interações

com estas diferentes fontes. As entrevistas parecem indicar que esta

suposição faz sentido, pois ressaltam que estas dimensões são

particularmente valorizadas para o negócio da firma e, como tal, fazem parte

de fortes expectativas com relação aos seus profissionais.

Há elementos que surgem de maneira específica em cada fonte, nas

maiores médias:

- Segundo os subordinados: lidando com a complexidade,

orientação para resultados, auto-desenvolvimento;

Segundo pares ou sócios: questionando superiores.

A tabela a seguir apresenta as dez menores médias obtidas pelos gerentes.

112

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Segundo os subordinados Segundo os pares ou sóciosmédia dp média dp

24.Desenvolve 2.76 1.24 24.Desenvolve 2.53 1.21relacionamentos com a relacionamentos com acomunidade, comunidade,participando de participando deassociações, realizando associações, realizandopalestras e publicando palestras e publicandoartigos artigos17.Participa como 3.09 1.30 17.Participa como 3.04 1.29instrutor nos instrutor nostreinamentos para o treinamentos para ostaft interno staft interno16.Aconselha seus 3.16 1.24 10.Estimula seus pares 3.17 1.00subordinados no e equipe de trabalho naencaminhamento de busca de oportunidadessuas carreiras futuras, transcendendo

os objetivos atuais daempresa

02.Comunica 3.17 1,07 11.Busca saber dos 3.29 1.04

claramente como os membros de sua equipeobjetivos da empresa o que necessitam para opoderão ser alcançados bom desenvolvimento

de seus trabalhos18.Negocia e define 3.18 1.13 6.Desenvolve ações, 3.29 0.95com sua equipe as contatos emetas e expectativas de relacionamentos quedesempenho favorecem a ,

concretização de novosn~ócios

11.Busca saber dos 3.26 1.26 9.É proativo, buscando 3.31 1.01membros de sua equipe antecipar tendências eo que necessitam para o identificar oportunidadesbom desenvolvimento' futuras de negóciosde seus trabalhos10.Estimula seus pares 3.27 1.15 25.Desenvolve 3.32 1.02e equipe de trabalho na relacionamentos ebusca de oportunidades parcerias com outrasfuturas, transcendendo áreas da empresaos Objetivos atuais daempresa19.Administra os 3.30 1.15 05. Identifica 3.33 1.00

conflitos da equipe, oportunidades para amantendo o grupo expansão dos negócios,coeso sabendo avaliar

benefícios e riscos58.Demonstra 3.30 1.24 44.Sabe alavancar as 3.34 0.94

capacidade e humildade outras áreas dapara reconhecer e empresa, visandocorrigir os próprios erros satisfazer de forma

plena as necessidadesdos clientes

14.Apoia o 3.33 1.16 19.Administra os 3.35 1.01

desenvolvimento da conflitos da equipe,equipe, atuando como mantendo o grupocoach, provendo coesofeedback sistemático econstante

TabelaS - Gerentes Seniores: Dez menores médias

113

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Da mesma forma, os comportamentos levantados foram agrupados em

temas semelhantes:

Temas Subordinados Pares ousócios

Gestão de equipes 11, 18, 19 11, 19

Desenvolvimento de 14, 16, 17 17pessoas

Construção do futuro e 10 05, 9, 10expansão dos negócios

Relacionamentos externos 24 6,24 .(networks externos)

Relacionamentos laterais - 25,44

Comunicação dos objetivos 02 -. da empresa ..

Relacionamento 58 .-interpessoal

Tabela 7 ..;.Gerentes: temas que obtiveram as menores médias23

Neste ponto, a análise dos feedbacks emitidos torna-se especialmente

interessante, pois revela que as dez menores médias concentraram-se em

temas absolutamente diferentes das dez maiores méd ias. E mais:

concentraram-se em temas que também foram mencionados nas entrevistas

com os gestores da área de recursos humanos. Emergem daí áreas onde os

comportamentos dos gerentes têm apresentado menor freqüência e que

dizem respeito justamente a aspectos que a organização tem procurado

alavancar. Além disso, os resultados das diferentes fontes gravitam mais

uma vez em torno de temas semelhantes, sugerindo uma certa

concordância com relação às carências do corpo gerencial.

Novamente alguns temas apareceram como mais presentes nas avaliações

de determinadas fontes do que em outras. Comportamentos relacionados a

23 Os números apresentados na tabela correspondem ao número de cada comportamentona tabela anterior.

114

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"Gestão de equipes" e "Desenvolvimento de pessoas" foram mais

freqüentes entre os subordinados; já "Construção do futuro e expansão dos

negócios", "Relacionamentos externos (networks externos)" e

"Relacionamentos laterais" surgiram com maior freqüência entre pares ou

sócios. Na realidade, essas diferenças parecem coerentes uma vez que

representam temas que podem ser mais facilmente observados e també m

chamem mais a atenção de uma fonte do que de outra.

Tal. como discutido no Capítulo 3, as diferentes fontes podem ater-se

preferencialmente diante de determinados temas que são mais impactantes

em seu relacionamento com o avaliado. Estas evidências sugerem a

hipótese de que isto pode estar ocorrendo: pares e sócios provavelmente

têm maior acesso e visibilidade a comportamentos como postura frente a

novos negócios.

Estes resultados podem ser resumidos na tabela a seguir, que apresenta os

temas que emergiram nos feedbacks para os gerentes:

Dez maiores médias Dez menores médias

Integridade e ética Gestão de equipes

Conhecimentos e habilidades técnicas Desenvolvimento de pessoasQualidade dos trabalhos Construção do futuro e expansão dos

Foco no cliente negócios

Perseverança Relacionamentos externos (networksexternos)

Trabalho sob pressão Relacionamentos lateraisLidando com a complexidade Comunicação dos objetivos daQuestionando superiores empresaOrientação para resultados Relacionamento interpessoalAuto-desenvolvimento

Tabela 8 - Gerentes: resumo das maiores e menores médias

115

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B) Feedbacks fornecidos para os sócios:

Os mesmos procedimentos foram utilizados com os feedbacks dos sócios,

tal como demonstram os quadros a seguir:

Segundo os subordinados Segundo os paresmédia dp média dp

51.Demonstra dominar os 4.42 0.78 66.Demonstra ser 4.60 0.67conhecimentos e honesto e ético em seushabilidades técnicas relacionamentosrequeridos à realização de pessoais e transaçõesseu trabalho de neqócios66.Demonstra ser honesto e 4.37 0.91 32.Certifica-se de que 4.42 0.75ético em seus sejam estabelecidos erelacionamentos pessoais e mantidos os mais altostransações de negócios padrões de

comportamento éticonas açõesorganizacionais

29.Busca maximizar os .. 4.33 0.76 67.Trata os outros com 4.37 0.88

resultados da emj:lresa respeito e dignidade50. Estabelece 4.21 0.87 51.Demonstra dominar 4.30 0.78relacionamentos de longo os conhecimentos eprazo com os clientes habilidades técnicas

requeridos à realizaçãode seu trabalho

40.Conhece o segmento de 4.18 0.85 50. Estabelece 4.26 0.72mercado de seus clientes relacionamentos de

longo prazo com osclientes

59. Empenha-se em atingir 4.17 0.84 29.Busca maximizar o 4.21 0.78

excelência pessoal em tudo resultado da empresao que faz67.Trata os outros com 4.17 1.05 40.Conhece o segmento 4.21 0.88

respeito e dignidade de mercado de seusclientes

06.Demonstra conhecer 4.17 0.85 45.Responde 4.19 0.78

bem o que é uma Advisory prontamente àsFirm: conhece a própria solicitações dos clientesempresa, seu mercado,orod utos e serviços52.Demonstra saber lidar 4.17 0.89 62.Assume como 4.19 0.75com situações complexas ou responsabilidade sua oque exigem a manipulação e seu desenvolvimentoanálise de um grande pessoal e profissionalvolume de informações28.Seus resultados 4.16 0.85 59.Empenha-se em 4.16 0.85

contribuem para o atingir excelênciadesempenho da empresa a pessoal em tudo o quelonqo prazo faz

Tabela 9 - Sócios: Dez maiores médias24

24 O número que antecede cada comportamento corresponde ao número destecomportamento no inventário de práticas de liderança.

116

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Segundo os subordinados Segundo os paresmédia dp média ~

13.Apoia Odesenvolvimento 2.92 1,24 21.Desenvolve 3.31 1,22de seus subordinados, relacionamentos com aatuando como coach e comunidade,provendo feedback participando desistemático e constante associações, realizando(aconselhamento) palestras e publicando

artigos14.ldentifica e encoraja 3.07 1,26 11.Faz do 3.37 1,14.positivamente os desenvolvimento deprofissionais de talento no lideranças futuras paraaproveitamento das a empresa uma de suasoportunidades de prioridadesdesenvolvimento - inclusive (desenvolvedor deinternacionais - existentes talentos)na firma11.Faz do desenvolvimento 3.19 1,18 11.Negocia e define 3.53 1,01de lideranças futuras para a com sua equipe asempresa uma de suas metas e expectativas deprioridades (desenvolvedor desempenhode talentos)51.Demonstra capacidade e 3.22 1,32 03.Envolve seus 3.56 0,92humildade para reconhecer COlegase equipe nae corrigir os próprios erros identificação de como

realizar a visãoOS.Comunica a estratégia da 3.24 1,17 OS.Comunica a 3.57 1,00empresa para os membros estratégia da empresada equipe para os membros da

equipe11.Negocia e define com 3.25 1,17 13.Apoia o 3.56 1,04sua equipe as metas e desenvolvimento deexpectativas de seus subordinados,desempenho atuando como coach e

provendo feedbacksistemático e constante

I (aconselhamentº-l.20,Reconhece, inclusive, 3.30 1,30 16.Sabe delegar, 3.58 0,94publicamente, a contribuição estimulando osdas pessoas para o trabalho membros de sua equipee desenvolvimento da para que assumam aequipe responsabilidade pelos

próprios resultados64.Aceita os feedbacks dos 3.31 1,20 1S.Apoia os gerentes 3.61 1,05outros, não assumindo seniores nopostura defensiva desenvolvimento de

habilidades de venda deprodutos e serviços

18,Administra os conflitos da 3.33 1,15 10.É proativo, buscando 3.61 1,06

equipe, mantendo o grupo antecipar tendências ecoeso identificar oportunidades

futuras de negócios60.Sabe ouvir, reconhece o 3.36 1,23 14.ldentifica e encoraja 3.62 1,08

valor da opinião dos outros; positivamente osevita teimosia e profissionais de talentoinflexibilidade no aproveitamento das

oportunidades dedesenvolvimento -inclusive internacionais -existentes na firma

, . , .':0Tabela 10 - SOCIOS. Dez menores medias

25 o número que antecede cada comportamento corresponde ao número destecomportamento no inventário de práticas de liderança.

117

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Temas Subordinados Pares

Conhecimentos e habilidades 06,51,40 40,51técnicas

Integridade e ética 66 66,32Foco no cliente 50 45, 50Orientação para resultados 28,29 29Qualidade dos trabalhos 59 59

Respeito e dignidade 67 67Lidando com a complexidade 52 -Auto-desenvolvimento - 62

Tabela 11 - Sócios: temas que obtiveram as maiores médias

Temas Subordinados Pares

Gestão de equipes 17,18,20 16,17Desenvolvimento de pessoas 11,13,14, 11,13, 14,15Criação de uma direção 05 03,05Relacionamento interpessoal 57,60,64 -

Construção do futuro e - 10expansão dos negócios

Relacionamentos externos - 21(networks externos)

Tabela 12 - Sócios: temas que obtiveram as menores médias

Tal como no caso dos gerentes, foi possível identificar uma concentração

em torno de determinados assuntos, em ambas as fontes. As tabelas acima

permitem observar uma convergência de percepções de subordinados e

sócios em torno dos seguintes temas:

118

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• Nas 10 maiores médias: conhecimentos e habilidades técnicas,

integridade e ética, orientação para resultados, foco no cliente,

qualidade dos trabalhos, respeito e dignidade.

• Nas 10 menores médias: gestão de equipes, desenvolvimento de

pessoas, criação de uma direção.

Também surgiram especificidades nas percepções de cada fonte. Nas dez

menores médias, emergiram entre os pares os temas "construção do futuro

e expansão dos negócios" e "relacionamentos externos (networksexternos)"

, talvez evidenciando aí a possibilidade desta fonte ter um acesso mais

direto a situações organizacionais onde estes comportamentos são mais

demandados, colocados em prática ou observáveis. Já os seguintes

comportamentos, relacionados a "relacionamento mterpessoal", nas

menores médias segundo a percepção dos subordinados:

• Demonstra capacidade e humildade para reconhecer e corrigir os

próprios erros;

• Aceita o feedback dos outros, não assumindo postura defensiva;

• Sabe ouvir, reconhece o valor da opinião dos outros; evita

teimosia e inflexibilidade.

Segundo estas percepções dos subordinados, os sócios apresentam uma

postura de inflexibilidade e de reatividade a feedbacks, denotando um

possível distanciamento entre níveis hierárquicos.

Há uma particularidade interessante nas tabelas 9 e 10: as médias dos

sócios avaliando seus colegas são sempre maiores que as médias dos

subordinados avaliando os sócios. E mais: os desvios padrões indicam

sempre menores dispersões nas médias de sócios avaliando sócios. É difícil

propôr uma explicação para tal fato, sem outras evidências. Duas hipóteses,

119

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no entanto, podem ser propostas: ou estes feedbacks indicam algum tipo de

protecionismo nas avaliações, ou eles revelam na realidade uma percepção

mais homogênea dentro do grupo de sócios, podendo estar associada a um

conhecimento maior do próprio grupo, da organização e do negócio (Esta

segunda hipótese foi sugerida, nas entrevistas, pelo sócio de recursoshumanos).

Os feedbacks recebidos por gerentes e sócios conduzem a duas reflexõesimportantes:

1, Estes resultados sugerem que o foco dos comportamentos de

liderança nestes dois grupos tem se orientado

predominantemente para as -taretasr resultados e com menor

intensidade para relacionamentos, o que permite fazer uma

analogia com as abordagens de estilos de liderança (orientação

.para o empregado versus orientação para a produção;

consideração versus início de estrutura). Esta freqüência menor é

especialmente evidente nos relacionamentos com subordinados, mas

também está presente nas interações com outras áreas da

organização. Ao que estes resultados indicam, o exercício de

conhecimentos e habilidades técnicas tem se 'evidenciado com maior

intensidade no dia-a-dia da firma do que o de habilidades

interpessoais e de gestão de pessoas. Evidentemente, conclusões

definitivas demandariam investigações mais aprofundadas e um

maior refinamento metodológico.

2. De alguma forma, os comportamentos dos gerentes parecem

reproduzir os comportamentos dos sócios. Tal como afirmou o sócio

de recursos humanos: "o gerente é o espelho do sócio". Esta

constatação chama a atenção para o importante papel do sócio

no desenvolvimento e formação do perfil de liderança dos

gerentes e para o papel das lideranças na modelagem de valores

120

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e comportamentos que caracterizam a cultura de uma empresa

(Schein, 1992).

121

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5.6. Impactos dos feedbackscom múltiplas fontes:

Foram levantadas evidências sobre os impactos do feedback com múltiplas

fontes na Empresa A a partir de quatro perspectivas diferentes:

A) Opiniõesdos Gerentes Seniores:

Como já foi visto no Capítulo 3, alguns aspectos podem ser condicionantes

para o sucesso de programas de desenvolvimento de lideranças baseados

em FMF. Entre esses fatores condicionantes estão:

• A busca informal e contínua de feedbacks tem sido indicada como

elemento essencial na mudança de práticas gerenciais e no

desenvolvimento de comportamentos de liderança (Ashford &

Tsui, 1991; Goldsmith, 1996);

• Da mesma forma, o apoio de um coach tem sido considerado um

fator ambiental importante para os resultados do processo (Bass

1990, Conger, 1992; Hazucha et alii, 1993; Van Velsor, 1998) e

para o desenvolvimento de lideranças (Kotter, 1990).

o primeiro aspecto foi estimulado no workshop de liderança. O segundo

refere-se ao papel dos sócios-conselheiros, de quem se esperava uma

postura ativa após os feedbacks, acolhendo e apoiando os gerentes para a

realização dos seus planos de ações.

Diante disto, foi realizado um levantamento que procurou explorar algumas

opiniões e reações dos gerentes com relação ao processo de feedback,

quatro meses após a sua realização. Para isto foram enviadas a cada um

dos gerentes, por e-meu, quatro questões" que procuravam levantar o

seguinte:

26 Estas questões foram encaminhadas com uma carta explicativa sobre os objetivos dolevantamento e forma de utilização da escala.

122

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• o quanto estavam investindo na realização das ações que haviam

proposto no workshop de liderança;

• o quanto buscavam novos feedbacks;

• o quanto estavam recebendo algum tipo de apoio dos sócios-

conselheiros para a consecução de seus planos de ação;

• finalmente, o quanto perceberam melhorias nos aspectos que se

propuseram a desenvolver.

Para isto foi utilizada uma escala de 1 a 4, onde: 1 = nunca, 2 = de vez em

quando, 3 = com grande freqüência, 4 = sempre. Havia também espaço

para comentários pessoais.

Ao todo, 37 pessoas (55% dos gerentes) responderam a estas questões. Os

i. resultados foram resumidos na tabela a seguir:

1 2 3 4nunca de vez com sempre

em grandequando frequên-

Questões:cia

1. Tem investido na realização do 3% 16% 62% 19%seu plano de ação?

2. T em buscado novos feedbacks 12% 34% 37% 17%de conselheiro, pares,subordinados?

3. Tem recebido apoio de seu 24% 32% 32% 12%conselheiro para a realização doseu plano de acão?

4. T em percebido melhorias nos 0% 20% 72% 8%aspectos que se propôs adesenvolver?

Tabela 13 - Gerentes: opiniões quatro meses após o feedback.

Média d.p.

3,0 0,71

2,6 0,95

2,4 1,01

2,9 0,55

Embora estes dados tenham apenas um caráter exploratório, estando

sujeitos a erros que não foram estatisticamente controlados, conduzem a

algumas constatações:

123

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• Todos os participantes declararam ter percebido algum tipo de

melhoria nos aspectos em que se propuseram a desenvolver. O grau

de melhoria manifestado por cada um variou; porém, esta média (2,9)

foi a que apresentou menor dispersão (d.p.=O,55). Resultado

semelhante ocorreu com o item a respeito do investimento pessoal na

realização do plano de ação: a maioria das pessoas disse estar

realizando tal investimento sempre ou com grande freqüência. Nos

comentários abertos, três pessoas explicaram que, por falta de tempo

geral na firma, este investimento pessoal teve uma freqüência menor

do que o que tinham planejado. Uma pessoa (3%) manifestou não

estar podendo investir em seu plano de ação no momento.

• Quanto à questão sobre a busca de novos feedbacks, obteve média

um pouco menor (2,6) e maior dispersão (d.p.=0,95). Mesmo assim,

88% afirmaram terem buscado algum novo feedback informalmente.

• Por outro lado, a questão sobre o apoio recebido do conselheiro

obteve a menor média (2,4) e a maior dispersão (d.p. = 1.01). De fato;

apenas 44% das pessoas manifestaram que este apoio tem ocorrido

sempre ou quase sempre, enquanto 56% expressaram que isto

ocorre de vez em quando ou nunca. Já 24% dos respondentes

disseram que nunca receberam tal apoio nos quatro meses após a

realização do FMF.

Estes resultados levam a inferir que os bons resultados manifestados pelos

respondentes naquele período parecem estar muito mais relacionados a

iniciativas e empenho pessoal do que à busca de inputs e apoio do

ambiente: neste caso, busca de novos feedbacks e apoio do sócio-

conselheiro. Dada a sua importância, tal como apontaram pesquisas

anteriores, provavelmente são dimensões que merecem uma atenção e

reforço contínuo, para garantir resultados efetivos no longo prazo. Será que

124

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esta avaliação positiva dos participantes se sustentaria ao longo do

tempo?

Por outro lado, estas avaliações concentram-se apenas nas percepções dos

próprios participantes. Em experiências futuras com o FMF talvez fosse

interessante levantar também as percepções de outras fontes sobre estes

aspectos.

Com relação ao apoio dos conselheiros, é interessante notar que estes

resultados são coerentes com os feedbacks recebidos pelos sócios: parece

haver um espaço, ainda a ser preenchido, no que se refere ao seu

envolvimento no desenvolvimento dos subordinados. No entanto, $ preciso

ressaltar que existem diferenças individuais ai: tanto nos feedbacks como

neste levantamento, há sócios reconhecidos como bastante empenhados no

desenvolvimento dos gerentes.

Outro questionamento que pode surgir a partir destes resultados, e dado o

caráter individual do processo, é o seguinte: os gerentes percebem avanços

nos pontos que se propuseram a desenvolver, nas ações que elaboraram;

no entanto, será que estas ações são realmente as mais necessárias para a

firma? Estarão elas coerentes com os resultados dos feedbacks recebidos

pelo grupo dos gerentes?

Foi possível analisar esta coerência no caso dos sócios, tal como é

apresentado a seguir.

125

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B) Ações propostas pelos sócios:

Do total de sócios da firma, trinta e cinco (78%) entregaram o seus planos

de ações à área de recursos humanos. Como exemplifica o Anexo 2, nestes

planos os participantes definiram os seus objetivos de desenvolvimento;

cada pessoa elaborou de um a três objetivos. Para cada objetivo,

estabeleceram ações e também indicadores que permitissem monitorar os

resultados individuais alcançados.

Esta análise procurou observar a coerência das ações propostas com os

feedbacks recebidos. Para isso foram analisados os 65 objetivos elaborados

pelos sócios que disponibilizaram os seus planos de ações ..Estes objetivos

foram agrupados em categorias, procurando reunir em uma mesma

categoria objetivos com conteúdos semelhantes, de forma análoga à análise

dos feedbacks emitidos para gerentes e sócios.

o Anexo 3 relaciona as categorias com os objetivos que as caracterizam. A

tabela a seguir resume as categorias encontradas e também apresenta o

seguinte: 1 - A distribuição dos 65 objetivos pelos diferentes temas; 2 - A

freqüência de sócios que abordaram cada tema uma ou mais vezes em

seus planos (de um total de 35 sócios que entregaram os seus planos de

ações).

126

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Distribuição Freq. de sóciosdos objetivos que abordaram

por tema o tema uma ou

Categoria: mais vezes

Desenvolvimento de pessoas e equipes 32,3% 75,0%

Relacionamento. interpessoal 27,7% 53,6%

Networking 12,3% 25,0%

Negócios 8,6% 21,4%

Desenvolvimento e comunicação da 7,7% 17,8%estratégia

Competências técnicas 7,7% 14,3%

Qualidade de vida 1,5% 3,6%

Liderando a mudança 1,5% 3,6%

Tabela 14 - Temas dos objetivos propostos pelos séclos".

Este tratamento evidenciou objetivos individuais bastante alinhados aos

resultados dos feedbacks recebidos pelos sócios. Os objetivos listados

refletem uma preocupação dos sócios com a adoção de ações voltadas a

melhorias no relacionamento interpessoal (nas interações laterais e,

principalmente, com os subordinados) e na sua capacidade de desenvolver

pessoas e equipes. Também se destacaram as ações voltadas ao

estabelecimento de relacionamentos externos e laterais (networking),

aos negócios da empresa e à construção e comunicação da estratégia.

As ações individuais voltadas à melhoria destes aspectos (exemplificadas no

Anexo 4), concentraram-se no seguinte:

• Desenvolvimento de pessoas e equipes:

- Intensificação das oportunidades de desenvolvimento de

pessoas, aumentando a freqüência de aconselhamentos, de

reuniões de avaliação de projetos, de intercâmbio de

feedbacks, etc.

27 Cada sócio elaborou de um a três objetivos.

127

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- Aperfeiçoamento da qualidade dos aconselhamentos e

feedbacks, visando a melhoria de desempenho dos

profissionais.

Identificação de profissionais de talento e criação de

mecanismos para a alavancagem de seus potenciais.

- Estabelecimento de focos no apoio ao desenvolvimento do

staff. Por exemplo, no desenvolvimento de habilidades de

vendas.

- Delegar mais aos subordinados. Ampliar a autonomia das

equipes, acompanhamento dos trabalhos em campo,

estabelecimento de metas, etc.

- Aumentar a proximidade e comunicação com as equipes, por

meio de reuniões de trabalho e contatos informais.

+ Relacionamento Interpessoal:

- Adoção de atitudes que facilitam a aproximação com os

subordinados e com os pares, imprimindo maior abertura,

consideração, capacidade de ouvir contribuições e de receber

feedbacks.

- Criação de oportunidades de integração e de fortalecimento de

relacionamentos por meio de reuniões informais, mecanismos

de feedback e em reuniões de trabalho.

+ Networking:

- Ampliação dos contatos internos - com pares e outras áreas - e

externos - com associações, entidades de classe e

universidades.

+ Negócios:

- Criação e exploração de oportunidades de negócios,

prospecção de clientes e crescimento da lucratividade.

128

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• Competências técnicas:

Desenvolvimento de competências específicas, tais como:

habilidades de apresentações para grupos, conhecimentos de

línguas, conhecimentos de informática, conhecimentos gerais

de negócios, etc.

• Desenvolvimento e comunicação da estratégia:

- Ações que buscam uma participação mais ativa dos sócios no

desenvolvimento e alinhamento das estratégias da Firma.

Criação e utilização de canais e espaços de comunicação dos

objetivos estratégicos aos subordinados. Utilização de e-mail,

reuniões e jornais internos.

C) Avaliação da área de recursos humanos:

Na percepção do sócio e da gerência da área de recursos humanos, o FMF

tem sido uma peça importante no processo de mudança da empresa,

comunicando expectativas da organização. e ajudando as pessoas a

conhecerem como se situam nessas expectativas e mudanças (Neste

momento tenho condições de ser uma liderança da firma? O que preciso

manter ou mudar para exercer este papei?). Segundo esta avaliação, as

lideranças da firma têm, aos poucos, demonstrado novas formas de

conduta, mais próximas às expectativas da empresa, de suas aspirações de

ser uma global advisory firmo Segundo um dos entrevistados, "existem

evidências dessa transição; de que já estamos vivendo um momento

diferente".

É difícil, no entanto, avaliar os impactos específicos dos feedbacks; há

vários elementos que têm estimulado ou reforçado a urgência de mudanças

comporta mentais e da aquisição de habilidades que anos atrás não eram

tão valorizadas. É difícil estabelecer uma relação de causalidade entre a

utilização da técnica (FMF) e as mudanças percebidas nas lideranças, uma

vez que há inúmeras variáveis em jogo. Além disso, a avaliação da área

129

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quanto aos resultados alcançados neste processo é baseada sobretudo em

aspectos qualitativos - não houve, por exemplo, uma nova rodada de

feedbacks, situação na qual se poderia quantificar avanços alcançados

pelos grupos.

Na busca das evidências sobre os impactos dos feedbacks nas lideranças

da empresa, surgiram fatos e histórias, apresentados pelos responsáveis

pela área, nas entrevistas. Por exemplo:

• Percebe-se gradativamente, em reuniões de trabalho, um interesse e

espaço maior para discussão entre sócios e gerentes sobre os

negócios e rumos da firma. Entre os sócios, há reuniões em que se

percebe um esforço maior pelo exercício de ouvir e compartilhar

opiniões.

• É citado o caso de um gerente que compartilhou com todos os

membros do seu grupo - sócios, gerentes e subordinados - os

resultados dos seus feedbacks, negociando com eles a forma como

poderiam apoiá-lo na realização das ações propostas. Também

houve um outro gerente que optou por envolver todos os

subordinados na negociação, elaboração e monitoração de suas

metas individuais.

• Há sócios que deram depoimentos à área de recursos humanos,

manifestando como foram impactados pelos feedbacks que

receberam. A impressão deixada por esses relatos é de que algumas

pessoas identificaram, no processo, comportamentos que antes não

percebiam; ou, se os percebiam, não davam tanta atenção a esses

aspectos como agora, depois de receber informações de tantas

pessoas. Esses sócios disseram-se muito mobilizados

emocionalmente com os feedbacks recebidos, e compromissados

com as ações que definiram. É mencionado, inclusive, o depoimento

de um sócio tido como pessoa bastante crítica, e cética quanto ao

FMF, que expressou uma opinião mais favorável ao processo e

também o seu esforço por concretizar os objetivos que traçou.

130

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+ Também foi mencionado o caso de três sócios que anteciparam as

suas aposentadorias. Este fato é atribuído à maior exigência da firma

com relação às suas lideranças. Nas entrevistas de desligamento,

transpareceu que há uma relação destes desligamentos com o

processo de mudança da empresa. Tal como comentou a gerência de

recursos humanos: "os pré-requisitos de liderança estão altos; é

exigida competência técnica, mas também uma liderança

democrática, o papel de conselheiro; são exigidos resultados, visão

de negócio e também que o sócio seja um exemplo para a equipe".

Estas pessoas sentiam-se desconfortáveis nesta transição e,

principalmente, percebiam com maior clareza: as atuais expectativas

da firma e também as suas próprias características e possibilidades

enquanto lideranças.

A área de recursos humanos também identificou pessoas que não se

sensibilizaram de forma alguma com o processo. Há um pequeno número

de sócios e gerentes que não participaram das reuniões de feedback (5%);

há também pessoas que manifestaram um certo ceticismo e menor

compromisso com os feedbacks ("alguns simplesmente engavetaram o seu

relatório de feedback'). Estes aspectos demonstraram uma variação de

reações frente ao processo e frente às próprias mudanças da firma. Na

avaliação de um dos profissionais entrevistados, este é um processo

comportamental gradativo que demanda tempo, no qual as pessoas têm

respostas diferentes. "Não é que a 'ficha' destas pessoas não caiu...a 'ficha'

caiu, elas não perceberam ainda é como podem reagir".

131

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5.7. Lições aprendidas e próximos passos:

Na metodologia empregada pela Empresa A, a forma como os feedbacks

foram utilizados e a implementação das ações foi responsabilidade de cada

participante e dependeu das motivações e propósitos de auto-

desenvolvimento de cada um. A área de recursos humanos avaliou, no

entanto, que esta perspectiva deixou em aberto algumas questões: De que

forma estas ações poderiam ser melhor monitoradas e seus resultados

cobrados e recompensados? Como garantir que as ações propostas

concentrem-se em aspectos efetivamente prioritários para a

organização? E mais: de que forma vincular estas ações aos

resultados da firma?

Estas questões remetem a dois pontos já discutidos no referencial teórico e

conceitual deste trabalho: 1 - críticas tecidas à utilização de

comportamentos observáveis desvinculados de resultados organizacionais

(Capítulo 1); 2 - a importância de integrar o FMF a outras práticas do

sistema de gestão de pessoas (Capítulo 3).

A solução escolhida pela organização foi utilizar o FMF como input em um

sistema implementado ao final de 1999 e conhecido como Goal Setting and

Career Development Planning.

Sistema utilizado internacionalmente pela firma, em linha gerais desdobra a

Missão em determinados valores chaves (a. Open, honest communication;

b. Teamwork and collaboration; c. Involving everyone; d.

"Boundarylessness"; e. Leaders who serve; f. Personal accountabilitl8),e

28 Estes valores são definidos pela Empresa A internacional. Por exemplo:"Boundary/essness" - Sharing know/edge and re/ationships in a fresh, open environment.Taking the time to share your know/edge with others. Accepting great ideas regard/ess offheir source.

132

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competências chave (a. Technical expertise; b. Practice management, c.

Knowledge sharing/ Technology; d. Sales and marketing; e. Human

resources). Para cada um destes valores e competências, sócios e gerentes

irão definir metas individuais, mensuráveis. Estas metas deverão refletir as

metas da organização no Brasil e as metas de cada área! grupo, bem como

os resultados do FMF.

Por exemplo, umas das metas da firma é otimizar o gerenciamento das

horas em contrato; isto se reflete em metas específicas para cada um, no

campo relativo à competência Practice Management. A firma tem metas de

faturamento que se desdobram nos grupos e nas metas individuais em

Sales and marketing . Por outro lado, um dos entrevistados comenta que, no

FMF, identificou a necessidade de melhorar a sua forma de comunicação

nas interações de trabalho, tornando-a mais clara. Este ponto foi

contemplado nas suas metas, no campo do valor Open, honest

communication.

Além disso, cada pessoa irá caracterizar as suas expectativas de carreira e

os passos que pretende realizar, no longo prazo, para concretizá-Ias. Irá

especificar, por exemplo, rodízios, assignments e treinamentos em que

deseja envolver-se.

o Goal Setting ocorre anualmente. No início do ano, as metas são

negociadas com o conselheiro ou com o responsável pela área ou grupo e

registrado em formulário próprio. No meio do ano são monitorados os

avanços e revisadas as metas; ao final, checados os resultados alcançados.

O atingimento das metas será acompanhado de premiações, gerando

variações na remuneração dos profissionais. É importante observar, no

entanto, que a recompensa ocorre em função das metas, e não dos

feedbacks, preservando a qualidade destes (Capítulo 3).

133

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A idéia é que a sistemática de feedbacks com múltiplas fontes ocorra

anualmente ou de dois em dois anos, isto ainda não se encontrava

totalmente definido na época das entrevistas. No entanto, os planos de

ações deixam de existir; os resultados dos feedbacks das outras pessoas

ajudarão a identificar pontos que devem ser priorizados na definição

individual de metas e no plano de desenvolvimento de carreira. A

contribuição prevista para o FMF é principalmente no desenvolvimento de

metas relacionadas à operacionalização dos valores da empresa. Para isto,

o instrumento inicialmente desenvolvido deverá passar por uma revisão, de

forma a estar diretamente conectado aos valores da Empresa.

.: MISSÃO DAEMPRESA

VALORES DAEMPRESA

PRINCIPAISCOMPETÊNCIAS

METAS DAEMPRESA E DAS

ÁREAS

..

METAS INDIVIDUAIS

Figura 12 - Goal Setting and Career Deve/opment Planning.

Na avaliação dos profissionais de recursos humanos, foi adequado ter

iniciado o FMF no formato utilizado. Segundo eles, a primeira experiência

ajudou a criar um ambiente propício para a adoção deste sistema na

empresa; há mais confiança e segurança para esta troca de feedbacks e

134

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para a negociação de metas; as pessoas entendem melhor, agora, o que

está acontecendo na firma e como os papéis das lideranças estão

mudando. Avaliam que o inverso, iniciar pela implantação do sistema, teria

sido mais difícil, haveria, talvez, resistências muito mais intensas.

135

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CAPíTULO 6 - AS EXPERIÊNCIAS DAS EMPRESAS "B" E "C"

A fim de construir um painel de experiências de empresas que têm utilizado

o FMF em contexto de desenvolvimento de lideranças no Brasil e realizar

comparações com o caso da Empresa A, foram levantadas também as

experiências da empresas B e C. Esta análise, no entanto, não teve como

objetivo alcançar a mesma profundidade do caso anterior, mas propiciar

uma visão panorâmica e comparativa, de forma a enriquecer o estudo de

caso da Empresa A.

Este levantamento concentrou-se em identificar os objetivos destas

empresas, o contexto e a forma como têm utilizado o FMF.

6.1. Empresa "B":

A Empresa B, instalada no Brasil, atua na indústria de celulose e é uma das

maiores produtoras e exportadoras de celulose de fibra curta do mundo. De

fato, em 1998 respondeu por 20% da oferta mundial deste tipo de fibra,

matéria-prima utilizada na fabricação de papéis sanitários, papéis especiais

e papéis de imprimir e escrever (produtos de alto valor agregado). A maior

parte da produção (94%), uma das mais baratas do mundo, tem sido

exportada para Europa, América do Norte e Ásia.

Embora atuem em setores tão distintos, esta organização utilizou o FMF em

condições que guardam semelhanças à experiência da Empresa A. De

maneira análoga, neste caso o processo ocorreu na forma de um programa

de desenvolvimento de lideranças que buscava promover mudanças

comporta mentais entre os líderes da empresa, a fim de sintonizá-los a

novas práticas de gestão que passaram a ser demandadas.

De fato, logo na primeira metade da década foram iniciadas transformações

significativas na estrutura e operações da empresa: implantação de uma

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nova planta, revisão e achatamento da estrutura organizacional, redesenho

de processos, aquisição de novas tecnologias agrícolas e de produção,

terceirizações, implantação do SAP, enxugamentos no corpo ,gerencial,

formação de times de trabalho, entre outras. Estas mudanças estavam

vinculadas aos esforços de assegurar a competitividade internacional da

empresa, em um setor bastante sensível a preços e qualidade.

Como na Empresa A, a implementação do FMF iniciou-se pelo

desenvolvimento de um inventário de práticas de liderança, que descrevia o

perfil de liderança desejado pela organização, tendo como base

comportamentos observáveis (isto ocorreu no final de 1996). Este

instrumento foi construído a partir de inputs da alta e média gerência, que

consideraram as transformações organizacionais e os impactos destas na

atuação das lideranças. O instrumento final contemplou aspectos

relacionados a: uma compreensão mais ampla, estratégica, dos negócios;

comunicação lateral e vertical; trabalho em equipe; desenvolvimento de

pessoas (coaching); relacionamento interpessoal; inovação; foco no cliente,

entre outros. É importante notar que neste caso também foram bastante

enfatizados a questão do relacionamento com pares e subordinados e a

importância de outras habilidades que não apenas o domínio de um

determinado campo de conhecimento técnico.

É interessante observar o perfil do grupo envolvido no processo: um grupo

bastante antigo de empresa (23% tinham até 5 anos de empresa; 42% entre

6 e 15 anos; 19% entre 16 e 20 anos; 16% acima de 21 anos de empresa),

com alto nível de escolaridade (79% com superior completo; 10% pós-

graduados; 6% com mestrado e doutorado) e composto principalmente de

engenheiros (62%). Segundo o profissional entrevistado, tratava-se de um

grupo que vinha de uma história de experiências na produção e na

agricultura - o que demandava um estilo todo próprio - e com menos

orientação para gestão organizacional e de negócios. Segundo esta

descrição, o grupo apresentava um estilo de liderança predominantemente

voltado para as tarefas (Capítulo 1), com prioritária ênfase nos aspectos

técnicos em termos de desenvolvimento e atuação profissional.

137

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Em uma transparência apresentada pelo profissional entrevistado são

resumidas as expectativas que orientaram a utiliZação do FMF no programa

de desenvolvimento de lideranças:

• "Permite identificar comportamentos, confrontando valores pessoais

com os valores organizacionais;

• Proporciona uma percepção clara e global sobre o estilo individual de

liderança e de desenvolvimento da equipe;

• Sinaliza claramente oportunidades de desenvolvimento;

• Facilita abertura do diálogo e o processo de feedback até que isso se

torne uma prática do dia-a-dia".

Participaram do programa, inicialmente, 20 pessoas da alta gerência; em

uma segunda rodada foram incorporadas mais 40, da média gerência.

Receberam feedbacks de chefes, pares e subordinados.

As etapas de implementação e cuidados adotados foram muito

semelhantes" ao que ocorreu na Empresa A: treinamento dos avaliadores,

workshops de liderança, entrevistas "um a um", elaboração de planos de

ação, etc. A alta gerência recebeu os seus feedbacks em meados de 1997;

a segunda rodada, já incluindo a média gerência, ocorreu no primeiro

semestre de 1998.

Uma diferença é que, seis meses após o recebimento dos feedbacks pela

alta gerência, foi realizada uma nova rodada, resumida, para

acompanhamento dos progressos de cada um. Nesta rodada os pares, um

número menor de subordinados e chefias responderam a um questionário

sintético, que levantava basicamente o seguinte:

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• o quanto as fontes percebiam que o gerente estava mais ou

menos eficaz como líder;

• Com que freqüência o gerente estava acompanhando,

buscando novos feedbacks a respeito dos pontos que se

propôs a desenvolver;

• Uma nova avaliação sobre três comportamentos que foram

considerados prioritários para aquele grupo.

Um resultado interessante que surgiu é que os gerentes que

acompanhavam com maior freqüência os seus avanços foram percebidos

como mais eficazes como líderes, nesta rodada de follow-Up.30 Ou seja, a

percepção de mudança na eficácia do gerente estava vinculada aos novos

feedbacks que buscou, informalmente. Além disso, segundo dados

mostrados pelo profissional entrevistado, observou-se que 84% dos 200

respondentes disseram que perceberam evolução na eficácia de liderança

dos gerentes da Empresa B.

Um outro indicador quantitativo foi empregado pela empresa, após a

segunda rodada. Foram comparadas as médias das avaliações alcançadas

pelo grupo como um todo nas duas rodadas. O profissional entrevistado

apresentou os seguintes comportamentos como sendo os que apresentaram

as maiores evoluções em suas médias:

29 É importante ressaltar que a Empresa B teve o apoio de consultores norte- americanosque contribuiram também na implementação do FMF na Empresa A. Daí as semelhançasnos processos implementados. .30Esta metodologia é a mesma utilizada e descrita por Goldsmith (1996). Inclusive, osresultados encontrados pela Empresa B' são consistentes com aqueles alcançados peloautor. Críticas podem ser feitas a esta metodologia, no entanto, uma vez que o termo"eficácia de liderança" não é claramente definido.

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Segundo os subordinados Segundo os pares

Trata os outros como colegas, não Confia suficientemente nas pessoascomo competidores para a execução das tarefas (evita

Encoraja a comunicação das mássuper controle ou microgerenciamento)

notícias ("não atira no mensageiro")

Está aberto a aceitar feedbacks dasReconhece e premia

pessoas (não se defende)adequadamente o bom desempenho

Promove a colaboração mais do queEsforça-se para desenvolverrelacionamentos "ganha-ganha"

a competição entre as unidades onde os dois lados se beneficiam porEncoraja outros a cooperar com trabalharem juntosdiferentes departamentos para Evita comentários destrutivos sobreatingir os objetivos da empresa outras áreas da companhiaAtinge ou excede consistentemente Trata os outros como colegas, nãoas expectativas do cliente como competidoresDispõe-se a modificar seu estilo de Comunica um positivo sentido deliderança para a adaptar-se a uma urgência para a mudançanova situação

Tabela 15 Comportamentos de liderança que apresentaramincrementos em uma segunda rodada de feedbacks naEmpresa 8.31

Estes resultados foram reforçados pelo entrevistado, que afirmou ser

atualmente perceptível no dia-a-dia da Empresa B: uma evolução dos

gerentes como gestores de pessoas, maior cooperação (entre níveis e entre

áreas) e um reconhecimento da importância do trabalho em equipe32. Por

outro lado, nesta segunda rodada de feedbacks a área de recursos

humanos identificou que os gerentes ainda foram muito melhor avaliados

em suas capacidades como técnicos, do que como gestores do negócio e

de pessoas. Além disso, identificou que ainda predomina uma compreensão

funcional, departamentalizada, da empresa, e menos por processos. O

31Observações: Não foi possível ter acesso a estas médias e não se encontravamdisponíveis outras comparações, como os comportamentos que não evoluiram ou os quenão sofreram alteração alguma. Esta comparação entre médias não utilizou tratamentoestatístico para verificar se os resultados realmente indicam significativas variações dasmédias, do ponto de vista probabilístico e considerando as dispersões das respostas. Alémdisto, os grupos são diferentes: no segundo momento, participou também a média gerência.32Estas conclusões constam em transparências da empresa disponibilizadas peloentrevistado e foram por ele comentadas na entrevista.

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relacionamento interpessoal entre pares também foi um ponto que

apresentou menor evolução.

Ao final de 1998, novamente foi realizada uma rodada sintética de

feedbacks. Foram reforçadas as conclusões de 1997: aqueles que

procuraram novos feedbacks e acompanharam os seus avanços pessoais

foram percebidos como mais eficazes enquanto líderes, na avaliação das

diferentes fontes. Os gerentes procuraram mais intensamente os seus

subordinados para novos feedbacks (68% dos subordinados informaram

que isto ocorreu) do que os seus pares (30%).

Alguns fatores levaram à interrupção de determinadas ações da empresa

entre 1998 e 1999 (inclusive o FMF), principalmente: a crise asiática e os

seus impactos negativos no mercado internacional de celulose e a

necessidade de adotar políticas de redução de custos.

Em 1999 iniciaram-se os estudos para retomar o processo, em uma nova

dinâmica, utilizando-o como input em um sistema de gerenciamento de

metas individuais de desempenho; este sistema deverá estar fortemente

vinculado aos esforços de desenvolvimento de lideranças da empresa. Até a

finalização deste trabalho, os contornos exatos deste sistema não estavam

definidos. Segundo o entrevistado, a tendência é ter um sistema que permita

tanto a negociação e definição de metas de produtividade, como o

monitoramento de competências gerenciais; tanto as metas como as

competências terão impacto em remuneração variável33. No entanto, as

metas tendem a ser definidas e avaliadas em conjunto com a chefia

imediata, enquanto as competências o serão por meio do FMF (a forma

como isto ocorrerá e como se dará esta vinculação à remuneração variável

ainda não estavam definidos).

A idéia, com isto, é vincular de forma mais evidente desenvolvimento de

33 o profissional de recursos humanos informou posteriormente (por e-mail) que em janeirode 2000 foi aprovado o modelo de competências gerenciais da Empresa 8, desenvolvido apartir de entrevistas com todos os gerentes.

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lideranças com desempenho (ou seja, com o atingimento das metas de

resultado de cada gerente e da organização como um todo), recompensar

as competências valorizadas neste momento pela organização e continuar

reforçando a prática de feedback na empresa.

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6.2. Empresa "C":

A utilização do FMF nesta organização ocorre em uma dinâmica bastante

diferente daquela experienciada pelas empresas A e B. Se, nestas duas, os

múltiplos feedbacks foram a base de um programa específico de

desenvolvimento de lideranças, na Empresa C eles ocorrem como input em

um processo contínuo denominado Processo de Aprimoramento de

Performance, processo cujo público-alvo é o corpo gerencial da companhia

(130 pessoas).

Este processo ocorre internacionalmente e tem por objetivo "apoiar o

alinhamento contínuo do aprimoramento de performance individual e

organizacional assim como o crescimento futuro e desenvolvimento da

equipe mundial da Empresa C" (fonte: documentos da empresa). Está

focado nas seguintes dimensões: 1 - Desempenho atual, que são os

resultados alcançados pelo profissional em suas metas individuais, no ano

anterior; 2 - Desempenho futuro, que engloba as metas para o próximo

período e também ações que irão viabilizar o seu desempenho no futuro, o

que inclui ações de desenvolvimento de determinados atributos de liderança

(isto será detalhado adiante).

Para isto, o processo envolve o seguinte:

• A definição de metas individuais que resultam de um desdobramento,

em cascata, do Balanced scorecera" da organização, desenvolvido a

partir das escolhas estratégicas da Empresa C. Este desdobramento

resulta em metas e indicadores de desempenho individuais - alguns

deles relacionados aos vetores de desempenho futuro da empresa -

34 Kaplan (1997, pg. 2), explica que "o Balanced Scorecard traduz a missão e a estratégia daempresa num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para umsistema de medição e gestão estratégica". Embora enfatize os objetivos financeiros, tambémconsidera e monitora o desenvolvimento de capacidades e ativos intangíveis que serãonecessários para o crescimento futuro da empresa; ou seja, inclui a gestão dos vetores dedesempenho futuro da empresa. No Scorecard da Empresa C, o desempenhoorganizacional é monitorado a partir de quatro focos balanceados: satisfação do cliente,desenvolvimento de pessoal, práticas comerciais e inovação e aprendizagem (estes focosirão impactar no desempenho financeiro da corporação).

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que são negociados com a chefia imediata no início do período,

revisadas em um momento intermediário e avaliadas ao final do

período.

• A identificação das competências prioritárias a serem desenvolvidas

por cada gerente no próximo período, de forma que possam atingir,

no futuro, desempenho superior em sua função. Estas competências

- as Competências de Liderança da Empresa C - foram trazidas de

um modelo internacional utilizado pela organização e traduzidas para

o Brasil, com o apoio de uma consultoria; são onze competências,

consideradas críticas para o sucesso da companhia na aspiração de

"ser a melhor empresa internacional de alimentos no mundo" (fonte:

manual explicativo do modelo). Todas elas apresentam definições,

detalhadas e se pressupõe que a expressão de cada uma, na forma

de comportamentos, possa ser observável no ambiente de trabalho

(alguns exemplos são apresentados adiante). Estas competências

prioritárias são identificadas em conjunto com a chefia imediata, ao

final do período; como será evidenciado mais adiante, é nesse

momento que o FMF é utilizado, de forma a contribuir com a

identificação destas competências de liderança.

É importante situar a implementação deste Processo de Aprimoramento de

Performance e do Balanced Scorecard (isto ocorreu, no Brasil, em 1997 e

1998, respectivamente), em um cenário de profundas transformações na

Empresa C: foi nesta época que a companhia deixou de atuar como

empresa industrial, passando a concentrar-se em seus negócios como

empresa comercial. Isto significa que realizou uma transferência de uma

parte significativa (por volta de 50%) de seus negócios - a parte voltada àprodução e venda" de insumos, divisão industrial - para os seus

stakeholders (fonte: site oficial da companhia), permanecendo na

comercialização de produtos acabados, por meio de suas principais marcas.

De uma ênfase anterior no negócio industrial, a Empresa C passou a

35 Vendas para outras indústrias do setor de alimentos.

144

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preocupar-se de forma muito mais intensa com questões como: práticas

comerciais, criação de serviços para o cliente, satisfação do cliente, gestão

das marcas, estilo da força de vendas, rapidez de resposta, dinâmica da

concorrência no setor", entre outros.

Na mobilização para este novo modelo de negócios, quatro experiências

foram apontadas pelo entrevistado como fundamentais para a construção

de um novo modelo menta!" entre os gestores, refletindo-se em uma

postura mais alinhada ao conceito de empresa comercial:

1. O desenvolvimento do Balanced Scorecard da Empresa C: além

de representar um processo de discussão e definição de

orientações estratégicas alinhadas e compartilhadas entre áreas,

de caracterização de vetores para o crescimento futuro, de gestão

de ativos intangíveis,entre outros, demonstrou ser também uma

intensa oportunidade de reflexão e aprendizagem em grupo38,

sobre as estratégias e rumos da empresa, sobre o sentido de ser

uma empresa comercial, sobre expectativas e responsabilidades

compartilhadas entre as áreas funcionais, etc. Segundo o gerente

de recursos humanos, tem sido um espaço importante de

ampliação do entendimento estratégico que os gestores têm da

. empresa e do negócio.

2. A recente criação de uma Escola Comercial. Inicialmente

36 Segundo o entrevistado, a Empresa A vinha, no Brasil, de uma história de liderançaconfortável em várias de suas marcas, praticamente dominando alguns mercados. Noentanto, a competitividade no setor aci rrou-se muito nas duas últimas década, com aentrada de novos concorrentes. Por outro lado, a atuação no negócio industrial apresentavabaixa competitividade e era orientado sobretudo por qualidade e controle de custos; com asaída desse negócio, a Empresa C passou a atuar em um ambiente extremamentecompetitivo, tendo de adotar uma atitude de maior orientação para o mercado.

37 Senge (1990) define modelos mentais como "idéias profundamente arraigadas,generalizações, ou mesmo imagens que influenciam nosso modo de encarar o mundo enossas atitudes" (pg. 17). Nesse sentido, o conceito de empresa comercial, segundo oentrevistado passa a demandar dos gestores uma nova maneira de compreender e seposicionar nas escolhas estratégicas do negócio.

145

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orientada para a força de vendas, esta experiência tem como

objetivo impulsionar a compreensão do novo modelo de negócios

e da cadeia de fornecimento para o cliente, bem como disseminar

o novo método de vendas da área comercial. No ano 2000 deverá

ser extendida para todas as funções da empresa (fonte: plano

estratégico da Empresa C).

3. O programa "Receita para o Sucesso". Trata-se de um programa

conceitual para os gerentes, onde são explorados temas

relacionados às competências de liderança prioritárias,

identificadas por meio do processo de aprimoramento de

performance. Ou seja, a partir das avaliações finais de todos os

gerentes, a área de recursos humanos levanta as competências

que foram mais frequentemente apontadas como prioridades de

desenvolvimento. Em 1998, por exemplo, estas competências

foram as seguintes: Pensamento Estratégico, Liderar Processos

de Mudança, Impacto e Influência, Desenvolver Outros. No

período seguinte a este levantamento foram realizados, então,

seminários e treinamentos relacionados a estas competências.

4. O Processo de Aprimoramento de Performance, que alinha

ações de melhoria de desempenho e desenvolvimento profissional

à orientação estratégica da empresa.

O FMF ocorre justamente como input para o processo de aprimoramento de

desempenho, no momento da avaliação de fechamento, ao final do período.

Disponibiliza percepções de pares, subordinados, clientes e fornecedores

internos'", que serão analisadas pelo gerente e sua chefia, antes de

chegarem a um acordo com relação às competências de liderança a serem

38 Vicere e Fulmer (1998), comentam a importância de experiências desta natureza, emprocessos de desenvolvimento de lideranças, tal como apresentado no Capítulo 1 destetrabalho.

39 Segundo o entrevistado estas duas últimas fontes têm sido bastante enfatizadas. A idéiaé, segundo ele, fortalecer uma atitude de orientação para o cliente, por meio dofortalecimento do conceito de cliente interno.

146

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priorizadas. A expectativa, com estes inputs, é balancear as percepções do

chefe e do gerente com outras perspectivas e identificar pontos fortes e

oportunidades de melhoria individuais, a partir das percepções de pessoas

com as quais o gerente "estabeleceu durante o período avaliado uma efetiva

e consistente relação de trabalho" (fonte: manual de instruções). O objetivo

principal é de desenvolvimento do profissional, contribuindo com a

alavancagem de suas competências de liderança.

A escolha das pessoas que fornecerão os feedbacks é feita pelo gerente,

em conjunto com o seu chefe direto, algum tempo antes, procurando incluir

um número mínimo de três avaliadores por categoria. São encaminhados

para estas pessoas formulários com questões abertas (Por exemplo: "O

conselho mais significativo que você poderia dar a este indivíduo para que

melhorasse o seu desempenho profissional seria ..." ou "Descreva

especificamente as habilidades e pontos fortes que você observou e que

gostariam que permanecessem"). Os avaliadores podem identificar-se ou

não; a confidencialidade dos avaliadores é preservada. A chefia recebe e

tabula as respostas, apresentando-as ao gerente no dia da reunião de

fechamento do processo de aprimoramento de performance.

As pessoas escolhidas para os feedbacks fazem parte da rede de trabalho

do gerente: "independente do cargo deve ser uma pessoa com quem o

funcionário trabalha frequentemente em conjunto para atingir um

determinado resultado (ex: marketing e vendas/ pesquisa &desenvolvimento e suprimentos/ planejamento e produção, etc.)." Um efeito

interessante, decorrente da utilização de múltiplos feedbacks, foi observado

no que se refere à competência Impacto e Influência (na definição da

empresa, liA habilidade de apresentar uma idéia ou ponto de vista de forma

persuasiva e conseguir influenciar os outros"). Segundo o gerente de

recursos humanos, em 1998 praticamente dobrou o número de gerentes

que tiveram nesta competência uma de suas prioridades de

desenvolvimento. A explicação é que, cada vez mais, os gerentes estão

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percebendo que, para alcançar os seus objetivos e resultados,

precisam saber influenciar as pessoas que compõem as suas redes de

trabalho, independente do cargo ou área em que estejam (Este ponto

remete à discussão sobre FMF e redes de trabalho, realizada no Capítulo 3~

No ano 2000 algumas mudanças deverão ocorrer, no sentido de aprimora

esta sistemática de múltiplos feedbacks. Um ponto a ser reforçado é a

questão da confidencialidade; alguns avaliadores se sentem pouco

confortáveis e expostos demais na sistemática atual, o que tem impactadoa

qualidade de alguns feedbacks. Para isto, é muito provável que seja

adotado um questionário semelhante ao empregado nas empresas A e B.

na forma de comportamentos observáveis, porém baseado nas

competências de liderança da Empresa C; a tabulação e emissão dos

resultados dos feedbacks deve ser terceirizada, tirando a manipulação

destas informações da empresa. Também deverá haver algum tipo de

preparação dos avaliadores para a emissão de feedbacks.

Também existe a proposta de remover a utilização dos múltiplos feedbacks

do final do período para o meio do período da empresa; ou seja, para um

momento intermediário do processo de aprimoramento de performance. A

razão para isto: desassociar um pouco o FMF da "avaliação do desempenho

atuai", que ocorre ao final do período, e enfatizar o seu objetivo de

desenvolvimento de atributos de liderança. Percebe-se, atualmente, que

algumas vezes a qualidade dos feedbacks e a receptividade dos gerentes

são afetados negativamente por esta associação, já que esta avaliação de

desempenho tem reflexos na remuneração variável dos profissionais. Esta

preocupação do gerente de recursos humanos tem sustentação na literatura

sobre o FMF; experiências anteriores têm demonstrado o risco de se

relacionar os múltiplos feedbacks à remuneração (Lepsinger & Lucia, 1997:

Dalton, 1998). Este assunto foi abordado no Capítulo 3 deste trabalho.

148

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CONCLUSÕES E

CONSIDERAÇÕES FINAIS

149

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CAPíTULO 7 - CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1. Sobre os casos analisados:

Tal como foi discutido na Parte I - Referencial Teórico e Conceitual, há um

conjunto amplo de fatores que podem impactar a qualidade dos feedbacks

emitidos e a forma como são compreendidos e utilizados por quem os

recebe. Trata-se de um processo de comunicação, com emissores e

receptores, onde a subjetividade de ambas as partes pode interferir nas

avaliações feitas pelos emissores, nas mensagens transmitidas, na

interpretação das informações pelos receptores'". Embora um maior ou

menor grau de subjetividade esteja sempre interferindo em um processo de

intensa troca de feedbacks - tal como ocorre no FMF - seria de se estranhar

se ocorressem apenas informações desencontradas e incongruentes. Isto

poderia denotar problemas perceptivos graves no grupo envolvido, ou

poderia ser atribuído a falhas na implementação do processo (erros no

instrumento utilizado, na escolha ou preparação dos emissores, e assim por

diante).

No caso específico da Empresa A, emergiram dos feedbacks padrões

comporta mentais bastante coerentes entre as fontes e também alinhados às

percepções e análises realizadas pela área de recursos humanos antes da

ocorrência do FMF. A grosso modo, transpareceu no grupo de gestores

(tanto sócios como gerentes) um estilo mais orientado para a tarefal

resultado, do que para relacionamentos e pessoas". tal como

diferenciam as abordagens clássicas de liderança (Bryman, 1994). Em

parte, a percepção destas características já era existente na empresa e foi

um dos vetores que impulsionaram a implementação do programa de

40 Ao contrário de um processo completo de comunicação. que envolve retroalimentação(Robbins. 1998). no caso do FMF o receptor nã o tem como discutir as informações com oemissor. a fim de dirimir dificuldades de compreensão. ruídos. etc. Ou seja. trata-se de umacomunicação em mão única. emitida por diferentes fontes; o mesmo não ocorre emsituações de feedbacks informais.41 Apesar desta constatação. é importante destacar que há uma diversidade no grupo: asdiferenças individuais. os diferentes estilos de liderança dos participantes ajudam a explicaras dispersões que emergiram nas avaliações das diferentes fontes.

150

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desenvolvimento de lideranças. A confirmação desta percepção sugere que,

neste caso, a qualidade dos feedbacks emitidos foi satisfatória e que

esta comunicação centrou-se em questões relevantes no momento

atual da organização (desenvolvimento dos subordinados,

relacionamento lateral, etc.); sugere também que o tratamento dado à

implementação do FMF provavelmente contribuiu para este bom resultado.

Por outro lado, estes feedbacks parecem ter sido bem compreendidos

pelos receptores, pelo menos pelos sócios, dada a consistência entre

os temas dos feedbacks e os temas das ações por eles propostas,

consistência esta observada na análise de conteúdos realizada neste

trabalho.

É curioso notar que os estilos de liderança que transpareceram neste caso

não representam uma característica somente da Empresa A. Também no

caso da Empresa B é possível observar que características desta natureza

estão presentes. Nestas duas organizações, os programas de

desenvolvimento de lideranças baseados emFMF vieram com o objetivo de

impulsionar a aquisição de novos padrões comportamentais; traduzem um

esforço no sentido de se promover atributos de liderança mais voltados para

relacionamentos, para o desenvolvimento de pessoas e coaching, para a

criação do futuro, etc., ou seja, mais voltados para dimensões que

provavelmente diferenciam "líderes" de "chefes" (Bennis, 1996; Kotter, 1990;

Zaleznik, 1997).

Este ponto remete novamente a um movimento de renovação que parece

ter se iniciado em inúmeras empresas brasileiras na década de noventa, na

busca por novos padrões de competitividade (Fischer, 1998), tal como

apontado na Apresentação deste trabalho. Em função de aspirações e

pressões específicas em seus ambientes de negócios, o FMF ocorreu nas

empresas A, 8 e C em contextos de mudanças que impeliram para uma

discussão e revisão do papel e do perfil das lideranças nestas

organizações. Na empresa A, esse ambiente em mudança e a reflexão

151

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quanto ao papel de suas lideranças foi um outro vetor que impulsionou a

implementação do programa de desenvolvimento de lideranças baseado em

FMF. De fato, Vicere e Fulmer (1998) reforçam que a discussão a respeito

dos atributos de liderança' a serem desenvolvidos inicia-se pela

compreensão da orientação estratégica da empresa.

o programa implementado pela Empresa A teve claramente o objetivo de

desenvolver as lideranças daquela firma, sendo que a responsabilidade e

interesse maior pela utilização dos feedbacks e pela consecução das ações

propostas ficava por conta de cada um dos participantes do processo; a

organização não cobrou o compromisso e os resultados relacionados aos

planos que cada um elaborou. Com a vinculação do FMF a um sistema de

gerenciamento de metas e de carreiras, continua havendo o objetivo de

desenvolver as lideranças, mas, nesta nova dinâmica, a empresa espera

poder explicitar, monitorar e recompensar resultados alcançados com os

esforços individuais de auto-desenvolvimento, promovendo maior

comprometimento dos participantes. Também acredita que, desta forma,

será possível orientar mais intensamente as ações de cada um para as

prioridades da organização, alavancando os objetivos organizacionais.

É interessante perceber que uma tendência semelhante parece estar sendo

esboçada pela Empresa B, enquanto na Empresa C o movimento é em

outra direção: esta organização tende a desvincular os múltiplos feedbacks

de impactos diretos em remuneração e promoção, para reforçar o seu

objetivo de desenvolvimento e assegurar a qualidade dos feedbacks.

Embora a literatura apoie a utilização do FMF apenas com objetivos de

desenvolvimento profissional (Lepsinger & Lucia, 1997; Dalton, 1998;

Waldman et alii, 1998), estas três empresas parecem estar convergindo

para alternativas que enfatizam este objetivo de desenvolvimento, mas

que também criam espaços e mecanismos que permitam negociar e

explicitar relações entre desenvolvimento e resultados individuais.

Como esta constatação se baseou em um conjunto restrito de evidências e

em experiências que ainda estão se concretizando, na verdade ela abre um

152

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caminho para futuras pesquisas, que possam verificar a sua propriedade e

também investigar qual é a maneira mais eficaz de estabelecer esta

vinculação do FMF com sistemas de gerenciamento de desempenho e com

as conseqüências que usualmente os acompanham - remuneração,

principalmente.

Por outro lado, compreender, identificar e acompanhar os resultados dos

investimentos em desenvolvimento de lideranças talvez represente um dos

principais desafios para as empresas. Na verdade, Waldman et alii (1998),

comentam que a maioria das organizações que utilizam o FMF encontram

dificuldades em realizar tal avaliação. Talvez pela incerteza quanto ao que

se deve esperar (Mudanças comportamentais? Auto-conhecimento?

Resultados individuais e organizacionais? Um pouco de tudo?), talvez pela

própria complexidade da dimensão comporta mental envolvida no processo,

talvez pela insuficiência de indicadores eficientes, talvez porque seja difícil

estabelecer uma causalidade direta entre estes programas e os resultados

observados.

Na Empresa A, os responsáveis pela área de recursos humanos avaliaram

que o FMF gerou resultados positivos para a organização. Basearam-se em

indícios qualitativos e informais: depoimentos, observações de reuniões e

interações, entrevistas de desligamento, episódios e histórias que circulam

pela empresa, etc. Essas evidências sugeriram, na avaliação da empresa,

que as lideranças vêm apresentando, gradativamente, comportamentos

mais alinhados às aspirações e mudanças organizacionais; além disso,

parece que a direção e o sentido destas mudanças em andamento estão

mais claras para as pessoas, e também o desafio que elas representam

para a atuação dos gestores da empresa.

Reconhece-se, no entanto, a dificuldade em dizer qual a intensidade desta

mudança e como isto impacta o desempenho organizacional; sabe-se que

há diferenças individuais significativas nas respostas aos feedbacks e sabe-

se também que são várias as ações que têm impulsionado estas mudanças

(o programa que envolveu múltiplos feedbacks é apenas uma delas). Por

153

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outro lado, uma avaliação dos resultados baseada principalmente em

informações dessa natureza - informais, subjetivas, menos estruturadas -

está mais sujeita à interferência de algum tipo de viés. A Empresa B

também utilizou alguns indicadores quantitativos, além destas evidências

informais, principalmente comparando as médias das duas rodadas de

feedbacks;a Empresa A pretende realizar tal comparação no ano 2000.

Waldman et alii (1998, pg. 90), explicam que ainda há uma carência de

pesquisas nesse campo; ainda é muito difícil avaliar o retorno alcançado

com investimentos em processos dessa natureza. Aconselham que, antes

de se iniciar o programa baseado em múltiplos feedbacks, um grupo

representativo de profissionais da empresa (focus group) ajude a escolher

os melhores critérios e indicadores para acompanhar os resultados do FMF;

este grupo deve procurar identificar o seguinte: que impactos

organizacionais seriam observáveis, se os receptores dos feedbacks

expressassem com maior freqüência aqueles comportamentos que estão

sendo avaliados. Sugerem alguns exemplos de indicadores:

• Opiniões e reações de emissores e receptores quanto àcontribuição do programa para o desenvolvimento de atributos de

liderança;

• Indices de resposta e devolução de questionários;

• Indices de satisfação dos clientes (no caso do programa envolver

comportamentos relacionados aos clientes);

• Identificação de mudanças nos comportamentos dos participantes

(Por exemplo: comportamentos voltados ao desenvolvimento dos

subordinados);

• Entregas e resultados gerados pelos participantes em seus

ambientes de trabalho;

• Comparar resultados de duas ou mais rodadas de feedback,

Nesse caso, recomendam a utilização de um grupo controle, a fim

de se investigar os impactos específicos do FMF, quando

estiverem presentes outras praticas de desenvolvimento de

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lideranças.

Uma das principais limitações desta pesquisa refere-se justamente à análise

dos resultados alcançados pela Empresa A. Esta análise baseou-se nos

depoimentos e percepções de participantes do processo (gerentes),. na

consistência entre feedbacks e planos de ações (sócios), e nas avaliações

da área de recursos humanos (histórias, depoimentos, percepções). Outras

perspectivas, muito importantes para esta análise, seriam: 1 - as percepções

das diferentes fontes, em uma nova rodada de feedbacks, evidenciando

eventuais mudanças nos comportamentos observáveis, uma vez que é nas

relações com estas fontes que esses comportamentos se expressam; 2 - a

análise das auto-avaliações realizadas pelos participantes, observando a

sua consistência com as percepções das diferentes fontes, .ao longo do

tempo, tal como pesquisou Cheston (1998), que estudou os impactos do

FMF no auto-conhecimento dos participantes.

Também seria interessante realizar uma pesquisa longitudinal na Empresa

A, observando a forma como as avaliações positivas dos gerentes,

manifestadas nesta pesquisa, se comportaram com o passar do tempo - a

maioria deles disseram ter experimentado avanços nos aspectos que se

propuseram a melhorar, quatro meses após os feedbacks - dado que

vários deles não buscaram novos feedbacks informalmente e tampouco

receberam apoio dos seus coaches. Pesquisas anteriores (Ashford & Tsui,

1991; Conger, 1992; Hazucha et alii, 1993; Van Velsor, 1998), têm mostrado

que estas dimensões são importantes para a alavancagem e consolidação,

com o tempo, de mudanças comportamentais.

Um aspecto interessante que emergiu nesta pesquisa foram as

semelhanças observadas nos comportamentos de liderança de sócios e

gerentes. Foi especulado neste trabalho que os primeiros têm um papel

importante no desenvolvimento dos estilos dos segundos, seus sucessores,

futuros líderes da organização. Novos estudos devem ser realizados a fim

de se verificar se efetivamente há essa dinâmica de reprodução de estilos

de liderança; o trabalho de Schein (1992) mostra que esta suposição pode

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fazer sentido: as lideranças da empresa tendem a orientar valores e estilos

comporta mentais, contribuindo para a consolidação dos padrões culturais

que caracterizam uma empresa. Por um lado, isto reforça a necessidade de

se iniciar o desenvolvimento de lideranças de cima para baixo: sem o efetivo

engajamento das principais lideranças da empresa, programas como o FMF

tendem a fragilizar-se. Por outro lado, abre caminho para temas instigantes

de investigação, não enfatizados neste trabalho: o papel das lideranças na

modelagem de valores e comportamentos que caracterizam a cultura de

uma empresa e os impactos de programas de desenvolvimentos de

lideranças baseados em múltiplos feedbacks na cultura organizacional.

Algumas pesquisas têm utilizado metodologias estritamente quantitativas

para investigar os resultados dos feedbacks com múltiplas fontes; em geral, :

comparam estatisticamente médias obtidas pelos participantes nos

comportamentos observáveis, antes e depois dos programas de feedba cks '

(Hazucha et alii, 1993; Smither et alii, 1995). Embora seja inquestionável a

contribuição de abordagens desta natureza, é importante observar que não

exploram o contexto organizacional que permeou os resultados

comporta mentais das intervenções investigadas. Isso reforça a importância

de pesquisas qualitativas, uma vez que estas permitem acompanhar o

processo como um todo, em diferentes instantes, dentro da realidade

peculiar de uma organização.

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7.2. Sobre a utilização dos feedbacks com múltiplas fontes em

programas de desenvolvimento de lideranças:

Este trabalho teve o propósito de contribuir com a compreensão do FMF

como técnica utilizada em programas de desenvolvimento de lideranças,

procurando identificar indícios sobre as suas potencialidades e limitações.

Em função disso, a questão que orientou a pesquisa exploratória foi: de que

maneira o feedback com múltiplas fontes pode efetivamente contribuir com

programas de desenvolvimento de lideranças?

Tanto a revisão teórico-conceitual como o estudo de caso conduziram para

algumas constatações que, embora não esgotem o tema, contribuem para

que se construa, gradativamente, um entendimento mais preciso desta

abordagem. Como já foi mencionado anteriormente (Parte 11:Introdução do

Estudo de Caso), as expectativas do mercado tendem a idealizar os novos

instrumentos de gestão de pessoas, atribuindo-lhes resultados às vezes

acima de suas possibilidades, ou realizando uma utilização inadequada, em

função de um conhecimento superficial desses instrumentos. Essas

constatações sintetizam as principais reflexões realizadas ao longo deste

trabalho:

1. A implementação do FMF pode criar uma oportunidade para a discussão

e negociação do perfil de liderança mais adequado para uma empresa,

de forma a viabilizar a sua orientação estratégica e aspirações de futuro;

permite também explicitar como este perfil se expressa em ações

concretas'". Isto foi observado na experiência analisada, mas também é

reforçado pela literatura (Vicere & Fulmer, 1998). Significa que o

processo de delinear o Perfil de Liderança representa mais do que a

construção de um instrumento; é um espaço onde diferentes atores

organizacionais podem ser envolvidos em uma reflexão conjunta,

compartilhando idéias e buscando um entendimento sobre o que

42 No entanto, existem algumas limitações ao uso de "comportamentos observáveis" paracaracterizar atributos de liderança. Estas ponderações foram apresentadas no Capítulo 1,item 1.4: Vantagens e limitações dos "comportamentos observáveis".

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significa liderança para a empresa.

2. O processo de múltiplos feedbacks explicita a rede de trabalho de cada

participante, e a importância destes relacionamentos para o exercício da

liderança. Estabelece um canal de comunicação entre o participante e as

pessoas com quem interage e se relaciona para viabilizar objetivos

organizacionais.

As diferentes fontes envolvidas no processo se complementam, com os

seus ângulos de visão e percepções específicos; apontam temas

comuns e apresentam diferenças entre si. Normalmente, cada fonte e

cada avaliador tende a concentrar-se com maior rigor e atenção na

avaliação de assuntos que despertam mais o seu interesse ou nos quais

tem melhores condições de emitir as suas opiniões: em comportamentos

que estão mais presentes em suas interações com o receptor dos

feedbacks. Assim, os· subordinados podem concentrar-se mais

intensamente em feedbacks relacionados ao desenvolvimento de

pessoas, enquanto pares podem ater-se a assuntos mais relacionados àestratégia organizacional.

3. Cria referenciais para orientar esforços de desenvolvimento profissional,

de maneira alinhada à estratégia da empresa. Vicere e Fulmer (1998),

dizem que a principal contribuição do FMF, em um processo de

desenvolvimento de lideranças, é oferecer aos participantes novas

perspectivas - novos ângulos de visão - para compreender a realidade

organizacional e as próprias experiências profissionais (a partir dos

insights promovidos por estas novas perspectivas ocorre uma

aprendizagem). Segundo os autores, é preciso, no entanto, que se

entenda o desenvolvimento de lideranças como um processo contínuo;

os múltiplos feedbacks oferecem a sua contribuição para este processo,

mas outras técnicas são necessárias, cada uma com a sua peculiaridade

e contribuição (projetos aplicativos, participações em projetos, etc.).

Por outro lado, o processo de intercâmbio de feedbacks pode gerar

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inputs interessantes para a organização, uma vez que permite criar um

esboço das características das lideranças da empresa, dos estilos e

padrões comportamentais predominantes no grupo, tal como exercitado

nesta pesquisa. A interpretação dos feedbacks pode contribuir, por

exemplo, com a identificação de determinadas necessidades de

capacitação, com a definição de temas a serem explorados em outras

práticas de desenvolvimento, tal como programas conceituais.

4. Em um processo de feedback com múltiplas fontes podem expressar-se,

com o tempo, mudanças comporta mentais entre os participantes

(Hazucha et alii, 1993; Cheston, 1998) . Porém, em que velocidade isto

ocorre, em que extensão, e os comportamentos em que se exprimem

estas mudanças, isto irá variar de pessoa para pessoa - pode haver até

pessoas que não expressem mudança alguma (Conger, 1992). Há três

variáveis em jogo:

• Características da pessoa: estas características envolvem

motivações pessoais (expectativas de carreira, comprometimento

com o processo, motivação para a mudança, acreditar que a

mudança é viável e relevante, desejar feedbacks, e assim por

diante) e também as características da personalidade de cada um.

Mudar comportamentos pessoais é um processo complexo, que

não depende apenas da vontade racional da pessoa, pois envolve

aspectos inatos, forças psicológicas e aprendizados adquiridos ao

longo da vida; tais dimensões tendem a estar tão consolidadas,

que a pessoa somente irá mudar aqueles comportamentos que

consegue mudar, mesmo que deseje ir além (Conger, 1992).

• Características do processo de intercâmbio de feedbacks

com múltiplas fontes: isto envolve um conjunto de cuidados com

o delineamento do perfil de liderança, com os aspectos que

afetam a qualidade dos feedbacks, com o processamento e

utilização dos feedbacks pelo participante, bem como a integração

com outras práticas de gestão de pessoas; estes fatores,

discutidos no Capítulo 3, podem impactar os resultados do

159

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processo. Embora sempre haja a interferência de subjetividade

nas percepções dos envolvidos, estes cuidados parecem

contribuir para que se minimizem eventuais distorções; na

Empresa A pôde-se observar que os feedbacks apresentavam

opiniões diversas, mas tinham coerência com a realidade

organizacional.

Além disto, o FMF não pode ser compreendido como um evento

único e isolado, pelo contrário, demanda continuidade e

acompanhamento constante dos avanços alcançados (Yukl &Lepsinger, 1995).

• Características do ambiente organizacional: as mudanças

individuais dependem também de outras interações com o

ambiente organizacional - tal como o acesso a outros canais de

feedbacks, bem como a existência de um ambiente que estimula,

orienta e apoia estes esforços de mudança. Tem sido ressaltada,

pela literatura, a importância do coaching para os resultados do

processo (Bass 1990; Hazucha et alii, 1993; Van Velsor, 1998).

Estas variáveis destacam um ponto já discutido no Capítulo 2 deste

trabalho: o desenvolvimento de lideranças é um processo que envolve

altíssima complexidade, com resultados que são menos previsíveis do

que se gostaria. Um caminho possível para futuros estudos é investigar

os resultados do processo de múltiplos feedbacks enfatizando o grupo

de líderes e menos os indivíduos, menos os ganhos de cada um. Tal

como esta pesquisa exploratória evidenciou, é possível identificar

características de liderança do grupo de participantes. Do ponto de vista

de cada indivíduo, os avanços seguem direções e ritmos muitas vezes

diferentes - alguns apresentam muitas mudanças, outros nenhuma -

mas parece adequado considerar os impactos do processo na

composição do grupo de gestores como um todo.

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Finalmente, existem algumas questões que representam desafios quanto às

tendências futuras de utilização do FMF em programas de desenvolvirrento

de lideranças; são pontos ainda em aberto que começam a charrer a

atenção da prática organizacional e da literatura sobre o tema. Discutir estes

pontos significaria ir muito além do escopo deste trabalho. Representam, na

realidade, alternativas possíveis para a sua continuidade. São os seguirtes:

1. Em que medida os comportamentos de liderança que guiam este

processo, delineados a partir de aspirações de futuro da empresa,

podem efetivamente alavancar este futuro desejado? Ulrich et alii

(1999)43, dizem que ainda é necessário testar mecanismos que vinculem

atributos de liderança a resultados organizacionais; do contrário, corre-

se o risco de enfatizar comportamentos que não terão impactos efetivos

no desempenho futuro da organização.

2. De que forma o FMF poderia ser aplicado em um sistema integrado de

gestão de pessoas? Não é incomum encontrarmos o FMF oomo

instrumento específico, deslocado ou independente de outras práticas

de gestão de pessoas; na verdade, também não é incomum

encontrarmos diversos instrumentos e práticas de recursos humanos

deslocadas ou sobrepostos uns aos outras. Responder a esta questão

representa, portanto, um desafio que se amplia para o campo da gestão

de recursos humanos. Certamente vai além de uma discussão

instrumental; a idéia talvez seja conceber o FMF a partir de um modelo

de gestão de pessoas" que oriente todas práticas que caracterizam o

relacionamento entre empresa e pessoas.

As empresas estudadas parecem estar em uma busca nessa direção. ao

tentarem, neste momento, estabelecer conexões entre desenvolvimento de

atributos de liderança e resultados individuais e organizacionais. Encontra-

se ar um promissor e instigante caminho para futuras pesquisas.

43 Neste texto os autores propõem um interessante modelo, baseado nos conceitos doBalanced Scorecard, que vincula comportamentos de liderança a indicadoresorganizacionais.44 O Conceito de modelo de gestão de pessoas foi comentado no Capítulo 3, no ,itemImplementação do feedback com múltiplas fontes.

161

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ANEXOS

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ANEXO 1

Inventário de Práticas de Liderançapara Gerentes Sêniores

Comunicando a Estratégia

1. Mantém sua equipe informada acerca dos objetivos da firma

2. Comunica claramente como os objetivos da firma poderão ser alcançados

3. Estimula os membros de sua equipe a se comprometerem com os objetivos daempresa

Desenvolvendo Negócios

4. Demonstra conhecer bem o que é uma Advisory Firm: conhece a própria empresa.seu mercado. produtos e serviços

5. Identifica oportunidades para a expansão dos negócios. sabendo avaliar benefíciose riscos

6. Desenvolve ações, contatos e relacionamentos que favorecem a concretização denovos negócios

7. Demonstra ter competência para vender serviços e produtos

Proatividade (Criando o Futuro)

8. Pensa e age como "dono da firma" e não como "empregado

9. É proativo, buscando antecipar tendências e identificar oportunidades futuras denegócios

10. Estimula seus pares e equipe de trabalho na busca de oportunidades futuras.transcendendo os objetivos atuais da firma

Desenvolvendo Pessoas

11. Busca saber dos membros de sua equipe o que necessitam para o bomdesenvolvimento de seus trabalhos

12. Sabe delegar, estimulando os membros de sua equipe para que assumam aresponsabilidade pelos próprios resultados

13. Dá liberdade de ação à sua equipe, gerenciando e controlando apenas o essencial

14. Apoia o desenvolvimento da equipe atuando como coach, provendo feedbacksistemático e constante

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15. Estimula os membros de sua equipe na busca de novos conhecimentos ehabilidades técnicas e comporta mentais

16. Aconselha seus subordinados no encaminhamento de suas carreiras

17. Participa como instrutor nos treinamentos para o staff interno

Desenvolvendo Equipes

18. Negocia e define com sua equipe as metas e expectativas de desempenho

19. Administra os conflitos da equipe, mantendo o grupo coeso

20. Identifica, utiliza e valoriza as diferentes competências dos membros de suaequipe

21. Desencoraja críticas destrutivas acerca de pessoas, áreas ou da própria firma

22. Trata a todos como parceiros e não como concorrentes

23. Reconhece, inclusive publicamente, a contribuição das pessoas para o trabalho e.. desenvolvimento da equipe '

Networking

24. Desenvolve relacionamentos com a comunidade, participando de associações,realizando palestras e publicando artigos

25. Desenvolve relacionamentos e parcerias com outras áreas da empresa

26. Empenha-se em desenvolver relações ganha-ganha com clientes, parceiros eassociados

27. Desestimula comportamentos que levam ao isolamento e prejudicam odesenvolvimento de parcerias

Orientação para Resultados

28. Seus resultados contribuem para o desempenho da firma a longo prazo

29. Busca maximizar o resultado da firma

30. É eficaz no gerenciamento das horas e faturamento de cada projeto ou serviço

31. Empenha-se em eliminar atividades desnecessárias e desperdício

Integridade Organizacional

32. Certifica-se de que sejam estabelecidos e mantidos os mais altos padrões decomportamento ético nas ações organizacionais

33. Não hesita em questionar outros escalões quando julga apropriado

34. Encoraja uma comunicação aberta, evita "matar o mensageiro"

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35. Não hesita em assumir riscos pessoais visando preservar a integridadeorganizacional

Liderando a Mudança

36. Vê a mudança como uma oportunidade e não como um problema

37. Participa ativamente de projetos da firma quanto a novas metodologias,treinamento e estratégias operacionais

38. Utiliza e incentiva o uso de novas tecnologias para aumentar a produtividade

39. Assume riscos visando alcançar sucesso em um ambiente em transformação

40. Estimula a implementação de idéias criativas

Foco no Cliente

41. Conhece o segmento de mercado de seus clientes

42. Busca conhecer as tendências futuras no segmento de mercado de seus clientes

43. Estimula os membros da equipe a terem comportamentos orientados àsnecessidades dos clientes

44. Sabe alavancar as outras áreas da firma visando satisfazer de forma plena asnecessidades dos clientes

45. Estabelece claramente o escopo dos serviços prestados e os limites contratuais

Satisfação do Cliente

46. Ouve sistematicamente o cliente

47. Responde prontamente às solicitações dos clientes

48. É visto pelos clientes como um parceiro que auxilia na solução de seus problemas

49. Procura não só atender mas também superar as expectativas dos clientes

50. Monitora os serviços prestados, assegurando o atendimento das necessidades dosclientes

51. Entrega no prazo, serviços de qualidade aos clientes

Competência Técnica

52. Demonstra dominar os conhecimentos e habilidades técnicas requeridas àrealização de seu trabalho

53. Demonstra saber lidar com situações complexas ou que exigem a manipulação eanálise de um grande volume de informações

54. Expressa-se verbalmente e por escrito de forma clara e objetiva

55. Demonstra alta qualidade nas suas apresentações para grupos de pessoas

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Competência Pessoal

56. Toma decisões no momento certo; não adia decisões importantes

57. Demonstra perseverança, não desiste mesmo em situações difíceis

58. Demonstra capacidade e humildade para reconhecer e corrigir os própios erros

59. Sabe trabalhar sob pressão

60. Empenha-se em atingir excelência pessoal em tudo o que faz

61. Sabe ouvir, reconhece o valor da opinião dos outros; evita teimosia e inflexibilidade

62. Serve de inspiração para os outros na busca de altos níveis de qualidade

Auto-desenvolvimento

63. Assume como responsabilidade sua o seu desenvolvimento pessoal e profissional

64. Atualiza-se de forma contínua participando de cursos, seminários, congressos eatravés de auto-instrução

65. Aceita o feedback dos outros, não assumindo postura defensiva

Integridade Pessoal

66. É visto como um exemplo para a prática dos valores da organização

67. Demonstra ser honesto e ético em seus relacionamentos pessoais e transações denegócios

68. É percebido como uma pessoa íntegra, que não está atrás de vantagens pessoais

,,'

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ANEXO 2

Roteiro de Plano de AçãoPara Sócios (trecho)

DEFINiÇÃO DOS OBJETIVOS: Que objetivos e ações me proponho arealizar? Como irei verificar o atingimento desses objetivos (indicadoresde performance)?

Objetivo Indicador

Ações

Objetivo Indicador

Ações

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ANEXO 3

Objetivos Desenvolvidos pelos Sócios da Empresa A

Categorias Objetivos desenvolvidos

Desenvolvimento de pessoas e equipes 1. Apoiar mais o desenvolvimento dos subordinados

2. Melhorar o desenvolvimento de pessoas

3. Desenvolvimento profissional e técnico de gerentes e stalf

4. Atuar melhor como coach

5. Melhorar a qualidade e frequência do aconselhamento

6. Desenvolver pessoas: fazer com que meus pares e stalf percebam que reconheço acontribuiçlio das pessoas para o trabalho e desenvolvimento de equipe

7. Desenvolvendo pessoas

8. Melhorar processo de feedback

9. Desenvolvimento de lideranças futuras

10. Apoiar o desenvolvimento de meus subondinados, atuando como coach e provendofeedback sistemático e constante

11. Apoiar os gerentes no desenvolvimento de habilidades de venda de produtos e serviços dafirma

12. Desenvolvimento de pessoas

13. Apoiar o desenvolvimento do stalf

14. Atuaçlio como coach

15. Atuar mais como coach dos subondinados e dar~hes a oportunidade de falar! criticar

16. Promover o desenvolvimento de competências, viabilizando descentralizaçlio e delegaçliode responsabilidades

17. Desenvolver habilidades dos gerentes do meu grupo para venda de produtos e serviços

18. Maior delegaçlio

19. Desenvolvimento de pessoas

20. Reconhecer o trabalho das pessoas

21. Empenho no desenvolvimento de equipes

Relacionamento intepressoal 1. Participar mais ativamente de atividades promocionais e sociais do Grupo 3

2. Melhorar o relacionamento pessoal

3. Melhorar o relacionamento e interaçlio com o staff

4. Melhorar relacionamento com o staf!

5. Estar atento ao relacionamento com pessoas e no grupo

6. Melhorar a qualidade do relacionamento (principalmente com staft)

7. Ouvir mais e me expressar verbalmente de forma objetiva e clara

8. Ouvir mais

9. Melhoria de imagem junto aos pares

10. Ouvir os outros

11. Dar aos subordinados oportunidada de falar! criticar

12. Reduzir imagem de arrogância! inflexibilidade! agressividade nas discussões com sócios

13. Aumentar autcxontrole em situações de grande pressão

14. Aprimorar minha competência interpessoal

15. Melhorar a comunicaçlio com pessoas .,,16. Melhorar a aproximação com o staf! ; i,17. Melhorar o relacionamento com o staff ,18. Melhorar o relacionamento com os pares

,

Networking 1. NetwOf1<ing - participar em relacionamento com comunidade assocíação,

2. Ampliar o relacionamento com a comunidade '.. t3. Desenvolver relacionamento com a comunidade, participando de associações realizando

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palestras e publicando artigos

4. Network

5. Confiar e mudar atitudes com relação a serviços prestados pela flmla e que eu nllo vendohoje

6. Melhorar comunicação com pares

7. Divulgar e aumentar e perticipação de nosso pessoal em projetos de cidandania

8. Incentivar o staft a participar do grupo de retail

Negócios 1. Melhorar O garenciamento de horas e de faturamento

2. Potencial de vandas - Aumentar

3. Definir e transmitir a estratégia do grupo C. F. no Rio de Janeiro

4. Mostrar para a firma o perfil (atual e tendência) do escritório SC, sensibilizando-a para asnecessidades de recursos para viabilizr o potencial de crescimento dos negócios na regilio

5. Melhorar o gerenciamento das horas e faturamento de cada projeto ou serviço

6. Reavaliar o escr~ório de Salvador e as altarnativas para melhorar o resultado

Desenvolvimento e comunicação da 1. Mais envolvimento no planejamento interno da firma

estratégia 2. VisAo estratégica - comunicar aos pares atitudes tomadas, demonstrando visIIo estratégica

3. Desenvolver visao e comunicar estratégia

4. Mellhoria do processo de comunicação de objetivos da firma

5. Melhorar comunicação de objetivos para o staft

Competências técnicas 1. Desenvolvimento de atividades pessoais com a minimização da sobrecarga e centralização

2. Melhorar meu português

3. Melhorar apresentações em palestras, seminários

4. Explorar meus conhecimentos técnicos para desenvolver negócios

5. Competências pessoais

Qualidade de vida 1. Qualidade de vida

Liderando a mudança 1. Demonstrar minha participação nas mudanças da organização da firma, estimulando osparticipantes a aderirem a essas mudanças

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ANEXO 4

Exemplos de ações individuais de melhoria propostas pelossócios da Empresa A

Desenvolvimento de equipes e pessoas

• Aconselhar formalmente no máximo a cada 3 meses;• Prover feedback sistemático e constante, reconhecendo os pontos positivos e ajudando

naqueles que devem ser melhorados;• Aperfeiçoar a abordagem quanto as necessidades e oportunidades de crescimento

pofissional do aconselhado;• Promover reuniões de "feedback" de questões não técnicas com maior frequência;• Aconselhamento dos gerentes de auditoria (inclusive os 2 que já fizerem 360°);• Delegar mais, demonstrando confiança na atuação dos profissionais;• Delegar funções passíveis de serem cumpridas (elaborar pontos do relatório, discutir

com o gerente pontos fracos);

• Reativar as atividades do grupo de estudos;• Cobrar do staft e parceiros condições para disponibilizarmos tempo para inglês e outras

atividades acadêmicas.

Relacionamento Interpessoal

• Ouvir e aceitar opiniões diferentes;• Fazer semanalmente uma avaliação do meu reíacíonamento com as equipes;• Ser mais acessível - mais explícito na atenção de ouvir;• Tolerância às limitações de habilidade das pessoas;• Atitude agressiva (positiva) interna e externa;• Minimizar posição de conflito em discussões plenárias;• Pensar (2x,3x,etc.) antes de falar;• Procurar formas mais construtivas para criticar (sócios ou staff):• Ser menos enfático e crítico na colocação de meus pontos de vista;• Ouvir e valorizar as opiniões e pontos de vista dos colegas;• Conversar com maior frequência com os mais jovens;• Ouvir mais staft e gerentes.

Networking

• Passar a participar de pelo menos mais uma associação de classe (por ex: diretor ouconselheiro do CRC-SP);

• Participar como palestrante em cursos promovidos pelo CRC-SP, Ibracon , etc;• Ingressar como membro da Comissão de Assuntos Econômicos ou Fiscais da

Federação das Indústrias do Estado da Bahia - FIEB;

''''.,I

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• Solicitar opinião em projetos de maior envergadura;

• Participar como palestrante nas Universidades em duas oportunidades em 1999;

• Participar em 02 seminários promovidos por associação de classe;

• Divulgação das participações com associações;

• Agendar contatos informais com gerentes de outras áreas;

• Propôr sempre que aplicável/possível trabalho conjunto;

Desenvolvimento e Comunicação da Estratégia

• Business Plan CF-RJ (centro de excelência, quadro/perfil de equipe, proj. financeiras);

• Reunião (gerentes/departamentos) com regularidade;

• Consistência CF-RJ X CF Brasil/Brasil FIRMA Estamos considerando/refletindo estavisão no C.F. RJ;

• Comunicar a estratégia da FIRMA ao staft;• Pretendemos divulgar visitas efetuadas a clientes e objetivos das visitas em relação a

estratégia da Advisory Firm;

• Envolver staft na identificação de como realizar a visão;

• Checar através de indagações se a pessoa entendeu o que foi comunicado;

• Criar oportunidades de comunicação de estratégia da firma ao staft;

• Comunicar mais detalhes das ações de minhas áreas;

• Passar ao staft uma visão mais global dos objetivos da firma.

Negócios• Disponibilizar mais outros serviços da FIRMA aos clientes;

• Identificar mais oportunidades de negócios;

• Detalhar horas totais por área de trabalho;

• Aumentar lucratividade de cada contrato;

• Desenvolver trabalhos de "prateleira" para clientes;

• Fazer mais visitas a clientes e clientes potenciais;

• Preparar apresentação do perfil dos clientes, mostrando novas tendências, que geramas novas necessidades desses clientes, bem como as alternativas de soluções e açõesem curso;

• Levar gerentes e sócios da MC aos clientes de auditoria para participar de avaliaçõesde controle interno;

• Difundir as atividades do grupo de varejo;

• Discutir, exaustivamente, com o sócio de ligação a atual situação do escritório e definir,conjuntamente, as ações correntes que devem ser implementadas;

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ANEXO 5

Roteiro para entrevistas semi-estruturadas na Empresa A

1. O contexto de mudanças na organização e como isto impacta as práticas de

liderança da empresa:

+ Como o entrevistado entende a missão da Empresa A.

+ O que significa ser uma Global Advisory Firm. De que forma isto impacta os

negócios e forma de atuação da firma.

+ O que tem sido necessário para competir no setor. Outras pressões de mudança

presentes no ambiente organizacional nos últimos 5 anos.

+ Mudanças significativas realizadas na organização (estrutura, processos, gestão de

pessoas, metodologias de trabalho, carreiras) nos últimos 5 anos.

+ A forma como estas mudanças têm impactado as práticas de liderança na

empresa. Quais são as práticas atualmente demandadas.

+ Práticas e competências mais importantes para sócios e gerentes há cinco anos

atrás. Práticas e competências mais importantes atualmente. (Exemplos). Como

vincular estas práticas com as aspirações de futuro da empresa.

• Caracterizar o papel do sócio-conselheiro.

2. Sobre o feedback com múltiplas fontes:

+ Outras ações implementadas com o intuito de se desenvolver as práticas de

liderança atualmente demandadas pela firma.

+ Razões pelas quais decidiram por implementar o FMF. Objetivos e expectativas.

(Levantar por que iniciaram o processo pelos gerentes). De que forma se vincula

ao sistema de gestão de pessoas.

+ Que impactos gerou o FMF. Reações dos grupos. Histórias e depoimentos que

exemplificam estes impactos. (Observar se estes impactos são atribuidos somente

ao FMF).

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• Exemplos de mudanças comportamentais (individuais e no grupo) percebidas.

Exemplos de mudanças não percebidas (comparar com as ações propostas pelos

sócios).

• Aspectos que poderiam ser melhorados no processo de forma a melhor atender às

necessidades da empresa.

• Levantar como ocorre o goal setting and career development plan. Quais são

objetivos deste processo. De que forma se vincula ao FMF e ao sistema de gestão

de pessoas.

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ANEXO 6

Roteiro para entrevista semi-estruturada na Empresa B

1. o contexto de mudanças na organização e como isto impacta as práticas deliderança na Empresa A

• O que tem sido necessário para competir no setor. Outras pressões de mudança

presentes no ambiente organizacional nos últimos 5 anos.

• Mudanças significativas realizadas na organização (estrutura, processos, gestão de

pessoas, metodologias de trabalho, carreiras) nos útimos 5 anos.

• A forma como estas mudanças têm impactado as práticas de liderança na

empresa. Quais são as práticas atualmente. demandadas.

• Práticas e competências mais importantes para os gestores da organização há

cinco anos atrás. Práticas e competências mais importantes atualmente.

(Exemplos). Como vincular estas práticas com as aspirações de futuro da empresa.

2. Sobre o feedback com múltiplas fontes

• Outras ações implementadas com o intuito de se desenvolver as práticas de

liderança atualmente demandadas pela empresa.

• Razões pelas quais decidiram por implementar o FMF. Objetivos e expectativas.

De que forma se vincula ao sistema de gestão de pessoas.

• De que forma foi implementado. Como foram gerenciados os fatores:

delineamento do perfil de liderança, qualidade dos feedbacks, etc.

• Que impactos gerou o FMF. Reações dos grupos. Histórias e depoimentos que

exemplificam estes impactos. (Observar se estes impactos são atribuidos somente

ao FMF)

• Exemplos de mudanças comportamentais (individuais e no grupo) percebidas.

Exemplos de mudanças não percebidas.

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• Indicadores utilizados para observar mudanças no grupo de participantes nos dois

momentos de feedback. Resultados observados nas comparações destes dois

momentos.

• Aspectos que poderiam ser melhorados no processo de forma a melhor atemer às

necessidades da empresa. O que o entrevistado acredita ser uma tendência

futura, caminhos para o aprimoramento futuro da aplicação do feedbaclc com

múltiplas fontes na Empresa B. (Como descreve o sistema de gerenciamento de

desempenho que atualmente está sendo desenhado).

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ANEXO 7

Roteiro para entrevista semi-estruturada na Empresa C

1. o contexto de mudanças na organização e como isto impacta as práticas de

liderança na Empresa A

• O que significa a passagem de uma empresa industrial para uma empresa

comercial.

• O que tem sido necessário para competir no setor. Outras pressões de mudança

presentes no ambiente organizacional nos últimos 5 anos.

• Mudanças significativas realizadas na organização (estrutura, processos, gestão de

pessoas, metodologias de trabalho, carreiras) nos útlimos 5 anos.

• A forma como estas mudanças têm impactado as práticas de liderança na

empresa. Quais são as práticas atualmente demandadas.

• Práticas e competências mais importantes para os gerentes há cinco anos atrás.

Práticas e competências mais importantes atualmente, na empresa comercial.

(Exemplos). Como vincular estas práticas com as aspirações de futuro da empresa.

• A forma como o Balanced Scorecard tem contribuido com este momento de

mudança da empresa.

2. Sobre o feedback com múltiplas fontes

• Outras ações implementadas com o intuito de se desenvolver as práticas de

liderança atualmente demandadas pela firma.

• Temas abordados no programa "Receita para o sucesso".

• Como é a sistemática do Programa de Aprimoramento de Performance. Quais são

os objetivos. Como se insere o FMF nesse programa.

• Como é realizado o processo de feedback. Como são gerenciados os seguintes

aspectos: qualidade dos feedbacks fornecidos e processamento e utilização dos

feedbacks pelo receptor. Que instrumentos são utilizados; como são escolhidos os

avaliadores.

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. ,

• Aspectos que poderiam ser melhorados no processo de forma a melhor atender às

necessidades da empresa. O que o entrevistado acredita ser uma tendência

futura, caminhos para o aprimoramento futuro da aplicação do feedback com

múltiplas fontes na Empresa C.