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    aparel)o e trans0ormar a )umanidade em 0un(ion9rio sub?)umano' #moutras palavras! est9 surgindo no Brasil um )omem =ue supera a 0altade valores, a 8ertreiheit da te(nologia'Para resumir sem (air em Ceu0oriaC! )9, no Brasil, um nvel (ultural =ue(onseguiu romper a (ultura pseudo?)ist8ri(a e no =ual se mani0esta

    um novo )omem' em ele suas razes na (ultura b9si(a, irrigado pela(ultura o(idental, e est9 (onseguindo sntese de v9rios elementos =ueresultam em nova maneira de viver e impor?se ao mundo' Poder90orne(er respostas signi0i(ativas s perguntas angustiadas de uma)umanidade em (rise'O Brasil so(iedade no?)ist8ri(a, (onstantemente irrigada peloO(idente' O =uanto no?)ist8ri(a, uma (ultura b9si(a (ara(terizadapelo ritmo a0ri(ano o prova' al (ultura tem por e0eito um (lima 0estivoe sa(ralizado =ue permeia o (otidiano e d9 sabor vida brasileira' O=uanto irrigada pelo O(idente, uma 0alsa (ultura )ist8ri(a o prova'al (ultura en(obre (om sua va(uidade e seu gosto de mata?borro a

    (ultura b9si(a, e torna tr9gi(a a vida dos =ue nela se enga>am' al(ultura ban)a a vida da burguesia em (lima de 0alsidade, de pose, e dearti(ulao de um esprito al)eio' 4as tal (ultura permite tambm serrompida pelos =ue se en(ontraram (onsigo mesmos e passaram a (riarum novo tipo de (ultura, sntese da b9si(a (om elementos o(identais,mas 0undamentalmente no )ist8ri(a, no obstante'al nova (ultura, se bem su(edida, poderia 0inalmente sa(iar a 0omevoraz do esprito do tempo' O su(esso de tal (ultura depende demuitos 0atores, e grande nDmero desses 0atores est9 alm do )orizontebrasileiro' 4as alguns deles en(ontram?se no pr8prio Brasil, e temsentido, embora limitado, dizer?se =ue o su(esso de tal (ultura,

    portanto o estabele(imento do novo )omem, depende, entre outras(oisas, tambm de (ada )omem individual =ue se enga>a nela' He atentativa de tal (ultura 0al)ar, tudo isso no passar9 de mais umaesperana ut8pi(a a provo(ar desiluso' 4as, se no 0al)ar, abre)orizonte' al esperana >usti0i(a enga>amento, in(lusive oenga>amento =ue se in0iltrou sorrateiramente, no (aptulo presente'

    +. ,-ngua-o importa =ue (oisa a lngua possa arti(ular ;e somos tomados devertigem se (onsideramos =uanta (oisa pode arti(ular

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    Jue trs e:emplos ilustrem a vivn(ia (on(reta! a visita a um pas (u>alngua ignorada, a pes=uisa de uma (ultura morta (u>a es(rita ignorada, e a leitura de te:to antigo (u>a lngua (on)e(ida, mas arespeito da =ual )9 dDvida =uanto a possveis modi0i(aIes designi0i(ado' O primeiro e:emplo ilustra =ue a e:perin(ia da situao

    (on(reta no substitui o (on)e(imento da lngua' O segundo e:emploilustra =ue o (on)e(imento de outros sistemas simb8li(os ;(omo aarte< no substitui o (on)e(imento da lngua' # o ter(eiro e:emploilustra =ue a lngua tem dinEmi(a ;SvidaT9 >usti0i(am a in(luso de um (aptulodedi(ado lngua em ensaio =ue tem por meta des(obrir a essn(ia deum grupo' 4as, no (aso espe(0i(o do Brasil, pre(iso (onsiderar =ueno se trata de grupo =ue grupo por 0alar lngua (omum, mas demultido =ue vive em (on>unto por razIes e:tralingsti(as, e podetornar?se grupo apenas se en(ontrar lngua (omum a todos' 2ssim,=uem vive atualmente no Brasil testemun)a do pro(esso

    estabele(edor de (onvnios pro0undos, se>am (ons(ientes ouin(ons(ientes, e do estabele(imento de 0undamentos (omple:os' aismomentos so raros, e o pro(esso emo(ionante a ponto de (ortar arespirao da=uele =ue se d9 (onta disto'O mtodo a ser seguido no presente (aptulo este! ser9 lanado ol)arsobre a lngua portuguesa, ser9 esboado o pro(esso pelo =ual oportugus est9 dando origem a uma lngua brasileira, e ser9 ensaiadaa tentativa de (on(luir alguns aspe(tos da observao do pro(esso'odos sabem ser o portugus lngua romEni(a, isto , lngua surgida deum latim vulgar por absoro de elementos b9rbaros e manutenoapro:imada da estrutura latina, e ser o latim ramo do tron(o lingsti(o

    indogermEni(o ()amado Qentum, resultado de sntese de dialetos0alados no 79(io no in(io do primeiro milnio antes de 6risto' Pois tais0atos sabidos no so menos (omple:os por serem sabidos, e impli(amsrie grande de (onse=n(ias importantes' Por e:emplo! lnguasindogermEni(as so lnguas =ue 0ormam sentenas (om palavras dev9rios tipos, tais (omo substantivos, verbos e palavras CvaziasT, e istotem por (onse=n(ia =ue as sentenas de tais lnguas tm sentidosespe(0i(os, a saber! situaIes nas =uais digo algo ;representado na

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    sentena por substantivo< se rela(iona (om algo ;representado nasentena por outro substantivo< de alguma ma maneira ;representadana sentena por verbo< sobre determinada estrutura ;representada nasentena por smbolo l8gi(o, isto , palavras CvaziasC

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    endure(imento ;por 0alta de (ontato< e de empobre(imento ;por =uedade nvelo, e (anal de (omuni(ao ideal para umproletariado em 0ormao lenta' 4as lngua de pou(a pro0undidade,elasti(idade e a(ento, e pssimo (anal de (omuni(ao entreindivduos =ue pro(uram (omuni(ar pensamentos e sentimentos mais(omple:os' 2 (onse=n(ia =ue tal lngua (omuni(ava bem entre

    grupos de imigrantes de v9rias origens, mas =ue no seio das 0amlias(ontinuavam prevale(endo as lnguas maternas europias, emboraempobre(idas e de(adentes'al situao no pode durar, por duas razIes di0erentes' 2 primeira =ue os des(endentes dos imigrantes no podem satis0azer?se (omsurrogate languages ;em portugus, apro:imadamente, ClnguasemprestadasC

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    novo esperanto no o0ere(ia se=uer a vantagem da 0a(ilidade' Pois 09(il dizer =ue tal situao no pode durar, e di0(il imaginar (omopode ser alterada' 2 lngua no se baseia apenas em (onvnios(ons(ientes, (omo a 6onstituio ou o Bridge, e no pode ser alteradadeliberadamente' Juando Vittgenstein 0ala em C>ogos lingsti(osC,

    sempre re(orda o 0ato de tratar?se de >ogos par(ialmente nodeliberados' 2 situao brasileira 0oi alterada, e0etivamente, mas noapenas deliberadamente' al autnti(a revoluo se e:pli(a peloseguinte! o problema no envolveu o pas todo, mas apenas o Hulimigrado' Portanto a situao era esta! a populao rural 0alava oportugus ar(ai(o e b9rbaro em todo o imenso terreno, semdiversi0i(ao dialti(a digna de nota ;e:(eo 0eita (astel)anizaonos e:tremos9 =ue sedento da verdadeiralngua' Passa a manipul9?la in(ons(ientemente, e a devolvemanipulada burguesia' # esta (ontinua o pro(esso digestivo, agoratomada da vertigem de (riao, e a(res(enta ao pro(esso elementos

    deliberados, (omo neologismos' 2 tal pro(esso imenso se abrem ate asa(ademias ;onde se in(luem )omens (omo Guimares Rosa e/rummond de 2ndradea tomada pelo pro(esso, nose pode 0alar ainda em lngua brasileira' rata?se do mesmo problema

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    0undamental =ue a(ompan)a este ensaio todo! en=uanto a populaorural no parti(ipar dos pro(essos revolu(ion9rios =ue o(orrem noBrasil, estes pro(essos todos (are(ero de 0undamento'2 relao entre lngua e pensamento to 0orte =ue tem pou(osentido =uerer distinguir?se entre ambos' A duvidoso se pensar e:iste

    sem lngua, e se pensar no passa, no 0undo, de um 0alar bai:o' 4aisduvidoso ainda se e:iste um 0alar desa(ompan)ado de pensamento'#ste no o lugar de parti(ipar da polemi(a a respeito' Basta(onstatar =ue a maneira de se 0alar mani0esta a maneira de pensar, e=ue toda modi0i(ao da lngua impli(a modi0i(ao do pensamento' 2estrutura da lngua (orresponde estrutura do mundo vital de talmaneira =ue possvel dizer?se =ue a lngua lana sua estrutura sobreo ambiente e o trans0orma assim em mundo da vida' +sto e:pli(apor=ue =uem 0ala v9rias lnguas vive em v9rios mundos, e por=ue omundo se modi0i(a =uando se modi0i(a a lngua ;a(onte(imento raro,observ9vel no apenas no Brasil, mas no apo de )o>e9 =ue estas, no notando vogais,permitem maior abertura' 2 (onse=n(ia =ue o universo de taislnguas (omposto de situaIes orga

    nizadas linearmente, e isto =ue se pretende por C)istori(idadeC' O)abitante de tal universo o C)omem unidimensionalC, e ele est9 setornando problema na atualidade' "m aspe(to 0ormal do problema ! alinearidade de tais lnguas Caritmti(aC ;ali9s, /es(artes a(reditavaser isto (ara(tersti(o de todo pensamento

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    organizadas linear e )istori(amente, mas de situaIes organizadas deoutra maneira' 2(res(ente?se =ue nas lnguas orientais pre(isodistinguir entre 0ala e es(rita, e a es(rita tem nitidamente duasdimensIes, (omo os retEngulos dos ideogramas' #m tais universos o)omem unidimensional no e:iste'

    -o momento, restringe?se a observao a um Dni(o aspe(to damodi0i(ao da lngua no Brasil, o aspe(to da ruptura daunidimensionalidade' Outros aspe(tos igualmente revolu(ion9rios sotema para uma 0iloso0ia brasileira mere(edora do nome' O pro(esso daruptura no simples, e no (onsiste simplesmente na absoro deelementos multidimensionais ;tupi ou ideogramasar at Pound, mas =ue, emambos os (asos, bastava tomar um nibus muni(ipal de Ho Paulo' 2alienao virou dialeti(amente enga>amento, por=ue uma novarealidade se abria, a saber! a realidade lingsti(a brasileira' # esta

    o0ere(ia obst9(ulos tremendos' #ra ne(ess9rio, em primeiro lugar,romper a estrutura ar(ai(amente latina da lngua portuguesa, e admitir=ue a ClatinidadeC brasileira no passava de ideologia' al ruptura 0oi(onseguida pelo desprezo pela interpuno e dos a(entos, pelaintroduo de nova interpuno, e pelo uso da antiga interpuno de0orma nova' #m segundo lugar era ne(ess9rio en(ontrar nova gra0ia,nova disposio da p9gina impressa, e nova atitude perante a letra'#m ter(eiro lugar tornou?se ne(ess9ria nova atitude perante0enmenos unidimensionais (omo o so o livro, a revista, o >ornal ;=ue>9 tm aspe(tos de duas dimensIes< e do 0ilme Os e:emplos podemser multipli(ados, mas o (urioso 0 =ue o semi?anal0abetismo da

    so(iedade 0a(ilita enormemente todos estes pro(essos'Pode pare(er, primeira vista, =ue tendn(ias paralelas s a=uienumeradas o(orrem nos #stados "nidos e na #uropa, e =ue tudo istoportanto no passa de de0asagem' Heria um erro' -os pases )ist8ri(ostrata?se de tentativa deliberada de romper a linearidade do dis(urso,mais um sintoma da (rise da )ist8ria men(ionada ao longo desteensaio' # no Brasil trata?se da tentativa de des(obrir a pr8priaidentidade, =ue identidade no?)ist8ri(a, portanto no?linear, e no?

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    dis(ursiva' 2 prova da di0erena pragm9ti(a! as tentativas o(identais(omeam a tomar as brasileiras por modelo'Obviamente, a revoluo lingsti(a ora em (urso no Brasil no podeser (aptada tomando apenas este Dni(o aspe(to' He 0iloso0ar re0letir,e se lngua pensamento ob>etivado, no resta dDvida =ue a revoluo

    lingsti(a brasileira (ampo 8bvio para ser arado pela 0iloso0iabrasileira (om o suor do rosto' Para tanto seria ne(ess9rio noes=ue(er as teorias lingsti(as o(identais, mas ter a (oragem de p?las de lado para permitir =ue a situao (on(reta da lngua no Brasil,(om sua enorme 0ertilidade, sugira novas (ategorias do seu(on)e(imento' 2 pr9:is >9 e:iste' -o ser9 pr9:is digna do nome, seno 0or seguida e in0ormada por teorias'O novo )omem, =ual=uer =ue se>a a de0inio =ue =ueiramos 0ormulara seu respeito, )omem =ue pensa de 0orma di0erente do vel)o e viveem mundo vital di0erente do vel)o' 2 revoluo lingsti(a brasileiraatesta, no seu aspe(to mais pro0undo, o surgir do novo )omem, a

    saber, de um )omem no?)ist8ri(o ;multidimensionalado a (olaborar ativamentena elaborao de uma tal lngua do C0uturoC ;este o problemaapresentadoamento (riativo'Resumindo! no Brasil est9 o(orrendo um pro(esso em muitos nveis=ue tende a trans0ormar um substrato ar(ai(o e primitivo em estrutura(omple:a e so0isti(ada, pelo mtodo de elaborao (ons(iente eabsoro ma(ia de elementos )ist8ri(os do O(idente' O pro(esso sed9 mais signi0i(ativamente no nvel lingsti(o, prova =ue se trata depro(esso autnti(o, por=ue grandemente no deliberado' He e =uandoo pro(esso al(anar sua meta, ter9 surgido um novo )omem sem igualno resto do mundo'

    . "iagn/stico e 0rogn/stico2 introduo deste ensaio dis(utia a razo do trabal)o' 2gora retoma oassunto' -ada mais a0astado do presente trabal)o do =ue a atitudenobre =ue despreza um possvel (onsumidor por (onsiderar?se auto?su0i(iente e visar per0eio a(abada' 2 atitude , pelo (ontr9rio! todotrabal)o ou (omuni(a ou no passa de pose' odo trabal)o dial8gi(ono sentido de Spara o outroT e no sentido de Cesperar por respostaC' A