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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁCENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIADISCIPLINA: PSICOLOGIA DO TRABALHO E DAS
ORGANIZAÇÕES (2014.1)PROFESSORA: LISE MARY
ALUNO: FÁBIO PINHEIRO PACHECO
FICHAMENTO: Conceito e Perspectivas de Estudo das Organizações
Ao longo de nossa vida, independentemente da sociedade em que estivermos,
estaremos em contato com os fenômenos organizacionais presentes nas mais
diversificadas organizações, tais como supermercados, igrejas, padarias, faculdades,
shoppings, família etc. Desse modo, torna-se possível afirmar que a nossa qualidade de
vida muito depende do funcionamento das organizações com as quais interagimos
(BASTOS et. al, 2004). Ainda, pode-se observar que parte do comportamento das
pessoas se deve a fatores organizacionais, que revelam o poder que a organização tem
de influenciar as ações das pessoas.
Por estar vinculado às estruturas sociais nas quais as pessoas fazem parte, o
estudo das organizações se apresenta como de fundamental importância para a
compreensão das nuances estabelecidas entre sociedades-pessoas-organizações.
Entretanto, de acordo com os autores do texto, esse campo de estudo ainda é
fragmentado e disperso. Os autores apontam que as principais características dos
estudos existentes estão fortemente direcionadas às buscas por conceituar o que seria
propriamente uma organização (o que cria diversas conceituações), são de caráter
multifacetado e elaboram diferentes perspectivas de análises sobre a temática. Com isso,
os autores apontam que a própria definição de organização não é consensual, existindo
uma enorme diversidade de enfoques, abordagens e ênfases acerca dos estudos
organizacionais. Além da difícil definição de organização, percebe-se que a
identificação e a definição dos objetivos de uma organização também são tarefas
complicadas de serem feitas.
Entre as diversas definições de organizações, de senso comum e do campo
científico, apresentadas pelos autores, aparecem algumas como “muitas coisas ao
mesmo tempo” e ainda como um termo utilizado “tanto para designar ações para
construir algo como para descrever as qualidades dessa coisa construída”. Aparece a
concepção de que uma organização formal surge quando há pessoas aptas a se
comunicarem entre si, desejando contribuir com sua ação para a realização de um
propósito comum. Também se tem que as organizações são sistemas cooperativos.
Os autores destacaram que Morgan concebe as organizações como fenômenos
complexos e paradoxais que devem ser compreendidas sob muitas perspectivas
diferentes. Também destacaram os autores Mardsen e Townley, os quais apresentam
duas abordagens que se originaram para tentar compreender a ciência envolvida nos
estudos das organizações, a ciência normal e a contranormal. Para a primeira, as
organizações são consideradas entidades tangíveis, concretas, que podem, com técnicas
e métodos quantitativos, ser observadas e medidas; apresenta uma a organização como
entidade que pensa, formula, lidera, e é possuidora de uma existência própria,
independente das pessoas e das suas atividades. Já para a segunda abordagem, as
organizações são explicadas de acordo com as intenções que estão na base das ações dos
indivíduos e grupos que as compõem. Aqui, os diversos elementos da organização
deixam de ser percebidos como elementos concretos e se tronam artefatos simbólicos; e
a própria organização passa a ser compreendida enquanto um processo fruto de uma
coletividade de pessoas.
Adiante, Bastos et al. (2004), apresentam três perspectivas teóricas de análise
conceitual das organizações: Cognitivista, Culturalista e Institucionalista. A primeira
perspectiva, de visão Cognitivista, enxerga as organizações como “sistemas de
comportamento corporativo orientados pelo planejamento, o qual tem por função não
apenas alocar os participantes, mas, sobretudo, permitir que cada membro particular
saiba com relativa certeza o que os outros irão fazer.”(p.71) Assim, a organização
estabelece condições não só para ação, mas também para a consideração racional das
consequências das ações em um grupo social.
Herbert Simon, o principal representante dessa perspectiva, destaca que é
importante o planejamento das ações e dos padrões de comportamento para o trabalho
dentro das organizações, pois só assim os indivíduos poderão saber quais as reações dos
demais diante de determinado acontecimento, o que torna possível a determinação
adequada de suas próprias ações. Simon define as organizações como um processo de
tomada de decisões com cooperação coordenada para a realização dos objetivos da
organização, através de planejamento de ações e dos padrões de comportamento; ação
racional orientada para determinada finalidade; seleção de metas, hierarquização de fins.
Tal ação racional resulta do processo de escolha de uma entre muitas alternativas
possíveis, conscientes ou não, sendo a decisão tomada a melhor para aquele contexto.
Entre as principais contribuições dessa perspectiva encontram-se a construção de
uma teoria administrativa; a desmistificação da conduta do decisor; a definição de
organização como processo de decisão e fenômeno processual; noção de que as
organizações são influenciadas pelos limites humanos em processar as informações;
caracterização do processo decisório e seu modus operandi; distinção entre decisões
programadas e não-programadas. Entre as críticas, Bastos et. al (2004) destacam que
essa perspectiva deixou de compreender a organização como um sistema cooperativo,
onde as pessoas não esquecem de seus próprios propósitos.
A segunda visão, Culturalista, é caracterizada pela incorporação de influências
da antropologia, interessando-se em compreender os processos organizacionais
relacionados com a dinâmica do contexto sociocultural onde elas estão inseridas. Essa
concepção adota a definição de cultura teorizada por Clifford Geertz, que enxerga a
cultura como uma teia de significados tecidas pelos homens e suas análises. Essa visão
compreende as organizações como minissociedades que têm os seus próprios padrões
distintos de cultura e subcultura, que desenvolvem seus próprios quadros de referências
e paradigmas nos quais suas experiências são interpretadas. Entre as principais
contribuições que essa concepção de organização trouxe destacam-se a atenção para o
significado simbólico da maioria dos aspectos racionais da vida na empresa; a
reestruturação de conceitos como o de liderança; o oferecimento de uma nova visão
sobre as relações entre organização e ambiente; a contribuição para compreender o
processo de mudança social etc.
Por outro lado, essa abordagem recebe críticas por poder apresentar leituras
simplificadas dos processos culturais, possibilitando que os gerentes pratiquem a
administração como um processo ideológico. Também recebe críticas pela tendência a
desconsiderar as questões de poder que estão implicadas na vida e no trabalho.
Por último, tem-se a visão institucionalista, a qual prega que toda instituição
compreende um movimento que a gera (o instituinte), um resultado (o instituído) e um
processo (a institucionalização). Aqui, a sociedade aparece como uma rede, um tecido
de instituições e organizações. A língua, as relações de parentesco, a religião e a divisão
técnica social do trabalho são apontadas como quatro principais instituições que
constituem uma sociedade humana, instituições que se interpenetram e se articulam para
regular a produção e a reprodução da vida humana. Ainda, tem-se que as organizações
são formas encarnadas das instituições, que podem apresentar graus variados de
complexidade. De acordo com Bastos et. al (2004), o rótulo institucionalista engloba
muitas correntes, sendo necessário que os autores divida em dois polos, o Neo-
institucioalista e o Nova Economia Institucional (NEI).
O polo neo-institucionalista pode ser dividido em dois campos de acordo com a
sua abordagem, francesa ou anglo-saxônica. O que segue as concepções da sociologia
francesa das organizações, compreende as organizações como um conjunto de
atividades em “andamento”, que são articuladas e emergentes em diversos momentos e
situações de interação. Entre as principais contribuições desse campo destaca-se a
sobre-elevação da existência de conflitos dentro das organizações; a ressignificação do
pape dos conflitos dentro da mesma; a ampliação do conceito de organização,
incorporando uma multiplicidade de configurações; elaboração de uma visão de
organização enquanto um sistema de competição e cooperação etc. Já entre as principais
críticas que o campo recebe, tem-se o fato de que ela apresenta uma homogeneidade
entre os atores e hipervaloriza a negociação.
O campo neo-institucionalista de abordagem anglo-saxônica aponta que as
interações possibilitam a troca e o compartilhamento de valores e crenças, o que
favorece a aquisição de uma identidade diferente entre as organizações, estando além de
uma lógica instrumental. Para essa perspectiva, as decisões das organizações estão
submetidas às pressões externas e aos mecanismos de conformação social, incentivando
certas ações ditas legítimas, o que resulta em um certo grau de isomorfismo
organizacional. Também há o isomorfismo institucional – viabilizado pelos mecanismos
coercitivos, miméticos e normativos –, que estabelece normas e exigências a fim de
fazer que as organizações obtenham apoio e legitimidade.
Dentre as principais contribuições desse campo tem-se a objeção a visão de ator
organizacional; a valorização da importância do ambiente sociocultural; ampliação do
ambiente espacial e temporal, não se restringindo às influências próximas e presentes;
compreensão de que a mudança organizacional não está ligada somente à busca de
eficiência; concepção de legitimidade como conceito-chave etc. Por outro lado, outros
campos apontam que essa abordagem tem imaturidade científica e que a visão de
institucionalização aparece mais como atributo do que como processo, apresentando,
assim, um caráter determinista.
No polo da Nova Economia Institucional, as instituições são estudas de forma
ampla, enfatizando aspectos históricos e as relações com outras ciências sociais e
também as estruturas de governança. Para esse polo, as instituições cumprem papel de
minimizar a incerteza e incentivar o avanço das ações coordenadas das pessoas. Além
disso, as instituições estabelecem limites para os indivíduos, por meio de restrições
formais e informais, a fim de fazer com que eles estruturem suas próprias interações.
Apontam que as instituições podem ser entendidas como as regras de um jogo, e as
organizações seriam a estruturação do time ou de parte dele, cujos componentes são os
jogadores. Assim, as organizações seriam “grupos de indivíduos interligados por algum
propósito, que devem agir segundo certas regras ou normas de conduta, formalizadas ou
não, ou seja, de acordo com determinadas instituições.” (p. 82).
Por último, compreende que as organizações de um dado momento histórico
refletem as oportunidades oferecidas pela matriz institucional. Entre as principais
contribuições desse polo, encontram-se os esforços para convergir a teoria econômica, o
direito e a administração.
Em linhas gerais, os autores apresentaram três perspectivas teóricas, que embora
apresentem concepções diferenciadas, possuem base em comum. Para eles, essas
perspectivas se afastam do paradigma dominante de pesquisa e teorização
organizacional de uma forma importante ao não qualificar a organização como uma
entidade estática, um substantivo concreto e existente independente das pessoas, mas ao
compreender como um modo de organização, um processo. Ressaltam também que a
organização é fluida, está sempre em mudanças e são definidas a partir de três
importantes dimensões que se interpenetram: econômica, política e simbólica. Destacam
também que o estudo das organizações possibilita a compreensão de aspectos
psicológicos e sociopolíticos, sendo um campo riquíssimo e fértil para grandes
questionamentos e discussões acerca da dinâmica sociocultural.
Referências Bibliográficas:
BASTOS, A.; LOIOLA, E.; QUEIROZ, N.; SILVA, T. Conceito e Perspectivas de
Estudo das Organizações. p. 67-90. Porto Alegre: Artmed, 2004.