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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: DOM CASMURRO SOB O PRISMA DA OBSERVAÇÃO
Autor Maria das Dores Gomes
Escola de Atuação Colégio Estadual Tancredo de Almeida Neves
Município da escola Foz do Iguaçu
Núcleo Regional de Educação Foz do Iguaçu
Orientador Ildo Carbonera
Instituição de Ensino Superior UNIOESTE – Foz do Iguaçu
Disciplina/Área (entrada no PDE) Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica Dom Casmurro sob o prisma da observação – a análise da relação aparência/essência
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Público Alvo
(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Alunos do 2º ano do Ensino Médio
Localização
(identificar nome e endereço da escola de implementação)
Colégio Estadual Tancredo de Almeida Neves
Rua José Carlos Pace, 1866 – Foz do Iguaçu
Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte
O presente projeto visa analisar as possibilidades interpretativas na obra Dom Casmurro de Machado de Assis, levando os alunos a perceberem a relação aparência/essência que se descortina na construção e desconstrução presentes nas entrelinhas da narrativa.Nesse contexto de observação e análise, será feita uma
Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
leitura abrangente da obra e a seguir uma seleção minuciosa de detalhes da obra, que exigem reflexão por trazerem uma relação de novas possibilidades.O desenvolvimento será com análises, discussões, debates, produções, elaboração de crônicas e seminários.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Machado de Assis, leitura, análises
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Professor PDE: Maria das Dores Gomes
Orientador: Professor Doutor Ildo Carbonera
Trabalho desenvolvido como requisito parcial para o cumprimento do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE 2010.
Foz do IguaçuJulho - 2011
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Maria das Dores Gomes
Área PDE: Língua Portuguesa
NRE: Foz do Iguaçu
Professor Orientador IES: Ildo Carbonera
IES Vinculada: Unioeste – Campus Foz do Iguaçu
Escola de Implementação: Colégio Estadual Tancredo de Almeida Neves
Público objeto da intervenção: Segundo ano do Ensino Médio
Email: [email protected]
TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE
Dom Casmurro sob o prisma da observação – a análise da relação
aparência/essência.
JUSTIFICATIVA DO TEMA ESTUDADO
Ao estudarmos as obras machadianas somos remetidos ao universo
de reflexão em uma análise constante da conduta humana em seus aspectos
sociais, morais e psicológicos, numa aproximação de identificação de características
inerentes ao ser que ultrapassa o limite de tempo e época perdurando em uma
sondagem permanente.
É nesse universo psicológico que nos deparamos com as personagens
em Dom Casmurro, onde a dúvida e a ambiguidade compõem o enredo do romance.
Por ser uma narrativa em primeira pessoa, as informações nos são
fornecidas sob o prisma único de observação, a do narrador-personagem, que
através das insinuações procura convencer o leitor da sua visão acerca do suposto
adultério de Capitu.
A princípio, o leitor sente-se envolvido, induzido pela aparência das
informações, vislumbrando a perspectiva de suposições apontadas pelo narrador,
porém a leitura mais atenta o faz refletir, buscando nas lacunas existentes uma
análise mais perspicaz, percebendo a construção e desconstrução das informações,
a relação do ser e do suposto ser, a aparência que se descortina de imediato e a
essência que flui a cada análise.
Essa percepção de possibilidades gera interpretações variadas,
tornando Dom Casmurro motivo constante de análise.
Pesquisadores como Ingrid Stein, que apresenta o trabalho sob visão
da narrativa em primeira pessoa, Linda M. Kelley, desenvolve a emotividade do
narrador ao reconstruir Capitu. Eugênio Gomes e a questão da verossimilhança;
Helen Caldwell e a comparação de Bentinho às personagens Shakespearianas
Otelo e Iago; e vários estudiosos, nos instigam a participar desse complexo que
envolve o romance, sempre aguçado por uma análise mais profunda, o que garante
a atualidade da obra.
Segundo Eagleton (1983, p.105), “sem essa constante participação
ativa do leitor, não haveria obra literária”.
Sob esse enfoque, o presente trabalho será direcionado, formando
leitores capazes de sentir e expressar, reconhecer nas aulas de literatura o
envolvimento de subjetividades que se expressam pela tríade obra/autor/leitor, como
sugerem as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa do
Estado do Paraná (DCE, 2008, p.58).
Perceber as possibilidades de interpretações, ampliar o horizonte de
expectativas, visão de mundo e experiência (DCE, 2008); observar que as
possibilidades surgem quando a análise sai do superficial (aparência) e se depara
com o ser (essência), que pode se descortinar em outra possibilidade retomando a
aparência.
Esse desenvolvimento ligado à reflexão psicológica e filosófica, não
desperta o interesse do aluno do Ensino Médio ao aproximá-lo da obra, auxiliá-lo a
perceber a correlação entre a aparência e a essência, a vislumbrar os horizontes
que a permeia, é o objetivo deste trabalho, onde atuaremos como mediador para
que se descortinem as possibilidades de reflexão e análise oportunizadas na leitura
da obra.
Será um trabalho desenvolvido com os alunos do Ensino Médio do
Colégio Estadual Tancredo de Almeida Neves – Ensino Fundamental e Médio, de
Foz do Iguaçu, com a proposta de oferecer, além da relação existente entre a obra
escrita no século XIX, o retrato dos problemas sociais e dos valores da época e sua
contemporaneidade.
OBJETIVO GERAL
Analisar a obra Dom Casmurro de Machado de Assis, despertando o
aluno/leitor para interpretações que a obra possibilita, aguçando o senso crítico.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Investigar a questão da aparência/essência na obra.
• Incentivar a leitura de maneira crítica.
• Possibilitar a leitura de textos com temática semelhante.
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
1 – APRESENTAÇÃO DO PROJETO
O presente projeto tem como objetivo analisar a obra Dom Casmurro
de Machado de Assis, com alunos do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual
Tancredo de Almeida Neves de Foz do Iguaçu, levando-os a observarem as
possibilidades interpretativas contidas na obra, auxiliando-os a perceberem a
relação aparência/essência que se descortina na construção e desconstrução
presentes nas entrelinhas da narrativa levando à reflexão sobre a veracidade da
mesma.
Essas possibilidades interpretativas tornam a obra motivo constante de
estudo e investigação, gerando dúvidas e ambiguidade, permanecendo objeto de
atenção há mais de um século.
Machado de Assis consegue ser um autor moderno, pela
problematização da vida, pelo emprego da ironia e pela busca de respostas que não
se alcança.
Nesse contexto de observação e análise, será feita uma leitura
abrangente da obra e a seguir uma seleção minuciosa de detalhes da obra, que
exigem reflexão por trazerem uma relação de novas possibilidades.
2 – CONTEXTO HISTÓRICO
• Trabalhar o conteúdo histórico-social da época, os movimentos
que estavam sendo articulados, principalmente o papel feminino,
a posição da mulher na sociedade, para que seja possível
entender a construção das personagens femininas na obra,
especialmente Capitu.
• A transição do Romantismo para o Realismo e o paralelo com o
contexto histórico-social atual. É necessário que o aluno consiga
perceber o panorama da época, tenha condições de refletir
quanto ao posicionamento das personagens, aguçando o senso
crítico em reflexões coerentes.
3 – MACHADO DE ASSIS – VIDA E OBRA
Trabalhar Machado de Assis no contexto histórico-social da época,
linguagem, construção da mesma nos textos, a ironia, humor, metalinguagem,
ambiguidade, crítica, narração não-linear, foco narrativo, conversa com o leitor,
inovação, estilo, o que tornam seus textos atuais e instigam estudiosos a pesquisá-
los, porque ele não se enquadra somente ao estilo literário Realismo, mas ao estilo
permanente de análise e reflexão.
Comentar a riqueza das suas obras na poesia, crônica, contos,
romances, que evidenciam características do nosso psiquismo, retratando a
natureza humana.
4 – LEITURA DA OBRA: DOM CASMURRO
Apresentação da obra, encaminhamento para leitura extraclasse,
reservando as 4 h/a em sala para eventuais dúvidas e orientações.
5 – DISCUSSÃO E DEBATES
Comentários da obra, exposição de pontos de vista, reflexão da
pergunta norteadora que envolve a obra e, consequentemente, esse projeto.
6 – ANÁLISE DE DETALHES DA OBRA
O ciúme exarcebado de Bentinho pode levá-lo a um mundo de fantasia,
oscilando entre o parecer e ser, o imaginário e o real?
A dúvida e a ambiguidade, presentes em Dom Casmurro, geram
polêmica, dividindo opiniões, aumentando o número de estudiosos, pesquisadores e
críticos.
Diante das possibilidades de interpretação de Dom Casmurro, da
evidência do aspecto psicológico, será feita a análise comparativa abordada nas
opiniões, pontos de vista feitos em relação à obra, assim como as reflexões que
procuram mostrar ao ser humano na sua essência, provocando o senso crítico.
É primordial que a literatura seja introduzida de forma a resgatar o
contato do leitor com o texto, estimulando e ampliando seu conhecimento de mundo.
A literatura provoca e aguça a imaginação, a reflexão, permitindo uma
vivência individual.
Cada leitura que se faz de Dom Casmurro se observa aspectos novos
que levam à reflexão.
Dom Casmurro é uma narrativa carregada de insinuações direcionadas
para a veracidade, e o narrador procura conduzir o leitor a essa perspectiva de visão
da qual ele é o único ponto referencial, ou seja, é ele quem constroi a existência das
personagens, todas refletidas a partir de seu ângulo de visão, relembrados da
maneira como ele as projeta. Portanto, as identificamos sob o prisma único do
personagem-narrador, que possui uma carga significativa de imaginação, expressa,
revivida e resgatada através da escrita.
Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquele outro, que desapareceu (D.C. p.14).
Trata-se de uma tentativa de resgatar o passado, reviver através da
memória, das lembranças, sua adolescência, buscando o tempo perdido.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falta eu mesmo, e esta lacuna é tudo (D.C. p. 14).
O tempo é irrecuperável. Sua solidão atual denuncia o vazio que fora
sua vida não assumida. Recompor o passado através da escrita permitirá que esteja
novamente com as pessoas com as quais convivera, buscando sentido para sua
vida presente, uma vez que fisicamente vivo, sente-se morto para si mesmo e para
os outros.
Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns [...] deste modo, viverei o que vivi (D.C. p. 15).
Reviver os acontecimentos através da imaginação nos faz refletir na
possibilidade da emotividade determinar o sentido real das informações narradas.
Os fatos podem ocorrer na aparência da qual o narrador propõe, e
seria ingênuo o leitor deixar-se envolver sob essa única possibilidade, uma vez que
a emoção provoca influência, refletindo subjetividade no fato narrado.
Minha mãe era boa criatura. [...] Tenho na parede o retrato dela, ao lado do meu pai [...] O que se lê na cara de ambos é que, se a felicidade conjugal pode ser comparada à sorte grande, eles a tiraram no bilhete comprado de sociedade (D.C. p. 21).
No fragmento acima, observamos um casamento não influenciado
pelos conflitos e desentendimentos, geralmente desencadeados pelo amor. A mãe
continua guardando luto e o pai (morto) continua exercendo seu poder, participando
da vida familiar e a permanência do seu retrato na parede, evidencia o apego de
Bentinho ao passado.
A vida é uma ópera (D. C. p. 22).
O narrador faz alegoria aos conflitos humanos. A vida é interpretada
como um espetáculo, uma peça de teatro, uma representação constante.
Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à definição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor... (D. C. p. 25).
Estaria o narrador iniciando sua problemática, insinuando a suspeita da
infidelidade de Capitu, a desconfiança da relação entre ela e Escobar e a dúvida
quanto à paternidade de Ezequiel?
Segundo Chacon, “O tema central a unificar todas as demais é o do
ciúme, gerando a partir da suspeita do adultério, justificando com isso as referências
feitas à peça de Shakespeare”.
No capítulo LXII, “uma ponta de Iago”, José dias refere-se a Capitu:
“aquilo, enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...”
despertando o ciúme de Bentinho, assim como o Iago fizera com Otelo, na peça de
Shakespeare.
O ciúme está presente em vários momentos: “Tal foi o segundo dente
de ciúme que me mordeu” (LXII), “Venho explicar-te que tive tais ciúmes pelo que
podia estar na cabeça de minha mulher, não fora ou acima dela” (CVII), “cheguei a
ter ciúmes de tudo e de todos” (CXIII), “Pois até os defuntos! Nem os mortos
escapam aos seus ciúmes!” (CXXXVIII), Capitu diz ao perceber seu ciúme por
Escobar.
Quando os primeiros ciúmes começam a atormentá-lo, sua reação
emocional é histérica, refugiando-se no quarto.
[...] corri ao meu quarto, e entrei através de mim. Eu falava-me, eu perseguia-me, eu atirava-me à cama, e rolava comigo, e chorava, e abafava os soluços com ponta do lençol (D. C. p.109)
A imaginação e a fantasia surgem.
[...] via-me já ordenado, diante dela, que choraria de arrependimento e me pediria perdão, mas eu, frio e sereno, não teria mais que desprezo; restava-lhe as costas. Chamava-lhe perversa. Duas vezes dei por mim mordendo os dentes, como se a tivesse entre eles (D. C. p. 109)
Bentinho é introvertido, sonhador, sua realidade oscila entre o real e a
fantasia, como no episódio em que ele encontra o Imperador e no seu devaneio, sua
majestade, intercederia no cancelamento da sua entrada para o seminário.
Vi então o Imperador escutando-me refletindo e acabando por dizer que sim, que iria falar com minha mãe; eu beijava-lhe a mão, com lágrimas. [...] O Imperador entrou em casa de Dona Glória! Que será? Que será? [...] Então o Imperador, todo risonho, sem entrar na sala, ou entrando, não me lembra bem, os sonhos, são muitas vezes confusos, pediria a minha mãe que não me fizesse padre, e ela lisonjeada e obediente, prometia que não (D. C. p. 49).
A imaginação se faz presente em toda a vida de Bentinho, acentuando
a constante fuga da realidade. São fantasias lembradas como fatos sempre
condicionadas a sua visão e ponto de vista, através do qual faz sua narrativa.
O leitor pode acreditar ou duvidar da interpretação que o narrador faz
dos fatos por ele vividos, assim como, ele imagina que foi sua vida.
Dom Casmurro ressuscita Bentinho através da memória na tentativa de
reconstruir uma existência atormentada pela dúvida e assim, convencer a si mesmo,
da veracidade dos fatos ocorridos.
Retrocede no tempo de adolescente puro e ingênuo (Bentinho), com
uma mente repleta de imaginação, devaneios, insegurança, para um advogado
brilhante, na maturidade, mas que não consegue elucidar a dúvida que o atormenta,
tornando-se na velhice, um solitário, tentando reviver através das lembranças o que
de fato foi no passado.
Através da narrativa, deixa transparecer pela imaginação o reviver do
passado, procurando explicar a si mesmo e aos outros, em um julgamento do
passado pelo presente que se apresenta.
A escolha do foco narrativo em primeira pessoa registra a subjetividade
pelas observações pessoais, intensificando o aspecto psicológico do romance. A
trama vai além do ciúme e da traição, levam a uma reflexão dos aspectos da
aparência e essência, do ser e do parecer.
Aparentemente, a complexidade gira em torno do enigma de Capitu,
mas o conflito psicológico em que se encontra Bentinho conduz o leitor a essa
perspectiva de visão da qual ele é o único ponto referencial.
Segundo Aguiar e Silva, “O narrador é, por sua vez, a figura que guia a
apresentação do enredo”.
Estando a narrativa condicionada à visão de Bentinho, a descrição das
personagens, principalmente Capitu, deve ser posta em dúvida pelo leitor.
Conforme Linda M. Kelley, “ao reconstruir a imagem de Capitu,
Bentinho o faz emocionalmente. Ele não está interessado nela, mas em si próprio”.
Dom Casmurro é uma narrativa carregada de insinuações, levada por
um ciúme exarcebado que pode criar uma atmosfera suspeita, percepção e
interpretação delirantes.
Para Eugênio Gomes é a questão da verossimilhança a responsável
pelas controvérsias que o romance suscita [...] “há uma confusão geral, que perturba
todas as observações, porque [...] a versão da história é dada exclusivamente pelo
homem que se considera vítima de um deplorável engodo”.
Bentinho baseou-se na semelhança física entre Ezequiel e Escobar, o
hábito de imitá-lo e o comportamento de Capitu no enterro de Escobar, para
construir a tese da infidelidade da esposa, sem apresentar pontos concretos que a
comprove.
Alguns dos gestos já lhe iam ficando mais repetidos, como o das mãos e pés de Escobar; ultimamente, até apanhara o modo de voltar a cabeça deste, quando falava, e o de deixá-lo cair, quando ria (D. C. p. 154).
Essas semelhanças geraram a dúvida da própria paternidade,
esquecendo-se que a semelhança física independe do parentesco, como a de
Capitu com a mãe de Sancha.
No enterro de Escobar, o comportamento de Capitu, a maneira como
ela olhava para o defunto, despertou o segundo indício de sua suspeita.
A confusão era geral. No meio dela, Capitu, olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...” (D. C. p.161)
O olhar e o choro não constituem provas substanciais da infidelidade
de Capitu.
São suspeitas de um possível adultério, sob o prisma da visão de um
marido ciumento, que tem consciência desse ciúme desde a adolescência, mesmo
na época não existindo motivo real.
Aceitar a culpabilidade de Capitu é concordar com o narrador sem
refletir nas lacunas existentes na obra, nas pistas, entrelinhas do discurso narrativo.
[...] momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã (D.C. p.161).
Para Bentinho não havia dúvidas, o olhar fixo e aberto de Capitu, era a
prova da sua infidelidade.
Torturado pelo ciúme, Bentinho não suporta mais a presença do filho e
o manda para o Colégio da Lapa.
Cada vez mais melancólico e atormentado pelo ciúme, planeja o
suicídio, mas interrompe a ação pela entrada de Ezequiel a chamá-lo, transferindo-
lhe o ímpeto suicida, mas também abandona e passa a beijar doidamente a cabeça
do filho, evidenciando uma personalidade alucinada, paranóica.
Bentinho adentra cada vez mais nessa consciência delirante,
conturbada e impõe a separação, enviando Capitu e Ezequiel para Suíça. Simulava
viagens à Europa no intuito de enganar a opinião dos outros, mantendo, assim, sigilo
da separação e aparência social.
Capitu morre na Suíça. Dom Casmurro reserva-lhe apenas o relato de
ter continuado bonita, e sempre afirmando para o filho, a bondade e a dignidade do
pai.
Ezequiel pede ajuda financeira ao pai para estudar arqueologia e,
Bentinho, em seu ciúme delirante, deseja que o filho pegue lepra. Sentindo-se cruel
e perverso, quis abraçá-lo ao coração, mas não o faz.
A mudança brusca de comportamento denota a acentuada alienação
de Bentinho, saindo da condição de vítima para réu. É perceptível essa mudança
desde adolescente, quando deseja, mesmo por instantes, a morte da mãe para
livrar-se do seminário. “Mamãe defunta, acaba o seminário” (D. C. p.100).
Seus impulsos crueis prosseguem quando no enterro de Escobar,
deseja “atirar à rua caixão, defunto e tudo” (D. C. p.161), e continua na tentativa de
envenenar o filho.
Como acreditar na sinceridade da narração de Bentinho e na
veracidade dos fatos, sem cogitar a possibilidade de ter sido feita uma interpretação
das aparências do que ele acredita que viu e viveu e que pode estar enganado?
As contradições da natureza humana, os jogos de interesse e rivalidades que existem nos relacionamentos mais íntimos, a mistura de amor e ódio que une e desune os seres, sempre mais complexo do que parecem ser [...] nos ensina que para ler e para viver precisamos ir além das aparências, percebendo a distância que há entre as ações e as suas modificações mais profundas, entre as linhas e as entrelinhas (LEITE, 1997).
Para Keith Elis, a questão da culpa de Capitu está envolvida na
ambiguidade que resiste a qualquer elucidação. Portanto, Dom Casmurro continuará
gerando discussões, pesquisas, mantendo assim, a sua contemporaneidade.
7 – LEITURAS
O professor proporcionará leituras relacionadas à obra: Artigos, livros,
opiniões e pontos de vista de críticos, pesquisadores, proporcionando ao aluno o
contato com as variadas interpretações.
8 – PRODUÇÃO DE TEXTOS
Produções de textos, comentários, análises, crônicas e apresentações
baseadas nas análises e leituras desenvolvidas.
9 – ATIVIDADES
• É possível os fatos que marcaram profundamente o narrador-personagem
serem narrados com objetividade?
• Por que a utilização de um narrador-personagem contribui para reforçar a
ambiguidade da narração?
• O que sugere a definição de José Dias aos olhos de Capitu: “Uma cigana
oblíqua e dissimulada”?
• Buscar na internet o clip da música “Capitu”, de Zélia Duncan. Comentários a
respeito dos diálogos entre Literatura e música.
• Encontrar na internet fragmentos de filmes ou vídeos a respeito do romance
Dom Casmurro.
• Levantamento de crônicas da Literatura Brasileira que tratam da questão do
ciúme.
• Elaboração de comentários, análises e crônicas.
• Leitura e comentários a respeito dos textos produzidos pelos alunos.
10 – AVALIAÇÃO
As atividades apresentadas são sugestões que poderão ser
adequadas de acordo com o desenvolvimento da turma.
A proposta é a análise, a reflexão e as possibilidades interpretativas
contidas na obra. O objetivo é aguçar o senso crítico.
A avaliação é a observação das análises, comentários, participação,
envolvimento, interesse e produção.
11 – DESCRIÇÃO DO CRONOGRAMA DE TRABALHO
2 h/a
Apresentação do projeto a ser desenvolvido.Obra: Dom Casmurro – Machado de Assis.Leitura – Análise – Pesquisa e Produção.
4 h/a Estilo Literário - Contexto histórico.
4 h/a Machado de Assis – Vida e Obra.
4 h/a Leitura da obra: Dom Casmurro
2 h/a Discussão e debates
8 h/a
Análise de detalhes da Obra: foco narrativo; seleção de algumas passagens da obra que levam o leitor a refletir nas lacunas, pistas e entrelinhas do discurso narrativo.
4 h/a Leitura de artigos, livros, opiniões e pontos de vista relacionados à obra.
4 h/a Produção de textos pautadas nas análises e leituras desenvolvidas.
2 h/a Apresentação oral dos textos produzidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. 39ª ed. São Paulo: Ática, 2001.
TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira. São Paulo: Moderna, 1975.
CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1988.
AGUIAR, Vera Teixeira et al. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1995.
CHACON, Geraldo; Amzalak, José Luiz. Literatura – resumo e análises das obras. São Paulo: Erica, 1994.
LEITE, Ricardo et al. Novas palavras: literatura, gramática, redação e leitura. São Paulo: FTD, 1997.
ABAURRE, Maria Luiza. Coleção base: Português: volume único. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2001.
Paraná Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica.
GOMES, Eugênio. O Enigma de Capitu. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967, p.162-177.
Revista do Livro. - Ano 1, n.1/2 (Jun. 1956). 22ª ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1956.
BOSI, Alfredo. Machado de Assis – O enigma do olhar. São Paulo: Ática, 1999.
AGUIAR E SILVA, V. M. A teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1976.
STEIN, Ingrid. Figuras Femininas em Machado de Assis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984