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Ferramentas para redução da janela de nascimento de pintos Thomas A. C. Calil Pas Reform do Brasil [email protected] Os incubatórios brasileiros têm buscado se profissionalizar e se manter atualizados com as últimas tecnologias disponíveis no mercado, principalmente no que se refere à climatização e sistemas de incubação, haja vista a forte presença do sistema estágio único no mercado brasileiro em projetos recentes. Tal profissionalização não busca somente a melhoria dos resultados zootécnicos do incubatório (eclosão), mas também a melhoria dos aspectos intangíveis dos pintos de um dia como a qualidade e os resultados zootécnicos da granja, expressos principalmente pela conversão alimentar, ganho de peso diário e viabilidade. Na busca por melhoria de qualidade, que reflete diretamente no desempenho zootécnico do lote, destacamos o controle da janela de nascimento, que é a medida do intervalo de tempo entre os primeiros e os últimos pintos nascidos em um nascedouro. A janela de nascimento tem se tornado cada vez mais crítica nos incubatórios brasileiros e os incubadores passaram a compreender a importância desse indicador, pois as conseqüências de uma janela de nascimento ampla são reconhecidamente deletérias não só para a qualidade do pinto de um dia, quanto para a vida do frango de corte como um todo. As principais conseqüências decorrentes de uma janela de nascimento ampla são desidratação e má formação do sistema termorregulatório devido a estresse calórico nos nascedouros convencionais (que não suportam a carga de calor gerada pelos embriões e pintos nascidos) e má formação/imaturidade do sistema gastrointestinal devido ao atraso do fornecimento de água e alimento. O conceito de Janela de Nascimento como sendo o intervalo entre o primeiro e o último pinto nascido é muito teórico, por isso dizemos os primeiros e os últimos pintos nascidos, como acima descrito. Isso se dá porque, na prática, não sabemos quando o primeiro e, muito menos, o último pinto dentro de um gabinete de eclosão nasceu. Além dessa definição didática, há outro parâmetro importante a se discutir para que haja bom entendimento da janela de nascimento, pois apenas a diferença de tempo entre os primeiros e os últimos nascidos pode nos dar uma falsa impressão de boa janela em alguns casos. Por isso, é importante também analisarmos a janela de acordo com um gráfico em que as aves nascidas são mostradas em função do horário. Esse gráfico, não cumulativo, sempre formará uma curva de distribuição normal (freqüentemente chamada “curva de Gauss” ou “curva do sino), que poderá ou não ser simétrica (Gráfico 01 e Gráfico 02), apresentando curvas de variados formatos (curtoses) que são gerados em função das características da carga incubada e, principalmente, dos microclimas no interior das máquinas. Gráfico 01. Diferentes curvas de Janela de Nascimento No eixo das abscissas o período de incubação e no eixo das ordenadas a porcentagem de pintos nascidos. Observar que o intervalo entre os primeiros e

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Ferramentas para redução da janela de nascimento de pintos

Thomas A. C. Calil Pas Reform do Brasil [email protected]

Os incubatórios brasileiros têm buscado se profissionalizar e se manter atualizados com as últimas tecnologias disponíveis no mercado, principalmente no que se refere à climatização e sistemas de incubação, haja vista a forte presença do sistema estágio único no mercado brasileiro em projetos recentes. Tal profissionalização não busca somente a melhoria dos resultados zootécnicos do incubatório (eclosão), mas também a melhoria dos aspectos intangíveis dos pintos de um dia como a qualidade e os resultados zootécnicos da granja, expressos principalmente pela conversão alimentar, ganho de peso diário e viabilidade. Na busca por melhoria de qualidade, que reflete diretamente no desempenho zootécnico do lote, destacamos o controle da janela de nascimento, que é a medida do intervalo de tempo entre os primeiros e os últimos pintos nascidos em um nascedouro.

A janela de nascimento tem se tornado cada vez mais crítica nos incubatórios brasileiros e os incubadores passaram a compreender a importância desse indicador, pois as conseqüências de uma janela de nascimento ampla são reconhecidamente deletérias não só para a qualidade do pinto de um dia, quanto para a vida do frango de corte como um todo. As principais conseqüências decorrentes de uma janela de nascimento ampla são desidratação e má formação do sistema termorregulatório devido a estresse calórico nos nascedouros convencionais (que não suportam a carga de calor gerada pelos embriões e pintos nascidos) e má formação/imaturidade do sistema gastrointestinal devido ao atraso do fornecimento de água e alimento.

O conceito de Janela de Nascimento como sendo o intervalo entre o primeiro e o último pinto nascido é muito teórico, por isso dizemos os primeiros e os últimos pintos nascidos, como acima descrito. Isso se dá porque, na prática, não sabemos quando o primeiro e, muito menos, o último pinto dentro de um gabinete de eclosão nasceu. Além dessa definição didática, há outro parâmetro importante a se discutir para que haja bom entendimento da janela de nascimento, pois apenas a diferença de tempo entre os primeiros e os últimos nascidos pode nos dar uma falsa impressão de boa janela em alguns casos. Por isso, é importante também analisarmos a janela de acordo com um gráfico em que as aves nascidas são mostradas em função do horário. Esse gráfico, não cumulativo, sempre formará uma curva de distribuição normal (freqüentemente chamada “curva de Gauss” ou “curva do sino), que poderá ou não ser simétrica (Gráfico 01 e Gráfico 02), apresentando curvas de variados formatos (curtoses) que são gerados em função das características da carga incubada e, principalmente, dos microclimas no interior das máquinas.

Gráfico 01. Diferentes curvas de Janela de Nascimento No eixo das abscissas o período de incubação e no eixo das ordenadas a porcentagem de pintos nascidos. Observar que o intervalo entre os primeiros e

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últimos pintos nascidos é o mesmo, embora a curva da janela seja visivelmente diferente. Portanto, comportamentos significativamente distintos podem ocorrer dentro do mesmo intervalo de janela de nascimento, neste caso, de 36 horas.O gráfico A seguramente é a curva de nascimento desejada entre as 3 opções acima, embora o intervalo de 36 seja alto.

Gráfico 02. Diferentes curvas de Janela de Nascimento com picos de eclosão semelhantes. No eixo das abscissas o período de incubação e no eixo das ordenadas a quantidade de pintos nascidos. Neste caso há curtose nos gráficos B e C e, embora a janela de nascimento em horas seja a mesma podemos facilmente concluir que a menos desejada seja a do gráfico B, seguida por A e C. Microclimas de incubadoras ou então ovos com intervalo de estoque amplo (ex:3 a 10 dias no mesmo nascedouro) podem ser a causa para a ocorrência dessas anormalidades.

Com base nos gráficos acima, concluímos que a melhor janela de nascimento é aquela cuja base é a mais estreita (menor intervalo entre primeiros e últimos) e o pico é o mais alto (maior concentração de nascimento e maior simetria). O gráfico 03 mostra essa associação entre intervalo de tempo e pico de nascimento.

Gráfico 03. Nos gráficos ao lado a janela de nascimento é mais curta, ou seja, o gráfico tem base mais estreita (janela de 24 horas versus 36 dos gráficos 01 e 02). De ambos os gráficos, concluímos que o B é o mais desejado por ter o pico mais alto, concentrando a maior proporção de pintos nascidos em um

intervalo médio (menor coeficiente de variação), de modo a não prejudicar o mínimo possível as condições de hidratação dos primeiros.

Bom, vimos algumas dicas sobre a leitura dos gráficos de janela de nascimento e creio que esteja claro o objetivo da visualização dos gráficos. Falando em termos de horas, o intervalo real que podemos considerar varia de acordo com o sistema de incubação adotado e, em suma, as máquinas bem manejadas podem desempenhar diferentes janelas de nascimento, a saber:

Tabela 01. Janela de nascimento comumente encontrada de acordo com o sistema de incubação adotado:

Modelo de incubação Janela de Nascimento (horas)

Estágio Múltiplo Prateleira 36-40

Estágio Múltiplo Carros 28-32

Estágio Único Convencional 24-28

Estágio Único Modular 12-24

Observação: Incubatórios climatizados, independentemente do modelo adotado, normalmente apresentam a janela de nascimento reduzida em torno de 4-8 horas

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Janela de Nascimento e Horário de Nascimento

Freqüentemente nos deparamos com conceitos de janela de nascimento que se confundem com horário de nascimento e é preciso esclarecer que horário de nascimento é outro indicador que deve ser gerenciado pelo incubador buscando-se também a qualidade dos pintos, entretanto, são coisas distintas. O horário de nascimento é o momento ideal para o saque dos pintos, ou seja, o momento em que o nascimento está completo, com pintos já secos (ou em processo final de secagem das penugens, porém com umbigo totalmente fechado) e ainda não desidratados. Se o horário de nascimento se adianta ou se estende para além do previsto não há, necessariamente, um problema ou influência na janela de nascimento. Já a recíproca, ou seja, janela de nascimento fora de controle representa, na maioria das vezes, um problema de horário de retirada, visto que os pintos podem ser sacados muito secos e/ou muito desidratados.

Independentemente do horário de nascimento, a janela pode ser ampla ou curta. Entretanto, vários fatores que influenciam o horário de retirada também exercem influência na janela de nascimento e se faz importante destacarmos os principais, visto que as ferramentas para redução de janela de nascimento muitas vezes consideram um ou outro desses fatores.

A tabela abaixo mostra alguns dos principais fatores que influenciam a janela de nascimento e o horário de retirada/nascimento:

Tabela 02. Principais fatores que influenciam a janela de nascimento e o horário de nascimento/retirada dos pintos.

Indicador Influência na Janela de Nascimento

Influência no horário de retirada

Incubação muito cedo ou tarde - +++

Temperaturas incorretas de incubadoras e nascedouros

++ +++

Alta ou baixa fertilidade ++ ++

Ausência de pré-aquecimento ++ +

Ovos com muitos dias de estoque na mesma máquina (ex 10 dias)

++ +++

Ovos com estoque e sem estoque na mesma máquina (ex de 3 a 10

dias)

+++ +++

Problemas de Ventilação/Umidade/Temperatura

++ +++

Idade das reprodutoras (mesma idade na máquina)

+ ++

Microclima das incubadoras e nascedouros

+++ +

Problemas (sanitários ou climáticos) que levem à

hipertermia das reprodutoras

++ ++

Temperatura instável da coleta á incubação dos ovos

++ +

Como visto acima, a janela de nascimento e o horário de nascimento quase sempre compartilham causas e cabe ao incubador a identificação correta dessas causas com base nos efeitos encontrados no momento do saque. Um bom diferenciador de causas é a condição dos pintos no momento do saque, pois sempre que houver

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problemas de janela de nascimento haverá problemas de hidratação. Por outro lado, quando houver problemas de horário de retirada não necessariamente haverá problemas de desidratação (exemplo: retirada precoce dos nascedouros). A desidratação no nascedouro sempre será acompanhada pelo comportamento patognomônico das aves, que é a ofegação excessiva e a inquietude nas bandejas (pintos piando e se movimentando bruscamente), comportamento que precede aos sintomas de desidratação severa e irreversível que são a prostração, apatia, hipotermia de extremidades (locomotores) e comprometimento do sistema renal, evidenciado à necropsia pelo acúmulo de sais na cavidade abdominal. Em geral, observamos mortalidade excessiva a partir do momento em que os pintos perdem 10% de seu peso inicial após estarem com as penugens secas.

Das causas atribuídas à ampla janela de nascimento, as mais importantes são aquelas relacionadas ao microclima dentro dos gabinetes de incubação. A influência dos microclimas é tão grande que podemos afirmar que, em uma incubadora comercial estágio múltiplo de grande porte (capacidade maior que 100.000 ovos) a formação de microclima é uma realidade praticamente inevitável e há maneiras de se diminuir tais microclimas, mas nunca chegando a homogeneizar a temperatura de modo a eliminar os problemas de janela de nascimento. Nos modelos estágio múltiplo de grande capacidade, sobretudo de prateleiras, a janela de nascimento no Brasil apresenta uma média natural de 36-40 horas quando não se faz nenhum trabalho visando sua redução (tabela 01). É preciso salientar que, quanto maior a capacidade da incubadora e do nascedouro, mais difícil é controlar a dispersão (janela) do nascimento. Pesquisas científicas laboratoriais dificilmente estudam janela de nascimento, pois em pequena escala a sua manifestação não é significativa e por isso, devemos avaliar cautelosamente algumas conclusões como de Tona et al (2003) que estudaram a dispersão de nascimento em ovos com 3 e 18 dias de estoque e não encontraram diferenças significativas. Isso ocorre, possivelmente, porque as máquinas pequenas utilizadas não apresentam os mesmos gradientes de microclima que as máquinas comerciais de grande capacidade. Portanto, sugiro que a Janela de nascimento somente deva ser pesquisada cientificamente em cargas de ovos de grande volume, como por exemplo, acima de 100.000 ovos, também porque máquinas com essas capacidades representam a realidade do mercado mundial de incubação.

Hodgetts (2006) relacionou alguns fatores causadores de aumento da janela de nascimento, tais como: idade do ovo, diferentes linhagens, pré-aquecimento (é melhor não fazer se for para fazer errado, afirma o autor) e a posição dos ovos na incubadora, devido à microclimas de baixa ou alta temperatura. Outra razão discutida pelo autor foi o sistema de incubação utilizado, dando ênfase às variações de temperatura encontradas nos sistemas estágio múltiplo em relação ao único, principalmente devido a vários carregamentos durante o ciclo de incubação, sobretudo em máquinas de seis cargas.

Os microclimas das incubadoras, principalmente estágio múltiplo, exercem influência sobre a janela de nascimento de tal forma que podemos afirmar ser, na prática, o principal parâmetro influenciador da janela. Os microclimas dentro das incubadoras exercem tanta influência sobre a janela de nascimento que passam a praticamente suprimir outras causas citadas na tabela 01. Ou seja, controlar de maneira adequada os microclimas da máquina equivale a controlar outros parâmetros citados. Essa forte afirmação pode ser feita com segurança, pois a temperatura é o parâmetro mais importante no retardo ou aceleração do desenvolvimento embrionário e é esse parâmetro que devemos controlar adequadamente desde o momento pós-postura até o transporte e alojamento, passando pelo nascimento dos pintos.

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Porque controlar a janela de nascimento?

Vários trabalhos técnicos, científicos ou de campo demonstram a importância da janela de nascimento para a hidratação de mortalidade nas primeiras semanas (Tweed, 2008), bem como para a maturação dos sistemas termoregulatório e gastrointestinal.

Meijerhof (2006) destaca que pintos em condições de conforto térmico (conseqüentemente correta temperatura corporal) perdem naturalmente cerca de 1 a 2 gramas de água em 24 horas através da respiração e, quando estão sob estresse calórico em equipamentos incapazes de controlar a temperatura adequadamente essa perda pode chegar a algo em torno de 5 a 10 gramas em 24 horas. Os efeitos da alta permanência nos nascedouros se tornam ainda mais graves e irreversíveis quando da exposição por agentes desinfetantes, sobretudo formalina, como relatado por Garcia (2007), não residindo apenas em desidratação.

Outros fatores têm sido atribuídos à ampla janela de nascimento, como por exemplo, desempenho no campo. A cada hora que a ave está pronta para nascer e permanece em condições inadequadas no nascedouro sua energia é utilizada de forma ineficiente, comprometendo o crescimento, resultando em taxas de conversão alimentar mais altas (Boerjan, 2006).

Hodgetts (2006) confirma a ampla janela de nascimento encontrada nos incubatórios ao afirmar que alguns pintos nascem com 20 dias, outros com 21 dias e em alguns casos até no início do 22º dia, sendo que os melhores incubatórios apresentam janelas de intervalo superior a 24 horas, o que acarreta problemas de desidratação devido aos indivíduos nascidos no início da janela e problemas de má cicatrização umbilical devido aos indivíduos nascidos no final da janela (pintos “verdes”, como descreve o autor).

Os efeitos de uma janela de nascimento ampla não são sentidos somente na planta de incubação através dos sintomas descritos acima, mas também pelos efeitos duradouros na ave, que refletem em mau desempenho no campo. Padrón et al (2009) afirmaram que indivíduos que nascem no início ou no final do processo (com 470 e 510 horas) apresentam menor potencial de crescimento durante a primeira semana do que aqueles que nascem no intervalo intermediário do período, citado pelos autores como 490 horas).

Decuypere (2006) comenta que o intervalo entre nascimento e alojamento (alimentação), quando muito extenso compromete e retarda a utilização de gema residual, o desenvolvimento do trato gastrointestinal, o sistema imune, a absorção de imunoglobulinas G (IgG) e o desenvolvimento geral pós eclosão.

Ferramentas usadas para redução da janela de Nascimento

Os diferentes modelos de máquinas existentes nos incubatórios brasileiros apresentam janela de nascimento variada (tabela 01) e de causas diversas entre si, por isso cabe a cada incubador conhecer o perfil de nascimento do sistema que tem em mãos. As máquinas de tecnologia obsoleta (estágio múltiplo e estágio único convencionais), não têm tecnologia para trabalho de janela de nascimento, necessitando obrigatoriamente, de intervenção humana para minimizar tais problemas. Por outro lado, há máquinas de incubação modernas (estágio único) que são providas de sistemas automatizados de eclosão, compostos por algoritmos que associam o controle de temperatura, umidade relativa e gás carbônico (CO2) de modo a não somente monitorar, como também controlar e gerenciar em tempo real a curva de nascimento de um lote, gerando históricos para auxílio nos processos de melhoria contínua dos incubatórios

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Sistemas de incubação estágio múltiplo e estágio único convencionais

Existem algumas alternativas de manejo no incubatório com sistemas convencionais que podem ser aplicadas visando-se a redução da janela de nascimento. Logicamente, todas as medidas que visem eliminar ou pelo menos minimizar os efeitos das causas discutidas na tabela 02 devem ser aplicadas.

De todas elas a que surtirá mais efeito é a identificação da janela de nascimento por estratos da máquina, ou seja, de acordo com os microclimas gerados. A localização dos microclimas de uma máquina tem forte influência do tipo de equipamentos utilizado e de uma interação deste com o sistema de climatização do incubatório. Mesmo incubatórios climatizados com sistemas de controle de temperatura, umidade relativa e pressão estática apresentam variações de temperatura no interior das incubadoras. Por isso, cabe a cada incubatório fazer uma investigação no intuito de definir os microclimas de cada sistema. Afortunadamente, uma vez encontrados os pontos de microclima, esses sofrem pouca, ou até mesmo, nenhuma influência do lote, da idade dos ovos, da estação do ano etc. Em outras palavras, a localização da máquina onde os pintos adiantam irá promover sempre esse mesmo resultado. Para o ponto onde há atrasos no nascimento essa regra também vale.

Para identificar os microclimas da máquina, tomemos como exemplo uma incubadora estágio múltiplo de prateleiras fixas, que é o modelo predominante no Brasil até o momento. Devemos fazer uma estratificação no sistema seguindo três principais parâmetros: Profundidade, Altura, Lateralidade. Dentro de cada parâmetro, elegeremos quantos pontos buscaremos e é importante escolhermos pontos significativos, sem, entretanto perder a praticidade do trabalho de identificação. Assim, uma sugestão é iniciar pelos seguintes estratos:

- Profundidade: Dianteira (próximo à porta do equipamento) e Traseira (próximo à parede do fundo do equipamento);

- Lateralidade: Corredor (bandejas voltadas para o corredor da máquina) e Lateral ou Parede (bandejas voltadas para a parede da máquina);

- Altura: Superior (bandejas acima da 8ª prateleira) e Inferior (bandejas abaixo da 8ª prateleira). Em alguns casos pode ser utilizado outro estrato, representado pelas bandejas do meio (entre 6ª e 10ª).

O esquema abaixo exemplifica os pontos que podem ser utilizados para identificar microclimas causadores de janela de nascimento.

Esquema 01. Estratificação de um equipamento para identificação dos pontos críticos para a janela de nascimento. A escolha dos pontos formará um esquema fatorial com os 3 fatores (estratos) descritos no texto. Cada estrato conterá 2 ou 3 variáveis. Normalmente é feito um esquema fatorial 2x3x2, representando 12 pontos distintos da máquina.

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Para a medição da janela de nascimento, recomenda-se tomar duas bandejas de cada ponto de modo que a amostragem seja aumentada. É possível amostrar mais de duas bandejas por estrato, entretanto, no momento da transferência a avaliação prática se tornará muito extensa, comprometendo o resultado da análise da incubação.

Com as posições identificadas, identificam-se também as bandejas e procede-se com a transferência. No nascedouro, as bandejas devem ficar em posição que permita fácil acesso e também pode ser criado outro estrato, que é o posicionamento das bandejas em relação ao ventilador da máquina ou à lateral. Se isso for uma opção, é importante assegurar que das 24 bandejas amostradas na incubadora haja 12 em cada estrato do nascedouro.

Uma vez transferidas as bandejas devidamente identificadas, cabe ao incubador criar um procedimento de acompanhamento do nascimento, que idealmente deverá ser feito a cada 4 horas a partir do início dos primeiros pintos nascidos. Portanto, a cada 4 horas os pintos nas bandejas devem ser contados e anotados, para depois serem lançados em planilha eletrônica específica para esse fim.

Ao final do ciclo de incubação ter-se-á uma planilha com a evolução do nascimento, mais ou menos como a tabela abaixo.

Tabela 03. Resultados da avaliação da janela de nascimento de acordo com o número da bandeja.

Observação: O número das bandejas deverá ser rastreado de modo que sua origem não seja perdida. Dessa maneira, haverá como identificar as fontes de variação no nascimento (rastreabilidade).

Após a contagem dos pintos no intervalo determinado será possível traçar a janela de nascimento e normalmente os valores nos surpreendem quando são minuciosamente analisados. A seqüência gráfica a seguir foi obtida de um incubatório comercial de estágio múltiplo no Brasil com bom manejo de incubação.

Número

Bandeja468 472 476 480 484 488 492 496 500 504 508

1 0 0 0 7 31 59 76 79 80 81 81

2 0 0 0 10 46 75 81 87 87 87 87

3 0 0 4 23 53 77 86 86 86 87 87

4 0 1 3 24 59 74 86 87 87 88 88

5 0 0 0 0 19 62 75 85 85 87 87

6 0 0 0 11 52 80 90 91 91 91 91

7 0 0 0 0 24 45 71 87 87 87 87

8 0 0 0 0 29 60 83 89 89 90 90

9 0 0 0 0 8 36 53 80 80 82 82

10 0 0 0 0 16 39 61 84 84 85 85

11 0 0 3 13 42 71 84 86 86 86 86

12 0 0 2 6 40 76 79 83 83 84 84

13 0 0 0 0 10 28 61 83 83 85 85

14 0 0 0 6 21 49 81 87 87 87 87

15 0 2 6 20 53 82 87 87 87 87 87

16 0 0 4 24 58 68 77 86 86 86 86

17 0 0 0 0 11 76 76 87 87 87 87

18 0 0 0 0 18 61 85 92 92 92 92

19 0 0 0 0 16 50 72 85 85 86 86

20 0 1 2 10 42 78 85 87 87 87 87

21 0 0 0 20 41 72 92 92 92 92 92

22 0 0 4 13 48 73 85 87 87 88 88

23 0 0 0 0 41 42 71 90 90 90 90

24 0 0 0 0 17 35 65 91 91 91 91

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Gráfico 04. Em A nota-se a janela de nascimento não cumulativo de aproximadamente 32 horas (média de 24 bandejas), um valor normalmente encontrado nas condições brasileiras. Ao analisar o gráfico sem considerar as estratificações, podemos dizer que a janela é boa, ou seja, com pico alto e base relativamente estreita, apresentando boa concentração de pintos por volta de 484 horas de nascimento. Entretanto, quando isolamos as 24 bandejas de cada estrato, percebemos que a realidade é bem diferente do que visto inicialmente e as bandejas se comportam de forma significativamente distinta, como visto no gráfico B.

Pelo exposto nos gráficos acima podemos perceber que algumas bandejas apresentam pico de nascimento em um momento, ao passo que outras apresentam pico de nascimento relativamente mais tarde.

Como há rastreabilidade da origem de cada bandeja, com uma planilha eletrônica é possível encontrar similaridades entre elas e relacionar o nascimento a cada um dos estratos. Como definido anteriormente, tomamos, por exemplo, os estratos da profundidade, lateralidade e altura. Assim, formaremos os gráficos abaixo:

Gráfico 05. Em A tem-se as variáveis do estrato altura (Inferior e Superior). Em B, as variáveis do estrato Lateralidade (Corredor e lateral). Finalmente, no gráfico C podemos observar as variáveis do estrato Profundidade (Dianteira e Traseira). Pela análise desses gráficos de janela de nascimento percebemos que há variação em todos os estratos estudados. Entretanto, é facilmente perceptível a maior variação do estrato “Profundidade”, visto que as bandejas da dianteira e traseira da máquina estão mais afastadas entre si do que as variáveis dos demais estratos.

Como foi exposto no início desse artigo (tabela 02), o microclima das incubadoras desempenha o mais importante papel sobre a dispersão dos nascimentos e essa análise proposta pode justificar tal afirmativa, pois se analisando os dados de forma cumulativa

A B

A B

C

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podemos perceber que a janela de incubação quando analisada por bandeja, não representa grandes variações, sendo que cada bandeja apresenta aproximadamente a mesma janela de nascimento (intervalo entre os primeiros e últimos pintos nascidos). Observando o gráfico 06 poderemos entender melhor tal justificativa.

Outro fator citado na tabela 02 como prejudicial à boa janela de nascimento é a incubação de lotes com estoque variado, como por exemplo, de 03 a 10 dias na mesma máquina, situação comum para os incubatórios das casas genéticas e eventual para os incubatórios comerciais no Brasil. A análise do gráfico 06 considera ovos com variação de estoque menor, o que é comumente utilizado em nosso país.

Gráfico 06. Em A tem-se o gráfico do nascimento acumulado (janela de 32 horas) obtido da média entre as 24 bandejas analisadas em outro incubatório comercial brasileiro. Em B as curvas de janela de nascimento de cada uma das bandejas que compuseram a média observada em A. Tomando-se como parâmetro uma bandeja do início e outra do final do nascimento (rótulos de dados vermelhos e azuis, respectivamente) notamos que a janela de nascimento por bandeja não difere significativamente, apenas o horário de início do nascimento. Ambas as bandejas identificadas em B (vermelha e azul) mostram janela de aproximadamente 28 horas. Portanto, uma curva com janela de 32 horas é sempre composta por bandejas cujo nascimento mostra uma dispersão menor, cerca de 28 horas, como no caso do gráfico acima. As bandejas de diferentes estratos, então, apresentam janela de nascimento semelhantes, contudo, distanciadas cerca de 8 horas umas das outras, como mostra o quadro circulando percentual de nascimento bastante próximo entre as bandejas distantes 8 horas umas das outras.

Com as observações dos gráficos 05 e 06 é possível concluir que a janela de nascimento obedece a uma deficiência do equipamento em manter condições homogêneas e que as bandejas, individualmente, não apresentam ampla janela de nascimento. Com base nessas informações há inúmeras ferramentas de manejo que podem ser adotadas e que efetivamente minimizam as perdas de uma ampla janela de nascimento.

Tais medidas já foram discutidas (Calil, 2007); demandam manejo e devem ser criteriosamente estudadas caso a caso, visto que cada modelo de equipamento ou sistema de incubação poderá apresentar variações diferentes em cada um dos estratos mostrados no esquema 01.

Uma vez que, baseado na estratificação das bandejas, é possível rastrear qual porção da máquina adianta e qual porção atrasa, pode-se montar esquemas de incubação, transferência e retirada adequados para minimizar os efeitos da deficiência encontrada. Para qualquer decisão tomada de manejo, deve-se avaliar o benefício, que neste caso é comum (melhora da janela de nascimento), bem como as condições e riscos que cada alternativa impõe.

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Seguem algumas alternativas:

Uma vez identificados os microclimas da máquina, poderemos realizar a transferência dos ovos de duas incubadoras para um nascedouro. Ex.: parte superior da máquina 01 transferida juntamente com parte superior da máquina 02 para o nascedouro 01. As partes inferiores das duas máquinas são transferidas para o nascedouro 02. Para que essa metodologia funcione adequadamente as incubadoras devem ser de mesmo modelo e serem ventiladas da mesma maneira, bem como estarem 100% em dia com as manutenções preventivas. Se isso não ocorrer, o nascimento poderá ser dessincronizado. Logicamente, é conveniente que o lote seja o mesmo, ou então de mesma faixa etária e os ovos classificados sob o mesmo critério.

Uma vez identificados os microclimas da máquina, poderemos realizar a transferência dos ovos para um carrinho de incubação de acordo com o perfil de temperatura e não sempre na vertical, na horizontal ou qualquer outra maneira. Ex.: cada carrinho de ovos transferidos representará um microclima específico da incubadora. Utilizando-se essa metodologia a janela de nascimento será minimizada por carinho. Como conseqüência, o saque dos pintos deverá ser feito de acordo com o nascimento do carrinho, levando a duas ou mais intervenções no nascedouro, sem que um mesmo carrinho precise voltar ao nascedouro para posterior segundo saque.

Uma vez identificados os microclimas da máquina, poderemos realizar a incubação de maneira estratificada e intervalada conforme o período de incubação apresentado pelo microclima encontrado. Ex.: incubar porção mais quente tantas horas mais tarde quanto for o período de adiantamento dos ovos localizados nessa porção da máquina. Para que essa alternativa seja eficaz é imprescindível que haja um correto pré-aquecimento dos ovos, pois, caso contrário, haverá flutuações de temperatura dos ovos já carregados por 10 vezes durante todo o ciclo (com 3, 7, 10, 14 e 17 dias = cinco vezes x 2 incubações fracionadas). Cada vez que uma fração da carga for incubada, os ovos já em processo de incubação perderão calor caso não haja o correto pré-aquecimento.

A adoção dessas medidas certamente trará mão de obra extra para o incubatório, entretanto, promoverá a redução da janela de nascimento em algo estimado entre quatro e oito horas, passando das atuais 32-36 horas (dados médios brasileiros) para cerca de 28-32 horas.

Sistemas de incubação estágio único modular

Como discutido brevemente no início desse tópico, há sistemas de incubação providos de recursos capazes de monitorar e controlar o processo de nascimento através da interação e intervenção entre os principais parâmetros físicos controlados em um nascedouro.

É importante relembrar que durante o período de nascimento o embrião passa pelas transições mais críticas de sua vida e por isso, esse processo o estressa e o deixa

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em uma condição de exaustão energética e muscular como nenhuma outra fase de sua vida (até o abate!). A condição fisiológica dos embriões durante todo o ciclo das incubadoras e nascedouros foi extensivamente estudada por Hamidu et al (2007) e este trabalho evidenciou que a tendência das linhas modernas (estudando Cobb 500 e Ross 308) é a mesma citada na literatura do século passado, entretanto os valores de consumo de O2, geração de CO2 e calor metabólico são significativamente diferentes, exigindo sistemas de incubação capazes de lidar com esse incremento metabólico. O gráfico 07 mostra a geração de CO2 e dá evidências sobre a fase de estresse fisiológico que ocorre nos momentos pré-eclosão.

Gráfico 07. Produção de CO2 em duas linhagens diferentes de frangos de corte de acordo com o período de incubação (adaptado de Hamidu et al, 2007). O período circulado em linhas tracejadas (imediatamente pré e pós-transferência) marca o início do momento de maior estresse para a vida embrionária. O platô na produção de CO2 indica diminuição no consumo de oxigênio possivelmente devido à incapacidade da casca (condutância) e do sistema circulatório embrionário em absorver volume suficiente (de O2) para sua demanda (Hamidu et al, 2007). Após a bicagem interna (círculo de linha contínua) o metabolismo se acelera, atingindo os maiores níveis em toda e vida embrionária, evidenciando toda a exigência metabólica do processo de nascimento e nos alertando para o melhor gerenciamento possível durante esse período.

Durante a fase de nascimento, que muitas vezes é didaticamente dividida em 4 partes (bicagem interna, transição de respiração cório-alantoideana para pulmonar, bicagem externa e nascimento propriamente dito), a ave passa pelas seguintes transições (Decuypere, 2006):

- Transição de um ambiente aquoso pré-eclosão para um ambiente seco pós-eclosão;

- Transição da respiração cório-alantoideana para pulmonar;

- Transição de uma condição poiquilotérmica para uma condição em que há reações homeotérmicas em respostas às variações de temperatura;

- Transição das fontes de energia de origem primariamente lipídica (gema) para fontes de carboidratos.

Com esses efeitos, afirma Decuypere (2006), o rápido acesso à água e alimento ocasionado por um sistema de incubação que proporcione menor janela de nascimento, promoverá um melhor resultado de campo ao evitar perda de água devido ao amplo intervalo de jejum.

A partir do momento em que os embriões realizam a bicagem interna o ambiente no interior do ovo e do nascedouro se alteram, principalmente no que se refere à Umidade

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Relativa. Isso porque no interior da câmara de ar a umidade relativa é sempre mais baixa do que no interior do ovo e mais alta do que no ambiente do nascedouro. Com a bicagem interna a umidade relativa da câmara de ar se eleva e, conseqüentemente, a perda de umidade para o ambiente da máquina também é elevado pelo aumento do gradiente câmara de ar-exterior do ovo. Isso faz com que o nascedouro apresente o início da elevação da Umidade Relativa. Após a bicagem interna, que dura cerca de 5 – 10 horas para ovos sem estoque e com estoque respectivamente (Decuypere, 2006), ocorre a bicagem externa e, a partir daí há uma imensa evaporação de água do interior dos ovos e pulmões para o ambiente da máquina (evaporação de resquícios de anexos embrionários e agentes surfactantes que até então participavam do colabamento pulmonar). Com isso, naturalmente a umidade relativa apresenta um aumento e o gerenciamento da janela de nascimento se inicia.

Após o nascimento de todos os embriões viáveis, a umidade relativa tende a não se re-estabelecer aos níveis pré-nascimento, pois neste momento a perda por evaporação fará com que a umidade relativa seja mantida; entretanto, há uma queda nos níveis de umidade relativa e essa queda marca o final do processo de nascimento.

O intervalo entre a bicagem interna e a eclosão oscila entre cinco e doze horas e esse é o momento crítico do controle da janela de nascimento no nascedouro, pois é necessário identificar precisamente esse intervalo de tempo para que a máquina programe a melhor curva de eclosão possível com base nos dados reais de emissão de umidade relativa e gás carbônico (CO2), sobretudo após a bicagem externa.

Os nascedouros capazes de controlar e monitorar a janela de nascimento trabalham a renovação de ar baseando-se nos níveis de CO2 ambiente, associando-os às curvas de umidade relativa e temperatura, pois, quando o nascimento se inicia, pela primeira vez os pintainhos estarão respirando normalmente fora do ovo, emitindo o máximo até então de umidade e CO2. Os nascedouros providos com sistemas automatizados de eclosão monitoram e controlam os níveis de CO2 automaticamente, mantendo um nível constante deste gás no interior da máquina através de maior ou menor renovação de ar fresco no gabinete.

Este mecanismo de controle de CO2 funciona em conjunto com o controle de umidade. Quando o nascimento se inicia, a geração de CO2 aumenta rapidamente e a umidade também aumentará acima do valor ideal estipulado. Picos de umidade irão ocorrer durante o nascimento e a queda deste parâmetro indicará o fim da janela de nascimento, momento em que praticamente todos os pintainhos estarão nascidos. Para controlar os ascendentes níveis de CO2 o sistema trabalha o mecanismo de ventilação (distribuição de ar) e aeração (abertura de dampers para renovação de ar) de forma proporcional à demanda (inversão de freqüência e abertura progressiva dos dampers).

Como o gerenciamento da janela de nascimento ocorre em associação com o controle de CO2 devemos ter em mente que abertura do nascedouro deve ser evitada ao máximo, impedindo a perda das concentrações de gases essenciais ao bom nascimento. Por essa razão, sistemas de desinfecção contínua nos nascedouros devem ser bem pensados e o programa executado de modo a não prejudicar a dinâmica de gases no interior do gabinete.

O gráfico 08 mostra o histórico climático de dois nascedouros com sistema automatizado de eclosão e uma janela de nascimento em torno de 15 horas. O gráfico 09 mostra alguns detalhes do funcionamento dos sistemas automatizados de eclosão, que gerenciam e encurtam a janela de nascimento.

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Gráfico 08. Histórico climático de dois nascedouros no mesmo dia e na mesma sala de eclosão com sistema automatizado de eclosão (controle e gerenciamento da janela de nascimento). A janela de nascimento do gráfico A e B ficou em torno de 15-17 horas através do adequado entendimento e gerenciamento do metabolismo embrionário em tempo real. Há de se notar que o controle da janela de nascimento não pode ser algo apenas matemático e, sim uma interação entre os algoritmos contidos no software da máquina e o comportamento metabólico do plantel de embriões contidos na mesma. Isso se faz real observando-se as curvas de umidade (azul claro) e damper (verde escuro) dos gráficos A e B. Para manter o mesmo valor de CO2 (linha verde clara estável) a máquina A trabalhou mais fechada. Também, a curva de umidade apresentou base mais larga (queda pós pico mais tardia). Esses fatores indicam que houve menor atividade metabólica no nascedouro A em relação ao B, possivelmente devido à menor eclosão do primeiro nascedouro. As razões para isso podem ser: estoque mais elevado, maior idade de lote, maior índice de infertilidade etc. O fato de o comportamento da janela de nascimento ter sido semelhante evidencia a obrigatoriedade do sistema em identificar, em tempo real, as necessidades metabólicas de cada situação.

O gráfico 09 abaixo nada mais é do que uma breve explicação dos eventos marcantes para o gerenciamento e mensuração da janela de nascimento.

Faz-se imprescindível ajustar os parâmetros físicos do nascedouro – Ventilação, níveis de CO2, Temperatura e Umidade Relativa – para cada situação e é importante termos em mente que não há padrões pré-estabelecidos para linhagens, idade de reprodutoras e de ovos, condições climáticas externas ao incubatório, altitude, sistema de climatização adotado etc.; ou seja, cada incubador de posse dos próprios números irá criar sua metodologia de trabalho e o sistema de incubação será um poderoso aliado na busca incessante por melhorias zootécnicas e econômicas.

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Gráfico 09. Eventos importantes a serem observados em um ciclo de nascimento.

01. Início do ciclo de eclosão (final da transferência dos ovos) 02. Início da elevação da abertura da máquina pela geração de CO2 a partir do 19-20

dia de incubação (Hamidu et al, 2007). O damper abre conforme a produção de CO2, objetivando manter a concentração desse gás como estipulado (no exemplo acima 5.000ppm ou 0,5%).

03. Início da bicagem externa e do nascimento propriamente ditou, ou seja, início da janela de nascimento.

04. Pico de eclosão. Momento em que ocorre a maior concentração de nascimentos 05. Queda pré-determinada dos níveis de umidade relativa, indicando o final do

processo de eclosão e mantendo-se a queda de umidade relativa proporcional até que se atinja um valor estável, correspondente às perdas de umidade dos pintos por evaporação respiratória. Este ponto marca o final da janela de nascimento e o sistema emite um alerta de nascimento, indicando ao incubador que as aves estão nascidas em processo de secagem das penugens para que a retirada possa ser programada conforme a conveniência de cada planta.

06. Alteração de temperatura, visando conforto térmico das aves nascidas e com as penugens secas e umbigos completamente cicatrizados. É um manejo opcional para os incubatórios que acondicionam os pintos nos nascedouros aguardando para serem processados em condição de conforto térmico. É uma regra de campo não permitir que a soma da temperatura com a umidade relativa ultrapasse o valor de 170 no final do nascimento. Por exemplo, temperatura de 98,0°F e umidade relativa de 65% fornecem a soma 163, adequada para se evitar estresse calórico no nascedouro (associado à boa circulação de ar e adequados níveis de CO2)

07. Momento da retirada dos pintos do nascedouro. Final do processo.

Porque a Janela de Nascimento não pode ser reduzida ainda mais?

O mercado de incubação atualmente busca reduzir cada vez mais a janela de nascimento, e não raramente encontramos valores próximos de 12 horas, que é a meta da maioria dos sistemas de incubação que trabalham com desenvolvimento de novas tecnologias. Há alguns anos não se pensava em janela de nascimento de 12 horas, e a ciência, os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento associados a resultados e ensaios de campo têm mostrado que 12 horas é uma meta que será alcançada em breve pelos modernos sistemas de incubação. E porque não menos que 12 horas?

Existem algumas razões para isso e as principais residem no que em biologia chamamos de variabilidade natural. Há variabilidade em todos os aspectos da avicultura e é com ela que os geneticistas trabalham, buscando encontrar diferenças (variantes) entre grupos seletos de indivíduos.

Essa variabilidade é encontrada em vários fatores que influenciam a janela de nascimento, como por exemplo, a condutância da casca, medida simplesmente por sua espessura em procedimentos rotineiros dos incubatórios. Calil e Lourenço (dados não publicados, 2007) estudaram a temperatura embrionária (casca dos ovos) de acordo com a densidade dos ovos e encontraram valores significativamente diferentes, expondo uma variável (espessura da casca) que indiretamente provoca heterogeneidade no desenvolvimento embrionário, visto que ovos de casca mais espessa apresentam menor condutância aos gases vitais ao desenvolvimento e à temperatura (menor dissipação, conseqüente aceleração do metabolismo e nascimento dessincronizado). O gráfico 10 mostra a temperatura embrionária obtida do referido trabalho.

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Gráfico 10. Temperatura embrionária em máquina estágio múltiplo (média das máximas) de acordo com a densidade dos ovos (medida indireta da espessura da casca, indicada na legenda). Ovos com casca mais espessa (menor condutância) tendem a desenvolver embriões sob temperatura mais elevada e, conseqüentemente, tendem a apresentar embriões que nascem mais cedo. Embriões com qualidade de casca inferior aparentemente não apresentam tantos problemas de dissipação de calor e por isso não mostram aceleração no desenvolvimento e nascimento precoce. Essa variável é uma das que se mostram difíceis de serem contornadas para diminuição da janela de nascimento.

Outro fator que contribui para a manutenção de um período mínimo de janela de nascimento é a variabilidade do estágio inicial de desenvolvimento pós-postura e pré-incubação. Reijrink et al (2008) citaram que em amostras de ovos divididas quanto ao estágio de desenvolvimento embrionário (Pré-gastrula ou gástrula) os que estavam em estágio de gástrula apresentavam eclosão significativamente superior aos ovos em estágio de pré-gastrula, indicando que o estágio de desenvolvimento pré-incubação é uma outra variável a ser considerada. Controlar o estágio de desenvolvimento após a postura é uma tarefa dependente mais que nada, da fisiologia da ave reprodutora, visto que pequenas alterações em sua temperatura corporal podem influenciar o estágio de desenvolvimento embrionário no momento em que o ovo é posto. O controle do desenvolvimento pós-postura e pré-incubação é outra variável e essa está mais na mão dos manejadores (granja, transporte, incubatório) do que da fisiologia aviária e deve ser exercido com todo o empenho possível.

Outras variáveis que influenciam e dificultam o controle da janela de nascimento residem na evolução genética. Essas variabilidades são o combustível de toda seleção genética e, obviamente, os embriões, embora oriundos de seleções com os mesmos critérios há várias gerações, apresentam comportamentos diferentes. E, infelizmente, essas variáveis não estão ao alcance de nossas mãos e nada poderemos fazer para controlá-las.

Portanto, enquanto houver variabilidade, a genética avançará trazendo consigo mais e mais desafios à indústria avícola.

Estejamos preparados!

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