Ferramentas para a Gestão do Conhecimento em Agências de Propaganda
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Utilização de Ferramentas para a Gestão do Conhecimento:
Um Estudo de Caso das Práticas Adotadas em Agências de Propaganda
Maria Augusta Orofino (UFSC/EGC – [email protected])
Marco Antonio Harms Dias (UFSC/EGC - [email protected])
Mauricio Manhaes (UFSC/EGC - [email protected])
Neri dos Santos (UFSC/EGC – [email protected])
Este artigo apresenta um estudo sobre as agências de propaganda como organizações
intensivas em conhecimento com a finalidade de identificar as práticas de gestão do
conhecimento no que concernem as interações entre seus gestores e colaboradores. As
agências de propaganda têm uma atuação característica de organizações intensivas em
conhecimento considerando que sua atuação é basicamente cognitiva e tem no conhecimento
sua principal matéria prima para a produção de seus bens e serviços. Partindo de uma revisão
bibliográfica sobre o tema, evidenciando o ambiente organizacional, gestão do conhecimento
e organizações intensivas do conhecimento, buscou-se analisar o perfil de três empresários do
ramo de publicidade, na cidade de Florianópolis, SC. Não houve delimitação a priori do
número de intervenções necessárias. Utilizou-se a estratégia de estudo de caso com métodos
qualitativos para levantamento e análise dos dados, por meio de análise de documentos e
entrevista semi-estruturada. O propósito foi buscar informações sobre o comportamento e as
ações dos gestores das agências de propaganda no contexto empresarial frente às ações
relacionadas à gestão do conhecimento. O instrumento de coleta de dados foi desenvolvido a
partir do modelo de ferramentas apresentado pelo National Library for Health - ABC of
Knowledge Management (NHS, 2005). Os dados foram analisados e comparados com as
características de uma organização intensiva em conhecimento bem como pela
fundamentação teórica relativa à gestão do conhecimento, apontados no decorrer do artigo. Os
resultados demonstram que nas empresas pesquisadas, apesar da crença dos gestores de que o
conhecimento é um diferencial competitivo, ainda não há a maturidade necessária aos
processos de gestão do conhecimento, principalmente pela falta de efetividade nas práticas
adotadas e pela não explicitação do conhecimento. Percebeu-se a necessidade de avaliar
outros contextos ambientais, envolvendo diretamente a avaliação de colaboradores,
fornecedores e clientes.
Palavras chaves: Organizações intensivas em conhecimento; gestão do conhecimento; agência
de propaganda.
1. INTRODUÇÃO
A gestão do conhecimento gradativamente assume uma função multidimensional que abrange
a maioria dos processos organizacionais. A ênfase na criação, desenvolvimento e organização
do conhecimento assemelha-se a uma mola propulsora de melhoria continua da sociedade. Por
volta dos anos oitenta do século XX as organizações identificaram o crescente papel do
conhecimento como forma de impulsionar o ambiente competitivo. Essas descobertas
2
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surgiram simultaneamente em várias partes do mundo e colocaram líderes e empresários a
perseguir maneiras de criar e gerar valor a partir do conhecimento (WIIG, 1997).
O repasse de conhecimento sempre foi uma preocupação de várias civilizações, porém não
ocorria de forma sistemática, não visava a promover o sucesso organizacional e tão pouco era
percebido como um valor. Atualmente as empresas utilizam o conhecimento com o propósito
de gerir todos os seus processos de forma efetiva. A revolução do conhecimento é o novo
cenário de atuação das organizações. E, com isso, a gestão do conhecimento extrapola o nível
organizacional restrito e alcança o ambiente externo. Ambiente este, no qual as exigências são
colocadas por um mercado amplo, sem limites e fronteiras. (WIIG, 1997; SVEIBY, 1998).
Quando o ambiente organizacional é propício à conversão de informação em conhecimento e
passa a estimular o aprendizado colaborativo entre pessoas, acaba por agregar valor aos seus
produtos e serviços. Nesse sentido, essas organizações produzem novos conhecimentos,
gerenciados continuamente, para que assim “criem, validem e apliquem novos conhecimentos
nos seus produtos, processos e serviços” (BHATT , 2001), por meio de pessoas motivadas.
Este artigo pretende analisar a utilização de ferramentas para a gestão do conhecimento em
agências de propaganda, através de um estudo de caso das práticas adotadas para esse fim.
Apresenta no capítulo dois uma fundamentação teórica sobre o que são organizações
intensivas em conhecimento e uma compilação de ferramentas de gestão do conhecimento.
No capítulo três é descrito como as agências de propaganda se enquadram como organizações
intensivas em conhecimento. No quarto capítulo são apresentados os aspectos metodológicos
adotados para a elaboração deste estudo, como uma pesquisa descritivo-exploratória,
caracterizada como estudo de caso. Utilizando-se de métodos qualitativos desenvolveu-se o
artigo visando à busca de dados que corroborassem a fundamentação teórica apresentada. Os
resultados da pesquisa são apresentados no capítulo cinco, onde é abordado o mercado da
propaganda no qual os sujeitos da pesquisa estão inseridos e o levantamento dos aspectos
interacionais apresentados nas empresas pesquisadas. Os autores apresentam as limitações e
suas considerações no capítulo seis do artigo, seguido da conclusão e referências.
2. ORGANIZAÇÕES INTENSIVAS EM CONHECIMENTO
O objetivo desse artigo é identificar o processo de gestão do conhecimento em agências de
propaganda no que concerne às interações entre seus gestores, fornecedores e colaboradores e
verificar as similaridades.
Organizações intensivas em conhecimento são aquelas onde o desenvolvimento do trabalho é
de natureza predominantemente cognitiva e tem como principal fator de produção o
conhecimento em detrimento dos recursos naturais e do trabalho baseado em mão-de-obra e
capital (SANTOS, 2009). Com base nessa definição entende-se que esse tipo de organização
não sobrevive sem o conhecimento e a sua aplicação e criação constituem o porquê da sua
existência. Na medida em que o conhecimento é importante para a organização, maior é a sua
capacidade em renová-lo sistematicamente visando à inovação permanente. O conhecimento
está na cabeça das pessoas e de alguma forma deve ter uma representação explícita, para que
possa dar vantagem competitiva à organização. A gestão do conhecimento identifica dois
3
3
problemas principais, quais sejam: gerir as partes envolvidas do conhecimento e gerir a
criação de um novo conhecimento (HENDRIKS & VRIENS, 1999). Desta forma, a gestão do
conhecimento está baseada no principio de que o maior valor nas organizações é o
conhecimento das pessoas que a integram. Entretanto, o grau de desempenho dependerá entre
outras aspectos em como efetivamente as pessoas podem criar um novo conhecimento,
compartilhar esse conhecimento no ambiente organizacional e usar esse conhecimento da
melhor forma (NHS, 2005; CHOO, 2006).
Compete à organização intensiva em conhecimento interagir com o ambiente em que está
inserida, identificando e dando significado aos sinais por meio da interpretação. A partir de
novos conhecimentos mobilizados através das pessoas e dos processos, a organização estará
inovando e aprendendo constantemente. E a partir do seu histórico e do que os seus
integrantes conhecem, na medida em que estabelecem as premissas decisórias, a organização
será conduzida para a inovação de produtos e novas competências (KATZ ET AL, 2000;
CHOO, 2006).
As organizações do século vinte e um são extremamente complexas para se definir e
manterem-se, uma vez que devem integrar necessidades de um grande número de entidades
distintas, muitas das quais são concorrentes em seus respectivos produtos e mercados (KATZ
ET AL, 2000). Por serem intensivas em conhecimento podem ser classificadas sob dois
aspectos: a) princípios e processos inerentes à gestão do conhecimento e pessoas; b) pelo uso
de ferramentas para a captação, a disseminação e o armazenamento do conhecimento
organizacional. Estas serão apresentadas no capítulo quatro (NHS, 2005).
3. AS AGÊNCIAS DE PROPAGANDA COMO ORGANIZAÇÕES INTENSIVAS EM
CONHECIMENTO
As agências de propaganda têm uma atuação característica de organizações intensivas em
conhecimento considerando que sua atuação é basicamente cognitiva e tem no conhecimento
sua principal matéria prima para a produção de seus bens e serviços. Comparando com as
características apresentadas por Santos (2009), as agências de propaganda apresentam
múltiplas fontes de conhecimentos internos (pessoas, cultura organizacional, sistemas
administrativos, sistemas computacionais, rotinas; procedimentos, etc) e de conhecimentos
externos (clientes, fornecedores, concorrentes, marca, imagem, cidadãos e sistemas de
tecnologia e informação). Têm disposição para competir e habilidade para mudanças e as
decisões sobre o trabalho são tomadas por aqueles que o executam.
De acordo com as peculiaridades de uma organização orientada para o conhecimento,
conforme proposto por Sveiby (1998), as agências de propaganda apresentam um alto grau de
customização. O conhecimento organizacional é vendido como processo; obtém lucros
crescentes decorrentes de sua eficácia; possuem poucos clientes e seu investimento principal é
em pessoas. As agências de propaganda também podem ser consideradas como organizações
intensivas em conhecimento tendo em vista que: apresentam uma estrutura organizacional
flexível e mutável; a autoridade é baseada no conhecimento e na consulta; a estrutura de
cargos e funções é ocupada por pessoas flexíveis e polivalentes; o processo de comunicação
4
4
normalmente ocorre na linha horizontal e as decisões são adotadas de forma descentralizada
(SVEIBY, 1998).
4. O MAPEAMENTO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO EM AGÊNCIAS DE
PROPAGANDA: UM ESTUDO MULTI-CASOS EM TRÊS AGÊNCIAS DE
PROPAGANDA SITUADAS EM FLORIANÓPOLIS
4.1 Aspectos Metodológicos
Com uma pesquisa descritivo-exploratória, caracterizada como estudo de caso, utilizando
métodos qualitativos desenvolveu-se o artigo visando à busca de dados que corroborassem a
relação entre o apresentado por Bhatt (2001) sobre as interações como base para a gestão do
conhecimento e a realidade das agências de propaganda. Creswell (2007) afirma que em
pesquisa qualitativa os pesquisadores podem por meio de um estudo de caso explorar
processos, atividades ou eventos.
Adotou-se agência de propaganda como sujeito da pesquisa por se caracterizar como uma
organização intensiva em conhecimento e não houve delimitação a priori do número de
intervenções necessárias. Visualizou-se uma confluência de informações a partir da segunda
entrevista e foram para uma terceira entrevista que confirmou as percepções levantadas nas
duas primeiras. A escolha das agências e do local teve como premissas os seguintes fatores:
empresas que envolvessem mais de vinte colaboradores em seus processos, que tivessem mais
de cinco anos de atuação e boa reputação na área. Este último aspecto sempre validado pelo
levantamento dos principais clientes atendidos pelas mesmas.
Tendo como objetivo de pesquisa reconhecer nas agências de propaganda, frente às suas
ações e procedimentos, os aspectos de gestão do conhecimento, especificamente no que
concernem às interações entre seus gestores, fornecedores e colaboradores, localizou-se em
NHS (2005) uma relação de ferramentas para aplicação de gestão do conhecimento. .
Ferramenta Do que trata
Lições Aprendidas Uma ferramenta desenvolvida pelo exército dos EUA e agora
amplamente utilizada em organizações para captar as lições
aprendidas durante e após uma atividade ou projeto.
Comunidade de Prática Grupo de pessoas que desenvolvem e compartilham
conhecimentos em torno de temas específicos.
Auditoria do
Conhecimento
Um processo sistemático para identificar as necessidades,
recursos e fluxos de conhecimento de uma organização, como
uma base para entender onde e como uma melhor gestão do
conhecimento pode agregar valor.
Desenvolvimento de
Estratégia de Gestão do Conhecimento
Abordagens para o desenvolvimento de um plano formal de
gestão do conhecimento que esteja alinhado com a estratégia e objetivos globais de uma organização.
Entrevistas de
Desligamento
Ferramenta utilizada para capturar o conhecimento de
trabalhadores que deixam a organização.
Melhores Práticas Abordagens para capturar as melhores práticas identificadas em
uma parte da organização e compartilhá-las para o benefício de
5
5
todos.
Centros de Conhecimento Utilizados para conectar as pessoas entre si, bem como com as
informações contidas em documentos e bases de dados.
Colheita de Conhecimento Ferramenta usada para capturar o conhecimento dos
especialistas e torná-lo disponível para outros.
Assistência por Pares Aprender com as experiências dos outros antes de se iniciar
uma nova atividade ou projeto.
Rede de Relacionamentos Mapeamento de relacionamentos entre pessoas, grupos e
organizações para entender como essas relações facilitam ou
dificultam o conhecimento.
Storytelling Uso da antiga arte de contar histórias para compartilhar
conhecimentos de uma forma mais significativa e interessante.
Páginas Brancas Recurso online que permite às pessoas encontrar colegas com
conhecimentos específicos e especializados. Quadro 1 – Ferramentas da GC
Fonte: elaborado pelos autores a partir de NHS (2005)
Os autores deste artigo construíram a partir dessa listagem de ferramentas um instrumento de
coleta de dados, conforme sintetizado no Quadro 2. A pesquisa foi realizada na forma de
entrevista semi-estruturada, conforme Yin (2001) e Creswell (2007), com os principais
gestores das agências de propaganda selecionadas. Foram gravadas e posteriormente
trabalhadas a fim de se selecionar os pontos focais mais relevantes. As entrevistas ocorreram
no mês de setembro de 2009. Os dados foram analisados e comparados com as características
de uma organização intensiva em conhecimento bem como pela fundamentação dos conceitos
de gestão do conhecimento, apontados e descritos anteriormente.
Perguntas-chave Orientação do
diálogo Ferramenta a identificar
1. Como a empresa captura lições
aprendidas durante e depois de um
projeto?
História de empresa Revisões pós Ação
2. A empresa junta pessoas para
desenvolver e compartilhar
conhecimento sobre temas
específicos?
Cotidiano do trabalho Comunidades de Prática
3. A empresa procura identificar
necessidades de conhecimento e
como ele pode agregar valor?
Vivência do gestor Auditoria do
Conhecimento
4. As estratégias da empresa estão
relacionadas com gestão do
conhecimento?
Escopo do negócio da
empresa
Desenvolvimento de
Estratégia de Gestão do
Conhecimento
5. Os parceiros (não clientes) que
terminam um relacionamento com a
empresa têm seus conhecimentos
capturados?
Cotidiano do trabalho Entrevistas de saída
6. Quando alguém faz algo de
melhor na empresa é descoberto ao
acaso ou há mecanismos de busca?
Cotidiano do trabalho
História da empresa
Vivência do gestor
Melhores práticas
6
6
Como a empresa compartilha essas
melhores práticas?
7. Como os conhecimentos são
armazenados e disponibilizados na
empresa?
Descrições das
atividades
Centros de Conhecimento
8. Há práticas de absorção de
conhecimento por parte de
especialistas?
Vivência do gestor
Cotidiano do trabalho
Colheita do conhecimento
9. Há busca de aprendizado com as
experiências de outros antes do
início de um novo projeto?
Cotidiano do trabalho
Descrições das
atividades
Retorno de experiências
10. Há preocupação no
mapeamento dos relacionamentos
para o entendimento dos fluxos de
conhecimento?
Descrições das
atividades
Cotidiano do trabalho
Redes de relacionamento
11. Estimula-se que as pessoas na
empresa contem suas histórias de
sucesso (ou fracasso)?
História da empresa
Cotidiano do trabalho
Storytelling ou Narrativas
12. Há formas de auxiliar as
pessoas a buscarem conhecimentos
específicos?
Vivência do gestor
Descrições das
atividades
Páginas Brancas
Quadro 2 – Roteiro das entrevistas
Fonte: elaborado pelos autores a partir de NHS (2005)
5 RESULTADOS
Esse capítulo é estruturado em três partes, a primeira tem como foco um relato sobre o
mercado catarinense da propaganda, a segunda, uma descrição de cada uma das três agências
pesquisadas e, por último, a terceira, uma apresentação das interações nos processos
organizacionais dos sujeitos da pesquisa.
5.1 O mercado da propaganda em Santa Catarina
Apesar de uma possível falta de consenso sobre os números referentes ao mercado da
propaganda em Santa Catarina, buscou-se a informação com a Federação Nacional das
Agências de Propaganda – FENAPRO, que em sua seccional de Santa Catarina tem cento e
uma agências filiadas sendo trinta e cinco situadas em Florianópolis, quatorze em Blumenau,
nove em Joinville e quarenta e três em outras cidades do estado catarinense. O critério de
cadastramento são as empresas que estejam filiadas ao sindicato correspondente, em seu
estado de origem, e que cumpram as exigências do estatuto social da FENAPRO.
Por sua vez, a Associação Catarinense de Propaganda - ACP, uma entidade fundada em 1972
cujo objetivo é congregar os profissionais do setor, possui cerca de 200 associados, sendo
cento e cinqüenta profissionais e cinqüenta empresas (ACP, 2009). Cabe ressaltar que o site
da entidade não especifica a lista dos associados, tão pouco as empresas ou cidades nas quais
estão lotados. A ABAP - Associação Brasileira de Agências de Propaganda, entidade fundada
7
7
em agosto de 1949, tem por objetivo representar os interesses das agências de propaganda
associadas junto à indústria da comunicação, poderes constituídos, mercado e sociedade.
Possui representações estaduais em dezoito capitais e está presente em vinte e seis estados e
no Distrito Federal. É a maior entidade do setor na America Latina, reunindo cerca de 3.200
profissionais e 4.100 clientes (ABAP, 2009). Entretanto, o estado de Santa Catarina possui
apenas seis agências associadas, sendo quatro em Florianópolis, uma em Joinville e uma em
Jaraguá do Sul, apesar de possuir uma diretoria constituída.
Com base nas pesquisas e consultas efetuadas, conclui-se que não existe um parâmetro que
possa aferir ou dimensionar o mercado da propaganda em Santa Catarina, e não é possível
especificar o nível de empregos diretos que gera; faturamento; número de clientes atendidos
ou prêmios obtidos, etc. Para que este estudo de caso pudesse ser desenvolvido, a escolha das
agências teve como premissa que a empresa estivesse situada em Florianópolis (SC), entre
outros quesitos já citados anteriormente.
5.2 Os sujeitos da pesquisa
Os três sujeitos da pesquisa podem ser assim descritos:
1) A agência [A] tem um gestor com experiência em outras agências e com atuação no
mercado de propaganda há cerca de 20 anos. Após ter participado como sócio em outras
empresas, localizou um nicho de mercado e deu inicio a sua nova empresa. Tem parceria
estratégica com uma grande agência situada na cidade de São Paulo (SP), com atuação no
mercado nacional. Tem como grande cliente uma cadeia de supermercados com forte
atuação no Estado de Santa Catarina.
2) A agência [B] possui quatro sócios que tinham experiência em outras agências, inclusive
no exterior. Após trabalharem juntos como funcionários de outras agências e em funções
complementares, identificaram uma lacuna no setor, notadamente sobre a forma de
cobrança dos trabalhos e resolveram unir esforços para iniciar um novo negócio. A
empresa atua no estado de Santa Catarina e tem como principal cliente uma das maiores
prestadores de serviços educacionais no Estado de Santa Catarina.
3) A agência [C] tem um gestor que resolveu mudar a residência para Florianópolis, oriundo
do mercado de São Paulo. Após outras experiências profissionais em agências e outros
negócios locais, decidiu abrir em sociedade com a esposa a sua própria agência. Esta tem a
sua atuação principal no mercado de Florianópolis e, de forma pulverizada, atende
pequenas empresas. Tem como principais clientes uma grande empresa na área de
informática e empresas estatais.
5.3 Os padrões de interação nos processos organizacionais em agências de propaganda
Conforme apresentado no Quadro 3 a seguir, percebe-se que há padrões de interação em seus
processo nas três agências pesquisadas, a pesquisa identificou a informalidade e uma cultura
comum como padrão nas relações entre os funcionários, gestores e clientes nesta forma de
organização intensiva em conhecimento, porém com debilidades na gestão do conhecimento
de uma maneira genérica.
Perguntas-chave Agência [A] Agência [B] Agência [C]
8
8
1. Como a empresa
captura lições
aprendidas durante e
depois de um projeto?
Ao acaso, porém há
sensibilidade do gestor
na captura. Utiliza
“free-lancers”. A
empresa estava num
espaço com paredes
que atrapalhava a
comunicação.
Por meio de reuniões
periódicas entre os
quatro sócios (com as
gerências). Avaliam
cada projeto em todas
as suas etapas.
Reuniões semanais
entre os quatro sócios.
Estimulando o
diálogo e boas
relações humanas.
2. A empresa junta
pessoas para
desenvolver e
compartilhar
conhecimento sobre
temas específicos?
À medida que o gestor
julgar importante,
principalmente no
início de um projeto.
Um trabalho que
começa bem, vai bem.
O exemplo do
atendimento ao seu
principal cliente
mostra que não ocorre
compartilhamento. O
gestor voltou a assumir
o cliente.
"quando o pessoal está
com uma “vibe ruim",
quando recebe de
"paraquedas" os “Jobs”
dos clientes é preciso
juntar as pessoas, para
evitar criações com
informações erradas.
O gestor é
catalisador para essa
problemática.
Desenvolve um
ambiente amigável e
critica as
comunicações com
uso de informática.
3. A empresa procura
identificar
necessidades de
conhecimento e como
ele pode agregar
valor?
Confunde
conhecimento com
informação. Dá a
entender que é
importante atrair
talentos profissionais
Apresenta confusões
conceituais sobre
conhecimento,
informação, vivências.
O gestor afirma que
sim, porém não
apresenta indícios
fortes de prática.
4. As estratégias da
empresa estão
relacionadas com
gestão do
conhecimento?
Afirma que sim, mas
há confusão
conceitual. A visão da
empresa é dada como
exemplo (ser
desejada), quer atrair
os melhores
profissionais.
Provavelmente sim, há
indícios de (apesar de
inconsciente) fazer
gestão do
conhecimento nas
contínuas conversas
entre os sócios.
O gestor está atento
às novas tecnologias
para agregar aos
serviços.
5. Os parceiros (não
clientes) que terminam
um relacionamento
com a empresa têm
seus conhecimentos
capturados?
Acredita no bom
relacionamento social
para captura de
conhecimentos a
posteriori.
Não demonstrou
preocupação com esse
assunto. Quando
ocorre um
desligamento não corta
relacionamentos.
Acredita ser suficiente
para não perder o
conhecimento.
A agência
desenvolveu um
instrumento sobre
uma tríade Quem,
quando e como.
Essa síntese permite
a localização de
melhores práticas.
9
9
6. Quando alguém faz
algo de melhor na
empresa é descoberto
ao acaso ou há
mecanismos de busca?
Como a empresa
compartilha essas
melhores práticas?
Ao acaso. Acredita que
há talento na ação dos
colaboradores (pessoas
únicas). “Não posso
tirar uma pessoa e
colocar outra”/ "Não
existe formalidade,
mas chega para todo
mundo”.
Todo o rastreamento é
feito pelos quatro
sócios, diariamente
"tentam entender"como
funciona uma empresa
e aprimorando
processos.
O gestor afirmou
que a empresa é
incipiente nesta
área.
7. Como os
conhecimentos são
armazenados e
disponibilizados na
empresa?
Na memória do gestor.
Acredita que o negócio
é um sacerdócio,
porém afirma a
necessidade de uma
equipe alinhada. Dá a
entender que o
conhecimento é
armazenado nas
pessoas.
Tenta-se estimular o
uso de pasta de
arquivos específica.
Relato de conflitos
entre conhecedores e
ignorantes de assuntos
específicos. Estão
implantando um
sistema que gerencia
compartilhamento de
informações.
Preocupação com
muita “papelada.
“Dá a entender que
precisa desenvolver
algo para organizar
os processos. Faz
críticas ao uso de
computadores.
8. Há práticas de
absorção de
conhecimento por
parte de especialistas?
Incentiva que os
colaboradores
continuem seus
estudos. "Numa equipe
de 20 pessoas não tem
como". Afirma que
tem funcionários que
"acertam a mão".
Cada um dos quatro
sócios tem um foco e,
eventualmente
localizam necessidades
de absorção de
conhecimentos.
Utilizam livros,
revistas e palestras.
As práticas na
gestão estão
embasadas na
experiência do
gestor como
professor.
9. Há busca de
aprendizado com as
experiências de outros
antes do início de um
novo projeto?
O principal gestor faz
o julgamento dessa
necessidade.
“Estimula-se a todo
mundo trabalhar com
todo mundo”. O
exemplo emblemático:
tal trabalho deve ser
iniciado a tal hora,
tomada de decisão a
partir da percepção do
gestor.
Acredita-se que o
sistema fará e há
reuniões de pré-projeto
com pessoas que
tenham relação na
atividade e com
experiência.
Afirmou que sim,
trouxe exemplos de
derrotas
mercadológicas e o
monitoramento para
não perder clientes.
10. Há preocupação no
mapeamento dos
relacionamentos para
o entendimento dos
fluxos de
conhecimento?
O gestor procura
disciplinar as
comunicações e
diálogos. Utiliza um
“software” específico
para o setor para
gerenciamento dos
trabalhos. "Eu como
Permite liberdade entre
as pessoas. Utiliza um
“software” específico
para o setor para
gerenciamento dos
trabalhos. Treinam
funcionários novos
sobre como arquivar
O contato humano é
incentivado.
Estímulo ao contato
verbal. Calor
humano. Não
Utiliza um
“software”
específico para o
10
10
proprietário consigo
entender a mentalidade
de meu cliente". Dá a
entender que os
funcionários não
conseguem trabalhar
com esse
conhecimento. O
mapeamento está na
cabeça do gestor.
documentos e uso dos
servidores de dados.
setor para
gerenciamento dos
trabalhos.
Construiu um
sistema próprio
11. Estimula-se que as
pessoas na empresa
contem suas histórias
de sucesso (ou
fracasso)?
Acredita-se que o
ambiente descontraído
permita
espontaneamente essa
ação, porém afirma
que monitora as
comunicações internas
(formais e informais).
Apenas ao acaso, não
demonstra interesse
com essa preocupação.
Há uma pasta
"conhecimento e
competências" porém
ela está em desuso.
Acredita-se que
como é uma agência
pequena, que a
informação é
"democratizada". Os
fracassos são
relatados à perda de
clientes fáceis.
12. Há formas de
auxiliar as pessoas a
buscarem
conhecimentos
específicos?
Julga-se que o acesso à
Internet resolve essa
situação. "Antigamente
era mais difícil".
Trouxe exemplo de
auxílio a funcionário
para terminar estudos
formais.
Afirma ter acesso a
bases de dados,
assinam periódicos e
acessos a informações
da área. Participação
em eventos
(preocupação com
mídia). Cursam
graduação/pós-
graduação.
A sócia (esposa)
tem por objetivo
desenvolver
processos
mapeados.
Quadro 3: Quadro-resumo do levantamento sobre as práticas de gestão do processo organizacional
Fonte: elaborado pelos autores
De modo pontual, pode-se afirmar que o principal gestor desempenha o papel de articulador
das interações entre as tecnologias, pessoas e processos, por conseqüência, da própria gestão
do conhecimento (BHATT, 2001).
Tendo em vista que “uma das tarefas críticas da gestão é coordenar diferentes pacotes de
conhecimento por meio do intercâmbio e compartilhamento de informações” (BHATT, 2001),
pode-se afirmar que as agências de propaganda se apresentam como organizações intensivas
em conhecimento e por sua vez, adotam práticas convencionais de gestão, demonstrando
necessidade de desenvolvimento de novas técnicas de interação entre tecnologias, processos e
pessoas nas suas ações com o recurso do conhecimento.
Os artefatos utilizados são de uso e domínio comum entre todas as agências, houve
referências semelhantes com os três entrevistados, com menções de que as demais atuantes no
mercado também utilizam. Pode-se perceber que as capacidades de transformar dados em
informação e as interações entre pessoas são muito semelhantes. A princípio isso pode parecer
demonstrar fragilidade no desenvolvimento de diferenciais competitivos na exploração da
capacidade interpretativa das pessoas sobre os artefatos técnicos implantados (BHATT,
11
11
2001). No entanto, como pontua Leiponen (2006) quanto ao fato de que o conhecimento nas
organizações é parcialmente tácito e que certas habilidades estão personificadas, para se
efetivar tal separação incorre-se em um custo muito elevado. Por outro lado, o mesmo autor
cita que manter a “taciticidade do conhecimento” pode ser uma forma de evitar que o
conhecimento ser facilmente transferido para os concorrentes.
Desta feita, é possível reconhecer nas práticas das agências, de forma tácita, parte das práticas
preconizadas por NHS (2005), porém o conhecimento de forma explícita não está organizado
de maneira sistemática a ponto de permitir uma sua gestão. Os três empresários entrevistados
demonstraram interesse em estabelecer processos de interação dentro das suas agências, mas
as entrevistas demonstraram que isso ocorre timidamente, de forma incipiente e pode-se
inferir que o assunto foi discutido muito mais em decorrência da pergunta da pesquisa do que
propriamente por ter um processo estruturado e formulado para este fim específico.
6. DISCUSSÃO
A pesquisa demonstrou uma contradição entre os cases estudados e o apresentado por Bhatt
(2001) e NHS (2005) em diversos pontos, pois o exemplo adotado de empresa caracterizada
como uma organização intensiva em conhecimento, com práticas de gestão, de fato não ocorre
no cotidiano das agências de publicidade pesquisadas. Elas não atendem, por exemplo, o
preconizado como práticas formais e explícitas para uma boa gestão do conhecimento, não em
sua totalidade, porém sem um foco de atuação claro no discurso dos gestores entrevistados.
À medida que o levantamento das informações era realizado, os sujeitos da pesquisa
demonstraram que suas práticas são incipientes no que tange as boas práticas da gestão do
conhecimento, fugindo de um discurso inicial de envolvimento com o assunto, ou
“preocupação” como afirmado, para um descobrimento de um cotidiano a ser
profissionalizado e aprimorado para o desenvolvimento de recursos competitivos e melhor
exploração dos ativos intangíveis, presentes de modo intensivo neste modelo de organização.
Pelo descrito e pelo histórico dos sujeitos entrevistados, levanta-se que, por um lado as
agências pesquisadas demonstram posicionamento e trajetórias de sucesso, suposição validada
pelo portfólio de clientes e pela consolidação de práticas, conforme citado pelos gestores.
Porém há eminência de conhecimento tácito, enraizado nos profissionais de cada uma das
agências, considerados como os verdadeiros diferenciais competitivos, porém, conforme a
sobreposição com as ferramentas de gestão do conhecimento, não se localizou efetividade de
busca práticas de relação sobre esses recursos (BHATT, 2001), levando esse estudo a definir
o modelo de gestão do conhecimento das agências de publicidade, no âmbito pesquisado,
como imaturo.
Pode-se apontar duas limitações da pesquisa, que não a invalidam, mas que demonstram a
necessidade de novas investigações: uma de caráter de fundamentação teórica, tendo em vista
que o principal marco teórico que embasou o artigo – Bhatt (2001) – tinha como objetivo a
relação entre tecnologias, pessoas e processos e essa pesquisa focou mais em processos e
outra limitação reside no universo pesquisado. Percebeu-se a necessidade de avaliar outros
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contextos ambientais, tais como outros mercados de atuação, além do ambiente intra-
organizacional, envolvendo diretamente a avaliação de funcionários, fornecedores e clientes.
De forma secundária, os autores deste artigo destacam a construção de um instrumento de
coleta de dados a partir de uma literatura consolidada de gestão do conhecimento (NHS,
2005) que se adequou aos objetivos do artigo, demonstrando potencial para uso em futuras
novas pesquisas
7. CONCLUSÃO
Conclui-se que é possível identificar as ferramentas preconizadas por NHS (2005) no discurso
dos gestores das agências de propaganda. Existe, no entanto, um viés fortemente tácito no
emprego delas na operação dessas empresas, demonstrando a necessidade de explicitar esse
conhecimento de modo a permitir uma melhor gestão, bem como o controle dos processos
intensivos em conhecimento.
Diante do que foi pesquisado e embasado na literatura apresentada, pode-se concluir que as
empresas avaliadas, dentro do contexto colocado e na região geográfica em que se encontra
que empregam pessoas e adotam processos e tecnologias, não apresentam ainda a maturidade
necessária para serem consideradas plenas nos processos de interação necessários à gestão do
conhecimento. As ações ocorrem de forma aleatória sem os procedimentos necessários que
transformem esse conhecimento de tácito para explicito e que permita a sua perpetuação no
tempo.
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