FARRAZINE # 23

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Tao a Tao cm o FARRAZINE # 23 A apagatti 20.ago.2011 23 ENTREVISTA PIPOCA E NANQUIM HQ CIDADE NUA MÚSICA GRAPHIC NOVELS CINEMA CONTOS E MUITO MAIS...

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Trazemos o projeto "AGOSTO PRA TUDO" da República dos Quadrinhos. Esta iniciativa já está no ar e você pode ler mais detalhes nas páginas do Farrazine. Veja uma visão divertida do reboot da DC feito por Ed Palhares e MauMoraes. Temos também a participação de Doug Lira e seu "Traço a Traço", além de uma linda tirinha de Alberto Pessoa! Pablo Grilo estreia com o conto "Andanças por um Local Distante", e temos também "Vicent & Van Gogh" de Manassés Filho. Continuamos com uma supermatéria sobre Graphic Novels autobiográficas assinada por Rafael Martins; Nano Falcão analisando os filmes da Marvel e DC no cinema; Fernando Schittini esquadrinhando Dream Theatre; além das participações habituais de Rita Maria Felix da Silva, Rafael "Hiro" Machado Costa, Brenno Dias, Rafael Oliveira, Red Baron Blues, Bráulio Taumaturgo e etc... E para não perder o hábito das entrevistas, trazemos uma bacanuda com a galera do "Pipoca e Nanquim". Publicado em 20.08.11. 86 páginas.

Transcript of FARRAZINE # 23

  • T a oa r T a o r c mo

    FARRAZINE # 23

    Aapagatti

    20.ago.2011 2323ENTREVISTA

    PIPOCA

    E NANQUIM

    HQ CIDADE NUA

    MSICA

    GRAPHIC NOVELS

    CINEMA

    CONTOS

    E MUITO MAIS...

  • INDICE

  • Bruno Zago

    Alexandre Callari

    Daniel Lopes

  • Entretanto, nosso foco aqui sero as Gra-phic Novels autobiogrficas e os seus traos co-muns. Ou seja, as obras onde a inteno de remi-niscncia clara, ainda que subjetiva, onde o roteiro se desenvolve dentro da lembrana e no ao redor dela, como numa fico original. No possvel apontar nenhum desses padres como cannico, mas possvel, como usual de um artigo, abrir a discusso e a possibilidade de um estudo mais profundo daquilo que as molda. No mais, pode ser interpretado como boas dicas de desenvolvimento.

    Animistas e Iconoclastas: Scott McCloud, grande terico dos quadri-nhos modernos, explana no terceiro livro de sua trilogia, Desenhando Quadrinhos, suas ideias a respeito das quatro culturas dos quadrinhos (p-ginas 229 a 239), que seriam as quintessncias transcendentais dos gneros quadrinsticos. Em resumo, as filosofias bsicas dos quadrinistas. So elas: O Classicismo, o Animismo, o Formalismo e a Iconoclastia. Scott explica que es-sas quatro escolas no so declaradamente opos-tas, mas que, em pares, buscam abordagens dife-rentes dos quadrinhos, ora como experimentao artstica, ora como realizao artstica. Para os fins desse artigo, o foco ser no Animismo, na Icono-clastia e na sua combinao, pois so os perfis que mais se aproximariam em tese das Graphic Novels autobiogrficas. O Animismo reafirma o contedo acima da arte e prima pela intuio. Ele, de certa maneira, complementa o Classicismo, que busca a sobera-nia da arte e da tcnica. No se trata apenas de tex-to contra desenho. O Classicismo tambm pode ser esmerado no texto, assim como na arte. Tambm no se trata apenas de desenhar ou escrever sem nenhum tipo de pauta ou sistema. O Animismo visa uma narrativa compreensvel e explorvel, ainda que visceral. Apesar da queda por mltiplas inter-

    pretaes, o autor animista no tende a confundir o seu leitor. H tambm um foco na criao de perso-nagens autnticos e vivos, mesmo que pobres em detalhes. Enquanto o Classicismo visa a criao de um mundo a volta do personagem, o animista capaz da fazer o personagem contracenar com o prprio vazio. A Iconoclastia mais selvagem nas suas aplicaes. Seria de certa maneira a quebra com-pleta das regras que acercam o fazer quadrinhos, com uma rixa especial com o motivo bsico de se fazer quadrinhos (ficar conhecido e famoso). O Iconoclasta um autntico despretensioso e no rebusca suas obras, mas sim trabalha com a crueza natural das coisas. Compartilham com os animistas o foco maior no contedo, mas no so tradicionais, pois seu compromisso com a vida real e cotidiana exterior ao prprio quadrinho. Numa livre associao, os animistas seriam dramaturgos de teatro, enquanto os iconoclastas cronistas de folhetim. O personagem iconoclasta, assim como a crnica iconoclasta, no tem compromisso com o entendimento, parecendo muitas vezes incompleto. Assim como o mundo em si tambm o , pois para essa filosofia de trabalho as coisas nem sempre so justas e claras As Graphic Novels autobiogrficas seriam, ento, uma unio dos dois tanto no sentido de que pendem contrrios ao apego visual e mate-rial, primando pelo impalpvel, quanto no sentido de que o bigrafo comea sua jornada procurando apenas expor os episdios que viveu sem grandes evolues, mas acaba tendo uma grande inclinao em romance-los. Isso ocorre porque existe a ne-cessidade de dar nfase aos ecos psicolgicos que aqueles incidentes tiveram, pois cada coisa ocorre em mltiplos nveis de existncia, tanto interna quanto externa, diversas camadas de significado.

    Scott McCloud

  • Tambm isso se d devido ao que considero ser o objetivo final de uma autobiografia. Expondo o me-canismo da vida ao redor do personagem central, num processo indutivo, o autor busca desvendar o prprio mecanismo da vida que cerca a todos. O autor busca entender seu lugar no universo, vendo-se como uma pea de um sistema maior que ele. Ele oferece essa viso para o leitor, que ento se espelhar e tentar fazer uma juno, montando o todo. Traos bsicos de uma Graphic Novel auto-biogrfica: Analisando um grupo de obras selecionadas (Maus, Retalhos, Cicatrizes, Persepolis, American Splendor, Epiltico, Ao Corao da Tempestade), possvel perceber alguns elementos comuns, a for-ma como so trabalhados e sua importncia para definir a obra.

    O Autor como Centro A colocao pode parecer bvia se levada em considerao apenas no mbito das obras au-tobiogrficas, mas como j dito, o autor pode re-latar os fatos ou atravs de um alter ego ou ento transferir parte de suas experincias de vida para um personagem totalmente diferente dele. Contu-do, o que fica constante que tal personagem, ego ou alter, o eixo central a partir de onde tudo ir orbitar. Literalmente, o centro do universo. Com certeza se trata do conceito bsico do protagonista, mas nunca do conceito do heri. Na realidade, o protagonista autobiogrfico se mostra um indivduo falho e por vezes inseguro, por conta do prprio ato do autor de encarar suas aes pas-sadas e, por conseguinte, seus erros. Nem sempre por ser o centro, o personagem um narrador em primeira pessoa ou em terceira, mas por ser um relato subjetivo, os vcios de personalidade do per-sonagem, como suas mesquinharias e preconcei-tos, por exemplo, influenciam demais a experincia

    do leitor, que assiste aquele episdio sob a tica daquele que foi o centro da presso, vtima ou feli-zardo. O estado de esprito do autor, antes e depois do acontecido, procura encarnar no leitor a fim de transformar a leitura numa simulao, atravs do discurso descritivo, que o tipo de texto que pre-domina nesse tipo de obra. Muito raro o autor buscar referncias ex-ternas para ter uma ideia mais precisa do fato que viveu, ele confia em seus sentidos. Mesmo quando o autor relata os efeitos que tais fatos tiveram sobre outros personagens presentes na trama ou no, ele o faz de maneira subjetiva, sem ter conhecimento total de como seus prximos se sentiam. Isso acontece com mais frequncia quando o bigrafo seu prprio foco, mas em Maus, por exemplo, o biografado o pai do bigrafo. Toda-via, ainda assim, o autor no buscou outras fon-tes para completar as narrativas do pai (que conta suas histrias de sobrevivente de Auschwitz), pois o verdadeiro foco da obra na realidade mostrar a figura curiosa e contraditria que ele era, alm da relao distante entre os dois. Na verdade, em Maus, essa a verdadeira histria e Art Spigelman, e no Vladek Spiegelman, o verdadeiro centro.

    Conflitos Toda vida na verdade uma luta nossa con-tra algo que se imps em nosso caminho e nos tirou o conforto. E em toda autobiografia quadri-nizada possvel entender e apontar o conflito em que o personagem est envolvido, que na realidade, a trama em si, despida de seus detalhes. Ainda que sejam vrios conflitos separados, haver um que ser a origem de todos e o que define a fase em que o personagem est na sua vida. Tal conflito demandar quase a histria inteira para ser resolvi-do, isso se ainda no estiver ocorrendo na vida do autor at hoje.

    Art Spigelman

  • Um conflito nem sempre uma contenda violenta ou um choque literal de foras. Muitas vezes se trata do personagem lidando com foras naturais a sua volta as quais ele no compreende totalmente. Outras vezes so problemas que o personagem traz dentro de si e o conflito se re-sume nele tentando achar um equilbrio pessoal. De qualquer forma, nunca o conflito mostrado de uma maneira simples, pois para o autor nunca foi simples naquela poca e nem atualmente. Dezenas de fatores iro se impor ao longo da luta do personagem, obrigando-o a pensar nas conse-quncias e nas pessoas que o afetam e que podem ser afetadas. O personagem muitas vezes flertar com a desistncia completa e com a ideia de que talvez seu conflito seja invencvel e que ele tenha de apenas conviver com ele. Em outra ele finalmente encontrar uma resposta, o conflito pode cessar ou pode aparentemente sumir. A obra possui a fora que o conflito tiver, o que obriga o autor a desenvolv-la em todas as suas complexidades e agonias, mas tambm o fora a tentar falar tambm da evoluo que tais sofrimen-tos trouxeram em sua vida, a maturidade conquis-tada. preciso que o autor torne o seu conflito algo nico, para que ele no seja um mero resmungo, todavia, preciso preservar uma simplicidade, para que os leitores encontrem uma semelhana com seus prprios problemas. Todo o conflito muda pelo menos em sua superfcie, devido s pessoas que surgem e ofe-recem diversas abordagens ou pontos de vis-tas sobre ele para o protagonista. Mesmo que no o faam, a mera existncia deles j ajuda o personagem a desviar o curso do conflito e eles se tornam elementos dignos de nota. Existem autores que buscam isolar o conflito no centro do palco, dando a impresso que a volta dele tudo vazio, o caso de Cicatrizes de David Small, que fecha a trama em volta do autor e sua me cruel e reprimi-

    da, sem dar ateno a possveis amigos ou outras relaes familiares da vida do autor, nem como elas afetaram seu contato com a me. Nem sempre o resultado disso encarado com naturalidade pelo leitor. H ocasies onde o autor no expe com clareza o que tal conflito est causando no interi-or do protagonista, em boa parte para reproduzir a prpria confuso vivida na poca. Muitas vezes sem dar ateno se isso ou no coerente com o que o leitor capaz de aceitar. Tudo isso depende se a obra mais iconoclasta ou animista.

    Paralelos O esprito de poca, ou Zeitgeist, parte importante de uma autobiografia, ainda mais se o autor possuir algum sentimento de nacionalismo ou militncia poltica. Apesar de lotar a obra com um contedo muitas vezes educativo demais, atra-palhando a vista do interior do personagem, ne-cessrio reconhecer a necessidade de contextual-izao histrica, mesmo que ele seja to subjetivo quanto todo o resto. Para entender por que o pro-tagonista era daquele jeito preciso entender por que TUDO era do jeito que era. Traar paralelos no , deixemos claro, ex-plicar o cenrio. No. Trata-se de isolar um fato da vida do protagonista e descrever um fato de seu mundo que ocorreu se no ao mesmo tempo, da mesma forma, ou com interpretaes semelhantes. Persepolis, de Marjane Satrapi, uma obra que apesar de seu aspecto de livro infantil, altamente politizada, pois, ao mesmo tempo em que descreve a infncia da autora em plena guerra civil iraniana, procura mostrar a guerra como um mal que tam-bm cresce e se desenvolve, mas que aparente-mente nunca morre. Marjani cresce na guerra e a guerra cresce em Marjani. Outros tipos de paralelos envolvem tramas de fundo sem contedo histrico, usando elemen-

    David Small

  • tos simples de causa e efeito, a fim de traar uma semelhana de mecanismos entre elas. Mas tanto um quanto o outro constituem um artifcio comum da filosofia animista de quadrinhos, pois tende a mostrar o protagonista como um reflexo do mundo a volta dele ou que o mundo segue uma srie de padres que se repetem. Nenhuma dessas cons-trues elaboradas cabe a iconoclastia, que mais despretensiosa, realista e assume esses voos como um superdimensionamento do autor.

    Metforas e simbolismos Mesmo que tais reflexes no tenham ocor-rido na poca em que alegadamente ocorreram, o autor pode inserir diversos tipos de comparaes e figuras de linguagem na sua narrativa, a fim de tornar mais fcil ou mais difcil para o leitor. Isso vlido, pois a autobiografia no apenas uma re-constituio do vivido, mas tambm uma anlise de um tempo imaturo feito por um autor mais maduro. As metforas e simbolismos existentes nes-sas obras agem de forma semelhante aos para-lelos, mas no de todo. Num sentido muito mais interior do autor (diferente do paralelo que exteri-or), o smbolo a tentativa de resumir todo um uni-verso de ideias num nico objeto, pessoa, palavra ou acontecimento da trama, de modo que sempre que ele evocado, o leitor compreenda a situao. Algo como a palavra rosebud de Cidado Kane (que simboliza a infncia perdida) ou o sonho de Holden Caulfield em Apanhador no Campo de Centeio (que refletia no apenas seu medo de crescer como tam-bm a busca por uma pureza que pudesse subjugar o vazio de seu mundo). Metforas agem de modo mais econmico. So comparaes que servem para um entendi-mento mais imediato de sentimentos que normal-mente no seriam fceis de descrever, mas que no so fortes ou autosuficientes para serem smbolos. Em geral a inteno do autor de constituir um sm-

    bolo bem mais clara, pois o mesmo aparecer mais vezes, j que se trata de algo constante na vida do protagonista naquela poca, mesmo que ele no reconhecesse com tal reverncia. Diferentes de paralelos, smbolos podem ocorrer em obras iconoclastas, j que so justi-ficveis por serem ntimos.

    Recortes e Narrativas No-Cronolgicas Narrativas no lineares foram uma das principais evolues do quadrinho moderno, por justamente forar o leitor a pensar e ler de forma mais atenta, juntando os pedaos. Uma frmula emprestada do cinema, ela tambm obrigou o leitor a encarar diversas peculiaridades do tempo em si e as mltiplas ordens onde as coisas acontecem ou podem acontecer. Por se tratar de lembranas, a autobiogra-fia pode trabalhar isso de uma maneira bem mais livre, ordenando os fatos tendo como base sua im-portncia pessoal, a expectativa do leitor ou quais-quer outras experimentaes. Isso afirma uma linha animista, onde a vida do autor pode ser vista como um filme editvel. Ao passo que a lgica iconoclas-ta prega que nada ocorreu toa e que tudo teve seu lugar, ainda que num curto espao de tempo. Isso no significa, contudo, que uma obra iconoclasta no possa segmentar a vida em ciclos curtos e apresent-los de forma separada, ao invs de uma linha contnua e infinita, como a interpretao mais radical poderia sugerir. O conflito e o fluxo de narrativa acabam sendo parceiros fundamentais na constituio da obra, pois unidos podem criar efeitos como pressa, confuso, paranoia, xtase, alm de simular a re-cordao numa verossimilhana psquica, ou seja, lembranas despedaadas e incompletas assim como na mente humana. Jimmy Corrigan, de Chris Ware (que no autobiogrfica e sim inspirada em fatos vivi-

    Chris Ware

  • dos), possui fortes vieses Formalistas (a escola de quadrinhos que prima pela experimentao do veculo e suas possibilidades de transmisso de ideias), pois aplica em diversas pginas, sries de quadrinhos unidos em sequncia, complexos como grficos empresariais, mas que traam sem palavras os graus de separao entre os persona-gens ou objetos da trama, muitas vezes recuando ou avanando no tempo. Um enorme domin que sugere que talvez toda a vida seja uma histria em quadrinhos devido sua sequencialidade.

    Histrias dentro de histrias Ainda no mbito das narrativas no-cro-nolgicas, o autor muitas vezes lana mo de flash-backs dentro de flashbacks, ou seja, casos onde ele se recorda que tentou se recordar de algo, ou que algum tentou se recordar de algo e contou a ele. Como dito anteriormente raro o autor fazer uma pesquisa aprofundada a respeito dos outros pontos de vista que cercavam sua pessoa, como que entrevist-los. Isso, por sinal, tornaria a obra demasiadamente objetiva, a ponto de dispensar o prprio autor como seu artista e roteirista. Contudo, tambm como foi dito, o autor coloca em sua obra o que viu e o que ouviu a sua volta e, logo tambm, o que pensou que fosse. Se a vida do autor rica, porque dezenas de pessoas passaram por ela, se a vida do autor vazia, ento as poucas pessoas que nela surgiram devem ter tido uma grande importncia. De uma forma ou de outra, as experincias de outrem mui-tas vezes so desenvolvidas na trama porque fize-ram alguma diferena no modo como o autor via o mundo naquele tempo ou porque podem traduzir com mais acuidade o contexto em que viviam. Epiltico, de David B., possui como trama central a vida do autor ao lado de seu irmo, diag-

    nosticado epiltico bem jovem, numa poca onde isso ainda no possua nenhum tratamento esta-belecido. A famlia de David busca uma cura sem cessar, conhecendo diversos charlates e pionei-ros no caminho, enquanto o prprio irmo de Da-vid afunda num mundo particular. No desenrolar da obra, David comea a descrever as inmeras histrias que ligam seus pais, avs e bisavs, alm dos demais personagens que aparecem, evidencia-ndo o trao em comum de todos: a busca por uma cura. Ao longo do pico, perguntas surgem, tais como: o que a doena? O que a cura? A cura simplesmente o fim da doena? O uso de histrias dentro de histrias cria diversos resultados em Epiltico, tais como a noo de famlia como uma grande rede no s de laos consanguneos, mas tambm como um grande legado; o karma vivido por todos os seres humanos, na busca da resoluo definitiva de seus problemas; e a construo da moral do prprio au-tor. Existem outras formas de trabalhar esse conceito metalingustico de forma mais acentua-da, sem recorrer a mecanismos mais previsveis como relatos de parentes dentro da histria. Em Black Hole, de Charles Burns, explorado um cu-rioso efeito onde os personagens se recordam de eventos e durante a memria, seus eus passa-dos relembram fatos mais priscos ainda. Claro que Black Hole no autobiogrfico e sim uma fico com inspiraes na adolescncia de Burns, o que permite essa plasticidade, que no pode ser julgada como subjetividade.

    Dureza e Feira Esse aspecto no exclusividade desse tipo de quadrinhos, mas sim uma realidade presen-te em absolutamente toda a forma de arte, que o contraste entre o feio e o belo. No se trata de uma

    Charles Burns

  • crtica superficial em cima da arte visual, mas sim de uma anlise em cima da prpria histria e dos acontecimentos. Tanto o Animismo quanto a Iconoclastia compartilham uma abordagem artstica ligada com a vida. Ou seja, tornar arte devido sua semel-hana com a organicidade da vida real, como que esta fosse a nica obra de arte real do universo e a expresso humana, meras reprodues da Grande Arte. E a arte da vida trabalha criando nos seres humanos diversas reaes, nem todas boas, mas necessrias, pois esta a reao prevista para que a dita obra cumpra seu objetivo. A vida humana imperfeita, pois o prprio conceito de vida perfeita no concebvel, que dir aplicvel. O processo de se tornar humano envolve um sem nmero de decepes e descobertas de aspectos desagradveis tanto daqueles que te cer-cam, quanto de voc mesmo. Sobreviver a essas decepes traz uma viso mais lcida e madura do mundo, permitindo que voc controle melhor sua vida. No discurso da Graphic Novel autobiogr-fica, busca-se destacar os duros fatos da vida ou as obscuras facetas humanas a fim de dar realismo obra, cumprindo com seu lado iconoclasta (as-sim como, na realidade, fazem o cinema e a tele-viso) Essa acaba sendo a caracterstica que mais chama a ateno dentro desse gnero, pois um dos subterfgios mais certeiros e devastadores na busca do artista de tocar a alma do leitor. Porm, o exagero nesse quesito pode fazer a obra passar de dramtica para sinistra ou at melodramtica, e at mesmo exceder os limites da subjetividade, com risco de se tornar uma fico. A tal feira da vida no se manifesta apenas de maneira abertamente cruel e inumana (ou at veladamente), muitas vezes, como visto em Ameri-can Splendor, de Harvey Pekar, a vida no feia por que seja m. O feio, na realidade, toda a falta

    de qualquer outra coisa fantstica, o cotidiano sem fim, o limbo. A vida seria o rosto de um homem de mais de quarenta anos, com suas rugas e marcas de cansao.

    Beleza e Singeleza Na Graphic Novel a beleza pode ser enxer-gada de diversas maneiras, em especial na prpria feira. O modernismo e o ps-modernismo se en-carregaram de virar do avesso as maneiras de se apreciar arte. O leitor busca ter uma experincia intensa, mesmo que ela seja de quase autodes-truio, h uma grande satisfao na demolio de valores e ideologias cuja inocncia est em franca dvida. Claro, isso se tratando do restrito pblico consumidor desse tipo de HQ, isso no se aplica ao grande pblico que, por sinal, no consome Gra-phic Novels. Mas por detrs de tanto autoflagelo, o que o autor e seu leitor buscam a redeno, sem dvida. A purificao e o encontro de algo legtimo, autn-tico e, sim, belo. Em muitas partes da trama, o pro-tagonista se deparar com detalhes do mundo que constituem formas transitrias de beleza, perdidas, cercados de escurido e mundanidade. Pequenos atos ou falas, carregados de significado. Elas pas-saro, s vezes, despercebidas pelo personagem, mas no pelo leitor, so as singelezas da obra. O encontro do belo e a redeno costumam ser as ferramentas com que o autor deseja dar fim ao seu conflito. O belo aqui pode significar qualquer coisa, como um sentimento confivel, auto-estima, uma companhia ou, simplesmente, uma resposta. Como a autobiografia se reserva a um recorte da vida do autor, comum que o protagonista no en-contre tal beleza definitiva, mas compreenda que talvez ela no exista ou que um dia chegar, e que o mundo esconde diversas singelezas as quais ele ignorou, mas no o far novamente a partir de ago-ra. Observe que isso nem sempre constitui um final

    Craig Thompson

  • feliz. A obra Retalhos, de Craig Thompson, conta com delicadeza o romance entre o prprio autor, filho de cristos ortodoxos, e uma garota chamada Raina, que possui um esprito livre, mas que guarda dentro de si vrias inseguranas. O relacionamento cercado de momentos de pureza e carinho, e d a Craig as foras que ele precisa para sair da clausu-ra que sua famlia e o cristianismo lhe impuseram, mas ele termina, o que deixa Craig desorientado. Craig obrigado a refletir sobre a autenticidade dos momentos que viveu diante do presente que se tor-nou passado. Livre de esprito, mas sozinho, Craig enfim decide seguir em frente. Ao contrrio do que se poderia esperar, Raina no retorna na vida de Craig, mas este parece ter atingido outro nvel de convivncia com as coisas que o assombravam.

    Arte Alternativa O fato das escolas Animistas e Iconoclas-tas terem foco na vida e no contedo, no significa necessariamente que a arte seja desleixada, mas sim que no ofusquem o texto e os personagens com preciosismos e detalhes visuais chamativos e desnecessrios. Segundo Scott McCloud, as quatro escolas esto organizadas em pares de afinidade (Classicismo e Animismo so tradicionais, Icono-clastia e Formalismo so rebeldes. Classicismo e Formalismo so visuais e tcnicos, Iconoclastia e Animismo so viscerais e intuitivos), mas todos os tipos de combinaes so virtualmente possveis, mesmo que opostas em teoria (Iconoclastia e Clas-sicismo, por exemplo). Claro que a escolha da arte se limita primeiro pelas capacidades do autor, que tambm costuma ser o desenhista. A partir da, ele poder escolher a abordagem visual mais adequada, o que nunca uma deciso bvia ou fcil. Em Epiltico e Persepolis, a arte transmite um ar infantil e carente de tcnica, mas eficiente e transmite a mensagem

    com clareza. Seu maior defeito talvez seja seu leque restrito de graus de expresses ou variedade de rostos. Black Hole e Ao Corao da Tempestade de Will Eisner, por outro lado, possuem uma arte bem mais detalhista, como um esmero principalmente no uso do preto e branco (que alis, so as cores que predominam em Graphic Novels autobiogrfi-cas). Podem conseguir criar boas atmosferas, mas no possuem o problema de serem artes muito i-nacessveis para os aspirantes, o que no ocorre com os desenhos de David B. e Marjane. Arte e histria podem se combinar jus-tamente numa contradio planejada. o caso principalmente de Maus, que cruza os relatos dos maus tratos sofridos pelos judeus nas mos dos nazistas com personagens com rosto de ratos, por-cos e cachorros, todos simplificados. Nesse caso foi feita uma aposta total em cima dos dilogos e do contexto para que o leitor entenda o que os per-sonagens sentem, mesmo a arte sendo repetitiva e sem expresso.

    Mensagem Quadrinhos ou no, o indivduo lembra porque viveu, e conta porque h uma lio a ser transmitida, mesmo que no se trate de um ad-gio ou ideia possvel de ser escrita com palavras. Ou mesmo que tal lio no possa se reaplicada na vida de quem l. Na realidade, o autor pode es-tar apenas dizendo que ELE aprendeu uma coisa, mas que no necessariamente voc, leitor, precise entender. Tudo o que o autor pode estar querendo dizer : eu estive l. A mensagem estar no fim de tudo: da construo do protagonista central, do comeo de seu conflito, das pessoas que conheceu e que con-taram suas histrias, das lembranas dentro das lembranas, do mundo inspito ou solitrio que teve de atravessar, das belezas que passaram in-diferentes, do objetivo final atingido ou da batalha

    David B.

  • perdida. Aps tudo isso, caber ao leitor refletir e verificar se tal viagem dentro do corpo de outra pessoa lhe expandiu os horizontes, se foi divertida e inspiradora ao menos ou se no passou de um exerccio de vaidade do autor. Linhas animistas tm uma preocupao maior em passar essa dita mensagem, enquanto os Iconoclastas muitas vezes trabalham com a men-sagem de no haver mensagem, sendo at o fim crentes de que o mundo no um local feito para ser entendido.

    Crticas Gerais As obras lidas para a concluso desse ar-tigo no representam nem um dcimo do que esse gnero tem a oferecer em termos de obras dis-ponveis tanto no Brasil quanto no mundo, o que significa, na prtica, que todos os conceitos dis-cutidos aqui podem no ser um padro amplo. To-davia, incorreto afirmar que so casos isolados, mesmo a bibliografia sendo parca. Todas as obras citadas aqui valem a pena serem procuradas, lidas e relidas, principalmente se voc procura se formar um quadrinista, mesmo que no autobiogrfico ou mesmo de Graphic No-vels. Para complementar o artigo, possvel utilizar os critrios discutidos e tecer pequenas anlises: Maus, de Art Spigelman, ganhador do Pu-litzer, tido como uma das obras mais importantes do gnero, para no dizer dos quadrinhos em si. A descrio da devastao causada pelos nazistas e da engenhosidade dos sobreviventes para con-seguirem atrasar suas execues chama a ateno, contudo, os personagens, mesmo os principais, no so trabalhados com muita profundidade. O nico, talvez, seja o pai de Art, narrador da histria, um idoso s portas da morte, mas neurtico e pre-conceituoso. Nem o prprio autor consegue trans-mitir autenticidade. A relao dos dois distante, mas h um esforo para superarem isso, que no

    se conclui antes da morte de Vladek. Retalhos, de Craig Thompson, de fato uma histria bem inocente, flertando muitas vezes com o piegas, mas nunca atravessando de fato essa linha. Os personagens principais so bem acabados e a relao entre eles crvel. O autor trabalha bem ao nos envolver no xtase da paixo dos protagonistas e como ela abruptamente interrompida por uma sbita insegurana de Raina que nunca explicada. O final, contudo, reticente. Cicatrizes foi feito por David Small, e foi tida como a melhor HQ de 2010. Conta a respeito da relao glacial que ele possua com seus pais, em especial sua me, que ocultava seu lesbianismo. A me de Small aparenta estar em conflito dentro de si, procurando fazer seu amor de me sobressair ao rancor que tem pelo filho, mas nunca conseguindo. A av de David possui traos sociopatas, uma ca-racterstica ignorada pela me de David. Mais tarde, devido a um erro de procedimento de seu pai, David acaba adquirindo cncer e tambm uma cicatriz no pescoo que o impede de falar. A obra parece francamente incompleta em muitos sentidos, mas no se assume iconoclasta a despeito disso. A arte faz uso de quadros que tomam quase a pgina toda, com aquarelas cinzen-tas, buscando referir ao silncio, mas no pas-sando de grandes e desajeitados desperdcios de espao (talvez por Small ser um pintor), tornando o livro polpudo, mas curto demais. O conflito no bem desenvolvido, dando a impresso de estarem faltando diversos outros pedaos, que seriam es-senciais. Muitas oportunidades de desenvolvimen-to so perdidas ao longo da obra que, na realidade, muito pretensiosa. O final insatisfatrio, no convencendo o leitor que de fato a me de Small fora um obstculo to grande. Persepolis, de Marjane Satrapi, bem or-denado e repartido em pequenos episdios, o que sugere hiatos e no um recorte contnuo da vida

    Marjane Satrapi

  • da autora. Assim como em Maus, os personagens principais, os familiares de Marjane, no so bem desenvolvidos, s representando as partes que a autora desejou lembrar deles. Isso, no entanto, ainda est de acordo com o conceito de um livro de memrias. Talvez por ter vivido numa poca, num pas e numa famlia onde a conscincia poltica era valorizada, a autora dedica muito tempo a explicar os joguetes e figuras importantes da guerra que a cerca, o que deveria tornar o livro educativo, mas acaba sendo irritante na maioria das vezes. No en-tanto, a proposta do livro de fato ser mais histri-co e politizado do que seus equivalentes. Epiltico, de David B., descreve sua saga ao lado dos pais, que lutam para achar a cura da doena de seu irmo, a epilepsia. Cobrindo um lar-go intervalo da vida de B., a obra quase no poupa detalhes. A memria do autor consegue resgatar desde as brigas nas ruas de seu bairro na infn-cia, passando pelos livros que leu, at as histrias particulares de cada curandeiro e mdico que co-nheceram. Talvez por isso, os dois livros no sejam fceis de ler continuadamente, tampouco de forma picada, pois o volume de informao muito. Epiltico europeu de fato, pois se asse-melha muito a um filme dessa linha, tanto na sua arte demasiada escura quanto na sua narrativa car-regada de viagens ao subconsciente e passagens muitas vezes secas. O protagonista consegue ser facilmente assimilado pelo leitor, pois possui os mesmo traos que a maior parte dos aspirantes a quadrinistas. O irmo de B. tambm um perso-nagem muito bem elaborado. Misterioso, ele j no compreende mais seu lugar no mundo e aos pou-cos vai desistindo da cura, preferindo se isolar aos poucos do mundo real. No se sabe ao certo, ao fim da obra, se o irmo est vivo ou morto. American Splendor, de Harvey Pekar, foge dos padres normais de uma autobiografia, pois ao passo que a maioria dos autores busca relatar fa-

    tos conturbados de sua vida, Pekar simplesmente retrata a monotonia de seu viver. So pequenos episdios onde vemos o arquivista Harvey lidando com seus colegas de servio intrometidos, seus amigos sanguessugas, suas tentativas de com-prar e vender discos de jazz, entre outras coisas que poderiam parecer fascinantes para ns, mas no para Harv. As histrias comeam do nada e raramente terminam de modo claro, e tambm no possuem uma linearidade. Ao trmino da leitura, o leitor pode ser abordado por outro interessado que vai lhe perguntar: O que acontece nessa histria? Ao que o leitor responder: Nada, mas ai que est. Ao Corao da Tempestade um retros-pecto da vida de Will Eisner, s que na forma quase de livro ilustrado, com uma forte inclinao Clas-sicista. Cobrindo parte da sua infncia, seu desen-volvimento como artista, at quando a guerra entra em seu caminho, a obra no a primeira do gnero (vide o texto recomendado), mas foi a primeira mais conhecida. Apesar da fama de seu persona-gem, Spirit, Eisner foi um romancista muito melhor do que roteirista. Todos os seus livros baseados em lembranas, com nfase em Um Contrato com Deus, so timos. Todavia, o livro em questo sofre com sua idade, j que narra a saga com saltos e textos diretos, formas tradicionais demais de con-tar histrias, fazendo o personagem simplesmente ir do ponto A ao ponto B. Mesmo assim, Eisner foi pioneiro e ler sua biografia mais que um ato de aprendizagem do bsico, um ato de respeito.

    Por Que Tudo Isso? Para voc que chegou at o fim desse longo artigo, deve surgir a dvida: Para que tabelar tudo isso? Eu sou obrigado a seguir essas indicaes? E se no for, ento para que elas servem? Como dito no incio do texto, quase no h como diferir Graphic Novels de quadrinhos indies, pois as primeiras so de qualquer maneira quadri-

    Harvey Pekar

  • nhos independentes. Porm, o contrrio no se apli-ca: nem todas as obras independentes so Graphic Novels. Por qu? Por causa do acabamento? Por que so feitas por profissionais? Por que uma edi-tora simplesmente disse que era ou no era? Para definir o que uma obra ou no, imagi-na-se que devemos perguntar isso direto ao artista. Aquilo que ele quis fazer, em tese, deveria ser o que a obra . Mas mesmo isso no ser suficiente, se o artista no quiser rotular a obra, no souber ao certo o que fez ou no ter certeza de que atingiu todos os pr-requisitos que elegeu para a misso estar cumprida. Esses requisitos, por mais indivi-duais que sejam, so altamente influenciados pela expectativa que as demais pessoas tm da obra. E haver situaes onde, dependendo da forma, fun-o ou contedo da obra, o artista no conseguir argumentar contra o coletivo. Por exemplo, se um artista faz uma histria em quadrinhos mas diz que pintou um quadro, ainda assim teramos de concor-dar com ele? Claro que veculo/mdia e gnero so coi-sas diferentes. O primeiro abrange toda uma forma, enquanto o segundo os contedos e suas aborda-gens. Mas tambm certo que as mdias em si tambm so segmentaes de algo maior, que a arte. E a arte um segmento de algo maior que ela, a vida humana. A base da cultura humana a lista j disse Joseph Campbell, antroplogo de grande renome mundial. Isso por que humanos gostam de nomear e organizar coisas. um processo no s comportamental, como instintivo, usado principal-mente para sua manuteno social. Scott McCloud tambm complementa di-zendo: Se voc criou algo bom, bem certo que outros queiram imitar. Se houverem pessoas sufi-cientes imitando, voc tem ento, um gnero. Ele tambm explana que, quando um gnero funda-do, surgem diversas expectativas em cima dele que vo determinar seu funcionamento bsico e seu sucesso em incorporar aquela identidade. Depen-dendo da ramificao do gnero, as expectativas podem ser muitas ou poucas. natural ter uma revolta contra a ideia de gnero, sobretudo nos tempos atuais, onde os indi-vduos buscam firmar uma identidade original, mas nunca conseguindo, pois a indstria cultural massi-fica tudo que os cerca, reduzindo a frmulas pron-tas. De fato quando algo novo descoberto e lhe

    dado um nome, ele automaticamente carimbado e deixa de ser uma surpresa. Quando ele se torna um nome, tambm se torna um smbolo, que pode ser passado adiante pelo processo comunicativo (conversas, escrita, desenhos) que, como a prpria palavra indica, o processo de tornar comum. Mas o que fazer ento? Voltarmos aos tem-pos onde certos segmentos da sociedade tinham o conhecimento, enquanto outros no? Estamos indiscutivelmente numa era no de democratiza-o da informao, mas de amplo acesso a ela. No quer dizer necessariamente que a novidade tenha morrido, o que se percebe na verdade o contrrio. Todos os dias nascem dezenas de no-vas tendncias, que so desde derivados de outras mais antigas, repaginaes ou at mesmo fuses e misturas. Podem ter vida longa ou curta, depen-dendo de sua real qualidade, mas tendo existido, so automaticamente parte da Histria Humana. E como tal, existiro indivduos interessados em estud-las e decifr-las. E em seguida, oferecer suas descobertas para aqueles que quiserem apre-ci-las.

    Por Rafael Martins

  • Por Beto Potyguara

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  • http://caricaturadias.blogspot.com/

  • I

  • Rafael C. OliveiraTexto

    Arte

    Bruno Romero

    Cidade nuaCidade nuapartes V e V1partes V e V1

  • Oitos horas antes doCataclismo...Oitos horas antes doCataclismo...

    Central, responda! Central!

    Shiii...

    Shiiii...

    DESGRAADAAA!

    O QUE VOC QUERDE NS???

    DIGA, VOUMATAR TODOS

    VOCS!

    NS SOMOS A LEI AQUI, ENTENDEU! NS

    SOMOS A LEI!

    mas eles vo ter que passar

    por todo o sistemade defesa da

    cidade.

    Desista. Seus amigos

    vieram tebuscar,

    Seus amigos

    chegaram...

    Faa silncio! O espetculo j vai

    comear...Senhoras...

    Vamos apresentar...

    ...a histria...

    Heri!

    ...e senhores!

    ...a todos vocs...

    ...do mais poderoso...

  • OOOO OOOOOO !

    FOOOGOOOO OOOOOOOOO OOOOOOOOO OOO

    OOO!!!OOOO OOO

    OOO !FOOOGOOOO OOOOOOO

    OO OOOOOOOOO OOOOOO!!!

    Que diabos isso!?

    Quero saber o que voc quer,

    suadesgraada!

    Noexiste teatro no mundo

    tiranode vocs?

    Vou dizero que

    queremos...

    Liberdade!

  • Sete horas antes doCataclismo...Sete horas antes doCataclismo... No pedimos

    paz, at porque isso nunca existiu

    para nshumanos...

    Queremospoder fazer

    nossas escolhas.

    Este lugar deu paz a todos,aqui no existe

    guerra.

    E voc me diz que preferem guerrear?

    Preferem a violncia?

    Os conflitosemocionais? Voc s

    pode estarlouca!

    Voc conheceria omar se eu apenas

    mencionasse a palavra "mar" antes que pudesse v-lo?

    Do que adianta paz se nem sabemos

    o que isso?

    Isso para ns no paz. E a

    guerra um produtoconstante, inevitvel,

    como a morte.

  • "quem voc?"

    E se quer saber como eu consegui,

    tente se lembrar umpouco antes de ser inserido

    nessa mquina cheia de apetrechos.

    A pergunta certa seria

    Morte? Aqui nenhum de vocs morrem. Somos todos

    imortais!

    No pedimos essa inrcia, ela nos foi imposta!

    No queremos sermarionetes sem sentimentos,

    sem cor, sem energia e tampouco sem nossos

    pensamentos.

    Engano seu. Ns comeamos amorrer a partir do momento emque nascemos...

    Nenhumser vivo conseguiu burlar o sistema

    arquitetado para a Cidade Nua! Como voc conseguiu?

    Pare com essa conversa mole e mediga quem diabos

    voc!

  • Seis horas antes docataclismo...Seis horas antes docataclismo...

    bela Mrs Dalloway! Ondevoc est? bela Mrs Dalloway! Ondevoc est?

    Mrs Dalloway, aparea!Por favor, temos assuntos srios atratar!

    Mrs Dalloway, aparea!Por favor, temos assuntos srios atratar!

    MrsDalloway!Mrs

    Dalloway! MrsDalloway!

    Mrs Dalloway!

    Mrs Dalloway!

    Tenho umacarta para a senhorita!

    HAHAHAHAHAH HAHAHA

    !A

    AH AA

    H AHAH HAHAH HAHA

    !

    Zizizizizizzzzzzz

    zzizzzzzzzz...Sistema c...

    f...al...h....

    Inician...process...

  • Esta forma talvez lhe agrade

    mais, Dante!

    Cinco horas antes do cataclismo...Cinco horas antes do cataclismo...

    Herr Mannelig dispensou uma bela Troll, porque ela no era uma "donna cristiana"... E voc Mrs Dalloway? s uma Troll tambm?

    Herr Mannelig dispensou uma bela Troll, porque ela no era uma "donna cristiana"... E voc Mrs Dalloway? s uma Troll tambm?Vamos!

    Quem voc?

    S isso?

    Nada do seu passado... Nadade sua infncia...

    Quem voc?

    S issoque sabe

    sobre voc?

    J se perguntou

    isso!?

    Sou um soldado escolhido para exterminar

    as inconstncias dosistema Cidade Nua. E voc o centro do

    nosso problema!

    CALE A BOCA!EU VOU MATAR VOC

    GAROTA! VOC APENAS UM VRUS

    QUE INVADIU O SISTEMA, ESSA SUAAPARNCIA NO ME

    ASSUSTA...

    Perdemos contato

    com a central, destruam tudo!

    A ordem nos protegermos

    e colocar toda a cidade

    abaixo! FOGOOO!

  • Como difcil encontrar a Mrs

    Dalloway!

    Pode vir, Dante.Estive esperando muito

    tempo por isso.

    Voc o nosso

    escolhido!

    No importaa forma, no hesitarei

    em atirar!

  • No!

    MORRAAAAAAAAAAAAAM!MORRAAAAAAAAAAAAAM!MORRAAAAAAAAAAAAAM!MORRAAAAAAAAAAAAAM!

    Ele nopode estar

    aqui.

    NA PRXIMA EDIO...O COMEO... DO FIM!

    NA PRXIMA EDIO...O COMEO... DO FIM!

  • 60

  • www.rascunhostudio.com

  • http://www.bodegadoleo.com/

  • Cidade Nua 05 e 06-2.pdfPgina 1Pgina 2Pgina 3Pgina 4Pgina 5Pgina 6Pgina 7Pgina 8Pgina 9Pgina 10Pgina 11

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