Família agricultora com água transforma a vida do semiárido

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Numa pequena propriedade, na comuni- dade de São Félix, município de Santo André, dona Lúcia Firmino da Silva, Francisco Luis da Silva (seu Chico), junto com seus 10 filhos, vivem desde o ano de 1978. No início do casamento, o pai de seu Chico cedeu uma parte de sua propriedade (01 ha) para que ele desse início a sua família. Com o passar do tempo, com a renda obtida com o trabalho, o casal adquiriu as demais áreas, que resultou no total aos 26 ha de terra, que eles dispõem hoje. Na propriedade existia um barreiro, onde era recolhida a água para todas as necessidades da família. Nos períodos de seca era preciso caminhar cerca de 6 km até o poço de uma propri- edade privada na comunidade Ramada. Eles saiam às 4h da manhã para pegar a água, que transporta- vam em pipas (02 tambores colados, com capacidade para 400 L). A comunidade, 01 vez por semana, recebia o fornecimento de água de um carro pipa, que mal dava para servir as 30 famílias que viviam em São Félix. Em 1990, a família construiu um barreiro e aos poucos foi aumentando sua capacidade de arma- zenamento de água. Hoje, após as chuvas, ele consegue atender a família por até 1 ano e 6 meses. Devido à dificuldade de acesso à água e a dificuldade em diversificar a produção, eles produziam apenas: milho, feijão e algodão. Para complementar a renda, seu Chico, comprava e vendia animais nas feiras livres de Juazeirinho e Campina Grande. Dona Lúcia conta que durante 10 anos foi com este pequeno comércio de animais, mais a produção familiar do roçado e dos animais que o casal pôde sustentar a família. A partir de 1998, utilizando a água do barreiro e a água servida (reutilizada), a família começou a desenvolver seu arredor de casa. Seu Chico comenta que antes as poucas frutas que se consumiam eram compradas de outros agriculto- res da comunidade: “a terra do meu vizinho era igual a nossa, então eu sabia que aqui também dava alguma coisa, só precisamos plantar e deu... e dá de tudo!”. Paraíba Ano 5 | nº 59 | maio | 2011 Santo André - Paraíba Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Família Agricultora com água transforma a vida do Semiárido 1 Dona Lucia em seu roçado de milho Dona Lúcia e seus filhos na cisterna calçadão

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Numa pequena propriedade, na comuni-dade de São Félix, município de Santo André, dona Lúcia Firmino da Silva, Francisco Luis da Silva (seu Chico), junto com seus 10 filhos, vivem desde o ano de 1978.

No início do casamento, o pai de seu Chico cedeu uma parte de sua propriedade (01 ha) para que ele desse início a sua família. Com o passar do tempo, com a renda obtida com o trabalho, o casal adquiriu as demais áreas, que resultou no total aos 26 ha de terra, que eles dispõem hoje.

Na propriedade existia um barreiro, onde era recolhida a água para todas as necessidades da família. Nos períodos de seca era preciso caminhar cerca de 6 km até o poço de uma propri-edade privada na comunidade Ramada. Eles saiam às 4h da manhã para pegar a água, que transporta-vam em pipas (02 tambores colados, com capacidade para 400 L). A comunidade, 01 vez por semana, recebia o fornecimento de água de um carro pipa, que mal dava para servir as 30 famílias que viviam em São Félix.

Em 1990, a família construiu um barreiro e aos poucos foi aumentando sua capacidade de arma-zenamento de água. Hoje, após as chuvas, ele consegue atender a família por até 1 ano e 6 meses.

Devido à dificuldade de acesso à água e a dificuldade em diversificar a produção, eles produziam apenas: milho, feijão e algodão. Para complementar a renda, seu Chico, comprava e vendia animais nas feiras livres de Juazeirinho e Campina Grande. Dona Lúcia conta que durante 10 anos foi com este pequeno comércio de animais, mais a produção familiar do roçado e dos animais que o casal pôde sustentar a família.

A partir de 1998, utilizando a água do barreiro e a água servida (reutilizada), a família começou a desenvolver seu arredor de casa. Seu Chico comenta que antes as poucas frutas que se consumiam eram compradas de outros agriculto-res da comunidade: “a terra do meu vizinho era igual a nossa, então eu sabia que aqui também dava alguma coisa, só precisamos plantar e deu... e dá de tudo!”.

Paraíba

Ano 5 | nº 59 | maio | 2011Santo André - Paraíba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Família Agricultora com água transforma a vida do Semiárido

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Dona Lucia em seu roçado de milho

Dona Lúcia e seus filhos na cisterna calçadão

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Mais água,

Mais Segurança

Em 2004, com a participação na Associação de Desenvolvimento Rural da Comunidade de São Félix, a família conseguiu o apoio do Cooperar (Programa de Combate a Pobreza Rural) para construção da cisterna da água de beber. Já em 2009 conseguiram o apoio para construção da Cisterna Calçadão, através do P1+2 (Programa 1 terra e 2 águas) da ASA-PB e ASA Brasil.

Com isso eles conseguiram manter e diversificar ainda mais o trabalho que estava sendo desenvolvido. Atualmente ao redor da casa de dona Lúcia e seu Chico tem uma diversidade impressionante de plantas. Além do canteiro econômico, com diversas hortaliças (couve, cebolinha, coentro, alface, pimentão quiabo, maxixe, cebola e beterraba), eles cultivam diversos tipos de frutas e plantas medicinais, como: coqueiro, graviola, pinha, acerola, banana, caju, manga, seriguela, mamão, limão, laranja, romã, alecrim, capim santo, hortelã miúdo, hortelã gordo e saião.

Dona Lúcia diz que o plantio de hortaliças só foi possível com a participação no Fundo Rotativo Solidário de Telas da comunidade, pois “com as telas os animais de terreiro (galinha e peru) não podiam estragar a horta. Todas essas coisas são ações que trazem mudanças na nossa vida e na vida das famílias da comunidade”. Além desses animais, o casal cria: porco, ovelha, cabras, gado e um jumento de carroça. Foi também no ano de 2009 que a família começou a fornecer alimentos para o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e a Bodega Agroecológica.

O casal diz que através da comercialização direta a família começou a ter uma renda maior, em comparação com o que recebiam antes quando comercializavam por meio de atravessadores: “Hoje a gente produz para o consumo e ainda pra venda para o PAA, pra o PNAE e pra Bodega... A gente pôde comprar uma égua e um garrote para ajudar na produção... Hoje a gente tem uma seguran-ça alimentar ao arredor de casa o ano inteiro, melhorou muito nossa vida”.

Hoje três filhos de Lúcia e Chico estão no grupo de beneficiamento de frutas da comunidade de São Félix. Roseane, Roseilma e Fernando também participam da associação da comunidade, da comissão municipal de Santo André e das comissões temáticas do Coletivo Regional. Uma das filhas, Roseane, é uma jovem liderança animadora da região, que participa ativamente da vida comunitária da região.

Concluindo Dona Lúcia diz que participando das atividades de formação e da organização da comunidade sente-se estimulada para continuar a desenvolver suas implementações: “Todo o traba-lho que a gente fazia foi melhorando e com o incentivo e valorização a gente se sente motivado a produzir mais ainda!”.

Seu Chico orgulhoso pela qualidade de seu milho

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2ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

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