FACULDADES INTEGRADAS IPIRANGA CURSO DE … BIBLIOTECA... · ANEXO ... móveis artesanatos e para...

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FACULDADES INTEGRADAS IPIRANGA CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA JENIRA BORRALHOS DE ATAÍDE LETÍCIA MALCHER CARDOSO ROSEMARY DA SILVA COUTO OS IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS CAUSADOS PELA EXTRAÇÃO DA TABOCA (BAMBU) EM SANTA MARIA DO UBINTUBA- PA. Belém PA 2013

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FACULDADES INTEGRADAS IPIRANGA

CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

JENIRA BORRALHOS DE ATAÍDE

LETÍCIA MALCHER CARDOSO

ROSEMARY DA SILVA COUTO

OS IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS CAUSADOS

PELA EXTRAÇÃO DA TABOCA (BAMBU) EM SANTA MARIA DO

UBINTUBA- PA.

Belém – PA

2013

JENIRA BORRALHOS DE ATAÍDE

LETÍCIA MALCHER CARDOSO

ROSEMARY DA SILVA COUTO

OS IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS CAUSADOS

PELA EXTRAÇÃO DA TABOCA (BAMBU) EM SANTA MARIA DO

UBINTUBA-PA.

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado ao curso de Licenciatura em Geografia na Faculdades Integradas Ipiranga para obtenção do título de Licenciado. Orientador: Prof. Esp. Raimundo Nazareno Loureiro da Silva.

Belém- PA

2013

JENIRA BORRALHOS DE ATAÍDE

LETÍCIA MALCHER CARDOSO

ROSEMARY DA SILVA COUTO

OS IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS CAUSADOS

PELA EXTRAÇÃO DA TABOCA (BAMBU) EM SANTA MARIA DO

UBINTUBA-PA.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Licenciado em Geografia pela banca examinadora da Faculdades Integradas Ipiranga.

Belém - PA, 31 de agosto 2013.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________

Prof. Esp. Raimundo Nazareno Loureiro da Silva- Prof.Orientador

_______________________________________________________________

Prof.– Examinador

DEDICATÓRIA

Ao nosso amado Deus e à Virgem Maria por nos ter dado força e coragem para

concretizar nossos objetivos, pelo dom da vida e eternas relações de fé e recíproco

aprendizado e amor. Aos nossos pais por terem nos ensinado a amar a vida e por

serem o exemplo do amor incondicional.

Aos nossos familiares, e amigos eternos companheiros que entre idas e vindas nos

ensinaram que amar está além do discurso.

AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente pelo dom da vida e por estar sempre conosco nas

horas mais difíceis de nossas vidas, iluminando os nossos caminhos, nos dando

força, coragem e sabedoria, para que não desistíssemos dos nossos ideais.

Aos nossos queridos professores, mestres e funcionários da Faculdades

Integradas Ipiranga, que sempre nos acolheram nesse espaço de “saber” ao nosso

orientador Raimundo Loureiro pela dedicação em compartilhar saberes.

Aos nossos amados pais; Edinélia Mª Malcher Cardoso e Zacarias P. Cardoso

(in memóriam), Rosalina B. de Ataíde e Raul A. de Ataíde e Francisca I. S. Couto (in

memóriam), a quem é difícil expressar em palavras a nossa eterna gratidão, pela

realização de mais uma conquista.

Ao Amigo e professor Carlos Correia pela colaboração em nossa pesquisa e

na elaboração deste maravilhoso trabalho.

Aos nossos queridos filhos, Otavio e Davi; Karen, Luciano e Arthur que se

mostraram compreensíveis por nossa ausência. Mesmo sentindo nossa falta.

Aos nossos parentes e amigos que nos incentivaram nessa longa caminhada

com palavras positivas e abdicaram de nossa presença em momentos especiais de

suas vidas em prol do nosso sucesso. .

Ao secretario de meio ambiente José Augusto Corrêa, e ao técnico da

EMATER Ailson Cardoso por nos ter reservado um espaço em sua agenda e

disponibilizando do seu tempo para nos fornecer a ferramentas para nossos

estudos.

As instituições que nos acolheram para pratica pedagógica de estágio.

As instituições a quais trabalhamos por nos termos entendido nos momentos

de ausência.

Por todos que nos incentivaram e acreditaram em nosso potencial.

E a todas as pessoas que cruzaram os nossos caminhos nesta longa etapa de

nossas vidas.

Enfim, a todas as pessoas que torceram por nós para que esse trabalho de

pesquisa desse certo, e pelo sucesso do mesmo.

“[...] Da boa harmonia existente entre os recursos naturais básicos e os métodos empregados pelo grupo humano em seu aproveitamento, dependerá em grande parte os destinos da própria sobrevivência da humanidade.” (GUERRA, 1994, p.433)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1: Foto aérea da localidade de Santa Maria do Ubintuba.......................

12

Mapa 2: Demonstração da área de extração da taboca e localidades onde há predominância da produção de espetos............................................................

21

Foto 1:Bambuzal na margem do rio Ubintuba...................................................

19

Foto2: Foto bambuzal demonstrando a erosão e assoreamento no rio Ubintuba.............................................................................................................

22

Foto 3: Foto da bucha sendo queimada por não apresentar nenhuma utilidade .para a produção de espetos...............................................................

23

Foto 4: Foto de sobras de “nós” de bambu descartados em quintais de propriedade de confeccionadores de espetos...................................................

23

Foto 5: Árvores de bambu que não se adaptaram no solo de terra firme.........

25

Foto6: Árvores de bambu cortadas de forma irregular, sofrendo o processo de decomposição...............................................................................................

25

Foto 7: Trabalho familiar na produção dos espetos de churrascos..................

35

Foto 8: Trabalho familiar na secagem dos espetos...........................................

35

Foto 9: Taboqueiro no processo de corte do bambu.

39

Foto 10: Atravessador levando espetos já negociados na residência de um dos artesãos.

40

Foto 11: Presença do trabalho feminino em uma das etapas da produção..... 42

Gráfico 1: Demonstração de como ocorreu o crescimento do nº de famílias por ano, na atividade econômica da produção de espetos...............................

18

Gráfico 2: Percentual da renda média mensal das famílias extrativistas e produtores de espetos.......................................................................................

32

Gráfico 3: Nível de escolaridade dos extrativistas de taboca e confeccionadores de espetos............................................................................

33

Gráfico 4: Tipos de moradias existentes na localidade de Santa Maria do Ubintuba.............................................................................................................

37

Gráfico 5: Gráfico quantitativo da presença de homens, mulheres, crianças e adolescentes na produção de espetos..............................................................

44

Tabela 1: Calendário da oferta natural das atividades extrativas que são

utilizadas pelos extrativistas locais....................................................................

31

Organograma 1: Representação da organização do trabalho da extração da taboca, confecção e comercialização dos espetos.................................................. 41

LISTA DE SIGLAS

APP: ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

EMATER : EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL

IBGE: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

PCNs: PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

SEMA: SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE

RESUMO

Este trabalho enfatiza os impactos ambientais e socioeconômicos

ocasionados pela atividade extrativa da taboca espécie de bambu (Guadua

paniculata) nas margens do rio Ubintuba na comunidade de Santa Maria do

Ubintuba, município de Santo Antônio do Tauá-Pa. Assim o objetivo do mesmo é

mostrar os graves problemas decorrentes da produção de espetos para churrasco

na respectiva comunidade; onde são comuns os impactos ambientais causados pela

extração da taboca; esse tipo de atividade econômica no município por não ter

fiscalização por órgãos ambientais responsáveis e da forma como esta vem sendo

retirada da natureza está provocando a extinção da espécie nativa da região o que

ocasionará um grande desequilíbrio nos ecossistemas locais, efetando muitas

famílias que dependem dessa atividade para o seu sustento ou complementação da

renda. Tendo em vista as conseqüências descritas no referente trabalho, verifica-se

a participação significativa da mulher nessa prática o que envolve diversos fatores

sociais e econômicos.

PALAVRAS-CHAVE: impactos ambientais, ecossistemas, socioeconômicos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................

12

1 A Relação Estabelecida entre Homem e Meio Ambiente................................

14

1.1 Análise da Vulnerabilidade Ambiental..............................................................

14

1.2 Uma Abordagem Histórica da Introdução do Bambu no Brasil.........................

16

2 Aspectos Socioeconômicos e Ambientais Associados a Extração da Taboca na Comunidade de Santa Maria do Ubintuba........................................

17

2.1 A Origem da Comunidade e o Início da Atividade Econômica da Produção de Espetos...................................................................................................................

17

2.2 Os Impactos Ambientais Causados pela Extração da Taboca..........................

19

2.3 O Extrativismo da Taboca em um Contexto Socioeconômico......................

28

3 A Organização do Trabalho na Extração e Beneficiamento da Taboca........

39

3.1 Divisão do Trabalho Relacionado a Extração da Taboca, Produção e Comercialização de Espetos...................................................................................

39

3.2 A Inserção da Mulher na Produção de Espetos................................................

41

CONSIDERAÇOES ................................................................................................

46

REFERÊNCIAS..........................................................................................................

49

ANEXO.................................................................................................................... 51

INTRODUÇÃO

A temática a ser discutida e analisada pelo presente trabalho se reveste em

função da extração desordenada da taboca (bambu) em Santa Maria do Ubintuba,

município de Santo Antônio do Tauá distante 22 km da sede. Como se verifica no

mapa 1. O mesmo encontra-se localizado na região Nordeste do estado do Pará,

distante 56 km da capital paraense, situado na PA 140 ,entre os municípios de Santa

Isabel e Vigia, fazendo parte da mesorregião metropolitana de Belém e da

microrregião de Castanhal. Este compreende uma área de 539, km, limitando-se

com os municípios de Vigia de Nazaré, Santa Isabel do Pará, Colares, São Caetano

de Odivelas e Santa Bárbara. Tem como base econômica a atividade extrativa e

agricultura familiar; As principais culturas cultivadas na comunidade são a pimenta-

do-reino, a mandioca, o milho, e no extrativismo se destaca a coleta do muru-muru,

andiroba e nos últimos anos a extração da taboca (bambu) para confecção de

espetos para churrasco.

Mapa 1: foto aérea da localidade Santa Maria do Ubintuba Fonte: http://maps.google.com.br (acessado em 31∕ 07∕ 2013)

A taboca (Guadua paniculata) é comumente conhecida como bambu, nome

que se dá a todas as plantas da subfamília Bambusoideae, pertencente a famílias

das gramíneas. A taboca é um tipo de bambu que tem a coloração verde, sendo

comum nas várzeas inundáveis com freqüência de maré. No Brasil já foram

identificadas mais de 200 espécies nativas de bambu que ocorrem de norte ao sul

do país. (LOUTON, 1996 apud CARDOSO , 2010).

O bambu é composto de duas partes: pela parte subterrânea, composta por

rizomas, responsáveis pela reprodução vegetativa do bambu, e as raízes que

capturam água e nutrientes; e pela parte aérea composta de colmos (vara de

bambu, galhos e folhas).

O bambu é utilizado de diversas maneiras com os colmos verdes ou maduros,

o colmo com dois anos de idade é considerado “verde”, por esse motivo ainda está

flexível e adequado para produção de cestos, paneiros, abanadores e outros; acima

de três anos quando já está amadurecido o seu colmo, torna-se lenhoso (duro)

estando adequado para construção de casas, cercados, móveis artesanatos e para

fabricação de espetos para churrasco.

Em Santa Maria do Ubintuba a produção de espetos para churrasco vem se

tornando uma atividade frequente entre as famílias locais, essa atividade contribui

para a formação de geração de renda; porém, a retirada acelerada da taboca nas

margens do rio Ubintuba vem ocasionando diversos impactos ambientais e

socioeconômicos na localidade, pelo modo como esse vegetal vem sendo extraído,

visando somente o lucro, há uma grande possibilidade desse vegetal deixar de

existir, devido a falta de técnica na retirada desse bambu, sendo as margens do rio

Ubintuba o principal local de extração da taboca que já se encontra escassa, os

moradores já avançam para os rios vizinhos a procura dessa matéria-prima. O

objetivo desse trabalho foi de mostrar os impactos socioeconômicos e ambientais

que essa atividade está provocando a comunidade, e com esse diagnóstico alertar

os moradores dessa comunidade em relação à escassez dessa espécie que num

futuro próximo poderá deixar de existir nas várzeas do rio Ubintuba, pondo fim a

essa atividade que beneficia muitas famílias da referida comunidade.

No entanto é necessário haver alternativas para que essa atividade tenha

continuidade sem agredir tanto o meio ambiente e continuar beneficiando inúmeras

famílias que têm dessa extração o seu meio de sobrevivência.

1 A RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE HOMEM E MEIO AMBIENTE.

1.1 ANÁLISE DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL.

A questão ambiental é um assunto que vem ganhando espaço, e sendo

considerado cada vez mais urgente e importante para a sociedade contemporânea,

uma vez que os futuros dos seres vivos dependem da relação estabelecida entre os

elementos da natureza e pelo uso dos homens sobre os recursos naturais

disponíveis.

Quando o assunto é meio ambiente, os prognósticos para os próximos cem

anos são alarmantes. Como meio ambiente entende-se o “conjunto dos elementos

que, na complexidade das suas relações, constituem o quadro, o meio e as

condições de vida do homem, tal como são, ou tal como são sentidos.

(CANOTILHO, apud VEIGA, 2011).

Para falar de meio ambiente é necessário compreender a temática de

impactos ambientais e entender por que a natureza foi desvinculada do homem ao

longo do tempo.

E dentro dessa perspectiva Branco (1997, p.20),

Define a palavra impacto, em português com significado de “choque”, “colisão”. Impacto ambiental é, pois, uma espécie de “trauma ecológico” que segue ao choque causado por uma ação ou obra humana em desarmonia com as características e o equilíbrio do meio ambiente.

E segundo Cipollin (2009, p. 17),

Impacto ambiental é a alteração no meio ambiente ou em algum de seus componentes por determinada ação ou atividade.

Conforme afirma Carvalho (2003, p. 25), teremos que ir até os primitivos

habitantes do planeta, se quisermos compreender a natureza, seu sentido, seu

significado.

No início da humanidade, os seres humanos viviam da caça e da coleta e

organizavam-se em tribos nômades, onde os recursos naturais existentes se

esgotavam, e eles tinham que ir de um lugar para o outro em busca de mais

recursos para suprir suas necessidades. Nesse período a humanidade alterava

pouco o espaço natural, provocando pequenos impactos.

Conforme o livro A natureza do espaço do geógrafo Milton Santos (2006), as

alterações ao meio ambiente ocorreram a partir do momento em que grupos

humanos iniciaram o cultivo de plantas e a criação de animais, dando origem as

atividades econômicas (a agricultura e a pecuária). O início dessas atividades,

aproximadamente há dez mil anos, trouxe grandes transformações para a vida de

alguns grupos humanos; com isso, houve aumento da população e o início da

efetiva alteração do espaço natural. (SANTOS, apud VEIGA, 2011).

Segundo Branco (1997, p. 21); o hábito sedentário, por sua vez, levou o

homem a desenvolver novas habilidades tecnológicas (necessárias à edificação de

casas, manejo do solo, uso do fogo, produção de tecidos e vestuários); ferramentas

de trabalho, o transporte; a roda; a tração animal; armas para a defesa de suas

aldeias; o aproveitamento da energia, da água e do ar... Assim, teria sido a

necessidade ou a conveniência da vida sedentária- origem das cidades- a causa

dessa tendência ao domínio progressivo da natureza.

Na concepção de Veiga (2011, p. 13), a Revolução Industrial no século XVIII,

causou à substituição parcial do trabalho manufaturado, realizado pelo homem, para

realizar-se em máquinas e a partir daí, estabeleceu-se à corrida atrás de matéria-

prima, que abasteceria o mercado mundial com os produtos industrializados. Essa

relação que se estabeleceu entre a indústria e a matéria-prima trouxe problemas

ambientais, que se organizou ao longo da história, e está se tornado mais grave nos

dias atuais. Com a industrialização, o meio ambiente sofre a exploração e a

descaracterização dos recursos naturais, embora se tenha em mente que qualquer

atividade econômica seja inerente e inevitavelmente transformadora a paisagem

física originária. O homem individualmente não tem influência na formação do

espaço e na utilização do território, mas a sociedade dispondo cada vez mais de

capital e de mais tecnologia, modifica a paisagem natural, criando um novo espaço.

Diante dessa perspectiva percebe-se que o homem desde o início da

humanidade tem tido a natureza a seu favor; e que esta passou a ser vista apenas

como fonte de matérias-primas, dando início a um intenso processo de degradação;

que segundo os PCNs (2001, p.37), consiste em alterações e desequilíbrios

provocados no meio ambiente que prejudicam os seres vivos ou impedem os

processos vitais ali existentes antes dessas alterações. Embora possa ser causada

por efeitos naturais, a forma de degradação que mais preocupa governos e

sociedades é aquela causada pela ação antrópica. A atividade humana gera

impactos ambientais que repercutem nos meios físico-biológicos e socioeconômicos,

afetando os recursos naturais... podendo causar desequilíbrios ambientais no ar, nas

águas, no solo e no meio sociocultural.

1.2 UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DA INTRODUÇÃO DO BAMBU NO BRASIL.

O bambu foi trazido para o Brasil pelos portugueses, e mais tarde pelos

japoneses. Ambos tinham idéias diferentes para o uso desse vegetal. Os

portugueses trouxeram o bambu para as terras conquistadas para construírem

jangadas para uma melhor exploração dos rios, além de ser utilizado para diversas

atividades, enquanto os japoneses trouxeram o bambu para o Brasil somente com o

intuito de produzirem o broto do bambu que lhes servia de alimento. Já os índios

encontraram varias utilidades para o vegetal, que vai da produção de cestos,

paneiros, flechas e moradias. Atualmente se encontra no Brasil uma grande

variedade de espécie do vegetal, e cada uma têm características e utilidade próprias

da sua espécie. O bambu é utilizado de diversas formas, desde a produção de

artesanatos, móveis, utensílios, calhas, brinquedos, bijuterias, cercados, e além de

produtos cosméticos e utilizados no ramo da estética, (comum nas massagens

corporais) e etc.; é uma planta comunitária, pois nasce e cresce em grandes

touceiras devido sua fácil proliferação, é uma planta muito resistente e dificilmente

se quebra devido seu colmo ser composto de nós ou mocotó.

O bambu vem ganhando espaço e reconhecimento em nosso país, pois antes

era visto com um certo preconceito devido seu baixo custo e por ser utilizado pelos

agricultores como cercados para aprisionar animais ou proteger suas plantações.

A região Norte, por exemplo, possui as maiores reservas de bambu nativo do

mundo, porém ainda são desconhecidas muitas espécies e seus usos e, com isso,

não se aproveita todo seu potencial. (PELLEGRINI, 2008 p. 15).

2 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS ASSOCIADOS A

EXTRAÇÃO DA TABOCA NA COMUNIDADE DE SANTA MARIA DO UBINTUBA.

2.1 A ORIGEM DA COMUNIDADE E O INÍCIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA DA

PRODUÇÃO DE ESPETOS.

A comunidade de Santa Maria do Ubintuba surgiu por volta dos anos 1890,

conforme afirma os moradores, que algumas famílias chegaram para trabalhar na

lavoura e assim iniciou-se o processo de fixação desse espaço.

Em entrevista a Sr.ª Maria Carmina Borralhos1, moradora local de 85 anos,

relata que a comunidade de Santa Maria do Ubintuba surgiu quando algumas

famílias iam de uma comunidade próxima chamada Borralhos para trabalhar na

produção da farinha, e produziram uma casa grande (retiro) assim chamada pelos

então moradores.

Com o passar do tempo essas pessoas foram se fixando nesse lugar. Daí

então surge a vila chamada de Sitio Conceição, a qual foi nomeada e registrada em

outubro de 1891, como aponta os documentos lavrados em cartório pelos primeiros

posseiros Manoel Camilo Monteiro, Manoel da Conceição Borralhos, Carlos José

Rodrigues e Tereza Maria. Com o passar do tempo a comunidade sofreu alterações

em sua nomenclatura e com a criação da associação de moradores, a mesma foi

registrada como Santa Maria do Ubintuba. (ANEXO)

A origem dessa nomenclatura está atribuída á dois fatores:

No primeiro momento o nome da localidade foi atribuído ao igarapé, cujo

nome é Santa Maria, (nome este atribuído a santa padroeira da localidade), sendo

este igarapé o afluente do rio Ubintuba. Os primeiros posseiros nomearam a

localidade juntando o nome da padroeira e o nome do rio local conhecido como

Ubintuba; nome este originário das árvores existentes às margens do rio,

denominadas de ubim.

Hoje a comunidade após passar por essas transformações, vem ganhando

destaque no setor econômico, por sua dinâmica no processo de desenvolvimento

socioeconômico e cultural.

1 Entrevista concedida no dia 22 ∕ 03∕ 2013.

A produção de espetos para churrasco, conforme relata Srª. Ivaneide da Silva

Gonçalves2 (esposa de Davi), teve início na vila de trombetas nos anos de 1990,

quando o Sr. Davi Costa de Aviz3 natural dessa localidade, ao sair para trabalhar em

Belém em uma churrascaria recebeu a proposta de produzir espetinhos de

churrasco e fazer a entrega aos sábado. A partir daí Davi com sua esposa e

familiares começaram a dar início a essa nova atividade econômica. Com o passar

do tempo as exigências no mercado foram aumentando e a produção também

começou a exigir novas técnicas, que fizeram com que esta atividade se expandisse

até outras localidades, inclusive a de Santa Maria do Ubintuba, que surgiu por volta

de 1993; e iniciou por intermédio de Davi e seus familiares que residem na referida

comunidade. À partir daí algumas pessoas começaram a confeccionar espetos e

vender para o Sr. Davi; e com passar dos anos essa atividade foi tendo um

crescimento sendo comum essa produção entre famílias. Como se verifica no

gráfico1.

Gráfico1: Demonstração de como ocorreu o crescimento do nº de famílias por ano, na atividade econômica da produção de espetos.

Através do gráfico percebe-se que no decorrer de alguns anos a produção de

espetos por família foi aumentando e que na comunidade essa atividade iniciou com

2Entrevista concedida no dia 23 ∕04∕ 2013.

3 Pioneiro da produção de espetos na comunidade de Santa Maria do Ubintuba e localidades

próximas.

0

2

4

6

8

10

12

14

Nº DE FAMÍLIAS

ANO

1993

3

2000

10

2010

25

2013

42

três famílias e até o mês de agosto de 2013, já conta com 42 famílias trabalhando

nessa atividade.

2.2 OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EXTRAÇÃO DA TABOCA.

A taboca (Guadua paniculata) é um tipo de bambu fino, alto, oco e tem a

coloração verde, sendo um vegetal comum em várzeas inundáveis por maré.

Conforme a figura1 que demonstra a forma desse vegetal.

Foto1: Bambuzal na margem do rio Ubintuba. Fonte: Autores 2013.

Tendo em vista as conseqüências causadas pela atividade econômica da

produção de espetos na localidade de Santa Maria do Ubintuba, verifica-se a

exploração desse vegetal que com intensa rapidez vem sendo extraído da natureza

o que está ocasionando o aceleramento no processo de transformação

socioeconômico e ambiental do espaço estudado.

O acelerado processo de extração da taboca (Guadua paniculata) vem

comprometendo o período de seu restabelecimento nas margens do rio Ubintuba,

pois esta espécie tem um lento crescimento. Como afirma Salgado (2001), em uma

área plantada de bambu, depois de estabelecida, a velocidade de propagação é

muito grande. O tempo de estabelecimento de uma plantação varia de cinco a sete

anos, e o amadurecimento de um bambu acontece de três a quatro anos.

(SALGADO, apud CARDOSO, 2010).

E ainda no momento da extração da taboca há uma grande devastação, pois

as árvores que apresentam os colmos ainda verdes e que são consideradas

impróprias para a produção de espetos, são cortadas junto com diversas espécies

desse habitat, como os cipós; que por serem considerados obstáculos aos

extrativistas, são ignorados aumentando consideravelmente a diminuição destas

espécies às margens do rio Ubintuba podendo levar até mesmo a extinção destes

vegetais.

Na localidade de Stª. Maria do Ubintuba a taboca é considerada mata ciliar,

pois esta se encontra as margens do rio Ubintuba; sendo segundo o Código

Florestal Brasileiro uma área de Preservação Permanente (APP) conforme a Lei

Federal nº 4.771/65 de 15 de setembro de 1965 revogada pela Lei

nº12.651, de 2012 que institui o novo Código Florestal .

Área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2o e

3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental

de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001 ∕ Novo Código Florestal de 2012).

Essas áreas são, no entanto amparadas por lei e são definidas não só por

fatores socioeconômicos, mas também por critérios ambientais que na maioria das

vezes não são levados em consideração, tornando a lei cada vez mais difícil de ser

cumprida.

É notório em Santa Maria do Ubintuba e em localidades próximas o

descumprimento da lei, onde Áreas de Preservação Permanente (APP) estão sendo

devastadas devido a utilização da taboca para a produção de espetos. Como mostra

o mapa 2.

Mapa 2: Demonstração da área de extração da taboca e localidades onde há predominância da produção de espetos. Fonte: Adaptado de Ailson dos Santos, 2010.

Dentro dessa visão os PCNS (2001.p.46) inferem “Os seres humanos não são

intrinsecamente “bons”, mas são capazes tanto de grandes gestos construtivos e de

generosidade quanto de egoísmo e destruição. No entanto, a sociedade humana só

é viável quando o comportamento das pessoas se baseia numa ética. Sem ela não é

possível a convivência.” Há que se dizer, portanto que recursos como a flora estão

sendo ameaçados e correndo riscos de extinção, sendo cada vez mais acelerado

pelo sistema capitalista. Há uma degradação do meio, uma vez que a retirada

excessiva da referida matéria-prima ocasionará grandes impactos ambientais para a

comunidade local, como: o processo de erosão ocasionado pela retirada das árvores

de taboca (bambu) -como se verifica na imagem 2 - o que eclodirá no assoreamento

do rio Ubintuba, pois como a taboca é mata ciliar e está sendo retirada das margens

do rio ocorrerá um intenso processo de lixiviação comum em áreas desmatadas,

Santa Mª do

Ubintuba

São Tomé

rio

U

bin

tu

ba

Trombetas

processo este que consiste na lavagem do solo retirando os nutrientes do mesmo e

levando uma grande quantidade de resíduos para o rio.

Foto 2: Foto do bambuzal demonstrando a erosão e assoreamento no rio Ubintuba Fonte: Autores- 2013

É notório também nessa atividade que durante a produção dos espetos há um

grande desperdício de resíduos de taboca, que não tendo nenhuma utilidade são

descartados nos quintais das residências dos confeccionadores de espeto,

aumentando consideravelmente a quantidade de lixo na comunidade. Como

mostram as imagens 3 e 4.

Foto 3: Foto da bucha sendo queimada por não apresentar nenhuma utilidade para a produção de espetos. Fonte; Autores-2013.

Foto4: Foto de sobras de “nós” de bambu descartados em quintais de propriedade de confeccionadores de espetos. Fonte: Autores-2013.

Nesse contexto à medida que tal modelo de desenvolvimento vem

provocando efeitos impactantes e graves ao meio ambiente, surgem manifestações

e movimentos que refletem a consciência de parcelas da população sobre o perigo

que as futuras gerações correm em afetar de forma violenta o meio.

Sobre esta perspectiva os PCNS (2001, p.20) informam que em países como

o Brasil, preocupações com a preservação de espécies surgiram já há alguns

séculos como no caso do Pau-Brasil, por exemplo, em função de seu valor

econômico.

Para alguns, a maior parte dos problemas ambientais são reflexos do passado

que refletem em nossos dias; o que sabemos é que desde o início da colonização

quando se extraia o Pau-Brasil para exportar para a Europa não havia uma

preocupação com impactos, pensava-se somente em retirar e em gerar lucros, o que

se observa é que esses problemas perduram e causam preocupações para meia

dúzia de pessoas; estes não vêem esse lado de desequilíbrio do meio, vêem apenas

o lucro que tem a ganhar com essas atividades. Dentro dessa abordagem a extração

do bambu na vila de Santa Maria do Ubintuba é vista apenas como fonte de lucro,

por parte da população para satisfazerem seus anseios onde os mesmos retiram o

bambu desenfreadamente causando assim a perda quase total da vegetação local.

Segundo o relato do entrevistado Ailson dos Santos Cardoso4, técnico agrícola da

EMATER;

A retirada dessa espécie de bambu da várzea não é adaptável a terra firme provocando um retardamento no desenvolvimento da espécie vegetal ou até mesmo a morte da planta. Dessa forma os moradores nâo se dão conta dos desastres que futuramente causarão as futuras gerações.

Observa-se através da imagem 5 o que foi afirmado pelo técnico agrícola da

EMATER, esses fatores representam um grande obstáculo na perspectiva de se

plantar o bambu em áreas de terra firme para que se possa dar fim a essa extração

nas áreas de várzea próximas ao rio, além da falta de técnica correta para se extrair

o bambu, quem em muitos casos acontece de maneira irregular. Como se verifica na

imagem 6.

4 Entrevista concedida no dia 06∕ 06 ∕ 2013.

Foto 5: Árvores de bambu que não se adaptaram no solo de terra firme. Fonte: Autores- 2013.

Foto 6: Árvores de bambu cortadas de forma irregular, sofrendo o processo de decomposição. Fonte: Autores- 2013.

Diante desses impactos decorrentes dessa extração é notório que as

sociedades confiam na capacidade de a humanidade produzir novas soluções

tecnológicas e econômicas que venham suprir os problemas surgidos pelos

paradigmas civilizatórios impostos pelo sistema capitalista nos últimos séculos. Onde

esses problemas são oriundos do meio ao qual se desenvolveu uma economia

pensando somente no desenvolvimento econômico, e não na sociedade ou em

quais problemas ocorreriam por meio desta. Por outro lado, os estudos ecológicos

começam a mostrar com evidência que a destruição e até a simples alteração de um

único elemento num ecossistema pode ser nocivo ou até mesmo fatal para o

sistema como um todo.

Grandes extensões de florestas, por exemplo, vem sendo destruída

determinando a escassez ou até mesmo a extinção regional de algumas espécies e

a proliferação de problemas ambientais que provocam o desequilíbrio, prejudicando

a própria região ali afetada tanto economicamente como social. (PCNS 2001, p.20).

No entanto perecebe-se que em meio a todos esses problemas ambientais

uma parcela da humanidade acordou para a necessidade de preservar o meio

ambiente e impedir a destruição da própria espécie; principalmente à partir da

década de 60, onde intensificou-se a percepção que a humanidade pode caminhar

aceleradamente para o esgotamento de recursos indispensáveis à sua própria

sobrevivência. Dessa forma pensou-se que algo poderia ser feito para mudar as

formas de ocupação do planeta estabelecidas pela cultura dominante.

Esse tipo de constatação vem sendo alvo de movimentos, reuniões e

conferências em defesa ao meio ambiente, que lutam para diminuir o acelerado

ritmo de destruição dos recursos naturais ainda preservados; e através desses

mesmos buscam-se alternativas que concilie na prática da humanidade a

conservação da natureza com a qualidade de vida das sociedades que dependem

da mesma.

Branco (1997, p. 27) aponta que;

“Não basta, portanto, proteger espécies em particular. É preciso proteger o ecossistema como um todo, inclusive as espécies mais insignificantes ou repugnantes, todas têm um papel importante nesse equilíbrio.”

Dentro dessa abordagem nota-se a grande importância de se manter o

equilíbrio entre as espécies, já que estas dependem umas das outras e um simples

desequilíbrio pode levar a perda de todo o ecossistema.

Em Santo Antônio do Tauá, especificamente na Secretaria de Meio Ambiente,

vem se levantando reuniões em torno da retirada de bambu. Onde o Secretario de

meio ambiente Jose Augusto Correia 5 relata que tem feito varias visitas nas

comunidades com o propósito de desenvolver projetos de sensibilização aos

moradores locais. O mesmo relatou que tem projetos voltados para um futuro

reflorestamento da área desmatada; mas, que ainda sente dificuldades, pois a

secretaria ainda não tem recursos suficientes para aplicar. Este relatou ainda que

esta é uma das preocupações da referida secretaria, já o técnico de agricultura da

EMATER Ailson dos Santos Cardoso6 relata que;

Uma das maneiras de evitar a extinção da taboca (Guadua paniculata.), é o plantio de outras espécies de bambu que são propícios também para serem utilizados na produção de espetos e que podem ser reproduzirem em locais de terra firme, como se faz com a mandioca, piprioca, e outras culturas; assim daria tempo para a taboca se recuperar nas várzeas.

Diante desses relatos observa-se que há uma preocupação com relação a

essa extração, porém pouco se tem feito para que esse problema seja resolvido. No

entanto a questão ambiental deve ser prioridade nos planejamentos políticos e

econômicos dos governos onde estas possam ser analisadas em seu potencial

econômico e visto como fatores estratégicos para a política ambiental de um país

como um todo; de modo que essa política almeje influir fortemente nas decisões

ambientais, governos e comunidades devendo tomar, cuidado especialmente

quando envolvem o uso dos recursos.

Como se infere na visão aqui exposta é preocupante a forma como estes

recursos naturais brasileiros vem sendo manuseados. Poucos extrativistas tem

conhecimento ou valorizam a importância de se preservar o meio ambiente

específico em que trabalham; muitas vezes para extrair um recurso perde-se outro

de maior valor.Com freqüência também a extração de minérios, por exemplo, traz

lucros somente para um pequeno grupo de pessoas que muitas vezes nem se quer

residem na região e levam a riqueza para longe e até para fora do país, deixando

em seu lugar uma devastação que custará caro as futuras gerações.

5 Entrevista concedida no dia 20∕ 06 ∕ 2013.

6 Entrevista concedida no dia 06 ∕ 06 ∕ 2013.

Dessa forma a retirada do bambu não trará consequências desastrantes só no

presente como também no futuro, como a falta do produto que afetará a economia

local.

Além disso, a degradação do meio ambiente acontece intensamente em razão

das injustiças sociais e econômicas geradas pela baixa qualidade de vida de grande

parte da população brasileira, que são fatores que estão fortemente presentes e

relacionados ao modelo de desenvolvimento e suas implicações que refletem de

regiões e comunidades como esta, afetada pela extração de vegetais em grandes

proporções.

2.3 O EXTRATIVISMO DA TABOCA EM UM CONTEXTO SOCIOECONÔMICO.

Atualmente muitos dos recursos naturais vêm sendo dilapidados devido a uma

mentalidade moderna que se baseia no capitalismo, e têm a natureza como um

recurso disponível a seu serviço; ligada à intensa busca de lucro ou da satisfação

material. Isso se deve principalmente, pelo fato do homem representar o ser ativo

que realiza transformações e modifica o espaço em que vive.

O desenvolvimento, em todos os seus aspectos social, ambiental, econômico,

etc... É necessário e essencial à humanidade, para que se estabeleçam condições

existenciais a todos. Porém, o que se observa, é que os benefícios advindos do

conhecimento sistematizado e dos avanços da tecnologia, não têm impedido o

agravamento dos problemas ambientais, comprometendo ainda mais, a situação já

difícil de algumas nações; as quais, dia após outro, lidam com miséria, fome,

violência, poluição, desemprego, etc... (VEIGA, 2011 p.19).

Segundo Neto (2003, pg. 140).

A riqueza ambiental está ameaçada de sofrer uma redução dramática. A cada dia o homem extingue mais espécies que, no futuro, podem ser essenciais à sua própria sobrevivência.

Esse argumento fundamenta-se no pensamento adotado pela sociedade

capitalista que é marcado principalmente por uma idéia equivocada de

desenvolvimento; em que há oposição entre o ser humano e a natureza,

representando esta última apenas o papel de prover recursos, cabendo ao homem o

aprimoramento de conhecimentos e técnicas capazes de explorá-los; e onde a

constante e descontrolada ação devastadora do “homem civilizado” é a grande

responsável pela redução acelerada de várias espécies animais e vegetais, pondo

em risco a sua própria existência; pois, como afirma Branco (1997, p. 22) o grande

problema da civilização moderna, industrial e tecnológica é talvez o de ela não ter

percebido que ainda depende da natureza, ao menos em termos globais... o homem,

quer queira quer não, depende da existência de uma natureza rica, complexa e

equilibrada em torno de si.

Neto (2003, pg. 143) aponta que,

As principais causas da contínua degradação ambiental em todo o mundo se originam nos padrões de consumo e de produção... Este estilo de vida consumista e perdulário produz pobreza, desperdício e desequilíbrios crescentes.

Observa-se através dessa idéia que vivemos em uma sociedade de consumo

que é reflexo do processo de expansão do capitalismo e isso induz à intensa

utilização dos recursos naturais, devido ao aumento na demanda por matérias-

primas necessárias à produção de novos produtos; aumentado de forma

considerável o ritmo das atividades econômicas e ampliando a interferência do

homem sobre a natureza. O autor enfatiza ainda que acima de tudo, a

complexidade, a frequência e a magnitude dos impactos estão aumentando e se

agravando. Em parte pela explosão populacional e em parte pelo crescimento geral

do consumo... (NETO, 2003, pg.124). Contudo observa-se através da idéia do autor

que os fatores demográficos tem grande influência no intenso processo de

exploração de recursos naturais, e que esse é um dos principais fatores que

contribuem para a contínua degradação do meio ambiente.

Conforme Ramos (2008, pg.138),

O atual estágio do capitalismo possui, segundo Bernardes et.al(2003), uma singularidade que se materializa na alteração do espaço físico na condição de valor de uso e de valor de troca, gerando uma dinâmica do mercado em torno do próprio espaço, dinâmica essa que inclui a produção de bens materiais e a adequação do meio ambiente circundante às necessidades sociais. Nesse caso, podemos também refletir sobre a valoração capitalista imposta as áreas de florestas, ou mesmo a reservas naturais e também sobre o seu valor especulativo diante das demandas da biodiversidade global.

Nesse contexto percebe-se que o moderno sistema capitalista depende dos

recursos naturais em grande escala, impondo uma conquista cada vez mais

dominante ao meio natural e que essas alterações impostas à natureza se dá em

detrimento da dinâmica de mercado que têm como objetivo a obtenção de matéria-

prima, que vem satisfazer as necessidades da atual sociedade. Nota-se também

uma grande apropriação de recursos da floresta que em grande parte são extraídos

como se fossem bens livres e inesgotáveis.

Diante desse contexto pode-se afirmar que a economia de Santa Maria do

Ubintuba nem sempre foi como costuma se ver atualmente. Esta passou a

desenvolver-se a partir das necessidades de atender as formas de organização

sociais existentes nessa localidade e suas dinâmicas de uso da terra, flora, entre

outros.

A economia da comunidade por muito tempo dependeu de produtos extraídos

da mata e dos rios e da produção das roças que eram as únicas alternativas de

sobrevivência das famílias. Com o passar do tempo surgiram outros

empreendimentos que vieram somar ou mudar a renda familiar dando-lhes

alternativas para a os moradores deste lugar. Em sua pauta econômica esta conta

com as mais variadas alternativas de renda, como atividades minerais, animais e

vegetais que fazem parte do comercio local.

As atividades extrativas são orientadas para o uso de técnicas geralmente

desenvolvidas a partir dos saberes e práticas tradicionais, do conhecimento dos

ecossistemas e das condições ecológicas de cada região. Durante todo o ano a

população de Santa Maria de Ubintuba exercita o extrativismo vegetal, os produtos

vegetais com maior expressividade econômica são o açaí, bacuri, cupuaçu, as

sementes oleoginosas (andiroba, muru-muru), hortaliças e a produção de espeto.

Como se verifica no calendário extrativista.

CALENDÁRIO DA PRODUÇÃO ECONÔMICA EM STª MARIA DO UBINTUBA

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

BACURÍ BACURÍ BACURÍ BACURÍ

AÇAI AÇAI AÇAI AÇAI AÇAI AÇAI

CUPUAÇU

CUPUAÇU CUPUAÇU CUPUAÇU CUPUAÇU CUPUAÇU

MURUMURU

MURUMURU

MURUMURU

MURUMURU

ANDIROBA ANDIROBA ANDIROBA ANDIROBA

ESPETO ESPETO ESPETO ESPETO ESPETO ESPETO ESPETO

ESPETO

ESPETO

ESPETO

ESPETO

ESPETO

HORTA HORTA HORTA HORTA HORTA HORTA HORTA HORTA

Tabela 1: Calendário de oferta natural das atividades extrativas que são utilizadas pelos extrativistas locais.

O calendário extrativista esta baseado nas informações coletadas localmente

com moradores da comunidade de Santa Maria do Ubintuba. A série que segue

cada mês está disposta de acordo com a produção que acontece anualmente, onde

observa-se que a produção do espeto em relação as demais atividades econômicas

se destaca o ano inteiro e não por safra. E a produção de espeto durante o período

do inverno se torna mais cara devido a produção ficar comprometida pelo

aparecimento de fungos nos espetos que não ficam expostos ao sol por muito

tempo, já que neste período há pouca incidência de luz solar, e os artesãos não

possuírem espaços apropriados para armazenar os espetos.

A produção de espetos é uma prática comum na comunidade, onde a maioria

das famílias trabalham com essa atividade como meio de obter ou complementar a

renda familiar; onde os mais beneficiados são os moradores locais e vizinhos que

desfrutam do crescimento da economia da região.

Homma (1993. p.1) enfatiza que;

O processo extrativo sempre foi entendido como primeira forma de exploração econômica, limitando-se à coleta de produtos existentes na natureza, com baixa produtividade ou produtividade declinante, decorrentes do custo de oportunidade do trabalho próximo do zero.

No entanto a especialização em atividades extrativas ou de produção na

localidade depende da oferta de recursos naturais, necessidade de subsistência, e

oportunidade de mercado, pois a maioria das pessoas que trabalham com essa

extração não tiveram oportunidade de trabalho formal ou têm que complementar a

renda porque o que ganham não é o suficiente para o sustento de sua família. Como

mostra o gráfico 2.

Gráfico 2: Percentual da renda média mensal das famílias extrativistas e produtoras de espetos.

Observa-se através do gráfico que as famílias que apresentam uma renda de

0-200 R$, são as que tem a produção de espeto como única fonte de renda.

Enquanto que as famílias que apresentam uma renda mensal de 200-500 R$, tem a

produção de espetos como forma de complementar a renda; pois segundo dados

coletados em campo, estas possuem outras formas de obter renda como bolsa

família, trabalham em hortas, roças, e etc..Já as famílias que possuem uma renda

mensal de 500-1000 R$, são na maioria pensionistas, aposentados e funcionários

públicos que tem nessa atividade econômica um meio de complementar a renda

mensal.

Percebe-se através dessa perspectiva que muitos moradores da comunidade

optam por essa atividade extrativa principalmente por motivos econômicos e sociais.

O nível de escolaridade é um dos fatores que está associado a essa atividade

econômica. Como se verifica no gráfico 3.

0-200

200-500

500-100025%

75%

10%

Renda m

édia m

ensal em

(R

$)

Gráfico 3: Nível de escolaridade dos extrativistas de taboca e confeccionadores de espetos.

Conforme o gráfico acima, os dados de escolaridade coletados em campo,

demonstraram altas taxas de ensino fundamental menor (1ª a 4ª Séries), sendo que

as pessoas com esse nível de escolaridade e os analfabetos são na maioria das

vezes os adultos e idosos. E os que se declararam analfabetos argumentaram que o

fato de terem baixa escolaridade, consiste no fato de terem começado a trabalhar

desde criança para ajudar no orçamento familiar; e por esse motivo não tinham

tempo para permanecerem na escola, já que a hora do trabalho coincidia com o

horário que tinham que estudar. Já os que possuem o ensino fundamental maior (5ª

a 8ª Séries) e ensino médio, são os jovens e adolescentes que trabalham e um

horário que não coincide com o horário escolar.

Esse trabalho é considerado informal, pois segundo Pellegrini (2008, p. 14) a

comercialização no Brasil em relação ao bambu ainda é dispersa e informal... e o

setor de artesanato de bambu vem crescendo. Além também de diversos artesãos

espalhados pelo país, que fabricam diversos artefatos e os vendem em feiras livres,

nas ruas, estradas ou por encomendas.

A produção de espetos segundo os “atravessadores” é comercializada em

municípios próximos e na região metropolitana de Belém como Ceasa-PA, onde os

estes levam em grande quantidade para abastecer o comércio paraense.

0

1

2

3

4

5

6

Analfabeto

5ª a 8ª Séries

Ensino Médio

1ª a 4ª Séries

4,5% 5,3%

10,1%

80,1%

Conforme relata a Sr.ª Clarisse Gurjão7;

Vendemos o espeto pra um atravessador lá no Trombeta, ao preço de R$5,00 a R$8,00 o milheiro, que leva pro Tauá, Belém e outros municípios. Dá muito trabalho e o dinheiro não dá nem pra compensar o trabalho que a gente tem.

Percebe-se através do relato da entrevistada que nesse tipo de atividade há

uma grande exploração do trabalho, onde não se paga o preço justo pela

mercadoria e pela mão-de-obra.

A comunidade de Santa Maria do Ubintuba está inserida no modelo de

desenvolvimento tradicional com influências capitalistas na área do extrativismo

diversificado; hora uma extração ecologicamente correta, hora feita de maneira

tradicional e sem conhecimento algum ocasionando um desequilíbrio ecológico

reversível a longo prazo, no entanto a atividade extrativa na comunidade contribuiu e

contribui até os dias atuais para uma mudança lenta ,mas notável no modo de vida

da população local, onde sua produção é voltada para o sustento da família como a

produção de farinha de mandioca, a pesca, a criação de aves e outros.

Uma prática importante desta comunidade é a ajuda mútua, a reciprocidade e

a sociabilidade, estrutura social peculiar a outras comunidades; também quando se

trata do aspecto religioso que é marcado pelas festas das santas padroeiras (Nossa

Senhora da Conceição e Santa Maria) um dos mais importantes acontecimentos da

comunidade. No campo econômico esta conta com um vários empreendimentos

como: mercadinhos, açougues, hortas, açaizais,e outros que fazem parte da

dinâmica de safra e que atendem não só o comercio tauaense como o de outros

municípios e da metrópole paraense.

Diferente do latifúndio e do agronegócio, os extrativistas materializam o seu

território com a produção familiar retirando do bambu a sua renda ou

complementando-a. Conforme a imagem 7 e 8 que demonstra o trabalho grupal

entre as famílias da comunidade Santa Maria Ubintuba.

7 Entrevista concedida no dia 19 ∕ 04 ∕ 2013.

Foto7: Trabalho familiar na produção dos espetos para churrascos. Fonte: Autores- 2013.

Foto 8: Trabalho familiar na secagem dos espetos. Fonte: Autores-2013.

Conforme afirma GIRARDI e FERNANDES (2009, p.343)

Através do trabalho familiar e da forma simples de produção, voltada mais para a própria sobrevivência do que para a comercialização com o grande capital. Na reprodução camponesa o indivíduo é o dono da sua propriedade

e de seus instrumentos de trabalho apresentando-se a sociedade como um trabalhador livre.

Nessa concepção o trabalho do camponês assemelha-se ao dos extrativistas

na comunidade de Santa Maria do Ubintuba, onde este é dono de suas próprias

ferramentas de trabalho e é um trabalhado informal, baseado em uma produção

familiar. Os camponeses também já não mais trabalham diretamente na terra por

diversos motivos ou fatores como o envelhecimento do camponês e a falta de mão

de obra juvenil, a busca do trabalho assalariado fora da comunidade. Mesmo diante

de tantos percalços os camponeses buscam sua permanência no campo criando

formas de sobrevivência através dos recursos naturais; assim como os extrativistas

da comunidade estudada que tem na extração da taboca (bambu) um meio de

sustentabilidade de grande parte da comunidade. Sendo uma atividade de grande

importância no momento tendo em vista que sua falta acarretará uma grande perda

do poder de compra das pessoas da comunidade.

As relações estabelecidas dentro do território camponês têm como eixo

central a família, o trabalho e a terra que fornecem a matéria-prima para seu

sustento; assim como os extrativistas de Santa Maria do Ubintuba que apresentam

perspectivas coletivas, buscando viver de forma solidária uns com os outros, lutando

por projetos comuns a toda comunidade que ainda sobrevivem sem qualquer

urbanização com transportes públicos é precários, assim como vias de acesso a

comunidade não apresentam boas condições de trafegar em dias chuvosos

impedindo assim qualquer deslocamento para outro lugar.

Os impactos sociais dessa atividade econômica aliada a outras já são notadas

na comunidade como a própria paisagem que já está sendo transformada; onde

havia moradias humildes feitas de palha, pau a pique ou madeira são substituídas

por alvenaria. Como se verifica no gráfico 4.

Gráfico 4: Tipos de moradias existentes na localidade de Santa Maria do Ubintuba.

Observa-se através do gráfico que na localidade há uma predominância em

moradias de alvenaria, e esse fator condiz com o aumento do poder aquisitivo dos

moradores locais que conforme vão complementando a renda, buscam reformar a

sua casa com o propósito de proporcionar segurança e maior conforto aos membros

da família.

Outra transformação observada foi a diminuição na produção de farinha

decorrente da falta de mão-de-obra para o plantio da mandioca, que segundo o Srº.

Carlos Dias8,

Extrair taboca é mais em conta do que plantar mandioca; porque a taboca já tem na beira do rio e a mandioca ainda tem que plantar e passar por todo um processo.

Conforme o relato do entrevistado é possível notar uma transformação na

cultura local, pois o abandono da produção de farinha se dá devido a praticidade que

a produção de espeto oferece, apresentando pouco tempo gasto na confecção de

espetos com relação a produção da farinha, além de ser uma atividade que tem um

retorno financeiro semanal.

E nesse contexto já se vê nas escolas um sensibilização com relação aos

problemas ambientais como forma imprescindível capaz de subsidiar a

compreensão das inter-relações entre o homem, sociedade e meio ambiente.

8 Entrevista concedida no dia 26 ∕ 06 ∕ 2013.

0

1

2

3

4

5

6

Pau a pique

Palha

Madeira

Alvenaria

3% 7%

10%

80%

Diante dessa temática educação ambiental pode contribuir na formação da

cidadania crítica e responsável, orientando a população quanto uma economia

desenvolvida com prudência de como fazê-la de maneira correta visando o bem das

gerações futuras. E segundo o Art.1º da Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de

1999, que conceitua educação ambiental, como:

Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (Política Nacional de Meio Ambiente)

De acordo com o disposto nesta lei a educação ambiental é considerada de

suma importância na formação do aluno cidadão, a fim de formar indivíduos capazes

de perceber a problemática ambiental, fazendo-os construtores de uma nova forma

de pensar com relação a utilização dos recursos naturais, podendo estes

compartilharem esses conhecimentos na família e na comunidade a qual estão

inseridos.

O modo de vida dessa comunidade se insere em uma dinâmica produtiva que

se difere dentro da própria comunidade, pois, não está ligada só a agricultura

tradicional, mas também a pesca artesanal e as várias formas de extrativismo nela

existente.

O extrativismo da taboca se dá da mesma maneira rústica e tradicional como

acontecia com outras atividades extrativas como a produção da farinha de mandioca

que acarreta a ocupação da mão-de-obra familiar acontece em locais improvisados

nas próprias moradias, sem qualquer tipo de qualificação ou segurança. Nessa

concepção, a criação da riqueza resulta no processo de dominação e transformação

da natureza criando valores mensurados monetariamente que impulsionam o

crescimento econômico (HOBSBAWN 1978, apud SANTOS e SILVA, 2011). No

entanto muitos recursos naturais vêm sendo considerados bens livres; não sendo

comercializados no mercado e, portanto, não tem seu valor exato em moeda e com

isso os seres humanos se acham no direito de retira-los de seu habitat , sem mesmo

ter uma consciência de estar preservando.

.3 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NA EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTO DA

TABOCA .

3.1 DIVISÃO DO TRABALHO RELACIONADO A EXTRAÇÃO DA TABOCA,

PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ESPETOS.

Na comunidade de Santa Maria do Ubintuba esta atividade econômica

acontece obedecendo os seguintes critérios:

Os tiradores de taboca vão ate a várzea com instrumentos adequados

(terçados, machados, e serras) para retirar o produto. Não encontrando mais a

taboca em grandes quantidades; os mesmos percorrem as várzeas vizinhas, onde

ao encontrarem o bambu retiram as varas que são encontradas em touceiras, e

repassam aos taboqueiros que e em suas casas cerram com a máquina (maquitas e

serras manuais) em pedaços menores obedecendo as divisões existentes no próprio

caule do vegetal. Como mostra a imagem 9.

Foto 9: Taboqueiro no processo de corte do bambu. Fonte: Autores 2013.

Após todo esse processo os taboqueiros vendem essa taboca em basquetas

ou sacos no valor de R$10 reais para as famílias; que transformam essa matéria-

prima em espetos para churrasco.

A produção de espetos feita pelos artesãos acontece em sua própria

residência, onde estes produzem espetos em milheiros e repassam para o

atravessador. Como mostra a imagem 10.

Foto 10: Atravessador levando espetos já negociados na residência de um dos artesãos. Fonte: Autores- 2013.

Calcula-se que em média 30 famílias da localidade em estudo vivem

diretamente da produção de espetinhos extraído do vegetal bambu, conhecido

popularmente como taboca. Segundo dados preliminares levantados em campo, a

produção media semanal é de 60 mil espetos por famílias ao preço de R$8,00 a

R$10,00 o milheiro aproximadamente, que é repassado ao atravessador. Este após

comprar na casa de seus clientes o produto, são responsáveis por abastecer o

próprio município de Santo Antônio do Tauá e também repassá-los para os

principais mercados consumidores da capital e de alguns municípios como São

Caetano de Odivelas e Castanhal.

Através do organograma é possível observar as etapas na organização do

trabalho da produção de espetos, desde sua origem até o responsável pela sua

comercialização.

Ao entrevistarmos o Sr. Armandino9, este relatou;

É melhor tirar taboca pra vender do que fazer o espeto, porque da muito trabalho fazer um bocado de espeto ate formar um milheiro, na venda bruta eu ganho muito mais.

Dessa forma percebe-se através do relato do entrevistado que há uma certa

preferência por alguns em se trabalhar no processo de extração da taboca; pois a

produção de espetos necessita de várias etapas o que torna o trabalho mais

minucioso.

3.2 A INSERÇÃO DA MULHER NA PRODUÇÃO DE ESPETOS.

Na vila de santa Maria de Ubintuba a atividade econômica da produção de

espetos é uma realidade que vem ganhando espaço e contribuindo para o

desenvolvimento da economia do lugar, tendo a participação da mulher nos espaços

de decisões e na dinâmica do trabalho. Como se verifica na imagem 11.

9 Entrevista concedida no dia 19 ∕ 04 ∕ 2013.

Tirador de

taboca

Taboqueiro

Confecccionadores

de espeto

Atravessador

Organograma 1: Representação da organização

do trabalho da extração da taboca, confecção e

comercialização dos espetos.

Foto 11: Presença do trabalho feminino em uma das etapas da produção. Fonte: Autores- 2013.

Segundo (Castro, et. al., 2008) que se refere o domínio do conhecimento que

a mulher apresenta sobre o processo produtivo na agricultura familiar garante a

sustentabilidade da propriedade, na esfera do trabalho com a terra, bem como a

influência a esfera das reações de gêneros, para além do espaço específico do

trabalho, na sustentabilidade como um todo na produção visto que ela tem sua base

de sustentação na família. (CASTRO apud SANTOS e SILVA, 2011)

Dentro essa abordagem a atividade da produção de espetos na vila de santa

Maria do Ubintuba tem uma predominância em relação às mulheres em que as

mesmas vêm ganhando espaço no setor econômico tendo com isso uma maior

independência financeira. Em se tratando do espaço rural, a relação entre família,

trabalho e economia é tão suficientemente explicita que dificilmente não se

constituiria um problema (SARACENO 1997 apud FERNANDES, 2011). Desse

modo o trabalho das famílias da localidade está organizado mediante laços de

parentesco onde os homens fazem o trabalho mais pesado que é a retirada da

“bucha” que é a parte interior do bambu, e as mulheres e crianças desfiam em

pequenas fatias, até chegar na fase final, que é o espeto. O trabalho da mulher e de

crianças em atividades produtivas, como na agricultura é percebido como “ajuda” em

muitas situações permitindo serem visto como forma de contribuição na

sustentabilidade ou complementação da renda familiar. Nesse sentido a mão-de-

obra feminina sofre uma desvalorização, recebendo em muitos casos o caráter de

ajuda ao trabalho masculino.

Segundo MOTA-MAUÉS (1993) ao descrever a divisão do trabalho familiar em

uma comunidade rural do município de Vigia, estado do Pará, no que seja doméstico

destinado a mulher, e produtivo destinado ao homem, afirma que é “simples” - o que

a mulher faz é doméstico e o que o homem faz é produtivo. Concluindo que não é a

natureza do trabalho que o torna produtivo ou doméstico e sim o sexo do indivíduo

que o desenvolve. (MOTA-MAUÉS apud FERNANDES, 2011).

Já o trabalho da mulher na produção de espeto não é visto simplesmente

como obrigação ou um trabalho doméstico e sim como uma atividade natural que

exerce cada um a sua função, onde lucro é o principal objetivo para essas mulheres

que visam uma melhor independência financeira.

Analisando os estudos existentes sobre o trabalho da mulher tanto na

agricultura quanto no extrativismo identificamos que o trabalho da mulher se destaca

proporcionando a ela um maior valor, e acesso aos diferentes espaços e a recursos

financeiros próprios; como afirma a Srª. Josinete10,

Hoje me sinto mais independente com o dinheiro do espeto, já faço conta, tiro móveis em lojas ou de prestação que passa em minha porta, porque eu tenho o meu trabalho, eu juntoo da bolsa família com o que eu tiro por semana no espeto aí já dá pra pagar minhas contas.

Contudo, existem poucas pesquisas relacionadas a noção de autonomia da

mulher no campo econômico e social, e estudos que mostrem a importância em

algumas áreas, mas em outras ainda há uma predominância como é o caso da

castanha-do-pará, andiroba, muru-muru, dentre outras que ainda predominam na

vila de Santa Maria de Ubintuba vista como das possibilidades de reprodução social

de populações rurais que desenvolveu-se a partir de sistemas produtivos, como

caça,coleta de sementes, agricultura, horticultura, essas são atividades com técnicas

de baixos impactos ambientais.

O trabalho extrativista é feito por todos dependendo da matéria-prrima, por

exemplo, o extrativismo do açaí é feito principalmente pelos homens. De acordo com

a pesquisa em campo os melhores açaizais encontram-se nas áreas de várzea, por

isso são os homens que extraem o produto; e essa predominância masculina está

relacionada ao local e o modo como o açaí é extraído, e devido ser um trabalho que

10

Entrevista concedida no dia 26 ∕ 06 ∕ 2013.

exige muito esforço físico não nota-se a presença feminina desempenhando tal

atividade, o que é semelhante a extração da taboca que também é extraída em

áreas de várzeas e quem desempenha a extração são os homens, sendo as

mulheres responsáveis por etapas da produção do produto.

Durante a safra os moradores quebram as regras de manejo do açaí, onde há

a retirada do produto constantemente, pois a oferta do produto é altíssima e assim

os açaizais tornam-se disputados pelos compradores, que as vezes compram a

safra mesmo antes de apretar os cachos.

No caso a produção de espeto é feito por homens, mulheres e crianças

realizados em vários arranjos, nos quais em alguns casos, as mulheres fazem o

trabalho sozinha, em outros o casal participa de todas as etapas do trabalho, já a

participação das crianças e adolescentes é menor. Como mostra o gráfico 5.

Gráfico 5: Gráfico quantitativo da presença de homens, mulheres, crianças e adolescentes na

produção de espetos.

Ao observar alguns casos detectou-se que as crianças e adolescentes que

acordam cedo para fazer as mesmas atividades que os adultos na produção de

espetos, têm um grande desinteresse pelos estudos tendo com isso um baixo

rendimento escolar. E há uma grande participação da mulher nessa atividade

econômica, representando 60% de acordo com dados coletados em campo.

Nesse contexto percebe-se a grande importância da mulher na cadeia

produtiva de espetos, proporcionando esta atividade econômica maior

MULHER

HOMEM

CRIANÇAS E ADOLESCENTES60%

30%

10%

independência financeira e autonomia as mulheres e diminuindo consideravelmente

o poder absoluto dos homens na medida em que as mulheres complementam a

renda mensal do lar.

CONSIDERAÇÕES

Nos estudos feitos em Santa Maria do Ubintuba, partindo das informações

obtidas em fontes orais, escritas, documentadas e bibliográficas; referente aos

impactos causados pela extração da taboca (Guadua paniculata) espécie de bambu

comumente encontradas nas matas ciliares do rio Ubintuba, identificamos uma

extração desordenada da taboca, que ocorre principalmente por fatores

socioeconômicos que fazem com que os moradores do referido local recorram ao

trabalho informal como forma de garantir sua sobrevivência.

Em decorrência dos problemas socioeconômicos e ambientais observados

como: desemprego, má distribuição de renda, má qualidade de vida e moradia, tal

cenário socioeconômico acaba desencadeando outros problemas como a

degradação das matas ciliares, a extração da taboca não causa apenas sua

disseminação e sim de toda biodiversidade a sua volta, afetando todo o ecossistema

local. Nesse contexto essa extração desencadeia vários processos de deterioração

do ecossistema causando um grande desequilíbrio ecológico.

Diante desses entraves é preciso que a exploração da taboca seja vista com

outros olhares e é importante que se conheçam outras formas de manejar, isto é, de

lidar de modo cuidadoso e adequado, assim visando a conservação de sua

qualidade e quantidade , que se detectem formas inadequadas que estão ocorrendo

na região, desenvolvendo o senso crítico e oferecendo oportunidades para

discussões de medidas que possam ser tomadas em relação ao quadro de retirada

dessa matéria-prima.

Nesse sentido, torna-se evidente a importância de se criar políticas que

venham educar os futuros cidadãos para que, como empreendedores possam agir

de modo responsável e com sensibilidade, perante aos recursos naturais.

Diante destes fatos uma das principais conclusões assumidas é a

recomendação de se investir numa mudança de mentalidade, sensibilizando os

grupos humanos para a necessidade de se adotarem novos conceitos e posturas

diante de suas ações em relação ao meio natural, uma vez que nele é que vivem e

desenvolvem suas atividades.

Sendo assim, o estudo realizado por esse trabalho, sugere as seguintes

propostas:

Criação de uma cooperativa com a finalidade de organizar o trabalho dos

produtores de espeto.

A criação de uma associação para atender os interesses dos extrativistas no

que diz respeito a financiamentos em bancos.

A iniciativa do cultivo de outras espécies de bambu adaptáveis em terra firme

com o objetivo de suprir a necessidade dos trabalhadores.

A elaboração e implantação de projetos com a finalidade de sensibilizar a

comunidade local quanto à sustentabilidade.

Compreende-se no entanto, que a educação é a principal ferramenta para a

transformação do ser humano, só a educação ambiental pode mudar o

comportamento do homem, transformando o homem em um cidadão responsável e

preocupado com o seu bem estar e das futuras gerações.

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Clarisse Gurjão- Confeccionadora de espetos: 19 ∕ 04 ∕ 2013.

Ivaneide da Silva Gonçalves- Confeccionadora de espetos: 23 ∕ 04 ∕ 2013.

José Augusto Correia- Secretario de Meio Ambiente : 20 ∕ 06 ∕ 2013.

Josinete- Confeccionadora de espetos: 26 ∕ 06 ∕ 2013.

Maria Carmina Borralhos- Confeccionadora de espetos: 22 ∕ 03 ∕ 2013.

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ANEXO