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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Farmácia Martins

janeiro de 2016 a maio de 2016

Ana Daniela Martins Almeida

Orientador: Dra. Mariana Santos

________________________

Tutor FFUP: Prof. Doutora Irene Jesus

________________________

Setembro de 2016

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Declaração de Integridade

Eu, Ana Daniela Martins Almeida, abaixo assinado, nº 201004729, aluno do

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da

Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na

elaboração deste documento.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo,

mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual

ou partes dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos

anteriores pertencentes a outros autores foram referenciadas ou redigidas com

novas palavras, tendo neste caso colocado a citação da fonte bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de

__________________ de ______

Assinatura: ______________________________________

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Agradecimentos

Um obrigado especial a toda a equipa da Farmácia Martins,

Um obrigado especial à minha orientadora, Mariana. Obrigada por todo o

conhecimento, disponibilidade e oportunidades, ficarei sempre grata.

Um agradecimento especial também à minha orientadora de estágio, professora Irene,

obrigada pela paciência e sabedoria que acompanhou a escrita deste relatório.

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Resumo

O meu estágio decorreu durantes os meses de janeiro a maio, nele foram-me

transmitidos todos os conhecimentos necessários para execução da profissão de

farmacêutico comunitário. Durante o estágio aprendi a fazer aconselhamento

terapêutico, explicando as terapêuticas instituídas pelos médicos ou dando indicação

acerca de medicamentos não sujeitos a receita médica. Aprendi ainda a distinguir os

diferentes produtos de cosmética, conseguindo agora fazer um aconselhamento mais

completo. Neste relatório pretendo reunir todas as atividades que desenvolvi durante o

meu estágio curricular.

Na segunda parte do relatório de estágio desenvolvi o tema: “resistência aos

antibióticos”. Nesta parte exploro o significado de antibiótico, de mecanismos de

resistência, reúno os principais mecanismos de resistência ao grupo de antibióticos

mais usado em Portugal, falo também das características de um patogénico de grande

preocupação, abordo um novo antibiótico e termino com algumas medidas de combate

à resistência. Pretendo compreender de vários pontos de vista esta problemática, que

representa uma preocupação crescente nos dias de hoje.

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Índice

Declaração de Integridade ............................................................................................ iii

Agradecimentos ........................................................................................................... iv

Resumo ........................................................................................................................ v

Parte 1: Descrição das atividades desenvolvidas no estágio em Farmácia

Comunitária ................................................................................................................. 1

1.Introdução .................................................................................................................. 1

2.Farmácia Martins ....................................................................................................... 1

3.Gestão da farmácia .................................................................................................... 2

3.1.Sistema informático ............................................................................................. 2

3.2.Encomendas e aprovisionamento........................................................................ 3

3.2.1.Gestão de stocks .......................................................................................... 3

3.2.2.Realização de encomendas .......................................................................... 3

3.2.3.Receção e verificação de encomendas ......................................................... 4

3.3.Prazos de validade .............................................................................................. 5

3.4.Devolução de produtos ........................................................................................ 5

4.Dispensa de medicamentos ....................................................................................... 5

4.1.Dispensa de medicamentos sujeitos a receita médica......................................... 6

4.2.Medicamentos genéricos e dispensa de medicamentos genéricos...................... 7

4.3.Medicamentos manipulados e dispensa de medicamentos manipulados ............ 7

4.4.Medicamentos sujeitos a legislação especial ...................................................... 8

4.5.Receituário .......................................................................................................... 9

4.5.Comparticipação dos medicamentos ................................................................... 9

4.6.Medicamentos não sujeitos a receita médica .................................................... 10

7.Aconselhamento e dispensa de outros produtos farmacêuticos ............................... 10

7.1.Produtos de dermofarmácia, higiene e cosmética ............................................. 11

7.2. Produtos dietéticos para alimentação especial e pediátrica .............................. 11

7.3.Suplementos nutricionais e fitoterapia ............................................................... 11

7.4.Medicamentos homeopáticos ............................................................................ 12

7.5.Medicamentos e outros produtos de uso veterinário ......................................... 12

7.6.Dispositivos Médicos ......................................................................................... 12

7.7.Obstetrícia e Puericultura .................................................................................. 13

8.Outros cuidados prestados na Farmácia Martins ..................................................... 13

Parte 2: Temas desenvolvido durante o estágio .................................................... 14

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Tema 1 - Consumo inadequado de antibióticos beta lactâmicos associado ao

aparecimento de resistências pelas MRSA – passado, presente e futuro ........... 15

1.Antibiótico............................................................................................................. 15

1.2.Era pré-antibióticos e era dourada ................................................................. 15

2.Como surgem as resistências? ............................................................................ 16

2.1.Resistência à penicilina ................................................................................. 17

2.2.Resistência às cefalosporinas ........................................................................ 20

2.3 Resistência a outros beta-lactâmicos ............................................................. 20

3.Relação entre o uso desmedido de AB com o aumento de resistências ............... 21

4.MRSA ................................................................................................................... 21

4.1.A parede celular das bactérias MRSA ............................................................ 23

4.2.Outros antibióticos beta-lactâmicos ............................................................... 24

4.3.Alternativas .................................................................................................... 25

4.4.O superbug MRSA ......................................................................................... 25

5.A dificuldade na descoberta de novos antibióticos Uma possível alternativa ........ 26

6.Teixobactin ........................................................................................................... 27

7.Um plano de combate .......................................................................................... 29

Tema 2 – Infeções hospitalares ............................................................................... 31

1.Definição .............................................................................................................. 31

2.Fontes .................................................................................................................. 31

3.Sinais de infeção hospitalar .................................................................................. 32

4.Bactérias patogénicas .......................................................................................... 32

5.Suscetibilidade ..................................................................................................... 33

6.Medidas preventivas ............................................................................................ 33

8.Conclusão ................................................................................................................ 35

9.Conclusão do Relatório ............................................................................................ 36

10.Referências............................................................................................................ 37

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Lista de Figuras

Figura 1 – Gráfico circular representativo do consumo de antibióticos em 2014, em

Portugal, disponível em http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-

and-consumption/antimicrobial-consumption/esac-net-database/Pages/overview-

country-consumption.aspx

Figura 2 – Proporção de isolados de MRSA nos diversos países da Europa, dados de

http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-and-

consumption/antimicrobial_resistance/database/Pages/graph_reports.aspx

Figura 3 – Estrutura química do Teixobactin

Figura 4 – Diminuição dos níveis de unidades formadoras de colónia dos três

antibióticos vs. Controlo, em modelo animal de infeção

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Indicação da % de resistência em Portugal às aminopenicilinas (ampicilina,

amoxicilina) desde 1999 até 2014, dados disponíveis em

http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-and-

consumption/antimicrobial_resistance/database/Pages/table_reports.aspx

Tabela 2 - suscetibilidade da Staphylococcus Aureus à meticilina em Portugal, dados:

http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-and-

consumption/antimicrobial_resistance/database/Pages/table_reports.aspx

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Abreviaturas

ADN – Ácido Desoxirribonucleico

Aux - Auxiliares

CNP - Código Nacional do Produto

DCI - Denominação Comum Internacional

Fem - Factor essential for methicillin resistance

FI - Folheto Informativo

INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.

MIC - Minimal Inhibitory Concentration

MNSRM - Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica

MRSA – Methicillin Resistant Staphylococcus Aureus

PBP - Penicillin Binding Protein

PG - Peptidoglicano

RCM - Resumo das Características do Medicamento

SNS - Sistema Nacional de Saúde

VRSA - Vancomicin Resistance Staphylococcus Aureus

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Parte 1: Descrição das atividades desenvolvidas no estágio em

Farmácia Comunitária

1.Introdução

Os cinco anos de curso culminam com um estágio curricular, onde aprendemos o que

significa verdadeiramente ser farmacêutico. Um farmacêutico é alguém que está apto

para a preparação e dispensa do medicamento, mas, mais do que isso, é um

profissional de saúde de primeira linha, uma vez que em várias circunstâncias é a ele

que as pessoas recorrem em primeira instância. A principal função de um farmacêutico

comunitário é a cedência de medicamentos em condições que favoreçam os

resultados clínicos, minimizando situações de risco associadas ao uso dos

medicamentos [1]. Assistimos, no entanto, a um aumento de preocupação por parte do

farmacêutico com a comunidade onde se insere relativamente aos aspetos de saúde

pública, o que chamamos de cuidados farmacêuticos [1]. Assim, conceitos como o uso

racional de medicamentos, seguimento farmacoterapêutico, farmacovigilância e

educação para a saúde passam a estar presentes no trabalho desenvolvido numa

farmácia.

Em farmácia comunitária combinamos os conhecimentos teóricos com os

conhecimentos práticos de forma a aconselhar da melhor forma perante sintomas,

sinais e dúvidas em relação à farmacoterapia. O contacto com o doente desempenha

por isso um papel fulcral no dia-a-dia de um farmacêutico de oficina. Nestes quatro

meses de estágio em comunitária desenvolvi as apetências práticas, para que agora,

em combinação com as apetências teóricas, consiga ser uma farmacêutica

comunitária.

2.Farmácia Martins

A Farmácia Martins está localizada no centro turístico de Braga, na avenida Central.

O interior desta farmácia é composto por diversas zonas: zona de atendimento ao

público; zona armazenamento de medicação para dispensa; zona de determinação de

parâmetros bioquímicos e fisiológicos; zona de receção de encomendas; gabinete da

direção técnica; laboratório para preparações galénicas e zona de armazém para

encomendas de grande quantidade.

A Farmácia Martins tem um horário de funcionamento das 9h até às 20h durante os

dias da semana. Aos sábados a abertura ocorre também às 9h e o fecho dá-se às

19h, estando a farmácia fechada durante as 13h e as 14h. Este horário é feito também

em dias de feriado.

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A direção técnica da Farmácia Martins está a cargo da Dra. Fernanda Santos e a

restante equipa é constituída por farmacêuticos: Dra. Mariana Santos; Dra. Ana

Cardoso; Dra. Filipa Machado e por técnicos de farmácia: Íris Maia, Adolfo Silva, Mário

Silva e Francisco Ferreira. A equipa da Farmácia Martins conta ainda com uma

administrativa: Cidália Gomes, um nutricionista: Dr. Rui, uma psicóloga: Dra. Catarina

e com duas auxiliares de limpeza: Elisa e D. Céu.

Pela sua exímia localização a Farmácia Martins tem todo o tipo de clientes, desde

turistas, idosos, jovens, trabalhadores da área e ainda instituições. Esta farmácia

apresenta ainda clientes de grande estima, cuja frequência destes na farmácia ronda

as décadas. Assim, consegui criar empatia com os utentes, prestando um

aconselhamento farmacêutico de forma individualizada e personalizada.

Para além do resumo das características do medicamento (RCM) e folheto informativo

(FI) disponível na plataforma informática, a Farmácia Martins possui ainda em formato

de papel literatura essencial: Farmacopeia Portuguesa, Formulário Galénico Português

e Prontuário Terapêutico. Ao longo do meu tempo de estágio tive a oportunidade de

consultar esta bibliografia para enriquecimento profissional e ainda para o

esclarecimento de dúvidas pontuais.

3.Gestão da farmácia

3.1.Sistema informático

Depois de me apresentarem toda a equipa da Farmácia Martins foi-me mostrado um

outro membro fundamental para a gestão desta farmácia: o sistema informático. O

sistema informático disponível na Farmácia Martins é o 4DCare, da 4DigitalCare. Este,

permite a gestão das várias componentes que envolvem uma farmácia: receção e

realização de encomendas; gestão de stocks; dispensa de receitas manuais e

eletrónicas, atendimento ao utente; pedido e satisfação de reservas, gestão de

validades; acesso rápido ao RCM e FI dos medicamentos; faturação; realização de

receituário dos vários protocolos e gestão de medicamentos sujeitos a legislação

especial. Mais recentemente, durante o meu período de estágio, foi instalada uma

aplicação que permite a encomenda a um fornecedor específico (OCP Gadject®)

permitindo a indicação ao cliente da hora exata da chegada do produto à farmácia.

Tive a oportunidade de aprender e contactar com todas as funcionalidades do sistema

informático, constituindo este uma ferramenta essencial no quotidiano do farmacêutico

comunitário.

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3.2.Encomendas e aprovisionamento

3.2.1.Gestão de stocks

A gestão de stocks decorre primordialmente com recurso ao sistema informático,

sendo que, por vezes e no caso de deteção de erros é fundamental a contagem do

produto no seu local de armazenamento. A gestão de stocks tem em atenção as

necessidades do cliente e funciona de modo a permitir a satisfação destas. Assim é

preciso ter em conta a necessidade que cada estação do ano acarreta, ao nível dos

medicamentos não sujeitos a receita médica e dermocosmética. Por exemplo: a

necessidade de anti-histamínicos na altura da primavera ou a necessidade de

protetores solares durante o verão. No que diz respeito aos medicamentos sujeitos a

receita médica é tido em conta o número de vendas, e se se constatar uma tendência

de venda, é equacionado o aumento de stock deste produto na farmácia.

3.2.2.Realização de encomendas

Durante a semana são realizadas duas encomendas de modo a suprir os gastos

diários da Farmácia Martins a dois fornecedores distintos: OCP e Alliance. São

pedidos diferentes medicamentos e produtos aos dois fornecedores tendo em conta os

acordos de gestão de descontos estabelecidos com a farmácia. Os responsáveis pelo

pedido de encomenda analisam então o balanço do produto na farmácia e

estabelecem a encomenda informaticamente. De modo a satisfazer pedidos pontuais

que não estejam disponíveis no stock da Farmácia Martins é possível encomendar aos

mesmos fornecedores através de uma linha telefónica, sendo que estes produtos são

posteriormente entregues na hora de chegada estabelecida para as restantes

encomendas. É também possível efetuar encomendas rápidas através de um outro

fornecedor: A.Sousa, que garante uma entrega em 40 minutos do produto pretendido.

Na Farmácia Martins é ainda negociado com grandes fornecedores e laboratórios

planos de encomendas anuais, que são entregues na farmácia em intervalos de

meses conforme estipulados. Estas encomendas são geralmente de medicamentos

não sujeitos a receita médica e produtos de dermocosmética.

Durante o meu tempo de estágio tive a oportunidade de assistir à realização das

encomendas diárias de forma informática, compreendendo todo o processo que move

a escolha do fornecedor. Tive ainda oportunidade, durante a fase de atendimento ao

balcão, de efetuar encomendas telefónicas aos diversos fornecedores,

compreendendo bem a política de gestão de stocks da Farmácia Martins.

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3.2.3.Receção e verificação de encomendas

A receção e verificação de encomendas compreende a chegada dos produtos

encomendados, verificação quantitativa e qualitativa destes, análise do prazo de

validade, introdução dos medicamentos e outros produtos em stock informático e

colocação destes no devido lugar. Para o bom funcionamento de uma farmácia a

receção e verificação de encomendas é um ponto fundamental. Assim, quando uma

encomenda chega à Farmácia Martins faz-se acompanhar de fatura original e

duplicada. A fatura original é armazenada em local apropriado e a duplicada vai

auxiliar o processo de verificação das encomendas. Se a encomenda foi realizada

informaticamente, através de modem, é aberto o ficheiro da nota de encomenda e é a

partir deste que decorre a introdução dos produtos em stock. No entanto, se

encomenda foi feita por telefone deve ser dada entrada da fatura no computador após

verificação da encomenda. Ao longo deste processo pode surgir um alerta de reserva,

computador, que dá indicação que há um cliente que efetuou o pedido de reserva do

produto em questão. Quando este surge, é feita a procura do pedido de reserva

impresso em papel e anexado ao produto. Este vai ser colocado em dois locais

distintos, consoante esteja pago ou não.

Depois de estar verificada a encomenda e introduzida no stock da Farmácia Martins, é

assinado o duplicado e armazenado em local apropriado e de fácil acesso, no caso de

ser necessário o esclarecimento de alguma questão. Depois de introduzidas as

encomendas no stock da farmácia é necessário etiquetar os produtos que não

apresentem códigos de leitura ótica e de seguida prosseguir com a arrumação dos

mesmos. Os medicamentos sujeitos a receita médica e alguns não sujeitos a receita

médica são armazenados em gavetas, num espaço anterior ao local de atendimento

ao público, onde as condições de armazenamento são as apropriadas. As gavetas

estão organizadas por formas farmacêuticas: comprimidos e cápsulas, formulações

líquidas: soluções e suspensões orais; e soluções cutâneas, supositórios, óvulos.

Ocorre ainda uma suborganização por ordem alfabética de denominação comum

internacional. Os restantes medicamentos não sujeitos a receita médica estão

colocados em prateleiras atrás dos balcões de atendimento e expostos ao cliente.

Existe ainda um espaço de armazenamento para encomendas de volume superior,

localizado no piso inferior da Farmácia Martins. Os produtos cujo armazenamento

exige temperaturas de frio são guardados em frigorífico, que se encontra também no

espaço que antecede o local de atendimento ao utente. O tempo de estágio permitiu-

me a compreensão da gestão de armazenamento e arrumação de produtos e

medicamentos por diversas vezes. Achei de extrema importância fixar o local dos

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diversos medicamentos, pois numa fase posterior do meu estágio, já no atendimento

ao utente, consegui uma dispensa mais rápida e eficaz.

3.3.Prazos de validade

Mensalmente é feita uma verificação dos produtos cuja validade se aproxima do

término. Assim, com recurso ao sistema informático, é impressa uma listagem dos

produtos com apenas mais dois meses de validade. É conferido depois o stock físico,

para precaver algum tipo de erro ao nível da sua existência, recolhido o produto em

questão e analisado o balanço de entrada e saída deste. Se se tratar de um produto

ou medicamento que com facilidade é vendido, é armazenado novamente com a

indicação de proximidade do fim da validade. Se se tratar de um produto que não tem

saída frequente é feita uma devolução ao fornecedor, com a justificação de

proximidade do fim do prazo de validade. Ao longo do estágio tive a oportunidade de

fazer a verificação de produtos com validade reduzida, analisando em conjunto com a

farmacêutica responsável a decisão de devolução ou não dos mesmos.

3.4.Devolução de produtos

Por vários motivos pode surgir a necessidade de proceder à devolução de produtos:

prazo de validade próximo do fim, mau estado da embalagem, entrega errónea de

produtos, ou pedido de recolha por parte do INFARMED. Desta forma, para proceder à

devolução de um produto ao armazém é necessário indicar o código do produto,

quantidade devolvida, motivo de devolução, e fazer a impressão de três notas de

devolução. A original e duplicada seguem para o fornecedor com o produto devolvido,

a triplicada fica armazenada na farmácia. Tive oportunidade de presenciar, durante o

período de estágio, diversas situações onde houve necessidade de devolução do

produto, consegui portanto compreender o mecanismo que decorre desde a deteção

do motivo de devolução até ao momento de entrega do produto ao funcionário do

armazenista.

4.Dispensa de medicamentos

A dispensa de medicamentos inclui a cedência de medicamentos ou substâncias

medicamentosas aos doentes, mediante uma prescrição médica, em regime de

automedicação ou por indicação farmacêutica [1]. No momento da dispensa deve ser

prestada toda a informação acerca do seu uso de forma a potenciar os efeitos clínicos

e minimizar qualquer tipo de reação provocada pelo mau uso do medicamento.

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4.1.Dispensa de medicamentos sujeitos a receita médica

Este grupo de medicamentos só é dispensado em farmácia comunitária mediante uma

prescrição médica válida. Aquando da dispensa de uma prescrição médica é

necessário atentar à autenticidade da mesma. Assim é preciso fazer a correta

identificação do doente, do médico e da entidade responsável pelo pagamento da

comparticipação; é necessária a confirmação da data de validade da prescrição; é

indispensável também a identificação do tipo de tratamento e as intenções do

prescritor; por fim é fundamental que seja feita no momento a identificação do

medicamento e confirmação da forma farmacêutica, posologia, método de

administração e duração do tratamento [1]. Cada prescrição válida permite o

levantamento de quatro medicamentos distintos e no máximo dois medicamentos

iguais. Quando surge uma receita inválida é necessário explicar ao doente o motivo de

forma a permitir a correção apropriada, tal situação decorreu por diversas vezes ao

longo do meu estágio.

No momento da dispensa o farmacêutico deve fazer uma análise farmacoterapêutica

da prescrição. Deve ser avaliada a necessidade do medicamento; a adequação ao

doente, tendo em conta possíveis contra indicações, interações e alergias; deve ser

ainda ter tida em conta a adequação da posologia.

De seguida é necessário inserir a prescrição no sistema informático e fazer a

dispensa, através da leitura do código nacional do produto (CNP) do medicamento e

fazer o aconselhamento farmacoterapêutico apropriado, explicando de forma clara a

posologia do medicamento. No momento de dispensa devem ser ainda asseguradas

as condições de estabilidade do medicamento para que o doente tenha conhecimento

de como o armazenar em casa. É fundamental ainda a confirmação do prazo de

validade e do bom estado da embalagem. No período em que estive no atendimento

tinha sempre atenção a este tipo de pormenores no momento da dispensa. A venda é,

por fim, finalizada com a impressão da fatura no verso da prescrição.

Durante o meu período de estágio tive oportunidade de contactar com a mais recente

inovação ao nível de prescrições: as prescrições on-line. Podem existir dois tipos de

prescrição informática, uma primeira em que o médico entrega um guia de tratamento

ao doente, e neste aparece a indicação do fármaco (denominação comum

internacional – DCI) e posologia. Estas têm validade de 6 meses, e permitem ao

doente ir fazendo o levantamento da medicação à medida que o medicamento acaba,

não sendo obrigatória o levantamento de toda a medicação no momento da dispensa.

Existe ainda um segundo tipo de prescrição informática. Nesta segunda situação, o

número, o pin e todos os códigos da receita seguem para o doente via mensagem de

texto para o telemóvel, processando-se a dispensa totalmente informaticamente. Este

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novo sistema de prescrição é sem dúvida uma vantagem e diminui a burocracia

associada ao processamento do receituário.

4.2.Medicamentos genéricos e dispensa de medicamentos genéricos

Os medicamentos genéricos devem apresentar critérios de qualidade, segurança,

eficácia terapêutica e similitude perante o medicamento referência. O estatuto do

medicamento define como “Medicamento essencialmente similar, o medicamento com

a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, sob a mesma

forma farmacêutica e para o qual, sempre que necessário, foi demonstrada

bioequivalência com o medicamento de referência, com base em estudos de

biodisponibilidade apropriados” [2]. Os medicamentos genéricos apresentam um preço

inferior ao medicamento de referência uma vez que a este não estão associados os

custos da investigação.

A dispensa de um medicamento genérico pode ocorrer por indicação médica na

receita, por opção do farmacêutico ou por opção do doente. O médico tem opção de

indicação do medicamento por DCI apenas, ou indicação associada da marca do

medicamento que pretende. O farmacêutico apresenta também competências que lhe

permitem a escolha de um medicamento similar, cujo teor quantitativo e qualitativo em

princípios ativos, a forma farmacêutica, a dosagem e bioequivalência são semelhantes

ao fármaco indicado na prescrição. Por fim, a opção de compra de um genérico pode

recair sobre o doente (se a prescrição médica permitir – código de opção) podendo

então optar pelo laboratório do medicamento. Durante o tempo de estágio surgiram as

três situações: dispensa de medicamentos específicos por indicação do médico na

receita; escolha própria do farmacêutico em relação laboratório a dispensar, tendo em

conta a política de gestão de vendas da farmácia; e ainda opção, por parte do doente,

em relação ao laboratório do fármaco.

4.3.Medicamentos manipulados e dispensa de medicamentos manipulados

Um medicamento manipulado é “qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal

preparado e dispensado sob a responsabilidade de um farmacêutico” [3]. Difere da

fórmula magistral pelo facto de esta última especificar o doente a quem o

medicamento se destina [3]. Durante o estágio tive oportunidade de realizar dois

medicamentos manipulados. Procedi à preparação uma solução de aminofilina e

preparei por diversas vezes uma mistura de um creme neuro com um creme cuja

sustância ativa é a cortisona. Apesar de possuir um laboratório, a Farmácia Martins

não faz uso deste, pelo que, as preparações galénicas decorrem na Farmácia Alvim.

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De modo a garantir a qualidade dos medicamentos manipulados, o laboratório de

preparação deve obedecer a normas específicas. O laboratório deverá

convenientemente iluminado e ventilado e apresentar temperatura e humidade

apropriadas. A farmácia deve ter toda a documentação de suporte à preparação da

formulação galénica: registo da preparação, número de lote, registos e boletins

analíticos das substâncias ativas e excipientes usados e respetivos lotes, modo de

preparação, dados do doente, dados do prescritor e registo do cálculo do preço de

venda ao público [1]. A dispensa deste tipo de medicamentos acontece perante uma

prescrição médica, ou presença da fórmula em formulário galénico ou farmacopeia.

4.4.Medicamentos sujeitos a legislação especial

Os medicamentos designados de psicotrópicos e estupefacientes regem-se por uma

legislação particular (Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, e Decreto Regulamentar

n.º 61/94, de 12 de outubro) [4], pelo efeito nefasto que podem exercer sob o sistema

nervoso central, quer ao nível das funções motoras, quer ao nível das funções

cognitivas, quando impropriamente usados.

O pedido de encomenda processa-se de forma semelhante aos restantes

medicamentos, no entanto aquando a receção das faturas correspondentes à

encomenda, vêm anexados guias de requerimento correspondentes à sua compra.

A dispensa deste tipo de fármacos está também regulada e só pode acontecer até 10

dias depois da data de emissão da receita [4]. A receita tem de indicar a prescrição

deste grupo de fármacos e quando for emitida a fatura da venda, será também pedido

pelo sistema informático o preenchimento dos dados da prescrição médica, nome do

médico prescritor, dados do doente e dados da pessoa está a fazer a compra.

O receituário deste tipo de prescrições difere também. As receitas são organizadas

consoante o grupo farmacêutico ao qual pertencem e mensalmente é feita a

confirmação entre a lista de entradas no sistema informático e os guias de

requerimento que acompanham estas encomendas, quando incluem psicotrópicos, a

lista de entrada é depois enviada ao INFARMED. É ainda necessário enviar ao

INFARMED do registo de saídas dos psicotrópicos anexados às receitas. Anualmente

deve ainda ser enviado um balanço entre as entradas e saídas deste tipo de

medicamentos. Em relação às benzodiazepinas é feito o registo de entrada da mesma

forma e arquivado em CD, é ainda enviada uma declaração da Diretora Técnica ao

INFARMED.

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9

4.5.Receituário

No fim do mês, de modo a que a farmácia receba o valor da comparticipação já

efetuada ao cliente no ato de venda é necessário proceder ao envio das prescrições

para o Centro de Conferência de Faturas. De modo a prevenir erros de impressão de

receitas estas são sujeitas a duas fases de verificação.

Numa primeira fase, na Farmácia Martins, cada pessoa corrige as prescrições

médicas da pessoa ao seu lado no balcão de atendimento. Numa segunda fase, os

responsáveis pelo receituário procedem a uma verificação mais cuidada. Nesta

segunda parte da verificação é ainda feita a divisão das receitas consoante o protocolo

de comparticipação. É ainda necessário confirmar se a impressão no verso da receita

corresponde ao que está indicado na prescrição. Depois de os lotes estarem

completos, dá-se o fecho através do sistema informático, e emissão do verbete de

identificação do lote. É, de seguida, carimbado e rubricado o verbete e colocado de

forma a envolver as receitas correspondentes a esse lote. No fecho do mês é ainda

impressa a Relação de Resumo de Lotes, com os dados dos lotes correspondentes

aos diversos organismos de comparticipação. As receitas comparticipadas pelo SNS

seguem para o Centro de Conferência de Faturas, com a Relação de Resumo de

Lotes e a fatura mensal da Farmácia Martins. Os restantes lotes seguem para a

Associação Nacional de Farmácias. Durante o meu estágio tive oportunidade se

assistir a vários receituários, e ainda à emissão dos diferentes lotes. Durante este

período assisti ainda a um mês sem uma única receita devolvida por parte do Centro

de Conferência de Faturas, graças ao bom trabalho desempenhado pelos colegas

responsáveis pelo receituário.

4.5.Comparticipação dos medicamentos

A comparticipação dos medicamentos pode ser feita pelo Sistema Nacional de Saúde

(SNS), companhias de seguro ou subsistemas de saúde como o Serviço de

Assistência Médico-Social, entre outros. A comparticipação feita através do estado

pode ser feita ao doente através de um regime geral ou através de um regime

específico que engloba a dispensa de fármacos para determinadas patologias [5].

Neste último as receitas devem obedecer a uma série de critérios de maneira a que a

comparticipação extra seja realizada, como por exemplo a prescrição pelo clínico

especialista da patologia em questão. É ainda de referir que o estado pode

comparticipar em 100, 90, 69, 37 ou 15% do preço do medicamento em farmácia de

oficina [5].

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10

4.6.Medicamentos não sujeitos a receita médica

Os medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM), apesar de não carecerem

de prescrição médica, devem conter indicações terapêuticas que se incluam na lista

de situações passiveis de automedicação [6]. Assim a dispensa pode ocorrer por

pedido de automedicação por parte do doente ou por indicação do farmacêutico.

Quando surge um pedido de automedicação o farmacêutico deve avaliar a

necessidade do doente, questionando acerca dos sintomas, há quanto tempo

persistem e se já foi tomada alguma medicação [1]. Se se tratar de sintomatologia de

cariz mais grave o farmacêutico deve encaminhar o doente para uma consulta médica,

se os sintomas se revelarem menores o farmacêutico faz o aconselhamento

apropriado dispensando medicação apenas se estritamente necessário, podendo

indicar medidas não farmacológicas. Na cedência de medicação por indicação

farmacêutica, ocorre uma responsabilização por parte do farmacêutico na cedência de

um MNSRM para tratar um problema com sintomatologia de menor por parte do

doente, devendo prestar sempre aconselhamento farmacoterapêutico apropriado.

Em ambos os casos é de extrema relevância que o doente compreenda a indicação

terapêutica do medicamento que lhe é dispensado, a posologia, o modo de

administração, interações e possíveis contra indicações, cabendo ao farmacêutico a

explicação de todos estes pontos.

Ao longo do tempo que passei no balcão de atendimento surgiram por diversas vezes

situações em que o doente expunha a sintomatologia que o movia à farmácia,

perguntando o que deveria tomar para se sentir melhor. Os casos mais comuns eram

de constipações, gripes e alergias. No caso de constipações e gripes cuja

sintomatologia era bem característica perguntava a duração dos sintomas, se tinham

aparecido de forma abrupta, há quanto tempo estava com sintomatologia e se já

tinham tomado alguma medicação. De seguida dava então as indicações terapêuticas

mais apropriadas, mas dando sempre indicação de que se durante um período de

tempo não houvesse melhoria o ideal seria a consulta de um médico.

7.Aconselhamento e dispensa de outros produtos farmacêuticos

Para além da dispensa de medicamentos sujeitos ou não a receita médica a Farmácia

Martins possui ainda outro tipo de produtos farmacêuticos.

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7.1.Produtos de dermofarmácia, higiene e cosmética

Classificam-se como produtos de cosmética e higiene, todos aqueles que estão

destinados a aplicação na superfície corporal de forma a manter o bom estado do

corpo humano [7]. Este tipo de produtos está exposto em prateleiras acessíveis aos

clientes, na Farmácia Martins. Existem diversas marcas, e diversos produtos com

finalidades diferentes. Torna-se então fundamental tomar conhecimento de todos

estes produtos e compreender em que diferem. De forma a facilitar a compreensão de

todos eles, de forma frequente são realizadas formações com representantes das

marcas comercializadas, onde decorre a explicação acerca do funcionamento do

produto. Na Farmácia Martins cada farmacêutica é responsável por uma marca. Assim

quando decorrem formações fora da farmácia da marca, esta fica responsável pela

aquisição da informação e transmissão a todos os outros farmacêuticos.

Tive oportunidade de assistir a várias sessões de formação, que contribuíram para que

prestasse um bom aconselhamento nesta área.

7.2. Produtos dietéticos para alimentação especial e pediátrica

Os produtos dietéticos apresentam características específicas destinados a pessoas

com metabolismos distintos, por exemplo, na Farmácia Martins estão disponíveis

cereais de pequeno-almoço sem glúten. Este tipo de produtos alimentares é

relativamente recente na farmácia pelo que ainda não são na totalidade de

conhecimento dos doentes. Estão ainda disponíveis dietas isocalóricas líquidas da

marca Fresubin®.

Existe ainda à venda na Farmácia Martins produtos destinados à alimentação de

bebés e crianças: leites e papas (para reconstituição com leite ou com água, em casos

de intolerância à lactose). Para alimentação pediátrica estão também disponíveis

boiões de fruta e de outros alimentos. Ao longo do estágio tive oportunidade de fazer a

explicação a diversos clientes acerca das diferentes papas disponíveis.

7.3.Suplementos nutricionais e fitoterapia

Um suplemento alimentar destina-se ao complemento de uma dieta normal, sendo que

este não pode indicar efeitos terapêuticos [9]. Existe uma grande oferta deste tipo de

produtos na Farmácia Martins: desde suplementos para reforço de memória de

estudantes, controlo de colesterol, emagrecimento e promoção do tom bronzeado da

pele. Ao longo do estágio tive oportunidade de vender e aconselhar vários

suplementos.

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Um medicamento à base de plantas tem que ter como substâncias ativas apenas

sustâncias derivadas de plantas [2]. Diariamente eram dispensados na Farmácia

Martins vários produtos fitoterápicos. Os mais comercializados por mim, ao longo do

meu estágio foram: o stick de arnica, produtos para emagrecimento, chás de

regulação da flora intestinal e produtos para problemas venosos.

7.4.Medicamentos homeopáticos

Um medicamento homeopático é definido como tal sempre que este é feito de acordo

com o processo homeopático descrito na farmacopeia, através de produtos

considerados como “matérias-primas homeopáticas”[2]. Os produtos homeopáticos

não fazem parte do stock da Farmácia Martins, efetuando-se encomenda apenas

quando surge um pedido do cliente, pelo que acabei por não contactar com este tipo

de medicamentos.

7.5.Medicamentos e outros produtos de uso veterinário

Os medicamentos de uso veterinário são legislados de forma semelhante aos

medicamentos de uso humano e na dispensa deste tipo de medicamentos o

farmacêutico deve fazer o aconselhamento farmacoterapêutico da mesma forma.

Grande parte de produtos veterinários disponíveis na Farmácia Martins corresponde a

antiparasitários internos e externos e anticoncecionais. Nesta área decorrem também

formações para o aconselhamento apropriado destes produtos. Tive oportunidade de

assistir a uma formação acerca de antiparasitários na última semana de estágio, que

considerei de extrema importância, compreendendo bem melhor como se processa a

ação deste tipo de produtos, forma de aplicação e duração e frequência do tratamento.

7.6.Dispositivos Médicos

Define-se como dispositivo médico um equipamento, aparelho ou software utilizado

para fins diagnósticos ou terapêuticos [8]. Ao longo do meu estágio tive oportunidade

de contactar com alguns dispositivos médicos e até de efetuar a sua dispensa. No

entanto, a grande parte de vendas de dispositivos médicos ocorria numa ortopedia,

localizada um pouco mais acima da rua da Farmácia Martins, pertencente ao mesmo

grupo. Quando surgia um pedido de compra de dispositivo médico que não o material

de penso e seringas que estavam disponíveis na Farmácia, procedia ao

encaminhamento para a ortopedia, com mais oferta neste tipo de produtos.

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7.7.Obstetrícia e Puericultura

Os produtos mais procurados de obstetrícia, durante o período de tempo em que

estagiei na Farmácia Martins, foram os cremes de prevenção de aparecimento de

estrias, creme regenerador da superfície do mamilo para usar durante a fase

amamentação, discos de proteção, e extratores de leite materno.

A venda e aconselhamento de produtos para bebé aconteceu com bastante frequência

durante o meu estágio. De facto, a minha primeira venda na farmácia foi um saco de

maternidade. A venda de produtos de puericultura representa uma grande parte das

vendas da Farmácia Martins, pelo que foi de sublima importância o conhecimento dos

diversos produtos disponíveis. Existem fraldas, chupetas, géis para alívio das dores

associadas ao rompimento dos primeiros dentes, biberons, toalhitas, géis de banho,

protetores solares, hidratantes, líquidos de limpeza destinados desde a recém-

nascidos até crianças. Durante o meu estágio tive ainda oportunidade de assistir a

uma formação de pré mamãs. Nesta formação houve uma explicação por parte de

uma enfermeira parteira dos cuidados a ter durante a gravidez. E ainda acerca dos

cuidados a ter com os recém-nascidos tranquilizando as futuras mães e esclarecendo

as suas dúvidas.

8.Outros cuidados prestados na Farmácia Martins

Hoje em dia as farmácias não são apenas um local de dispensa de medicamentos,

são locais de saúde, pois oferecem cuidados farmacêuticos como a medição de

parâmetros fisiológicos e bioquímicos e acompanhamento da terapêutica. na farmácia

Martins os serviços farmacêuticos prestados fora do amito da dispensa farmacológica

são: medição da pressão arterial, doseamento do colesterol total, doseamento dos

triglicerídeos e doseamento da glicémia. Durante o estágio tive oportunidade de

realizar a medição de todos estes parâmetros, explicando aos doentes os valores

determinados e prestando aconselhamento não farmacológico e por vezes

farmacológico, de maneira a melhorar os valores determinados caso estivessem

anormais.

Decorre ainda, na Farmácia Martins, um programa para o acompanhamento de

doentes com psoríase. Neste programa, é feita uma avaliação inicial do quadro

psoriático e aconselhadas as medidas mais apropriadas, quer farmacológicas, quer

não farmacológicas, a desenvolver pelo doente para a melhoria. Estas consultas são

dadas pela Dra. Fernanda Santos e são de extremo sucesso.

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Parte 2: Temas desenvolvido durante o estágio

Durante o estágio em farmácia comunitária promovi uma campanha acerca do uso

responsável do antibiótico. Com este objetivo, fiz a adaptação para português do vídeo

da Organização Mundial de Saúde que promove o uso correto do antibiótico e este

esteve a passar na televisão da farmácia durante o meu período de estágio.

Com esta campanha pretendi alertar os clientes da Farmácia Martins acerca de uma

problemática de saúde pública com a qual o mundo se depara neste momento: a

resistência crescente aos antibióticos usados na terapêutica.

O aparecimento de resistências, apesar de representar, de certa forma, uma evolução

natural das bactérias, está a crescer exponencialmente, e uma das causas apontadas

é o mau uso do antibiótico. Ações podem, no entanto, ser tomadas para travar este

crescimento exponencial e começam com a prevenção de infeções e uso apropriado

dos fármacos antibacterianos de que dispomos. A lavagem apropriada das mãos, a

lavagem correta dos géneros alimentícios e a vacinação constituem medidas de

prevenção de infeções que devem ser tomadas de forma a evitar a necessidade de

consumo de antibióticos [10]. Foi neste ponto, também, que quis fazer o alerta para os

clientes da Farmácia Martins. Pretendi ainda que estes compreendessem que o

antibiótico deve ser sempre prescrito por um médico e que deve ser cumprida

criteriosamente a posologia indicada. É essencial a manutenção das altas

concentrações do antibiótico, durante um período de tempo, para que o objetivo

terapêutico seja cumprido e a bactéria eliminada do organismo [11]. Um tratamento

mal cumprido, quer ao nível da dosagem, quer ao nível da frequência da toma

possibilita a sobrevivência de bactérias com mutação e consequente replicação em

muitas bactérias com habilidades extra [12].

O incorreto uso do antibiótico é a principal causa para o aumento de bactérias

resistentes [13], no entanto, este consumo exagerado não acontece apenas em

humanos. A utilização desmedida de antibióticos na produção animal constitui também

um ponto de preocupação. Um exagerado consumo de antibióticos em animais

contribui também para o aumento de bactérias resistentes. Estes animais servem de

alimento a populações que adquirem as suas bactérias geneticamente avançadas [10].

Surge então a necessidade para uma adaptação da sociedade a esta realidade. É

preciso tomar conhecimento do que pode ser feito para que não se volte ao tempo em

que a inexistência de antibióticos fazia com que as infeções bacterianas constituíssem

uma forte ameaça à vida.

Tome-se de exemplo a história evolutiva dos beta-lactâmicos, como numa era de

mortalidade elevada por infeções que hoje consideramos menores, representaram o

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marco da medicina. Veja-se ainda como as bactérias foram capazes de ripostar e de

adquirir mecanismos de resistência. Pois bem, a certeza é que de facto estes

patogénicos vão adquirir resistência até contra o teixobactin (a mais recente promessa

de antibiótico a ser estudado), mas esta capacidade pode ser atrasada se for feito uso

dos antibióticos de modo cuidado.

Considerando a transmissão de medidas de prevenção para o desenvolvimento de

resistências aos antibióticos já existentes, é importante referir que a investigação a

este nível não está parada. Surgem assim novas propostas de moléculas que podem

vir a revelar-se antibióticos de sucesso.

Neste relatório vou ainda falar acerca de um patogénico muito comum em ambiente

hospitalar e que consegui sair para começar agora a estar presente na comunidade:

MRSA.

Ainda como trabalho de pesquisa, desenvolvo um outro tema: Infeções hospitalares.

Neste faço referência aos pináculos desta situação bastante frequente nos dias de

hoje, bem como medidas corretivas para a diminuição deste tipo de infeções.

Tema 1 - Consumo inadequado de antibióticos beta lactâmicos

associado ao aparecimento de resistências pelas MRSA – passado,

presente e futuro

1.Antibiótico

A palavra antibiótico surgiu durante a era dourada da descoberta deste grupo de

fármacos como forma de descrever um agente químico capaz de ter uma ação

diminuidora da atividade ou terminadora de um outro agente biológico, neste caso, em

bactérias [14]. A palavra deriva de antibiose, usada por Vuillemin para designar o

efeito antagonista que certos organismos desempenhavam sobre outros [15]. O

antibiótico ideal deverá possuir uma boa farmacocinética, ser potente contra vários

agentes bacterianos, possuir mais do que um alvo molecular na mesma bactéria, e

claro, implicar o mínimo de efeitos secundários para o organismo humano [11].

1.2.Era pré-antibióticos e era dourada

A era dourada de descoberta de antibióticos teve lugar de 1930 até 1950. Mas a

procura de antibióticos teve inicio antes ainda de Fleming encontrar um halo na sua

cultura de Staphylococcus aureus. De facto, Ehrlich, através de um screening de mais

de 600 compostos, isolou um, com efeito terapêutico na cura da sífilis. Este

medicamento, melhorado depois com o nome de Neosalvarsan®, foi usado com

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sucesso até substituição nos anos 40 pela penicilina. Com Ehrlich surgiu o conceito de

bala mágica, com a crença de que podiam existir antibacterianos a ligar-se de forma

seletiva às bactérias deixando o corpo humano intacto [15]. A acompanhar a

descoberta do fármaco surgiu também este método de screening sistemático que

permitiu a descoberta de muitos outros antibióticos como o Prontosil ®. Surgiram ainda

as quinilonas como a ciprofloxacina e as oxazolidininas como a linezolida. Em 1928

Flemming encontrou o halo provocado pelo que viria a provar-se o mais relevante

antibiótico na história da medicina. Apesar de tudo, a penicilina não era eficaz contra

todo o tipo de bactérias, e já nesta altura Flemming alertou para o risco de potencial

desenvolvimento de resistências a este fármaco, quando usado em doses inferiores às

necessárias para eliminar a bactéria patogénica e ainda durante um período de tempo

inferior ao necessário para eliminar a referida bactéria [16]. Em 1941 a penicilina é

utilizada pela primeira vez, via intravenosa, para tratar um polícia com septicémia

provocada por staphylococcus [15]. Passadas 24h, o polícia já se levantava da cama,

dando indicação de melhoria sintomatológica. No entanto, a quantidade que havia sido

purificada para administração não foi suficiente para prevenir uma septicémia

recorrente e o senhor acabou por não sobreviver [15].

O Prontosil® surgiu para o mundo médico em 1935, tratando infeções por bactérias

gram positivas. Esta molécula surgiu por adição de um grupo sulfonamida a um

corante amarelo [15]. Olhada inicialmente com alguma desconfiança, o fármaco atingiu

o seu expoente máximo depois de salvar o filho do presidente americano Roosevelt,

que morria por tonsilite severa [15].

Em 1944 surge a estreptomicina, através de uma pesquisa de organismos do solo.

Este colmatou a falta de antibióticos para bactérias gram negativas e ainda para a

tuberculose (cuja resistência surgiu pouco tempo depois [15]). Surgiram depois o

cloranfenicol (ativo contra o agente da febre tifoide [15]), os antibióticos peptídicos, as

tetraciclinas, os macrólidos, os antibióticos peptídicos cíclicos, e em 1955 surge o

segundo grande grupo de beta-lactâmicos: as cefalosporinas. A partir da era dourada

a história assistiu a uma diminuição considerável da morbilidade e da mortalidade.

Riscos de infeção generalizada associada ao parto, mortes por pneumonia em

ambiente hospitalar, feridas que poderiam culminar com amputação de membros,

todos estes tipos de morbilidades foram reduzidos com a introdução dos agentes

antibacterianos na terapêutica [16].

2.Como surgem as resistências?

O mecanismo adaptativo das bactérias que lhes permite a sobrevivência após

contacto com antibióticos que outrora se revelavam fatais ou cujo mecanismo celular

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das mesmas ficava afetado, pode ser descrito como a aquisição de resistências. Este

mecanismo adaptativo está normalmente associado a mutações ou aquisição de

material genético extra. O desenvolvimento de resistência pode estar associado a

mutações espontâneas, mas, o mais comum é a aquisição de plasmídeos,

transposições ou integrões que transportam o gene ou conjunto de genes portadores

da resistência [15]. A sobrevivência destas bactérias permite a transmissão das

características fenotípicas à geração seguinte, ficando a mutação/gene extra

associada a uma nova estirpe da bactéria [11]. Do ponto de vista evolutivo pode dizer-

se que a pressão seletiva exercida para este tipo de adaptação das bactérias advém

do incorreto uso do antibiótico, principalmente. A variação do teor do antibiótico no

organismo, pode ainda conduzir a zonas com concentrações inibitórias da bactéria,

mas não letais, o que pode condicionar o aparecimento de um mecanismo de

resistência [17]. Assim, também a farmacocinética do antibiótico pode originar uma

subpopulação de bactérias com menor suscetibilidade ao mesmo. As bombas de

efluxo possibilitam ainda a exclusão dos antibióticos do interior da bactéria,

impossibilitando também a sua ação [15]. De facto, quanto mais se usam antibióticos,

menos eficazes estes se tornam, indica Stuart B. Levy [15].

2.1.Resistência à penicilina

A penicilina inibe uma transpeptidase envolvida na construção da parede celular

bacteriana, de maneira que o processo de construção desta fica comprometido. O

enfraquecimento da parede celular conduz por fim à lise. Existem de forma natural

resistências às penicilinas, como por exemplo no caso das bactérias gram negativas.

Neste tipo de bactérias a camada lipossacarídica dificulta a entrada da penicilina para

o local de ação da enzima alvo (local entre a camada externa e interna da parede). No

entanto, estão presentes na camada externa da parede celular, uns canais hidrofílicos

designados de porinas. Dependendo dos constituintes destes canais e do tamanho,

carga e estrutura molecular da penicilina, pode ser possível que esta consiga a

passagem para o interior da parede celular.

Um mecanismo de resistência desenvolvido por estas bactérias contra este tipo de

antibiótico é a produção de β-lactamases. Este tipo de enzimas surgiu de uma

mutação ao nível das transpeptidades. Estas enzimas mutadas têm a capacidade de

abertura do anel β-lactâmico, impedindo a ação da penicilina e outros beta-lactâmicos.

As bactérias gram positivas libertam as β-lactamases para o exterior de maneira que a

penicilina não se aproxima da parede celular das bactérias. No caso das bactérias de

coloração gram negativas, devido à constituição da sua parede, as beta-lactamases

ficam concentradas entre as duas camadas da parede celular, quebrando apenas os

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anéis beta-lactâmicos dos compostos que penetram a parede celular da bactéria. Aqui,

são acumuladas em concentrações extremamente elevadas, pelo que a penicilina não

consegue desempenhar as suas funções antibacterianas. Existem ainda um

mecanismo de resistência relacionado com a sobreprodução de transpeptidase, sendo

a penicilina insuficiente para inativação de todas as enzimas. Um outro mecanismo

desenvolvido por estas bactérias está relacionado com a diminuição de afinidade entre

a transpeptidase e a penicilina. Existe ainda um outro mecanismo que está

relacionado com a presença de transportadores na camada externa da parede celular

bacteriana responsáveis pela expulsão da penicilina do espaço periplasmático –

efluxo. A codificação destes mecanismos de adaptação é feita em ADN e localiza-se

frequentemente em plasmídeos e é transmitida entre as bactérias através de

transdução.

Um grande obstáculo ao tratamento de um superbug surgiu em 1960 com o

desenvolvimento de penicilases, fruto do extremo uso de penicilina, surgindo uma

resistência por parte da bactéria Staphylococcus Aureus [16]. As infeções por esta

bactéria, resistente também a outro tipo de antibióticos, só foram resolvidas com a

introdução da metilpeniclina na terapêutica – uma penicilina semi sintética (os dois

grupos metoxi no anel aromático, impedem a ligação das beta-lactamases) [16]. No

entanto acabaram por surgir novas estirpes de S. Aureus com mutações ao nível da

transpeptidase, o que lhes confere resistência à meticilina e outros antibióticos

resistentes às beta-lactamases [16]. A estas bactérias chamamos MRSA – Methicillin

Resistant Staphylococcus Aureus.

Em Portugal, o grande consumo de antibióticos recai sobre os beta-lactâmicos –

penicilinas, como indica a figura 1. De facto, depois de ter adquirido experiência em

farmácia comunitária, estes dados do Centro Europeu da Prevenção e Controlo da

Doença não me sugeriram surpresa.

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Figura 1 – Gráfico circular representativo do consumo de antibióticos em 2014, em Portugal,

disponível em http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-and-

consumption/antimicrobial-consumption/esac-net-database/Pages/overview-country-

consumption.aspx

Tabela 1 – Indicação da % de resistência em Portugal às aminopenicilinas (ampicilina,

amoxicilina) desde 1999 até 2014, dados disponíveis em

http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-and-

consumption/antimicrobial_resistance/database/Pages/table_reports.aspx

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Consequentemente a percentagem de resistência a estes antibióticos subiu ao longo

dos anos, depois de uma simples análise de valores apresentados na tabela 1. O

consumo deste tipo de antibiótico de forma desregrada poderá estar relacionado com

estes números.

2.2.Resistência às cefalosporinas

As cefalosporinas, segundo maior grupo de antibióticos beta-lactâmicos, derivam

também de um fungo, e foram descobertas nos anos 40 aquando o estudo de águas

de esgoto na Sardinha. Apesar de ter uma atividade inferior quando comparadas às

penicilinas, as cefalosporinas revelaram-se mais resistentes à hidrólise por ácidos e à

ação das beta-lactamases (presença do núcleo: ácido 7 aminocefalosporânico [15]). A

resistência a este tipo de antibiótico surge de forma semelhante às penicilinas.

Capacidade de alcançar a transpeptidase, estabilidade perante as beta-lactamases, e

afinidade para o alvo, podem surgir como fatores de variação para a resistência por

parte da bactéria ao antibiótico. De facto as bactérias MRSA apresentam uma

transpeptidade - PBP2A (Penicilin Binding Protein) – para a qual as penicilinas e

cefalosporinas apresentam baixa afinidade, dificultando assim a inibição deste grupo

particular de bactérias.

2.3 Resistência a outros beta-lactâmicos

As cefamicinas, diferem das cefalosporinas pela inclusão de um grupo metoxi em C7,

que lhes confere proteção perante as beta-lactamases [15]. Apesar de resistentes às

beta-lactamases comuns, existe já um plasmídeo que confere apetência para a

produção de cefamicinases, conseguindo a inativação deste grupo de beta-lactâmicos

[15].

Os monobactâmos, diferentes de todos os outros beta-lactâmicos por apresentarem

apenas o anel beta-lactâmico, são também suscetíveis à ação de beta-lactamases

[15].

Os carapenemos, beta lactâmicos com espetro mais alargado apresentam um grupo

6-hidroxil-etilo que lhes confere maior estabilidade perante as beta-lactamases [15].

Este tipo de antibiótico apresenta ainda grande afinidade para as PBP das bactérias

gram positivas. Apesar da atividade excecional, já foram detetadas enzimas

destruidoras desta estrutura: metalo-beta-lactamases [15].

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3.Relação entre o uso desmedido de AB com o aumento de

resistências

Um estudo realizado na Europa conseguiu associar o maior uso de antibióticos com o

aparecimento de resistências, assim os diferentes padrões de resistência que existem

são consequência de um melhor uso do antibiótico em certos países, quando

comparados a outros com elevado consumo e de forma errónea deste tipo de

medicamentos [19]. Neste estudo foi realizada a quantificação do consumo de

antibióticos e, posteriormente feita a correlação com a percentagem de resistência

através da correlação de Pearson. O grupo de investigadores chegou assim à

conclusão que o norte da Europa apresentava taxas mais baixas de consumo de

antibióticos. As taxas de resistência desenvolvidas pelas bactérias patogénicas

revelaram inferiores, o que permitiu a correlação referida mais acima. No sul da

Europa, pelo contrário as grandes taxas de consumo de antibióticos revelaram ser as

grandes responsáveis pelo aumento de circulação de estirpes resistentes [19].

4.MRSA

As MRSA representam um grupo de bactérias gram positivas altamente resistente,

constituindo uma problemática quer a nível hospitalar, quer na comunidade [20].

Figura 2 – Proporção de isolados de MRSA nos diversos países da Europa, dados de

http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-and-

consumption/antimicrobial_resistance/database/Pages/graph_reports.aspx

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De facto, a presença deste tipo de patogénico na comunidade está a aumentar [20].

Tal facto pode ser comprovado na figura 3, que representa a presença deste grupo de

bactérias na Europa. Consequentemente as percentagens de resistência à meticilina,

em Portugal, estão também a aumentar, como se pode constatar na tabela 2. O mau

uso do antibiótico em meio comunitário e hospital pode ser a principal força de pressão

seletiva para a diminuição destes níveis de suscetibilidade. A bactéria Staphylococcus

Aureus é no entanto naturalmente suscetível aos antibióticos, apresenta porém uma

grande capacidade de aquisição de características fenotípicas por inclusão de genes

provenientes de transmissão horizontal [21]. Estima-se que cerca de 30% das pessoas

sejam portadoras assintomáticas deste tipo de bactérias, dando-se a transmissão por

contacto direto pele a pele ou pele a objeto, e claro, existem pessoas mais

predispostas à infeção (quebra barreia pele, diabéticos, imunoinsuficiência) [21]. A

bactéria Staphylococcus Aureus começou por ser suscetível à penicilina, no entanto a

aquisição de um plasmídeo conferiu-lhes a capacidade de produção de beta-

lactamases, possibilitando-as de inativação do anel beta-lactâmico e portanto de

sobreviver perante a penicilina. Esta estirpe que até então circulava apenas nos

hospitais, passou também a circular na comunidade. A terapêutica para infeções por

Staphylococcus Aureus passou a ser bem-sucedida novamente com a introdução da

meticilina. A estratégia passou pela inclusão de dois grupos metoxi em orto no anel

aromático, promovendo por impedimento estérico, a ligação das beta-lactamases [15].

No entanto surgem, em 1961, relatos das primeiras estirpes resistentes à meticilina –

Tabela 2 - suscetibilidade da Staphylococcus Aureus à meticilina em Portugal,

dados: http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial-resistance-and-

consumption/antimicrobial_resistance/database/Pages/table_reports.aspx

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23

MRSA, com um mecanismo de resistência diferente. Nesta fase, a resistência aos

antibióticos beta-lactâmicos, é atribuída ao gene mecA, um elemento genético móvel,

que incorporou o genoma bacteriano por transmissão horizontal, conferindo-lhes esta

característica [21]. A inclusão deste gene ocorreu por transferência lateral de uma

outra estirpe de Staphylococcus: estudos indicam sciuri ou fleurettii [20]. Este gene

excedente é responsável pela produção de uma PBP: 2A, responsável por uma

diminuída afinidade aos antibióticos beta-lactâmicos, permitindo a síntese normal do

peptidoglicano (PG) e evitando a lise da célula [20], divergindo do mecanismo de

resistência da bactéria em relação à penicilina (ação de beta-lactamases). Neste

segundo desenvolvimento, a bactéria resiste aos antibióticos beta-lactâmicos sem

degradar o anel que os caracteriza [21]. A estratégia utilizada para a retoma de

atividade dos antibióticos beta-lactâmicos passa pelo efeito sinérgico com inibidores

de beta-lactamases, no entanto, tal estratégia não pode ser aplicada ao grupo MRSA,

uma vez que o seu mecanismo de resistência aos beta-lactâmicos está relacionado

com a produção de uma PBP com características diferentes e não com a produção de

beta-lactamases. Assim, a estratégia para restaurar a atividade deste grupo de

antibióticos passa pela inibição seletiva da PBP extra [20]. Estratégias estão ainda a

ser desenvolvidas de forma a inibir os fatores genéticos envolvidos na expressão da

proteína PBP2A. É possível ainda fazer uso de cafalosporinas de 5ª geração para

fazer o combate a este tipo de bactérias, como por exemplo, ceftobiprole. Contudo,

urge a compreensão de alternativas, pois resistências a este último podem surgir, se

as medidas de correta utilização não forem cumpridas.

4.1.A parede celular das bactérias MRSA

A molécula base da parede celular das bactérias é o PG, responsável pela

manutenção da elevada pressão osmótica interior e pela forma da célula. Esta

molécula é composta por dissacáridos: N-acetil-glucosamina (GclNAc) e N-acetil-ácido

muramico (MurNAc), ligados entre si de forma cruzada por pequenos péptidos [20]. A

síntese do PG acontece no citoplasma da célula e decorre em vários passos. A

compreensão das diferentes etapas de síntese é fundamental para a possível

estratégia de inibição da síntese PBP2A do grupo MRSA, permitindo a ação dos beta-

lactâmicos. A síntese tem início com a transformação da frutose-6-fosfato em UDP-

GlcNAc por um conjunto de enzimas (Glm, GlmM, GlmU) e posterior conversão em

UDP-MurNAc, através da MurA, MurZ e MurB. De seguida, a partir do UDP-MurNAc é

construído pelas ligases do PG, um pentapéptido: D-ALA-D-GLU-L-LYS-D-ALA-D-

ALA. Este precursor toma o nome de lípido I, depois de efetuada a ligação a um

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transportador lipídico. Por fim, a MurG catalisa o substrato UDP-GlcNAc,

transformando-o em undecaprenil-difosfato- (GlcNAc)MurNAc-pentapéptido ou lípido

II. O lípido II das MRSA é posteriormente transformado ainda por uma família de

peptidiltransferases, que estende uma ponte pentaglicínica a partir do resíduo de L-

LYS, que permite um cross linking eficiente. De seguida é ainda feita a transformação

do resíduo de D-GLU em D-glutamina, essencial para a posterior polimerização por

parte da PBP. Por fim, é realizado o transporte deste precursor para a superfície da

célula (a cargo da FtsW ou RodA) e inversão da membrana num movimento flop,

ficando o grupo de PBP expostas. Nesta fase decorre a polimerização da cadeia de

PG por transglicosidação dos dissacáridos e transpeptidização para estabelecimento

da ligação cruzada. A maquinaria genética associada à resistência aos beta-

lactâmicos está associada, para além do gene mecA, aos genes fem (factor essential

for methicilin resistance) e genes aux (auxiliares). A expressão destes dois grupos de

genes: mecA e fem, não está correlacionada, pelo que a maior expressão da PBP2A

não implica uma maior resistência à metilcilina [20]. Através de uma estratégia

genética reversa foram colocados plasmídeos em bactérias MRSA de ambiente

hospitalar e de comunidade e foram determinados os genes necessários para a

expressão de resistência aos beta-lactâmicos. Fenómenos relacionados com o

precursor lípido II (amidação e translocação), com a divisão celular, com a secreção

proteica, com a biossíntese do ácido teicóico e ainda com os sistemas de tradução de

sinais, estão implicados nos mecanismos de resistência. Então, apesar de o PBP2A

ser determinante para a inatividade dos beta-lactâmicos nestas bactérias, existe todo

um sinergismo com estes mecanismos de expressão genética. Desta forma, todos

estes mecanismos extra de resistência podem ser alvos de inibição para a restauração

da atividade antibacteriana dos beta-lactâmicos. Tal aspeto já foi demonstrado

aquando da administração de quantidades sub MIC (minimal inibitory concentration)

de meticilina e fosfomicina, inibidor da MurA e MurZ, enzimas intervenientes nas

etapas iniciais de síntese do PG, e consequente morte da bactéria [20]. Assim uma

associação de incapacitação da ação da PBP, através de mudanças estruturais da

parede celular ou do teor da mesma, com a ação de beta-lactâmicos, poderá

possibilitar a morte da bactéria até então resistente [20].

4.2.Outros antibióticos beta-lactâmicos

Alguns carbapenemos e cefalosporinas podem ainda revelar-se úteis no tratamento

destas infeções. Duas moléculas surgiram como alternativa de tratamento ceftobiprole

e ceftarolina (cefalosporinas) que podem revelar-se igualmente úteis. A ceftarolina

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apresenta a capacidade de ligação alostérica à PBP2A, conseguindo a sua inativação

[20]. Resistências continuam, todavia, a ser reportadas.

Existe ainda uma outra estratégia para o combate deste tipo de bactérias: a

combinação de três antibióticos beta-lactâmicos. Assim o meropenemo, piperacilina e

tazobactam revelam-se como uma tríade cuja função passa por: atuar em vários alvos

celulares na síntese da parede celular, potenciação do efeito terapêutico através de

sinergismo entre os três antibióticos, e diminuição do desenvolvimento dos

mecanismos de resistência por aumento da sensibilidade da bactéria aos fármacos

antibacterianos. Assim o meropenemo inibe a PBP1, a piperaciclina inibe a PBP2 e o

tazobactam inibe as beta-lactamases envolvidas na inibição da piperaciclina. Ocorre

ainda a otimização do local ativo para a ligação dos beta-lactâmicos por ligação

alostérica do meropenemo à PBP2A. Esta ação conjunta favorece a disrupção do

metabolismo de síntese da parede celular e a morte da bactéria [22].

4.3.Alternativas

Existem ainda outros antibióticos em zona de reserva para o combate deste tipo de

infeções. A vancomicina é o fármaco de último recurso para o tratamento deste tipo de

infeções. O alvo deste antibiótico é o bloco construtor da parede celular (L-lys-D-ala-D-

ala), ao qual a molécula se liga através de ligações de hidrogénio. Ocorre de seguida

uma dimerização que impede o metabolismo regular a este nível da bactéria [16]. Já

existem, no entanto, relatos de estirpes hospitalares de MRSA resistentes à

vancomicina – VRSA (Vancomicin Resistance Staphylococcus Aureus). Investigadores

indicaram que a resistência surgiu por incorporação de um elemento genético

proveniente de um Enterococcus [15]. Em investigação estão ainda três derivados da

vancomicina (telavancina, dalavancina e oritavancina) que demonstraram eficácia in

vitro, e se encontram em ensaios clínicos.

A daptomicina é um antibiótico que atua na membrana plasmática, sendo efetivo neste

tipo de bactérias, em infeções de pele e de tecidos moles. A pritinamicina, pertencente

ao grupo das estreptograminas, esta também no grupo de reserva para o combate

deste tipo de infeções, assim como a linezolida, uma oxazolidinona.

É possível ainda tratar uma infeção por S.Aureus com macrólidos, vancomicina,

amonoglicosídeos e fluoroquinolonas, apesar de este superbug já ser resistente a

muitos dos acima referidos [23].

4.4.O superbug MRSA

A Staphylococcus aureus demonstra-se assim como uma bactéria com grande

capacidade adaptativa, desenvolvendo com grande competência resistências aos

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antibióticos usados na terapêutica, através de inclusão de genes adquiridos por

transferência horizontal. As bactérias resistentes têm quase sempre início em

ambiente hospitalar (devido a grandes pressões seletivas), conseguindo depois

colonizar a comunidade. O uso de antibióticos de forma errada e exagerada constitui

das maiores pressões seletivas que culminam com o desenvolvimento de resistência

por parte destes patogénicos [21].

5.A dificuldade na descoberta de novos antibióticos Uma possível

alternativa

O desenvolvimento de um antibiótico é uma tarefa não muito simples. É preciso ter em

conta inúmeros fatores que podem influenciar a eficácia deste tipo de fármacos.

Assim, o antibiótico, depois de administrado tem que chegar ao local da infeção. Nesta

viagem, realizada através dos fluidos sanguíneos (e por isso idealmente a molécula

deverá ser solúvel em água) é fundamental que a molécula antibacteriana não

estabeleça ligações com as proteínas sanguíneas, pois implicaria uma diminuição da

quantidade livre de fármaco disponível para atuar no alvo. Um aumento de dose

poderia ser a solução para esta questão, pois permitiria um aumento de fármaco livre

disponível para atuar no alvo. Porém, um aumento de dose acarreta também um

aumento ao nível dos efeitos adversos exercidos no organismo [11].

Depois de chegada ao local de infeção é necessário que o antibiótico estabeleça

ligação com o alvo molecular, ultrapassando todas as barreiras físicas (membranas e

paredes celulares) da bactéria.

Novas tendências na investigação nesta área dão indicação de que o antibiótico ideal

deverá ter vários alvos moleculares na célula, para que a bactéria não adquira tão

facilmente mecanismos de resistência contra este [11]. O alvo ideal deverá apresentar

capacidade de ligação ao fármaco antibacteriano, deverá ser crucial para o

metabolismo bacteriano, não deverá estar presente no organismo humano (evitando

assim efeitos adversos) e deverá apresentar um baixo potencial para o

desenvolvimento de resistências cruzadas, implicando assim que o mecanismo de

ação seja diferente de todos os antibióticos existentes [11].

Toma-se como exemplo o Novobiocin® (classe das aminocumarinas). Este antibiótico

tem como alvo molecular duas enzimas: ADN girase (ligação à subunidade GyrB) e

Topoisomerase IV (ligação à ParE), ligando-se a subunidades envolvidas na produção

de energia, afetando o processo de replicação. Este antibiótico é ativo em bactérias

gram positivas e gram negativas e ainda possui seletividade para as células

bacterianas, não inibindo células humanas. Trata-se assim de um antibiótico multi-alvo

[11]. Este composto foi, no entanto retirado do mercado, por insegurança clínica e por

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desenvolvimento de resistências. A investigação continua, porém. E vários passos são

tomados para que estes antibacterianos possuam todas as características ideais

referidas acima. Várias farmacêuticas debruçam-se sobre este tipo de moléculas de

forma a caracterizar bem o alvo molecular, examinar os diferentes mecanismos de

inibição do alvo e entender os mecanismos de toxicidade envolvidos, de maneira a

compreender o que falhou na última entrada no mercado terapêutico.

6.Teixobactin

Uma nova técnica de cultura de bactérias veio trazer alguma esperança ao nível da

descoberta de novos antibióticos. O ichip, tecnologia inicialmente desenvolvida por

Epstein e colegas em Northeatern veio permitir o crescimento de bactérias ainda sem

meio de cultura definido, em laboratório [24]. A descoberta do teixobactin aconteceu

com recurso a esta técnica, seguido de um screening para a atividade antimicrobiana

das moléculas produzidas pela bactéria Eleftheria terrae que cresceu nestas câmaras

de difusão [24]. Depois de realizada a sequenciação genética do ADN da bactéria, o

grupo de investigadores chegou à conclusão que se tratava de um género próximo das

Aquabacteria, que até então não tinha capacidade de produção de antibióticos. Os

investigadores estudaram a estereoquímica deste composto através de técnicas de

ressonância nuclear magnética, chegando à conclusão de se tratar de um

depsipéptido constituído por enduracididina, metilfenilalanina e quatro D-aminoácidos,

como indica a figura 3 [24].

O teixobactin apresenta atividade antibacteriana em patogénicos gram positivos,

incluindo bactérias altamente resistentes como MRSA e Streptococcus Pneumoniae.

Apesar de inativo contra a maioria das bactérias gram negativas, este composto

apresenta atividade contra uma estirpe de E.coli. quando cultivada em modelos

Figura 3 – Estrutura química do Teixobactin

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celulares, este composto não revelou toxicidade nem capacidade de ligação ao ADN.

O modo através do qual o teixobactin provoca a morte de bactérias é impedindo a

síntese do PG. Depois de exposta uma dose inferior à dose mínima de inibição

durante vários dias, chegaram também à conclusão de que nenhuma resistência foi

desenvolvida por parte da bactéria estudada (MRSA).

O teixobactin estabelece ligações com dois locais (D-Ala-D-Lac e D-Ala-D-Ser) no

lípido II, envolvido na síntese do PG. Este antibiótico tem ainda a capacidade de

ligação a um precursor do ácido teicóico, impedindo as últimas fases de produção

deste componente. A inibição deste último vai provocar uma acumulação de

metabolitos tóxicos, que se revela também letal para a célula. O ácido teicóico serve

ainda de ancoragem para as autolisinas, impedindo a hidrólise descontrolada do PG,

ora, a síntese das moléculas de ancoragem está comprometida, dá-se a libertação das

autolisinas, culminando num fenómeno lítico e consequentemente morte da bactéria

[24]. Este antibiótico possui assim vários alvos moleculares, que podem contribuir para

um desenvolvimento tardio de mecanismos de resistência.

Em estudos de eficácia em modelos animais, a molécula revelou-se também capaz de

aniquilar algumas unidades formadoras de colónias após algum tempo de exposição

ao fármaco [24]. A molécula revela-se ainda estável, mantém a atividade em soro e

apresenta baixa toxicidade.

Por fim, o teixobactin apresenta-se como um possível antibiótico a ser usado em

infeções por bactérias gram positivas, dando já provas da sua eficácia em modelos

animais de infeção [24]. O alvo molecular responsável pelo mecanismo de ação

primordial trata-se então de um precursor do ácido teicóico e a ligação do teixoactin ao

resíduo de açúcar pirofosfatado deste promove a inibição do mesmo. Por conseguinte

as autolisinas não têm local de ancoragem e libertam-se, dando-se então o processo

de auto lise e morte da bactéria.

Figura 4 – Diminuição dos níveis de unidades formadoras de colónia dos três

antibióticos vs. Controlo, em modelo animal de infeção

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7.Um plano de combate

Torna-se claro que medidas devem ser tomadas, para que em conjunto com o

desenvolvimento e descoberta de novos antibióticos se consiga domar este paradigma

do uso do antibiótico. O objetivo máximo de qualquer plano de ação, como aponta a

Organização Mundial de Saúde, é garantir pelo maior período de tempo possível, a

capacidade de tratar e prevenir doenças infeciosas com fármacos seguros e eficazes

[18]. As principais medidas de controlo de infeção devem ser tomadas em ambiente

hospitalar, pela maior exposição a este tipo de agentes. Prevenindo as infeções a este

nível será também expectável uma diminuição da passagem de superbugs para a

comunidade. Devem, portanto, ser tomadas medidas de controlo de infeção hospitalar,

para que seja diminuída a necessidade de uso de antibióticos, especialmente dos mais

recentes, para que exista uma reserva de combate a patogénicos super resistentes

[25]. Em ambiente hospitalar, é aconselhada a diminuição do uso de objetos invasivos,

como cateteres urinários ou cateteres venosos centrais, pois servem de portas de

entrada para um grande número de bactérias circulantes [25]. É também importante

que todos os doentes hospitalizados sejam vacinados contra a gripe, para diminuir a a

suscetibilidade perante infeções oportunistas. No caso de suspeita de infeção

bacteriana, deve primeiro ser realizada uma antibioterapia empírica com base na

suspeita do patogénico que possa estar a causar a infeção. Depois de determinada a

bactéria, a antibioterapia deve então ser específica.

Em ambiente comunitário deve apostar-se em campanhas educacionais acerca do uso

apropriado do antibiótico [25], como a que foi desenvolvida por mim durante o estágio

em farmácia comunitária, contribuindo assim para fomentar conhecimento acerca

deste tipo de fármacos e ainda de forma a esclarecer qualquer tipo de questão. É

ainda importante alertar para o conceito de resistência aos antibióticos e as

consequências que acarretam para a sociedade moderna.

Nos hospitais é crucial também que procedimentos sejam elaborados de forma a evitar

a transmissão de bactérias, principalmente ao nível de higienização das mãos [24].

Campanhas de higienização e de prevenção de infeção são também fundamentais

com o objetivo de diminuir o risco de infeção. As campanhas de vacinação são

também fundamentais, para diminuir a suscetibilidade do organismo humano perante

patogénicos oportunistas, e outros para os quais a vacinação pode prevenir a infeção,

para a qual terá que ser administrado antibiótico para efetuar o tratamento [18].

Também os animais das grandes produções alimentares devem ser vacinados, de

modo a prevenir as infeções e consequente uso de antibióticos [18].

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Um outro sector que faz uso exacerbado de antibióticos é o animal, pelo que fortes

restrições devem ser estabelecidas [25]. A estratégia destas medidas passa por

diminuir a necessidade de uso de antibióticos, e portanto minimizar a evolução de

estirpes resistentes.

É fulcral que mais estudos se façam acerca da epidemiologia das resistências aos

antibióticos e acerca do consumo de antibióticos [18], para que se consigam traçar

estratégias específicas de combate, principalmente em regiões com maior consumo de

antibióticos.

Por fim, é também de extrema relevância que surjam mais apoios para a investigação

deste tipo de fármacos (novos antibióticos – para combate aos superbugs e vacinas –

prevenção de infeção) [18]. O desenvolvimento de métodos de diagnóstico mais

rápidos que permitam a deteção rápida da bactérica causadora da infeção poderia

também facilitar o diagnóstico e tratamento de infeções bacterianas, permitindo uma

terapêutica específica.

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Tema 2 – Infeções hospitalares

1.Definição

Uma infeção hospitalar é definida como uma infeção que se desenvolve durante a

estadia do paciente no hospital, cuja presença era negativa aquando da admissão

[26]. Esta infeção pode manifestar-se clinicamente ainda durante o tempo de

internamento ou já depois da alta clínica. As mais comuns complicações que podem

surgir de uma infeção hospitalar são: feridas cirúrgicas, infeções urinárias, infeções

respiratórias, gastroenterites e meningites [26]. 90% das infeções são provocadas por

agentes bacterianos, sendo os mais frequentes: E.Coli, S.Aureus, enterococci e a

P.Aeruginosa [26]. O uso extensivo de antibióticos em ambiente hospitalar contribuiu

também para o aumento de estirpes de extrema dificuldade para tratar. São exemplos

a Methicillin Resistant Staphylococcus Aureus (MRSA), o pneumococci resistente à

penicilina, o S. Aureus resistente à vancomicina, o enterococci resistente à

vancomicina, entre outras resistências que surgiram em virtude da diminuição da

suscetibilidade perante os antibióticos.

2.Fontes

A transmissão de infeções hospitalares ocorre primordialmente através de contacto

com superfície/pessoa contaminada [26], apesar de a transmissão através de

aerossóis também acontecer com frequência.

O desenvolvimento deste tipo de infeções implica muitas vezes o contacto com fontes

exógenas que carregam o agente patogénico. Existem assim infeções hospitalares

associadas a dispositivos intravenosos, como são os cateteres intravenosos, tubos

endotraqueais, que apesar de representarem um auxílio na terapêutica, acarretam

este tipo de riscos [27]. De facto, a quebra das barreiras de defesa do organismo

facilita a exposição a conjuntos de patogénicos que possam estar neste tipo de

instrumentos acumulados sob a forma de biofilmes, resistindo por vezes às defesas

iniciais do organismo humano [27]. Os trabalhadores do hospital, visitantes, ou outros

doentes internados podem representar reservatórios para posterior transmissão destas

bactérias [28]. O contacto direto pode possibilitar a exposição a gotas de saliva ou

outros fluidos corporais contaminados. Os trabalhadores do hospital podem ainda ser

transportar estes patogénicos na sua roupa, mãos e nariz (MRSA) e durante a

prestação de cuidados podem transmiti-los aos doentes [28]. A comida, água,

cateteres urinários, cateteres intravenosos, podem surgir como fontes para o

transporte de um agente patogénico [26]. As infeções hospitalares podem também

surgir de fonte endógena, da flora normal do doente.

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3.Sinais de infeção hospitalar

Existem sinais que podem facilmente identificar uma infeção hospitalar. Assim, a

identificação de uma infeção ao nível do local de uma intervenção cirúrgica é feita

através da observação de pus, formação de abcessos ou inflamação do órgão

operado, até um mês após cirurgia. Para identificação de uma infeção urinária é

necessária cultura positiva, com uma ou duas espécies e com 105 bactérias/mL, com

ou sem sintomas. Uma infeção respiratória adquirida em meio hospitalar identifica-se

pela tosse, expetoração indicadora de infeção, ou através de presença de infiltrados

nos pulmões, através de exame de raio x. Sinais de inflamação ao nível da inserção

do cateter central, identifica a aquisição de uma infeção nosocomial. Por fim febre e

cultura positiva para bactérias no sangue são suficientes para fazer identificação de

septicemia [28].

4.Bactérias patogénicas

S. Aureus é o principal agente envolvido em infeções hospitalares, estando presente

na superfície nasal de grande parte dos trabalhadores em ambiente hospitalar [28].

Este é responsável por infeções do trato respiratório inferior e ainda por infeções de

locais de procedimentos cirúrgicos. É comum também provocar septicémia,

pneumonia e infeções cardiovasculares [26]. As infeções hospitalares podem ainda ser

provocadas por agentes comensais, como a Escherichia Coli, que escapam da sua

normal localização e acabam por desencadear infeções noutro local do organismo.

Existem ainda outras bactérias que comummente participam em infeções hospitalares

como a Pseudomonas spp, normalmente encontrada nas águas e nos esgotos

hospitalares e que infeta o trato digestivo dos doentes internados; e ainda a

Legionella, que pode causar uma pneumonia nosocomial, por inalação de aerossóis

contaminados (ar condicionado, chuveiros ou terapêuticas com aerossóis) [28].

O agente mais comum de infeções urinárias nosocomiais é a Escherichia Coli. A

infeção provocada por este agente da flora intestinal é a que está associada a menor

morbilidade, pode, no entanto disseminar para septicémia e morte [28].

Os agentes causadores de pneumonia nosocomial podem ter origem interna (do

sistema digestivo ou sistema respiratório superior) e podem também ter origem

externa (equipamento usado contaminado) [28].

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5.Suscetibilidade

Os pacientes hospitalizados estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de infeções

oportunistas, quer por razões intrínsecas do doente e da sua patologia, quer por

razões extrínsecas, relacionadas com os cuidadores do doente e do hospital [26]. Um

grande fator extrínseco apontado como frequente causa de infeções hospitalares são

os grandes procedimentos cirúrgicos, demasiado invasivos, expondo o doente a este

tipo de patogénicos. Ainda, todas as patologias que culminem com imnunosupressão

podem facilitar a entrada destas bactérias no organismo, assim como o

desenvolvimento crescente de resistência aos antibióticos pode prolongar o tempo de

permanência de dano destas bactérias, e ainda o uso desregrado de antibiótico é uma

excelente força de seleção de estirpes resistentes em ambiente hospitalar e em último

lugar pode provocar este tipo de infeção.

Assim existem três pontos que se podem revelar fulcrais na aquisição de infeções

hospitalares: fatores relacionados com o doente, extremos de idade, gravidade da

patologia, condições de internamento, estado do sistema imunitário; fatores

relacionados com o procedimento cirúrgico, como a utilização de dispositivos

invasivos, como cateteres, o tipo de procedimento cirúrgico, uso de antibióticos,

terapêutica com imunossupressores, tempo de internamento prolongado; e por fim,

fatores relacionados com o hospital, como a implementação de técnicas de

higienização das mãos, técnica assética, contaminação ambiental, excesso de

hospitalizados, insuficiente número de prestadores de saúde, limpeza inadequada, má

esterilização dos equipamentos e instrumentos cirúrgicos [27]. Existe a indicação que

a transmissão deste tipo de patogénicos pessoa a pessoa hospitalizada contribui

também para o aumento das infeções hospitalares, de facto a contaminação do

suporte metálico das camas, por exemplo, e a incorreta desinfeção destas pode fazer

prolongar a estadia destas bactérias no hospital, pode até, infetar o próximo doente

daquela cama [27]. Existindo assim maior probabilidade de um doente desenvolver

uma infeção por MRSA, por exemplo, se o doente previamente internado no mesmo

quarto estivesse colonizado com a mesma bactéria [27].

6.Medidas preventivas

A diminuição deste tipo de infeções em ambiente hospitalar é da responsabilidade de

todos os prestadores de cuidados de saúde do hospital. Assim o objetivo passa pela

diminuição de transmissão de bactérias através de efetivas estratégias.

Uma das principais medidas é a lavagem correta e assética das mãos, evitando que

estas se tornem o veículo de inúmeros patogénicos. O uso apropriado de luvas, batas

e máscaras torna-se também essencial, uma vez que o uso inapropriado destes, não

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só potencia o aumento de infeções hospitalares, como também aumenta a despesa do

hospitalar de forma desnecessária [26]. Pode ser também necessário recorrer a

isolamento de pacientes, a fim de evitar a exposição a patogénicos oportunistas que

possam estar a infetar algum deles [28]. A profilaxia com antibiótico e a vacinação são

também duas medidas preventivas, capacitando o organismo para a resposta a estas

bactérias oportunistas [28].

Podem então ser delineadas estratégias para o uso seguro deste tipo fontes exógenas

relacionadas com a colocação deste tipo de dispositivos (cateteres), sendo procedido

de imediato à remoção do mesmo assim que desnecessário. A garantia de esterilidade

de todo o material, a técnica assética aquando da colocação do mesmo e a lavagem

de mãos antes e depois do cuidador que realizar o procedimento, podem contribuir

para a diminuição deste tipo de infeções nosocomiais [27]. Estudos dão ainda a

indicação que existem doentes cuja colocação do cateter não seria necessária, ou

então que a fazem uso do mesmo por longos períodos sem necessidade também [27].

A este nível podem também ser tomadas medidas. Sendo considerada uma técnica

que quebra a barreira de proteção do organismo, a sua colocação não deve ser

considerada se não for realmente necessária, evitando a exposição a elementos de

risco.

Assim medidas de forma a diminuir o risco de pneumonia associada a ventilador

incluem a elevação da cabeça a cerca de 30 a 45º, diminuição de sedativos a fim de

avaliar a necessidade de extubar e ainda a lavagem diária com clorohexidina [27]. Ao

nível da diminuição de infeções de locais cirúrgicos existem também algumas

estratégias: profilaxia apropriada com antibióticos, garantia de utilização de material

devidamente esterilizado, uso de técnica assética [27].

Uma melhoria ao nível dos cuidados de limpeza e desinfeção devida dos quartos dos

hospitais, em como todos os constituintes dos mesmos (camas, maçanetas das

portas, mesas) deve ser considerada como extremamente fundamental, de forma a

evitar que estes objetos funcionem como reservatórios para estes patogénicos

oportunistas [27].

É importante ainda a formação contínua de todos os trabalhadores a este nível, para

que todos estejam sensíveis a esta questão, adotando os melhores comportamentos

de forma a minimizar as infeções hospitalares.

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8.Conclusão

Desde a descoberta desta classe de fármacos, muitas vidas foram salvas. No entanto,

a extrema utilização de antibióticos revelou-se também a forte pressão seletiva para o

aparecimento de estirpes resistentes, e o mundo hoje preocupa-se novamente com a

possibilidade de retrocesso para uma época sem antibióticos para tratar infeções

provocadas por estes superbugs.

Torna-se por isso importante a compreensão das maquinarias destes patogénicos,

para que sejam descobertos novos alvos moleculares que permitam uma re-ação por

parte dos antibióticos já existentes.

Em último caso, a descoberta de novos agentes antibacterianos é também

fundamental. Novas técnicas como a tecnologia ichip devem ser apoiadas a fim de

serem descobertas potenciais armas escondidas nos ambientes inóspitos.

É urgente promover este tipo de campanhas para que o público seja sensível para

esta questão, uma vez que, todos podemos fazer a diferença, quer através da

minimização do risco de infeção, quer através do uso responsável do antibiótico.

É também fundamental que estas campanhas incluam os trabalhadores dos hospitais

e os enriqueçam acerca de medidas preventivas de infeções hospitalares, para

também serem garantidos os cuidados de saúde, sem riscos associados.

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36

9.Conclusão do Relatório

O estágio revelou-se verdadeiramente enriquecedor, uma vez que foi o primeiro

contacto com a profissão de farmacêutico. Foram-me incutidos os valores e

competências para ser uma farmacêutica, e por isso agradeço de uma forma muito

especial a toda a equipa da Farmácia Martins.

Pretendi ainda desenvolver temas que me despertam bastante interesse e

preocupação. Procurei compreender como surgiram os antibióticos durante a era

dourada, as resistências desenvolvidas pelo principal grupo de antibióticos

consumidos em Portugal (beta-lactâmicos), procurei ainda saber um pouco mais

acerca do grande patogénico que preocupa o mundo clínico (MRSA) e ainda descobrir

mais acerca do que dizem ser o antibiótico mais promissor contra este tipo de

superbug. Por fim, tive em consideração as principais medidas estratégicas para

diminuir a resistência aos antibióticos, traçadas pela Organização Mundial de Saúde.

Procurei ainda saber um pouco mais acerca das infeções hospitalares e como poderia

diminuir esta problemática na comunidade.

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37

10.Referências

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2016)

3. INFARMED: Portaria n.º 594/2004, de 2 de Junho: Aprova as boas práticas a

observar na preparação de medicamentos manipulados em farmácia de oficina e

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julho de 2016)

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7. INFARMED: Decreto-Lei n.º 189/2008, de 24 de Setembro: Estabelece o regime

jurídico dos produtos cosméticos e de higiene corporal. Acessível em

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A_DL_189_2008_5Alt-A.pdf (acedido a 18 de julho de 2016)

8. INFARMED: Decreto-Lei n.º 145/2009, de 17 de Junho: Estabelece as regras a

que devem obedecer a investigação, o fabrico, a comercialização, a entrada em

serviço, a vigilância e a publicidade dos dispositivos médicos e respetivos

acessórios. Acessível em:

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http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACAO

_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_V/TITULO_V_CAPITULO_II/122-

A_DL_145_2009_2ALT.pdf (acedido a 19 de julho de 2016)

9. INFARMED: Produtos-fronteira entre suplementos alimentares e medicamentos.

Acessível em:

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de julho de 2016)

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http://www.cdc.gov/getsmart/community/about/fast-facts.html (acedido a 22 de

julho de 2016)

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20. Roemer T, Schneider T, Pinho MG. (2013). Auxiliary factors: a chink in the armor of

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21. Chambers HF, DeLeo FR (2009). Waves of Resistance: Staphylococcus aureus in

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25. Digital access to scholarship at Harvard: History Repeating? Avoiding a

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26. Bereket W, Hemalatha K, Getenet B, Wondwossen T, Solomon A, Zeynudin A et al

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28. WHO: Prevention of hospital-acquired infections. Disponível em:

http://apps.who.int/medicinedocs/documents/s16355e/s16355e.pdf [acedido a 18

de agosto de 2016]

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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Hospital de Braga

maio de 2016 a julho de 2016

Ana Daniela Martins Almeida

Orientador : Dra. Sara Barroso

____ _________________

Setembro de 2016

Declaração de Integridade

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Eu, Ana Daniela Martins Almeida, abaixo assinado, nº 201004729, aluno do

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da

Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na

elaboração deste documento.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo,

mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual

ou partes dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos

anteriores pertencentes a outros autores foram referenciadas ou redigidas com

novas palavras, tendo neste caso colocado a citação da fonte bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de

__________________ de ______

Assinatura: ______________________________________

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Agradecimentos

Um agradecimento especial a toda a equipa dos Serviços Farmacêuticos do Hospital

de Braga, obrigada por me receberem e por tudo o que me ensinaram.

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Resumo

O estágio curricular desenvolvido nos serviços farmacêuticos do Hospital de Braga

teve como objetivo o contacto com as diferentes áreas da farmácia hospitalar. Neste

relatório constam as descrições das atividades realizadas durante o estágio.

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Abreviaturas

AIM - Autorização de Introdução no Mercado

ATC - Anatomical Therapeutic Chemical

AUE - Autorização de Utilização Especial

AO – Auxiliares Operacionais

BO - Bloco Operatório

CAUL - Certificado de Autorização de utilização do lote

CCA - Centro Clínico Académico

CFT - Comissão de Farmácia e Terapêutica

DCI - Denominação Comum Internacional

DIDDU - Distribuição individual diária em dose unitária

EF - Extra Formulário

FHNM - Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos

HB – Hospital de Braga

INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.

MRSA - Methicillin Resistant Staphylococcus Aureus

SAP - System Administrations Products

SC - Serviço Clínico

SF – Serviços Farmacêuticos

SU - Serviço de Urgência

TDT - Técnicos de Diagnóstico e terapêutica

UCIP - Unidade de Cuidados intensivos polivalente

VIH - Vírus da Imunodeficiência humana

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Índice

1.Hospital de Braga ...................................................................................................... 1

1.2.Serviços Farmacêuticos do Hospital de Braga .................................................... 1

1.2.1.Localização e horário .................................................................................... 1

1.2.2.Recursos humanos ....................................................................................... 2

2.Farmácia Hospitalar ................................................................................................... 2

2.1.Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos ............................................... 2

2.2.Sistema informático ............................................................................................. 3

3.Gestão de medicamentos - Seleção, aquisição e armazenamento de produtos

farmacêuticos ............................................................................................................... 3

3.1.Gestão de existências ......................................................................................... 3

3.2.Sistemas e critérios de aquisição ........................................................................ 4

3.2.1.Aquisição de medicamentos sujeitos a autorização de utilização especial .... 5

3.2.2.Aquisição de estupefacientes e psicotrópicos ............................................... 5

3.2.3.Aquisição de hemoderivados ........................................................................ 5

3.3.Receção e conferência de produtos adquiridos ................................................... 6

3.4.Armazenamento dos produtos ............................................................................. 6

4.Sistema de distribuição de medicamentos ................................................................. 7

4.1.Distribuição clássica ............................................................................................ 7

4.1.1.Armazéns avançados ................................................................................... 7

4.1.1.1.Pyxis®Medstation ...................................................................................... 8

4.2.Reposição de stocks nívelados ........................................................................... 8

4.3.Distribuição Personalizada .................................................................................. 8

4.4.Sistema de distribuição individual diária em dose unitária ................................... 9

4.5.Distribuição de medicamentos a doentes em regime de ambulatório ................ 10

4.6.Medicamentos sujeitos a controlo especial ........................................................ 12

4.6.1.Medicamentos Psicotrópicos e Estupefacientes.......................................... 12

4.6.2. Medicamentos Hemoderivados .................................................................. 13

4.6.3.Medicamentos Extra-Formulário ................................................................. 14

4.6.4.Citotóxicos .................................................................................................. 15

4.7.Distribuição de gases medicinais ...................................................................... 16

5.Produção e controlo de medicamentos .................................................................... 17

5.1.Preparação de misturas intravenosas ............................................................... 17

5.1.1.Misturas para nutrição parentérica .............................................................. 17

5.1.2.Manipulação de fármacos citotóxicos .......................................................... 17

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5.2.Preparações de formas farmacêuticas não estéreis .......................................... 19

5.3.Reembalagem ................................................................................................... 20

6.Informação sobre medicamentos e outras atividades de Farmácia Clínica .............. 20

6.1.Consulta de plataformas informativas ................................................................ 20

6.2.Resposta a pedidos de informação sobre medicamentos, aplicados a situações

clínicas .................................................................................................................... 21

6.3.Farmacovigilância ............................................................................................. 21

6.4.Participação do farmacêutico em ensaios clínicos ............................................. 22

6.5.Nutrição artificial ................................................................................................ 22

6.6.Farmácia Clínica ............................................................................................... 23

6.7.Sistema de gestão integrado da qualidade, ambiente e segurança ................... 24

6.8.Comissões Técnicas ......................................................................................... 24

Referências ................................................................................................................ 26

Anexos ....................................................................................................................... 27

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1

1.Hospital de Braga

O novo Hospital de Braga (HB) situa-se na freguesia de S. Vítor e veio substituir o

antigo hospital de S. Marcos com cerca de 500 anos [1]. Este novo hospital começou a

funcionar em maio de 2011 e tem capacidade para prestar cuidados de saúde a cerca

de 1,2 milhões de utentes dos distritos de Braga e Viana do Castelo [1]. Atualmente, o

hospital é gerido sob a forma contrato de gestão assinado pela Associação Regional

de Saúde do Norte e o grupo José de Mello. No piso -1 do hospital estão localizados

os Serviços Farmacêuticos (SF).

1.2.Serviços Farmacêuticos do Hospital de Braga

Os SF do Hospital de Braga têm como primordial objetivo assegurar cuidados de

excelência aos doentes internados e externos, através de um exímio controlo do

circuito do medicamento [2]. Dos Serviços farmacêuticos fazem parte farmacêuticos

hospitalares, técnicos de diagnóstico e terapêutica (TDT), auxiliares operacionais (AO)

e administrativos que garantem a máxima eficiência deste circuito. Os serviços

farmacêuticos atentam ainda a outras funções ao nível da investigação com a

intervenção ao nível de ensaios clínicos e na avaliação e autorização do uso de

fármacos, integrando a Comissão de Farmácia e Terapêutica [2].

1.2.1.Localização e horário

Os serviços farmacêuticos estão localizados no piso -1 do Hospital de Braga. Neste

serviço existem ainda diversas zonas que correspondem a funções específicas: zona

de receção de encomendas, armazém dos soros, armazém dos inflamáveis, sala da

quarentena, sala de preparações estéreis, armazém de citotóxicos, sala de sujos, sala

de limpos, sala de preparações galénicas, gabinetes dos farmacêuticos, gabinete da

diretora dos Serviços Farmacêuticos, biblioteca, zona de preparação de Dose Unitária

(FDS e Kardex), armazém geral, armazém de produtos termolábeis, armazém de

produtos de grande volume, armazém de gases medicinais, armazém de medicação

de anestesia, colírios e material de penso, armazém de nutrição, armazém de

medicamentos em Ensaios Clínicos e sala com cofres de estupefacientes e

psicotrópicos e hemoderivados. Faz ainda parte dos Serviços farmacêuticos a

Farmácia de Ambulatório localizada no piso 0. Esta dispõe de um gabinete para

atendimento ao doente e de um armazém específico com medicamentos para

dispensa em ambulatório. A Farmácia de Ambulatório está aberta das 9h até às 17h,

não encerrando à hora do almoço, para permitir que os doentes levantem a medicação

no seu horário de almoço laboral. Existe ainda um espaço farmacêutico no piso 1,

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2

onde ocorre a dispensa de medicação de ambulatório para o hospital de dia e hospital

de dia oncológico.

Os SF abrem às 8h e fecham às 17h. De modo a cobrir mais horas de funcionamento

do HB uma farmacêutica tem um horário distinto: das 12h às 20h. Aos sábados, os SF

estão abertos das 9h às 18h. Durante todas as noites da semana e o fim de semana

está também uma farmacêutica de prevenção caso seja necessária a dispensa de

algum medicamento não disponível nos serviços clínicos (SC) neste período de tempo.

1.2.2.Recursos humanos

A equipa dos Serviços Farmacêuticos é composta por farmacêuticos, técnicos de

diagnóstico e terapêutica (TDT), auxiliares operacionais (AO) e funcionários

administrativos.

2.Farmácia Hospitalar

A farmácia hospitalar assegura a terapia medicamentosa aos doentes do hospital,

quer no internamento, quer em ambulatório. Depois de ser efetuada a prescrição

médica e antes de o medicamento ser distribuído pelos vários serviços clínicos ou em

ambulatório é necessária uma validação por parte do farmacêutico hospitalar. Nesta

validação é garantida a eficácia e segurança do medicamento no quadro terapêutico

do doente. Acrescem ainda como funções do farmacêutico hospitalar a gestão do

medicamento: seleção de acordo com o Formulário Hospitalar Nacional de

Medicamentos (FHNM), indicação para o armazenamento apropriado e distribuição

pelos diversos serviços clínicos do hospital. É ainda da responsabilidade do

farmacêutico hospitalar a produção de medicamentos estéreis e não estéreis, sempre

que o quadro farmacoterapêutico do doente exigir. Em articulação com as diversas

áreas clínicas do hospital o farmacêutico está apto para a validação das prescrições

médicas e resolução de qualquer aspeto relacionado com o uso do medicamento.

2.1.Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos

O FHNM é elaborado pela Comissão do Formulário e disponibilizado através da

Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. (INFARMED). Este

funciona de suporte à prescrição médica, garantindo a utilização de medicamentos de

qualidade na rede de hospitais do Serviço Nacional de Saúde. No FHNM constam as

escolhas consideradas como terapêutica adequada às situações hospitalares [3]. A

utilização deste formulário tem caracter obrigatório para todos os hospitais que fazem

parte do Serviço Nacional de Saúde, podendo no entanto existir adendas ao mesmo.

Assim o HB tem o seu próprio formulário, que tem por base o FHNM, mas inclui

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3

adendas feitas ao mesmo, aprovadas pela Comissão de Farmácia e Terapêutica

(CFT), tendo por base critérios fármaco-económicos. O FHNM está dividido por grupos

farmacoterapêuticos, onde no início de cada capítulo está presente uma introdução

que refere as características dos medicamentos escolhidos [3]. Por diversas ocasiões

tive oportunidade de consultar o FHNM publicado no site do INFARMED

compreendendo a sua funcionalidade.

2.2.Sistema informático

O sistema informático é também um membro essencial dos SF do HB. Existem dois

tipos de programas que permitem fazer a gestão farmacêutica hospitalar: o Glintt® e o

B-Simple®. Estes programas de gestão de saúde permitem ao médico a realização da

prescrição, ao farmacêutico a validação da mesma, e permitem ainda o

encaminhamento para os aparelhos de dispensa (Kardex® e FDS®). Através do

Glintt® é possível ter acesso a todas as prescrições dos doentes internados e todos

aqueles que estão ainda a ser seguidos na Farmácia de Ambulatório. O Glintt®

apresenta ainda um menu específico para a parte dos citotóxicos, indicando mapas de

produção e protocolos de quimioterapia. O menu de ambulatório tem um aspeto

também diferente e permite a gestão eficiente deste grupo de doentes. O B-Simple® é

o programa utilizado na UCIP por ser o programa reconhecido pela máquina de

dispensa automática Pyxis®. Durante o estágio tive oportunidade de acompanhar a

validação nas diferentes áreas em Glintt®: Internamento, Ambulatório e Citoestáticos.

No HB está neste momento a decorrer um projeto de atualização de um dos sistemas

informáticos utilizados – Gllint®. Está a ser realizada em ficheiro Excel uma tabela com

todos os medicamentos usados no HB onde é referido a Denominação Comum

Internacional (DCI), classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical -

classificação de fármacos da organização mundial de saúde), disponibilidade para

administração via sonda nasogástrica, necessidade de pedido Extra Formulário (EF)

entre outros parâmetros de modo a ser realizada uma atualização da ficha do produto

neste programa.

3.Gestão de medicamentos - Seleção, aquisição e armazenamento de produtos

farmacêuticos

A gestão de medicamentos garante a dispensa dos medicamentos com critérios de

qualidade aos doentes do hospital e é da responsabilidade dos SF [4].

3.1.Gestão de existências

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4

A gestão de existências no Hospital de Braga realiza-se informaticamente com

atualização automática dos stocks dos vários SC e dos armazéns dos SF.

Semestralmente, no HB é também realizado um inventário onde se procede à

contagem dos armazéns dos SF e das Farmácias Satélite dos SC. É feita

posteriormente a comparação com o stock informático e corrigidos os possíveis erros.

De forma mais frequente são feitas contagens de stock aos armazéns da farmácia e

confrontados com os valores computorizados, procedendo-se de imediato à correção

dos erros de stock, de forma a assegurar a qualidade dos serviços prestados. Em

todas as verificações de stock são também confirmadas as datas de validade, de

modo a evitar a entrada de medicamentos fora de validade no circuito do

medicamento.

Os armazéns dos SF correspondentes aos estupefacientes e psicotrópicos,

hemoderivados, citotóxicos e ambulatório são geridos com base no método Kanban®,

que dá indicação de um stock máximo para o local onde está armazenado o produto, e

ponto de encomenda que corresponde ao ponto de Kanban®. Os restantes produtos

são geridos tendo por base o método de deteção de necessidade, cujo objetivo passa

pela determinação do momento adequado para a realização da encomenda, e ainda

pela determinação da quantidade ótima de produto a encomendar, tendo em conta as

necessidades clínicas deste.

Existe uma exceção a este tipo de gestão de existências que diz respeito ao stock de

psicotrópicos e estupefacientes. A contagem de stock destes medicamentos é feita

diariamente, fruto da legislação especial que os regula.

A gestão de existências nos diversos SC varia consoante o tipo de armazém que este

apresenta. No bloco operatório (BO) e no serviço de urgência (SU) em dias definidos é

feita a contagem do stock dos seus armazéns e realizada a reposição dos produtos

farmacêuticos em falta. Nos SC com armazém avançados a reposição do stock em

falta o é realizada em dias específicos tendo em conta os consumos feitos ao doente,

informaticamente. Na unidade de cuidados intensivos polivalente (UCIP) a gestão de

existências é feita diariamente, através da consulta na consola presente nos SF da

Pyxis®, e reposição dos produtos em falta.

3.2.Sistemas e critérios de aquisição

A aquisição de produtos farmacêuticos é da responsabilidade do farmacêutico

hospitalar [4] e é realizada em articulação e com a central de negociações do HB. A

seleção de medicamentos para o Hospital de Braga tem por base o FHNM e qualquer

necessidade terapêutica de um doente, sendo possível a realização de adendas ao

formulário, desde que devidamente justificadas e aprovadas pela CFT. Assim é do

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interesse do hospital a aquisição dos melhores fármacos, produtos farmacêuticos e

dispositivos médicos ao mais baixo custo, permitindo uma política de gestão

sustentável e de garantia de qualidade para o doente.

O farmacêutico responsável pelas encomendas envia diariamente ao administrativo as

necessidades de compra tendo em conta os métodos de gestão implementados para

cada produto farmacêutico, medicamento ou dispositivo médico. Existem, no entanto,

exceções. O farmacêutico da área de Farmácia de Ambulatório, Gases Medicinais,

Estupefacientes e Psicotrópicos, Hemoderivados e Citoestáticos fazem diretamente o

pedido ao administrativo, sempre que é atingido o ponto de encomenda.

É então elaborada uma nota de encomenda pelo administrativo em System

Administrations Products (SAP), que atribui ao produto o fornecedor acordado assim

como o preço. As encomendas, consoante o valor de custo, são ainda aprovadas por

diferentes responsáveis na gestão de existências. Depois de validadas seguem por

email para os fornecedores.

3.2.1.Aquisição de medicamentos sujeitos a autorização de utilização especial

Quando um clínico faz um pedido de um fármaco sem Autorização de Introdução no

Mercado (AIM) português e sem existência de um medicamento semelhante é

necessário proceder ao pedido de Autorização de Utilização Especial (AUE) que tem

que ser emitido pelo INFARMED. Assim, os SF só podem adquirir o medicamento

após receção da AUE e devem conservar todos os registos associados. Todos os

fármacos requisitados através de AUE são tratados com carácter de urgência.

3.2.2.Aquisição de estupefacientes e psicotrópicos

A aquisição deste tipo de medicamentos (presentes nas tabelas I, II, III e IV com

exceção da II-A do Decreto de lei 15/83, retificado a 20 de fevereiro) em farmácia

hospitalar deve ser efetuada enviando a nota de encomenda e do anexo VII (anexo 1).

O anexo VII, modelo 1506 da Imprensa Nacional da Casa da Moeda) deve estar

devidamente preenchido, assinado pelo farmacêutico responsável e carimbado pelos

SF [5]. A nota de encomenda e o anexo seguem depois para os fornecedores por

correio. O original do anexo é devolvido aos SF, o duplicado fica na posse do

fornecedor.

3.2.3.Aquisição de hemoderivados

A gestão deste grupo de medicamentos é feita através do método Kanban®. Assim

quando é atingido o ponto de encomenda a farmacêutica responsável envia por

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correio eletrónico o pedido de encomenda à administrativa, que dá seguimento ao

envio da nota de encomenda ao laboratório. Este tipo de medicamentos faz-se

acompanhar sempre de um certificado de autorização de lote emitido pelo INFARMED,

que atesta a conformidade do produto – anexo 2.

3.3.Receção e conferência de produtos adquiridos

As encomendas de medicamentos e produtos farmacêuticos quando chegam ao HB

fazem-se acompanhar de guia de remessa ou fatura. A receção e conferência dos

produtos adquiridos é da responsabilidade do AO. O AO faz a verificação quantitativa

e qualitativa da encomenda, dando prioridade aos produtos termolábeis,

hemoderivados e citoestáticos. Este, regista ainda a data de validade e lote dos

produtos recebidos. Depois de devidamente conferida a encomenda, os

medicamentos são colocados em carros para que um outro AO proceda ao seu

armazenamento nos locais apropriados. Nesta fase é também feito o registo de

entrada dos produtos em stock informático.

Os hemoderivados fazem-se acompanhar de um certificado de Autorização de

Utilização de Lotes, o AO tira fotocópia ao mesmo e entrega à farmacêutica

responsável (que confere e arquiva) para que o lote fique imediatamente disponível

para dispensa para os SC.

3.4.Armazenamento dos produtos

Conforme referido acima na descrição dos diversos espaços que constituem os SF do

HB, existem as seguintes áreas para armazenamento:

Armazém de grandes volumes, onde são mantidos antisséticos, desinfetantes,

produtos para contraste radiológico e injetáveis de grande volume.

Armazém de citotóxicos, localizado perto da sala de preparações estéreis.

Armazém de produtos inflamáveis;

Armazém de gases medicinais;

Armazém de produtos termolábeis;

Armazém de medicação de anestesia, colírios e material de penso;

Armazém de nutrição;

Sala de cofres dos estupefacientes, psicotrópicos e Hemoderivados (sala com

abertura através de cartão magnético, com acesso restrito a farmacêuticos);

Armazém geral organizado por ordem alfabética de DCI;

Armazém dos medicamentos em Ensaios clínicos;

Armazém de Farmácia de Ambulatório.

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4.Sistema de distribuição de medicamentos

A distribuição de medicamentos apresenta como principais objetivos o cumprimento da

prescrição médica, a administração correta dos medicamentos e a diminuição de erros

associados aos medicamentos, como por exemplo erros na dosagem ou na forma

farmacêutica [4]. A distribuição de medicamentos no HB acontece principalmente nos

serviços clínicos, aos doentes internados, mas acontece ainda na Farmácia de

Ambulatório e no Hospital de Dia. É então da responsabilidade do farmacêutico

garantir a correta distribuição do medicamento através do hospital.

4.1.Distribuição clássica

A distribuição clássica corresponde à distribuição da medicação por todos os serviços

clínicos do hospital. A cada serviço clínico foi atribuído um dia da semana para realizar

um pedido. Assim, no dia do pedido, o enfermeiro procede à contagem do seu stock,

nos serviços sem armazém avançado, sem reposição por Kanban, ou sem contagem

por AO da farmácia e, informaticamente, elabora um pedido de reposição de stock. O

stock inicial foi previamente acordado entre o farmacêutico responsável pelo serviço,

diretor do serviço e o enfermeiro chefe do serviço, de modo a suprir as necessidades

do serviço clínico. Este pedido é analisado pelo farmacêutico de modo a garantir a

conformidade do mesmo. De seguida é colocado o número do pedido no quadro da

distribuição clássica afixado nos serviços farmacêuticos. O pedido é então preparado

pelos TDT e AO e entregue nos serviços clínicos no dia seguinte. O stock do SC de

unidade cuidados intensivos neonatais é gerido através do método Kanban.

4.1.1.Armazéns avançados

Os armazéns avançados pertencem ao sistema de distribuição clássica apresentando

apenas diferenças ao nível do sistema de reposição dos stocks. Nos serviços clínicos

com este tipo de stock a reposição é feita tendo em conta os consumos destes. Assim,

aquando a conceção dos armazéns avançados o stock é acordado com o enfermeiro

chefe de cada serviço clínico e criado informaticamente um armazém com os stocks

acordados. Assim, cada vez que é administrado um medicamento é feito um registo de

administração, pelo enfermeiro ao doente, informaticamente, que efetua o registo de

consumo ao doente. Em dias específicos é feita a reposição destes armazéns pelos

serviços farmacêuticos, tendo em conta os gastos apresentados pelos serviços.

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4.1.1.1.Pyxis®Medstation

Existe ainda um outro serviço clínico com um armazém avançado que faz uso de uma

máquina de dispensa de medicamentos: a unidade de cuidados intensivos polivalente

apresenta um armazém avançado designado de Pyxis® MedStation, um sistema

automático de dispensa de medicamentos. Este armazém está computadorizado,

como os restantes armazéns avançados, difere apenas no facto de a dispensa ser

também computorizada. A enfermeira tem então que selecionar uma prescrição válida

de um doente específico internado no serviço e selecionar o medicamento que

pretende administrar. De imediato é aberta a gaveta ou a porta onde está armazenado

este medicamento, sendo também indicado o local exato, o número do espaço onde

este se encontra, de modo a evitar erros de retirada do medicamento. Os stocks da

Pyxis® estão definidos com um máximo e mínimo, sendo a reposição deste armazém

avançado especial realizada diariamente. Existe nos SF uma consola de controlo da

Pyxis® (anexo 3). É através desta consola que são indicados os produtos a repor no

armário do serviço, pelo TDT. A Pyxis® representa assim o futuro em relação ao

sistema de armazéns avançados, com a dispensa individualizada evitando erros a este

nível; um sistema claro de reposição.

4.2.Reposição de stocks nívelados

O bloco operatório e o serviço de urgência funcionam de forma diferente em relação à

reposição do seu stock, pela sua diversidade e especificidade. Assim, de forma a

averiguar as quantidades dos diferentes medicamentos aqui presentes em dias

acordados com o serviço, um AO dos SF desloca-se aos respetivos SC e procede à

contagem de diferentes zonas destes stocks. A periodicidade da contagem foi

previamente acordada e nestes dias são contadas diferentes áreas destes SC. Os

stocks iniciais foram previamente definidos pelo enfermeiro chefe e pelos SF, e a

qualquer momento podem ser reformulados, de acordo com a necessidade deste SC.

Depois de feita a contagem, o farmacêutico responsável pelo serviço procede à

inserção informática do pedido com as devidas necessidades. Este pedido é

posteriormente preparado pelo AO e pelo TDT e reposto no BO ou no serviço de

urgência.

4.3.Distribuição Personalizada

Existem casos particulares de distribuição de medicamentos no HB.

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Perante vários casos, é necessário o preenchimento de EF e identificação do doente,

de modo a que o stock desse produto, como por exemplo, metoprolol endovenoso,

cronocol, palacos, possa ser reposto no SC.

No caso dos sugamadex e triamcinolonas, o médico deve preencher um impresso de

justificação de uso clínico próprio de cada medicamento, onde indica o doente, SC, e

justificação para uso, de maneira a que o stock seja reposto.

Existe ainda no HB um tipo de distribuição personalizada ao nível do Bloco

Ambulatório. Este tipo de distribuição está prevista e regulamentada no Decreto-Lei n.º

13/2009, de 12 de Janeiro, que prevê a dispensa de medicamentos analgésicos, anti-

inflamatórios e antieméticos, por motivos clínicos depois de cirurgias de ambulatório.

Foi, deste modo, criado no SC um stock de kits constituídos por Paracetamol,

Ibuprofeno, Tramadol e Ondansetron. Neste serviço são prescritos e fornecidos aos

doentes kit’s de medicação. Existem seis diferentes tipos de kit’s. O kit A contém

comprimidos de paracetamol de 500 mg e pode ser para dois (12 comprimidos) ou três

dias (18 comprimidos). O kit B é composto por comprimidos de 400 mg de ibuprofeno,

existe o kit de dois dias (6 comprimidos) e o kit de 3 dias (9 comprimidos). Existe ainda

o kit C, de dois (6 comprimidos de tramadol) e de três dias (9 comprimidos de

tramadol) e em ambos os casos um comprimido de ondasetrom de 8 mg. Depois de

fornecidos aos doentes, as prescrições hospitalares seguem para os SF de maneira a

ser feita a reposição do stock do SC.

4.4.Sistema de distribuição individual diária em dose unitária

A distribuição de medicamentos em dose unitária permite aumentar a segurança do

circuito do medicamento. Este sistema de distribuição permite ao farmacêutico um

maior contacto com o perfil farmacoterapêutico do doente, promovendo a segurança e

efetividade do mesmo. A distribuição individual diária em dose unitária (DIDDU)

permite também uma melhor racionalização dos medicamentos no HB.

Cada farmacêutico é responsável por alguns SC, tendo a responsabilidade de validar

as prescrições médicas de todos os doentes aí internados. A validação da prescrição é

o processo através do qual o farmacêutico analisa o conjunto de medicamentos

indicados pelo médico para determinado objetivo terapêutico. É ainda necessário

confirmar a via de administração (incluindo confirmação se o doente tem sonda

nasogástrica), forma farmacêutica, dose, frequência de administração, horário e

quantidade a ser dispensada (no caso de ser dispensado um fármaco multidose é

necessário também proceder à calendarização, tendo em conta a dose diária que o

doente faz). É também necessária a confirmação da presença deste fármaco no

formulário do HB, de outra forma o medicamento não é fornecido até chegada do

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pedido EF devidamente preenchido e aprovado pela CFT. Durante o processo de

validação deve ainda ser confirmado se o fármaco vai ser usado de acordo com o

Resumo das Características do Medicamento (não o sendo, o médico deve preencher

um EF que será submetido à Comissão de Ética, para além do EF o doente tem se

assinar um consentimento informado). É importante ainda atentar às possíveis alergias

do doente ou interações entre os diversos medicamentos. A validação é necessária

sempre que o clínico proceda a alterações na mesma.

Assim, as prescrições dos doentes internados nos diversos serviços clínicos são

validadas pelo farmacêutico responsável e de seguida são emitidos mapas de unidose

que seguem de forma digital, para a zona de preparação DIDDU. Desta zona fazem

parte duas máquinas de dispensa semiautomática: FDS® e KARDEX® (anexo 4). Na

FDS® são colocados as formas farmacêuticas orais sólidas nas diversas gavetas

(anexo 5), sendo cada comprimido ou cápsula posteriormente reembalado por doente

e por SC. No KARDEX® estão armazenadas os restantes medicamentos. A este

equipamento está também associado um computador que vai dando indicação acerca

do medicamento a dispensar para cada doente. Os TDT asseguram assim a

colocação dos medicamentos validados pelos farmacêuticos em gavetas (anexo 6) (as

gavetas têm a indicação do nome do doente, número do processo, serviço e cama)

com o apoio dos AO. Os TDT asseguram ainda manutenção e enchimento destes

equipamentos. Nas gavetas são ainda coladas etiquetas caso existam medicamentos

que, devido às condições de armazenamento não possam ser nelas colocados, mas

que pertençam ao mesmo doente.

A DIDDU garante a medicação para 24h, excetuando aos sábados e feriados, onde os

mapas unidose emitidos para 48h.

As gavetas são depois entregues nos SC, por um AO, de acordo com o horário pré

estabelecido. No momento de entrega são ainda recolhidas as gavetas anteriores.

Posteriormente, nos SF, é ainda feita a devolução de medicamentos que por algum

motivo não foram administrados aos doentes. Periodicamente é escolhida uma gaveta

de um serviço aleatório a fim de fazer a conferência do procedimento desde a

validação até à colocação dos medicamentos na gaveta de forma correta. Esta

verificação compreende a correta identificação do doente, conferência de todos os

medicamentos em DIDDU, conferência da forma farmacêutica, confirmação da via de

administração e posologia.

4.5.Distribuição de medicamentos a doentes em regime de ambulatório

A distribuição de medicamentos em regime ambulatório surgiu da necessidade de

aumentar o controlo e vigilância em certas terapêuticas como para vírus da

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imunodeficiência humana (VIH), psoríase, artrite reumatoide, insuficiência renal, entre

outras patologias. Neste tipo de doenças é necessário o contacto com o doente para

existir uma avaliação farmacoterapêutica de modo a garantir a adesão à terapêutica.

Existem ainda medicamentos para doenças crónicas comparticipáveis a 100%. Estes

medicamentos de uso exclusivo hospitalar são dispensados, desde que prescritos na

Consulta Externa do HB, e depois de previamente autorizados através de EF.

A dispensa em ambulatório apresenta vantagens relacionadas com a redução dos

custos de internamento, e ainda redução de riscos para o doente aquando o

internamento: infeções hospitalares. Uma grande vantagem é ainda a possibilidade de

o doente poder fazer a terapêutica em casa, em ambiente familiar, podendo conduzir a

uma melhoria da condição [4]. No HB a distribuição de medicamentos a doentes em

regime de ambulatório acontece na Farmácia de Ambulatório localizada no piso 0. Na

farmácia de ambulatório são dispensados medicamentos usados para a esclerose

múltipla, hepatite C (a dispensa deste tipo de medicamentos é feita de acordo com o

portal da hepatite C do Ministério da Saúde), medicamentos biológicos, medicamentos

para as consultas de Interrupção Voluntária da Gravidez e planeamento familiar,

psoríase, espondilite, lúpus e medicação relacionada com insuficiência renal.

Para início ou alteração de terapêutica o prescritor preenche o Impresso – Pedido de

autorização de dispensa de medicamentos em regime de ambulatório, pelos Serviços

Farmacêuticos, e o mesmo é direcionado aos órgãos de administração do hospital

para posterior avaliação e emissão do parecer. Em cada inicio de terapêutica é

preenchido um cartão de identificação, que lhe permite fazer os levantamentos futuros.

Neste primeiro contacto com o doente o farmacêutico explica as regras de

funcionamento da Farmácia de Ambulatório do HB, incluindo o horário de

funcionamento. Na primeira cedência o Farmacêutico presta as seguintes informações

ao doente: via e forma de administração dos medicamentos, posologia, condições de

armazenamento, e quantidade de medicamentos cedidos e quais os possíveis efeitos

adversos associados à terapêutica. Em ambulatório a medicação é fornecida para um

período de 30 dias.

Todos os doentes internos e externos necessitam de ter uma prescrição médica

válida, devidamente preenchida (indicação do despacho apropriado sempre que a

patologia o exigir). As receitas têm uma validade de quatro meses após a data de

prescrição, findo este período é necessária nova receita para que o fornecimento dos

medicamentos seja realizado. No momento da dispensa de medicação o doente

assina um termo de responsabilidade, garantindo que a partir daquele momento se

responsabiliza pelo correto armazenamento do fármaco, especial atenção é prestada

aos medicamentos que exigem conservação no frio. Ao longo do meu estágio tive

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oportunidade de acompanhar a dispensa de fármacos em regime de ambulatório,

tendo contacto as especificidades em questão, e com os medicamentos e patologias

dispensadas.

4.6.Medicamentos sujeitos a controlo especial

Os medicamentos sujeitos a controlo especial apresentam, em farmácia hospitalar, um

circuito bem definido, fruto da legislação especial que os regula.

4.6.1.Medicamentos Psicotrópicos e Estupefacientes

Os medicamentos psicotrópicos e estupefacientes caracterizam-se pela sua atuação

ao nível do Sistema Nervoso Central, englobando ansiolíticos, sedativos e hipnóticos.

Os medicamentos estupefacientes têm uma forte ação analgésica e tal como

mencionado anteriormente apresentam uma importante ação ao nível do Sistema

Nervoso Central. A ação exercida a este nível (Sistema Nervoso Central) faz com que

a utilização destes fármacos acarrete riscos relacionados com a dependência física

perante os mesmos. Deste modo, todo o circuito deste tipo de medicamentos, desde a

sua aquisição até à administração, se encontra devidamente legislado no Decreto-Lei

n.º 15/93, de 22 de Janeiro e na Lei n.º 45/96, de 3 de Setembro, que procede a

algumas alterações ao prévio Decreto-Lei.

A distribuição deste tipo de medicamentos ocorre por reposição de stock. Existem

cofres em salas com acesso restrito, nos diversos SC, com um stock previamente

acordado deste tipo de fármacos (stock está adaptado às necessidades do SC e a

qualquer altura pode sofrer alterações. O circuito destes medicamentos inicia-se com

uma prescrição médica. À equipa de enfermagem compete a administração do

medicamento recorrendo ao stock presente nos SC. Após a administração o

enfermeiro procede ao preenchimento do anexo X indicando o nome do doente,

número do processo, quantidade administrada e posteriormente, rubrica e data a

respetiva administração.

Cada impresso é preenchido por DCI do medicamento em questão, devendo estar

também devidamente preenchida a forma farmacêutica e dosagem do fármaco a

administrado. Depois de completo, o anexo X é assinado pelo diretor de serviço, e

encaminhado para os SF. A farmacêutica responsável procede depois à confirmação

do correto preenchimento deste anexo (este modelo não pode apresentar rasuras e

todos os campos devem estar corretamente preenchidos, se tal não acontecer, o

impresso volta para o SC para correto preenchimento), preenche os restantes campos

(quantidade fornecida) e faz a preparação e débito informático dos fármacos, para que

o AO os entregue nos SC, dando-se assim a reposição de stock. O anexo X é

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preenchido em duplicado, ficando o duplicado arquivado no SC e o original arquivado

nos SF, depois de feita a reposição.

4.6.1.1.Circuito de distribuição de Metadona

A distribuição de metadona apresenta um circuito igualmente bem definido, uma vez

que esta é fornecida pela Associação Regional de Saúde – Centro de Respostas

Integradas, que acompanha os doentes inscritos em programas de substituição de

opiáceos, Assim, quando um doente inscrito neste programa dá entrada no HB, os SF

são informados e de imediato é enviado um e-mail ao Centro de Respostas Integradas

da Associação Regional de Saúde, pedindo informação acerca da prescrição médica

de metadona, de forma a ser assegurada a continuidade da terapêutica, durante o

internamento no HB. Depois de obtida resposta por parte do Centro Integrado de

Resposta, a prescrição é enviada ao SC onde o doente está internado, de modo que

esta possa ser prescrita e requisitada através do anexo X. Os SF do HB possuem um

stock de metadona composto por comprimidos de 10 e 40 mg, que após solicitação

pelos SF do HB é reposto regularmente pelo Centro de Respostas Integradas.

4.6.2. Medicamentos Hemoderivados

Os medicamentos hemoderivados resultam do fracionamento do sangue humano e

incluem as albuminas, fatores de coagulação, imunoglobulinas, entre outros. Os

hemoderivados, por se tratarem de medicamentos biológicos de origem humana

possuemr um circuito do medicamento bem caracterizado.

São efetuados os registos obrigatórios, como indica o Despacho Conjunto n.º

1051/2000, de 14 de Setembro, 2.ª série, dos Ministérios da Defesa Nacional e da

Saúde, como por exemplo, registos de requisição clínica, distribuição aos serviços e

administração aos doentes de todos os medicamentos derivados do sangue ou plasma

humano.

É exigido ainda o arquivo de todos os boletins analíticos e certificados de aprovação

emitidos pelo INFARMED (Certificado de autorização de utilização do lote (CAUL)) de

todas as aquisições, estes são necessários para a dispensa deste tipo de

medicamento pelos SF. Estes medicamentos, pela sua origem, variabilidade biológica,

e risco de transmissão de doenças infeciosas, deverão apresentar este certificado, que

acompanha cada lote de hemoderivados, assegurando a qualidade, eficácia e

segurança no uso clínico.

A dispensa de hemoderivados acontece mediante o preenchimento de um impresso:

modelo nº1804 da Imprensa Nacional Casa da Moeda (anexo 8). Este impresso é

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constituído por duas vias: uma Via Farmácia, que fica arquivada nos SF e uma outra

via: Via Serviço, que fica arquivada no processo clínico do doente. A este impresso é

dado um número de série que permite após o arquivo, a rastreabilidade do mesmo. O

quadro A (onde é feita a identificação do nome do médico prescritor e do doente) e B

(neste campo, preenchido pelo médico, é feita a identificação do medicamento

hemoderivado a administrar, indicando nome, forma farmacêutica, via de

administração, posologia e ainda justificação clínica para o uso do hemoderivado) do

impresso via farmácia deverão ser preenchidos no SC, sendo o quadro C (indicação

do hemoderivado e dose, quantidade dispensada, lote, laboratório fornecedor e ainda

o numero de registo do CAUL) é preenchido nos SF. O impresso correspondente ao

serviço é preenchido pelo SC requisitante, ficando armazenado no processo clínico do

paciente.

Os hemoderivados, depois de prescritos pelo clínico através do preenchimento do

modelo 1804 - via farmácia, quadro A e B, deverá chegar aos SF, onde será validado,

tendo em conta a dose e justificação clínica. Depois de validada a requisição, a

medicação é preparada para a dispensa. Os medicamentos hemoderivados

correspondentes a cada requisição são dispensados, pelos SF, com rotulagem

identificando as condições de conservação do produto medicamentoso e identificação

do doente e SC a que se destina. No impresso via farmácia é ainda registado o

número do consumo ao doente, em Glint®. Existem exceções a este tipo de

distribuição: o Hospital de dia médico, oncológico e pediátrico agendam previamente a

administração destes fármacos, pelo que a dispensa acontece com antecedência.

Todas as semanas a farmacêutica responsável recebe as prescrições dos tratamentos

a efetuar na semana seguinte, fornecendo os hemoderivados no término da semana

anterior.

Todos os inícios de tratamento com este tipo de medicamento, com administração em

Hospital de Dia, necessitam de aprovação por parte da CFT e da Comissão Executiva.

Existe ainda uma outra exceção à distribuição deste tipo de fármacos no SC de

Imunohemoterapia, sendo a dispensa de hemoderivados apenas para reposição de

stocks.

4.6.3.Medicamentos Extra-Formulário

No HB todos os medicamentos que não constem no seu formulário hospitalar são

considerados EF e carecem de aprovação por parte da CFT. Necessita ainda de EF

aprovado todos os inícios de terapêutica em regime ambulatório (anexo 9), assim

como aumentos de dose e também todos os novos tratamentos em regime de hospital

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de dia. Todos os medicamentos que os médicos pretendam prescrever aos doentes

internados, por considerarem benéfico para o seu quadro terapêutico, e que não

constem do formulário hospitalar do HB, carecem então de um EF (anexo 10)

devidamente preenchido e aprovação do mesmo por parte da CFT.

4.6.4.Citotóxicos

Os produtos citotóxicos caracterizam-se pela habilidade de interrupção do ciclo celular,

sendo por isso usados em patologias malignas que envolvem a proliferação

descontrolada de células indiferenciadas. Assim, o circuito deste tipo de fármacos

deve ser executado com a maior segurança possível, quer do operador (farmacêutico

que realiza a sua preparação, AO, que efetua o transporte desde os SF até ao

Hospital de Dia Oncológico, Enfermeiro, que administra e ainda, o doente, para o qual

a esterilidade da preparação deve ser garantida). Assim, a dispensa destes fármacos

ocorre perante uma prescrição médica de um protocolo de quimioterapia/radioterapia,

quer sejam fármacos de administração intravenosa, subcutânea, intratecal ou orais,

sendo todos validados pelo farmacêutico que se encontra no Hospital de dia. Este

recebe das enfermeiras estes processos e faz a sua validação (confirmação da

identificação do doente, correta prescrição do protocolo, coerência entre o protocolo

prescrito em papel e informático, superfície corporal, doses, ciclos, tipo de diluição,

parâmetros bioquímicos). Se se tratar de um início de tratamento o médico deve

preencher um EF para que este seja aprovado em CFT Quando o tratamento é oral, o

mesmo é cedido pelo ambulatório do Hospital de Dia. É de referir que sempre que é

um início de um tratamento é realizada uma explicação sumária da posologia indicada

pelo médico, efeitos secundários, e esclarecimento de qualquer questão do doente.

Os protocolos de quimioterapia e radioterapia existentes no HB são elaborados pelos

médicos. Existem protocolos estabelecidos para as diferentes patologias malignas, e

escolha entre os diversos está relacionada com características da doença. Esta

escolha fica a cargo do médico, estando o farmacêutico destacado no Hospital de Dia

disponível para esclarecimento de dúvidas relativamente aos fármacos.

Apos a confirmação do tratamento e respetiva validação, é feito o preenchimento de

um ficheiro Excel que está disponível também no computador da sala de preparações

estéreis, dando a indicação do nome do doente, e respetivo protocolo a preparar.

O farmacêutico que fica na sala de apoio aos citotóxicos fica alerta para os protocolos

que possam surgir neste ficheiro, e vai dando indicação para a sua preparação no

interior da câmara. Normalmente os agendamentos das sessões são realizados no dia

anterior, ou durante a manhã (para sessão à tarde). No entanto, estes agendamentos

estão em constante alteração. Este farmacêutico fica encarregue de fazer também

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uma validação rápida, de modo a evitar erros. Depois da dupla verificação, o

farmacêutico da sala de apoio procede à emissão dos mapas de produção (anexo 11)

e à preparação dos tabuleiros (anexo 12), e coloca no transfere, que serve de contacto

com o interior da sala onde está localizada a câmara de fluxo laminar, dando indicação

ao farmacêutico que está a realizar as preparações estéreis do tratamento a preparar.

Depois de estarem preparados, os citotóxicos são colocados na porta de ligação para

voltarem para a sala de apoio. Aqui, são garantidas as condições de segurança e

armazenamento para o transporte dos fármacos até ao Hospital de Dia (anexo 13). Os

fármacos são de seguida colocados em sacos apropriados (anexo 14) para que seja

realizado o transporte, por um AO. No SC, o farmacêutico em conjunto com uma

enfermeira confirma novamente se os medicamentos estão corretos e se

correspondem ao doente correto. O contacto com esse tipo de fármaco implica a

proteção com uma bata e luvas.

Durante o período de estágio tive oportunidade de acompanhar a farmacêutica

colocada no Hospital de Dia compreendendo todo o ciclo de distribuição que está

associado a este tipo de fármacos.

4.7.Distribuição de gases medicinais

É considerado como gás medicinal toda a substância com propriedades curativas ou

preventiva de doenças em seres humanos, ou que possa ser utilizado com objetivo de

estabelecimento de diagnóstico [8].Os gases medicinais destinam-se assim a entrar

em contacto com o organismo humano e a desenvolver uma atividade apropriada a

um medicamento [9]. Os gases medicinais são usados em terapias de inalação,

anestesia, diagnóstico in vivo ou para conservar e transportar órgãos destinados a

transplantes [9]. O HB possui um sistema de distribuição de ar medicinal, dióxido de

carbono, oxigénio, protóxido de azoto, entre outros. Estes estão disponíveis para

administração nos SC através de máscara ou ventiladores. De forma a evitar situações

de inexistência de gases medicinais existem três fontes dos recipientes criogénicos e

das rampas: uma fonte principal, uma fonte de reserva e uma fonte de emergência.

As encomendas de gases medicinais são da responsabilidade dos SF. Assim, em

relação aos cilindros, o AO faz a contagem dos mesmos nos dias estabelecidos, e, se

existir necessidade a farmacêutica dá indicação ao AT da quantidade de cilindros a

encomendar. Em relação das garrafas das rampas, é efetuada uma encomenda

sempre que o serviço de electromedicina efetua a troca de garrafas vazias por

garrafas cheias. Diariamente o AO faz o registo dos níveis dos recipientes criogénicos,

a farmacêutica analisa-os de seguida, e se necessário dá indicação à AT, para efetuar

uma encomenda.

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A receção de gases medicinais ocorre na central hospitalar de gases, ocorrendo

também a conferência do produto recebido por um AO.

O armazenamento de gases medicinais varia consoante o tipo de gás, capacidade do

cilindro, entre outros fatores. O armazenamento destes produtos obedecem a critérios

específicos como o armazenamento de garrafas na vertical, assim como a

obrigatoriedade de os reservatórios criogénicos se localizarem ao ar livre. Nos SC, os

gases medicinais estão também localizados em salas de acesso restrito.

A distribuição dos gases medicinais (ar comprimido, dióxido de carbono, oxigénio e

protóxido de azoto) pelos diversos SC dá-se através de canalizações de cobre. O

débito da quantidade usada é calculada tendo em conta os gastos estipulados para

cada serviço.

5.Produção e controlo de medicamentos

A produção de medicamentos no HB corresponde a um sistema de qualidade que

garante a segurança e eficácia destes. A produção de medicamentos, no HB, ocorre

ao nível dos citotóxicos e das preparações galénicas. No HB não são preparados

sacos para nutrição parentérica pediátrica (fica a cargo do Hospital CUF Descobertas,

em Lisboa), são, no entanto, validadas as prescrições médicas dos mesmos, como irei

falar mais à frente.

5.1.Preparação de misturas intravenosas

5.1.1.Misturas para nutrição parentérica

O HB adquire este tipo de nutrição, pelo que não ocorre preparação a este nível.

Em relação às prescrições da neonatologia (anexo 15), a farmacêutica responsável

confirma os cálculos, de forma a existir uma validação, antes de seguirem para a CUF

Descobertas onde estas são preparadas. É necessário fazer a confirmação de que

todos os componentes correspondem à dose pretendida pelo médico, de maneira a

que não ocorram erros de dosagem de nenhum nutriente. Existe um ficheiro Excel já

capacitado para esta função. Apesar de tudo é necessária a compreensão destes

cálculos. Esta conversão foi-me explicada e de seguida procedi a uma validação de

neonatologia.

5.1.2.Manipulação de fármacos citotóxicos

A manipulação deste tipo de fármacos obedece a normas muito específicas e

criteriosas de maneira a assegurar a esterilidade da preparação e a segurança do

farmacêutico aquando da sua manipulação. Assim, toda a produção deste tipo de

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fármacos é realizada em câmara de fluxo laminar vertical (anexo 16), em salas com

pressão negativa.

Depois de validados os processos pelo farmacêutico do Hospital de Dia, é atribuído à

preparação um lote interno. Esta informação chega ao farmacêutico que se encontra

na sala de apoio nos SF, que procede à emissão dos mapas de produção. Os mapas

de produção dão indicação acerca do doente (nome e número de processo), superfície

corporal, fármaco, dose, solução de diluição, volume final, validade, estabilidade,

condições de conservação. São também impressos, em duplicado, rótulos com estas

indicações para serem colocadas na embalagem primária, e no revestimento que faz a

proteção da luz (caso seja necessário).

É de referir que a preparação de citotóxicos é necessária uma vez que as doses de

fármaco a administrar são ajustadas consoante a superfície corporal do doente ou

peso, bem como outras informações clínicas. Podem ser preparados fármacos em

sacos de perfusão (é colocado o fármaco no interior do saco de soro, se necessário

pode ser retirado determinado volume de soro, a fim de corrigir a concentração) ou

então podem ser preparadas bombas de infusão, que podem ser transportáveis, não

tendo os doentes que ficar para administração em Hospital de Dia; bem como bólus

para intravenoso, subcutâneo ou intratecal.

A área para a preparação de fármacos citotóxicos está subdividida em quatro

localizações: um espaço inicial que permite a preparação dos operadores, com

colocação de proteção de pés e luvas (o operador para entrar na sala seguinte de

apoio deve já estar equipado com roupa apropriada); uma sala de apoio com os

fármacos mais comummente utilizados, assim como soros, águas, seringas e restante

material necessário para a preparação citotóxica. Nesta sala está presente um

farmacêutico que presta apoio à produção que decorre no interior da câmara. É este

farmacêutico que emite também os mapas de produção, e vai dando conta de

alterações que possam surgir ao nível de marcações no Hospital de Dia. O espaço

seguinte é a sala que antecede a câmara de fluxo laminar, nesta, os operadores

equipam-se com touca, mascara, bata e luas de nitrilo. Segue-se por fim a sala com a

câmara de fluxo laminar.

Todos os procedimentos realizados na manipulação deste tipo de preparações

carecem de dupla verificação: a validação da prescrição, a confirmação dos dados dos

mapas de produção e dos rótulos, a manipulação e o produto final.

Assim, o processo de produção deste tipo de preparações estéreis têm início com a

preparação dos tabuleiros, tendo em conta o mapa emitido. Estão afixadas na sala de

apoio os líquidos de reconstituição tendo em conta dos diferentes fármacos, e os

utensílios de transferência. Os tabuleiros são de seguida vaporizados com álcool a 70

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graus garantindo a assepsia e são colocados na porta de acesso para a sala da

câmara. Os operadores no interior da câmara abrem a porta do transfere (as duas

portas não podem ser abertas em simultâneo, de modo a garantir apropriadas

condições asséticas) e retiram os tabuleiros, e colocam-nos numa mesa de apoio,

próxima da câmara. Idealmente estão duas pessoas a trabalhar na câmara, estando

uma delas a dar apoio e a validar e outra a manipular os fármacos.

Todos os dias deve ser realizado um controlo microbiológico da câmara, da sala de

preparações e do túnel de comunicação entre as duas salas, para avaliar a assepsia

destes locais. Diariamente, ao fim do dia, deve ser feita uma limpeza assética da sala

da câmara, no fim da semana, é ainda realizada uma limpeza mais vigorosa de todos

os constituintes da câmara de fluxo laminar.

Na semana do estágio dedicada a esta área da farmácia hospitalar, tive oportunidade

de assistir à manipulação de citoestáticos na câmara de fluxo laminar, ficando a

compreender a responsabilidade inerente à preparação deste tipo de fármacos.

5.2.Preparações de formas farmacêuticas não estéreis

Os manipulados são essenciais para o ajuste da dose ao doente, por exemplo no caso

de pediatria. São portanto uma forma de individualização da terapêutica, para o doente

ou para o SC a que se destina. Os principais manipulados que são feitos no HB são:

papeis farmacêuticos de fármacos ajustados para posologia pediátrica, soluções de

colutório para o SC de oncologia, vaselina salicilada, solução de Adams, entre outras

preparações.

Os manipulados são realizados tendo em conta o Formulário Galénico Português ou

indicação do Laboratório de Estudos Farmacêuticos, fontes oficiais e específicas para

prestar este tipo de apoio. São realizadas depois as fichas de preparação do HB

(anexo 17). Os prazos de validade são determinados tendo em conta a estabilidade da

substância ativa ou excipientes que estão presentes na fórmula.

A realização de manipulados é feita numa sala não estéril com as condições

apropriadas inscritas no manual de farmácia hospitalar [4].

Em simultâneo com a preparação do medicamento manipulado deve ser preenchida a

ficha de preparação, na qual se vai depois registar também o número de consumo em

Glintt®. O preenchimento da ficha de preparação permite a fácil rastreabilidade de

operadores, procedimento e lotes das substâncias ativas, garantindo também a

conformidade do preparado. Neste tipo de preparações não estéreis existe também

dupla verificação de todas as medições, de massa e de volumes e portanto na

produção de manipulados devem estar presentes dois operadores. Depois de

preparado o manipulado são tiradas fotocópias aos rótulos da ficha de preparação e

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colados à embalagem primária do manipulado, o rótulo dá indicação do doente, nome

da preparação, serviço clínico, condições de conservação e validade, via de

administração, lote, quantidade preparada e operador.

5.3.Reembalagem

A reembalagem de comprimidos e cápsulas permite uma eficiência superior na

disponibilização da terapêutica em unidose, permitindo uma individualização da

farmacoterapia. O fracionamento de comprimidos é também uma vantagem

possibilitada pela reembalagem, sendo possível o ajuste de doses, para um

tratamento mais individualizado.

Assim, sempre que possível, as formas orais sólidas são desblisteradas e

acondicionadas em embalagens de unidose (anexo 18), sendo que o prazo de

validade é de um ano após a data de reembalamento. Este processo acontece na

FDS®, e é função do TDT, sendo o farmacêutico responsável pela verificação.

No rótulo da nova embalagem unidose devem constar: a DCI do fármaco, se se trata

de 1 ou meio comprimido, dosagem, lote interno, data de reembalagem, lote

fabricante, validade e laboratório.

Durante o estágio tive oportunidade de acompanhar o trabalho de um TDT na tarefa

de reembalamento de fármacos, ficando a compreender a mecânica da função.

6.Informação sobre medicamentos e outras atividades de Farmácia

Clínica

6.1.Consulta de plataformas informativas

Ao seu dispor o farmacêutico hospitalar possui ferramentas de consulta de forma a

esclarecer possíveis questões que possam surgir no decorrer da profissão. Assim, o

site do INFARMED, o FHNM, os vários manuais de consulta disponibilizados pelo

INFARMED (da farmácia hospitalar, da preparação de manipulados) servem muitas

vezes de ferramentas para esclarecimento de dúvidas e preparação de documentos

vários.

Existem ainda sites usados também para consulta, como por exemplo o uptodate. Este

site reúne informação acerca dos fármacos como a indicação de possibilidade de

mistura com nutrição parentérica, interações, entre outros achados relevantes para a

prática farmacêutica. Durante o período de estágio tive oportunidade de realizar dois

trabalhos com base neste site, um acerca de interações medicamentosas e um outro

relativamente à existência ou não de compatibilidade com nutrição parentérica de

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fármacos. Estes documentos ficaram a fazer parte de uma pasta no sistema

informática, para consulta rápida de questões que possam surgir no dia-a-dia dos SF.

Existem ainda disponíveis na biblioteca dos SF livros de apoio, como a Farmacopeia

Portuguesa, Formulário Galénico, entre outras obras de referência para a prática

farmacêutica.

Ao longo do estágio tive oportunidade para contactar com as diversas fontes de

informação disponíveis de forma a esclarecer as minhas dúvidas ou ainda de forma a

adquirir mais conhecimento acerca de determinados fármacos.

6.2.Resposta a pedidos de informação sobre medicamentos, aplicados a

situações clínicas

Decorre com frequência o pedido de esclarecimento acerca da utilização de fármacos

por parte de médicos aos farmacêuticos nos SF do HB. Durante o meu estágio tive a

possibilidade de assistir a telefonemas e até visitas de médicos aos SF com questões

acerca de situações específicas que envolviam a utilização de determinado

medicamento. O farmacêutico de forma a esclarecer a questão procura informação no

dossier do Resumo das Características do Medicamento, ou então procura entrar em

contacto com o fabricante do medicamento. Depois de reunida a informação

pretendida, o farmacêutico analisa e envia a informação ao clínico. O farmacêutico

hospitalar assume-se assim como a entidade responsável pelo medicamento, com

obrigação também de esclarecimento de questões de modo a potenciar a utilização de

fármacos, diminuindo riscos relacionados com o uso incorreto dos mesmos.

6.3.Farmacovigilância

Uma grande função do farmacêutico em meio hospitalar é a deteção de reações

adversas ao medicamento e comunicação das mesmas ao centro nacional de

vigilância, contribuindo para o aumento da segurança na utilização do medicamento.

No âmbito da farmacovigilância, o farmacêutico em ambiente hospitalar, tem ainda de

fazer especial controlo ao nível dos medicamentos com triângulo invertido. Estes

medicamentos sujeitos a monitorização especial estão de facto sob um controlo mais

apertado por serem novos no mercado ou ainda por existir pouca informação existente

acerca do seu uso continuado [6]. Ao longo do estágio, principalmente em contexto de

Farmácia de Ambulatório do Hospital de Dia Oncológico, presenciei a colocação de

perguntas aos doentes relativamente a efeitos secundários da terapia instituída, com

objetivo de deteção de alguma reação adversa medicamentosa que não constasse

nas até então estabelecidas em Resumo de Características do Medicamento.

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6.4.Participação do farmacêutico em ensaios clínicos

O Centro Clínico Académico (CCA), localizado no HB, recebe neste momento dezenas

de ensaios clínicos. Deste centro faz parte uma farmacêutica dedicada em exclusivo

aos ensaios clínicos, e nos SF existe uma equipa com funções inerentes aos ensaios

clínicos. Para desempenho de funções nesta área é necessária uma formação em

Boas Práticas Clínicas, assegurando as competências necessárias para o trabalho

aqui desempenhado. Um ensaio clínico é descrito como qualquer investigação

realizada no ser humano a fim de descobrir ou verificar efeitos clínicos, farmacológicos

ou toxicológicos de um ou vários medicamentos experimentais [7].

Assim, aos SF cabe a receção dos fármacos em estudo, apropriado armazenamento,

dispensa para administração aos doentes no CCA e ainda devolução dos

medicamentos em estudo.

O início de um ensaio clínico é marcado por uma visita de qualificação por parte do

monitor, representante do promotor do ensaio clínico. Nesta reunião toma-se

conhecimento acerca dos procedimentos gerais do ensaio clínico. Um novo ensaio

faz-se acompanhar de um protocolo, que faz a descrição pormenorizada dos

procedimentos envolvidos para dispensa do medicamento experimental/placebo.

Sempre que necessária manipulação, pode ocorrer manipulação do fármaco

experimental na câmara de fluxo laminar nos SF, sendo necessária formação aquando

do início do ensaio clínico no HB, da equipa de produção.

Depois de iniciado o ensaio, o monitor realiza visitas de monitorização, de forma a

garantir que todos os procedimentos constantes no protocolo na visita de qualificação

estão a ser cumpridos. Nesta visita são ainda verificados registos de receção, registos

de dispensa, registos de armazenamento, registos de devolução, e ainda possíveis

situações que possam ter decorrido neste espaço de tempo.

O controlo do armazenamento implica o registo das temperaturas da sala de

armazenamento que está à temperatura ambiente e ainda o registo das temperaturas

dos frigoríficos para os medicamentos com necessidade de conservação a

temperaturas inferiores (2º a 8º). Tive ainda oportunidade de conhecer o espaço do

CCA, e ainda assisti a uma formação de um dispositivo médico experimental de

inovação máxima.

6.5.Nutrição artificial

Para que todos os sistemas de órgãos funcionem da melhor forma, é necessário um

apropriado aporte calórico. É preciso ainda garantir a presença de todos os nutrientes

que o organismo necessita através da alimentação. No entanto surgem situações de

comprometimento da via oral, que impedem a ingestão alimentar normal. Nestas

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situações surgem duas alternativas: nutrição entérica ou nutrição parentérica. Assim,

no HB estão presentes vários tipos de nutrição entérica com diferentes

especificidades: dietas isocalóricas, hipocalóricas e ainda hipercalóricas. Do stock de

nutrição do HB fazem ainda parte vários tipos de nutrição parentérica (nutrição via

endovenosa): bolsas tricompartimentadas, bolsas bicompartimentadas, bolsas de

soluções específicas (aminoácidos, glucose, emulsões lipídicas, entre outras).

6.6.Farmácia Clínica

A farmácia clínica tem por base a individualização do esquema terapêutico a cada

doente, tendo em conta as especificidades da patologia ou conjunto de patologias

apresentadas por este. Assim, considerando o perfil patológico do doente é feito o

ajuste da terapêutica, evitando interações medicamentosas ou problemas relacionados

com a administração de fármacos. A farmácia clínica inclui encontros clínicos com

outros profissionais de saúde, nomeadamente médicos, enfermeiros, assistentes

sociais e nutricionistas. Estes encontros visam a compreensão multidisciplinar do

processo clínico de cada doente, de maneira a fazer a sua otimização e potenciação

do tempo de internamento para uma recuperação rápida do doente. No HB estas

reuniões decorrem semanalmente e englobam os doentes internados no serviço

clínico de medicina interna. Nestas reuniões a farmacêutica responsável esclarece

qualquer dúvida relacionada com a terapia medicamentosa instituída ao doente,

intervindo ainda ativamente na resolução de problemas relacionados com

medicamentos. Os casos clínicos dos doentes são previamente estudados pela

farmacêutica responsável: são analisados os dados gerais do doente, como a idade e

IMC; o motivo de internamento; o diagnóstico; as alergias; os hábitos, como por

exemplo tabagismo; os dados laboratoriais e o historial fármaco terapêutico. Estes

dados clínicos capacitam o farmacêutico para a validação da prescrição médica e para

a detecção de algum aspeto relacionado com o medicamento. Decorrem ainda, no

âmbito da farmácia clínica, reuniões de aconselhamento aos cuidadores. Nestas, os

profissionais de saúde esclarecem os cuidadores dos doentes que em breve terão alta

hospitalar, acerca dos cuidados apropriados a instituir no domicílio. Nestas sessões de

esclarecimento a farmacêutica explica o plano terapêutico instituído ao cuidador do

doente, para que este seja cumprido de forma eficaz. São ainda esclarecidas as

possíveis dúvidas que os cuidadores ou os doentes possam apresentar em relação à

medicação prescrita. A pensar nas possíveis questões que podem surgir em relação a

fármacos específicos foram também elaborados panfletos que são distribuídos aos

utentes esclarecendo as dúvidas mais frequentes relativamente a interações que

possam ocorrer entre a medicação e suplementos alimentares, plantas medicinais ou

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alimentos; e ainda um panfleto acerca da terapêutica com anticoagulantes e cuidados

a ter na utilização do medicamento. Assim, a farmácia clínica revela-se uma área de

grande valor para a vida do doente, quer para a otimização dos quadros terapêuticos

enquanto o doente permanece internado, quer ao nível da gestão dos mesmos pós

alta hospitalar.

6.7.Sistema de gestão integrado da qualidade, ambiente e segurança

A qualidade é a garantia de uniformização de procedimentos, e garantia de que estes

procedimentos vão de encontro com a ideologia orientadora do hospital. Existe no HB

um manual de qualidade implementado, e nele assentam normas em relação à política

de qualidade, ambiente e gestão, que devem ser seguidas por todos os funcionários

no HB. Assim, toda a documentação que circula nos SF deve estar devidamente

certificada pela qualidade, garantindo a validade da mesma.

6.8.Comissões Técnicas

As comissões técnicas existem no HB com intuito de implementar procedimentos e

normas de forma a promover uma utilização segura e eficaz das práticas terapêuticas,

atendendo à saúde pública e garantia do cumprimento dos princípios éticos do doente.

A Comissão de farmácia e terapêutica (CFT) tem como principal função a promoção

de políticas de utilização segura, eficaz e eficiente da terapêutica farmacológica. É

nesta comissão técnica que são aprovados os EF, no HB. A esta comissão cabe a

escolha dos medicamentos que integram formulário hospitalar e a garantia da boa

prática farmacoterapêutica. A CFT é constituída por dois médicos e dois

farmacêuticos, no HB, que garantem a segurança na prática terapêutica.

A Comissão de Ética para a Saúde apresenta como principal função a resolução de

problemas éticos que possam surgir no HB. Esta comissão, constituída por sete

elementos, entre os quais, médicos, enfermeiros, farmacêuticos e juristas, emite

pareceres clínicos de maneira a garantir a defesa da dignidade dos doentes do HB.

Esta comissão analisa e emite, também, pareceres acerca de questões éticas em

relação a protocolos de investigação científica a decorrer no HB.

Existe ainda a comissão de catástrofe, que elabora o plano de catástrofe perante

vários cenários de emergência, planeando metodologias de atuação em relação a

diferentes cenários de emergência de forma a limitar as consequências de sinistros no

HB.

De forma a diminuir as infeções associadas ao internamento hospitalar, existe também

uma comissão técnica: o grupo coordenador local do programa de prevenção e

controlo de infeções e resistência aos antimicrobianos. Assim, a esta comissão cabe a

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emissão de recomendações de práticas clínicas que evitem as infeções hospitalares

associadas aos cuidados de saúde prestados no HB.

Por fim, existe uma comissão técnica responsável pela gestão ambiental e segurança

no trabalho. Nos SF existe um gestor local de risco responsável pela identificação e

prevenção de situações que representem riscos para os frequentadores do HB. Os

farmacêuticos do HB reportam situações de risco numa plataforma informática de

risco, que são posteriormente analisados pela farmacêutica responsável pela análise

de risco, seguindo depois os trâmites necessários para a resolução do risco detetado,

através de ações corretivas necessárias.

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Referências

1. Hospital de Braga: O hospital. Acessível em:

https://www.hospitaldebraga.pt/Section/O+Hospital [acedido em 12 de Julho de

2016]

2. Hospital de Braga: Serviços Farmacêuticos. Acessível em:

https://www.hospitaldebraga.pt/Content/%5cRoot%5cContents%5cWebsitePPP%5

cHBraga%5cServicos+Clinicos%5cOutros+Servicos/Servicos+farmaceuticos

[acedido em 12 de Julho de 2016]

3. INFARMED: FHNM – Prefácio. Acessível em:

https://www.infarmed.pt/formulario/frames.php?fich=prefacio [acedido a 14 de julho

de 2016]

4. Ministério da Saúde (2005). Manual de Farmácia Hospitalar. Conselho executivo

da Farmácia Hospitalar 1-70

5. INFARMED: Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro, retificado a 20 de fevereiro.

Disponível em:

https://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACA

O_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_III/TITULO_III_CAPITULO_III/068-

DL_15_93_VF.pdf. [acedido a 18 de julho de 2016]

6. INFARMED: Circular Informativa N.º 090/CD/8.1.4. Data: 26/04/2013:

Medicamentos sujeitos a monitorização adicional. Disponível em:

http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MAIS_NOVIDADES/DETALH

E_NOVIDADE?itemid=6848024 [acedido a 16 de agosto de 2016].

7. INFARMED: Lei n.º 73/2015 de 27 de julho. Disponível em:

https://dre.pt/application/conteudo/69879383 que remete para

https://dre.pt/application/dir/pdf1s/2014/04/07500/0245002465.pdf [acedido a 16 de

agosto de 2016]

8. Ordem dos Farmacêuticos: Manual de Gases Medicinais. Disponível em:

http://www.ordemfarmaceuticos.pt/manualgases/#/2/ [acedido a 16 de agosto de

2016].

9. INFARMED: Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de Agosto Estatuto do Medicamento.

Disponível em:

http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACAO

_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_III/TITULO_III_CAPITULO_I/035-

E_DL_176_2006_9ALT.pdf [acedido a 6 de setembro de 2016]

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Anexos

Anexo 1: Anexo VII – Requisição de substâncias e suas preparações compreendidas

nas tabelas I, II, III e IV com exceção da II-A.

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Anexo 2: certificado de autorização de utilização de lote de hemoderivados

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Anexo 3: consola da Pyxis®Medstation, localizada nos SF

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Anexo 4: FDS e KARDEX, respetivamente

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Anexo 5: Gavetas FDS

Anexo 6: gavetas unidose

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Anexo 7: Anexo X – Requisição de substâncias e suas preparações compreendidas nas

tabelas I, II, III e IV com exceção da II-A anexadas ao decreto-lei nº15/83 de 22 de

janeiro, com retificação a 20 de fevereiro.

Anexo 8: modelo nº1804

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Anexo 7: Anexo X – Requisição de substâncias e suas preparações compreendidas nas

tabelas I, II, III e IV com exceção da II-A anexadas ao decreto-lei nº15/83 de 22 de

janeiro, com retificação a 20 de fevereiro.

Anexo 8: modelo nº1804

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Anexo 10: EF internamento

Anexo 9: Pedido de autorização de dispensa de Medicamentos em Regime de Ambulatório

pelos Serviços Farmacêuticos

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Anexo 11: mapas de produção citoestáticos

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Anexo 12: Tabuleiro citotóxicos

Anexo 13: etiquetas para indicação de conservação

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Anexo 14: sacos para transporte de medicação citoestática

Anexo 15: prescrição de neonatologia

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Anexo 16: câmara de fluxo laminar

anexo 17: ficha de preparação de manipulados

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anexo 18: reembalagens unidose

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Anexo 19 – trabalho desenvolvido ao longo do estágio em farmácia hospitalar no

Hospital de Braga

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