Plágio no Cinema

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“Here’s Johny!”Nem tudo é o que parece.Um sorriso pode ser igual mas ser um Jack Nicholson, é praticamente nascer de novo com o mesmo talento: talvez sim, talvez não... ou melhor... impossível!!!

O cinema tem sofrido com cópias mal feitas, essas farsas enriquecem negativamente a sétima arte. Essas “falsetas” divertem apenas os que buscam entretenimento barato, mas também suja um mercado tão querido, insultando a arte de fazer filmes. Nesta reportagem falamos sobre alguns casos que não só foram acusados de plágio como

até responderam a processos.

Clara Gibson e Felipe Belmonte

Clara Gibson e Dino Lucas

Felipe Belmonte

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CINEMA FALSO

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Parte do que torna o filme um sucesso é a sua originalidade. Mas como reconhecer quando um filme é um plágio, uma citação, ou apenas uma

alusão? Como diferenciar a linha tênue que existe en-tre esses três conceitos? Pra começar, a citação consiste no ato de transportar um trecho de uma obra dentro de uma outra obra, sem alterar a individualidade das duas. Po-demos visualizar esse intertexto, portanto, através de uma tela – seja essa a de uma TV, um computador ou um cinema – que projeta a obra homenageada. Temos assim um filme dentro de um filme. A alusão também é uma referência à outra obra, só que mais velada. O filme homenageado não é mais “puro” como na citação clássica, sendo agora “contaminado” pela visão do novo diretor e pelo con-texto da obra na qual foi inserido. O filme ao qual se faz a alusão não é projetado numa tela secundária, pois o que interessa é a estrutura de uma dada cena, que será reelaborada de acordo com o desejo do di-retor. A alusão, portanto, nada mais é do que o eco de um filme passado, que só pode ser percebido a depender do conhecimento prévio do espectador. Citação e alusão têm um traço em comum, a busca por uma referencia passada, porém diferem na forma como decidem utilizá-la. Enquanto a citação exibe o texto de origem mantendo-o intacto, a alusão o reinterpreta, conservando somente o modelo origi-nal, mas transformando o conteúdo de acordo com a visão do diretor. E o plágio? Entramos então numa questão mais delicada. Em Hollywood, o que não faltam são acusa-ções de plágio e muitos filmes já sofreram e sofrem processos contra acusações desse tipo, mas, principal-mente tratando-se de grandes produções, geralmente acabam dando em nada, sendo assim esquecidas. Mas pode-se dizer, por exemplo, que “Cães de Aluguel” (Reservoir Dogs, 1992) de Tarantino, copia o enredo de “Perigo Extremo” (City on Fire, 1987) de Rin-go Lam? Ou ainda, não são excessivos os pontos em comum entre “Kill Bill: Volume 1” (Kill Bill: Vol. 1, 2003) e o pouco conhecido “Lady Snowblood” (Shurayukihi-me, 1973)? O que dá direito aos irmãos Coen de se inspirarem na obra de Dashiell Hammett, sem men-cioná-lo nos créditos de “Ajuste Final” (Miller’s Cros-sing, 1990)? Basta reconhecer a influência de “Paprika” (Papurika, 2006) para que Christopher Nolan não seja taxado de plagiário pelo seu “A Origem” (Inception, 2010)?

O plágio é quando alguém copia a obra de outra pessoa e assume sua autoria, desconsideran-do os créditos para o autor original. No cinema é muito mais complicado perceber o plágio do que num trabalho acadêmico, por exemplo, exceto quando ele é muito evidente. BOX 4. Mas como hoje em dia, os filmes se enquadram dentro de ou-tros filmes, reciclando ideias e descontextualizando diversos modelos de imagens, os autores passam a produzir arte através de um processo que é mais re-memorativo do que criativo, oferecendo uma obra que agrada tanto às massas quanto aos críticos, equilibrando a cultura pop e os elementos que re-metem às obras Cult. Para um filme alusivo não se tornar uma có-pia de outro, é necessária uma mudança no foco da película, um reajuste completo do eixo que guia a história e seus personagens. É normal, porém, citar os próprios ídolos, seja de forma consciente ou não. Como disse certa vez o escritor Neil Gaiman, muitos encontram suas próprias vozes só depois de terem soado como outras pessoas. Todavia, é importante relembrar o lema de qualquer artista: faça boa arte, faça a sua arte. S

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“CINE IN COPIUM” OS MAIS TOSCOSAlusões, citações, plágio. Referências, homenagens, cópias. Boa fé, má fé... enfim. Há várias formas de se falar a mesma coisa no que se refere a esses “acontecimentos”. Listamos os casos mais contundentes nesses aspectos que falamos anteriormente e ao longo dessa reportagem. Tenha pena do cinema, ache interessante... tire suas conclusões.

Eis os casos mais toscos de plágio no cinema. De tão toscos conseguem ser hilários e arrancar sorrisos e despertar a curiosidade de quem vê. Descaradamente copiam os contextos e pu-xam ao máximo da essência do personagem do filme original. É tanta cara de pau, que ainda sim esses filmes possuem audiência. Pessoas assistem e esses copiadores hoje estão ricos. As imagens falam por si.

Clara Gibson e Dino Lucas Felipe Belmonte

“HALLOWEEN – A NOITE DO TERROR” (HALLOWEEN, 1978)Um exemplo de citação é a cena em que a protagonista Laurie, ao tomar con-ta das duas crianças, assiste aos filmes que passam na TV: “O Planeta Proibido” (1956) e “O Monstro do Ártico” (1951).

“SHREK 2” (2004)Várias são as alusões presentes nessa animação: Homem aranha, A sociedade do Anel, A um Passo da Eternidade, Flashdance, Alien, O Pecado Mora ao Lado, Mis-são Impossível e Indiana Jones.

“AVATAR” (2009) Esse recordista de bilheteria, além de colecionar alguns Oscars, coleciona também acusações de plágio. James Cameron enfrentou processos para responder acusa-ções como a de que o enredo do filme veio de Pocahontas, o roteiro de Dança com os Lobos, os personagens pegos da história em quadrinhos Timespirits e o argumento de ficção científica retirado de Call Me Joe.

“O ARTISTA” (THE ARTIST, 2011)Enfrentou um processo contra a produtora francesa La Petit Reine e o roteirista Christophe Valdenaire, autor do roteiro do longa metragem “Timidity, la Sympho-nie du Petit Homme”, que foi idealizado em preto e branco e trata da transição do cinema mudo para o falado. O autor afirma que o seu trabalho foi feito em 1998 e, portanto, o ganhador de cinco Oscars teria plagiado sua obra.

“O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON” (THE CURIOUS CASE OF BENJA-MIN BUTTON, 2008)É informação oficial que o filme foi baseado num conto homônimo de F. Scott Fitzgerald, mas a italiana Adriana Pichini acusa o filme de ter plagiado um conto que escreveu, registrado na Itália em 1994 e enviado a editores dos Estados Uni-dos, mas nunca publicado.

O CASO DE JOHN CARPENTER

No ano de 2079, ao ex-agente da CIA Marion Snow, condenado injustamente por um crime que nunca cometeu, é dada a possibilidade de ser liberado. Em troca, Snow deverá recuperar a filha do presidente dos EUA na prisão es pacial MS One, cujo controle foi tomado por um grupo de prisioneiros rebeldes. Esse é o enredo do filme “Sequestro no Espaço” (Lockout, 2012), escrito por Luc Besson.Num alternativo ano de 1997, Nova York se tornou uma prisão de segurança máxima. Ao ex-agente Snake Plissken, recentemente condenado à morte, é dada a possibilidade de ser liberado. Em troca, Plissken de-verá recuperar o presidente dos EUA, que se encontra perdido entre as mortais ruas de Manhattan após uma aterragem de emergência.Esse é o enredo da obra-prima de John Carpenter, “Fuga de Nova York” (Escape from New York, 1981), escrito por Nick Castle e pelo próprio Carpenter.Obviamente, o diretor americano acusou de plágio a Europacorp, a produtora francesa de Luc Besson. Surpreendentemente, o Observatoire européen de l’audiovisuel, órgão francês responsável por essas questões, se pronunciou a favor da acusação movida por Carpenter, condenando a Europacorp a pagar 80.000 Euros, que foram repartidos entre o diretor, o roteirista e a produtora que detêm os direitos sobre o filme.

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