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1 FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA EJA: educação de jovens e adultos na formação de cidadãos conscientes e autônomos Simone Aparecida Teixeira Rafael APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

EJA: educação de jovens e adultos na formação de cidadãos conscientes e autônomos

Simone Aparecida Teixeira Rafael

APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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SIMONE APARECIDA TEIXEIRA RAFAEL

EJA: educação de jovens e adultos na formação de cidadãos conscientes e autônomos

Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação da professora Drª. Luciane Silva de Souza Carneiro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.

APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FOLHA DE AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DO TRABALHO

EJA: educação de jovens e adultos na formação de cidadãos conscientes e autônomos

Aparecida de Goiânia ___ de dezembro de 2010.

EXAMINADORES

Orientadora - Prof.(a) Drª. Luciane Silva de Souza Carneiro - Nota:___ / 70

Primeiro examinador - Prof.(a) Ms. ----- - Nota:___ / 70

Segundo examinador - Prof.(a) ----- - Nota:___ / 70

Média parcial - Avaliação da produção do Trabalho: ___ / 70

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AGRADECIMENTO

Senhor Deus, a ti toda honra e toda glória a mais essa etapa cumprida em

minha vida. Pois, a ti devo o meu caminhar, o meu pensar e o meu querer.

Agradeço-te por ter me concedido o privilégio de chegar ao término deste curso.

Lembrando que houve momentos de desafios, porém, foram nestes momentos que

mais senti Tua presença me proporcionar paz, amor e força. Encorajando-me e

fazendo-me forte para que eu pudesse vencer e alcançar a realização desse sonho.

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Ao meu amado Jesus, que caminhou comigo cada passo dessa tão significante trajetória. Aos meus pais em especial a minha mãe que sempre se orgulhou de meu desempenho me incentivando cada vez mais. A meu esposo e filho pela motivação, compreensão e carinho que tiveram comigo durante esses quatro anos. A inesquecível amiga Cíntia, companheira fiel de todos os momentos dessa caminhada. A minha orientadora Profª. Drª. Luciane Carneiro e aos ilustres educadores que no decorrer do curso acreditaram em meu potencial, me ensinando que o verdadeiro educador é aquele deixa exemplos positivos a serem seguidos.

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Dizer-se comprometido com a libertação e não ser capaz de comungar com o povo, a quem continua considerando absolutamente ignorante, é um doloroso equívoco.

Paulo Freire

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 08

CAPÍTULO 1 - PAULO FREIRE: uma inovação para o histórico da EJA ............ 10

1.1 O histórico da EJA – Educação de Jovens e Adultos .......................... 10

1.2 Paulo Freire: discussão sobre autonomia e cidadania ........................ 14

CAPÍTULO 2 - DESAFIOS DO ALUNO DA EJA E A CONTRIBUIÇÃO DO

PROFESSOR NESSE PROCESSO .................................................................... 22

2.1 Os desafios enfrentados pelos alunos da EJA, relacionado às

influências de Marx no pensamento Freiriano .......................................... 22

2.2 O professor da Educação de Jovens e Adultos contribuindo para

superação de desafios na busca de formar cidadãos críticos e reflexivos 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 37

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 39

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INTRODUÇÃO

O presente estudo cujo tema é “EJA: educação de jovens e adultos na

formação de cidadãos conscientes e autônomos”, busca a trajetória de uma

educação que embora tenha passado por momentos de êxito ora de derrotas,

deixou suas contribuições no decorrer da história e ainda contribui de forma

significativa na vida de muitos educandos.

Esse trabalho buscou base teórica em Paulo Freire, na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional. Além desses, serão citados também autores como:

Barcelos (2006), Feitosa (2008), Gadotti (1991), Gadotti e Romão (2007) e Marx

(2001), pesquisadores que trataram em suas obras dos ideais de uma educação que

se voltasse para a autonomia do sujeito socialmente atuante. Utilizando-se como

metodologia a pesquisa bibliográfica.

A Educação de Jovens e Adultos foi se constituindo com grande luta ao longo

da história, mudando gradativamente a vida de muitos indivíduos, os quais faziam

parte de uma classe oprimida por uma sociedade elitizada que não tinha interesse

em oferecer a essas pessoas um ensino de qualidade, que os transformasse em

cidadãos conscientes e autônomos, mas sim, uma educação que os ensinava

apenas a ler e a escrever. O ser humano, no entanto, necessita muito mais do que

aprender a ler e a escrever, precisa sim, de uma educação que o respeite enquanto

um ser que possui suas particularidades, sonhos, esperanças e anseios de um

futuro mais digno. Uma educação que liberte o indivíduo de sua baixa-estima, da

timidez e do medo de não ser aceito em um meio social que se considera superior a

outro.

Nesse contexto, as contribuições do educador Paulo Freire são destacadas

como relevantes, pois este lutou sem medir esforços para ver acontecer uma

educação diferente para jovens e adultos. Incentivando-os sempre com muito

respeito, humildade, amor e determinação a lutar e jamais desistirem de seus

sonhos, a persistirem sempre com o objetivo de cada vez mais vencer os desafios

dessa caminhada em busca do conhecimento. E essa realização será possível se for

mediada por educadores que tenham uma visão inovadora, criativa, dialógica e

compreensiva, respeitando a leitura de mundo que esse educando trás de suas

vivências. Tais fatores são essenciais para o aprendizado, para o bom desempenho

desses educandos, visto que, passam a participar, a interagir nas discussões em

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sala e a relacionar o conteúdo visto com seu cotidiano. Dessa forma, passa de um

ser tímido e passivo para um ser ativo, que aprende a cada dia valorizar a si mesmo

e o que está aprendendo, se tornando no decorrer desse processo um cidadão

crítico, reflexivo e autônomo.

Discorrer sobre tais assuntos é de suma relevância, pois desperta interesses

desde as primeiras contribuições de Paulo Freire para a educação, até os dias

atuais da EJA. Dentro dos aspectos abordados, este estudo trará contribuições

significativas tanto para a escola quanto para a sociedade. Para a escola que

oferece a Educação de Jovens e Adultos, porque a destaca como um lugar

primordial o qual deve receber estes educandos de forma prazerosa e acolhedora,

fazendo-os sentir liberdade de atuarem como cidadãos. Proporciona, ainda, a estes

oportunidades de se sentirem respeitados novamente, através da sala de aula, de

uma boa relação com os colegas, professores e demais colaboradores da escola.

Porquanto, são pessoas que despertaram para a necessidade de voltar a fazer parte

de um novo contexto, pois vivem em uma sociedade que exclui aquele que não sabe

ler e escrever, sem entender as razões pelas quais os impediram de no „tempo certo‟

frequentarem a escola.

A escola, desse modo, deve receber e valorizar cada vez mais esse indivíduo

que chega neste local cheio de sonhos e esperanças de um futuro melhor. Precisa

compreender sua importância para a sociedade, no sentido de resgatar e preparar

esse educando para se ingressar no contexto social, oferecendo-o uma educação

que vá além do ler e escrever. Assim, cada educador deve repensar sua prática

atuante nas salas dessa modalidade de ensino, refletindo sua prática pedagógica

especialmente como formadora de cidadãos conscientes de seu papel na sociedade.

Ser um educador compromissado com uma educação de qualidade para os

educandos da EJA significa, segundo Freire (1996, p.8), “ensinar com bom senso,

humildade, tolerância, alegria, esperança, comprometimento, luta em defesa dos

direitos dos educandos e apreensão da realidade”. É ter a convicção de que a

mudança é possível. É conscientizar esses educandos dessa realidade, em que no

decorrer de seus estudos perceberão gradativamente que suas vidas, sua forma de

olhar o contexto a sua volta está mudando, se transformando, desse modo, em

cidadãos conscientes e autônomos.

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CAPÍTULO 1 - PAULO FREIRE: uma inovação para o histórico da EJA

1.1 O Histórico da EJA – Educação de Jovens e Adultos

Antes mesmo de ingressar na história propriamente dita da EJA, se faz

necessário buscar compreender os processos anteriores vividos pelas classes

populares ou as „massas‟ que ficavam excluídas do processo de alfabetização,

assim chamados como „analfabetos‟ ou pessoas que por diferentes motivos não

tiveram a oportunidade de serem alfabetizados no „tempo certo‟. Muitos desses

adultos tinham que dedicar grande parte de suas vidas ao trabalho para a

subsistência de si mesmos e de suas famílias, deixando assim, a escola em

segundo plano.

Formava-se, dessa forma, cada vez mais uma sociedade marcada por um

sistema social de desigualdades e opressões. Isto é, de um lado pessoas que

detinham o poder e de outro, adultos lutando para superar suas condições precárias

de vida (moradia, saúde, alimentação, etc.), comprometendo a alfabetização de

cada indivíduo. Alfabetização esta, que é a expressão da pobreza, consequência de

uma estrutura social injusta e excludente, que vem predominando durante séculos

desde as comunidades antigas.

No Brasil, a alfabetização de adultos iniciou-se precariamente durante a fase

colonial através dos jesuítas, que se dedicavam à pregação da fé católica e ao

trabalho educativo. Através do seu trabalho de catequizar, com o intuito de salvar as

almas, abrindo caminho para a entrada dos colonizadores, com seu trabalho

educativo, na medida em que se ensinavam as primeiras letras, ao mesmo tempo

ensinavam a doutrina católica e os costumes europeus. Não tendo a preocupação

de fazer dessas pessoas cidadãos conscientes e autônomos, visando transformá-los

em seres críticos e libertos para exigir seus direitos enquanto seres humanos.

No século XVIII aconteceu a expulsão dos Jesuítas, desorganizando assim, o

ensino até então estabelecido. A educação de adultos, então, começou a

estabelecer seu lugar através da história da educação no Brasil na década da

revolução de 1930 e mais uma vez o único interesse do governo era alfabetizar as

camadas baixas com intuito de somente aprender a ler e escrever, pois se essa

consciência crítica fosse despertada, seria prejudicial ao governo.

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A década de 1940 foi um período de muitas mudanças na educação de adultos,

ocorreram grandes iniciativas políticas e pedagógicas de peso como a

Regulamentação do Fundo Nacional do Ensino do INEP, como meio de incentivo a

vários estudos na área. Com isso, surgiram as primeiras obras especificamente

dedicadas ao ensino supletivo, lançamento da CEAA – Campanha de Educação de

Adolescentes e Adultos, que trouxe uma grande preocupação com a elaboração de

materiais didáticos para adultos, com intuito de fazer com que a educação abrisse

possibilidade de um ensino melhor.

Com o fim da ditadura de Vargas em 1945, o país começou a viver uma grande

ebulição política. A sociedade passou por momentos de grandes crises e houve

muitas críticas quanto aos adultos analfabetos levando, na maioria das vezes, as

pessoas não acreditarem na busca de um ensino de qualidade. Todo esse

transtorno em lutar por uma educação para todos, fez com que a educação de

adultos ganhasse destaque na sociedade.

A partir desse período, a educação de adultos começou a mostrar seu valor,

assumido através da campanha nacional do povo, assim chamada de campanha de

educação, lançada em 1947, a qual buscava no primeiro momento uma ação

extensa que previa a alfabetização em três meses, para depois seguir uma etapa de

ação, voltada para a capacitação profissional e para o desenvolvimento comunitário.

Somente na década de 50, a educação de adultos começou a apresentar sinais

de uma educação que visava libertar e conscientizar o indivíduo mediante as

contribuições do grande nome da educação brasileira, Paulo Reglus Neves Freire,

que ao longo da história deixou suas inconfundíveis práticas pedagógicas. Nessa

perspectiva, segundo Gadotti e Romão (2007), a corrente de Paulo Freire era

considerada como a educação não formal, alternativa à escola e a educação de

adultos entendida como a educação funcional, profissional, isto é, o treinamento de

mão-de-obra mais produtiva, considerada como suplência da educação formal.

No Brasil na década de 60, em consequência, se desenvolve o sistema

MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que teve um crescimento por

todo território nacional nos anos 70, variando sua autuação. Neste sentido, a

educação de jovens e adultos teve seus momentos de grandes fracassos e críticas

quanto à busca de um ensino de qualidade, para que os alunos pudessem ter direito

a uma vida mais digna, com perspectiva de construir um Brasil de mudanças

positivas.

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A história da educação de adultos no Brasil passou por diferentes processos

entre meados de 1946 a 1964, dentre eles estavam as campanhas, os congressos

realizados por Paulo Freire, intelectuais, estudantes e católicos engajados numa

ação política junto aos grupos populares, em busca de erradicar o analfabetismo,

que nesse período era entendido como uma „chaga‟, uma doença. Por isso,

baseavam-se na ideia de um programa permanente de enfrentamento da

alfabetização, titulado como Plano Nacional de Alfabetização de adultos, que

funcionou apenas um ano e foi extinto pelo Golpe de Estado de 1964. Sendo mais

conveniente para a elite manter o Mobral, que novamente mediante aos interesses

políticos visavam basicamente o controle da população, sobretudo a rural.

No decorrer da história, se observa de forma visível as entrelinhas de todo o

processo sofrido pela educação de adultos. Entre interesses políticos e troca de

governos, essa educação não rompia com as barreiras que eram postas à sua

frente, caminhando a passos lentos. Mesmo diante de heróis que se dispuseram em

defesa da „massa‟ como Paulo Freire, que desde 1962 deu início ao processo de

alfabetização na região mais pobre com cerca de 15 milhões de analfabetos para

uma população de 25 milhões de habitantes (GADOTTI; ROMÃO; 2007).

Nesse período, as Leis em defesa da educação de adultos já existiam, embora

não se via muito progresso no sentido de beneficiar realmente o indivíduo, a torná-lo

um cidadão crítico e reflexivo. A LDB nº. 5692/71, por exemplo, contemplava o

caráter supletivo da EJA, excluindo as demais modalidades, não diferenciando dos

objetivos do Mobral em relação à profissionalização para o mercado de trabalho e a

visão da leitura e da escrita apenas como decodificação e codificação de signos.

Uma visão extremamente behaviorista, tradicional, que leva em consideração

apenas o aspecto gramatical, destituído de seu contexto.

Em 1985, o governo implantou a Fundação Nacional para Educação de Jovens

e Adultos, popularizada na expressão resumida de „Fundação Educar‟, que também

desenvolveu programas de educação de jovens e adultos, dando continuidade ao

grande anseio nacional que vinha de décadas atrás, como preocupação de

sindicatos trabalhistas, instituições universitárias, partidos políticos de esquerda,

segmentos religiosos e como reflexos de ações internacionais em prol da educação

popular. No entanto, durou pouco, sendo extinta no início da década de 90, devido à

falta de apoio governamental. Porém, alguns Estados e Municípios assumiram a

responsabilidade de oferecer a educação para os alunos da EJA.

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A EJA, no entanto, ganhou mais consistência com a nova Lei de Diretrizes e

Bases, doravante LDB, nº. 9394/96, no art.37 e 38 que declara:

Art.37 – A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. §1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames. §2º O poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Art.38 – Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. §1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I. no nível de conclusão de ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II. No nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. §2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.

A atual Constituição Federal Brasileira, promulgada em 1988 e anterior à LDB,

traz em seu art. 208, o ensino de jovens e adultos, oferecendo bases mais sólidas

para a criação da EJA: o dever do Estado com a educação será efetivado mediante

a garantia de: “I. Ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive,

sua oferta gratuita para todos aqueles que não tiveram acesso na idade média

própria” (inciso com alteração dada pela Emenda Constitucional n.14, de 12 de

setembro de 2010).

Em janeiro de 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de jovens e adultos

seria uma prioridade do Governo Federal. Para isso, foi criada a secretaria

extraordinária de erradicação do Analfabetismo, cuja meta era erradicá-lo durante o

mandato de quatro anos do governo Lula. Para cumprir essa meta foi lançado o

programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual o MEC iria contribuir com os órgãos

públicos Estaduais e Municipais, instituições de ensino superior e organizações sem

fins lucrativos para que se desenvolvessem ações de alfabetização.

No decorrer da história, se vê as leis e os discursos de pessoas que se dizem

preocupadas com a classe menos favorecida. Porém, percebe-se que estas leis e

discursos existem na maioria dos casos no papel, pois na prática pouca ação

acontece. Neste contexto, cabe ressaltar um ícone da educação brasileira, Paulo

Freire, que mesmo diante de tantas batalhas e dificuldades lutou para ver acontecer

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mudanças significativas na vida desses indivíduos oprimidos e sem esperanças de

um futuro melhor. Conforme Freire (2000, p.33):

Preocupado com o problema do analfabetismo, sempre esteve a serviço da libertação do homem, acreditando em sua liberdade, em seu poder de criação e crítica. Enquanto que os políticos só interessavam por estas massas na medida em que elas pudessem de alguma forma, tornarem-se manipuláveis dentro do jogo eleitoral.

Observa-se então que, embora as Leis sejam criadas em busca de melhorias

e integração do indivíduo na sociedade, todavia, poucos as fazem valer na prática

com o objetivo de favorecer realmente aqueles que estão à margem da sociedade,

pois não foi e ainda não é interesse da classe dominante oferecer uma alfabetização

de qualidade no sentido de conscientizar e libertar o indivíduo, mas sim, uma

educação que apenas o ensine a ler e escrever para que possa contribuir com seu

voto. Uma política com discursos, cuja ideologia predominou e ainda predomina para

manipular cada vez mais as massas que supõe estar „fora da história‟.

1.2 Paulo Freire: discussão sobre autonomia e cidadania Paulo Freire, um grande educador que surgiu na história da humanidade para

fazer a diferença. Diferença esta, que mudaria o rumo de muitas vidas, isto é,

pessoas excluídas da sociedade por não saberem ler e escrever, oprimidos, sem

esperanças de um mundo melhor, de se sentirem „gente‟ novamente. Freire, desde

sua infância já tinha um olhar voltado para essas pessoas, como se dissesse para si

mesmo que quando adulto tomaria como defesa esse povo, alimentando dentro de

si um desejo de mudar tal situação, em que mesmo com pouca idade já entendia

que havia uma classe opressora e outra oprimida. Para Freire (1992, p.19):

A experiência da infância e da adolescência com meninos, filhos de trabalhadores rurais e urbanos, minha convivência com suas ínfimas possibilidades de vida, a maneira como a maioria de seus pais nos tratava a Temístocles, meu irmão imediatamente mais velho do que eu e a mim, seu „medo à liberdade‟ que eu nem entendia nem dele falava assim, sua submissão ao patrão, ao seu chefe, ao senhor, que mais tarde, muito mais tarde, li em Sartre como sendo uma das expressões da „convivência‟ dos oprimidos com os opressores. Seus corpos de oprimidos, hospedeiros, sem ter sido consultados, dos opressores.

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Freire, dessa forma, se tornou um jovem e cresceu com ele este olhar crítico

para essa classe opressora e cheio de um amor imensurável pela classe oprimida

decidiu ser um educador. Um modelo de educador que ia contra todos os princípios

de educação da época, em um contexto cuja elite prevalecia sobre a massa. Nesse

sentido, a alfabetização tinha um único objetivo: ler e escrever nos moldes do

behaviorismo (decodificação e codificação). Continuando sem objetivos próprios e

sujeitando cada vez mais a essa elite. Nas palavras de Freire (2000, p.55):

Todos os temas e todas as tarefas características de uma „sociedade fechada‟. Sua alienação cultural, de que decorria sua posição de sociedade „reflexa‟ e a que correspondia uma tarefa alienada e alienante de suas elites. Elites distanciadas do povo. Superposta à sua realidade. Povo „imerso‟ no processo, inexistente enquanto capaz de decidir e a quem correspondiam a tarefa de quase não ter tarefa. De estar sob. De seguir. De ser comandado pelos apetites da „elite‟. Nenhuma vinculação dialogal entre estas elites e estas massas, para quem ter tarefa corresponderia somente seguir e obedecer.

Este educador diante de todo esse contexto em que os poderosos ditavam as

regras, resolveu abrir mão de suas particularidades, não se preocupando com as

possíveis consequências que poderiam surgir mediante suas atitudes, que

simplesmente tinham como objetivos lutar por uma classe que era esquecida por

todos. Queria apenas educar essas pessoas para fazer delas cidadãos críticos,

autônomos, capazes de decidir por si só suas vidas, seus objetivos. Passando a ter

a oportunidade de ingressar novamente no meio social se sentindo mais valorizadas,

se tornando parte integrante dessa sociedade excludente. Segundo Freire (1996, p.

60):

Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam.

Freire, sem medir esforços, lutou por essa educação que antes era vista

como Educação Popular e nos dias atuais como EJA – Educação de Jovens e

Adultos. Deixando assim, suas marcas através de suas ilustres obras e de outras de

importantes autores na área da educação como Feitosa, Gadotti, Brandão que

optaram também por contribuir, destacando o valor desse educador, tanto nas

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décadas anteriores como no atual século. Feitosa (2008), ao destacar os „métodos‟

criados por Paulo Freire, mostra que o papel que Freire exerceu e ainda exerce na

educação é de extrema relevância, pois são práticas, „métodos‟, exemplos de

coragem, dedicação, amor e humildade, que trazidos para a realidade

contemporânea mostram resultados muito positivos. Como afirma Feitosa (2008,

p.123-124):

O amor ao qual Freire se refere se traduziu em suas obras, em suas palestras, em suas idéias inspiradoras, em luta em favor de uma educação libertadora. E é encharcado por essa amorosidade que nós, educadores e educadoras comprometidos com a transformação social, devemos dar continuidade a seu legado. Suas idéias estão cada vez mais vivas, inspirando práticas educacionais, justificando ações de mobilização social, impregnado de sentido a luta por uma educação que promova a justiça, a paz e a solidariedade.

No decorrer da história, se percebe a marcante trajetória deste educador, que

conseguiu alcançar o mundo com seu entusiasmo, suas propostas de denunciar a

opressão em busca de uma educação libertadora, conscientizadora e acima de tudo

humana. Tais contribuições são hoje bases para a EJA, que tem como referencial

esse idealizador de uma educação que valoriza o jovem e o adulto, na busca de

recomeçarem suas vidas, dando novo sentido, novas perspectivas, através das

quais ressurge a esperança de ser novamente considerado como parte integrante da

sociedade. Cidadão que aprendeu e aprende a expressar seus sentimentos, a ser

respeitado em sua concepção de mundo, a ser valorizado antes mesmo de saber

fazer a leitura da palavra. Cidadão este que deve compreender que a classe social

a qual se insere não interfere no respeito enquanto ser humano, pois afinal, ninguém

opta por ser miserável ou analfabeto, mas, movidos por imposições de um sistema

social injusto. De acordo com Freire (apud FEITOSA, 2008, p.120-121):

Ninguém opta por ser miserável. A miséria, assim como o analfabetismo, não são opções, mas imposições de um sistema social perversamente injusto. O adulto não-alfabetizado não é por opção, mas por situações econômicas e sociais que o impediram de se alfabetizar. Esse impedimento, porém, não é definitivo. Afinal, nada é absoluto, nada é definitivo, nada é imutável. Tudo é possibilidade.

Freire sempre lutou na tentativa de cada vez mais defender essa classe

oprimida no sentido do trabalho ou na questão pessoal de se sentir incapaz de ir à

busca de seus ideais, de seus sonhos e esperanças. Este educador, assumindo a

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posição de uma educação inovadora, auxilia jovens e adultos na busca da

realização de seus estudos. Realização esta que vai muito além do ler e escrever,

ou seja, uma educação que transforma o indivíduo e lhe permite olhar o contexto a

sua volta com uma visão de quem descobriu que é capaz de refazer sua história de

vida, o qual a esperança, a alegria começa a ressurgir em seus planos. Desse

modo, Freire é o grande idealizador dessa educação que transforma e modifica o

indivíduo no meio social o qual está inserido. É sem dúvida alguma, a expressão

maior do pensamento educacional. Como afirma Freire (2003, p.8-9):

Sem jamais perder a esperança lutou durante todo o decorrer de sua vida com a preocupação de resgatar a humanidade roubada dos oprimidos e oprimidas, explorados e exploradas e excluídos e excluídas do mundo [...], determinação esta, que permaneceu em seus ideais mesmo depois de já possuir uma „idade avançada‟, continuou mantendo esta posição ousada diante das injustiças, quando o mais comum nas pessoas dessa idade é acomodar em suas cadeiras de balanço, no status quo vigente.

A ousadia de Paulo Freire em educar jovens e adultos para além da leitura da

palavra, com a constante preocupação de tornar os educandos cada vez mais

cidadãos libertos, conscientes, críticos e autônomos, deixou através de seus legados

contribuições enriquecedoras em todo o contexto educacional de sua época, nos

aspectos sociais, políticos ou culturais, mesmo diante de um sistema de educação

que se preocupava em oferecer apenas uma alfabetização restrita ao ato de

decodificar e codificar.

Freire surge, nesse contexto, com ideais inovadores para a educação de

jovens e adultos, os quais teriam ali uma oportunidade de serem reconhecidos como

pessoas capazes de expressar seus sentimentos e seus valores culturais,

compreendidos como seres pensantes, que embora chegassem sem saber ler e

escrever, possuíam certa bagagem de conhecimento relacionada às suas leituras de

mundo que deveriam ser valorizadas para que a partir desse ponto, pudessem

expressar suas ideias, questionando, interagindo, perdendo assim, sua timidez e

insegurança. Percebe-se a partir desse processo que o educando passa a ser parte

integrante do contexto escolar, observando a importância, o significado do que era

ensinado pelo educador com suas vivências e experiências. Freire via nesse

conceito de educação todo o diferencial para uma educação libertadora e

humanizadora. Segundo Freire (2001, p.132):

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[...] o operário que está aprendendo, por exemplo, o ofício de torneiro, de mecânico, de pedreiro, de marceneiro, tem o direito e a necessidade de aprendê-lo tão melhor quanto possível, mas tem, igualmente, o direito de saber a razão de ser do próprio procedimento técnico. Tem o direito de conhecer as origens históricas da tecnologia, assim como o de tomá-la como objeto de sua curiosidade e refletir sobre o indiscutível avanço que ela implica.

Observa o autor, que estas não poderiam ser leituras „soltas‟ sem nenhuma

ligação com seu contexto social ou familiar. Freire em sua obra O caminho se faz

caminhando (2003), afirma que aprendeu a ler e escrever com seu pai e sua mãe sob

as mangueiras do quintal de sua casa e as palavras as quais escreviam faziam parte

de seu mundo, de suas experiências e não algo simplesmente imposto pelos pais ou

educadores sem conexão alguma com sua realidade. Desde seus dezesseis anos

quando foi para a escola secundária, conseguiu perceber a deficiência de ensinar de

algumas escolas, pois já não gostava da maneira pela qual era ensinado. Às vezes

se sentia „burro‟ por ter tanta dificuldade de entender as lições normais e

burocráticas de sua escola. Por isso, desde muito jovem descobriu que ler tinha que

ser um ato de amor, pois teve a oportunidade de vivenciar aprendizados diferentes

em outras escolas, compreendendo assim, que no ato de ler existia uma beleza, em

que através da leitura de bons livros possibilitava-o a um melhor entendimento da

realidade, do concreto. Como afirma Freire (2003, p.58):

Para mim a leitura é importante na medida em que os livros me dão um determinado instrumento teórico com o qual eu posso tornar a realidade mais clara com relação a mim mesmo. Essa é a relação que tento estabelecer entre ler palavras e ler o mundo [...] ler os livros faz sentido para mim na medida em que os livros têm a ver com essa leitura da realidade.

Os ideais de Paulo Freire pela conquista de cidadãos conscientes e

autônomos, de uma educação que realmente humanizasse o educando, foram

alcançados em todo o decorrer de sua vida como educador. Um modelo de

educador que fez diferença por onde passou, pois tinha como maior objetivo em sua

trajetória de educar, o respeito ao educando, sendo jovem ou adulto, aos sonhos e

às esperanças destas pessoas que o encontrava com anseios muito além do ler e

escrever.

Freire com sua sabedoria de educador conseguiu suprir e ainda ir muito além

das expectativas dos educandos, pois ensinaria não somente ler e escrever, mas

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tratá-los com respeito e dignidade. Valorizando-os como seres capazes de vencer

tantas barreiras que os impediram há tantos anos. Sonhos fracassados, esperanças

apagadas, que ressurgia à medida que conhecia os ensinamentos, a „metodologia

pedagógica‟ pela qual Freire ensinava. Falar em sonho era algo que o agradava,

pois entendia que o sonho de querer alcançar algum objetivo, se torna o ponto de

partida para a busca da realização destes, conforme afirma Freire (2003, p.78):

Estou seguro de que, na tentativa de criar alguma coisa dentro da história, temos que começar a ter alguns sonhos. Se não temos qualquer tipo de sonho, estou certo de que será impossível criar qualquer coisa. Os sonhos me empurram para que eu realize, os concretize e os sonhos, é claro, também estão rodeados de valores de outros sonhos. Nunca acabamos de ter sonhos.

Freire, desde sua infância mesmo diante de sua imaturidade diante dos fatos,

já sonhava com uma sociedade diferente, menos injusta e mais humanizada, mesmo

sem imaginar como isto seria possível. Porém, o diferencial era que mesmo ainda

criança já havia em seu coração esse desejo, fato este que, quando adulto

conseguiu mesmo diante de tantas lutas, concretizar seus sonhos, levando jovens e

adultos a tão esperada realização pessoal e profissional de aprender a ler e a

escrever e muito mais que isso, aprender que é possível pensar e fazer concretizar

os sonhos de uma sociedade mais igualitária.

A classe popular considerada apenas como um povo que deve existir para

prestar serviços à classe dominante que oprime para obter privilégios próprios,

precisa ser reconhecida também como pessoas importantes que merecem um dia

estar no banco de uma escola ou sob uma mangueira, compreendendo o valor de

uma educação que transforma e dignifica o homem enquanto ser. Assim, se tornará

um cidadão capaz de olhar as questões a sua volta, seja no aspecto social, político

ou cultural com um olhar crítico e perceber as mazelas que lhes são impostas

mediante um sistema que oprime, utilizando de discursos persuasivos que engana

aqueles que não tiveram acesso à educação proposta por Freire (2001, p.92),

fazendo-o entender que:

Não há mudança sem sonho como não há sonho sem esperança [...] é por isso que, do ponto de vista dos interesses das classes dominantes, quanto menos as dominadas sonharem o sonho de que falo e da forma confiante como falo, quanto menos exercitarem a aprendizagem política de comprometer-se com uma utopia, quanto mais se tornarem abertas aos discursos “pragmáticos”, tanto melhor dormirão as classes dominantes.

20

A educação de Paulo Freire, desse modo, deixou propostas, sugestões e

inovações relevantes no campo educacional, pois seu ideal como educador foi

sempre pôr em prática uma educação que libertasse o indivíduo, que o fizesse

repensar sua história e jamais um modelo de educação aos moldes da escola dos

espanhóis de sua época, que traziam ideias castradoras, domesticadoras em que o

educando jamais deveria buscar alcançar novos ideais para não se expor a riscos.

Deveriam, portanto, agir como alunos calados sendo meros receptores, sem jamais

questionar as razões de fatos relatados pelo professor. Por isso, as ideias deste

educador se opunham a tantas outras da época. Seu sonho era o de uma educação

aberta, democrática, que estimulasse nos educandos o gosto da pergunta, a paixão

do saber, da curiosidade, a alegria de criar e o prazer do risco, sem o qual não há

criação.

Freire idealizou e conseguiu cumprir muitos de seus ideais, porque sempre

teve como ponto primordial o respeito ao outro. Aprendeu desde cedo a respeitar a

todos, não importando com o nível social o qual pertenciam. Aprendeu também a

respeitar o conhecimento das pessoas, suas crenças, seus medos, suas

esperanças, expectativas e sua linguagem. Conforme Freire (2003), assim, se

iniciava o processo de educar que resultaria em uma transformação desses

educandos em cidadãos do mundo.

As experiências vividas por Paulo Freire desde sua infância, em destaque a

excelente relação de amor com os pais, o fez crescer uma criança saudável

emocionalmente, pois se sentia „inteiro‟, mesmo diante de experiências diferentes

como passar falta de comida, o que para ele foi ainda assim, um aprendizado

importante. O que anos posteriores o influenciou a defender as classes populares.

Para Freire (2003, p.223):

Do ponto de vista de estar com fome, eu estava mais próximo dos meninos da classe trabalhadora e podia entender bem as duas situações. Desde aquela época, embora eu não pudesse entender as razões verdadeiras, comecei a achar que alguma coisa estava errada. Talvez seja possível dizer que isso foi o começo do meu compromisso como educador lutando contra a injustiça.

Mesmo vivendo em uma época machista, Freire cresceu em um ambiente de

amor, de tolerância e de coerência, considerados por ele como virtudes e aprendeu

com seu pai tais princípios. Este aprendizado fez desse homem um educador

21

humilde que ainda muito jovem alfabetizou trabalhadores camponeses e favelados.

Sempre com a humildade de ensiná-los, mas também de aprender com eles. Assim,

conseguia praticar o amor por essas pessoas, acreditando e sorrindo com elas, o

que para ele é fundamental, ou seja, aprender com o outro para poder ensiná-lo.

A historicidade dos fatos ocorridos durante toda a trajetória de Paulo Freire,

deixa evidente sua ilustre contribuição de maior expressão do pensamento

educacional na história da Educação de Jovens e Adultos. Entretanto, se

compreende a importância de estar sempre focando e relembrando as ideias deste

educador, pois foi e sempre será um marco na história da defesa de uma educação,

a qual valoriza o jovem e o adulto que por motivos peculiares não ingressaram na

escola no „tempo certo‟, visto que, fazem parte de uma sociedade capitalista que os

aliena ao ponto de deixar a escola sempre em segundo plano. Nesse sentido, o

trabalho lhes exige tempo excessivo, tornando-se este, um dos principais desafios

que o educando da EJA precisa superar.

Freire, desse modo, continua contribuindo de forma única mediante suas

obras deixadas a todos aqueles que se dispõem a prosseguir esta brilhante jornada

de ensinar. Fator este desempenhado muito bem por ele através do amor, do

respeito, da ousadia e da determinação.

22

CAPÍTULO 2 - DESAFIOS DO ALUNO DA EJA E A CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR NESSE PROCESSO.

2.1 Os desafios enfrentados pelos alunos da EJA, relacionado às influências de Marx no pensamento Freiriano.

Quando mencionada a Educação de Jovens e Adultos é preciso ressaltar a

influência de seu principal teórico Paulo Freire, que um dia idealizou este modelo de

educação e com muita luta e sem medo de vencer, conseguiu relacionar teoria e

prática em defesa de uma classe, de uma „massa‟, de um povo que vivia às margens

da sociedade, sem sonhos e sem esperanças de uma vida melhor. Um povo que

vivia alienado ao trabalho e a uma classe que os dominava sem se preocupar com

os sentimentos e projetos desse povo. Se esquecendo que eram pessoas que

tinham capacidades também de se destacarem na história e de desenvolverem seus

intelectos como qualquer outra pessoa que fazia parte da burguesia. Pessoas que

poderiam se sentar em um banco de uma escola e ter a oportunidade de aprender a

ler e a escrever de igual forma a outros. Mas, como desde o feudalismo existiu uma

sociedade desigual, havendo opressores e oprimidos, os que mandavam os quais

detinham o poder e os que simplesmente obedeciam.

Tornava-se, desse modo, cada vez mais difícil imaginar, sonhar com uma

sociedade justa e solidária, a qual ninguém explorasse ninguém. Todavia, em meio a

tanta desesperança sempre surgem pessoas com os corações incendiados de amor

ao próximo, com vontade, sonhos e projetos em defesa dessa gente que parecia

esquecida e conformada com tal situação. Assim, surge Karl Marx (1818-1883),

homem de coragem e dedicação, propondo através de sua obra o Manifesto

Comunista, outra maneira de ver o mundo. Segundo Alencar (2001, p.11):

O manifesto é mais um monumento do que um documento [...] Pétreo, determinante, forte: letras, palavras e frases que queriam ter o poder de uma arma para mudar o mundo, colocando no lugar „da velha sociedade burguesa [...] uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada membro é a condição para o desenvolvimento de todos‟.

Agindo em defesa dos operários, opondo-se à burguesia, buscando sempre

levar para a prática seus ideais de realmente transpor essas metas do papel para a

ação, para contemplar assim, as transformações de uma nação que sofria tantas

opressões. Marx decidiu „pagar um preço‟ por esta classe oprimida, não se

23

preocupando com possíveis consequências da oposição. Como de fato aconteceram

perseguições e exílios. Entendia que ele próprio não tivesse feito parte dessa classe

operária, valeria a pena lutar por ela, pois os via como “únicos produtores da

verdadeira riqueza, que nada tinham de seu além da própria força de trabalho, que

vendiam os capitalistas” (ALENCAR, 2001, p.13). Assim, o Manifesto era a ânsia de

Marx em „instrumentalizar os oprimidos para que eles transformassem a sociedade‟.

De forma que, vencendo tais desafios, se ingressavam nessa sociedade como

também contribuintes da história, como cidadãos auto-confiantes, autônomos,

reflexivos, vivendo em uma sociedade igualitária, tão sonhada por Marx e por todos

pertencentes à classe marginalizada.

Estes eram os ideais deste revolucionário em que aos poucos e com muitas

lutas influenciou o mundo. Embora, dizia que “certas belas páginas sozinhas não

mudariam o mundo” (ALENCAR, 2001, p.18), porém, percebe-se que com belas

páginas e atitudes, o mundo foi tocado pelas idéias desafiadoras na história da

humanidade e influenciando outros idealizadores como Paulo Freire. Homem este

que décadas depois decidiu prosseguir com as semelhantes ideias de Marx, de

também lutar em defesa dos operários, os chamados proletariados, que pela

necessidade de estar no trabalho voltado para uma sociedade que ainda excluía e

oprimia, não tiveram a oportunidade de ir à escola no „devido tempo‟. São por estas

mudanças e transformações nestes aspectos que Freire também lutou pela

humanização, pelo trabalho livre e pela desalienação. Em sua obra Pedagogia do

Oprimido Freire (1987, p.30) afirma:

Na verdade, se admitíssemos que a desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como “seres para si”, não teria significação. Esta somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é, porém, destino dado, mas resultado de uma “ordem” injusta que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos.

Com uma marcante generosidade, humildade, respeito, dedicação e

sofrimento, que Freire também dedicou sua vida a essa classe da sociedade, os

chamados por ele de “oprimidos, esfarrapados do mundo, dos condenados da terra”

(FREIRE, 1987, p.31). Para este ilustre educador, generosidade é um ato de

solidariedade, é estender as mãos para essas pessoas, para que, lutando pela

24

restauração de sua humanidade, estejam tentando a restauração da verdadeira

generosidade. Dessa forma, tornando-se povos „fortes‟, esperançosos, autônomos,

conscientes e preparados para estarem contribuindo para que outros excluídos e

oprimidos também se libertem. De acordo com Freire (1987, p.31):

Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela.

Durante o decorrer dos fatos, fica perceptível o que Marx e Freire tinham em

comum. Ambos lutaram em defesa de uma classe excluída, oprimida, alienada, seja

no trabalho ou em seus próprios pensamentos. Freire, como educador buscou

através da educação, da alfabetização desses povos, um caminho para os

libertarem dessa alienação.

Uma educação que teria sentido para o educando, em que através do

respeito, do diálogo, da valorização do conhecimento que era trazido de seu

cotidiano para os círculos de cultura, como era chamado por Freire, que mesmo

sentados no chão, à sombra das mangueiras era possível aprender. Lugar este em

que homens e mulheres, podiam encontrar novas perspectivas de vida, pois era

oportunidade de expressar seus sentimentos, compreendendo que ali era um

ambiente de aprendizagem de todos, inclusive do educador, pois este não se

comportava como o único dono do saber.

Era momento de aprender a ler e a escrever, mas acima de tudo, se sentir

valorizado, capaz de se livrar de um sentimento de inferioridade por ser analfabeto e

olhado por todos como alguém que deveria se calar, sem direito de questionar, de

exigir nada. Era a oportunidade de se libertar de toda essa opressão que até então

ainda era mantida pela classe burguesa que dominava. Tal classe oferecia aos

jovens e adultos apenas uma educação „bancária‟, em que o educador transmitia o

conhecimento e ao educando cabia apenas receber e permanecer calado. Para

Gadotti (1991, p.69):

25

O educador é o que sabe e os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa e os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra e os educandos, os que escutam docilmente; o educador é o que opta e prescreve sua opção e os educandos, os que seguem a prescrição; o educador escolhe o conteúdo programático e os educandos jamais são ouvidos nessa escolha e se acomodam a ela; o educador identifica a autoridade funcional, que lhe compete, com a autoridade do saber, que se antagoniza com a liberdade dos educandos, pois os educandos devem se adaptar às determinações de educador; e, finalmente, o educador é o sujeito do processo, enquanto os educandos são meros objetos.

Nessa perspectiva, Marx e Freire deixaram suas inesquecíveis marcas

positivas, mostrando o quanto lutaram para que as pessoas consideradas a „massa‟,

os excluídos, tivessem a oportunidade de se igualar a uma sociedade que somente

os explorava. Mesmo sendo chamados de sonhadores, não se intimidaram com as

críticas, pois tinham um objetivo traçado: defender um povo esquecido, explorado e

analfabeto. Embora, não tenham conseguido mudar o mundo, mas acima de tudo,

mostraram que é possível superar tais desafios em busca de se tornar um cidadão

consciente, crítico e autônomo. Suas memórias continuam ocupando lugar

privilegiado nos corações das pessoas que anseiam por uma sociedade e uma

educação igualitária que valoriza o cidadão, seja jovem ou adulto.

Estes revolucionários foram realmente capazes de conectar diferentes

categorias em torno de um projeto comum: libertar homens e mulheres da opressão

e da condição de alienado. E essa bandeira de luta continua nos dias atuais nas

mãos de educadores que tem anseios de prosseguirem na caminhada deixada por

Freire e Marx. Em busca de continuarem auxiliando esses educandos a superarem

tais desafios para se tornarem cidadãos críticos, reflexivos e participantes de uma

sociedade a qual fazem parte.

2.2 O professor da Educação de Jovens e Adultos contribuindo para superação de desafios na busca de formar cidadãos críticos e reflexivos.

Ao assumir uma sala de aula da EJA, é comum o professor deparar-se com

alunos que apresentam baixa-estima e dificuldades para expressarem suas idéias,

demonstrando muita timidez e insegurança, dificultando assim, as participações.

Desse modo, muitos desanimam optando pela desistência pelo fato de não mais

confiarem em sua capacidade de aprender. Estes são alguns desafios que devem

ser observados pelo educador, para que este possa encontrar meios de fazer com

26

que estas dificuldades vão sendo substituídas por entusiasmo e participação

gradativa, passando assim, a acreditarem em si mesmos.

À medida que esse educador com muita sensibilidade passa a ouvir e

interpretar estes comportamentos, valorizando o conhecimento prévio, a

aprendizagem, o desempenho desses educandos, consequentemente, surgirão

novas perspectivas e entusiasmo pelas aulas. Assim, estes já terão capacidades de

observar e relacionar a aprendizagem com o contexto a sua volta, conseguindo levar

para o dia-a-dia, seja na própria sala de aula, no trabalho ou na família, mudanças

de comportamento significativas. Nas palavras de Feitosa (2008, p.115):

Reinventa, reescreve, redescobre-se. Percebe as conseqüências de todo este processo no seu dia a dia e no cotidiano das pessoas com as quais estabelece relações. Encontra o seu espaço de luta contra as diferenças. Passa a ler, relacionar fatos, acontecimentos, enfim, liberta-se.

O professor da EJA, com a rica oportunidade de trabalhar com jovens e

adultos deve ter como meta além de ensinar a ler e escrever, resgatar este

educando novamente para o meio social como um cidadão seguro, confiante em si

mesmo, consciente, crítico e reflexivo. Esse ideal de educador está registrado na

história através de Paulo Freire, que sempre acreditou em uma prática educativa

acima de tudo humanista, que faz desse jovem ou adulto um ser melhor. Assim, os

educadores da EJA devem observar e seguir cotidianamente sua proposta de

educação, dando continuidade ao legado desse grande educador que sempre

defendeu e lutou por essas pessoas que não tiveram a oportunidade de irem à

escola no tempo correspondente a sua idade escolar. Mas, que para Freire (1991),

esse tempo sempre existirá independente da idade. Basta que existam educadores

comprometidos e dispostos a oferecer a estas pessoas uma educação que vá

dignificá-los como seres humanos, valorizados por uma sociedade que tem como

princípio oprimir e excluir.

A responsabilidade, o compromisso do educador da EJA para formar não só

leitores, mas cidadãos libertos se tornam, desse modo, cada vez mais relevante,

pois acima de tudo precisa reconhecer que em meio aos educandos ele não é o

único dono do saber, mas sim, um profissional que também tem a oportunidade de

aprender. Este momento, portanto, deve ser de múltiplas experiências em que o

respeito mútuo é fundamental. Isso fará com que o professor exerça seu papel de

educador sem precisar ser autoritário. Situação esta que Gadotti (1991) chama de

27

posição radical democrática, porque ela almeja a diretividade e a liberdade ao

mesmo tempo, sem nenhum autoritarismo do professor e sem licenciosidade dos

alunos. Em sua obra Convite à filosofia de Paulo Freire, ele faz uma brilhante

comparação do professor autoritário e o educador libertador. Para Gadotti (1991,

p.74):

O professor autoritário não humaniza, mas desumaniza; jamais chama os educandos a pensar; a fazer uma nova leitura de sua realidade. Ao contrário, ele a apresenta como algo já feito, já acabado, ao qual basta simplesmente se adaptar e não transformar. Em lugar de propor aos alunos que se apropriem do conhecimento, ele lhes propõe apenas a recepção passiva de um conhecimento empacotado. Por outro lado o educador libertador, os educandos são convidados a pensar. Ser consciente não é, nessa hipótese, uma simples fórmula ou um mero slogan. É, no dizer de Paulo Freire, “a forma radical de ser dos seres humanos enquanto seres que, refazendo o mundo que não fizeram, fazem o seu mundo, e neste fazer e refazer se refaz”.

O professor da EJA precisa ser cotidianamente em sua prática esse educador

que contribui para a libertação dos educandos. Para exercer este papel de educador

formador de cidadãos críticos, reflexivos e autônomos, se faz necessário essas

práticas, considerando que o reconhecimento dessas diferenças é fundamental para

uma atuação que ocasionará mudanças na vida tanto do educando como do

educador. Embora, se saiba que estas práticas não apresentam resultados

imediatos, pois podem surgir no meio dessa caminhada momentos de frustrações

em que se tem a sensação de não ter ainda alcançado os objetivos propostos, de

não estar tudo acontecendo no tempo planejado. De acordo com Freire (apud

GADOTTI, 1991), há que se ter momentos de angústia porque o mundo não é como

ele sonhou.

Permeia-se, assim, a trajetória de um verdadeiro educador da EJA, cercada

de lutas e vitórias, de alegrias e momentos de repensar suas práticas pedagógicas.

Entretanto, deve estar no coração desses educadores, o desejo ardente de poder

contribuir para que pessoas que estão à margem da sociedade, se sentindo o

„menor‟ de todos, possam se tornar cidadãos esperançosos com um futuro mais

digno. Pois tiveram um dia um encontro com educadores comprometidos e

confiantes a tentar mudar a história desses cidadãos, incentivando-os a trilharem um

caminho antes desconhecido e agora possível. Um caminho que lhes abriram as

„portas‟, oferecendo oportunidades de sorrirem novamente e de cabeça erguida

28

lutarem com muita determinação e ousadia em busca de realizar seus sonhos e

projetos.

Em busca de formar cada vez mais pessoas emancipadas, é preciso que os

educadores de jovens e adultos compreendam que a escola é um dos territórios

privilegiados para tal formação, pois é neste ambiente que o educando vai ser

acompanhado na busca de sua conquista intelectual, emocional, social etc. Tendo a

oportunidade de ter voz ativa que por muitas vezes foi silenciada. Quando essa

oportunidade lhe é dada, a alfabetização acontece e, consequentemente, inicia-se o

processo de autonomia de homens e mulheres, independente de suas idades.

Segundo Barcelos (2006, p.39):

Essas vozes por muito tempo invisíveis, porque silenciadas, poderão deixar de sê-lo na medida em que nos disponhamos a ouvi-las, senti-las e valorizá-las. Defendo que a escola é um dos territórios privilegiados para que essa escuta aconteça. Em se tratando da EJA isto não é algo genérico no processo educativo. Ao contrário, é uma condição necessária para que aconteça o processo de alfabetização. Em si tratando de pessoas que foram silenciadas por longos momentos de suas vidas. São pessoas que, em alguns casos, já chegaram a internalizar que são incapazes de aprender. Que são já velhas demais para aprender ou até mesmo que aprender a ler e a escrever não mudará em nada suas vidas. Sem dúvida que são estas representações construídas histórica e culturalmente. Sendo

portando, possíveis de serem (re)desconstruídas.

É necessário que os educadores da EJA na atualidade, repensem suas

práticas educativas em busca de adequar às necessidades desses educandos no

que se refere, por exemplo, ao espaço da sala de aula que deve ser de socialização,

de trocas de ideias, para que esses educandos possam expressar com liberdade

seus desejos, opiniões e dúvidas, para que assim, a timidez vá dando lugar às

participações. Segundo Freire (1996), essa relação entre professor e aluno é

essencial para facilitar o processo ensino/aprendizagem. É baseada nessa

convivência amorosa e uma relação aberta, que esse crescimento intelectual

acontece. Nas palavras de Freire (1996, p.11):

É a convivência amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que assume e, ao mesmo tempo, provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos sócio-histórico-culturais do ato de conhecer, é que ele pode falar do respeito à dignidade e autonomia do educando.

Este educador precisa carregar em seu coração as belas formas de educar de

Freire. Visto que, estas são alicerces fixados na história da humanidade que

29

trouxeram e ainda trazem mudanças quando colocadas na prática, isto é, “quem

ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina,

ensina alguma coisa a alguém” (FREIRE, 1996, p.25). É neste aspecto que o

educador deve estar sempre repensando suas ações, reconhecendo que o ato de

ensinar é realizado com respeito e dedicação, no qual todos aprendem. É nesse

respeito mútuo que a aprendizagem se torna algo mais interessante e o educando

passa a se sentir motivado a interagir com colegas e professor. Gerando assim,

jovens e adultos corajosos, ousados, autônomos, participativos e reflexivos. Para

Freire (1996, p.50):

O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser „educado‟, vai gerando a coragem.

À medida que o educador da EJA de forma carinhosa contribui para que

esses valores alcancem os educandos, consequentemente o aprendizado da leitura

apresentará resultados brilhantes, possibilitando a compreensão sobre o quanto é

prazeroso este momento de aprender e também de ensinar. Um aprendizado que se

dá tanto ao educando quanto ao educador.

Este é um dos papéis mais significativos do professor da EJA, desafiar os

alunos a enfrentar todas as dificuldades surgidas durante a caminhada rumo à

aprendizagem e levá-los a perceber que o aprender se desenvolve e mostra

resultados positivos quando acontece de forma espontânea, sem ser uma

imposição. Como afirma Freire (2003), uma das tarefas do educador é também

provocar a descoberta da necessidade de saber e nunca impor um conhecimento

cuja necessidade ainda não foi percebida. Algo que não deve ser realizado apenas

para cumprir uma rotina de simplesmente ir à escola todos os dias, mas permitir que

eles vão além do que é proposto, é compreender o significado da leitura, da escrita e

o quanto tudo isso passa a ser passos fundamentais na construção de novos

cidadãos, de pessoas com um novo olhar a tudo à sua volta. Se tornando capazes

de liderarem a si próprias como pessoas libertas e emancipadas. Como afirma Freire

(2003, p.63):

30

Estudar significa descobrir alguma coisa. E o ato de desvelar traz consigo um certo prazer, um certo momento de felicidade que é criação e re-criação. Não, não é fácil, mas é bom quando se faz. Devemos desafiar os alunos e alunas a alcançarem esse momento criativo e a nunca aceitarem que suas mentes se burocratizem, algo assim como ter que ler entre 10 e 11 da manhã e escrever entre 2 e 3 da tarde. Não, não é bem assim!

O professor da EJA além de ter como pressupostos o ensinar a ler e a

escrever, precisa ter como objetivo na sua tarefa de educador, desejos, sonhos de

formar uma sociedade diferente, mais humanizada, com sujeitos que irão fazer uma

nova história, se transformando e ao mesmo tempo transformando o meio em que

está inserido. Isso ocorrerá, no entanto, se no decorrer de seu aprendizado se

deparar-se com educadores que faz uma educação diferente, levando-os a

questionar, a terem o gosto de perguntar e compreender cada vez mais os fatos à

sua volta.

Freire, nesse sentido, como um educador referencial na história desde a

década de 60, mostra seu entusiasmo de ensinar desde criança e isso já lhe

despertava como um cidadão que quando adulto fosse fazer algo diferente para

mudar o rumo de muitas histórias de vida que pararam no tempo, no meio do

caminho, que interromperam seus sonhos, talvez por „educadores‟ que não

souberam lidar com sonhos e frustrações dessas pessoas. Educadores estes que

não tenham mostrado aos educandos que o aprender muitas vezes leva-os a certo

sofrimento e exige grande persistência e determinação, porém, não é algo

impossível. Pelo contrário, quando há uma relação de diálogo, comprometimento e

respeito entre educador e educandos, as dificuldades as limitações, a timidez e a

baixa estima dão lugar ao desejo de superar tudo isso e se tornarem cidadãos

emancipados.

As contribuições dos educadores da EJA preocupados com a consciência

crítica desses educandos são relevantes e permeiam caminhos infinitos. São

cooperações que estão intimamente relacionadas ao aprendizado e ao

desenvolvimento dos educandos. São características que influenciam tanto o

crescimento do aluno como do professor, pois ao mesmo tempo em que este aluno

passa a ter oportunidades de interagir com os demais colegas e com o professor,

assim também, deve ser o relacionamento do professor com os educandos, em

busca de uma relação aberta em que o professor demonstrará aos alunos suas

limitações, preocupações, respeito e a dignidade que gostaria de ter de seus

31

„superiores‟. Muitas vezes lhes são cobrados um trabalho eficaz na sala de aula,

porém, não lhes oferecem condições dignas de trabalho. O que acaba por dificultar

suas tarefas em sala, visto que, muitos desses profissionais têm de cumprir uma

excessiva jornada de trabalho, chegando à escola exaustos.

A aula, desse modo, não terá a mesma eficácia, não apresentará um sucesso

de ensino/aprendizagem como deveria se a realidade fosse outra. E para que esta

realidade seja contrária, é necessário que haja uma relação aberta com os

educandos, mostrando a eles que o professor não é um ser intocável, sem

problemas e dono do saber.

O professor deve sim, mostrar domínio do conteúdo que propõe ensinar,

contudo, se surgir algum questionamento que o educador não saiba, a melhor opção

segundo Freire (2003), é ser honesto e dizer que responderá em uma outra

oportunidade. É mostrar ao educando que na relação ensino/aprendizagem a

liberdade de expressão de ambos deve acontecer, pois o professor também tem

muito a aprender com os educandos, seja jovem ou adulto, em relação a seus

conhecimentos, vivências e experiências trazidas de seu cotidiano. É o respeito, o

diálogo que proporcionam aprendizados que contribuem para a superação de

obstáculos e a realização de sonhos.

Paulo Freire soube, com isso, ensinar com muita ousadia, compreensão e

determinação, mesmo diante de situações que diziam contrárias. Sua prática como

educador, deixou marcas significativas na história de diferentes cidadãos do mundo

inteiro, que foram e ainda são impactados até os dias atuais pelos ilustres

ensinamentos deixados por ele. Preceitos de um educador que demonstrou durante

toda sua vida ter respeito e compromisso na formação de cidadãos libertos, críticos

e reflexivos. Para Freire (2003, p.85):

[...] aprendi como discutir com as pessoas. Aprendi a respeitar seu conhecimento, suas crenças, seus medos, suas esperanças, suas expectativas, sua linguagem [...] aprendi para nunca mais esquecer que não podemos fazer nada se não respeitarmos as pessoas. Não podemos educar se não começarmos [...].

A superação de desafios dos educandos da EJA, mediante a intervenção do

educador, também acontece quando este profissional em sua prática cotidiana

consegue aplicar o conteúdo proposto pelos currículos ou pelos programas de

alfabetização, feitos em algum lugar do país com uma realidade cultural, social e

32

política totalmente diferente da realidade de outras localidades. Tratando esses

alunos como seres iguais, em que a individualidade de cada um fica esquecida.

Segundo Freire (2003), as pessoas querem e precisam aprender a ler e a escrever,

justamente a fim de ter mais possibilidade de serem elas mesmas. Assim, deve ser a

visão do educador da Educação de Jovens e Adultos, em que alfabetize, mas,

também vá além desse ponto, que tenha como objetivo transformá-los em cidadãos

do mundo. É trabalhar com as sombras, com os pequenos focos de esperança e de

espírito aventureiro onde quer que se encontre.

Freire (2003), desse modo, afirma que não se pode ter uma campanha

nacional de alfabetização, pois se assim proceder jamais se terá uma democracia a

qual existe na diversidade de opiniões, de expressões e pensamentos diferenciados,

pelos quais as pessoas se sentem livres a questionar, a participar. Sem a

concretização de tais questões não haverá democracia, porquanto, estas serão

impedidas de serem elas mesmas.

A prática educacional precisa envolver o educando em todo o contexto social,

político ou cultural. E não ficar focado em um conteúdo vazio que seja visto apenas

em sala de aula, sendo esquecido logo em seguida, pois o educando não consegue

contextualizar com seu cotidiano, perdendo assim, o interesse, a motivação de ir

novamente à escola. Ocasionando desistência de seus estudos e mais uma vez se

deparando diante de sonhos frustrados e aparentemente inalcançáveis. Para os

educadores, a grande lição de Freire (2003, p.160;183) para trilhar bem os caminhos

juntos a esses educandos é:

Criar em nós mesmos, através da análise crítica de nossa prática, algumas qualidades, algumas virtudes como educadores. Uma delas, por exemplo, é a qualidade de se tornar cada vez mais aberto para sentir o sentimento dos outros, para se tornar tão sensível que possamos adivinhar o que o grupo, ou uma pessoa, está pensando naquele momento. Essas coisas não podem ser ensinadas como conteúdo. Essas coisas têm que ser aprendidas através do exemplo de um bom professor [...], pois, é impossível separar ensinar de educar. Ao educar, eu ensino. Ao ensinar, eu educo.

Quando há contextualização entre os aspectos políticos, sociais e culturais

com os conteúdos trabalhados em sala de aula, as possibilidades da educação

como sendo o motor ativador da transformação do indivíduo, apresentam mudanças

positivas. Neste sentido, o professor da EJA deve estar atento às inovações, às

tendências, ao novo que a sociedade propõe, para que os educandos conseguem

33

fazer a relação do que está estudando com o contexto a sua volta. Freire (2003),

mediante suas obras, chama a atenção dos educadores para estarem abertos ao

novo, já que, segundo ele a resistência é o grande impedimento de conquistar novos

sonhos. É o medo desse novo, de expor a erros e se sentir frustrado que impede

novos olhares. Porém, sem os riscos e novas tentativas é impossível se alcançar as

belas transformações. Ainda defende que temos que ser livres para acreditar na

liberdade, pois sem ela se torna difícil entendê-la.

Quando o educador a compreende e decide enfrentar novos desafios, o

caminho a trilhar como educador se fará ao caminhar, ao experimentar e ao querer

cada vez mais compreender o que até então parecia impossível. O educador da EJA

precisa acreditar que é possível. Porquanto, a escola tem um papel fundamental

neste sentido de oferecer cursos preparatórios. Porém, deve ser uma preparação

diferenciada que vá gradativamente avaliar a experiência, a prática desses

educadores e logo após refletir sobre ela, mostrando-os as qualidades, as

inovações, a exposição ao novo, as tentativas de erros e acertos. Quando bem

trabalhadas sua atuação como educador será diferenciada e será realizada de forma

prazerosa, motivadora e espontânea. Assim sendo, será chamado por Paulo Freire

de educador progressista que revoluciona e respeita a si próprio e aos outros, que

ajuda as outras pessoas a conhecerem aquilo que já conhecem. Conforme Freire

(2003, p. 212):

Então, através desse tipo de trabalho profundamente serio, através de um trabalho que é, ao mesmo tempo, gentil e pesado e sério e rigoroso, precisamos formar, reformar, formar permanentemente os professores sem manipulá-los [...] por outro lado, ser progressista significa aprofundar a conexão com as massas, significa respeitar a crença das pessoas [...] todas essas coisas são como reconhecer que níveis de conhecimentos as pessoas têm, a fim de criar um novo conhecimento e ajudar as pessoas a conhecerem melhor aquilo que já conhecem. Não é idealismo, é coerência. É um processo revolucionário.

O professor da EJA deve estar sempre buscando alcançar esse objetivo de

ser um educador progressista conforme a proposta de Freire. Educador este que

trabalha além do conteúdo, da alfabetização desses jovens e adultos, todo um

contexto relacionado ao social, à sua vida e às experiências cotidianas. É trazer

sempre para a sala de aula assuntos com os quais os educandos relacionam-se a

suas vivências, sentindo-se motivados a participarem e a interagirem nas aulas.

Desse modo, o educador encontrará cada vez mais caminhos para auxiliá-los na

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contribuição da superação de desafios desses alunos, em busca de se tornarem dia

após dia, cidadãos ousados, críticos, capazes de conviverem em uma sociedade

que tenta a todo instante oprimir aquele que não possui os padrões exigidos por ela.

Um sistema que aliena as pessoas para que estas fiquem passivas diante dos

fatos e se conformem com o que lhe é imposto, continuando a ser apenas mais um

ser sobrevivente a um meio egoísta que não respeita o outro, pensando apenas em

seus próprios interesses. Reforçando assim, a concepção de Freire de que há uma

classe opressora e uma oprimida. Em que cada vez mais uma domina e a outra

obedece. Situações estas que ainda permeiam na sociedade, pois ainda existem

pessoas que não acreditam em si mesmas, deixando por alguns instantes roubarem

seus sonhos e suas esperanças, mantendo-se no status quo (permanecer como

está), reforçando cada vez mais a classe dominante.

Em busca de libertar essas pessoas que Paulo Freire há décadas atrás

propôs uma educação que tivesse um significado diferente, que fosse modificá-las

enquanto ser humano, libertando-as, se tornando cidadãos ativos, conscientes e

autônomos na sociedade. É de educadores progressistas assim, que a atual

sociedade ainda precisa, em busca de renovar as esperanças desses indivíduos,

fazendo com que se sintam como parte integrante, capazes de fazerem e refazerem

suas histórias como todo ser humano tem direito. Se unindo a esse pensamento

motivador, que os educadores da EJA têm tanto a contribuir para uma melhor

qualificação tanto pessoal como profissional desses jovens e adultos. É baseada

nessa relação de respeito, humildade, amor e comprometimento com uma educação

diferente, que educadores e educandos alcançarão seus sonhos, renovarão suas

esperanças de ser e estar em uma sociedade mais humanizada. De acordo com

Freire (2001, p.126):

De fato, quanto mais os oprimidos vejam os opressores como imbatíveis, portadores de um poder insuperável, tanto menos acreditem em si mesmos. Foi sempre assim e continua sendo. Uma das tarefas da educação popular progressista, ontem como hoje, é procurar, por meio da compreensão crítica de como se dão os conflitos sociais, ajudar o processo no qual a fraqueza dos oprimidos se vai tornando força capaz de transformar a força dos opressores em fraqueza. Esta é a esperança que nos move.

Esses aspectos abordados devem levar o professor da EJA a avaliar

cotidianamente a seriedade, a responsabilidade de sua função como educador. De

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como a prática educativa é algo sério. Segundo Freire (1995), o educador da EJA

lida com gente, com jovens ou adultos, participa de sua formação, ajuda-os ou os

prejudica nesta busca, porquanto, está ligada no seu processo de conhecimento.

Dessa forma, o educador deve estar atento, vigilante à sua prática, suas ações e

atitudes, pois por um lado, a „incompetência‟, a „má preparação‟, a

„irresponsabilidade‟, pode contribuir de forma significante com o fracasso do

educando, ocasionando ainda mais prejuízos emocionais.

Por outro lado, se o educador é comprometido, tem um preparo científico,

gosta de ensinar, mostra seriedade no que faz, compreende o educando enquanto

um ser que chega à escola se sentindo incapaz de aprender, desmotivado, sem

expectativas, consequentemente, com as contribuições positivas desse profissional

capacitado, preparado para tal atuação, esse educando conseguirá êxito,

melhorando assim, sua estima, atingindo desse modo, um aprendizado de

qualidade, tanto no aspecto escolar como pessoal. Nesse aspecto, o educador terá

conseguido receber esse indivíduo na sala de aula com sabedoria, com práticas

pedagógicas que o motivou a superar tais desafios, fazendo-o sentir que a escola é

um lugar acolhedor e conta com o apoio de um professor amável, tolerante, humilde,

compreensivo e receptível. Assim, esses educandos vão se tornando presenças

marcantes no mundo. Segundo Freire (1995), reconhecer tal responsabilidade como

educador é reconhecer a importância de nossa tarefa, não pensando que ela é a

mais importante entre todas. Significa reconhecer que ela é fundamental. Algo mais:

é indispensável à vida social.

Nessa linha de pensamento, Freire deixou conselhos, „métodos‟, estratégias

pedagógicas que o educador de jovens e adultos possa refletir. Exemplos esses que

são alicerces extraordinários para serem seguidos em busca de obter sucesso nas

suas práticas educacionais. Outro aspecto que deve ser ressaltado é a ênfase que

Freire fez ao recusar à arrogância. De um educador jamais agir em sua prática como

aquele que alardeia sabedoria, no fato de ser o único reconhecido como capaz de

transmitir algo a alguém, como se os demais fossem meros ignorantes. Neste

sentido, a tolerância é vista por ele como um refúgio para sobrepor a esta

arrogância, considerando-a como virtude que ensina o indivíduo a conviver com o

diferente, a aprender com ele e a respeitá-lo. Para Freire (1995, p.56):

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A arrogância do “sabe quem está falando?”, a empáfia do sabichão incontido no gosto de fazer conhecido e reconhecido o seu saber, nada disso tem a ver com a mansidão, não com a apatia, do humilde [...]. A sua única verdade que necessariamente deve ser imposta aos demais. É na sua verdade que reside a salvação dos demais. O seu saber é “iluminador” da “obscuridade” ou da ignorância dos outros, que por isso mesmo devem estar submetidos ao saber e à arrogância do autoritário ou da autoritária.

Paulo Freire como ilustre educador na história, sempre se opôs a educadores

arrogantes, prepotentes. Sempre mostrou que a educação precisa de educadores

que façam diferença, que estejam dispostos, que anseiam em seus corações

contribuir de forma significativa para mudar a história de muitas pessoas. No

entanto, segundo Freire (1995, p. 70) “Querer é fundamental, embora não seja

suficiente”. É preciso saber transmitir isso aos educandos, estimulando-os a também

querer e persistir na luta de alcançar novos estágios em suas vidas, para que haja

um mundo melhor, menos individualista. Assim, é importante que o educador da

EJA, segundo Freire (1995), tenha competência, lealdade, clareza, persistência, que

some forças para enfraquecer as forças do desamor, do egoísmo.

Esses educadores, desse modo, estarão contribuindo para formação de

cidadãos responsáveis e críticos. Fator este indispensável ao desenvolvimento da

democracia no atual século. Para que tudo isso seja concreto se faz mais uma vez

necessário o diálogo com o educando, buscando compreender seus pensamentos

em relação ao seu contexto, seja social, político ou cultural. É interagir no mundo do

educando para que se torne possível ensiná-lo. É respeitá-lo independente de sua

cor, sexo ou classe social. De acordo com Freire (1995, p.105):

E quanto mais penso e atuo assim, mais me convenço, por exemplo, de que é impossível ensinarmos conteúdos sem saber como pensam os alunos no seu contexto real, na sua cotidianeidade. Sem saber o que eles sabem independente da escola para que os ajudemos a saber melhor o que já sabem, de um lado e, de outro, para, a partir daí, ensinar-lhes o que ainda não sabem.

Ser um educador, portanto, compromissado com uma educação de qualidade

para os alunos da EJA, significa segundo Freire (1996) ensinar com bom senso,

humildade, tolerância, alegria, esperança, comprometimento, luta em defesa dos

direitos dos educandos e apreensão da realidade. É ter a convicção de que a

mudança é possível e acima de tudo, transmitir a esses educandos que as

dificuldades, os obstáculos existem, mas para serem superados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tratar da Educação de Jovens e Adultos relacionando seu contexto histórico,

as grandes contribuições de Paulo Freire, os desafios que os educandos dessa

modalidade, seja jovem ou adulto devem superar e de que forma o educador da EJA

pode contribuir para que esses educandos vençam os obstáculos e conquiste o

conhecimento se tornando cidadãos conscientes e inovadores, foi uma oportunidade

singular que envolveu tamanho entusiasmo e interesse em buscar cada vez mais

livros e artigos relacionados ao tema escolhido para essa monografia. Como

também de seu principal norteador, o educador Paulo Freire que encanta o leitor

com sua posição de almejar dia após dia uma educação vista como um ato de amor,

que com respeito, humildade e diálogo, transforma o indivíduo em um ser com um

novo olhar para a vida.

Suas expectativas, sonhos e esperanças ressurgem em meio a um cenário

aparentemente impossível a possibilidade de começar ou recomeçar seus estudos

novamente e se sentar outra vez ou pela primeira vez em um banco de uma escola,

esperando encontrar neste ambiente, um local acolhedor com profissionais

preparados a contribuir de forma significativa na formação de cidadãos capazes de

questionar, interagir com o conteúdo apresentado. Conteúdo este que deve ter

relação com o cotidiano dos educandos. Visto que, não se vai à escola apenas para

aprender a ler e a escrever, não se estuda unicamente pelas normas, pois o ser

humano integra a uma história que se constrói a cada momento vivido e acredita-se

que seja como for, pode ser acrescentado algo de si nessa história, o que só será

possível a partir da expressão de cada um, do modo como é representado os

pensamentos e desejos, ou seja, a subjetividade de cada educando.

O estudo realizado neste trabalho sobre a EJA, Paulo Freire e os demais

autores citados, deixa evidente que os ideais, os sonhos de Freire para a Educação

de Jovens e Adultos não foi algo que aconteceu há décadas atrás e ficou esquecido.

Mas sim, exemplos de um educador que mesmo taxado como sonhador e

idealizador de uma educação impossível por uma sociedade elitista, opressora que

se preocupava exclusivamente com seus próprios interesses, este educador

determinado não se intimidou, perseverando com seu desejo de ver uma sociedade

mais justa, mais igualitária, onde todas as pessoas pudessem ser respeitadas,

gozando de direitos iguais, de uma educação de qualidade para todos. Assim, tais

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exemplos deixados por Freire mostram mesmo depois de anos a fio, que a

Educação de Jovens e Adultos pode continuar formando cidadãos reflexivos,

conscientes e autônomos. Basta que os atuais educadores tenham também como

objetivo os ideais de Paulo Freire que foi e sempre será um marco na história da

EJA.

Para isso, será decisiva a relação que se estabelece na escola entre o aluno

e o professor, assim como, a forma pela qual o aluno possa ocupar o seu espaço de

autor, pois o educando jovem ou adulto traz consigo uma memória em que a sua voz

raramente foi ouvida, sendo sufocada pela voz dos considerados mais „fortes‟, tendo

que se calar ao ser questionado.

Na educação a escola deve ser o espaço de todas as vozes, de todas as falas

e todos os textos, sendo o professor alguém que não se apresenta como possuidor

de um saber maior do que os demais, capaz de corrigir e aprovar a escrita dos

outros, mas alguém que vem dialogar e criar as condições necessárias, como

mediador, para que todas as vozes sejam ouvidas e tenham a oportunidade de

crescerem juntas e serem ilustres cidadãos conscientes e autônomos na sociedade.

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