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    1/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 01

    EXPRESSES!EXPRESSES!Mais que dizer - Transmitir.Ed. 22 Ano 2

    Jos Danilo Rangel - Vanessa Galvo - Rafael de Andrade - Ulisses Machado -Marcos Ferraz - Bruno Honorato - Wilson Spiler - Zeno Germano - Ana LuizaMoreira Costa - Renato Gomez - Patrcia Rangel - Douglas Digenes

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    2/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 02

    EDITOR

    Jos Danilo Rangel

    CO-EDITORA

    Vanessa Galvo

    COLABORADORES:

    Douglas Digenes - Capa

    Rafael de Andrade - Literatura em Rede

    Marcos Ferraz - Conto

    Ulisses Machado - Decodificando

    Ana Luiza Moreira Costa - Entressees

    Zeno Germano - Poesia

    Wilson Spiler - Poesia

    Bruno Honorato - PoesiaRenato Gomez - Poesia

    Patrcia Rangel - Ilustraes

    Capa: Dinho, da Malcriados, mandando ver na escadaria da Unir, durante o Grito Rock,Foto: Douglas Digenes

    e x p e d i e n t e

    para mais, clique na oto:

    http://www.moshphotography.com/
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    3/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 03

    NDICE

    Prembulo..................................................................04Aviezinhos de Papel....................................................................06Se Mudar Pra Qu?.....................................................................12Decodifcando: Uns Poemas Alguns Problemas.......................17Literatura em Rede: Sobre o Ensinar Arte.......................21Poesia: Grade...............................................26Transtorno........................................................................27Funeral.........................................................28Masturbao Artstica......................................................29Isso Poesia?...............................................30Olhos................................................................31Diferente Para Cada Melodia.......................................................32Mrmore....................................................33Aparea..............................................................34

    Bonita...............................................................35O Mar.............................................................................36Reexes (Desajeitadas) Sobre a Poesia...................................37Tweet Potico......................................................39Do Leitor..............................................................................42Envio de Material........................................................................43

    Aviezinhos de PapelPor Marcos Ferraz

    Conto

    Se Mudar Pra Qu?Por Jos Danilo Rangel

    Crnica

    pg. 06

    pg. 12

    Sobre o Ensinar ArtePor Rafael de AndradeLiteratura Em Rede

    pg. 21

    Uns Poemas Alguns ProblemasPor Ulisses Machado

    Decodificando

    pg. 17

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    4/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 04

    Eita, mais um inacreditvel nmero da EXPRESSES!, ovigsimo segundo, e sempre que termino mais um, co pensando: atquando vamos com isso? Tomara que ainda muito...

    Uma das coisas que gosto na revista poder apresentar o tra-

    balho de gente nova e esse nmero me deixou particulamente contentepor ter as ilustraes da minha irm, Patrcia Rangel, que est adentran-do o mundo da ilustrao digital e preparou as ilustraes do Conto e daseo Literatura em Rede.

    Alm dessa estreia, no entressees voc vai conerir otosde Ana Luiza Moreira Costa. Na poesia, temos Zeno Germano, proes-sor e msico, com trs poemas curtos e bem psicolgicos, tambm napoesia, Wilson Spiler, de Niteri, que deve agradecer a sua amiga DaianeMoura pelo marketing. Alm deles, Bruno Honorato e Renato Gomez

    nos apresentam alguns de seus trabalhos. No esqueamos de mim.

    Marcos Ferraz, que j esteve por aqui com o As Pedras doRio Morto e pode ser includo na comemorada srie revisita, volta aparticipar da revista com o conto Aviezinhos de Papel, uma alego-ria ldica, suave. Outro que de novo nos visita Ulisses Machado (eleque j nos apresentou o conto Um Encontro Com Deus) que aproveitainterpretaes de algumas poesias minhas como ponto de partida paraalgumas refexes em Uns Poemas Alguns Problemas. Outro que alade mim o Raael de Andrade, meu maior , para conerir s ir ver o

    seu Sobre o Ensinar Arte.

    Por m, vamos alar da capa. A oto de Dinho, tirada duran-te a apresentao da banda Malcriados no Grito Rock PVH, do nossoamigo viciado em caena Douglas Digenes que anda registrando oseventos de Porto Velho e do mundo e nos mostrado um grande trabalho.Para conerir mais otos s acessar: http://www.moshphotography.com/

    No mais, espero que goste!

    Porto Velho - Maio de 2013Jos Danilo Rangel

    PREMBULO

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    5/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 05

    p a r c e i r o s :

    http://www.flasheslapoa.com/http://www.selmovasconcellos.com.br/http://bandavuaderafatal.webnode.com//http://www.moshphotography.com/http://www.newsrondonia.com.br/http://www.expressoespvh.blogspot.com/http://www.facebook.com/pages/Revista-EXPRESS%C3%B5ES/219207738122421
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    6/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 06

    Conto

    Aviezinhosde papelMarcos Ferraz

    Ilustrao: Patrcia Rangel

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    7/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 07

    Era domingo e seus pais recebiamseus tios. O garoto tinha oito anos de idade.Adorava quando tinha visita em casa, principal-mente quando era esse tio. Ele o adorava e osentimento por parte do tio era recproco.

    Almoava ao lado dele, assistiam aojogo de futebol na televiso, e na soneca da tar-de dormia no colo do tio. Era uma criana ado-rvel, por isso todos gostavam dele. Chamava aateno sem precisar chamar a ateno. Cha-mava a ateno porque no fazia nada. Era in-teligente, educado e sonhador. Sonhava em serigual ao tio. E ao pai. Queria ser uma misturados dois.

    Quando era noite, estavam todos na

    sala. Tinham acabado de jantar e agora jogavamconversa fora. O pequeno garoto foi juntar-se aeles. Ento o menino saiu correndo e voltou comum caderno de desenhos nas mos. Pediu paraque o tio olhasse seus desenhos. O tio elogioutodos. Falava dos traos, das cores, dos con-trastes. Dissera que o garoto era um talento.

    Mostrou o desenho de sua famlia,pai, me e com certeza seu tio tambm apareciana histria. Mostrou um desenho de um dinos-

    sauro enorme vegetariano. Uma roda giganteto grande quanto o dinossauro. Havia tambmo desenho de um campo de futebol onde ele jo-gava bola com seu pai e seu tio e sua me cava

    torcendo na arquibancada. Tambm um monstrocom o qual sonhara; no tinha medo, por issomesmo o desenhara, mas isso no quer dizerque gostava dele. Ah, sim, tambm havia um de-senho de seus brinquedos preferidos, que, ba-seado em uma animao, eles ganhavam vida.

    Houve muitos vrios outros dese-nhos, mas o ltimo deles mostrava-os na casa,nos fundos, prximos piscina, brincando, suame tomando sol e seu pai fazendo o churrasco.Quando seu tio virou esse desenho, a folha es-tava em branco, ento ele a arrancou.

    Ei! Meu caderno gritou a criana. Calma, rapazinho.Ento ele comeou a dobrar o papel.

    No nal, estava pronto um pequeno avio. Ele

    jogou e o avio foi voando pra longe, voou maislonge do que ele imaginava que fosse. O meninocorreu, pegou o avio e o jogou novamente. Es-tava encantado com o tanto que o avio voava.

    Segurou o avio na mo, correu parao caderno e arrancou mais uma folha.

    Faz mais um? pediu para o tio.E assim ele fez.

    Ento o garoto jogava os dois ao mes-mo tempo. Conforme eles iam voando o garotogargalhava. Correu para o caderno e arrancoumais duas folhas.

    Faz mais?Agora ele tinha quatro.Colocava os quatro no cho, pega um

    e jogava e assim ia sucessivamente at ter osquatro voando ao mesmo tempo. E assim queum caa no cho ele corria e o jogava novamen-te para que todos cassem voando.

    Mais uma vez ele correu para o ca-derno e de l tirou mais duas folhas.

    Mais. Rapaz. Daqui a pouco voc ter

    uma frota de avies maior que a Tam brincouo tio.

    Ele os entregou e no mesmo instanteo garoto os ps a voar.

    Eram tantos que agora ele no con-seguia fazer com que todos cassem voando ao

    mesmo tempo. Sempre havia dois no cho.Ele ria. Gargalhava observando os

    aviezinhos de papel voarem.Ele pensou em pint-los. Um de cada

    cor. Pegou sua caixa de lpis e se deitou nocho. Mas a pensou: No... assim so todosiguais. Nada os difere. Se eu pintar um de azule o outro de vermelho, um pode car com inveja

    do outro. E por tristeza no voarem mais. Melhorque quem assim.

    No satisfeito, ento, foi at o cader-no. Tinha inteno de arrancar mais duas folhas,entretanto havia s mais uma. Fez uma cara de

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    desapontamento, mas a arrancou assim mesmoe pediu para o que o tio zesse o ltimo avio.

    Ento ele cou com sete aviezinhos.Cansado de jog-los, correr, peg-los

    e jog-los novamente, deitou-se no colo do tiono sof.

    Hora de criana ir dormir disseseu pai.

    Me conta uma histria? Srio? perguntou seu pai. Sim. Vocs dois. Quero que vocs

    dois me contem uma histria ele estava se re-

    ferindo ao pai e ao tio.Seu pai levantou do sof correndo,

    imitando um dinossauro e gritou: Eu sou um dinossauro carnvoro e

    vou te comer.A criana levantou correndo to rpi-

    do quanto o pai tambm gritando: No. Dinossauro bonzinho s o

    vegetariano. Aaaaaaahhhhh!!!E foi para seu quarto.

    Quando estava embaixo das cober-tas, entraram seu pai e seu tio, este carregavatodos os aviezinhos. Colocou-os em cima doseu criado mudo ao lado da cama, logo abaixo

    da janela.Ento, cinco minutos depois, seu pai

    e seu tio contavam uma histria sobre um garotoque adorava aviezinhos de papel.

    Terminada a histria o tio disse: Agora eu vou fazer uma mgica e

    durante a noite seus aviezinhos voaro de ver-dade. No sensacional?

    Sim! gritou o garoto Quero to-dos eles voando.

    O pai rio. O tio fez uns movimentoscom as mos e disse:

    Abracadabra!! S isso? perguntou o garoto. Sim respondeu o tio. um fei-

    tio simples.Apagaram a luz e foram saindo do

    quarto.O garoto estava extasiado com o dia

    que passara e esperava ansiosamente pelooutro dia. O sono ia batendo e ele sentia seusolhos cansados. Ardia de tanto que forava para

    carem abertos.J meio em torpor, ele viu uma pe-

    quena luz azul piscando em seu quarto. Des-pertou. Procurou de onde vinha a luz, mas no

    Ento, cinco minutos depois, seupai e seu tio contavam uma

    histria sobre um garoto que

    adorava aviezinhos de papel.

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    encontrou a origem. Percebeu que seu pai seesquecera de fechar a janela. Levantou e olhoupra fora. Ventos brandos chacoalhavam as rvo-res do quintal. Seu quarto ainda recebia reexos

    de uma luz azul. Voltou para a cama, mas seu

    sono j se fora completamente. Ficou sentado.As rvores zeram, ento, com que o

    vento entrasse para sua casa. E o vento por suavez zera com que seus aviezinhos levantas-sem voo sozinhos.

    O vento soprou mais forte fazendoseus avies utuarem dentro do quarto.

    E como num passe de mgica todoseles caram coloridos: azul, vermelho, amarelo,

    verde, rosa. E todos eles soltavam luzes que

    piscavam intensamente. Brilhantes.Meu quarto o incio de um arco-ris

    pensou o garoto. E seu quarto realmente erauma verdade festa das cores brilhantes. Eratudo muito lindo para a pequena imaginao dogaroto.

    Ele desceu da cama e a empurroupara o meio do quarto, cando bem abaixo do

    redemoinho de avies que danavam piscandobrilhantes. Sentou-se com as pernas cruzadasbem ao centro da cama e cou olhando pra cima.

    Ele cou em p e agora os avies

    danavam em sua volta. Em seus olhos grandesreetiam cada cor dos avies.

    Muito prximo, ele relou em um avioque foi direto para o cho. Ao cair ele perdeua cor e parou de brilhar, mas projetou uma telabem sua frente, que mostrava uma cena deum dinossauro enorme comendo folhas de umarvore. De quatro patas ele se apoiava apenasnas de trs para car mais alto e alcanar a copa

    da rvore. Novamente ele sentou e cou assis-tindo. Iam surgindo mais alguns dinossaurosque tambm se alimentavam da mesma rvore.Poderia ser coisa de sua imaginao, mas praele os dinossauros se olhavam e sorriam.

    A projeo comeou a car trmula,

    como uma televiso com mau contato, at quej no havia mais nenhuma projeo. O aviozi-nho cou no cho.

    Foi quando ele tocou em outro... e de-pois em outro. Os dois caram no cho e projeta-ram duas telas. Em uma delas, estavam todos beira da piscina sorrindo. Ele pulava na piscina

    com seu tio, enquanto seu pai ia pra churras-queira e sua me cava tomando sol de biquni,

    culos escuros de armao branca e chapu de

    praia. Seu tio o pegava e o jogava pra ele cair nagua. As boias em seus braos no o deixavamafundar. A outra tela mostrava a maior roda-gi-gante do mundo. Toda colorida, cheia de luzes ecrianas e pais e mais crianas rindo aos mon-tes. Mais uma vez ele cou maravilhado com

    tudo o que via.Tudo se desfez.Ele levantou e escolheu mais um.As-

    sim que o avio encostou o cho projetou-se uma

    tela que dela saiu um monstro muito feio. Sempensar duas vezes, ele deu um pulo da camae comeou a bater na tela. Ela cou trmula e

    mais rpido que as outras se desfez.Relou em mais duas e uma delas

    mostrou um campo de futebol com grama muitoverde. Seu pai e seu tio iam correndo atrs deleporque ele estava com a bola. Atrapalhando-se,pisava na bola, escorregava e caa. Seu pai eseu tio riam e ele acabava rindo tambm. Da ar-quibancada sua me gritava para ele levantar ecorrer. A outra tela mostrava o seu desenho fa-vorito. Um em que os brinquedos tinham vida efaziam o que queriam. E quando ele olhava prolado, seus brinquedos preferidos tambm assis-tiam ao lme. Um deles falou:

    Onde j se viu? Brinquedos comvida! Essa nova pra mim. Tudo isso pra con-fundir a cabea das crianas.

    E a criana o olhava sem entendernada.

    Mais uma vez as telas sumiram.Sobrou, ento o ltimo avio, que vo-

    ava sozinho, sem cor. Em branco. Ele o relou e

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    o avio caiu. Caiu mais demoradamente que osoutros. Ia caindo em crculos. Lentamente. Do

    cho projetou sua tela. A tela, assim como ele,estava em branco. No reproduzia nada.

    Ele sentou-se na cama e cou aguar-dando, mas nada aconteceu. A tela apagou-se enada aconteceu.

    Agora estava tudo acabado.Nossa! Meu tio realmente sabe fazer

    mgica. E ele disse que era um feitio simples.Eu amo meu tio.

    Desceu, acendeu a lmpada do aba-

    jur e empurrou a cama de volta par ao seu lugar.Juntou os aviezinhos e os colocou onde seu tiohavia colocado anteriormente. Ficou olhando-os.Deitou e dormiu.

    Quando acordou pra ir at a escola aprimeira coisa que fez foi pegar seu caderno dedesenho e olhar detalhadamente o que j haviadesenhado. Era tudo igual. Quando chegou noltimo desenho, percebera que ainda havia umafolha em branco. Mas ontem noite no havia.

    Eu tenho certeza que no havia. V se arrumar pra escola, menino

    disse sua me. Cad o tio?

    Saiu cedo com o seu pai. Ele mesmo mgico.

    A me do menino cou sem entendernada. Franziu a testa e sorriu para o lho.

    Ele foi para o quarto e se arrumou.Desceu, tomou caf e voltou para o quarto parapegar sua mochila.

    Quando estava saindo, sentiu algoencostar em seu p. Quando olha pra baixoele v um pequeno avio. Branco. Olhou paraos outros e todos eles estavam coloridos. Ele mesmo muito mgico.

    Pegou o avio e o colocou em seu lu-gar. Olhou para os outros e pensou: hora dete dar uma cor.

    Pegou seu caderno de desenho e foipara a escola sorrindo.

    .......................................................

    Pegou o avio e o colocou emseu lugar. Olhou para os outros e

    pensou: hora de te dar

    uma cor.

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    11/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 11Fotos: Ana Luiza Moreira Costa

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    12/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 12

    SE MUDAR PRA QU?Jos Danilo Rangel

    Crnica

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    13/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 13

    mudar sempre um momento pa-radoxal, ao mesmo tempo que voc se prepa-ra para dizer oi s novidades tambm vai sepreparando para dizer adeus! s antiguidades.Tem gente que ca mais receosa que animada

    com as possibilidades trazidas pela mudana,tem gente que ca mais contente do que tris-te com ter que se despedir de uma casa e osmomentos que nela habitam. Mas essas soquestes para quem vai encarar a sua primeiramudana, ou a segunda, para mim, quej moreiem tanta casa que nem me lembro mais, no.

    Depois de tantas mudanas (e pare-ce que sair do Cear no foi suciente e pre-

    ciso pagar a sina de retirante mesmo dentro dacidade, migrando de bairro em bairro), a genteaprende a no mais criar razes em lugar ne-nhum, ento, quando preciso mudar, ca mui-to mais fcil se desapegar. E quanto ao outrotpico, as novidades adiante, no sou mais umadolescente ingnuo que via em cada novo bair-ro um sem m de possibilidades, vejo s outro

    bairro, para onde vou. Nem me alegro mais como que pode vir, nem me entristeo com que oca para trs, j sei que vai ter coisas boas e

    coisas ruins na mudana, que um tanto se perdee outro tanto se ganha, do lugar de onde saio edo lugar para onde vou.

    O evento mudana, contudo, medeixa com aquela preguia de antemo, aque-la vontade de procrastinar at no poder mais.Fico dias com fadiga por antecipao, imaginan-do o trabalho que dar colocar tudo em cima deum caminho, depois, despejar pela casa nova.Sem falar nos dias seguintes arrastando os m-veis pelos cmodos at que eles encontremum bom lugar para car, depois, vm semanas

    e mais semanas at se acostumar com a novacongurao da residncia - onde cam os quar-tos, onde ca a cozinha, os interruptores, onde

    que se liga a gua. Enm, quanto a isso, sou

    muito menos ambguo que noutras situaes,no gosto de me mudar.

    J ouvi gente falando de mveis inte-ligentes, eles se dobram, se adaptam, so pro-gramveis e bl bl bl... Para mim, inteligentes

    seriam os mveis que soubessem encontrar umlugar na casa para car. Melhor que isso, mveis

    a que, na mudana, bastasse dar o endereo edizer: encontro vocs l. Ou que pelo menos,subissem por conta prpria no caminho.

    2. Agora que voc, amigo leitor,sabe que no gosto de me mudar exatamente

    pelo evento mudana, sempre uma incrvelchatice, pode imaginar o quo contente eu quei

    ao saber que a mudana seria feita, no em umcaminho, mas com a ajuda da saveiro do meucunhado. Quem inventou isso? Minha me. Ago-ra, vai mais adiante e pense em quanta felicida-de me trouxe (e mais ainda ao meu cunhado,que deve agradecer a minha me por ter sidoenvolvido) passar um sbado inteiro carregan-do e descarregando uma saveiro, com geladei-ra, fogo, cama, ventilador, trouxas de roupa ebregueos em geral. S vou dizer que, depoisdaquele sbado, gosto um pouquinho menos demudar.

    3.Acabo de me mudar. Depois dequatro anos no Aponi, e digo que quatro anosso o suciente para se aprender a reconhecer

    um lugar como seu, mudei para o So Joo Bos-co, que mais perto do centro. O engraado que eu me sinto mais em casa fora da casa novado que dentro dela. J morei nesse bairro, en-

    Para mim, inteligentesseriam os mveis quesoubessem encontrarum lugar na casa para

    ficar.

    ...

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    14/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 14

    to, apesar das mudanas, que foram poucas,uma pintura aqui, uma reforma ali, reconheoperfeitamente as esquinas, os estabelecimentose at os rostos que por aqui passeiam, emboraseus donos estejam mais velhos, mais altos, oumais gordos. Por aqui, tudo isso me parece fami-liar, exceto, o interior da casa. J acordei noiteme perguntando onde estava. Ainda estranhoacordar e no ver o teto de sempre, a fresta daporta de sempre, que sempre estava do lado da

    minha cabea. At o espao que tenho dispo-nvel estranho, por um momento, como asparedes tivessem se afastado um pouco, ou eu,encolhido.

    Olho para a casa ainda cheia de cai-xas, ainda cheia de espaos e de mveis queno sabem onde car, olho para as paredes que

    nunca me ouviram nem testemunharam nadade importante e co pensando: em quanto tem-po essa casa deixar de ser uma casa e sera minha casa, o lugar para onde voltarei, meureino? Aposto que, se esse fosse o tempo dapraa do half e eu ainda bebesse como antes,iria parar no Aponi em qualquer uma dessasmadrugadas. Uma vez, isso aconteceu e nemestava bbado.

    Lembro que estava com pressa, nolembro o motivo, mas tinha pressa, ia pegar al-guma coisa em casa, era algo importante, euacho. Subi na bicicleta e voei at em casa, che-gando ao porto, pulei da bike e sai correndopara casa, a, olhei pela janela e no reconheci

    os mveis. Na mesma hora parei, perplexo, umtanto aturdido outro tanto sem flego, pensei:o que est acontecendo? O que foi que acon-teceu? A resposta era simples: eu no moravamais ali e j tinha uma ou duas semanas.

    4. Embora goste de situaes inusi-tadas para colorir um tanto o quadro monocro-mtico do cotidiano, admito que, por outro lado,uma boa rotina me atrai. Eu sei o tanto que oscomportamentos automticos so denunciadoscomo os opressores do pensamento, e sempreque ouo algum falando mal deles, geralmente

    concordo, mas no em tudo.

    Os hbitos tm pelo menos um pa-pel importante na vida, o de reduzir o estresse.Imagine o quo estressante seria ter que pensartodas as atividades antes de elas serem execu-tadas, ter que planej-las. Um dia desses, fui fa-zer um arroz e fritar uma carne para comer. Foidifcil. Primeiro, onde esto as panelas? O sal,onde foi parar? Cad o leo, a faca, as colheres,enm, tive que ir procurar o que precisava antes

    de poder usar.

    Pode parecer bobagem, mas, pormais bagunada que a casa esteja, sempre te-mos uma noo de onde cada coisa se encontrae se no sabemos sua localizao exata, pelomenos somos capazes de determinar um per-metro onde focar as buscas. Quando mudamos,s temos a seguinte certeza: deve estar dentrode uma das 1200 caixas. Preciso de uma ca-misa? Tenho que procurar. Preciso de um cd?Um livro? Preciso abrir caixas e mais caixas. foda...

    Para quem no sabe, minha forma defazer muitas coisas em pouco tempo consiste nasimples habilidade de car pensando, planejan-do, premeditando o que tenho que fazer duranteas atividades rotineiras. Se estou trabalhando,e geralmente meu trabalho preencher tabelase mais tabelas, ocupo parte do meu pensamen-to antecipando atividades. Quero escrever umanova poesia? No preciso parar de fazer o que

    Os hbitos tm pelomenos um papel

    importante na vida,o de reduzir o estresse.

    ...

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    15/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 15

    estou fazendo, penso enquanto fao, depois mesento em frente ao computador e escrevo. Andocom alguma questo losca para resolver?

    Resolvo-a dentro da cabea, operando normal-mente no meu cotidiano. Acho que Aristteles

    falava que pensava andando, eu tambm gos-to de pensar em movimento, a diferena queno preciso exatamente andar, posso cozinhar,jogar videogame, andar de nibus, conversar,enm, fazer coisas com baixa carga intelectual.

    Agora, entanto, que tudo est diferente e precisome ocupar na busca de todo objeto que precise,pelo menos em casa, tenho pensado menos.

    No sei se cou claro, mas o que

    quero dizer que os hbitos, as rotinas compor-tamentais, os atos de todos os dias, j empedra-dos, em vez de me atrapalharem, em certa me-dida, me ajudam j que, parado, eu no consigome concentrar direito. Se no posso, entanto,execut-los automaticamente, no consigo meocupar direito com o que estou pensando.

    5. J falei que depois de um tempo,a gente aprende a no criar razes, est semprepronto para se desligar. Tem um lado bom. Teveum tempo que o meu lugar era a praa do half,pois, por mais que me mudasse, a galera de lsempre estava l, isso mudou tambm e a praadeixou de ser um lar para mim, o que resultounum sentimento diferente. Hoje em dia, me sintoem casa em Porto Velho.

    Muito da cidade vem a mim e mecontempla com um aspecto familiar. So as ruasdo convvio, os bairros, o centro. Sempre queando por a, percebo um pouco de mim pela ci-dade, aqui, j z isso, estava ali, quando aquilo

    me aconteceu... As pessoas tambm, sempreas olho e as reconheo - conhecidas ou des-conhecidas, sempre trazem algo de particular-mente familiar. Conheo o sol daqui, as chuvas,sei para onde ir quando quero beber, comer, seionde esto os meus amigos e os lugares ondecar atento.

    E se estou na cidade, a cidade tam-

    bm est em mim (e depois que li o Poema Sujodo Gullar, isso cou claro, poeticamente claro.)

    Em muitos aspectos, mas vou falar apenas queesto espalhados por alguns tempos e lugaresde Porto Velho minhas lembranas preferidas e para l para onde vou quando relembro algo,ou quando conto as histrias de sempre.

    6. Acabo de lembrar de um casoque serve muito bem para exemplicar o dito:

    s vezes, a vida irnica. Comecei a trabalharno Idaron, em 2009, e quando cheguei l o queestava acontecendo? Mudana. Pode? Poden-do ou no, foi o que aconteceu.

    Depois da, foram uns meses carre-gando cadeiras, mesas, computadores, e todaessa parafernlia sempre vista pelos escritrios.Enchendo e esvaziando caminhes, movendomveis para l e c... Por m, digo que eu pode-ria muito bem ter escrito o mito de Ssifo, porqueo vivo, com a diferena de que, no meu casono chego ao topo da montanha e retorno a suabase, mas tenho todo ponto de chegada comoum novo ponto de partida.

    ...............................................................

    Comecei a trabalharno Idaron, em 2009, equando cheguei l o queestava acontecendo?

    Mudana. Pode?

    ...

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    16/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 16Foto: Ana Luiza Moreira Costa

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    17/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 17

    D3C0D1F1C4NDO

    UNS POEMAS

    ALGUNS PROBLEMASUlisses Machado

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    18/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 18

    Ao mesmo tempo em que pensa-rei sob uma perspectiva iluminista passo a umasria crtica ao Iluminismo. certo que algunsiluministas sabiam j desse porm, da a ironiade Voltaire e Montesquieu. Para tal apoiar-me-ei

    em trs poemas de Jos Danilo Rangel.

    1) O primeiro poema pequeno, inversamenteproporcional proposta que traz. que ele seprope, talvez, a fazer-se paralelo ao leitor: vul-garmente uma mente que se abre:

    Mude o olhar

    que tudo muda.

    2) O segundo uma espcie de descrio deum processo (kafkiano?) de mutao provoca-do pela consequncia do primeiro poema. O serse percebendo pequeno, errado, no errado emtudo, no nos fundamentos, mas talvez nos prin-cpios. Para ajudar: a metamorfose ambulantede Raul Seixas, sem aquela loucura, porm. um ato de iluminar-se, doloroso claro. A velha

    metfora: a claridade incomoda muito quandoacordamos, quando estamos no escuro h mui-to tempo. necessrio ir buscar mais, alm dobvio, alm das supercialidades, da informao

    fcil e cida. Vale dizer ainda: alm do velho e

    cansado senso comum; alm e alm do que seache ser o alm do senso comum. E ainda mais.

    De tanto me debater

    dentro de mimcomo dentro de uma jaula,

    acabei quebrando-me...embora fosse to duroe to orgulhoso da dureza.

    No me senti morrer,fora da couraa,me senti outro...

    No, no sonho mais ser pedra,sou de outro elemento agora,

    e prero a pele como est.

    3) Do amolecimento do ser que se metamorfo-

    seou vem o apagar das luzes do Iluminismo. An-tes; a pedra que se enternece. O homem quedeixa as ideias xas de lado, que se rev. Uma

    ladainha to aprendida mas nada apreendida. necessrio apagar um pouco das convices

    irreetidas ou muito mal reetidas. Se h umalio da Histria que devemos conhec-la parano cometer os mesmos erros, pelo menos noexatamente do mesmo jeito, com as mesmasnuances, com os mesmos horrores. O horror, ohorror!. E o poeta nos ensina mais ainda do quesou de outro elemento agora/ e prero a pele

    como est. De pedra insensvel, que no sentedor mas tambm no percebe a vida e a dor dosoutros, se transforma em carne que tem pele, e

    pele sensvel, dolorosa - humana: est feito ohumanismo. E o poeta nos diz isso machucan-do, nos ferindo no mesmo processo em que nosensina a sentir, no a morte, que tambm elecarrega consigo, mas a vida, a mudana. E co

    aqui com a mudana de pensamento.

    Medo de Fogo

    1.Ouo muita gente falando de mudana,mas olhando bem, mas ouvindo bem,d pra perceber que o que queremno mudana.

    No querem alterar o estabelecido,porque s podem partir dele,s podem pensar dentro dele,s podem viver nele,segundo suas condies,fora dele, no.

    Porque o movimento que veemno veem como um dos movimentosdentre todos os outros movimentos possveis,veem-no como nico movimento possvel.

    2.No, eles no querem mudarporque a realidade que concebem,tambm concebem como a nica,para alm dela, no veem nada.

    No, eles no querem mudar,

    porque no sabem elaborar verdadesa partir do que veem e ouvem e vivem,e a mudana desmontaria

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    19/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 19

    suas verdades prontas.

    No, eles no querem mudar,porque verdades se despedaariame sem saber constru-las, teriamde esperar que algum o zesse

    por eles.

    No intervalo,estariam desamparados.

    No, eles no querem mudar,imaginam o desamparo, e calamo que falavam s por falar.

    3.Talvez ningum realmentese interesse pela mudana,j que mudar jogar dadospara o alto.

    Se tudo como estno est bem, mas suportvel,por que brincar com a sorte?

    Se tudo como estest bem, satisfeito,quem vai querer arriscar?

    4.Tudo como est, talvez no esteja bom,pra uns, talvez, esteja para outros,mas sobre tudo como est que est feitoo conhecimento de como tudo est,mudando, outro conhecimento serianecessrio.

    Mudasse e muito (talvez tudo)do que vale para agora,no valeria para depois,quando o depois fosse o novo agora.

    E seria preciso esperarque as coisas se assentassempara ento, assentadas,fosse possvel retirar delaso costume de estar com elas.

    5.As coisas se organizam de um modo talque alguns esto acima e outros,abaixo, de modo tal que parece interessarpara uns e outros que que assim

    a organizao das coisas.

    Para os de cima, porque esto em cima,s se for para subirem mais,a mudana.

    Para os de baixo, porque estando embaixo,no desejam seno estar acima,a mudana que interessa a mudana de lugar querem subir,o resto que continue como est.

    6.Concordo com Herclito,a realidade arde, fogo,no sempre que d certomexer nas brasas.

    Tudo em movimento,e mesmo que por um instante,um fogo se mantenha,no se mantm para ldesse instante.

    Eu concordo, efmero, uma chama que se ateianum montculo de palhas,qualquer vento apaga.

    Mas por que no sera mo riscando o fsforo?

    Vai que essa fascafaa um fogo, que no dure,mas que se alastre e incendeie,em muitos outros fogos,

    No valer o risco, esse incndio,das provveis, das quase certas,

    queimaduras?

    E o poeta acaba com uma perguntaarrasadora depois de nos deixar com as mosqueimadas ao longo de mais de 20 estrofes equase 100 versos, to queimadas e to doloro-sas de vergonha e remorso.

    A resposta no, no vale o risco,embora j estejamos queimados mesmo semmudanas. E era isso que Voltaire sabia. Pormais luz que haja no queremos ver, no abri-mos os olhos, no samos da caverna. E quandoalgum consegue sair ao se libertar dos grilhese voltar para nos trazer a notcia da luz: em terrade cego quem tem um olho apanha.

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  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    20/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 20Fotos: Ana Luiza Moreira Costa

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    21/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 21

    Literatura em Rede

    SOBRE O ENSINAR ARTE

    OU UMA CRTICA AOS CURSOS DE ARTERafael de Andrade

    Ilustrao: Patrcia Rangel

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    22/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 22

    No suporto indiretas, no suportoironias, credito a esta forma de ao certa covar-dia daquele que o faz. Por isso, falo diretamenteque este texto uma resposta direta as conver-sas e debates que tive com o camarada Jos

    Danilo Rangel. Primeiro, creio que os debatesso extremamente importantes, mas no quan-do ocorrem apenas nas redes sociais ou nosbares, mas elas devem gerar textos, ensaios,artigos jornalsticos que possam fomentar umaespcie de crescimento daqueles que escreveme observam o debate.

    Quando escrevo um ensaio ou umaopinio direta, elenco um nmero de pensado-

    res, de escritores ou crticos que corroboremcom a minha opinio, ou mesmo exemplos, ele-mentos exteriores que faam com que o que euescrevi (falei) tenha alguma forma de sentido.Escrever nas redes sociais um ponto de in-cio que deve levar aos textos, assim, lendo asrespostas e acompanhando o debate, cresce-mos enquanto estudiosos de arte porque emltima instncia, todo autor tambm leitor decrtica e teoria da arte. De forma alguma o fao

    para ofender e mais, creio que no serei censu-rado pelo nosso editor, mesmo eu criticando-o.Minhas fontes de anlise so os prprios apon-tamentos do Danilo sobre arte e criao, suasdicas para aquele que pretende ser escritor.

    Primeiro, existem formas de arte.Uma arte pode ser produzida friamente comose produz uma mquina. aquela forma de ex-presso que segue o ritmo da fbrica que nsde Rondnia conhecemos apenas como arte eexpresses do cotidiano ciberntico e a fbri-ca visa a padronizao dos sujeitos e de suasexpresses, por mais que elas queiram parecerdiferentes.

    Gostamos de usar como exemplos asmsicas do sucesso, mas nossas poesias abor-dam sempre a palavra, o amor e a repetio depalavras como quando, at quando, nas duasedies do Isso Poesia, vi duas obras extre-mamente parecidas, rogadas de palavras repe-tidas, s que uma estava com apoio sonoro, aoutra no (Elizeu Braga na primeira edio e o

    outro no conheo o nome do poeta). Em nossasociedade, at mesmo a arte cpia, cpia deJoo Cabral de Melo Neto, eu mesmo j tenteiser cpia de muitas pessoas e quem eu copioagora? Atualmente estou lendo Huxley, e j es-crevi um conto copiando-o, fazendo minha lei-tura de Admirvel Mundo Novo, no me excluo(nem nunca me exclui) de minhas crticas.

    Se vivemos em uma sociedade ondeboa parte da arte cpia, mesmo que com ele-mentos tecnolgicos diferentes, como se to-dos ns pintssemos o mesmo ovo, mas compincis diferentes. Nessa sociedade, creio quecursos de arte so extremamente malcos

    para aquelas almas que podem ser diferentes.Minha experincia com alguns prossionais da

    arte aqueles que ganham dinheiro com isso da regio Sul e Sudeste que os cursos de artegeram uma padronizao da forma de escrever,geralmente fazendo sempre referncia aos pou-cos livros que o faz o curso ou em elementos damdia que ele tem acesso, como seriados, nove-las, lmes, etc.

    No suporto indi-retas, no suporto

    ironias, credito aesta forma de aocerta covardia da-quele que o faz.

    ...

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    23/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 23

    Mas aquele que promove o cursosempre ganha seu dinheiro duplamente, ven-dendo o curso e promovendo o livro dos novosautores, que no passam do mais do mesmo. como um professor descompromissado coma formao crtica dos educandos, unicamentepreocupado com seu salrio, com as notas ecom os ndices de suas escolas geralmentequem vende um curso de arte no sabe o que arte, foi formado por uma pessoa ou por umaescola cientca.

    Ao contrrio do que Jos Danilo ar-mou em muitos momentos, meu pensamento dearte no elitista, para poucos, muito pelo con-trrio, ele para todos. No para aquele queacessa as redes sociais ou mesmo aquele que nosso amigo, que tem acesso a ns, artistas jiluminados o suciente para ensinar mais uma

    vez volto ao elogio, o karat diz: quem muito elogiado, de aluno pensa que mestre meupensamento parte de que arte no pode ser en-sinada, que ela pode ser descoberta dentro desi a partir de sua trajetria existencial, de sua

    forma de ler o mundo, de suas leituras e crticas,de sua busca pelo prazer ou dor, mas nunca deum professor habilitado por qualquer que sejasua habilitao. No confundir tcnica com arte,talvez tenhamos dominado a tcnica, mas ainda

    no a arte, porque somos todos aprendizes.

    No consigo conceber uma criaoartstica verdadeira (que a soma de tcnicas,sentimentos, existncias, segundo Tolstoi) base-ada, partindo da imitao, do padro, parecendoa pera rock do Pink Floyd, uma grande mqui-na de padronizao ou uma mquina de moercarne, todos iguais, todos massa. Tenho grandemedo e ressalvas com relao esta forma de

    ensinar arte, que no pode ser ensinada, ape-nas sentida, cada um em sua singularidade so-cial, j que estamos sozinhos e nunca estamosde fato.

    No consigo conceber Kafka ou Rim-baud (que j foi um monstro da literatura france-sa aos 12 anos) fazendo cursos de poesia, noaprendendo com seus amores por pessoas oupor livros. Quem de ns teve um curso deste?E porque agora nos sentimos bons o sucien-te para ministrarmos um curso, ou apontarmosverdades sobre a obra, nossa crtica deve seresttica arte no esttica e por isso ela apenas uma fala sobre a obra do outro, nunca a obra do outro. Temos que tomar cuidado comisto.

    No suporto mentir conformidade,nem bajular para poder ser parte do grupinho.No faz parte da natureza do artista, ou do l-sofo, como armaria Nietzsche. Parte de minha

    formao veio dele, ele mesmo se perguntoupor que um artista?, e eu posso responderque no foi por causa de um curso ou por dicasescritas de como escrever seus Zaratustras.

    ...........................................................

    Meu pensamentoparte de que arte

    no pode ser en-sinada, que elapode ser descober-

    ta dentro de si apartir de sua traje-

    tria existencial

    ...

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    24/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 24Fotos: Ana Luiza Moreira Costa

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    25/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 25

    P O E S I A

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    26/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 26

    GRADE

    De movimentos plsticos , dimensionaisTal instrumento pra pensar, ao dispor.Nos envolve , nos cerca e d clamor.Chegamos juntos s nossas buscas elementais

    Nossa realidade interna e misturaMitos, atos e conceitos

    Singulariza e potencializa preceitosDo nosso lugar, da nossa loucura.

    De um particular sentidoBion outro sentido dio, amor.

    E, se obtido, continente, contido.Tem dor!

    Zeno Germano

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    27/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 27

    TRANSTORNO

    De um espamo escatolgico e ebrilBorbulha uma tempestade insanaQue traz acesa a chamaDe um desejo que nunca se viu.A erida echada do corpo senilEstourou ento quando na cama,O surto esquizornico de quem ama

    Mostrou-se como quem enm partiu.Partiu em bloco a menteQue aminta est no homem doenteComo velhice que tortura proundamenteCalando a boca que j no tem dente.

    Zeno Germano

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    28/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 28

    FUNERAL

    Deitei,No colo cansado da mulher que me sabiaSabia sim que algo em mimNo mais ardiaE eu, ttrico, enm desciaAo undo do buraco que me acolhiaAo undo do buraco que criei.

    Zeno Germano

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    29/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 29

    MASTURBAO ARTSTICA

    RISCA, ROSNA E RASGARABISCA, RETRUCA E ESTRAGAESCREVE, REESCREVE E APAGAARRISCA, PETISCA E TRAGATRANSCREVE, TRANSCENDE E AFAGASE AFLIGE, SE AFOGA E NO LARGANO L, ESCREVE E DESCARGA.

    Renato Gomez

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    30/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 30

    ISSO POESIA?

    Adorar, sorer, pirarandar, ser ou no ser, podaradoar, sorver, provar

    somar, poder, acordarsonhar, prover, adotarsoltar, prender, amar

    pensar, ater, sondarpulsar, arder, sanarpassar, ao ler, saltar

    Renato Gomez

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    31/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 31

    OLHOS

    Olhando nos teus olhostive medo do escurolanternas naturaisque apagam o meu mundo

    janelas da tua almaque esvaem minha calma

    oegante, ato contnuome perco em tua retina

    num piscar de suas plpebraso instante to sublimeme transormo em vulcoe te despejo erupo

    as pupilas dilatadasdescompasso cardaco

    co de mos atadasdo ritmo ao suspiro

    a maquiagem se desmanchano suor que escorre o rostoa umaa do cigarrose conunde com meu corpo

    e no teu globo ocularme pego em devaneios

    num oguete espacialviajando a Via Lctea

    deitado ao teu coloestou em dois planetase logo abaixo no delrioenda espacial, meu colrio

    e tudo cai por terraao meu simples acordar

    os meus olhos se abrirame os seus puseram-se a buscar

    Renato Gomez

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    32/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 32

    DIFERENTE PARA CADA MELODIA

    Onde se encontraUm medo estticoNo cresceNem desaparecePermanece intactoOnipresenteNo inconsciente

    Pura balelaA gente se espelhaNum calendrioQue nem sabe o ano corridoQue nem enxerga o cu colorido

    Vai ver hoje no o diaVai ser dierente pra cada melodiaVoc nunca me ouviu cantar

    Desanado?

    Pode choverE relampejarQue essa noite prometeQue vem me verQue vem saberO que acontece comigo?

    Pode subir

    J estou aquiMais uma vez esperandoA chuva passarE ningum chegarQuem eu queria avistar?

    Wilson Spiler

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    33/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 33

    MRMORE

    Desta vez no dPra curtir o somOutra vezNo vou pedirPra baixar o volumeDa televiso

    Eu j estiveDo outro ladoJ ui atorE telespectadorMas nunca almejei galgarO papel principal

    Se tornar a repetirEu vou me enurecerO meu orgulho vai parir

    Melhor voc nem ver

    Ande logoQue eu no estouAvesso paredeCom meu lenol endurecidoAtravesso o oceano esquecido

    Pra me proteger do marEu trago o salEnquanto a areia escaldarVou futuar

    At parece que o luzir do diaAt parece que mudar nossa rotina

    Vai aquecer seu coraoDe mrmore

    Voc me disse que j ui capazQue eu era um jovem bem mais perspicazQue eu ui um diaTudo o que voc queria

    O que eu ao agoraPra dar m

    A minha agonia?

    Wilson Spiler

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    34/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 34

    APAREA

    Me tire desse marQue eu desaprendiA nadarJ t cando sem ar

    No solte da minha moMe ajude a encarar

    De renteMinha situao

    Que cada vez maisQue vago pela estradaQue caio nesse pooEnxergo o innitoNo vejo o impossvelAcontecerPeo apenas boa sorte

    Ao amanhecer

    Tambm puderaOlha l oraH algo de bomPra se investirAlgum com Algum que querSorrirSem precisar mentir

    Wilson Spiler

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    35/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 35

    BONITA

    Um pedao de voc cou bonitacomprimida num espao de vidroe tecnologia. Mas tem muitas de vocque podem ser alcanadas dependendode onde se olha, se a lua tem a vermelhidoda poluio. Ou quando a tinta cai. Quem sabequando deso as escadas ou subo no banco do

    parque e parece que o sol retira tudo que no beloda tua atmosera e s ca uma realidade crua,como uma msica que s eu escuto e que ecoadas otos e dos travesseiros podres de lucky strike.Voc era um monte de coisas. E bonita quando eu olhava.Bastava isso.

    Bruno Honorato

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    36/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 36

    O MAR

    A meia noite comeoua tocar AC/DCenquanto de-ci-dino lembrar da tempestade l oraque mesmo encaixandoeito xilogravurasdrages brancos

    em nuvens noturnas, me zeram lembrarda chuva de dentro.relembrei que, pelo menos um dia,I see / the sea.

    Bruno Honorato

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    37/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 37

    REFLEXES (DESAJEITADAS)

    SOBRE A POESIA1.O que Poesia? Pra que serve?- me pergunto e penso,mas penso com o zelocom que trato as poucas coisasque tenho por sagradas.

    E com este grande zelo,com o zelo de quem adora,que primeiro me respondo:Poesia para inquietar, para azer alar o que hde mais alto na humanidade!

    Mas, porque logo me corremao pensamento os muitos

    outros modos da Poesia,de imediato, me desdigoe redigo:

    Poesia recipienteque contm para que transborde,

    vaso onde tudo cabemas que no guarda,tem a tampa aberta.

    2.Sim! A Poesia um vaso!Que ideia boa para apalpar!

    Um vaso que contm,mas sem conter,considerando que lheescapam sentidos,

    Um vaso com a tampa aberta,

    ou talvez sem tampaonde o contedocom que lhe enchemrepousa e espera.Ento, algum chega,

    este seria o leitor,mas no o leitor que chegae olha e depois de olhar,

    vai embora.

    Um leitor

    que pegasse esse vaso,que mexendo e chacolhandoderramaria, sem esvaziar,o que ali estivesse contido.

    A poesia, ento, transbordaria,talvez no de todo para ora,para o desperdcio, o ralo,mas para dentro do leitor.

    3.E se a Poesia or uma jarra?(minha imaginao,que andou desocupada,parece querer se ocupar!)

    A Poesia, sendo uma jarra,poderiam ench-la com gua,ou suco de laranja,ou com cerveja.

    O poeta poderia ser um barman,por que no? Lencinho na cabeae tudo mais, jogando garraaspara l e c...

    O leitor seria aqueleque chegaria ao balcoe se serviria.

    Por que no?

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    38/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 38

    4Sendo um vaso, pode ser que no

    encham a Poesia com gua, sucoou qualquer bebida, ou qualquer lquido,talvez, enchem-na com terra.

    E no seja possvel alcanaro que ela contm seno cavando,at chegar ao undo e,com as mos e os braos sujosat o cotovelo, comemorar oachado.

    Talvez, no seja precisotanto esoro, o de cavucar a terra,talvez, uma for a foresae acene de longe e dcom que se distrairou encantar a quem a v,

    Talvez, surja um cactoque diga: vem aqui,mas no to perto!Por que no?

    5.Digo Poesia como quem diria Bolo,pondo debaixo desta palavratodos os bolos, a ideia bolo,naquela palavra ponhotodas as poesias,mas sem dizer de todas.

    Se estas ossem refexessobre bolos eu teria aladoque Bolo uma recipientedentro do qual se colocamtodos os outros bolos.

    Deu para entender?

    6.O que Bolo?Um produto alimentciopreparado de um modo talcom os ingredientes tais.

    Viu?No estou dizendo que

    a Poesia um bolo,(o que tambm poderiaser uma metora interessante),

    Digo que Poesia,como Bolo, um produto,no alimentcio, mas intelectualque se prepara de um modo talcom os ingredientes tais.

    Assim, todos os bolosse aproximam pelo preparoe pelos ingredientese todas as poesiasse aproximam tambmpelo preparo epelos ingredientes.

    7.Mas h muitos tipos de boloe muitos tipos de poesia!Certamente!E o que os dierencia?

    (No os bolos das poesias,o que talvez seja bem bvio)mas estes bolos daqueles bolose estas poesias daquelas poesias.

    O jeito de azer, de misturar,o tempo no orno,o material utilizado,e por a, vai...

    No h bolos de laranjae de chocolate?No h poesia levee poesia nem to leve?

    Jos Danilo Rangel

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    39/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 39

    Tweet Potico

    Somente opassado est pensado,

    o presente, passando.

    Jos Danilo Rangel

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    40/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 40

    Tweet Potico

    Viver no passado olhar o presente

    com olhos atrasados.

    Jos Danilo Rangel

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    41/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 41

    Tweet Potico

    Se a crtica se empedranuma nova ideologia,temos um problema.

    Jos Danilo Rangel

  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    42/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 42

    DO LEITOR

    [email protected]

    A EXPRESSES! tem se moldado ao longo do tempo, e por diversasorientaes, uma delas a opinio dos leitores que sempre do interes-santes feedbacks a respeito de toda ela, mas, pelo acebook. Se voc temuma crtica, uma sugesto, mande para ns, temos bons ouvidos,

    Obrigado.

    Jos Danilo Rangel

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    43/44EXPRESSES! Maio de 2013 | 43

    ENVIO DEMATERIAL

    Para submeter o seu texto, oto ou desenho para a revista EXPRESSES!, muito cil: escreva um e-mail explicitando a vontade de ter o seu tra-balho publicado na revista, anexe o material, na extenso em que ele es-tiver, .doc, .jpeg, e outros, e seus dados (nome, idade, ocupao, cidade)com a extenso .doc, para o endereo:

    [email protected]

    Para contos, a ormatao a seguinte, onte arial, 12, espao simples,mximo de 10 pginas.

    Para crnicas, arial, 12, espao simples, mximo de 5 pginas,

    Para poesia, arial, 12, espao simples, mximo de 10 pginas.

    Ainda temos as sees Decodicando, que abarca leituras de diversostemas, e a 10 Dicas, tambm com proposta de abraar uma temtica di-erenciada, onde voc pode sugerir lmes, revistas, msica, conselhos

    e no sei mais o qu, alm dessas, a seo EXTRA, visa abranger o queainda no couber nas outras sees.

    Para otos ou desenhos, a preerncia por imagens com resoluesgrandes, por conta da edio, e orientao retrato, por conta da estticada revista.

    A revista EXPRESSES! sai todo dia 10, de cada ms, ento, at o dia 20de cada ms aceitamos material.

    Porto Velho - Maio de 2013Jos Danilo Rangel

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 8/23/2019 EXPRESSES_22

    44/44

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    Nmero Anterior

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