Excelência-no-Planejamento-do-Culto

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EXCELÊNCIA NO PLANEJAMENTO DO CULTO Prof. Karene Monte

INTRODUÇÃO

Dentre todos os campos do conhecimento teológico, poucos evoluíram (no sentido

de mudanças) tanto nos últimos anos como a Teologia do Culto. As principais mudanças não se referem ao tipo de música, mas a cada vez menor

participação da congregação e à ênfase cada vez maior nas emoções. O culto da Igreja dos primeiros séculos era um grande diálogo, intencional e

consciente, entre o ministro e o povo de Deus, oferecido para a glória do Senhor. Se uma oração era feita, o povo respondia com um “amém” cantado. Se um texto da Bíblia era lido, o povo respondia cantando um Salmo. Quando a Palavra de Deus era proclamada por um pregador, o povo respondia declarando a sua fé, usando as palavras do Credo. E, ao final, povo e ministro se juntavam em uma oração responsiva, dando graças a Deus pela salvação em Cristo Jesus, e assim partiam o Pão e tomavam do Cálice da Ceia do Senhor.

No século XVI, essa participatividade tinha sido eliminada pela Igreja de Roma: o diálogo acontecia em latim, língua que poucos falavam, e apenas entre o sacerdote e o Coro, em voz baixa. Ao povo cabia apenas assistir o que acontecia e orar silenciosamente; nem mesmo a oportunidade de cantar lhe era dada; se quisessem, deveriam entrar para o Coro.

Com a Reforma, a participação do povo foi reafirmada, desde a primeira Missa Alemã de Lutero (1522): o povo ouvia a Palavra de Deus na sua própria língua, e passou a poder, também, orar a ele e cantar seus louvores, exercitando e aumentando, assim, a sua fé. O acerto dessa medida foi tão grande que, quase 500 anos depois, na década de 1960, a Igreja de Roma decidiu também adotá-la.

No entanto, com o passar do tempo, muitas igrejas da Reforma acabaram se acomodando, preferindo deixar de lado a participação do povo nas leituras, orações e na condução da ordem litúrgica. Tornou-se comum dizer que “a liturgia do povo no culto é apenas cantar”. As orações e leituras tornaram-se monopólio do pastor. Isso se vê ainda hoje, não apenas nas igrejas protestantes históricas, mas também em muitas das novas igrejas evangélicas e neopentecostais que têm surgido: todo o culto é conduzido pelo pastor e pelo Conjunto musical (Eduardo Chagas).

Qual a participação da congregação nos cultos que você frequenta? Quantos solos e participações especiais são vistas? Quantos cânticos congregacionais? Quantas leituras responsivas?

Na forma litúrgica do discurso neopentecostal percebe-se que há uma fixação em

expressividade emocional intensa. Qualquer forma comedida e tímida de louvar a Deus no momento de culto é radical e toscamente constrangida se não estiver sob o formato de expressão intensa e ampla de emoções, o que é julgado por ideal.

O Louvor a Deus é medido por essa expressividade emocional que precisa ser extensa e intensa, senão não é caracterizado como louvor ao Pai. Um formato litúrgico é imposto como o verdadeiro e o idealmente aceito. Esse formato litúrgico é equivocado, pois se baseia na exclusividade de apenas um item da dimensão humana como fator expressivo do louvor, desconsiderando todas as outras muitas dimensões da subjetividade humana. Um parâmetro de louvor ideal equivocadamente se estabelece levando em consideração somente um aspecto do humano.

Um louvor comedido de emoções e catarses é típico de ‘almas sem Cristo e que não oferecem o melhor para Deus’. Dizem: ‘deem o seu melhor para Cristo’. E esse ‘melhor’ a que o clero litúrgico se refere é a expressividade ampla, extensa e intensa de emoções e gestuais. Nesse ‘melhor para Cristo’, o âmbito do cristianismo genuíno fora decepado para ceder formato a um reducionismo na vida do suposto adorador. A vida de adorador se avalia pelas emoções expressas no culto, somente. É a chamada Adoração Extravagante. De onde tiraram respaldo bíblico para esse nome não se sabe (Dr. Marcelo Quirino).

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Nos cultos que você frequenta: Os líderes de louvor ou pregadores forçam emoções? Mudam rápida e subitamente de expressões faciais?

Existe diferença entre a atenção da congregação durante o ‘louvor’ e durante a ‘pregação’?

Por conta dessas ‘evoluções’, enfrentamos alguns perigos: 1. Lugar menos honroso à pregação, à Palavra, a Jesus Cristo cuja pessoa e cujos

ensinos são pregados, e mais honra ao pregador ou líder de louvor; 2. A música pode tornar-se espetáculo e seu objetivo passa a ser artístico e não a

edificação dos crentes, o testemunho das verdades do Evangelho e, sobretudo, a glória de Deus;

3. Dar-se menos importância às ordenanças do Batismo e da Ceia do Senhor, tornando-os meros “apêndices” do culto e não parte essencial dele;

4. Falta de ênfase na doutrina e prática do sacerdócio universal dos crentes, em prejuízo da comunidade de fé e testemunho, confiando ao ministério ordenado a direção e as partes principais do culto;

5. A oração perde importância também como oportunidade de ouvir a Deus: muita vez cantamos e falamos, e os decibéis de nosso louvor não permitem o silêncio e quietude para ouvir a voz do Senhor com quem, no culto, dialogamos.

Quais destes riscos estão mais presentes nos cultos que você frequenta?

PLANEJANDO O CULTO

Podemos fugir destes perigos através do planejamento do culto. Nas práticas coletivas de culto, percebem-se algumas variações litúrgicas: “Solene”. O coro veste becas, o oficiante usa terno escuro e o culto não tem partes

anunciadas, pois, tudo está no boletim. A hora de sentar e de levantar está designada por asterisco no boletim. Tudo está determinado e não há variações.

“Tradicional”. Há uma ordem de culto preparada, mas, não tanta rigidez. Há coros com becas, há hora de sentar e levantar, mas, há mais pessoalidade no culto.

“Espontâneo”. A congregação pode escolher hinos ou cânticos, há espaço para testemunhos, etc. O termo “espontâneo” talvez não seja o melhor, porque algumas vezes há uma clara condução das pessoas numa direção. Mas, utiliza-se dele porque o elemento congregacional é muito forte no culto.

“Ausência de ordem”. “Quem quer cantar um ‘corinho’? Quem quer dar um testemunho?” “E que tal se essa música levar mais tempo do que o planejado?” É um culto ‘dirigido’ pelo Espírito, sem hora marcada para nada; as coisas acontecem ao sabor do momento. Por vezes, até o pregador é escolhido na hora. (Isaltino Gomes Coelho).

Qual dos modelos acima é o mais praticado nos cultos que você frequenta?

Evitando-se alguns exageros, qualquer uma das formas acima será a correta, pois a

Bíblia afirma que Deus atenta mais para o adorador que para a forma em si (João 4.21-24). Assim, vejamos alguns princípios bíblicos para o culto cristão que, seguidos,

independentemente da forma, o tornarão mais cristão, e de qualidade.

PRINCÍPIOS SOBRE A QUALIDADE NO CULTO

Princípios fazem parte de nossa vida, quer tenhamos consciência deles ou não. Quando os reconhecemos fica mais fácil cumpri-los ou avaliá-los.

Os princípios defendidos a seguir são baseados na verdade de que nem todo culto é oferecido a Deus. Caim (Gênesis 4.1-7) e o fariseu (Lucas 18.11) são exemplos disso. São embasamentos práticos para três verdades bíblicas relacionadas ao culto que agrada a Deus: Adoração em espírito e em verdade. Adoração com decência e ordem.

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Adoração que glorifique a Deus e edifique o próximo. A definição de culto presente aqui se refere ao culto público formal de adoração. Mas entende-se que todas as nossas ações são, ou devem ser um culto a Deus (1 Coríntios 10.33).

Princípio 1: Deus somente é adorado em espírito e em verdade (João 4.24) Adoração em verdade: sincera, natural, sóbria, com entendimento. Adoração em espírito: reverente, consciente, concentrada.

A adoração em verdade não pode ser forçada ou artificial, por isso também não

pode ser induzida. A direção de louvor pode ajudar, inspirando, mas não pode criar a adoração. Sabe-se que ‘sermões’, do tipo ‘os irmãos estão tristes, parece que não comeram’, etc. por parte do líder de louvor não inspiram, e os do tipo ‘dê um sorriso pra seu irmão, diga que ele é bonito’, ou ‘quem está feliz diga amém’ não são eficientes.

Adoração em espírito é uma adoração totalmente voltada para Deus, sem desvios de atenção, portanto reverente. As regras de reverência precisam ser incentivadas não para forçar uma adoração, mas para dar liberdade aos que querem realmente cultuar a Deus.

As principais ‘regras’ de reverência são:

• Ao entrar no templo, procure sentar nos primeiros bancos; assim quem chegar depois não chamará a atenção dos presentes,

• Ao entrar no santuário, se o culto já tiver começado, não entre cumprimentando as pessoas. Normalmente há espaço para isso durante o culto; se não, espere o culto terminar para cumprimentar as pessoas;

• Evite entrar no santuário (bem como sair), durante uma oração ou leitura bíblica;

• Não saia do santuário, a menos que haja uma necessidade real. O levantar sem necessidade, além de atrapalhar o culto, pode indicar que você está desatento bem como sem dar o devido valor ao culto;

• Se você acha que vai precisar se levantar durante o culto, por um motivo de saúde, por exemplo, procure sentar próximo da porta de saída, e ao sair e retornar evite chamar a atenção;

• Em qualquer circunstância, não atrapalhe quem quer cultuar; não provoque riso em ninguém, não puxe conversa, não critique o culto, não atrapalhe uma oração, etc;

• Procure obedecer ao dirigente; se ele pede para que todos fiquem de pé, então fique, etc.;

• Se você é pai, ou mãe, sente perto de seus filhos e ajude-os a se comportarem. Se você está próximo de uma criança, não fique brincando com ela durante o culto. Se não há condições da criança pequena permanecer no culto, leve-a ao berçário ou lugar apropriado;

• Se você vai ter alguma participação no programa de culto, seja atencioso para com a sua hora; evite atrasos ou espaços vazios no programa;

• Não se atrase para o culto, a não ser por motivos de força maior. Normalmente, os atrasos são de cinco ou 10 minutos, o que indica que era possível ter chegado no horário; basta interesse e responsabilidade;

• Se em algum momento do culto, você sentir que ‘perdeu a sintonia com Deus’, ore imediatamente pedindo ao Senhor que leve cativo a Cristo todo o seu pensamento (II Cor 10.5);

• Como quem conversa durante um culto atrapalha a si e aos outros, cada crente tem o direito de chamar a atenção de qualquer pessoa que esteja conversando;

• Toda a vida de um crente deve ser vivida com decência e ordem, e não será diferente num culto; então, evite roupas indecorosas;

• Irreverência não é apenas conversar durante o culto; escrever, ler revistas, brincar com papéis, usar celular também são atitudes irreverentes.

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A reverência é, em muito, estimulada a partir da direção do culto, que não deve conter apelos e práticas populistas, inconvenientes ou de humor chulo.

A adoração em verdade é uma adoração sincera e livre de emocionalismos; com emoção sim, mas sem emocionalismo (entenda-se por emocionalismo a exploração da emoção).

“Em verdade” deve significar espontaneidade. Por isso, estilos de cantores de renome, ministrações, louvores espontâneos, etc. não devem ser copiados totalmente.

“Em verdade” também significa que não pode ser criada, mas despertada; é vã toda tentativa de ‘animar’ com músicas ‘animadas’, como também é vã toda iniciativa que ‘desrespeite’ as convicções de uma geração (querer que um ancião cante rock é quase impossível), pelo contrário, tais convicções precisam ser respeitadas, pois só assim serão verdade pra pessoa em si.

Cremos que as emoções não são confiáveis (Jeremias 17.9); o máximo que conseguem produzir é um fruto semelhante ao da semente lançada em solo rochoso (Mateus 13.5-6, 20-21): de fácil crescimento, mas sem permanência. Emoção é útil, mas não produz mudança permanente. As atitudes duradouras provêm da decisão, que pode ser auxiliada pela emoção; devemos buscar emocionar sem emocionalismo, atingindo todos os sentidos da percepção humana, através de uma ornamentação sóbria, programas de qualidade, imagens visuais específicas e comentários coerentes por parte da direção. (Estes são princípios que servem apenas para programações coletivas; não há como ‘obrigar’ todos a concordarem com os mesmos, nem restringir a liberdade de expressão individual e particular, mas a direção do culto, ou de qualquer programação coletiva, deve seguir esses princípios, para não cair na ‘aparência de sabedoria’ e nada mais (Colossenses 2.23).

Sendo a adoração ‘em verdade’ uma adoração sincera, atitudes superficiais da direção em envolver o auditório, do tipo: “quem está feliz, levante a mão”, “quem está contente diga ‘aleluia’”, devem ser evitadas, pois forçam um comportamento que pode não ser verdade (apenas para satisfazer o pedido da direção) ou constranger as pessoas que não atenderem a tais apelos, provocando julgamentos precipitados sobre as mesmas.

Resumo: Adoração não forçada ou artificial. Adoração reverente. Adoração com emoção, mas sem emocionalismo. Adoração ‘não copiada’, mas espontânea.

Princípio 2: Tudo deve ser feito com decência e ordem (1 Coríntios 14.40). Decência: pureza nas palavras e ações, vestuário apropriado. Ordem: qualidade, objetividade, equilíbrio, coerência doutrinária.

Por decência entenda-se que o culto não deve ser lugar de gracejos, humor barato

e atitudes populistas ou de baixo calão (Colossenses 3.8). O dirigente não deve usar de piadinhas apenas para fazer graça; não deve usar de expressões de cunho obsceno; não deve usar de expressões retiradas de programas televisivos (pois são pobres e estimulam a ignorância popular, além de não condizer com o ‘cântico novo’) ou que discriminem qualquer comportamento (como imitações pejorativas de homossexuais, por exemplo). A direção pode, e deve, ser simpática; mas não se pode confundir simpatia com provocação de risos sem propósito, apenas para tentar ser agradável e impressionar. Uma ilustração ou fato não deve ser mencionado apenas pela graça que possa produzir.

Expressões de cunho obsceno e de intimidade devem ser evitadas sempre. Se realmente necessário citar algo deste caráter, usar expressões cultas para referir-se às mesmas. Expressões arrogantes ou que demonstram apenas interesse de impressionar devem ser evitadas também.

Nomes e histórias pessoais só podem ser citados com autorização dos envolvidos e jamais com o propósito de constranger ou provocar risos (se não puder contar com a autorização, não citar nomes ou circunstâncias específicas). Indiretas também não são éticas e justas, portanto não são cabíveis no ambiente cristão decente.

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Decência diz respeito também ao vestuário, incluindo estampas, que não podem ser exageradas ou de mensagens dúbias. O vestuário deve ser sóbrio, e não sensual. (Mulheres que possuem corpo ‘naturalmente’ atraente, devem ter mais cuidado ainda).

Por ordem, entende-se primeiramente que o culto deva seguir uma sequência que ajude na edificação e envolvimento dos presentes. Cânticos, por exemplo, podem ser agrupados por tipos e temas. 1. Exaltação – músicas ritmadas, com palavras de exaltação Deus. 2. Adoração – músicas mais suaves, com palavras de adoração a Deus, às vezes de entrega. 3. Comunhão – músicas que permitem momentos de confraternização cristã. 4. Evangelismo – músicas direcionadas ao não crente. 5. Consagração – músicas que podem ser usadas para uma entrega de vida. 6. Edificação – músicas que trazem uma mensagem ao cristão, normalmente de consolo e esperança. Por ordem, um cântico de comunhão não deve estar no meio dos de exaltação ou de adoração, por exemplo.

Talvez um culto não precise seguir rigorosamente um tema, desde as leituras até a mensagem, mas é conveniente que ele tenha vários subtemas ou subperíodos obedecendo a propósitos específicos e que, de alguma forma, inclua as seis categorias de assuntos acima, que não precisam ser abordados especificamente com músicas, pois se podem incluir as demais artes (vídeos, teatro, etc.), atingindo os demais sentidos.

Por ordem e decência entenda-se que, dentro de certos limites éticos e de testemunho, as convicções e preferências de uma geração devem ser respeitadas. Como geralmente não há cultos exclusivos para uma determinada faixa etária, isso pode ser feito através de uma programação sem excesso para qualquer lado: não tão conservadora, nem tão contemporânea. Mudanças podem ser introduzidas sim, mas respeitando o princípio ‘navio fazendo curva’: com tempo e espaço disponíveis.

Por ordem, entenda-se também que o culto deve ter coerência doutrinária, até porque, geralmente, falta discernimento nos grandes ajuntamentos.

Exemplos de erros doutrinários de nossos dias, e que fazem parte de grande parte das músicas evangélicas:

1. As diversas ‘unções’ do Senhor. Existe unção da alegria, de poder, etc. Na Bíblia, unção significa apenas ‘conceder autoridade’ e era recebida apenas uma vez; além disso, todos já temos a unção (I João 2.20, 27). Num sentido mais amplo, apenas Jesus é o ungido (Cristo quer dizer ‘ungido’) e todos estamos debaixo da unção dele.

2. O hábito de ‘profetizar’. A Bíblia deixa claro que não devemos falar em nome de Deus, a menos que tenhamos certeza disso (Jeremias 23.27-28). A pena de morte era aplicada a pessoas que falavam e o que profetizavam não se cumpria (Deuteronômio 18.20-22), pois alguns profetizavam apenas por presunção, como hoje também.

3. A questão da ‘restituição’. A ideia de restituição vem de Joel 2.25, onde está num contexto de perdão depois que Deus havia castigado seu povo. Como cristãos, não temos nada a ser restituído, pois a graça de Cristo nos é mais que suficiente (2 Cor. 12.9, Romanos 8.31-39), e o Diabo não nos roubou nada – ele não tem poder para isso (I João 5.18, João 10.28).

4. Uma ênfase exacerbada em rituais do Velho Testamento, muito provavelmente pela necessidade que o ser humano tem em visualizar fatos abstratos e pela total ausência de símbolos e rituais no Novo Testamento.

Em parte, todas essas expressões foram criadas como consequência do pensamento herético chamado de ‘confissão positiva’ (de Benny Hinn e outros) e acham espaço entre os evangélicos, pois são muito motivadoras, mesmo que não sejam verdadeiras, uma vez que desprezam o sofrimento (veja-se João 16.33, Atos 14.22).

Por ordem, entenda-se ainda que o culto deva ter qualidade, pois embora ele seja oferecido apenas a Deus, visa também à edificação e ao evangelismo. Deus aceita todas as nossas limitações (João 6.37, Romanos 8.26), mas as pessoas não, e para que o nome de Deus não seja blasfemado é preciso que haja qualidade e cuidado com o que é feito em público (em 1 Coríntios 14.20-25, os que falavam em línguas são proibidos de o fazerem para não serem chamados de loucos, por exemplo). Assim, na programação pública, por questões de ordem, só deve ser chamado para ler, quem o sabe fazê-lo bem; só deve ter oportunidade para o canto solo quem tem uma voz afinada; por pensar assim, é que não é

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coerente ceder oportunidades para quem tem dificuldades com as palavras, ou de se expressar, ou é prolixo (por ordem entendemos também uma boa administração do tempo). Todas as pessoas com essas dificuldades podem louvar e servir a Deus na sua individualidade, e por Ele são aceitas, mas, por questões de testemunho, devem ser evitadas nos atos públicos.

(A qualidade, entretanto, não pode ser o alvo, um fim em sim mesma, para não criarmos apresentações em vez de um culto; no caso específico da direção do louvor, não se pode querer a mesma qualidade de um coral, ou de grupo vocal. Este princípio, junto com o de ‘adoração em espírito e em verdade’, significa que, quanto menos o ministério de louvor aparecer, melhor; e ele pode ‘aparecer’ tanto por falta como por excesso de qualidade).

Resumo: Ordem e decência se alcançam com:

Ausência de gracejos e expressões chulas. Ética ao citar nomes e fatos. Uso de um roteiro que ajude na edificação. Nivelamento médio das preferências. Coerência doutrinária. Esforço por melhorar a qualidade, nivelamento para cima (embora a qualidade não

seja o alvo final). Boa administração do tempo.

Princípio 3: O propósito final deve ser a edificação (1 Coríntios 14.26). Edificação: não simples apresentações, mas objetividade, e resultados práticos.

Para que o culto glorifique a Deus, o dirigente ou ministro de louvor, precisa buscar a discrição, a fim de que as pessoas se voltem para Deus, para a mensagem que é anunciada ou cantada. Infelizmente, muitos líderes ‘tomados por uma unção’ desenvolvem performances que intrigam, escandalizam ou simplesmente não glorificam a Deus, pois fazem aparecer a criatura e não o Criador.

O culto não é lugar para simples apresentações; seu propósito não é conceder oportunidades às pessoas, mas edificar a igreja e glorificar a Deus. Assim, cantos solos podem ser preteridos para que a congregação tenha mais participação, por exemplo; um filme que não vai acrescentar nada, ou uma coreografia sem propósito, ou um teatro que simplesmente chocará os presentes, também.

Para que haja edificação, é preciso ter objetivos claros, desde a escolha das músicas, pessoas e temas. Também é necessário atingir todos os sentidos da percepção humana, e não apenas a audição, usando de vários artifícios para apresentar o principal, que é a Palavra de Deus. Isso deve ser feito não por considerar a Bíblia sem atrativos, mas por seguir o princípio bíblico da aculturação (1 Coríntios 9.19-23) e reconhecer-se que vivemos numa cultura multimídia.

A verdadeira avaliação acontece através de resultados concretos, e não apenas por questões de quantidade ou de aprovação popular. Por exemplo: uma pregação não pode ser avaliada de forma positiva apenas porque foi divertida e manteve as pessoas atentas, mas sim se produziu resultados de mudança de vida nos presentes. Uma programação não pode ser avaliada pelo aparato tecnológico, mas pelas pessoas por ela tocadas para a santificação.

Resumo: Para alcançar a edificação: Evitar meras apresentações. Objetivos claros. Todos os sentidos são contemplados. Resultados são avaliados, honestamente.

Reflexão: resultados de um encontro com Deus

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Pensamos sobre como ouvir a voz de Deus. Existem outras vozes que não a de Deus (do maligno, ou a nossa própria). Na verdade a questão é bem profunda, pois inclui todo o nosso relacionamento com Deus.

Como avaliar minha vida com Deus? Há um padrão em alguns grandes encontros com Deus, como os de Moisés (Êxodo

3.1-10), Isaías (Isaías 6.1-8), Pedro (Lucas 5.1-10), e Paulo (Atos 22.4-16). Dois resultados de um encontro verdadeiro com Deus. 1º resultado: santidade Se minha relação com Deus não me torna mais santo, não estou me relacionando

com ele. Se minha relação com Deus não me leva a ser mais parecido com Cristo, não estou me relacionando corretamente com Deus (melhor pai, esposo, filho, patrão, empregado, etc.).

Se esse processo de santificação não é contínuo, há algo errado no meu relacionamento com Deus. O que mudou em meu caráter nos últimos três meses?

Se não há visão da santidade, nos encontramos com nosso próprio ego, como o fariseu de Lucas 18.11,12. O meu relacionamento com Deus não serve para exaltar a mim, mas a Deus, e isso só acontece com a visão de quem Deus é.

Se não há crescimento na santidade, não estou deixando Deus ser Deus, mas tentando manipulá-lo como Saul, em I Samuel 15; portanto não me relaciono com Deus, mas com o meu conceito de Deus. Quando me relaciono corretamente com Deus, eu vejo Deus e vejo a mim. Por questões psicológicas, nosso ego falsifica quase tudo que é típico da fé: a oração evangélica é semelhante à meditação; a confissão em oração tem o mesmo efeito de uma catarse; tudo que é experimentado num culto pode ser experimentado nos fenômenos grupais (como shows); a fé em Deus pode ser substituída por simples determinação. A diferença entre o que é humano e o que é de Deus é que ele me mostra quem eu sou e o que eu devo ser: semelhante a ele. E mais uma vez precisamos diferenciar o falso do verdadeiro; a verdadeira santidade se desenvolve em amor, que é capaz de amar até os inimigos. Se a minha relação com Deus não me ajuda a relacionar-me melhor com meu próximo, devo desconfiar dela. Santidade que é grosseira é farisaísmo legalista somente. Como está a santidade: A sua relação com Deus tem lhe ajudado a ser melhor, a focalizar os demais e não somente você ? Você tem sido humilde com seu progresso? Você tem crescido ultimamente? Seus relacionamentos têm melhorado?

2º resultado: serviço Todos os personagens em questão saíram do encontro com Deus com uma missão.

Relacionamento com Deus que não me torna mais útil, é falso. Mas, da mesma forma que nosso ego falsifica questões da fé, também falsifica

questões do serviço. Examinar a vida dos personagens em questão ajuda a entender a diferença entre os falsos serviços. Moisés – libertou um povo que não queria ser liberto. Foi criticado quando só tentava ajudar.

Isaías – pregou a um povo que não queria lhe ouvir. Teve algumas situações em que foi respeitado, mas a tradição diz que foi martirizado (serrado ao meio). Pedro – foi preso, experimentou status, mas foi ‘disciplinado’, mesmo tendo um passado brilhante e morreu martirizado (segundo a tradição, crucificado de cabeça para baixo).

Paulo – basta ler2 Coríntios 11.17, 23-28 para ver o que lhe aconteceu por causa de seu serviço.

O autêntico serviço, feito como resultado do relacionamento com Deus, não visa recompensas terrenas (afinal é a Deus que se serve), é direcionado às pessoas (pois há amor) mesmo que essas não demonstrem merecer o serviço (amor altruísta) e geralmente envolve sacrifícios.

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Mas a diferença mesmo é a motivação: não glória pessoal, não uma barganha com Deus (pagar ou receber), mas uma consciência de um propósito maior para vida (como filho que serve em casa / diferente de empregado). Como está o serviço: Você se chateia quando não é reconhecido? Você faz coisas que não lhe agradam para servir? Visa ajudar pessoas ou se divertir, ou aliviar sua consciência? Você é capaz de insistir quando não vê resultados se crê ser o certo? É capaz de se sacrificar se necessário? Sua relação com Deus lhe torna consciente de uma missão somente sua? Conclusão Como conseguir tudo isso? Planejando. Um programa de culto pode levar dias para ser concluído. Não é algo instantâneo, mas um verdadeiro processo, que precisa ser encarado como espiritual, e não como mera produção artística, tanto no planejamento quanto na execução (1 Co 9.19-23). Algumas dicas gerais:

• Estabeleça se haverá necessidade de um tema único (culto ‘especial’ ou não, mensagem bíblica específica ou não, etc.). Se não houver necessidade de tema único, mais fácil.

• Estabeleça se haverá necessidade de ‘criar’ algo para reforçar o principal: teatro, vídeo, coreografia, solo, etc.

• Procure e aliste as possibilidades de ‘extras’: vídeos, participações, apresentações, etc. Pensando no tempo e na eficácia. Escolha a melhor. Evite mais do mesmo: dois solos, dois vídeos, duas apresentações, etc.

• Defina se é preciso decoração específica, iluminação, material a ser entregue, etc. Encare o todo como culto.

• Veja e teste as disponibilidades técnicas e de pessoas. Se preciso, mude a ideia original, por isso que se chama ‘processo’.

• Guarde as ideias não utilizadas; elas podem servir noutra ocasião ou quando os recursos ideais estiverem disponíveis.

• Comunique às pessoas envolvidas qual a participação delas e tempo disponível; distribua um roteiro completo do culto.

• Altere a ordem de cada elemento, intencionalmente. Permita menos rotina.

• Opte pelas comunicações no encerramento: não quebra o espírito de adoração e tem mais gente para ouvir.

PRATICANDO

Sugestões de roteiros, baseados nas categorias de assuntos: As categorias:

1. Exaltação 2. Adoração 3. Comunhão 4. Evangelismo 5. Consagração 6. Edificação

Sugestão1 – começando com comunhão, celebrando a alegria de estar juntos. 19.00 – Comunhão Oração Leitura Bíblica: Mt 18.19, Sl 133, Sl 122.1, etc. Cântico ‘Mandamento de Amor’, ‘Há uma unção’, etc. 19.10 – Adoração e Exaltação

Vídeo ‘Desconectar para conectar’, ou texto bíblico como I Jo 4.8, Sl 133, etc.

Cânticos ou hinos de adoração e exaltação (quantidade: 3) 19.30 – Edificação

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Vídeo, participação musical, teatro, etc. Independente da mensagem ou em conformidade com ela.

Mensagem bíblica – pastor ou convidado (35 minutos). 20.15 – Consagração

Cântico ou hino congregacional, independente da mensagem ou em conformidade com ela.

Ofertório com cântico ou hino apropriado 20.25 – Comunicações e Encerramento * Faltou incluir evangelismo. * As leituras devem ser responsivas. * Outras orações estão subentendidas. Sugestão 2 – começando com Exaltação, celebrando a Deus. 19.00 – Chamada à adoração Oração Leitura Bíblica: Algum Salmo Cânticos e Hinos de Exaltação, encerrando com um de Adoração (4 no total) 19.25 – Evangelismo Vídeo ou apresentação. 19.30 – Mensagem Bíblica 20.05 – Consagração

Cântico ou hino congregacional, independente da mensagem ou em conformidade com ela.

Ofertório com cântico ou hino apropriado 20.15 – Edificação Mensagem musical ou vídeo de edificação. Oração Específica (em grupos ou não)

20.25 – Comunicações e Encerramento * As leituras devem ser responsivas. Sugestão 3 – começando com Adoração, conscientizando-se da presença Deus. 19.00 – Chamada à adoração Prelúdio instrumental (flautas, teclado, guitarra, etc). Vídeo ‘Tamanho da terra’.

Salmo 8 Oração Canticos ou hinos de Adoração (dois) Momento de oração (de joelhos)

19.30 – Mensagem Bíblica 20.05 – Exaltação e Consagração Dois cânticos ou hinos de exaltação e um de consagração (com ofertório)

20.20 – Evangelismo Apelo 20.25 – Comunicações e Encerramento * As leituras devem ser responsivas.