evora cidade educadora nº 9
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É v o r a , 2 9 d e N o v e m b r o d e 2 0 1 2 N e w s l e t t e r * A n o 1 N º 9
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“Os diferentes públicos construtores de uma
cidade educadora” é o tema para o último de
um ciclo de debates que foi configurado
como discussão aberta à diversidade de
pensamento e à participação de vivências
numa cidade – Évora –, que deseja ser edu-
cadora.
A expressão “diferentes públicos” capta a
ideia de reconhecimento da diversidade
humana e exprime a experiência primordial
de «estar-uns-com-os-outros» em abertura
relacional e situada, ora cuidando, ora des-
cuidando.
Os convidados para este debate são:
Cláudia de Sousa Pereira é a vereadora res-
ponsável pela Cidade Educadora na Câmara
Municipal de Évora e Professora da Univer-
sidade de Évora. Cabe-lhe a moderação
deste debate, agendado para o dia 29 de
Novembro de 2012, no Condestável café-
bistrô, Rua Diogo Cão nº3, em Évora, entre
as 17.30h e as 20.30h.
A mesa promotora do debate conta com a
participação de António Serzedelo, licencia-
do em História pela Universidade de Lisboa,
jornalista e Presidente da Opus Gay, associ-
ação de que também foi fundador em 1977.
Sob a sua direção e desde o início de 2012,
criou uma extensão da Opus Gay sediada em
Évora, intitulada “Alentejo de diversidades”,
que promove um projecto, contra a violência
doméstica e homofobia.
Célia Costa integra a mesma mesa. É licen-
ciada em História e pós-graduada em Gestão
de IPSS’s. Ao serviço da Cáritas tem-se
empenhado nas áreas da infância e da juven-
tude e ultimamente tem atendido aos desem-
pregados. Também é representante da Cári-
tas Diocesana no Contrato Local de Desen-
volvimento Social de Évora.
Augusta Borges é o terceiro elemento convi-
dado para o debate. Formou-se na área da
psicologia clínica, interessa-se por assuntos
de género e dedica-se, desde 2001, ao acom-
panhamento de casos de violência domésti-
ca. É responsável técnica do Lar de Santa
Helena, em Évora.
Último debate do Ciclo
“Habitar a Cidade,
Construir Espaço Público”
Diferentes públicos:
os que não nasceram nem têm raízes fami-
liares na cidade;
os que não podem viver na sua própria
cidade;
os que fizeram opções religiosas, filosófi-
cas e de vida que não são as da maioria;
os que vivem segundo uma orientação sexu-
al que não prevê a procriação da espécie;
os que nasceram ou ficaram com caracterís-
ticas físicas que não permitem usar a cida-
de da mesma maneira da maioria…
No caso de Évora (e outra cidade?) pode-
mos estar a falar de imigrantes, de excluí-
dos, seja por razões privadas ou políticas,
de protestantes, muçulmanos, budistas ou
judeus, de sem-abrigo, de refugiados na
própria casa e que sabem mais do que se
passa em Time Square que na Praça do
Giraldo, de homossexuais, de portadores de
deficiência. Mais alguém?
Uma cidade educadora é uma cidade que
também inclui os que são diferentes. E os
diferentes são aqueles que correspondem a
uma minoria em relação à totalidade dos
cidadãos, considerados como a população
daquele território, e que frequentam o mes-
mo espaço de todos, um espaço público de
circulação e convivialidade.
Partindo da relação exclusão/inclusão e do
vínculo à espacialidade da cidade, propo-
mos o debate de questões como:
1. Ser cidadão diferente numa cidade é ser
único e querer continuar a viver assim ou é
constituir esse tal grupo de menos cida-
dãos? É uma questão de números, de quan-
tidades? Esse número pode fechar os gru-
pos, alguns grupos, e conferir-lhes as carac-
terísticas semelhantes às elites?
2. Na inclusão há duas situações possíveis
que podem surgir publicamente programa-
das, ou não, e específicas para as diferentes
situações: a uniformização aparente ou à
assunção da diferença. Se a primeira pode
ser desejável, nalguns casos pode também
parecer ser a negação de uma condição que
se vive ou que se escolheu. Já o estímulo da
diferença pode acentuar ou estimular trata-
mentos diferentes? Haverá terceira via? Ou
estamos mais uma vez entre o público e o
privado e é nesse campo que se mantém a
discussão e a intervenção que dela sair?
3. As instituições trabalham no sentido de
criar condições para que a cidade e os cida-
dãos recebam, acolham e integrem quem é
diferente. E quem é o/a diferente, o que
faz? Ou pode/deve fazer?
Cláudia Sousa Pereira, Évora, Nov. 2012.
Os diferentes públicos construtores
de uma cidade educadora
“Habitar a Cidade. Construir Espaço Público” foi o
título dado a um ciclo de nove debates
sobre Évora, Cidade Educadora.
A escolha do espaço foi considerada es-
sencial: um espaço público de fácil aces-
so. A escolha do espaço revelava a intenci-
onalidade subjacente: não excluir ninguém,
não ignorar actividades, não desconsiderar
opiniões, não recear o confronto dialógico.
Durante o ano de 2012 procurou-se mobilizar
as pessoas para um espaço que consentia a
experiência de debater em comunidade.
Simultaneamente esta estratégia permitia reco-
lher metodologicamente dados para investigação
do projecto de tese inscrito no Departamento de
Filosofia e no CIDEHUS, Universidade de Évora,
sob o título “A cidade desejada. Configurações de
Évora, Cidade Educadora”.
Porquê debates com os cidadãos de Évora?
Partindo de uma proposta do Prof. Escolano Benito, Ca-
tedrático da Universidade de Valladolid e coorientador
deste trabalho, e sob a orientação da Prof. Doutora Teresa
Santos, Directora do Departamento de Filosofia da Uni-
Ponto de situação versidade de Évora e orientadora da
tese em construção, propomo-nos
recolher as expressões possíveis
do discurso de três esferas que
“constituem o património de que
se nutre a memória da educação
com a que há-de dialogar o
mundo dos desejos” (Benito,
2002, La memória e el desejo.
Valência:Tirant lo Blanch, p.
42).
As três esferas, correspon-
dentes a três culturas com
diferentes origens e consti-
tutivas de três tipos de
memória, são a cultura empírica ou
prática, a cultura científica ou académica e a cultura
político-administrativa.
Ao longo destes nove debates, para os quais foram convi-
dados todos os cidadãos interessados, procurou-se indagar
ou recolher as expressões da cultura empírica, ou seja dos
cidadãos comuns, sobre a cidade que desejam.
Motivados, em cada um dos encontros, por um tema iden-
tificado como estruturante de Évora Cidade Educadora, e
por um grupo de especialistas da área respectiva, os cida-
dãos foram convidados a pronunciar-se.
P á g i n a 2
Foto: Telmo Rocha
M. Gadotti (*)
P á g i n a 3
Quais os objectivos dos debates?
Para além dos objectivos orientadores deste ciclo de deba-
tes, no momento de partida foram definidos dois específi-
cos:
1º. Identificação de uma rede de cidadãos interessados, de
investigadores e de outros implicados ou a implicar na
construção de uma proposta de Évora, enquanto Cidade
Educadora.
2º. Apuramento de propostas potencialmente construtivas
de Évora Cidade Educadora.
Um ano de encontros regulares
Assim, em Janeiro, pensámos sobre “as redes de comunica-
ção na construção de Évora Cidade Educadora”. Em Feve-
reiro centramo-nos sobre “o papel da arte no espaço públi-
co e na cidade Educadora”. Dando lugar aos “jovens cria-
dores”, em Março proporcionou-se um debate sobre o seu
contributo para a referida construção. Seguiu-se, em Abril
uma reflexão sobre “Património, História e Memória”, cuja
pertinência se evidencia pelo facto de Évora ser cidade
Património Mundial da Humanidade. Em Maio conjugou-
se a arquitectura e o urbanismo para o debate e em Julho
foi a vez dos partidos políticos acrescentarem o seu olhar
sobre Évora Cidade Educadora. Depois das férias de Verão,
em Setembro, “a educação formal, a não formal, e a infor-
mal” fizeram-se representar num encontro de memórias e
vivências, de decepções e expectativas. Outubro foi o mês
da reflexão sobre o papel das empresas na desejada cons-
trução educadora. Chegados Novembro, termina-se com a
identificação de “diferentes públicos construtores de uma
Cidade Educadora”.
400 participantes, 40 especialistas e outros en-
volvidos
Em cada um destes nove encontros contamos com contri-
buições prestigiadas e enriquecedoras para o debate públi-
co. Quarenta especialistas em diferentes áreas de conheci-
mento e intervenção na cidade constituíram as mesas im-
pulsionadoras das reflexões propostas. Cerca de quatro
centenas de participantes aceitaram o convite tomando
parte no debate, quer de forma interveniente, quer na quali-
dade de observadores. Nove fotógrafos da cidade juntaram
a este processo a sensibilidade dos seus olhares fixados em
registos gentilmente disponibilizados. Um café do centro
da cidade cedeu graciosamente as suas instalações para
estas sessões mensais. Uma empresa de sonorização ofere-
ceu gratuitamente os seus serviços. Outra empresa da área
do design contribuiu com a criação de logótipos.
O CIDEHUS e o Departamento de Filosofia da Universida-
de de Évora conferiram a orientação académica e o suporte
institucional a este ciclo de iniciativas.
O que se segue
Depois da recolha de representações sobre Évora, Cidade
Educadora, na esfera empírica, durante este ano de 2012, o
próximo ano de 2013 está reservado para indagar, junto da
esfera cientifico- académica, configurações possíveis de
Évora Cidade Educadora. Um ano de eleições municipais
que deverá mobilizar as estruturas e os discursos políticos
locais. Prevê-se então que no decurso desse processo eleito-
ral seja possível extrair algumas das notas dominantes da
esfera político-administrativa, se bem que muitas já estejam
fixadas em documentos oficiais de consulta pública.
Trata-se de uma investigação com interacção a nível nacio-
nal e internacional. Assim, a rede territorial portuguesa
prepara para Maio de 2013 o seu V Congresso, a realizar na
cidade de Braga, e, no ano seguinte, Barcelona acolherá o
XIII Congreso Internacional de Ciudades Educadoras, sob a
afirmação de que “A cidade Educadora é uma cidade que
inclui”.
Na fase final desta investigação, prevista para 2014, serão
sistematizados os materiais recolhidos num texto a elaborar
segundo os requisitos de uma tese de doutoramento, cuja
apresentação se aponta para o final de Setembro.
Expressamos aqui um reconhecido agradecimento a todos
os que, pela presença e pela voz, contribuíram para a con-
cretização deste trabalho investigativo.
Foto: Telmo Rocha
ContactosContactosContactos Mail: [email protected] Blogue: http://evoracidadeeducadora.blogspot.com/
Facebook:: ww.facebook.com/events/323727374325849/
P á g i n a 4
De dois em dois anos as cerca de 400
cidades de todo o mundo que desejam
ser educadoras são convidadas a reunir
-se em congresso internacional para
conjuntamente reflectirem sobre as
suas experiências e perspectivas.
Depois de neste ano de 2012 a cidade
de Changwon, na Coreia do Sul, ter
acolhido o XII Congresso dedicado ao
“Meio Ambiente e Educação Criati-
va”, em 2014 Barcelona será pela se-
gunda vez a anfitriã desta reunião mai-
or das cidades. “ A Cidade Educadora
é uma cidade que inclui” é o lema do
encontro que vai marcar os 25 anos
das Cidades Educadoras.
“Em concreto o Congresso centrará a
atenção na adaptação dos serviços
municipais ao combate das novas for-
mas de exclusão social, à coordenação
administrativa promotora de uma aten-
ção integrada às pessoas, à melhoria da
ocupabilidade e da inserção laboral, à
promoção da autonomia pessoal, à
promoção do acesso à habitação e ao
reforço do capital social.” Pode ler-se
no site da AICE (http://www.bcn.es/
edcities/aice/estatiques/espanyol/
sec_congresses.html)
“A Cidade Educadora é uma cidade
que inclui” é também o tema de refle-
xão do V Congresso da Rede Territo-
rial Portuguesa que se realizará em
Braga já no próximo ano de 2013.
Os congressos nacionais e internacio-
nais que se celebram de dois em dois
anos , resultando assim encontros anu-
ais, ora numa cidade portuguesa ora
numa cidade estrangeira “são ocasiões
para difundir, comparar e trocar expe-
riências e boas práticas, bem como
para estabelecer relações de colabora-
ção entre cidades. Constituem, para
além disso, oportunidades para apro-
fundar a construção do discurso das
Cidades Educadoras” segundo a mes-
ma fonte.
São 47 as cidades portuguesas que se
assumem como Cidades Educadoras.
No Alentejo localizam-se 3: Évora,
Moura e Grândola.
O fotógrafo do mês
Nascido nos alvores de 1974 em Luan-
da, Telmo Rocha e a família chegaram
no ano seguinte a Portugal, acabando
por se radicar em Évora. É nesta cida-
de que fez os seus estudos, se iniciou
no mercado de trabalho e completou a
sua formação superior em Economia.
É também aqui que vive e exerce a sua
atividade profissional. Contudo, esta
trajetória relativamente linear nunca
condicionou a sua necessidade de via-
jar e conhecer outros mundos. Na ver-
dade, é esta necessidade de interpretar
o mundo que o lança na fotografia, a
qual aparece relativamente tarde na
vida deste fotógrafo autodidata, cujas
preocupações com os quotidianos,
interações e cultura dos povos, ocu-
pam um lugar cimeiro. É ainda jovem
esta descoberta de Telmo Rocha. Só
em 2011 assumiu o que hoje descreve
como segunda vocação: partilhar com
simplicidade a complexidade que vê
no mundo por via da fotografia.
Encontro de Cidades Educadoras 2014 será em Barcelona
“ A Cidade Educadora é uma cidade que inclui”