Feiticeira de Evora

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A FEITICEIRA DE ÉVORA pesq., trads.& texto [email protected] LINK RELACIONADO: Cipriano, O Santo Feiticeiro A feiticeira ou bruxa de Évora é uma das personagens mais populares e misteriosas do folclore e das lendas da magia, especialmente na esfera da cultura popular. Sua biografia é dispersa, incerta, cheia de contradições. Até onde conduzem as pesquisas, não pode ser considerada figura histórica; no entanto, sua fama é suficiente para considerá-la arquétipo mítico de um certo tipo de bruxa, de feiticeira. Sobre uma Bruxa de Évora, como pessoa localizada em um tempo, sua identidade primeira e verdadeira, sobre isso não há, nenhum registro que possa ser considerado como Histórico, documental, de fonte confiável. Documentos referentes à Bruxa simplesmente inexistem. É difícil até mesmo determinar a época em que viveu. A maioria dos textos/livros sobre uma Bruxa de Évora afirma que ela viveu no século... Outros, dizem que viveu em meados da Idade Média. Todavia, um único de texto de referência permite supor que, na verdade, essa Bruxa é mais antiga, e que poderia perfeitamente ter vivido em pleno século III d.C..

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Historia completa da bruxa de Evora.

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Page 1: Feiticeira de Evora

A FEITICEIRA DE ÉVORA

pesq., trads.& texto [email protected]

LINK RELACIONADO: Cipriano, O Santo Feiticeiro

A feiticeira ou bruxa de Évora é uma das personagens mais populares e misteriosas do folclore

e das lendas da magia, especialmente na esfera da cultura popular. Sua biografia é dispersa,

incerta, cheia de contradições. Até onde conduzem as pesquisas, não pode ser considerada

figura histórica; no entanto, sua fama é suficiente para considerá-la arquétipo mítico de um

certo tipo de bruxa, de feiticeira.

Sobre uma Bruxa de Évora, como pessoa localizada em um tempo, sua identidade primeira e

verdadeira, sobre isso não há, nenhum registro que possa ser considerado como Histórico,

documental, de fonte confiável. Documentos referentes à Bruxa simplesmente inexistem.

É difícil até mesmo determinar a época em que viveu. A maioria dos textos/livros sobre uma

Bruxa de Évora afirma que ela viveu no século... Outros, dizem que viveu em meados da Idade

Média. Todavia, um único de texto de referência permite supor que, na verdade, essa Bruxa é

mais antiga, e que poderia perfeitamente ter vivido em pleno século III d.C..

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Mítica, é possível que a primeira bruxa de Évora tenha sido tão poderosa e influente que seu

nome tornou-se sinônimo para praticantes da bruxaria que vieram muito depois e também

fizeram fama desde o antigo oriente Médio, Ásia Menor. Uma idéia de bruxa que alcançou não

somente a Península Ibérica mas também toda a região costeira do Mar Mediterrâneo, os

Bálcãs, as ilhas do mar Mediterrâneo: ao longo de séculos, a expressão "Bruxa de Évora",

tornou-se algo como um título.

A BRUXA & O SANTO FEITICEIRO

As pesquisas sobre esta feiticeira indicam que boa parte de sua fama nasce junto com a fama

de um outro mago negro controverso: Cipriano de Antioquia que viveu no século III da Era

cristã (anos 200). Este, depois de uma vida dedicada à magia negra, converteu-se ao

Cristianismo e foi até canonizado passando fazer parte da história Cristã como São Cipriano.

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Segundo as lendas, pois as biografias desses personagens não têm registros históricos precisos,

o nome "Bruxa de Évora" [ou Bruxa de Yeborath – Iebora, em árabe يع��������بره significando

Cruzado, cruzamento, encruzilhada] aparece pela primeira vez, no contexto do estudo da

História da Bruxaria, ligado ao nome do Santo feiticeiro. Ela teria sido uma das mestras do

mago e ele, seu discípulo mais prestigiado, herdeiro de seus feitiços.

BABILÔNIA:

FEITICEIRAS DE ENCRUZILHADAS

NOS PRIMÓRDIOS DA BRUXARIA

A migração da mítica da Bruxa de Évora:

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da Babilônia até a Península Ibérica

Porém, esse encontro NÃO ACONTECEU na península Ibérica, como sugere o termo

designativo, distintivo da Bruxa, Évora que é uma cidade histórica de Portugal.

Segundo a biografia do feiticeiro Cipriano, seu encontro com a Bruxa aconteceu na

Mesopotâmia, na Babilônia, [atual Iraque] onde se reuniam os ocultistas que estudavam a

magia dos antigos Caldeus [sobretudo Astrologia].

Os dois personagens, já legendários: Cipriano, o Feiticeiro e supostamente, um de seus

Mestres, sendo uma certa Bruxa de Évora, parecem ser um caso de migração de mitos e

sincretismo cultural.

Ambos, Cipriano e a Bruxa, originalmente, parecem pertencer ao acervo das crenças e figuras

mitológicas que chegaram à península Ibérica em diferentes períodos históricos mas que

combinaram-se perfeitamente no universo da mítica do sobrenatural: primeiro, chega a lenda

Cipriano, já difundida no Martirológio cristão: o caso do Feiticeiro e sua misteriosa mestra de

Yeborath. O Bruxo que virou Santo.

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Mais tarde, o juntamente com os Mouros sarracenos que invadiram e dominaram o território a

partir de 715 d.C., vieram as bruxas misteriosas do Oriente, quase ciganas, as bruxas das

Yeborath ou Iebora, das encruzilhadas, das agulhas.

E, se sobre a Bruxa não há registro históricos de espécie alguma, a não ser como arquétipo,

sobre Cipriano, o Santo Feiticeiro, existem, ao menos, um parcos documentos, como sua

Confissão depois da conversão ao Cristianismo.

Como foi dito, Cipriano – o Feiticeiro não somente encontrou uma certa Bruxa de Evora em

sua passagem pela Babilônia como dela teria herdado os livros, as poções, os segredos do

poderes de sua Mestra.

Considerando essa informação como fato possível, uma Bruxa ou feiticeira na/ou da Babilônia

seria, naturalmente, versada naquele tipo magia característica da cultura Mesopotâmica,

aquela normalmente classificada como magia das trevas, da mão esquerda, magia negra:

Goecia, necromancia, vidência, evocações, parcerias com demônios, envultamentos

[encantamento à distância: os bonecos de cera e as agulhas], oráculos.

Essas bruxas e bruxos foram aqueles que preservaram alguma coisa das tradições da magia das

tribos nômades e reino antigos de tempos ainda mais arcaicos entre os quais destacam-se os

Caldeus e os Assírios. Era uma Magia de sombras, freqüentemente desprovida de escrúpulos,

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sem critérios éticos, que livremente associava-se com entidades não humanas e pouco

confiáveis: demônios, gênios, formas-pensamento, elementais, espíritos de pessoas mortas.

Uma bruxa assim poderia, mesmo ter existido. E não somente uma, mas várias. As bruxas de-

ou-das Evoras seriam algo como uma categoria de feiticeiras. Voltando à etimologia da palavra

Évora, embora sejam encontradas raízes em solo europeu, não se pode desconsiderar a

Yeborath dos árabes que, como foi explicado tem como significado: Cruzado, cruzamento,

encruzilhada.

Uma etimologia que sugere a tradução do termo Bruxa de Évora para Bruxa de Encruzilhada

ou, bruxa que faz seus trabalhos em encruzilhadas, lugar de Pactos. [Lembrando uma

característica que lembra a divindade grega Hécate, senhora dos encantamentos e do mundo

dos mortos.]

Com uma pequena mudança gráfica e fonética, se Yeborath é dito Iebora, então o significado

muda para Agulha, agulhas e assim resulta, Bruxa das Agulhas. Ou seja, uma bruxa que

trabalha com agulhas [supõe este pesquisador, agulhas e bonequinho de cera. Meditemos]...

MAGIAS DE ÉVORA ANTES DE TUDO

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Rastrear a trajetória geográfica da figura da "Bruxa de Évora" ao longo dos séculos passa,

necessariamente pelo conhecimento do histórico da localidade de Évora até porque, se o

folclore em torno desta personagem começa na Babilônia do século III d.C., a crença se

perpetua além Oriente-médio, alcança com toda força mítica a vasta região da península

Ibérica e, atravessando o Atlântico junto com os grandes navegadores portugueses e

espanhóis, encontrou seu lugar no imaginário dos povos latinos-nativos-afro-americanos.

Se, de fato, existiu uma bruxa de Évora cuja vida se cruza com a vida de São Cipriano, esta

personagem viveu [ou teria vivido] no século III, os anos 200 depois de Cristo. Nesta época,

Évora era uma cidade romana, a Libetalitas Julia, conquistada em 57 d.C..

Contudo, a palavra Évora, ao que tudo indica é a denominação popular da localidade, antes e

depois do domínio romano e, ainda, são várias as explicações para a origem deste nome.

Plínio, o Velho (23–79 d.C.) – filósofo e naturalista, cronista romano, em seu livro Naturalis

Historia, chama o lugar de Ebora Cerealis, por causa dos campos de trigo que dominavam a

paisagem.

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OS CELTÍBEROS

Os povoamentos na região, cujo centro, hoje, é a cidade Évora, abriga sítios arqueológicos que

datam da Idade do Bronze [1.800 a.C.] e outros ainda mais antigos, do Paleolítico, Neolítico,

Calcolítico [Idade do Cobre, cerca de 3.000 a.C]; de muito antes da Era Cristã. Sobre o passado

remoto de Évora escreve J. Saramago:

Chamaram-lhe Ebora os celtiberos, e como Ebora Cerealis a tem nomeado Plínio, o Velho, na

sua História Natural, o que servirá para dar testemunho de que as planuras transtaganas já

davam pão pelo menos dez séculos antes que os "alentejanos" (os que viveram e vivem além

do Tejo...) se tornassem portugueses (SARAMAGO, 2001).

Mitologia-folclore cristão-pagão e sarraceno [mouros] são apenas dois dos elementos que se

misturam na composição da lenda e das imagens relacionadas à Bruxa de Évora. Uma

influência ainda mais recuada repousa na história dos fascínios e medos dos povos que

habitaram a Península antes de romanos ou mouros.

São os bárbaros celtiberos, dos quais fala Saramago no texto acima e outras nações várias que

se miscigenaram com os supostos autóctones [nativos do local] lusitanos ou lusitani [em latim]

a maior das tribos ibéricas. Os lusitanos propriamente ditos são, geralmente, considerados

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como proto-celtas, celtas primitivos, migrantes, provenientes do norte europeu, mais

especificamente os Célticos.

MAGIA DOS CELTÍBEROS

Uma xamã, ou feiticeira ibérica, [ou um xamã, o gênero é incerto] figura central no culto da

Fertilidade, no Ocidente. É uma sacerdotisa. No peitoral, sete símbolos do sol. British Museum.

Estes primeiros habitantes organizados em aldeias e tribos da região, os celtiberos praticavam

a magia européia ocidental mais primitiva, ainda eivada de crenças e práticas pré-históricas,

como os sacrifícios humanos, por exemplo.

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Nesse contexto, o papel das mulheres tinha grande relevância posto que exerciam o papel de

Xamãs, curandeiras que se utilizavam do conhecimento das virtudes e das peçonhas

fornecidos pela Natureza, poções para o bem e para o mal extraídas de vegetais, animais e

minerais. No alvorecer da História, as bruxas eram como médicas: do corpo, da alma;

intermediárias entre os homens e as forças da Natureza.

Foi essa magia primitiva que, aos poucos, transformou-se na Bruxaria da península Ibérica,

resultado da interação com saberes de outras nações: romanos pagãos, romanos cristãos,

bárbaros outros, pagãos originais ou romanizados; bárbaros cristianizados, Mouros

(muçulmanos, Sarracenos).

Sobre a relação entre Évora e os celtíberos, estudos indicam que, a palavra e o lugar podem

estar ligados a uma antiga divindade celta cultuada na região: Eburianus cujo símbolo é a

árvore do Teixo. Houve tempo em que os lusitanos chamavam a atual localidade de Évora de

Eburobrittium (SÍMON, 2005).

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ERA UMA VEZ... LAGARRONA-LAGARDONA

Segundo o livro de São Cipriano [o feiticeiro, século III d.C. anos 200], capa de Aço, no tempo

em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora, o rei mouro Praxadopel ali construiu

um castelo, em Montemur.

Nesse lugar, hoje chamado Castelo de Giraldo [referência a Geraldo, o Sem Pavor – ... -1173?

herói da reconquista da terra lusa ocupada pelos mouros], transformado em ruínas pelo passar

dos séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, no

fundo da propriedade, ocultos embaixo de montes de pedras, no Túmulo de Montemur, foram

encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos escritos por Lagarrona, a

Feiticeira de Évora (também chamada Lagardona ou La Guardona).

* Os mouros, povos do oriente médio, somente poderiam ter ocupado a região depois período

de expansão dos domínios árabes em suas incursões em território europeu, em uma época,

portanto, pós-fundação do Islamismo. Porém as referências à uma bruxa de Évora remontam

aos primeiros séculos do Cristianismo, por volta do século III, coincidindo com o período de

vida de do bruxo Cipriano. Eis uma prova da dificuldade de identificar a historicidade dessa

feiticeira tão famosa.

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Page 15: Feiticeira de Evora

BABILÔNIA

BERÇO DA MAGIA OCIDENTAL

Babilônia, é o nome em sentido amplo e popular de um dos mais importantes centros de

Civilização da Antiguidade Clássica.

Essa importância deve-se à geografia estratégica, mesopotâmica da região, entre potamus:

terra situada entre dois rios, a saber, Tigres e Eufrates.

Ali, ao longo de milênios, os mais diferentes povos se cruzaram entre batalhas sangrentas e

composições políticas, alternando-se no poder.

Pela ordem cronológica, as principais nações que deixaram suas marcas na Mesopotâmia

foram:

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De ...?-3000 a.C. – SUMÉRIOS: Povo de origem misteriosa, possivelmente provenientes da Ásia

Central ou, mesmo, da Índia. [Segundo teoria da exobiologia e da colonização planetária, os

sumérios são herdeiros de reptilianos denominados Anunaki, oriundos do planeta Nibiru].

LINK: Anunaki, os Deuses Astronautas da Suméria

2.500 a.C. – Acádios [semitas]

2.100 a.C. – Elamitas

2.000 a.C. – Amoritas, segundo algumas fontes, ancestrais da Casa Judaica do Rei Davi.

1.750 a.C. – Bárbaros Cassitas. Introduziram o cavalo no pastoreio mesopotâmico.

1.000 a.C. – Assírios. Povo que desde 3.000 a.C. habitava as montanhas ao norte da

Mesopotâmia. Belicosos, descendo as montanhas, dominaram a região por quase cinco

séculos. Sua capital chamava-se Nínive e seus reis são figuras históricas famosas como: Sargão

II [772-705 a.C.]; Senaqueribe [705-681 a.C.]; Assurbanipal [668-626 a.C.]. Os Assírios, famosos

por serem sanguinários e cruéis, conquistaram quase todo o mundo civilizado de sua época:

Síria, Fenícia, Israel, Egito.

Page 17: Feiticeira de Evora

612 a.C. – CALDEUS. Tomaram o poder comandados por Nabopolasar, pai do famoso

Nabucodonosor. Escravizaram os judeus e durante sua hegemonia surgiu a figura do patriarca

judeu Abraão, na cidade de Ur.

539 a.C. – A Babilônia dos Caldeus caiu sob o domínio dos Persas durante o império de Ciro.

A partir dos Sumérios, politeístas e antropomorfos, e no natural processo de sincretismo

religioso religioso resultante do contato de povos tão diversos, escreve o historiador McNall

Burns: A religião sofreu, nas mãos dos antigos Babilônios, numerosas mudanças, tanto

superficiais quanto profundas (McNALL BURNS, 1985 p 85). A superstições dominavam o

imaginário popular. Continua o pesquisador:

A astrologia, a previsão do futuro e outras formas de Magia cresceram em importância...

houve um incremento na adoração dos demônios... Hordas... de demônios e espíritos

malévolos escondiam-se na escuridão e cruzavam os ares [como bruxas...] espalhando em seu

caminho o terror e a destruição.

Não havia defesa contra eles, exceto os sacrifícios e os sortilégios mágicos. Se o antigo povo

babilônico não inventou a feitiçaria... foi... o primeiro povo civilizado a dar-lhe um lugar de

grande importância [no contexto da organização social]... (McNALL BURNS, 1985 p 86).

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NO PRINCÍPIO FORAM OS CÉLTICOS

Os CÉltICOS foram grupos de Celtas que começaram a chegar na Península Ibérica, ainda na

chamada Idade do Ferro entre os séculos VII e IV antes de Cristo [anos 700 a 400 a.C.] e

iniciaram a ocupação do Alentejo [onde localizam-se distrito e cidade de Évora] e Algarves, sul

de Portugal. Por isso são também chamados Celtíberos ou Celtas-Íberos.

Segundo Jorge de Alarcão, a designação célticos é um coletivo que abrange vários povos como

os:

Cempsii – também chamados cinetes seriam originários da Anatólia e do Cáucaso, de cultura

proto-celta, celta ou pré-céltica Ibérica

DATAÇÃO: século VIII a.C., citados por Herótodo – [485?–420 a.C] historiador grego no século

V A.C..

Segundo uma Estela, Monumento de Pedra, monolítico, conservada até hoje no Museu de

Évora, religião dos Cônios possui uma misteriosa ligação com o judaísmo: monoteísta,

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chamavam seu (s) deus (es), talvez secundários, de Elohim [embora Eloi seja o singular do

plural deuses, elohim].

Túrdulos – herdeiros dos Tartessos, considerados pelos gregos como a primeira civilização do

Ocidente e os Lusitanos, datação: 1000 a.C..

MÍSTICA CELTIBERA

Também o pesquisador Antônio Alvarez, de língua espanhola, reconhece como primeiros

povos históricos da Península Ibérica: Iberos, Tartésios, Celtas e os Celtíberos, como indica o

nome, mistura de celtas e iberos.

A maioria dos historiadores concorda que esses povos viviam conflitos constantes e

guerreavam entre si com certa freqüência. Viviam em tribos. Eram caçadores, pescadores mas

também agricultores e pastores.

No âmbito do religioso e sobrenatural, os Celtíberos eram politeístas, adoradores do Sol, da

Lua e das estrelas. Rendiam culto a espíritos de forças da Natureza que, acreditavam,

habitavam as montanhas, os bosques, as águas.

Page 20: Feiticeira de Evora

Porém, acima de todas a divindades, adoravam um Deus Único Supremo: o Desconhecido, que

festejavam nas noites de lua cheia, dançando nas portas das casas e sacrificando vítimas

humanas. (ALVAREZ, 1998 – p 404).

LINK – Canibalismo – Humanos, Quase Humanos

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Page 22: Feiticeira de Evora

FOLCLORE DA FEITICEIRA EM PORTUGAL

Ruínas das muralhas: Castelo do Giraldo, cidade Évora – Portugal. O Castelo de Giraldo, mais

que uma referência a uma edificação, refere-se a toda uma região que, hoje, é um sítio

arqueológico de Portugal.

No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora [e os mouros chamavam a

cidade de Yeborath a Liberalitas Julia da época da dominação romana], o rei mouro Praxadopel

Page 23: Feiticeira de Evora

ali construiu um castelo em Montemur [região vizinha de Évora cujo centro é a cidade de

Montemor].

Nesse castelo, hoje chamado Castelo de Giraldo, transformado em ruínas pelo passar dos

séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, que, no

fundo da propriedade, enterrada entre montes de pedras, está o Túmulo de Montemur. Nele

foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos [supostamente] escritos

por Lagarrona, a feiticeira de Évora.

Frei Antão de Sis, estudioso dos fenômenos mágicos e da feitiçaria, através dos pergaminhos,

encontrou a casa da bruxa, ainda em pé, apesar do tempo. Descreveu-a como uma casa

diabólica... No meio dela havia uma cova da altura de um homem. As paredes internas

estavam repletas de desenhos representando lagartos, cobras, lagartixas caracóis, rãs,

escaravelhos, símbolos egípcios, vespas, baratas e outros bichos peçonhentos.

Do lado de fora, havia quatro sapos e várias figuras de meninos tendo nas mãos molhos de

varinhas de ervas com os quais ameaçavam os sapos. Ainda dentro da casa, em dos cantos

dessa casa mal-assombrada havia a escultura de pedra de um cavalo-homem, como um

centauro. Noutro lugar, outra estátua, esta, a de uma mulher-serpente. Em certo ponto do

chão ladrilhado com cerâmica negra, uma inscrição:

O primeiro a abrir esta cova

Verá coisas jamais vistas

Cava por diante para que resistas [enfrentes]

ao grande temor que seu peito prova

Page 24: Feiticeira de Evora

Verás sortilégios mágicos que prendem os homens,

o filtro do amor que amarra as mulheres.

Não temas, não temas. Não mostres temor:

acharás sucessos, magia e amor

e, por certo, em tudo será vencedor.

Gran libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985

A BRUXA DE ÉVORA NOS LIVROS

Em Portugal A Bruxa de Évora é o modelo de bruxa. Mas não somente em Portugal: este

modelo de bruxa está na fantasia de toda a Península Ibérica e nos territórios que foram

descobertos e conquistados pelos grandes navegadores ibéricos da Idade Moderna.

É praticamente inexistente o material documental sobre a pessoa específica de uma Bruxa

relacionada, residente ou oriunda da região de Évora. Livros, biografias sobre essa personagem

são poucos e contém informações de fonte duvidosa e/ou desconhecida. Edições de obras

Page 25: Feiticeira de Evora

bem conhecidas não mencionam datas ou originais. Dois livros destacam-se nessa bibliografia

exígua: O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora de Amadeo de Santander e A Bruxa de Évora,

de Maria Helena Farelli.

No primeiro, no que se refere à biografia da Bruxa, o que se encontra, logo no primeiro

capítulo é uma reprodução e/ou tradução de outro texto de autor praticamente desconhecido:

capítulo do Livro de São Cipriano, sabe-se lá em qual de suas repetitivas versões mas, muito

possivelmente da edição em espanhol Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero.

O capítulo, intitulado La Hechicera de Evora o Historia de La Siempre Novia (Siempre Novia,

referência uma das lendas mais difundidas sobre a Bruxa) teria sido, supostamente, extraído

[todo o capítulo] de um manuscrito cujo autor é um certo [ou incerto] Amador Patrício.

FEITIÇO DA COBRA GRÁVIDA

Outro supostamente episódio biográfico sobre a Bruxa relata o paradoxal encontro da

Feiticeira com o Bruxo Cipriano, já cristianizado mas ainda especialista em bruxedos. O caso é

conhecido com O Encontro de São Cipriano com a Bruxa de Évora. Neste encontro, Cipriano

não parece um discípulo diante de uma antiga mestra. Ao contrário, é a bruxa, já em avançada

Page 26: Feiticeira de Evora

idade que recorre ao novo cristão para realizar um feitiço que lhe renderia [a ela, bruxa] bom

dinheiro. Trata-se do feitiço da cobra grávida, para segurar marido.

O ex-bruxo propõe uma barganha: a conversão da bruxa ao Cristianismo em troca da fórmula

mágica. A bruxa aceita e eis a feiticeira de Évora transformada em penitente velhinha cristã.

Ao final, a receita profana, destinada a recuperar o marido da contratante, uma jovem senhora

da nobreza, pede o favor para a réptil gestante [a cobra grávida!] mas, isso em nome de Deus

e da Virgem Maria! Uma combinação extravagante de feitiço pagão e reza cristã.

Santander, autor deste livro, O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora, este autor é tão difícil de

identificar e datar quanto a própria Bruxa de Évora. Ele começa sua obra sem qualquer

introdução, identificando o período de vida da personagem que dá nome ao livro com o tempo

da dominação Sarracena na península Ibérica, ou seja entre o século VIII e começo do século

XII.

Escreve Santander: No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora... E ao

longo do capítulo descreve o que seriam os últimos anos de vida da Bruxa, claramente

qualificada como Moura, muçulmana. No relato, a feiticeira tem um filho adulto e mau.

Chamado Candabul, desejou possuir uma jovem donzela cristã. A bruxa ajuda no rapto da

moça, providencia a morte por enfeitiçamento todos os pretendentes dela. Mas o mal-feitor é

preso e condenado à morte. Mais uma vez a bruxa interfere e se empenha em produzir

mágicos meios de fuga para Candabul.

Page 27: Feiticeira de Evora

LA GUARDONA, O FANTASMA DA BRUXA

Caçada pelos agentes da Lei, depois de várias peripécias, ela acaba morrendo durante um

acidente na realização de um de seus feitiços, que fazia em uma tentativa desesperada de

escapar da Justiça. Quando chegaram os soldados, encontraram-na morta. Não foi sepultada.

Como punição post-mortem, foi pendurada na porta da própria casa e ali ficou apodrecendo e

sendo devorada pelos abutres e vermes. O cadáver, lentamente virando ossada, oscilando ao

sabor das ventanias, era uma visão macabra que parecia vigiar o lugar e a bruxa morta passou

a ser chamada de La Guardona [ou, as corruptelas, Lagarrona e Lagardona], algo como A

Guardiã... da casa, de suas ruínas e arredores. O local, naturalmente, passou a ser temido e

considerado como assombrado [Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985].

Todavia, mais adiante, quando fala do encontro da feiticeira com o ex-mago negro, o autor

[Santander] ignora completamente os dados históricos que, se pouco dizem também sobre a

vida do bruxo Cipriano, ao menos bem determinam a data de sua morte, martirizado por ser

cristão em 304 d.C., muito antes, séculos antes, portanto, da Bruxa de Santander ter

protagonizado aquelas aventuras. No episódio do feitiço da cobra grávida, o fim da bruxa é

outro: cristianizada, bem aposentada com o ouro do último bruxedo que fez por contrato e

empregada como Aia [criada pessoal] de uma condessa.

Page 28: Feiticeira de Evora

LENDAS, FÓRMULAS & SEGREDOS

Torna-se claro que os relatos sobre a bruxa de Évora são de fato, um conjunto de lendas e seus

supostos escritos são de origem desconhecida, excertos de Grimórios mais antigos de autoria

igualmente duvidosa. Alguns são atribuídos a este ou aquele mestre mais conhecido na esfera

do folclore, da cultura popular, como Alberto, o Grande, Papa Honório, bruxo Atanásio e o

próprio Cipriano, o feiticeiro.

Muitas das receitas dos Grimórios são fórmulas de remédios caseiros, acervo de um saber

muito útil em uma época em que a medicina dispunha de toscos recursos e médicos com

estudo eram poucos e para ricos. Muitos dos Segredos da Bruxa revelados no livro de Amadeo

de Santander fazem parte da sabedoria popular dos curandeiros e curandeiras de linhagem

imemorial, uma herança que durante muito tempo foi preservada e transmitida através da

cultura oral.

A própria Bruxa apresentada por A. de Santander em sua pretensa-original tradução-

reprodução do Único e autêntico manuscrito comprovado pelos sábios da Galícia extraído do

Flor Sanctorum, datado dos tempos dos mouros de Évora, a feiticeira comenta revelando algo

possivelmente verídico na vida de muitas Bruxas de Évora: que seus conhecimentos foram-lhe

ensinados pela mãe, segredos passados de geração em geração. Explicando a Cipriano em que

consiste o seu [dela] feitiço da Cobra Grávida Para Prender Marido ela revela algo de

recorrente na biografia dessas bruxas de Encruzilhadas:

Page 29: Feiticeira de Evora

É pele de cobra com flor de suage [ou sage, Artemisia vulgaris ou, ainda, flor-de-são-joão, erva-

de-são-joão, artemísia-verdadeira, losna, absinto. L.C.] e raiz de urze [Erica Lusitanica ou torga

e/ou Calluna vulgaris] que estou queimando em nome de Satanás, para defumar as roupas do

duque [o Grão Duque de Terrara] e ver se o desligo daquela mulher [uma amante]. Esta

mágica foi sempre infalível quando minha mãe a praticava debaixo dessas abóbodas em que as

mãos dos homens não tomaram parte. Minha mãe desligou com ela [a tal magia] mancebais

[relações extraconjugais] de nobres e monarcas...

(SANTANDER, p 13)

Compilados em manuscritos medievais, organizados em volumes raros, artesanais, ornados

com finas iluminuras, a grande enciclopédia dos saberes populares, pagãos, curiosamente,

começou a ser organizada, não raro, pelo monges escribas das grandes escolas e bibliotecas

de mosteiros da Cristandade medieval. Provavelmente foi da pena dos monges que surgiram

os primeiros Grimórios e/ou Engrimanços. Com o advento e evolução da imprensa, ou seja,

depois de Johannes Gutenberg [Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, 1398-1468 –

alemão, considerado inventor/introdutor da imprensa no Ocidente], esses conhecimentos

documentados em registros escritos tornaram-se disponíveis em numerosas cópias que

ganharam o mundo em letras de forma, em publicações variadas, de folhetos baratos,

almanaques de curiosidades até custosas e exclusivas edições.

Page 30: Feiticeira de Evora

O ENCANTAMENTO DA BRUXA

...a Bruxa de Évora foi vista voando em um bode preto...

voava... acompanhada por um veado e um javali alados...

(FARELLI, 2006 p 26)

Em A Bruxa de Évora, Maria Helena Farelli (2006) apresenta a personagem como arquétipo

folclórico luso-hispano-brasileiro, com ênfase nas raízes portuguesas da lenda, já devidamente

hibridizadas entre: 1. o druidismo celtíbero doméstico; 2. o culto romano à deusa Diana

[correspondente à grega Artemis], cujas ruínas do templo ainda podem ser visitadas em Évora;

3. a figura mítica da moura feiticeira, freqüentemente apresentada, simplesmente e

depreciativamente como a Moura Torta, um modelo de bruxa, tudo isso misturado ao – 4.

ritualismo cristão das orações e adoração dos santos e das relíquias e nome sagrados.

Em Farelli (2006), a narrativa passa, como é necessário, pela história da nação lusitana,

detendo-se em período em que a cultura popular mística-religiosa já tinha absorvido

elementos que ficaram como herança do tempo da dominação islâmica-sarracena em toda a

península Ibérica. Boa parte dessa herança consiste no universo misterioso na magia semita,

Page 31: Feiticeira de Evora

caldaica, mesopotâmica: dos magos-alquimistas, astrólogos, videntes, quiromantes,

necromantes – invocadores de gênios e espíritos dos mortos, magia-negra, também, sim, da

mais antiga tradição árabe, pré-Islã. Segundo Farelli a Bruxa de Évora era a ...guardadora dos

segredos dos feitiços do Oriente, a que voava em camelos alados... (FARELLI, 2006 – p 15).

Sobre o sincretismo no qual foi forjada a Bruxa de Évora, a autora escreve: ...o português

sempre acendeu uma vela para Deus e uma para o outro. Até na Igreja ele fazia mirongas... Até

os padres eram acusados desses feitos. Mas os considerados grandes bruxos eram os mouros e

os judeus... (Idem, p 29). E mais: ...segundo a lenda, a Bruxa de Évora era moura... árabe ou

mourisca... morena... (Ibid., p 29).

BRUXA ERUDITA

Em relação à aparência, A Bruxa de Évora (FARELLI, 2006) apresenta o arquétipo folclórico da

personagem em sua velhice. Esta esta é uma daquelas bruxas velhas e esquivas dos contos

infantis. Mas, ao contrário do modelo da curandeira intuitiva, analfabeta, camponesa

ignorante cujo conhecimento é todo proveniente de experiência pessoal e herança de

tradições orais, em Farelli (Idem) a bruxa de Évora é praticamente uma erudita. Alfabetizada,

poliglota, ela fala, lê e escreve em português [o gentílico da época], árabe e latim.

Page 32: Feiticeira de Evora

Sem citar sua fonte de informação, a autora enfatiza: Sabia matemática... reconhecia as

estrelas,... sabia ler a sorte nas areias... Ela conhecia a magia de seus ancestrais muçulmanos*

mas, vivendo no século XIII [anos 1200], também sabia [da magia] dos celtas... (FARELLI, 2006

– p 33). Todavia, a moura pagã era, ao mesmo tempo, devota cristã: ...a velha bruxa já tinha

feito a peregrinação a Santiago de Compostela [tradição cristã]... Já tinha ido à Sé de Braga,

muitas vezes, pagar promessas... (Idem) ...E, ainda: ...a bruxa de Évora não era uma herética.

Era uma mulher que conhecia as rezas (Ibid., p 41).

* Um equívoco comum do olhar superficial do Ocidente sobre o Oriente. Há muito tem-se

confundido cultura árabe com cultura de muçulmanos. A magia não poderia ser praticada por

uma muçulmana. O Islã proibiu, sujeitando a severas penas, a prática da magia tradicional pré-

islâmica. Na verdade, a famosa riqueza da cultura árabe precede o Islã; uma riqueza que o

Islamismo cuidou de mutilar ao longo de mais de um milênio e declina, mais e mais, com a

expansão e recrudescimento fundamentalista da fé no Alcorão e sua teocracia – repressiva,

opressora e regressora, baseada em leis supostamente religiosas suplementares – as Sharias,

diferentes para as diferentes seitas muçulmanas, que ignoram até mesmo os preceitos

estabelecidos no confuso livro sagrado desses crentes.

Além disso, essa Bruxa de Évora era uma senhora em situação social e de comportamento

atípicos para sua época. Vivia bem [ou seja, não passava dificuldades financeiras, materiais].

Tinha dinheiro proveniente da prestação de seus serviços mágicos e/ou técnicos-científicos.

Porém, consciente do espírito dos tempos medievais, não ostentava riqueza ou poder. Era

discreta, sabiamente. Andava pobremente vestida, Era seu jeito de ficar invisível e evitar

confrontos com as autoridades religiosas.

Page 33: Feiticeira de Evora

O LIVRO DA BRUXA QUE NÃO É DA BRUXA

Flos Sanctorium ou Flos-Santorio: Flor dosSantos

Como todo ocultista, seja leigo ou erudito, considerando uma figura histórica da Bruxa como

precursora ou símbolo de um mito, a Bruxa de Évora, alfabetizada que era possuía ou devia

possuir seu próprio Livro [ou livros] de estudos e anotações contendo fórmulas de elixires,

ungüentos, poções, rezas, rituais e outros saberes. Nos meios exotéricos, o livro de registros

pessoais de uma bruxa é chamado Livro das Sombras.

Um possível Livro da Bruxa de Évora seria – ou foi e é, um objeto que, se autêntico, atraiu e

atrai curiosidade e cobiça proporcional à força lendária de sua suposta autora. Um objeto

digno de um Museu de história da cultura ocidental. De fato, este Livro é um dos elementos

mais explorados do folclore em torno da Bruxa; explorado, inclusive, no mercado editorial.

Page 34: Feiticeira de Evora

Porém, o texto que tem atravessado séculos e que Amadeo Santander reproduz em seu Livro

da Bruxa (s/data), este texto é uma mutação de autoria desconhecida o suficiente para ser

considerado de domínio público. Na folha de rosto de uma edição recente Santander e/ou a

editora [seja lá quem for este autor] declara que a obra reproduz o único e autêntico

manuscrito... [cópia] do original extraído dos Flos Sanctorum, datado do tempo dos mouros de

Évora.

Esta informação é uma encruzilhada na pesquisa: ocorre que o Flos Sanctorum [ou Florilégio

dos Santos, Flor dos Santos] a princípio, é Hagiografia: um livro que reúne biografias de santos

[?!]. E a situação se complica posto que o Flos Sanctorum, segundo estudos é, por sua vez,

reedição de um livro mais antigo, A Lenda Áurea ou A Legenda Áurea que também é,

essencialmente, coletânea de vidas de santos, escrito-compilado por Jacobus de Voragine

[1230-1298, italiano, religioso dominicano, arcebispo de Gênova], datado em em torno do ano

de 1260.

A questão é: como pode, o Livro da Bruxa apresentado por A. Santander ser extrato, derivação

de um Flos Sanctorum de qualquer século? Tudo indica que o Livro da Bruxa não é, de modo

algum derivado de manuscritos de uma Bruxa de Évora. O nome da Bruxa, nesse caso, tal

como no caso do penitente Bruxo Cipriano é usado como atrativo de mercado. Caso simples de

propaganda enganosa. Em ambos os casos, os Livros atribuídos aos lendários autores são

coletâneas de simpatias e receitas populares, tradicionais, resgatadas do acervo da cultura

oral, misturadas com rezas e saberes práticos destinados a solucionar os problemas do corpo e

da alma do Homem medieval.

Page 35: Feiticeira de Evora

MAGIA PRÁTICA, MUITO PRÁTICA

comentário ao conteúdo de O Livro da Bruxa de A. Santander

No livro de A. Santander as receitas mágicas, feitiços, oráculos, começam no capítulo III com

uma técnica muito útil, atemporal! que pode funcionar em qualquer época, para as mulheres

se livrarem dos homens quando estiverem aborrecidas de os aturar. A seguir, uma receita

infalível para as mulheres não terem filhos, tão útil quanto anterior ou mais, método bastante

tradicional, utilizando esponjas do mar introduzidas na vagina antes do coito, truque já usado

no Egito Antigo, por exemplo. Há magias para sedução, rejeição e fidelidade, para prosperar

no trabalho honesto ou desonesto. Oferece proteção contra inimigos, oráculos para saber do

presente e do futuro, feitiços e contra-feitiços.

O capítulo IV resgata a figura do mago egípcio Janes [que, juntamente com seu parceiro,

Jambres], que confrontou Moisés e Arão diante do Faraó com uma disputa de poderes

mágicos. Este personagem, o mago egípcio Janes, pouco lembrado nos dias correntes, também

é citado nos Livros de são Cipriano, fortalecendo as alusões a uma ligação, mestra-discípulo

entre o Santo Bruxo e a Bruxa de Évora. Em uma das versões da fim da vida da Bruxa, ela é

convertida ao cristianismo por Cipriano e termina sua vida como devota católica e aia

[camareira pessoal] de uma aristocrata.

Neste capitulo,continuam sendo listadas magias relacionadas com questões

mundanas,cotidianas,incluem ainda, receitas de beleza: Para conservar a formosura, para

Page 36: Feiticeira de Evora

afinar, limpar e clarear a pele, tingir os cabelos. Em uma das formulas o mago Jambres

promete: ...Fazer sumir do corpo e do rosto as verrugas, manchas e outras excrescências da

pele.

O capitulo V é dedicado à Pastoromancia, denominação imprópria, refere-se à chamada, por

ocultistas como Eliphas Levi [Alphonse Louis Constant, 1810-1875] e Papus [Gérard Anaclet

Vincent Encausse, 1865-1916], magia dos campos, da tradição dos pastores da Sicilia, Itália. E

não são propriamente magias.

São receitas, mais especificamente, medicinais, parte do arsenal curativo popular dos

precários tempos medievais. São remédios e rezas para combater, solitária [Taenia solium,

verme platelminto], hemorróidas, lesões musculares, surdez, dor de dentes, feridas, úlceras,

hemorragias, queimaduras, picada de insetos e animais peçonhentos e, é claro, receita contra

calos e verrugas.

O CAPITULO VI promete revelar o segredo alquímico da arte de fazer ouro. Porém, como

sempre acontece nesse tipo de "literatura" o texto nada fornece de aproveitável sobre o tema.

Aliás, passa longe de qualquer fórmula de produzir ouro.

Page 37: Feiticeira de Evora

São mencionadas umas poucas substâncias muito usadas em outras operações mágicas

registradas em outros manuais do gênero. Tais substancias seriam ingredientes-chave da

transmutação de materiais ordinários no precioso metal. Escreve Santander: Não faltam nos

livros verídicos [?] exemplos que comprovem essa operação. E ainda: Esta arte é de grande

facilidade [!] mas exposta a graves perigos porque não se pode executar em a cooperação do

demônio (SANTANDER, p 59).

É o demônio quem prepara e fornece certos pós empregados na transmutação. Dois metais e

uma outra substância são mencionados como ingredientes essenciais: argenteo vivo

[possivelmente interpretável como Alumínio (Al) mas muito mais provável que seja

redundância esclarecendo o azougue como sendo e elemento Mercúrio cujo símbolo é Hg

provém da designação latina – hydrargyrum que significa prata líquida.

De fato, o Mercúrio assemelha-se a uma prata buliçosa e vívida [por sua consistência entre o

fluido e o gel]; daí também a denominação azougue [para o mercúrio], aludindo a algo

buliçoso, que não para quieto. Finalmente, entre os ingredientes da transmutação comentada

em O Livro da Bruxa é mencionado um misterioso pó de Resh [Veja box ao lado].

CAPÍTULO VII – TESOUROS DA GALIZA

Page 38: Feiticeira de Evora

Galiza ou Galícia é uma comunidade autônoma espanhola, fronteira com Portugal, situada a

noroeste da Península Ibérica. Sua capital é Santiago de Compostela, na província da Corunha.

As informações sobre estes tesouros foram alegadamente extraídas de um pergaminho que

teria sido encontrado nas ruínas do castelo mourisco de Altamira [abaixo] no ano de 1065.

Sobre o paradeiro do pergaminho (no século XX) diz o autor (Santander) que encontra-se [ou

encontrava-se...] em Barcelos, [cidade portuguesa, norte do país], na Biblioteca Acadêmica

Peninsular Catalã.

Page 39: Feiticeira de Evora

Muito danificado, o pergaminho tem partes carcomidas e em alguns casos não se entende

bem (SANTANDER, p 63]. Na verdade, todo o texto sobre os supostos Tesouros da Galiza não

se entende nada bem, por exigüidade de informações e/ou por arcaísmos nas denominações

topográficas, medidas de distância e valores.

Os termos usados nos textos dos 173 (cento e setenta três) segredos estão repletos de termos

muito antigos. Exemplos: Encruzilhada de Lobios, distância de 32 homens... depositamos 500

cunhos, na ponte do Poderoso, à profundeza de dois homens... [na]... residência de frei

Tramudo... um haver de prata em rama... entre dois troncos de pinheiro, etc.

Deste modo, as dezenas de segredos que deveriam revelar ou fornecer chaves de localização

de tesouros, parecem nada significar; de nada servir aos caçadores das arcas e das botijas

perdidas.

Todavia, se um crédulo ou teimoso arriscar apostar em algumas das 173 dicas vai precisar

estudar exaustivamente para decifrar/traduzir os nomes de localidades, que mudaram muitas

vezes, identificar personagens históricos, descobrir e converter para termos atuais valores das

distâncias e das supostas riquezas.

Page 40: Feiticeira de Evora

CAPÍTULO VIII – ORÁCULO DOS SEGREDOS

REVELADOS PELA FEITICEIRA DE ÉVORA

São 108 estes segredos que o autor (Santander) classifica como maravilhosos. Porém o

capítulo, na realidade apenas reúne mais receitas, cujo teor oscila entre a superstição e o

curandeirismo mais popular.

Pretender fornece fórmulas para uma miríade de problemas da condição humana: desde a

prática de proezas sobrenaturais, remédios caseiros para questões domésticas mais ou menos

ordinárias ou, ainda artifícios para alcançar desejos pouco louváveis e, certamente, nada

cristãos.

Em termos gerais trata da saúde e higiene básicas, das virtudes de certas substâncias e de

outras coisas, dos truques mágicos para obter vantagens, das operações consideradas

sobrenaturais, como a levitação. São outros exemplos desses segredos textos que tratam de

assuntos como:

Em saúde e higiene – Cura de dores de cabeça, evitar pulgas, carrapatos, percevejos, piolhos,

formigas, moscas; são remédios par lombrigas, tosse, catarro. diarréia, desinteira; para evitar a

Page 41: Feiticeira de Evora

sarna, para conhecer enfermidades pelo exame da urina, para manter a castidade, para cobrir

os cabelos brancos. Para manter a castidade...

Sobre virtudes de substâncias e de certas coisas – Do vinagre, da urina, do ovo, da Genebra, da

Artemísia, do Jacinto, do sono, de peles descartadas na muda das cobras. Para conhecer as

enfermidades pelo exame da urina. Sobre as virtudes do sono.

Prodígios – Tirar o sal da água do mar. Separar água e vinho. Para que um cavalo pareça manco

não sendo. Para não sentir tédio nem cansaço em uma jornada. Para o fogo não queimar.

Descobrir infidelidades. Fabricar uma lâmpada invisível.

CAPÍTULO IX – Frenologia, Antropometria & Fisiognomia

Page 42: Feiticeira de Evora

Phrenologie, 1894. Friedrich Eduard Bilz (1842-1922)

VEJA AQUI, ampliação de similar, em inglês,

com imagens ao invés de legendas no cérebro.

Trata-se de conhecer os indivíduos pelo estudo ou leitura do Crânio [fenologia], das

Proporções e aspectos das partes do Corpo [antropometria] e dos traços do rosto

[fisiognomia]. Capítulo bastante curioso que, muito provavelmente, mistura sabedoria popular

com idéias científicas que tornaram-se populares.

Além disso, esse tipo de conhecimento é matéria essencial para qualquer magista e/ou

ocultista, uma tema especial entre todos os tópicos dos estudos das Ciências Humanas [no

ocultismo].

Embora estas ciências tenham origens muito antigas, o texto de Santander em O Livro da

Bruxa é fundamentado nos estudos do médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828, que

mapeou crânio e cérebro segundo suas supostas funções):

Page 43: Feiticeira de Evora

Gall, o notável médico e fisionomista... é o autor deste engenhoso sistema, que ensina a

descobrir, por claríssimo modo, as inclinações, vícios, paixões e virtudes de todas as pessoas

pelo simples exame e configuração do crânio. ...Não se pode por em dúvida a lógica desse

sistema. ... Os homens mais notáveis, tanto por seus talentos como por seus crimes, raras

vezes apresentam cabeças regulares [SANTANDER].

Santander fornece a lista das faculdades cerebrais, que são trinta associadas a trinta regiões

crânio-cérebro, mas não apresenta o mapa concebido por F. J. Gall. A seguir passa a tratar da

fisiognomia, estudo dos traços e formas do rosto fornecendo algumas dicas sobre a leitura

dessas características: formato, tamanho dos olhos, nariz, testa, boca, dentes, queixo, orelhas,

mãos, pés.

Também fala dos tipos físicos como um todo, considerando altura, compleição, postura.

Porém, o estudo apresentado por Santander muito superficial se comparado a outros

publicados por ocultistas mais eruditos, como Papus [Gerard Anaclet Vincent Encausse, 1865-

1916].

CAPÍTULO X – CARTOMANCIA

Page 44: Feiticeira de Evora

Neste penúltimo capítulo, mais uma vez, misterioso manuscrito revelaria a técnica da suposta

Bruxa de Évora no ofício oracular de ler o destino das pessoas nas cartas de um baralho

comum.

Na misérrima choça que abrigava a bruxa, sua última morada antes da condenação e num

falso compartimento que lhe servia de dormitório, foi achado um manuscrito esta nova arte de

deitar as cartas, a que demos o nome de cartomancia cruzada e, ao que parece, [desta técnica]

a feiticeira começou a fazer uso depois de ter-se indisposto com Satanás [supostamente, a

Bruxa converteu-se ao Cristianismo por influência do também ex-feiticeiro Cipriano – [p 139].

Observação: Na cartomancia, as cartas podem deitadas [tiradas e postas na superfície de um

plano] em disposição linear, uma ao lado da outra, é muito comum. A forma cruzada dispõe as

cartas de modo a formarem a figura de uma cruz, com uma tiragem de cinco cartas, por

exemplo. Isso isentaria a prática de tirar a sorte do estigma do pecado que consiste,

justamente, em fazer uso de oráculos. Meditemos...

CAPÍTULO XI – SOBRE ASSOMBRAÇÕES

Finalizando o Livro, Santander apresenta uma pequena coleção de casos de assombrações,

sem faltar a célebre casa assombrada de Atenas e referências a personagens do folclore

histórico, especialmente da península Ibérica, como: o Frade da Mão Furada e a Velha nos

telhados das casas. Crenças que chegaram ao Brasil colônia como atestam pesquisas de

estudiosos do assunto.

LINK RELACIONADO: Cipriano, O Santo Feiticeiro

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Page 45: Feiticeira de Evora

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