ESTUDO DE CASO CLiNICO INFANTIL - UMA...

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Andrea Cristina de Melo Guimaraes ESTUDO DE CASO CLiNICO INFANTIL - UMA ABORDAGEM COMPORTAMENTAL-COGNITIVA Monografia apresentada ao Curso de Pslcologia Clinica Comportamental da Faculdade de Ciencias Biologicas e da Salide, da Universidade Tuiuti do Parana, como requisito parcial para a obtencao do grau de Especialista. Orientadora: Maria da Grae;a Saldanha Padilha ~ () v Curitiba 2006

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Andrea Cristina de Melo Guimaraes

ESTUDO DE CASO CLiNICO INFANTIL - UMA ABORDAGEMCOMPORTAMENTAL-COGNITIVA

Monografia apresentada ao Curso dePslcologia Clinica Comportamental daFaculdade de Ciencias Biologicas e da Salide,da Universidade Tuiuti do Parana, comorequisito parcial para a obtencao do grau deEspecialista.Orientadora: Maria da Grae;a Saldanha Padilha

~()

vCuritiba

2006

RESUMO

o objetivo deste trabalho e analisar um estudo de easo a luz da abordagemComportamentalCognitiv~ Infantil. 0 processo terapeutico foi realizado com umacrian<;ade dez anos e seis meses com a queixa de apresentar comportamentosinadequados, agressividade e baixa auto-e5tima. Urn fator muito importante foi ainclusao dos pais da criany8 nesse processo, atraves de atendimentos quinzenais,enquanto a crianc;a era atendida semanalmente. Atraves dos relatas verbais, dautilizac;iiode tecnieas comportamentaise atividadesextras, foi possivel a realizac;iioda analise funcional necessaria para verificar as relayoes existentes entre 0 atuarcomportamento e as eventos que ocorrem em seu ambiente. Os resultados fcrampositiv~s no que diz respeito a mudan<;a de comportamento da crian9a,principalmente na escola.

Palavras-chave: psicoterapia infantil - agressividade - auto-estima

SUMARIO

1 CAPiTULO 1- REVISAO DE lITERATURA ..

1.1 A AUTO-ESTIMA DA CRIAN<;:A .

1.2 A AGRESSIVIDADE INFANTIL..

. 5

. 8

. 13

2 CAPiTULO 11- ESTUDO DE CASO cliNICO 16

3 CAPiTULO 111- CONClUSAO .. ..26

.294 REFERENCIAS .

CAPiTULO I

A terapia Cognitivo-Comportamental com crian\,<,s e fundamentalmente

semelhante, tanto na teeria quanta na pratica, a terapia cognitiva com actultos.

Entretanto, exige que S8 de maior atenyao aos contextos interpessoais nos quais as

atitudes e crenyas das crianyas sao alcan\,<,das, assim como aos fatores de

desenvolvimento associados iI mudan\,<,comportamental e emocional. (REINECKE,

DATTILIO E FREEMAN, 1999).

Segundo Lima (1988), 0 objetivo da psicoterapia comportamental infantil eproporcionar a crian~ reconhecer as variaveis que controlam seu comportamento e

ajuda-Ia a lidar com tais variaveis, proporcionancto assim urn aumento da freqOencia

de comportamentos que Ihe possibilitem maior satisfayao. (apud RANGE, 1995).

De acordo com Barrio (1988), para 0 psic610goinfantil poder definir a direyao

efetiva a ser seguida no processo de intervenc;ao clinica comportamental, precisa

primeiramente entrevistar a propria criany8, as pais. as professores e/au Qutras

pessoas significativas do seu contexto. Ap6s a entrevista inicial, que tern a finalidade

de "coletar dados", 0 processo terapeutico e dividido nas seguintes etapas:

Identific8C;03odo problema, analise funcional, selec;ao do tratamento a avaliac;ao do

tratamento. (apud RANGE, 2001).

No decorrer deste processo, os pais sao orientados e ensinados a observar

a crianc;a e a sa auto-observar, discriminando as relac;6es entre os comportamentos,

a fim de perceber que a crianya foi trazida II terapia pela inadequayao de certos

comportamentos em relayao ao meio e ao momento em que viva.

A psicoterapia e importante para 0 autoconhecimento, pois e urn espayo

para aumentar auto-observayao. 0 terapeuta dever;, criar condiyoes para que 0

cliente chegue '" discriminac;ao de contingencias. Ao adquirir esta habilidade, 0

individuo estar'" mais aplo a modificar seu comportamento e/ou ampliar seu

repertorio (ROCHA E BRANOAO, 1997).

Urn comportamento que se desvia da norma social e assim considerado

porque ocorre com uma freqOencia ou intensidade que 0 ambiente social da crianva

julga ser muito alta ou muito baixa (MEYER, 1985).

Patterson e Gullion (1979) falam que quase tudo 0 que as pessoas fazem

representa alguma coisa que elas aprenderam. Portanto, acredita-se que uma

crianva-problema age da maneira como faz nao porque nasceu assim, mas porque

ela foi ensinada a comportar-se daquele jeito.

Uma das coisas rna is importantes envolvidas nesse tipo de aprendizagem

compreende 0 emprego de recompensas ou reforyos positiv~s. 0 comportamento

que e seguido de urn refof90 positiv~ ocorrera mais freqGentemente no futuro. 0

mais difieil para as pais e ser constante e continuar refor~andoas comportamentos

desejados. Muitas vezes estes comportamentos sao considerados naturais e naD

sao reforyados. Ocorre, no entanto, que se uma resposta nao for reforyada de vez

em quando, mesmo depois de aprendida, ela poder,; se enfraquecer (PATTERSON

E GULLION, 1979).

Algumas condutas patemas sao sugeridas por Conte (1997) que, antes

ressalta que fatares nao relacionados a crianya podem ser expeliencias importantes

no desenvolvimento do repertorio de "ser pai" (estilo parental), par conla dos

processos de modelagem e de modelac;ao.As caracleristicas peculiares da crianya

ao nascer tambem podem contribuir para que ocorram interaya8s prejudiciais entre

pais e filhos (por exemplo: hipersensibilidade com facilidade para charar).

As condutas sugeridas seriam, entao:

•suporte parental (valorizayao pessoal e aceita,ilo da crianya);

•encorajamento ao desenvolvimento de competencia social (expressao de

afeto, interay6es mais positivas do que aversivas e desenvolvimento de

autonomia);

•usc de metodos racionais e verbais de disciplina, evitando a agressao.

Par tim, asta autora sugare que saja realizado urn trabalho com pais e filhos,

onde 0 terapeuta comportamental crie condi<;iies para provocar mudan,as na

qualidade da rela,ao estabelecida, levando em conta os repertorios pessoais dos

pais e dos filhos, suas hist6rias passadas, as determinantes atuais e as infiuencias

reciprocas dos comportamentos dos diferentes membros da familia.

Observando por que condutas e que a crianya esta sendo reforyada, poder-

se-a compreender como a crianya adquiriu aquela personalidade. A personalidade e

adquirida como resultado dos pequenos eventos que acontecem milh6es de vezes

por dia a uma crianya, ou seja, dos reforyos sociais (PATTERSON E GULLION,

1979).

Rocha e Brandao (1997) realizaram um levantamento bibliografico e

constataram que a conduta da crian,a seja adequada ou nao, remonta as intera,oes

vivenciadas no ambito familiar.

Sobre isso, Kolb (1977) comenta que 0 problema da crianya origina-se em

geral da relayao vivenciada entre ela e seus pais, aliada a atitude dos pais. A

modificayao das atitudes destes ante a criany8 faz-se necessaria para uma mudanva

eficaz.

Conforme Ingberman, "mudar as contingencias pelas quais 0 paciente obtem

aprov8y8o e cuidado de Qutros membros da familia e 0 principia basieD da

aprendizagem que dtl base it terapia" (1997, p.234).

Segundo Silvares (2000) a intervenyao sera mais efetiva quanto maior for a

alterayao nos elementos negativos que atuam sabre a crianya (familiares,

institucionais ... ) isto se justifica na concepyao comportamental de disturbio

psicol6gico, que considera a importancia do meio onde a crianya esta inserida. A

mesma autora camenta que se houver apaio da familia na interven980 pSicol6gica

infantll,0 resultadoseramais eficaz e as mudanyasserao mais duradouras.

o trabalho individual com a crianya e um adjunto ao trabalho baseado na

familia. Torna-se dificil, no entanlo, que a abordagem individual da crianya, sem a

participayao da familia, consiga alterar mudanyas mal-adaptativas nas relac;6es pais-

filhos.(INGBERMAN, 1997)

AUTO-ESTIMA DA CRIANl;A

Branden afinma:

Todo ser humano, seja qual for a estrutura de valores na qual ele sedesenvolve, e obrigado a agir para satisfazer suas necessidades basicas.Nao e sempre que nos sentimos automaticamente competentes diante dessedesafiD. Mesma assim as seres humanos precisam ter a experiencia dacompetencia, se quiserem possuir urn senso basico de seguranca e forcainterior. Sem i5S0 nao podem comportar-se com adequar;ao. Nao nossentimos sempre e automaticamente merecedores de amor, respeito,felicidade. Me5ma assim, todo ser humano precisa ter a experi€mcia do valorpr6prio (auto-re5peito), se quiser cuidar adequadamente de 51, proteger 5eusintere5ses legitimos, obter alguma satisfacao com seus esforr;os (quando forpossivel) enfrentar as que possam prejudica-Io e explora-Io. Sem isso ale n~otem condir;oes de agir adequadamente na defesa de seus interesses. A raizda necessidade da auto...estima e biolOgica: faz parte da sobreviv€mcia e dofuncionamento continuo e eficiente (2002, p. 344 e 345).

A formayao da auto-estima e um processo lento, que se desenvolve a partir

das experiencias pessoais da crianya e da relavao com os outros no seu

comportamento inicial. A maneira como as outras pessoas reagem ao seu

comportamento, aprovando-o ou desaprovando-o, detenmina 0 tipo de auto-estima

que a crian9adesenvolvera.

Segundo Tiba (2002), a auto - estima comeya a se desenvolver numa

pessoa quando ela e ainda urn bebe. Os cuidados e as carinhos VaG mostrando a

crianya que ela e amada e cuidada.Nesse comeyo de vida, ela esta aprendendo

como e 0 mundo a sua volta, e conforme sa desenvolve. vai descobrindo seu valor a

partir do valor que os outros Ihe dao.

A auto-estima continua a se desenvolver conforme a pessoa se sente segura

e capaz de realizar seus desejas 8, futuramente, suas tarefas.

A auto-estima se refere a capacidade de acreditarmos em nassas

habilidades e potencialidades. Eo um elemento que se desenvolve na infancia e

depende de quanta e como famas valorizados pelas pessoas que amamos.

Conhecer 0 pr6prio valor depende de que alguem 0 aponte e Ihe estimule.

o juizo que a crianya faz de si mesma surge a partir juizo dos Qutros. A crianya vai

construir sua auto-imagem a partir da reia980 que tern com as Qutros.

"Nenhuma crianya pode ver-se diretamente, ela s6 pode ver a si pr6pria

pelos reflexos que produz nos outros. Seus" espelhos" literalmente modelam sua

auto-imagem". (BRIGGS, 2000, p.20).

De acordo com Briggs (2000), com aproximadamente cinco anos, a crianya

ja reuniu reflexos suficientes a seu raspeito pra poder formar sua primeira estimativa

do valor que tern, ou seja, ja tern uma opiniao formada sobre si mesma, como

pessoa. Quanto mais a crian9a gosta da sua auto-imagem, maior sua auto-estima.

Segundo Mussen,

A auto-estima nao e identica ao autoconceito, embora ambos serelacionem. A auto-estima baseia-se em avaliayOes e julgamentas sabre ascaracteristicas percebidas de uma pessoa, 0 autoconceita nao implicasentimentos positiv~s ou negativ~s a respeito do eu. (1988 p. 304).

10

Mosqueira (apud JERSILD, 1977), atribui caracteristicas para esses

conceitos. Para ele, autoconceito refere-se especialmente a SitU8ga8S vivenciadas

que levam 0 individuo a ter, cada vez mais, uma experiencia atraves da qual possa

revelar uma certa possibilidade de se conhecer, a auto-imagem e 0 quadro que a

pessoa faz de si; a auto-estima decorre de uma atitude positiva ou negativa perante

um objeto particular. Este e 0 si mesmo. A auto-estima e 0 que cada pessoa sente

porsi.

Atraves dessas definic;:6es,observa-se que 0 autoconceito S8 refere a atitude

que 0 individuo tern de si mesma, sem atribuir-lhe valor. Por Dutro lado, a 8UtO-

estima e abordada em termos de uma atitude valorativa do individuo em rela9ao a si

mesma. Assim, 0 individuo pode ter uma auto-estima alta ou baixa.

Jersild afirma que:

Sa uma crianca e aceita, aprovada, respeitada e estimada par aquila que e,estara sendo auxiliada no sentido de adquirir uma atitude de auto-aceitat;:ao eraspeito par si masma. Mas se a depreciam, acusam ou rejeitam, as atltudesda crian'YB, em relacao a si propria, tern probabilidade de se tornaremdesfavoraveis, e ela tendera a se julgar tal como e julgada pelos outros(1977, p. 138).

o periodo da infancia e decisivo para forma9i\o da imagem que alguem faz

de si. E nesses anos que a pessoa aprende a se arranjar com sentimentos de

inferioridade, culpa e frustra~es. A crianya que aprende a confiar em si mesma, que

se sente capaz de fazer coisas que depende s6 dela, e que se sente amada,

aceitara a ausencia de certos talentos, sem colocar em perigo sua auto-estima.

Em um estudo feito por Coopersmith (1967), este descobriu que nao havia

correlac;5essignificativas entre fatores como condivao economica da familia, grau

de instru9i\o, localiza9aOgeografica, classe social, ocupa9i\o do pai, ou a presen98

constante da mae em casa. 0 que constatou como significativo foi a qualidade do

II

relacionamento entre a crian~ e as adultos importantes de sua vida. (apud

BRANDEN,2002).

Mais especificamente, ale encontrou cinco condic;oes associadas ao alto grau

de auto-estima nas criany8s:

1- Experimentar uma total aceita~o de seus pensamentos, sentimentos e

valores pessoais;

2- Estar inserida num contexto com Iimites claramente definidos, desde que

sejam justos e naD opressores:

3- Os pais nao usarem de autoritarismo e violencia para controlar e

manipular a crianC;8, bern como naD humilhar, nem a ridicularizar;

4- as pais mantem altos padrees e altas expectativas em termos de

comportamento e desempenho. A atitude naD e "qualquer coisa serve".

Eles 113mexpectativas morais e comportamentais que sao transmitidas

de forma respeitosa, amavel e nao repressiva; a crianya e desafiada a

ser 0 melhor que pode.

5- as pr6prios pais tendem a apresentar urn alto nivel de auto-estima. Sao

modelos de auto-eficiencia e auto-respeito. A crian98 tern exemplos

vivos do que precisa aprender.

Segundo Branden (2002), as expectativas dos pais devem ser coerentes

com 0 nivel de desenvolvimento da crian98 e respeitar seus atributos singulares.

Nao sa dave oprimir urna crianya com expectativas que naD lavern em conta seu

contexte e suas necessidades.

o autor ainda caloca que, a maneira como os pais reagem quando as

crian9as cometem erros pode selar 0 destine de sua auto-estima. Cameter arros

integra grande parte da aprendizagem, entao, se cayoam da crian98 quando ela

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erra, S8 ela e ridicularizada, humilhada au punida - au S8 as pais S8 impacientam e

dizem: "deixa que eu f898 iS50" -, ela naD S8 sentifa livre para S8 esfon;;;ar e

aprender.

Oesta maneira as pais acabam passando a mensagem para a crianya de

que ela nao e capaz e esta S8 sentira insegura e desvalorizada.

Uma das mais importantes tarefas da psicoterapia sera ajudar a pessoa a

construir a auto-8stima.

De acordo com Branden (2002) a pSicoterapia tern dois objetivos basicos.

Urn e reduzir as medos irracionais, as rea~es depressivas e as sentimentos

perturbadores de toda a especie. Par outro lado, encorajar 0 aprendizado de novas

habilidades, de novas maneiras de pensar a vida e de encara-Ia, de estrategias

melhores para lidar consigo mesmo e com os outros, e ajuda a expandir a no~o das

proprias possibilidades. Ambos os objetivos sao colocados no contexto que visa 0

fortaJecimento da auto-8stima. Para 0 que 0 pSicoterapeuta possa realizar urn

trabalho terapeutico eficaz, este necessita de algumas habilidades basicas como,

criar urn born vinculo, criar uma atmosfera segura e de aceitayao, habilidade de

relacionamento humano, e transmitir uma perspectiva de esperanya e otimismo.

EntaD assim ele podera trabalhar com a crian~ novas aprendizados em relayao a

sua auto-imagem, pais par rna is cristalizada que seja seu autaconceita, este pade

ser modificado. Os autoconceitos sao aprendidos e nao herdados.

~Aumentar a auto-estima e mais do que eliminar os elementos negativ~s;requer a realizayao dos positiv~s. Requer a disposiyao para alravessar 0 medoe confrontar conflitos e realidades incompativeis. Exige que se aprenda adominar, em vez de afastar-se e eviler". (BRANDEN, 2002, p. 321).

Segundo Briggs (2000), abrir mao da identidade que cultivaram durante

anos, mesmo que esta auto-imagem seja insatisfat6ria, e desnorteante para a

pessoa. Viver com 0 que se conhece, mesmo sendo desagradavel, e mais seguro.

13

A pessoa que S8 apega a uma identidade negativa S8 protege das grandes

mudanyas. Po is a mudanya implica tentar 0 que e novo, entrar no desconhecido,

abrir mao da seguranrya das eoisas familia res.

Entao 0 processo terapeutico va; proporcionar urn suporte e mobiliza~o

A AGRESSIVIDADE INFANTIL

A aprendizagem social e 0 que se aprende pela associa9ao com outras

pessoas. Por issa, quase tudo 0 que as pessoas fazem representa alguma coisa que

aprenderam, (PATTERSON E GULLION, 1979). Portanto, se uma crian~ age de

maneira problematica e porque foi ensinada a comportar-se daquele jeito. Sendo

assim, uma crianya tambern pode ser ensinada a portar-se bern.

Para entender a agressividade, e necessaria olhar urn pouco para 0

desenvolvimento da crianya e como ela aprende a S8 comportar agressivamente.

Por volta dos tres ou quatro anos, e bastante comum as crianyas apresentarem

condutas agressivas em relay80 aos adultos e as outras crian9as, como marder,

bater, dar chutes, etc. Nessa fase, diz-se que a agressividade e essencialmente

manipulativa, isto e, a crianc;:a agride os outros para alcan9ar determinados fins,

como, por exemplo, ganhar um brinquedo ou defender-se (e comum a crian~ dar

tapas nos pais quando eles Ihe chamam a aten9iio). Essa conduta e a fonma que a

crianya encontra de controlar 0 ambiente, ou seja, e a forma mais eficaz de

satisfazer suas necessidades.

Evidentemente, a agressividade nao desaparece por completo com 0 passar

do tempo. 0 que ocorre e que a crianya aprende com os adultos que hi'! outras

formas de se defender e obter aquilo que deseja. Quando os educadores ensinam

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que nao e necessario lirar dos colegas os brinquedos, mas que e possivel pedir para

brincar com eles ou chegar a urn acordo sabre como dividi-Ios, eles estao ensinando

a crian"" estrategias sociais que podem substituir condutas agressivas. Se esse tipo

de estrategia se mostrar eficaz, gradualmente a crian"" aprende a negociar e, se 0

ambiente dela (escola, familia, grupo social) valorizar essa atitude, aos poucos, a

conduta agressiva passa a ser menes freqUente que Qutras formas de controlar a

ambiente. Eo por isso que as brigas e as disputas violentas sao menos frequentes

com 0 passar do tempo e 56 acontecem em situ8goes extremas, como, par exemplo,

em caso de of ens as multo graves.

As vezes, porem, as condutas agressivas tornarn-se urn padrao frequente de

comportamento e persistem com 0 tempo, podendo se transformar em urn problema

mais serio na adolescencia e na vida adulta. A agressividade torna-se a forma

preferencial da crianya ou do adolescente para resolver qualquer dificuldade. Varias

pesquisas mostram que 0 desenvolvimento desse padrao de comportamento

comeQa na intancia e tern relac;ao, principalmente, com as intera¢es familiares e

com 0 ambiente social.

Ha uma serie de condutas dos pais que podem ser chamadas de "condutas

de risco" para a desenvolvimento de pad roes agressivos de comportamento nos

filhos. Uma dessas condutas e rejeitar a cnan"", mostrando claramente que ela nao

e amada ou que ninguem se importa pelo que possa Ihe acontecer. Outra conduta

de risco e a inconsistencia na forma de colocar limites: par vezes, as pais sao

permissivos demais, deixando que a crianya faya tudo a que deseja, e, em outras

ocasioes, sao autoritarios, punitivos e inflexiveis em excesso. Esse tipo de educayao

deixa a crian"" confusa sobre 0 que pode e 0 que nao pode fazer e acaba tomando-

se dificil para ela distinguir 0 certo do errado, 0 aceitavel do inaceitavel. TambEim

15

naD e raro encontrar pais que estimulam a conduta agressiva dos filhos,

principalmente dos meninos, para a resoluyao de conflitos (liSA, 2002).

A violencia domestica tambem e um lator que pode exercer uma infiuencia

decisiva no comportamento. Crianyas que assistem a cenas de violencia em casa,

au que sao vitimas da violencia dos pais, podem aprender que e5sa e urna fonna

aceitavel, "normal", de lidar com a raiva e com a lrustrayao. (liSA, 2002)

De acordo com Patterson e Gullion (1979), levanta-se a hip6tese de que

crianyas anti-socia is tern pais com falta de habilidades no manejo familiar, 0 que

desencadeia na crianryaurn processo de ser rejeitada palos colegas, a tar urna baixa

auto-estima e ao fracasso escolar.

Independente da estrategia terapeutica adotada, os pais devem participar

ativamente do processo terapeutico, recebendo orientay6es quanto ao

comportamento infantil e as maneiras de lidar com as mesmos.

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CAPiTULO II

ESTUDO DE CASO cliNICO

A) IDENTIFICAC;Ao

Nome: P.S.

Idade no inicio do atendirnento: 10 anos e 6 meses

Escolaridade: 5a sarie

IOENTIFICAC;AO DOS PAIS

Nome do padrasto: J.S.

Idade: 40 anos

Nome da mae: E.S.

Idade: 37 an os

IDENTIFICAC;Ao DOS IRMAos

Nome: G.S.

Idade: 4 anos

B) QUEIXA

P. conta muitas mentiras na escola e em casa. No dais ultimos meses, por

duas vezes pegou dinheiro da carteira do pai.

Na escola tern urn comportamento inadequado, freqOentemente reage com

agressividade e chara quando contrariado, nao aceitando regras e S8 recusando a

participar de algumas atividades.

A escola colocou como condit;:ao que P. 56 poderia continuar na escola S8

fizesse atendimento psicol6gico.

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C) HIST6RICO DO CASO

Quando P. nasceu, seus pais ja estavam separados havia seis meses. Nesta

apaca 0 pai de P. estava preSQ par envolvimento em assaltos e a mae havia voltado

a morar com as pais.

Quando P.estava com dais anos, E. casou com J.t que assumiu P. como

filho, e desde essa apaca 0 menino Ihe chama de paL Nesse mesma periodo E.

licou sabendo que 0 pai de P. loi solto e loi morar no interior do PR, onde morava

sua familia. Este ficou sabendo do nascimento do filho, mas nunca procurou par ele.

P. tambem sabe da historia do pai biol6gicQ, mas nunca demonstrou interesse de

querer conhece-Io.

Quando P. fez seis anos, sua irma G. nasceu.

Ha mais ou menes do is anos P. come90u a apresentar problemas de

comportamento na escola e em casa tambem. Mente com freqOencia et responde

com agressividade e/au chore aos pais e professores, S8 envolve em brigas na

escola e S8 recusa a participar de algumas atividades da escola.

Os pais Icram procurar terapia para P. pcr recomendayiio da escola, que

colocou como condiyao que ele s6 poderia continuar na escola se fizesse

acompanhamento com um psic6logo.

Segundo a mae 0 relacionamento de P. e da irma ja loi melhor, poucas vezes

tern paciencia e nao demonstra carinho par ela. Diz que P. costuma dizer que a inna

e muito "bobinha" e por isso prelere os amigos.

Segundo os pais a "gota d'agua" loi quando descobriram que P. havia pegado

(pela segunda vez) dinheiro na carteira de J.

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Em muitos momentos durante essa prime ira entrevista, as pais comparavam

P. com a irma sempre enfatizando as qualidades positivas da menina, que era

organizada, calma, obediente, elogiada par todes na escola, e ressaltando as pontcs

negalivos de P. "Como podem ser tao diferentes" (sic).

Os pais afirmaram que estao cansados e nao sabem como ajudar Paulo, pois

disseram que naD adianta dar broncas, nem surras, nem castigos, nada funciona.

De acordo com a mae, de uns seis meses pra ca, eles tern evitado bater em

Paulo, conversam primeiro. 56 batem como ultimo recurso, mas disse que antes naD

era assim, sempre que P. aprontava, eles batiam nele.

E a mae quem cuida das crianyas, e que no dia a dia da as broncas e os

castigos. 0 pai e mais ausente, pais viaja muito a trabalho, normalmente esta em

casa nos finais de semana. "Meu trabalho ja e lao cansativD, que cheg8 final de

semana quero descansar, mas ai s6 tenho estress com 0 P." (Sic).

0) PROCESSO TERAP~UTICO

Na primeira entrevista com as pais foi realizado 0 centrato terapeutico e

enfatizado que seria fundamental a participayao dales no processo.

As prirneiras sess5es feitas com P. tiveram como objetivo, investigar a queixa

trazida pelos pais e forma~o de vinculo com 0 paciente. Nesses atendimentos P .se

mostrou resistente, falava pouco e nao aceitou fazer algumas atividades propostas.

Na quarta sessao, logo que P. entrou, ja menes "emburrado" que nas sess5es

anteriores, a terapeuta Ihe fez uma proposta. Ja que ele nao queria sair da esccla, e

fazer terapia era a condiyao para ele continuar estudando la, ele naD teria outra

saida, entao a terapeuta propos que P. poderia usar 0 tempo em que ficava ali para

19

que ela pudesse the ajudar. Pediu entao que ele escrevesse au fala5se 0 que ele

gostaria de mudar, au que fosse diferente. P. chorou e relatau que nao era 56 ele

que precisava de psic6logo, mas seus pais tambem, po is estes nao entendiam nada

sobre ele, e por muitas vezes sentia muita raiva deles, principal mente do pai, que na

ultima briga que tiveram naquela semana lhe disse que tinha vontade de tirar seu

sobrenome do nome de P., ja que era seu pai adotivo. Fai nasta sessao que a

terapeuta pode S8 tornar mais proxima do paciante, colocando para Paulo que

entendia como essa situa~o era triste e que nao seria 56 ele que teria que ir as

sessoes, pois seus pais tambem iriam participar. E que se ele aceitasse participar

das da terapia e permitisse que a terapeuta the ajudasse, 0 processo seria mais

rapido do que S8 ele se manter "emburrado". Ap6s essa sessao, P. nao veio mais

resistente e perecia sempre muito a vontade e participativo.

o discurso de P. era, na maio ria das vezes, de inferioridade, quando era

proposta uma atividade, jil logo dizia "nao ser born naquilo", e tambem em rela\'i'io a

algumas atividades da escola. Se via como urn filho e aluno ruim. Em uma sessao

chegou a mencionar que as vezes achava que atrapalhava a vida da mae. Relatou

tambem que em algumas situa90es sentia raiva da irma, pais as pais nunca

brigavam com ela.

A queixa trazida pelos pais de P., somada aos dados obtidos nos primeiros

atendimentos e a cantata com a escala, levou a hipotese diagnostica que, como

conseqOemcia de uma historia de rnuitas puni90es flsicas e agressoes verbais e uma

passiveJ carencia afetiva, Paulo tinha urn rebaixamento de auto-estima, que estaria

refletindo no desenvolvimento de urn comportamento agressivo, anti-social.

Segundo Patterson, Reid & Dishion (1992), 0 comportamento violento, em

praticas de puniyao, seria em si, causa suficiente para um comportamento anti-

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social; as criany8S desenvolvem caracteristicas anti-sociais, que estao relacionadas

a varies aspectos: fracasso escolar, rejeic;:ao par seus pares e passivel baixa auto-

9stima.

Segundo Gomide (1998), a baixa auto-estima desempenha um importante

papel no desenvolvimento do comportamento anti-social. A delinqUencia e vista

como urn meio compensatorio atraves do qual a crian~ com baixa auto-estima evita

experiencias socia is desgastantes.

De acordo com Kaplan (apud GOMIDE, 1998), a baixa auto-estima precede 0

comportamento delinquente, e uma vez a crianya realizando estes comportamentos

a auto-estima aumenta. Alem disso, sujeitos com baixa auto-estima sao mais

facilmente persuadidos. Aparentemente condutas anti-socials produzem cerias

compensay6es e podem elevar a auto-85tima.

Realizou-se entao a avaliayao comportamental da queixa do cliente atraves

da analise funcional com 0 objetivo de identificar variaveis controladoras dos

camportamentos problematica, assim como entender sua intera~o funcional.

A partir dos dados obtidos sobre a historia de um individuo, 0 terapeuta

estabelece estrategias para 0 processo terapeutico: conceitua e relaciona as queixas

entre si, de uma forma logica e significativa; desenvolve uma rela~o colaboradora;

motiva 0 tratamento; formula 0 problema; estabelece metas; utiliza principios de

aprendizagem para modificar comportamentos mal-adaptados, bem como atraves de

tecnicas, ajuda a discriminar eventos que eliciam comportamentas.

As arientac;oes iniciais fcram para os pais estabelecerem "combinadas" com a

filho, e que 0 nlio cumprimento acarretaria na retirada de algo prazeroso para P.,

como a bicicieta, computador, evitando assim as puniyiles fisicas. Nesse momento

foi orientado tambem, que dessem mais atenyao positiva para 0 filho, que

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alogiassem a validassem qualquer esforyo a qualquer ate positivo de P., para que

este pudesse perceber que pode ter uma atenyao maior dos pais quando faz 0 certo,

e que nao 0 comparassem mais com a irma, pois cada filho tern suas caracteristicas

pr6prias e suas potencialidades, e essas sao diferentes em cada urn.

Silvares (2000) comenta que se houver apoio da familia na intervenyao

pSicologiea infanti!, 0 resultado sera mais efieaz e as mudanyas serao mais

duradouras.

Quando a escola foi contatada, esta fomeceu os mesmos dados que os pais

ja haviam informado. A escola foi considerada como urna variavel importante no

ambiente da crianC;8, considerando as suas fun<;oes como estimulos modeladores,

eliciadores e reforyadores. As orientayaes seguiam a mesma Iinha da orientayao

dada aos pais, para que houvesse coerencia no manejo dos comportamentos de P.

Nas sess6es com P., toram realizadas atividades, cujo objetivo era evidenciar

qualidades e pontos fortes que P. nao acreditava ter, reforyando sempre os

comportamentos adequados do cliente na sessao, e aqueles qua ele tambem trazia

no discurso da sua semana como, por examplo, quando apresentava urn born

relacionamento com as pais ou nao brigava na escola. Urna das tecnicas aplicadas

fol a "carteira de identidade", cuja objetivo era levar 0 cliente a reconhecer sua auto-

imagem, bem como suas potancialidades. A t"cniea: "Se eu fosse um animal, qual

seria?" Tambem foi utilizada numa das sessaes. Com essa atividade foram

abordados os aspectos relacionados com os sentimentos, as coisas que sao

importantes para ele, as habilidades que tem e sua auto-imagem.

Em alguns momentos, P. se mostrava um pouco resistente quando precisava

falar de seus comportamentos inadequados, muitas vezes adotava 0 comportamento

de esquiva, ou seja, nao penmitiaaproximar-se deste assunto, procurand;Pfa 0~SIOI\f).r ,

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22

Qutras coisas QU realizar 8ya8S que naD estivessem relacionadas com suas

dificuldades. Na maiaria das vezes, com a proximidade ffsica e 0 contata da

terapeuta com 0 cliente. era passivel retamar 0 foco dos atos inadequados, vista que

o paciente se sentia acolhido e nao sendo julgado. Algumas vezes era utilizado 0

discurso do cliente para evidenciar a ele suas dificuldades, objetivando faze-Io

perceber 0 quanto 0 comportamento agressivo dificulta seu cotidiano e suas

rela,oes interpessoais e motivando 0 cliente a efetuar mudan98s de comportamento

que venham evitar brigas. Quando P. relatava discussoes com as pais e

envolvimento em brigas no oolegio, a terapeuta 0 auxiliava a discriminar os

estimulos desencadeadores das brigas.

Durante as atendimentos, P. era auxiliado a reconhecer as manifestayoes de

afeto e reconhecimento do seu esfor9Q e de suas conquistas pelos pais e

professores atraves do discurso que trazia de situa¢es do dia-dia com a familia e

escota.

Ap6s dois meses e meio de tratamento, P. come9Qu a apresentar melhoras

significativasna escola e durante as atendimentos, ja em casa a mudanc;a foi menor,

e ainda eram trazidas situ8yoes de punic;ao fisica e brigas com as pais.

Nas sess5es seguintes foi observado que as pais nao estavam conseguindo

seguir as orienta,oes propostas. Percebeu-se que estes nao tinham atitudes

constantes, 0 que gerou uma grande preocupa<;iio,pois se uma conduta indesejavel

for refor98da, este refor9Qtomara 0 comportamento inadequado mais forte do que

antes do inicio do programa de tratamento (PATTERSON e GULLION, 1979).

Enfatizou-se com os pais que P. precisava de uma defini<;iio clara da conduta

aceitavel e da inaceit3vel. P. ficaria mais seguro conhecendo os limites possiveis.

Foram orientados que se nao estivessem cartos do que fazer. antes deveriam

23

esclarecer suas atitudes, evitando que a limitayao fosse parcial. Fai colocado

tambem que uma crian98 prefere reeeber uma advertencia ou castigo, aD inves da

indiferen98 dos pais. Deveria estar atento para nao dar atenyao a P. apenas nesses

momentos. Precisariam dar atenc;ao e consequentemente refon;:o para as

comportamentos adequados do filho. Ginott (1985) alerta que uma recompensa

deve vir sem promessa e deve significar reconhecimento. Afeto naD dave sar trocado

por presentes. 0 que estava acontecendo, no entanto, e que os pais aproveitavam

os momentos em que P. nao estava emitindo nenhum comportamento inadequado

para nao darem atenyao a ele.

No decorrer dos atendimentos de orientayao aos pais a terapeuta refor90u

alguns pontcs com as pais, enfatizando que eles precisavam disponibilizar mais

tempo para estarem com P., principalmente a pai que viajava muito, e isso as

tornariam mais pr6ximos. Era importante para P. ter momentos 56 com 0 pai au a

mae, onde pudessem fazer algo que 0 filho gostasse. A mae de P. confinmou,

dizendo que muitas vezes as programas em familia eram mais voltados aos

interesses da filha, pois ela e menor e requer rnais aten9aO.

A terapeuta retomou tambem a importancia de se criticar 0 ate inadequado de

P. e nunca a sua pessoa.

A mae conseguia colocar rnais em pratica as orienta~es do que 0 pal. Este

justificava as surras e gritos com seu cansa90 por trabalhar muito.

A mae se mostrava sempre mais disponivel, e estava feliz com 0

comportamento de P. na escola, pais nao estavam mais recebendo queixa. Ja a pai,

quando questionado sabre as progressos de P., se dizia ser mais realista que a

esposa. Pais tinha suas duvidas, as vezes pensava que essa mudanva era

24

temporaria, "uma t"§gua", pois em casa tambsm tinha dias melhores e depois

voltava a ser como antes.

Durante as sess6es foi pedido que P. tentasse colaborar com os combinadas,

o que poderia evitar transtornos para ele, pois muitas vezes a nac cumprimento

acarretavam em puni980 fisica, castigos, sendo impedido de brincar com as amigos,

de ver televisao e usar 0 computador. P. adota a mesma postura que vern tendo nos

ultimos atendimentos, dizendo que nao agOenta mais 0 pai, que para ele nada do

que taz esta bom, que ele s6 se preocupa com 0 trabalho e com seu computador,

diferente da mae que segundo P., quando 0 pai esta viajando, e muito legal.

Em urn dos atendimentos 0 cliente passou a maior parte da sessao

"emburrado", nao se rnostrou comunicativo como de costume, em urna das poucas

vezes que talou, relatou que preteria mesmo ir para um Coisgio Interno do que

morar com as pais. 0 Intematc tai usado como amea98 pelo pai numa discussao oa

noite anterior. Naquele dia a escola tinha entrada em oontato com as pais, po is naD

tinham recebido 0 boletim assinado por eles. P. recebeu 0 boletim no inicio da

semana, mas escondeu dos pais, pois teve natas baixas em tres matarias ficando

em recuperayaa birnestral. Disse a terapeuta que naa mastrou aos pais. pOis temia a

rea9aOdeles.

A dificuldade dos pais, principalmente do pai, de seguir as orienta90es

tornava 0 trabalho terapeutico mais diffcil. Por urn curto periodo. 0 pai se esfor~u.

fez alguns programas com P., como pescar, e if a feira de automoveis. Quando isto

acontecia P. vinha para sessao muito mais animado e relatava os passeios com

empolgac;80. 0 pai nao conseguia manter urna atenyao e uma proximidade estavel

com 0 filho, e logo voltavam os comportamentos de chamar a aten(;ijo em casa e 0

descontrole do pai.

25

Ap6s quase seis meses de atendimentos, a mae solicitou urn atendimento

para ela, antes da data que estava combinado. Na sessao ela relatou que junto cern

o marido haviam pesquisado internatos e estavam pensando em caleca-Io para

estudar em urn deles. A mae relatou que 0 final da ultima semana foi de muito stress

e confusao, P. pegou dinheiro da carteira do pai, e para este foi a gota d'agua. Ela

disse que safre muito com toda essa situ8y80 e que as vezes acredita que essa

seria a melhor oP9ao para p", pais estando lange da familia ele pade sentir falta,

perceber 0 quanto a familia e importante e querer mudar para voltar para casa. A

terapeuta orientou que nao tomassem nenhuma decisao precipitada, pais tirar 0 tilho

de perto dos pais nao iria resolver 0 problema, talvez adiar a conflito ou ate piorar,

pois 0 que P. rna is precisava era dos pais por perto, da aten9ao e afeto deles, ele

precisa se sentir gostado e valorizado. A terapeuta manteve a data daquela mesma

semana que ja estava marcada com as pais, mas eles desmarcaram. Foi remarcado

para semana seguinte, mas novamente nao vieram, a justificativa era que J. estava

em uma viagem e ainda nao tinha voltado para Curitiba. A mae tambem desmarcou

a sessao do P., justificando que estava em provas finais na escola e precisava

estudar. Nesse periodo, 0 terceiro telefonema que a terapeuta fez para a mae de P.,

esta Ihe falou que a marido havia decidido encerrar a terapia de P., e que eles nao

iriam mais para as oriental):6es, e que nas farias iriam visitar alguns internatos para

Paulo estudar ana que vem. A terapeuta tentou esclarecer para mae que essa

atitude nao iria ser positiva para seu filho e que nao resolveriam 0 problema, s6 iriam

afasta-Io por urn tempo. A mae se mostrau bern decidida e logo arranjou uma

desculpa para terminar a Iiga9ao.

26

CAPiTULO III

CONCLUSAO

Este estudo de caso, desenvolvido com 0 menor P., objetivou modificar

comportamentos inadequados (agressividade, mentiras, falta de limites), bem como

desenvolver e fortalecer a auto-8stima.

A fim de obter do cliente a colabora~o e consequente modifica~o do

comportamento inadequado, foram utilizadas tecnicas que objetivavam trabalhar a

suas competEmcias e auto-imagem, assim como a comportamento agressivo, anti-

social.

A terapia comportamental envolve a determinayao de objetivos especificos e

definidos. A definigao de objetivos, quando se trata de terapia infantil, conta com a

participagao dos pais. 0 ideal seria contar com essa mesma participagao no decorrer

de todo 0 proceSSD terapeutica. No entanlo, nao e isto 0 que S8 verifica em todos as

cases.

Segundo Sanders & Dadds (1993), a intervengao comportamental com

famHias, esta diretamente relacionada com a hist6ria da modifica9ao do

comportamento. A maneira como as comportamentos sao adquiridos, modificados e

mantidos, fez com que a Behaviorismo enfatizasse a importfmcia de envolver as

pais, professores e outras pessoas significativas como mediadares au agentes de

mudangas terapeuticas.

27

No case de P., as pais S8 dispuseram a participar e compareceram a quase

todas as sess6es de orientac;;ao, param, naD conseguiram modificar suas atituctes

perante 0 filho.

Enquanto P. estava em tratamento, e com base num born estabelecimento de

vinculo entre terapeuta e cliente, percebeu-se que P. conseguiu urn maior controle

sobre seus comportamentos mau actaptactos e conseqUentemente sabre sua

agressividade. Porem em casa as conflitos continuaram, tiverarn periodos melhores

quando os pais conseguiam estar mais proximos do filho, sem punic;ao fisica, agindo

de mane ira caerente e validando seu comportamento adequado, porem, eles naD

conseguiram manter, ou methor, naD modificaram realmente as atitudes negativas

com 0 filho. IS50 fazia com que P. tivesse melhoras momentaneas em casa, mas nao

eficazes.

o relato da escola indicou reduc;ao significativa dos conflitos no ambiente

escolar e uma intera980 mais positiva com professores e colegas.

Aprender a obselVar e valorizar 0 que a crianya faz de adequado, mostra ser

uma potente estrategia terapeutica. A escola foi orientada, assim como os pais, a

refor98r positivamente mesmo os comportamentos adequados aparentemente mais

simples emitidos par P. A maiaria dos professores deixou de ver essas atitudes

como se fossem "naturais" ou "obriga¢es", para as considerarem mentos do seu

aluno.

Segundo Balter & Shreve (1995) educar significa disciplinar, e disciplinar

uma crian98 nao e apenas punir. for9C}ra uma submissao ou apontar os maus

comportamentos, mas e principal mente ensinar a preocupar-se com e a respeitar os

outros, a controlar-se, a demonstrar quais sao as condutas adequadas em diversas

situa¢es, assim como, sendo afetivo e demonstrando interesse pela crian 10'<.••~\OAOf ,$ '~~\;:) ~!i:;ULlrtCI\}··;·SV;nolbl.w.II.I!:oJ"'S:"'I ••

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que ela faz. Dessa forma os filhos sentem-se seguras, encontrando refer,mcias nas

atitudes dos pais e principal mente sentem-se aceit05 e amados por eles.

Atraves do presente estudo, fol passivel observar que: Mais importante que

as pais participarem das sess5es de orienta930, sao estes S8 envolverem e

colocarem em pratica 0 que foi orientado pala terapeuta.

Durante 0 periodo em que esteve em acompanhamento psicoterapeutico. P.

apresentou mudangas positivas em seu comportamento e urn aumento na sua auto-

85tlma. Embora naD se possa dizer com certeza quais teriam side as objetivos

atingidos caso as pais estivessem realmente mais envolvidos, acredita-se que ales

seriam maiores em numera e grau, ou seja, rna is objetivos atingidos e de tonna mais

eficaz e duradoura. Apesar dos resultados positiv~s obtidos nesses seis meses de

tratamento, acredita-se que estes nao foram suficientes para que os pais de P.

persistissem em manta-Io na terapia, desistindo do tratamento e optando por

colocarem 0 filho em urn Internato.

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