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Habitat: Feira Internacional de Montreal, 1967 – por Moshe Safdie.

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Habitat: Feira Internacional de Montreal, 1967 – por Moshe Safdie.

ESTRUTURALISMO

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O pensamento estruturalista na arquitectura aparece, inicialmente, nos encontros da CIAM1, a partir do final da década de 1940, onde foram tecidas críticas severas contra a tecnocracia e irresponsabilidades sociais da arquitectura modernista – tentaram estabelecer os princípios estruturais do crescimento urbano e a importância de aspectos simbólicos, psicológicos e sociais nas construções2.

Estruturalismo, como movimento em arquitectura e no planeamento urbano, evoluiu a partir de meados do séc. XX enquanto reacção ao Funcionalismo (Racionalismo), promovido pelos CIAM’s até então realizados, que teria conduzido a produção urbanístico-arquitectónica a uma expressão estéril que ignorava a identidade dos habitantes e respectivas formas urbanas.

Existem duas manifestações distintas da arquitectura Estruturalista que, por vezes, ocorrem de forma combinatória entre si: por um lado temos uma espécie de anestética do número (comparável ao tecido celular), enquanto que por outra via deparamo-nos coma a variedade vivencial em arquitectura (como resultado da participação dos usuários no processo habitacional).

O conceito relativo à anestética do número (de Aldo Van Eyck) pode também ser designada por “configurações espaciais em arquitectura”. Já quanto ao segundo conceito atrás apresentado, relativo à variedade vivencial em arquitectura (de N. John Habraken) pode igualmente se denominado por “arquitectura plural”.

O Estruturalismo, de um modo geral, constituiu-se como um modo de pensamento do séc. XX, tendo surgido em diferentes lugares, em diferentes tempos e em diferentes áreas da cultura, podendo ser encontrado não só na arquitectura, mas também na antropologia, filosofia, arte, entre outras.

O Estruturalismo, na arquitectura e no urbanismo, tem a sua origem no Congresso Internacional de Arquitectura Moderna (CIAM) do pós-2ª Guerra Mundial.

Entre 1928 e 1959, os CIAM foram uma importante plataforma de discussão da arquitectura e do urbanismo: vários grupos, muitas vezes com perspectivas divergentes sobre estes grandes temas, participaram de forma activa na organização e dinamização dos congressos – por exemplo, membros com uma abordagem mais científica à arquitectura (os quais rejeitavam, pretensamente, premissas estéticas – como os designados “racionalistas”), membros que encaravam a arquitectura como uma forma de arte, membros que propunham uma arquitectura verticalizada em oposição aos que preconizavam uma produção arquitectónica horizontalizada, membros que defendiam a tomada de uma série de reformas consideradas necessárias no período do pós-2ª Grande Guerra (como o grupo do Team X), membros da «velha guarda», etc.

Membros individuais do Team X (ou Team 10) consolidaram a afirmação do Estruturalismo no debate e pensamento arquitectónico e urbanista a partir de meados do séc. XX: a sua actividade, enquanto grupo, deu-se no ano de 1953 e dele emergiram dois movimentos diferentes – o New Brutalism (consubstanciado pelo casal inglês Alison e Peter Smithson) e o Estruturalismo (preconizado pelos membros holandeses do grupo, Aldo Van Eyck e Jacob Bakema).

Fora deste grupo desenvolveram-se outras ideias que contribuíram para a afirmação do Estruturalismo enquanto movimento, influenciadas, por exemplo, por autores como Louis Kahn (EUA), Kenzo Tange (Japão) e N. John Habraken (Holanda – por outro lado, Herman Hertzberger e Lucien Kroll protagonizaram contributos importantes ao nível de uma arquitectura mais participada por parte dos seus utentes: neste contexto, segundo Hertzberger, no Estruturalismo faz-se a distinção entre estruturas com ciclos de vida longos e demais com ciclos de vida curtos.

1 Congrés Internationale d’Architecture Moderne.

2 Para demonstrar as possibilidades de fusão de estilos, Nigel Henderson e Georges Candilis apresentaram, em encontros do CIAM, comparações entre a vida urbana actual em Londres e plantas de casas vernaculares em Moroccan. Candilis também apresentou plantas para produção em massa de casas Argelinas e Van Eyck publicou fotos de construções vernaculares do Sahara.

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Em 1966, o arquitecto japonês Kenzo Tange escreveu o artigo “Função, Estrutura e Símbolo” no qual descreve a transição desde uma abordagem funcional da arquitectura até uma aproximação estrutural da mesma, ao nível do pensamento arquitectónico: considera o período entre 1920 e 1960 como tendo estado sob influência dominante da corrente funcionalista, enquanto que a partir de 1960 em diante terá prevalecido o Estruturalismo, o qual preconizaria formas mais humanizadas de planeamento urbano.

O CIAM de 1959 marca o início oficial do Estruturalismo enquanto movimento, não obstante ter havido, anteriormente a esta data, projectos e edifícios que perspectivavam já muitas das premissas que mais tarde viriam a estar formalmente adstritas ao Estruturalismo – no entanto, somente a partir de 1969 é que o termos “Estruturalismo” começaria a ser usado em publicações relativas às áreas da arquitectura e do urbanismo.

Alguns participantes no CIAM de 1959: L. Miquel; Aldo van Eyck; José A. Coderch; Wendell Lovett; Werner Rausch; W. van der Meeren; M. Siegler; P. Waltenspuhl; Hubert Hoffmann; Alison Smithson; Peter Smithson; Giancarlo de Carlo; Ignazio Gardella; Vico Magistretti; Ernesto Nathan Rogers; Daniel van Ginkel; Geir Grung; Georges Candilis; Alexis Josic; André Wogenscky; Shadrach Woods; Louis Kahn; Viana de Lima; Fernando Távora; Jacob B. Bakema; Herman Haan; John Voelcker; Ralph Erskine; Kenzo Tange; T. Moe; Oskar Hansen; Zofia Hansen; Fred Freyler; Eduard F. Sekler; Radovan Niksic Alfred Roth; entre outros.

Em termos de pensamento teórico ao nível da ideia e prática arquitectónico-urbanística o Estruturalismo preconiza edifícios, enquanto estruturas3, que correspondem às formas das estruturas sociais com as quais «dialogam»: interrelação entre estruturas sociais e construídas – o comportamento humano como denominador comum da arquitectura (coerência, crescimento e mudança como elementos base presentes em todos os níveis da estrutura urbana).

Este conceito implicaria uma espécie de sentido de lugar estruturado em “dispositivos de identificação” e articulando formas polivalentes e interpretações individuais.

De acordo com Saussure, Roman Jakobson e Lévi-Strauss, no Estruturalismo deveriam ser realizados alguns procedimentos básicos, como uma análise das estruturas existentes, interrelacionamentos dos elementos existentes e aplicação de leis gerais para organizar padrões.

Os trabalhos de De Saussure e Lévi-Strauss introduziram a ideia de estruturas densas (deep structures) nos seus campos de estudo: Lévi-Strauss chamou a atenção para a forma como as culturas tradicionais arranjavam componentes em variações limitadas de acordo com algumas regras particulares – da mesma forma que havia estruturas densas definindo padrões sociais também existiam estruturas densas relacionadas com a organização das construções tradicionais.

Alguns arquitectos começaram a estabelecer relações entre estruturas densas da sociedade ocidental, do séc. XX, com estruturas tradicionais da África e da Ásia: Aldo van Eyck, por exemplo, utilizou referências em abrigos do norte da África como base para o planeamento urbano.

O pensamento estruturalista conferia ênfase à complexidade, multiplicidade e relacionamentos humanos, servindo também como base para construções pós-modernistas com as suas múltiplas fusões de padrões e estilos.

Uma organização de uma linguagem de padrões foi realizada pelo matemático Christopher Alexander, que publicou livros com padrões de linguagens relacionados a diversos tipos de arquitectura e configuração urbana.

O estruturalismo na arquitectura foi o resultado de uma série de pensamentos em voga, a partir da década de 1950, que foram utilizados para tentar modificar conceitos relacionados

3 Algo constituído por partes distintas; partes de um corpo responsáveis pela sua resistência, solidariedade e/ou sustentação; o modo como partes organizadas se relacionam; o padrão de organização de uma língua como um todo ou os relacionamentos entre os seus elementos constituintes.

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com a arquitectura e o planeamento urbano, levando em consideração padrões sociais consagrados e modelos antigos da África e Ásia.

No estruturalismo são analisados grandes sistemas, examinando as relações e funções das mínimas partes envolvidas.

Centro Espacial Europeu: restaurante, sala de conferências, biblioteca – por Aldo e Hannie van Eyck, 1989.

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Byker housing – por Ralph Erskine, 1971.

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Centro de Imprensa – por Kenzo Tange, 1967.

Orfanato municipal – por Aldo van Eyck

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Centro Técnico da Olivetti (Japão) – por Kenzo Tange, 1970.

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Centro de Imprensa e Difusão Shizuoka – por Kenzo Tange, 1967.

O centro urbano da cidade de St. Louis – por Jacob Bakema, 1959.

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Edifício camarário – por Jacob Bakema e Jaap Bakema, 1973.

Plano para Tokyo – por Kenzo Tange, 1960.

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Robin Hood Gardens – por Alison e Peter Smithson, 1966-1972 (New Brutalism).

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SEMIÓTICA4 E ESTRUTURALISMO5: O PROBLEMA DA SIGNIFICAÇÃO6

[In NESBITT, Kate (org.) – Uma nova agenda para a arquitectura. Antologia teórica 1965-1995 – Cosac Naify, 2008 (segunda edição revista]

“Semiótica e arquitectura”, Diana Agrest e Mario Gandelsonas 7 , 1973.

Desenho nº2: Plot – por Diana Agrest e Mario Gandelsonas, 1989 | Desenho nº3: Narrative – por Diana Agrest e Mario Gandelsonas, 1989.

O período pós-moderno assistiu a uma renovação do interesse pelo problema do sentido em arquitectura e à consciencialização dos termos segundo os quais a disciplina se definia.

4 Estuda os modos como o homem significa o que o rodeia (arte dos sinais): ciência geral dos signos e da semiose que estuda os fenómenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação – ocupa-se do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da ideia [a face semiológica ou semiótica (relativa ao significante) e a epistemológica (referente ao significado das palavras)]. Tem por objecto qualquer sistema sígnico – Artes Visuais, Música, Fotografia, Vestuário, Gestos, Religião, etc. – ciência dos signos e dos sistemas significantes (linguísticos ou não-linguísticos, como o Teatro, o Cinema). Estudo dos sistemas de signos e estudo dos sistemas de significação. Entre os aspectos mais importantes desta teoria caberá lembrar a noção de “interpretante” como um signo que interpreta um outro signo, e a tripartição dos signos: índice, ícone e símbolo (segundo se opere uma relação de contiguidade, de similitude ou de pura convencionalidade entre o signo e o referente).

5 O termo estruturalismo refere-se a sistemas nos quais cada um dos seus elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura. O Estruturalismo é tido como uma abordagem geral com variações diferentes, a qual pretende explorar as interrelações (as "estruturas") através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura: os significados dentro de uma cultura são produzidos e reproduzidos através de várias práticas, fenómenos e actividades que servem como sistemas de significação – procura descortinar as profundas estruturas pelas quais o significado é produzido e reproduzido numa cultura (processo dialéctico: tese, antítese, síntese). Após a II Guerra Mundial, particularmente nos anos de 1960, o estruturalismo emergiu, proeminentemente, em França. Durante as décadas de 1940 e 1950, o Existencialismo era uma das correntes de pensamento que se afirmava com maior vigor. O Estruturalismo rejeitava a noção existencialista de ” liberdade humana radical”, concentrando-se antes na maneira como o comportamento humano poderia ser determinado por estruturas culturais, sociais e psicológicas. No início dos anos de 1960, o “Estruturalismo”, como movimento, começou a afirmar-se enquanto disciplina autónoma, promovendo uma singular abordagem unificada da vida humana que perspectivava abraçar todas as disciplinas. Roland Barthes e Jacques Derrida concentraram-se em como o estruturalismo poderia ser aplicado à literatura. Jacques Lacan (e, de outro modo, Jean Piaget) aplicaram o estruturalismo ao estudo da Psicologia, combinando Freud e Saussure. O livro de Michel Foucault, A Ordem do Discurso, examinou a história da ciência para estudar de que forma estruturas de epistemologia (teoria da ciência) davam forma às expressões de como as pessoas imaginavam o conhecimento e o saber (apesar de Foucault, mais tarde, vir a negar explicitamente uma pretensa afiliação com o Movimento Estruturalista). Outros autores, em França e no exterior, têm desde então estendido a análise estrutural a praticamente todas as disciplinas. A definição de “estruturalismo” também mudou como resultado de sua popularidade. Como o movimento passava por altos e baixos, alguns autores consideravam-se estruturalistas para, logo depois, abandonavam esse rótulo. Adicionalmente, o termo teve significados subtilmente diferentes em inglês e em francês. Nos EUA, por exemplo, Derrida é considerado o paradigma do pós-estruturalismo enquanto na França é rotulado como estruturalista. Hoje, o Estruturalismo tem sido substituído por abordagens como o Pós-estruturalismo e o Desconstrutivismo: há muitas razões para isso – o Estruturalismo tem sido frequentemente criticado por ser “não histórico” e por favorecer forças estruturais determinísticas em detrimento da habilidade de pessoas individuais de actuar. Enquanto a turbulência política dos anos de 1960 e 1970 (particularmente os movimentos estudantis de Maio de 1968) começou a afectar a academia, questões de poder e luta política tornaram-se o centro das atenções da população. Nos anos de 1980, o Desconstrutivismo enfatizou a ambiguidade enquanto característica fundamental da língua – em detrimento de sua estrutura cristalina lógica – tornou-se popular. No final do século o Estruturalismo era visto, historicamente, como uma importante escola de pensamento, mas eram os movimentos que ele gerou (e não o próprio Estruturalismo) que detinham a atenção.

6 Ao que remete para uma estrutura linguística coerente.

7 Arquitectos formados pela Universidade de Buenos Aires e estudaram linguística estrutural em Paris no final dos anos de 1960.

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Essas duas questões coincidiam na “analogia linguística” – isto é, na ideia de que a arquitectura podia ser entendida como uma linguagem visual.

Esta ideia seria também aplicada ao urbanismo: “leitura” da cidade – o texto urbano.

Na década de 1960, reconheceu-se a necessidade de submeter essa hipótese a um exame rigoroso quanto às seguintes indagações: em que medida a arquitectura é uma convenção, como uma linguagem? Seriam as suas convenções realmente compreendidas de maneira tão geral que nos permitissem falar da existência de um “contrato social” na arquitectura?

Diversos autores que se enquadravam no âmbito do universo estruturalista exploraram os problemas e as possibilidades de aplicar a analogia linguística à arquitectura.

Agrest e Gandelsonas eram cautelosos na distinção entre o interesse pela Teoria da Comunicação e pela Semiótica, afirmando que a diferença estaria no objecto de estudo de cada campo.

A Semiótica é a ciência dos diferentes sistemas de signos linguísticos: estuda a natureza dos signos e as regras que governam o seu comportamento no interior de um sistema – ocupa-se do processo de significação, ou da produção de sentido, que se realiza por intermédio da relação entre os dois componentes do signo [o significante (como uma palavra) e o significado (o objecto denotado)].

A Teoria da Comunicação trata do uso e dos efeitos dos signos, respectiva função e recepção pelas pessoas envolvidas na transmissão de uma mensagem.

Agrest e Gandelsonas consideravam a Semiótica um bom caminho para aprofundar o estudo da produção de sentido em arquitectura: a Semiótica faria parte de um projecto maior e não se reduziria à importação imediata de conceitos extremos à disciplina – a Semiótica poderia ser útil como arma contra a ideologia, ou contra a “teoria [arquitectónica] adaptativa”, que perpetuaria o status quo económico e político.

Estes autores confiavam que a teoria crítica dedicada à produção de conhecimento sobre a arquitectura e a análise crítica da ideologia pudessem substituir a norma adaptativa.

Em termos de planeamento urbano, a partir da década de 1950, a esperança generalizada nos planos integrados desenvolveu uma crítica contundente aos seus enunciados e proposições, principalmente pela falência dos pressupostos ideológicos e experiências concretas.

As críticas relacionadas com o planeamento integrado, na década de 1970, caracterizavam-se pelo teor sociológico e psicológico de argumentos formulados, pela natureza ideológica de princípios adoptados (por não conseguirem estabelecer uma «nova» ordem social), por favorecer a especulação e prestigiar as grandes empresas – as cidades tornaram-se cada vez mais desiguais, com subúrbios no limiar da miséria.

O pensamento Estruturalista fomentou ideias e teorias sobre processo urbano-arquitectónico, considerando a expressão das cidades desajustada face à complexidade dos seus valores culturais, esquecidos no momento do seu planeamento, desenho e desenvolvimento.

A lógica do Estruturalismo rejeitava o determinismo funcional e histórico do planeamento integrado e a sua presunção para uma «nova» ordem social e respectiva evolução social linear: o processo urbano-arquitectónico vinculado à noção de “Estrutura” ultrapassou as limitações impostas pelas diferentes correntes do pensamento moderno (principalmente as ideias funcionalistas), reconhecendo a complexidade existente e as dificuldades implicadas em resolver problemas emergentes.

Porém, permaneceu refém da forma e lógica binária (e respectivo repertório conceptual) e das dinâmicas, articulações e conexões de elementos compositivos estruturais, encapsulados num sistema fechado: vinculada à hegemonia de conceitos que o pensamento moderno ainda exerce nos discursos que se formulam sobre espaço urbano e arquitectura, a saber: unidade; identidade; totalidade; homogeneidade; continuidade; organismo; evolução; ordem – mesmo assim, o pensamento estruturalista constituiu um momento de ruptura e, ao mesmo tempo, a

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vertente mais elaborada do pensamento moderno, não obstante a ênfase na relação binária sujeito/objecto da fenomenologia reducionista clássica/moderna/estruturalista.

“Um guia pessoal descomplicado”, Geoffrey Broadbent, 1977.

Este autor desenvolve a tese de que os edifícios são portadores de significado e que os arquitectos devem compreender os processos pelos quais tal significado é atribuído: criar significado de modo intencional evita leituras fortuitas – critica o funcionalismo moderno por ter falhado na tentativa de obter uma arquitectura “projectada como uma máquina e isenta de significado”, devido à “inescapável dimensão semântica” da arquitectura.

O estudo da semiótica (o sistema de signos) é um modo de abordar a questão do significado: Charles Sanders Peirce8 identifica duas dimensões do sistema – o semântico e o sintáctico, que correspondem às dimensões associativa e sintagmática de Ferdinand de Saussure9, genericamente equivalentes a significado e estrutura.

Este autor considera que o aspecto semântico é mais decisivo para a arquitectura e cita como exemplos do historicismo pós-moderno de orientação semântica as obras de Robert Venturi, Michael Graves, Robert Stern e Charles Moore.

Reconhece a importância do “contrato social” na linguagem: conjunto de concepções que faz funcionar o signo linguístico e cria consenso sobre o significado – no entanto, refere que não há contrato social na arquitectura e que essa falta explica a diferença entre a arquitectura e a linguagem.

8 Licenciou-se em ciências e doutorou-se em Química em Harvard. Foi o fundador do Pragmatismo e da ciência dos signos, a Semiótica. Dentro das ciências culturais estudou, particularmente, a Linguística, Filologia e História. As áreas pelas quais é mais conhecido são a Lógica e Filosofia. Propôs aplicar, nesta última, os métodos de observação, hipóteses e experimentação a fim de aproximá-la mais das características de ciência. Peirce concebia a “Lógica” dentro do campo do que ele chamava de Teoria Geral dos Signos, ou Semiótica. A Semiótica Peirciana pode ser considerada uma Filosofia Científica da Linguagem. A Fenomenologia é a ciência que permeia a semiótica de Peirce, e deve ser entendida nesse contexto. Para Peirce, a Fenomenologia é a descrição e análise das experiências do homem, em todos os momentos da vida. Nesse sentido, o fenómeno é tudo aquilo que é percebido pelo homem, seja real ou não. Os seus estudos levaram ao que ele chamou de Categorias do Pensamento e da Natureza, ou Categorias Universais do Signo. São elas a Primeiridade, que corresponde ao acaso, ou o fenómeno no seu estado puro que se apresenta à consciência, a Secundidade, corresponde à acção e reacção, é o conflito da consciência com o fenómeno, procurando entendê-lo. Por último a Terceiridade, ou o processo, a mediação. É a interpretação e generalização dos fenómenos.

9 Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi um linguista suíço cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência e desencadearam o surgimento do estruturalismo. Além disso, o pensamento de Saussure estimulou muitos das questões que foram tema na linguística do século XX. Estudou línguas europeias em Leipzig e publicou uma dissertação sobre o primitivo sistema das vogais nas línguas indo-europeias. Em 1906 foi encarregado de ensinar Linguística Geral, e com isso realizou conferências que apresentaram conceitos que mudaram completamente o modo de encarar esta disciplina, já que entendia a linguística como um ramo da ciência mais geral dos signos, que ele propôs que fosse chamada de Semiologia.

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Enfatiza a fascinação de determinados arquitectos pela Teoria Estruturalista de Noam Chomsky10 acerca da formação da expressão com o uso de regras gerativas e transformacionais da gramática.

Essas ideias sintácticas têm claro potencial teórico como fundamento para uma metodologia racional do projecto – o seu impacto pode ser apreciado no neo-racionalismo italiano, bem como na obra sintáctica de Peter Eisenman.

Considera também que a arquitectura não deve ser lida apenas visualmente: frisa que a arquitectura afecta todos os sentidos – a importância do corpo na arquitectura é tratada de forma mais cuidada.

Tribunal de Justiça – por Robert Stern (pós-modernismo historicista) | Edifício Humana – por Michael Graves, 1986.

10 É professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e está associado à criação da gramática ge(ne)rativa transformacional, abordagem que revolucionou os estudos no domínio da linguística teórica. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais, sendo o seu nome associado à chamada Hierarquia de Chomsky. Os seus trabalhos, combinando uma abordagem matemática dos fenómenos da linguagem com uma crítica radical do behavio(u)rismo, em que a linguagem é contextualizada como uma propriedade inata do cérebro/mente humanos, contribuem decisivamente para o arranque da revolução cognitiva, no domínio das ciências humanas. A abordagem de Chomsky em relação à sintaxe, frequentemente designada de “Gramática Gerativa”, deu origem a escolas que dela divergem em aspectos técnicos como a Gramática Lexical-Funcional. Noutros casos, há diferenças mais profundas, especialmente nas abordagens ditas funcionalistas. A análise sintáctica de Chomsky, muitas vezes altamente abstracta, baseia-se em investigações dos limites entre construções gramaticais correctas e construções gramaticais incorrectas numa língua. Tais julgamentos sobre a correcção gramatical só podem ser realizados de maneira exacta por um falante nativo da língua. A hierarquia de Chomsky divide as gramáticas formais em classes com poder expressivo crescente, por exemplo, cada classe sucessiva pode gerar um conjunto mais amplo de linguagens formais que a classe imediatamente anterior. Chomsky argumenta que a modelagem de alguns aspectos de linguagem humana necessita de uma gramática formal mais complexa (complexidade medida pela hierarquia de Chomsky) que a modelagem de outros aspectos. Por exemplo, enquanto que uma linguagem regular é suficientemente poderosa para modelar a morfologia da língua inglesa, ela não é suficientemente poderosa para modelar a sintaxe da mesma. Além de ser relevante em linguística, a hierarquia de Chomsky também tornou-se importante em Ciência da Computação (especialmente na construção de compiladores).

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Piazza d’Italia – por Charles Moore (pós-modernismo historicista) | Lettering – por Michael Graves (pós-modernismo historicista).

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