Espaços turísticos e as novas formas de alojamento

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103 Geografia e Ordenamento do Território, Revista Eletrónica Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território http://cegot.org ISSN: 2182-1267 Marques, J. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra CEGOT [email protected] Santos, N. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra CEGOT [email protected] Espaços turísticos e as novas formas de alojamento Referência: Marques, J e Santos, N.. (2012). Espaços turísticos e novas formas de alojamento. Revista de Geografia e Ordenamento do Território, n.º 1 (Junho). Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território. Pág. 103 a 126 Resumo Ao longo dos últimos anos têm-se verificado algumas mudanças na forma como a implementação de novas estruturas de alojamento é levada a cabo e como são “reinventadas” algumas das unidades que se encontram em funcionamento há já algum tempo. Com este trabalho pretende-se explorar o novo enquadramento legal dos empreendimentos turísticos e analisar as principais mudanças ocorridas no panorama do alojamento turístico, num território delimitado pelo Baixo Mondego, Baixo Vouga e Dão-Lafões. Palavras-Chave: Espaços Turísticos, Alojamento, Investimento, Desenvolvimento Local.

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Geografia e Ordenamento do Território, Revista Eletrónica

Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território

http://cegot.org

ISSN: 2182-1267

Marques, J.

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

CEGOT

[email protected]

Santos, N.

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

CEGOT

[email protected]

Espaços turísticos e as novas formas de alojamento

Referência: Marques, J e Santos, N.. (2012). Espaços turísticos e novas formas de alojamento. Revista de

Geografia e Ordenamento do Território, n.º 1 (Junho). Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento

do Território. Pág. 103 a 126

Resumo

Ao longo dos últimos anos têm-se verificado algumas mudanças na forma como a

implementação de novas estruturas de alojamento é levada a cabo e como são

“reinventadas” algumas das unidades que se encontram em funcionamento há já

algum tempo. Com este trabalho pretende-se explorar o novo enquadramento legal

dos empreendimentos turísticos e analisar as principais mudanças ocorridas no

panorama do alojamento turístico, num território delimitado pelo Baixo Mondego,

Baixo Vouga e Dão-Lafões.

Palavras-Chave: Espaços Turísticos, Alojamento, Investimento, Desenvolvimento Local.

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Abstract

Over the recent years there have been some changes in how the implementation of

new accommodation structures is carried out and how they are "reinvented", mainly

those which are in operation for longer. This work aims to explore its new legal

framework and analyze the main changes in the panorama of tourist accommodation,

in a specific area limited by the Baixo Mondego, Baixo Vouga and Dão-Lafões regions.

Keywords: Tourism Space, Accomodation, Investment, Local Development.

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Ao longo dos últimos anos têm-se verificado algumas mudanças na forma como a

implementação de novas estruturas de alojamento é levada a cabo e como são

“reinventadas” algumas das unidades que se encontram em funcionamento há mais

tempo. A diversificação na oferta de equipamentos e estruturas de lazer (salas de

conferências, spas, entre outros), a inovação tecnológica e a associação de temáticas

ou de produtos turísticos ao conceito base é cada vez mais frequente nas unidades

hoteleiras como forma de valorização do modelo de negócio e da criação de uma

oferta mais competitiva que vá ao encontro das exigências específicas de procura

turística cada vez mais segmentada, influenciada pelas alterações que se têm

verificado também ao nível do comportamento do consumidor nos últimos tempos,

como é preconizado pelo Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT, 2007).

As referidas mudanças no alojamento foram impulsionadas, por um lado, pela

implementação do PENT e a disponibilização de apoios ao investimento enquadráveis

na implementação ou requalificação de projetos hoteleiros, nomeadamente através do

Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN, 2007-2013) e do Programa de

Intervenção do Turismo (PIT, 2007-2009) e, por outro, pela entrada em vigor do

Decreto-Lei nº 39/2008 de 7 de março que veio consagrar o novo regime jurídico da

instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos em Portugal1.

Este diploma veio introduzir algumas alterações significativas, nomeadamente, a

eliminação da classificação de algumas tipologias de empreendimentos até aí

existentes como pensões, estalagens, motéis e moradias turísticas, entre outras, e a

introdução de um novo conceito denominado alojamento local, criado com o objetivo

de agilizar todo o processo burocrático de implementação e exploração de estruturas

de alojamento de menor dimensão e de características mais modestas, de tentar

combater o número de camas paralelas em Portugal (mais predominante nas zonas

costeiras) e de garantir o cumprimento de padrões mínimos de qualidade e segurança

1 Possibilitou a congregação num único decreto as tipologias que outrora estavam divididas vários diplomas (DL nº 197/97 – Empreendimentos Turísticos; DL nº 47/99 – modalidades de hospedagem no Turismo de Natureza; DL nº 256/86 – Empreendimentos de Turismo em espaço Rural).

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nestas estruturas2. Como consequência, tem-se verificado uma reorganização da

oferta hoteleira através do aumento de novas tipologias de hotéis que até agora não

tinham expressão ou tinham uma representação limitada. O exemplo mais notório

verifica-se ao nível da oferta de hostels3 e de hotéis de 1 e 2 estrelas, onde se tem

constatado um aumento do número destes estabelecimentos devido ao colmatar da

lacuna de enquadramento legal até então existente, no caso dos hostels, e ao processo

de reconversão que muitas pensões, residenciais, hospedarias e motéis já concluíram,

no caso dos hotéis de 1 e 2 estrelas.

Uma análise ao alojamento de um território permite também obter uma perspetiva

sobre os diferentes espaços turísticos e suas utilizações e formas de alojamento mais

características de cada um deles. Como refere Martins (2004), de acordo com as suas

características podem ser identificados cinco tipos principais de espaços de lazer e

turismo, nomeadamente o litoral balnear, o rural, a montanha, o urbano e o termal. A

estes poderíamos juntar ainda o espaço vitivinícola devido à crescente importância

que o enoturismo tem assumido e aos investimentos que tem representado (rotas,

museus, empreendimentos, entre outros). Cada um destes espaços representa um

conjunto principal de atividades e vivências específicas, traduzindo-se na elaboração

de produtos turísticos direcionados para públicos segmentados (Saúde e Bem-estar,

Sol e Mar, Turismo de Natureza, Turismo Náutico, Turismo de Aventura, Turismo de

Negócios, entre outros). No entanto, verifica-se um esforço por parte dos stakeholders

destes destinos na tentativa de adaptar as suas valências a um número mais alargado

de públicos, como tem sucedido, por exemplo, no caso dos hotéis termais ou dos

hotéis de praia, situados em espaços turísticos vocacionados para públicos muito

segmentados, que cada vez mais desenvolvem esforços para a captação de novos

públicos e novas utilizações turísticas através da implementação de serviços ou

equipamentos complementares e de estratégias de marketing mais diversificadas. Esse

facto é bem evidenciado através do produto Turismo de Negócios, mercado-alvo de

2 No total verificou-se a eliminação de pensões, estalagens, motéis, moradias turísticas, turismo rural (TER), casas de abrigo (TER), parques de campismo rural, centros de acolhimento, casas-retiro e turismo de aldeia. As tipologias do novo regime consistem em estabelecimentos hoteleiros (hotéis, hotéis-apartamentos, pousadas), aldeamentos turísticos, apartamentos turísticos, conjuntos turísticos (resorts), empreendimentos de turismo de habitação, empreendimentos de turismo no espaço rural (casas de campo, agroturismo, hotel rural), parques de campismo e caravanismo e empreendimentos de turismo de natureza. O alojamento local não é considerado empreendimento turístico. 3 O equivalente a albergue de juventude.

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grande importância estratégica devido às suas características de baixa sazonalidade e

maior gasto médio e que cada vez mais tem sido alvo das estratégias de marketing por

parte dos hotéis urbanos, de praia, de montanha, termais, entre outros.

Fig. 1 – Contextualização do território em estudo

Fonte: Elaboração própria

O Centro Litoral de Portugal conglomera, numa área geográfica delimitada pelo Baixo

Mondego, Baixo Vouga e Dão Lafões e que aqui iremos explorar (Fig. 1)4, um

importante conjunto de fatores que, com o investimento correto e as medidas

estratégicas adequadas, poderão ajudar a sustentar o desenvolvimento turístico desta

região. Esses fatores englobam a riqueza e diversidade dos atrativos naturais e

culturais, a localização geográfica, as acessibilidades, a segurança, a hospitalidade e a

vontade política (Marques e Santos, 2011 e 2012). Com este texto pretende-se, por

uma lado, evidenciar alguns desses atrativos, merecedores de especial atenção por

parte das estratégias de investimento e planeamento turístico e, por outro, fazer uma

análise à estrutura de alojamento existente como forma de identificar as

potencialidades e debilidades desta componente específica.

4 Este território específico é composto por 35 concelhos e abarca as cidades de Coimbra, Figueira da Foz, Aveiro e Viseu, dotadas de importantes infraestruturas de apoio ao turismo e, mais especificamente, dotados de uma importante oferta hoteleira para a região onde se inserem.

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Nos últimos anos tem sido evidente a crescente atenção que tem sido dada ao

património gastronómico e vitivinícola, como elementos diferenciadores para a

valorização e promoção turística dos destinos, como é bem evidenciado através do

PENT (e do produto estratégico Gastronomia e Vinhos) e do programa Prove Portugal,

este último, lançado pelo Turismo de Portugal em junho de 2010 com o principal

objetivo de promover a gastronomia e os vinhos nacionais em Portugal e no

estrangeiro, através de um Programa de Acão que assenta em três áreas prioritárias de

atuação: divulgação e promoção da gastronomia; qualificação dos recursos; e

valorização dos produtos (Turismo de Portugal, 2012).

Neste território encontramos uma vasta riqueza gastronómica, de onde podemos

salientar um conjunto de famosos pratos típicos como o Leitão Assado à Bairrada, a

Caldeirada de Enguias à Moda de Aveiro, o Rancho à Moda de Viseu, a Vitela Assada à

Moda de Lafões, o Arroz de Lampreia ou a Chanfana, não deixando de destacar ainda o

arroz carolino produzido no Vale do Mondego ou os variados pratos de peixe

característicos da beira-mar.

Na doçaria típica (proveniente de uma rica herança da doçaria conventual), para além

dos Ovos Moles, podemos destacar o pão de ló de Ovar, os pastéis de Tentúgal, as

queijadas de Pereira (Montemor-o-Velho), os pastéis de Lorvão e as Nevadas de

Penacova, os pastéis de Vouzela, os pastéis de feijão do Patronato (Mangualde), os

pastéis de Santa Clara e o Manjar Branco (Coimbra), entre muitas outras iguarias.

Existem também variados produtos abrangidos por diferentes classificações como

Denominações de Origem, Indicações Geográficas ou Especialidades Tradicionais,

como por exemplo, o Queijo Rabaçal DOP, a Carne Marinhoa DOP, a Carne Arouquesa

DOP, a Maçã Bravo de Esmolfe DOP, os já referidos Ovos Moles de Aveiro IGP, o

Cabrito da Gralheira IGP, a Maçã da Beira Alta IGP, a Vitela de Lafões IGP ou o

Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa ETG (Especialidade Tradicional Garantida),

muito característico do concelho de Ílhavo. Existem ainda outros produtos que apesar

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de não serem característicos do território específico em análise não deixam de ser

considerados como elementos valorizadores desse mesmo território, como é exemplo

o Mel da Serra da Lousã DOP5. A existência destes tipos de classificações, tal como se

verifica no caso dos vinhos e das Regiões Demarcadas, servem de referência à

qualidade de produtos que pretendem ser identitários em relação aos territórios onde

são produzidos, pela capacidade de promover a integração de produtos turísticos

diversos em torno de propostas de grande pertinência para o desenvolvimento local

sustentável (Santos e Cunha, 2008).

No que diz respeito à produção vitivinícola, este território é abrangido pelas áreas de

Denominação de Origem Controlada da Bairrada, Dão e Lafões e pela sub-região das

Terras de Sicó. Como estratégia para o desenvolvimento do enoturismo no território

foram inclusivamente criadas duas rotas, nomeadamente a Rota do Vinho do Dão e a

Rota do Vinho da Bairrada. Na Bairrada, e mais precisamente em Anadia (cidade

também conhecida como “capital do espumante”), para além da existência de um

museu dedicado à produção vitivinícola (Museu do Vinho da Bairrada) existe ainda o

Espaço Bairrada – Wine Tourism and Passion Store, que consiste no espaço utilizado

pela Associação Rota da Bairrada para a promoção da respetiva região e dos seus

produtos típicos, encontrando-se a funcionar no antigo edifício da Estação de

Caminhos de Ferro da Curia que foi recuperado para o efeito. Em Nelas existe também

um museu dedicado ao vinho da região (Museu do Vinho do Dão), que ajuda a

contribuir para o desenvolvimento do produto turístico associado ao enoturismo

através da valorização da imagem da Região do Dão.

No que diz respeito à oferta termal, contabilizam-se nove espaços termais (Fig. 2): na

região de Viseu, localizam-se as termas de Sangemil (Tondela), Felgueira (Nelas),

Alcafache (Mangualde), Cavaca (Aguiar da Beira), São Pedro do Sul e Carvalhal (Castro

Daire); na região da Mealhada/Anadia localizam-se as termas do Luso (Mealhada),

Curia e Vale da Mó (Anadia).

5 Os concelhos integrantes do Pinhal Interior Norte apesar de não fazerem parte do território específico em análise, não deixam de representar um grande potencial de valorização desse mesmo território e que terá de ser considerado. A título de exemplo, frequentemente os programas sociais de congressos realizados na cidade de Coimbra contemplam visitas a este território, veja-se o caso do Congresso Internacional Turismo Lazer e Cultura, realizado entre 27 e 29 de setembro e que contemplou, entre outras atividades, um passeio pedestre na serra da Lousã.

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Fig. 2 – Espaços termais

Fonte: Termas de Portugal, 2012

Pela sua importância podemos destacar as termas de São Pedro do sul, que recebem

cerca de 20.000 aquistas por ano, o que as torna nas mais procuradas no país, as

termas da Curia, inseridas numa área de cerca de 14 hectares da qual fazem parte um

hotel (Hotel das Termas) e um campo de golfe (Campo de Golfe da Curia), e as termas

do Luso, com um novo modelo de gestão através da elaboração de uma parceria com a

empresa Malo Clinic que originou uma diversificação da oferta. Neste caso passou a

abranger o termalismo clássico, a vertente do spa e a vertente médica, que à partida

resultará numa maior rentabilização do espaço e maior abrangência de público-alvo. É

também pertinente a associação destes espaços a fatores históricos e culturais que,

por sua vez, valorizam a imagem do destino turístico. As termas de São Pedro do Sul

são também conhecidas por terem sido frequentadas por D. Afonso Henriques que aí

curou uma fratura numa perna após a Batalha de Badajoz, enquanto as termas do Luso

evocam um dos grandes nomes da arquitetura portuguesa do Estado Novo6 que foi

6 Estilo arquitetónico também conhecido como Estilo Português Suave, Estilo Nacionalista ou Estilo Tradicionalista.

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Cassiano Branco, autor do Grande Hotel do Luso e do Portugal dos Pequenitos, entre

outras obras.

Quanto aos espaços naturais, a região possui um vasto património, incluindo vários

elementos inseridos na Rede Nacional de Áreas Protegidas (Reservas Naturais,

Paisagens Protegidas e Sítios Classificados) (Fig. 3) e na Rede Natura 2000 (Zonas de

Proteção Especial e Sítios de Importância Comunitária) (Fig. 4). A grande diversidade

geográfica e paisagística pode-se constatar nas praias da costa litoral do Baixo Vouga e

Baixo Mondego, no Baixo Vouga Lagunar (projeto BioRia7) e Estuário do Mondego, nas

Pateiras de Frossos e Fermentelos (sendo esta considerada uma das maiores lagoas

naturais da Península Ibérica), nos Pauis de Arzila, Madriz e Taipal, na Reserva Natural

das Dunas de São Jacinto, nas falésias do Cabo Mondego, nos leitos e praias fluviais

dos rios Mondego e Vouga e seus afluentes, nas serras da Boa Viagem, Sicó, Buçaco,

Caramulo, Montemuro, Freita, Arada e Lapa, na Mata Nacional do Buçaco, no Parque

Botânico Arbustus do Demo, em Vila Nova de Paiva, no Bioparque de S. Pedro do Sul,

na Cascata da Cabreia, proveniente do rio Mau e localizada em Sever do Vouga, no

Jardim Botânico e na Mata Nacional do Choupal, em Coimbra.

Todos estes lugares proporcionam um grande potencial para o desenvolvimento de

atividades de lazer e recreio, que podem ir desde os passeios pedestres, em bicicleta

(BTT) ou em jipe (TT), ao birdwatching, às atividades náuticas e até a atividades mais

aventureiras, como escalada, rappel, slide, parapente ou espeleologia. Aqui, as

empresas de animação turística desempenham um papel muito importante, na medida

em que se posicionam como agentes dinamizadores, ajudando a valorizar estes e

outros espaços naturais. A importância das praias marítimas e fluviais, das ciclovias e o

desenvolvimento da atividade equestre assumem aqui também uma grande

importância.

7 Rede de Percursos Pedestres e Cicláveis e Centro de Interpretação Ambiental implementados no Baixo Vouga Lagunar, mais precisamente no concelho de Estarreja (freguesias de Beduido, Salreu e Canelas) implementados com o objetivo de valorizar um importante ecossistema natural com uma vasta biodiversidade faunística e florista que abarca ambientes aquáticos e terrestres, os Rios Antuã, Jardim e Gonde, os arrozais, o campo “Bocage” e campos agrícolas, em plena harmonia com habitats de transição como sapais, caniçais, lamas entre marés e juncais.

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Fig. 3 – Concelhos abrangidos pela Rede Natura 2000.

.

Fonte: ICNB, 2012

Fig. 4 – Concelhos abrangidos pela Rede Nacional de Áreas Protegidas.

Fonte: ICNB, 2012.

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Toda a costa marítima juntamente com as bacias hidrográficas dos rios Vouga e

Mondego apresentam boas condições para a prática de atividades náuticas marítimas

e fluviais, lúdicas e desportivas. Para além dos passeios de barco na “ria” de Aveiro

(nos famosos barcos moliceiros) e no rio Mondego (Basófias), existem outras

atividades que podem ser realizadas como a canoagem, a vela, o remo, o surf, o

windsurf, o kitesurf, o bodyboard, o mergulho, a pesca desportiva e a motonáutica,

entre outras. Relativamente a infraestruturas para embarcações, para além dos

principais portos marítimos da região (Aveiro e Figueira da Foz), existem outros cais de

acostagem para pequenas e médias embarcações, possibilitando o desenvolvimento

das atividades enumeradas.

Nas ciclovias, que têm surgido como forma de valorização de centros urbanos e não

urbanos, importa destacar dois importantes investimentos recentes neste campo. Um

deles consiste na Ecopista do Dão. Inaugurada oficialmente em 2011 e considerada a

maior via ciclável do país, unindo Viseu, Tondela e Santa Comba Dão num percurso de

cerca de 50 km, foi construída através do reaproveitamento do antigo Ramal do Dão,

linha ferroviária que estava desativada há cerca de duas décadas. O outro consiste na

Ciclovia do Mondego, projeto que se encontra na sua fase inicial de investimento e que

pretende ligar os concelhos de Coimbra, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz num

troço de cerca de 41km ao longo do rio Mondego e que vai possibilitar um maior

desenvolvimento de atividades de lazer e o rejuvenescimento da área ribeirinha entre

Coimbra e Figueira da Foz.

No que diz respeito à atividade equestre, conforme é referido pelo Turismo de

Portugal (2008):

“podemos, pois, dizer que a consolidação de uma oferta turística no domínio do

turismo equestre – seja no contexto do turismo natureza (fruição dos espaços naturais

e das zonas rurais), do touring cultural e paisagístico (descoberta dos “sítios”, do

património, das tradições – como é o caso da tradição equestre), do sol e mar, do

turismo de saúde e bem-estar, ou numa ótica mais especializada dos eventos

desportivos ou do desenvolvimento das raças – se deverá assumir como uma

oportunidade nas estratégias de desenvolvimento turístico nacional e regionais no

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sentido em que se constitui como um efetivo qualificador da oferta capaz de potenciar

a atratividade dos destinos.”

A atividade equestre é cada vez mais é associada ao Turismo de Natureza e à

valorização das atividades ao ar livre, proporcionando uma interessante forma de

conhecer a envolvência natural da região e de valorização e desenvolvimento local,

especialmente importante para os meios não urbanos.

Fig. 5– Centros hípicos

Fonte: www.equisport.pt

Atualmente são inúmeros os locais dedicados à atividade equestre que podemos

encontrar na região (Fig. 5), destacando-se os concelhos de Aveiro, Viseu, Figueira da

Foz e Coimbra, com a maior oferta.

O território em estudo apresenta ainda outros elementos integrantes da sua valiosa

herança histórico-cultural, de onde se evidencia o Fado de Coimbra, cantado pelas

ruas, praças e casas de fado típicas da cidade (bem como em novos espaços culturais

115

criados para o efeito como o À Capella8 e o Fado ao Centro9), as tradições académicas

de Coimbra e Aveiro (com o maior peso para a Latada e a Queima das Fitas da

Universidade de Coimbra), a arte xávega presente em diversas povoações costeiras do

Baixo Vouga e Baixo Mondego, o cultivo artesanal dos campos de arroz no Baixo

Mondego e no Baixo Vouga Lagunar, a herança histórica deixada pela atividade

ambulante dos ourives de Cantanhede (de onde terão partido na década de 60 os

primeiros ourives ambulantes que deram origem proliferação das atuais ourivesarias

um pouco por todo o país) e a arte ancestral de trabalhar a pedra de Ançã,

característica da região de Cantanhede e representada na torre da Universidade de

Coimbra ou nos túmulos dos reis D. Afonso Henriques e D. Sancho I (que podem ser

vistos na Igreja de Santa Cruz), entre muitos outros testemunhos. Também os nomes

de figuras históricas ligadas à região, como escritores (Carlos de Oliveira, Fernando

Namora ou Miguel Torga), artistas (José Afonso, Carlos Paredes) e outras

personalidades, como o navegador, explorador e escritor Fernão Mendes Pinto, o

médico Egas Moniz (primeiro Nobel português), o famoso diplomata Aristides de Sousa

Mendes, ou Pedro e Inês (protagonistas da famosa lenda associada fortemente à

Quinta das Lágrimas), contribuem para um importante peso histórico-cultural que

importa valorizar. Alguns espaços museológicos foram, inclusivamente, criados com

esse propósito, como por exemplo, a Casa Museu Egas Moniz, a Casa Museu Miguel

Torga ou Casa Museu Fernando Namora.

Ao analisarmos a distribuição do património imóvel classificado pelo IGESPAR10,

podemos verificar que os concelhos de Coimbra e Figueira da Foz são aqueles que

contabilizam o maior número de elementos classificados, seguindo-se os concelhos de

Montemor-o-Velho, Aveiro, Tondela, Viseu e Mangualde (Fig. 6). O concelho de Vagos

é o único que não possui elementos classificados, o que não quer dizer que não possua

locais de interesse cultural, como é evidenciado através da existência de um conjunto

8 Casa de Fados e centro cultural que resultou da recuperação da Capela de Nossa Senhora da Vitória, inaugurado em junho de 2003. 9 Casa de Fados e centro cultural inaugurado em julho de 2011. 10 Aqui foram incluídos todos os elementos patrimoniais arquitetónicos civis, arquitetónicos religiosos, arquitetónicos militares e arqueológicos classificados ou em vias de classificação.

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de moinhos (Moinhos de Vento de São Romão), pelourinhos, capelas, igrejas e casas

brasonadas.

Na cidade de Coimbra importa destacar o conjunto patrimonial da Universidade de

Coimbra11, a Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, com estatuto de Panteão Nacional

atribuído em 2003 devido à presença tumular dos dois primeiros reis de Portugal, D.

Afonso Henriques e D. Sancho I, o Mosteiro de Santa Clara – a – Velha recuperado

recentemente depois de permanecer submerso pelas águas do Mondego durante

séculos, a Sé Nova e a Sé Velha. Também o património arqueológico do Museu

Monográfico de Conímbriga, em Condeixa-a-Nova, merece destaque pela sua

importância histórica e patrimonial. Já na Figueira da Foz, podemos destacar, entre

outros, a Fortaleza de Buarcos, a Casa do Paço, o Mosteiro de Santa Maria de Seiça e o

Paço de Maiorca, onde há muito está prevista a transformação em hotel de luxo,

mantendo as características do edifício12.

Fig. 6 – Distribuição do património classificado, por concelho.

Fonte: IGESPAR, 2012

11 A Universidade de Coimbra apresentou em 2010 a candidatura a Património Mundial da UNESCO, com uma área patrimonial que inclui o Núcleo do Paço das Escolas, o Núcleo dos Colégios Universitários, o Núcleo da Reforma Pombalina, o Núcleo do Estado Novo, o Núcleo das repúblicas, entre um conjunto de outros edifícios relevantes. 12 Este projeto tem sofrido alguns contratempos, havendo mesmo dúvidas neste momento sobre a possibilidade a sua implementação.

117

Na região de Viseu, historicamente associada à figura do herói lusitano Viriato e onde

se pode encontrar a Cava de Viriato (vestígios de uma estrutura defensiva romana em

forma de polígono com mais de 2km de perímetro), predomina também um

importante património histórico, bastante evidenciado no centro da cidade de Viseu

num conjunto que engloba o adro da Sé (onde podemos encontrar a Varanda dos

Cónegos e Torre de Menagem, a Sé Catedral, o Museu Grão Vasco e a Igreja da

Misericórdia) e o rossio (Paços do Concelho, Igreja dos Terceiros, Painel de Azulejos ao

longo do muro do Jardim das Mães, Casa Museu Almeida Moreira), entre muitos

outros pontos de interesse espalhados pela cidade. A região de Viseu é também

caracterizada pela existência de um vasto número de solares e as casas apalaçadas,

muitas vezes rentabilizadas através da conversão em espaços de alojamento

associados ao turismo de natureza.

Na região de Aveiro, por sua vez, podemos encontrar um conjunto patrimonial rico em

edifícios do estilo Arte Nova. Apesar de existirem importantes testemunhos deste

estilo arquitetónico noutros lugares, como Ovar (também conhecida como cidade-

museu do azulejo), Anadia (evidenciada através do Curia Palace Hotel) ou Figueira da

Foz (como por exemplo alguns edifícios do Bairro Novo de Santa Catarina), é na cidade

de Aveiro que podemos encontrar o maior número de testemunhos deste estilo

arquitetónico e onde se situa o Museu de Arte Nova. A extinta Região de Turismo Rota

da Luz criou, inclusivamente, a Rota da Arte Nova (limitada ao Baixo Vouga) que para

além de Aveiro incluiu Ovar, Avanca, Estarreja, Salreu, Albergaria – a – Velha, Frossos e

Ílhavo.

Destacamos ainda outros elementos como o núcleo de moinhos da Serra da Atalhada

na região de Penacova (tendo sido recuperados alguns deles para alojamento de

Turismo Rural), o Caminho Português de Santiago que passa entre Condeixa-a-Nova e

Albergaria-a-Velha e que abrange inúmeras capelas e igrejas ao longo do trajeto, a rota

dos castelos do Mondego (que abarca Coimbra, Figueira da Foz, Lousã, Montemor-o-

Velho, Penela e Soure) e a rota das muralhas e torres de Dão Lafões (Viseu, Aguiar da

Beira, Vouzela e Mangualde), a rota dos palheiros característicos das praias da Costa

Nova, Tocha e Mira ou o centro mineiro que inclui as minas do Braçal, da Malhada e do

Coval da Mó, em Sever do Vouga. Neste último caso, o património existente encontra-

118

se em total estado de abandono e degradação. O testemunho da atividade mineira

merecia, no entanto, ser reavivado, necessitando para isso de investimento

estruturado e planeado e que poderia resultar num produto relacionado com o

Turismo Industrial, à semelhança do que já vai acontecendo noutras áreas geográficas,

como São João da Madeira e Marinha Grande, entre outras. Ao falar de investimento e

de recuperação de património, não podemos deixar de apresentar os bons exemplos

que são as Aldeias do Xisto e as Aldeias Históricas de Portugal. Apesar de não estarem

inseridas na delimitação geográfica do território em estudo, posicionam-se também

como produtos estratégicos complementares devido à sua proximidade e, por isso,

facilmente acessíveis a quem se deslocar a este território.

Todos os elementos explorados até aqui desempenham um papel importante na

organização e promoção da oferta turística da região, muitas das vezes estruturada

pelos municípios ou entidades turísticas locais sob a forma de percursos ou rotas

turísticas e onde o artesanato também tem grande importância ao possibilitar, por um

lado, a perpetuação da memória dos lugares por parte dos visitantes e, por outro, o

desenvolvimento do comércio local.

Ao analisarmos a distribuição do alojamento no território, podemos verificar alguns

aspetos relevantes (Fig. 7). O concelho com maior número de empreendimentos

turísticos, número de quartos e número de camas coincide com a localização do

principal centro urbano da região: a cidade de Coimbra. A sua imagem turística

indissociável da Universidade dá-lhe o estatuto de principal destino turístico de todo o

território, com maior número de visitantes, para além da maior oferta hoteleira. Aqui

o Turismo Cultural assume especial relevância, no entanto, também o Turismo de

Negócios merece destaque pela crescente atenção de que tem sido alvo por parte dos

principais stakeholders. A importância deste produto é evidenciada através da

presença da cidade de Coimbra no ranking da Internacional Congress and Convention

Associacion (ICCA) e reforçada através da abertura do Hotel Vila Galé Coimbra, em

2010, com a classificação de 4 estrelas e um conceito de Leisure & Conference (lazer e

119

negócios), sendo considerado o maior hotel localizado entre Lisboa e Porto, com 229

quartos.

Um segundo aspeto relevante é a oferta de alojamento nos espaços do litoral balnear.

Apesar de toda a costa marítima deste território apresentar condições naturais

favoráveis para a prática do denominado turismo de Sol e Mar, é nos concelhos de

Aveiro e Figueira da Foz que existe um maior número de estruturas hoteleiras e

serviços complementares. Para além das inúmeras praias, estes concelhos possuem os

dois principais portos marítimos da região que possibilitam a acostagem de pequenas

e médias embarcações de recreio e que se afiguram como estruturas importantes para

a prática de desportos náuticos, como barco à vela, surf, windsurf, motonáutica, entre

outros. No entanto, importa destacar a Figueira da Foz por ser aqui que se encontra o

maior número de estabelecimentos hoteleiros localizados na primeira linha de costa.

Aqui também é bem evidente o investimento que tem sido feito na requalificação

hoteleira, de onde podemos destacar a construção em curso do hotel Holiday Inn

Figueira da foz, com previsão de abertura para 2013 (tendo sofrido já alguns atrasos na

sua construção) e que contará com 160 quartos, 11 salas de reuniões, 1 anfiteatro e 1

salão para banquetes e eventos, entre outros serviços. O número significativo de salas

de reuniões evidencia a atenção dada ao Turismo de Negócios, como produto

complementar ao Sol e Mar.

120

Fig. 7 – Distribuição da oferta de alojamento, por concelho.

A – Número de empreendimentos turísticos; B – Número de quartos; C – Número de camas

Fonte: www.maisturismo.pt

Um terceiro aspeto relevante consiste na oferta de alojamento nos espaços termais e

vitivinícolas e que praticamente coincidem em duas regiões distintas. Por um lado, a

região termal da Mealhada/Anadia que coincide com parte da região da Bairrada,

destacando-se a oferta de alojamento nos concelhos de Mealhada e Anadia. Por outro,

a região termal de Viseu que coincide com parte da região vitivinícola do Dão,

destacando-se a oferta de alojamento nos concelhos de Viseu e São Pedro do Sul. No

caso dos destinos termais, podemos identificar unidades de alojamento com

121

referências claras ao produto Saúde e Bem-estar (hotéis termais, hotéis com spas13).

No entanto, o mesmo não se verifica relativamente ao enoturismo, onde ainda não

existem estruturas hoteleiras a atuar em força especificamente neste segmento, ao

contrário do que já acontece noutros pontos do país, como por exemplo em Vila Nova

de Gaia (The Yeatman Oporto Hotel, unidade de 5 estrelas inaugurada em 2010), em

Montemor-o-Novo (L’AND Vineards, wine resort de luxo inaugurado em 2011), em

Sabrosa (Casa das Pinas – Quinta do Portal, unidade de agroturismo inaugurada em

2011 e Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo14, hotel rural de 4 estrelas inaugurado

em 2005) e no Funchal (Hotel The Vine, unidade de 5 estrelas inaugurada em 2009),

entre outros. Através destes casos, podemos verificar uma tendência crescente nos

últimos anos na aposta estratégica junto deste segmento e o seu posicionamento

junto de um perfil de turistas com maior poder de compra.

Por último, importa realçar o concelho de Mortágua que, por um lado, apresenta-se

como um dos concelhos com menor número de empreendimentos mas, por outro,

como um dos que apresentam maior número de camas. Este facto deve-se à

existência, do aldeamento turístico Montebelo Aguieira Lake Resort & Spa que foi

inaugurado em 2009. Trata-se de uma unidade de 5 estrelas que integra a cadeia

Montebelo Hotels & Resorts (do grupo Visabeira, com sede em Viseu)15, situada junto

à Barragem da Aguieira, localizada estrategicamente entre Viseu e Coimbra, com uma

área de cerca de 35 hectares onde se inclui uma marina fluvial com 400 postos de

amarração (para embarcações a motor, à vela e a remos), um ginásio, duas piscinas

(uma interior e outra exterior), um Spa e um salão de eventos onde poderão ser

realizadas reuniões de negócios até cerca de 400 pessoas, entre outros eventos.

Contabiliza 152 habitações e mais de 300 quartos, distribuídos por apartamentos e

villas. Este importante espaço, vocacionado especialmente para o Turismo Náutico, de

13 Como por exemplo, Curia Palace Hotel Spa & Golf, Grande Hotel da Curia Golf & Spa, Hotel das Termas da Curia, Hotel do Parque Health Club & Spa. 14 Considerado o primeiro hotel vínico de Portugal. 15 Das cindo unidades de 5 estrelas existentes na região, quatro delas pertencem ao grupo Montebelo (Hotel Montebelo e Palácio dos Melos em Viseu, Montebelo Aguieira e Hotel Casa da Insuã). A outra unidade de 5 estrelas consiste no Buçaco Palace Hotel, com 64 quartos, situado no interior na Mata Nacional do Buçaco. É atualmente explorado pelo grupo Hotéis Alexandre de Almeida que possui também na região o Curia Palace Hotel Spa & Golf e o Hotel Astória Coimbra, de 3 estrelas, com 60 quartos e duas suítes, situado em frente ao rio Mondego, muito próximo da baixa comercial da cidade de Coimbra e da Estação Nova (estação ferroviária Coimbra A).

122

Saúde e Bem-estar e de Natureza, não deixa de apontar as estratégias de marketing

para a captação do Turismo de Negócios através da promoção das suas instalações e,

mais especificamente, do seu salão de eventos16, representando, no seu todo, um

importante fator de dinamização da economia local.

Fig. 8 – Distribuição dos empreendimentos, por tipologia, por concelho

A – Hotéis; B – Alojamento local; C – Turismo de habitação; D – Turismo em espaço rural

Fonte: www.maisturismo.pt

Podemos constatar também que é nos espaços rurais e de montanha, destinos com

menor densidade populacional, com uma atividade turística menos massificada e que

englobam um conjunto de atividades e produtos turísticos mais relacionados com as

atividades ao ar livre e o usufruto da natureza, que encontramos uma menor oferta de

estabelecimentos hoteleiros tradicionais (hotéis, apart-hotéis) – Fig.8. No entanto,

16 Como se pode constatar através do seu sítio de Internet: http://www.montebeloaguieira.pt/.

123

estes espaços conglomeram uma maior oferta de outros tipos de alojamento,

nomeadamente os estabelecimentos de Turismo em Espaço Rural e os

estabelecimentos de Turismo de Habitação, caracterizados por terem menores

dimensões o que se reflete ao nível do número de quartos e do número de camas. Já a

oferta de Alojamento Local, onde incluímos todas as tipologias extintas e que ainda

não concluíram o processo de reconversão, verifica-se uma dispersão por toda a região

e seguindo a tendência de maior concentração nos principais centros urbanos, termais

e costeiros.

O território em análise apresenta um importante conjunto de elementos patrimoniais

naturais e culturais que poderão contribuir para o desenvolvimento económico local

através do desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo e ao lazer. Neste sentido,

as estruturas de alojamento significam um importante fator de suporte (e que por

vezes poderão representar por si só um forte motivo de interesse turístico) que

importa valorizar. Por vezes possibilitam ainda a recuperação de património devoluto,

que se traduz na recuperação de valores culturais e históricos para as populações

locais.

A região tem contado com importantes investimentos nos últimos anos, contrariando

um pouco os tempos adversos que a economia nacional atravessa, o que nos reforça a

ideia de que o turismo é um setor muito importante para o desenvolvimento

económico local. A crescente tendência para associar designações complementares

aos nomes que os empreendimentos adotam (Palace, Spa, Golfe, Lake Resort, Art

Nouveau & Design, Boutique, Beach & Spa, entre outros) mostra também uma

tendência clara para chamar a atenção de mercados específicos e de necessidade de

diferenciação relativamente à concorrência.

Também é notório o aumento da oferta de serviços e equipamentos por parte das

unidades hoteleiras de modo a poder abarcar um maior número de segmentos e

públicos-alvo, onde o Turismo de Negócios assume um importante papel evidenciado

através da crescente atenção dada a este produto.

124

Apesar de se constatarem alguns investimentos que proporcionaram, claramente, um

aumento e melhoria da oferta hoteleira existente, ainda são podemos identificar

algumas lacunas. O alojamento de categoria superior, nomeadamente os hotéis de 5

estrelas, ainda é limitado e pouco disperso. A inexistência de alojamento de 5 estrelas

nas cidades de Coimbra e Aveiro, ao contrário da cidade de Viseu onde existem duas

unidades desta categoria, poderão dificultar o seu posicionamento junto de segmentos

com necessidades de serviços de categoria superior, como é o caso, mais uma vez, do

Turismo de Negócios. Importa referir também que a requalificação da oferta de

alojamento ainda não se encontra terminada, na sequência da entrada em vigor do

Decreto-Lei nº 39/2008, pelo que nos próximos tempos será expectável que surjam

ainda algumas mudanças, nomeadamente através da reclassificação dos

empreendimentos em falta e que poderá resultar no incremento do número de hotéis

de 1 e 2 estrelas.

É de realçar ainda a presença na região de grupos hoteleiros de referência nacionais

(Montebelo, Pestana, Vila Galé, Tivoli, Alexandre de Almeida, Lágrimas, Belver,

Eurosol, WR Hotéis) e internacionais (Meliã, Mercure, Best Western, InterContinental,

Louvre Hotels, Relais & Chateaux). No início de 2011 os grupos Alexandre de Almeida e

Lágrimas anunciaram a fusão da gestão das suas unidades de hotelaria e restauração.

Estes grupos abarcam algumas das mais importantes unidades de alojamento situadas

em edifícios com grande significado histórico, cultural e arquitetónico, como é o caso

do Buçaco Palace Hotel, do Curia Palace Hotel, do Hotel Astória de Coimbra (Alexandre

de Almeida) e do Hotel Quinta das Lágrimas (grupo Lágrimas). Esta fusão evidencia a

necessidade de criar novas estratégias de negócio que permitam fazer face às

dificuldades económicas atuais e poderá resultar também numa melhoria da oferta de

serviços, através da partilha de know how e recursos financeiros e humanos entre os

dois grupos.

Este trabalho contou com o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a

Tecnologia, no âmbito de uma bolsa de doutoramento.

125

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