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    Escrevendo contra a cultura 1 (1991)

    Lila Abu-Lughod

    Writing Culture , a coletnea quemarcou uma nova forma principal decrtica s premissas da antropologiacultural, exluiu mais ou menos doisgrupos crticos cujas situaes habilmenteexpem e desafiam a mais bsica destaspremissas: feministas e halfies ! " pessoas

    cuja identidade nacional ou cultural #mista, em virtude de migra$o, educa$oestrangeira, ou ascend%ncia& 'm suaintrodu$o, (lifford desculpa)se pelaaus%ncia de feminismo* nenhuma men$oaos halfies ou aos antrop+logos indgenasa quem eles est$o relacionados& alve-

    eles n$o sejam suficientemente numerososou auto)denominados como grupo& .importncia destes dois grupos ja- n$o emqualquer reivindica$o moral e superior,ou em uma vantagem que eles devem terao fa-er antropologia, mas nos dilemasespecficos que eles enfrentam, dilemas

    que revelam cruamente os problemas coma presun$o da antropologia cultural deuma distin$o fundamental entre o eu e ooutro&

    /este ensaio eu exploro comofeministas ehalfies , pela forma como suasprticas antrop+logicas inquietam a

    fronteira entre eu e outro, permitem)nosrefletir sobre a nature-a convencional eefeitos polticos desta distin$o, efundamentalmente reconsiderar o valor doconceito de cultura do qual ela depende&'u argumentarei que cultura! opera nodiscurso antropol+gico para reforar

    separaes que invevitavelmente carregamum senso de hierarquia& 0ortanto, osantrop+logos deveriam agora perseguir,sem esperanas exageradas sobre o poderde seus textos para mudar o mundo, umavariedade de estrat#gias para escrever

    contra a cultura& 0ara aqueles interessados

    em estrat#gias textuais, eu exploro asvantagens do que chamo etnografias doparticular! como instrumentos de umhumanismo ttico&

    Ns e Outros

    . no$o de cultura1particularmente porque ela funciona paradistinguir culturas!2, a depeito de umalonga utilidade, pode agora ter)se tornadoalgo contra o que os antrop+logosgostariam de trabalhar em suas teorias,suas prticas etnogrficas, e suas escritasetnogrficas& 3m modo 4til para comeara compreender o porqu%, # considerar o

    1 tulo em parte intradu-vel& /o originalWriting against culture , refer%ncia aWriting culture 156782 de(lifford e 9arcus&

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    que os elementos compartilhados daantropologia feminista ehalfie esclarecesobre a distin$o entre eu e outro, centralao paradigma da antropologia& 9aril n;trathern 1567abino?citam emWriting Culture. . tese dela # ade que a rela$o entre antropologia efeminismo # difcil& 'ssa tese a condu- atentar compreender por que a escolafeminista, no +dio de sua ret+rica deradicalismo, falhou em fundamentalmentealterar a antropologia, e por que ofeminismo ganhou ainda menos que aantropologia do que o contrrio&

    . dificuldade, ela argumenta,

    prov#m do fato de que apesar do interessecomum nas diferenas, as prticasacad%micas de feministas e antrop+logoss$o estruturadas diferentemente no modocomo organi-am o conhecimento e traamfronteiras! 1;trathern, 567=, @762 eespecialmente na na nature-a darelaodos investigadorescom os sujeitos de suasdisciplinas! 1567=, @7A2& .cad%micosfeministas, unidos por sua oposi$ocomum aos homens ou ao patriarcado,produ-em um discurso composto demuitas vo-es* eles descobrem o eutornando)se consciente da opress$o doButro! 1567=, @762& .ntrop+logos, cujoobjetivo # dar sentido s diferenas!

    1567=, @782, tamb#m constituem seuseus! em rela$o com um outro, mas n$oveem este outro sob ataque! 1567=, @762&

    0ara esclarecer a rela$o entreeuCoutro, ;trathern leva)nos ao cora$o doproblema& .inda que ela recue daproblemtica do poder 1tido comoformativo no feminismo2, em suadescri$o estranhamente pouco crtica daantropologia& Duando ela define a

    antropologia como a disciplina quecontinua a conhecer a si mesma como oestudo do comportamento social nostermos de sistemas e representaescoletivas! 1567=, @752, ela subscreve adistin$o euCoutro& .o caracteri-ar arela$o entre o eu antropol+gico e o outro

    como n$o)antagonstica, ela ignora seuaspecto mais fundamental& B objetivoconfessado da antropologia deve ser oestudo do homem EsicF!, mas ela # umadisciplina ancorada na divis$o construdahistoricamente entre o Bcidente e o n$o)Bcidente& em sido e continua a serprimariamente o estudo dos outros n$o)Bcidentais pelos eus Bcidentais, mesmose em seus novos pretextos ela procureexplicitamente dar vo- ao Butro ou aapresentar um dilogo entre o eu e o outro,ora textualmente, ora atrav#s daexplica$o do encontro reali-ado notrabalho de campo 1como nos trabalhos de(rapan-ano 567G, Humont 56=7, H? er

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    567@, >abino? 56==, >iesman 56==,edlocI 567J e ler 56782& ' orelacionamento entre o Bcidente e o n$o)Bcidente, ao menos desde o nascimentoda antropologia, tem sido constituda peladomina$o do Bcidente& Ksto sugere que adificuldade que ;trathern sente na rela$oentre feminismo e antropologia devemelhor ser entendida como o resultado deprocessos diametralmente opostos deconstru$o do eu atrav#s da oposi$o aoutros " processos que prov%m dediferentes lados da reparti$o de poder&

    . fora duradoura do que 9ors15677, =G2 tem chamado a hegemonia dadistintiva tradi$o do outro! naantropologia # trada pela defensividade

    de excees parciais& .ntrop+logoscondu-indo trabalho de campo nos'stados 3nidos ou na 'uropa perguntam)se se eles n$o embaaram as fronteirasdisciplinares entre a antropologia e outroscampos como a sociologia ou hist+ria&3mmodo de manter suas identidades comoantrop+logos # fa-er com que ascomunidades que eles estudam pareamoutras!& 'studar comunidades #tnicas eos fracos tamb#m assegura isso& .ssimcomo concentrar)se na cultura!, porra-es que eu discutirei mais tarde& Lduas questes aqui& 3ma # a convic$o deque n$o se pode ser objetivo sobre apr+pria sociedade em particular, algo que

    afeta os antrop+logos indgenas1Bcidentais ou n$o)Bcidentais2& . segunda# um entendimento implcito de que osantrop+logos estudam os n$o)Bcidentais*

    halfies que estudam a si mesmos oucomunidades n$o)Bcidentais s$o aindamais facilmente reconhecidos comoantrop+logos, que .mericanos queestudam .mericanos&

    'mbora a antropologia continue a

    ser praticada como o estudo por um n$oproblemati-ado e n$o destacado euBcidental para descobrir outros! l fora,a teoria feminista, uma prtica acad%micaque tamb#m transita em eus e outros, veioem sua relativamente pequena hist+ria aperceber o perigo de tratar eus e outros

    como dados& M instrutivo para odesenvolvimento de uma crtica daantropologia considerar a trajet+ria quetem levado, em duas d#cadas, ao quealguns podem chamar de crise na teoriafeminista, e outros, de desenvolvimentodo p+s)feminismo&

    . partir de ;imone de Neauvoir,tem sido aceito que, ao menos noBcidente moderno, as mulheres t%m sido ooutro aos eus dos homens& B feminismotem sido um movimento devotado a ajudaras mulheres a tornarem)se eus e sujeitos,ao inv#s de objetos e outros dos egos dos

    homens& . crise na teoria feminista1relacionada a uma crise no movimento

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    das mulheres2 tenta tornar aquelas que t%msido constitudas como outras em eus " ou, para usar a metfora popular, deixar asmulheres falarem ", foi o problema dadiferena!& 0or quem as feministas

    falavamO B movimento das mulheres, asobjees das l#sbicas, mulheres .fro).mericanas, e outras mulheres de cor!cujas experi%ncias como mulheres foramdiferentes daquelas das mulheres brancas,de classe m#dia, heterossexuais, e levarama problemati-ar a identidade dos seus euscomo mulheres& rabalhos sobre mulheresentre culturas tamb#m deixou claro quemasculino e feminino n$o t%m, como n+sdi-emos, os mesmos significados emoutras culturas, nem as vidas das mulheresdo erceiro 9undo se parecem com as

    vidas das mulheres do Bcidente& (omo di-Larding 15678, @A82, o problema # queuma ve- que PmulherP # desconstrudo emPmulheresP, e Pg%neroP # reconhecido porn$o ter referentes fixos, o feminismo elemesmo dissolve)se como uma teoria quepode refletir a vo- de um interlocutor

    naturali-ado ou essenciali-ado!&

    He sua experi%ncia com esta crisecom o eu e com o outro, a teoria feministapode oferecer dois lembretes 4teis antropologia& 0rimeiro, o eu # sempre umaconstru$o, nunca uma entidade natural oudescoberta, mesmo que tenha estaapar%ncia& ;egundo, o processo de criar

    um eu atrav#s da oposi$o com um outrosempre envolve a viol%ncia de reprimir ouignorar outras formas de diferena& .ste+ricas feministas t%m sido foradas aexplorar as implicaes para a forma$ode identidade, e as possibilidades para aa$o poltica dos modos em que o g%nerocomo sistema de diferena # cru-ado poroutros sistemas de diferena, inclusive, nomundo capitalista moderno, por raa eclasse&

    Bnde isso deixa a antrop+logafeministaO ;trathern 1567=, @782caracteri-a)a como experimentando umatens$o " tomada entre estruturas&&&confrontada com duas maneiras diferentesde se relacionar com as1os2 sujeitos de sua

    disciplina!& B mais interessante aspecto dasitua$o das feministas, no entanto, # oque ela compartilha com ohalfie : umahabilidade bloqueada para assumirconfortavelmente o eu da antropologia&0ara ambos, embora de maneirasdiferentes, o eu est dividido, pego nocru-amento de sistemas de diferena& 'uestou menos preocupada com asconsequ%ncias existenciais desta divis$o1isso foi eloquentemente explorado emeoutro lugar EQoseph 5677, Rondo 5678,/ara an 5676F2 que com a percep$o queesta divis$o gera sobre tr%s questescruciais: posicionalidade, p4blico, e opoder inerente nas distines de eu e

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    outro& B que acontece quando o outro!que o antrop+logo est estudando #simultaneamente construdo como, aomenos parcialmente, um euO

    .ntrop+logos feministas ehalfiesn$o podem facilmente evitar a quest$o daposicionalidade& 'ncontrar)se numa basede mudana deixa claro que cada vis$o #uma vis$o de algum lugar, e cada ato defala uma fala de algum lugar&

    .ntrop+logos culturais nunca foraminteiramente convencidos da ideologia daci%ncia, e t%m h muito questionado ovalor, a possibilidade e defini$o deobjetividade& 9as eles ainda parecemrelutantes para examinar as implicaes dapresente situa$o de seu conhecimento&

    Huas objees comuns eentrelaadas ao trabalho dos antrop+logosfeministas ou nativos e semi)nativos,ambas relacionadas parcialidade, traem apersist%ncia dos ideais de objetividade& .primeira tem a ver com a parcialidade1como vi#s ou posi$o2 do observador& .

    segunda tem a ver com a parcial1incompleta2 nature-a da descri$oapresentada& Halfies s$o mais associadosao primeiro problema, feministas aosegundo& B problema de estudar a pr+priasociedade # alegadamente o problema detomar suficiente distncia& S medida que

    para oshalfies , o Butro # de certo modo oeu, este # o dito perigo da identifica$o, e

    fcil desli-e na subjetividade,compartilhado com os antrop+logosindgenas& 'ssas preocupaes sugeremque o antrop+logo ainda # definido comoum ser que deve manter)se afastado doButro, mesmo quando ele ou ela procuraexplicitamente superar o intervalo&9esmo Nourdieu 156==, 5)@2, queanalisou perceptivamente os efeitos queesta postura de distanciamento tem nas1in2compreenses dos antrop+logos davida social, falha irremediavelmente emsua opini$o& B ponto +bvio que ele perdede vista # que o eu distante nuncameramente mant#m)se do lado de fora&'le ou ela encontram)se em uma rela$odefinida com o Butro de seu estudo, n$oapenas como um Bcidental, mas como um

    franc%s na .rg#lia durante a guerra deindepend%ncia, um americano no9arrocos durante o conflito rabe)israelense em 568=, ou uma mulheringlesa na Tndia p+s)colonial& B que n+schamamos lado de fora! # uma posi$o

    dentro de um complexo poltico)hist+rico

    maior& /$o menos que ohalfie , o wholie #uma posi$o especfica em face comunidade sendo estudada&

    Bs debates em torno dasantrop+logas feministas sugerem umasegunda fonte de inquieta$o quanto posicionalidade& 9esmo quando elas seapresentam como estudiosas de g%nero,

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    antrop+logas feministas s$o rejeitadasvisto que apresentam apenas um retratoparcial das sociedades que estudam,porque assumidamente estudam apenasmulheres& .ntrop+logos estudam asociedade, a forma sem designa$o& Bestudo das mulheres # a forma comdesigna$o, t$o prontamente seccionada,como nota ;trathern 1567

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    falam sobre com uma complexaconsci%ncia, investimento e acolhimento&anto os antrop+logos feministas quantoos halfies s$o forados a confrontardiretamente a poltica e a #tica de suasrepresentaes& /$o h solues fceispara seus dilemas&

    . terceira quest$o que osantrop+logos feministas ehalfies , aocontrrio dos antrop+logos que trabalham

    em sociedades Bcidentais 1outro grupopara quem eu e outro de certam formaest$o enredados2, foram)nos a confrontar# a ambiguidade da manuten$o da ideiade que as relaes entre eu e outro s$oinocentes de poder& Hevido ao sexismo e discrimina$o #tnica e racial, que eles

    podem ter experimentando " comoindivduos de ascend%ncia mista, comomulheres ou como estrangeiros " ser outropara um eu dominante, seja na vidacotidiana nos 'stados 3nidos, naKnglaterra, na Vrana, ou na academiaBcidental& 'sta n$o # simplesmente umaexperi%ncia de diferena, mas dedesigualdade& 9eu argumento, no entanto,# estrutural, n$o emprico& 9ulheres,negros, e os in4meros n$o)Bcidentais t%msido historicamente constitudos comooutros nos principais sistemas polticos dediferena dos quais o mundo desigual docapitalismo tem dependido& 'studosfeministas e negros fi-erem suficiente

    progresso na academia para expor o modocomo ser estudado pelos homensbrancos! 1para usar um atalho a umaposi$o de sujeito complexa ehistoricamente constituda2 transforma)seem ser dito atrav#s deles& ' se torna umsigno e instrumento de seu poder&

    /a antropologia, a despeito de umalonga hist+ria de oposi$o auto)conscienteao racismo, de um desenvolvimento velo-

    da literatura auto)crtica 1por exemplo,.sad 56=J, (lifford, 567J, Vabian 567J,L mes 5686, Ruper 56772, eexperimentaes com t#cnicasetnogrficas para aliviar o desconfortocom o poder do antrop+logo sobre osujeito antropol+gico, as questes

    fundamentais da domina$o continuam aser evitadas& 9esmo tentativas pararetratar informantes como consultores, epara deixar o outro falar! 1 edlocI 567=2em textos dial+gicos ou polvocos " descoloni-aes a nvel textual ", deixamintacta a configura$o bsica do poderglobal na qual a antropologia, estandoconectada a outras instituies do mundo,baseia)se& 0ara perceber a estranhe-adesse empreendimento, tudo o que #preciso # considerar um caso anlogo&Dual seria a nossa rea$o se acad%micosdo sexo masculino declarassem seu desejode deixar as mulheres falarem! em seustextos, enquanto continuassem a dominar

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    todo o conhecimento sobre eles atrav#s docontrole da escrita e outras prticasacad%micas, sustentado em suas posiesuma organi-a$o particular da vidapoltica, social e econWmicaO

    Hevido a seus eus divididos,antrop+logos feministas ehalfies viajamcom dificuldade entre falar por! e falarde!& ;ua situa$o permite)nos ver maisclaramente que a divis$o de prticas, seja

    naturali-ando as diferenas, como nog%nero ou na raa, ou simplesmenteelaborando)as, como irei argumentar sobreo que fa- o conceito de cultura, s$om#todos fundamentais para executar adesigualdade&

    Cultura e Diferen a

    B conceito de cultura # o termooculto em tudo o que acabou de ser ditosobre a antropologia& . maioria dosantrop+logos americanos acredita ou agecomo se cultura!, notoriamente resistente defini$o e ambgua de referente, fossecontudo o verdadeiro objeto dainvestiga$o antropol+gica& .l#m disso,poderamos tamb#m argumentar quecultura # importante antropologia porquea distin$o antropol+gica entre eu e outro ja- sobre ela& (ultura # a ferramentaessencial para fa-er o outro& (omo umdiscurso profissional que se elabora sobreo significado da cultura, a fim de

    esclarecer, explicar, e compreender adiferena cultural, a antropologia tamb#majuda a constru)la, produ-i)la e mant%)la&B discurso antropol+gico confere diferena cultural 1e a separa$o entregrupos e seres humanos que ela implica2 oar de auto)evidente&

    . respeito disso, o conceito decultura opera de modo bastantesemelhante ao seu predecessor " raa ",

    mesmo que na forma assumida no s#culoXX tenha algumas vantagens polticasimportantes& .o contrrio de raa, e aocontrrio tamb#m da no$o de cultura dos#culo XKX como sinWnimo de civili-a$o1em contraste barbrie2, o conceito atualpermite as m4ltiplas diferenas, ao inv#s

    de binrias& Ksso imediatamente assinala afcil propens$o hierarquia: a mudanapara cultura! 1com c min4sculo com apossibilidade de ums no final!, como di-(lifford E5677F2 tem um efeitorelativi-ante& . mais importante dasvantagens da cultura, contudo, # que elaremove a diferena do domnio do naturale do inato& 9esmo que concebida comoum conjunto de comportamentos,costumes, tradies, regras, planos,receitas, instrues, ou programas 1paralistar a varia$o de definies fornecidapor Yeert- E56=J: AAF2, cultura #aprendida e pode mudar&

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    .pesar de suas intenes anti)essencialistas, no entanto, o conceito decultura mant#m algumas das tend%nciaspara congelar a diferena, possudas porconceitos como o de raa& Ksso # mais fcilde ver se n+s consideramos um campo emque houve uma mudana de um para ooutro& B Brientalismo como discursoacad%mico 1entre outras coisas2 #, deacordo com ;aid 156=7: @2, um estilo depensamento baseado na distin$oontol+gica e epistemol+gica feita entre PoBrienteP e 1na maior parte das ve-es2 PoBcidenteP!& B que ele mostra # que aoidentificar a geografia, raa e cultura deum e outro, o Brientalismo fixa diferenasentre as pessoas do Beste! e as pessoasdo Zeste!, de maneira t$o rgida que elas

    podem at# ser consideradas inatas& /os#culo XX, a diferena cultural, n$o araa, tem sido o sujeito bsico da escolaBrientalista, dedicada agora a interpretar ofenWmeno cultural! 1principalmentereligi$o e linguagem2, ao qual diferenasbsicas no desenvolvimento, performance

    econWmica, governo, carter, e assim pordiante, s$o atribudas&

    .lguns movimentos anti)coloniaise lutas contemporneas t%m trabalhadopara o que poderia ser rotulado comoBrientalismo reverso, em que astentativas de reverter a rela$o de poderprocedem procurando valori-ar o eu, que

    no sistema formador foi depreciado comooutro& 3m apelo gandhiano maiorespiritualidade da Tndia hindu, comparadoao materialismo e viol%ncia do Bcidente, eum apelo islmico f# maior em Heus,comparado imoralidade e corrup$o doBcidente, ambos aceitam os termosessencialistas das construesBrientalistas& 'nquanto os transformamem algo completamente errWneo, elespreservam o rgido senso de diferenabaseado na cultura&

    3m paralelo pode ser feito com ofeminismo& M um pressuposto bsico dofeminismo que n$o se nasce mulher,torna)se mulher!& em sido importantepara a maioria das feministas alocar as

    diferenas de sexo na cultura, n$o nabiologia ou na nature-a& 'nquanto issotem inspirado algumas te+ricas feministasa tratar os efeitos sociais e ntimos dog%nero como um sistema de diferenas,para muitas outras tem levado aexploraes sobre e estrat#giasconstrudas na no$o de uma cultura dasmulheres& Veminismo cultural 1cf& 'chols567A2 assume muitas formas, mas temmuitas das qualidades do Brientalismoreverso j discutido& 0ara feministasfranceses como Krigara 1567

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    ser essencialmente diferentes& Veministasanglo)americanos tomam um outro rumo&.lguns tentam descrever! as diferenasculturais entre homens e mulheres " Yilligan 1567@2 e seus seguidores 1e& g&,NelenI et al& 56782 que elaboram a no$ode uma vo- diferente! s$o exemplospopulares& Butros tentam explicar! asdiferenas, seja por uma teoriapsicanaltica socialmente informada 1e&g&,(hodoro? 56=72, uma teoria marxista dosefeitos da divis$o do trabalho e do papeldas mulheres na reprodu$o social1LartsocI 567uddicI 567G2, ou mesmo umateoria da explora$o sexual 19acRinnon567@2& . maior parte da teori-a$o eprtica feminista procura construir ou

    reformar a vida social alinhada a essacultura das mulheres!& Louve propostaspara uma unversidade das mulheres 1>ich56=62, uma ci%ncia feminista, umametodologia feminista na ci%ncia e nasci%ncias sociais 19eis 567J* >einhar-567J* ;mith 567=* ;tanle e Uise 567J*

    ver Larding 567= para uma crticasensvel2, e at# mesmo umaespiritualidade e ecologia feministas&'ssas propostas quase sempre constr+em)se sobre valores associados s mulheresno Bcidente " um senso de cuidado econex$o, cria$o materna, imediatismo da

    experi%ncia, envolvimento com o corp+reo1versus o abstrato2, e por a em diante&

    'ssa valori-a$o pelas feministasculturais, como Brientalistas reversos, dasqualidades previamente depreciadas poreles, pode ser provisoriamente 4til paraforjar um senso de unidade, e travar lutasde empoderamento& .inda porque eladeixa intacto o divisor que estruturou asexperi%ncias de cria$o do eu e opress$ona qual ela se cria, ela perpetua algumastend%ncias perigosas& 0rimeiro, feministasculturais deixam passar as conexes entreaqueles de cada lado do divisor, e osmodos nos quais eles definem um aooutro& ;egundo, eles deixam passardiferenas em cada categoria construdapelas prticas divisoras, diferenas comoaquelas de classe, raa, e sexualidade1para repetir a litania feminista das

    problematicamente categorias abstratas2,mas tamb#m origem #tnica, experi%nciapessoal, idade, modo de subsist%ncia,sa4de, meio de vida 1urbano ou rural2, eexperi%ncia hist+rica& erceiro, e talve-mais importante, eles ignoram os modosnos quais as experi%ncias foram

    construdas historicamente e mudaramcom o tempo& anto o feminismo culturalcomo os movimentos revivalistas tendema confiar nas noes de autenticidade eretorno aos valores positivos, n$orepresentadas pelo outro dominante&(omo se mostra +bvio nos casos mais

    extremos, esses lances apagam a hist+ria&Knvocaes do deus de (reta em alguns

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    identificadas como discretas, diferentes, eseparadas da nosso pr+pria& M a diferenasempre contrabandeada em hierarquiaO

    'm Orientalismo , ;aid 156=7: @72argumenta a favor da elimina$o doBriente! e do Bcidente! completamente&'le n$o quer di-er que devamos apagartodas as diferenas, mas o reconhecimentode mais delas, e dos modos complexospelas quais elas se atravessam& 9ais

    importante, a anlise dele sobre um campoprocura mostrar como e quando certasdiferenas, neste caso de lugares e pessoasque lhes s$o inerentes, tornam)seimplicadas na domina$o de um pelooutro& Heveriam os antrop+logos tratarcom suspeita similar cultura! e culturas!

    como os termos chave em um discurso noqual a alteridade e a diferena vieram ater, como aponta ;aid 15676: @5J2,qualidades talismnicas!O

    !r"s #odos de escrever contra a

    cultura

    ;e cultura!, obscurecida pelacoer%ncia, perenidade, e discri$o, # aprincipal ferramenta antropol+gica parafa-er o outro!, e a diferena, comofeministas ehalfies revelam, tende a seruma rela$o de poder, ent$o talve-antrop+logos devessem considerarestrat#gias para escrever contra a cultura&'u discutirei tr%s que considero

    promissoras& 'mbora elas de maneiranenhuma esgotem as possibilidades, ostipos de projeto que irei descrever " te+rico, substantivo e textual " fa- sentidoaos antrop+logos sensveis aos problemasde posicionalidade e responsabilidade, einteressados em fa-er da prticaantropol+gica algo que n$o meramentefortalea as desigualdades globais& 'uconcluirei, contudo, considerando aslimitaes de qualquer reformaantropol+gica&

    Discurso e prtica

    . discuss$o te+rica, porque # umdos modos atrav#s dos quais antrop+logosse envolvem uns com os outros, ofereceum meio importante para a contesta$o da

    cultura!& 0arece)me que as discussses eremanejamentos correntes sobre doistermos cada ve- mais populares " discursoe prtica " sinali-am um movimento dedistanciamento da cultura& 'mbora hajasempre o perigo de que tais termosvenham a ser usados simplesmente como

    sinWnimos para cultura, eles foramdestinados a nos permitir analisar a vidasocial sem presumir a hierarquia l+gicaque o conceito de cultura tem de carregar&

    . prtica # associada, naantropologia, com Nourdieu 156==*tamb#m ver Brtner 567A2, cuja abordagemte+rica # construda sobre os problemas de

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    contradi$o, incompreens$o,desconhecimento, estrat#gias de favor,interesses, e improvisaes, sobre os maisestticos e homogenei-adores dispositivosculturais desgastados de regras, modelos etextos& B discurso 1cujos usos eu discutoem Z& .bu)Zughod 5676 e .bu)Zughod eZut- 566G2, tem fontes e significados maisdiversos em antropologia& 'm suaderiva$o foucaultiana, como se relacionas noes de formaes discursivas,aparatos, e tecnologias, quer recusar adistin$o entre ideias e prticas ou texto emundo, que o conceito de cultura muitoprontamente encoraja& 'm seu sentidomais sociolingustico, atrai aten$o dosusos sociais pelos indivduos das fontesverbais& 'm qualquer caso, permite a

    possibilidade de reconhecimento em umgrupo social o jogo das m4ltiplas,mutantes e concorrentes afirmaes e seusefeitos prticos& anto a prtica como odiscurso s$o 4teis porque eles trabalhamcontra a assun$o de enredamento, paran$o mencionar o idealismo 1.sad 567J2,

    do conceito de cultura&

    Conex es

    Butra estrat#gia para escrevercontra a cultura # reorientar os problemasou temas a que antrop+logos se dirigem&3m foco importante deveria ser as

    variadas conexes e interconexes,hist+ricas e contemporneas, entre uma

    comunidade e o antrop+logo trabalhandol e escrevendo sobre, para n$o mencionaro mundo ao qual ele ou ela pertencem eque permitem que ele ou ela estejamnaquele lugar particular estudando aquelegrupo& Ksso # mais um projeto poltico queexistencial, embora os antrop+logosreflexivos que nos ensinaram a focar noencontro do trabalho de campo como umlocal para a constru$o dos fatos!etnogrficos t%m nos alertado a umadimens$o importante da conex$o&Butrostipos significativos de conex$o t%mrecebido menos aten$o& 0ratt 15678: A@2nota uma mistifica$o regular na escritaetnogrfica sobre a grande pauta daexpans$o europeia na qual o etn+grafo,desatento s suas pr+prias atitudes a ela, #

    apanhado, e isso determina a pr+priarela$o potencial do etn+grafo com ogrupo sob estudo!& /+s precisamos fa-erperguntas sobre os processos hist+ricospelos quais veio passar que seres comon+s poderiam se envolver nessa esp#cie detrabalho, nesse lugar particular, e sobre

    quem nos precedeu e ainda mesmo est lhoje conosco 1turistas, viajantes,missionrios, consultores de auxliofinanceiro, trabalhadores do corpo civil depa-2& /+s precisamos nos perguntar a queesse desejo de saber! sobre o Butro estconectado no mundo&

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    'ssas perguntas n$o podem serfeitas em geral* elas tem de ser feitassobre e respondidas atrav#s de situaes,configuraes e hist+rias especficas&.inda que elas n$o se dirijam diretamenteao lugar do etn+grafo, e ainda que elas seenvolvam a uma supersistemati-a$o queameaa a apagar as interaes locais,estudos como os de Uolf 1567@2 sobre alonga hist+ria da intera$o entresociedades Bcidentais particulares, ecomunidades do agora chamado erceiro9undo, representam meios importantes deresponder a essas questes& .ssim comoos estudos de 9int- 1567

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    Writing Culture e um n4mero crescente deoutros que n$o estavam envolvidos& 9uitada hostilidade direcionada ao projeto delesprov#m da suspeita de que em suasinclinaes literrias, eles muitoprontamente ruram a poltica daetnografia em sua po#tica& .inda quetenham tra-ido uma quest$o que n$o possaser ignorada& /a medida em que osantrop+logos est$o no neg+cio derepresentar os outros atrav#s de sua escritaetnogrfica, ent$o claramente o grau comque as pessoas nas comunidades em queeles estudam aparecem como outros!deve tamb#m ser parcialmente uma fun$ode como os antrop+logos escrevem sobreeles& L maneiras de escrever sobre vidasde modo a constituir outros menos outrosO

    'u argumentaria que uma poderosaferramenta para perturbar o conceito decultura e subverter o processo deoutreri-a$o! que ele envolve # escreveretnografias do particular!& Yenerali-a$o,o modo caracterstico do estilo de escritadas ci%ncias sociais, n$o pode mais serconsiderado como descri$o neutra1Voucault 56=7* ;aid 56=7* ;mith 567=2&L dois efeitos infeli-es em antropologiados quais vale a pena se afastar& 'u ireiexplor)los antes de apresentar algunsexemplos de meu pr+prio trabalho, o quese poderia esperar reali-ar atrav#s dasetnografias do particular&

    'u n$o me preocuparei com a s#riede questes frequentemente levantadasobre a generali-a$o& 0or exemplo,constantemente tem sido apontado que omodo generali-ador do discurso cientficosocial facilita a abstra$o e a reifica$o& .soci+loga feminista Horoth ;mith 1567=:5JG2 pe o problema vividamente em suacrtica do discurso sociol+gico por nadamenos que:

    a complexa organi-a$o de atividades deindivduos reais e suas relaes reais s$o inseridasno discurso atrav#s de conceitos como classe,moderni-a$o, organi-a$o formal& 3m domniode objetos constitudos teoricamente # criado,libertando o domnio discursivo do solo das vidas etrabalho de indivduos reais e liberando ainvestiga$o sociol+gica para roar em um campode entidades conceituais&

    Butros crticos fixaram)se em diferentesfalhas& . antropologia interpretativa, porexemplo, em sua crtica da busca por leisgerais em uma ci%ncia social positivista,nota uma inobservncia da centralidade dosignificado experi%ncia humana& .indaque os resultados tenham sido subsituir agenerali-a$o dos significados pelagenerali-a$o dos comportamentos&

    'u tamb#m quero deixar claro oque o argumento da particularidade n$o #:n$o deve ser confundido com argumentosque privilegiam processos micro sobre os

    macro& 'tnometod+logos E\F e outrosestudantes da vida cotidiana buscam

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    meios de generali-ar sobremicrointeraes, enquanto di-)se que oshistoriadores traam as particularidadesdos macroprocessos& 3ma preocupa$ocom as especificidades das vidas dosindivduos n$o implica umadesconsidera$o a respeito de foras edinmicas que n$o se assentam a nvellocal& 0elo contrrio, os efeitos deprocessos extra)locais e a longo pra-oapenas se manifestam localmente eespecificamente, produ-idos nas aes deindivduos vivendo suas vidasparticulares, inscritos em seus corpos esuas palavras& B que estou defendendo #uma forma de escrita que possa melhortransmitir isso&

    L dois motivos para osantrop+logos serem cautelosos com agenerali-a$o& B primeiro # que, comoparte de um discurso profissional sobreobjetividade! e t#cnica, # inevitvel umalinguagem de poder& 0or um lado, # alinguagem daqueles que parecepermanecer apartada e do lado de foradaquilo sobre o que se pem a descrever&/ovamente, a crtica de ;mith ao discursosociol+gico # relevante& 'la tem defendidoque esse modo, aparentemente apartado,de reflex$o sobre a vida social est naverdade locali-ado: ele representa aperspectiva daqueles envolvidos emestruturas profissionais, administrativas, e

    gerenciais, e # portanto parte do aparelhodominante desta sociedade!& 'ssa crticase aplica tamb#m antropologia com asua perspectiva inter ao inv#s de

    intra social, e sua origem na coloni-a$o eexplora$o dos n$o)europeus, em ve- dagest$o dos grupos sociais internos comotrabalhadores, mulheres,afrodescendentes, pobres ou prisioneiros&

    0or outro lado, mesmo se

    negarmos o julgamento sobre qu$ointimamente as ci%ncias sociais podemestar associadas aos aparatos dedomina$o, devemos reconhecer comotodos os discursos profissionais pornature-a impem hierarquia& B enormev$o ente os discursos profissionais e

    autori-ados de generali-a$o, e alinguagem cotidiana 1nossa pr+pria e dosoutros2 estabelece uma separa$ofundamental entre o antrop+logo e aspessoas sobre quem ele escreve, a qualfacilita a constru$o dos objetosantropol+gicos como simultaneamentediferente e inferior&

    .ssim, a hierarquia que osantrop+logos podem tra-er aproximando alinguagem da vida cotidiana e alinguagem do texto, # reservada a essemodo de fa-er o outro& B problema # que,como uma reflex$o sobre a situa$o das

    antrop+logas feministas sugere, podehaver riscos profissionais para etn+grafos

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    que desejam perseguir essa estrat#gia& 'udefendi em outro lugar 1566G2 que aobserva$o refrescantemente sensvel de>abino? sobre a poltica da escritaetnogrfica " que se encontra mais pertode casa, na academia, que no mundocolonial e neo colonial " ajuda)nos aentender algumas coisas sobre aantropologia feminista e a sua dificuldade,que mesmo algu#m como (lifford trai emseu ensaio introdut+rio aWriting Culture &;ua desculpa para excluir os antrop+logosfeministas foi que eles n$o inovaramtextualmente& ;e consentirmos como ad4bia distin$o que ele presume entreinova$o textual e transformaes deconte4do e teoria, podemos admitir queantrop+logos feminsitas contriburam

    pouco nova onda de experimenta$o daforma& /o entanto, um momento dereflex$o nos proveria pistas sobre oporqu%& ;em mesmo perguntar as questesbsicas sobre indivduos, instituies,patres, e posses, podemos virar)nos poltica do pr+prio projeto feminista&

    Hedicado a garantir que as vidas dasmulheres sejam representadas emdescries das sociedades, experi%nciasdas mulheres, e o pr+prio g%nero,teori-aram levando em conta como associedades funcionam* acad%micosfeministas se interessaram pelo velho

    senso poltico de representa$o& Bconservadorismo da forma pode ter sido

    4til porque o objetivo era persuadircolegas de que uma antropologia levandoem conta o g%nero n$o era apenas umaboa antropologia, mas uma antropologiamelhor&

    . segunda press$o sobre aantropologia feminista # a necessidade dedeclarar profissionalismo& .o contrrio doque escreve (lifford 15678: @52, asmulheres t"m produ-ido formas

    inconvencionais de escrita!& 'le apenas asignora, negligenciando algunsantrop+logos profissionais como No?en1Nohannon2 156

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    recusar a generali-ar desta maneira,perguntando ao contrrio como umdeterminado conjunto de indivduos " porexemplo, um homem e suas tr%s esposasnuma comunidade beduna no 'gito " vive a institui$o! que chamamos depoligamia& 'nfati-ando a particularidadedesse casamento e construindo uma figuradele atrav#s das discusses dos membros,suas recordaes, desentendimentos, eaes, geraramos vrias questes te+ricas&

    0rimeiro, recusar a generali-ardestacaria a qualidade construda dessatipicidade t$o regularmente produ-ida emresultados cientfico)sociaisconvencionais& ;egundo, demonstrar ascircunstncias reais e, as hist+rias em

    detalhe dos indivduos e suas relaessugeriria que as especificidades, semprepresentes 1como sabemos atrav#s denossas experi%ncias ntimas2, s$o tamb#msempre cruciais constitui$o daexperi%ncia& erceiro, reconstruir osargumentos das pessoas sobre, justificativas para, e interpretaes sobre oque eles e outros est$o fa-endo explicariacomo a vida social procede& Hemonstrariaque a despeito dos termos de seusdiscursos poderem estar definidos 1e,como em qualquer sociedade, inclusasuma s#rie de discursos s ve-escontradit+rios e frequentemente emmudana hist+rica2, dentro desses limites,

    os seres humanos contestaminterpretaes sobre o que estacontecendo, criam estrat#gias, sofrem, evivem suas vidas& 'm um sentido isso n$o# t$o novo& Nourdieu 156==2, por exemplo,teori-a a prtica social de modo similar&9as a diferena aqui seria que se est procura de meios textuais de representarcomo isso acontece, ao inv#s desimplesmente fa-er afirmaes te+ricasque isso acontece&

    .trav#s do foco ntimo nosindivduos particulares e nas suas relaesef%meras, seria necessrio subverter asconotaes mais problemticas de cultura:homogeneidade, coer%ncia e perenidade&