Entrevista: Daviz e a familiaridade no MDM “Há medo do clã ... · uma reacção natural, é uma...

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www.canalmoz.co.mz 30 Meticais Maputo, Quarta-Feira, 05 de Setembro de 2012 Director: Fernando Veloso | Ano 7- N.º 868 | Nº 164 Semanário de Moçambique de Moçambique publicidade Entrevista: Daviz e a familiaridade no MDM publicidade Desmentido da entrevista concedida ao Canal de Moçambique A falsidade de Sérgio Vieira Página 04 “Há medo do clã Simango”

Transcript of Entrevista: Daviz e a familiaridade no MDM “Há medo do clã ... · uma reacção natural, é uma...

www.canalmoz.co.mz 30 Meticais

Maputo, Quarta-Feira, 05 de Setembro de 2012

Director: Fernando Veloso | Ano 7- N.º 868 | Nº 164 Semanário

de Moçambiquede Moçambique

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Entrevista: Daviz e a familiaridade no MDM

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Desmentido da entrevista concedida ao Canal de Moçambique

A falsidade de Sérgio Vieira P

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“Há medo do clã

Simango”

Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 05 de Setembro de 201218

Entrevista

Matias Guente

Usamos os 105 anos de ele-vação da Beira à categoria de cidade como pretexto para a presente entrevista. Da-viz Simango, presidente da autarquia, é o entrevistado. Aborda sucessos que a Beira logrou sob sua direcção e tra-ça desafios espinhosos numa cidade onde convive com um governador e uma cosmética administradora, ambos fa-zendo oposição pela Frelimo. Daviz diz que um dos maiores desafios é a criação de uma empresa municipal de trans-portes com fins sociais para acabar com um dos maiores dramas dos beirenses, visto que os actuais Transportes Públicos da Beira (TPB), geridos pelo Ministério dos Transportes e Comunicações, estão a desviar-se dos objec-tivos da sua criação. Só que o projecto de Daviz não tem pernas para andar porque carece do aval da Assembleia Municipal controlada pela Frelimo e a Renamo. E como não deixaria de ser, falámos do partido e das mais recen-tes polémicas: Ismael Mussa, gestão familiar do partido e o recente anúncio da Autorida-

de Tributária da existência de partidos que importam viatu-ras para particulares usando ilegalmente as isenções fiscais concedidas pela Lei dos Par-tidos Políticos. E aqui Siman-go diz que o MDM não está metido nessas “vigarices” e encoraja Rosário Fernandes e companhia a divulgarem a lista dos partidos vigaris-tas. A bola volta às alfânde-gas. Em nenhum momento nos pediu para falar em off, tudo o que disse foi gravado e até comentou sobre a aver-são que o chefe de Estado tem do Facebook. Acompa-nhe, nos próximos parágra-fos a entrevista na íntegra.

Canal de Moçambique (Canal): Comemoram recen-temente 105 anos da cidade da Beira e a festa e o dis-curso de mudança e orgulho beirense não fugiu à regra. O que orgulha a edilidade e que pode ser mostrado como fruto do vosso trabalho?

Daviz Simango: Quando assumimos a cidade da Beira encontramos uma cidade aban-donada, uma cidade sem a pró-pria dignidade, e os munícipes tinham perdido o orgulho de

serem beirenses. Era preciso capitalizar, era preciso reno-var a esperança e pensamos que conseguimos trazer o or-gulho beirense, conseguimos. E mais do que isso consegui-mos chamar à razão a todos os contribuintes, para que possam participar activamente nas suas obrigações fiscais, assim como conseguimos consciencializar os munícipes em geral das suas obrigações e da necessidade de todos participarem no desen-volvimento da própria cidade.

Canal: Fala de convocar

os munícipes à participa-ção, está a querer dizer que os munícipes tinham desis-tido da sua própria cidade?

Daviz Simango: Olha, o ser humano tem uma particu-laridade interessante, a partir do momento em que se sente desvalorizado, se sente dis-criminado, por si só reage. É uma reacção natural, é uma reacção própria, do facto de ser humano, de passar a leste daquilo que podia muito bem contribuir. A negação de uma convivência sã, a negação de um direito obriga o cidadão a não participar também em ter-mos de contribuições e parti-

cipação nos trabalhos. O que acontecia é que havia muitos nomes ao cidadão comum. O cidadão beirense sentia-se não natural, apesar de lá viver. Por-tanto, conseguimos trazer o orgulho de ser beirense e eles começaram a entender de que era possível realizar as coisas.

Canal: Mas o que fizeram como obra?

Daviz Simango: Então co-meçamos a identificar quais eram os graves problemas que a Beira tinha. O problema da protecção costeira resultan-te da erosão, o problema da recolha do lixo, o problema do fecalismo ao céu-aberto, o problema do abandono do fun-cionamento das valas, as do-enças cíclicas como a cólera e malária. Portanto, era preciso olhar para isso com uma certa responsabilidade, e envolver o próprio cidadão na resolução dos problemas. Foi o que nós fizemos. Em relação às doen-ças, dissemos o seguinte: quais são os factores que influenciam para a persistência da cólera assim como a malária? Fomos ver que era preciso que valas ficassem limpas, era impor-tante que o lixo fosse removi-

do e depositado em condições seguras, era preciso que o es-coamento das águas ocorresse sem obstáculo. Atacamos estas frentes, e a cidade ficou limpa. O cidadão compreendeu que os charcos não deviam existir, compreendeu que as valas de-via permitir o escoamento das águas sem obstáculos e o cida-dão começou a compreender que devia beber água potável. Intensificámos o fornecimento de água às comunidades que não tinham possibilidade de instalar água nas suas residên-cias e daí acabamos com o pro-blema da cólera. Hoje a Beira está praticamente sem indícios de morte por cólera, contra 500 casos de pessoas que mor-riam por cólera há anos atrás.

Canal: E por falar em sa-neamento, senhor presiden-te. Em 2010 o Presidente da República foi ao parlamen-to, aquando do seu infor-me, anunciar – e vou usar as palavras dele – “milhões de dólares para eliminar o crónico problema de sanea-mento”. Quanto dinheiro o Governo central investiu nes-te sector na cidade da Beira

Grande Entrevista com Daviz Simango

“Guebuza contribuiu para eliminar muitos religiosos”

(Continua na página seguinte)

Daviz Simango

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19Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 05 de Setembro de 2012

Entrevista

Canal: Há um imbróglio entre o Governo central, a Assembleia Municipal local e a edilidade em relação à

gestão da empresa Transpor-tes Públicos da Beira (TPB). Como é que está a questão da municipalização dos trans-

portes urbanos ou públicos?

Daviz Simango: Aqui a filo-sofia é diversa. Uma autarquia para iniciar esta actividade e está previsto na Lei 2/97 de 02 de Fevereiro que as autarquias podem criar empresas autóno-mas. É interesse do executivo municipal criar uma empre-sa autónoma. E essa empresa é uma empresa autónoma de transportes. Nós queremos com esta empresa assegurar os servi-ços básicos de transporte como serviço meramente social para atender os munícipes. Isso pas-sa necessariamente de aprova-ção na Assembleia Municipal, da constituição da empresa. Continuamos a ser infelizes, a assembleia (dominada pela Fre-

limo e Renamo) não concorda com o surgimento de uma nova empresa de transportes públi-cos. Com esta empresa se ela de facto se efectivar, tínhamos duas hipóteses: uma que era negociar com o Ministério dos Transportes e ficarmos com a empresa TPB e outra era ignorar a TPB e adquirir novos meios, sem o factor residual da TPB. Quais são as vantagens e contra vantagens? A TPB tem hoje os problemas que tem. Tem uma série de frotas que devia estar a funcionar na cidade da Bei-ra, que é a razão da existência dos transportes públicos, mas não. Ela transformou-se numa empresa económica no lugar de uma empresa social. Portanto, está preterir os interesses pelos

quais a empresa foi criada e exerce actividade económi-ca, movimentando-se fora da cidade da Beira, no lugar de atender os munícipes que são a razão da existência da em-presa. O Conselho Municipal tem que inverter esta situação. Tem que ter viaturas dispo-níveis só para o cidadão. Na hora de ponta fazer a questão de colocar vários autocarros, e nós estamos seguros que isso vai ajudar a acabar com o actual problema de encurta-mento de rotas por parte dos operadores privados. Mas es-tamos com as pernas atadas, porque sem o aval da Assem-bleia não podemos avançar.

Frelimo e Renamo não querem Empresa Municipal de Transportes

desde o anúncio até aqui?

Daviz Simango: (Risos) Olha, daquilo que eu, como presidente saiba, nenhum cen-tavo! É preciso compreender, e os moçambicanos devem ter a coragem necessária e di-zer o seguinte: os fundos que a Beira recebeu são da União Europeia. Estes fundos são das contribuições de cidadãos eu-ropeus que nem conhecem a cidade da Beira, mas por sabe-rem que a cidade da Beira pre-cisava de obras de saneamento, e nós na qualidade de Conselho Municipal, participamos muito nessas negociações de modo a permitir que esse dinheiro viesse e garantimos que esse dinheiro, por causa da nossa capacidade de gestão e trans-parência, credibilidade interna e internacional que a cidade da Beira tem, permitiu que a União Europeia desembolsas-se um dos mais altos encaixes financeiros na África Austral.

Canal: Em quanto está avaliado esse financiamento?

Daviz Simango: São cerca de 73 milhões de euros. Este dinheiro entrou e ajudou a melhorar o sistema de sanea-mento. Esse dinheiro ajudou a criar a ETAR que é a nova Es-tação de Tratamento de Águas Residuais. Portanto, o Gover-no procura a todo o custo pu-xar para si o protagonismo.

Canal: Vamos com cal-ma. Está a querer dizer que

o senhor Armando Gue-buza, o Presidente da Re-pública, faltou a verdade?

Daviz Simango: Esse dinhei-ro não saiu do cofre do Estado e não existiu dinheiro vindo do Governo Central. O que exis-tiu foi dinheiro da União Eu-ropeia, financiado pela União Europeia. Agora é preciso sa-ber que há acordos internacio-nais entre os Estados, mas em relação a esse dinheiro, foi da União Europeia, fruto da cre-dibilidade da cidade da Beira. O dinheiro não foi do Gover-no, até porque precisava passar pela Assembleia da República.

Canal: Ok. Ainda em ter-mos de outras infra-estru-turas, o que mais foi feito?

Daviz Simango: Em termos de infra-estruturas é preciso compreender o seguinte: elas existem, algumas degrada-das, outras não. Mas é preci-so compreender que a maior parte das infra-estruturas da cidade da Beira tem donos. E sendo infra-estruturas priva-das regem por outras regras. Há um problema: a maior par-te das pessoas alienaram as infra-estruturas na época das nacionalizações e hoje estão descapitalizadas e não conse-guem fazer a manutenção do património. São situações pre-ocupantes e que requerem que haja uma nova ordem urbana.

Canal: E em relação à ero-

são costeira?

Daviz Simango: É preciso também compreender que a própria cidade da Beira, com os problemas da erosão costei-ra, e porque todos os mangais que existiram na altura foram simplesmente destruídos com alegação de que estavam a pro-mover o crime. Na altura os que estavam a governar igno-raram a importância dos man-gais, não só em termos de pro-tecção costeira, mas também é um viveiro quer para o cama-rão assim como para o caran-guejo. A cidade da Beira, que é extremamente rica em produ-tos do mar, acabou não tendo viveiros do seu grande produ-to que é o camarão. Hoje há zonas que eram praticamente intransitáveis e hoje já não há isso. Há zonas onde as pessoas tinham receio de construir por temer invasão das águas, mas hoje estão tranquilas. A cidade da Beira era propícia a inun-dações, com a União Europeia conseguimos melhorar o siste-ma de saneamento. Estamos a falar de uma rede que foi cons-truída na década de 60. Hoje é possível fazer o escoamento das águas sem muito obstácu-los. Os sistemas de saneamen-to estão a funcionar sem pro-blemas. Mas, por outro lado, também se conseguiu provar que eventuais inundações, que possam acontecer na cidade da Beira, serão controladas. Criaram-se comités de risco e esses comités de risco espalha-dos num mapeamento dentro da cidade conseguem alertar ao cidadão comum de eventu-

ais subidas de níveis de água que possam provocar inunda-ções e assegurar a evacuação dessas pessoas em tempo útil.

Canal: E consta-me que há um prémio das Na-ções Unidas em relação

à protecção costeira…Daviz Simango: As Na-

ções Unidas acabaram por premiar a cidade da Beira de entre 30 cidades abaixo do nível do mar e Beira acabou ganhando este prémio e vai receber o galardão na Suíça.

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(Continua na página seguinte)

Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 05 de Setembro de 201220

Entrevista

Canal: O município da Beira anunciou recentemen-te que vai construir um es-tádio municipal de futebol. E já há críticos dessa infra--estrutura que apontam ou-tras prioridades. Porquê estádio, senhor presidente, não há outra prioridade?

Daviz Simango: Olha, a Bei-ra tem uma tradição desportiva e não só. É preciso compreen-der que um País como o nosso

que enfrenta várias situações de altos níveis de pobreza mui-tas das vezes temos que saber interpretar como é que nós da-mos oportunidade ao cidadão de, por si só, assegurar a sua própria vida. Há várias formas. Nós entendemos que a partir do desporto, podemos aliviar muitas crianças de rua. A partir do desporto podemos promo-ver profissionais que no futuro consigam uma careira que sirva para o seu progresso individual.

Canal: E quanto é que vai custar aos cofres do município?

Daviz Simango: Isso já está previsto no nosso orçamen-to. Pensamos que a autarquia vai gastar 40 milhões de me-ticais. Não vai ser um estádio robusto. Não vamos construir um estádio igual ao Zimpeto. Vamos construir um estádio com a capacidade de pelo me-nos 7 a 10 mil espectadores, com pistas para atletismo e outras modalidades. Será um “estádio complexo” para dar lugar a actividade comercial.

Canal: A minha próxima pergunta é exactamente por aí. Tendo em conta que temos estádios do Zimpeto e da Ma-chava que não conseguimos rentabilizar transformando--se em verdadeiros elefantes brancos, pergunto-lhe qual é o plano de gestão deste estádio?

Daviz Simango: É exacta-mente isso. Projectamos um estádio que tem multi-funcio-nalidades, e com oportunida-des de negócio e estamos a

trabalhar com vários parceiros. Até aqui tudo indica que vai ser muito rentável. Não es-tamos a construir um estádio só para aplicação desportiva.

Canal: Vamos sair de rea-lização e projectos. Há vozes que dizem que no município da Beira há muitos funcioná-rios com ligações familiares ao presidente, numa situa-ção de gritante nepotismo. Isso é verdade? Tem ideia de quantos funcionários são seus familiares no município?

Daviz Simango: (Risos) Olha, se formos por esses ter-mos diríamos que toda a cidade da Beira é da família de Daviz Simango, mas nós sabemos que não é. O que existe é que pelo progresso das coisas, pelo desenvolvimento da cidade da Beira, pelos sucessos que te-mos alcançado, acabam procu-rando por onde atacar, dizendo que é tudo uma elite da mesma família. Mas é preciso compre-ender que nós na Beira somos extremamente unidos. Se não diríamos o seguinte: há vários

homens com apelido Simango, o presidente da autarquia de Maputo é Simango, diríamos também que é meu familiar, o que não é verdade. Mas também é preciso compreender que a nível do Governo de Moçam-bique temos vários exemplos de irmãos que são dirigentes do topo. Temos a antiga primeira--ministra e actual ministra da Função Pública (irmãs Diogo), tivemos irmãos Gamito, temos irmãos Sumbana, mas ninguém se lembrou de questionar. Mas na cidade da Beira não é as-sim. Beira é uma cidade pe-quena, toda a gente se conhece.

Canal: Vai se candidatar

para próximas eleições autár-quicas?

Daviz Simango: Não sei. Como deve imaginar o partido tem regras próprias. Os órgãos do partido ainda funcionam, o que é muito bom. Penso que na altura própria, os órgãos do partido vão emanar as direc-trizes e haverá eleições inter-nas e os colegas que acharem por bem concorrer o farão.

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Beira terá um estádio municipal

O Governo desviou a fábrica de leite que seria montada na Beira só por questões políticas

Canal: A edilidade sempre queixou da chamada polí-tica de obstrução na cidade da Beira. Qual é o nível de relacionamento com o gover-nador de Sofala, o ex-vice--ministro das Oras Públicas e Habitação, o senhor Carvalho Muária, e com a administra-dora montada pela Frelimo?

Daviz Simango: É preci-so compreender que na Beira, nós é que somos o governo local. Os outros são oposição. E eles como oposição vão fa-zendo o seu papel. Procuram a todo o custo desviar projec-tos e investimentos, procuram protagonismo para dizerem que fazem alguma coisa, mas preciso que fique claro que enquanto continuarem oposi-ção, vão andar atrás de nós.

Canal: Há projectos mu-

nicipais que fracassaram por causa dessa tal política de obstrução, gastaria que desse exemplos concretos?

Daviz Simango: Existiram

investidores que se interessa-ram em ir investir na Beira. Simplesmente são encaminha-dos para outros cantos. E eu vou exemplificar muito bem. A Nestley era para investir na Beira e acabou investindo no Dondo (considerada a segunda cidade da província de Sofa-la). E não temos nada contra investimentos no Dondo. Dia-riamente recebo vários inves-tidores que dizem que nós não queremos investir fora da Bei-ra, mas somos obrigados a nos deslocar para os outros cantos. Mas eu lhe garanto que em 2013 essa situação vai mudar.

Canal: O que está a querer dizer. O que vai acontecer em 2013?

Daviz Simango: Quero dizer que o mapeamento político vai ser outro. Hoje o mapeamento político lhes favorece no Dondo, mas nas próximas eleições será nova versão. O MDM vai estar presente na cidade do Dondo.

Canal: Quando o MDM

uniu-se em movimento e ga-nhou eleições na Beira, foi visto como partido de jo-vens, porque falou da inte-gração dos jovens. Mas as reclamações dos jovens con-tinuam em relação ao de-semprego na Beira. O que estão a fazer para os jovens?

Daviz Simango: Olha pri-meiro para a equipa da minha assessoria, de certeza vai per-ceber que são jovens. É isso que estamos a fazer. É essa a integração que estamos a fazer. Pôr os jovens a trabalhar. Dar oportunidade aos jovens. A ci-dade da Beira tem privilegiado muitos os jovens, até na atribui-ção de espaço de terra. Opor-tunamente queremos mudar de tecnologia ou de metodologia. Estamos a pensar em fazer sor-teios. Vamos aos jornais anun-ciar que temos tantos jovens a pedir espaço e convidamos os jovens para uma sessão de lo-taria com vários nomes e cada jovem vai conseguir espaço por sorteio. É uma forma de mos-trar claramente que não estamos

a apontar jovens a dedo. É um exercício que vamos experi-mentar a partir do próximo mês.

Canal: Vamos sair da cidade da Beira e nos concentremos no MDM. Quando a Frelimo

anunciou que ia rever a Cons-tituição da República, a Rena-mo boicotou e o MDM votou contra a ideia. Só que depois o mesmo MDM indicou o depu-

(Continua na página seguinte)

21Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 05 de Setembro de 2012

Entrevista

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Há medo do clã SimangoCanal: Recentemente a

Autoridade Tributária anun-ciou que há partidos que importam viaturas para particulares usando ilegal-mente as isenções fiscais a que os partidos têm direito. O MDM está na lista desses partidos? Já foi notificado?

Daviz Simango: Nós ainda não fomos notificados, nem seremos notificados. Nós não temos esse comportamento. E digo mais: esses partidos que realizam essa actividade be-neficiando-se da boa vontade da Lei, e no lugar de importar viaturas para dinamizar a ac-tividade política a bem do Es-tado de Direito e da democra-cia, devem ser criminalmente responsabilizados e banidos. Estão a usar e a usurpar da boa vontade dos moçambicanos. Não é admissível que um par-tido importe viaturas para fa-zer negócios com particulares, para enriquecimento ilícito.

A nossa opinião pessoal

tado Eduardo Elias para fa-zer parte da comissão ad-hoc. Não há aqui um paradoxo ao fazer parte de uma empreita-da que havia votado contra.

Daviz Simango: Não há pa-radoxo. O MDM tem consci-ência da sua responsabilidade. Nos dizíamos que não há neces-sidade da revisão. Não há ne-cessidade de despesas para uma actividade que não é necessária. Há muitas prioridades neste País, mas é preciso compreen-der que em democracia que a maioria parlamentar funciona. Uma vez que a maioria dita as regras do jogo, nós na qualidade de eleitos pelo povo moçambi-cano, não podemos de forma alguma nos distanciarmos de os representar. Uma coisa é di-zer que vamos fazer uma sala, e dizemos que essa sala não é ne-

é que a Autoridade Tributá-ria e os tribunais devem agir no rigor. E este é o momento de incluir na Lei dos partidos políticos algo de incompa-tibilidade com certos actos.

Canal: Há vozes que olham para o MDM como projecto político familiar. E são muitas essas vozes. Eu pergunto, por exemplo, porquê é que o chefe da bancada do MDM é seu ir-mão. Não havia outra aposta?

Daviz Simango: O Lutero é chefe da bancada porque foi elei-to pelos deputados eleitos pelo povo. É só por isso. Os deputa-dos foram eleitos, eles têm uma e realizam uma eleição interna. Eu não estou lá. Os documentos oficiais do partido esclarecem que a eleição do chefe da banca-da é por via dos deputados que estão lá. Coincidiu que o eleito é o irmão do presidente, mas a sua competência é conhecida. É preciso compreender que há uma cultura de combate à com-

cessária, mas é nessa sala onde se vai discutir os problemas. É natural que vamos a sala de aula para discutir os problemas do povo. Não podemos assistir a isso, mesmo consciente que essa revisão não é oportuna.

Canal: Mas como preten-dem participar, visto que a oposição só terá apenas um elemento contra 17 mem-bros (seniores) da Frelimo?

Daviz Simango: Não inte-ressa. O importante é respei-tar a vontade do voto. Este é o problema que as pessoas devem se adaptar. Vamos su-por que há uma eleição de 250 deputados e um partido tem a maioria e outro tem apenas um. Este partido tem que ter consciência que tem a sua voz lá representada, mesmo cons-

petência das pessoas. Por exem-plo, Daviz Simango foi eleito presidente do partido, mas nada impede que um dos irmãos, in-felizmente só tenho um, venha a ser eleito a um cargo dentro do partido. Agora o que é grave é o que vimos aqui com Machel. Ele como presidente da Repúbli-ca nomeou a esposa com quem vive na mesma casa como minis-tra da Educação. Tivemos uma primeira-ministra que contribuiu para a nomeação da própria irmã para ministra da Função Pú-blica. Eu daria mais exemplos. Mas Lutero Simango faz polí-tica e como deputado há anos. Foi eleito por pessoas credíveis. Quando entrou como deputado não foi indicado por Daviz Si-mango. O que eu penso é que em certas cabeças, há medo do clã Simango. Há pessoas que estão a ver fantasmas no clã Simango, eventualmente porque estamos a conseguir fazer muitas coisas que outros não conseguiram fa-zer em pouco tempo. Não sei qual é o nome que daria a isto

ciente que é só um deputado. Canal: Já há propostas

vindas da Frelimo para a revisão. Quer a chamemos balões de ensaio ou não, mas existem. O que o MDM pretende ver alterado na Constituição da República?

Daviz Simango: Neste momento não gostaria de es-pecular aquilo que está a ser estudado. Tanto mais que bre-vemente haverá equipa a se movimentar para fazer auscul-tação. Eu deixo isso nas mãos da nossa bancada. Faremos o comentário oportunamente.

Canal: O que o cidadão Daviz Simango gostaria de ver alterado na Lei mãe?

Daviz Simango: Eu diria simplesmente. O problema do

mas a verdade é que as pessoas estão a ver o nosso trabalho e al-guns estão com medo e a única forma de nos combater é nos dar nomes como “grupo de família”.

Canal: Como estão as rela-

ções com ex-secretário geral, o deputado Ismael Mussa? Con-versam?

Daviz Simango: Olha, o Movimento Democrático de Moçambique tem tantos, mas tantos membros, e a minha re-lação com os membros é uma relação de trabalho e continuará a ser uma relação de trabalho.

Canal: Já houve uma tenta-tiva de reconciliação?

Daviz Simango: Penso que há reconciliação onde há proble-mas. Quando não há problemas, a terminologia reconciliação não funciona. Eu cá por mim não vejo problema algum, pelo que não vejo espaço para uso da terminologia reconciliação.

excesso de poder do chefe de Estado. Aí há muita coisa que deve ser alterada. O problema das nomeações desnecessárias. Estamos a falar dos magistra-dos, dos procuradores, dos rei-tores, até directores de escolas primárias. Se tu hoje tiveres um director de uma escola primária eleito dentro da comunidade escolar, entre os encarregados e professores, o relacionamen-to será saudável e forte. Se em uma universidade tens um reitor eleito pela comunidade acadé-mica de certeza vais notar con-fiança e legitimidade na pessoa indicada. Outro aspecto é a des-partidarização do aparelho do Estado: tem que estar clara. Um procurador ou juiz do Tribunal Supremo é nomeado pelo chefe de Estado, que fidelidade tem para o combate à corrupção, di-gamos do presidente? Estas situ-

Canal: O Presidente da República, dirigente de todos nós, desaconselha principal-mente aos jovens o uso das re-des sociais por serem “fábri-ca dos sonhos inalcançáveis”. Usa as redes sociais e qual é a sua opinião sobre elas?

Daviz Simango: Olha, eu diria o seguinte, este mesmo Presidente da República já desaconselhou muitos mo-çambicanos a frequentarem as igrejas. Desaconselhou muitos moçambicanos à existência das igrejas e contribuiu para eliminar muitos religiosos neste País. Mas hoje frequenta mesquitas e frequenta igrejas.

Canal: Como assim?

Daviz Simango: Foi sua estratégia no passado. Con-tribuiu para eliminar muitos religiosos neste País. Por-tanto, quanto a Facebook, também é uma estratégia. (Canal de Moçambique)

ações todas devem ser alteradas.

Canal: Há uma espécie de caça ao MDM na cidade de Chimoio com o Conselho Municipal a dar a cara pelo movimento inconstitucional. Há bandeiras a serem des-truídas e sedes vandalizadas. O que estão a fazer para le-var o Estado a agir peran-te a tamanha ilegalidade?

Daviz Simango: Aqui é preci-so compreender onde é que está o Estado. Isso é fruto da parti-darização do Estado. O MDM submeteu toda a documentação necessária junto à procuradoria local e junto a justiça, mas nada andou até aqui, apesar de haver declarações do procurador local de que há ilegalidades, mas o facto de o partido ter golpeado o Estado, a situação prevalece.