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Coordenação Motora e Velocidade de Reacção Estudo comparativo em crianças dos 10/12 anos de idade, praticantes e não praticantes de modalidades desportivas extra escolares

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  • Coordenao Motora e Velocidade de Reaco

    Estudo comparativo em crianas dos 10/12 anos de idade, praticantes e no praticantes de modalidades desportivas extra escolares

  • Coordenao Motora e Velocidade de Reaco

    Estudo comparativo em crianas dos 10/12 anos de idade, praticantes e no praticantes de modalidades desportivas extra escolares

    Dissertao apresentada com vista obteno do grau de Mestre em Cincias do Desporto, na rea de especializao de Desporto de Recreao e Lazer

    Maria Elisabete da Silva Martinho

    Orientao: Prof.a Doutora Alda Crte-Real

    Co-orientao: Prof.a Doutora Olga Vasconcelos

    Setembro 2003

  • Universidade do Porto Faculdade de Cincias do Desporto e de Educao Fisica

    Coordenao Motora e Velocidade de Reaco

    Estudo comparativo em crianas dos 10/12 anos de idade, p ra t i can tes e no p ra t i can tes de modalidades desportivas extra escolares

    Maria Elisabete da Silva Martinho Setembro 2003

  • Universidade do Porto Faculdade de Cinc ias do Desporto e de Educao F i s i c a

    Coordenao Motora e Velocidade de Reaco

    Estudo comparativo em c r i a n a s dos 10/12 anos de idade , p r a t i c a n t e s e no p r a t i c a n t e s de modalidades d e s p o r t i v a s e x t r a e s c o l a r e s

    Dissertao apresentada com v i s t a obteno do grau de Mestre em Cincias do Desporto, na rea de especial izao de Desporto de Recreao e Lazer, sob a orientao da Prof.a Doutora Alda Crte-Real e co-orientao da Prof.a Doutora Olga Vasconcelos.

    Maria El i sabete da Silva Martinho Setembro 2003

  • Coordenao motora e ve loc idade de reaco ndice Geral

    NDICE GERAL

    ndice Geral i i i

    Agradecimentos v

    Resumo V 1

    Abstract v i i i

    Resum X 1

    ndice de figuras e quadros x

    1 - INTRODUO 1

    1.1. Problema e propsitos do estudo 1

    1.2. Estrutura do estudo 6

    2 - REVISO DE LITERATURA 8 2.1. Capacidades motoras 8

    2.1.1. Coordenao motora 11 2.1.2. Capacidades coordenativas 18 2.1.3. Movimento e coordenao na idade infantil ..30

    2.2. Caracterizao das capacidades motoras no escalo etrio dos 10/12 anos de idade 35

    2.3. Educao Fisica, actividade desportiva extra escolar e desenvolvimento das capacidades motoras - Que relao?

    40

    3. OBJECTIVOS E HIPTESES 46 3.1. Objectivo Geral 46 3.2. Objectivos especficos 46 3.3. Hipteses 46

    iii

  • Coordenao motora e velocidade de reaco ndice Geral

    4 . MATERIAL E MTODOS 48

    4 . 1 . C a r a c t e r i z a o da amostra 48 4 . 2 . Metodologia 49 4 . 3 . Procedimentos e s t a t s t i c o s 53

    5 . RESULTADOS 54

    5.1. Coordenao motora e velocidade de reaco em funo do tipo de prtica por classe de idade 54

    5.2. Coordenao motora e velocidade de reaco em funo do sexo e tipo de prtica por classe de idade 56

    5.3. Coordenao motora e velocidade de reaco em funo do tipo de prtica, sexo e classe de idade 59

    5.4. Coordenao motora e velocidade de reaco em funo da idade 62

    5.5. Correlao entre as provas coordenao motora e tempo de reaco simples 63

    6. DISCUSSO DOS RESULTADOS 65 6.1. Coordenao motora e velocidade de reaco em funo

    do tipo de prtica 65 6.2. Coordenao motora e velocidade de reaco em funo

    do sexo 68 6.3. Coordenao motora e velocidade de reaco em funo

    da idade 72 6.4. Correlao entre coordenao motora e tempo de reaco

    simples 74

    7. CONCLUSES 75

    8. BIBLIOGRAFIA 77

    9. ANEXOS 88

    iv

  • Coordenao Motora e Velocidade de Reaco Agradecimentos

    Agradecimentos

    A concluso deste trabalho tornou-se possvel com o apoio, incentivo e colaborao de algumas pessoas que me acompanharam e contriburam para a sua realizao, s quais aqui deixo o meu sincero agradecimento e apreo:

    Profa Doutora Alda Crte-Real, pela transmisso de conhecimentos, incentivo e permanente disponibilidade.

    Prof* Doutora Olga Vasconcelos, pela sua capacidade e profissionalismo e ajuda prestada nos captulos deste estudo.

    amiga Graa Gomes pelo incentivo e ajuda no tratamento estatstico dos dados.

    s colegas Susana Soares e Belm Puga pela ajuda na aplicao dos testes e facilitao de alguma bibliografia.

    Ao colega Antnio Gomes pela sua prontificao em ceder o material necessrio aplicao de algumas provas motoras.

    A todos os alunos da Escola EB 2,3 de Caldas das Taipas participantes neste estudo, pela sua colaborao e empenho, e Concelho Executivo pelas facilidades concedidas.

    amiga Elsa Fernandes, pela amizade demonstrada.

    s minhas irms, Alexandra, Cristina, Fernanda e prima Carla por todo o carinho e presena constante em momentos mais difceis. Um agradecimento adicional Cristina pelo seu incessante incentivo, apoio e disponibilidade.

    Aos meus pais, pelo sacrifcio, esforo, dedicao e amor demonstrados desde que existo. Aproveito a oportunidade de agradecer especialmente minha querida me aquilo que sou hoje.

    Ao Jlio, pela pacincia e apoio dado ao longo deste percurso.

    Ao Jos Pedro por tudo o que representa para mim.

    V

  • Coordenao motora e velocidade de reaco Resumo

    Resumo

    0 presente estudo pretende comparar os nveis de coordenao motora e de velocidade de reaco em crianas (n=166) de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 10 e 12 anos de idade, praticantes e no praticantes de modalidades desportivas extra escolares.

    Os seu grandes propsitos so: (1) Investigar os nveis de coordenao motora e velocidade de reaco em funo do tipo de prtica (praticantes/no praticantes); (2) Investigar os nveis de coordenao motora e velocidade de reaco em funo do sexo; (3) Investigar os nveis de coordenao motora e velocidade de reaco em funo da idade; (4) Investigar se existe uma associao entre os nveis de coordenao motora e velocidade de reaco.

    Os procedimentos estatsticos utilizados foram: a mdia e o desvio padro, o t Teste de medidas independentes, a anlise da varincia ANOVA a 1 factor, seguida do teste post hoc de comparao mltipla de Sheff, para comparar as diferenas de mdias dos grupos formados de acordo com os factores de anlise do nosso estudo e, o coeficiente de correlao de Pearson (r) para verificar o efeito associao da coordenao motora e velocidade de reaco. O nvel de significncia foi de 0.05.

    A avaliao da coordenao motora foi feita atravs dos testes de coordenao motora para crianas - KTK (Korperkoordinationtest fur Kinder) (Schinlling, 1974, cit. Mota 1991).

    A avaliao da velocidade de reaco foi feita atravs da medio do tempo de reaco simples, utilizando o polireacimetro (PRG), - modelo 30 pas da EAP.

    Os principais resultados e concluses obtidas nesta pesquisa foram os seguintes: (i) O grupo dos praticantes apresenta nveis mais elevados de coordenao motora e velocidade de reaco do que o dos no praticantes; (ii) Os nveis de coordenao motora so muito semelhantes para ambos os sexos; (iii) As crianas do sexo masculino revelam sempre

    vi

  • Coordenao motora e velocidade de reaco Resumo

    niveis mais elevados de velocidade de reaco; (iv) Os niveis de coordenao motora e de velocidade de reaco melhoram com a idade; (v) Verifica-se uma associao entre a coordenao motora e velocidade de reaco.

    Palavras Chave: coordenao motora, velocidade de reaco, crianas, educao fisica, desporto extra escolar.

    V X l

  • Coordenao motora e velocidade de reaco Abstract

    Abstract

    The present study attempts to compare the levels of motor coordination and speed reaction in children of both sexes with an age range from 10 to 12 years old, one group practicing sport and the other group not practicing sport.

    It attemps to: (1) Investigate the levels of motor coordination and speed reaction, in function of the kind of practice; (2) Investigate the levels of motor coordination and speed reaction, in function of the sexes; (3) Investigate the levels of motor coordination and speed reaction, in function of age; (4) Investigate if there is an association between motor coordination and speed reaction.

    The statistical procedures used were: average and standard deviation, the t test of the independent measures, the analysis of variance ANOVA for only one factor, followed by Scheff post hoc test of multiple comparison, to compare different averages of groups in agreement with factors of our study, and the Pearson's correlation coefficient to determine the association between motor coordination and speed reaction.

    The evaluation of motor coordination was made by a group of testes for children - KTK {Korperkoordinationtest fur Kinder, Schinlling, 1974, cit. Mota, 1991).

    The evaluation of speed reaction was made by simple reaction time, using the PRG - model 30 pas of EAP.

    The major results and conclusions obtained through this study show that: (i) The practicing group presented higher levels than not practicing group; (ii) The motor coordination levels were very similar in both sexes; (iii) Male children always presented higher levels of speed reaction than female children; (iv) Motor Coordination and speed reaction levels improved with age; (v) There was found to be an association between motor coordination and speed reaction.

    Key words: motor coordination, speed reaction, children, physical education, activities outside of school hours.

    Vlll

  • Coordenao motora e velocidade de reaco Abstract

    Resume

    L'tude prsent prtend comparer les niveaux de coordination motrice et rapidit de reaction des enfants (n=166), de deux sexes et ges de 10 12 ans, praticants et non praticants de modalits sportis extra scolaires.

    Les grands propos sont: (1) Rechercher les niveaux de coordination motrice et la rapidit de raction en fonction du type de practique ; (2) Rechercher les niveaux de coordination motrice et la rapidit de raction en fonction du sexe ; (3) Rechercher les niveaux de coordination motrice et la rapidit de raction en fonction de l'ge ; (4) Rechercher s'il existe une association entre les niveaux de coordination motrice et la rapidit de raction.

    Les procds statistiques utiliss ont t la moyenne avec une tolerance, le t teste de mesures indpendent, le analyse du teste post hoc de comparaisont multiple de Scheff, pour comparer les diffrences des moyennes des groupes form d'accord avec les facteurs, et le coefficient de corrlation de Pearson pour vrifier l'association entre la coordination motrice et la rapidit de raction.

    L'valuation de la coordination motrice a t faite par des testes de coordination motrice pour enfants - KTK (Korperkoordinationtest fur Kinder) (Schinlling, 1974, cit. Mota, 1991). L'valuation de la rapidit de raction a t faite d'aprs les mesures du temps de raction simple, utilisant le poliractiomtric (PRG) - module 30 pas de l'EAP.

    Les rsultats et les conclusions de 1 xtude ce sont les suivants : (i) Le groupe de praticants prsente des niveaux plus levs de coordination moteur et rapidit de raction que celui des non praticants ; (ii) Les niveaux de coordination moteur sont trs semblables entre la relation des sexes ; (iii) Les enfants du sexe masculin rvles, toujours, des niveaux plus levs dans la rapidit de reaction; (iv) Les niveaux de coordination moteur et de rapidit de reaction se sont amliori avec l'ge ; (v) Il existe une association entre coordination moteur et rapidit de reaction.

    Mots-cl : coordination moteur, rapidit de raction, enfants, ducation physique, sport extra-scolaire.

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco ndice Geral

    ndice de Figuras e Quadros

    Figura 1: Esquema representativo da formao das habilidades motoras (Lucea, 1999).

    Quadro 1: Factores do domnio perceptivo-motor e a sua descrio segundo Fleischman (1954, citado por Gomes, 1996).

    Quadro 2: Valores mdios para o TRS na modalidade visual e auditiva em milsimos de segundo (adaptado de Tavares, 1991).

    Quadro 3: Qualidades bsicas da coordenao (Kiphard, 1977) .

    Quadro 4: A actividade motora na idade escolar (Lucea, 1999)

    Quadro 5: Distribuio dos indivduos por idade, sexo e prtica fsica-desportiva.

    Quadro 6: Distribuio dos indivduos praticantes por modalidades desportiva.

    Quadro 7: Valores do coeficiente de correlao de Pearson (r) para cada prova.

    Quadro 8: Classe de idade 10 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x) , desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 9: Classe de idade 11 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x) , desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 10: Classe de idade 12 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 11: Sexo feminino, classe de idade 10 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco ndice Geral

    Quadro 12: Sexo masculino, classe de idade 10 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 13: Sexo feminino, classe de idade 11 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 14: Sexo masculino, classe de idade 11 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    o Quadro 15: Sexo feminino, classe de idade 12 anos. Coordena motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 16: Sexo masculino, classe de idade 12 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo do tipo de prtica. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 17: Praticantes. Classe de idade 10 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples. Mdia (x) , desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 18: Praticantes. Classe de idade 11 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 19: Praticantes. Classe de idade 12 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples. Mdia (x), desvio padro (sd), valores t e p.

    Quadro 20: No Praticantes. Classe de idade 10 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples. Mdia (x) , desvio padro (sd) , valores t e p.

    Quadro 21: No Praticantes. Classe de idade 11 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples. Mdia (x) , desvio padro (sd) , valores t e p.

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco ndice Geral

    Quadro 22: No Praticantes. Classe de idade 12 anos. Coordenao motora e tempo de reaco simples. Mdia (x) , desvio padro (sd) , valores t e p.

    Quadro 23: Coordenao motora e tempo de reaco simples em funo da idade. Mdia (x), desvio padro (sd), valores F e p.

    Quadro 24: Correlao entre a bateria de testes KTK com o TRS. Valores r de Pearson e p.

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  • Coordenao motora e ve loc idade de reaco Introduo

    1 . INTRODUO

    1.1. Problema e propsitos do estudo

    A necessidade de promoo e orientao da actividade fisico-desportiva como factor cultural indispensvel e indissocivel da formao desportivo-cultural do individuo enquanto ser humano, bem como do prprio desenvolvimento da sociedade, um facto aceite universalmente. No parece difcil o reconhecimento de que sem movimento e espaos de jogo e recreio suficientes, diminuem as possibilidades das crianas no que se refere s suas experincias de movimento e do domnio dessas mesmas experincias (Mota, 1992).

    A criana tem em si uma grande necessidade de se movimentar, pois da qualidade do seu comportamento motor vai depender todo o seu processo de desenvolvimento. Assim, os aspectos do desenvolvimento motor at uma idade mais avanada no devem ser descuidados, mas sim encorajados e estimulados tanto quanto possvel (Neto, 1995).

    Shephard (1990) refere que nas idades mais baixas que as crianas so mais permeveis assimilao de conceitos relacionados com uma vida saudvel, o que significa que a escola no pode desperdiar a oportunidade de inculcar hbitos para uma vida activa, nem de ensaiar experincias motoras que promovam aprendizagens diferenciadas e uma maior proficincia motora. que o desempenho, a performance de um individuo num dado conjunto de tarefas, est directamente relacionado com as suas competncias motoras. E as competncias desenvolvem-se pela aprendizagem e pela exercitao (Schmidt, 1982; 1991, cit. Gomes, 1996).

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Introduo

    Dai a importncia do desenvolvimento das capacidades motoras bsicas, as quais segundo Lucea (1999), derivam da realizao de um esquema motor ou da combinao de vrias tarefas, que tanto em quantidade como em qualidade contribuem para a formao de uma base motora no individuo que ser muito mais ampla e rica quanto maiores e mais variadas forem o nmero de habilidades motoras adquiridas.

    Dependendo do que se pretende, e tambm das circunstncias, deve procurar-se desenvolver, na criana, em simultneo exigncias no mbito das capacidades coordenativas e condicionais - que alguns autores designam por mtodos combinados - sem que contudo as exigncias no plano coordenativo sejam to elevadas que se constituam como um factor limitador do desenvolvimento condicional (Marques, 1995).

    unanimemente aceite que o desenvolvimento harmnico e saudvel das crianas e jovens, assim como a melhoria das capacidades de prestao motora e ainda a formao de base para a actividade desportiva, so tarefas imprescindveis do processo pedaggico a situar na escola (Carvalho, 1991), reconhecida por vrios autores como a instituio mais adequada para a formao desportivo-motora de crianas e jovens.

    Nesta perspectiva, atribuda escola uma grande responsabilidade do ponto de vista de preveno e de compensao, no sentido de colmatar essas insuficincias e salientar desta forma o valor da Educao Fisica e do Desporto.

    Vrios autores (Seliger, 1980; Hanman, 1990; Brehm, 1991, cit. Mota, 1992) consideram que a Educao Fisica se apresenta como a rea mais desejvel para influenciar crianas e jovens no que concerne ao prazer pela actividade fisica. A importncia desta constatao

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Introduo

    fundamental, se se tiver em conta que, em Portugal, a escola o local onde as crianas e adolescentes ocupam a maioria do seu dia (Sobral, 1995).

    No entanto, factores de vria ordem condicionam a realizao dos diferentes objectivos atribudos disciplina de Educao Fisica, nomeadamente a existncia de diferenas inter-individuais acentuadas: desenvolvimento e maturao dos alunos; dominio e grau de mestria das habilidades e nivel de expresso das aptides; interesses e motivaes para a prtica desportivo-motora.

    Neste contexto, Mota (1990) refere que a diminuio dos espaos destinados ao jogo e ao recreio no parece encontrar uma compensao na organizao tradicional da vida escolar, acrescentando que a escola, devido s poucas alteraes que provoca na estrutura da actividade das crianas, pode dificultar e mesmo restringir as possibilidades de um desenvolvimento morfo-funcional e motor equilibrado. Surge ainda, o problema da carga horria atribuda disciplina de Educao Fisica no 2o ciclo, que em muitas escolas do nosso pais ainda bastante reduzida (distribuda por um tempo semanal de 90 minutos ou dois tempos semanais de 45 minutos), dificultando a construo das fundaes para um correcto fomento das capacidades corporais e hbitos motores.

    certo que o desenvolvimento das aptides dos alunos e a compensao das suas insuficincias so um trabalho das escolas (Mota, 1990), com efeito, a durao, a intensidade e frequncia das cargas no podem ser garantidas, atravs das aulas de Educao Fisica especificamente. No conjunto de preocupaes, anteriormente expressas, parece-nos importante aumentar a actividade fisica das crianas atravs da prtica de actividades desportivas extra escolares, no sentido de

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Introduo

    garantir o desenvolvimento das suas aptides e habilidades motoras.

    Como forma de dar resposta a tais necessidades Marques e Gomes (2001) destacam o Desporto Escolar como uma boa aposta no sentido de conferir alguma credibilidade e valor s actividades fisicas, pelo carcter de complementaridade ou de reforo das actividades curriculares. Appell e Mota (1995), sugerem aulas suplementares de Educao Fsica com o objectivo de permitir criana um melhor desenvolvimento ao nvel do sistema crdio-circulatrio, da postura e da coordenao das crianas, na medida em que lhes permite a melhoria e compensao das suas insuficincias e rendimento corporal.

    As capacidades coordenativas desempenham um papel fundamental na estrutura do movimento (Grosser, 1983), com projeco nas mltiplas aptides requeridas para responder s exigncias do dia a dia, do trabalho e do desporto (Hirtz, 1986; Jung e Wilkner, 1987) . Isto, porque o desenvolvimento das capacidades coordenativas possibilitam ao indivduo identificar com maior preciso e eficincia a posio do seu corpo no espao, a sintonizao espao-temporal dos movimentos, a reaco de forma oportuna a situaes variadas, a permanncia em equilbrio numa variedade de situaes, ou mesmo, a execuo de movimentos com referncia a ritmos determinados.

    Tanto a coordenao motora como a velocidade de reaco so influenciadas pelo rpido crescimento a nvel estrutural, funcional e comportamental que se regista na idade infantil (Marques, 1990) .

    Se o desenvolvimento das capacidades coordenativas depende dos processos de maturao biolgica, da quantidade e da qualidade da actividade motora, torna-se importante que a criana realize actividades motoras muito

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Introduo

    diversificadas, adequadas e repetidas em nmero suficientemente elevado de forma a optimizar o desenvolvimento coordenativo - motor.

    As crianas desde idades baixas apresentam boas condies para o desenvolvimento da velocidade, onde algumas das suas componentes atingem muito cedo o valor que tero em adulto. No escalo dos 10 aos 13 anos a velocidade de reaco desenvolve-se fortemente, onde s a partir desta idade que o progresso da velocidade de reaco se deve fundamentalmente a uma cada vez melhor capacidade de concentrao (Carvalho, 1988). Cremos que importante para a formao desportiva da criana que, desde cedo lhe seja proporcionada uma grande percentagem de actividade fisica onde predominem exerccios que apelem s diferentes componentes da velocidade.

    nesta medida que o trabalho agora apresentado parece encontrar uma justificao, no s por oferecer uma maior prtica de actividade fisica organizada s crianas, mas porque podero tambm ver compensadas as insuficincias de carcter motor.

    Assim, o tema da presente investigao prende-se com o estudo do desenvolvimento da coordenao motora e velocidade de reaco em crianas de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 10 e 12 anos, praticantes e no praticantes de modalidades desportivas extra escolares.

    Pretende sobretudo investigar os niveis de coordenao motora e velocidade de reaco em crianas sujeitas a programas e frequncias semanais de actividade fisica/desportiva diferentes.

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Introduo

    1.2. Estrutura do estudo A estrutura desta pesquisa visa dar resposta aos

    objectivos previamente formulados.

    A sua estrutura a seguinte: Io Capitulo: Apresenta o problema da pesquisa,

    comeando por referir que uma boa disponibilidade para o movimento e uma boa expresso ao nivel das capacidades motoras bsicas, so aspectos significativos da capacidade de rendimento corporal e desportivo, cujo desenvolvimento constitui tarefa dominante no quadro da formao corporal dos alunos. Justifica a pertinncia de um estudo desta natureza, partindo de que inquestionvel o valor das aulas de Educao Fisica paralelamente a outras actividades extra escolares no desenvolvimento das capacidades motoras bsicas, nomeadamente da coordenao motora e velocidade de reaco.

    2o Capitulo: Contem a reviso de literatura partindo da importncia do movimento como uma necessidade bsica do ser humano, onde no periodo dos 10 aos 12 anos, deve ser explorado a fim de que a criana possa desenvolver as capacidades motoras bsicas, neste caso a coordenao motora e velocidade de reaco. A criana deve ser estimulada a desenvolver estas capacidades uma vez que so influenciadas pelo rpido crescimento a nivel estrutural, funcional e comportamental que se regista nestas idades. Salienta a importncia das actividades extra escolares como um prolongamento das aulas de Educao Fisica, permitindo s crianas melhorar o seu desenvolvimento ao nivel das habilidades desportivo motoras.

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Introduo

    3o Capitulo: Menciona o objectivo geral e objectivos especficos do estudo, bem como a formulao das hipteses.

    4o Capitulo: Descreve a metodologia adoptada na preparao e realizao desta pesquisa, caracteriza a amostra, refere os instrumentos de avaliao utilizados e os procedimentos estatsticos usados.

    5o Capitulo: Apresenta os resultados principais do estudo.

    6o Capitulo: Analisa e discute os resultados interpretando-os e relacionando-os com pesquisas realizadas em estudos de mbito nacional e internacional.

    7o Capitulo: Apresenta as principais concluses.

    8o Capitulo: Refere a bibliografia consultada para a realizao do estudo.

    9o Capitulo: Anexos.

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de literatura

    2 - REVISO DE LITERATURA

    2.1. Capacidades Motoras A formao corporal de base contribui, como elemento

    da formao geral, para o desenvolvimento global e harmnico da personalidade. Para haver uma ampla preparao das crianas e jovens para a vida atravs do desporto, torna-se necessrio melhorar o estado funcional dos rgos e sistemas orgnicos bem como desenvolver a motricidade (Teixeira, 2003b).

    As capacidades motoras so pressupostos do rendimento para a aprendizagem e realizao das aces motoras desportivas. Baseiam-se em predisposies genticos e desenvolvem-se atravs do treino. No so qualidades do movimento mas sim pressupostos para que ele exista. Podemos dividir as capacidades motoras desportivas em dois dominios: o dominio condicional - mbito quantitativo e o dominio coordenativo - mbito qualitativo (Carvalho, 1987). Marques (1995) refere que as capacidades motoras desenvolvem-se em interaco umas com as outras, isto , o nivel motor determinado pela relao de interaco entre as capacidades coordenativas e condicionais, onde o desenvolvimento das capacidades coordenativas influencia o grau de utilizao dos potenciais funcionais energticos em solicitaes de resistncia, de velocidade, de flexibilidade ou de fora, permitindo uma maior economia, durao e eficcia na actividade.

    Pensamos ento que atravs do desenvolvimento de todas as capacidades motoras (coordenativas e condicionais) garante-se no s um significativo incremento das capacidades motoras e desportivas, mas tambm o aperfeioamento das funes psico-fisicas e das estruturas que garantem o desenvolvimento da motricidade

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de literatura

    do ser humano, habilitando-o a uma melhor aprendizagem e um maior rendimento.

    Quando falamos das capacidades coordenativas Hirtz (1986), classifica-as como uma classe das capacidades motoras (corporais) que, juntamente com as capacidades condicionais e as habilidades motoras, so elementos da capacidade de rendimento corporal. As capacidades coordenativas representam desta forma qualidades do comportamento relativamente estveis e generalizados dos processos especficos da conduo motora (qualidades do processo de conduo do movimento). Lucea (1999), refere-as como a capacidade de coordenar o movimento e representam, de alguma forma, a qualidade do mesmo. Por outro lado, as capacidades condicionais so o aspecto quantitativo do movimento. Ambas, em maior ou menor grau esto presentes em toda a actividade motora e, a conjuno das mesmas propicia e permite a realizao de qualquer movimento (Fig.l) .

    Habilidades Motoras Especificas

    Direrentes nveis de destreza

    Habilidades Motoras Bsicas

    Esquemas Motores e Posturais

    Capacidades Coordenativas Capacidades Condicionais

    t t Capacidades Motoras

    Fig. 1 - Esquema representativo da formao das habilidades motoras (Lucea, 1999).

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    Gomes (2000), citando Winter (1987) sugere que s atravs de uma educao multifacetada das capacidades condicionais (essencialmente determinadas pelas componentes energticas do acto motor) e coordenativas (com predominncia nos processos de conduo nervosa) se atinge um estdio elevado no processo de desenvolvimento motor. Na mesma perspectiva, Holtz (1987) refere que se torna medida social importante assegurar o desenvolvimento das funes e estruturas psicofisicas que garantem o desenvolvimento da motricidade humana no sentido de proporcionar uma boa capacidade para o rendimento e para a vida.

    Segundo Espenschade e Eckert (1980), as capacidades gerais do desenvolvimento das crianas, associadas ao desenvolvimento motor, podem ser sintetizadas da seguinte forma : - Aquisio rpida dos skills motores fundamentais; - Desenvolvimento diferenciado dos vrios skills: - Aumento da variao individual com o aumento da idade; - Rpido aumento da fora nos dois sexos; - Aumento proporcional do comprimento dos membros, mais do

    que as outras partes do corpo; - O aumento do comprimento dos membros resulta numa melhor

    alavanca (potencial) para a velocidade; - O aumento da coordenao e o uso da alavanca vai

    permitira aplicao mxima da fora; - O desenvolvimento do equilibrio vai favorecer o aumento

    da amplitude do movimento na execuo de um skill; - O desenvolvimento cefalocaudal e controlo neuromotor vai

    permitir o desenvolvimento do skill de lanar; - A criana inicia o julgamento do outro com base na

    performance motor;

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    - 0 desenvolvimento dos conceitos bsicos, de objecto, espao, fora, causalidade e tempo, possibilitam o controlo consciente e a coordenao do movimento.

    Do ponto de vista fisiolgico, a criana responde positivamente ao exerccio, apesar de os ganhos avaliados em certas capacidades condicionais dependerem, fundamentalmente, da melhoria dos aspectos coordenativos (Borms, 1985, cit. Gomes, 1996). No surpreende ento que alguns autores (Hirtz ,1979;

    Vasconcelos, 1991) considerem um objectivo importante da actividade escolar, a formao e melhoria da disponibilidade motora. Salientam, no entanto, a necessidade de se colocarem as tarefas de acordo com o estado de desenvolvimento e com a capacidade de trabalho dos alunos.

    2.1.1. Coordenao Motora Ao analisarmos a literatura existente deparamos com a

    diversidade que envolve a expresso coordenao motora, e verificamos a dificuldade de unicidade na abordagem do seu conceito e operacionalizao bem como das suas formas de avaliao, conferindo-lhe assim um carcter nitidamente interdisciplinar. 0 termo coordenao muitas vezes confundido ou usado como sinnimo de agilidade, destreza, controlo motor e mesmo habilidade, onde estas terminologias surgem da diversidade dos mbitos de investigao (clnicos, psicotcnicos, pedaggicos, etc) , do posicionamento epistemolgico dos autores (cibernticos, neurofisiologistas, psicometristas) e ainda dos modelos de suporte investigao (biomecnicos, psicanalticos) (Newell, 1985).

    i

  • Coordenao motora e ve loc idade de reaco Reviso de l i t e r a t u r a

    Torna-se assim, difcil de definir o termo coordenao motora, pelas mltiplas reas cientificas que se tm debruado sobre o seu estudo e pela evoluo que tem sofrido medida que novos contributos tericos vo surgindo, mas tentaremos mostrar o que significa o conceito de coordenao motora para alguns autores que tm feito estudos sobre este assunto.

    Pimentel e Oliveira (1997) definem coordenao motora como o dominio seguro e econmico das aces motoras nas situaes previsveis e imprevisveis, possibilitando aprender relativamente depressa as habilidades motoras. para Matviev (1991), a aptido de regular eficazmente a tenso muscular no tempo e no espao.

    Piret e Beziers (1971) consideram a coordenao como uma sntese da anatomia e da fisiologia a nivel do movimento, a organizao que permite obter um equilbrio entre os grupos musculares antagonistas, organizados pelos msculos condutores. Coordenao no sentido geral, assim, o processo pelo qual assegurada, nos centros nervosos, a combinao de ordens a serem enviadas aos aparelhos efectores, que por exercitao ou por inibio fazem com que os diversos grupos musculares operem com vista a um objectivo definido. A coordenao motora requer a capacidade de controlar grupos musculares com a maior preciso, a fim de efectuar com xito determinada tarefa.

    Para Gallahue e Ozmun (2001), a coordenao a habilidade de integrar, em padres eficientes de movimento, sistemas motores separados com modalidades sensoriais variadas. Quanto mais complicadas as tarefas motoras, maior o nivel de coordenao necessrio para um desempenho eficiente. A coordenao liga-se aos componentes de aptido motora, de equilbrio, de velocidade e de agilidade, porm, no est intimamente

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    ligada fora e resistncia. 0 comportamento coordenado requer assim, que a criana desempenhe movimentos especficos, em srie, rpidos e precisos. Esses movimentos coordenados devem ser sincrnicos, rtmicos e apropriadamente sequenciais. Assim, o movimento coordenado requer a integrao dos sistemas motor e sensorial num padro de aco harmonioso e lgico, como que uma combinao concordante dos deslocamentos dos segmentos corporais, no tempo e no espao, com vista execuo de uma determinada tarefa.

    A coordenao motora ser o modelo ideal de forma a atingir a soluo final na execuo da aco de acordo com o objectivo estabelecido. 0 processo de manuteno donde resulta o maior grau de liberdade do segmento em movimento num sistema controlado (Bernstein, 1967), a reunio de todas as unidades de coordenao que ao tensionar o corpo lhe d forma e permite que se mova sempre graas a rotaes opostas, constitui-se a coordenao motora (Pirt e Bzier, 1992). A coordenao motora dos segmentos implica assim um jogo preciso de grupos musculares variados, o qual no pode ser encarado como um msculo ou grupo muscular agindo sobre uma articulao, mas sim como um conjunto muscular que concorre para uma associao funcional.

    De facto, gestos coordenados e precisos, isto , ajustados na sua organizao e em relao a uma referncia ou quadro complexo de referncias exteriores, constituem a expresso mais bvia de mestria da criana e ou jovem atleta. A sua aquisio, consolidao e aperfeioamento so geralmente associados a uma capacidade geral de coordenao motora (Teixeira, 2003a).

    Em sintese, a coordenao motora a resposta a um estimulo que vai implicar o uso eficiente da musculatura e

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    dos processos parciais correspondentes aos sistema nervoso central (Vinaspre, s/d). Possibilita a contraco de grupos musculares diferentes e permite realizar movimentos amplos que implicam muitos segmentos corporais para efectuar uma aco, requerendo uma boa integrao do esquema corporal e um bom dominio do prprio corpo.

    No possvel menosprezar, neste contexto, a importncia da coordenao motora, como uma capacidade de grande influncia para o desenvolvimento da criana, para a aquisio e refinamento de novas habilidades motoras permitindo-lhe uma maior automatizao dos padres do movimento e facilidade em proceder a novas aprendizagens.

    Componentes da coordenao motora At aos dias de hoje parece que ainda no foi

    possvel conhecer, com exactido, a estrutura multidimensional das diversas componentes da coordenao motora (Weineck, 1986). De facto o nmero reduzido de estudos nesta rea, na maioria com carcter exploratrio, centrados essencialmente em dados e sem enunciados prvios, dificultam a concluso dos trabalhos (Gomes, 1996).

    Num estudo realizado por Cumbee (1954), em indivduos universitrios do sexo feminino (n=200), o autor destacou oito factores, em funo dos resultados da anlise factorial efectuada, identificando cinco: equilbrio de objectos, tempo, agilidade bimanual, velocidade na mudana de direco dos membros superiores (braos e mos) e equilbrio corporal. Com base nos factores identificados no foi possvel definir, de forma circunscrita e precisa a coordenao motora.

    Num outro estudo (Cumbee et ai., 1957), a opo recaiu de novo em indivduos do sexo feminino (n=92), mas

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    de nvel de ensino elementar. Acrescentaram mais duas variveis ao protocolo experimental, com o objectivo de conseguirem clarificar a complexa estrutura da coordenao motora. Porm, as diferenas de procedimento detectadas no registo dos dados de um dos testes, levaram excluso dos seus resultados, e assim o factor tempo foi interpretado como velocidade de movimento.

    Ao compararem os dois estudos, Cumbee et ai., (1957), retiraram as seguintes concluses: (i) A matriz de correlao das provas nos sujeitos do nvel escolar elementar evidencia grande especificidade, enquanto que na maioria das universitrias muitas das correlaes so substanciais com maior nmero de variveis; (ii) 0 facto de se terem isolado nove factores na amostra do grupo de escolaridade elementar e oito na amostra das universitrias, reduziu as respectivas matrizes de correlao a zero. Este resultado feito da comparao das matrizes de correlao sugere a inexistncia de um quadro multidimensional claro, capaz de expressar a coordenao motora. Os autores concluem em ambos os estudos que:

    (1) Os estudos no foram orientados por um quadro preciso de hipteses relativamente estrutura da coordenao motora;

    (2) No incluram um nmero suficiente de variveis que possibilitassem uma identificao clara de alguns factores que foram extrados.

    Fleishmann (1954), com o objectivo de seleccionar pilotos de avio norte-americanos, submeteu um grupo de 400 indivduos a um conjunto de quarenta testes, relacionados com a coordenao motora. Atravs da anlise exploratria, identificou onze factores (Quadro 1) susceptveis de serem representados por testes precisos.

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    Quadro 1 : Factores do domnio perceptivo-motor e sua descrio segundo Fleishmann (1954) citado por Gomes (1996).

    Factor Descrio do Factor 1. Sensibilidade cinestsica Comum s tarefas que requerem

    ajustamentos musculares finos e altamente controlados. Esta capacidade aplica-se aos movimentos dos membros superiores e inferiores

    2. Coordenao muiti-membros Capacidade de coordenar em simultneo movimentos de diferentes membros

    3. Orientao espacial Comum s tarefas psicomotoras de reaco visual

    4. Tempo de reaco Velocidade segundo a qual um individuo responde presena de um estimulo

    5. Velocidade de movimento de braos Velocidade segundo a qual um individuo pode realizar um movimento de braos de grande amplitude, sem exigncia de grande preciso

    6. Controlo da velocidade Comum s tarefas que implicam antecipao a mudanas de velocidade ou direco

    7. Destreza manual Adaptao da direco do membro superior na manipulao de objectos grandes

    8. Destreza dos dedos Manipulao de pequenos objectos

    9. Estabilidade brao-mo Preciso na execuo de movimentos do conjunto brao-mo, sem que a velocidade nem a fora sejam solicitadas. Este factor implica tambm o posicionamento brao-mo.

    10. Velocidade punho-dedos Tapping

    11. Acuidade visual Coordenao culo-manual

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de Literatura

    Apesar do mbito especifico deste estudo realizado por Fleishmann (1954), tudo leva crer que o dominio estudado no foi totalmente explorado (Gomes (1996), quando por exemplo no faz referncia ao equilbrio, que uma das componentes bastante explorada e que levanta pouca controvrsia (Williams, 1983). No entanto, mais tarde Fleishmann (1961, 1963) vem identificar duas componentes do equilbrio: o equilbrio corporal total (esttico e dinmico) com olhos vendados e equilbrio de objectos, e o equilbrio com suporte visual.

    Relativamente aos estudos efectuados nesta matria, verificamos que os objectivos, metodologias e indicadores diversificados, bem como os resultados conseguidos parecem um pouco dbeis e no muito conclusivos. Parece tambm ressaltar a noo de que a coordenao motora um trao ou atributo complexo, impossvel de definir por uma nica componente e ou avaliada por um s teste. As pesquisas efectuadas neste dominio evidenciam uma srie de componentes comuns em vrios trabalhos como: o equilbrio, a velocidade segmentar, a velocidade na mudana de direco, o tempo de reaco e a sensibilidade cinestsica.

    Constatamos que muito difcil identificar, inequivocamente, as componentes da coordenao motora, assim como outras componentes da performance motora, sendo para Gomes (1996) especificas das tarefas. Qualquer tarefa, simples ou complexa, solicitar sempre uma combinao particular de capacidades (Hirtz, 1986). Essa combinao de capacidades, ser varivel em funo da tarefa (Vogel, 1986; Schmidt, 1991).

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    2.1.2. Capacidades coordenativas No existe uma grande unidade entre os autores sobre

    o conceito e a natureza das capacidades coordenativas, resultando as principais diferenas dos diferentes objectivos visados pelas respectivas investigaes (educao fisica escolar, desporto de rendimento ou desporto de reabilitao) e das diferentes perspectivas das vrias disciplinas (Hirtz, 1986 cit. Vasconcelos,1992).

    Ao contrrio do que se passa na classificao das capacidades condicionais, onde parece haver um certo consenso, nas capacidades coordenativas a controvrsia grande. Deve-se talvez ao facto de a investigao nesta rea ser relativamente jovem, havendo poucos autores a investigar sobre este dominio e porque as capacidades coordenativas so, sobretudo, de natureza qualitativa e fundamentalmente determinadas por processos de conduo do sistema nervoso (Carvalho, 1987), torna-se mais complexa a sua investigao.

    Portanto, no existem estudos capazes de precisar o nmero, a exacta estrutura e as correlaes das diversas componentes bsicas das capacidades coordenativas, assim a sua diviso apenas deve ser considerada como uma simples orientao para efeitos didcticos.

    Meinel e Schnabel (1976), distinguem trs capacidades bsicas do processo de coordenao, que se interrelacionam de forma reciproca:

    - A capacidade de conduo motora: assenta nos diferentes elementos de uma aco a serem ligados em simultneo ou de forma permanente e no nmero de graus de liberdade a serem dominados.

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    - A capacidade de adaptao e readaptao motoras: baseia-se na programao da aco, sua correco e transformao ou readaptao segundo situaes que se alteram ou que so de dificil previso.

    - A capacidade de aprendizagem motora: fundamenta-se em mecanismos de recolha, tratamento e reteno de informao, isto , processos perceptivos, cognitivos e mnemnicos.

    Mota e Appell (1995), citando Hirtz (1979), consideram cinco as vertentes das capacidades coordenativas consideradas como capacidades bsicas coordenativas e tidas de particular relevncia para aplicao no dominio escolar:

    - Capacidade de orientao espacial: corresponde s qualidades necessrias para a determinao e modificao da posio do corpo como um todo no espao, as quais precedem a conduo de orientao espacial de aces motoras.

    Capacidade de diferenciao cinestsica: corresponde s qualidades de comportamento relativamente estveis e generalizveis para a realizao de aces motoras e econmicas com base numa recepo e assimilao bem diferenciadas e precisas de informaes cinestsicas.

    Capacidade de reaco motora: corresponde s qualidades necessrias a uma rpida e oportuna preparao e execuo, no mais curto espao de tempo, de aces desencadeadas por sinais mais ou menos complicados ou por aces ou estmulos anteriores.

    - Capacidade de ritmo: corresponde s qualidades necessrias compreenso, acumulao e interpretao de estruturas temporais e dinmicas pretendidas ou contidas na evoluo do movimento.

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    - Capacidade de equilbrio: corresponde s qualidades necessrias conservao ou recuperao do equilbrio, pela modificao das condies ambientais e para a convincente soluo de tarefas motoras que exijam pequenas alteraes de plano ou situaes de equilbrio muito instveis.

    Na perspectiva de Hirtz (1979), cit. Vasconcelos (1994), ainda que as vrias componentes das capacidades coordenativas apresentem o seu ponto ptimo de desenvolvimento em momentos diferentes, podemos afirmar, em geral, que elas possuem o seu impulso mximo de crescimento dos sete anos at ao comeo da puberdade. Neste perodo observa-se, paralelamente, uma maturao mais rpida do sistema nervoso central e um aumento da funo dos analisadores ptico e acstico, assim como um aperfeioamento no tratamento da informao que facilita a aprendizagem de habilidades mais complexas (Bringmann, 1973 cit. Vasconcelos, 1994). A exercitao em tempo oportuno das capacidades coordenativas , segundo Weineck (1986) decisiva para o nivel da capacidade de desenvolvimento que ser atingido mais tarde.

    Parece que os reflexos coordenativos se reflectem no nivel das habilidades de coordenao e nas prontides do movimento j disponveis. Eles repousam, por um lado, na capacidade funcional (maturidade funcional), isto no sistema nervoso e nos rgos dos sentidos, e, por outro lado nas experincias de movimento. Quanto mais elevada for a capacidade funcional do sistema nervoso e rgos dos sentidos e quanto maior for a gama de experincias de movimento, mais fcil e rpida ser a nova aprendizagem de um individuo (Meinel, 1984).

    Em termos gerais, as capacidades coordenativas so necessrias para o dominio de situaes que exigem uma

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    aco rpida e racional. Constituem, tambm, a base de uma boa capacidade de aprendizagem sensrio-motora e, quanto mais elevado for o seu nivel, mais rpido e consolidado podero ser os movimentos aprendidos. A economia inerente a uma coordenao altamente desenvolvida (condicionada pela preciso da orientao do movimento) permite ainda executar qualquer actividade com menor consumo de fora muscular e com um menor grau de fadiga, resultando numa economia de energia e num aumento da eficcia do movimento (Weineck, 1986).

    Hirtz e Schielke (1986), referem que o desenvolvimento das capacidades coordenativas depende dos processos de maturao biolgica, da quantidade e da qualidade da actividade motora, das aces realizadas para a formao e educao e ainda dos factores da actividade social.

    Uma boa disponibilidade para o movimento e uma boa expresso a nivel das capacidades coordenativas so aspectos significativos da capacidade de rendimento corporal e desportivo, cujo desenvolvimento constitui tarefa dominante no quadro da formao corporal dos alunos (Hirtz e Holtz, 1987) .

    Segundo vrios autores, estas capacidades apresentam, nos escales etrios mais baixos, uma fase muito favorvel ao seu desenvolvimento que no sendo explorada da forma mais correcta, poder comprometer a evoluo das capacidades coordenativas em idades mais avanadas.

    Ontogense das capacidades coordenativas As capacidades coordenativas desenvolvem-se atravs

    da execuo do movimento. De facto, quando uma criana saudvel tem possibilidades suficientes de se exercitar em

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de Literatura

    situaes variadas, podendo portanto, receber uma elevada experincia do movimento, existem todas as hipteses de se alcanar um desenvolvimento normal das capacidades coordenativas (Mota e Appell, 1995).

    Dentro das capacidades motoras, Vasconcelos (1991) refere alguns aspectos que devem ser realados relativamente ao desenvolvimento das capacidades coordenativas na criana, baseando-se num estudo realizado neste mbito na Universidade de Greinfswald, ex Repblica Democrtica Alem, com 2500 indivduos dos sete aos vinte e quatro anos de idade: - Todo o desenvolvimento coordenativo depende no s dos processos de maturao biolgica como tambm da quantidade e qualidade da actividade motora, assim como da educao e de outros aspectos da actividade social. - O desenvolvimento dinmico entre o 7o e o 12 anos de vida consequncia da maturao do sistema nervoso central e dos analisadores. A meio da escolaridade, o desenvolvimento geral coordenativo atinge praticamente o valor que apresenta no seu final. Isto no significa, contudo, que as capacidades coordenativas no sejam susceptveis de serem desenvolvidas e aperfeioadas. - O abrandamento ou estagnao no desenvolvimento das capacidades coordenativas aps os onze/doze anos deve-se, por um lado, ao termo do desenvolvimento do sistema nervoso central e dos analisadores motores e, por outro, maturao sexual que implica a necessidade de uma reorganizao coordenativa. Na idade compreendida entre os dezassete e os vinte e um anos atingido o ponto mais elevado no desenvolvimento coordenativo. - Apesar do desenvolvimento das capacidades coordenativas ser um processo unitrio, este decorre de forma diferenciada de capacidade para capacidade. A que apresenta um desenvolvimento mais precoce a de

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    diferenciao cinestsica, seguindo-se as capacidades de reaco, ritmo e de equilbrio, enquanto a capacidade de orientao espacial s termina o seu desenvolvimento no adulto jovem. - Na expresso destas capacidades, a diferena entre os sexos s se torna clara a partir dos doze/treze anos j que as raparigas, tendo uma maturao sexual mais precoce, atingem o ponto mais alto do seu desenvolvimento coordenativo um a dois anos antes dos rapazes. A diferenas entre sexos, que se prolongam at idade de adulto jovem, so ultrapassadas pelas raparigas que praticam um actividade fisica relevante.

    Pretende-se que a actividade escolar contribua para a formao e melhoria da disponibilidade motora das crianas. Convm salientar, no entanto, a necessidade de se colocarem as tarefas de acordo com o estado de desenvolvimento e capacidade de trabalho dos alunos (Hirtz, 1979 cit. Vasconcelos, 1994). importante que a tarefa a realizar assuma uma forma equilibrada entre a exigncia colocada e o resultado obtido, pois tarefas demasiado dificeis para o aluno, nas quais ele no obtm sucesso, so desmotivantes. Contrariamente, aquelas que so demasiado simples e ultrapassveis tornam-se pouco atractivas e absorventes (Mota e Appell, 1995). Nesta perspectiva Hirtz e Holtz (1987) sugerem que devem ser propostos uma variedade de exerccios e com distintos graus de dificuldade, durante todos os anos escolares.

    Em termos muitos gerais, as capacidades coordenativas so necessrias para o dominio de situaes que exigem uma aco rpida e racional (Weineck, 1986), constituindo, tambm, a base de uma boa capacidade de aprendizagem sensrio-motora. Quanto mais elevado for o seu nivel, mais

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de literatura

    rpida e consolidadamente podero ser aprendidos movimentos novos e ou dificeis (Vasconcelos, 1991).

    Velocidade de reaco A velocidade pode definir-se como uma capacidade

    complexa derivada de um conjunto de propriedades funcionais (fora e coordenao) que possibilita regular, em funo dos parmetros temporais existentes, a activao dos processos cognitivos e funcionais do individuo, para provocar uma resposta motora ptima (Vinaspre, s/d) . Segundo Grosser (1981) velocidade a capacidade que permite executar movimentos de forma correcta e econmica, e de reagir to rpido quanto possvel em diversas situaes ou manter-se em equilbrio, ou ainda executar gestos de acordo com ritmos pr-determinados.

    A velocidade a capacidade do organismo humano cuja definio se aproxima do conceito mecnico de velocidade que determinada pelo tempo que leva um corpo a percorrer um dado espao (Aguilera, 1981) . Neste caso ser a capacidade de um individuo se deslocar percorrendo uma distncia determinada no mais curto espao de tempo atravs de uma aco motora.

    Em crianas e jovens a velocidade est determinada pela rapidez de coordenao dos processos neuro-musculares, pelo estado morfo-funcional da estatura muscular, pelos processos bioqumicos e pelo volume da massa muscular do individuo. 0 seu desenvolvimento est dependente dos factores fisicos e psquicos tais como: fora muscular, elasticidade muscular, qualidade motora do movimento, qualidades volitivas, temperamento do individuo e mecanismos biomecnicos. A velocidade envolve a rapidez de resposta ao estimulo, a acelerao, a mxima acelerao e a durabilidade (Aguilera, 1981).

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  • Coordenao motora e ve loc idade de reaco Reviso de L i t e r a tu r a

    De facto, a expresso da velocidade decorre, no apenas da brevidade de reaco aos estimulos ou da velocidade gestual, mas tambm do tempo necessrio identificao, ao tratamento rpido da informao e ao reconhecimento e avaliao das situaes complexas de jogo. Parece ento que em matria de tratamento da informao, o tempo de que se dispe para operar mais importante do que a quantidade ou a qualidade das aces a realizar.

    Um atributo bsico que desempenha importante papel na modificao do rendimento motor e aprendizagem nas crianas a velocidade com a qual iniciam uma resposta frente a estimulos distintos (Cratty, 1982), sendo que o que caracteriza muitas vezes um atleta de alto nivel a sua capacidade de decidir rpida e correctamente na realizao de uma tarefa motora (Tavares (1991).

    Alguns especialistas como Zatiorski (1958) cit. Mitra e Mogos (1990), distinguem trs formas de base de manifestao de velocidade, relativamente independentes e com indices de correlao minimos, na manifestao da velocidade nas diferentes aces motoras, provas e modalidades desportivas: velocidade de reaco (o tempo latente da reaco motora), a velocidade de execuo (a velocidade do movimento singular, a velocidade propriamente dita dos movimentos) e a velocidade de repetio (a frequncia dos movimentos).

    Carvalho (1988) define a velocidade de reaco como a capacidade de responder o mais rapidamente possivel a um estimulo ou sinal. A velocidade de reaco motora e o tempo de latncia da reaco motora referem-se rapidez, com a qual o organismo responde aos sinais (excitantes), brevidade com a qual detecta e recepciona os sinais e durao necessria para entrar em aco Celaborao e emisso da resposta). Os principais factores que

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  • Coordenao motora e ve loc idade de reaco Reviso de L i t e r a t u r a

    condicionam os indices da reaco motora so: a durao do periodo latente, a acuidade e preciso dos analisadores (vista, ouvido, sentido tctil) , sentido do equilbrio, proprio-receptores, etc, a qualidade dos condutores e os processos nervosos fundamentais (Mitra e Mogos, 1990).

    De um modo geral a velocidade de reaco a capacidade de responder a um estimulo da forma mais rpida possvel, tendo a sua expresso material no que vulgarmente se designa por tempo de reaco (Tavares, 1991). O valor da velocidade de reaco est limitado pelo tempo de reaco: quanto mais curto o tempo de reaco maior ser o nivel da velocidade de reaco. Subentende-se que o tempo de reaco equivale ao lapso de tempo que decorre entre a aplicao do estimulo e a primeira reaco motora.

    Erbaheci e Un (2001) definem tempo de reaco como o intervalo de tempo que decorre entre a aplicao de um estimulo e o inicio de uma resposta voluntria. O tempo de reaco contem em si duas fases (Carvalho, 1993 e Alves, 1985, cit. Tavares, 1991):

    (1) Uma resposta pr-motora: ligada aos processos nervosos e que compreende o tempo que vai da apresentao do estimulo sua chegada estrutura muscular. Este tempo designado por tempo latente, e s perceptvel ao nivel de electromiograma;

    (2) Uma resposta motora: que compreende o tempo que decorre entre o aparecimento do estimulo sobre a fibra muscular e a realizao do trabalho mecnico de contraco muscular.

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de l i t e ra tu ra

    Por outro lado, Zatiorsky (1981) cit. Carvalho (1988), divide o tempo de reaco em cinco fases:

    1 - Aparecimento do estimulo no receptor; 2 - Transmisso do impulso at ao sistema nervoso central; 3 - Processamento do impulso na rede nervosa e formao de um impulso efector; 4 - Entrada no msculo do impulso proveniente do sistema nervoso central; 5 - Estimulao do msculo originando uma actividade muscular.

    A velocidade de reaco pode apresentar-se sob a forma de reaco simples e reaco complexa tambm denominada por alguns autores de reaco de escolha (Carvalho, 1988).

    Mitra e Mogos (1990) apontam que o tempo de reaco pode ser definido, do ponto de vista biolgico, como processo directo pelo qual a matria viva responde a um estimulo. Enquanto que no tempo de reaco simples encontramos somente respostas elaboradas (adquiridas, exercitadas) a partir de estmulos conhecidos. O tempo de reaco complexa implica a elaborao das respostas -escolha, combinao e correco destas. A aco de resposta seleccionada de entre muitas outras possveis.

    O tempo de reaco simples caracteriza-se assim, pela aplicao de um nico estimulo, para o qual existe uma resposta pr-determinada, i.., o estimulo sempre o mesmo e a resposta tambm (Tavares, 1991) . o intervalo entre a aplicao do estimulo e a execuo da resposta na condio de o sujeito responder to rpido quanto possvel (Whiting,1979) , e varia, fundamentalmente, consoante o rgo sensorial estimulado e no com o tipo de estimulo, apesar de estarem habitualmente relacionados com o estimulo-rgo receptor (Alves, 1985) (Quadro 2).

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de literatura

    Quadro 2 - Valores mdios para o TRS na modalidade visual e auditiva em milsimos de segundo (adaptado de Tavares ,1991)

    Autor Ano Visual Auditivo Whiting 1979 180 140 Robinson s.d 194 155 Alves 1985 212 175 Pinto 1991 225 194

    Atravs do Quadro 2, podemos verificar a existncia de diferenas segundo o rgo sensorial estimulado (visual e auditivo) e que a resposta a estmulos auditivos mais rpida que a resposta a estmulos visuais.

    O tempo de reaco simples varia igualmente com a localizao do msculo efector, dependendo da distncia a percorrer pelo nervo motor. Assim, quando as respostas so efectuadas pelos membros distais os tempos de reaco so mais longos (Tavares, 1991).

    Ferreira (1990), num estudo com o objectivo principal de determinar a relao existente entre o tempo de reaco simples, de escolha e de deciso e os diferentes niveis dos praticantes de Ginstica Artstica Masculina, verificou que:

    os vrios parmetros dos tempos de reaco no se associam significativamente ao nivel de prtica mais baixo;

    alguns dos parmetros do tempo de reaco simples associam-se significativamente aos dois subgrupos de melhor nivel de prtica; - alguns dos parmetros do tempo de reaco, quer da reaco simples, quer da de escolha, bem como e com destaque para o tempo de deciso, associam-se significativamente ao nivel de prtica imediatamente a seguir, ou seja terceiras categorias; - os ginastas de nivel de prtica mais elevada (primeiras categorias), somente alguns parmetros de reaco

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    simples a ele se associam significativamente, para alm do

    tempo de deciso. Boura et ai. (1981) cit. Tavares (1991), estudaram os

    tempos de reaco simples e tempos de reaco de escolha em 53 praticantes de Karat (dos dezasseis aos quarenta e oito anos de idade). Verificaram que:

    (1) Quanto mais jovem o sujeito, mais os tempos de

    reaco so curtos; (2) Quanto melhor o nivel da capacidade fisica do

    sujeito, mais curto o tempo de reaco.

    Posteriormente, os mesmos autores criaram dois grupos de dezassete praticantes em funo do seu nivel de prtica. Verificaram que:

    (1) Os principiantes reagem mais lentamente e fazem mais erros que os praticantes de melhor nivel;

    (2) 0 valor do praticante de Karat est associado fundamentalmente sua capacidade fisica, a qual est relacionada com o tempo de reaco simples;

    (3) Os tempos de reaco simples e de escolha no caracterizam o valor tcnico do Karateca.

    Podemos subentender que o tempo de reaco registado em situao real, pode ser revelador de um nivel de performance ou de forma num determinado momento (Roca, 1983).

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    2.1.3. Movimento e coordenao na idade infantil

    Quanto mais experincias de aprendizagem perceptivo-motora tiverem as crianas, maior a oportunidade de fazer a combinao e de desenvolver certa plasticidade de reaco a vrias situaes motoras (Gallahue e Ozmun, 2001) .

    A sociedade moderna de um modo geral impede o desenvolvimento de muitas habilidades perceptivo-motoras. O ambiente das crianas de hoje demasiado passivo e sedentrio. Muitas crescem em cidades grandes, em edifcios de apartamentos, estudam em cresces lotadas e ambientes escolares pouco propcios aprendizagem por meio do movimento.

    Assim, so poucas as crianas na sociedade contempornea que sobem s rvores, andam nos muros, mergulham em riachos, perdendo muitas das experincias que deveriam ter para desenvolver as suas habilidades motoras. As crianas que passam o seu tempo a ver televiso e jogar computador desenvolvem hbitos passivos e sedentrios. A ausncia de experincias motoras variadas e as adaptaes que vm com a prtica e a repetio podem reprimir o desenvolvimento motor.

    Desenvolver certas habilidades motoras em determinada idade, pode ser explicado pela falta de prontido para tal, porm, a ausncia destas mesmas habilidades, em idades mais avanadas, pode indicar distrbio psicomotor surgido no funcionamento das sinergias que determinam certos movimentos (Negrine, 1998). A etiologia da falta de coordenao motora pode estar associada a um conjunto de aspectos ligados essencialmente a factores constitucionais, do desenvolvimento e do envolvimento (Weineck (1986). Nos factores do envolvimento podemos considerar como causa mais importante a falta ou

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de literatura

    insuficincia do movimento e de exercitao (Kiphard, 1977; Dordel, 1987; cit. Mota e Appell, 1995).

    Actualmente, as insuficincias de movimento constituem um referencial importante nos riscos para a sade, onde nas actividades motoras que a criana adquire, entre outros, conhecimentos acerca do seu envolvimento, desenvolve habilidades de carcter cognitivo e motoras, bem como estabelece relaes de socializao com os seus colegas e amigos.

    Quando as insuficincias de movimento so muito acentuadas, alguns autores (Mota e Appell, 1995) apelam necessidade de por exemplo estas crianas beneficiarem de aulas suplementares de Educao Fisica a fim de poderem melhorar a sua coordenao.

    Kiphard (197 6) sugere que estas devem ser encaminhadas para uma ginstica escolar especial, uma vez que uma dbil coordenao pode ser a expresso de uma leve anomalia da capacidade de rendimento da coordenao, ou a causa de uma maturao lenta cerebral ou ainda transtornos cerebrais leves.

    Na prtica desportiva, as insuficincias de coordenao manifestam-se sobretudo nos exercidos de corrida, salto e lanamento e nas suas combinaes, assim como em exerccios de agilidade, habilidade e jogos (Kiphard, 1976). Este autor explica a insuficincia de coordenao quando se trata de aces e reaces musculares, inadaptadas, antifuncionais e antieconmicas causadas por uma dosificao dinmica, temporal e espacialmente inadequada dos impulsos, onde os movimentos so demasiado dbeis ou demasiado fortes; demasiado lentos ou demasiado rpidos; demasiado econmicos ou demasiado exagerados. A distino entre a falta de coordenao e boa

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    coordenao resulta da confrontao dos aspectos mencionados, devendo existir um ritmo cintico (uma alternncia rtmica entre tenso e relaxao).

    Ausubel e Sullivan (1974) cit. Mota e Appel (1995), mencionam dados da literatura indicando que 30-60% das crianas na escolaridade obrigatria apresentam insuficincias posturais, do sistema crdio-respiratrio, ou so excessivamente nervosas estando todos os factores associados a um dficit de movimento.

    Tambm Kuchler e Ludwig (1990) afirmam que 2 0-25% do total das crianas de um determinado nivel etrio possuem um rendimento corporal baixo e apresentam insuficincias a nvel motor. Mota (1992), constatou que na populao portuguesa encontramos igualmente a existncia de problemas coordenativos e posturais bastante acentuados (valores superiores a 50%).

    Kiphard (1976), refere que um movimento ser tanto mais coordenado quanto maior for a economia da energia empregada para executar esse movimento, dizendo que se compreende por coordenao do movimento de acordo com a idade, a interaco harmoniosa entre os msculos, nervos e sentidos com o fim de produzir aces cinticas precisas e equilibradas (motricidade voluntria) e reaces rpidas adaptadas situao (motricidade reflexa).

    Este autor procura caracterizar uma boa e m coordenao motora em funo de algumas variveis (ver Quadro 3), consideradas determinantes no seu entender.

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    Quadro 3 - Qualidades bsicas da coordenao (Kiphard, 197 6)

    Boa Coordenao Motora Fraca Coordenao Motora Preciso do movimento

    Equilbrio corporal, Desenvolvimento espacial, rectilinearidade nos objectivos, movimentos intermitentes, Boa oscilao de movimentos; grosseiros e incorrectamente correcto equilibrado. equilibrados.

    Economia do movimento Equilbrio muscular. Desequilbrio da fora muscular. Utilizao da fora adequada, com impulsos excessivos Situao dinmica, moderada (hiperdinmico) ou demasiado inervao grosseira. fracos (hipodinmico).

    Fluncia do movimento Equilbrio temporal, adequadas Desequilbrio temporal. Rpida situaes do tempo do impulso inadaptao, impulsos abruptos muscular, pela rpida reaco. ou aumentados e intermitentes

    pela atrasada reaco motora. Elasticidade do movimento

    Equilbrio da elasticidade Desequilbrio da elasticidade Muscular, elevada actividade muscular. Difcil adaptao, e adaptao da utilizao da execuo muito fraca ou no tenso muscular. elstica, falta de fora muscular.

    Regulao da tenso Equilbrio da tenso muscular Desequilbrio da tenso muscular, Mxima relaxao dos grupos inadequada tenso dos grupos, antagonista, rapidez na antagonistas, defeituosa conduo alterao das relaes da tenso dos impulsos motores; dos diferentes grupos musculares. desequilbrios na troca de impulsos

    (regulao da tenso). Isolamento do movimento

    Equilibrada escolha muscular, Desequilbrio na escolha muscular, enervao objectiva dos grupos inadequada coaco como musculares necessrios para resultado de uma tenso muscular um impulso mximo. exagerada, impulso incorrecto

    e errneo, extra-movimento. Adaptao do movimento

    Equilbrio da reaco de Desequilibrada reaco de regulao sensro-motora. regulao sensrio-motora. Boa adaptao motora Insuficiente adaptao situao e capacidade de adaptao do movimento e deficiente adequada a cada situao capacidade motora. Base para uma do movimento, base de percepo sensorial pouco clara, uma boa percepo sensorial.

    Pela anal ise do Quadro 3, podemos reunir algumas qualidades bsicas para uma boa coordenao: preciso, economia, f luidez, e l a s t i c idade , adaptao do movimento e

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    regulao da tenso do movimento, apontadas por Kiphard (1976) .

    Schmucker et ai., (1984) analisaram a relao entre a actividade habitual e a coordenao motora em 25 crianas de ambos os sexos de 12,35 anos de idade. A actividade fisica foi avaliada atravs de questionrio. A coordenao motora foi avaliada atravs do teste Korperkoordination test fur kinder - KTK (Schilling, 1974, cit. Mota, 1991) e da observao de habilidades motoras bsicas (corrida, salto, agarrar, trepar e rastejar) onde se avaliou o grau de automatizao, a velocidade, o equilbrio, a preciso e fluncia do movimento. Os autores verificaram uma correlao significativa entre a actividade fisica habitual e os resultados do teste KTK (0.48) e actividade fisica e as habilidades bsicas (0.51). No entanto, embora a correlao tenha sido significativa, ela revelou-se fraca (Z2 - 0.26 e r2= 0.23 respectivamente).

    Num outro estudo, Zaichkowsky et ai. (1978) analisaram os efeitos de um programa de actividades fsicas na coordenao, em 299 crianas de sete a onze/doze anos de idade. A amostra foi dividida em grupos experimental e de controlo. Ao grupo experimental foram leccionadas aulas de educao fisica de 50 minutos uma vez por semana ao longo de 24 semanas. A coordenao foi avaliada atravs do teste Korperkoordination test fur kinder - KTK (Schilling, 1974; cit. Mota, 1991). Foram obtidos F significativos em todos os efeitos principais, no foram obtidos efeitos significativos na interaco. O grupo experimental obteve melhores resultados do que o grupo de controlo. Relativamente idade verifica-se que os resultados vo melhorando com o seu aumento. Os rapazes obtiveram resultados superiores aos das raparigas. Os resultados indicam que a participao em actividades fisicas organizadas tem efeitos positivos no

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    desenvolvimento da coordenao em crianas de sete a onze/doze anos, mesmo com apenas uma sesso semanal.

    Podemos referir, em sintese, que a insuficincia de coordenao geralmente dependente da qualidade e quantidade de experincias de movimento que so oferecidas ou permitidas criana (Shnabell, 1990).

    2.2. Caracterizao das capacidades motoras no escalo etrio dos 10/12 anos de idade

    Presume-se que as actividades motoras das crianas representam um do pilares da proficincia motora, corporizando assim uma componente fundamental da criana como organismo biolgico, e constituem-se como um factor importante do seu quotidiano em diferentes ambientes ou envolvimentos: casa, escola, amigos e parceiros, grupos organizados, etc. (Malina, 1980).

    No perodo do Ensino Bsico dos seis aos doze anos as crianas tm, geralmente, uma elevada motivao para a actividade motora e a capacidade para a sus aprendizagem elevada (Hirtz, 1979, cit. Mota e Appell, 1995).

    A idade entre os oito e os doze anos sugerida por vrios autores como a de maior disponibilidade para a aprendizagem. Neste periodo as formas bsicas de movimento como correr, saltar e lanar aperfeioam-se e refinam-se. Hirtz (1976, cit. Weineck, 1986) considera a primeira idade escolar (entre os sete e os dez anos) como idade do desenvolvimento intenso, em que se aperfeioam a capacidade de reaco, a capacidade de alta frequncia motora, a capacidade de equilbrio e de destreza. Por estes motivos esta parece ser a idade mais indicada para o desenvolvimento das qualidades motoras, sendo tambm chamada a idade das primeiras performances (Mitra e Mogos,

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  • Coordenao motora e ve loc idade de reaco Reviso de L i t e r a t u r a

    1990) . Existe assim, uma necessidade de actuar de forma continua, sobre o desenvolvimento das principais capacidades motoras.

    Este escalo etrio, classifica-se como aquele em que os alunos registam progressos especialmente acentuados no que respeita motricidade; os hbitos motores aperfeioam-se e, com base neles, formam-se e melhoram-se outros novos, mais complexos; esta idade marcada por um especial interesse dos alunos pela actividade desportiva, para conhecer o mais possivel e trabalhar as informaes recebidas, dando prova de que so capazes de uma participao consciente e activa no crescimento dos indices e do seu desenvolvimento motor.

    Lucea (1999) divide a actividade motora na idade infantil em trs ciclos (Quadro 4). Quadro 4 - A actividade motora na idade escolar (Lucea, 1999)

    A actividade motora na idade escolar ESPONTNEA ELABORADA CODIFICADA

    (Ciclo Inicial) (Ciclo Mdio) (Ciclo Superior) ~~ 5 a 7/8 anos 8 a 9/10 anos 10 a 11/12 anos

    CARACTERSTICAS - actividade motora livre -sem interiorizao

    no existe uma ideia motora prvia

    a corrida constitui a base dos jogos

    existe uma ideia prvia do movimento - interiorizao da aco motora

    organizao do movimento para chegar a um objectivo concreto

    o jogo tem um simbolismo

    a aco motora orienta-se at eficcia - busca da tcnica adequada - competio com os companheiros - imita actividades prprias dos adultos

    FINALIDADES DA EDUCAO FSICA

    EXPLORAR 0 CORPO E A MOTRICIDADE

    ESTABELECER A MOTRICIDADE BSICA

    INTRODUZIR A MOTRICIDADE ESPECFICA

    Pela anlise do Quadro 4 podemos constatar que na idade dos dez aos doze anos o objectivo introduzir a motricidade especifica, j que as formas bsicas do

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  • Coordenao motora e velocidade de reaco Reviso de literatura

    movimento se encontram mais ou menos aperfeioadas e refinadas. 0 aperfeioamento coordenativo recebe, neste escalo etrio novos objectivos (aperfeioamento da capacidade de aprendizagem motora) e contedos (Hirtz e Holtz, 1987).

    Segundo Hirtz (1979) cit. Mota e Appell (1995), na idade dos nove aos onze/doze anos, parece que j 50% das possibilidades da melhoria das capacidades coordenativas foram alcanadas.

    Para Neto et ai. (1997), os processos de crescimento e maturao so hoje relativamente bem conhecidos, obedecendo a padres estveis e universais. Estes autores consideram duas etapas, que correspondem a dois perodos sensveis no desenvolvimento da criana: a) Aquisio e estabilizao das habilidades motoras fundamentais (at aos seis/sete anos de idade); b) Aquisio de algumas habilidades motoras especificas (aos dez/onze anos de idade).

    No escalo etrio dos dez/doze anos, as crianas esto aptas a aprender com facilidade e rapidez novas habilidades motoras, como consequncia de uma plasticidade ainda mais elevada do cortex cerebral e de uma boa capacidade de percepo (aumento das capacidades de anlise) e de tratamento da informao.

    Esta fase representa o perodo mais propicio de desenvolvimento da capacidade de aprendizagem motora (Bringmann, 1973, citado em Weineck, 1986), assim como da capacidade de diferenciao temporal, de reaco e de ritmo (Hirtz e Holtz, 1987) . Como tal, o ensino e exercitao destas capacidades dever ser privilegiado neste perodo, em que a aprendizagem imediata , segundo Meinel (1976, cit. Weineck, 1986), tanto mais desenvolvida quanto mais as crianas aperfeioarem e desenvolverem a

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  • Coordenao motora e ve loc idade de reaco Reviso de l i t e r a t u r a

    sua motricidade, isto , quanto maior for o seu reportrio motor adquirido.

    Assim, conveniente o ensino e exercitao das capacidades coordenativas de forma a: - Continuar o aperfeioamento coordenativo geral, como desenvolvimento metdico do reportrio motor; - Assegurar a preparao coordenativa das habilidades desportivas a aprender; -Propor uma grande variedade de exerccios com vista a uma slida e eficaz aprendizagem motora; - Aprofundar suficientemente o ensino e a exercitao (Vasconcelos, 1991).

    A capacidade motora velocidade deve desenvolver-se nos mesmos limites de idade que a coordenao, e as suas formas de manifestao devem ser influenciadas favoravelmente entre os dez e os dezoito anos (Mitra e Mogos, 1990). Estes autores referem, no entanto que durante este intervalo de idades surge um periodo menos favorvel ao desenvolvimento da velocidade (dos treze aos quinze anos), denominado de periodo pubertrio.

    A capacidade motora velocidade est fortemente condicionada pela dotao gentica (Carvalho, 1988). A exercitao desta capacidade desde idades relativamente baixas igualmente factor determinante. Efectivamente, a partir dos seis/sete anos de idade a criana possui condies ptimas para executar exerccios em velocidade. Por volta dos treze anos atingir mesmo o rendimento mximo na velocidade de reaco e aproxima-se do mximo no da frequncia dos gestos. As crianas nestas idades apresentam boas condies para o treino da velocidade e algumas das suas componentes atingem muito cedo o valor que tero em adulto. Isto leva-nos a concluir que a capacidade motora velocidade pode e deve ser treinada desde idades muito baixas. A partir desta idade o

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    progresso na velocidade de reaco deve-se fundamentalmente a uma cada vez melhor capacidade de concentrao (Carvalho, 1987). Como, a capacidade de concentrao, nestas idades muito baixa, aconselhvel o treino de velocidade de reaco estimulando assim essa capacidade.

    Segundo Vasconcelos (2002), at aos doze anos existem idnticas condies para os rapazes e raparigas no desenvolvimento das capacidades motoras. Neste escalo etrio as diferenas que existem entre os sexos so: - os rapazes ultrapassam as raparigas em testes de velocidade, salto, lanamento e alguns testes de equilbrio, onde a fora tambm superior; - as raparigas tm mais flexibilidade, sendo o equilbrio esttico e dinmico e a coordenao motora fina tambm superiores.

    Os indices que definem a velocidade, a coordenao e a resistncia aerbia crescem rapidamente, na idade escolar (entre os sete e os catorze anos). Paralelamente ao crescimento destes indices dever dedicar-se uma especial ateno mobilidade, a qual, se no for mantida convenientemente, pode regredir (Mitra e Mogos, 1990). Em estudos levados a cabo por Malina et ai. (1997)cit. Erbaheci e Un (2001) sobre os efeitos da prtica desportiva regular mostram que as pessoas que fazem actividades desportivas com mais regularidade tm um desenvolvimento motor mais rpido e melhor.

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    2.3. Educao Fisica, Actividade Desportiva Extra Escolar e Desenvolvimento das Capacidades Motoras - Que relao?

    A evoluo social vem tributando actividade fisica e desportiva uma importncia crescente nas ltimas dcadas (Mota e Appel1, 1995).

    0 movimento uma componente fundamental e essencial para o desenvolvimento da personalidade do individuo e acentuado o seu valor ou a sua necessidade permanente na formao das crianas e jovens e melhoria dos padres de vida e sade do individuo.

    0 estudo do processo de desenvolvimento de aptides e habilidades fisico-motoras ao longo da ontogense dos indivduos, sobretudo durante o perodo infanto-juvenil, bem como dos efeitos ou influncia do ensino e do treino, so de extrema importncia para professores e treinadores que desenvolvem a sua actividade com indivduos daquela faixa etria (Lopes et ai., 2000).

    A escola e as aulas de Educao Fisica so reconhecidas unanimemente como o local privilegiado, no s para um desenvolvimento corporal e desportivo, como tambm para o alicerar de ideias e assimilao de comportamentos para a sua manuteno futura (Appel e Mota, 1985) . A realizao dos objectivos da educao fisica escolar, s possvel se visar sistematicamente - lio aps lio, trimestralmente, anualmente e ao longo de todo um ciclo de escolarizao dos alunos - a realizao de algumas finalidades de primordial importncia para a sua formao motora; o desenvolvimento das qualidades motoras, a aquisio de um sistema de conhecimentos, habilidades e hbitos motores, a valorizao das influncias do exerccio fsico no apoio da realizao dos objectivos

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    gerais do ensino, contribuindo deste modo para o fortalecimento da personalidade do aluno e para a sua preparao multilateral. A escola e a educao fisica tm a oportunidade de influenciar as crianas e jovens em periodos decisivos da sua vida contribuindo para o desenvolvimento da sua personalidade, nas dimenses scio-afectivas, motora, moral e cognitiva. Como referiu Bento (1995, p. 175) "... o ensino um acto social ou, se preferir, uma forma de actuao ou interaco social..." e ainda, " No ensino da educao fisica e Desporto estamos perante uma forma de interaco social por excelncia".

    Nesta perspectiva, a escola tem portanto uma grande responsabilidade do ponto de vista da preveno e compensao, isto , no sentido de obviar aquelas insuficincias permitindo simultaneamente salientar o valor da educao fisica e do desporto (Bento, 1988).

    Vannier e Gallahue (1978) cit. Lopes et ai. (2000), referem que o objectivo fundamental da educao fisica se encontra no dominio do desenvolvimento fisico-motor, melhorando as capacidades de movimento das crianas e aumentando o nivel das suas aptides.

    Para Banuelos (1986) os objectivos da educao fisica centram-se em duas grandes reas:

    - rea de desenvolvimento das habilidades motoras; - rea de desenvolvimento da condio fisica. Num estudo comparativo entre trinta e cinco paises

    elaborado por Bennett et ai.(1975, cit. Duarte, 1992, pp.19), verificou que na maioria dos paises os objectivos da disciplina de educao fisica se dirigem no sentido de "- Promover o crescimento saudvel e a aptido fisica dos alunos; - Desenvolver as capacidades motoras especificas das modalidades; - Criar o gosto pela prtica de actividades fsicas e desportivas, as quais podero ser praticadas mais tarde na ocupao dos tempos de lazer;

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    - Melhorar o conhecimento sobre os princpios da higiene e desenvolver hbitos pessoais de sade".

    A definio de educao fsica, dada pelo CNADEF(2002) , refere que uma actividade curricular: a) Eclctica (os diferentes tipos de educao fsica -desportos colectivos, ginstica, atletismo, danas, explorao da natureza, natao, etc; b) Inclusiva (adaptada s necessidades de cada aluno); c) visando o desenvolvimento multilateral do aluno (promover a sade, no presente e no futuro, desenvolver a aptido fsico -motora e a cultura motora, as competncias sociais e a compreenso dos processos de exercitao, reflectir criticamente o fenmeno desportivo, etc) . A prtica de actividade fisica diria importante para o crescimento e o desenvolvimento motor saudvel das pessoas (Telama, 1998) .

    Sendo assim, a escola em geral e a Educao Fisica em particular devero ser uma forma de promover uma vida activa, uma vez que a grande maioria das crianas e adolescentes passam muito tempo nela. Devemos considerar a escola e as aulas de Educao Fsica como um local privilegiado, no s para o desenvolvimento corporal e desportivo, como tambm para o alicerar de ideias e assimilao de comportamentos para a sua manuteno futura (Appell e Mota, 1995).

    Hirtz e Holtz (1987) sugerem que o aperfeioamento coordenativo na educao fsica e desporto escolares tem como objectivo conseguir que os alunos possuam no fim da idade escolar uma elevada capacidade funcional de todos os processos de conduo motora, para assim se poderem adaptar a diversificadas situaes motoras e ainda aprenderem novas habilidades.

    Este objectivo poder ser conseguido se se utilizar todas as formas de actividade corporal e desportiva, quer

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    ao nivel do currculo escolar e extra escolar, devendo assim assegurar a continuidade do desenvolvimento e aperfeioamento das capacidades coordenativas em todos os anos escolares, propondo-se as seguintes tarefas apontadas por Hirtz e Holtz (1987) :

    - Aperfeioar e utilizar as vrias formas de base da motricidade (correr, saltar, lanar, trepar, ...) e garantir um enriquecimento sistemtico das experincias motoras;

    - Aperfeioar as capacidades coordenativas fundamentais;

    - Garantir uma racional aquisio e consolidao das tcnicas desportivas atravs de uma ligao sistemtica do aperfeioamento das capacidades coordenativas com o processo de aprendizagem motora;

    - Combinar de forma ptima o aperfeioamento das capacidades condicionais e coordenativas.

    A situao da aula de educao fisica permite criana, por meio de brincadeiras e jogos, perceber do que capaz, os seus limites e as suas potencialidades. D oportunidade expresso das suas dificuldades, utilizando a aco motora como instrumento de formao intelectual, fisica e social.

    Lopes et ai. (2000) acrescentam a todos os objectivos da Educao Fisica expressos anteriormente, que s sero concretizados quando a educao fisica centrar a sua actuao no desenvolvimento da competncia desportivo-motora e na capacidade de rendimento corporal, isto , no desenvolvimento das aptides e habilidades motoras.

    Em Portugal desapareceu da legislao o famoso "asterisco" inscrito no Dec. Lei 286/89, o qual ainda permitia que, de acordo com as condies das escolas,

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    muitas turmas tivessem duas aulas de educao fisica (ou uma aula de dois tempos).

    Mas embora se verifique nos dias de hoje uma melhoria nos espaos de aula nos ltimos anos, fundamental no esquecer que cerca de 1/5 das escolas do nosso pais ainda no tm instalaes cobertas para a prtica da educao fisica e das actividades de desporto escolar.

    Martinek et ai. (1977) verificaram os efeitos de modelos de ensino vertical e horizontal (de acordo com as decises partilhadas pelo professor ou alunos) na coordenao avaliada atravs do teste Korperkoordination test fur kinder - KTK (Schilling, 1974; cit. Mota, 1991) em 600 crianas da escola elementar (do 1. ao 5. grau). Para alm dos grupos experimentais foram tambm usados grupos de controlo para cada uma das cinco classes. Os grupos com modelo de ensino vertical obtiveram resultados significativamente superiores aos grupos com modelo de ensino horizontal e aos grupos de controlo. Os autores verificaram, portanto, que o ensino tem efeitos significativos sobre a coordenao, sendo o modelo de ensino vertical aquele que tem efeitos superiores.

    Quando os estudos analisam os efeitos das aulas de Educao Fisica no desenvolvimento e aprendizagem de habilidades e de aptides coordenativas e psicomotoras referem, na generalidade, efeitos positivos nestas variveis associados ao aumento do nmero de aulas semanais de Educao Fisica (Johnson, 1969; Kemper, 1974; Kemper et al., 1976, 1978; Montecinos e Prat, 1983; Voile et al., 1984; Sarlin et al., 1990; Mota, 1991, cit. Lopes et al, 2000) .

    Depois de analisarem os programas da educao fisica Escolar Larson e Zaichkowsky (1995) concluram que estes eram inadequados na promoo dos niveis da performance motora das crianas. Os mesmos autores referem um estudo

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    levado a cabo por Monroe (1995), onde mostra que a participao no desporto e em actividades de fitness de 10% nas idades doze aos dezassete anos, concluindo que as crianas praticam menos exerccio e so menos activas que em dcadas anteriores. Assim para estes dois autores o currculo escolar deve apelar ao desenvolvimento de trs grandes domnios: (1) Cognitivo; (2) Afectivo e (3) Psicomotor. Os educadores, psiclogos e profissionais da sade, precisam de ser constantemente relembrados de que o crescimento e desenvolvimento motor muito importante para as crianas, crucial para um ptimo desenvolvimento intelectual (Park, 1995) cit. Larson e Zaichkowsky, 1995). Assim, as aulas de educao fisica devem ser mais frequentes e mais rigorosas, os seus programas devem enfatizar a adopo de um comportamento apropriado no sentido de tornar o exerccio fisico vitalcio.

    Parece que o tempo efectivo destinado s aulas de educao fisica insuficiente para um ptimo desenvolvimento das habilidades motoras das crianas. necessrio que as crianas dediquem mais do seu tempo dirio actividade fisico-desportiva or