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  • Sara Figueira da Silva Martins da Conceio

    Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto 2013

  • Sara Figueira da Silva Martins da Conceio

    Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto 2013

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    Atesto a originalidade do trabalho:

    (Sara Figueira da Silva Martins da Conceio)

    Orientadora: Professora Doutora Cludia Silva

    Projeto de Ps- graduao apresentado Universidade Fernando Pessoa

    como parte integrante dos requisitos para obteno

    do grau de Mestre em Cincias Farmacuticas.

    Porto 2013

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    i

    Resumo

    Nos ltimos anos a procura e utilizao das ervas aromticas e especiarias, no somente

    para uso culinrio mas tambm, como forma de tratamento e preveno de doenas

    torna-se cada vez mais evidente. Parecem ter menos efeitos adversos que alguns

    medicamentos e uma terapia alternativa muito adotada.

    A composio qumica de algumas plantas medicinais como o gengibre, o alho e o

    funcho, apresenta efeitos teraputicos benficos para o combate de uma panplia de

    patologias e estados de sade desde h milhares de anos. Porm, como em todos

    produtos fitoteraputicos e farmacolgicos, tambm existem efeitos adversos, dai que

    seja necessrio o seu uso racional quando utilizados como adjuvantes teraputicos.

    Neste trabalho foi feita uma reviso bibliogrfica acerca das principais caratersticas de

    cada uma das especiarias e ervas aromticas acima referidas no que toca sua origem

    botnica, composio qumica, partes das plantas mais utilizadas e ainda produtos

    alimentcios e medicamentosos onde podem ser encontradas.

    As precaues e contraindicaes que devem ser respeitadas tambm so descritas

    igualmente ao longo deste trabalho cientfico, dando especial nfase aos efeitos

    benficos e adversos que cada uma das plantas pode desencadear na sade dos

    indivduos.

    Palavras-chave: ervas aromticas, especiarias, gengibre, alho, funcho, sade.

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    ii

    Abstract

    The last few years have demonstrated that the search and use of herbs and spices not

    only for domestic affairs but also as a way of prevention and treatment of several

    diseases becomes more visible, as they possess less side effects than some of the drugs

    available in the market, becoming now the most used alternative therapy for users.

    The chemical composition of some plants such as ginger, garlic and fennel allow the

    users several beneficial effects in the control and set-to of panoply of pathologies and

    health state for thousands of years. However, as all the others phytotherapeutical and

    pharmacological products, they entail positive and negative effects, which reinforces the

    importance of highlighting these for the rational use of the mentioned plants as

    therapeutic adjuvant.

    In this thesis a bibliographic revision has been made related to the main characteristics

    of each one of the spices and herbs mentioned above regarding their botanic origin,

    chemical composition, most used parts of the plants and also alimentary products and

    drugs where they can be found.

    The precautions and contraindications, which must be respected, are likewise equally

    described along this scientific work, with a special emphasis to the beneficial and side

    effects that these plants can arouse, in general, in every living beings health.

    Keywords: herbs, spices, ginger, garlic, fennel, health.

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    iii

    Agradecimentos

    Como a vida um caminho a percorrer cheio de aventura e objetivos a superar, e a

    dissertao constitui a ltima etapa de uma grande peripcia que est quase a terminar

    que o meu to desejado curso de Cincias Farmacuticas, no poderia deixar de referir

    as pessoas que tanto me ajudaram e acompanharam durante este percurso.

    Queria agradecer Universidade Fernando Pessoa, por me ter proporcionado todas as

    condies necessrias para que o meu sonho se tornasse realidade. Muito obrigada.

    Um agradecimento em especial, professora doutora Cludia Silva, a minha

    orientadora, por me ter conduzido durante todo o desenvolvimento desta dissertao

    sempre da melhor forma e profissionalismo. Agradeo a disponibilidade, pacincia,

    humanidade e ateno que apresentou de forma a indicar sempre solues e

    esclarecimentos para as minhas dificuldades. O meu Muito Obrigada.

    O meu sincero agradecimento s minhas amigas, que sempre fizeram parte deste longo

    percurso acadmico, pelo incentivo, carinho, amizade, fora e dedicao que sempre

    demonstraram, a elas, Yelena Duarte, Catarina Silva, Agostinho Couto, Joana Guedes,

    Sara Caires e Carla S, o meu obrigada por tudo.

    Aos meus irmos, Frederico Conceio e Sofia Teixeira, um muito obrigada pela fora

    nesta etapa da minha vida.

    Aos meus pais, Joo Conceio e Rita Silva, porque sem eles no seria possvel a minha

    formao acadmica, e especialmente h minha me, pela pacincia e dedicao que

    sempre demonstrou.

    A todos agradeo sinceramente, hoje, amanh e sempre, porque tal como Fernando

    Pessoa dizia: Tudo Vale a pena se a alma no pequena. Muito Obrigada !!

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    iv

    ndice

    Resumo .......................................................................................................................... i

    Abstract ........................................................................................................................ ii

    Agradecimentos .......................................................................................................... iii

    Lista de abreviaturas ................................................................................................. vii

    ndice de Figuras ........................................................................................................ ix

    ndice de Tabelas ......................................................................................................... x

    I. Introduo ................................................................................................................ 1

    II. Desenvolvimento ..................................................................................................... 3

    A- Gengibre (Zingiber Officinale) .............................................................................. 4

    1.Caracterizao da planta e suas aplicaes ................................................................. 4

    2.Composio do gengibre ............................................................................................ 5

    3.Os beneficios do gengibre na sade ........................................................................... 7

    i.O gengibre e o cancro da pele ..................................................................................... 8

    ii. O gengibre e o cancro da cavidade oral .................................................................... 9

    iii.O gengibre e o trato gastrointestinal ......................................................................... 9

    iv.O gengibre e o cancro nos pulmes ......................................................................... 12

    v.O gengibre e o cancro heptico................................................................................. 13

    vi.O gengibre e o cancro na bexiga ............................................................................. 13

    vii.O gengibre e o cancro pancretico ......................................................................... 14

    viii.Efeitos na obesidade e na perda de peso corporal ................................................. 14

    ix.Capacidade antioxidante do gengibre ...................................................................... 16

    x.O processo inflamatrio e o gengibre ....................................................................... 18

    xi.O processo apopttico e o gengibre ......................................................................... 19

    xii.Comparao da atividade antiemtica do gengibre com um farmco .................... 20

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    v

    xiii. Efeitos adversos provocados pelo gengibre (Zingiber officinale) ........................ 20

    xiv. Interaes medicamentosas na presena do gengibre ........................................... 21

    B- Alho (Allium sativum L.) ....................................................................................... 22

    1. Caracterizao da planta e suas aplicaes.............................................................. 22

    2.Composio do alho ................................................................................................. 24

    3. Os beneficios do alho na sade................................................................................ 25

    i. As doenas cardiovasculares e o alho ...................................................................... 25

    ii. Arteriosclerose e o alho ........................................................................................... 26

    iii.Presso arterial, triglicerdeos e alho....................................................................... 27

    iv. Atividade anticancergena do alho e dos seus derivados ........................................ 28

    v. Cancro uterino e alho ............................................................................................... 30

    vi.Hiperplasia prosttica benigna (HPB)/ Cancro da prstata e o alho ....................... 30

    vii. Desintoxicao do organismo na presena de alho ............................................... 31

    viii. Ao do alho sobre a bactria Helicobacter pylori .............................................. 32

    iv. Capacidade antioxidante do alho ............................................................................ 32

    x. Alteraes farmaocinticas relacionadas com a presena do alho .......................... 33

    xi. Precaues de utilizao ......................................................................................... 34

    xii.Efeitos adversos provocados pelo alho (Allium sativum L.) ................................... 34

    C- Funcho (Foeniculum vulgare).......36

    1. Caracterizao das plantas e suas aplicaes ......................................................... 36

    2.Composio do funcho. ............................................................................................ 38

    3. Os beneficios do funcho na sade. .......................................................................... 39

    i.Capacidade anti-inflamatria do funcho ................................................................... 39

    ii.Capacidade antifngica e antibacteriana do funcho ................................................. 40

    iii. Problemas gastrointestinais e o funcho Funcho ..................................................... 41

    iv.Trato respiratrio e o funcho ................................................................................... 43

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    vi

    v.Sistema urinrio/ HTA e o funcho ............................................................................ 44

    vi.Atividade estrognica e a dismenorreia ................................................................... 46

    vii.Hirsutismo e o funcho. ........................................................................................... 48

    viii.Interaes medicamentosas no consumo do funcho .............................................. 50

    ix.Precaues e contraindicaes ................................................................................. 50

    x.Efeitos adversos provocados pelo funcho (Foeniculum vulgare) ............................ 50

    VI. Concluses ............................................................................................................ 53

    VII. Referncias bibliogrficas..................................................................................54

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    vii

    Lista de abreviaturas

    AAS- cido acetilsaliclico

    AINES- Anti-inflamatrios no esterides

    AMP Cclico- Monofosfato cclico de adenosina

    ATP- Adenosina-trifosfato

    CAT- Catalase

    COX- Cicloxigenase

    DADS- Disulfeto dialila

    DAS- Sulfeto dialila

    DATS- Trisulfeto dialila

    DM- Diabetes mellitus

    DNA- cido desoxirribonuclico

    ESCOP- Cooperativa Europeia Cientfica sobre a Fitoterapia

    FDA- Food and Drug Administration

    GMP Cclico- Monofosfato cclico de guanosina

    GPx- Glutationa peroxidase

    GR- Glutationa redutase

    GSH- Glutationa

    GST- Glutationa-S-transferase

    HPB- Hiperplasia prosttica benigna

    HTA- Hipertenso arterial

    LDL- Lipoprotena de baixa densidade

    NADPH-Oxidase- nicotinamida adenina dinucleotdeo fosfato oxidase

    NE- Norepinefrina

    OMS- Organizao Mundial de Sade

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    viii

    OSCs- Compostos organossulfurados

    PGE2- Prostaglandina E2

    RNA- cido ribonuclico

    ROS Espcies reativas de oxignio

    SK-MEL-2- Human skin melanoma cell line

    SNS- Sistema nervoso simptico

    SOD- Superxido dismutase

    TNF-- Fator de necrose tumoral

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    ix

    ndice de Figuras

    Figura 1- Planta herbcea (Zingiber officinale Roscoe) e respetivo rizoma.....................4

    Figura 2- Componentes no-volteis presentes no gengibre.............................................6

    Figura 3- Atividade do gengibre na preveno/evoluo do cancro dos pulmes..13

    Figura 4- Efeitos quimiopreventivos do gengibre. ( - aumento; - diminuio)...19

    Figura 5- Allium sativum em corte horizontal....23

    Figura 6- Planta herbcea medicinal Foeniculum vulgare..................37

    Figura 7- Hirsutismo num paciente antes do tratamento com Foeniculum vulgare....49

    Figura 8- Hirsutismo num paciente depois do tratamento com Foeniculum vulgare..49

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    x

    ndice de Tabelas

    Tabela 1- Classificao e composio (ug/g) dos componentes do alho.24

    Tabela 2- Diferentes constituintes do alho relacionados com os vrios tipos de cancro.29

    Tabela 3-. Composio quantitativa do Foeniculum vulgare..38

    Tabela 4- Composio dos acares contidos no Foeniculum vulgare...38

    Tabela 5- Proporo dos cidos gordos polinsaturados presentes no Foeniculum

    vulgare.39

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    1

    I- Introduo

    As ervas aromticas e especiarias so plantas ou partes de plantas, que so conhecidas e

    amplamente utilizadas, na forma fresca, seca ou congelada, pelo ser humano desde h

    milhes de anos. Na culinria so intensificadores de sabor dos alimentos (tempero) e

    conservantes dos alimentos devido s suas propriedades antimicrobianas, mas so

    tambm utilizados em infuses, em incensos, como afrodisacos e em celebraes e

    rituais (Belitz et al., 2004; Biesalsk e Grimm, 2007).

    Atualmente o recurso a produtos naturais cada vez mais notrio e dado o efeito que as

    especiarias e ervas aromticas podem ter na sade importante conhecer melhor o seu

    papel na culinria e nas aplicaes farmacuticas (Rodrigues e Silva, 2010).

    Uma das principais caractersticas das ervas aromticas e especiarias a sua capacidade

    antioxidante atribuda sua riqueza em vrios compostos fenlicos. Estes compostos

    neutralizam os radicais livres ajudando assim a prevenir o aparecimento de algumas

    doenas graves, como a doena inflamatria crnica e tumores.

    Apesar destas substncias no conferirem valor nutritivo significativo quando

    consumidas, sabe-se que a sua aplicao pode ter efeitos benficos na sade,

    nomeadamente na preveno de doenas como a diabetes, hipertenso arterial,

    obesidade e os cancros do fgado, clon, entre outros (Paur, 2011). As especiarias e

    ervas aromticas atuam a nvel do aparelho digestivo ao melhorar a digesto atravs do

    aumento da produo de suco gstrico conseguido pelos cidos fenlicos, cumarinas,

    flavonides presentes nestas substncias. Estes efeitos a nvel gastrointestinal regulam a

    formao de gases e previnem indigestes (Hunter, 2002).

    Pelos motivos apresentados estes produtos so consumidos, muitas vezes, como auto-

    tratamento e podem ser vistas como novas formas e alternativas de tratamento em

    medicina (Sandhu e Heinrich, 2005).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    2

    Esta dissertao foi desenvolvida com o objetivo de identificar os principais

    componentes do gengibre, alho, funcho com efeito na sade humana. A escolha destas

    plantas medicinais como o gengibre e alho foi pelo fato de serem muito atuais e

    aconselhadas para a sade humana, no caso do funcho alm da curiosidade que

    despertou, trata-se de uma planta que existe em abundncia e que por isso batizou o

    nome da minha terra, como Funchal.

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    3

    II- Desenvolvimento

    Esta dissertao constituda apenas por uma parte terica, estando desta forma isenta

    de qualquer tipo de procedimento prtico.

    Em termos metodolgicos e tendo por base os objetivos traados para o

    desenvolvimento desta tese, procedeu-se pesquisa de artigos cientficos e outras

    publicaes em vrias bases de dados como o PubMed, Science Direct e a B-On. Os

    critrios utilizados ao longo desta pesquisa cientfica foram vrios, destacando-se com

    prioridade, os artigos cientficos escritos em lngua inglesa, com data de publicao de

    um perodo mximo de 5 anos e ainda com determinaes/ investigaes realizadas em

    animais e em seres humanos.

    Na pesquisa foram identificados 24 artigos cientficos disponveis on-line e em texto

    completo, porm com o objetivo de aprofundar melhor o tema relativamente aos efeitos

    do gengibre, alho e do funcho houve necessidade de recorrer a vrios dados

    bibliogrficos presentes dentro dos artigos acima referidos.

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    4

    A- Gengibre (Zingiber officinale)

    1. Caracterizao da planta e suas aplicaes

    O gengibre, descrito em 1807 por William Roscoe, uma especiaria muito utilizada no

    mundo que pertence famlia Zingiberaceae, cuja denominao latina Zingiber

    officinale e grega: Zinziberi (Vasala, 2004b; Palatty P.L. et al., 2013).

    Figura 1 Planta herbcea (Zingiber officinale Roscoe) e respetivo rizoma, (adaptado de Baliga et al.,

    2011).

    Esta planta herbcea de clima tropical, com origem no sudeste asitico, constituda por

    rizomas bulbosos e aromticos de colorao amarela; caules verdes e compridos

    podendo atingir at 60 cm de altura; e folhas lisas com dois a trs metros de altura

    (Shukla e Singh, 2007) (Grunwald e Janicke, 2009a). As partes da planta mais

    utilizadas so os rizomas que, devido s suas propriedades (como especiaria e

    condimento e como planta medicinal) comearam a ser difundidas pela China e pela

    ndia, h muitos anos, para pases como a Nigria, o Havai, a Austrlia, a Indonsia, a

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    5

    Jamaica, entre outros onde so cultivados (Park e Pizzuto, 2002; Althman e

    Marcussen, 2001; Vasala, 2004a).

    O rizoma pode ser utilizado: fresco no tempero de pratos, de bebidas, em receitas de

    biscoitos, bolos, po, pickles, doces (Bakhru, 1999); em cpsulas; ou em p (devendo

    para isso ser misturado com gua) (Grunwald e Janicke, 2009b).

    Atravs do rizoma desta planta podemos obter o gengibre na sua forma seca ou fresca,

    que possuem diferentes propriedades, pois a secagem leva alterao da sua

    composio (Ali et al., 2008). Desta forma, tanto o aroma como o sabor caractersticos

    das duas formas do gengibre so distintos. Pode ainda ser apresentado na forma

    pulverizada, ou seja em p, cristalizada, ou at em soluo (ex: infuso de gengibre) o

    que acarreta mais alteraes na sua composio (Govindarajan, 1982a).

    As partes da planta do gengibre mais utilizadas em teraputica so os rizomas que tm

    na sua composio hidratos de carbono (glucose, amido e frutose), protenas, cinzas,

    fibras brutas, gua, leo voltil e tambm leos gordos.

    2. Composio do gengibre

    Na sua composio existem dois grupos distintos a ter em conta os compostos volteis e

    os compostos picantes no volteis que so os responsveis pelo cheiro e paladar

    caractersticos do gengibre. Os compostos volteis so um conjunto de vrios

    elementos, destacando-se os hidrocarbonetos sesquiterpnicos, como, o zingebereno

    (35%), curcumeno (18%), farneseno (10%). Em menores quantidades e com menos

    importncia medicinal existem ainda os bisaboleno e o b-sesquifelandreno. De acordo

    com a frao voltil existem ainda dentro de vrios compostos monoterpnicos

    diferentes, o 1-8-cineol, linalol, borneol, neral e em maiores quantidades o geranial.

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    6

    O sabor picante que carateriza o gengibre provm dos compostos no volteis picantes,

    mais precisamente, do zingerone, apesar do gengibre ser constitudo por mais

    substncias farmacolgicas no volteis como, os gingeris, soagis e paradis.

    Figura 2- Componentes no-volteis presentes no gengibre, (adaptado de Shukla e Singh, 2007).

    Os gingeris so compostos que depois de submetidos a um processo de desidratao

    formam os soagis. Estes soagis por sua vez podero dar origem aos paradis, que so

    compostos parecidos com gingerol e so obtidos por hidrogenao (Govindarajan,

    1982b; Chung-Yi et al., 2012).

    De acordo com a sua composio, podemos encontrar em maiores quantidades e como

    componentes ativos os gingeris na sua forma fresca e ainda os soagis na sua forma

    seca (Connell e Sutherland, 1969).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    7

    Tanto os gingeris como os soagis so compostos fenlicos muito importantes na

    composio do gengibre, pois possuem propriedades farmacolgicas benficas ao bem-

    estar e sade do Homem, nomeadamente efeitos anticancergenos e quimiopreventivos

    (Grzanna et al., 2005; Kundu et al., 2009).

    Alm dos compostos acima referidos, existem outros constituintes que no esto

    includos nos grupos destacados como, as vitaminas, minerais, hidratos de carbono,

    gorduras e ceras, bem como uma enzima que se encontra muito concentrada no rizoma

    do gengibre denominada de zingibana (Vasala, 2004a; Shukla e Singh, 2007).

    3. Os benefcios do gengibre na sade

    Os rizomas do gengibre so dotados de inmeras aplicaes a nvel da rea da sade.

    Desta forma, esta planta pode ser utilizada para combater algumas doenas e

    perturbaes da sade, mas a principal propriedade farmacolgica que lhe atribuda

    no combate de problemas gastrointestinais, como nuseas, vmitos, dores de estmago,

    diarreia, flatulncia e ainda lceras gstricas (Usha e Krishnapura, 2009).

    Outra vantagem teraputica que esta planta medicinal/ especiaria possui a preveno

    contra o enjoo (ao antiemtica), tanto em situaes de gravidez como em casos de

    quimioterapia e ainda no ps-operatrio (Baliga et al., 2011). Porm estudos mostram

    que o gengibre possui outro tipo de ao teraputica como sendo, antimicrobiano, anti-

    inflamatrio, antipirtico, diurtico, antioxidante, hepatoprotetor e ainda responsvel

    pela diminuio e controlo da glicmia e do colesterol. Esta planta tambm pode ser

    utilizada em casos de problemas respiratrios como a asma e tambm como expetorante

    e antiespasmdico. Pode igualmente combater problemas reumticos, artrites, entre

    outros (Baliga et al., 2011; Palatty P.L. et al., 2013).

    Uma parte substancial das causas de mortalidade, no mundo, so atribudas s

    neoplasias tornando-se, por isso, necessrio preveni-las. O gengibre poder dar o seu

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    8

    contributo por possuir propriedades anticancergenas e ajudar a diminuir a incidncia

    destas doenas nas populaes (Doll e Peto, 1981; Mashhadi N.S. et al., 2013).

    A preveno das neoplasias pode ser feita atravs do combate ao tabagismo, adoo

    de uma alimentao saudvel rica em hortcolas, fruta e especiarias. Poder-se-ia

    prevenir cerca de 75 a 80% dos cancros diagnosticados como o do clon, o

    gastrointestinal e o prosttico como demonstrado em povos indianos e asiticos

    (Bliveau e Gingras, 2007; Research, 2007).

    O gengibre foi j identificado como ferramenta teraputica pelo fato de conseguir, por

    vezes, combater o aparecimento de alguns cancros independentemente do grau de

    gravidade, sendo-lhe atribudos efeitos quimiopreventivos (Aggarwal e Shishodia,

    2006).

    i. O gengibre e o cancro da pele

    O extrato de gengibre bem como alguns fitoqumicos presentes no rizoma do mesmo (6-

    gingerol, 6-paradol e 6-soagol) quando aplicados topicamente podem ter efeitos

    benficos na preveno do aparecimento do cancro da pele; reduo da sua

    multiplicao, e no caso de j existir, evitam o aumento do tamanho do mesmo (Surh,

    1999).

    Vrios estudos demonstraram que o gengibre para aplicao tpica tem capacidade para

    inibir a atividade de vrios componentes como o TPA-induced epidermal ODC cyclo

    oxigenase, responsvel por provocar efeitos na pele como edema e hiperplasias,

    reduzindo-os significativamente (Katiyar et al., 1996). Sabe-se ainda que a colocao

    tpica do fitoqumico 6-gingerol vai impedir o aparecimento de inflamaes e da

    formao de papilomas na pele, por inibio de alguns elementos especficos como

    TPA-induced inflammation e DMBA- induced, respetivamente (Surh et al., 1999). Alm

    do que foi anteriormente referido, este fitoqumico ainda tem como vantagem impedir o

    crescimento dos tumores instalados na pele (Baliga et al., 2011).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    9

    Outro aspeto o fato do 6-gingerol permitir aumentar os componentes responsveis

    pela apoptose, sendo que este vai provocar um efeito txico nas clulas A431 que por

    sua vez vo originar compostos reativos de oxignio (ROS). Estes ltimos por

    produzem uma diminuio da expresso da membrana mitocondrial e aumento do

    processo apopttico. O processo de apoptose ento mediado pelas enzimas caspases

    que so induzidas pela presena deste fitoqumico superfcie da pele (Nigam et al.,

    2009).

    Porm necessrio destacar que os fitoqumicos do rizoma do gengibre exceto o 6-

    paradol possuem efeitos txicos a nvel da pele, mais especificamente na clula SK-

    MEL-2, clula responsvel pelos melanomas na pele humana (Kim et al., 2008 ).

    ii. O gengibre e o cancro da cavidade oral

    Os fitoqumicos provenientes do rizoma do gengibre, como o caso dos paradis (6-

    paradol, 6-dehidroparadol, entre outros), so responsveis pela inibio da proliferao/

    aparecimento do cancro da cavidade oral, visto que atuam na induo da apoptose

    (Baliga et al., 2011).

    Alguns dos fitoqumicos da srie dos paradis podem ter efeitos txicos nas clulas

    como o caso do 6 e 3- dehidroparadol e menos o 6-paradol (Keum et al., 2002).

    iii. O gengibre e o trato gastrointestinal

    O gengibre e seus constituintes so particularmente conhecidos por terem efeitos

    benficos a nvel gastrointestinal, pois previnem ou neutralizam lceras gstricas

    funcionando como protetores do estmago (Yoshikawa et al., 1994; Haniadka R. et al.,

    2013). Este efeito devido ao 6-gingerol e 6-soagol que reduz a proliferao da

    Helicobacter pylori, agente etiolgico das lceras gstricas e da neoplasia gstrica

    (Siddaraju e Dharmesh, 2007), minimizando assim a incidncia de lceras gstricas,

    cancro gstrico ou no clon (Mahady et al., 2003).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    10

    O cancro colon-retal muito invasivo e comum, principalmente na Europa,

    apresentando uma taxa de mortalidade muito elevada ao longo dos anos (Parkin et al.,

    2005). Estudos mostram que o 6-gingerol tem capacidade anti-proliferativa e

    anticancergena ao atuar em clulas especficas responsveis pelo desenvolvimento do

    cancro no clon e reto, como o caso das clulas YYT e das clulas MS1 endoteliais

    (Brown et al., 2008).

    Podemos verificar ainda que tanto o 6-gingerol como o 6-soagol podem desencadear

    efeitos txicos ao nvel de algumas linhagens celulares como o HCT-15 (Kim et al.,

    2008). Porm determinou-se que o soagol tem maior capacidade para inibir a linhagem

    celular HCT-16 impedindo deste modo o desenvolvimento do cancro colo-retal

    humano.

    Tanto os gingeris, soagis como os paradis tm efeito preventivo a nvel do cancro do

    colo-retal. Estudos mostram que a administrao oral de gengibre diminui o nmero de

    tumores que podem aparecer e desenvolver-se no clon e reto, bem como a incidncia

    dos mesmos. A administrao de gengibre, no Homem, inibe a peroxidao lipdica

    bem como a reduo do teor em vitaminas E, A e possibilita o aumento de compostos

    antioxidantes presentes no organismo como por exemplo a catalase, SOD, entre outros

    (Manju e Nalini, 2005a, 2006). Outros estudos mostram que o gengibre consegue

    prevenir a colite ulcerosa, patologia que est altamente associada ao risco do

    aparecimento deste mesmo cancro (El-Abhar et al., 2008a).

    Assim sabe-se que, o 6-gingerol tem como ao induzir a apoptose e impedir a

    proliferao das clulas cancergenas humanas bem como, impedir o desencadeamento

    normal do ciclo das clulas G1. importante salientar que tambm permite dificultar o

    crescimento do cancro j instalado, caraterizando-se desta forma, o 6-gingerol como um

    potencial adjuvante teraputico deste tipo de cancros muito comuns no mundo (Jeong et

    al., 2009; Lee et al., 2008).

    O consumo de bebidas alcolicas e medicao, como os AINES, so um ponto de

    partida para o aparecimento de alteraes a nvel gastrointestinal, nomeadamente a

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    11

    diminuio da libertao de suco gstrico, reduo da produo e secreo de

    bicarbonato, permeabilidade alterada e aumento da produo de radicais livres no

    organismo, tornando-se necessrio encontrar algum componente que impea este tipo de

    acontecimentos, neutralizando desta forma o funcionamento normal do estmago.

    Estudos efetuados em pacientes que tomavam AINES para combater problemas de

    osteoartrite, mostraram que esta medicao provoca problemas a nvel gstrico, pois

    alteram a funo muscular associada libertao de suco gstrico, havendo

    comprometimento do estmago. A ingesto de gengibre nestes casos melhorou a

    gastropatia existente nos utentes pois permitiu aumentar a libertao de prostaglandinas

    e de gastrina, que tm por base melhorar a proteo do estmago devido ao aumento da

    secreo de suco gstrico (Salim, 1990; Marhuenda et al., 1993; Vladimir et al., 2012).

    O estmago possui varias enzimas que so responsveis por realizar a neutralizao dos

    radicais livres que so produzidos no organismo, de modo a minimizar o

    desenvolvimento do stress oxidativo, doenas cardiovasculares, doenas inflamatrias e

    em casos mais avanados formao de cancros. Estas enzimas so muito importantes no

    organismo, pois direcionam-no para um funcionamento eficaz e so elas, superxido

    dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa redutase (GR) e a Glutationa-S-transferase

    (GST) (Baliga et al., 2011). Foram realizados estudos em animais (ratos), com vrias

    especiarias nas quais o gengibre (0,05%) estava includo com o objetivo de determinar a

    capacidade do mesmo em termos proteo gstrica. Ficou demonstrado, aps a

    realizao de um dieta com este tipo de especiarias, que o gengibre estimulou as

    enzimas da mucosa gstrica, com um total de 31%, 58%, 57% e 40%, a mais para a

    CAT, SOD, GST e GR, respetivamente. E para as enzimas antioxidantes da mucosa

    intestinal, observou-se uma atividade de 48%, 11%, 67% e 50%, para a CAT, SOD,

    GST e GR, respetivamente (Usha e Krishnapura, 2009). J com a ingesto de bebidas

    alcolicas, verificou-se uma diminuio da atividade do gengibre a nvel gstrico, mais

    precisamente na estimulao das enzimas antioxidantes, de, 29%, 24%, 37%, para as

    enzimas, SOD, GST e GR, respetivamente, pois no caso da CAT, o etanol no interferiu

    com a sua atividade metablica (Usha e Krishnapura, 2009).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    12

    iv. O gengibre e o cancro nos pulmes

    O cancro nos pulmes considerado o mais mortal em todo o mundo, logo seguido pelo

    da mama (Fund e Research, 2007). O gengibre funciona como um txico para as

    clulas basais alveolares inseridas no cancro pulmonar humano (Kim et al., 2008 ). Este

    efeito conseguido maioritariamente por parte dos soagis do que pelos gingeris,

    como descrito atualmente (Hung et al., 2009) visto que o 6- soagol apresentou

    capacidade antiproliferativa a nvel do cancro pulmonar induzindo a morte das clulas

    cancergenas.

    Vrios estudos revelaram que o gengibre eficaz quando utilizado em tratamento

    crnico, pois consegue impedir o desenvolvimento da neoplasia pulmonar. importante

    referir que o gengibre, mais precisamente um extrato aquoso retirado do mesmo, tem a

    capacidade de prevenir o aparecimento desta patologia sem provocar qualquer tipo de

    alterao no organismo, como perda de peso, variao dos componentes plasmticos e

    aparncia fsica (Nagasawa et al., 2002).

    Por outro lado, a presena do fitoqumico derivado do gengibre no organismo,

    denominado de acetato 1- acetoxychavicol, previne igualmente o desenvolvimento, bem

    como o aparecimento deste cancro uma vez que vai influenciar positivamente os

    processos apoptticos e ainda antineoplsicos no corpo. A utilizao deste derivado do

    gengibre como agente teraputico permite diminuir a viabilidade celular, diminuindo

    assim o progresso da doena e de possveis metstases (Campbell et al., 2007).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    13

    Figura 3- Atividade do gengibre na preveno/evoluo do cancro dos pulmes, (adaptado de Baliga et

    al., 2011).

    v. O gengibre e o cancro heptico

    O cancro heptico um dos mais comuns do mundo, embora o pulmonar tenha afetado

    muitas mais pessoas ao longo dos tempos. A neoplasia heptica pode ser causada pelo

    vrus da hepatite B, bem como pela ingesto de toxinas hepticas (Habib et al., 2008a;

    Wang et al., 2005). Por isso possvel que o gengibre tenha a capacidade para o

    minimizar uma vez que possui propriedades anti-inflamatrias e anticancergenas

    (Habib et al., 2008b).

    vi. O gengibre e o cancro na bexiga

    Estudos mostraram o gengibre quando consumido pode impedir o possvel

    aparecimento de hiperplasias ou neoplasias na bexiga, pois permite minimizar as leses

    que surgem neste tipo de situaes. Este tipo de doena pode estar associada no s ao

    tabagismo bem como exposio do organismo a certos qumicos como o caso da

    benzina, 4- nitrobifenil, xenilamina, entre outros. O cancro da bexiga muito comum no

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    14

    homem, da a ser necessrio evitar o contato com os elementos referidos anteriormente

    (Ihlaseh et al., 2006; Baliga et al., 2011).

    vii. O gengibre e o cancro pancretico

    Outra patologia considerada fatal e inevitvel o cancro no pncreas, que possui uma

    taxa de sobrevivncia muito reduzida devido capacidade de metastizar (Research.,

    2007).

    O tratamento com o 6-gingerol, composto extrado do gengibre, apresenta capacidade

    para impedir o crescimento do cancro em questo. Mais especificamente o 6-gingerol

    provoca a destruio das clulas BxPC-3 que possuem um gene p53 mutado e das

    clulas HPAC que tm na sua constituio um p53 tipo selvagem. Estas duas linhagens

    de clulas encontradas no cancro pancretico foram utilizadas com o intuito de avaliar a

    potencialidade do gengibre (Park et al., 2006). A utilizao de 6-gingerol nesta

    neoplasia leva ao desaparecimento destas clulas, apesar das segundas (HPAC)

    demorarem mais tempo a serem eliminadas que as primeiras (BxPC-3) (Park et al.,

    2006; Baliga et al., 2011).

    viii. Efeitos na obesidade e na perda de peso corporal

    Atualmente, existe uma procura cada vez maior por parte da populao de produtos que

    auxiliem na diminuio da acumulao de gorduras no organismo, prevenindo desta

    forma o excesso de peso ou mesmo a obesidade (Plantenga et al., 2006).

    Tanto o gengibre como os seus derivados, nomeadamente, 6-gingerol, 8-gingerol e

    zingerone so timos candidatos para auxiliar as pessoas que necessitam de perder peso

    ou que por outros motivos no querem acumular gorduras no seu organismo.

    Tendo em conta que o Sistema Nervoso Simptico (SNS), o responsvel pela

    regulao do balano energtico do organismo, natural que tenha um papel importante

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    15

    na regulao da temperatura corporal prevenindo o aumento do peso corporal e a

    obesidade (Dullo, 2002, 2004).

    A funo exercida por parte do SNS, prende-se com o fato, de este conseguir regular a

    temperatura corporal, que pode ser conseguida atravs da norepinefrina (NE), que

    possui capacidade para o organismo utilizar a adenosina-trifosfato (ATP), ou pelo fato

    de existir um aumento da taxa de oxidao mitocondrial que por sua vez levar a um

    aumento da produo de calor, impedindo a acumulao de compostos que possam

    aumentar o risco de obesidade e ganho de peso.

    Deste modo, e tendo em conta que o gengibre considerado uma substncia

    termognica, ou seja, com capacidade para estimular o metabolismo para utilizar

    gorduras, impedindo o ganho de peso, importante aproveit-lo para estimular o SNS

    ativando-o. Este efeito traduz-se, num aumento do gasto de energia na forma de calor,

    aumentando a termognese e impedindo um aumento do balano positivo energtico no

    organismo. A estimulao do SNS, mais precisamente do recetor TRPV1, recetor este

    relacionado com o mecanismo de termognese, tambm proporciona outros efeitos

    benficos na perda de peso como, inibio da fosforilao oxidativa, uma reteno de

    clcio no organismo e ainda, ativao da ATPase, conjunto de enzimas responsveis por

    desdobrar a molcula de ATP em forma de calor (Reanmongkol et al., 1988; Eldershaw

    Tp. et al., 1994).

    Em estudos realizados sobre o efeito do uso de gengibre e dos seus derivados na

    alimentao por forma a estimular o SNS, verificou-se que, o 6-gingerol e 8- gingerol

    so potentes agonistas do recetor TRPV1, atuando positivamente no mecanismo da

    termognese (Devod et al., 2002). Por outro lado, o zingerone, substncia resultante da

    degradao do gingerol, no apresentou qualquer tipo de ao a nvel do recetor

    TRPV1, devido falta de uma cadeia lateral na sua estrutura molecular (Plantenga et

    al., 2006).

    Em ratos de laboratrio verificou-se que, o 6-gingerol, possua propriedades

    termognicas mais acentuadas quando comparados com os outros constituintes do

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    16

    gengibre, pois provocou vasoconstrio levando a um acrscimo de oxignio

    consumido, sendo que esta vasoconstrio traduziu-se num maior gasto de ATP e

    consequentemente maior perda de peso corporal (Liu e Simon, 1996; Eldershaw Tp. et

    al., 1994). Apesar de estes estudos no serem transpostos para humanos verifica-se,

    efetivamente, que o gengibre e alguns dos seus derivados possuem propriedades

    termognicas contribuindo para a diminuio da obesidade e do aumento de peso

    corporal devido ao efeito de sudorese que provocam no organismo (Henry e Piggot,

    1987; Plantenga et al., 2006).

    ix. Capacidade antioxidante do gengibre

    Nas ltimas dcadas tm sido estudados vrios sistemas para explicar a capacidade

    antioxidante que o gengibre e seus derivados fitoqumicos possuem.

    O gengibre e seus fitoqumicos tm a capacidade para diminuir a quantidade de agentes

    indesejveis no organismo, prevenindo a acumulao de xido ntrico, superxidos,

    perxido de hidrognio e outros radicais livres, responsveis por vrios tipos de

    patologias (Baliga et al., 2003). Vrios investigadores como Ippoushi et al, defendem

    que esta sustncia, mais especificamente o 6-gingerol possui potentes efeitos

    antioxidantes testados in vitro (Masuda et al., 2004).

    Percebe-se deste modo, que tanto o gengibre como os seus derivados conseguem

    controlar os nveis de radicais livres presentes no organismo alm de que previnem os

    efeitos que estes podero causar caso sofram acumulao, como alteraes no DNA,

    protenas, e outras estruturas celulares designadamente os lpidos e membranas lipdicas

    (Halliwell, 2007; Devasagayam et al., 2004b).

    Um fator importante relacionado com as nossas clulas o fato de estas possurem

    componentes responsveis por impedir a destruio de algumas clulas por parte dos

    radicais livres e so estes os antioxidantes naturais como a glutationa, cido lipico

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    17

    cido ascrbico, vitamina E, -caroteno bem como o ubiquinol, e as indispensveis

    enzimas antioxidantes (Devasagayam et al., 2004c).

    De acordo com as diferentes fases que o nosso organismo apresenta e so elas a fase

    aquosa e fase oleosa, sabe-se que o cido ascrbico ou vitamina C tem afinidade para a

    fase aquosa e desta forma responsvel por impedir a ao dos radicais livres nestas

    zonas, delimitando desta maneira possveis alteraes que podero ocorrer a nvel

    celular. Por outro lado, nas regies que apresentam caracter hidrfobo, so responsveis

    por fazer a proteo do organismo contra os mesmos agentes, o -caroteno bem como a

    vitamina E (Baliga et al., 2011).

    O gengibre e seus fitoqumicos desempenham mais uma vez um papel importante no

    que toca proteo do organismo perante este tipo de agentes prejudiciais quando

    ingeridos oralmente, pois para alm de terem as inmeras funes como as

    anteriormente descritas, tm tambm a capacidade de aumentar os nveis plasmticos de

    vitamina C, E e -caroteno e prevenir desta forma o aparecimento de determinados

    cancros pela inibio da atuao dos respetivos agentes carcinognicos (Baliga et al.,

    2011).

    A glutationa (GSH) uma molcula que muito encontrada no organismo,

    principalmente na fase citoslica e ainda noutras fases aquosas e que muito conhecida

    por possuir um elevado poder antioxidante. A ingesto de gengibre vai impedir que haja

    a diminuio dos nveis plasmticos de glutationa, contribuindo desta forma para a

    preveno do aparecimento de vrios tipos de cancro (Devasagayam et al., 2004c;

    Halliwell, 2007).

    De acordo com as enzimas antioxidantes podemos encontrar no nosso organismo a

    SOD, catalase e a GPx, que so muito relevantes pois quando se apresentam as trs em

    equilbrio, podemos afirmar que existe uma diminuio do stress oxidativo e desta

    forma uma reduo do risco no aparecimento de mutaes ou efeitos citotxicos

    desencadeadores de vrios cancros (Devasagayam et al., 2004a) (Halliwell, 2007). O

    gengibre quando consumido restabelece a quantidade de enzimas antioxidantes

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    18

    presentes no organismo humano e impede a induo do cancro ou lceras no clon

    (Manju e Nalini, 2005b; El-Abhar et al., 2008b).

    x. O processo inflamatrio e o gengibre

    A inflamao est intimamente relacionada com o aparecimento e o crescimento das

    primeiras clulas cancergenas. A presena deste tipo de acontecimento no organismo

    leva a que haja uma ativao da COX e do 5-LO que produz prostaglandinas bem como

    leucotrienos, molculas responsveis por todo o processo inflamatrio (Philip et al.,

    2004). necessrio existir uma forma de combater/ contrariar este processo para que se

    diminua a possibilidade de desenvolvimento de uma patologia mais grave.

    O gengibre permite fazer a preveno e proteo do organismo contra agentes

    responsveis pela inflamao, interferindo na ativao da COX e 5-LO pelo

    impedimento da libertao de prostaglandinas, funcionando desta forma, como anti-

    inflamatrio e a inibio dos leucotrienos por bloqueio da ao da 5-LO. Pelo que o

    consumo de gengibre diminui os efeitos colaterais provocados pelos agentes

    inflamatrios e oferece um melhor perfil teraputico (Grzanna et al., 2005; Aktan et al.,

    2008).

    H estudos que mostram que alguns fitoqumicos do gengibre tambm possuem efeitos

    anti-inflamatrios como o 6-gingerol que inibe a fosforilao de algumas cinases, e o 6-

    soagol que elimina eficazmente o cido araquidnico e xido ntrico que so potentes

    agentes inflamatrios (Jung et al., 2009).

    Os radicais livres em determinadas quantidades podem desencadear alteraes a nvel

    das membranas, podendo provocar peroxidao lipdica. O gengibre tem capacidade

    para impedir este fenmeno pois possui no seu leo e derivados, constituintes eficazes

    para eliminar o risco que este fenmeno poder desencadear por exemplo nos eritrcitos

    e nos hepatcitos (Baliga et al., 2011).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    19

    xi. O processo apopttico e o gengibre

    Um fenmeno que tambm crucial ao bom funcionamento das clulas, a apoptose,

    que se carateriza por se um mecanismo de morte programada de vrias clulas e tecidos

    de modo a impedir a proliferao de clulas que tenham alguma mutao/defeito na sua

    constituio, prevenindo desta forma a ocorrncia de cancros e tumores no organismo.

    Est testado que o gengibre bem como alguns dos compostos provenientes do mesmo,

    tm capacidade apopttica e ajudam a regular este processo quando necessrio (Sun,

    2005; Sun et al., 2004).

    No que toca ao tema dos cancros que se vo desenvolvendo importante citar as fases

    que estes passam at no terem qualquer tipo de controlo, a dita mestastizao. Assim o

    gengibre tem a capacidade para impedir o progresso de um tumor para uma fase de

    mestastizao, pois tambm consegue estimular o sistema imunitrio a defender-se

    destes agentes, estimulando a atividade dos macrfagos, fazendo com que estes

    eliminem da melhor forma as clulas malignas (Baliga et al., 2011).

    Figura 4- Efeitos quimiopreventivos do gengibre. ( - aumento; - diminuio), (adaptado de Baliga et

    al., 2011).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    20

    xii. Comparao da atividade antiemtica do gengibre com um frmaco

    Gengibre e a Metoclopramida

    No tratamento de quimioterapia, as queixas de nuseas e vmitos podem ser minorados

    com a ingesto de gengibre na forma de sumo, pois nos seus rizomas existem os

    darilheptanides que so compostos apolares com ao antiemtica (Yang et al., 2002).

    A ingesto adequada de gengibre tem tanto efeito como uma terapia medicamentosa

    com ao antiemtica, nomeadamente a metoclopramida (Manusirivithaya et al., 2004).

    Mas o aumento da concentrao do gengibre, bem como o aumento do seu consumo no

    potencia a ao antiemtica que este poderia oferecer. Apesar de no estar determinada

    a dosagem necessria para combater as nuseas e vmitos no ser humano, sabe-se que o

    aumento do seu consumo no necessariamente convertido num aumento da ao

    teraputica (Zick et al., 2009; Baliga et al., 2011).

    xiii. Efeitos adversos provocados pelo gengibre (Zingiber officinale)

    Alm desta especiaria possuir efeitos benficos sobre a sade, tambm apresenta

    citotoxicidade em algumas linhagens de clulas que acabam por ser positivas na

    preveno de doenas. Assim o gengibre e seus derivados possuem vrios efeitos

    txicos nalgumas linhagens celulares como nas clulas ovricas, nos linfcitos

    humanos, timidina e no linfoma de Dalton em que h uma luta contra a regresso do

    mesmo (Baliga et al., 2011).

    O leo essencial do gengibre fototxico, por isso este no deve ser consumido antes

    da exposio solar nem deve se aplicado em peles sensveis (Teske e Trentini, 1995).

    Quando utilizado em elevadas quantidades o gengibre pode desencadear problemas

    gstricos, nomeadamente ardor e mau estar gstrico devendo ser reduzida a sua ingesto

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    21

    por pessoas que possuam previamente problemas gstricos (Grunwald e Janicke,

    2009b).

    De notar que esta planta tambm pode provocar efeitos secundrios em quem esteja a

    fazer tratamento com anticoagulantes ou mesmo para a profilaxia de clculos na

    vescula (Grunwald e Janicke, 2009b).

    O seu uso adequado em crianas pode ser implementado sem qualquer problema exceto

    para as que tm idade inferior a 3 anos, ao contrrio das mulheres grvidas que devido a

    estudos realizados, comprovaram que o gengibre s deve ser ingerido exclusivamente

    para o tratamento de nuseas e vmitos (Grunwald e Janicke, 2009b).

    xiv. Interaes medicamentosas na presena do gengibre

    Quando no feito o uso racional dos medicamentos podem surgir problemas. Isto

    acontece quando os produtos com efeito teraputico no so prescritos de forma correta,

    quando a posologia est mal adequada ao utente, ou mesmo, quando a informao

    acerca do medicamento e possveis efeitos secundrios e interaes mal efetuada. Por

    isso que o atendimento deve ser da responsabilidade dos profissionais de sade que

    exercem a sua profisso em locais como hospitais, centros de sade e farmcias (Sade.,

    1999). Segundo a OMS (Organizao Mundial de Sade), a automedicao muito

    frequente, nos dias de hoje, principalmente nos casos de hipertenso arterial, de

    problemas intestinais, constipaes, tosse, queimaduras, entre outros (Freitas,

    A.C.,2005).

    A automedicao bem como o uso de plantas medicinais, por livre e espontnea vontade

    do utente, so um problema social e de sade pblica muito debatido atualmente e que,

    cada vez mais, preocupam os profissionais de sade envolvidos.

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    22

    O consumo de gengibre conjuntamente com outra medicao pode levar ao

    aparecimento das chamadas interaes medicamentosas que no so mais do que

    alteraes dos efeitos teraputicos dos produtos consumidos (Merck, 2003b).

    Num tratamento com protetores gstricos como o lansoprazol, ranitidina ou sucralfato,

    podem estar em risco o efeito farmacolgico destes medicamentos uma vez que o

    gengibre tem a capacidade de aumentar a produo de cido clordrico presente no

    estmago. Por outro lado, tambm pode provocar efeitos que comprometem o uso de

    anticoagulantes como o saco da varfarina, clopidogrel, AAS (cido acetilsaliclico), ao

    aumentar o risco de hemorragia quando administrado concomitantemente (Nicoletti et

    al., 2007).

    O gengibre tambm pode provocar algum grau de sonolncia quando ingerido em

    elevadas quantidades pelas pessoas (Nicoletti et al., 2007). E pode interferir com

    medicamentos direcionados para o tratamento de nveis desregulados de glicmia no

    sangue, como antidiabticos e da prpria insulina porque o gengibre diminui a glicose

    sangunea (Basila e Yuan, 2005; Merck, 2003a; Who, 2002)

    B- Alho (Allium sativum L.)

    1. Caracterizao da planta e suas aplicaes

    A utilizao do alho como planta medicinal e como ingrediente para uso culinrio j

    existe desde a antiguidade tendo origem na sia central. No entanto, esta erva aromtica

    muito utilizada por varias civilizaes egpcias, chinesas, indianas e gregas (Rivlin,

    2001).

    O alho pertence ao gnero Allium, espcie A. sativum e famlia Liliaceae. Esta planta

    era muito conhecida nos tempos remotos devido s suas propriedades anti-inflamatrias

    e antisspticas. Mais se acrescenta que esta planta era muito utilizada para tratar

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    23

    distrbios gastrointestinais, como, problemas de eliminao de flatulncia (Shukla e

    Singh, 2007; Rivlin, 2001; Grunwald e Janicke, 2009c).

    Planta herbcea resistente, que possui flores cor-de-rosa ou verdes claras, bulbos e

    bulbilhos, denominados dentes de alho. Esta planta pode atingir entre 25 a 70 cm de

    altura e tambm possui caules compridos com cor avermelhada. O alho pode sofrer

    algumas alteraes at ser comercializado, comprometendo as suas propriedades como

    planta, nomeadamente perda de gua durante o seu armazenamento (Grunwald e

    Janicke, 2009c).

    Figura 5- Allium sativum em corte horizontal, (retirado de Wallop, H., 2013).

    O alho uma planta muito complexa em termos de constituintes ativos com efeito

    benfico para a sade. Assim, no bolbo do alho pode-se encontrar os constituintes ativos

    maioritrios do alho, como os compostos sulfurosos. Dentro destes compostos destaca-

    se a aliina, que quando triturada ou esmagada origina a presena de alicina, atravs

    duma enzima caraterstica alinase (Oomen et al., 2004).

    O alho pode apresentar-se de variadas formas no mercado sendo a sua principal funo,

    em termos culinrios, fornecer o seu aroma e sabor caracterstico. Pode ser encontrado

    http://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=qM9HCayh5c2nqM&tbnid=mgzNIAf1xIGVWM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.telegraph.co.uk/foodanddrink/10228732/How-to-love-garlic-without-losing-friends.html&ei=yr1EUtn3Ooe47Ab-jIDYBg&bvm=bv.53217764,d.ZGU&psig=AFQjCNFGkotf8nXjrhaAeOixEwPyIRxXww&ust=1380323126647287

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    24

    na sua forma pulverizada, de leo ou extratos, e pode ser utilizado picado, esmagado,

    cru, frito ou cozido, com o intuito de temperar carnes, molhos entre outros tipos de

    alimentos. O alho tambm pode ser encontrado em ervanrias ou farmcias manipulados

    em cpsulas, comprimidos e medicamentos homeopticos (Grunwald e Janicke,

    2009c).

    2. Composio do alho

    O alho possui uma composio qumica muito complexa de acordo com as diferentes

    formas em que se encontra. Na sua forma fresca possui uma panplia de constituintes

    como, hidratos de carbono, fibras, protenas, gordura, gua, compostos sulfurados e

    ainda vrios aminocidos. Em diferentes propores pode-se encontrar como

    componentes do alho, o clcio, cobre, potssio, magnsio, mangansio, boro, alumnio,

    zinco, sdio, vitamina C, B2, B1, provitamina A e E, cido nicotnico, riboflavina, entre

    outros (Augusti, 1996; Abdullah et al., 1988; Tsai et al., 2012).

    Quando o alho sofre uma ao mecnica em que se coloca em contato a parte interna do

    mesmo, ou seja, quando esmagado ou triturado, d-se uma reao enzimtica por parte

    da alinase, que transforma da aliina em alicina, composto muito encontrado no alho e

    que responsvel pelo odor forte caracterstico do mesmo. De notar que a alicina por

    ser uma molcula muito instvel em termos qumicos, transforma-se muito rapidamente

    nos compostos organossulfurados (OSCs) correspondentes. Estes compostos so

    abundantemente encontrados no leo voltil do alho, e so eles, o ajoene, sulfeto dialila

    (DAS), disulfeto dialila (DADS) e trisulfeto dialila (DATS), entre outros, tratando-se

    igualmente de compostos teraputicos vantajosos para a sade (Shukla e Singh, 2007).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    25

    Tabela 1- Classificao e composio (ug/g) dos componentes do alho, (retirado de Shukla e Singh,

    2007).

    3. Os benefcios do alho na sade

    O alho muito utilizado na rea da sade, uma vez que os seus constituintes so

    vantajosos para o tratamento e preveno de algumas doenas e sintomatologia

    associada. Esta erva aromtica possui propriedades farmacolgicas capazes de atuar a

    nvel digestivo/intestinal, renal, respiratrio (asma, bronquite, constipaes) no

    tratamento da diabetes, da hipertenso arterial, das dislipidmias, da arteriosclerose, no

    alvio de dores de dentes e picadas de insetos (Tsai et al., 2012). Outros problemas

    como artrites, doenas cardiovasculares e diarreias podem ser melhorados com o

    consumo do alho (Rivlin, 2001).

    Esta planta possui componentes ativos anticarcinognicos e quimiopreventivos,

    impedindo o aparecimento e a evoluo de neoplasias. Neoplasias como a esofgica,

    mamria, cutnea, do clon, pulmonar, mama e do colo-uterino podem ser minimizadas

    com o seu consumo (Wu et al., 2005; Minler, 1996, 2001).

    i. As doenas cardiovasculares e o alho

    As doenas cardiovasculares continuam a elevar a taxa de mortalidade no mundo, mais

    precisamente nos Estados Unidos da Amrica, tornando-se necessrio implementar

    hbitos alimentares e estilos de vida saudveis para minimizar o aparecimento destas

    patologias (Anderson R, 2001).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    26

    Alguns dos fatores de risco associados ao desenvolvimento de doenas cardiovasculares

    so: o tabagismo, o sedentarismo, o consumo de bebidas alcolicas, a diabetes mellitus

    (DM), os nveis elevados de colesterol e de presso arterial, entre outros, podendo o

    alho minimiz-los (Ross, 1999; Butt et al., 2009).

    O alho possui capacidade para diminuir os nveis de colesterol no sangue. Estudos em

    humanos revelaram que o consumo de alho reduziu os nveis de LDL colesterol (mau

    colesterol) em cerca de 32,9 md/dl nos homens e de 27,3mg/dl nas mulheres, podendo

    eventualmente prevenir as doenas cardiovasculares. O mesmo foi encontrado num

    estudo realizado doentes cardiovasculares (n=51), nos quais foram administrados

    300mg/dl de alho pulverizado durante um ano (Adler e Holub, 1997; Sobenin et al.,

    2010; Srinivasan, 2013).

    ii. Arteriosclerose e o alho

    A arteriosclerose uma leso inflamatria que ocorre a nvel das paredes arteriais

    (problema cardiovascular) havendo um aumento da produo e libertao dos

    mediadores da inflamao responsveis pela leso. O aumento da libertao destas

    substncias como o caso dos compostos reativos de oxignio (ROS), xido ntrico,

    cido araquidnico e ainda o fator de necrose tumoral (TNF-), so indicadores de que

    existe uma inflamao e que necessrio reverter todo o processo para que este no se

    agrave (Zmijewski et al., 2005).

    O organismo est direcionado para libertar compostos de adeso vascular celular como

    o caso das selectinas (E e P), leuccitos e moncitos e outras clulas endoteliais que

    servem para contrariar rapidamente todo o processo inflamatrio. Os glbulos brancos

    so, ento, encaminhados para o local da leso arterial e com o auxlio dos macrfagos,

    tentam eliminar todos os mediadores da inflamao presentes no local solucionando o

    problema (Tsai et al., 2012).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    27

    O alho bem como, outros produtos fitoteraputicos quando consumidos adequadamente

    funcionam como potentes anti-inflamatrios e antioxidantes prontos a inibir o

    aparecimento e evoluo da arteriosclerose (Tsai et al., 2012). Os efeitos teraputicos

    encontrados no alho provm da alicina e dos compostos derivados da mesma

    (Cavagnaro et al., 2007). Outras propriedades encontradas nesta planta so as

    antitrombticas, desativando a ao exercida pela molcula tromboxano B2 (agente

    plaquetrio), inibindo todo o processo de agregao plaquetria e iniciao de

    arteriosclerose. Por outras palavras, a alicina presente no alho alm de impedir a

    atividade da COX, tambm pode atuar inibindo outros processos metablicos como, a

    agregao plaquetria, diminuio da AMP e GMP cclico, bem como, ligao entre o

    fibrinognio e as plaquetas (Rahman, 2007).

    A realizao de estudos em animais e seres humanos, permitem afirmar que as

    propriedades anti-inflamatrias e a capacidade que o alho e os seus compostos

    organossulfurados possuem para proteger as paredes dos vasos sanguneos, tornam-no

    importante na preveno e aparecimento de doenas cardiovasculares como a

    arteriosclerose (Tsai et al., 2012).

    iii. Presso arterial, triglicerdeos e alho

    As doenas cardiovasculares esto associadas a nveis elevados de lpidos no sangue,

    presso arterial elevada e glicmia alteradas sendo necessrio um maior controlo destes

    parmetros nos utentes (Agarwal, 1996; Berthold et al., 1998; Warshafsky et al., 1993;

    Amitai et al., 2013).

    Estudos realizados em animais mostram o efeito da alicina em ratos hipertensos e com

    nveis sricos de triglicerdeos elevados. Utilizaram-se dois grupos, o primeiro continha

    10 ratos sem serem submetidos a administrao de alho em p (grupo controlo); o

    segundo continha 10 ratos caso e foi tratado especificamente com 80mg/Kg/dia de

    alho/alicina pulverizada durante aproximadamente dois meses (a concentrao de

    alicina em p utilizada neste estudo foi de 5mg/g). Verificou-se que os que receberam a

    alicina melhoraram tanto nos nveis da presso arterial como os de triglicerdeos (houve

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    28

    uma diminuio nos nveis da presso arterial sistlica de 190 mmHg para 168 mmHg

    no grupo de ratos que recebeu alicina ao contrrio do grupo controlo que aumentou

    ligeiramente os seus nveis de presso arterial sistlica de 183mmHg para 186 mmHg;

    nos triglicerdeos houve uma diminuio nos nveis dos mesmos - 96 mg/dl para 71

    mg/dl- no grupo da alicina; no grupo controlo houve uma diminuio de 101mg/dl para

    92 mg/dl) (Amitai et al., 2013).

    No se sabe ao certo qual a quantidade plasmtica necessria de alicina para promover a

    diminuio dos nveis de presso arterial e triglicerdeos mas reconhecesse o efeito

    benfico para a sade, contribuindo para a reduo das doenas cardiovasculares

    (Amitai et al., 2013).

    iv. Atividade anticancergena do alho e dos seus derivados

    O cancro carateriza-se por ser uma doena que resulta de um crescimento anormal e

    descontrolado de clulas que eram aparentemente normais, por isso fundamental

    estudar substncias que possam garantir um efeito teraputico ou preventivo desta

    patologia. Existem vrias fases onde se pode atuar para prevenir a evoluo de alguns

    cancros, procurando sempre impedir a evoluo para uma fase mais grave

    (mestastizao) (Shukla e Singh, 2007).

    Durante os ltimos anos, foram realizados estudos com o objetivo de verificar qual o

    impato e a funo do alho quando est em contato com clulas carcinognicas. Sabe-se

    que tem atividade anticancergena mas desconhecem-se os mecanismos envolvidos.

    Pensa-se, contudo, que este atue ativando a apoptose e seus compostos antioxidantes,

    inibindo a ativao e metastizao do tumor, bem como o aumento do controlo e

    regulao dos mecanismos imunolgicos envolvidos nestas patologias (Tsai et al.,

    2012).

    Numa investigao, realizada em 19 pacientes, pela United States Food and Drug

    Administration (FDA), concluiu que o consumo de alho e dos respetivos constituintes

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    29

    conferiu capacidades anticancergenas de modo a impedir o aparecimento de diversos

    tipos de cancros, especialmente o cancro do estmago, colo-rectal, pulmonar, esofgico,

    ovrico, renal, entre outros (Kim e Kwon, 2009).

    Foram estudados 51 doentes com cancro no clon, distribudos em dois grupos, um que

    era administrada uma dose elevada de alho (2,4 ml/dl) e o outro (grupo controlo)

    recebia uma dose mais baixa (cerca de 0,16 ml/dl), durante um ano consecutivo.

    Verificou-se que, os doentes que realizaram o tratamento completo (dose mais elevada)

    obtiveram uma queda significativa do nmero de clulas cancergenas (dados relativos a

    37 doentes, dos quais 18 pertencem ao grupo controlo e 19 ao grupo tratado com maior

    concentrao de alho) (Tsai et al., 2012).

    Outro estudo efetuado com animais (ratos), demonstrou que os diferentes compostos

    organossulfurados presentes no alho possuem funes anticancergenas para diferentes

    tipos de cancros. Assim o DAS possui atividade anticancergena contra a neoplasia da

    mama, pulmes, esfago e estmago, ao contrrio do DADS, que alm das funes

    anteriores, ainda inibe o aparecimento ou evoluo do cancro da pele quando aplicado

    topicamente (Dwivedi et al., 1992; Herman-Antosiewicz e Singh, 2004). As diferentes

    formas em que o alho se pode apresentar (em p, leo e extratos do mesmo) possuem

    efeitos diferentes sobre os diversos cancros, logo o alho na sua forma pulverizada um

    excelente inibidor do cancro da mama, ao contrrio do extrato de alho que mais se

    direciona para o cancro do colo-uterino (Tabela 2)(Ip et al., 1992; Liu et al., 1992;

    Hussain et al., 1990; Shukla e Singh, 2007).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    30

    Tabela 2- Diferentes constituintes do alho relacionados com os vrios tipos de cancro, (retirado de

    Shukla e Singh, 2007).

    v. Cancro uterino e alho

    Foi realizado um estudo para avaliar a atividade do alho e seus compostos ativos

    (alicina) no combate do cancro do colo uterino, onde se demonstrou que alm das

    propriedades antibacterianas, antivirais, antiplaquetrias, a alicina possui tambm

    atividade quimiopreventiva contra transtornos relacionados com o tero, mais

    especificamente, o cancro no colo-uterino. Vrias culturas de clulas foram obtidas para

    a realizao do estudo, das quais se destacam linhagens celulares cancergenas de um

    cancro do colo-uterino duma cidade da ndia (SiHa Cells) abordadas num grupo

    controlo e num grupo que recebeu tratamento com alicina. Nesta investigao verificou-

    se que a alicina impediu a multiplicao/proliferao das clulas cancergenas, pois no

    grupo tratado que possua linhagens das clulas SiHa os resultados obtidos, atravs de

    100M de alicina, levaram morte de clulas cancergenas. Mais alteraes foram

    encontradas aps o tratamento das clulas cancergenas com cerca de 50 M de alicina,

    como foi a de formao de corpos apoptticos que acabaram por originar alteraes

    morfolgicas no ncleo das clulas cancergenas. Nas clulas que no foram expostas

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    31

    ao tratamento com a alicina, verificou-se que houve ausncia de quaisquer alteraes a

    nvel celular (Oomen et al., 2004).

    A ativao de compostos apoptticos, foi encontrado neste estudo e deve-se existncia

    das enzimas caspases 8 e 9, conhecidas como caspases iniciadoras da ativao das

    caspases efetoras (ex: caspase 3). Assim, a alicina, alm do descrito anteriormente

    tambm consegue ativar este tipo de substncias, direcionando-as para o processo de

    apoptose, imprescindvel no combate de clulas cancergenas que tenham de ser

    eliminadas do organismo (Oomen et al., 2004).

    vi. Hiperplasia prosttica benigna (HPB)/ Cancro da prstata e o alho

    Na populao masculina, a hiperplasia prosttica benigna e o cancro na prstata tem

    aumentado em frequncia, por todo o mundo.

    Os compostos ativos presentes no alho, como o caso da S-allilcistena e S-

    allilmercaptocistena, so os responsveis por impedirem a progresso do cancro e

    diminurem a viabilidade das clulas cancergenas (Pinto et al., 1997).

    Num estudo efetuado, durante um ms, com 27 pacientes com HPB e 9 pacientes com

    cancro prosttico, verificou-se que a ingesto de alho no grupo da HPB levou a uma

    diminuio da massa prosttica bem como a uma estabilizao do aumento da

    frequncia urinria. Os pacientes com cancro prosttico melhoraram a frequncia

    urinria apesar de no terem sido detetadas alteraes a nvel da massa prosttica, sabe-

    se que o alho, impede a proliferao das clulas cancergenas e aparecimento de

    doenas mais graves no homem (Ilker Durak et al., 2003).

    vii. Desintoxicao do organismo na presena de alho

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    32

    O alho e seus constituintes organossulfurados atuam no processo de desintoxicao

    heptica que ocorre para eliminar xenobiticos, ou seja, compostos estranhos ao

    organismo, como so as clulas cancergenas. Este processo imprescindvel possui duas

    fases: na primeira existe uma eliminao por parte das enzimas do citocromo P450, de

    todos os compostos estranhos endgenos e exgenos do organismo (fase de

    desintoxicao) (Guengerich e Shimada, 1991); na segunda (fase de conjugao) d-se

    a interao entre os compostos que no foram eliminados na fase I com compostos

    hidrossolveis como a GSH, cido glucurnico, que por sua vez formam metabolitos,

    que so mais facilmente excretados pelo organismo (Hu et al., 1996; Guyonnet et al.,

    2002; Tsai et al., 2012).

    Os compostos derivados do alho tm efeitos positivos sobre a GSH, aumentando a sua

    capacidade de ao, impedindo desta forma que se acumulem compostos que possam

    originar o aparecimento de neoplasias (Tsai et al., 2012).

    viii. Ao do alho sobre a bactria Helicobacter pylori

    O cancro gstrico um dos mais comuns no mundo inteiro, e a Helicobacter pylori

    pode ser a responsvel pelo aparecimento deste tipo de patologia tornando-se necessrio

    utilizar meios que impeam tal (Caldwell e Danzer, 1988; Kumar e Sharma, 1982;

    Sivam, 2001).

    O alho pode atuar sobre a Helicobacter pylori, comum no estmago mas tem tambm

    atividade antibitica sobre a Aeromonas, Lactobacilus, Pseudomonas, Salmonela,

    Staphylococcus e Streptococcus (Sivam, 2001).

    Num estudo, a dose mnima de alho considerada inibitria necessria para atuar contra a

    Helicobacter pylori foi de 40 g/ml mostrando que existe, nestas condies, menor

    risco associado ao aparecimento de cancro no estmago (Sivam, 2001). Os compostos

    presentes no alho como a alicina, so dotados de atividade antibitica e antimicrobiana,

    prevenindo o aparecimento de complicaes gstricas, visto que, atua inibindo total ou

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    33

    parcialmente a sntese de RNA e DNA por parte das bactrias, respetivamente.

    (Tynecka e Gos, 1975).

    Para que o alho possa atuar na inibio/desenvolvimento da ao da Helicobacter pylori

    no estmago, e impedir possveis patologias a ela associadas necessrio existir a

    permeabilidade das membranas lipdicas ao alho e dos seus constituintes, at chegarem

    ao rgo/local alvo (Sivam et al., 1997).

    ix. Capacidade antioxidante do alho

    No organismo pode haver um desequilbrio quando a produo de radicais livres

    superior eliminao dos mesmos. fundamental haver processos antioxidantes que

    garantam a diminuio destes compostos no organismo, minimizando o aparecimento

    do stress oxidativo. Muitas vezes o stress oxidativo uma porta de entrada para o

    aparecimento de patologias mais graves assim, o consumo de alho ou a sua

    administrao como suplemento alimentar pode ser benfica para a eliminao de

    compostos oxidantes, como os ROS (Mayne, 2003; Chan et al., 2013).

    Varias investigaes realizadas com animais e em humanos confirmaram que o alho e

    os seus constituintes organossulfurados possuem propriedades antioxidantes, uma vez

    que inibem a acumulao de radicais livres no organismo e aumentam a atividade

    enzimtica celular responsvel pelos processos antioxidantes (Ray et al., 2011). O alho

    e seus derivados possuem capacidade de aumentar a atividade das enzimas, superxido

    dismutase, GSH redutase, Glutationa S-Transferase entre outras, contribuindo de forma

    positiva em todo o processo antioxidante (Hassan et al., 2010; Wu et al., 2001).

    O alho quando atua na doena metablica consegue impedir o aparecimento do stress

    oxidativo e de alteraes que podem ocorrer a nvel vascular atravs da inibio da

    NADPH-oxidase (Vasquez- Prieto et al., 2010). E devido s suas propriedades

    antioxidantes, diminui significativamente o colesterol e a presso arterial diastlica e

    sistlica (Dhawan e Jian, 2004).

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    34

    O consumo desta especiaria, rica em antioxidantes, pode prevenir o aparecimento de

    doenas cardiovasculares, cancros, doenas neurodegenerativas e de DM (Tsai et al.,

    2012).

    x. Alteraes farmacocinticas relacionadas com a presena do alho

    Um frmaco quando administrado pode ter a sua ao teraputica alterada, potenciada,

    diminuda ou mesmo inibida, at chegar ao rgo/local alvo. A ingesto conjunta de

    alho com alguns medicamentos pode levar a que estes possam ser alterados

    farmacocineticamente no atuando de forma adequada (Tsai et al., 2012).

    Em doentes com teraputica diurtica de hidroclorotiazida (para problemas urinrios)

    no devero consumir alho pois pode haver um aumento do efeito diurtico do frmaco

    (Asdaq e Inamdar, 2009).

    O aumento da biodisponibilidade de alguns frmacos anti-hipertensivos, como o

    Captopril pode ocorrer, ficando o efeito protetor do sistema cardiovascular e o efeito

    redutor dos nveis presso arterial potenciados na presena do alho (Asdaq e Inamdar,

    2010).

    Outras classes de frmacos, como os anticoagulantes (ex: Varfarina), podem sofrer

    alteraes na sua eficcia teraputica quando ingeridos conjuntamente com o alho.

    Porm um estudo efetuado com a Varfarina, em 12 doentes do sexo masculino,

    demonstrou que a concentrao plasmtica deste frmaco bem como a sua ao

    anticoagulante mantiveram-se inalterveis (Mohammed et al., 2008).

    No conhecida a razo da alterao dos efeitos teraputicos de alguns frmacos

    quando ingeridos em conjunto com o alho, mas h autores que defendem que se devem

    a fatores genticos que so exclusivos de cada pessoa (Tsai et al., 2012).

    xi. Precaues de utilizao

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    35

    O alho quando consumido concomitantemente com medicamentos anticoagulantes pode

    contrariar o efeito farmacolgico dos mesmos, tornando-se um problema grave para a

    sade. Por outro lado, a Cooperativa Europeia Cientfica sobre a Fitoterapia (ESCOP)

    refere que o alho melhora as propriedades reolgicas do sangue (evita a formao de

    cogulos sanguneos) (Grunwald e Janicke, 2009c). Apesar do que foi referido,

    preciso ter em conta que este no deve ser consumido no ps-operatrio uma vez que

    pode provocar alteraes na coagulao sangunea (Grunwald e Janicke, 2009c).

    xii. Efeitos adversos provocados pelo alho (Allium sativum L.)

    O alho quando consumido em elevadas quantidades pode desencadear distrbios

    testiculares, anemias, problemas gastrointestinais, como lceras gstricas, ou

    hemorragias intestinais, que posteriormente podem desencadear perda de peso (Fehri et

    al., 1991; Tsai et al., 2012). Pode tambm provocar problemas na pele, como reaes

    alrgicas, erupes cutneas, eczemas ou mesmo dermatites de contato em pessoas que

    tenham contato dirio com este tipo de alimentos, como os cozinheiros (Desai et al.,

    1990; Tsai et al., 2012).

    O alho , ento, visto como um alergnio tipo 1, pois as reaes alrgicas que provoca

    so encontradas de imediato. Os principais constituintes responsveis pela alergia, so,

    alicina, DADS, entre outros (Papageorgiou et al., 1983; Jappe et al., 1999; Tsai et al.,

    2012).

    A ingesto de alho pode ser utilizada como um complemento da medicao anti-

    hipertensiva, ou mesmo como alternativa, visto que tem capacidade para diminuir a

    tenso arterial. Contudo, um caso clinico mostrou que num doente hipertenso, de 46

    anos, apresentou leses na mucosa do esfago superior devido ingesto de alho como

    alternativa de tratamento da hipertenso. Na endoscopia realizada poucas horas depois

    do sucedido, observaram-se as leses superfcie da mucosa esofgica provocadas pela

    ingesto de alho sem gua, por isso recomenda-se a abstinncia de consumo de alho e

    quando for executada a ingesto por algum motivo esta dever ser feita sempre com

  • Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Sade

    36

    gua para que a deglutio no fique comprometida neste tipo de doentes (Bilal e

    Basak, 2012).

    C- Funcho (Foeniculum vulgare)

    1. Caracterizao da planta e suas aplicaes

    O funcho uma planta muito popular devido sua utilizao na culinria e a nvel

    medicinal (Camejo-Rodrigues et al., 2003; Novais et al., 2004). Apesar de existirem

    vrias espcies e variedades de funcho, sabe-se que a sua utilizao teve origem nos

    povos mediterrnicos e que amplamente cultivado na Rssia, Frana e ainda na ndia

    (Ghahraman, 2000).

    Esta planta pertence a uma vasta famlia denominada de Apiaceae (Umbelliferae) e

    possui como gnero Foeniculum e espcie F.vulgare. O funcho muito confundido com

    o anis e a erva-doce, visto ter um aroma adocicado que tambm caracterstico destas

    plantas. O funcho era muito utilizado para a preparao de remdios caseiros bem como

    adjuvante medicinal nas farmcias antigas (Barros et al., 2010).

    O funcho uma planta herbcea que possui uma altura significativa, cerca de 2,5 m de

    altura (Diaz-Maroto et al., 2006), possui flores amarelas, folhas triangulares, hastes

    compridas e ainda frutos com sementes doces de pequena dimenso de onde se extrai o

    leo de funcho muito rico em compostos nutricionais (Grunwald e Janicke, 2009a).

    Apesar de existirem diferentes valores nutricionais nas vrias partes destas plantas, os

    frutos maduros e secos do funcho so as partes da planta que mais se utilizam para fins

    teraputicos e culinrios (especiaria), uma vez que possuem substncias farmacolgicas

    como o caso do anetol e estragol. Estes ltimos, so os constituintes maioritariamente

    encontrados no funcho (Barros et al., 2010; Grunwald e Janicke, 2009a).

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    Figura 6- Planta herbcea medicinal Foeniculum vulgare, adaptado de (Grunwald e Janicke, 2009a).

    Na culinria utilizada, na forma fresca, em saladas ou molhos, ou mesmo como

    especiaria ou erva aromtica, para o tempero de peixe ou carne e ainda em sopas para

    conferir o sabor adocicado caracterstico (Barros et al., 2010).

    Os frutos desta planta podem ser empregues na preparao de licores, gelados, doces,

    po, pickles e ainda de queijos devido aos aromas agradveis que possui. Os frutos

    presentes no funcho tambm podem ser aproveitados para a manipulao de vrios

    produtos farmacuticos, bem como de produtos de cosmtica, mais precisamente na

    preparao de perfumes (Telci et al., 2009).

    O funcho pode ser encontrado em varias formas no mercado, nomeadamente sobre a

    forma de leo essencial, infuses, medicamentos, como por exemplo o xarope de

    funcho de uso peditrico (Grunwald e Janicke, 2009a).

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    2. Composio do funcho

    Alm dos frutos encontrados no funcho possurem o leo essencial que constitudo por

    compostos volteis como o anetol, estragol, trans-anetol e a alcnfora que conferem o

    sabor e cheiro caracterstico desta planta, estes tambm abrangem compostos

    importantes como, flavonides, cumarinas, taninos e cidos fenlicos (Gross et al.,

    2009; Diaz-Maroto et al., 2006). Os frutos do funcho so ricos em hidratos de carbono,

    dos quais o amido e celulose so os mais abundantes, acares como o caso da

    glucose, frutose e sucrose, fibras, cidos gordos polinsaturados como o cido linoleico e

    -linolnico, e ainda possuem cinzas que tm na sua constituio vrios minerais como

    o ferro, chumbo, clcio, potssio, magnsio, e sdio, sendo que estes ltimos so os

    minerais mais encontrados neste tipo de planta (Vardavas et al., 2006).

    Dentro dos cidos gordos polinsaturados podemos destacar os mega-3 e o mega-6

    existentes em vrias partes da planta e que tm um importante papel cardiovascular e na

    preveno da artrite. Contm, tambm, vitamina C, riboflavina, tiamina e niacina

    (Rather et al., 2012b). De notar, que os nutrientes encontram-se em quantidades

    diferentes nas vrias partes da planta, como descriminado na tabela 3, 4 e 5 (Barros et

    al., 2010).

    Tabela 3- Composio quantitativa do Foeniculum vulgare, (retirado de Barros et al., 2010).

    Tabela 4- Composio dos acares contidos no Foeniculum vulgare, (retirado de (Barros et al., 2010)

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    Tabela 5- Proporo dos cidos gordos polinsaturados presentes no Foeniculum vulgare, (retirado de

    Barros et al., 2010).

    3. Os benefcios do funcho na sade

    O funcho favorece o normal funcionamento do aparelho respiratrio, estimula a

    secreo brnquica e diminui o muco existente nas vias respiratrias, como tambm

    exerce efeitos benficos a nvel gastrointestinal como preveno da flatulncia, clicas e

    espasmos (Grunwald e Janicke, 2009a; Teske e Trentini, 1995; Gori et al., 2012).

    Esta planta herbcea utilizada no tratamento de vrias doenas, pois possui capacidade

    antioxidante e diurtica, anti-inflamatria, antimicrobiana, antibacteriana, estrognica e

    vantagens na produo de leite favorecendo a amamentao (Rahimi e Ardekani, 2013;

    Camejo-Rodrigues et al., 2003; Novais et al., 2004).

    i. Capacidade anti-inflamatria do funcho

    O funcho e seus constituintes atuam a nvel do processo inflamatrio impedindo o

    aparecimento e progresso de doenas graves como as neoplasias. Esta planta possui

    uma ao analgsica central importante para combater a inflamao. Normalmente as

    partes mais utilizadas desta planta, para este fim, so os extratos dos frutos ricos em

    leo essencial e constituintes ativos (Choi e Hwang, 2004).

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    ii. Capacidade antifngica e antibacteriana do funcho

    As suas propriedades antifngicas e antibacterianas, na culinria, alm de conferir sabor

    impede a contaminao dos alimentos devido ao bloqueio da ao dos microrganismos

    responsveis pelas alteraes de aroma e aspeto dos mesmos. O emprego desta planta,

    em vez de aditivos alimentares sintticos, para conferirem integridade da composio

    dos alimentos valoriza a segurana e a sade (Al-Reza et al., 2010; Bjaipai et al., 2013).

    As atividades antibacterianas do funcho limitam o aparecimento Staphylococcus aureus,

    E.coli, entre outros, nos alimentos (Mohsenzadeh, 2007).

    O leo extrado das sementes do funcho, bem como algumas molculas presentes no

    mesmo, como o caso do dillapional e escopolatina, tambm possuem efeitos benficos

    antimicrobianos contra bactrias encontradas no organismo como a Helicobacter pylori

    (Rather et al., 2012b).

    O funcho combate fungos como Candida albicans, agente etiolgico de infees

    vaginais, apresentando propriedades fungicidas (Pai et al., 2010; Soylu et al., 2007).

    A capacidade e mecanismo de ao do funcho, concretamente do seu leo essencial, no

    controlo microbiolgico dos produtos alimentares ou a nvel do organismo tm sido

    estudados.

    Utilizou-se a bactria S.dysenteriae, para avaliao comportamental da mesma a nvel

    da integridade e permeabilidade membranar, tempo que demora at haver destruio

    celular por parte do funcho impedindo desta forma, o aparecimento de doenas mais

    graves. Observou-se que esta planta funciona como um agente natural antimicrobiano,

    pois consegue eliminar de forma potente a bactria S.dysenteriae devido sua

    composio em hidrocarbonetos sesquiterpnicos e monoterpnicos fenis, aldedos e

    compostos acetonados (Ceylan e Fung, 2004; Diao et al., 2014).

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    Para que a bactria acima descrita seja eliminada na ntegra dos alimentos impedindo a

    alterao das suas caractersticas organolticas, necessrio que haja a permeabilidade

    das membranas celulares ao funcho para que possa atuar a nvel do agente etiolgico

    diminuindo a sua viabilidade celular (Diao et al., 2014). Neste estudo foram avaliadas

    as alteraes morfolgicas e funcionais da bactria aps a exposio de diferentes

    concentraes de funcho. A nvel da permeabilidade celular verificou-se que houve uma

    alterao a nvel da condutividade eltrica da membrana celular ou seja esta, na

    presena de leo de funcho, aumentou consideravelmente, verificando-se a

    possibilidade de causar mais tarde a morte celular das bactrias (Diao et al., 2014).

    Apesar do mecanismo de ao do funcho no estar ainda bem determinado, provvel

    que a nvel dos agentes etiolgicos, primeiro penetre atravs da membrana celular

    (facilitada devido hidrofobicidade apresentada pelos constituintes do leo de funcho) e

    seja seguida da libertao dos constituintes intracelulares da S.dysenteriae que, mais

    tarde, levaro morte da bactria por falta de energia (Tajkarimi et al., 2010; Sikkema

    et al., 1995). Numa abordagem geral, o leo de funcho ao penetrar na membrana celular

    atua diretamente sobre os compostos celulares da bactria, captando compostos

    essenciais sobrevivncia das mesmas, mais precisamente, os acares presentes na

    membrana citoplasmtica das bactrias. Depois da libertao dos compostos referidos

    ser feita, a clula bacteriana fica comprometida ocorrendo a lise e posterior morte

    celular, reduzindo desta forma o nmero de clulas bacterianas viveis no organismo e

    alimentos para uso humano (Diao et al., 2014).

    iii. Problemas gastrointestinais e o funcho

    Os problemas gastroin