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1 Efeitos do esteróide anabolizante sobre o músculo de ratos que realizaram treinamento aeróbico. Gilson Sampaio Pinheiro Filho Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Katia Simone Kietzer Professora orientadora do CCBS/UEPA [email protected] Resumo O objetivo do estudo foi analisar os efeitos do EAA sobre a morfologia do músculo gastrocnêmio de ratos machos. Os animais foram distribuídos em grupos: Grupo Treinado Anabolizado (GTA), Grupo Sedentário Anabolizado (GSA), Grupo Treinado (GT) e Grupo Sedentário (GS). Os animais dos grupos GTA e GT foram submetidos a exercício de corrida em roda voluntária onde os numero de voltas era registrado no fim do treinamento, depois de 12 semanas podemos verificar que o grupo GTA percorreu maior distancia (542,1m) em relação ao grupo GT (417m). Após o término do treinamento diário, os animais dos grupos GTA e GSA receberam uma injeção contendo 5mg/kg de Decanoato de Nandrolona. Após as 12 semanas do treinamento associado à administração de EAA, os ratos foram sacrificados e tiveram imediatamente seu músculo gastrocnêmio removido com objetivo de investigar possíveis alterações na estrutura muscular. Para análise morfológica, lâminas histológicas do músculo foram montadas e analisadas com o auxílio de um fotomicroscopio acoplado a um sistema de analisador de imagem onde mensuramos o diâmetro transverso das fibras para diagnosticar possíveis diferenças de espessura e quantificar o número de mionúcleos. Verificou-se que os animais do grupo GTA apresentaram aumento do diâmetro da fibra muscular (2666,58±483,05) quando comparados ao GS (2010,75± 328,17). Ao analisarmos a proliferação de núcleos na fibra muscular verificou-se que os animais do grupo GTA (328,3±40,0) apresentaram aumento quando comparados ao GS (274,8±31,7). Através dos nossos resultados, podemos concluir que o uso de EAA associados ou não ao exercício físico provoca alterações morfológicas no músculo de ratos jovens. Palavras chave: Anabolizante. Exercício Voluntário. Morfologia. Músculo. INTRODUÇÂO Os hormônios esteroides são derivados sintéticos dos hormônios sexuais masculinos, todos derivados do colesterol, que apresenta diversas funções relacionadas à maturação sexual e às características sexuais secundárias inerentes a cada gênero que promovem e mantém características sexuais à masculinidade e status anabólicos dos tecidos somáticos (FERRARI, 2011).

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Efeitos do esteróide anabolizante sobre o músculo de ratos que realizaram

treinamento aeróbico.

Gilson Sampaio Pinheiro Filho Aluno concluinte do CEDF/UEPA

[email protected] Katia Simone Kietzer

Professora orientadora do CCBS/UEPA [email protected]

Resumo O objetivo do estudo foi analisar os efeitos do EAA sobre a morfologia do músculo gastrocnêmio de ratos machos. Os animais foram distribuídos em grupos: Grupo Treinado Anabolizado (GTA), Grupo Sedentário Anabolizado (GSA), Grupo Treinado (GT) e Grupo Sedentário (GS). Os animais dos grupos GTA e GT foram submetidos a exercício de corrida em roda voluntária onde os numero de voltas era registrado no fim do treinamento, depois de 12 semanas podemos verificar que o grupo GTA percorreu maior distancia (542,1m) em relação ao grupo GT (417m). Após o término do treinamento diário, os animais dos grupos GTA e GSA receberam uma injeção contendo 5mg/kg de Decanoato de Nandrolona. Após as 12 semanas do treinamento associado à administração de EAA, os ratos foram sacrificados e tiveram imediatamente seu músculo gastrocnêmio removido com objetivo de investigar possíveis alterações na estrutura muscular. Para análise morfológica, lâminas histológicas do músculo foram montadas e analisadas com o auxílio de um fotomicroscopio acoplado a um sistema de analisador de imagem onde mensuramos o diâmetro transverso das fibras para diagnosticar possíveis diferenças de espessura e quantificar o número de mionúcleos. Verificou-se que os animais do grupo GTA apresentaram aumento do diâmetro da fibra muscular (2666,58±483,05) quando comparados ao GS (2010,75± 328,17). Ao analisarmos a proliferação de núcleos na fibra muscular verificou-se que os animais do grupo GTA (328,3±40,0) apresentaram aumento quando comparados ao GS (274,8±31,7). Através dos nossos resultados, podemos concluir que o uso de EAA associados ou não ao exercício físico provoca alterações morfológicas no músculo de ratos jovens. Palavras chave: Anabolizante. Exercício Voluntário. Morfologia. Músculo.

INTRODUÇÂO

Os hormônios esteroides são derivados sintéticos dos hormônios sexuais

masculinos, todos derivados do colesterol, que apresenta diversas funções

relacionadas à maturação sexual e às características sexuais secundárias inerentes

a cada gênero que promovem e mantém características sexuais à masculinidade e

status anabólicos dos tecidos somáticos (FERRARI, 2011).

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Os esteroides anabólicos androgênicos (EAA) têm sido uma das substâncias

ergogênicas mais utilizadas como forma de doping. São utilizados por atletas para

melhorar o desempenho esportivo tendo em vista seus efeitos sobre o aumento da

síntese proteica, o incremento das reservas energéticas e a redução no tempo de

recuperação após treinamento físico (CARMO, 2011).

O uso dessas substâncias tem vários objetivos dentre eles, ganhar ou perder

peso corpóreo, estimular a hipertrofia e a força muscular e diminuir o percentual de

gordura subcutânea (CARMO, 2011). Esses fatores que fizeram os EAA também

serem utilizados por não atletas com finalidade estética, pelo desejo de melhorar a

aparência (DIAS; NETO; GAMA, 2011).

O abuso do consumo de EAA, dentro e fora do cenário esportivo, constitui-se

em grande preocupação social, governamental e das mais importantes agências e

órgãos sanitários e esportivos, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o

Comitê Olímpico Internacional (COI) (LIMA; CARDOSO 2011).

Homens e mulheres têm investido cada vez mais tempo, energia e recursos

financeiros no consumo de bens e serviços destinados à construção e manutenção

de um corpo atlético (AGUIAR; BRITO; PINHO, 2011). Alguns estudos têm

evidenciado que, contraditoriamente, em paralelo ao culto ao corpo tem aumentado

a insatisfação das pessoas com seus corpos, assim como o consumo de EAA, as

chamadas “drogas da imagem corporal” (IRIART et al., 2009).

Já está evidente na literatura cientifica os efeitos dos EAA associados ao

exercício anaeróbico sobre o sistema músculo esquelético, como mostra Carmo et al

(2011) que em seu estudo observou processos hipertróficos na musculatura de ratos

submetidos ao exercício resistido, porém os estudos que associam essa droga com

exercícios aeróbicos ainda são escassos na literatura cientifica.

Assim, buscando incrementar o conhecimento acerca do uso do EAA no

exercício aeróbico, o presente estudo teve como objetivo analisar o desempenho

durante o exercício e a morfologia de músculo estriado esquelético de ratos

submetidos a um protocolo de exercício voluntário de longo prazo e tratados com

EAA decanoato de nandrolona (Deca Durabolin- Organon).

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1 TESTOSTERONA: MATÉRIA PRIMA DOS EAA

A testosterona é o hormônio esteroide mais importante secretado pelas

células intersticiais do testículo (MCARDLE, 2008,). Derivada do hormônio sexual

masculino, a testosterona é a principal substância anabólica, a qual é produzida em

nosso organismo com a capacidade de controlar o desenvolvimento normal e o

funcionamento das características masculinas, além de regular a manutenção das

características anabólicas das células e tecidos (OLIVEIRA, 2012).

O hormônio masculino tem várias funções no organismo, mas foi o seu efeito

anabólico sobre a massa muscular, que tornou esse hormônio a matéria prima da

maioria dos esteroides anabolizantes (MCARDLE, 2008,). Gentil (2005, p.46) “relata

que a testosterona atua na célula estimulando a produção de RNAm1, que leva ao

aumento da síntese proteica”.

Existe também o efeito anticatabólico relacionado ao hormônio masculino. A

testosterona se acopla a receptores celulares específicos, mas também compete

pelos receptores para hormônios catabólicos, diminuindo assim o catabolismo

muscular (GENTIL, 2005,).

2 A UTILIZAÇÃO DO EAA NO ESPORTE

Visando seus efeitos sobre a síntese proteica, o incremento das reservas

energéticas e a melhora da eficiência do processo de recuperação dos indivíduos

após o treinamento passaram a ser utilizados por atletas para melhorar o

desempenho esportivo (CARMO, 2011).

Os EAA despertaram a atenção dos pesquisadores nas últimas décadas,

devido o seu envolvimento com esportes de alto nível. O uso dessas substancia por

atletas é considerado doping. Segundo o Comitê Olímpico Brasileiro (2007) o

doping é definido como o uso de qualquer substância endógena ou exógena em

1 O termo RNA mensageiro (RNAm) designa uma molécula de ácido ribonucleico

transcrita a partir de uma cadeia de DNA, que transporta a mensagem para a síntese de

proteínas.

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quantidades ou vias anormais com a intenção de aumentar o desempenho do atleta

em uma competição.

Os EAA são utilizados por atletas como recurso ergogênico que é qualquer

fator ou fenômeno que aprimora o desempenho, não apenas atlético, mas também

emocional e psíquico para a realização do trabalho físico (POWERS, HOWLEY,

2000 apud CARMO, 2011).

3 A UTILIZAÇÃO DO EAA FORA DO ÂMBITO ESPORTIVO

Atualmente, devido à nova tendência da sociedade em cultivar a beleza e a

estética corporal, o consumo de EAA com finalidade estética, vem sendo motivos de

consumo de anabolizantes sem finalidade terapêutica (OLIVEIRA, 2012).

Tais ideais de estética e de corpo belo, que outrora tinham foco no público

feminino, atingem homens e adolescentes, que em busca de uma aparência

musculosa, jovem e saudável, se tornam dependentes de esteroides, anabolizantes,

dietas e exercícios físicos em excesso (RODRIGUES, 2002 apud DIAS, NETO,

GAMA, 2011).

A busca por um "corpo perfeito" em um curto espaço de tempo leva os

usuários a procurarem métodos que produzam resultados rápidos, sem se

preocuparem com as consequências possíveis efeitos colaterais (IRIART et al.,

2009).

O uso abusivo de EAA causa efeitos deletérios para o organismo, causando

consequências adversas, de ordem metabólica, endócrina, cardiovascular, hepática,

neural, comportamental e psiquiátrica muitos desses se tornando irreversíveis

(REDONDO, 2007).

4 HIPERTROFIA MUSCULAR

Uma dessas adaptações estruturais é a hipertrofia muscular, que é

conceituada por Gentil (2005) como o aumento volumétrico de um músculo. Em

função deste aumento volumétrico das fibras ocorre o aumento significativo da força

e potência muscular.

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Certas estruturas estão diretamente ligadas aos processos de hipertrofia

muscular, dentre elas estão os núcleos musculares. Sabe-se que a fibra muscular é

multinucleada, assim as proteínas dessas fibras estão sob o controle de diferentes

núcleos, esse fato tem sido chamado de domínio nuclear (FLECK; KRAEMER,

2009).

A quantidade de proteína muscular não poderá ser aumentada, ao menos

que o número de núcleos seja aumentado através da divisão mitótica das células

satélites ativadas (FLECK; KRAEMER, 2009).

Outros fatores como o estresse mecânico produzido pelo exercício físico

também estimula as proteínas sinalizadoras a ativarem os genes que ativam a

translação do RNAm a estimular a síntese proteica a nível celular, tendo como

consequência a hipertrofia do músculo estimulado (MCARDLE et al, 2008).

5 EXERCÍCIOS FÍSICO

Exercício é toda e qualquer atividade que envolve geração de força e potência

pelos músculos. O exercício pode ser quantificado mecanicamente através da força,

torque, trabalho, potência e velocidade de progressão (FLECK; KRAEMER, 2006).

Podemos classificar o exercício através do tempo de duração e do substrato

energético utilizado em sua realização.

O exercício aeróbico compreende as atividades onde o principal substrato

energético é o oxigênio. Geralmente em esforços de duração superior a 2 min, a

produção de energia aeróbia na célula muscular é assegurada pela oxidação

mitocondrial da glicose e dos lipídios na formação de ATP, tendo como subproduto

gás carbônico e água (MCARDLE et al, 2008). Os esportes inseridos dentro desse

grupo são geralmente atividades de baixa intensidade e longa duração, como as

maratonas, ciclismo de estrada, corridas de dez mil metros, cinco mil metros e etc.

(MCARDLE et al, 2008).

Os exercícios anaeróbicos estão inseridos dentro de dois sistemas de

transferência de energia o anaeróbico aláctico, esta relacionado com atividades de

intensidade máxima com uma duração inferior a 30s, utilizando as fontes

energéticas imediatas, como a adenosinatrifosfato e a fosfocreatina (FLECK;

KRAEMER, 2006).

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No sistema anaeróbico láctico estão inseridos esforços de alta intensidade

que duram de 30s a 1 min , essas atividades utilizam o glicogênio como fonte

energética, este processo degrada o glicogênio a ácido láctico, formando

paralelamente duas moléculas de ATP (FLECK; KRAEMER, 2009).

Podemos então relatar que nos esportes com predominância de geração de

energia em déficit de oxigênio como por exemplo as provas de 100 e 200 metros

rasos, as provas rápidas de natação como os 50, 100 e 200 metros, enfim provas

atléticas que tenham duração abaixo de 1 minuto (FLECK; KRAEMER, 2006).

6 MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados 24 ratos (Rattus novergicus) da linhagem Wistar, machos,

jovens, entre 90 e 120 dias, com peso variando entre 250 e 300 gramas, originados

do Biotério de Reprodução do Laboratório de Cirurgia Experimental da Universidade

do Estado do Pará. Todos os animais da pesquisa em questão foram cuidados de

acordo com as normas do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e

legislação nacional em vigor no uso de animais em aulas e pesquisas (Lei federal

11.794 de 08 de outubro de 2008).

Esses animais foram mantidos em ambiente com fatores controlados como

umidade, ruído, temperatura a 22º C, obedecendo a um foto-período de 12 horas

escuro e 12 horas claro, recebendo água e ração ad libitum, durante todo o

experimento. Para que o protocolo de treinamento fosse realizado no período do dia,

os grupos experimentais foram submetidos a um ciclo invertido dia/noite, onde esses

animais que naturalmente seriam mais ativos durante a noite, realizariam a atividade

física durante o dia, facilitando o manuseio dos mesmos e a coleta de dados.

Os animais foram alojados em gaiolas contendo no máximo quatro animais e

previamente adaptados a um Gabinete para Biotério Desmontável (EB 273/ Insight)

instalado no Biotério do Laboratório de Morfofisiologia Aplicada a Saúde do Centro

de Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Pará, por um período de 15 dias

antes do início do experimento.

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6.1 Grupos Experimentais

Os 24 ratos foram divididos em quatro grupos experimentais: o grupo treinado

anabolizado (GTA),o grupo sedentário anabolizado (GSA), o grupo treinado (GT) e o

grupo sedentário ou controle (GS).

Os animais dos grupos GT e GTA foram submetidos ao protocolo de

treinando de corrida em rodas voluntarias (Insight, Brasil), os grupos GTA e GSA

foram submetidos a doses intramusculares de Decanoato de Nandrolona (Deca

Durabolin- Organon), e o grupo GS não foi submetido a treinamento nem

anabolização.

6.2 Protocolo de exercício físico de corrida

Os animais foram submetidos a um protocolo de exercícios de corrida em

roda voluntaria (Insight, Brasil). A roda de corrida que o animal tinha acesso não era

motorizada e era movida pela atividade de corrida do animal. Essa roda possui um

dispositivo de contagem, conhecido como “conta giros”, que registrava o número de

voltas percorridas pelo animal durante o período de treinamento. Como o

treinamento tinha o caráter voluntario esses números obtidos por esses dispositivos

de contagem era o parâmetro para analisar o desempenho dos animais. Os

indivíduos dos grupos GTA e GT foram colocados em caixas com as rodas de

corrida voluntaria contendo água e comida em abundancia, durante seis horas, com

início às sete horas da manhã e término às treze horas, três vezes por semana

durante doze semanas.

Grupos experimentais Volume de treinamento Dias de treino

GTA 6h/dia SEG/QUA/SEX

GT 6h/dia SEG/QUA/SEX

GSA 0h/dia Sem treinamento

GS 0h/dia Sem treinamento

TABELA 1 – relação grupos experimentais e volume de treinamento

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6.3 Análise do desempenho atlético

Os animais dos grupos GT e GTA eram submetidos a treinamento de corrida

em roda voluntaria três dias por semana, durante seis horas por dia, no fim do

período diário de treinamento os animais eram retirados da gaiola de exercícios e

devolvidos ao biotério onde eram condicionados no período em que não estivesse

se exercitando, o numero de voltas era registrado através de um dispositivo conta

giros acoplado a roda.

Com o fim das 12 semanas de treinamento, foi feito a media de voltas para

cada grupo, depois esse valor foi multiplicado pelo o diâmetro da roda de exercícios

e obtivemos a distancia percorrida em metros quadrados.

6.4 Administração de Decanoato de Nandrolona

Após o período de seis horas de treinamento, os animais dos grupos GTA e

GSA receberam uma injeção intramuscular no músculo quadríceps da coxa

contendo 5 mg/kg de Decanoato de Nandrolona (DN; Deca Durabolin-

Organon).Para administração do EAA ou do solvente, os animais foram imobilizados

por um pesquisador enquanto outro segurava gentilmente a pata, fazia a assepsia e

aplicava a injeção no músculo quadríceps dos animais, utilizando uma seringa de

insulina. A dose de 5mg/kg tem sido relatada como equivalente as doses geralmente

utilizadas por atletas, 600mg/semana ou aproximadamente 8mg/kg/semana, em

academias (NORTON, 2000). Os animais dos grupos T e S receberam injeção

intramuscular de óleo mineral, veículo utilizado para solubilizar o EAA, nas mesmas

proporções e no mesmo período que os animais dos outros grupos. A administração

do veículo óleo mineral e o EAA foram iniciadas na primeira semana de treinamento,

totalizando 12 semanas.

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6.5 Análise Morfológica

Para a Análise morfológica, foram confeccionadas lâminas histológicas do

músculo gastrocnemio. Os músculos que foram retirados dos animais foram

conservados em formol, para posterior montagem das lâminas. As amostras foram

desidratadas, em seguida, as peças passaram por processo de diafanização para

retirada de gordura. Na etapa de impregnação, as peças foram mantidas em

recipientes com parafina. Esse procedimento foi realizado automaticamente pelo

equipamento Histotécnico Leika. Em seguida, as peças passaram por processo de

inclusão em parafina utilizando a Central de Inclusão Leika.

Em um Micrótomo Leika, foram obtidos cortes transversais do músculo

gastrocnêmio. Os cortes foram colocados em banho-maria para que se abram as

ranhuras da parafina e da secção, e para que ele forme uma aderência, na lâmina

histológica. As lâminas permaneceram em estufa para a adesão da secção do

músculo e derretimento da parafina.

Para a coloração das lâminas, foi utilizada a técnica hematoxilina-eosina (HE),

Por meio desta coloração podemos diferenciar partes basófilas (pela hematoxilina)

e acidófilas, ou eosinófilas (pela eosina), Desta forma, esta coloração nos permitiu

analisar formas e tamanhos do músculo gastrocnêmico. Para a montagem das

lâminas com sobreposição das lamínulas foi utilizado Bálsamo do Canadá.

As lâminas foram analisadas em microscópio óptico Zeiss scoopA1, acoplado

a uma filmadora Nikkon de alta definição, onde se obteve fotos dos cortes

histológicos. As análises morfométricas foram realizadas num analisador de imagem

Axion Vision (Zeiss, Alemanha).

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FIGURA 2- Foto da fibra muscular do grastrocnêmio em processo de mensuração pelo analisador de imagem Axion Vision. 40x FONTE: dados da pesquisa.

As imagens foram obtidas dos cortes transversais do músculo gastrocnemio e

através da câmara, foram projetadas em um monitor (Sony, Japão). Os diâmetros

transversos das fibras musculares foram delimitados com ajuda do mouse e o

sistema computacional registrava automaticamente área do diâmetro transverso em

μ² das fibras musculares.

Também foi analisado o número de núcleos presentes nas fibras partindo da

contagem dos mesmos nas fotos obtidas para a mensuração do diâmetro das fibras.

Fizemos a quantificação dos núcleos presentes em duzentas fibras por grupo

experimental.

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7 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao analisarmos o desempenho atlético dos animais submetidos

ao protocolo de treinamento podemos observar que o GTA teve um

rendimento superior ao GT.

GRÁFICO 1 - efeito dos esteroides anabolizanes sobre a desempenho.

Análise de variância com Teste ANOVA e Subteste de Tukey, nível de

significância p<0,01.

No estudo de Kurling et al. (2005) apud Martins et al (2005), verificou-se

que o decanoato de nandrolona (DN) em ratos sadios nas doses de 5 e 20 mg kg-1

durante duas semanas gera um aumento significativo, nos eritrócitos totais e

hemoglobina.

O aumento na potencialidade farmacocinética da hemoglobina resulta na

melhora da competência aeróbia e da performance desportiva. Por este motivo, o

DN é um medicamento muito utilizado por atletas de longa distância (CRUZ, et al.

2006)

Mas o estudo de Cunha et al (2004) mostrou que o tratamento com doses

suprafisiológicas de DN 5 mg/kg, 2x por semana, não promoveu aumento das

reservas de glicogênio, nos músculos esqueléticos e no tecido hepático, além

daquele obtido através da prática de exercício, fato que entra em contradição com

os resultados encontrados no presente estudo

Quando comparamos o diâmetro da fibra muscular, podemos verificar que os

animais do GTA (2754,5±307,5) apresentaram aumento no diâmetro transverso

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quando comparado com o GS (2010,75±307,5). Os demais grupos GSA

(2397,4±307,5) e GT (2290,03±307,5) não obtiveram resultados diferentes quando

comparado com o grupo controle.

GRÁFICO 2- O efeito do treinamento físico e do EAA sobre a hipertrofia do músculo. Análise de variância com Teste ANOVA e Subteste de Tukey, nível de significância p<0,05 GS grupo sedentário, GT grupo treinado, GSA grupo sedentário anabolizado GTA grupo controle.

No estudo de Carmo et al (2011) que submeteu ratos a exercícios de natação,

treinamento de força e doses de decanoato de nandrolona, eles observaram que

após o período de treinamento houve resultados hipertróficos relacionado somente

com o treinamento anaeróbico. Os grupos praticantes de natação não obtiveram

resultados relevantes referentes a hipertrofia muscular.

No estudo de Cunha et al. (2006) que utilizou o mesmo esteroide

anabolizante e um protocolo de exercícios aeróbicos semelhantes ao utilizando por

Carmo et al (2011) também não obteve resultados significativos relacionados ao

crescimento do diâmetro da fibra.

Também observamos no (GRAFICO 2) que o grupo GSA (2010,75±307,5)

não apresentou diferença no diâmetro da fibra se comparados ao grupo GS

(2010,75±307,5). Este resultado entra em divergência com os resultados

encontrados na literatura. Sabe-se que os EAA são utilizados no tratamento de

sarcopênia diminuindo a perda de proteína muscular em portadores do HIV (CUNHA

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et al. 2011). Como mostra Strawford et al., (1999) apud Silveira (2007) que

estudaram Indivíduos portadores de HIV que apresentavam perda de peso. Durante

12 semanas realizaram um tratamento com altas doses de DN, e foi observado que

esses indivíduos aumentaram cerca de 0,9kg a 1,2kg/semana de massa magra,

mesmo na ausência de treinamento.

Em relação a proliferação nuclear, verificamos que o grupo GTA (346,5 ±30,2)

apresentou maior número de núcleos quando comparados ao GS (274,8±30,2),

evento que não ocorreu com os outros grupos experimentais GT (295,8 ±30,2) e

GSA (300,5 ±30,2). (gráfico 2).

GRÁFICO 2- O efeito do treinamento físico e do EAA sobre a proliferação nuclear do músculo. Análise de variância com Teste ANOVA e Subteste de Tukey, nível de significância p<0,05.GS grupo sedentário, GT grupo treinado, GSA grupo sedentário anabolizado GTA grupo controle

Os resultados observados no presente estudo entram em divergência com os

achados de Joubert et al (1989) apud Carmo et al (2011) que diz que os EAA tem

sido utilizado devido ter importante papel no processo hipertrófico, atuando na

proliferação e diferenciação de células satélites e dos mionúcleos, o que acaba

refletindo em uma maior concentração proteica nesses músculos mesmo na

ausência de treinamento

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CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados obtidos na presente pesquisa

podemos concluir que o DN associado ou não ao exercícios físico gerou

adaptações morfológicas no músculo dos grupos experimentais, tanto

relacionado a hipertrofia muscular quanto a proliferação nuclear nas fibras

musculares.

Em relação ao desempenho atlético dos animais, podemos observar

que os animais anabolizados percorreram maior distância em relação ao

grupo não anabolizado provado que o esteroide anabolizante melhora o

rendimento em atividades aeróbicas.

Os resultados da associação dos EAA com exercício aeróbico ainda

são escassos na literatura cientifica, por isso é necessário que outros

estudos sejam realizados na área para esclarecer possíveis duvidas ainda

existentes sobre o tema no meio cientifico, e também ajudar a entender as

ações dessa droga no organismo, a atuação o sistema músculo esquelético

e possíveis efeitos colaterais.

Abstract

The objective of the study was to analyze the effects of AAS on morphological changes in the gastrocnemius muscle of 24 Wistar male rats, trained and sedentary youth. The animals were divided into four groups: Group Trained steroids (GTA), Group Sedentary steroids (GSA), Trained Group (WG) and Sedentary Group (GS). The animals in groups GTA and GT underwent running exercise in voluntary wheel for 12 weeks. Upon completion of training, the animals in groups GSA and GTA received an intramuscular injection containing Nandrolone decanoate 5mg/kg. After 12 weeks of training associated with AAS administration, the mice were sacrificed and immediately had his gastrocnemius muscle dissected and removed for morphological analysis in order to investigate possible changes in muscle structure. For morphological analysis, muscle histology slides were stained with HE and analyzed with the aid of a light microscope coupled to an image analyzer system that allowed measuring the transverse diameter of the muscle fibers to detect possible differences in thickness and quantify the number of these myonuclei muscle fibers. It was found that the animals in the GTA showed an increase in muscle fiber diameter (2666.58 ± 483.05) compared to GS (2010.75 ± 328.17). By analyzing the proliferation of nuclei in the muscle fiber was found that the animals in the GTA

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(328.3 ± 40.0) showed an increase when compared to GS (274.8 ± 31.7). Through our results, we conclude that the use of AAS associated or not to exercise causes morphological changes in the muscle of young rats. Keywords: Anabolics, Training, Effects, Histology.

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