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EDUCAÇÃO ALIMENTAR: FORMAS DE SUBSTITUIÇÃO DE EXCESSO DE SAL
NA ALIMENTAÇÃO
Autora: Prof.ª Neuza Terezinha Morosini1
Orientadora: Prof.ª. Dr.ª Liane Maria Vargas Barboza2
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo investigar os hábitos alimentares dos estudantes e desenvolver um projeto para substituição do sal por ervas aromáticas. A metodologia empregada foi pesquisa-ação. O projeto foi desenvolvido em uma turma do 2º ano do Ensino Médio do período noturno do Colégio Estadual Santa Cândida em Curitiba. A pesquisa revelou que a maioria dos estudantes tem hábitos alimentares inadequados e consomem muitos alimentos industrializados com elevado teor de sódio. Os alunos compreenderam a importância de reduzir o sal na alimentação e divulgar este conhecimento para familiares e comunidade. A partir do desenvolvimento deste projeto pode-se propor que a merenda escolar tenha no seu preparo a substituição do sal de cozinha por uma mistura feita de ervas aromáticas com o intuito prevenir as doenças que o excesso do mesmo pode causar. O projeto foi classificado em 1º lugar na Feira de Conhecimentos realizada em 2012.
Palavras-chave: Ervas aromáicas; Hábitos alimentares; Sal.
1 Professora de PDE
2 Professora do Setor de Educação da UFPR.
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1 INTRODUÇÃO
O consumo de sal tem crescido vertiginosamente no Brasil, a tal ponto que
se tornou um problema de saúde pública, pois muitas doenças estão associadas ao
mesmo. Essa problemática de dimensões nacionais e, até mesmo, mundiais se
reflete no interior da escola. Nossa prática pedagógica tem nos permitido
acompanhar, por meio de observação empírica, que, na escola não é diferente, os
discentes privilegiam uma alimentação a base de produtos reconhecidos pela
quantidade elevada de sal (cloreto de sódio) presente em sua composição. Desta
maneira, pretende-se elaborar uma pesquisa que identifique os hábitos de consumo
dos alimentos condimentados consumidos pelos discentes e que sirva como ponto
de partida para a reflexão e elaboração de práticas pedagógicas, no campo das
Ciências, Biologia, Química, visando à diminuição do consumo de alimentos ricos
em cloreto de sódio.
O elevado consumo de cloreto de sódio é um fato. Diante disso, impõem-se
a necessidade de alteração deste quadro, uma vez que o consumo de cloreto de
sódio está associado ao desenvolvimento de uma série de doenças. Os produtos
industrializados ocupam uma parcela cada vez maior do mercado de alimentos.
Estes alimentos são apresentados prontos ou semi prontos, os quais visam à
praticidade no dia-a-dia.
Muitos dos alimentos apresentados aos consumidores têm na sua
composição o sal de cozinha (cloreto de sódio) e conservantes a base de sódio, os
quais intensificam o sabor salgado, levando o cidadão a consumir quantidades
maiores destes alimentos, podendo desenvolver doenças relacionadas ao consumo
excessivo de sal.
O projeto que trata de como substituir o excesso de sal por ervas aromáticas
surgiu pelas observações dos hábitos alimentares dos estudantes durante o
intervalo, a quantidade de vezes que pediam para ir ao banheiro, isto diante de
atestados médicos referentes a problemas renais e urinários. Outro ponto que
despertou a atenção foi à quantidade de crianças e adolescentes com sobrepeso.
Neste contexto, o objetivo geral do projeto foi desenvolver alternativas para
substituição do excesso de sal no regime alimentar de escolares do Ensino Médio,
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visando contribuir para o desenvolvimento da reflexão dos discentes acerca dos
alimentos que consomem.
2 METODOLOGIA
A pesquisa classifica-se como pesquisa-ação, pois observou-se que a
maioria dos alunos do Ensino Médio consumiam alimentos industrializados que
continham grande quantidade de Sódio (Na). O consumo excessivo de sódio pode
causar várias doenças, principalmente as relacionadas ao sistema cardiovascular,
hipertensão e doenças renais. Para promover mudanças de hábitos alimentares
foram propostas ações de intervenção, visando sensibilizar os alunos sobre hábitos
mais saudáveis de alimentação.
A população estudada foram estudantes do Ensino Médio da Escola
Estadual Santa Cândida do município de Curitiba - PR. A amostra investigada foram
30 estudantes do 2º do Ensino Médio noturno na faixa etária de 15 a 20 anos.
O período de realização da pesquisa foi de agosto a novembro de 2011.
O projeto foi desenvolvido em 6 etapas: 1ª explicação sobre os alimentos
consumidos que possuem excesso de sal na sua composição e realização de
pesquisa sobre os hábitos alimentares dos estudantes; 2ª apresentação do projeto
de pesquisa para os estudantes e pesquisa sobre as formas de substituir o sal de
cozinha; 3ª pesquisa, seleção e plantação das ervas aromáticas; 4ª realização de
palestras; 5ª preparo de dois pratos de arroz integral um temperado com ervas
aromáticas e o outro temperado com sal; 6ª apresentação do trabalho “ Educação
Alimentar: formas de substituição do excesso de sal na alimentação” na Feira de
Conhecimentos realizada no Colégio em outubro de 2011.
As ervas aromáticas utilizadas foram: alfavaca, cebolinha, erva-doce,
basericó italiano, louro, manjericão, manjerona, orégano, salsa, sálvia e tomilho.
Para socializar os conhecimentos produzidos foi organizada uma Feira de
Conhecimentos no colégio, onde os estudantes interagiram com a comunidade
escolar e com a comunidade externa.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
O projeto foi desenvolvido em 6 etapas a seguir:
Na 1ª etapa foi abordada a temática dos alimentos que possuem excesso de
sal na sua composição.
No início do projeto foram questionados os hábitos alimentares quanto ao
uso do sal e outros tipos de alimentos, principalmente os industrializados e
condimentados. A pesquisa buscou conhecer também como era a alimentação na
escola, em casa e em ambientes públicos.
A pesquisa revelou que muitos estudantes consomem salgadinhos,
refrigerantes, hambúrguer, cachorro quente e alimentos embutidos no seu dia-a-dia
e não tem hábitos saudáveis de alimentação.
No Quadro 1 pode ser observado o teor de sal (cloreto de sódio) nos
alimentos mais consumidos pela população em geral.
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QUADRO 1 – TEOR DE SÓDIO NOS ALIMENTOS
ALIMENTO QUANTIDADE SÓDIO (mg)
MASSAS
Macarrão instantâneo de galinha 1 pacote 1951
Macarrão instantâneo de carne em copo
1 unidade 1859
Macarrão instantâneo de galinha em copo
1 unidade 1642
Macarrão instantâneo de carne 1 unidade 1389
Lasanha congelada à bolonhesa meia unidade 1734
Mistura para sopa instantânea de cebola
1 col. de sopa 899
Mistura para sopa instantânea de galinha e macarrão
2 col. de sopa 855
Espaguete 1 prato 20
BOLACHAS/BISCOITOS
Bolacha de grãos integrais 7 unidades 255
Bolacha salgada de queijo 3 unidades 226
Bolacha água e sal 7 unidades 223
Bolacha de leite 6 unidades 110
Bolacha de maisena 7 unidades 89
Bolacha recheada de chocolate 3 unidades 85
Bolacha doce sem recheio 5 unidades 85
Bolacha wafer de chocolate 4 unidades 53
Bolacha wafer de morango 4 unidades 36
Biscoito de polvilho 5 e meia unidades 203
Rosquinha de coco 6 unidades 110
LANCHES
Hambúrguer de carne 1 e meia unidade 583
Hambúrguer de frango 1 unidade 421
Nuggets de frango 5 unidades 742
BATATAS E SALGADINHOS
Batata chips ondulada 3 xícaras 308
Batata chips ao forno 1 e meia xícara 68
Batata palha 1 xícara 262
Salgadinho de milho 2 e meia xícaras 96
MOLHOS e CREMES PRONTOS
Catchup 1 col. de sopa 89
Maionese 1 col. de sopa 126
REFRIGERANTES
Refrigerante tipo cola zero 1 copo 28
Refrigerante tipo cola 1 copo 10
Refrigerante de limão 1 copo 15
FONTE: SPONCHIATO; MANARINI, 2012,
De acordo com o Quadro 1 pode-se verificar que os alimentos mais
consumidos pelos estudantes possuem em sua composição elevado teor de cloreto
de sódio, o qual pode trazer riscos para a saúde.
Os dados levantados sobre os hábitos alimentares dos estudantes no
colégio estão de acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto do Coração
(INCOR) do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo, o qual investigou o estilo de vida e a saúde cardiovascular em adolescentes
de escolas do município de São Paulo (LANCAROTTE et al., 2010).
Neste estudo foram pesquisados 2.125 adolescentes, com idade média de
12,9 anos. Do total estudado: de 14,4% a 32,1% não praticaram esporte ou
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competição; de 56,0% a 73,6% ficaram mais de duas horas à frente de TV,
videogame ou computador; aproximadamente 80% consumiram frutas e legumes de
forma considerada inadequada; de 34,9% a 45,3% relataram consumo aumentado
de sal; e de 60,9% a 74,4% consumo de refrigerantes. A prevalência de sobrepeso
variou de 18,7% a 41,6% (LANCAROTTE et al., 2010).
Em pesquisa realizada com 564 alunos do Ensino Fundamental para
investigar a prevalência de hipertensão arterial sistêmica e inter-relações com o
sobrepeso, obesidade, consumo alimentar e atividade física, verificou-se que quanto
ao consumo alimentar os alimentos mais consumidos foram: carne, leite,
margarina/molhos prontos e sal adicional para temperar a salada, sendo ingeridos
diariamente por cerca de 30% dos entrevistados. Pizzas, pastéis e chocolates eram
consumidos de uma a duas vezes por semana por aproximadamente 30%. Dentre
os alimentos analisados, refrigerante foi o alimento mais ingerido pelos
adolescentes. Como pode ser observado com relação aos hábitos alimentares, uma
parcela expressiva dos adolescentes desta amostra apresentou um padrão alimentar
inadequado respectivamente (HOFFMANN; SILVA.; SIVIERO, 2010, p. 170).
No Brasil, um inquérito epidemiológico com 1.450 estudantes revelou um
consumo “muito inadequado” de frutas, vegetais e fibras e um consumo de
salgadinhos e refrigerantes quase todos os dias em 64,8%, 25,9% e 32,9% da
amostra, respectivamente (RIBEIRO et al., 2006).
Segundo estudo realizado por Felice et al (2007, p. 13) os alimentos mais
consumidos pelos adolescentes pesquisados são 40,7% guloseimas, 23,6% pacote
de salgadinho, 21,4% bolacha, 16,2% sanduíches, 15,4% salgado assado, 14,9%
refrigerante, 9,3% doce, 5,7% sorvete, 4,6 %suco, 2,3% salgado frito, 2,3% lácteos,
1% frutas e 1% cereais.
O alto consumo de sal, atualmente, é utilizado como preditor de doenças
cardiovasculares. Em países ocidentais, o consumo de sal é elevado, não só na
preparação como na conservação de alimentos, além da grande utilização de outras
substâncias, como o glutamato monossódico. Esse condimento parece ter grande
aceitação entre os mais jovens e tornou-se indispensável na alimentação à base de
massas (MOLINAL et al., 2003).
Na 2ª etapa foi apresentado o projeto de pesquisa, visando sensibilizar os
estudantes sobre os riscos do excesso de sal nos alimentos in natura e
industrializados.
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Após a apresentação do projeto aos alunos, a turma foi organizada em três
grupos, com dez alunos em cada grupo. Para cada grupo foi proposto um sub-tema
para pesquisa, apresentação e debate. O primeiro grupo ficou com o sub-tema “A
história do sal”; o segundo grupo com o sub-tema “Os malefícios do sal para o
organismo” e o terceiro grupo com o sub-tema “A importância do sal para o
organismo”.
Com esta atividade os alunos se sentiram motivados para aprender Ciências,
pois esta temática estava relacionada com o cotidiano dos mesmos. Novos
conhecimentos foram agregados a partir desta temática.
Já na 3ª etapa foi apresentada aos grupos anteriores uma proposta de
pesquisa para a substituição do excesso de sal nos alimentos por ervas aromáticas.
Novamente os grupos realizaram as pesquisas, desta vez buscando os seguintes
temas sobre as ervas: a história e a origem de cada uma das ervas; suas
propriedades; importância do uso das ervas e os principais tipos de ervas
aromáticas encontradas na região norte de Curitiba.
A partir desta pesquisa foram selecionadas algumas ervas aromáticas. Os
critérios de seleção das ervas foram aquelas com melhor adaptação e
desenvolvimento ao clima e solo da região. As ervas aromáticas selecionadas foram:
alfavaca, alecrim, cebolinha, coentro, basericó italiano, louro, manjerona,
manjericão, orégano, salsa e tomilho. As mesmas foram adquiridas em formas de
mudas. As ervas foram plantadas em floreiras e colocadas na horta da escola para
crescerem e se desenvolverem. O período desta etapa foi de aproximadamente 50
dias. Cada grupo de estudantes ficou responsável por plantar uma determinada
quantidade de ervas aromáticas.
Na 4ª etapa foi realizada um ciclo de palestras com um nutricionista sobre
alimentação saudável. O palestrante conversou com a classe sobre hábitos
alimentares saudáveis e os fez refletir sobre seus costumes alimentares,
principalmente os mais consumidos atualmente, ou seja os alimentos
industrializados e condimentados, devido a sua praticidade.
Na 5ª etapa foi desenvolvida uma atividade para articular a teoria com a
prática. Nesta etapa foram preparados dois pratos com arroz integral. O alimento
base foi o arroz integral, que faz parte do cardápio da merenda escolar e também
que não é muito apreciado pelos alunos.
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O primeiro prato preparado foi com arroz integral, o qual foi escolhido,
lavado, e temperado somente com ervas aromáticas, sendo o sal totalmente
excluído deste prato.
O segundo prato preparado foi com arroz integral, o qual foi escolhido,
lavado, e temperado somente com sal.
Os pratos foram servidos um após o outro, sendo que o prato do arroz
integral cozido temperado com sal foi servido em primeiro lugar e na sequência foi
servido o arroz integral cozido temperado com ervas aromáticas. Os pratos foram
apresentados aos estudantes na temperatura de 68º C.
O tempo de degustação entre um prato e outro foi de cinco minutos. Para
não interferir o sabor de um prato e outro os estudantes foram orientados beber um
pouco de água a temperatura ambiente.
Para que os alunos conseguissem degustar corretamente cada prato foi
solicitado que os mesmos não consumissem balas, chicletes e outros alimentos
antes da degustação dos pratos elaborados.
A maioria dos estudantes apreciou o prato de arroz integral preparado com
as ervas aromáticas e outros preferiram o arroz integral temperado só com sal.
No final foi realizado um teste de aceitabilidade das refeições com os 30
alunos presentes e que provaram os dois tipos de alimentos, um preparado com
arroz integral e sal e o outro com arroz integral e as ervas aromáticas. O resultado
foi de 25 alunos com preferência pela refeição preparada com ervas e de 05 alunos
para aquela preparada só com sal, ou seja, 83,33% dos alunos preferiram a refeição
a qual foram usadas alguns tipos de ervas aromáticas, enquanto que 16,66%
preferiram a refeição com sal. Após o teste foi desenvolvido um diálogo para uma
nova reflexão sobre o consumo excessivo e diário de sal e as doenças provocadas
pelo mesmo como os problemas cardiovasculares, os distúrbios renais e as
complicações circulatórias.
Segundo estudo realizado por French; Lin e Guthrie (2003) nos Estados
Unidos a prevalência do consumo de refrigerantes entre crianças e adolescentes de
6 a 17 anos passou de 37% para 56% em um período de 20 anos. Segundo
Lancarotte et al. (2010) isso ocorre devido as situações decorrentes das dinâmicas
familiares e do círculo de amigos, do aporte crescente de alimentos industrializados,
dos preços mais acessíveis e dos apelos mercadológicos (através de múltiplas
estratégias) sejam determinantes importantes desse comportamento alimentar.
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Essas realidades vivenciadas pela pesquisa não são diferentes em nossas
escolas com nossos alunos, pois, a maioria dos mesmos é oriunda da classe
trabalhadora, os quais passam a maior parte do dia sozinhos sem acompanhamento
dos pais no preparo e orientação das refeições o que dificulta que os mesmos
tenham uma dieta balanceada. E acabam por consumir os alimentos industrializados
e condimentados com alto teor de sal na sua composição que por sua vez são
práticos e porque também não foram ensinados a preparar uma alimentação
saudável.
De acordo com HALLAL; BERTOLDI; VICTORIA (2006) outro problema
observado entre os adolescentes é o estilo de vida, o sedentarismo, eles passam
longos períodos em frente à TV e computadores sem exercer atividades físicas e
além disso, consomem alimentos calóricos e com sal (VILELLA, 2007 apud
LANCAROTTE et al., 2010). A pesquisa revelou que o excesso de sal nos alimentos
é um dos fatores de sobrepeso e obesidade, como vem sendo divulgado pela mídia,
como um dos problemas de saúde pública.
O aumento das doenças cardiovasculares (DCV) vem sendo associado a
modificações dos padrões alimentares, à redução da pratica de exercícios físicos e a
crescente obesidade na infância, que tende a persistir na fase adulta acompanhada
de hipertensão dando origem ao surgimento de doenças cardiovasculares,
elevando-se ao grupo de mortalidade nas diversas regiões brasileiras (SILVEIRA, et.
al., 2001; CABRAL et. al., 2003; GAMA et. al., 2007).
As doenças cardiovasculares (DCV) contribuem para um aumento da taxa
de mortalidade em todas as regiões brasileiras, representando quase um terço dos
óbitos totais e 65% do total de mortes na faixa etária de 30 a 69 anos. Além disso,
constituem-se numa das principais causas de permanência hospitalar prolongada,
sendo responsável pela principal alocação de recursos públicos em hospitalizações
no Brasil, nos tempos atuais (CASTRO et. al, 2004; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004;
GODOY et. al., 2007).
O aumento do triglicerídeo, colesterol sérico, elevação da pressão arterial,
diabetes melittus, hereditariedade, ansiedade e estresse são fatores de risco de
maior probabilidade para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (RÊGO;
CHIARA, 2006).
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Outras informações que vem de encontro com nosso trabalho sobre a
substituição do excesso de sal na alimentação por ervas aromáticas, esta no artigo
científico intitulado “Elaboração e avaliação de uma alternativa dietética para o
tratamento do hipertenso”.
De acordo este estudo sobre a elaboração e avaliação de uma alternativa
dietética para o tratamento da hipertensão cerca de 20% da população adulta do
mundo apresenta a hipertensão arterial sistêmica (HAS) elevada. Entre os principais
fatores que podem influenciar a HAS pode se citar o uso excessivo do sal na
alimentação o que a longo prazo traz como conseqüência o comprometimento
cardíaco, cerebral ou renal, acometendo o indivíduo em idade reprodutiva. Na
pesquisa dos autores foram investigados 20 indivíduos, sendo 12 mulheres e 8
homens freqüentadores de um grupo de hipertensos da Unidade Básica Roberto
Binato. A proposta alternativa de substituir na dieta dos hipertensos o sal por um
tempero elaborado com a utilização de ervas e especiarias desidratadas onde foram
feitas análises sensoriais com escalas de notas de 01 a 09 para atributos como cor,
sabor e aparência entre os mesmos tipos de alimentos (bifes de carne) teve como
resposta em padrões aceitáveis de qualidade foi o do tempero elaborado com ervas
e especiarias, podendo ser utilizados como alternativa dietética, não apenas, no
tratamento do hipertenso e sim para a população em geral, promovendo maior
qualidade de vida com a aquisição de hábitos alimentares saudáveis (BALEST;
ROSA, 2010).
Este estudo pode contribuir para reforçar a proposta de preparar alimentos
com ervas aromáticas para substituir o sal de cozinha. Comparando a pesquisa
realizada com o projeto desenvolvido no colégio para a substituição do excesso de
sal por ervas aromáticas, constatou-se que o alimento preparado teve grande
aceitabilidade pelos alunos. A partir destes dados pode-se propor que a merenda
escolar tenha no seu preparo a substituição do sal de cozinha por uma mistura feita
de ervas aromáticas com o intuito prevenir as doenças que o excesso do mesmo
pode causar.
Segundo a Política Nacional de Alimentação (BRASIL, 2012a) e nutrição O sódio é um nutriente essencial para nosso organismo: contribui para a
regulação osmótica dos fluidos e atua na condução de estímulos nervosos e na contração muscular. Entretanto, seu consumo excessivo está associado ao desenvolvimento da hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e renais e outras doenças, que estão entre as primeiras causas de internações e óbitos no Brasil e no mundo.
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O sal iodado também é importante para combater diversas doenças. A
deficiência de iodo pode causar cretinismo em crianças (retardo mental grave e
irreversível), surdo-mudez, anomalias congênitas, bem como a manifestação clínica
mais visível – bócio (BRASIL, 2012b).
Alimentação é de fundamental importância em diferentes fases da vida
desde criança até adultos. No Brasil existem várias iniciativas que alertam para o
desenvolvimento de hábitos alimentares mais saudáveis e também para a redução
do sal de cozinha nos alimentos.
Em pesquisa realizada para avaliar a aceitabilidade de feijão cozido e
temperado com sal de cozinha e feijão temperado com ervas aromáticas e
especiarias constatou-se que a maioria das pessoas tem o hábito de consumir
alimentos temperados com sal (BORJES; TECHIO; OLIVEIRA, 2011).
Neste estudo foram preparados três pratos de feijão, sendo o primeiro
temperado com 100% de sal, o segundo temperado com 50% de sal e 50% de ervas
aromáticas e especiarias e o terceiro com 25% de sal e 75% de ervas aromáticas e
especiarias. Para testar a aceitabilidade as preparações de feijão foram
apresentadas a 185 provadores treinados em 5 restaurantes de Chapecó em Santa
Catarina. O teste de aceitabilidade revelou que as médias dos provadores ficaram
próximas a 06 em somente um restaurante, confirmando o hábito de consumir
alimentos temperados com sal (BORJES; TECHIO; OLIVEIRA, 2011).
Segundo os pesquisadores há necessidade de desenvolver ações de saúde
pública, que devem ser priorizadas no intuito de promover a alimentação saudável
em estabelecimentos comerciais, para a manutenção da saúde e prevenção de
doenças. Esta proposta vem de encontro com as iniciativas desenvolvidas no projeto
aplicado no Colégio sobre a substituição do sal de cozinha na alimentação
(BORJES; TECHIO; OLIVEIRA, 2011).
Na 6ª etapa foi realizada a apresentação do trabalho “Educação Alimentar:
formas a substituição do excesso de sal na alimentação” na Feira de Conhecimentos
realizada no Colégio em outubro de 2011.
A mostra teve como objetivo valorizar a pesquisa, os trabalhos
desenvolvidos pelos alunos e também socializar o conhecimento produzido para
toda comunidade escolar e comunidade externa.
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Nesta exposição os alunos abordaram os malefícios que o sódio presente no
sal de cozinha pode causar a saúde e também apresentaram formas de substituir o
sal pelas ervas aromáticas, pois as mesmas além de saborosas também apresentam
propriedades nutricionais, são fontes de vitaminas, sais minerais, entre outros.
Segundo Moraes (1986, p. 20) a feira de ciências é um empreendimento
técnico-científico-cultural que se destina a estabelecer o inter-relacionamento entre a
escola e a comunidade. Oportuniza aos demonstrarem, por meio de projetos
planejados, e executados por eles, a sua criatividade, o seu raciocínio lógico, a sua
capacidade de pesquisa e seus conhecimentos científicos.
Para a organização da Feira de Conhecimentos a turma foi dividida em
grupos e cada grupo ficou responsável por uma etapa da exposição.
A sala de aula foi dividida em duas partes, uma delas para os alunos falarem
sobre o do sal a qual foi decorada com a cor branca e outra parte da sala para os
alunos abordarem as ervas aromáticas, sendo decorada nas cores verdes. O chão
foi todo forrado com folhas secas de várias espécies de plantas.
Os alunos que explicavam sobre o sal de cozinha abordaram também os
diferentes tipos de sais (refinado, grosso, marinho, temperado) e os alunos que
explicavam sobre as ervas aromáticas apresentavam as ervas plantadas nas
floreiras, conforme pode ser observado na Figura 1.
FIGURA 1 – APRESENTAÇÃO DO PROJETO NA FEIRA
DE CONHECIMENTOS
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Houve grande visitação da comunidade escolar onde ali tiveram a
oportunidade de visitar e aprender sobre o assunto o que gerou grande impacto e
curiosidade, pois, muitos faziam comentários tais como:
“Nossa, eu não sabia que o excesso de sal é responsável por determinadas
doenças, vou diminuir a quantidade.
A apresentação das ervas aromáticas causou um impacto positivo entre os
visitantes, pois muitos não tinham conhecimento dos diferentes tipos de ervas e
principalmente que poderiam substituir o sal de cozinha nos alimentos.
Na apresentação das ervas aromáticas os alunos organizaram cada tipo de
erva com uma plaqueta com informações sobre a origem, as propriedades e
indicações de uso.
A maioria dos pais comentou que desconheciam as informações
apresentadas e com os novos conhecimentos adquiridos os mesmos demonstraram
interesse em fazer uso das ervas aromáticas na alimentação.
A Feira contou com uma banca examinadora para avaliar os trabalhos, uma
equipe julgava o Ensino Fundamental e outra o Ensino Médio. O projeto sobre
formas de substituição de excesso de sal por ervas aromáticas foi avaliado em
primeiro lugar.
O Estado aposta no programa para reverter à tendência de crescimento nos
índices de sobrepeso e obesidade entre estudantes, a as doenças crônicas
relacionadas ao excesso de peso. A idéia surgiu após pesquisa realizada pela
Secretária da Educação e pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR)/Departamento de Nutrição, ao constatar que 13,58% têm sobrepeso ou
obesidade e 7,13% dos adolescentes estão abaixo do peso ideal para a idade.
Medidas biométricas serão incluídas no Sistema Estadual de Registro Escolar,
ficando à disposição de pesquisadores e instituições acadêmicas (PARANÁ, 2012)
Esses dados não se distanciam dos resultados obtidos na pesquisa
realizada no Colégio Estadual Santa Cândida, onde os hábitos alimentares
familiares identificados proporcionam aumento de peso. O colégio está localizado
numa região onde a predominância dos alunos é descendente de famílias de origem
polonesa e alemãs, as quais incluem em seus cardápios alimentos embutidos com
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alto teor de sal e teor de gordura, o que pode provocar a retenção de líquidos e a
obesidade.
O alto consumo de sal e evidenciado desde a década de 80, quando a
ingestão variava de 3120 a 3520 mg de sódio por dia entre adolescentes de ambos
os sexos em países desenvolvidos (HE; MACGREGOR, 2006).
Baixar o consumo de sódio é uma das medidas mais custo-efetivas em
termos de saúde pública, uma vez que repercute no combate às doenças crônicas,
primeira causa de morte e de gastos em tratamento no país.
A Associação Brasileira das Indústrias e o Ministério da Saúde firmaram um
acordo para reduzir, até 2014, o teor de sódio de uma porção de alimentos. Os
alimentos em destaque para a redução do teor de sódio são o pão francês, os
salgadinhos, o preparo para bolos, os biscoitos, a maionese e as massas
instantâneas. A diminuição da substância será gradual (BRASIL, 2012c).
Para monitorar a nutrição de estudantes da rede estadual de ensino do
Paraná será realizado um estudo pela Secretaria Estadual de Educação do Estado
do Paraná (SSED-PR).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto alcançou os objetivos propostos. Os alunos compreenderam a
importância de reduzir o sal na alimentação e também divulgar este conhecimento
para se.
A partir do desenvolvimento deste projeto pode-se propor que a merenda
escolar tenha no seu preparo a substituição do sal de cozinha por uma mistura feita
de ervas aromáticas com o intuito prevenir as doenças que o excesso do mesmo
pode causar.
A exposição das atividades desenvolvidas no projeto na Feira de
Conhecimentos contribuiu para socialização da comunidade escolar e comunidade
externa. O projeto alcançou o primeiro lugar na Feira de Conhecimentos.
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O ensino de Ciências por meio de projetos possibilita a problematização, a
interdisciplinariedade, a contextualização e a interação entre os alunos, professores
e a comunidade.
REFERÊNCIAS
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