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  • 8/17/2019 Docência - O Contexto Tecnológico

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    Célia Maria de Araújo

    Marcos Aurélio Felipe

    Educação e TecnologiaD I S C I P L I N A

    O contexto tecnológico

    Autores

    aula

    01

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    Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa daUFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

    Governo Federal

    Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

    Ministro da EducaçãoFernando Haddad

    Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Reitor

    José Ivonildo do Rêgo

    Vice-Reitora

    Ângela Maria Paiva Cruz

    Secretária de Educação a Distância

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    Universidade Estadual da Paraíba

    Reitora

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    Vice-Reitor

    Aldo Bezerra Maciel

    Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE

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    Divisão de Serviços Técnicos

    Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

    Coordenadora da Produção dos Materiais

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    Coordenador de Edição

    Ary Sergio Braga Olinisky

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    Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares Borges (UFRN)Janio Gustavo Barbosa (UFRN)Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

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    Revisor Técnico

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    Revisora Tipográfica

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    Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)

    Carolina Costa (UFRN)Diagramadores

    Bruno de Souza Melo (UFRN)Ivana Lima (UFRN)

    Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)Mariana Araújo (UFRN)

    Araújo, Célia Maria de.  Educação e tecnologia / Célia Maria de Araújo, Marcos Aurélio Felipe. – Natal, RN : EDFURN, 2007.  184 p. il.

      1. Educação. 2. Tecnologia. 3. Comunicação. 4. Prática pedagógica. I. Felipe, Marcos Aurélio. II. Título.

      ISBN: 978-85-7273-422-6  CDD 370RN/UF/BCZM CDU 37

    2008/46

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    Aula 01  Educação e Tecnologia 1

    1

    2

    Apresentação

    C

    om o advento e abrangência das tecnologias, você pode identificar uma certamodernização no contexto social e educacional da atualidade. No decorrer destadisciplina, a tecnologia será estudada em seus pontos positivos e negativos, a partir

    de suas possibilidades educativas como recurso pedagógico. Você também terá uma análise,em um determinado momento da disciplina, de quando as tecnologias foram apresentadasàs escolas através de vários projetos governamentais (como a TV Escola, Salto para o Futuro,entre outros).

    Inicialmente, apresentaremos um panorama do que alguns autores denominamde Sociedade Tecnológica. Com o tempo, as características desse contexto tecnológicodefinem, desenvolvem e explicam muito dos nossos pensamentos e comportamentos,assim como de espaços e práticas educacionais com as tecnologias. Na essência dessasociedade, a informação e o conhecimento são peças-chaves para compreender os

    ambientes, as práticas docentes e as tecnologias de ordem: instrumental; informacional ecomunicacional; do pensamento e da inteligência. Como professores em atividade ou emformação, iniciaremos juntos um percurso sobre o universo da educação na sua relação coma tecnologia, conhecendo seu contexto, espaços, práticas e possibilidades educativas.

    Nesta aula, assim como nas posteriores, os conteúdos estão estruturados em tópicos.Mediando o desenvolvimento destes, apresentaremos conceitos, explicações e exemplos,intercalando resoluções de atividades e questões que visam desencadear e alicerçarintensamente as suas reflexões, bem como o seu comportamento diante da tecnologia comodado fundamental no mundo atual e nos espaços educacionais.

    Objetivos

    Compreender as características cotidianas e educacionaissob o contexto da Sociedade Tecnológica.

    Sistematizar alternativas para trabalhar as Tecnologiasda Informação e Comunicação (TIC’s) no âmbitoeducacional.

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    Tecnologia, cotidiano e formação

    Quantas vezes no seu cotidiano a tecnologia aparece como um componentepermanente e irreversível?

    Em um mundo onde a tecnologia ocupa quase todos os espaços, tornando-se peça-chavena implementação, gestão e desenvolvimento das instituições sociais (escolas, associaçõesprofissionais, instituições financeiras etc.), certamente, você já se fez, pensou ou elaboroua pergunta anterior. É dessa forma que começaremos esse percurso sobre a relação

    entre educação e tecnologia. Como professor, perceba que não há como se desvinculardas tecnologias do cotidiano e que estas, aos poucos, acabam por entrar nos espaçosinstitucionais de educação.

    Lembramos que, em determinados contextos (como os que se delineiam, porexemplo, no campo, em cidades e em locais de algumas regiões do Brasil e do mundo), astecnologias não aparecem de forma tão preponderante. Mas, mesmo em tais locais, diretaou indiretamente, a tecnologia ainda assim constitui um vetor de influência, já que não háqualquer contexto do cotidiano em que o homem não utilize recursos tecnológicos, seja notrabalho, seja nas demais atividades.

    De outra forma, nada deixa de ser tomado pelo evento da Globalização. Após afragmentação no início da década de 1990 da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas(URSS), esse processo globalizador integrou países, regiões e cidades, basicamente, a partirdas TIC’s, as quais incidem sobre os aspectos sociais, econômicos e culturais. Por isso,de acordo com Castells (2003), hoje, fala-se em uma nova estrutura social dominante (asociedade em rede), uma nova economia (a economia informacional global) e uma novacultura (a cultura da virtualidade real). Entrelaçados, esses fenômenos constituem e apontampara o mesmo campo, mundos geograficamente afastados, mas integrados por informaçãoe conhecimento, que lhes são acessíveis por meio das tecnologias.

    Além de as tecnologias se inserirem nas instituições, observe que estas tambémpermeiam o cotidiano de todos nós, seja pela exigência de uma dada profissão, com asrelações de trabalho sendo moldadas por instrumentos, seja apenas no nível mais banalde nossas vivências, com o uso de barbeador, aparelhos eletrônicos, entre outros recursostecnológicos. Em outro nível, a tecnologia torna-se a base do desenvolvimento dos meiosde comunicação (como o Rádio, a TV, o Cinema etc.), tanto para a produção quanto paraa circulação de informações. Ao mesmo tempo, veja que as tecnologias se inserem nosprocessos do pensamento e no campo das idéias, quando, em certos momentos, só é possível

    Tecnologia

      O termo tecnologia,

    essencialmente, refere-se a

    três situações: a tecnologia

    em sua dimensão

    instrumental, que, a serviçodas relações de trabalho

    ou de alguma atividade

    cotidiana, apresenta-se

    como uma extensão da

    produção humana; a

    tecnologia como base para

    os meios de comunicação,

    responsável pela

    produção e circulação de

    informações; e a tecnologia

    em sua dimensão próxima

    ao pensar e a inteligênciahumanas.

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    dar forma a alguma reflexão ao usarmos a tecnologia. Assim, esses aspectos compõem oque chamamos cultura material e imaterial de uma dada sociedade, a partir de dimensõesque não são marcadas apenas por objetos, mas por pensamentos e idéias.

    Se ainda não se fez a pergunta que abre este primeiro tópico, certamente, você jásentiu e/ou se deparou como indivíduo com a presença desse universo tecnológico noseu cotidiano: universo, aparentemente, comum, dado o seu caráter já usual, utilitário e

    necessário para o dia-a-dia. Mas, em essência, um universo que, cada vez mais, torna-se umcomponente permanente e irreversível das nossas realidades, pois, direta ou indiretamente,as tecnologias batem em nossas portas sem pedir licença.

    Para Sampaio e Leite (2002, p. 32):

    Há duas formas de vermos a relação entre o homem e as tecnologias:primeiramente, como instrumentos do ato humano de trabalhar, abrindo espaço

    para a produção de bens materiais; segundo, como ferramenta do ato de pensar,usada na construção do conhecimento, de raciocínio e interpretação.

    A título de exemplo, perceba que a inserção tecnológica acontece quando realizamosum saque em caixas eletrônicos, votamos durante as eleições através de urnas eletrônicasou, simplesmente, acionamos algum dispositivo manual, elétrico e/ou eletrônico paraligarmos uma lâmpada, congelarmos um item alimentício e vermos programas ou filmesna TV através de aparelhos de DVD ou canais por assinatura via satélites. Principalmente,tal inserção ocorre à medida que moldamos nosso tempo e espaço em função da influênciatecnológica. Como um pêndulo, a tecnologia impõe seu ritmo, delineia os passos de cadaindivíduo e o compasso de cada hora como a ponte por onde atravessamos o cotidiano.Por outro lado, o nível tecnológico se impõe ao transformar esse tempo e espaço em umadimensão bem distante da dimensão concreta pela virtualidade que os definem: tempos eespaços abstratos – nem sempre paralelos, contínuos e lógicos.

    Considerando a natureza urbana dos grandes centros do mundo e a natureza ruraldas glebas do interior brasileiro, podemos, então, distinguir o tempo-espaço como sendodiametralmente diferentes nessas duas geografias. Assim, ao compará-los, nos perguntamos

    se é o mesmo o tempo do profissional liberal da bolsa de valores em São Paulo (onde cadasegundo é decisivo e um fragmento importante em seu trabalho) e o tempo do homem docampo. Em muitas cidades interioranas do Nordeste brasileiro, homens e mulheres ainda seguiam pelas estações do ano, sendo o ritmo dos dias e das horas moldados pela produçãoquase imediata da produção de bens de consumo e subsistência.

    No entanto, não é como indivíduo que precisamos nos posicionar diante da tecnologiano contexto contemporâneo, mas como sujeitos da área da educação que atuam em umainstituição escolar ou estão em processo de formação. De uma forma ou de outra, estudando,

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    pesquisando ou por meio da própria experiência, você já percebeu que a educação institucional(as práticas educativas da escola), hoje, já não tem mais como fugir da tecnologia, conformeapontam as quatro justificativas a seguir.

    1.  Porque, em geral, a formação atual dos alunos, em termos de conhecimentoe informação, ocorre a partir do contato com os meios de comunicação (coma televisão e, cada vez mais, com a Rede Mundial de Computadores).

    2. Porque o próprio espaço escolar já se organiza para atender a esse fimtecnológico (seja, antes, com as salas de multimeios, seja, hoje, com oslaboratórios de informática).

    3.  Porque a demanda por capacitação na área das tecnologias educacionais já

    se tornou uma exigência da categoria docente, diante de um mundo cadavez mais dominado por informação e sistematização de dados.

    4.  Porque a tecnologia está no cerne dos projetos governamentais, que chegamao espaço escolar a partir de recursos tecnológicos a serem utilizados noprocesso de ensino-aprendizagem.

    Assim, se atualmente, a cada ação, direta ou indiretamente, somos tomados pelastecnologias (máquinas, instrumentos, meios de comunicação), ao nos perguntarmos quantasvezes em nosso cotidiano elas aparecem como componente permanente e irreversível, aresposta certamente não apontará apenas para um componente quantitativo na discussãosobre tecnologias no mundo contemporâneo. De modo que, neste caso, o mais importantenão é o número de vezes ou a quantidade de instrumentos, máquinas ou meios que utilizamose/ou com os quais lidamos cotidianamente (calculadoras, caixas-eletrônicos, televisores,computadores, mp4, DVD, pen-drives  e outros).

    A pergunta sobre a permanência e a irreversibilidade da tecnologia em nosso cotidiano

    que abre este tópico, antes de tudo, estabelece uma questão de ordem qualitativa.Sobretudo porque remete sua prática diária e/ou profissional para as formas e os modosde uso da tecnologia nas relações humanas. À medida que a tecnologia promove encontros,constitui-se uma ponte para o diálogo e atende sempre a uma finalidade organizada poroutrem, começamos a nos perguntar “quais as formas” e “quais os modos” de uso dastecnologias: formas e modos de usar – da mais instrumental (para a produção de bens oupara a comunicação e informação) até a mais avançada em sua autonomia, resvalando nopensar, na inteligência e no raciocínio automatizados.

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    Assim, o que delineia as formas e os modos de uso da TV em sala de aula, por exemplo,encontra-se imbricado de saber e técnica – essencialmente, de um sujeito que aprende,aplica conhecimento e manuseia certos objetos. Nesse sentido, importa menos o que vemose com o que trabalhamos cotidianamente e mais a forma e o modo com que usamos astecnologias, seja em alguma atividade profissional, seja no âmbito educativo com os nossosalunos. Nessa mediação, em que as tecnologias se interpõem entre os interlocutores, o

    conhecimento e a informação são elementos permanentes e presentes.

    A diferença entre informação e conhecimento é sutil, porém, importante.Conhecimento é o significado que se extrai da informação, é a interpretação.Usualmente, o conhecimento é desenvolvido através de um processo interativo,através da discussão com pares ou desenvolvendo uma análise crítica dainformação. Para desenvolver o conhecimento, é necessário um ambiente deaprendizagem muito mais rico e diversificado do que o utilizado para simples

    transmissão de informação. (WOLYNEC, 2006, p. 2)

    Conseqüentemente, os processos formativos, sociais e/ou educacionais, entram empauta, desencadeiam outras posturas e mudanças de comportamento em nós professores(em atividade ou em formação). Assim, em um contexto de comunicação mediado peladimensão tecnológica, perceba que a aprendizagem acontece a partir das mais distintastecnologias (“velhas” ou novas), provenientes de formatos diversos (que se utilizam da

    palavra ou da imagem) e que atendem a finalidades múltiplas (formativas ou instrumentais).Na base dessa discussão, cabe se perguntar a quem e quais objetivos atende a dimensãotecnológica, ou seja, a qual finalidade e função as tecnologias estão a serviço.

    Portanto, perguntar-se sobre a inserção da tecnologia em nosso cotidiano (sobretudoem nosso cotidiano profissional) é fundamental para todos que, diária e irreversivelmente,utilizam as tecnologias no âmbito tecnológico: como instrumentos (recursos para o trabalhoou outra atividade qualquer) e/ou como balizadoras dos avanços na produção, transmissãoe circulação de comunicação e informação dos meios (como o Rádio, TV e Cinema). Alémdo mais, a preocupação que você precisa ter em relação a essas tecnologias não pode ser

    apenas de ordem quantitativa (se o laboratório de informática “X” vai ter 15 ou 30 máquinas),mas, principalmente, de ordem qualitativa, refletindo e estabelecendo as formas e os modosde uso – incluindo, necessariamente, os conhecimentos e as finalidades.

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    Atividade 1

    Como componente permanente e irreversível, o universo da tecnologia, muitas vezes,constitui-se no universo pelo qual os indivíduos estruturam o seu cotidiano, elaboram asformas de pensamento e reorganizam os instrumentos tecnológicos do trabalho.

    Assim, como em Tempos Modernos  (1936, de Charles Chaplin), sem a prerrogativa dareflexão, nos tornaremos quase um homem-máquina, automatizados e instrumentalizadosneste contexto que mais parece uma fábrica onde utilizamos e somos utilizados pelatecnologia. Portanto, se, como professores, tornarmos a tecnologia apenas um dado dossentidos e não uma questão problematizadora, a partir de quais parâmetros educacionaisserá possível compreender a nossa formação permanente e a formação dos nossosalunos, cujo contato com o universo tecnológico se dá de forma imediata e, quase sempre,independente da vontade dos sujeitos? Convidamos-lhe a pensar sobre esses aspectos e,em parte, desenvolver suas problemáticas na atividade seguinte.

    Considerando a discussão tecnologia e cotidiano, que desenvolvemosaté o momento, elabore uma narrativa em forma de diário  a partir dasseguintes orientações:

    a) tome um dia como unidade narrativa: da hora em que acordar até a hora em

    que for dormir;b) organize a narrativa a partir de três eixos: hora, expediente (manhã, tarde e

    noite) e contato com as tecnologias;

    c) enumere o seu contato diário com tecnologias instrumentais ou tecnologiasda comunicação e informação.

    Mais adiante, na auto-avaliação, retomaremos a sua narrativa.

    Figura 1 - Fragmento do filme Tempos Modernos  (1936)

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    Sociedade Tecnológica

    Compreender a Sociedade Tecnológica, na definição de Marcondes Filho (2002),é também compreender o cerne das questões que envolvem a presença e apreponderância das tecnologias no cotidiano, nas relações de trabalho e nas formas

    de pensamento contemporâneos. Inserir-se como sujeito reflexivo nesse contexto, no qualos aspectos formativos cada vez mais precisam ser acompanhados de “olhos bem abertos”,permitirá a você ir além do conhecimento sensorial ou utilitário que, em princípio, osartefatos, instrumentos ou as ferramentas tecnológicas sugerem. Ir além significa, antes detudo, estabelecer os aspectos primordiais e pensar alternativas para a formação e a inclusãoneste universo ocupado pela tecnologia.

    Veja como exemplo o que resultou em termos de conceitos quando, no final do séculoXIX, a câmera dos irmãos Lumiere, Louis e Auguste projetou imagens de uma estação detrem no subsolo de um café em Paris, na França. Aconteceu ali o encontro de duas grandesinvenções tecnológicas do mundo industrial. De um lado, uma máquina a vapor cruzando aimagem em direção a sua superfície, a partir de um movimento que, aparentemente, parecia

    sem fim. De outro, a imagem do cinematógrafo sendo projetada em um lençol branco parauma platéia atônita com o que via, talvez por não compreender, estupefata, o que estavaa sua frente: imagens tecnicamente reais – apesar de apenas serem a projeção de umasituação histórica em movimento.

    Tínhamos, então, a seguinte situação:

    n  no primeiro caso, a automação, que apontava para um avanço nos meios de transportes,o que, em pouco tempo, permitiria o homem chegar ao espaço e, mais tarde, navegarpor zonas nunca dantes imaginadas do corpo humano;

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    n  no segundo, um dos signos mais precisos e concretos da contemporaneidade: aimagem como espetáculo – o cerne dos meios de comunicação e informação, dosprodutos de ordem econômica e política.

    A partir desses casos, perceba que ainda se vivia em um mundo onde a automação e aimagem eram gestadas, desenvolvidas e controladas pelos indivíduos. Pouco tempo depois,sobretudo com os avanços tecnológicos decorrentes da Segunda Guerra Mundial (1939-

    1945) e da corrida armamentista da Guerra Fria, os níveis de autonomia e produção deimagem chegaram a um nível no qual a tecnologia passou a ser parte do sistema de controle ea imagem o seu principal vetor: câmeras de segurança nos edifícios residenciais e comerciais;máquinas registradoras de horários nas fábricas; câmeras fotográficas no trânsito etc.

    Máquinas e aparelhos substituem as pessoas no trabalho industrial, naspequenas atividades domésticas, fazem operações matemáticas, registrama memória das pessoas [...] os sistemas computadorizados são os quedefinem quais os empregados que poderão ser dispensados e quaismantidos, quais os mais operantes, quais os mais eficazes. Em vez depessoas avaliarem, agora são os aparelhos que o fazem. (MARCONDES

    FILHO, 2002, p. 29).

    Qual o papel da educação na Sociedade Tecnológica?

    Assim, você pode perceber a diferença entre mundos completamente diferentes. Deum lado, o mundo industrial, cujo ápice deu-se a partir da Revolução Industrial na Inglaterrano final do século XVIII, com o surgimento das fábricas, máquinas a vapor e os recursostecnológicos como extensão da produção humana. De outro, a sociedade pós-industrial,dominada pelas relações de serviços e os meios de comunicação balizando o cotidiano eo trabalho. Nesse contexto, de ordem mais instrumental, as tecnologias tornaram-se umaespécie de prolongamento natural do pensamento humano: as tecnologias da inteligência – nadefinição de Lévy (2004). Assim, observe no trecho a seguir a relação tecnologia e controle

    social, quando, no cotidiano, as tecnologias se tornam uma instância de regulação.

    Nesse sentido, cada vez mais as tecnologias (da mais instrumental a mais autônoma)que permeiam o mundo do trabalho se ajustam a uma série de formas e modos de uso.Perceba que, ao se pensar a formação do indivíduo no contexto tecnológico,  é necessárioque se pense em integrá-lo às estruturas que movimentam cada peça em jogo no tabuleiro,a partir de um conjunto de passos no qual entra o saber usar (técnicas) e, sobretudo, asistematização das informações disponíveis (conhecimento).

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    Com o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação, que, terminologicamente,resume a diversidade de tecnologias tratadas até então, a presente discussão ganha maisimpulso e intensidade. Por um lado, observe que é nesse contexto que questões comodomínio da técnica, virtualidade e quantidade de dados vêm à tona de forma mais abrangente.Portanto, quando algum aluno chega ao ambiente escolar com informações às quais, emoutro momento, não teria acesso, o que mais nos aflige como professores é o “passo

    adiante” que precisaremos dar a fim de podermos acompanhar nossos alunos nessa corridaem busca da informação e do conhecimento. Sobretudo porque, hoje, a sala de aula nãopode mais ser vista apenas em seu aspecto físico, geograficamente localizada, mas tambémvirtualmente, no sentido de espaço desmaterializado, sem lugar determinado, a não ser ociberespaço próprio da Internet.

    Assim, na Sociedade Tecnológica, duas palavras são chaves para a compreensão dediversos aspectos: transformação e inclusão tecnológica. Em seu centro, o professor, queprecisa (re)significar a própria prática e dar sentido ao tempo e espaço de seus alunos.Principalmente porque o ritmo da modernidade (o contexto pós-industrial) impõe uma

    intensidade nunca antes vista na humanidade. De modo que, hoje, vivemos e morremosem contextos completamente diversos ao longo da nossa existência, ao contrário dosnossos avós, que nasceram, viveram e morreram num mundo praticamente inalterado,versejando a mesma realidade e trabalhando ainda sob a mesma estrutura de produção,comunicação e informação.

    O ritmo das mudanças foi tão intenso que o pai do primeiro astronauta a viajar peloespaço, mal viu surgir a luz a querosene, enquanto o seu filho foi ao espaço como símbolo dacorrida espacial e, conseqüentemente, tecnológica que acontecia desde meados do séculoXIX. Assim, a intensidade e a velocidade das transformações tornaram-se tão frenéticas

    que, em um curto espaço de tempo, duas gerações vivenciaram situações históricascompletamente diferentes. Da lâmpada de querosene ao espaço, a família Gagarin jamaispensou que pai e filho pudessem, em trinta anos, vivenciar situações radicalmente distintas.Como coloca Sampaio e Leite (2002, p. 34), “o caráter dialético e mutável das coisas se tornapatente a todo instante”.

    Figura 2 - Duas gerações em mundos distintos

    Yuri Gagarin, o pai. Conheceua luz elétrica em 1931

    Yuri Gagarin, o filho. Conheceuo espaço em 1961.

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    Nesse contexto, a presença da informática é dominante diante das outras tecnologias,agregando-as em um só suporte e sob um mesmo modelo de ciência da comunicaçãoe informação. Perceba que, em muitos lugares, impera o modelo de sociabilidade dasTecnologias da Informação e Comunicação e, nestas, as redes sociais de relacionamentotornam-se redes sociais virtuais, principalmente com as Novas Tecnologias que resultamda junção dos avanços das telecomunicações, dos meios eletrônicos e da informatização

    tecnológica. Nesse âmbito, a Internet constituiu-se como o espaço central, a partir, porexemplo, de espaços como as comunidades virtuais (Orkut , Listas de discussão temáticas,Salas de bate-papo) que moldam as novas relações e contatos entre os indivíduos.

    No entanto, uma pergunta aparece no cenário: é a Sociedade Tecnológica que geranovos espaços ou são as novas relações que, crescentemente, provocam a emergênciadessas novas sociabilidades propiciadas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação?

    O que pode ser identificado é que, cada vez mais, sentimos nossas experiências,vivências e sensações entrando em crise. Como afirma Marcondes Filho (2002), as tecnologiasreduzem o homem a um maquinário da modernidade, com a sociedade tornando-se cada vezmenos social, já que os diálogos passaram a ser tecnológicos e não mais “olho-no-olho”;os encontros abdicam de toques, abraços, entre outros contatos físicos, e as relações detrabalho (especificamente, no âmbito dos serviços) dispensam interlocutores no atendimentoonline  em lojas e magazines, comercializando seus produtos a distância.

    Por que as comunidades humanas não podem prescindir dos

    aspectos sensoriais?

    Se a interatividade  tornou-se a forma central de relação na contemporaneidade,permitindo, através de algum sistema tecnológico, a interação entre indivíduos ou comas próprias máquinas, na Sociedade Tecnológica as relações humanas são cada vez maisvalorizadas se a intermediação acontecer com as tecnologias. Hoje parece não haver maisespaço para as relações interpessoais. Mesmo em comunidades formadas com base emrelações de trabalho (o que acontece, pasme, no mesmo ambiente físico e com indivíduos

    que se vêem diariamente), a comunicação e a interação parecem necessitar dos espaçostecnológicos (blogs, MSN, Orkut  e similares) para poderem acontecer.

    Assim, verifique que, com uma certa intensidade, três são as formas de “relaçõeshumanas” que vão ganhando corpo, concretude e abrangência nos dias de hoje:

    Homem   tecnologia   Homem

    Homem   Máquina

    Máquina   Máquina

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    Atividade 2

    Como professor, você já parou para pensar qual alternativa é possível a um modeloque tenta tornar o processo educativo mais um dos tantos objetos existentes na SociedadeTecnológica? Se, como afirma Jameson (2001), das diversas dimensões da Globalização(política, econômica, cultural), o processo tecnológico é a sua dimensão irreversível, talvezdevamos (re)significar as formas e os usos das tecnologias, sistematizar a quantidade deinformações disponível e gerar novas formas de saber usar as Tecnologias da Informação

    e Comunicação nos espaços educativos – sejam espaços presenciais (físicos) ou virtuais(desmaterializados).

    A partir da discussão sobre formas e  modos de uso  e considerando ascaracterísticas da Sociedade Tecnológica, destaque na tabela a seguir osaspectos primordiais para a utilização das tecnologias no âmbito educacional.

    Aspectos positivos Aspectos negativos

    n n

    n n

    n n

    n n

    n n

    n n

    n n

    n n

    n n

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    Resumo

    Leitura complementar

    BURCH, Sally. Sociedade da informação / sociedade do conhecimento. 2006. Disponívelem: . Acesso em: 14 nov. 2007.

    Com este artigo, você aprofundará a leitura sobre as terminologias trabalhadas nestaaula: Sociedade Tecnológica, Sociedade da Informação e Sociedade do Conhecimento, oque é fundamental para entender o porquê, por exemplo, priorizamos o primeiro e não osoutros termos.

    Nesta aula, você viu que o nosso cotidiano está permeado pelo universo

    tecnológico. Das tecnologias mais instrumentais – voltadas para o mundodo trabalho – às tecnologias mais autônomas – que sugerem pensamento einteligência artificiais –, observou que a Sociedade Tecnológica sustenta-seem aspectos determinantes para os processos educativos. Discutimos, então,que as tecnologias em si não definem suas próprias finalidades, mas é vocêquem define suas formas e modos de uso, as quais estão imbricadas desistematização de informação e estratégias do saber usar. Viu, por fim, que nacontemporaneidade, as Novas Tecnologias intensificam cada vez mais o graudas novas sociabilidades geradas pela junção das tecnologias eletrônicas comos avanços da informática.

    Auto-avaliação

    Agora, tomando como ponto de partida esta primeira aula, chegou o momentode você estabelecer as relações significativas com os objetivos, conteúdos e

    atividades. Na primeira atividade, sua relação foi mais quantitativa, verificando,a partir do dia como unidade narrativa, a presença das tecnologias no seucotidiano. Na segunda, destacou os aspectos primordiais da SociedadeTecnológica que permitem uma inserção mais reflexiva no âmbito educacionale o uso de tecnologias. A partir do que você detectou na narrativa como umdiário na atividade 1 e nos aspectos destacados na atividade 2, como você avaliaas relações que estabelece, como professor em atividade ou em formação, comas tecnologias do seu cotidiano? É possível, a partir de agora, abordá-las damesma forma? Por quê?

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    Referências

    CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade ecultura. São Paulo: Paz e Terra, 2003. v 1.

    FLORIANI, Dimas. A civilização tecnológica. In: CORDI, Cassiano. Para filosofar. São Paulo:Scipione, 1995. p. 171-190.

    JAMESON, Fredric. A cultura do dinheiro. Petrópolis: Vozes, 2001.

    LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática.13. ed. São Paulo: Editora 34, 2004.

    MARCONDES FILHO, Ciro. Sociedade tecnológica. São Paulo: Scipione, 2002.

    SAMPAIO, Marisa Narcizo; LEITE, Ligia Silvia. Alfabetização tecnológica do professor. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

    TEMPOS modernos. Direção de Charles Chaplin. Los Angeles: MGM, 1936.

    WOLYNEC, Elisa. O futuro da educação superior. Techne, jun. 2006. Disponível em: . Acesso em:12 dez. 2007.

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    Aula 01  Educação e Tecnologia14

    Anotações

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    Anotações

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    Ementa

    n  Célia Maria Araújo

    n  Marcos Aurélio Felipe

    Processos e intervenções dos novos recursos tecnológicos da comunicação e da informação na Educação.

    Desenvolvimento de habilidades básicas para a produção de conhecimentos fundamentados pelo uso de tecnologias

    na prática pedagógica.

    Autores

    Aulas

    O contexto tecnológico

    Nova escola / novos professoresOutros cenários, outras práticas

    A dimensão imagem

    Elaboração, aplicação e avaliação de projetos I

    Os principais conceitos

    Oficinas tecnológicas I – Fontes de informação

    Oficinas tecnológicas II – O uso do filme

    Oficinas tecnológicas III – O uso do blogElaboração, aplicação e avaliação de projetos II

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    0910

    01

    02

    Educação e Tecnologia – GEOGRAFIA

       

     

        

     

     

      

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