Dissertacao Rita de Cassia Amorim
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UNIVERSIDADE TIRADENTES UNIT
PR-REITORIA ACADMICA - PROAC
PR-REITORIA ADJUNTA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO PPED
RITA DE CSSIA AMORIM BARROSO
PROINFO EM SERGIPE E A POLITICA ESTADUAL DE INSERO DAS TIC
NA EDUCAO: UM OLHAR A PARTIR DA GESTO E FORMAO DE
PROFESSORES NOS NTE DE LAGARTO E ARACAJU
ARACAJU
2011
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RITA DE CSSIA AMORIM BARROSO
PROINFO EM SERGIPE E A POLITICA ESTADUAL DE INSERO DAS TIC
NA EDUCAO: UM OLHAR SOBRE A FORMAO DE PROFESSORES NOS
NTE DE LAGARTO E ARACAJU
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Tiradentes como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Educao.
Prof. Dr. Ronaldo Nunes Linhares
Orientador
ARACAJU
2011
-
RITA DE CSSIA AMORIM BARROSO
PROINFO EM SERGIPE E A POLITICA ESTADUAL DE INSERO DAS TIC
NA EDUCAO: UM OLHAR SOBRE A FORMAO DE PROFESSORES NOS
NTE DE LAGARTO E ARACAJU
________________________________________ Prof. Dr. Ronaldo Nunes Linhares
Orientador
________________________________________ Prof. Dr. Maria Neide Sobral
(Professora da Universidade Federal de Sergipe/ UFS)
________________________________________ Prof. Dr. Simone Lucena
(Professora da Universidade Tiradentes/UNIT)
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B277p Barroso, Rita de Cassia Amorim
Proinfo em Sergipe e a politica estadual de insero
um olhar sobre a formao de professores nos NTE de
Lagarto e Aracaju. / Rita de Cassia Amorim Barroso;
Orientador: Ronaldo Nunes Linhares. Aracaju, 2012.
127 p.: il.
Inclui bibliografia.
Dissertao (Mestrado em Educao).
1. Tecnologia educacional. 2. Politica
educacional. 3. Formao continuada de professores.
4. Gesto das TIC. I. Linhares, Ronaldo Nunes.
(orient.). II. Universidade Tiradentes. III. Titulo.
CDU: 371.66
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Dedico este trabalho
A memria de Antnio, meu pai
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AGRADECIMENTOS
Eis que chegou o momento de agradecer a tantos que me fizeram chegar aqui.
Ao longo deste percurso muitos foram os sentimentos que procurei me apoiar, porm
escolhi aquele que o meu pai me ensinou por julgar ser o mais importante que a
capacidade de sonhar, a voc meu pai, dedico este momento.
Agradeo a Deus, por esse dom magnfico da vida, na sua infinita bondade,
compreendeu o meu anseio e me deu a necessria coragem para viver este momento
importante de minha trajetria profissional.
Para sua concretizao, necessitei de pessoas que me sustentasse, minha me
foi uma delas que esteve presente em todos os momentos me ajudando, pois nas minhas
ausncias foi av e me cuidando de Arthur e Leonardo, amores constitutivos de minha
essncia e fortaleza. Porm, sem o suporte emocional de Adailton, demonstrado na nossa
relao de cumplicidade, representando o meu porto seguro que agradeo pelas
discusses das leituras, pacincia e respeito nos momentos difceis, obrigado por estar
sempre ali.
A Rogrio, meu querido irmo, que me substituiu tantas vezes nas obrigaes
de me o meu muito obrigado. Enaura, minha sogra, que demonstrou muito carinho e
admirao por este meu momento to especial. Naurinha, minha cunhada, pelo apoio
em todas as horas, que se fizeram presentes, e pelo incentivo, o meu muito obrigado.
minha segunda me, Marlene, a Fernando e ao meu querido sogro Maciel
todos in memoriam, por terem deixado lembranas to especiais.
Ao professor Ronaldo, meu orientador e amigo, por ter acreditado em minhas
possibilidades e compartilhado seus conhecimentos, sendo um dos maiores
incentivadores na minha profisso. Obrigado por ter a sabedoria de ser contundente nas
horas certas e flexvel nos momentos difceis, permitindo beber dos seus saberes e fazer
parte de sua estria.
Aos professores do curso que acompanharam as discusses e aprofundaram
os estudos contribuindo para as definies do trabalho, em especial a professora Maria de
Ftima Lima pelos ensinamentos necessrios na rea de polticas pblicas para
aproximao do objeto estudado.
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Neste percurso esto os amigos, dentre eles Ftima Hilrio a quem sou muito
grata pela partilha de idias, companheirismo, amizade e fora interior de quem digo ser
inigualveis. Voc foi irm que me amparou numa luta diria, contribuindo para a escrita
da dissertao em qualquer espao em que conseguamos nos encontrar, usando como
suporte sua calma e sabedoria como incentivo nos momentos de desmotivao e cansao.
Valeu por estar sempre quando precisei! Aproveito para dizer tambm a Sr. Jos e Dona
Maria, Obrigado!
Falar de amiga e companheira me referir a Maria Jos, minha irm
espiritual, parceira, grande incentivadora de minha vida acadmica e pessoal,
companheira de longas jornadas, que me ajudou a escrever pginas da minha histria
vida, e fazer de mim a profissional de hoje. Agradeo pelas manifestaes de acolhida,
solidariedade, amor e carinho. Sou muitssimo grata pelo apoio, contribuies e, acima de
tudo, por compartilhar de sua amizade.
Aos colegas do Ncleo de Tecnologia de Aracaju e Lagarto, pela
disponibilidade na minha busca por dados para a pesquisa em especial, a Francisco,
Rosalina e Osvaldo, Sara Jane, Margareth, Anglica, Rita Barbosa, Soray, Adriana,
Simone Reis, Andrea Karla, Geovana e Galvani. Um agradecimento especial vai tambm
ao meu singular amigo Auro, pela acolhida to importante no processo da dissertao e
principalmente na reta final.
A todos os colegas do curso de Mestrado, pelas aprendizagens adquiridas,
pela trajetria compartilhada nesses dois anos e o companheirismo vivido em diversos
momentos presenciais. Em especial, a Valria e Pablo com quem estabeleci verdadeiras
interaes e momentos inesquecveis (viva, vivinha) nesta trajetria, favorecendo na
leitura e discusso dos textos construdos, promovendo ajuda mtua e conseqentemente
a qualidade dos nossos trabalhos.
Aos sujeitos desta investigao que se constituram na essncia deste trabalho
sendo protagonistas e atores do ambiente no qual se desenvolveu a pesquisa. Aprendi
muito com todos vocs.
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RESUMO
O presente estudo teve como objetivo analisar a Gesto das Tecnologias da Informao e Comunicao na educao sergipana, atravs dos Ncleos de Tecnologias Educacionais (NTE) de Aracaju e Lagarto e o processo de formao continuada de professores, considerando nesta anlise a relao/dependncia da gesto estadual com as diretrizes do Ministrio da Educao (MEC), e sua influncia na construo de uma poltica estadual para o uso das TIC no estado. Insere-se na linha de pesquisa do Programa de Ps-Graduao em Educao da UNIT. O Aporte terico utilizado tem como base as contribuies de Moraes (1997), Brunner (2004), Bianchetti (1996), Lima (2007), Pretto (1996), Valente (1999), Castells (2004), Lvy (1999), Nvoa (1999), Paro (1986). A hiptese levantada neste trabalho foi a de que nestes dez anos de implantao do Programa Nacional de tecnologia na Educao em Sergipe no possvel identificar uma poltica estadual para as tecnologias na educao. Esta uma pesquisa de cunho analtico de carter histrico descritivo, organizada em dois momentos distintos: anlise de dados respaldada na evidencia de documentos oficiais deste perodo e em opinies de 21 gestores destes rgos diretamente ligados as aes estaduais de tecnologias na educao no perodo pesquisado (DED, DITE, PROINFO e NTE), obtidas atravs de entrevista semi-aberta aplicadas com os sujeitos da pesquisa. No seu desenvolvimento foi adotado o mtodo de abordagem dialtica, a partir dos conceitos de tecnologia educacional, gesto das tecnologias e formao de professores, como base para a anlise espao-temporal do modelo de gesto do estado de Sergipe e seus resultados no processo de formao continuada dos professores para o uso das TIC. A abordagem adotada qualitativa atravs da entrevistas, coleta, anlise e interpretao dos dados constituindo uma avaliao dos resultados da gesto das tecnologias e da formao dos professores atravs das aes Aspectos como falta de assessoramento tcnico aos laboratrios do programa, inexistncia de autonomia financeira da SEED e da escola ao tratar com equipamentos tecnolgicos, falta de legalizao de rgos e cargos definidores para existncia de uma poltica, configura um modelo frgil de gesto das TIC em Sergipe, e atestam a inexistncia de uma poltica estadual que defina: metas, aes, acompanhamento e resultados para a insero da presena das tecnologias na educao sergipana. Conclui que a inexistncia desta poltica uma das causas para que a formao de professores nos NTE em questo, respondam mais as diretrizes do PROINFO do que as especificidades e as necessidades pedaggicas de professores e gestores das escolas sergipanas que integram o programa.
Palavras - chave: Tecnologia da Informao e Comunicao. Polticas Pblicas.
Formao Continuada de Professores. Gesto das TIC.
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ABSTRACT
The present study aimed to analyze the Management of Information and Communication
Technologies in education Sergipe, through the Centers for Educational Technology
(NTE) from Aracaju and Lizard and the process of continuous training of teachers, this
analysis considering the relationship / dependency of the State government with the
guidelines of the Ministry of Education (MEC), and its influence on the construction of a
state policy for the use of ICT in the state. Is part of the research line of the Post-Graduate
Education of UNIT. The theoretical approach is based on contributions by Moraes
(1997), Brunner (2004), Bianchetti (1996), Lima (2007), Pretto (1996), Valente (1999),
Castells (2004), Levy (1999), Nvoa (1999), Paro (1986). The hypothesis of this study
was that these ten years of implementing the National Programme for Technology in
Education in Sergipe is not possible to identify a state policy for technology in education.
This is an analytical study of historical description, organized in two distinct stages: data
analysis supported the evidence of official documents of this period and in reviews of 21
managers of these agencies directly linked stocks state of technology in education over
time ( DED, DITE, PROINFO and NTE), obtained through a semi-open with the subject
of applied research. In its development we adopted the method of dialectical approach,
the concepts of educational technology, technology management and teacher training as a
basis for analyzing spatial-temporal model for managing the state of Sergipe and results
in the formation process Teachers continued to use ICT. The approach is through
qualitative interviews, data collection, analysis and interpretation of data constituting an
evaluation of the results of management of technology and teacher training through the
actions of aspects such as lack of technical advice to the laboratories of the program, lack
of financial autonomy of the SEED and school in dealing with technological equipment,
lack of legalizing organ and defining roles for the existence of a policy, set up a model
fragile management of ICT in Sergipe, and attest to the absence of a state policy that
specifies: goals, actions, monitoring and results for the insertion of the presence of
technology in education Sergipe. We conclude that the absence of this policy is one of the
causes for the training of teachers in the NTE in question, more responsive guidelines
PROINFO than the specificities and needs of teachers and educational administrators of
the schools participating in the program Sergipe
Keywords: Information and Communication Technology. Public Policy. Continuing
Education of Teachers. TIC Management.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Mapa das escolas que integram o PROINESP/SE
Figura 02 Mapa dos NTE de Sergipe
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LISTA DE SIGLAS
ABT
CAEJF
CIEB
CIES
CIED
CNPq
CONSED
DED
DITE
DITEC
DRE
EAD
EJA
FNDE
IDH
IPHAN
LDB
LIED
LTE
MEC
NTE 01
NTE 02
PCN
PCNEM
PNE
PROMED
PRONINFE
PROINESP
PROINFO
PUC/GOIS
PUC/MG
PUC/PARAN
Associao Brasileira de Tecnologia Educacional
Centro de Aperfeioamento Educacional Jackson de Figueiredo
Centro de Informtica de Educao Bsica
Centro de Informtica de Ensino Superior
Centro de Informtica para 1 e 2 graus
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
Conselho de Secretrios Estaduais de Educao
Departamento de Educao
Diviso de Tecnologia Educacional de Sergipe
Departamento de infra-estrutura Tecnolgica
Diretoria Regional de Educao
Educao a distncia
Educao de Jovens e Adultos
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
ndice de Desenvolvimento Humano
Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional
Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
Laboratrio de informtica Educativa
Laboratrios de Tecnologias Educacionais
Ministrio da Educao e Cultura
Ncleo de Tecnologia Educacional de Aracaju/Sergipe
Ncleo de Tecnologia Educacional de Lagarto/Sergipe
Parmetros Curriculares Nacionais
Parmetros Curriculares Nacionais do Ensino Mdio
Plano Nacional de Educao
Programa de Melhoria do Ensino Mdio
Programa Nacional de Informtica na Educao
Projeto de Informtica na Educao Especial
Programa Nacional de Informtica Educativa
Pontifcia Universidade Catlica de Gois
Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais
Pontifcia Universidade catlica do Paran
-
PUC/SP
RNP
SEED
SEED
SEESP
SEF
SEMED
TIC
UCA
UFES
UFGO
UFMG
UFMA
UFMS
UFMT
UFP
UFPR
UFRGS
UFRJ
UFRN
UFS
UFSC
UFU
UNB
UNESP
UNIARA
UNIJU
USP
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
Rede Nacional de Pesquisa
Secretaria de Estado da Educao de Sergipe
Secretaria de Educao Distncia
Secretaria Educao Especial
Servio de Ensino Fundamental
Secretaria Municipal de Educao de Aracaju
Tecnologias da Informao e Comunicao
Um Computador por Aluno
Universidade Federal do Esprito Santo
Universidade Federal de Gois
Universidade Federal de Minas Gerais
Universidade Federal do Maranho
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Universidade Federal do Mato Grosso
Universidade Federal do Par
Universidade Federal do Paran
Universidade Federal do Rio grande do Sul
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Universidade Federal de Sergipe
Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Federal de Uberlndia
Universidade de Braslia
Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
Centro Universitrio de Araraquara
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
Universidade de So Paulo
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SUMRIO
INTRODUO .............................................................................................................. 14
2 ENCONTRO COM A TEORIA: ATANDO OS NS NA REDE ............................. 22
2.1 Polticas Pblicas em Educao e a Gesto das Tecnologias da Informao e
Comunicao ....................................................................................................... 27
2.2 A Formao de Professores para o uso das TIC ................................................. 37
2.3 Estudos sobre o PROINFO: percursos construdos e em construo ................ 47
2.3.1Avaliao do PROINFO ................................................................................ 48
2.3.2 Os estudos sobre Formao de Professores em Tecnologias Educacionais .... 51
3 USO DAS TIC NA EDUCAO EM SERGIPE: IDENTIFICANDO UM
POLITICA ESTADUAL ................................................................................ 53
3.1 Experincias desenvolvidas em Sergipe para o uso de Mdias e Tecnologias na
educao .............................................................................................................. 54
3.1.1O projeto Vdeo Escola ................................................................................. 54
3.1.2 Programa Um salto Para o Futuro ................................................................. 55
3.1.3 Projeto Inovaes Pedaggicas ..................................................................... 55
3.1.4 Programa Rdio Educao de Sergipe Rdio EDUC-SE ............................ 57
3.1.5 Tonomundo e INTEL ................................................................................... 57
3.2 Programas Nacionais de Tecnologias de Informao e Comunicao na Educao..............................................................................................................58 3.2.1 TV ESCOLA ................................................................................................ 58
3.2.2 GESAC ........................................................................................................ 60
3.2.3 PROINFO .................................................................................................... 61
3.2.4 PROINFO urbano e rural .............................................................................. 62
3.2.5O PROINESP ................................................................................................ 62
3.3 PROINFO em Sergipe......................................................................................... 63
3.3.1 Os Ncleos de Tecnologias Educacionais- NTE ........................................... 69
4 SOBRE OS RESULTADOS E DISCUSSES: COLHENDO, (RE) COLHENDO E
CONSTRUINDO SABERES ................................................................................. 74
4.1 Sobre os documentos .............................................................................................. 75
4.2 Sobre as entrevistas ................................................................................................ 75
4.3 Poltica estadual para as tecnologias na educao ................................................... 77
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4.4 Os NTE e a Formao dos professores ................................................................... 92
REFERENCIAS ...... ................................................................................................... 116
APNDICES
01 Tabela de entrevistados
02 Roteiro de entrevista Coordenador do PROINFO
03 - Roteiro de entrevista Gestor do DED
04 - Roteiro de entrevista Gestor da DITE
05 - Roteiro de entrevista Coordenador do NTE
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INTRODUO
De tudo ficaram trs coisas: a certeza que estava sempre comeando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza que seria interrompido antes de terminar, fazer da interrupo um caminho novo, fazer da queda, um passo de dana, do medo, uma escada, do sonho, uma ponte, da procura um encontro.
Fernando Pessoa
A motivao inicial do estudo sobre o Programa Nacional de Informtica na
Educao (PROINFO1), e a poltica estadual de insero das tecnologias na educao em
Sergipe se inicia como uma etapa importante em minha experincia profissional quando fui
convidada a integrar o grupo da Diviso de Tecnologia de Ensino (DITE2), da Secretaria de
Educao do Estado de Sergipe (SEED), no ano de 2001, para atuar como multiplicadora3 do
referido programa. Portanto, fiquei responsvel pelo planejamento e desenvolvimento de
cursos de formao continuada para professores e gestores, atravs da execuo das aes do
NTE4.
Da a oportunidade de construir conhecimentos sobre esta rea com a participao
em cursos, grupos de estudos, pesquisas e desenvolvimento de diversas experincias na rea
de utilizao de recursos tecnolgicos no processo educacional. Ser multiplicadora, naquele
momento, implicava em assumir o desafio de transpor o conhecimento adquirido na rea das
1 Programa Nacional de Informtica na Educao (ProInfo) um programa educacional criado pela Portaria N. 522/MEC, de 9 de abril de 1997, para promover o uso pedaggico da informtica na rede pblica de ensino fundamental e mdio. Desenvolvido pela Secretaria de Educao Distncia (SEED), por meio do Departamento de Infra-estrutura Tecnolgica (DITEC), em parceria com as Secretarias de Educao Estaduais e Municipais. Funciona de forma descentralizada. Sua coordenao de responsabilidade federal e a operacionalizao conduzida pelos Estados e Municpios. 2 Situada Rua Boquim, prximo ao Conservatrio de Msica do Estado de Sergipe. A Diviso de Tecnologia de Ensino (DITE), criada em 1994, est vinculada ao Departamento de Educao, Servio de Ensino Fundamental da Secretaria de Estado da Educao de Sergipe, incorpora em seu quadro o Ncleo de Tecnologia Educacional de Aracaju (NTE Aracaju). 3 Multiplicador, especialista que sensibiliza e motiva os professores das escolas para a necessidade da integrao das novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem, capacitando-os na utilizao das ferramentas da Telemtica. Alm dessas atividades esses profissionais apiam o processo de planejamento da escola, assessoram pedagogicamente os professores e acompanham, orientam e avaliam as aes dos professores, diretores, tcnicos de suporte e alunos tcnicos. 4 Os Ncleos de Tecnologia Educacional (NTE) so locais dotados de infra-estrutura de informtica e comunicao que renem educadores e especialistas em tecnologia de hardware e software. Os profissionais que trabalham nos NTE so especialmente capacitados pelo ProInfo para auxiliar as escolas em todas as fases do processo de incorporao das novas tecnologias. Portanto o NTE o parceiro mais prximo da escola no processo de incluso digital, prestando orientao aos diretores, professores, e alunos, quanto ao uso e aplicao das novas tecnologias, bem como no que se refere utilizao e manuteno do equipamento.
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Tecnologias da Informao e Comunicao como educador nas escolas estaduais para os
cursos oferecidos pela DITE
Participar do desenvolvimento da formao de professor no PROINFO, adotando
uma linha de projetos na abordagem dos contedos me possibilitou aspectos relevantes que
influenciaram na construo do conhecimento pelos professores cursistas participantes do
processo. Refletindo sobre os resultados desta experincia, aliada conscincia do momento
histrico em que vivemos, identifico a necessidade de novos direcionamentos para o processo
educacional, nos quais os professores tenham oportunidade de vivenciar situaes que lhes
propiciem ampliar as prticas de formao continuada e de aprendizagem.
A aceitao do convite para trabalhar numa rea como as Tecnologias da
Informao e Comunicao se constitua um grande desafio, visto que tinha pouco
conhecimento sobre elas e ainda apresentava resistncia para sua utilizao no ensino como a
maioria de ns professores naquela poca. Com o acolhimento recebido pela equipe da DITE,
constru tessituras de novos saberes, realidade cultural, valores e atitudes sobre as Tecnologias
da Informao e Comunicao (TIC), como tambm, aguava um olhar sobre a prtica
pedaggica e a formao do professor para uso destas tecnologias como papel do estado e da
escola. Assim em 2001, participei de uma especializao em Informtica Educativa, oferecida
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) atravs da modalidade da
Educao a Distncia (EAD5).
Como um artista que vai lapidando a sua tcnica, fui descobrindo novos olhares
atravs do conhecimento e da prtica proporcionados pelo curso. Essa experincia se
constituiu como umas das mais importantes na minha trajetria profissional porque atravs
dela experimentei efetivamente metodologias que colaboraram na aprendizagem dos alunos,
objeto de trabalho de concluso de curso. A base metodolgica desse trabalho foram os
projetos de aprendizagens6 desenvolvidos com os alunos da Educao de Jovens e Adultos
(EJA) da Rede Municipal de Ensino no qual resultou em significativas construes de
conhecimento.
5 Especializao a distncia, oferecida pela UFRGS em parceria com o MEC, no perodo de agosto a dezembro de 2001, para formao de novos multiplicadores do PROINFO. 6 Projeto de Aprendizagem favorece especialmente a aprendizagem de cooperao, com trocas recprocas e respeito mtuo. Isto quer dizer que a prioridade no o contedo em si, formal e descontextualizado. A proposta aprender contedos, por meio de procedimentos que desenvolvam a prpria capacidade de continuar aprendendo, num processo construtivo e simultneo de questionar-se, encontrar certezas e reconstru-las em novas certezas. Isto quer dizer: formular problemas, encontrar solues que suportem a formulao de novos e mais complexos problemas. Ao mesmo tempo, este processo compreende o desenvolvimento continuado de novas competncias em nveis mais avanados, seja do quadro conceitual do sujeito, de seus sistemas lgicos, seja de seus sistemas de valores e de suas condies de tomada de conscincia. (Fagundes, La da Cruz - Co-Autoras Luciane Sayuri Sato/ Dbora Laurino Maada) Aprendizes do futuro: as inovaes comearam!
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16
Esse movimento de apropriaes de saberes, emoo da descoberta, medo do
novo, formao de concepes e confiana de novas possibilidades reais de melhoria da
qualidade do meu trabalho me possibilitou compreender melhor as relaes burocrticas e
pedaggicas entre a Secretaria de Educao e a Escola no processo de formao dos
professores. As dificuldades, o envolvimento, a morosidade e a descontinuidade de processos
vivenciados permitiam o entendimento da imagem que o professores tm sobre os tecnocratas.
Descrever minha formao profissional na DITE tambm um esforo para
compreender fatos e experincias importantes para minha construo como educadora, alm
de colaborar para a construo da histria da tecnologia educacional no processo ensino-
aprendizagem em Sergipe. Esse movimento de recompor caminhos na memria dos fatos e
das prticas educativas compe os tempos vividos e so constitutivos para a formao do
homem, seja luz das experincias empricas ou cientficas. Segundo Taborda (2004, p. 13-
19), Acredito mesmo na experincia: profissional, intelectual, tcnica, histrica, mas
sempre humana, concreta, real. Somos sujeitos de uma sociedade e empreendedores de
competncias que devem responder as exigncias de cada tempo numa constante
desconstruo de paradigmas para que novas teorias e prticas sejam construdas e
vivenciadas.
Ao ingressar na DITE como multiplicadora, passei a contribuir com as aes de
formao de professores. Alm de tomar como parmetro pedaggico norteador s diretrizes
do PROINFO, o NTE de Aracaju atravs do projeto estadual de informtica de Sergipe
elaborou o planejamento para oferta de turmas de formao de professores das escolas
pblicas de Sergipe, com o objetivo de contemplar a proposta do programa no estado.
Vivenciei com as TIC momentos de encantamento, resistncia e dificuldades, que
contribuiu para refletir sobre a importncia da formao do professor e preparao da escola
para a compreenso de um processo novo, de ensinar e aprender sob diferentes linguagens,
saberes e fazeres com as TIC. Assertiva que fez do meu trabalho no PROINFO uma condio
de crescimento humano e nessa condio fui me envolvendo ao tempo de poder coorden-lo
em 2003.
No campo da gesto do programa, os olhares modificaram-se, pois entendia o que
os multiplicadores contestavam, os professores exigiam, a Secretaria de Educao deliberava,
ou seja, percebi de forma mais amide os entraves da condio da execuo do PROINFO e
no estabelecimento da relao educao e comunicao no espao escolar. Apesar de todas as
adversidades da operacionalizao do programa o envolvimento e a colaborao dos colegas
da DITE era a principal condio de desenvolver um trabalho positivo. Ao tempo que, as
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dificuldades em estabelecer relaes entre o tcnico e o pedaggico do programa, atender aos
NTE, e os professores de maneira satisfatria era a cada dia um novo desafio.
Em 2004, assumi a coordenao da DITE. Essa experincia fechou um ciclo de
posies ocupadas no setor que me motivaram a estudar cientificamente o PROINFO depois
de conhec-lo sob diversos olhares e encargos. Este percurso profissional orientou minha
motivao em concretizar esta pesquisa. O projeto foi sendo refletido, gestado e desenhado
originando assim, a temtica deste estudo, que trata sobre a gesto das TIC dos ncleos de
Aracaju e Lagarto e a formao de professores atravs do PROINFO.
Assim, o objetivo principal deste estudo foi o de analisar a gesto das TIC na
educao sergipana, atravs dos NTE de Aracaju e Lagarto e o processo de formao
continuada de professores, considerando nesta anlise a relao/dependncia da gesto
estadual com as diretrizes do MEC, e sua influencia na construo de uma poltica estadual
para o uso das TIC no estado. Especificamente, este estudo pretendeu:
a) identificar a poltica estadual para o uso das TIC em Sergipe relacionando-a
com as diretrizes de gesto do MEC;
b) descrever a trajetria da insero das TIC na rede estadual de Sergipe e o
modelo de gesto dos Ncleos de Tecnologia (NTE) de Aracaju e Lagarto.
c) analisar as estratgias de formao continuada nos ncleos de Aracaju e
Lagarto.
Sendo o objeto da pesquisa a gesto das TIC para a formao de professores nos
ncleos de Aracaju e Lagarto, partimos da hiptese de que a existncia de uma poltica
estadual para a insero das TIC na educao e na formao de professores na rea da
tecnologia na educao fundamental para a eficincia e o sucesso do PROINFO em Sergipe.
Nesse estudo, definimos como marco temporal da pesquisa o perodo que vai de
1997, ano da implantao do Programa e dos NTE no estado e 2007 ano em que lanado o
PROINFO INTEGRADO7 configurando o redimensionamento do programa segundo
7 Em 12 de Dezembro de 2007, por meio do Decreto n. 6.300, foi institudo o Programa Nacional de Tecnologia
Educacional PROINFO, executado no mbito do MEC, visando promover o uso pedaggico das tecnologias da
informao e da comunicao nas redes pblicas. O PROINFO cumprir suas finalidades e objetivos em regime
de colaborao entre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios. Desse modo surge o Programa
Nacional de Formao Continuada em Tecnologia Educacional PROINFO Integrado, congregando um
conjunto de processos formativos, dentre estes os cursos Introduo a Educao Digital (40h) e Tecnologias na
Educao: Ensinando e Aprendendo com as TIC 100 horas, Elaborao de Projetos (40 horas) cujo objetivo a
insero de Tecnologias da Informao e Comunicao (TIC) nas escolas pblicas brasileiras.
-
18
diretrizes do MEC modificando inclusive o formato das capacitaes que evidenciava a
integrao das TIC desenvolvidas pelos NTE junto aos professores.
Assim, para nortear o percurso investigativo, optamos pela abordagem qualitativa
que supe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situao que est
sendo investigada (LDKE; ANDR, 1986). A investigao acerca do processo de gesto
dos NTE de Aracaju e Lagarto/PROINFO e a formao continuada dos professores destes
NTE esto profundamente relacionadas com as caractersticas bsicas da pesquisa qualitativa
propostas por Ldke e Andr (1986).
Esta uma pesquisa de cunho analtico de carter histrico descritivo. Analtico
porque envolve o estudo e avaliao aprofundados de informaes disponveis nos mais
diversos documentos, impressos e orais com o objetivo de compreender e explicar o contexto
histrico; mapeando a experincia passada da DITE e dos NTE nos perodo de 1997 a 2007.
Assim procurou localizar e descrever no tempo e espao uma ou mais tendncias que
contribuiram para identificar uma proposta de poltica pblica estadual para o uso das TIC no
espao escolar, a partir da identificao do modelo de gesto e de formao continuada de
professores.
Os dados coletados so predominantemente descritivos. A partir de documentos
oficiais e das falas e entrevistas de profissionais que participaram do processo histrico de
construo de polticas e/ou aes de insero das TIC na rede estadual de educao de
Sergipe. Atores diretos no processo de construo dos Ncleos, na implantao do PROINFO
e na formao de professores para as tecnologias no estado.
Neste sentido, o processo metodolgico se constitui atravs da identificao,
descrio e anlise destes documentos e de entrevistas com os gestores da DITE,
coordenadores do programa e projetos de formao continuada, num esforo de identificar
nos registro dos fatos e na perspectiva dos participantes diferentes elementos e pontos de
vista, permitindo compreender o dinamismo interno das situaes, geralmente inacessvel ao
observador externo.
A coleta e anlise dos documentos e das falas, no foram realizadas
separadamente. As informaes colhidas nortearam as interpretaes e exigiram novas
estratgias e instrumento para a realizao dos objetivos. Nas palavras de Trivios (2008),
isso ocorre quando o pesquisador no reduz seu trabalho com base em hipteses previamente
levantadas, nem tem a preocupao em pr-estabelecer todas as alternativas possveis que
necessitam ser verificadas empiricamente.
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19
A escolha da forma de abordagem qualitativa permitiu um consenso de que para
atender aos objetivos propostos o estudo de caso seria o tipo que melhor se enquadraria na
anlise das aes do PROINFO. Justifica-se por ser uma categoria de pesquisa cujo objeto
uma unidade que se analisa aprofundadamente (TRIVIOS, 2008). Sua definio foi baseada
por duas circunstncias principais: a natureza e abrangncia da unidade de estudo e os
suportes tericos que orientam o trabalho do pesquisador.
Assim, o PROINFO a unidade que para ser analisado profundamente nos obriga
a retroceder sua trajetria histrica que se inicia com o Seminrio Nacional de Informtica
na Educao, promovido pelo MEC/SEI/CNPq em 1981 em Braslia de onde se originou o
documento para a implantao do programa de Informtica na Educao. A Histria do
PROINFO evidencia a abrangncia do programa em estudo, sendo necessria uma postura em
que o pesquisador no intervenha sobre a situao, mas conhec-la tal como ela surge.
Evidencia-se como um tipo de pesquisa, que tem sempre um forte cunho descritivo, que
uma das caractersticas marcantes do estudo de caso.
Alm disso, o estudo de caso permite que, ao longo do processo de construo da
pesquisa, a investigao pudesse se mostrar mais criativa, redefinindo os rumos do trabalho,
conforme forem surgindo elementos novos acerca do tema. De um modo geral, este estudo
visa descoberta, com nfase na interpretao de um contexto especfico. Procura retratar,
utilizando de uma variedade de fontes de informao, os diferentes pontos de vista presentes
na situao social em estudo (LDKE; ANDRE, 1986). As diferentes posies sobre as
polticas de tecnologia, as diferentes realidades e propostas de planejamento encontrado entre
os ncleos de Aracaju e Lagarto no tocante a formao continuada de professores.
Para tanto, o escopo proposto dentro do PROINFO, o NTE, em nosso caso
especfico dois NTE, Aracaju e Lagarto, criados desde o incio da implantao do Programa
no estado. Assim, estamos diante de um estudo de caso mltiplo, ou duas variantes dos
projetos de estudo de caso (YIN, 2003). Quanto seleo dos atores partcipes da pesquisa foi
construdo um quadro demonstrativo representando os sujeitos da gesto que configuraram
polticas pblicas de insero das TIC na educao de Sergipe em rgos estaduais como
DED, DITE PROINFO/NTE no perodo de 1997 a 2007 totalizando 21 gestores (APENDICE
01) . Deste universo, realizamos entrevista com 10 gestores (47,61%), enquanto 09 (42,85%)
destes no participaram da entrevista pelos seguintes motivos: estar residindo em outro pas,
no retornou contato e no aceitou participar da pesquisa. Por fim, 02 (9,52%) destes gestores
no atenderam ao critrio de tempo de gesto inferior a trs meses.
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Mesmo considerando a importncia dos documentos oficias, para este estudo so
as entrevistas foram instrumento primordial para conhecer a opinio dos atores que
vivenciaram, projetaram e contriburam para a formao de uma poltica de insero das TIC
na educao. Caminhamos no sentido de que sejam evitadas vises isoladas, parceladas,
estanques (TRIVIOS, 2008 p. 137); busca-se, pois, a interao dinmica do instrumento
com toda a argumentao terica, o que permite tecer reformulaes necessrias no decurso
do processo.
Vale ressaltar que as perguntas constituintes da entrevista semi-estruturada que
propomos no sugerem a priori e coincidindo com as palavras de Trivios (2008, p. 146),
[...] que elas so resultados no s da teoria que alimenta a ao do investigador, mas
tambm, de toda a informao colhida sobre o fenmeno social que interessa.
Assim, as etapas da metodologia decorreu como exposto abaixo:
- identificao, seleo e descrio dos documentos oficiais;
- elaborao, aplicao e transcrio das entrevistas;
- sistematizao e anlise dos resultados.
A escolha de entrevistas semi-estruturada como instrumento de apoio aos
documentos oficiais se deu pelo fato de que ela permite a atuao consciente e integrada do
pesquisador e h grande relevncia deste ator no processo de coleta, o que favorece a pesquisa
social e a descrio dos fenmenos inerentes. Alm disso, permite a compreenso de sua
totalidade dentro de uma situao especfica e tambm em dimenses maiores.
Os caminhos percorridos para a efetivao desta pesquisa esto situados na linha
de pesquisa Educao/Comunicao, especificamente na rea de Tecnologia educacional. Os
resultados, aqui apresentados esto organizados em trs captulos.
O primeiro captulo refere-se fundamentao terica discutindo-se a Educao e
os novos contextos da Globalizao embasados nos conceitos de: Globalizao, Estado e
Educao, e Tecnologias da Informao e Comunicao. A partir dessa discusso apresentam-
se anlises sobre as Polticas de Estado para as Tecnologias de Informao e Comunicao na
Educao e a Formao de Professores para as TIC. Ainda neste captulo procura-se construir
o estado da arte nos estudos sobre o PROINFO no Brasil no que se refere aos estudos e
pesquisa existentes com objetivo de delinear um panorama nacional sobre a situao do
programa construindo concluses sobre o que j foi pesquisado na rea destacando neste
estudo os aspectos da avaliao e da formao de professores.
O segundo captulo sobre os NTE de Aracaju e Lagarto discutiu o campo das
polticas pblicas para o uso das TIC no estado, descrevendo a gesto dos programas
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21
nacionais com o foco em Sergipe, fornecendo indicadores para reflexes singulares acerca da
poltica de utilizao das TIC e seu papel na formao de professores desenvolvida pelos NTE
em Sergipe no perodo de 1997 a 2007.
No terceiro Captulo foram apresentados os resultados das pesquisas sobre o uso
das TIC no Brasil a Poltica estadual de formao de professores, histrico da DITE, funes
do NTE, dados sobre a capacitao de professores nos dois NTE e anlise comparativa com o
que define as polticas de Governo Federal para a formao.
As consideraes provisrias constituem-se nas concluses de anlise e
constataes desta etapa e recomendaes para futuros trabalhos, tendo em vista a sua
necessria continuidade.
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2 ENCONTRO COM A TEORIA: ATANDO OS NS NA REDE
Para que se possa analisar a educao no contexto da globalizao, devemos antes
entender que o processo globalizante, no algo novo. Para muitos estudiosos, entre eles Sene
(2004) e Santos (2001), a globalizao apenas um estgio do modo de produo ou o pice
do processo de internacionalizao do mundo capitalista.
Para Sene (2004) a palavra, ou o termo globalizao que vem a ser uma
novidade que comea a ganhar maior visibilidade, a partir da dcada de 80, do sculo XX
com o livro The Globalization of markets, escrito pelo professor Theodore Levitt da
Universidade de Harvard. Ainda para Sene, outra possibilidade para a origem da palavra seria
atribuda ao terico canadense Marshall McLuhan que:
[...] criou uma das mais poderosas e, ao mesmo tempo, uma das mais mistificadoras metforas, repetida ad nauseam na tentativa de apreender o atual mundo globalizado: aldeia global. Foi tambm o primeiro a falar em era da informao, outro termo muito utilizado para apreender a poca em que vivemos. (SENE, 2004, p. 23).
O fato que a globalizao, enquanto dimenso histrica, pode ser entendida
como um fenmeno que vem se arrastando desde os primrdios do capitalismo em sua fase
comercial, passando pela fase industrial at chegar ao seu estgio atual que se configura como
financeiro, resultado da inovao tcnico-cientfica (SANTOS, 2001).
Assim, globalizao e inovao resultam de uma necessidade do modo de
produo capitalista de ampliar seus domnios, sua hegemonia nos mais variados setores
passando a se manifestar atravs do avano das tcnicas e do tempo gerando novos espaos de
convivncia e trabalho, o uso, a partilha e as prticas de produo de diferentes instrumentos,
desigualdades e contradies em nvel nacional e mundial.
Moraes (1997) observa que a globalizao configurou um mundo que vem se
tornando grande e pequeno, homogneo e plural, articulado e multiplicado, mediante o uso de
recursos de voz, dados, imagens e textos cada vez mais interativos. Geopoliticamente os
lugares de referncia multiplicam-se e dispersam-se dando a impresso que se deslocam,
flutuam nos mais diferentes espaos, fragmentando centros decisrios e globalizando os
problemas sociais, polticos, econmicos e culturais. Em decorrncia dessa nova ordem
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mundial, novos modelos socioculturais, polticos e econmicos surgem em funo das
tecnologias de produo, das novas relaes de trabalho e da reorganizao territorial.
O processo global vai se tornando um fenmeno complexo que altera as mais
diversas reas da sociedade atual tendo desdobramentos inclusive na educao. Entretanto,
cabe aqui ressaltar que transformaes processadas por mudanas tcnicas na educao no
exclusividade desse momento. Sabendo-se que tcnica um processo histrico que o homem
procede sobre os objetos para satisfazer as suas necessidades.
Conforme escreve Hubner (1981) a tcnica algo que experimentou mudanas
muito profundas em que as intenes fundamentais, na concepo de si mesma e, assim, em
suas finalidades particulares. Sobre globalizao e tcnica acrescentam-se as posies de
Brunner (2004) quando aponta para as transformaes ocorridas na escola ao longo da
histria. Segundo ele, a mudana do paradigma educacional est relacionada tambm s
mudanas tcnicas e aos novos modos de produo da sociedade, ou seja, o ensino passou por
revolues impulsionadas por determinadas mudanas tecnolgicas.
A primeira ocorreu ainda na Idade Mdia, quando foi criada a tecnologia da
instituio escola e o ensino deixou de ser vinculado estritamente a um estilo de vida
aristocrtico para ocorrer em escolas paroquiais. Ainda utilizando-se das palavras de Brunner
(2004), desde o sculo VI at agora, a sala de aula, com tudo o que significa em termos de
organizao dos processos de ensino e aprendizagem e produo de capital cultural, se
estabelecer como a tecnologia predominante na educao. Desta forma, a principal referncia
da educao formal passa a ser a sala de aula, local onde se d o encontro entre professor e
aluno para a possvel aquisio dos conhecimentos considerados essenciais ao ser humano.
Outra revoluo ocorreu a partir do surgimento do Estado-Nao quando foi
iniciada a segunda revoluo educativa, impulsionada pelo surgimento de tecnologias
polticas e administrativas que comeam a comandar a produo educacional. A educao
transferida da esfera eclesistica para o mbito estatal e ao sair da esfera privada, [...] torna-se
uma poderosa arma na formao das naes passando a fazer parte dos processos de
secularizao da sociedade (BRUNNER, 2004).
No perodo da Revoluo Industrial observa-se uma srie de transformaes na
escola, favorecendo a educao padronizada como - nica forma de moldar operrios
adestrados para trabalhar nas fbricas. Dessa forma fundou-se um novo modo de produo.
Assim,
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24
A educao institucionalizada serviu no seu todo ao propsito de no s fornecer conhecimentos e o pessoal necessrio mquina produtiva em expanso do sistema do capital, como tambm gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se no pudesse haver nenhuma alternativa gesto da sociedade, seja na forma internalizada (isto , pelos indivduos devidamente educados e aceitos) ou atravs de uma dominao estrutural e uma subordinao hierrquica e implacavelmente imposta (MSZROS, 2005, p. 35).
A concepo de educao neste contexto tecnicista e as tecnologias so mais
uma vez chamadas a constar no planejamento da escola, estratgias de ensino, tipo de
avaliao, consolidando a viso exgena de tecnologia e educao. A viso educativa que
temos que professores e alunos so meros executores e receptores de projetos elaborados de
forma autoritria, sem qualquer vnculo com o contexto social a que se destinavam.
Assim, a cada novo momento que se delineava com novas Revolues como os
adventos da Primeira Revoluo (sculos XVIII-XIX), Segunda Revoluo (sculos XIX-XX)
e a Terceira Revoluo Industrial (Sculo XX at os dias atuais), uma nova necessidade de
mo de obra exigia alteraes na funo social da educao e, por conseguinte, da escola.
A Terceira Revoluo se estabeleceu com o advento da globalizao, e trouxe
consigo novos paradigmas para antigas verdades, a exemplo do papel do estado e da
educao. A esse respeito o socilogo Fernando Henrique Cardoso, afirma que:
A globalizao tambm tem contribudo para alterar o papel do Estado: a nfase da ao governamental est agora dirigida para a criao e a sustentao de condies estruturais de competitividade em escala global. Isso envolve canalizar investimentos para a infraestrutura e para os servios bsicos entre os quais Educao e Sade, retirando o Estado da funo de produtor de bens. (CARDOSO, 1996, p.1-6).
Era a ao de um novo Estado Neoliberal que devia inserir seus cidados na
sociedade tcnico-cientfica-informacional. Sociedade marcada pelas inovaes tecnolgicas,
transmisso de informaes, automatizao, robotizao, telecomunicao e biotecnologia
produtora de novo conjunto de tcnicas industriais que marginalizam as indstrias tradicionais
e trazem conseqncias para o campo da educao.
A educao passa a conviver, a partir do advento da Terceira Revoluo com a
difuso da internet (Rede mundial de Computadores), representando um veculo de
informao e comunicao cuja funcionalidade a de um territrio antropolgico aberto,
atemporal com uma plasticidade que constri dialeticamente saberes, opinies e emoes. A
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presena da rede tornou-se objeto de preocupao de educadores pelo fato destes perceberem
que a sua utilizao na prtica pedaggica no consegue, via de regra, se desvincular de uma
viso tcnica, mercadolgica e instrumental a servio do processo de aprender. , segundo
Castells (2004, p. 24):
[...] um meio de comunicao com linguagem prpria, relacionado mais com a atividade. [...] o tipo de comunicao que prospera na internet se relaciona com a liberdade de expresso, a emisso livre de mensagens, a comunicao orientada para uma determinada criao coletiva, surgindo desta forma um sistema hipertextual global verdadeiramente interativo.
Ainda acrescenta que:
A internet o tecido de nossas vidas [...] passou a ser a base tecnolgica para a forma organizacional da Era da Informao: a rede [...]. O ambiente de rede permite assim, a comunicao de muito com muitos, num momento escolhido, em escala global, a influncia das redes baseadas na internet vai alm do nmero de seus usurios: diz respeito qualidade do uso. (CASTELLS, 2003, p. 210).
Por ser a internet um territrio de criao coletiva, liberdade de expresso e
emisso de mensagens sua difuso mundial ocorre rapidamente estabelecendo aprendizagens,
trocas de experincias e acima de tudo, modificando o processo de socializao dos sujeitos.
Para Lvy (1999) a internet um elemento das tecnologias digitais e uma infraestrutura que
sustenta o ciberespao sobre as quais so montados diversos ambientes como a Web, chats,
correio eletrnico e outros, ao tempo que, o ciberespao:
[...] uma espcie de objetivao ou de simulao da conscincia humana global que afeta realmente essa conscincia, exatamente como fizeram o fogo, a linguagem, a tcnica, a religio, a arte, e a escrita, cada etapa integrando as precedentes e levando-as mais longe ao longo de uma progresso de dimenso exponencial. (LVY, 2001, p. 151).
O ciberespao seria uma dimenso que possibilita a conexo de todas as
subjetividades dos indivduos permitindo que milhes de crebros sejam considerados como
neurnios do grande crebro universal. Sendo assim, decisivo para a unificao da
humanidade, pondo em contato os bilhes de crebros e constituindo o hipercrtex, termo
que segundo Lvy (1993, p. 67) designa como um grande crebro, arquivo de toda produo e
memria humana.
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Este campo de interao possibilita, de acordo com Lvy (1999) uma interface
homem/mquina que designa o conjunto de programas e aparelhos que permite a
comunicao entre um sistema informtico e seus usurios humanos. Assim, as TIC exercem
influncia no processo educativo quando possibilitam ao sujeito manipular os campos de
interao em seus respectivos programas ao tempo que influenciam partes do sistema
cognitivo humano, em especial, a capacidade de aprendizagem e a imaginao.
A existncia do ciberespao na construo do conhecimento significa uma
possibilidade de educar para o uso das Tecnologias da Informao e Comunicao, melhor
ainda, se constitui num ambiente de aprendizagem, no qual se possam problematizar os
conhecimentos por meio de um dilogo, para assim alcanar nveis de conhecimentos mais
avanados. Segundo Orozco (2004), preciso que se abra tambm espao para que se possam
problematizar os princpios sobre os quais se constri essa interao com os meios, haja vista,
que as vias comunicacionais no consideram entre suas funes a responsabilidade de educar.
Alm disso, o ato de educar mediado pelos dispositivos informticos colabora
para o desenvolvimento da inteligncia coletiva, medida em que os sujeitos aprendem a
utilizar os mecanismos desses sistemas e suas possveis alteraes colaborativamente, como
uma forma de pensamento sustentvel atravs de conexes sociais que se tornam viveis pela
utilizao das redes abertas como a internet (LVY, 1999).
Nessa dinamicidade, os usurios que constroem o seu conhecimento por meio da
interatividade induzido pelas representaes da rede. Para Lvy (1999, p. 28), a inteligncia
coletiva uma inteligncia distribuda por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada
em tempo real, que resulta uma mobilizao efetiva das competncias. Essa nova viso
coletiva de conhecimento, de sociedade traz implicaes ao modelo escolar, exigindo
transformaes das novas maneiras de pensar e aprender que esto sendo elaboradas na
sociedade capitalista.
As relaes entre os sujeitos e a nossa prpria inteligncia dependem da
metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos: escrita, leitura,
viso, audio, criao e aprendizagem so capturados por uma informtica cada vez mais
avanada no campo do ciberespao (LVY, 1999, p. 7).
Esses recursos colaboram na formao profissional renovada do sujeito tendo o
ciberespao como o agregador dos acontecimentos e suporte tecnolgico que exterioriza as
funes da cognio humana como a memria, imaginao, percepo, raciocnios
favorecendo o acesso informao, estilos de conhecimento, compartilhamento de
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documentos entre indivduos modificando os objetivos da ao educativa mediante uma
aprendizagem cooperativa atravs da internet.
Educar a escola e os professores para utilizao desses dispositivos no processo de
aprendizagem se constitui condio sinequa non que deve absorver fundamentos
terico/metodolgicos na emergncia de prticas pedaggicas que contemplem as novas
demandas educacionais. De alguma maneira o conhecimento, elemento central do processo,
deixou de ser esttico, cristalizado e dogmtico, transformando-se em fludo, flexvel e
seletivo.
Nesta perspectiva, Valente (1999a, p. 5-6) acredita que vivemos um modelo social
que:
[...] exige um homem crtico, criativo, com capacidade de pensar, de aprender a aprender, trabalhar em grupo e de conhecer o seu potencial intelectual. [...] dever ter uma viso geral sobre os diferentes problemas que afligem a humanidade, como os sociais e ecolgicos, alm de profundo conhecimento sobre domnios especficos. Em outras palavras, um homem atento e sensvel s mudanas da sociedade, com uma viso transdisciplinar e com capacidade de constante aprimoramento e depurao de idias e aes.
Certamente, para a construo desta sociedade ser necessrio uma transformao
profunda nas prticas institucionais de educao, que ocorre no espao escolar, para alm da
simples implantao de mquinas como um caminho pedaggico a ser seguido. A partir das
tecnologias, mquinas e linguagens, o aluno deve por adquirir as habilidades e valores da
sociedade do conhecimento.
2.1 Polticas Pblicas em Educao e a Gesto das Tecnologias da Informao e
Comunicao
As polticas pblicas tm sido criadas como resposta do Estado as demandas que
emergem da sociedade e do seu prprio interior, sendo estas a expresso do compromisso
pblico de atuao numa determinada rea em curto, mdio e longo prazo (CUNHA;
CUNHA, 2002, p. 12). Sua construo obedece a um conjunto de prioridades, princpios,
objetivos, normas e diretrizes bem definidas.
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Estud-las no mbito da Educao condio necessria para a compreenso da
realidade social como um todo e da escola em particular. Para isso imperativo compreender
na trajetria do Estado brasileiro contemporneo, as diretrizes, os programas, os projetos e as
aes sem negligenciar, nesse percurso, a real importncia do papel social da escola e dos
processos relativos organizao e gesto intrnsecos a ela. Alm de considerar nesse
percurso o papel das agncias internacionais na educao brasileira e a introduo das
Tecnologias da Informao e Comunicao no contexto sociocultural, nas condies em que
se efetiva o ensino-aprendizagem.
A trajetria do Estado contemporneo caracteriza-se pelo surgimento e
fortalecimento do Neoliberalismo. Esta fase do capitalismo definida pela no interveno do
aparelho estatal na conduo da economia, nas relaes patro-empregado e na oferta de
servios sociedade, ou seja, o Estado mnimo. Pode-se dizer ainda que o neoliberalismo
um modelo econmico que entende o mercado, e no mais o Estado, como o regulador das
relaes entre indivduos, entre produtores e consumidores, tendo como lgica a reduo dos
gastos pblicos, a reduo de sua participao financeira no fornecimento de servios sociais.
O Neoliberalismo inaugura uma nova reestruturao no modo de produo
capitalista, trazendo consigo a necessidade dos estados se submeterem s exigncias do
capital internacional, fragilizando suas fronteiras e colocando-os sob a liderana dos
organismos internacionais que ditam as regras dessa nova ordem orientada pelo avano
cientfico-tecnolgico
Para Lima (2007, p. 35):
um dos eixos fundamentais do atual processo de reestruturao do capitalismo a expanso das TIC, responsveis pela transformao profunda dos processos de trabalho, da organizao da empresa capitalista, das relaes interempresariais de todos os tipos, das estruturas de comercializao, dos mercados financeiros, enfim, de toda a estrutura econmica mundial.
Neste sentido, a autora observa que imprescindvel:
A leitura e a anlise crtica desse movimento, para verificarmos como se expressam os interesses do Estado atravs dos mecanismos de regulao da educao nacional, em relao democratizao e universalizao das TIC e a qual grau de participao da sociedade nesse empreendimento. (LIMA, 2007, p. 73).
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Assim, a escola poder mediar a articular as TIC e a sociedade preconizando
polticas indutoras da criao de emprego e renda com investimentos em Educao. No
entender de Bianchetti (1996, p. 93), esse processo de introduo das TIC na Educao se
estabelece no contexto neoliberal por meio das Polticas Educacionais ao considerar que
[...] formao e capacitao das pessoas [...] dependem no s das condies polticas de uma conjuntura histrica, mas tambm das caractersticas e do poder dos grupos hegemnicos. Esta relativa autonomia da Educao em relao a outros nveis da sociedade reflete a dinmica do processo que ela se desenvolve. (BIANCHETTI, 1996, p. 93).
Tais orientaes polticas modificam profundamente a Educao e a formao dos
trabalhadores que nela atuam, necessitando que sejam criados espaos de conhecimentos
emergentes, abertos, contnuos, em fluxos no lineares, que se reorganizem conforme os
objetivos ou contextos nos quais cada um ocupa uma posio singular e evolutiva para essas
transformaes.
Nesse contexto, o Ministrio da Educao (MEC) como esfera representativa do
Estado brasileiro, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educao e instituies
responsveis pela insero das TIC na educao, devem considerar em suas polticas e
modelos de gesto, acompanhamento e avaliao das aes, programas e projetos que
atendam a estas novas demandas sociais a partir de uma escola pblica de qualidade.
No bojo das questes poltico-sociais a formao de professores reconhecida
pelas instncias legtimas da Educao como uma forma de avano social. Porm, no
planejamento e execuo das polticas pensadas para a educao h um distanciamento entre o
que os programas e projetos preconizam e executam, e a prtica pedaggica. Para o uso das
TIC, os professores, atravs dos processos de formao continuada, participam de aes de
capacitao superficiais, aligeiradas e tecnicistas, contemplando o custo barateado do
processo, qualificando de maneira insuficiente para sua atuao em sala de aula.
Outras caractersticas do modelo neoliberal que interferem na formao dos
trabalhadores/professores diz respeito s concepes de desregulamentao, flexibilizao,
descentralizao, eficincia e eficcia, que revestem as propostas e polticas de formao. A
descentralizao ocorre de forma mascarada tendo como objetivo o enxugamento dos gastos
pblicos e a transferncia de responsabilidade do Estado para outras instituies, como se
verifica nas aes do MEC junto s Secretarias Estaduais e Municipais proporcionando assim,
uma falsa autonomia a estas organizaes.
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Este processo de descentralizao se diferencia das propostas de democratizao
do sistema sustentadas pelos setores democrticos e progressistas (BIANCHETTI, 1996).
Assim, as aes e programas8 implementados pelo Estado passam a fazer parte da educao
brasileira de forma representativa e simblica, atribuindo o sucesso ou fracasso dessas
polticas aos sujeitos, nas instancias estadual ou municipal.
So polticas que respaldam as prticas do sistema econmico atravs do direito a
Educao que dever cumprir funes socioeconmicas, polticas e ideolgicas para o uso
eficiente de novos modelos de gesto e de uso das tecnologias. Como tambm, para
estabelecer novas formas de organizao do trabalho, na medida em que define polticas
industriais, tecnolgicas e de relaes comerciais. Para tanto, a partir da Constituio da
Repblica Federativa do Brasil, de 1988, foram criados referenciais legais e normativos
como: - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) - Lei 9394/96, Plano Nacional
de Educao (PNE) - 2011/2020 e os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) entre outros,
como formas de consolidao do modelo.
O Art. 5, inciso XIV, da Constituio Federal, afirma que assegurado a todos o
acesso informao [...], institucionaliza no Art. 205 a Educao como dever do Estado
dentre outros dispositivos na garantia do ensino fundamental, considerado obrigatrio e
gratuito, entendido como direito pblico. Nesta perspectiva, pode-se afirmar que a Educao
brasileira assegura em tese, direitos, deveres, acesso, padres de qualidade de ensino aos
cidados, contudo as respostas dadas na prtica expressam que a pobreza, ignorncia,
marginalizao e conflito so expresses da sociedade que precisam ser atendidas atravs de
canais sociais como sade e Educao.
Este contexto legal pressupe polticas pblicas que no atendam apenas a
regulao do Estado, apenas compensatrias, mas que definam e operacionalizem uma
educao qualitativa por meio de estratgias didtico-pedaggicas para superar o fracasso
escolar e o domnio dos processos cognitivos como amplo territrio a ser investigado.
8 - No campo intraescolar: Acorda Brasil! T na hora da escola!; Acelerao da aprendizagem; Guia do
livro didtico 1 a 4 sries; e Bolsa-escola; - Na rea do funcionamento do sistema de ensino: Dinheiro na escola; Programa de Renda Mnima; Fundo de Fortalecimento da Escola FUNDESCOLA; Fundo para o Desenvolvimento e Valorizao do Magistrio FUNDEF e Programa de Extenso da Educao Profissional PROEP; - No setor da avaliao e controle do sistema de ensino: Censo Escolar; Sistema de Avaliao da Educao Bsica SAEB; Exame Nacional do Ensino Mdio ENEM; e Exame Nacional de Cursos Provo; - Na rea da modernizao do sistema de ensino: TV Escola; Programa de Apoio Pesquisa em Educao Distncia; e Programa de Modernizao e Qualificao do Ensino Superior e o Programa Nacional de Informtica da Educao- PROINFO.
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Ainda do campo das Polticas Pblicas voltadas a Educao, os PCN atravs de
suas orientaes sobre as TIC preconiza em seu texto novas relaes entre a Educao e a
Comunicao orientando o professor quanto importncia das Tecnologias da Informao e
Comunicao no processo de aprendizagem como mecanismo de interao global e formas de
conhecimento de novas culturas. No entanto, para que a poltica dos PCN efetive-se
necessria uma reestruturao na formao inicial dos professores em que a Comunicao
seja entendida como elemento da prtica pedaggica do professor e a qualidade do processo
de formao dos professores tenha um carter contnuo.
Assim, desde 1999, os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) nasceu com a
proposta de unir qualidade do ensino e formao de cidados aptos ao novo mundo do
trabalho globalizado organizando o ensino para o desenvolvimento de competncias e
habilidades dos estudantes. Essas categorias foram introduzidas como novos paradigmas
educacionais, assumindo papel central para discusso da proposta, principalmente entre os
professores. Em 2002, o MEC com foco para o ensino mdio, elabora novo PCNEM agora
com orientaes complementares, objetivando a construo das categorias citadas.
Em 2004 foi lanado novo documento substituindo o PCNEM Orientaes
Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio com vigncia atual, colocando como centro das
discusses as mudanas para a reorganizao o currculo, como a priorizao da diversidade
cultural dentro da escola. Este utilizado como complemento s polticas socioculturais, as
mudanas no enfoque da avaliao (passando de quantitativa para qualitativa) e o estmulo
formao continuada de professores e gestores, dentre outros aspectos.
No que se refere ao PNE 2011/2020, documento composto por 12 artigos e um
anexo com 20 metas para a Educao, com diretrizes, metas e estratgias que tratam do uso
das tecnologias como parte da poltica de educao analisada a partir da DIRETRIZ VII, na
qual as metas do Plano versam para a formao de professores e o uso das tecnologias das
quais destacamos:
Meta 2 - Estratgia: (2.11), que prope a universalizao o acesso rede mundial de computadores em banda larga de alta velocidade e aumentar a relao computadores/estudante nas escolas da rede pblica de educao bsica, promovendo a utilizao pedaggica das tecnologias da informao e da comunicao. Meta 5 - Estratgia: (5.4)- Fomentar o desenvolvimento de tecnologias educacionais e de inovao das prticas pedaggicas nos sistemas de ensino que assegurem a alfabetizao e favoream a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos estudantes, consideradas as diversas abordagens metodolgicas e sua efetividade. Meta 7 - Estratgia: (7.6) - Selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para o ensino fundamental e mdio, assegurada a diversidade de mtodos e propostas
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pedaggicas, bem como o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas. (7.11) - Prover equipamentos e recursos tecnolgicos digitais para a utilizao pedaggica no ambiente escolar a todas as escolas de ensino fundamental e mdio. Estratgia: (7.13) - Informatizar a gesto das escolas e das secretarias de educao dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, bem como manter programa nacional de formao inicial e continuada para o pessoal tcnico das secretarias de educao. Estratgia: (7.19) - Assegurar, a todas as escolas pblicas de educao bsica, gua tratada e saneamento bsico; energia eltrica; acesso rede mundial de computadores em banda larga de alta velocidade; acessibilidade pessoa com deficincia; acesso a bibliotecas; acesso a espaos para prtica de esportes; acesso a bens culturais e arte; e equipamentos e laboratrios de cincias. Meta 10 - Estratgia: (10.8) - Fomentar a diversificao curricular do ensino mdio para jovens e adultos, integrando a formao integral preparao para o mundo do trabalho e promovendo a inter-relao entre teoria e prtica nos eixos da cincia, do trabalho, da tecnologia e da cultura e cidadania, de forma a organizar o tempo e o espao pedaggicos adequados s caractersticas de jovens e adultos por meio de equipamentos e laboratrios, produo de material didtico especfico e formao continuada de professores. (MEC/ PNE, 2001-2020).
Analisando este documento pode-se destacar aspectos como: universalizao,
institucionalizao de programas, diversificao de currculo, acesso a rede mundial de
computadores, provimento de equipamentos e outros. Contudo, o documento no apresenta
estratgias de sua execuo que prioriza a valorizao do magistrio, condies de trabalho,
de formao adequada e remunerao, itens que interferem no desempenho das atividades do
professor.
O PNE tem um carter regulador de poltica que prioriza apenas desenvolver
processos de expanso, institucionalizao e resultados. Nos convnios que materializam as
parcerias entre o governo federal, estados e municpios para efetivao da poltica de insero
das TIC na educao, a garantia de condies adequadas de trabalho e de formao dos
professores, para o alcance de um desempenho satisfatrio da prtica pedaggica do professor
de responsabilidade dos parceiros conveniados. Isto implica ao mesmo tempo num avano,
na medida em que torna possvel as manifestaes das instncias locais na definio do
caminho a trilhar, no entanto, quando no vem acompanhado de suporte financeiro e de
acompanhamento, transforma-se num simples repasse de responsabilidade sobre o sucesso ou
fracasso do processo educativo s instncias menores na estrutura gerencial da Educao que
so os estados e municpios por meio da escola, e por fim no prprio professor.
No Brasil, dentre as vrias polticas e aes do estado neoliberal implantadas na
ltima dcada do sculo passado, encontra-se o lanamento do PROINFO. Criado pela
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Portaria 522, de 09 de abril de l997, por meio da Secretaria de Educao a Distncia do
Ministrio da Educao e Cultura, esse programa, enquanto poltica pblica de formao de
professores em tecnologia desenvolve aes pedaggicas junto a professores em que a relao
com o saber se d basicamente em capacitar os professores e no em formar o professor para
atuar na rea da informtica, instruir o mote e no discusso, o processo.
Dessa forma, o programa de Informtica na Educao tem nas suas bases originais
na tecnocracia (BELLONI, 2003) em que a organizao produtiva semelhante ao
desempenhado nas indstrias processa-se para um campo cultural e imaterial como caso da
formao de professores. O programa tem por finalidade disseminar o uso pedaggico da
informtica nas escolas pblicas de ensino fundamental e mdio, pertencentes s redes
estaduais e municipais, mediante a criao de infraestrutura de suporte e disponibilidade de
equipamentos, associada a um programa de capacitao de recursos humanos, buscando a
melhoria de qualidade da educao ofertada, atravs de novas prticas escolares.
De acordo com as diretrizes do programa na formao de professores posio
ocupada pelo professor e pela aprendizagem se desloca para o eixo das tecnologias, levando a
mudanas pedaggicas mais voltadas para a pesquisa, investigao e experimentao
(FAGUNDES, 1992; MORAES, 1996). O docente deixa de ser um mero transmissor do
conhecimento, como na perspectiva tradicional, passando a ser visto como um mediador que
favorece a busca pela construo do conhecimento atravs das tecnologias. A nfase da
educao deixa de ser a memorizao da informao transmitida pelo professor e passa a ser a
construo do conhecimento realizada pelo aluno de maneira significativa. Esta forma de
conceber a aprendizagem, com nfase no estudante, delega ao professor uma funo de um
facilitador na construo do processo pedaggico.
O professor, enquanto sujeito para transmisso de informao numa perspectiva
tradicional de Educao, passa a ser um estimulador de curiosidades junto aos alunos para o
campo da pesquisa onde a informao trabalhada relevante para o aluno. O conhecimento
pelo uso das TIC sedutor, no alienante e menos autoritrio. De acordo com esta concepo
pedaggica percebe-se a influncia das correntes construtivista e construcionista na prtica do
professor que influenciou os estudos experimentais de informtica na educao brasileira nas
dcadas de 80 e 90 do sculo XX (MORAES, 2006), atravs das contribuies de Seymour
Papert e Marvin Minsky, com o Logo. Portanto, essa concepo pedaggica trazida pelo
PROINFO, configura um novo desafio na formao de professores frente s tecnologias.
No atendimento a esta realidade faz-se necessrio uma adequao dos sistemas
educacionais, pressupondo mudanas como: nfase no estudante, ainda presente no nvel
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retrico do discurso e centrado no professor; uso das TIC e a mediatizao do ensino;
flexibilizao do acesso, do ensino, da aprendizagem e da oferta a formao de formadores.
Assim, passam a enfrentar os desafios das novas dimenses do papel do professor e os fatores
institucionais de reestruturao de cursos e de investimento em tecnologias (BELLONI,
2003).
Para o desenvolvimento das aes voltadas para o uso das TIC o MEC/PROINFO,
enquanto rgo do poder executivo e responsvel por coordenar a Poltica Nacional de
Educao adota um modelo especfico de gesto para cada unidade da Federao. Este
modelo constitudo de uma coordenao estadual do programa, e a criao dos NTE dotados
de infraestrutura de informtica e comunicao que renem educadores e especialistas em
tecnologia de hardware e software. Estes espaos se constituem estruturas responsveis pelas
aes de sensibilizao e capacitao para o professor, visando incorporao do computador
na sua prtica pedaggica, que por sua vez, estabelece conexo com a escola, constituindo
uma rede local com estaes de trabalho distribudas pelas suas dependncias.
Os NTE deveriam estar conectados a pontos de presena da Rede Nacional de
Pesquisa (RNP), assumindo o papel de provedor internet para as escolas vinculadas. A ligao
com a internet seria implementada gradativamente, medida em que a rede e as tarifas o
permitissem. Esta funo garantiria aos NTE um papel de destaque no processo de formao
da Rede Nacional de Informtica na Educao como centro irradiador de comunicao e
formao para interligao de escolas.
Nesta discusso sobre polticas pblicas na Educao importante entender o
lugar da gesto educacional e da gesto das Tecnologias da Informao e Comunicao como
forma de organizao e gerenciamento das TIC, inseridas no universo escolar a partir destas
polticas. O conceito de gesto adotado neste percurso similar ao de administrar. De acordo
com a concepo atual da administrao, a sociedade depara-se como inmeras instituies,
incluindo-se aqui a escola, que executa atividades sociais determinadas.
Em funo da complexidade dessas atividades, da autonomia controlada da
escola, da insuficincia de recursos disponveis, da diversidade de objetivos a serem
perseguidos e do grande nmero de trabalhadores que assumem aes lideradas e controladas
por pessoas ou rgos, que a gesto corresponde a administrao e encontra na
organizao, seu prprio objeto de estudo (PARO, 1986, p. 17).
Administrar ou gerir na busca de suas intencionalidades podem se tornar
sinnimos se as atividades burocrticas na Educao forem restritas e se configuram como
meios educacionais. Na maioria das vezes servem como instrumentos controladores do
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processo educativo evitando o alcance dos objetivos almejados. Exatamente por ser mediao
a determinado fim, administrar ou gerir tem que adequar-se aos mtodos e contedos que
pretende alcanar, diferenciando-se, portanto, medida em que se diferenciam os objetivos.
A gesto educacional brasileira tem sido marcada pela descontinuidade de
inmeros projetos e por carncia de planejamento de longo prazo que evidenciasse polticas
de Estado em detrimento de polticas conjunturais de governo. Tal dinmica tem favorecido
aes sem a devida articulao com os sistemas de ensino, destacando-se, particularmente,
gesto e organizao, formao inicial e continuada, estrutura curricular e processos de
participao dos sujeitos da Educao.
Por outro lado, em funo das caractersticas do sistema econmico vigente nota-
se uma tendncia crescente para a descentralizao e a desconcentrao do poder em todas as
reas, como forma de fortalecer o processo decisrio, colocando-se o poder de deciso em
nveis cada vez mais prximos do local onde o problema ocorre. Este fato encontra
justificativa segundo Alonso (2003, p. 23):
[...] na velocidade com que ocorrem as mudanas no mundo atual e as novas demandas delas decorrentes e, de outro lado, na ampliao do desejo de participao das pessoas nas decises que afetam diretamente o seu trabalho, fruto da expanso dos ideais de democratizao.
Em certa medida a idia de participao e autonomia com responsabilidades
compartilhadas abre espao para um novo perfil de gestor educacional. Essa funo exige
uma conscincia de no administrar todos os problemas. O caminho a descentralizao, isto
, o compartilhamento de responsabilidades com os segmentos que lidera no havendo
dicotomia entre administrativo e pedaggico, posto que, do ponto de vista da administrao
como mediao, no h nada mais autenticamente administrativo do que o pedaggico, pois
por seu intermdio que o fim da educao se realiza.
Nessa perspectiva, a articulao e a rediscusso de diferentes aes e programas,
direcionados gesto educacional, devem ter por norte uma concepo ampla de gesto que
considere a centralidade das polticas educacionais e dos projetos pedaggicos das escolas.
Como tambm, a implementao de processos de participao e deciso nessas instncias,
balizados pelo resgate do direito social educao e pela implementao da autonomia nesses
espaos sociais. Acrescentando ainda, a efetiva articulao com os projetos de gesto do
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MEC, das secretarias, com os projetos poltico-pedaggicos das escolas e com o amplo
envolvimento da sociedade civil organizada.
Porm, o modelo de gesto educacional adotado pelas esferas pblicas aponta
para uma reviso poltica e gerencial caracterizada como catica e centralizadora estendendo
suas caractersticas ao universo escolar. De acordo com Mello (1991), esse modelo
educacional composto por sistemas de ensino centralizados e verticais, onde as instncias
burocrticas centrais e intermedirias so inchadas e a expanso quantitativa no foi
acompanhada de uma reorganizao institucional. Currculos, programas, estatutos e carreiras
do magistrio, jornadas de trabalho, materiais de ensino/aprendizagem, so elaborados nas
instancias centrais.
Esse quadro da gesto educacional brasileira interfere diretamente na gesto das
tecnologias na esfera central, setorial e local, pois as TIC desde a sua introduo na Educao
demonstrou de forma mais efetiva sua contribuio aos processos de informatizao das
atividades administrativas na escola. A posteriori esses recursos foram sendo inseridos no
contexto pedaggico com perspectiva inovadora, buscando uma integrao de atividades e
colaborando no processo de educar. O desenvolvimento de tais atividades no campo educativo
levou a compreenso de que o uso das TIC no processo aprendizagem ampliou o acesso a
informao, favorecendo as possibilidades de aprendizagens dos alunos e professores.
Dessa forma, Valente (1996) argumenta que as TIC ultrapassam o limite do
instrucionismo9, favorecendo a criao de aprendizagens colaborativas, gesto participativa,
ensino e aprendizagem que pressupe um modelo de gesto das Tecnologias da Informao e
Comunicao tendo como respaldo terico o Construcionismo10.
Ainda sobre a gesto das TIC notamos uma tendncia de gerenciamento
descentralizado e desordenado que atribui intencionalmente escola o poder de deciso sobre
o seu uso mesmo no tendo constitudo as condies necessrias para o exerccio dessa
autonomia. Dessa maneira, conferida a escola a responsabilidade pelos resultados finais do
uso das TIC como dispositivo pedaggico. Esse modelo implantado no pas pelo MEC, tanto
9 Paradigma instrucionista apresenta o ponto de vista pedaggico de uso do computador como mquina de
ensinar que consiste na informatizao dos mtodos de ensino tradicionais. Algum implementa no computador uma srie de informaes e essas informaes so passadas ao aluno na forma de um tutorial, exerccio-e-prtica ou jogo. Alm disso, esses sistemas podem fazer perguntas e receber respostas no sentido de verificar se a informao foi retida. VALENTE, 1993.
10 Teoria que tem como base o construtivismo e, portanto v o aluno como construtores de suas estruturas intelectuais. No entanto, o construcionismo inclui a necessidade de construo de um artefato externo.
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do ponto de vista estrutural, como tambm funcional constitui-se em um dos eixos
fundamentais da reestruturao desse sistema em que pressupe transformaes dos processos
de trabalho, da organizao escolar e na construo de novas prticas pedaggicas.
Para tanto, necessita-se compreender as potencialidades inerentes a cada
tecnologia, suas contribuies na aprendizagem e as mudanas que trazem ao ambiente
escolar, permitindo alm do domnio de tecnologias uma viso de mundo, de homem, de
cincia e de educao. Desse modo, a escola atravs dos seus sujeitos possibilita a
oportunidade de encontrar no campo tecnolgico a base adequada ao desenvolvimento e
integrao entre as atividades tcnico-administrativas, polticas, sociais e pedaggicas por
meio de ns e ligaes que compem a tessitura da rede.
As TIC propiciam novas linguagens no espao educacional, no qual a
intencionalidade tem um significado ao que se refere sua potencialidade. Vale ressaltar que
oferecem meios facilitadores, os quais devem estar interligados, caso contrrio, no garantiro
uma postura dialtica do processo de construo de uma prxis comprometida como uma
nova paisagem formativa.
Para isso, a formao dos professores deve ser desenvolvida com bases terico-
metodolgicas para o uso das TIC no processo educacional que explicitem novos olhares
condizentes com as diretrizes do MEC e com polticas estaduais. Esse caminho ser
percorrido se os problemas enfrentados pela escola para sua utilizao considerarem que a
institucionalizao de documentos como projeto poltico-pedaggico, regimento escolar,
discusso de colegiados so indicativos para a escola desenvolver uma avaliao efetiva dos
processos terico-metodolgicos e instrumentais atravs dos NTE do estado na Formao
Continuada dos professores frente ao uso das TIC. Estas questes o que discutiremos a
seguir.
2.2 A Formao de Professores para o uso das TIC
A atual fase do modo de produo capitalista caracteriza-se pelo processo de
acumulao flexvel que trouxe uma nova forma de enxergar o mundo. Este processo, em
contraposio a rigidez do processo fordista, requer novas formas de encarar o mundo,
exigindo flexibilidade nas relaes de trabalho, nos produtos e nos padres de consumo.
Assim, o capitalismo em sua nova fase trouxe grandes mudanas que atingiram toda a
sociedade, gerando incertezas.
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Incertezas quanto aos padres a serem seguidos pela inexistncia de propostas
prontas ou verdades estabelecidas, que conseqentemente fizeram a educao passar por
transformaes profundas no processo de ensinar e aprender. Ensinar no mais se constitui
como transmisso de conhecimentos, intocados, estticos, e aprender um processo no
somente memorativo e de decodificao de signos. Adicionando a essa anlise a presena das
TIC na sociedade tcnico-capitalista, impulsiona mudanas na formao do professor
trazendo a tona ampla e diversa discusso sobre essa questo no sculo XXI.
Assim, o tema Formao de Professores vem assumindo posio de destaque nas
questes relativas s polticas pblicas, bem como, nas investigaes e publicaes da rea
acerca deste tema. Resultante de um vasto campo das ideias e de uma pobreza sem
precedentes no campo de prticas educativas, a formao continuada considerada como vis
para formar sujeitos flexveis e proativos, desenvolvendo novas habilidades e competncias e
contribuindo na evoluo para as transformaes do modelo social.
A formao para o exerccio do magistrio e a preparao da profisso de
professores deve ter como alicerce uma formao terica de qualidade, que, implica
recuperar, nas reformulaes curriculares, a importncia do espao para a anlise da educao
como disciplina, seu campo de estudo e status epistemolgico; busca ainda a compreenso da
totalidade do processo do trabalho docente (ANFOPE, 2000, p.11). Torna-se necessria uma
formao que privilegie, no apenas os aspectos dos contedos especficos, mas o processo de
formao em sua totalidade.
Portanto, a formao docente deve constituir-se em qualificao e conquista de
espaos sociais e construo de novos conhecimentos. A adeso a novos valores pode facilitar
a reduo das margens de ambigidade que afetam a profisso do professor e contribuem para
que estes voltem a sentir-se bem na sua pele (NVOA, 1999). No se pode pensar a questo
da formao dissociada do contexto mais amplo da relao entre trabalho, educao e
sociedade. necessrio rever os princpios que orientam a formao docente e acreditamos
que uma das estratgias de rompimento do controle do capital pode ser atravs da
subjetividade humana.
Junto formao docente, a introduo das TIC no contexto educacional abre
novas possibilidades, exigindo uma nova postura da escola, do professor e do aluno. As redes
digitais utilizadas para fins pedaggicos auxiliam no processo de comunicao, de pesquisa,
de produo de conhecimento, permitem a interconexo entre professor-aluno e aluno-aluno,
promovem o desenvolvimento de atividades em parceria, possibilitam trocas de informaes
ao mesmo tempo em que permitem que o professor trabalhe melhor o desenvolvimento do
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conhecimento. O processo de ensinar - aprender e apreender deve utilizar-se de diversos
canais de comunicao, que obedecem as novas competncias de ensinar e de aprender
exigidas do professor diante a introduo das TIC que na maioria da