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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O FORMATIVO AGRO-: ASPECTOS
HISTÓRICOS, MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS
Neide Higino da Silva
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras Vernáculas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras
Vernáculas (Língua Portuguesa)
Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio
Gonçalves
Rio de Janeiro
Março de 2016
Higino da Silva, Neide.
Diferentes perspectivas sobre o formativo agro-: aspectos históricos,
morfológicos e semânticos. / Neide Higino da Silva. Rio de Janeiro: UFRJ/FL,
2016.
x, f.: 188. il.: 31cm
Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves.
Tese (Doutorado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas, 2016.
Referências Bibliográficas: f. 149 a 156.
1. Continuum composição – derivação. 2. Formativo agro- 3. Compostos
Neoclássicos. 4. Recomposição. I. Gonçalves, Carlos Alexandre Victorio II
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-
graduação de Letras Vernáculas. III. Título.
RESUMO
DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O FORMATIVO AGRO-: ASPECTOS HISTÓRICOS,
MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS
Neide Higino da Silva
Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
O objetivo desta pesquisa é analisar o estatuto do formativo agro-, por meio de diferentes
enfoques: histórico, morfológico e semântico. Essas perspectivas são utilizadas, uma vez que, pela
observação dos dados, são reconhecidas, na Língua Portuguesa, duas formas de diferentes origens,
agro- e agri-, do grego e do latim, respectivamente, com significados comuns, coexistindo no
Português, a exemplo de agricultura e agronomia. Por isso, as implicações históricas dessas origens
são verificadas na atual sincronia.
A análise do estatuto morfológico dos formativos é feita a partir do continuum composição e
derivação, como proposto por Bauer (2005) e Kastovsky (2009) e, posteriormente, implementado,
para o português, por Gonçalves (2011b) e Gonçalves e Andrade (2012). As características do
formativo são examinadas, a fim de encontrar seu posicionamento no referido continuum.
Os dois elementos morfológicos, embora de origens distintas, possuem o mesmo significado
genérico, campo, nas palavras advindas das línguas clássicas, como agrícola e agrônomo, ou em
formações classificadas como “compostos neoclássicos”, a exemplo de agricultar e agrologia. No
entanto, em novas construções, agro- assume diferentes sentidos, a exemplo de agricultura em
agropecuária e produtos de origem agrícola em agrocombustível. O significado dos formativos
relaciona-os a processos distintos: composição neoclássica ou recomposição. Por isso, os sentidos
instanciados nas construções são examinados.
O modelo baseado no uso (BYBEE, 2005, 2010), (LANGACKER, 2008) é o referencial
linguístico que orienta esta pesquisa, uma vez que as estruturas investigadas são compreendidas
como resultado de atividades cognitivas e sociais que se manifestam em mudanças linguísticas.
PALAVRAS-CHAVE: Composição. Derivação. Continuum. Compostos neoclássicos.
Recomposição.
Rio de Janeiro
Março de 2016
RESUMEN
DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE EL ELEMENTO MORFOLÓGICO AGRO-:
ASPECTOS HISTÓRICOS, MORFOLÓGICOS Y SEMÁNTICOS
Neide Higino da Silva
Asesor: Prof. Doctor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
El objetivo de esta investigación es analizar la situación de la formación agro- por
intermedio de diferentes enfoques: histórico, morfológicos y semánticos. Se utilizan estos puntos de
vista, ya que se reconocen los datos de observación, en portugués, dos formas de distinto origen,
agro- y agri-, griego y latín, respectivamente, con significados comunes, coexistiendo en portugués,
por ejemplo como la agricultura y la agronomia. Por lo tanto, las implicaciones históricas de estas
fuentes se comprueban en la sincronización actual.
El análisis del estado morfológico de la formación se hace del continumm composición y
derivación, como se lo propone por Bauer (2005) y Kastovsky (2009) y posteriormente
implementado para el portugués, por Gonçalves (2011b) y Gonçalves y Andrade (2012). Las
características de la formación son examinadas con el fin de encontrar su posición en ese
continumm.
Los dos elementos morfológicos, aunque de diferente origen, tienen el mismo significado
general, el campo, lo que resulta en las palabras de las lenguas clásicas, como la agricultura y la
agronomia, o formaciones clasificadas como "compuestos neoclásicos”, como agricultar y
agrologia. Sin embargo, la nueva construcción agro- asume diferentes significados, como
agricultura en agropecuária y produtos de origem agrícola en agrocombustível. La importancia de
la formación se refiere a los diferentes procesos: composición neoclásica o recomposición. Por lo
tanto, los sentidos expresados per agro- son examinados.
El modelo basado en el uso (BYBEE, 2005, 2010) y (LANGACKER, 2008) es la referencia
del lenguaje que guía esta búsqueda, ya que las estructuras investigadas se entienden como
resultado de las actividades cognitivas y sociales que se producen en el cambio lingüístico.
PALABRAS CLAVE: Composición. Derivación. Continumm. Compuestos Neoclásicos.
Recomposición.
Rio de Janeiro
Março de 2016
SUMMARY
DIFFERENT PERSPECTIVES ON MORPHOLOGICAL ELEMENT AGRO: HISTORICAL,
MORPHOLOGICAL AND SEMANTIC ASPECTS
Neide Higino da Silva
Advisor: Ph. D. Carlos Alexandre Gonçalves Victorio
The objective of this research is to analyze the status of formative agro- through different
approaches: historical, morphological and semantic. These perspectives are used, since the
observation data are recognized, in Portuguese language, two forms of different origins, agro- and
agri-, Greek and Latin, respectively, with common meanings, coexisting in Portuguese, such as, for
example, agricultura and agronomia. Therefore, the historical implications of these sources have
found in the current synchrony.
The analysis of the morphological status of the formative has done from the continuum
composition and derivation, as proposed by Bauer (2005) and Kastovsky (2009) and subsequently
implemented for the Portuguese, by Gonçalves (2011b) and Gonçalves and Andrade (2012). The
formative’s characteristics have examined in order to find its position in that continuum.
Although their different origins, the two morphological elements have the same general
meaning, campo, resulting in the words of the classical languages, such as agricultura and
agronomia, or formations classified as "neoclassical compounds", like agricultar and agrologia.
However, new construction agro- express different meanings, like agricultura in agropecuária and
produtos de origem agrícola in agrocombustível. The significance of the formatives relates to the
different processes: neoclassical compounding or re-componding. Therefore, the instanced
meanings have examined in the constructions.
The usage-based model (BYBEE, 2005, 2010) and (LANGACKER, 2008) is the language
reference which guides this search, since the investigated structures have understood as a result of
cognitive and social activities that manifest themselves in language change.
KEYWORDS: Composition. Derivation. Continuum. Neoclassical Compounds. Recomposition.
Rio de Janeiro
Março de 2016
SINOPSE
Estudo de construções morfológicas constituídas
pelo formativo agro-.
Verificação de limites entre categorias, segundo o
Continuum Composição-Derivação
Aos meus pais que, por limitações impostas, não chegaram à escola. Mas
com o “saber só de experiências feito” (Camões), são meus educadores por
excelência.
AGRADECIMENTOS
A Deus sempre e por tudo.
Ao meus pais, Terezinha e José, por indicarem a direção, pelo amor e pelo incentivo.
Aos meus irmãos, Antônio Carlos e Gilcimar, meus companheiros e amigos, pela partilha de vida e
de conhecimento. Toni, obrigada pelas traduções do Francês.
Ao meu marido, Alexandre, figura onipresente nas minhas falas, pelas orientações, pelo fomento e
pelos sonhos.
Aos meus tios e tias pela vibração diante de cada nova conquista. Agradeço, especialmente, ao meu
tio Adilson Guilherme, o primeiro na minha família a desbravar o mundo acadêmico, por mostrar
que era possível.
Aos meus amigos, de ontem e de hoje, pelas diferentes trocas de saberes.
Aos professores que, direta ou indiretamente, contribuíram com a minha educação. Agradeço, de
forma especial, à professora Rita de Cássia pelas memoráveis frases de incentivo, no ensino
fundamental.
À professora Mônica Nobre pela acolhida e pelo conhecimento transmitido.
À professora Terezenha Bittencourt por acreditar em mim e por mostrar-me os primeiros passos
rumo ao mestrado.
À amiga Regina Simões pela “sororidade” desde o ínico.
À amiga Katia Emmerick Andrade pela amizade, pela troca generosa de conhecimento, pelas
indicações bibliográficas, pelas horas doadas para escutar as minhas ideias, para ler os meus textos
e pelas palavras de entusiasmo.
Aos amigos feitos nessa jornada, Silvio Cesar Santos, Caio Castro, Roberto Rondinini, João
Tavares, Patrícia Affonso, José Augusto Pires, Dedilene Alves, Vitor Vivas e Daniele Filizola, pelo
apoio e pelas boas risadas.
À amiga Ana Paula Belchor que, na sua discrição, muito ensina sobre o fazer acadêmico.
Ao querido Jorge Lisboa por fazer de cada encontro na Letras uma festa.
Aos meus amigos integrantes do NEMP, sem exceção, os meus agradecimentos.
À professora e amiga Maria Lucia Leitão pelo entusiasmo contagiante, pelo conhecimento dividido,
pelo processo contínuo de formação.
Ao meu orientador, professor Carlos Alexandre, pela maestria na sua conduta acadêmica, pelo
diálogo, pelos caminhos indicados, pela paciência, pelo incentivo, pela orientação impecável e pela
amizade. Muito obrigada!
Agradeço à Professora Doutora Arlete José Mota - do Programa de Pós-Gradução em Letras
Clássicas da UFRJ - pela tradução precisa dos textos em Latim Clássico que constituem e
corroboram as hipóteses apresentadas nesta tese de doutorado em Letras Vernáculas.
“Os contornos do meu futuro pensamento
começavam a delinear-se; o problema central viria a ser
a língua. Em primeiro lugar, obviamente, porque amo a
língua. Amo sua beleza, sua riqueza, seu mistério e seu
encanto. Só sou verdadeiramente quando falo, escrevo,
leio ou quando ela sussurra dentro de mim, querendo
articular-se. Mas também porque ela é forma simbólica,
morada do Ser que vela e revela, vereda pela qual me
ligo aos outros, campo de imortalidade aere perennius,
matéria e instrumento da arte. Ela é meu compromisso,
através dela concebo minha realidade e por ela deslizo
rumo ao seu horizonte e fundamento, o silêncio do
indizível. Ela é minha forma de religiosidade. É, quiçá,
também a forma pela qual me perco”.
(VILÉM FLUSSER)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................
15
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 20
1.1. Linguística Cognitiva: modelo baseado no uso ........................................................... 20
1.2. Categorização: a flexibilidade do processo cognitivo ................................................. 22
1.3. Gramática e as Construções ........................................................................................ 25
1.4. Morfologia: conceitos de morfema e de léxico ........................................................... 28
1.4.1. Morfema ............................................................................................................ 28
1.4.2. Léxico ................................................................................................................ 31
1.5. Frequência e Regularidade: fatores geradores de produtividade ................................ 33
1.6. Analogia e as Constribuições da Diacronia e da Sincronia na Formação de Novas
Palvras ........................................................................................................................
37
1.7. Analisabilidade e Composicionalidade: forma e significado........................................
39
2. ΑΓΡΌΣ E AGER: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA ............................................. 42
2.1. Pareceres dos Dicionários etimológicos...................................................................... 42
2.2. Ager-: análise fonética e morfológica........................................................................ 46
2.2.1. Breves Comentários sobre a História do Latim: a forma ager .......................... 48
2.2.2. Possíveis Transformações de Ager .................................................................... 50
2.3. Textos Latinos e seus Contextos Históricos .............................................................. 52
3. COMPORTAMENTO DE AGRO- E AGRI- NA ATUAL SINCRONIA .................. 67
3.1. Posicionamento dos Compostos Neoclássicos no Continuum Composição-
Derivação.....................................................................................................................
67
3.2. Análise dos Formativos Agro- e Agri- ....................................................................... 75
4. COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS: REVISÃO LITERÁRIA .................................... 78
4.1. Ralli (2008 a) ............................................................................................................. 84
4.2. Petropoulou (2009) .................................................................................................... 86
4.3. Panocová (2012) ........................................................................................................ 91
4.4. Lüdeling (2006) ......................................................................................................... 93
4.5. Bauer (1998) .............................................................................................................. 97
4.6. Amiot e Dal (2007) .................................................................................................... 104
4.7. Pontos de Convergência entre as Propostas .............................................................. 107
5. AGRO- E AGRI- ENTRE OS COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS E A
RECOMPOSIÇÃO ........................................................................................................
110
6. PAPEL DA VOGAL FRONTEIRIÇA NA FORMAÇÃO DE UMA REDE
ASSOCIATIVA ...................................................................................................................
120
6.1. Gramática Latina: estrutura dos compostos ............................................................... 120
6.2. Gramática Grega: estrutura dos compostos ............................................................... 123
6.3. Segmento Vocálico: possíveis interpretações para o português ................................ 125
6.4. Descrição Sincrônica em Diferentes Línguas ............................................................ 127
6.5. Análises para o Português .......................................................................................... 133
6.6. Análises das Diferentes Construções Neoclássicas do Português e do Segmento
Fronteiriço ....................................................................................................................
136
6.7. Novas Propostas de Análise para o Continuum Composição-Derivação.................... 144
6.8. Produtividade ............................................................................................................. 151
CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 153
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 158
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..................................................................................... 170
ANEXOS .............................................................................................................................. 172
14
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Inspirado na Rede de Relações de Palavras proposta por Bybee (2010) ................. 29
Quadro 2 - Exemplos de Construções, com variação de tamanho e complexidade (extraído de
Goldberg, 2006, p. 5) ..................................................................................................................
33
Quadro 3 - Declinação de Ager .................................................................................................. 47
Quadro 4 - Declinação de Αγρόσ ............................................................................................. 51
Quadro 5 - Comparação entre as Declinações Latina e Grega ................................................... 51
Quadro 6 - Fatores de distinção entre Composição e Derivação .............................................. 72
Quadro 7 - Continuum das Construções Neoclássicas ............................................................... 149
Quadro 8 - Detalhamento dos Processos de Formação das Construções Neoclássicas ............ 149
Quadro 9 - Desmembramento do Processo Clássico de Composição ........................................ 150
15
INTRODUÇÃO
O objetivo desta pesquisa é analisar o estatuto do formativo agro-, por meio de diferentes
enfoques: histórico, morfológico e semântico. Essas perspectivas serão utilizadas, uma vez que, pela
observação dos dados, são reconhecidas, na língua portuguesa, duas formas de diferentes origens,
agro e agri, do Grego e do Latim, respectivamente, com significados comuns. Tais formas
coexistem em Português, a exemplo de agricultura e agronomia. Por isso, as implicações históricas
dessas origens são verificadas na atual sincronia.
Os dois elementos morfológicos, embora de origens distintas, possuem o mesmo significado
prototípico, campo, nas palavras advindas das línguas clássicas, como agrícola e agrônomo, ou em
formações classificadas como compostos neoclássicos, a exemplo de agricultar e agrologia. No
entanto, em novas construções, agro- assume diferentes sentidos, ainda que relacionados, a exemplo
de agricultura, em agropecuária e produtos de origem agrícola, em agrocombustível. Esse
comportamento semântico remete a outro processo de formação de palavras: a recomposição;
contudo, a instabilidade do sentido de agro- suscita o questionamento sobre o processo que subjaz a
essas novas formas.
Além da questão semântica, que revela a incongruência da classificação de algumas
construções morfológicas como compostos neoclássicos (cf. GONÇALVES, 2011a), outros
aspectos demonstram a discrepância entre a categorização e o comportamento de novas formações.
No que se refere à pragmática, algumas fogem do esperado, pois não estão vinculadas ao âmbito
técnico-científico, tais como agromulher, agroshop, agrotv (cf. anexo 2); sintaticamente, as bases
dos compostos neoclássicos estabelecem uma relação de subordinação do tipo determinante-
determinado, mas, no corpus analisado, há palavras em que a subordinação é do tipo determinado-
determinte, e há, ainda, casos de coordenação entre os formativos, a exemplo de agroaçucareiro e
agroflorestal (cf. anexo 1), respectivamente. No tocante a morfologia, a posição fixa do formativo,
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na estrutura do vocábulo, e a constituição dessas palavras complexas por radicais, afastam os
compostos neoclássicos das características dos compostos do vernáculo, o que leva a questionar a
inclusão daqueles entre a composição.
Portanto, diante do exposto, às questões que aspiramos responder nesta pesquisas são: 1)
agro- e agri- são formativos distintos ou alomorfes de uma mesma unidade morfológica? 2) os
compostos neoclássicos inserem-se na composição? 3) qual é o estatuto morfológico dos
formativos? 4) quais são as características morfológicas, sintáticas e semânticas dessas formações?
5) esse é um processo produtivo?
Pretendemos, por meio da análise dos dados, apresentar uma descrição do formativo agro-
na atual sincronia, sem deixar de considerar dados diacrônicos, uma vez que o modelo teórico que
fundamenta esta pesquisa – Bybee (2010) – prevê uma relação dialógica entre sincronia e diacronia.
A abordagem histórica leva em conta a mutabilidade das línguas, uma vez que essas estão
num jogo constante de mudança e permanência, e as estruturas e funcionamentos das diferentes
sincronias podem revelar relações com o passado e esclarecer fenômenos presentes. Para isso,
foram utilizados dicionários etimológicos, textos latinos dos períodos arcaico e clássico e textos
portugueses dos séculos XX ao XXI.
A análise do estatuto morfológico dos formativos, no Português contemporâneo, é feita a
partir do continuum composição-derivação, como proposto por Bauer (2005), e Kastovsky (2009), e
posteriormente implementado, para o Português, por Gonçalves (2011b) e Gonçalves e Andrade
(2012). Procuraremos verificar as características do formativo, a fim de encontrar seu
posicionamento no referido continuum. Para tanto, esta análise fundamentar-se-á nas questões
propostas por Gonçalves (2011a, 2011b, 2012) e Gonçalves e Andrade (2012), pois os autores
discutem o comportamento de alguns elementos que não se enquadram perfeitamente nas
características prototípicas dos formativos que constituem a composição e a derivação.
17
O modelo baseado no uso (BYBBE, 2010) é o referencial linguístico que orienta esta
pesquisa, uma vez que as estruturas investigadas são compreendidas como resultado de atividades
cognitivas e sociais que se manifestam em mudanças linguísticas. Portanto, os conceitos de língua,
categoria, regularidade, frequência, produtividade, diacronia e sincronia utilizados ao longo deste
trabalho estão comprometidos com essa perspectiva.
O corpus aqui utilizado é formado de verbetes do Dicionário Eletrônico Houaiss, do Grande
Dicionário Houaiss Beta da Língua Portuguesa, do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua
Portuguesa, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e informações recolhidas por meio
da Internet, sobretudo a ferramenta eletrônica de busca Google. As quatro primeiras fontes serviram
como recursos para observar formas já consagradas na língua; a última, por sua vez, funcionou para
verificar novas formações agro-X e o grau de produtividade do elemento à esquerda. Na pesquisa
realizada por meio do Google, foram excluídas palavras com agro- em que o formativo aparece
exclusivamente como designação de empresas (oniônimos), ou seja, seu significado tem a função de
relacionar a empresa à agricultura como em Agro Ramoa Indústria; Agro Química Maringá, Timac
Agro Brasil. No entanto, foram consideradas palavras que, embora nomeassem empresas,
apresentavam, na própria ferramenta eletrônica de busca, uma definição, como agrolink (portal
agrolink.com.br sobre o agronegócio brasileiro)
Após o levantamento do corpus, constituído por 101 dados, houve a divisão das formações,
distinguindo agro- dos possíveis elementos morfológicos concorrentes: agri- (agrícola), agric(o)-
(agricopecuário) e agra- (agrar). Em seguida, analisou-se a estrutura das palavras a fim de
estabelecer comparações entre os compostos neoclássicos e o compostos vernaculares, foram
consideradas: a) a natureza das bases, se livre ou presa; b) a relação sintática entre elas; isto é, se de
subordinação ou de coordenação; e c) a categoria lexical das bases e das construções, como exposto
no anexo 1. Posteriormente, observou-se as acepções veiculadas pelos formativos agro- e agri- e as
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datas de entrada dos vocábulos na língua, com o objetivo de verificar a densidade semântica dos
elementos morfológicos e a produtividade em diferentes períodos. As acepções foram arroladas no
anexo 2.
Para analisar os formativos desde o latim até sua entrada na língua e nos dias atuais,
utilizou-se, como fontes de informações diacrônicas, a gramática histórica (SAID ALI, 1931);
manuais de filologia e de linguística (BASSETO, 2013; MONTEIL, 1992; NOLL, 2008; ROBINS,
1967); e, principalmente, dicionários etimológicos (NASCENTES, 1966; COROMINAS, 1961;
CUNHA, 1994; MACHADO, 1984).
A tese está dividida em seis capítulos. No primeiro capítulo, apresenta-se a fundamentação.
No segundo capítulo, são expostas informações de caráter histórico: descrições de dicionários
etimológicos; percurso fonético-fonológico e morfológico do formativo e uma contextualização
histórica. No terceiro capítulo, são discutidas as características dos compostos neoclássicos, tendo
como referência os critérios empíricos, que identificam tendências gerais da composição e da
derivação, postulados por Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012), a fim de traçar
paralelos que permitam encontrar ou não uma possível relação entre os compostos neoclássicos e os
compostos do vernáculo e, consequentemente, sua localização no continuum composição-derivação.
Identificadas as semelhanças e as diferenças entre os compostos neoclássicos e os
compostos vernaculares; no quarto capítulo, é feita uma revisão literária, na qual se apresentam
algumas pesquisas acerca dos compostos neoclássicos em diferentes línguas. As análises dos
diferentes autores (RALLI, 2008a, PETROPOULOU, 2009; PANOCOVÁ, 2012; LÜDELING,
2006; BAUER, 1998; AMIOT; DAL, 2007) dialogam diretamente com as questões expostas no
terceiro capítulo e com a análise de agro- e agri-, exposta no quinto capítulo, foco dessa pesquisa.
No quinto capítulo, abordam-se as características da composição neoclássica e da
recomposição, visando à relação das formações com o protótipo de cada processo. Destacam-se,
19
nesse capítulo, a ressignificação e a densidade semântica de agro-, que sugerem um novo processo
de formação de palavras diferente da recomposição. No sexto capítulo, propõe-se uma rede
associativa entre diferentes construções neoclássicas, considerando as semelhanças estruturais entre
elas, e propõe-se um continuum em que se distribuem: construções neoclássicas prototípicas –
construções neoclássicas híbridas - construções vernaculares com marcador composional.
Pretende-se, com esta pesquisa, sistematizar o conhecimento a respeito dos formativos agro-
e agri-, para que se possa viabilizar futuras generalizações (morfológicas e semânticas), por meio da
comparação com outros formativos de origem greco-latina, que hoje são considerados radicais
neoclássicos, embora também apresentem comportamento controverso, a exemplo de -metro, -
mania, -teca, hetero-, entre outros.
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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo apresenta alguns pressupostos da Linguística Cognitiva (LC) que
fundamentam a análise e a descrição do corpus aqui pesquisado. Como lembra Martelotta (2011, p.
55), esse modelo teórico, também defendido e aplicado pela Linguística Funcional e Linguística
Cognitiva-Funcional, “considera haver uma estreita relação entre a estrutura das línguas e o uso que
os falantes fazem delas nos contextos reais de comunicação.” Dentre os diferentes temas (cf.
SILVA, 1997, p. 59) de interesse da LC, este estudo prioriza a interface forma/significado e as
experiências da linguagem em uso.
Os conceitos elencados, nas seções a seguir, baseiam-se em Bybee (2005, 2010); Croft e
Cruse ([2004], 2009) e Langacker (2008). Além da apresentação das definições, quando pertinentes,
confrontos entre as abordagens dos autores serão apontados.
1.1. Linguística Cognitiva: modelo baseado no uso
A Linguística Cognitiva é um modelo teórico que compreende a linguagem como fenômeno
dinâmico, emergente da relação entre homem, meio e cultura (LAKOFF; JONHSON, 1980) e
integrado com os demais elementos do sistema cognitivo. Nessa perspectiva, a estrutura da
linguagem não se organiza em módulos, mas em um continuum de unidades simbólicas, resultante
da associação entre o polo semântico e o polo formal em diferentes níveis: morfologia, léxico e
sintaxe. Como tais componentes estruturam o conteúdo conceptual, qualquer mudança formal tem
efeitos semânticos.
Bybee (2010, p. 1-2) compara a linguagem a dunas de areia que possuem uma aparente
regularidade de forma e estrutura; no entanto, cada duna possui variações e está em constante
21
mudança. Portanto, as línguas são sistemas complexos e adaptáveis, capazes de reunir
características paradoxais:
“A língua também é um fenômeno que apresenta estrutura e regularidade padrões
e, ao mesmo tempo, apresenta uma variação considerável em todos os níveis:
línguas diferem umas das outras; no entanto, estão sendo, notoriamente, moldadas
pelos mesmos princípios; construções comparáveis em diferentes idiomas têm
funções semelhantes e são baseadas em princípios semelhantes, mas diferem umas
das outras de modo específico; enunciados em línguas diferentes continuam a
exibir os mesmos padrões estruturais; as línguas mudam ao longo do tempo, mas
de maneira bastante regular. Assim, uma teoria da linguagem poderia,
razoavelmente, centralizar-se nos processos dinâmicos de criação linguística,
expondo sua estabilidade e seu dinamismo.” (tradução nossa)1
Segundo a autora (op.cit.), a linguagem é muito mais um fenômeno dinâmico do que estático
e esse movimento manifesta-se na perfeita relação entre variação e gradiência. O conceito de
gradiência favorece a análise de elementos gramaticais ou lexicais que são difíceis de distinguir, em
função da mudança gradual que sofrem ao longo do tempo, que os leva a moverem-se num
continuum de uma categoria2 para outra. Já a variação das unidades e da estrutura da língua é uma
contingência do uso e as sucessivas mudanças em uma sincronia criam um caráter gradiente na
variação. Bybee (2010) conclui que a gradiência não é apenas um tratamento descritivo dos
processos linguísticos; é também um reflexo do uso da linguagem no processo de armazenamento
na memória e na organização desse armazenamento.
De acordo com o exposto inicialmente, a gradiência e a variação, a regularidade e a
padronização são características que constituem a linguagem. Bybee (2010, p. 6) esclarece que
1 “Language is also a phenomenon that exhibits apparent structure and regularity of patterning while at the same time
showing considerable variation at all levels: languages differ from one another while still being patently shaped by the
same principles; comparable constructions in different languages serve similar functions and are based on similar
principles, yet differ from one another in specifiable ways; utterances within a language differ from one another while
still exhibiting the same structural patterns; languages change over time, but in fairly regular ways. Thus it follows that
a theory of language could reasonably be focused on the dynamic processes that create languages and give them both
their structure and their variance” (BYBEE, 2010, p.1).
2 De acordo com Langacker (2008, p.17), o termo “categoria” refere-se ao conjunto de elementos com propósito
equivalente.
22
esses diferentes fatores atuam tanto na produção de padrões regulares quanto na identificação de
desvios. O tratamento dado aos desvios e às regularidades por esse modelo será abordado na seção
1.5. Na próxima seção, será tratado o aspecto da gradiência, tendo em vista a categorização de
elementos linguísticos via protótipos.
1.2. Categorização: a flexibilidade do processo cognitivo
Segundo Lakoff ([1986]1990, p. 5), não há nada mais básico do que a categorização para
nosso pensamento, percepção, ação e fala. Para Markman (1989, p. 11), categorização é o meio de
simplificar o ambiente, de reduzir a carga sobre memória, de ajudar a armazenar e recuperar
informações de forma eficiente.
De acordo com Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 54), a categorização, ou seja, o uso de uma
palavra, morfema ou construção em uma experiência particular de comunicação, envolve a
comparação entre essa experiência atual e experiências prévias, a fim de estabelecer a que classe
das experiências anteriores a expressão linguística aplica-se. Nesse processo, segundo Langacker
(2008, p. 17-18), o falante faz uso da flexibilidade na elaboração de uma situação, em que a
ocorrência “A” (agrologia) é esquemática para a ocorrência “B” (geologia), havendo
compatibilidade, mas a flexibilidade também é notada nos casos em que há diferença entre as
ocorrências “A” (agrologia) e “B” (musicologia). Nessas circunstâncias, a categorização ocorre
também por similaridade, mas “B” é uma extensão do protótipo “A”.
A visão de categorização adotada pela Linguística Cognitiva (LAKOFF, 1987) ancora-se
nas propostas de organização categorial de Eleonor Rosch (1978) e no desdobramento dessa
abordagem, os efeitos de prototipicidade. Segundo a autora (1978, p. 27-37), as categorias
organizam-se de acordo os seguintes princípios básicos: o da economia cognitiva – o máximo de
informação é reunido com o mínimo de esforço cognitivo – e o da percepção estrutural do mundo –
23
correlações entre as estruturas dos objetos materiais do mundo são estabelecidas. Esses princípios
trazem implicações tanto para o nível de abstração das categorias formadas de uma cultura quanto
para a estrutura interna dessas categorias, uma vez formadas.
Diferente dos modelos clássicos de categorização, em que os membros de uma classe devem
possuir igualmente condições necessárias e suficientes, a organização prototípica avalia o grau de
informação que determinado elemento conduz em relação aos demais elementos da mesma
categoria e de outras categorias. Há membros mais facilmente reconhecíveis, os prototípicos,
justamente por agrupar uma quantidade maior de características, mantendo uma posição mais
central em relação aos demais membros da categoria; e há membros periféricos, aqueles que
apresentam menos semelhanças com o prototípico e características próprias de outra categoria. Os
exemplos de pardal e de pinguim representam esse tipo de organização, pois ambos são aves; no
entanto, o primeiro reúne características que não colocam em dúvida a sua classificação; o mesmo
já não acontece com o segundo, que compartilha alguma semelhança com peixe, embora seja uma
ave.
Segundo Bybee (2010, p. 19), até mesmo a similaridade entre os membros marginais facilita
a identificação dos membros de uma categoria; portanto, se uma pessoa já está familiarizada com o
conceito de avestruz e o categoriza como pássaro, o reconhecimento de uma ema na mesma
categoria é facilitado, embora tanto ema quanto avestruz estejam longe do protótipo de pássaro.
Outra evidência, para autora (op. cit.), do armazenamento detalhado é o conhecimento que as
pessoas têm das características intracategoriais. Por exemplo, a possibilidade de um pássaro
pequeno cantar é maior do que de um pássaro grande; apenas o uso de protótipos não seria o
suficiente para distinguir essa subcategoria, ou seja, faz-se necessário o conhecimento de
exemplares individuais.
24
A proposta de Rosch (1978) contempla uma série de elementos e fenômenos que outrora
eram deixados à margem por não se enquadrarem no modelo clássico de categorização. No entanto,
apresenta lacunas: quantos protótipos devem possuir uma categoria? Quantas características deve
ter o protótipo em comum com outros membros da categoria? Em função de tais aspectos, protótipo
passa a ser definido como entidade cognitiva, uma imagem mental, mais do que um fenômeno de
superfície que toma diferentes formas mediante a categoria estudada, sendo considerado,
basicamente, como o produto das representações mentais do mundo, dos modelos cognitivos
idealizados3.
Bernardo (2009, p. 1109) assevera que, depois de reformulações, a noção de protótipo deu
lugar aos efeitos de prototipicidade, que se irradiariam, a partir do elemento central, na
conceptualização de categorias definidas por um conjunto de semelhanças, semelhanças de família,
nos termos de Wittgenstein (1953). De acordo com o autor (1953), os membros de uma categoria
não precisam apresentar os mesmos atributos que os outros; os elementos, bem como uma família,
podem possuir semelhanças de forma amplamente variada, constituindo, assim, uma categoria.
Wittgenstein (op. cit.) observa que a categoria pode ser estendida e novos membros podem ser
introduzidos, desde que se assemelhem a membros constituintes. Além disso, os limites entre as
categorias não são fixos; são artificiais e podem ser ampliados, conforme os propósitos
enunciativos. A ideia de membros centrais e não-centrais está presente na sua proposta; contudo,
vinculada pela semelhança de família.
Markman (2000, p. 471) explica que o processamento cognitivo é flexível, o que permite às
pessoas identificar semelhanças entre novas situações e as já experimentadas e também a lidar com
3 Grosso modo, entende-se por Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) a representação cognitiva que se fundamenta no
contexto cultural, uma versão idealizada do mundo que simplesmente não inclui toda possibilidade de situações do
mundo real.
25
situações diferentes das normais. A abordagem clássica de representação reconhece que essa
flexibilidade exige abstração; contudo, ignora detalhes perceptuais das situações específicas e
preserva na abstração apenas os pontos comuns a todas as situações. Assim, a abordagem clássica
assume a existência de representações abstratas “amodais”4, agentes de um papel importante no
processamento cognitivo. No entanto, esse sistema demonstra dificuldades para tratar as potenciais
variações de um simples evento.
O autor (op. cit.) ressalta que as pesquisas atuais sugerem que a flexibilidade no
processamento cognitivo decorre do armazenamento e utilização de episódios específicos na
memória e no seu conteúdo perceptual. Isso será observado na formação dos esquemas elaborados a
partir das construções linguísticas.
1.3. Gramática e as Construções
Langacker (2008), com ênfase na cognição, concebe a gramática como a organização global
do sistema linguístico de natureza simbólica. A linguagem está vinculada à interação social, mas até
mesmo a sua função interativa é extremamente dependente de conceptualização. Em comparação
com as abordagens formais, a Linguística Cognitiva se destaca por resistir à imposição de limites
entre linguagem e outros fenômenos psicológicos. Percebe-se, assim, que a estrutura linguística é
parte integrante da cognição, juntamente com outros sistemas mais básicos de habilidades (por
exemplo, percepção, memória, categorização) e, portanto, não se pode segregá-la.
A organização global reflete diretamente na função semiológica básica da linguagem, ou
seja, permite que significados sejam simbolizados fonologicamente. Para desempenhar essa função,
uma linguagem precisa de, pelo menos, três tipos de estruturas: semântica, fonológica e simbólica.
4 Amodal – modelo que ignora as especificidades das diferentes situações.
26
A alegação central e mais distintiva da Gramática das Construções5 (doravante GC) é que apenas
essas estruturas são necessárias. O que torna isso possível é a noção de que léxico, morfologia,
sintaxe formam um continuum totalmente descrito por conjuntos de estruturas simbólicas.
Conjuntos simbólicos podem ser específicos ou esquemáticos. Os conjuntos simbólicos
específicos constituem manifestações linguísticas (como palavras, frases e orações). Já os conjuntos
simbólicos esquemáticos são a extração de características comuns das diversas experiências, a fim
de se obter uma representação de nível mais alto de abstração, denominado em GC de esquemas de
construção (LANGACKER, 2008, p. 167). Os esquemas, uma vez estabelecidos como unidade,
podem servir como referência para a formação de novas expressões no mesmo padrão.
Por sua vez, Bybee (2010, p. 8), enfatizando o uso, compreende a gramática como
organização cognitiva de experiências com a linguagem. Para a autora (2005) a representação
exemplar é a rede organizacional vasta que classifica e armazena a experiência token. O processo
de classificação em si tem um impacto sobre a representação, de modo que, em cada caso de
utilização, há um efeito sobre a memória de armazenamento. Um exemplar é uma construção
advinda de um conjunto de tokens que são igualmente categorizados pelo falante. Assim, “tokens”
são as instâncias de uso (nos termos de Langacker (2008), eventos de uso) e exemplares são as
representações desses tokens.
Um conjunto de exemplares que são julgados semelhantes e representantes do mesmo
significado é agrupado e representado em um nível superior como uma palavra ou frase. Observa-
5 Segundo Croft e Cruse ([2004] 2009, p 257-258), a GC é um modelo teórico não-derivacional que compreende o
conhecimento gramatical como construções. A diferença central entre as teorias sintáticas componenciais e a gramática
das construções está na ligação simbólica entre forma e significado; para as primeiras, a relação é externa, faz-se por
meio de regras; para a segunda, é interna. Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 257) apresentam variações desse modelo
teórico: Construction Grammar (KAY e FILLMORE, 1999; KAY et al. em preparação), The Construction Grammar
(LAKOFF, 1987; GOLDBERG, 1995), Cognitive Grammar (LANGACKER 1987, 1991) e Radical Construction
Grammar (CROFT, 2001) – que se concentram em características distintas da teoria.
27
se, no entanto, que os esquemas ou as representações exemplares são formados a partir das
características salientes das construções.
Os esquemas são menos detalhados que os eventos de uso que lhes dão origem, como afirma
Langacker (2008, p. 220). E, uma vez estabelecido o esquema, este servirá como ancoragem
conceptual (SILVA, 1997) para novas formas. Isso não significa que os exemplos necessitam ser
ignorados, com já afirmado por Bybee (2010), uma vez que fortalecem as representações
exemplares, pois indicam os processos de mudança na língua e corroboram a flexibilidade do
processo cognitivo.
A construção, na GC, consiste no pareamento entre forma e significado que varia conforme
a extensão e a categoria dos constituintes das construções, gerando implicações nas relações
internas estabelecidas entre eles. Segundo Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 258), o termo
"significado" pretende representar todos os aspectos convencionalizados da função de uma
construção, que pode incluir não apenas as propriedades da situação descrita pelo enunciado, mas
também propriedades do discurso em que o enunciado é encontrado (por exemplo, o uso do artigo
definido para indicar que o objeto referido é conhecido por ambos, falante e ouvinte) e da situação
pragmática dos interlocutores (por exemplo, a utilização de uma construção exclamativa tal como
Que susto! para transmitir a surpresa do falante).
Langacker (2008, p. 15) assevera que as estruturas semânticas são conceptualizações
exploradas para fins linguísticos, particularmente como significado das expressões. Sob a rubrica de
estruturas fonológicas, o autor (op. cit.) inclui não apenas sons, mas também gestos e representações
ortográficas. A característica essencial dessas duas estruturas é a de se manifestarem abertamente,
sendo, portanto, capazes de cumprir um papel simbólico. Já as estruturas simbólicas não são
distintas das estruturas semânticas e fonológicas, mas incorporam-nas.
28
Considerando construções como associação entre forma e significado, serão apresentados,
na seção a seguir, os conceitos de morfema e léxico para LC.
1.4. Morfologia: conceitos de morfema e de léxico
1.4.1. Morfema
Bybee (2010, p. 2) define morfema, considerando sua a definição canônica, como uma
forma recorrente associada a um significado constante, sem perder de vista as possibilidades de
variação e, consequentemente, o caráter gradiente que apresentam ao se organizarem nas categorias
linguísticas. A autora (op. cit.) ressalta que os morfemas lexicais mantêm mais facilmente a
regularidade dessa relação do que os morfemas gramaticais, embora haja morfemas lexicais que
mudem seu significado, a depender do elemento com o qual se adjungem. Como exemplo, elenca
go a head (ir em frente), go bad (vai mal), let’s go (vamos) e be going to (irá para), entre outros, em
que go (ir) exibe um processo gradual de mudança, passando a depender das outras unidades que o
circundam. À semelhança do verbo ir, em Português, a exemplo de não ir com (não simpatizar), ir
desta para melhor (morrer).
No que se refere aos morfemas gramaticais, a autora (2010, p. 2-3) não se afasta do conceito
clássico de Martinet (1973), definindo-os como itens de classe fechada, em termos das propriedades
das construções, uma vez que estão restritos a posições particulares nas construções. Como uma
classe de unidade, isto é, uma construção entrincheirada, armazenada devido à alta frequência de
uso, morfemas gramaticais são altamente variáveis. Bybee (2010, p.3) ilustra, por meio da
construção Powell knows how to thread his way between conflicting views6, a possibilidade de uma
palavra ser usada como morfema gramatical, visto nessa oração, que parece ser uma expressão
6 Powell sabe como se posicionar entre pontos de vista conflitantes (tradução nossa).
29
idiomática semiaberta, isto é, em que há espaços que podem ser preenchidos por diferentes palavras
e outros com palavras determinadas, somente way preenche essa posição da construção,
caracterizando-se, na expressão, como morfema gramatical. Os exemplos business e hapiness,
também da autora, ressaltam outro elemento de aspecto gradiente, o sufixo -ness7, que apresenta
diferentes graus de analisabilidade8, sendo menos passível de análise na primeira do que na segunda
palavra. Portanto, a variação e a gradiência na categoria ‘morfema gramatical’ constituem o
resultado direto dos processos de mudança que afetam morfemas e moldam as suas propriedades em
termos de forma e significado.
Para identificação dessas unidades, Bybee (2010, p. 22-23) defende uma rede de associações
entre as palavras, ou seja, por meio de um mapeamento, identificam-se semelhanças semânticas e
fonéticas compartilhadas por palavras distintas, chegando assim aos constituintes da construção. A
autora (op. cit.) apresenta as possíveis redes emergentes das relações morfológicas na figura abaixo.
Quadro 1 - Inspirado na Rede de Relações de Palavras proposta por Bybee (2010, p.23)
7 “- ness: word-forming element denoting action, quality, or state, attached to an adjective or past participle to form an
abstract noun, from Old English -nes(s), from Proto-Germanic *in-assu- (cognates: Old Saxon -nissi, Middle Dutch -
nisse, Dutch -nis, Old High German -nissa, German -nis, Gothic -inassus), from *-in-, noun stem, + *-assu-, abstract
noun suffix, probably from the same root as Latin -tudo.” (http://www.etymonline.com/)
"- ness: elemento formador de palavra que denota ação, qualidade ou estado, ligados a um adjetivo ou particípio
passado para formar um substantivo abstrato, do Inglês Antigo -nes (s), a partir de Proto-Germânico*in-assu- (cognatos:
Antigo Saxão -nissi, Holandês Médio –nisse, Holandês -nis, Alemão Muito Antigo –nissa, Alemão -nissa, Gótico -
inassus), a partir de * -in-, radical nominal, + * -assu-, sufixo nominal resumitivo, provavelmente a partir da mesma raiz
latina -tudo. " (tradução nossa).
8Cf. Seção 1.7. deste capítulo.
9 Legível, lavável, inacreditável, acreditar, desinteressante, injustificada (tradução nossa).
R E A D A B L E
W A S H A B L E
U NB E L I E V A B L E
B E L I E V E
U N A T T R A C T I V E-
U N W A R R A N T E D9
30
A identificação de morfemas, por meio da oposição entre palavras, pode lembrar a
comutação, técnica de cunho estruturalista baseada “no princípio de que tudo no sistema linguístico
é oposição e consiste na substituição, pelo confronto, de uma forma por outra” (MONTEIRO, 1986,
p. 49). No entanto, nessa perspectiva, são considerados apenas aspectos sincrônicos e todos os
elementos analisados devem possuir significados. Portanto, -ada, em manada (exemplo de
MONTEIRO, 1986, p. 53), não deve ser analisado, uma vez que a forma resultante, após a retirada
do sufixo, não é reconhecida sincronicamente.
De acordo com Bybee (2010, p. 23), a vantagem da rede de associações advém da não
exigência de uma palavra ser exaustivamente analisada em morfemas. Por exemplo, capable
(capaz) parece ter o sufixo -able apropriadamente sinalizando um adjetivo, embora cap- não seja
considerado um radical. Nota-se que a autora também desconsidera a relação etimológica entre a
palavra latina capax (que tem capacidade) e a forma cap-, valendo-se possivelmente de
informações apenas sincrônicas.
Para Langacker (2008, p. 16), morfema é uma expressão simbólica cuja complexidade é
zero, ou seja, um morfema não é constituído por unidades simbólicas menores, por si só, e é a
menor unidade simbólica. Em contrapartida, Booij (2010, p. 15) defende que morfemas não são
signos linguísticos; contudo, fazem parte de esquemas morfológicos e sua significação só é
acessada mediante o significado da construção morfológica de que fazem parte. É a palavra,
segundo Booij (2010, p. 15), a menor unidade de significação e não o morfema.
Goldberg (2006, p. 5), por sua vez, afirma que:
“Todos os níveis de análise gramatical envolvem construções: o pareamento forma
e significado ou forma e função discursiva incluem morfemas ou palavras,
expressões idiomáticas - parcialmente preenchidas lexicalmente - e padrões frasais
totalmente gerais. (...) Qualquer padrão linguístico é reconhecido como uma
construção, desde que algum aspecto da sua forma ou da sua função não seja
rigorosamente previsível (regular) a partir dos seus componentes ou de outras
construções existentes já conhecidas. Além disso, os padrões são armazenados
31
como construção, ainda que sejam totalmente previsíveis (regular), desde que
ocorram com frequência suficiente." (tradução nossa)10.
O significado, como sugerido por Booij (201011), é instanciado pelas construções
linguísticas, isto é, nas relações estabelecidas pelas unidades simbólicas; contudo, diferentemente
do autor, nesta pesquisa, assumem-se as posições de Goldberg (2006, p. 5), Langacker (2008) e
Bybee (2010), que conceituam morfema como a menor unidade complexa.
1.4.2. Léxico
Langacker (2008, p. 16) define léxico como o conjunto de expressões fixas em um idioma.
Segundo o autor (op. cit.), esta definição é útil, simples, e mais ou menos consoante com a
compreensão cotidiana do termo. Por isso mesmo, difere de propostas que entendem o léxico como
o conjunto de palavras em um idioma. Langacker (2008, p. 16) salienta algumas questões que
distinguem os dois conceitos: a) a existência de expressões fixas maiores do que palavras (como
moonless night12); b) a potencialidade das novas formações, ou seja, palavras como dollarless, que
não são familiares e nem convencionalmente estabelecidas, são passíveis de existir, pois o esquema
está disponível na língua e o seu estabelecimento depende das práticas linguísticas da comunidade
de fala; c) a ausência de fronteira inflexível entre expressões lexicais e não lexicais, uma vez que
familiaridade e convencionalidade envolvem uma questão de grau.
10 “All levels of grammatical analysis involve constructions: learned pairings of form with semantic or discourse
function, including morphemes or words, idioms, partially lexically filled and fully general phrasal patterns. (…) Any
linguistic pattern isrecognized as a construction as long as some aspect of its form or function is not strictly predictable
from its component parts or from other constructions recognized to exist. In addition, patterns are stored as construction
even if they are fully predictable as long as they occur with sufficient frequency.”
11 Booij (2010, p. 15) defende que morfemas não são signos linguísticos e a própria Goldberg (2009, p. 94) exclui da
tabela de construções o morfema, apresentando a palavra como a menor construção complexa (GOLDBERG, A. The
nature of generalization in laguage. In: Cognitive Linguístics, 20, p.93-127, 2009).
12 Noite sem luar (tradução nossa).
32
De acordo com o autor (2008, p. 18), na concepção padrão, itens lexicais são essencialmente
átomos sintáticos13, pois são "inseridos” em determinados espaços particulares na parte inferior da
estrutura sintática arbórea. Analisados individualmente, os itens lexicais são justapostos,
independentes, e não se sobrepõem. Sendo complexos, sua estrutura interna é analisada morfológica
e não sintaticamente, ainda que desempenhe a mesma função de um item lexical sintaticamente
simples. Langacker (op. cit.) considera que essa separação clara entre léxico e sintaxe só pode ser
mantida através da imposição de limites artificiais.
Os apontamentos do autor, em relação à análise interna dos itens lexicais, parecem
confundir-se com questões já tratadas e discutidas no próprio gerativismo (cf. CAETANO, 2010 b),
tais como a pertinência das análises dos processos regulares de formação de palavras competir à
sintaxe ou à fonologia, até considerarem a autonomia da morfologia. As explicações de Langacker
(2008) sobre a relação léxico-sintaxe indicam que subjazem a ela conexões sintáticas14, ao invés da
complexidade das construções, como exposto na seção 1.4.
Embora não fique clara a pertinência dessa análise para o modelo, o autor (2008, p. 18)
observa que a extensão e a previsibilidade do significado das construções lexicais e das construções
sintáticas não são suficientes para estabelecer uma diferença entre elas. As expressões idiomáticas,
por exemplo, embora sejam maiores do que uma palavra, conforme a definição de léxico dada
acima pelo autor, constituem um item lexical, uma vez que são expressões fixas e seu significado
não é composicional, no sentido estrito do conceito.
13 “Constituinte terminal de uma sentença” (SCHWINDT. L.C. Manual de linguística: fonologia, morfologia e sintaxe.
Rio de Janeiro: Vozes. 2014 p. 130).
14 “In the standard conception, lexical items are essentially syntactic atoms. They are “insert” into particular slots at the
bottom of syntactic tree structures (…). The individual lexical items are continuous, self-contained, and
nonoverlapping. While they may be complex, their internal structure is morphological rather than syntactic. Healthy, for
example, is analyzable into the component morphemes health and -y (or, more tenuously, into heal, -th, and -y). Yet it
functions syntactically as a simple adjective analogous to big. This neat partitioning between lexicon and syntax can
only be maintained by imposing artificial boundaries (…)”.
33
A GC compreende construções como representações de diferentes tamanhos e complexidade
(formada por morfemas, palavras, frases) constituindo o continuum morfema-sentença, entrelaçado
pelo pareamento forma e significado, representado na tabela a seguir, proposta por Goldberg (2006,
p. 5), embora por ela mesma revista em (GOLDBERG, 2009), excluindo a primeira linha da tabela
(ver nota 11).
Morpheme e.g. pre-, -ing
Word e.g. avocado, anaconda, and 15
Complex word e.g. daredevil, shoo-in
Complex word (partially filled) e.g. [N-s] (for regular plurals)
Idiom (filled) e.g. going great guns, give the Devil his due
Idiom (partially filled) e.g. jog<someone’s>memory, send<someone>to
the cleners
Covariational Conditional The Xer the Yer (e.g. the more you think about
it, the less you understand)
Ditransitive (double object) Subj V Obj1 Obj2 (e.g. he gave her a fish taco;
he baked her a muffin)
Passive Subj aux VPpp (PPby) (e.g. the armadillo was
hit by a car) Quadro 2 – Exemplos de Construções, com variação de tamanho e complexidade (extraído de Goldberg, 2006, p.
5)
1.5. Frequência e Regularidade: fatores geradores de produtividade
A linguagem, como exposto ao longo deste capítulo, é uma atividade cognitiva e social;
consequentemente, a língua retrata a dinamicidade dessas esferas, que estão fortemente imbricadas.
Pensar em regularidade, a partir desse ponto de vista teórico, é identificar esquemas comuns nas
diferentes manifestações linguísticas.
15 por exemplo. pré-, -ing
por exemplo. abacate, anaconda, e
por exemplo. temerário, barbada
por exemplo. [N-S] (para plurais regulares)
por exemplo. estar fortemente armado, vender a alma ao diabo
por exemplo. dizer ou fazer alguma coisa para que < alguém> se memória, roubar o dinheiro der <alguém>.
O Xer o Yer (por exemplo, quanto mais você pensa sobre algo, menos você entende)
Subj V Obj1 Obj2 (por exemplo, ele lhe deu um taco de peixe, ele cozinhou para ela um muffin)
Subj aux VPpp (PPby) (por exemplo, o tatu foi atingido por um carro)
34
Nessa abordagem, regularidades consistem em unidades linguísticas convencionais. O
caráter de unidade é conferido pelas rotinas cognitivas entrincheiradas, isto é, formas repetidas com
um alto grau de frequência, sendo, por isso, armazenadas independentemente na memória, e o de
convenção, por representarem práticas linguísticas estabelecidas em uma determinada comunidade
de fala.
Bybee (2010, p. 14-15), destaca que, no modelo baseado no uso, as representações
exemplares (esquemas advindos da repetição das instâncias de uso) contêm, pelo menos,
potencialmente, todas as informações que um usuário da língua pode perceber em uma experiência
linguística.
Portanto, o conceito de regularidade, no modelo da GC, relaciona-se a convenções e,
consequentemente, a esquemas. Os esquemas emergem de expressões, por meio do reforço das
semelhanças que apresentam, em algum nível de abstração.
Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 292) afirmam que o primeiro fator que determina a
independência de armazenagem, ou seja, o entrincheiramento, é a frequência de ocorrência de uma
construção ou a frequência token. De acordo com os autores (op. cit.), cada vez que uma construção
é usada, ativa um nó ou padrão de nó na mente. A frequência de ativação afeta o armazenamento da
informação, levando, finalmente, ao armazenamento da unidade gramatical convencional. A
estabilidade dessas unidades de construção, como já exposto, é garantida pelos eventos de uso, ou
seja, uma situação real de comunicação (LANGACKER, 2008, p. 17).
Para Bybee (2010, p. 94-95) a produtividade, isto é, a capacidade de aplicar a estrutura
existente a novos enunciados, está diretamente relacionada à frequência type, ou seja, ao número de
diferentes construções que instanciam um esquema, quanto mais alta a frequência type, maior a
produtividade. Já a alta frequência token contribui menos para a produtividade, uma vez que torna a
construção autônoma e com menos analisabilidade. Quando uma construção atinge uma alta
35
frequência token, é processada sem ativar os outros exemplares da construção e começa a perder
analisabilidade e composicionalidade. Assim, construções constituídas principalmente por membros
de alta frequência ou expressões estereotipadas tenderão a não ser produtivas. Portanto, a alta
frequência token diminui a produtividade na morfologia e também na morfossintaxe, ao atingir um
certo nível de autonomia.
Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 296-297) questionam a relação inversamente proporcional
entre produtividade e frequência token estabelecida por Bybee (op. cit.), uma vez que se faz
necessário, para o armazenamento de construção, a alta frequência token. Considerando o aspecto
da flexão gramatical, os autores definem produtividade como o esquema passível de ser aplicado a
qualquer construção apropriada semântica e fonologicamente, estendendo-se a novas formas
cunhadas e a empréstimos.
Embora teçam críticas à proposta de Bybee (2010), os autores admitem como uma das
hipóteses para produtividade de um esquema: a) a frequência type de suas instâncias e b) o esquema
aberto, proposta que defende uma certa flexibilidade na relação entre forma e significado, mais
precisamente no que diz respeito ao constituinte fonológico, pois este pode ser instanciado por
diferentes elementos e, ainda assim, assumir o significado de uma determinada categoria.
Os autores (op. cit.) tomam como exemplos os esquemas de flexão de número da língua
alemã e da língua árabe, esquemas abertos dissociados da frequência type. De acordo com os
autores, a descrição do esquema aberto é aplicável em substantivos não padrão, como nomes
próprios, novos empréstimos, substantivos derivados e adjetivos; a aplicação em construções não-
canônicas gera diferentes interpretações: (a) o fato de serem empregados em substantivos não
convencionais seria motivo tanto para o uso de esquema aberto quanto para baixa frequência type;
(b) a aplicação do esquema aberto em substantivos não convencionais é evidência de sua
36
produtividade; e, por fim, (c) o uso do esquema aberto evidencia apenas a sua “emergência”,
justamente por ser aberto.
Na língua árabe, o plural com iâmbico quebrado16tem a maior frequência type, e aplica-se a
qualquer substantivo (incluindo substantivos emprestados) que se adapte aos critérios fonológicos
da forma canônica. O plural com iâmbico quebrado é generalizado por crianças, assim como o som
plural padrão (um sufixo no lugar de uma mudança no radical interno), o que indica que tanto o
plural com iâmbico quebrado quanto o plural de som padrão são produtivos, o primeiro
especialmente.
A expressão do plural em língua alemã, no relato dos autores ([2004] 2009, p. 300), é mais
complexa. Não existe um único padrão de formação de plural altamente produtivo. No entanto, há
evidências de algum grau de produtividade no plural com diferentes terminações, incluindo -s,
exceto para os substantivos não-canônicos. Crianças generalizam -en mais frequentemente;
diferentes terminações são preferidas para distintos gêneros de substantivos. Até mesmo
empréstimos recentes usam -en e, em menor medida, -e, especialmente para substantivos
masculinos; -s é utilizado em cerca de metade dos dados, e alguns empréstimos perdem, na
adaptação à língua, o -s, e passam a ser realizados com -en. Entre substantivos comuns, o -s está
associado a substantivos terminados em vogal. Esses fatos sugerem que -s não é verdadeiramente
um esquema padrão.
Croft e Cruse (op. cit.) concluem que o surgimento de um esquema padrão não requer uma
alta frequência type. Uma forma padrão pode surgir se as não-padrões criarem conjuntos
relativamente pequenos e fonologicamente bem definidos. Isso porque as propriedades das
16 A rigor, um pé iâmbico contém duas sílabas, sendo a primeira breve e a segunda longa (˘ˉ). Pés iâmbicos são,
portanto, dissilábicos e apresentam proeminência final (* .). No entanto, o próprio Hayes (1995) admite a existência de
iambos não-canônicos, aqueles constituídos de uma única sílaba pesada (–). O termo “broken iambic foot” deve fazer
referência a essa manifestação do iambo.
37
instâncias do esquema padrão permanecem espalhadas por todo o espaço fonológico restante,
mesmo tendo essas instâncias uma baixa frequência type, a exemplo dos plurais em alemão e árabe,
que bem demonstram esse comportamento.
Bybee (2010, p. 35) defende que a esquematicidade, ou seja, um esquema preenchido por
constituintes, tende a tornar o esquema menos produtivo. A autora ratifica sua hipótese
argumentando que esquemas abertos são mais produtivos em função da alta frequência type, uma
vez que o mecanismo por trás da produtividade é a diversidade dos itens específicos; logo, um
esquema aberto com alta frequência type será mais suscetível de ser utilizado em novos enunciados
do que os que têm baixa frequência.
Esquemas ou construções mais gerais são fontes para criação de novos dados por meio de
analogia, como exposto na seção a seguir.
1.6. Analogia e as Contribuições da Diacronia e da Sincronia na Formação de Novas Palavras
Segundo Bybee (2010, p. 57), analogia – processamento baseado na similaridade de itens
existentes para criar novas formas – tem sido usada como contraponto ao modelo de produtividade
governado por regras – baseado em regras simbólicas mais gerais.
A autora (op. cit.) utiliza o conceito com sentido mais abrangente: processo pelo qual um
falante cria um item novo em uma construção. Bybee (2010) acrescenta que a especificidade das
construções e a maneira como os novos dados são construídos, por meio da experiência com a
linguagem, gera uma gradiência, pois a probabilidade e a aceitabilidade de um item novo ocorrem
com base no grau de semelhança com os usos anteriores da construção.
Bybee (2010, p. 57-59) compreende analogia não apenas como um mecanismo de
regularização morfológica, mas também como o principal mecanismo de criatividade
morfossintática e de mudança fonológica, embora esta aconteça em menor escala. A autora (op. cit.)
38
concebe a analogia como um processamento de domínio geral, ou seja, uma nova forma é criada
pela evocação de uma construção mais geral, e não pela comparação entre elementos individuais.
Por último, descreve que os elementos envolvidos devem ser da mesma natureza, havendo entre
eles semelhanças semânticas ou fonológicas. Bybee (2010, p. 102) trazendo à baila a similaridade
existente entre as construções, defende que questões de ordem sincrônica quanto de ordem
diacrônica podem contribuir para novas formações.
Como exposto na seção 1.2, o modelo baseado no uso define língua como um sistema que
comporta estabilidade e dinamismo e, portanto, a observação dos fatos da língua contempla a
situação real de uso e as mudanças decorrentes desse uso, isto é, a experiência cognitiva do falante
com a linguagem. As mudanças, por estarem em curso, não são apenas analisadas entre diferentes
sincronias, mas dentro de uma única sincronia. Os conceitos de variação e gradiência ratificam essa
proposta.
Sincronicamente, a analogia ocorre entre exemplares (construções advindas de um conjunto
de tokens que são igualmente categorizados pelo falante, cf. seção 1.3.) existentes; diacronicamente,
mediante construções desenvolvidas fora da estrutura existente ou construções já existentes que
transmitem, por herança, suas propriedades para as novas ao longo do tempo. A mudança
linguística não é apenas um fenômeno periférico que pode ser anexado a uma teoria sincrônica;
sincronia e diacronia têm de ser vistas como um todo integrado.
A autora (2010, p. 119) conclui que, embora seja certamente necessário entender os papéis
distintos de sincronia e diacronia quanto à descrição e à teoria, importa também ter em mente que a
linguagem é um objeto cultural convencional que tem evoluído ao longo do tempo e continua a
evoluir. A teoria linguística não é completa se não abraçar a contribuição de mudança linguística
para a compreensão da estrutura da linguagem.
39
Na próxima seção, serão tratados os conceitos de composicionalidade e analisabilidade,
muito relevante para esta pesquisa, uma vez que o corpus examinado trata de formações
constituídas por elementos não vernaculares.
1.7. Analisabilidade e Composicionalidade: forma e significado
O princípio da composicionalidade, atribuído a Friedrich Ludwig Gottlob Frege (2009, p.
28-29), formula que o significado de uma expressão complexa é uma função do significado das suas
partes constituintes e da forma como estão combinadas. No entanto, esse conceito, na perspectiva
da GC, deixa de ser categórico e ganha o caráter gradual.
De acordo com Langacker (2008, p.245), a semântica é parcialmente composicional. Em
algumas expressões, o significado é previsível por meio da soma das suas partes constituintes; em
outros, não é possível acessá-lo por meio dessa soma. Entretanto, como observam Croft e Cruse
([2004] 2009, p. 105), a compreensão de significado como construção exige uma conceituação mais
complexa que envolva a situação comunicativa; então, para contemplar esse aspecto, os autores (op.
cit.) apresentam a seguinte modificação: o significado das expressões complexas é o resultado do
processo de construção advindo da interpretação das suas partes constituintes. Segundo os autores,
essa releitura permite ao contexto agir em dois níveis: a) no da construção inicial do significado das
palavras e b) no da construção do significado da expressão.
Langacker (2008, p. 245) pontua que o significado de uma expressão complexa não pode ser
computado a partir de significados lexicais e de padrões de composição (os polos semânticos dos
esquemas de construção), pois seria mais adequado considerá-lo como algo provocado por eles. No
entanto, os esquemas de construção são importantes e trazem uma contribuição semântica
indispensável às expressões complexas. Se não contam toda a história de como se chegou ao
significado composicional, tais esquemas, pelo menos, fornecem informações essenciais sobre a
40
forma como as concepções de componentes se ajustam e como o seu conteúdo é integrado,
influenciando na interpretação dos componentes dos itens lexicais e contribuindo para o seu próprio
conteúdo conceitual.
Nessa perspectiva, Bybee (2010, p. 45) assume o mesmo paradigma de composicionalidade
– uma medida semântica referente ao grau de previsibilidade do significado do todo a partir do
significado das partes. Todavia, a autora (op. cit.) o contrapõe a um outro conceito, o de
analisabilidade – o reconhecimento da estrutura morfológica. Esse conceito envolve o
conhecimento do falante sobre as palavras e os morfemas que a compõem, bem como o da sua
estrutura morfossintática. De acordo com a autora (op. cit.), a analisabilidade também é gradiente,
uma vez que as partes de uma construção podem ser total ou parcialmente identificadas. Assim,
outro fator que contribui para o caráter gradiente da variação é o conhecimento do falante, já que
esse conhecimento também é passível de variações.
Os dois conceitos são independentes, pois a composicionalidade pode ser perdida, enquanto
a analisabilidade é mantida e o inverso é verdadeiro, embora Bybee (2010, p.45) reconheça a
dificuldade de comprovar isso, ou seja, de encontrar exemplos em que uma construção seja
composicional sem ser analisável. Gonçalves (no prelo) mostra que em “cheguei” na expressão
“roupa cheguei”, roupa para a qual se volta a atenção – “cheguei” não é analisável nem
composicional, já que as informações de tempo e modo não contribuem para o sentido pejorativo
assumido pelo verbo. No entanto, vale ressaltar que palavras são complexas justamente porque são
analisáveis.
O norte adotado nesta pesquisa, tendo em vista o modelo apresentado, entende a língua
como um fenômeno dinâmico relativamente estável, constituído de esquemas abstratos que lhe
garantem sistematicidade e constância, ao mesmo tempo em que lhe permitem movimento e
mudanças, e essas provocadas pelo uso. No próximo capítulo, são expostas informações que
41
mostram como o movimento interno do sistema (mudança e constância) e as influências externas
(aspectos de ordem sociocultural) contribuem para a análise dos dados.
42
2. ΑΓΡΌΣ E AGER: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
Neste capítulo, analisamos diacronicamente os elementos agro- e agri-, a fim de
examinarmos, ainda que de forma incipiente, o comportamento desses formativos ao longo dos
séculos. Utilizamos, para tanto, dicionários etimológicos, textos latinos dos períodos arcaico e
clássico17 e textos portugueses dos séculos XIV ao XXI. Não se pretende realizar um estudo
etimológico de tais elementos, tendo em vista que não é o objeto deste trabalho e a grandeza dessa
tarefa por si só desdobraria em outra pesquisa. Aspira-se, aqui, encontrar pistas para uma melhor
compreensão do comportamento desses formativos no Português brasileiro contemporâneo.
2.1. Pareceres dos Dicionários Etimológicos
O Dicionário Eletrônico de Elementos Mórficos Houaiss apresenta agro- como um
elemento de composição antepositivo oriundo do grego αγρός (campo), com registro na língua
portuguesa a partir do século XIX, como é visto nos exemplos citados na obra: agrogeografia,
agrologia, agromancia. No entanto, na entrada do dicionário da língua portuguesa, agro aparece
como um substantivo masculino, de origem latina, significando “terreno cultivado ou
potencialmente cultivável; campo, agra”. O verbete agra, segundo o Grande Dicionário Houaiss
Beta da Língua Portuguesa, é um substantivo feminino que significa o mesmo que “agro” (campo),
com datação de 1676.
17 Fases da Língua Latina: período proto-histórico (séc. VII - 240 a.C.), com as primeiras inscrições encontradas;
período arcaico (240-81 a.C.) – com textos epigráficos e literários de autores como Livio Andronico, Névio, Ênio,
Catão, Plauto, Terêncio e Lucílio; período clássico (81 a.C. - 17 d.C.) - quando a prosa e a poesia chegam ao apogeu
com autores como Cícero, Virgílio, César, Horácio, Salústio, Lucrécio, Catulo, Ovídio, Tito Lívio, entre outros; período
pós-clássico (17 d.C – séc. II d.C) com poetas e prosadores não originários da Itália, já que não seguem os modelos
clássicos da Itália em sua totalidade, a exemplo de Fedro, Sêneca, Plínio, Marçal, Juvenal, Tácito, Quintiliano; e
período cristão (séc. III d.C – V d.C) representado pelos escritos de Tertuliano, Santo Agostinho, Santo Ambrósio,
dentre vários outros. (MONTAGNER, Airto Ceolin. Língua Latina I. Rio de Janeiro: UCB, 2008, p. 21).
43
Sobre agric-(o), forma originada do latim agri, no Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua
Portuguesa, afirma-se que é um elemento de composição antepositivo ao qual se adjunge o afixo
-ico, utilizado em compostos (sic!)18 a partir do século XX.
Outra forma que pode ser considerada concorrente de agro- é agri- que, de acordo com o
Dicionário (op.cit.), é um elemento de composição antepositivo, proveniente do latim ager, agri.
Nessa língua, os formativos já eram utilizados para criar palavras como agrário, agreste, agrícola,
agricultura, agrimensor e agrimensura, introduzidas na língua portuguesa, já assim constituídas, a
partir do século XV. No Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa, verifica-se ainda
que, por analogia a essas formas, teriam sido criadas, a partir do século XIX, desta feita na língua
portuguesa, as palavras ágrico-industrial, agricolar, agrícolo-industrial, agricultado, agricultar,
agricultável, agricultor, agrimensão e agrimensar.
O Grande Dicionário Houaiss Beta da Língua Portuguesa apresenta um possível percurso
do formativo agro- até o Português. Segundo a obra, agro- é o resultado da fusão entre o elemento
mórfico oriundo do grego, αγρός, e o elemento latino agri, que ora permite a realização da vogal -i-,
residual do latim, ora permite a realização da vogal -o-, residual do grego, presentes em
agroindústria/agrindústria, agroindustrial/agrindustrial, agrofabril/agrifabril.
As informações prestadas pelo Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa ([1982] 2011)
ratificam alguns dados já fornecidos pelos Dicionários Houaiss, tais como as origens latina e grega
de agro-, assim como a origem latina de agri-. No entanto, aquele não menciona a forma agra- e
não faz referência à concorrência entre agro- e agri-.
Já o Dicionário Onomástico Etimológico (1984) cita, sem detalhamento, agra, substantivo
feminino, provindo do plural latino de agra, utilizado como um topônimo frequente em Portugal e
18 Se -ico é um afixo e agr, uma base, tecnicamente teríamos um derivado (e não um composto).
44
na Galiza. No Minho, significa campo. Essa obra também não menciona a origem de agro- nem de
agri-.
O Dicionário Etimológico Resumido (1966) apresenta apenas duas entradas para agro-, a
primeira oriunda de acru (azedo) e a segunda de agru, ambas formas latinas.
Em relação aos dados históricos expostos nos Dicionários Houaiss, fazemos algumas
observações. No que tange à etimologia latina de agro-, vale salientar que a forma que lhe originou,
ager, pertence à 2ª declinação, que tem tema em -o, no dativo, assim como no ablativo assume a
forma agro, o que pode justificar a existência de um radical latino com uma vogal final -o. No
nominativo e no vocativo plural, ager assume a forma agri.
Ager não é apresentado pelo dicionário Houaiss como elemento de composição no latim,
mas como forma livre. Já agri- tem dois comportamentos: como forma livre, provavelmente,
advindo da declinação de ager, e como elemento de composição formador de palavras no latim,
como agricultura. Tal comportamento pode indicar um processo de morfologização19 do radical
agri- já no latim. Vale observar que “cultura”, elemento na segunda posição, chegou ao Português
como forma livre, o que torna as construções X-cultura especiais na língua, por terem cabeça
lexical20 à direita, diferentemente de quase todas as composições com base livre,
predominantemente de cabeça à esquerda.
19 Lehmann (1982, p.11) denomina gramaticalização “como processo que consiste na passagem de um item lexical para
um item gramatical”, posição classicamente definida por Kurilowicz que “concebe a gramaticalização como um
processo de morfologização, que pode levar à mudança de estatuto de um item não somente lexical a gramatical, mas
também do menos gramatical para o mais gramatical”. (GONÇALVES, S.C.L.; LIMA-HERNANDES, M.C.; CASSEB-
GALVÃO, V.C. (Orgs). Introdução à Gramaticalização – em homenagem a Maria Luiza Braga. São Paulo: Parábola. 2007. p. 22). 20 Nespor; Vogel (1986 apud BisoL, 2000: 6) defendem que, entre os constituintes de um sintagma fonológico, há uma
cabeça lexical, início de um constituinte. Segundo Callou e Serra (2012: 49), cabeça lexical são núcleos de sintagmas
sintáticos cuja natureza é lexical e não funcional.
BISOL, Leda. O clítico e seu status prosódico. Revista de Estudos da Linguagem, v. 9, n.1, 2000.
CALLOU, Dinah; SERRA, Carolina. Variação do rótico e estrutura prosódica. Revista do GELNE, v. 14, n. Especial,
2012.
45
O verbete agra, além de ser considerado uma forma em desuso pelo dicionário, não compõe
as palavras encontradas no corpus: agrar, agrário, agrarianismo, uma vez que agrar, segundo a
obra, tem registro a partir de 1913 e é formado por agri- + -ar, radical latino e sufixo vernáculo; já
agrário é vocábulo latino incorporado ao Português no século XVII e agrarianismo, uma forma
derivada de agrariano (agrariano + ismo), datada em 1871, que, por sua vez, é derivada de
agrário.
Em relação à agric-(o), o dicionário sugere que se trata da adjunção do sufixo -ico à
partícula agri-, uma forma vernácula agregada a agri-. Bechara (2000) elenca -ico entre os sufixos
diminutivos; Cunha e Cintra (1985), além de reconhecerem-no como formador de diminutivos,
relacionam-no entre os sufixos formadores de adjetivos a partir de substantivos, casos nos quais não
se enquadra o uso do sufixo junto a agri-. Propõe-se, a partir dos exemplos de palavras constituídas
com o elemento agri- e formadas no Português a partir do século XIX, uma outra explicação para
agric-(o).
Uma análise alternativa para agric(o)- seria o truncamento21, encurtamento da palavra
agrícola, nos moldes propostos por Gonçalves (2011b, p. 18) para salafrário>>salafra. Portanto, o
que atualmente é considerado um sufixo (-ico), seria a vogal final de agri-, terminação latina, e a
parte inicial do constituinte da direita, -cola, resultando agric(o)-. No entanto, a concorrência de
agric(o)- com os demais formativos pode ser relativizada, uma vez que não foram encontradas
novas formações em Português e as que existem, como agricoindustrial e agricopecuária, são
preteridas em favor de agroindustrial e agropecuária.
Outra questão que pode gerar controvérsia é a compreensão de agro- como uma fusão entre
os formativos latino e grego, em que ora se manifesta a vogal -i, ora se manifesta a vogal -o. Mira
21 Adotamos, neste trabalho, o conceito de truncamento de acordo com Gonçalves (2012b, p. 185), “processo pelo qual
uma palavra-matriz é encurtada sem distanciamento de significado, mas com frequente “mudança no valor estilístico da
palavra”, de caráter morfêmico ou não.”
46
Mateus et al. (2003, p. 976) asseveram que essas vogais são resíduos de marcadores casuais na
estrutura dos compostos do Latim e do Grego e, no Português, funcionam como vogais de ligação
que caracterizam composições morfológicas e delimitam as fronteiras entre radicais. Já Gonçalves
(2011b, p. 25) afirma que em “português, como em inglês, não há segmento fônico que ligue
palavras em compostos e, em princípio, não existem marcadores de composição com bases livres
nessas línguas”. Para Caetano (2010a, p. 135), a vogal -i- surge quando o primeiro elemento da
composição é de origem latina, independente do tema a que pertença. Nos compostos em que o
primeiro elemento é proveniente do grego, aparece a vogal -o-. Contudo, os autores (CAETANO,
2010a; MIRA MATEUS et al., 2003) admitem que podem manifestar-se outras vogais tanto no
primeiro quanto no segundo caso. À luz de gramáticas latinas e gregas, voltaremos a analisar o
estatuto dessas vogais no capítulo 5.
2.2. Ager-: análise fonética e morfológica
Segundo Chauveau (2009), críticas são feitas à etimologia por esta tratar cuidadosamente da
evolução dos significantes e satisfazer-se com a aproximação da história semântica. O autor
acrescenta que a história dos sentidos é tão necessária quanto a das formas, uma vez que o étimo é o
signo linguístico, associando significante e significado usuais em uma comunidade linguística, em
um dado período de sua história. Tomando por base essa premissa, analisamos agro- e agri-
considerando seus significados em alguns momentos históricos sem, no entanto, negligenciar os
aspectos fonológicos.
Na perspectiva morfológica, ager é um substantivo masculino de 2ª declinação, como
apontamos em 2.1. Há autores, como Aguiar e Ribeiro (1925) e Bennett (1913, p. 12), que afirmam
que os temas latinos são conhecidos pelo genitivo singular. Já Rosário (2008, p. 17) sustenta que,
para obtenção do tema em latim e, consequentemente, para a identificação da declinação, descarta-
47
se a terminação do genitivo plural. Seguindo esse critério, ager possui tema em -o, pois, conforme
exposto nos quadros de declinação a seguir, seu genitivo plural é agrorum. Descartada a terminação
-rum, evidencia-se a desinência da declinação.
Quadro 3 – Declinação de Ager
Rosário (op. cit.) salienta que a declinação nos dicionários é apresentada no nominativo e no
genitivo singular. Logo, os dicionários exibem as formas ager e agri, nominativo e genitivo
singular, com tema em -i, o que indica irregularidade: nominativo com sequência vogal + consoante
+ vogal + consoante (ager); e genitivo com a sequência vogal + consoante + consoante + vogal
(agro). De acordo com Rosário (2008, p. 17), a alomorfia é provocada por regras fonológicas que
influenciam o tema de alguns nomes, fazendo alterações significativas, principalmente no
nominativo, como é o caso de magister, puer, uir22 e ager, que têm, respectivamente, os seguintes
temas: magistro-, puero-, uiro- e agro-.
Rosário (2008, p.17) lança mão de alguns metaplasmos para justificar as alterações fonéticas
nas palavras acima citadas. Sobre puer e uir, agem sobretudo a síncope e a assimilação. Em
magistro-, assim como em agro-, além das regras já mencionadas, atua a epêntese, cujas mudanças
podem ser assim esquematizadas: *agros > agrs > agrr > agr > ager, o que explicaria as duas
realizações: ager e agro.
22 De acordo com o Dicionário Escolar Latino-Português de Ernesto Faria, magister e puer significam, respectivamente,
“o que comanda, dirige e conduz” e “menino, criança, rapazinho”. Em relação a uir, o autor adota a grafia com “v”, vir,
que significa homem, seguindo a escrita latina tradicional de representar o u com o símbolo v.
Singular Plural Nominativo ager agri Genitivo agri agrorum Dativo agro agris Acusativo agrum agros Vocativo ager agri Ablativo agro agris
48
Para justificar a existência das duas formas, o autor sugere, já que não deixa claro em sua
obra, uma forma hipotética, *agros, que coincide com o acusativo plural. No entanto, essa escolha
suscita alguns questionamentos:
a) sendo o nominativo e o genitivo singulares casos referenciais para os dicionários latinos e
o genitivo plural para identificação do tema, por que escolher o acusativo para explicar as alterações
fonéticas?
b) caso seja uma forma hipotética, a partir de que dados é construída?
c) sendo o nominativo a primeira forma da palavra (SEABRA FILHO, 2012, p. 79) e a
entrada das palavras declináveis (ALDRIGUE; FARIA, 2008, p. 12), o percurso feito pelos
metaplasmos não deveria ser a partir deste caso?
Buscando responder a essas questões, serão apresentadas algumas informações históricas a
respeito da língua latina.
2.2.1. Breves Comentários sobre a História do Latim: a forma ager
Marcus Fabius Quintilianus23 (± 35 d.C. – 95 d.C ±.), em seu Institutio Oratoria, menciona a
origem e o significado da forma ager, assinalando o deslize de Varrão no seu Tratado de Língua
Latina:
Mas a quem, depois de Varrão, não se perdoará, se ele próprio desejou convencer a
Cícero (pois a este dedicou seu tratado), acerca de ager ‘campo’, que assim se diz
porque nele se faz algo, e de gragulli ‘gralhas’, porque essas aves voam em
bandos, quando o primeiro termo deriva claramente do grego, o segundo é
onomatopaico? (QUINTILIANO, Inst. Orat. I, 6, 37, in VALENZA, G. M.)24
23 Marcus Fabius Quintiliano (35 d.C.- 96 d. C) foi professor de latim e escritor. Seu trabalho Institutio Oratoria trata da
educação e do domínio da oratória (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA).
24 “Sed cui non post Varronem sit uenia? Qui “agrum”, quia in eo agatur aliquid, et “gragulos”, quia gregatim uolent,
dictos uoluit persuadere Ciceroni (ad eum enim scribit), cum alterum ex Graeco sit manifestum duci, alterum ex
uocibus auium”.
49
Robins (1992, p. 68) afirma que, para Varrão, a linguagem desenvolveu-se a partir de um
número limitado de palavras básicas, por meio das quais a realidade era referida, e, ao serem
usadas, produziam outras, por mudanças em algumas de suas letras ou alguns de seus sons. De
acordo com Robins (op. cit.), som e letra eram o mesmo para Varrão.
Segundo Robins (1992, p. 66-67), os romanos mantiveram contato com os gregos e
reconheceram a influência artística e cultural destes. Linguisticamente, isso não foi diferente, pois
aqueles aplicaram ao latim as controvérsias, a categorização e o pensamento gregos, essas
transferências foram facilitadas pela semelhança entre as duas línguas.
Contudo, expomos o parecer de Pierre Monteil (1992), que defende, como motivação para
as semelhanças entre as duas línguas, uma origem comum: o Indo-Europeu.
Para descrever os elementos fonéticos e morfológicos do latim, Monteil (1992) expõe uma
série de transformações que lhes deram origem. Com base no grego, no latim e no sânscrito, o autor
faz uma reconstrução linguística, a fim de estabelecer uma relação entre o indo-europeu e essas
línguas e justificar a semelhança entre elas.
Apresentamos alguns exemplos do autor pertinentes a ager, que, embora tenham sido
utilizados para uma reconstrução linguística, comprovam a semelhança entre o Grego e o Latim.
Segundo o autor (1992, p. 176), a formação dos temas em latim, assim como em grego, resulta de
uma tematização secundária, uma vez que, no indo-europeu, a flexão temática não possuía nomes
raízes25, nem temas primários, mas temas secundários, com sufixação. De acordo com o proposto, a
terminação -ro, presente em ager = αγρός, uesper = ἐσπερος, aper = κ-άπρος, taurus = ταύρος, uir
< *wī-ro26, é um sufixo indo-europeu remanescente.
25 Monteil (1992) define raíz como um esquema, reconstruído da estrutura indo-europeia, que corresponde ao elemento
significante da palavra.
26 Forma hipotética indo-europeia.
50
2.2.2. Possíveis Transformações de Ager
Ao analisar as vogais herdadas do indo-europeu, Monteil (1992, p. 125-126) as observa em
diferentes ambientes fônicos. Em *agros, examina-se a sílaba final fechada, em que, por regra
geral, a vogal seria conservada; contudo o ŏ, no grupo -rŏs, é considerado um caso especial. Nesse
ambiente, ocorrem os seguintes fenômenos segmentais: o ŏ é absorvido pela líquida, permanecendo
o grupo rs que evolui a -r (foneticamente, um tepe), que, por sua vez, desenvolve o centro vocálico,
representado na seguinte trajetória:*agros > *agr > *agºr > ager, justificando a passagem de agros a
ager.
Monteil (1992), assim como Rosário (2008), apresenta agros como uma forma hipotética.
No entanto, não oferece um percurso histórico para elucidar a existência da palavra latina
coincidente com a forma grega, αγρός. Ademais, sendo agros uma forma hipotética, por que a
língua manteria as duas formas?
“A própria língua latina possui uma estrutura gramatical e sintática, em casos,
muito similar à grega. Então, de certa forma, os romanos souberam absorver e
adaptar grande parte da cultura helênica na formação de seu Império, por isso o
termo greco-latino, relativo à cultura. Apesar de não se usar o mesmo termo em
relação à língua, houve também um determinado grau de absorção e adaptação do
grego no latim” (GARCIA, 2010, p. 130).
Portanto, os relatos históricos corroboram a afirmação de Quintilianus sobre ager, forma
oriunda da palavra grega masculina de segunda declinação αγρός. Os casos gramaticais e suas
respectivas terminações podem ser observados no quadro abaixo, que chegou ao latim em função da
impregnação da cultura romana pela cultura grega.
51
2ª DECLINAÇÃO
NÚMERO CASOS TERMINAÇÕES
Singular
Nominativo ος
Genitivo ου
Dativo ω΄
Acusativo ον
Vocativo ε
Plural
Nominativo/Vocativo οι
Genitivo ων
Dativo οις
Acusativo ους Quadro 4 -Declinação de Αγρός
Ao serem comparadas as terminações da segunda declinação do grego e do latim, as quais
pertenciam αγρός e ager, respectivamente, observa-se a semelhança entre os mesmos casos nas
duas línguas:
2ª DECLINAÇÃO
NÚMERO CASOS TERMINAÇÕES
GREGAS
TERMINAÇÕES
LATINAS
FONEMAS
Singular
Nominativo ος er -
Genitivo ου i -
Dativo ω
΄
o /o/
Acusativo ον um /on/ /um/
Vocativo ε er /e/
Plural
Nominativo/Vocativo οι i /i/
Genitivo ων orum /on/ /o( r) um/
Dativo οις is /is/
Acusativo ους os /os/ Quadro 5- Comparação entre as Declinações Latina e Grega.
Aguiar e Ribeiro (1925) incluem, entre as palavras pertencentes à segunda declinação latina,
palavras de origem grega, ratificando nossas impressões. Portanto, compreende-se que os
metaplasmos propostos por Rosário (2008) e Monteil (1992) seriam alterações sofridas pela forma
grega ao ser assimilada pelo latim, culminando em ager. Já agro/agri, ou seja, a sequência
consoante + consoante (gr), seria vestígio da realização grega no latim.
52
Em função do exposto, entendemos, diferentemente do proposto pelo Grande Dicionário
Houaiss Beta da Língua Portuguesa, que as formas agro- e agri-, presentes no Português, são
elementos distintos. A primeira é oriunda do Grego, como em agrônomo, e a segunda, do Latim,
como em agricultura. Contudo, a forma latina já seria um hibridismo entre o Grego e o Latim na
sua origem.
Retomando Chauveau (2009), uma reconstrução semântica requer, também, uma
contextualização histórica e, para isso, faz-se necessário conhecer os contextos, os empregos, as
distribuições e a ligações entre as palavras, principalmente em cada língua em particular e, a
posteriori, nos vários estágios da reconstrução comparativa, a fim de chegar aos possíveis
significados originais.
Para melhor compreender o comportamento de agro- e agri- e suas significações, na seção
seguinte, são apresentados dados históricos, validados por textos literários, que demonstram a
importância da agricultura para sociedade romana.
2.3. Textos Latinos e seus Contextos Históricos
Dois dos textos analisados estão localizados no período da República (509-27 a.C.), no qual
foram estabelecidos valores de civismo que permaneceram por toda história romana27. Corassin
(2006) apresenta uma sociedade organizada em dois pilares: agricultura e militarismo. O cidadão
romano, considerando a definição de cidadão dentro do modelo e do período estabelecido, é um
militar, um soldado, mas, antes de tudo, um agricultor.
27 Corassin (2006, p. 272) afirma que “para autores como Cícero e Catão, o Censor, o bom cidadão é representado pelo
agricultor, proprietário que cultiva a terra e é o soldado. Catão afirmava, na sua obra De Agricultura, que “nossos
ancestrais (...) quando elogiavam um homem de bem, elogiavam assim: bom agricultor e bom cultivador; considerava-
se que receber tal elogio era receber o maior deles”. E completava: “É dos camponeses que nascem os homens mais
fortes e os soldados mais corajosos”.
53
A República inaugura um período em que uma aristocracia rural controla Roma, impondo-se
contra os “elementos urbanos que se haviam desenvolvido durante a monarquia etrusca”
(CORASSIN, 2006, p. 272). Logo, a “educação latina conservará traços desse contexto agrário”
(loc. cit.). A experiência comum entre os falantes dessa comunidade faz do latim uma língua de
camponeses e, de acordo com Codeço (2008, p. 109), havia muitas palavras técnicas voltadas para
agricultura.
Entre os autores que representam esse período, utilizaremos fragmentos de textos de Marco
Pórcio Catão (234 a.C. – 149 a.C.) e Marco Terêncio Varrão (116 a.C. – 27 a.C.), pois ambos
escreveram obras sobre a agricultura. Pimenta (2014, p.42-43) apresenta os dois autores citados.
Catão, o Velho ou o Censor, foi agricultor, militar e, por dedicar-se aos estudos liberais e à oratória,
obteve uma bem-sucedida carreira política28.
A seguir, são expostos fragmentos da obra De Agri Cultura29, de Catão, em que ager e suas
instanciações, isto é, seus diferentes casos, manifestam-se. As ocorrências são marcadas de acordo
com as seções da obra.
M. PORCI CATONIS CENSORIS
DE AGRI CVLTVRA.
Marco Pórcio Catão Censor
Sobre a agricultura
28 Catão exerceu várias funções, entre elas, a de censor. Foi o primeiro a escrever a história de Roma em latim,
Origenes. Destacam-se entre suas obras também Disticha Catonis, um conjunto de regras sapiências para vida, e De
Agri Cultura, que a autora (op. cit.) ressalta como sendo “o tratado em prosa mais completo acerca do cultivo dos
campos, assinalando tal cultura como uma das principais técnicas no contexto da Roma veteri.”. Contudo, Basseto
(2013, p. 118) inclui a obra entre uma das fontes que contribuem para a reconstituição do latim vulgar, uma vez que
“seus numerosos arcaísmos fundamentam muitas formas correspondentes ao latim vulgar”.
29 Os textos latinos foram traduzidos e adaptados pela Professora Drª Arlete José Mota.
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[PRAEFATIO] (...) At ex agricolis et uiri fortissimi et milites strenuissimi gignuntur, maximeque
pius quaestus stabilissimusque consequitur minimeque inuidiosus, minimeque male cogitantes sunt
qui in eo studio occupati sunt(...).
(PREFÁCIO) Mas os homens mais fortes e os soldados mais vigorosos nascem dentre os
agricultores; os que pensam minimamente no mal são aqueles que se dedicaram ao cultivo no
campo – o que resulta em uma renda extremamente honesta, sólida e muito pouco invejada
[1] (...)Videto quam minimi instrumenti sumptuosusque ager ne siet. Scito idem agrum quod
hominem, quamuis quaestuosus siet, si sumptuosus erit, relinqui non multum. Praedium quod
primum siet, si me rogabis, sic dicam: de omnibus agris optimoque loco iugera30 agri centum,
uinea est prima, uel si uino multo est; secundo loco hortus irriguus; tertio salictum; quarto oletum;
quinto pratum; sexto campus frumentarius; septimo silua caedua; octauo arbustum; nono glandaria
silua.
Mantenha um número mínimo de equipamentos, para que o terreno não se torne dispendioso.
Repara que o campo é igual ao homem: mesmo rico, se se tornar caro, não restará muita coisa. Se
me perguntares que tipo de propriedade deve-se preferir, direi o seguinte: dentre todos os tipos de
cultura, em um ótimo local, de cem jeiras, primeiro a vinha, se esta produz o melhor vinho e em
boa quantidade; em segundo lugar, um jardim irrigado; em terceiro, um salgueiral; em quarto, um
olival; em quinto, relva; em sexto, uma plantação de trigo; em sétimo, mata que produza madeira de
corte; em oitavo, um bosque; e, em nono, um azinhal.
[3] Prima adulescentia patrem familiae agrum conserere studere oportet (...).
Em sua juventude, convém ao pai de família dedicar-se a semear o campo.
[6] (...)In agro crasso et caldo oleam conditiuam, radium maiorem, Sallentinam, orcitem, poseam,
Sergianam, Colminianam, albicerem, quam earum in iis locis optimam dicent esse, eam maxime
30 Segundo Faria (1962, p. 535), jūgĕra, -um. subs. n. pl. é a medida agrária correspondente à porção de terra lavrada
por uma junta de bois durante um dia, geira.
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serito (...). Ager oleto conserundo, qui in uentum fauonium spectabit et soli ostentus erit, alius
bonus nullus erit. Qui ager frigidior et macrior erit, ibi oleam Licinianam seri oportet (...).
Semeia na terra grossa e quente as oliveiras que produzem as azeitonas para conserva, a comprida,
a salentiana, as de castas distintas, como a dos salentianos e a sergiana, a de Colminio e
especialmente a branca, que dizem ser a melhor das que são plantadas nestes locais. Não existirá
melhor terreno para a plantação de um olival do que aquele que estiver voltado para o vento do
oeste e exposto ao sol. Se o terreno for mais frio e menos fértil, convém semear no local a oliveira
liciniana.
[61] (...) Siquis quaeret, quod tempus oleae serendae siet, agro sicco per sementim, agro laeto per
uer.
Se alguém assim o desejar, o tempo de semear a oliveira é durante a sementeira, com o campo seco;
durante a primavera, com o campo favorável.
Nos trechos de De Agri Cultura, percebe-se que ager e suas instanciações participam das
construções sintáticas como formas livres, considerando o ponto de vista gráfico, isto é, “a
sequência de caracteres que aparece entre espaços e/ou pontuação e que corresponde a uma
sequência de sons que formam uma palavra na língua” (BASILIO [2004] 2006, p. 13-18). O aspecto
gráfico foi salientado, pois, segundo Greenough e Allen (1903, p. 161) há, em latim, os compostos
sintáticos, compostos não etimológicos, formados por palavras que recorrentemente aparecem
juntas no discurso31. Portanto, entre os casos que se apresentam como uma forma simples, pode
haver formas complexas. Contudo, para verificação da existência desse tipo de composição, seria
necessário um corpus maior para observar a ocorrência de determinadas construções.
Identificam-se, ainda, as formas compostas agricolis e agricultura, já presentes no latim
arcaico, período no qual se enquadra o texto de Catão. A composição morfológica é reconhecida em
31 Greenough e Allen (1903, p.160) definem palavras compostas como aquelas cujas raízes são formadas por duas ou
mais raízes.
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agricolis, pela aglutinação entre o substantivo ager, na forma de agri, e o verbo colo e pela
presença da vogal “i” no primeiro elemento da composição. O papel dessa vogal será discutido no
capítulo 5.
A sequência agri cultura, embora não apareça com a forma aglutinada nesse texto e nem no
texto de Varrão, transcrito oportunamente, parece-nos um caso passível de análise, já que pode
trazer elementos de dois processos composicionais em transição: uma composição sintática, gerada
pela frequência de uso, passando à morfológica, marcada pela presença acidental da vogal “i” no
primeiro elemento. A forma aglutinada presente no Português, agricultura, e em algumas línguas
neolatinas, como o Francês, agriculture, e o Espanhol, agricultura, corroboram a hipótese.
De acordo com Pimenta (2014, p. 43-44), Varrão, assim como Catão, atuou como militar,
foi censor, tribuno da plebe, pretor e embaixador32. Trechos da obra Rerum rusticarum Liber primus
De agricultura (Sobre as coisas do campo – Livro primeiro – Sobre a agricultura) serão expostos a
seguir, nos moldes de como foi apresentado De Agri Cultura, de Catão, com a ressalva de que as
seções aparecem numeradas em algarismos romanos. Os excertos foram extraídos dos parágrafos 1
e 2.
[I] (...)Et quoniam, ut aiunt, dei facientes adiuuant, prius inuocabo eos, nec, ut Homerus et Ennius,
Musas, sed duodecim deos Consentis; neque tamen eos urbanos, quorum imagines ad forum auratae
stant, sex mares et feminae totidem, sed illos XII deos, qui maxime agricolarum duces sunt.
Primum, qui omnis fructos agri culturae caelo et terra continent, Iouem et Tellurem: itaque, quod ii
parentes, magni dicuntur, Iuppiter pater appellatur, Tellus terra mater. (...) Nec non etiam precor
Lympham ac Bonum Euentum, quoniam sine aqua omnis arida ac misera agri cultura, sine
successu ac bono euentu frustratio est, non cultura. (...)
32 Contudo, destacou-se e entrou para a história pela sua erudição. Iniciou seus estudos em Roma, aprendendo
gramática, etimologia e oratória, e, em Atenas, aprofundou-se em filosofia. Escreveu cerca de 620 livros sobre os mais
diversos assuntos: língua, direito, filosofia, agricultura, poesia. No entanto, conservaram-se apenas dois, um sobre a
língua latina – De Lingua Latina – e outro sobre agricultura, mais precisamente a gestão de uma granja - Rerum
rusticarum. Este último é de suma importância para nossa pesquisa.
57
E, visto que, como dizem, os deuses ajudam os que trabalham, em primeiro lugar, os invocarei. Não
suplicarei, como Homero e Ênio, às Musas, mas aos doze deuses maiores. Não rogarei, contudo, os
deuses urbanos, cujas imagens douradas se erguem para o Forum, seis deuses e outro tanto de
deusas, mas, precisamente, aqueles doze deuses que são os condutores dos campônios. Em
primeiro lugar, suplico a Júpiter e a Tellus (Terra), que conservam todos os frutos da agricultura
no céu e no solo – por isso são nomeados grandes pais: Júpiter é chamado de pai e Tellus, terra mãe.
(...) E também rogo à Linfa e ao Bom Evento, uma vez que, sem água, toda a plantação fica árida e
pobre e, sem um bom resultado, há frustração, não cultivo.
[II] (...) An non M. Cato scribit in libro Originum sic: 'ager Gallicus Romanus uocatur, qui uiritim
cis Ariminum datus est ultra agrum Picentium. In eo agro aliquotfariam in singula iugera dena
cullea uini fiunt'? Nonne item in agro Fauentino, a quo ibi trecenariae appellantur uites, quod
iugerum trecenas amphoras reddat? (...) Alterum collegam tuum, uiginti uirum qui fuit ad agros
diuidendos Campanos, uideo huc uenire, Cn. Tremelium Scrofam, uirum omnibus uirtutibus
politum, qui de agri cultura Romanus peritissimus existimatur. (...) Nec ullae, inquam, pecudes
agri culturae sunt propriae, nisi quae agrum opere, quo cultior sit, adiuuare, ut eae quae iunctae
arare possunt. (...) Neque ideo non in quo agro idoneae possunt esse non exercendae, atque ex iis
capiendi fructus: ut etiam, si ager secundum uiam et opportunus uiatoribus locus, aedificandae
tabernae deuorsoriae, quae tamen, quamuis sint fructuosae, nihilo magis sunt agri culturae partes.
(...)
Por acaso, Catão não escreveu assim, em seu livro Das origens: “é chamado galo-romano o campo
que se estende do lado de cá do rio Armino e, mais especificamente, além do campo picentino”?
Neste campo, em alguns lugares, para cada jeira, não são produzidos dez odres de vinho? Acaso, do
mesmo modo, não há no campo faventino vides que produzem trezentas ânforas por jeira e por isso
são chamadas aí de “trecentésimas”? (...) Vejo chegar um companheiro teu, Tremelio Escrofa, um
dos homens dentre os que foram incumbidos de dividir os campos da Campânia, um homem
adornado de todas as virtudes e que é considerado o romano que mais conhece a respeito da
agricultura. (...) Digo que não há animais próprios para a agricultura, a não ser os que ajudam
com seu trabalho, tonando a terra preparada para o cultivo: são os que podem arar juntos, presos à
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canga. (...) Não pode ser negligenciado o que não representa propriamente fruto da terra, pois, se
um terreno está próximo de uma estrada, tem-se um local apropriado para os viajantes, devem ser
construídos aí albergues. Mas estes, embora rendáveis, não representam, de forma alguma, parte da
agricultura.
Os outros dois textos utilizados são obras inseridas no início do Império Romano, Ab Urbe
Condita, de Tito Lívio (59 a.C. – 17 d.C.) e Tibulli Elegiae, de Álbio Tibulo (55 a. C. – 19 d.C.)33.
Dos 142 livros escritos que compõem a obra Ab Urbe Condita, 35 são hoje conhecidos. A
seguir, são reproduzidos fragmentos do livro I (parágrafos 15, 22 e 46); do livro II (parágrafo 41);
do livro III (parágrafos 1 e 6), do livro IV (parágrafo 58); e do livro V (parágrafos 12 e 24).
LIVRO I
[15] (...) In fines Romanos excucurrerunt populabundi magis quam iusti more belli. Itaque non
castris positis, non exspectato hostium exercitu, raptam ex agris praedam portantes Veios rediere.
Romanus contra postquam hostem in agris non inuenit, dimicationi ultimae instructus intentusque
Tiberim transit. (...) Agri parte multatis in centum annos indutiae datae.
[Os veientes] acorreram às fronteiras romanas, mais pelo costume de uma guerra devastadora do
que por uma luta justa. Assim, sem fixar acampamentos ou aguardar o exército dos inimigos,
retornaram para Veios, trazendo dos campos os despojos. O [exército] romano, já que não avançou
contra o inimigo nos campos, decidido e bem preparado para um último combate, transpõe o Tibre.
(...) Foi concedida uma trégua de cem anos, uma vez que foram espoliados de parte do campo.
33 Sem pretender abordar a complexidade do que se compreende por Império Romano, mas com o objetivo de situar
historicamente os textos, vale a pena pontuar algumas informações sobre o período. Segundo Collares (2010, p. 11-12),
o Império Romano inicia-se após um período de guerras internas e externas que geraram um cenário político favorável
ao aparecimento de um novo regime, marcando o fim da República. Em função da concentração de poder de Otávio
Augusto, filho adotivo e herdeiro de Júlio César, uma nova ordem política foi estabelecida: o Império, embora não se
pretendesse romper com os costumes ancestrais, denominados pelos romanos de mos maiorum, e com as bases de
sustentação do regime republicano.“Em torno dessas transformações que romperam com o instituído, mas que não
descaracterizaram completamente suas bases, Lívio projetou uma narrativa histórica aparentemente validada pelos
mores (moral), constituindo, no entanto, exemplos de um passado projetado segundo anseios, demandas e expectativas
próprias.” (COLLARES 2010, p. 13). Lívio, em latim, Titus Livius (59 a.C. – 17 d.C.), um dos três mais importantes
historiadores romanos, é o autor de Ab Urbe Condita – Desde a Fundação da Cidade. A obra tornou-se um clássico e
exerceu profunda influência sobre o estilo e a filosofia da escrita histórica até o século XVIII.
59
[22] (...) Senescere igitur ciuitatem otio ratus undique materiam excitandi belli quaerebat. Forte
euenit ut agrestes Romani ex Albano agro, Albani ex Romano praedas in uicem agerent. (...)
Portanto, calculando que a cidade envelhecia no ócio, buscava de todas as formas um motivo para
desencadear a guerra. Sucedeu por acaso que os campônios romanos arrastaram despojos do
território albano e os albanos fizeram o mesmo no território romano.
[46] Seruius quamquam iam usu haud dubie regnum possederat, tamen quia interdum iactari uoces
a iuuene Tarquinio audiebat se iniussu populi regnare, conciliata prius uoluntate plebis agro capto
ex hostibus uiritim diuiso, ausus est ferre ad populum uellent iuberentne se regnare; tantoque
consensu quanto haud quisquam alius ante rex est declaratus. Neque ea res Tarquinio spem
adfectandi regni minuit; immo eo impensius quia de agro plebisaduersa patrum uoluntate senserat
agi, criminandi Serui apud patres crescendique in curia sibi occasionem datam ratus est, et ipse
iuuenis ardentis animi et domi uxore Tullia inquietum animum stimulante. (...)
Embora Sérvio já possuísse o reino, obtido com certeza pela prática, algumas vezes, contudo, ouvia
que era perseguido pelo jovem Tarquínio – este dizia que Sérvio reinava sem o consentimento do
povo. Tendo atraído a boa vontade da plebe, dividindo por cabeça o campo conquistado aos
inimigos, ousou dirigir-se ao povo para saber se desejavam e até mesmo se ordenavam que ele
reinasse. Obtido um consenso maior do que qualquer outro obtivera antes, foi proclamado rei. Para
Tarquínio este fato não diminuiu a esperança de retomar o reino; ao contrário, de forma mais
cuidadosa ainda, percebera que se tinha agido, em relação aos campo doado à plebe, contra a
vontade dos senadores. Calculou que lhe era oferecida a oportunidade de acusar Sérvio, junto aos
senadores, e de elevar-se na cúria. O próprio Tarquínio era um jovem ardoroso, tendo ainda, em sua
casa, a esposa, Tulia, estimulando seu espírito inquieto.
LIVRO II
[41] (...) Tum primum lex agrariapromulgata est, nunquam deinde usque ad hanc memoriam sine
maximis motibus rerum agitata. (...) Quid ita enim adsumi socios et nomen Latinum, quid
attinuisset Hernicis, paulo ante hostibus, capti agripartem tertiam reddi, nisi ut hae gentes pro
Coriolano duce Cassium habeant? Popularis iam esse dissuasor et intercessor legis agrariae
60
coeperat. Vterque deinde consul, ut certatim, plebi indulgere. Verginius dicere passurum se
adsignari agros, dum ne cui nisi ciui Romano adsignentur: Cassius, quia in agraria largitione
ambitiosus in socios eoque ciuibus uilior erat, ut alio munere sibi reconciliaret ciuium animos,
iubere pro Siculo frumento pecuniam acceptam retribui populo. (...)
Então, pela primeira vez, foi promulgada a Lei Agrária, e nunca, pelo que se recorda, deixou de ser
comentada, com muitas discussões. (...) Por que ter incluído assim os aliados e os latinos? Por que
foi conveniente devolver aos hernicos, há pouco inimigos, a terça parte do território capturado, a
não ser que estes povos quisessem como chefe Cassio, em lugar de Coriolano? Desde então, o
oponente e intercessor da Lei Agrária começara a ficar popular. Em seguida, os dois cônsules,
como desafio, favorecem à plebe. Vergínio disse que distribuiria os terrenos, contanto que não
fossem dados a alguém que não fosse cidadão romano. Cassio, porque se tornou ambicioso na
questão da distribuição dos campos para os aliados, era o mais vil dentre os cidadãos e, para que
recuperasse os ânimos dos cidadãos, com um outro favor, ordenou que fosse devolvido ao povo o
dinheiro recebido pelo trigo da Sicília.
LIVRO III
[1] Antio capto, T. Aemilius et Q. Fabius consules fiunt. Hic erat Fabius qui unus exstinctae ad
Cremeram genti superfuerat. Iam priore consulatu Aemilius dandi agri plebi fuerat auctor; itaque
secundo quoque consulatu eius et agrarii se in spem legis erexerant, et tribuni, rem contra consules
saepe temptatam adiutore utique consule obtineri posse rati, suscipiunt, et consul manebat in
sententia sua. (...)
Capturado Âncio, Tibério Emílio e Quinto Fábio tornam-se cônsules. Este Fábio era o único que
sobreviveu à extinção de sua família em Cremera. Já no exercício anterior do consulado, Emílio foi
o defensor da distribuição do campo para a plebe; assim, na ocasião de seu segundo consulado, os
partidários da Lei Agrária resgataram sua esperança. Os tribunos defenderam a causa, muitas vezes
não levada a termo por oposição dos cônsules. Estes tribunos estavam cientes do apoio de Emílio,
que manteve seu parecer.
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[6] Comitia inde habita; creati consules L. Aebutius P. Seruilius. Kalendis Sextilibus, ut tunc
principium anni agebatur, consulatum ineunt. Graue tempus et forte annus pestilens erat urbi
agrisque, nec hominibus magis quam pecori, et auxere uim morbi terrore populationis pecoribus
agrestibusque in urbem acceptis. (...)
Assim, reunida a assembleia, foram eleitos os cônsules Lúcio Ebucio e Publio Servilio. No dia
primeiro de agosto, iniciaram o consulado – tal data representava o começo do ano consular. Houve
um período de um calor fustigante e vigoroso, foi um ano de muitas epidemias na cidade e nos
campos. A força da doença aumentou em virtude da vinda para a cidade de animais e camponeses,
aterrorizados pelos exércitos inimigos.
LIVRO IV
[58] (...) Haec sua sponte agitata insuper tribuni plebis accendunt; maximum bellum patribus cum
plebe esse dictitant; eam de industria uexandam militia trucidandamque hostibus obici; eam procul
urbe haberi atque ablegari, ne domi per otium memor libertatis coloniarum aut agri publici aut
suffragii libere ferendi consilia agitet. (...)
Os tribunos da plebe exortavam insistentemente o povo – já agitado por sua própria vontade – e
repetiam que a maior guerra é aquela entre os senadores e a plebe. Esta é lançada deliberadamente
aos inimigos; arrastada e trucidada pelos soldados; mantida longe da cidade, expulsa, para que, em
casa, por causa da tranquilidade da liberdade, não remeta livremente às ideias de retomada dos
terrenos públicos pelos colonos e do direito de votar.
LIVRO V
[12] (...) Victores tribuni ut praesentem mercedem iudicii plebes haberet legem agrariam
promulgant, tributumque conferri prohibent, cum tot exercitibus stipendio opus esset resque militia
ita prospere gererentur ut nullo bello ueniretur ad exitum spei. (...)
Os vitoriosos tribunos promulgam a Lei Agrária, como recompensa por um julgamento dado pela
plebe, e proíbem que seja pago o tributo, embora o soldo seja necessário a todos os exércitos e os
soldados atuem com ventura, para que, em nenhuma guerra, se veja o fim da esperança.
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[24] (...) Ab iis non urbes ui aut operibus temptatae, sed ager est depopulatus praedaeque rerum
agrestium actae; nulla felix arbor, nihil frugiferum in agro relictum. (...) Ea largitio sperni coepta,
quia spei maioris auertendae solatium obiectum censebant: cur enim relegari plebem in Volscos
cum pulcherrima urbs Veii agerque Veientanus in conspectu sit, uberior ampliorque Romano agro?
Vrbem quoque urbi Romae uel situ uel magnificentia publicorum priuatorumque tectorum ac
locorum praeponebant. (...).
As cidades não foram atacadas por eles nem pela força nem pelas manobras militares, mas o campo
foi devastado e foram destruídas as propriedades campesinas; não se deixou na terra nenhuma
árvore frutífera, nada fértil (...). Essa liberalidade começa a ser desprezada, porque julgavam um
alívio oferecido para afastar uma esperança maior. De fato, por que relegar a plebe para o desterro
entre os volscos, quando estavam diante dos olhos a belíssima cidade de Veios e o território
veientano, mais fértil e maior que o romano? Preferiam a cidade de Veios a Roma, seja pelo local
onde está situada, seja pela grandeza dos edifícios públicos e privados e das moradias.
Destacamos, nos trechos de Ab Urbe Condita, as formações agerque, agraria, agrarii e
agrestium. Agerque poderia ser considerada uma forma derivada; no entanto, adjungida a ager tem-
se a conjunção copulativa que, conferindo o sentido de “e, também; isto é, a saber; e mesmo; e
também, semelhante”, de acordo com Faria (1962). Agraria e agrarii são duas palavras derivadas,
em que o sufixo -arium agrega-se a uma raiz que talvez possa ser chamada de doublet34, nos termos
de Gonçalves (2005), já que mantém a forma original grega. As duas palavras possuem entradas
distintas no Dicionário escolar latino-português (1962): a primeira é um adjetivo e significa dos
campos, relativo aos campos; a segunda é um substantivo com sentido de os partidários da lei
agrária.
34 Segundo Skeat (1887, p. 414), doublet são palavras que apresentam duas formas. Entre as motivações para essa
concorrência linguística, de acordo com o autor (op.cit.), estão as diferenças dialetais e empréstimos de palavras que
têm a mesma origem de outras já existentes na língua tomadora. Nesta língua, as duas formas, geralmente, não são
usadas com o mesmo sentido. (SKEAT, W. W. Principles of english etymology: the native element. Orfoxd: At the
Clarendon press, p. 414, 1887).
63
Já agreste poderia ser identificado como um processo derivacional por analogia a agraria e
agrarii, uma vez que não foi encontrado o sufixo -este; no entanto, a construção parece permitir a
isolabiladade dos seus constituintes. Agreste e agraria, palavras registradas em textos do período
clássico, assim como a mais antiga, agri cultura, foram transmitidas diretamente ao Português,
provavelmente pela relevância que a agricultura continuou a apresentar durante o período de
formação das línguas neolatinas. Como vimos, importantes tratados foram escritos sobre o assunto,
o que mostra o amplo conhecimento técnico-científico dos romanos sobre essa área de
conhecimento.
Albio Tibulo (55 a.C. – 19 d.C.), poeta romano, o segundo na sequência clássica de grandes
escritores latinos de elegias35, que começa com Cornélio Galo, passando por Tibulo e por Sexto
Propércio, era considerado por Quintiliano o melhor dentre os três36.
Abaixo seguem trechos de “Tibulli Elegiae” (Elegias), poemas I, 1; II, 1 e II, 6
LIVRO I
1
Nam ueneror, seu stipes habet desertus in agris
seu uetus in triuio florida serta lapis,
et quodcumque mihi pomum nouus educat annus,
libatum agricolae ponitur ante deo.
(versos 11 a 14)
35 Elegia – 1. Entre os gregos e latinos, poema formado de versos hexâmetros e pentâmetros alternados. 2. Poema
lírico, cujo tom é quase sempre terno e triste (Novo Dicionário Aurélio – Dicionário eletrônico – versão 6.0).
36 Tibulo destaca-se entre os poetas romanos por sua simplicidade idílica, graça, ternura e requinte de sentimento e
expressão. Entre as quatro obras remanescentes que são reconhecidas como sendo de sua autoria, duas são, sem
dúvidas, suas. Além de seus próprios poemas, as únicas fontes sobre a vida de Tibullus são algumas referências em
escritores antigos e uma pequena obra de autoria duvidosa denominada “Vita”. De família abastada, tornou-se um
membro proeminente do círculo literário de Messala. Manteve-se afastado da corte de Augusto, a quem o autor nem
sequer menciona em seus poemas. Tibulo parece ter dividido o seu tempo entre Roma e sua propriedade rural,
fortemente preferindo a última. (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA).
64
Pois que eu venero, seja um tronco abandonado nos campos, seja a velha pedra na encruzilhada,
que ostentam flores entrelaçadas, e qualquer que seja o fruto que a nova estação produza para mim,
como oferenda, é posto diante do deus do agricultor.
LIVRO II
1
Di patrii, purgarnus agros, purgamus agrestes:
uos mala de nostris pellite limitibus,
neu seges eludat messem fallacibus herbis,
neu timeat celeres tardior agna lupos.
(versos 17 a 20)
Ó deuses pátrios, nós purificamos os campos, nós purificamos os camponeses: afastai os males de
nossas fronteiras. Que a terra não frustre a colheita com ervas daninhas; que a ovelha mais vagarosa
não tema os lobos impetuosos.
6
Acer Amor, fractas utinam tua tela sagittas,
si licet, extinctas aspiciamque faces!
Tu miserum torques, tu me mihi dira precari
cogis et insana mente nefanda loqui.
Iam mala finissem leto, sed credula uitam
Spes fouet et fore cras semper ait melius.
Spes alit agricolas, spes sulcis credit aratis
semina quae magno faenore reddat ager:
haec laqueo uolucres, haec captat harundine pisces,
(...)
(versos 15 a 23)
Ó cruel Amor, se é permitido, que eu veja quebradas tuas flechas – tuas armas - e também
apagados teus archotes! Tu atormentas um infeliz, tu me impeles a desejar mal a mim mesmo e
dizes coisas abomináveis, de um louco pensamento. Eu daria prontamente um fim aos meus
65
males, com uma morte violenta, mas a Esperança, crédula, abraça a vida e diz sempre que
amanhã há de ser melhor. A Esperança alimenta lavradores; a Esperança confia às terras
revolvidas pelos arados sementes, que o campo devolve através de farta colheita. A Esperança
captura pássaros cum uma rede e peixes com uma vara (...).
A temática rural nas obras de Catão e Varrão, supracitadas, mostra a relevância do assunto
tratado em manuais para o cultivo do campo ou para trabalhos que cercam a vida rural, como o
cuidado de animais. Já nas obras de Lívio e Tibulo, há uma outra perspectiva em relação a este
espaço; no primeiro, o campo aparece como lugar de conquistas e guerras e, no segundo, como um
lugar, em contraste com a cidade, idealizado, perfeito. Independentemente do foco adotado, o
campo – ager – é realçado, uma vez que é a “principal fonte da riqueza, e portanto da receita
imperial” (MENDES, 2007, p. 40).
A observação da história interna – aquilo que “afeta o sistema e as mudanças desse sistema”
(NOLL, 2008, p. 261) – e da história externa – “eventos históricos e sociológicos suscetíveis de
influírem na evolução da língua” (loc.. cit.) – pode esclarecer fenômenos linguísticos do passado e
do presente.
As palavras são “composições moleculares que reúnem informações fonéticas, semânticas,
sintáticas e pragmáticas” (FERREIRO, 2010, p. 112), construídas, dinamicamente, pela interação
das capacidades cognitivas do ser humano com o mundo que o cerca. Em suma, é por meio desse
processo de mão dupla, com base na dinâmica ativação de conceitos disponíveis, manifestados pela
linguagem, que as palavras adquirem significado.
O latim, por ser língua mãe das línguas neolatinas, particularmente no Português, manifesta-
se por meio de várias influências. Contudo, ressaltamos suas extensões na formação dos compostos
neoclássicos a partir do século XIX. A emersão do Latim, e do Grego também, faz-se notar não só
pelo uso de radicais eruditos, mas também pelo processo de composição das formações neoclássicas
66
no vernáculo das diversas línguas modernas, incluindo as de origem não-românica, como o Alemão,
o Inglês e o Holandês. Observando que palavras como agricultura, do Latim, e agrônomo, do
Grego, existem anteriormente à formação do Português, podemos considerar que as construções
provenientes daquele século tenham-se constituído por analogia às formas clássicas.
Considerando o exposto neste capítulo, conclui-se que as formas agro- e agri- presentes no
Português são dois formativos de origens distintas, do Grego e do Latim, respectivamente, embora
agri- tenha chegado ao Latim via empréstimo do grego. Observou-se que os sentidos de ager
configuram uma rede semântica constituída por metonímia. Os significados extensionais de ager
abrangem espaço geográfico delimitado para cultivo; solo; terra; espaço de enfrentamento,
território, zona fora do perímetro urbano, área bucólica.
No próximo capítulo, serão discutidos os comportamentos de agro- e agri- na atual
sincronia e as influências diacrônicas sobre os formativos.
67
3. COMPORTAMENTO DE AGRO- E AGRI- NA ATUAL SINCRONIA
Construções como agricultura, agribusiness, agronomia, agropecuária e agrofit, embora
possuam em comum os elementos composicionais agri- e agro-, apresentam características
morfológicas, sintáticas e semânticas distintas; contudo, algumas podem ser classificadas, segundo
a tradição, de compostos neoclássicos, de recomposição ou não serem analisadas, uma vez que suas
propriedades não se adequam às esperadas. Em função das variáveis manifestadas pelo corpus,
objetivamos discutir, na esteira de Gonçalves (2011a, 2011b, 2012) e Gonçalves e Andrade (2012),
os conceitos de composição neoclássica e recomposição a partir do continuum composição-
derivação, que admite uma interpretação para os casos emblemáticos, tais como agricultar e
agronomia, e casos periféricos, como os já citados agribusiness e agrofit. A partir do apresentado
pelos autores (op. cit.), propomos um posicionamento das formações aqui examinadas nesse
continuum.
3.1. Posicionamento dos Compostos Neoclássicos no Continuum Composição-Derivação
A composição, processo no qual duas palavras são combinadas para formar uma nova, e a
derivação, processo por meio do qual se adjunge um afixo à base37, são analisadas,
tradicionalmente, por meio de uma perspectiva aristotélica de classificação em que os membros
devem possuir, igualmente, todas as condições necessárias e suficientes para pertencer à
determinada categoria e, nessa ótica, os processos são compreendidos como totalmente distintos e
estanques. No entanto, abordagens mais recentes – Bauer (2005), Kastovsky (2009), Gonçalves
(2011a, 2011b, 2012), Gonçalves e Andrade (2012) e Andrade (2013), entre outras – propõem uma
37 “Exceto nos casos de conversão, subtração ou mudança na constituição fonológica de uma palavra-matriz.”
(GONÇALVES, 2011a).
68
reanálise pautada no modelo de classificação originalmente apresentado por Rosch (1978), que
parte de membros exemplares, mais facilmente reconhecíveis (os chamados protótipos), para
membros periféricos, aqueles que exibem menor semelhança com o prototípico, gerando uma
gradiência. Há, portanto, membros prototípicos e fronteiriços, ou seja, mais próximos ou mais
distantes daqueles que melhor representam a categoria.
Segundo Bauer (2005), a fronteira entre derivação e composição é permeável em ambos os
sentidos, pois formações que eram, originalmente, consideradas composições, podem ser
compreendidas como derivição e o contrário também pode ocorrer, embora, Bauer (2005), afirme
que com menor frequência. O autor (2005) analisa alguns processos de formação de palavras, a
exemplo de cruzamento vocabular38 e compostos neoclássicos, concluindo que composição e
derivação são processos distintos. No entato, alguns formativos, em transição entre formas livres e
presas e vice-versa, dificultam a identificação do processo de formação que subjaz a determinadas
palavras, como os splinters, advindos do cruzamento vocabular, a exemplo de –cade, de cavalcade
(cavalgada) e de motorcade (carreata), classificado como sufixo; entretanto, Bauer (2005) ressalta
que esse elemento pode aparecer em início de palavras. Portanto, ora o formativo comporta-se como
afixo, ora como palavra.
Segundo o autor (2005), os compostos neoclássicos, em inglês, trazem outro embaraço,
tendo em vista que os compostos do vernáculo são constituídos por palavras e aqueles por radicais,
não se enquadrando no rótulo de composição. Contudo, nas palavras de Bauer (2005), itens como
philo- e -sophy têm características de palavra, tanto em termos fonológicos quanto semânticos, o
que jusitifica a nomenclatura 'composto neoclássico'. O autor assinala que o comportamento
38 Gonçalves (2012b), na esteira de Fandrich (2008), afirma que “o termo blend (cruzamento vocabular) é metafórico, já
que vem a ser utilizado em referência à mistura de partes aleatórias de lexemas existentes. Nesse sentido, as formas
resultantes refletem, iconicamente, as palavras-matrizes.” Tal como, lixeratura (lixo + literatura = “literatura de má
qualidade”) e aborrescente (adolescente + aborrece = “adolescente que aborrece”), exemplos do autor.
69
flutuante dos formativos não compromete a distinção entre composição e derivação, mas influencia
na limitação da fronteira entre esses processos.
Kastovsky (2009) argumenta que composição, clipping (truncamento) e cruzamento
vocabular devem ser considerados como padrões prototípicos dispostos em uma escala de
componentes cada vez menos independentes que vão desde palavras passando por radicais,
afixoides39, afixos, palavras/radicais reduzidos em splinters40. O autor propõe uma escala sem fazer
distinção entre formativos e processos; todavia, destaca a importância do estatuto do formativo para
a identificação do processo de formação de palavras, como exposto a seguir:
composição (palavra) > composição de base presa (radical) > afixoides > afixação propriamente
dita > composição por truncamento (recorte de palavras/radical) > cruzamento vobular > splinters
> acrônimos.
Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012), na esteira de Bauer (2005), Kastovsky
(2009), entre outros autores, propõem uma aplicação do continuum composição-derivação para o
Português. Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012) elencam critérios para o
reconhecimento de compostos e derivados prototípicos e analisam diferentes formações que estão
entre os polos desse continuum como “a combinação truncada (‘caipifruta’, ‘caipivodka’,
‘caipissuco’), a substituição sublexical (‘mãedrasta’, ‘irmãdrasta’, ‘sogradrasta’) e a recomposição
(‘auto-peças’, ‘auto-escola’, ‘auto-tecnologia’)”. (Gonçalves, 2011a: 69).
39 “Na literatura morfológica sobre o português, o termo afixóide apresenta três diferentes acepções: (i) forma truncada
que remete, metonimicamente, ao significado da palavra complexa de onde se desgarrou (Duarte, 1999, 2009;
Gonçalves, 2011b), a exemplo de bio- e agro-; (ii) elemento que aparece em formações isoladas, únicas, os hapaces
(Rocha, 1988), como o ebre de casebre; (iii) elemento ressemantizado que, necessariamente, coexiste com uma palavras
da língua, seja ela preposição, como contra- (contra-ataque) ou um substantivo (mania de chocolate vs. chocomania).”
(GONÇALVES, 2016, p. 65). 40 Segundo Bauer (2005: 104), splinter é o fragmento de uma palavras usado repetidamente na formação de novas palavras, ou seja, é uma partícula não morfêmica formada por cruzamento vocabular, com a qual se cria novas palavras. O termo foi cunhado por J.M. Berman em "Contribution on Blending",1961, de acordo com Bauer (op. cit.). Exemplos: fran- em frambúrguer (frango + hambúrguer); franfilé (frango + filé); e –nese em macarronese (macarrão +
maionese), em ovonese (ovo+ maionese).
70
Aplicando esse modelo à morfologia, pode-se afirmar que existem formações que são
composições prototípicas (o modelo NN de composição, como ‘bolsa família’) e derivações
prototípicas (X-eiro); no entanto, há, entre esses dois extremos, inúmeros processos de formação de
palavras que não se assemelham inteiramente a esses protótipos, partilhando, em maior ou menor
escala, características desses dois modelos básicos de expansão lexical.
A organização categorial por protótipos permite não apenas uma análise dos elementos de
uma mesma classe – central e periférico –, mas dos elementos que figuram entre as classes, uma vez
que há construções que partilham características das diferentes classes, tais como o cruzamento
vocabular (burocracia), a composição neoclássica (agrociência) e a recomposição (agromaníaco),
processos que justificam a existência de um continuum.
A flexibilidade na análise desses processos surge da necessidade de encontrar um
posicionamento para os formativos que não se caracterizam, plenamente, como unidades
constituintes da composição e da derivação, palavras/radicais e afixos, respectivamente, e
apresentam propriedades tanto de um, quanto de outro. Tomado como exemplo o formativo agro-,
reconhecido pela tradição gramatical como radical neoclássico, constituinte, portanto, do processo
de composição (CUNHA; CINTRA, 1985; BECHARA, 2000), percebe-se que, em algumas
formações, como agroecossistema e agrocombustível, agro- é uma forma presa, a cabeça lexical
posiciona-se à direita e a partícula recorrente combina-se a palavras, assemelhando-se aos prefixos
e, portanto, aproximando-se da derivação. Já em construções como agroclimático e agropastoril, as
bases mantêm uma relação de coordenação, comportamento que remete a formações constituídas
por formas livres, aproximando-se, por isso, da composição. O comportamento de agro- suscita
dúvidas sobre o seu posicionamento no continuum radical-afixo (RALLI, 2008a, p.15; ANDRADE,
2013, p. 11), e é nesse sentido que se justifica a presente análise.
71
Assim, como evidenciado por Bauer (2005), Gonçalves (2011a, 2011b, 2012), Gonçalves e
Andrade (2012) e Andrade (2013), a controvérsia, entre outras questões, repousa na inserção desse
processo de formação de palavras entre os processos de composição de palavras do vernáculo.
Observando alguns atributos que identificam casos mais emblemáticos da composição e da
derivação, percebe-se que, no tocante ao corpus aqui analisado, agro- exibe especificidades que
sugerem a dilatação do conceito de composição. Para estabelecer comparações entre os compostos
vernaculares prototípicos e os compostos neoclássicos formados por agro- e agri-, serão utilizados
os critérios propostos por Gonçalves (2011a, p. 68) e Gonçalves e Andrade (2012, p. 122-123), uma
vez que os critérios identificam tendências gerais da composição e derivação.
A fim de formar um único quadro, aos critérios propostos por Gonçalves (op. cit.),
acrescentamos, em negrito, os sugeridos por Gonçalves e Andrade (op. cit.)
Elementos analisados Critérios
Composição Derivação
As unidades
Radicais
Palavras
Afixos
Lexemas autônomos
Formas encurtadas, presas, que
remetem a palavras.
Elementos de fronteira (formas presas
que não correspondem a palavras).
Características estruturais
Unidades com posição não
necessariamente fixa na estrutura
da palavra.
Unidades definidas por uma posição pré-
determinada na estrutura da palavra (à
esquerda ou à direita).
A variável lexical utilizada é
predominantemente a palavra.
A variável lexical utilizada é
predominantemente o radical.
Cabeça lexical à direita ou à
esquerda.
Cabeça lexical à direita.
Possibilidade de existir relação de
coordenação entre constituintes.
Ausência desse tipo de relação.
Possibilidade de flexão entre
constituintes.
Flexão periférica.
O formativo seleciona a categoria
lexical da base.
Os afixos não se combinam entre si.
Característica fonológica Realização em mais de uma palavra
prosódica.
Realização em uma única palavra
prosódica.
Características Expressa um significado lexical. Manifesta um conteúdo gramatical ou
72
semânticas funcional.
Pode ser endocêntrica41 ou
exocêntrica.
Predominantemente endocêntrica.
Apresenta função semântica pré-
determinada.
Recorrentemente, os afixos atribuem a
mesma ideia a todas as formas a que
se vinculam.
Os afixos selecionam classe semântica.
Produtividade e produção
Forma conjuntos mais fechados de
palavras (é mais ad hoc.)
Forma conjuntos mais completos de
palavras (é mais regular).
Caracteriza grande número de
formas manufaturadas.
Produz palavras em série.
Quadro 6 – Fatores de distinção entre Composição e Derivação
Entre os distintos critérios que balizam o reconhecimento do processo de composição,
destacamos a identidade dos elementos que constituem os exemplos prototípicos dessas
construções, o radical e a palavra. Esses conceitos, assim como o de composição, são complexos e
discutíveis no que se refere a definições e fronteiras. Para ilustrar os diferentes aspectos pelos quais
podem ser observados, serão elencadas as definições de radical propostas por Mattoso Camara
([1977] 1981), Rocha Lima ([1972] 2000), Melo (1978), Cunha e Cintra (1985), Bechara (2000) e a
de palavra proposta por Basilio (2000).
Radical, conforme Bechara (2000, p. 335), “é o núcleo onde repousa a significação externa
da palavra, isto é, relacionada com o mundo em que vivemos”. Para Rocha Lima ([1972] 2000, p.
193) “é o morfema que funciona como o segmento lexical da palavra, opondo-se ao segmento que
lhe assinala (...) as flexões e a derivação.” Cunha e Cintra (1985, p. 78) afirmam que “ao que
chamamos até agora MORFEMA LEXICAL42 dá-se tradicionalmente o nome de RADICAL. É o
41 Os termos endocêntrico e exocêntrico são assumidos, de acordo com os conceitos propostos por Sandmann (1992).
Os compostos endocêntricos são aqueles em que o significado é motivado, completa ou parcialmente, pelo significado
das bases, em peixe-agulha, apenas a palavra agulha aciona um sentido metafórico, já peixe mantém uma relação direta
com o referente. Os compostos exocêntricos são aqueles em que o significado é construído por meio de metáfora ou
metonímia, a exemplo de viúva negra (aranha) e de chapa-branca (automóvel oficial), metáfora e metonímia,
respectivamente.
42 “Os morfemas lexicais têm significação externa, porque referente a fatos do mundo extralinguístico, aos símbolos
básicos de tudo o que os falantes distinguem na realidade objetiva ou subjetiva” (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 76).
73
radical que irmana as palavras da mesma família e lhes transmite uma base comum de
significação.”
Melo (1978, p. 48-49) define raiz como “elemento nuclear que contém a ideia central”, “o
elemento último, irredutível e comum a todo um grupo de palavras” e iguala-o ao termo base. Já
radical “é a parte do vocábulo destituída das desinências”, sufixos ou a terminação (termo usado
pelo autor para desinência de gênero e vogais temáticas nominais), “nas palavras desprovidas de
afixos, ditas primitivas, o radical coincide com a raiz”.
Mattoso Camara ([1977] 1981, p. 205) entende radical como “a parte lexical de um
vocábulo, que se opõe à parte correspondente à flexão externa, a que se liga ou não pelo índice
temático”. O autor distingue dois tipos de radicais, o primário, em que há apenas o semantema,
confundindo-se com a raiz, e o secundário, que resulta da derivação ou da composição –
identificado por meio da análise morfotática dos constituintes. Para o autor (op. cit.), raiz,
sincronicamente, é o semantema43 – “parte básica da estrutura das palavras” - e, diacronicamente, é
o “segmento fônico originário correspondente a um semantema do indo-europeu”.
Percebe-se, nas definições acima, que há alguns aspectos merecedores de destaque: há
conceitos de natureza, exclusivamente, linguística e há outros referentes a fatores extralinguísticos,
pontuando a relação entre palavra e referente; os critérios morfológicos (destituído de desinência) e
semânticos (em que repousa a significação) são norteadores na delimitação do conceito; no entanto,
o termo raiz, originalmente, de viés diacrônico, confunde-se, em algumas propostas, com o termo
radical, por serem ambos formas mínimas morfológicas, sendo este de caráter sincrônico.
Outra questão que se levanta é a inserção, no quadro acima, dos radicais entre as unidades
que constituem os compostos prototípicos, uma vez que os radicais, em Português, são formadores
43 “O semantema - dá-se este nome ao elemento formal que simboliza na língua o ambiente biossocial em que ela
funciona.” (MATTOSO CAMARA, 1977, p. 215).
74
de compostos neoclássicos, de recomposição e não de compostos vernaculares; para estes, a palavra
é a base.
Basilio (2000, p. 9) afirma que o “conceito de palavra é de grande dificuldade em
morfologia”. Reconhecida até o início do século XIX como forma mínima, deixa de ser unidade
relevante da estrutura da língua a partir dos estudos da morfologia derivacional, quando os
morfemas se tornam as unidades básicas. Todavia, a morfologia depende do conceito de palavra,
uma vez que os processos morfológicos giram em torno dela, de acordo com a autora (op. cit.).
Basilio (2000) assevera que os conceitos de forma presa e forma livre, propostos por Bloomfield,
distinguem palavra (forma livre) dos morfemas presos, radicais, afixos ou clíticos (formas presas) e
dos sintagmas oracionais, que podem conter mais de uma forma livre, tornando a palavra a unidade
mínima do enunciado. Portanto, “a palavra é a forma livre mínima: uma forma que pode ocorrer
isoladamente, por si só constituindo um enunciado, e não podendo ser totalmente subdividida em
formas livres” (BASILIO, 2000, p. 10). No entanto, a autora (2000, p. 11) ressalta que essa
definição esbarra no conceito de palavras compostas: se palavras são formas mínimas, como
equacionar a formação constituída por mais de uma palavra?
Os problemas na definição de palavra, de acordo com Basilio (2000, p. 11), refletem-se
sobre a conceituação de palavra composta. A autora adota o conceito de palavra como unidade
lexical e, consequentemente, de composto “como conjuntos de palavras que funcionam
lexicalmente como uma palavra só” (BASILIO, op .cit.). Basilio ([2004] 2006, p. 13-18) afirma que
a problemática em torno de palavra é a tentativa de enquadrar o conceito em uma das categorias
(fonológica, gráfica, morfológica, sintática, pragmática) como elemento preciso, ao passo que
deveriam ser considerados os diversos enfoques.
75
Devido a essa imprecisão classificatória, Ralli (2008a, p. 150) propõe que as categorias
morfológicas, tais como palavras, radicais e afixos, não sejam separadas radicalmente, mas sejam
colocadas num continuum, afixo – radicais presos – radicais.
Na próxima seção, serão expostas as fundamentações teóricas de cunho morfológico que
orientam esta pesquisa. Será discutida a proposta do continuum composição-derivação e serão
analisados os formativos agro- e agri- a partir de critérios apresentados por Gonçalves (2011a, p.
68) e Gonçalves e Andrade (2012, p. 122-123). Os critérios auxiliam no reconhecimento de
estruturas compostas e derivadas prototípicas. A apreciação dos formativos por meio de um
conjunto pré-determinado de características é pertinente, uma vez que as gramaticas normativas
incluem a composição neoclássica entre os compostos do vernáculo.
3.2. Análise dos Formativos Agro- e Agri-
O corpus analisado nesta pesquisa é formado por 101 dados dos quais 13 são constituídos
por agri- e 88 são por agro-. A tabulação dos dados está registrada no anexo 1 e as acepções dos
vocábulos, no anexo 2.
A partir dos critérios propostos por Gonçalves (2011a, p.68) e Gonçalves e Andrade (2012,
p. 122-123), observou-se que, nas 87 construções constituídas por agro-, o formativo funciona
como base presa (agrogestão, agroecoturismo, agroaçucareiro)44, o mesmo comportamento foi
observado nas 13 ocorrências com agri- (agricultar, agricultável). Há apenas 2 ocorrências em que
agro- comporta-se como forma livre: na campanha publicitária “Sou agro”, lançada na mídia entre
2010/2011, e num texto do jornal Folha de São de Paulo (1994) – “A transferência de recurso de o
44 As formas dicionarizadas constituídas por agro-, agri- e agric(o)- arroladas tanto no Houaiss quanto no Aurélio
apresentam grafia uniforme e a escrita é aglutinada. No entanto, os verbetes encontrados no Google que ainda não estão
dicionarizados não apresentam padronização em relação (a) ao emprego ou não do hífen e (b) à escrita aglutinada ou
não. Em função dessas distinções, optamos por uniformizar a grafia, não utilizando o hífen.
76
agro para o financeiro”. No entanto, o escasso uso de agro- como forma livre não permite
classificá-lo como unidade autônoma, já que não há notícias de outras ocorrências, e não há
registros de frequência de uso para configurar um processo de mudança, embora esses usos
corroborem a mobilidade do formativo em um possível continuum forma presa-forma livre.
Há dados em que a etimologia interfere de maneira relevante na análise, como em
agricultura, agrimensor, agrícola, formados no Latim, ou agrônomo (άγρονόμος) e agronomia
(άγρονομία), constituídos no Grego, porém com entrada na língua via empréstimo do Francês. Se
considerados empréstimos, uma vez que não foram constituídos no vernáculo, não são passíveis de
análises, mas essa opção não é simples, pois o Português é uma língua neolatina e muitos afixos do
Latim foram assimilados pelo Português, a exemplo -ario < -arium; palavras foram incorporadas ao
léxico (lat. status> port. status45), e deve-se ressaltar que os processos de formação de palavras do
Latim remanescem no vernáculo, tornando alguns vocábulos acessíveis à morfologia da língua.
No caso das palavras agrícola, agrônomo e agronomia, embora os elementos à direita não
sejam tão transparentes, pela menor frequência de uso, é possível reconhecê-los por meio da
comparação com outros vocábulos na língua, a exemplo de vinícola, gastrônomo, economia,
respectivamente. As semelhanças estruturais e lexicais que aproximam essas palavras levam-nos a
analisar os dados como compostos neoclássicos, a fim de estabelecer semelhanças e diferenças entre
as composições neoclássicas e as composições do vernáculo. Lüdeling (2006, p. 580) afirma que a
noção de 'neoclássico' não é simplesmente uma noção etimológica. Em primeiro lugar, segundo a
autora (op. cit.), não se pode esperar que os falantes tenham conhecimento etimológico. Além disso,
muitas vezes é difícil determinar a origem de um elemento morfológico porque muitos entram para
uma língua através de outras. Mas a rede de associações (BYBEE, 2010) permite identificar os
constituintes da construção.
45 cf. VIARO, M..E. Etimologia. São Paulo: Contexto, 2014, p. 114.
77
Entre os critérios utilizados por Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012) para
distinção entre radicais e afixos está a seleção da categoria lexical do constituinte a que se adjunge,
característica própria dos afixos. As palavras que compõem o corpus têm a função de nomear ou de
caracterizar. Essas funções resultam das construções em que o formativo agro- se adjunge a
lexemas pertencentes a uma das seguintes categorias morfológicas: substantivo ou adjetivo. Esse
comportamento assemelha agro- aos prefixos, visto que não muda a categoria da palavra da base,
como se observa nos exemplos a seguir:
1) agrofloresta (substantivo) = agro- (formativo) + floresta (substantivo).
2) agropastoril (adjetivo) = agro- (formativo) + pastoril (adjetivo)
Outra questão que vale ser ressaltada é a de que das 87 formações com agro-, em 73, o
formativo combina-se com formas de livre curso na língua, como agrobanditismo, agromineral,
agropesca; em 15 casos, coaduna-se a outros radicais eruditos, entre eles: -metro (agrômetro), -
logo46 (agrólogo), -grafo (agrógrafo) e -logia (agrologia), -grafia (agrografia), que, de acordo com
as análises feitas por Rondinini (2009) e Gonçalves (2011a), são formativos que admitem uma
revisão dos seus estatutos, uma vez que apresentam comportamento semelhante ao de sufixos.
Às formas agrólogo e agrógrafo, agrega-se o sufixo -ico, formador de adjetivo a partir de
substantivos, gerando agrológico e agrográfico. O sufixo -ico adicionou-se à agronomia e à
agronometria, formando agronômico e agronométrico. Em agronomando (estudante de agronomia
com formatura iminente), observa-se a união de agrônomo ao sufixo -ndo, próprio dos gerúndios,
em analogia à palavra graduando. Bauer (1998, p. 408), ao estudar o caso dos compostos em inglês,
46 “Os exemplos fornecidos por Basilio corroboram a ideia de que sequências como -(o)logia e -(o)grafia, denominadas
formas combinatórias finais (BAUER, 1988), talvez, não sejam constituídas de apenas um, mas de dois morfemas, uma
vez que se prestam à análise morfológica adicional, e podem ser divididas em (o)log-ia e (o)graf-ia, respectivamente,
como sugerido na comparação de palavras como soci-(o)log-ia / soci-(o)lóg-ico e ginec-(o)log-ia / ginec-(o)log-ista;
geo-graf-ia / geográf- ico e tele-graf-ia / tele-graf-ista, entre outras.” (cf. ANDRADE, 2013, p. 25).
78
atenta para o caráter híbrido que essas formações adquirem no vernáculo, já que é possível
encontrá-las combinadas com afixos, a exemplo gynocidal, composto neoclássico gynocide
(“assassinato de mulheres”) mais o sufixo inglês -al (formador de adjetivo). O autor (op. cit.)
ressalta o ajuste desses compostos à língua a ponto de permitir uma derivação.
Em 6 ocorrências, o formativo anexa-se a estrangeirismos, formando hibridismos:
agroservice, agrolink, agroboy e agrofit, que foram agrupados entre as construções constituídas de
base presa + base livre, uma vez que são empréstimos usados em outras construções do Português,
como as encontradas no Google, a exemplo de “service contabilidade”, “humana service”, “Link
Estadão – Cultura Digital”, “Link Brasil apresenta óculos do Google com tecnologia de realidade
aumentada”, “motoboy”,“Fit São Paulo Academia”, “Estação Fit Academia”.
Os dados com agri-, embora poucos, apresentam diferentes peculiaridades. Há um número
reduzido de palavras, uma vez que não existem novas formações. A datação dos vocábulos varia
entre o século XV e início do século XX, de acordo com o Houaiss. Entre as 13 palavras
encontradas, 4 já existiam no Latim clássico, agricultura, agrimensor, agrimensura47 e agrícola.
Em função da rede de associação, isolamos o segundo elemento dessas construções, tomando como
referência palavras existentes na língua (cultura, mensurar) ou comparando-as a outros compostos
já existentes (vinícola, rizícola). Nos dois primeiros casos, agri- combina-se a formas livres, sendo
cultura mais transparente que mensurar, devido a sua maior frequência de uso. Já em agrícola,
agri- une-se a uma base presa e opaca, sem livre curso na língua, mas passível de ser isolada, em
razão de haver outras construções complexas com o mesmo formativo.
Em agricoindústria, ainda que preterida por agroindústria, consideramos a base à esquerda
um encurtamento de agrícola (agrico-) ao qual se agrega a base livre, indústria, sendo agri- um dos
elementos constituintes.
47 cf. “De arte Mensora”, de Sexto Julio Fontino (30 a.C. - 140 d.C.).
79
As construções formadas no Português selecionam radical e sufixo, gerando verbo e
adjetivo:
3) agricultar (verbo) = agri- (formativo) + cult- (radical) + -ar (sufixo).
4) agricultado (adjetivo) = agri- (formativo) + cult- (radical) + -ado (sufixo).
Considerando os critérios norteadores e a análise da natureza das bases, observa-se que
agro-, assim como agri-, tem as seguintes características: a) é forma presa; b) possui posição pré-
determinada, à esquerda; e c) combina-se a palavras, aproximando dos afixos e, consequentemente,
da derivação; entretanto, agro- pode unir-se a radicais eruditos, como -metro, -logo, -grafo, -logia e
-grafia, que se comportam como sufixos e, de acordo com os critérios estruturais, afixos não se
combinam entre si, o que afastaria agro- da derivação.
O próximo critério leva em conta a posição da cabeça. Em 77 ocorrências com agro-, a
cabeça está à direita, independente de os formativos a que se adjunge serem bases livres ou presas:
5) agroexportação – exportação de produtos agrícolas;
6) agroecossistema – ecossistema artificial que se estabelece em áreas agrícolas;
7) agrógrafo – especialista em agrografia;
8) agrólogo – especialista em agrologia;
Nas palavras com agri-, observa-se o mesmo comportamento:
9) agricultar – devotar-se à agricultura;
10) agrícola – aquele que cultiva a terra.
Em 2 palavras do corpus, constituídas por base presa + base livre, a cabeça está à esquerda:
11) agroaçucareiro – cultivo e industrialização da cana-de-açúcar;
12) agroalimentar – relativo à produção, processamento e embalagem de produtos
alimentares de origem agrícola, destinados ao uso humano.
Segundo Sandmann (1989, p. 123), a relação sintática própria dos compostos da língua
portuguesa é representada pela sequência DM-DT (determinado - determinante), como visto em
(11) e (12), já a relação DT-DM (determinante - determinado), presente de (5) a (10), seria
80
“influência de modelos estrangeiros bem como, possivelmente, do modelo de prefixação”. Mas vale
ressaltar que o exemplo em (10) é uma palavra latina incorporada pelo Português48.
Segundo Bennett (1913, p. 115), os compostos em Latim são formados pela união de
palavras simples. O segundo membro contém o significado essencial da composição, e o primeiro
membro funciona como um modificador do sentido. Entre as três classes de compostos gregos
arrolados por Goodwin (1900, p.194) estão os compostos determinativos e os compostos
atributivos, nos quais o primeiro elemento qualifica o segundo; portanto, esse é o padrão clássico de
composição.
Existem 7 casos em que ocorre uma relação de coordenação entre os constituintes; na
sequência, apresentamos 2 deles:
13) agroambiental– concernente à produção agrícola e ao meio ambiente;
“A Gestão Agroambiental tem como propósito ordenar as atividades desenvolvidas nas
propriedades rurais, de forma a integrar os sistemas produtivos respeitando a capacidade de
suporte do agrossistema onde está inserida (...).” (http://www.agencia.cnptia.embrapa.br)
14) agroclimatérico/agroclimático– referente à agricultura e ao clima.
“O zoneamento agroclimático age pelo conhecimento do clima relacionado aos trabalhos
na agricultura, principalmente em tempos de aquecimento global, perdas na agricultura
podem ser causadas por questões climáticas.”
(http://www.infoescola.com/geografia/zoneamento-agroclimatico)
48 A palavra agrícola, registrada no latim arcaico e clássico (De Agri cultura, de Catão, e Tibulli Elegiae, de Tibulo),
embora apareça no Corpus Inscriptionum Latinarum (http://arachne.uni-koeln.de/Tei-Viewer/cgi-
bin/teiviewer.php?manifest=BOOK-ZID1318096), fonte do latim vulgar, no Corpus Lexicográfico do Português foi
encontrada a partir do século XVII apenas em dicionário de latim-português (Prosodia in vocabularium bilingue,
Latinum, et Lusitanumdigesta) e em vocabulário (Vocabulario Portuguez e Latino), levando a inferir que nesse período
a palavra não havia sido incorporada ao léxico. No Corpus do Português, aparece a partir do XVIII com sentido hoje
corrente.Corpus Inscriptionum Latinarum. Disponível em: <http://arachne.uni-koeln.de/Tei-Viewer/cgi-
bin/teiviewer.php?manifest=BOOK-ZID1318096>.
81
Nas formações híbridas, agrofit (software para produtos agrários), agroservice (serviço de
jardinagem) e agrolink (portal de conteúdo agropecuário), agroboy (filho protegido, mimado de
latifundiários ou de empresários do ramo do agronegócio), coletadas no Google e não
dicionarizadas, a cabeça mantém-se à direita, reiterando a tendência DT-DM das construções agro-
X.
Em relação aos latinismos agrimensura e agrícola, a analogia com outras palavras da língua
(mensurar, vinícola) leva-nos a inferir que o produto tenha cabeça lexical à direita: medida das
terras e cultivo da terra, respectivamente.
Verificamos que há um número maior de formações em que o segundo elemento é uma base
livre (ex. agrocombustível) e que, na maior parte dos dados, a cabeça, tanto em construções com
agro- quanto com agri-, está à direita (ex. agrometeorologia e agricultar), fato que aproxima os
formativos à classe dos afixos; no entanto, não se pode ignorar que há palavras em que a cabeça
encontra-se à esquerda (ex. agroalimentar) e outras em que não há cabeça, pois os elementos estão
numa relação de coordenação, comportamento que remete aos radicais (ex. agroambiental).
Ainda quanto ao critério semântico, Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012)
descrevem que derivados são, predominantemente, endocêntricos, enquanto os compostos podem
ser endocêntricos ou exocêntricos. Entre as composições com agro- e agri-, as formas com registros
mais antigos na Língua Portuguesa, tais como agricultura (séc. XV)49, agrícola (1635) e agrônomo
(1818), o sentido advém de suas bases; portanto, são endocêntricas. Já nas novas formações, o
significado de agro- é construído por meio de uma metonímia, como em agroambiental (agro
significa produção agrícola e ambiental significa meio ambiente), sendo, portanto, exocêntrico,
comportamento que aproxima, mais uma vez o formativo da composição.
49 Ao lado dos vocábulos em itálico, estão as datas de registro do vocábulo na língua, segundo o Dicionário Eletrônico
Houaiss da Língua Portuguesa. O Breve Diccionario Etimológico de la Lengua Castellana, de Joan Corominas
(1961[1998]), registra agricultura com entrada no Espanhol em 1440; agrícola em 1535 e agrónomo em 1832.
82
Entretanto, há casos em que agro- tem o sentido, relativamente, esvaziado, dependendo da
base à sua direita, a exemplo de agroboy (playboy filho de latifundiário), no qual agro- significa
latifundiário. Outro exemplo é agroquímico (especialista em agroquímica), em que agro- significa
agroquímica. Fato que remete aos afixos, uma vez que o significado desses é instanciado nas
construções, não evocando um referente direto como fazem as formas livres, ainda que estas
também tenham o seu significado instanciado nas construções sintáticas. Conforme observa
Langacker (2008, p. 245), os esquemas de construção fornecem informações essenciais sobre a
forma como as concepções de componentes se ajustam e como o seu conteúdo é integrado,
influenciando na interpretação dos componentes dos itens lexicais e contribuindo para o seu próprio
conteúdo conceitual.
Do ponto de vista fonológico, faltou um contato prévio com uma comunidade de fala, a fim
de observar as possíveis variações de pronúncia das construções com agro-, já que novas palavras
com esse formativo têm sido criadas. Todavia, nota-se que o acento pode variar nessas construções,
realizando-se como uma palavra prosódica apenas, a exemplo de agrônomo – em que a vogal
fronteiriça -o- realiza-se como tônica, e pode realizar-se também em duas palavras prosódicas, tal
como ‘agr[u]negócio’ e ‘agr[u]exportação’, nas quais a vogal fronteiriça -o-, em posição postônica,
passa por um alteamento, ratificando a hipótese de que a primeira base é fonologicamente
independente, uma vez que a vogal final enquadra-se na regra de neutralização. O comportamento
fonológico corrobora o que vem sendo descrito.
As palavras criadas com agro-, como já afirmado acima, remetem ao significado de campo
ou de produção agrícola; estão relacionadas a esse domínio cognitivo, limitando a sua aplicação, de
acordo com os critérios sobre produtividade de Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012).
Com isso, formam um conjunto mais fechado de palavras, como as composições vocabulares mais
prototípicas.
83
Considerando os aspectos analisados nesta seção, o formativo agro- posiciona-se entre os
radicais e os afixos, ratificando a proposta de Ralli (2008 a, p.15) e de Andrade (2013) na
constituição de um continuum radical-afixo. O enquadramento das construções com agro- na
composição poderia ser respaldado pelo conceito de semelhança de família, de Wittgenstein (1953),
uma vez que a categoria pode ser estendida e novos membros podem ser introduzidos, desde que se
assemelhe a membros constituintes. Os limites entre as categorias não são fixos; são artificiais e
podem ser ampliados, de acordo com os propósitos. No entanto, o formativo apresenta
características que o aproxima dos afixos, o que levaria a classificar o processo como derivação.
Percebe-se que, mesmo que estes processos, composição e derivação, tivessem o sentido ampliado,
seria difícil rotular o elemento constitutivo como radical ou afixo.
Em função do comportamento variante dos elementos neoclássicos, muitas têm sido as
classificações recebidas por eles, como destacam Petropoulou (2009) e Gonçalves (2011b): raízes
clássicas; radicais presos; raízes de fronteira; semiafixos; pseudoafixos; afixos; afixoides; formas
combinatórias iniciais/finais; confixos; arqueoconstituintes, sinalizando que tanto os formativos
quanto o(s) processo(s) que envolvem os neoclássicos possuem identidade híbrida.
Os critérios utilizados para identificar composição e derivação prototípicas parecem reforçar
as características desviantes dos hoje denominados pela literatura de compostos neoclássicos. No
próximo capítulo, propõe-se fazer uma revisão literária com a descrição do processo e dos
elementos neoclássicos em diferentes línguas.
84
4. COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS: REVISÃO LITERÁRIA
Diferentes autores têm se voltado para o estudo do processo de formação de palavras
constituído por radicais de origem grega e latina; no entanto, como um caleidoscópio, as
construções neoclássicas produzem uma combinação diferente a cada movimento, sendo difícil
classificá-las nos moldes aristotélicos, mas são passíveis de sistematização no modelo de
classificação por protótipos, pois, como argumenta Bybee (2010, p. 19), a similaridade entre os
membros marginais facilita a identificação dos membros de uma categoria.
A seguir, é feito um percurso por diferentes autores e, embora esses adotem perspectivas
teóricas distintas, pretende-se examinar as distinções e similaridades na descrição dessas
construções nas línguas observadas. Cotejamos, sempre que pertinente, com exemplos do Português
analisados nesta pesquisa e com exemplos apresentados por Gonçalves (2011a, 2011b).
4.1. Ralli (2008 a)
Ralli (2008 a) aborda as formações deverbais no Grego Moderno. Essas construções
consistem em um radical e um elemento preso. A autora discute: a) a classificação dessas
formações; b) se elas são derivadas ou compostas; c) sua estrutura interna; d) as restrições
específicas que regem a sua formação; e e) a questão da produtividade.
Entre os fatores para os quais Ralli (op. cit.) chama a atenção, destacamos os listados em
“c”, “d” e “e”. As formações deverbais em Grego Moderno apresentam uma quantidade
considerável de construções constituídas de radicais oriundos do Grego Antigo, suscitando
discussões sobre a natureza dessas formações, se são vernaculares ou não. Ralli (2008 a) salienta
que essas formações diferem de compostos produtivos regulares apenas no que diz respeito à
natureza dos seus constituintes presos, pois as propriedades estruturais da base são as mesmas:
85
forma e transparência de significado, padrão de formação [radical radical], elemento-cabeça à
direita, marcador de composto -o-, preenchimento interno do papel teta50. Portanto, apesar de a
maioria ter sido inventada, a fim de cumprir algumas necessidades específicas (para expressar
conceitos tecnológicos e científicos), e, apesar de seus constituintes serem radicais presos e
pertencerem a um conjunto fechado, são construções totalmente integradas ao sistema de formação
de compostos do Grego Moderno. Nesse ponto, esse tipo de composto diverge de formações
internacionais semelhantes, que diferem estruturalmente da composição nativa, como no Inglês.
No que diz respeito à transparência, Ralli (2008a) defende que, embora os falantes não
tenham necessariamente conhecimento etimológico, a maioria das criações que surge no uso com
elementos presos não é de palavras fossilizadas. Para a maioria delas, há transparência semântica e
estrutural, pois são criadas produtivamente hoje, não apenas na ciência e na tecnologia, mas
também na linguagem corrente. Ainda que, no Grego Moderno, essas construções obedeçam a
algumas restrições específicas que não se aplicam aos compostos com itens vernaculares, um
grande número pertence a itens comuns do vocabulário.
Outra questão relevante é a produtividade. A autora (op.cit.) contrapõe-se ao conceito de
produtividade que se aplica apenas a processos nos quais novas palavras são criadas
espontaneamente e nos quais as bases não se submetem a restrições de combinabilidade, pois essa
perspectiva exclui um número considerável de línguas em que os itens que são aprendidos não se
combinam livremente com qualquer tipo de base comum nativa. Ralli (2008ª) afirma também que
as palavras neoclássicas são produtivas e que, em Grego Moderno e em Inglês, os radicais
neoclássicos adjungem-se a bases nativas, embora haja casos em que aqueles se agreguem apenas
50 Segundo Ralli (2008 a, p.156), os radicais advindos do Grego Antigo impõem uma estrutura argumental às suas
construções, que é herdada da base do verbo subjacente.O substantivo do lado esquerdo das construções de que
participam pode satisfazer um de seus papéis teta, geralmente o tema, mas também outras funções, como locativo, ou
um objetivo.
86
com radicais do Grego Antigo.
Em função dos diferentes comportamentos dos radicais neoclássicos, a autora (2008 a)
defende uma gradação para medir a produtividade dos processos constituídos por eles, dos mais
produtivos aos menos produtivos. Ralli (2008 a) atesta que essas composições possuem
especificidades que as distinguem das formações vernaculares; entretanto, ressalta que aquelas estão
integradas ao sistema de composição da língua, sendo produtivas, embora em um grau menor que as
composições vernaculares.
4.2. Petropoulou (2009)
Petropoulou (2009) investiga a estrutura dos compostos neoclássicos em Inglês,
considerando o estatuto de seus elementos constituintes, comparando-os com compostos do Grego
Moderno. A autora defende que, nos compostos neoclássicos em Inglês, os componentes em
posição final sofrem influências das propriedades categorias da língua de origem, limitando as
combinações das quais participam.
Petropoulou (2009) observa que o assunto levanta inúmeras questões, entre elas a de
incorporação dos elementos originários do Grego Clássico e do Latim ao sistema de formação de
palavras nativas da língua em que aparecem, já que formações constituídas pelos chamados
arqueoconstituintes (GONÇALVES, 2011b) são produtivas.
A autora (op. cit.) elenca algumas das várias classificações que os formativos desses
compostos recebem: 'Raízes clássicas', '(Bound) Stems - Radicais presos', ‘Afixos’, ‘Afixoides’,
‘Formas Combinatórias (Inicial/Final), ‘Confixos’, e cada um desses termos corresponde a
diferentes análises aplicadas às construções das quais participam. Contudo, Petropoulou (2009)
argumenta que é possível identificar características comuns entres esses compostos e,
consequentemente, realizar uma descrição com o objetivo de criar generalizações.
87
Antes mesmo de descrever o que chamará de neoclássico prototípico, a autora (op.cit.)
mostra por que as classificações dadas acima aos formativos de origem clássica não são pertinentes.
Os neoclássicos constituem-se de morfemas do Grego Clássico e do Latim que, normalmente, não
têm livre curso na língua tomadora. Petropoulou (2009) destaca as exceções a essa afirmativa, pois
há formas livres, que chegaram às línguas via empréstimo, conectadas morfologicamente a esses
formativos. Um exemplo dado pela autora (2009) é o da palavra history (história) e do elemento
histori(o) que aparece no composto historiography (historiografia), os quais, embora tenham a
mesma origem, apresentam distribuição diferente na língua.
Segundo Petropoulou (2009), outro fator relevante é a classificação do termo como
“morfema”, já que essa escolha conduz a uma perspectiva. De acordo com essa orientação, os
elementos neoclássicos poderiam ser reconhecidos como afixos, sendo divididos entre prefixos
(micro-, hydro-, bio-) e sufixos (-(o)logy, -graphic, -logic, -pathic), ou raízes de fronteira, o que
daria origem a um novo conjunto de afixos, a exemplo de -y, -ic, -ical, -er, que se adjungem ao
radical preso graph. Conforme a autora (2009), o termo forma combinatória ou confixo (no
Francês) abrange elementos com características totalmente diferentes, tais como econo-, cyber-,
bio-, Euro-, formas combinatórias iniciais e -nography, -(a)holic, -(a)thon, -gate, -phobia e -logy,
formas combinatórias finais.
Petropoulou (2009) apresenta os problemas que envolvem uma dessas escolhas. O estatuto
de afixo, logo rejeitado, traz alguns problemas, uma vez que: a) afixo não pode ser prefixo e sufixo
ao mesmo tempo, como em hydrophobe vs. phobia; b) afixos não se combinam entre si, como
ocorreria, entre outros exemplos, em biography, caso bio- e -graphy fossem classificados como
afixos, formando uma palavra somente com afixos; e c) esses formativos possuem maior densidade
semântica que os afixos. Portanto, assume posição análoga à de Bauer (1988), discutida a seguir,
em 4.5.
88
Semelhanças relacionadas ao posicionamento dos formativos nas construções são percebidas
no Português. Se a posição sistemática fosse o fator para classificar os elementos neoclássicos,
agro-, agri-, bio-, eco-, petr(o)- seriam classificados categoricamente como prefixos; por sua vez, -
latra e -metro seriam sufixos. Todavia, esse fator não é suficiente, embora se reconheça a similitude
entre esses elementos e os afixos. A categorização como afixo sujeitaria os elementos neoclássicos
do Português às mesmas restrições que as elencadas por Petropolou (2009): em “a” (métrico;
centímetro), “b” (agrômetro, geógrafo) e “c”, haja vista a extensionalidade de agro- nas novas
formações.
Para a autora (2009), a classificação ‘forma combinatória’ abrange elementos distintos,
encontrados em vários contextos morfológicos, tais como as formas decorrentes de cruzamentos ou
de truncamentos vocabulares, a exemplo de Euro- ou -(a)holic. A possibilidade de os constituintes
dos compostos neoclássicos estabelecerem diferentes relações entre si, uma vez que se combinam
uns com os outros e também com formas livres nativas (por exemplo, microcomputer,
filmography), aproxima-os das formas combinatórias. Isso poderia ser um impedimento, de acordo
com Petropoulou (2009), para formação de uma categoria própria, peculiar, para a composição
neoclássica.
Dessa maneira, Petropoulou (2009) sugere, em termos categoriais, que os elementos
neoclássicos posicionam-se em algum lugar entre as palavras nativas e as não-nativas, entre as
simples e as complexas, as truncadas e as não-truncadas, flutuando entre categorias. Portanto, forma
combinatória seria uma classificação mais precisa, pois abarca todos os contextos em que o
elemento possa aparecer. Contudo, Petropoulou (2009) salienta que uma grande quantidade de
palavras constituídas com elementos de línguas clássicas compartilham características muito
semelhantes, podendo, por isso, formar uma classe própria, a de compostos neoclássicos. O critério
89
para pertencer a essa classe pode ser a gradação com que determinada palavra apresenta elementos
de origem clássica, tendo como referência o protótipo da composição neoclássica.
A autora assume como composição neoclássica prototípica aquela em há pelo menos duas
raízes de origem grega ou latina, uma das quais podendo ser livre. A composição ao ser submetida
ao processo de derivação, o resultado será um composto neoclássico derivado (biolog+y = biology;
geograph+er = geographer). Com relação ao status morfológico, nessa análise, os elementos de
compostos neoclássicos são considerados radicais presos, ao invés de afixos ou formas
combinatórias. A abordagem incorpora duas características muito importantes: a) o reconhecimento
de um status nominal para os radicais presos, uma vez que há compostos neoclássicos que
pertencem à categoria nominal, sem conter qualquer sufixo nominalizador e b) a existência de um
elemento de ligação (-o- ou -i-) entre os elementos combinados, originalmente, uma vogal temática
que passou a marcador composicional na língua de procedência, embora essas características não
sejam consensuais.
Antes de descrever os compostos neoclássicos em Grego Moderno, Petropoulou (2009)
ressalta que os constituintes dos compostos neoclássicos prototípicos têm ultrapassado os limites da
composição neoclássica prototípica, aparecendo em novos contextos e desempenhando novos
papéis. No entanto, a autora (op. cit.) presume que os critérios acima sejam suficientes para dar
conta da maior parte dos chamados compostos neoclássicos em Inglês e em Grego Moderno.
Igualmente, o mesmo pode ser notado em nossos dados, a exemplo de agromoda,
agroportal, agroservice, agroboy, agrotv, em que a forma agro-, um neoclássico, combina-se com
vários tipos de bases: palavras nativas, empréstimos já consagrados pelos uso e siglas, formas que,
em nossa análise, podem ser chamadas de compostos neoclássicos não prototípicos.
A autora (op.cit.) define os compostos neoclássicos como internacionalismos. Termo usado
mais como uma descrição pragmática das palavras morfofonologicamente semelhantes, existentes
90
em diferentes línguas e formadas por elementos oriundos do Grego Clássico e do Latim. Essas
palavras expressam o mesmo conceito independentemente do idioma. Na maioria das línguas
europeias, esses radicais presos foram reconhecidos como elementos aprendidos que ressurgiram do
passado, por pressão de determinadas necessidades sociais e culturais comuns a diversas nações
heterofalantes, especialmente em decorrência da necessidade de expressar conceitos científicos.
Petropoulou (2009), em seguida, apresenta duas possíveis classificações dadas a esses
constituintes em Grego Moderno: sufixo ou radical preso. Adotando a classificação de radical
preso, a autora traça um paralelo entre compostos neoclássicos em Inglês e em Grego Moderno, a
fim de identificar características estruturais e semânticas dos primeiros. Mostra que os componentes
finais dos compostos, ou seja, os radicais presos de origem clássica, dependendo da categoria
morfológica de seu radical, podem ter características verbais ou nominais, o que impõe certas
limitações nas combinações e determina a estrutura dos compostos que formam. Identifica como
compostos neoclássicos prototípicos em Inglês: os compostos neoclássicos deverbais, constituídos
por radicais presos com propriedades verbais em posição final, a exemplo de: -vorus em
herbivorous (aquele que se alimenta de erva), e compostos neoclássicos determinativos –
atributivos ou subordinativos, constituídos por radicais presos com características nominais em
posição final, dividindo-os em compostos endocêntricos, como thermometer (instrumento de
medição de temperatura), e exocêntricos, por exemplo astronaut (aquele que viaja pelo o espaço).
Portanto, para a autora (2009), compostos neoclássicos prototípicos são palavras
constituídas apenas por elementos de origem clássica, em contraste com "formações híbridas", que
são combinações de elementos nativos e clássicos, como queenomania (obsessão pela banda
Queen) ou microcomputer (microcomputador)
91
4.3. Panocová (2012)
Panocová (2012), à semelhança de Petropoulou (2009), tem como foco as propriedades
morfológicas das formações neoclássicas em Inglês, mas diferentemente desta autora, não
estabelece comparações dessas formações em diferentes línguas. Em suma, evidencia o estatuto
morfológico dos constituintes neoclássicos como responsável pelo reconhecimento do processo
morfológico que subjaz a essas construções. Segundo a autora (2012), as respostas para essas
questões resultam do referencial teórico adotado. Panocová (2012) utiliza o tratamento dado pela
Fonologia Lexical de Kiparsky (1982) e compara-o com o Modelo Onomasiológico de Formação
de Palavras de Štekauer (1998).
Para a autora, formações neoclássicas são aquelas que consistem de elementos gregos ou
latinos que, normalmente, não ocorrem como itens independentes. Muitas destas palavras
morfologicamente complexas não têm equivalentes no vocabulário do Grego Clássico ou do Latim,
por serem frutos dos avanços científicos da modernidade, segundo Panocová (2012), o que torna o
processo produtivo.
Panocová (2012) assevera que os diferentes quadros teóricos, que orientam as pesquisas
sobre o assunto, têm levado a distintas respostas acerca do estatuto morfológico dos constituintes
das formações neoclássicas: formas combinatórias, afixos, radicais. Portanto, ainda não há uma
resposta consensual sobre o assunto.
A autora (2012) compara dois modelos teóricos: a Fonologia Lexical e a Teoria
Onomasiológica de Formação de Palavras. A primeira baseia-se na suposição de que as regras
morfológicas e fonológicas são encontradas no léxico, no qual estão hierarquicamente organizadas
em níveis. Cada nível pode ser caracterizado por um conjunto particular de regras morfológicas e
fonológicas. No entanto, observa que essa abordagem apresenta limitações. O segundo modelo,
92
adotado pela autora, a Teoria Onomasiológica de Formação de Palavras, preconiza os seguintes
princípios:
a) a formação de palavra é um componente independente, separado do componente lexical
e do sintático;
b) as regras de formação de palavras são consideradas produtivas e regulares;
c) a teoria onomasiológica de formação de palavras baseia-se no léxico;
d) a natureza bilateral de signos linguísticos é tônica;
e) a comunidade de fala desempenha um papel crucial no processo de nomeação;
f) a terminologia tradicional dos processos de formação de palavras, tais como a
prefixação, sufixação, composição, cruzamento vocabular, etc. é rejeitada e substituída
pelos chamados tipos onomasiológicos;
g) a noção de base em formação de palavras é central.
Panocová (2012) utiliza os dois modelos para a análise da formação neoclássica, tomando
como exemplo a palavra colonoscopic, e conclui que a abordagem onomasiológica oferece mais
vantagens quando comparada à fonologia lexical. No primeiro, o estatuto do constituinte
neoclássico é irrelevante para análise e, consequentemente, não se faz uma distinção entre os
processos (composição e derivação), ou mesmo da combinação de ambos, sendo nomeadas as
formações neoclássicas de tipos onomasiológicos. Já na Fonologia Lexical, a análise de
colonoscopic depende da determinação do status de elementos neoclássicos e há uma definição
precisa do processo de formação de palavras.
Segundo a autora, o modelo de Štekauer não precisa introduzir quaisquer outros princípios
para explicar a formação neoclássica; já no modelo de Kiparsky, é necessário fazê-lo para explicá-la
a formação neoclássica e, nem mesmo, outras modificações adicionais cobrem todos os casos. Com
base na análise, Panocová (2012) conclui que o modelo onomasiológico de formação de palavras de
Štekauer parece ser mais vantajoso para descrever a formação de palavras neoclássicas em Inglês,
pois há um componente separado para a formação de palavras, para o léxico e para a sintaxe. Esses
três componentes estão correlacionados e, juntos, constituem a linguagem. O componente de
93
formação de palavras consiste em níveis semânticos, onomasiológicos, onomatológicos e
fonológicos que preenchem a lacuna entre significado e forma.
4.4. Lüdeling (2006)
Lüdeling (2006) aborda aspectos já discutidos nos demais artigos apresentados
anteriormente, tais como o conceito de neoclássico, o estatuto dos elementos que constituem a
formação neoclássica e a produtividade. Ainda que brevemente, destaca questões históricas
relevantes para análise dessas formações, principalmente, em línguas que tiveram o Grego e/ou
Latim como língua mãe.
Lüdeling (2006) define formações neoclássicas, considerando a origem dos elementos
constituintes, ou seja, uma formação de palavras com elementos de origem grega ou latina. A autora
(op. cit.) destaca que, nas línguas europeias, a formação de palavras neoclássicas é encontrada 'ao
lado' da formação de palavras nativas. Nessas línguas, os elementos neoclássicos combinam-se
produtivamente uns com os outros (cf. automobile, morphology, hydrophobic) e com elementos
nativos. Esse também é o caso do Português, pois as formas neoclássicas podem, produtivamente,
combinar-se entre si, como a recente criação ortorexia (distúrbio alimentar caracterizado pelo
consumo compulsivo de alimentos considerados adequados), ou com elementos vernáculos, a
exemplo de hidromassagem (massagem à base de água).
Lüdeling (2006) destaca a importância política do Grego (parcialmente), e do Latim antes
mesmo do surgimento dos Estados. O Latim foi uma língua franca europeia e o idioma oficial em
muitos países por muitos séculos. Isso justifica a presença de elementos gregos e latinos nas línguas
europeias. Alguns estão desde a formação das línguas nacionais, sendo assimilados fonológica e
morfologicamente, o que dificulta a distinção com as palavras do vernáculo, a exemplo do inglês
market (mercado) do Latim mercatus, citado pela autora. Lüdeling (2006) assinala que tais
94
elementos se comportam, na formação de palavras, apenas como elementos nativos. No entanto, os
constituintes das formações neoclássicas são elementos não totalmente assimilados em diferentes
línguas europeias.
A autora (op. cit.) ressalta que essas formações tornaram-se produtivas, nos séculos XVII e
XVIII, em muitos idiomas europeus. Na constituição das línguas vernáculas, houve um movimento
de afastamento do Latim como língua franca; contudo, a evolução das ciências promoveu a criação
de termos científicos com base em elementos clássicos. Portanto, segundo Lüdeling (2006),
palavras neoclássicas não são meros empréstimos, pois são formadas por novos mecanismos que
muitas vezes diferem da formação de palavras com radicais nativos. Como há muitos elementos,
palavras e mecanismos que são semelhantes em idiomas diferentes (às vezes chamados de
internacionalismos), há uma série de perguntas comuns que precisam ser esclarecidas pela teoria
morfológica. Estas dizem respeito ao status de elementos neoclássicos, à natureza de sua
combinação e à questão da sua produtividade.
A dificuldade pontuada pela autora a respeito da distinção entre formações venaculares e
neoclássicas, nota-se na palavra agricultura: a) termo técnico voltado para contexto específico; b)
mecanismo de formação de palavras diferentes da do vernáculo, e c) semelhança morfofonológica
entre palavras em diferentes línguas: agriculture (Francês); agricultura (Espanhol); agriculture
(Inglês). No entanto, a descrição feita no capítulo 2 mostra que a palavra foi herdada pelo Português
do Latim.
As atenções da autora voltam-se para aspectos morfológicos: o estatuto dos elementos
neoclássicos; a diferença entre esses e os elementos nativos; a classificação dos elementos
neoclássicos e a categorização do processo de formação. Lüdeling (op. cit.) observa que a noção de
'neoclássico' não é simplesmente uma noção etimológica e destaca as seguintes questões
envolvidas: a) o conhecimento ou desconhecimento etimológico do falante; e b) a entrada desses
95
elementos na língua, que pode se dar via direta, tomado da língua de origem, ou indireta, entrando
para uma língua através de outras, como é o caso de agronomia, vinda do Francês para o Português,
visto na seção 3.2.
Logo, 'neoclássico' (ou 'latino' ou 'aprendido') refere-se a propriedades estruturais. Essas
diferenças estruturais podem ser fonológicas, morfológicas e morfofonológicas, ortográficas e,
ainda, referentes ao uso, mas essas propriedades contribuem apenas para identificar características
comuns dessas formações. Segundo a autora, as peculiaridades estruturais não conduzem a
categorias definidas, mas têm de ser vistas como dispositivo propulsor de classes similares.
Persistindo, assim, a dificuldade em classificar, de forma imperativa, tais elementos como afixos ou
radicais, Lüdeling ressalta que, semanticamente, eles se comportam como radicais, mas muitas
vezes só aparecem como formas presas. Exemplos disso são psych(o)-, hydr(o)-, morph(o)-, -
(o)phob, -(o)log. O mesmo se observa em todos os correspondentes portugueses dessas formas
oriundas do Grego Clássico.
Em seguida, a autora elenca as possíveis classificações que os elementos neoclássicos
podem ter devido ao seu comportamento flutuante: formativos, formas combinatórias ou confixos.
Lüdeling propõe como critério de identificação o traço preso e a seleção, descartando a distinção
radical-afixo, sendo, portanto, elementos neoclássicos os constituintes presos e os que não
selecionam elementos. Por conta disso, a autora apresenta outra possibilidade de classificação
desses elementos como formas truncadas ou abreviadas e não como elementos completos, cita o
exemplo de gastroguide (guia gastronômico), em que gastro- representa gastronomy
(gastronomia). O mesmo raciocínio valeria para a formação ‘agroboy’, em que -boy remete a
playboy, (“indivíduo rico ou que ostenta riqueza, geralmente ocioso e frequentemente jovem e
solteiro, e vida social intensa”) e agro-, a latifundiário (dono de grande propriedade rural), o que
torna essa formação um caso com muitas propriedades do cruzamento vocabular.
96
Lüdeling (2006) descreve os processos de formação constituídos por elementos
neoclássicos, isto é, as possíveis relações desses com outros elementos morfológicos. A autora (op.
cit.) afirma que, embora haja peculiaridades pertinentes a cada língua, em geral, essas relações
apresentam características comuns: os radicais presos combinam-se entre si, como em telephone
(exemplo da autora); adjungem-se a afixos neoclássicos, a exemplo de morphologist, e ligam-se
também a elementos do vernáculo (agrobusiness). As formações híbridas são argumentos para a
distinção entre os processos de formação de palavras neoclássicas e os processos de formação de
palavras do vernáculo. Contudo, assevera que o quadro das relações não é tão simples e salienta
que, embora existam elementos neoclássicos bastante específicos quanto às suas restrições seletivas,
há outros que se combinam facilmente com elementos nativos. No Português, há elementos que
apresentam uma quantidade significativa de construções, combinando-se com elementos nativos.
Ferreira (2010) elencou 450 construções tele-X, Vivas (2012) levantou quase mil formações com
bio-.
A autora chama a atenção para um elemento de ligação, geralmente -o-, frequente entre os
constituintes das formações neoclássicas, mas que se faz presente também em formações híbridas
do Alemão. Ela destaca a dificuldade em estabelecer a relação estrutural dessa vogal, isto é, se está
ligado à base da direita ou da esquerda.
Por fim, Lüdeling (2006) sublinha que as diferenças estruturais descritas sugerem que os
compostos neoclássicos são constituídos por um processo distinto dos demais processos formadores
de palavras do vernáculo, posição assumida pelos autores arrolados e por estudiosos que se
dedicaram à questão em Português: Caetano (2010a), Gonçalves (2011b), Tavares da Silva (2013),
Oliveira (2013) e Pires (2014), entre outros, os quais esta pesquisa corrobora.
97
4.5. Bauer (1998)
Embora tenha sido um dos primeiros a dedicar-se à questão, deixamos Bauer (1998) para
este ponto da análise justamente porque dele partiram várias das discussões previamente
apresentadas. Ele traz à discussão a classificação dos processos de formação de palavras em Inglês e
a necessidade de revisitá-los, contemplando a complexidade que os envolve, em vista de não haver
classes bem definidas, mas uma variedade de tipos que apresentam fronteiras difusas entre si. Para
analisar os processos de formação de palavras, o autor (op.cit.) propõe observá-las em um espaço
tridimensional: dimensão de palavras (1) simples-compostas; (2) nativas-estrangeiras e (3)
truncadas-não truncadas. Composição neoclássica é uma classificação dada a uma pequena seção
dentro desse espaço 3D. Há que se considerar as nuanças entre os membros periféricos e os
membros prototípicos das categorias.
Duas questões suscitaram a pesquisa de Bauer (1998): o conceito de produtividade e a
análise dos compostos neoclássicos. Embora o autor (op. cit.) restrinja suas observações ao Inglês,
ele acredita que alguns apontamentos tenham aplicação a outras línguas europeias. Bauer (op. cit.)
define os compostos do vernáculo como lexemas constituídos de dois ou mais radicais. O autor
seleciona, para efeitos de comparação com o Grego Clássico, as formações substantivo +
substantivo endocêntricas, tais como houseboat (casa flutuante), office desk (mesa de escritório).
Os elementos à direita são a cabeça, o núcleo da construção, em vários sentidos, talvez mais
obviamente na determinação das marcas flexionais de concordância para o composto como um
todo. Comportamento semelhante caracteriza o Português, uma vez que as composições de base
livre endocêntricas têm núcleo à esquerda e respondem pela informação de número: tubarões-
martelo, peixes-espada, homens-rã.
De acordo com o autor, há muitas semelhanças entre os compostos do Inglês e os do Grego
Clássico: a combinação substantivo+substantivo, embora não seja o padrão principal no Grego, é
98
um modelo conhecido, como nos exemplos elencados pelo autor, anemo-mulos (moinho de vento),
melisso-keipos (colmeia), mutki-koraks (coruja). Bauer descreve que, nas palavras com ordenação
não-marcada, modificador + cabeça, o comportamento da palavra como um todo é determinado pela
natureza morfológica e semântica da cabeça. Há, no Grego, como no Inglês, em menor proporção,
uma gama de relações de significado entre os dois elementos do composto.
Compostos neoclássicos são palavras que se estruturam com esse modelo clássico de
formação e são constituídas por elementos, em geral, gregos e, ocasionalmente, latinos. Essas
palavras não foram formadas nas línguas clássicas, mas são formações mais recentes usadas em
línguas modernas. Têm em comum o elemento-cabeça do lado direito e são endocêntricas. Bauer
cita, entre outros exemplos, geology – study of the earth (estudo da Terra), photograph - drawing
made by light (imagem pela ação da luz).
Comportamento similar identifica-se entre os dados com agri- e agro-, destacando-se o
último, por ser uma forma produtiva. Agro- funciona, na maioria dos casos, como modificador, à
esquerda, seguindo o padrão clássico, e a cabeça à direita. A cabeça determina a categoria
morfológica e o significado essencial do produto, como em agroecossitema51 –– modificador +
cabeça (substantivo) = substantivo. Há poucos casos de cabeça à esquerda, a exemplo de
agroaçucareiro52 – formativo neoclássico + modificador (adjetivo) = adjetivo; no entanto, a
categorização é determinada pelo modificador. Por fim, registram-se, entre os dados, exemplos de
coordenação, como em agroambiental – concernente à produção agrícola e ao meio ambiente.
Significativo é o número de palavras nas quais agro- passa por uma ressignificação e, por
consequência, apresenta um número maior de formações exocêntricas, haja vista os exemplos
citados, agrovila, agrossocial, agrocanal, agromulher, agropesca.
51 (ecossitema artificial que se estabelece em áreas agrícolas) 52 (cultivo e industrialização de cana-de-açúcar)
99
Bauer (1998) menciona a dificuldade em identificar o estatuto da vogal -o- que comumente
aparece entre os constituintes dos compostos neoclássicos em Inglês. O autor assevera que, no
Grego Clássico, o -o- era uma vogal temática, mas tornou-se gradativamente um elemento de
ligação da composição, desempenhando esse papel no Grego Moderno.
Bauer (1998) defende que há uma série de evidências para não denominar os compostos
neoclássicos de "compostos". Aqueles diferem dos compostos do Inglês por (a) terem um elemento
de ligação que não é encontrado nestes e (b) utilizarem radicais de línguas clássicas em vez de
vernaculares, mas, ainda sim, são palavras formadas, no Inglês, pela combinação de dois (ou mais)
radicais. No entanto, o autor observa que há palavras que não se encaixam nessa descrição. Um dos
problemas é a seleção dos elementos que se adjungem aos neoclássicos, que podem ser afixos ou
palavras, o que gera implicações na classificação destes e, consequentemente, do processo que
subjaz as formações constituídas por eles. O outro fator é a densidade semântica desses elementos,
fato que os aproxima dos lexemas. A dificuldade em classificar o estatuto desses formativos
desdobra-se na dificuldade em identificar o processo de formação de palavras que os acessa.
Em português, esse é um aspecto que diferencia os radicais neoclássicos de primeira posição
dos prefixos. Noções como “posição ou movimento no espaço”, “ausência, negação”, “oposição”,
“intensidade” e “repetição”, típicas de prefixos, diferem consideravelmente das veiculadas pelos
radicais neoclássicos, que são, nos termos de Ralli (2008 a), mais densos semanticamente:
expressam noções como agente (-nauta, em argonauta), luz (foto- em fotocromático) e apreciador
(-filo em cinéfilo), entre outros (GONÇALVES, 2012). Os exemplos a seguir confirmam o exposto
(GONÇALVES, 2012, p. 151): refazer (fazer novamente); subchefe (chefe substituto); bicampeão
(campeão duas vezes); sobrepeso (peso a mais); mega-show (grande show).
Outros tipos de formações são apresentadas por Bauer (1998), oriundas do cruzamento
vocabular entre formas encurtadas, morfêmicas ou não-morfêmicas, como em telethon = televison +
100
marathon, que poderia ser classificado, de acordo com o autor, como um composto. Formas que são
difíceis de distinguir qual é o tipo de processo e os constituintes que estão em jogo, como Eurocrat.
Segundo Bauer, essa formação pode ser a junção de Euro com o formativo grego kratos “poder”,
ou cruzamento de European com bureaucrat, ou, ainda, como tecnofobia que pode ser formada por
radicais neoclássicos gregos, ou a junção de um elemento grego a uma palavra inglesa. O autor (op.
cit.) identifica também palavras cuja análise é clara, mas que misturam dois tipos de formação de
palavras, entre os exemplos citados, há gastrodrama (peça teatral em que o alimento é um
ingrediente importante) e Bauer (1998) sugere que gastro deve ser um recorte de gastronomy
(gastronomia).
Os compostos neoclássicos e os seus constituintes, conforme Bauer (1998), apresentam
outras combinações possíveis: os compostos neoclássicos admitem uma sufixação (gynocide + -al =
gynocidal) e, ainda, os elementos neoclássicos podem adjungir-se, concomitantemente, a diferentes
elementos. O autor toma como exemplo a palavra transgenic, formada pelo prefixo inglês de
origem latina trans-, a forma combinatória -gen- e o sufixo -ic, e conclui que a utilização de um
prefixo com uma forma combinatória faz dessa uma palavra particularmente notável, parecendo ser
uma harmonização entre um composto neoclássico e um derivado.
O autor defende a simbiose entre as formas do Inglês e as de origem clássica, as quais teriam
como diferencial apenas a origem e o elemento de ligação, que, segundo Bauer, em última análise, é
um formativo próprio de palavra em Grego, e não de palavras em Inglês. O autor (1998) visualiza
uma matriz bidimensional: no eixo horizontal, palavras simples a palavras compostas, e, no eixo
vertical, palavras com elementos vernaculares a palavras com elementos emprestados. No entanto,
essa descrição não engloba truncamentos e, por isso, uma terceira dimensão é fornecida por uma
gradação de palavras recortadas para não-recortadas, com etapas intermediárias fornecidas por
graus de encurtamento.
101
As palavras são distribuídas em três dimensões já referidas: simples - derivada - composta;
vernácula - emprestada; e não-recortada ou ("inteira") – recortada. Esse espaço tridimensional, de
acordo com Bauer (1998), pode ser visto como uma série de 12 células, em uma matriz, cada uma
representando o cruzamento de três dos pontos marcados nas três dimensões; ou a partir das
posições extremas, considerando que as palavras podem distribuir-se entre os pontos.
O autor chama a atenção para questões que ficam em aberto nesse espaço 3D. A primeira faz
referência à dimensão “emprestada”, que, por não ser de ordem estrutural, não é relevante para o
Inglês. O mesmo pode ser notado em Português, língua em que o processo é produtivo. A origem da
palavra não interfere no uso.
Bauer (1998) destaca que essa observação pode ser feita para todos os processos envolvidos
na formação de palavras, pois não é necessário que o falante os conheça para fazer uso adequado
deles. Ainda que o falante não conheça outras línguas, pode reconhecer a estrutura das palavras por
meio da comparação com outras palavras emprestadas. Bauer (op. cit.) salienta que essas
informações não devem ser ignoradas, por não se conhecerem as consequências delas sobre a
análise. A segunda está relacionada à quantidade de tipos de formação de palavras não
contemplados, incluindo compostos neoclássicos, os quais são compreendidos como um subtipo de
processo.
O autor conclui a seção, defendendo que há muitos estágios intermediários nas três
dimensões, o que ratifica a hipótese de rearranjo dos processos em dimensões, ao invés de
categorias, e argumenta que parte da dificuldade em lidar com a identificação dos compostos
neoclássicos está numa classificação aristotélica, que pressupõe uma classe bem definida.
Bauer (op.cit.) esclarece que, embora sua análise tenha uma preocupação puramente
taxonômica, a proposta apresenta vantagens sobre as classificações tradicionais, pois contempla
uma variedade de tipos encontrados na língua em uso; permite relacioná-los a mais de um protótipo
102
e identifica semelhanças entre os vários tipos de formações que podem ter sido previamente
obscuros. Com base nessas prerrogativas, o autor pretende avaliar se a classificação tridimensional
pode fornecer ou não subsídios para a produção de palavras.
Segundo o autor (1998), as regras de formação de palavras não se ajustam a esse modelo,
pois aquelas relacionam uma forma a uma classe. No modelo proposto, há uma única regra de
criação de palavras que direcionará para o espaço 3D, no qual qualquer nova palavra terá de ser
posicionada. Bauer (op. cit.) salienta que essa perspectiva muito diferente parece não ter apelo
direto à forma, pois a forma exata da nova palavra terá de ser determinada por fatores semânticos,
que estão além do âmbito normal de regras morfológicas. Essa abordagem, de acordo com o autor,
possui vantagens em termos de realidade psicológica, já que os falantes, diante de um dado novo,
podem lançar mão de seus conhecimentos prévios sobre o mundo ou sobre as línguas. Ainda que
um substantivo seja produzido considerando aspectos morfológicos e prosódicos adequados, isso
não ajuda o falante a nomear uma entidade, mas permite explicar a situação em que o falante está
inserido. Tal hipótese mostra algo sobre o uso de palavras emprestadas.
Apesar de haver morfólogos holandeses que neguem a produtividade com formações de
palavras estrangeiras, segundo Bauer (1998), há dados que provam o contrário. Diante dessa
contradição, salienta que é preciso repensar o conceito de produtividade ou encontrar justificativa
para esse paradoxo. Para o autor, a explicação passa pelo processo de criação, que é, em princípio,
individual, podendo ou não ser adotado por uma comunidade linguística.
O conhecimento particular do falante sobre sua língua e sobre outras pode influenciar na
criação. A comunidade vale-se de questões socioculturais ao adotar, em algumas situações, padrões
estrangeiros de formação de palavras; contudo, o uso sistemático desses padrões pode torná-los
pertencentes ao vernáculo. No nosso entendimento, Português e Inglês são línguas bastante
aproximadas no que diz respeito à incorporação da formação neoclássica como legítimo processo de
103
formação de palavras, com estatuto próprio, independente da composição e da derivação, mas em
constante interação com eles, tendo em vista o espaço tridimensional da criação lexical.
O autor destaca que a mistura de padrões estrangeiro e vernáculo, por falta de conhecimento,
pode levar a criações como em television, formação criticada por mesclar elementos grego e latino.
Hamburger é exemplo de uma adoção equivocada de uma palavra alemã. A cunhagem, por
exemplo, de witticism (graça, humor), a partir do padrão de criticism (crítica), ignora a
inexistência, em Inglês, da palavra *wittic, como há (em relação ao discurso) critic (critico).
Bauer (1998) descarta a distinção entre produtividade automática e o tipo de produtividade
que pode não ser totalmente governada por regras (semiprodutividade, criatividade, analogia – os
termos não se sobrepõem exatamente, mas, de acordo com o autor, são usados em contraste com a
produtividade governada por regra automática). A diferença entre as duas formas de produtividade
são as frequências de utilização de padrões desiguais ou a facilidade de utilização diversa de vários
padrões. No entanto, ressalta que, se a frequência é um motivador fundamental, deve ser observado
que: (a) diferenças de frequência fornecem escalas, ao invés de distinções categóricas e (b)
diferenças nas frequências não refletem necessariamente as diferenças de tipo. Já se a facilidade de
uso é o motivador fundamental, outros fatores são evidenciados: (c) os processos morfológicos
mostram dificuldade gradual, e (d) alguns processos morfológicos podem ser difíceis de serem
usados em algumas ocasiões e fáceis em outras. Portanto, para a autor, as provas favorecem a noção
de que há uma escala gradual, que vai do mais produtivo ao menos produtivo, em vez de uma
divisão abrupta.
Segundo Bauer (1998), um princípio cognitivo geral ajudaria a responder à seguinte
pergunta: por que os casos prototípicos são os mais produtivos? A resposta pode estar na
transparência. Casos clássicos de prefixação, sufixação e composição nativa são exaustivamente
analisáveis em unidades recorrentes, de modo que têm um significado fixo (o morfema clássico, na
104
verdade). Isso faz com que tais palavras não só sejam de fácil interpretação, mas também de fácil
formação. Junto com outros princípios, como a preferência por formações que não envolvem
mudanças morfofonêmicas, tais considerações restringem os padrões que podem ser maximamente
produtivos. No tocante à produtividade dos compostos neoclássicos, Bauer (op. cit.) aborda duas
questões: a) a existência dessa formação, uma vez que o quadro proposto pelo autor não a
contempla; e b) sua produtividade, pois, considerando sua existência, de acordo com morfólogos
holandeses, essa construção não seria produtiva por ser constituída por padrões estrangeiros.
De acordo com a abordagem apresentada, Bauer (1998) conclui que composição neoclássica
é um nome para uma subdivisão relativa, mas não completamente arbitrária do espaço da criação de
palavra e deve ser compreendida como um protótipo, em vez de uma categoria bem definida. A
nomeação da construção é necessária, em função do número, particularmente grande, de palavras
que podem ser encontradas com este padrão, ou seja, o modelo é utilizado para identificar uma parte
do espaço tridimensional definido para a criação de palavras. A resposta para a segunda questão
está imbricada com a definição de produtividade, pois os dados confirmam a existência de um
número considerável de palavras criadas nesse padrão. Portanto, para Bauer (op. cit.), o modelo
apresentado sugere que não é possível traçar uma linha rígida entre o potencial criativo dos
compostos neoclássicos e outros tipos de formação de palavras, uma vez que todos são produtos
diferentes de uma mesmo processo. Como tal, é um desafio para aqueles morfólogos que desejam
estabelecer distinções em termos de produção de palavras consciente versus subconsciente.
4.6. Amiot e Dal (2007)
Amiot e Dal (2007) discutem os processos de formação de palavras que envolvem as formas
combinatórias neoclássicas ou clássicas (FC), tais como -anthrop-, -logue, (anthropologue) e lud-
105
(ludothèque). As autoras partem do pressuposto de que os elementos neoclássicos são formas
combinatórias e identificam quatro propriedades dessas FCs:
1) lexematicidade em línguas de origem: em Latim ou Grego, eram geralmente lexemas
com palavras gramaticais associadas;
2) ausência de realização sintática na língua-alvo;
3) tipo de vocabulário que serve para formar: geralmente, as palavras complexas
constituídas de FC parecem pertencer ao vocabulário utilizado em campos científicos ou
técnicos: medicina, geografia, antropologia etc;
4) presença de uma vogal de ligação (o ou i) entre os dois componentes no contexto
fonológico / ... CfCi ... / onde Cf e Ci são consoantes em posição final do primeiro
constituinte e posição inicial do segundo componente, respectivamente.
As autoras observam que, embora tais propriedades possam sugerir uma homogeneidade na
classe, os elementos apresentam comportamento bem diverso, o que dificulta o estabelecimento de
posição na construção, se final ou inicial, haja vista os exemplos das autoras: anthropophage
(antropofagia), africananthrope (fóssil de pré-homídeo descoberto na África Oriental); somente
em posição inicial: microorganisme (microorganismo); microampère (milionésima parte de um
ampère), ou apenas em posição final: omnivore (onívoro) , publivore (devorador de publicidade).
Amiot e Dal (2007) expõem diferentes critérios utilizados na análise das FCs neoclássicas:
a) a natureza vinculada a esses elementos, se sua posição é fixa ou não; b) a sua natureza semântica
(lexical ou gramatical); c) suas propriedades fonológicas. Os critérios levam, de modo geral, a
106
quatro resultados principais: (i) FCs neoclássicas são afixos, (ii) raízes/radicais53, (iii)
raízes/radicais em alguns casos e em outros afixos, (iv) não são afixos nem raízes.
A comparação entre os compostos neoclássicos e compostos do vernáculo pode evidenciar
as diferenças ou as semelhanças, como salientam as autoras. Entre as diferenças, Amiot e Dal
(2007) elencam as propriedades combinatórias, fonológicas e a presença da vogal de ligação entre
os dois elementos, distinguindo os compostos neoclássicos dos compostos do vernáculo. As
semelhanças, entre outros fatores, pautam-se no compartilhamento entre as propriedades das FCs e
dos afixos ou lexemas.
As autoras propõem uma análise a partir da morfologia lexemática, adotando o conceito
clássico de lexema como uma unidade lexical abstrata que possui as seguintes propriedades:
(i) pertence a uma lista aberta e é membro de uma grande categoria lexical, ou seja, é um
substantivo, um verbo ou um adjetivo. Às vezes, a categoria de advérbio é adicionada.
Advérbios especialmente complexos com base em adjetivos, por exemplo, em Francês, a
classe de advérbios com sufixo –mente.
(ii) semanticamente, um lexema tem um significado constante e totalmente especificado.
(iii) um lexema tem uma representação fonológica.
Em relação ao modelo teórico, as autoras destacam que a morfologia lexemática contempla:
as fases de transição pelas quais um lexema passa a afixo na evolução diacrônica, porque os
lexemas e os expoentes de regras (afixos) são concebidos para ser de natureza diferente. Nos casos
de micro- e -logue, a análise não levanta quaisquer problemas particulares, porque esses dois
53 “In the presentation of the previous approaches, we do not distinguish between the two terms, which are often used as
equivalent by the authors we refer to.” (AMIOT e DAL, 2007, p. 324).
“Em abordagens anteriores, não se faz distinção entre os dois termos, que são muitas vezes utilizados como
equivalentes pelos autores que se referem” (tradução nossa)
107
elementos são bem gramaticalizados como prefixo e sufixo, respectivamente, mas isso nem sempre
acontece: por exemplo, com FCs como -cide, -vore ou -phage, que compartilham algumas
características com lexemas e outras com afixos, uma clara categorização não é facilmente
identificável.
4.7. Pontos de Convergência entre as Propostas
As propostas de interpretação para a composição neoclássica aqui arroladas levam a
diferentes respostas sobre o estatuto desse “processo de formação”; contudo, é possível identificar
pontos convergentes no que concerne (1) à dificuldade em definir um status para os constituintes
das construções neoclássicas, em função de englobar elementos etimologicamente comuns, mas
que, na atual sincronia das línguas (Inglês, Francês, Grego, Alemão), têm características gramaticais
distintas uns dos outros. Mesmo as propostas que classificam esses elementos como formas
combinatórias apresentam limitações, uma vez que essa categorização abrange elementos distintos
tanto em relação à origem (splinters54, encurtamentos) quanto ao comportamento morfológico
(posição na estrutura, forma livre/ forma presa); (2) ao reconhecimento das diferenças estruturais
entre as composições vernaculares e as composições neoclássicas, que possuem, a depender da
língua, maior ou menor ponto de convergência.
Ralli (2008 a), por exemplo, afirma que a diferença entre as formações neoclássicas e as do
Grego Moderno é só a natureza dos seus constituintes; (3) à formação de novas palavras, ou seja, se
a construção é produtiva considerando uma gradação entre composições do vernáculo e as
neoclássicas. A produtividade está diretamente relacionada à capacidade que os formativos
54 Segundo Bauer (2005, p. 104), splinter é o fragmento de uma palavra usado repetidamente na formação de novas
palavras, ou seja, é uma partícula não morfêmica formada por cruzamento vocabular, com a qual se criam novas
palavras.O termo foi cunhado por J.M. Berman em "Contribution on Blending",1961, de acordo com Bauer (op. cit.)
Exemplos: fran- em frambúrguer (frango + hambúrguer); franfilé (frango + filé); e -nese); macarronese (macarrão +
maiones), ovonese (ovo+ maionese)
108
neoclássicos possuem de adjungirem-se a elementos morfológicos do vernáculo; e (4) à necessidade
de analisar as construções constituídas por neoclássicos via protótipos, porque, além das diferenças
existentes entre composição neoclássica e composição nativa, há uma heterogeneidade no
comportamento das construções neoclássicas.
As propriedades estruturais não definem categorias, mas grupos de elementos similares
(LÜDELING, 2006) e auxiliam no reconhecimento das construções prototípicas, formadas por dois
radicais clássicos; entretanto, as discussões sobre o assunto encontram maior motivação nas novas
formações, nas quais se combinam elementos neoclássicos e elementos do vernáculo, que fogem
aos critérios, como os propostos por Amiot e Dal (2007), o que pode ser notado em agrogestão,
agrobanditismo. Petropoulou (2009) defende que, embora haja uma flutuação dentro da categoria, é
possível identificar semelhanças que possibilitem postular a existência de uma classe própria.
Vale ressaltar que as construções neoclássicas prototípicas diferem mais ou menos das
composições vernaculares, uma vez que não só a forma, mas também o processo de composição
clássico foi adotado. Portanto, o conceito de composição foi transferido, ainda que na língua
tomadora os elementos tenham se tornado formas presas. O critério da lexematicidade (AMIOT e
DAL, 2007) ratifica esse comportamento.
Os neoclássicos não formam um conjunto homogêneo; logo, a classificação categórica dos
formativos como afixos ou radicais implica contradições, pois há formativos com mais
características de sufixo, como -logo, -dromo, -grafo, -metro (GONÇALVES, 2011 a), e outros com
mais características de radical, como antropo- (GONÇALVES, 2011a), mesmo entre os compostos
neoclássicos prototípicos.
As várias designações que o formativo recebe indicam as características mais salientes do
formativo: afixoides, semiafixos, pseudoafixos são denominações que os aproximam dos afixos e,
consequentemente, do processo de derivação. Já os termos raízes de fronteira, raízes neoclássicas,
109
radicais presos, identificam-no com os radicais e, por conseguinte, constituintes do processo de
composição.
Bauer (1998) e Amiot e Dal (2007) propõem analisar os compostos neoclássicos como
protótipos. Os autores sugerem um continuum entre compostos do vernáculo e compostos
neoclássicos. Esse continuum contempla as nuanças da construção no que tange às semelhanças
entre os dois polos, mas, como indicam Caetano (2010a), Gonçalves (2011a) e Andrade (2013),
esse é o meio do caminho, pois há semelhanças com os afixos que apontam para um outro polo, a
derivação.
A descrição dos autores referenciados ao longo do capítulo, ainda que fundamentada por
diferentes perspectivas teóricas, mostra características consensuais: essas formações são diferentes
das composições vernaculares nas diferentes línguas e podem combinar-se a elementos nativos;
estão passíveis de encurtamento e de ressignificação; e possuem uma vogal intermediária.
110
5. AGRO- E AGRI- ENTRE OS COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS E A RECOMPOSIÇÃO
A classificação de agro- e agri- como radicais neoclássicos demanda reconhecê-los com
algumas características. Como vimos no capítulo precedente, Lüdeling (2006) elenca propriedades
estruturais específicas para distinguir compostos do Alemão dos compostos neoclássicos. Já Amiot
e Dal (2007) sugerem critérios mais gerais, aplicáveis a diferentes línguas na análise dos chamados
internacionalismos (LÜDELING, 2006). Por isso, esses critérios serão utilizados para diferenciar os
compostos neoclássicos prototípicos com agro- e agri- das demais construções com esses
formativos: a) lexematicidade; b) ausência de realização sintática na língua alvo; c) tipo de
vocabulário que formam: técnico ou científico; d) presença de uma vogal de ligação -o- ou -i-.
Acrescentam-se a esses critérios o proposto em Gonçalves (2011b), tipo de significado que
atualizam – se se comportam mais como morfemas lexicais do que como gramaticais, e o proposto
por Higino da Silva (2012, p.54): significado original latino55 ou grego56 dos formativos, visto que
na recomposição adquirem novo sentido. Sugerimos também a combinação entre radicais clássicos.
Satisfazem a esses critérios as formas complexas agricultura (séc. XV); agrícola (1635);
agrimensura (1784)57, agrografia (1871), diferentemente de agrimensor (1795); agrônomo (1818),
agrógrafo (1871), agrólogo (1913), pois nessas palavras os sentidos de agri- e de agro- estão
relacionados à especialidade indicada pela base à direita. Em agrobanditismo (ação de bandidos no
campo), palavra não dicionarizada coletada do Google, de registro mais recente, agro- significa
campo, semelhante aos compostos neoclássicos prototípicos. Embora a origem (grega ou latina) das
55De acordo com Lewis e Short (1955) ager pode significar campo, solo, terra, terreno cultivado, território, opondo-se
à cidade; pode significar também “medida de comprimento”, “território”.
56 Segundo Chantraine (1968), agro pode significar campo, terreno, pasto, campo não cultivado.
57 O Breve Diccionario Etimológico de la Lengua Castellana, de Joan Corominas (1961[1998]), registra agrimensor e
agrimensura com entrada no Espanhol em 1740.
111
bases seja um dos critérios para identificação dos compostos neoclássicos, o último exemplo afasta
o termo da classificação por não ser o segundo elemento um radical erudito, banditismo. O
formativo agro- adjunge-se a outras formas livres do vernáculo (agro- + turismo, agro- + tóxico,
agro- + energia), em discordância com o último critério.
As palavras criadas mantêm-se no domínio cognitivo de campo, mas algumas não têm o
caráter técnico ou científico, como agrocanal (emissora de televisão online), agrotv e agromoda.
Compreende-se vocabulário técnico ou científico aquele utilizado por uma área específica do
conhecimento. Todavia, palavras com um teor técnico são criadas, mas mesclando agro- com
palavras do vernáculo, a exemplo de agroclimático, agropastoril, agroflorestal. Em todos os
exemplos, agro- funciona como um verdadeiro morfema lexical.
Não foi feita a mesma análise para agri-, porque novas construções com o formativo não
foram encontradas. No entanto, todas preservam o significado original, e a única que se combina
com uma palavra é agricultura, que veio diretamente do Latim para o português, como tivemos
oportunidade de destacar no capítulo 2.
A vogal de ligação, -o-, típica dessas construções, está presente nos compostos neoclássicos
prototípicos e nas construções híbridas. A vogal -i-, no corpus analisado, restringe-se às construções
mais antigas, porém realiza-se em novas palavras como baraticida, cacauicultura. O papel dessa
vogal será discutido no capítulo 6.
Os significados instanciados por agro- são outro ponto de inflexão na categorização do
formativo. A construção do significado de alguns desses itens lexicais passa pela composição entre
os significados das bases que os constituem. Essa composicionalidade é gradiente, uma vez que há
significados mais transparentes e outros mais opacos. Os termos abaixo são formados por base
presa + base livre. As bases livres dessas construções possuem alta frequência de uso na língua,
conferindo às palavras maior transparência:
112
15) agroexportador – “diz-se da empresa, instituição, país, especializado em produzir gêneros
agrícolas para exportação.” (http://www.dicionarioinformal.com.br/);
16) agroecologia – “estudo que visa à integração equilibrada da atividade agrícola com a
proteção do meio ambiente.” (AURÉLIO);
17) agrobanditismo – “ações de bandidos no campo” (GOOGLE).
Já o significado técnico das bases presas à direita das formações de (18) a (20) é menos
transparente; no entanto, é possível acessar seus significados, pois -metro remete à unidade de
medida, -grafo reporta-se à palavra grafia (escrita) e -logia é forma produtiva utilizada para referir-
se a estudo de determinada área, como demonstrado por Rondinini (2009), ou seja, isso não
compromete a analisabilidade, pois é estabelecida uma rede de associação entre as palavras
(BYBEE, 2010), como vimos no capítulo 1, mais especificamente em 1.7.
18) agro + metro = agrômetro – “instrumento usado para fazer agrimensura.” (HOUAISS);
19) agro + logia = agrologia – “ramo da agricultura ligado ao estudo dos solos” (HOUAISS);
20) agro + grafo = agrógrafo – “especialista na descrição dos campos” (HOUAISS).
De forma semelhante, as palavras a seguir, embora vindas do Latim, do Grego e do Francês,
permitem a isolabilidade dos seus constituintes, pois têm formas correlatas em Português. Os
vocábulos são formados por bases presas à direita com significados técnicos com menor frequência
de uso na língua que as citadas em (18), (19) e (20), tornando as formações mais opacas.
21) agrimensor – do Latim – “que ou quem está legalmente habilitado para medir, dividir e/ou
demarcar terras ou propriedades rurais.” (HOUAISS);
22) agromancia – do Grego – “suposta arte de adivinhar pelo aspecto dos campos.”
(HOUAISS);
23) agronometria – do Francês – “ramo da agronomia que tem por objetivo avaliar a
capacidade” (HOUAISS).
O fato de agro- assumir diferentes significados, motivado por uma metonímia, como
descrito até o momento, relaciona-o à recomposição, nos termos de Gonçalves (2011b, p. 19) e
Gonçalves e Andrade (2012, p. 134): a recomposição é “uma metonímia formal (de um
arqueoconstituinte), (que) assume o significado do composto de que era constituinte e atualiza esse
conteúdo especializado na combinação com novas palavras”.
113
Na recomposição, os formativos guardam semelhanças com radicais e afixos, sendo, por
isso, nomeados por Gonçalves e Andrade (2012, p. 135) de afixoides. Segundo Sandmann (1989, p.
105), eles são elementos intermediários que estão entre a composição e a derivação. De acordo com
Booij (2005),
Um afixoide é um lexema que ocorre em um subesquema de compostos em que a
outra posição ainda é uma variável, sem uma especificação lexical. Tais esquemas
são intermediários entre compostos concretos individuais e esquemas totalmente
abstratos para estruturas compostas. O significado específico e recorrente de um
lexema na estrutura do composto é especificado neste nível intermediário. (BOOIJ,
2005, p. 130)
Gonçalves e Andrade (2012, p.135) apresentam alguns pontos de interseção dos afixoides:
a) são extremamente aplicáveis em Português, aproximando-se dos afixos e, logo, da derivação; b)
realizam-se em palavras prosódicas diferentes na construção; c) apresentam paridade entre forma
truncada e forma plena, como em homo que evoca homossexual, e d) são sensíveis à regra de
redução de coordenação para frente (FCR), a exemplo de agro e eco-negociação, identificando-se
com radicais e, portanto, deslocando-se para a composição.
Nos exemplos (24) e (25), agro- assume o sentido de agricultura; em (26), propriedades
rurais; e, em (28), produtos agrícolas, aproximando o formativo dos afixoides e do processo de
recomposição. Porém, os significados sintetizados não aludem à forma encontrada na
recomposição, uma vez que o formativo à esquerda é agro- (e não agri-):
24) agrogeologia (1949) – ciência que trata da constituição física e química do solo em relação à
agricultura. (HOUAISS)
25) agroquímica (séc. XX) – estudo, técnica e prática da química destinados à agricultura.
(HOUAISS)
26) agroturismo (s/ data) – tipo de turismo caracterizado por visitas a propriedades rurais e a
seus arredores. (GOOGLE)
27) agroexportação (s/ data) – exportação de produtos agrícolas. (HOUAISS)
Nas palavras de (24) a (27), há uma ressignificação: ora o radical grego adota o significado
das palavras latinas agricultura e agrícola, uma vez que não foi encontrado vocábulo de origem
114
grega (cf. nota 63) para referir-se ao cultivo da terra, ora condensa um significado para além do
sentido prototípico; todavia, não há, nessas relações, coerência entre a parte formal do encurtamento
e da palavra original, não sendo possível analisá-los por meio do conceito de Monteiro (1986, p.
170), “recomposição é um processo associado à composição (...) que ocorre quando apenas uma
parte do composto passa a valer pelo todo e depois se liga a outra base, produzindo uma nova
composição”, nem de Gonçalves (2011b, p. 19) e Gonçalves e Andrade (2012, p. 134): “nas
formações recompostas um arqueoconstituinte (designação mais neutra para radical neoclássico),
por meio de uma metonímia formal, assume o significado do composto de que era constituinte e
atualiza esse conteúdo especializado na combinação com novas palavras.” Apesar disso, há nesses
complexos morfológicos, de fato, uma metonímia – “processo cognitivo em que uma entidade
conceitual, o veículo, fornece acesso mental a outra entidade conceitual, dentro do mesmo domínio”
(KöVECSES; RADDEN, 1998, p. 39).
O encurtamento e a nova significação assumida por agro-, em palavras como agrogeologia
e agroexportação, não foi classificado como truncamento, uma vez que a forma resultante do
encurtamento não pode ser “escaneada” das palavras-fonte agricultura e agrícola, pois há alteração
da vogal do vocábulo (originalmente -i-, passando a -o-). A mudança da vogal é algo extremamente
relevante (e instigante), tanto do ponto de vista histórico quanto morfológico, já que há dois
formativos em concorrência, agri- e agro-. Entretanto, nota-se, no encurtamento, que o formativo
que assume o significado do todo contém uma vogal diferente em sua constituição, aspecto a ser
considerado na recomposição (MONTEIRO, 1986; OLIVEIRA: GONÇALVES, 201058),
Warren (1990, p.119) propõe o conceito de secretion, processo no qual as unidades
linguísticas que sofrem truncamento conservam alguns elementos semânticos e descartam outros.
(58) OLIVEIRA, P. A.; GONÇALVES, C. A. V. O processo de recomposição e os formativos eco- e homo- no português
brasileiro: compressão semântica e análise estrutural. In: Cadernos do NEMP. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010. v. 2. p. 171-
182.
115
As palavras passam por um encurtamento na forma e no conteúdo, tornando o truncamento
semanticamente incompleto e, por isso, precisando ser preenchido. Essa é uma análise possível para
o comportamento das palavras ilustradas entre (24) e (27).
No entanto, reanalisando o processo, poderíamos propor um novo conceito para secretion,
processo no qual as unidades linguísticas passam por metonímia formal e semântica, havendo um
encurtamento na forma e uma seleção de sentidos no conteúdo, ativando um e desativando os
demais significados da forma truncada. A base livre adjungida à forma truncada provocaria o ajuste
focal (LANGACKER, 1987), capacidade humana de direcionar a atenção ao que é relevante na
construção dos sentidos. Quando “as pistas verbais” (MIRANDA, 2001, p. 76) não forem o foco, a
moldura comunicativa, o “enquadramento social e linguístico que permite a compreensão de
determinado significado” (HIGINO da SILVA, 2011, p. 35) ganhará maior importância.
Portanto, nos exemplos de (24) a (27), parte da rede de sentidos de agro- ficaria ativada; e as
demais, desativadas. O significado seria ativado a partir da base à direita de agro-. Essa provocaria
o ajuste focal. Em agrocanal (canal de televisão dedicado ao agronegócio) e agroquímico
(produtos químicos sobre culturas agrícolas), as bases à direita fornecem informações sobre a
forma como as concepções de componentes podem se ajustar e como o seu conteúdo pode ser
integrado (LANGACKER, 2008, p. 245), pois, na primeira, canal pode remeter-se a fosso, a rio ou
à emissora de tv e, na segunda, a químico, ao profissional dessa área, ou à substância tóxica.
Nesses casos, a moldura comunicativa terá maior relevância para a construção do sentido.
Em primeira instância, tal ajuste pode parecer uma hipótese ad hoc formulada a fim de
categorizar a maioria das construções agro-X, mas esse comportamento também é observado, em
menores proporções, em tele-, já que pode significar telefone (tele-atendimento) ou televisão
(telejornal) em novas formações, como apresentado por Ferreira (2011, p. 70).
116
A releitura do conceito difere da definição de Warren (op. cit.), pois desconsidera o
esvaziamento semântico da forma e sugere a ativação extensional59 de acordo com o ajuste focal,
provocado pela base livre a qual se adjunge o formativo, e assemelha-se à proposta de Gonçalves
(2011b, p. 19):
“(...) compactação (zipagem), termo que corresponde, em inglês, ao já aludido
secretion (Warren, 1990): a parte (truncamento), numa relação de metonímia
formal, adquire o significado do todo (composto original) e atualiza esse conteúdo
especializado, já bastante diferenciado do etimológico, na combinação com
palavras.” (GONÇALVES, 2011b, p.19)
Contudo, a nossa proposta distingue-se das aludidas acima por compreendermos secretion
como um subprocesso da recomposição, pois nesta o significado do formativo é recorrente nas
diferentes construções e naquelas o significado atualiza-se de acordo com a base livre que se agrega
ao formativo.
Outra diferença está no trato da rede de sentidos do formativo: na proposta de Gonçalves
(op. cit.), o significado é compactado. Na hipótese por nós sugerida, o significado é focalizado, ou
seja, é provocado pelo constituinte da composição e construído pela moldura comunicativa.
Portanto, os sentidos não são abandonados e nem condensados, instanciando-se de acordo com o
evento de uso. A esse processo nomearemos de secretion morfoperfilado60.
Retomando Bauer (1998), amplamente referenciado em 4.5, as formações constituídas por
elementos neoclássicos fazem parte de uma pequena seção dentro do espaço 3D, que comporta uma
série de características de diferentes processos de formação de palavras.
59 Segundo Miranda e Farias (2011), “a extensão diz respeito aos referentes que são designados por uma dada expressão
linguística.” E, para Storms et al. (1993), “a intensionalidade está relacionada às características importantes do conceito
e a extensionalidade, às qualidades associadas ao conceito.”
60 “O perfilamento é um tipo de construção do significado que consiste no recorte conceptual de uma expressão em uma
base conceptual mais ampla. A base conceptual não se confunde com o significado das palavras, mas representa um
conjunto de conhecimento indispensáveis para a interpretação das mesmas.” (FERRARI, 2011, p. 63).
117
Analisando o dado agroboy61 a partir do conceito de secretion morfoperfilado, a palavra
playboy (empréstimo do inglês) sofre um truncamento, mas, diferente do que acontece na
recomposição, o segundo elemento, boy, passa a valer pelo todo – jovem rico, ocioso e ostentador
sustentado pelo pai – e une-se a agro-, que nessa construção significa latifundiário, em função da
moldura comunicativa, identificando o pai, um proprietário de terras, que sustenta o jovem.
Considerando a relação produtividade/esquematicidade, como apresentado por Bybee
(2010), esse seria um esquema relativamente aberto, favorecendo a frequência type e influenciando
na produtividade, gerando formas como agromoda, agromulher, agroservice, agrotv, agroevento,
agroturismo, agrobanditismo, agrogirl. Todavia, agro- não seria um afixoide, pois seu significado
não é recorrente (cf. BOOIJ, 2005).
A descrição apresentada possibilita elaborar a seguinte hipótese: agro- instancia-se em dois
subesquemas que se colocam entre a composição e a derivação: processo clássico de composição
(cf. seção 6.7) e secretion morfoperfilado, sendo o último um processo periférico da recomposição,
distinguindo-se dessa por não ter o formativo um significado recorrente.
Poucas, porém significativas, observações podem ser feitas a respeito de agri-. O formativo
significa “campo”, “solo”, como em agricultura (cultivo do solo); em agricultor (aquele que cultiva
o campo); em agricultado (campo que foi cultivado) e em agricultar, quando esta significa cultivar
o solo, mas, quando significa devotar-se à agricultura, há uma metonímia formal e semântica, já
que um verbo foi formado a partir da substituição do sufixo -ura pela terminação -ar, característica
da primeira conjugação e modo produtivo de verbalizar um substantivo: âncora > ancorar; culto >
cultuar.
61 Fazemos uma observação em relação à palavra agroboy; não denominamos –boy de splinter, por ser esse empréstimo
uma das palavras constituintes da composição do inglês, play + boy.
118
Há o empréstimo do Inglês, agribusiness, formado do encurtamento agriculture mais a
palavra business em inglês. Esse empréstimo gerou um decalque62 em Português, agronegócio, mas,
na tradução, a língua optou pelo formativo agro- e não por agri-, embora disponha de tal elemento.
O mesmo pode ser observado em agricopecuário e em outras nas quais agrico- aparece como
formativo, todas em desuso. Nesses casos, a forma selecionada é sempre agro-.
O comportamento de agro- não pode ser observado em agri-, pois não foram encontradas
palavras novas com este formativo, inviabilizando a comparação entre significados novos e
registros mais antigos. As poucas palavras que compõem o corpus são datadas entre o século XVI e
século XVIII:
28) agricultado – (1552)
29) agricultar – (1552)
30) agricultável – (1799)
Outras formas com agri-, investigadas em função da analisabilidade, são latinismos, como
agricultura, com entrada no Português no século XV; agrícola em 1635, agrimensor em 1795 e
agrimensura em 1784. A exceção é agribusiness, empréstimo do Inglês, datado em 1985. Numa
rápida busca no Google, com a utilização dos filtros idioma português e país Brasil, foram
encontrados 235.000 resultados para agribusiness, em contraste com os 496.000 resultados para
agrobusiness, o que mostra preferência pela segunda formação. Das 101 construções morfológicas
complexas, 87 são formadas com agro- e 13 com agri-.
As palavras recém-formadas são constituídas por agro-, a exemplo de agropesca, agroboy,
agrolink, agroservice, agrofit, agrovida e agroturismo, entre tantas outras. Fatores de caráter
histórico podem ser um agente favorecedor da maior produtividade de agro-. Gonçalves (2011b,
p.18) afirma que “muitos radicais latinos tardiamente emprestados apresentam correspondentes
(62) “[...] a denominação neológica inspirada na tradução das partes da palavra ou da expressão original”. (VIARO,
2014, p.277).
119
livres em português e isso certamente facilita a sua vinculação a uma palavra”, identificando-os
com elementos do vernáculo.
Neste capítulo, as formações com agro- e agri foram examinadas, levando-se em conta as
características das formações neoclássicas prototípicas e as características da recomposição. Entre
os elementos que chamam a atenção, estão as vogais fronteiriças presentes naquelas e conflitantes
nas construções com agro- e agri-. No próximo capítulo, o papel dessa vogal nas construções será
discutido.
120
6. PAPEL DA VOGAL FRONTEIRIÇA NA FORMAÇÃO DE UMA REDE ASSOCIATIVA
O segmento vocálico entre os constituintes das formações neoclássicas é constatado pelos
diferentes autores, mas as opiniões sobre o estatuto desse segmento divergem. Li Ching (1973)
classifica-o, no Português, como infixo. Já Ralli (2008 a) identifica-o como um marcador
composicional no Grego Moderno. Lüdeling (2006) e Petropoulou (2009) categorizam-no como um
elemento de ligação. Gonçalves (2011b) rechaça, para o Português, essa classificação em função da
pauta acentual desse segmento. Por fim, Bauer (1998) faz uma descrição detalhada apresentando
algumas possibilidades morfológicas para o segmento.
Por meio da comparação de compostos neoclássicos constituídos de diferentes elementos
neoclássicos, apresentamos uma interpretação esquemática para as vogais fronteiriças.
6.1. Gramática Latina: estrutura dos compostos
De acordo com Allen e Greenough (1903, p.60), palavras compostas são aquelas cujo tronco
é constituído de dois ou mais radicais simples. Os autores (op. cit.) descrevem, em seguida, o
processo de composição no Latim:
a) A vogal final do radical do primeiro membro da composição, diante de outra vogal ou de
uma consoante, geralmente, desaparece e toma a forma de "i", recebendo apenas o segundo membro
flexão. Nos casos em que o- e a- são as vogais finais dos radicais, essas são suprimidas e aparece "i-
" no seu lugar, tal como em āli-pěs (a partir de āla, raiz ālā-); portanto, "i-" é a terminação comum
dos radicais em compostos e é, frequentemente, adicionada aos radicais que não a tem, como, flōri-
comus (corroa de flores) (a partir flōs, flōr-is (flor) e coma (cabelo)).
121
b) Apenas radicais substantivos podem ser assim compostos. As preposições, no entanto,
muitas vezes, adjungem-se a um verbo, a exemplo de: inter + rumpere = interrūmpō (interromper);
dĕ + struere = destruo (destruir).
Allen e Greenough (op. cit.), embora não utilizem esses termos, expõem critérios
morfológicos e sintáticos de formação de compostos:
1. A segunda parte é simplesmente adicionada à primeira: su-ove-taurīlia (sūs, ovis,
taurus), o sacrifício de um suíno, de um carneiro e de um touro.
2. A primeira parte modifica a segunda como um adjetivo ou advérbio (Compostos
Determinativos), como em latī-fundium (latūs, fundus) (grande propriedade territorial) e Omni-
potēns (omnis, potēns) (Todo-poderoso).
3. A primeira parte tem a força de um caso e a segunda apresenta força verbal (Compostos
Objetos), como nos exemplos a seguir:
agri-cola (ager (campo) + cola (semelhante a colō, cultivar) – agrícola;
armi-ger (arma (arma) + ger (semelhante a gerō, portar, carregar) – escudeiro;
corni-cen (cornū (chifre) + cen (semelhante a canō, cantar) – berrante (chifre soprador);
carni-fex (carō (carne)+fex (semelhante a faciō, fazer) – carrasco.
Segundo os autores (1903, p.160), os tipos de compostos referidos acima, em que a última
palavra é um substantivo, podem tornar-se adjetivos, ou seja, indicar qualidade denotada:
āli-pēs (āla (asa), pēs (pés));
māgn- animus (māgnus (grande), animus (alma));
an-ceps (amb- (duas extremidades), caput (cabeça) duas cabeças).
Outra categoria de compostos descrita por Allen e Greenough (1903, p.161) são os
compostos sintáticos, ou seja, composições apenas aparentes: palavras completas – não radicais –
utilizadas juntas no discurso. De acordo com os autores (op.cit.), estes não são compostos estritos.
Entre os exemplos, os autores elencam sintagmas que deram origem a compostos sintáticos, tais
como bene-dīcō (bem/dito); satis-faciō (suficiente/fazer); prō-consul (advérbio combinado com um
122
verbo, no lugar do cônsul), frase imposta na flexão do substantivo comum. Allen e Greenough (op.
cit.) observam que, em todos esses casos, estão unidas palavras e não radicais.
Allen e Greenough (1903, p.13) ressaltam, ainda, que as formas classificadas de raízes
nunca existiram em Latim, mas remetem a formas utilizadas antes de o Latim constituir-se como
língua autônoma.
Monteil (1992, p.177) assevera que, ao traçar um paralelo entre a flexão temática no indo-
europeu e no Latim, a formação dos temas em Latim, assim como em Grego, resulta de uma
tematização secundária, uma vez que no indo-europeu a flexão temática não possuía nomes raízes63,
nem temas primários, mas temas secundários, com sufixação. De acordo com o proposto, a
terminação -ro, presente em ager = αγρός, uesper = ἐσπερος, aper = κ-άπρος, taurus = ταύρος,
uir< *wī-ro64, é um sufixo indo-europeu remanescente.
Allen e Greenough (1903) e Monteil (1992) sugerem que os processos morfológicos no
latim davam-se a partir de radicais, ou seja, uma forma primária acrescida de um elemento
morfológico.
Bennett (1913, p. 115), em A Latin Grammar, diferentemente de Allen e Greengough
(1903), afirma que os compostos em Latim são formados pela união de palavras simples. O segundo
membro contém o significado essencial da composição e o primeiro funciona como um
modificador. No processo de composição, as vogais sofrem mudanças frequentes. Essas podem
ocorrer no segundo membro da composição ou no primeiro.
Bennett (1913, p. 115) assevera que, no primeiro constituinte, o ĭ aparece, frequentemente,
como vogal temática desse elemento e, algumas vezes, essa vogal ocupa a posição do ŏ ou do ă.
63Monteil (1992) define raíz como um esquema, reconstruído da estrutura indo-europeia, que corresponde ao elemento significante
da palavra.
64 Forma hipotética indo-europeia.
123
Entretanto, em algumas situações, o ĭ pode ser completamente descartado. Quando o primeiro
vocábulo termina por consoante, faz-se uma epêntese utilizando a vogal. O autor cita os seguintes
exemplos, sem, contudo, detalhar o processo de composição: signifer (porta-estandarte); tubicen
(trombeteiro); magnanimus (magnânimo, nobre); matricida (matricida). O autor (1913, p.6)
apresenta exemplos de algumas alterações mais simples que podem acontecer com as vogais do
segundo vocábulo da composição:
a) ě torna-se ĭ. Ex.: con-legō >colligō (juntar);
b) ă torna-se ĭt Ex.: ad-agō >adigo (impelir);
c) ă torna-se ě. Ex.: ex-pars >expers (isento de);
d) ae torna-se ī. Ex.: con-quaerō >conquīrō (procurar com empenho);
e) au torna-se ū e algumas vezes ō. Exs.: con-claudō>conclūdo (fechar); ex-plaudō >
explodo (repelir batendo palmas).
6.2. Gramática Grega: estrutura dos compostos
Horta (1970, p. 391) afirma que a maior parte do léxico grego é formada por composição
(radical formado de dois ou mais elementos) ou por derivação (formado por sufixos). Segundo a
autora (1970, p. 392), palavras compostas são facilmente formadas no Grego. O primeiro elemento
da composição pode ser um prefixo (έξ +οδος = saída) ou um radical (ναυ + μαχία = batalha naval),
sendo o segundo elemento sempre um radical. Horta (op. cit.) afirma que as bases dos compostos
ora combinam-se diretamente, ora combinam-se por intermédio de uma vogal de ligação; no
entanto, a autora não detalha quais são essas possíveis vogais fronteiriças.
No que tange à relação sintática, a autora (1970, p.394) descreve que os constituintes
estabelecem uma relação de subordinação: o núcleo, o determinado, mantém-se à direita; e o
complemento, ou atributo, o determinante, à esquerda (por exemplo, οίκο-νόμος = o que administra
a casa ou o país). Eventualmente, essa posição pode ser invertida, quando o primeiro termo é um
radical verbal, tal como em φιλό-σοφος, o que ama o saber e não “sábio amante”, conclui a autora
(op. cit.).
124
Segundo Goodwin (1900, p.191), em sua Greek Grammar, na composição de palavras, são
observadas: a) a primeira parte da composição, b) a segunda parte, e c) o significado do todo.
Quando a primeira parte dos compostos é um substantivo ou um adjetivo, somente seu radical
aparece na composição. O autor não cita exemplo.
No que se refere a alterações internas da composição, o autor (op. cit.) afirma que, diante de
uma consoante, o radical da primeira declinação geralmente muda a vogal ᾱ final, passando a ο:
Θασσ-κράτωωρ (ϴαλασσᾱ-) – aquele que dita as regras do mar. O radical de segunda declinação
mantém o -o: χορο-διδάσκαλος (χορο-) – professor de música; e o radical de terceira é acrescido de
-o: παιδο-τρίβης (παιδ-) – treinador juvenil. Diante de uma vogal, os radicais de primeira e de
segunda declinações perdem suas vogais finais ᾱ e o, respectivamente. Exemplos: κεϕαλ-αλγής
(κεϕαλᾱ-) – causa dor de cabeça; χορ-ηγςα(χορο-) – diretor de música.
Como toda regra, essas também possuem muitas exceções, conforme informa o autor. Entre
elas, há situações em que o η ocupa o lugar do o, como em χοη- ϕόρος (χοή, libação) – aquele que
traz a libação; em outras, o substantivo aparece em um dos seus casos, como se fosse uma palavra
distinta: ναυσί-πορος (travessia por navio), em que ναυσί é um dos casos de ναϋς (navio).
Já nas questões que tratam do segundo elemento, quando esse inicia-se por α, ε, ou ο (a
menos que essas vogais sejam longas pela posição), é muito frequente serem alongadas passando a
η ou ω, a exemplo de Στρατ-ηγός (στρατό-ς, άγω) – general; κατ-ηρεϕής (κατά, έρέϕω) –
percorrido e έπ-ώνυμος (έπί-όνομα) – nomeado.
Goodwin (1900, p.194) enumera três classes de compostos, pautadas na relação do
significado de cada um dos constituintes entre si e com o todo composicional: 1) Compostos
Objetivos – aqueles em que o substantivo, sendo primeiro ou segundo elemento, funciona como
caso oblíquo (λόγος χράφων = autor do discurso); 2) Compostos Determinativos – nos quais o
primeiro elemento qualifica o segundo (̒ομό-δουλος = escravo igual); e 3) Compostos Atributitivos
125
ou Possessivos, em que a primeira parte qualifica a segunda e o todo denota a qualidade ou a
atribuição de uma pessoa ou coisa (κακο δαίμων = destino ruim). Apenas no terceiro tipo, o autor
fala do significado do todo; nos demais, apenas descreve a relação ente as partes.
Considerando as formações em uma perspectiva etimológica e as descrições das gramáticas
latinas e grega, as vogais presentes nas composições latinas e gregas, -i- e -o-, respectivamente, são
marcadores de composições passíveis, na suas línguas de origem, de modificação.
A próxima seção trata das possíveis classificações no Português para as vogais fronteiriças.
Para tanto, são expostos os argumentos de Mattoso Camara ([1977] 1981), Li Ching (1973),
Monteiro (1998) e Kehdi (1999).
6.3. Segmento Vocálico: possíveis interpretações para o português
Li Ching (1973, p.213) afirma que o avanço científico trouxe ao uso uma série de elementos,
em sua maioria, de origem grega, aos quais o autor (op. cit.) denominou pseudoprefixos e cita
alguns deles: aéro-, foto-, geo-, micro-, mono-, rádio-, tele-. O autor chama a atenção para uso
dessas formas: “não é naturalmente português, mas um fenómeno internacional que ocorre em todas
as línguas europeias”.
Li Ching (1973, p. 213) destaca o segmento -o- como elemento mais importante nessas
formações e o classifica como infixo da composição.
“O terminus -o-, que é o eixo mais importante nesta série, é uma espécie de infixo
da composição que se encontrou há muito tempo, sem dúvida nenhuma, nas
formações adjectivas (cf. luso-brasileiro, luso-espanhol, etc.)” (CHING, 1973, p.
213)
No que se refere a vogais -o- e -i- intermediárias, nos compostos neoclássicos, Monteiro
(1998), ao definir interfixo como “elemento que une uma raiz a um sufixo ou dois radicais de um
composto”, cita a palavra filósofo e o -ó- entre as duas bases como interfixo, mas, na seção 3.3, em
que trata especificamente dos interfixos, o autor não aborda o assunto e comenta apenas “que não
126
devem ser considerados como interfixos os segmentos presentes em decalques ou em termos de
origem latina que não produzem mais palavras novas”.
Kehdi (1999, p.191) descreve e analisa diferentes pesquisas sobre infixo e critica a proposta
de Li Ching (1973, p.213), pois a vogal -o- posiciona-se entre radicais e não no interior de um
radical, como os infixos. O autor ressalta o seguinte:
“O verdadeiro caráter da vogal terminal do primeiro elemento do composto é muito
mais sufixal (diferentemente do que afirma Li Ching), sobretudo levando-se em
conta a produtividade desse tipo de formação e a freqüente redução do composto
ao seu primeiro elemento.” (KEHDI, 1999, p.191)
Para Mattoso ([1977] 1981), a categoria infixo inexiste em português, assim como para
Kehdi (1999). Este, fundamentado na definição de infixo como “morfema que se introduz no
radical”, rechaça a possiblidade de a vogal -o-, presente no final do primeiro elemento dos
compostos neoclássicos, ser um infixo. Kehdi (op. cit.), tendo em vista a produtividade dessas
formações e o truncamento, que reduz os compostos ao primeiro constituinte, identifica
características sufixais na vogal.
Lí Ching (1973) não define infixo. O autor (op. cit.) defende a existência de infixos nas
formações neoclássicas e traça um paralelo com o comportamento de alguns adjetivos compostos,
tais como luso-brasileiro e luso-espanhol (exemplos do autor). Monteiro (1998) afirma que esses
segmentos, presentes em formas latinas, não são considerados interfixos, em função de não serem
produtivos.
Infere-se que a produtividade é o critério responsável pela classificação; logo, sendo
produtivo, o segmento pode ser categorizado como interfixo. Contudo, as observações de Monteiro
(1998) não incluem as formas de origem grega, pois ele menciona apenas as latinas.
Diante do exposto, a indagação é a seguinte: se o -o- e -i- fossem infixos, como sugere Li
Ching (op. cit.), e, consequentemente, um elemento mórfico, qual seria o seu significado? Na seção
seguinte, serão expostas as análises de Ralli (2008a, 2008b), Petropoulou (2009), Amiot e Dal
127
(2007), Lüdeling (2006), Bauer (1998) e Kastovsky (2009) sobre a possível função desses
segmentos, na atual sincronia de diferentes línguas.
6.4. Descrição Sincrônica em Diferentes Línguas
Nesta seção, os aspectos concernentes à vogal fronteiriça são retomados a fim de reunir os
pareceres de diferentes autores, sobre um possível estatuto da vogal em diferentes línguas.
Ralli (2008b), pautada numa abordagem gerativista, mais precisamente na Teoria de
Princípios e Parâmetros, que tem como objetivo discutir os parâmetros responsáveis por permitir as
diferenças entre as línguas naturais, defende a existência de um marcador de compostos em Grego
Moderno e em outras línguas tipologicamente diferentes. Defende que a presença de tal marcador se
relaciona com um parâmetro de flexão paradigmática explicitamente realizada e que o seu carácter
sistemático ou não sistemático depende da categoria dos constituintes, radical ou palavra, que estão
envolvidos na formação do composto. Mostra também que, com relação à origem, o marcador pode
ser resíduo sincrônico de uma epêntese fonológica ou o produto da evolução de outros elementos
funcionais ou lexicais que se tenham submetido ao processo de morfologização.
Compreendendo composição como um processo de formação de palavras que caracteriza as
línguas de vários tipos e várias famílias, a autora define o mecanismo como uma associação entre
palavras ou radicais, dependendo da morfologia da língua em particular, e cita o Inglês como
exemplo de língua em que composição ocorre entre palavras, e o Grego como exemplo de língua
em que a composição baseia-se em radicais.
Ralli (2008b) afirma que, em alguns idiomas, os compostos apresentam um segmento
semanticamente vazio entre o primeiro e o segundo componentes (p. exemplo, a palavra grega kukl-
o-spito = casa de boneca). Segundo a autora (op. cit.), em compostos de outros idiomas, este
segmento não vem à superfície. Ela cita a palavra inglesa appletree (macieira). Ralli (2008b) faz
128
referência às diferentes denominações que o segmento recebe na literatura: elemento de ligação,
interfixo ou, mais raramente, confixo.
Ralli (2008b) não discute, todavia, o estatuto do segmento intermediário presente nos
compostos neoclássicos, fazendo apenas menção à origem dos radicais-base dessas formações,
Grego Antigo e Latim, uma vez que a pesquisa restringe-se a analisar os compostos vernáculos
produtivos do Grego Moderno. Contudo, Ralli (2008a) salienta que as formações neoclássicas em
Grego Moderno só se diferenciam das composições produtivas regulares no que diz respeito à
natureza dos seus constituintes, e afirma que as propriedades estruturais da base são as mesmas,
entre elas, o marcador de compostos -o-. Logo, o -o- é um marcador tanto nas composições do
Grego Moderno quanto nas formações neoclássicas dessa língua.
Petropoulou (2009) elenca como uma das características importantes dos neoclássicos
prototípicos, tendo como base de análise o Inglês e o Grego Moderno (cf. 4.2), a existência de um
elemento de ligação (-o- ou -i-) entre os constituintes da composição, orginalmente uma vogal
temática que passou a marcador composicional nas línguas de origem, Grego ou Latim.
Lüdeling (2006) lança mão de alguns exemplos de diferentes línguas europeias, mas faz uma
análise mais geral dessas formações. A autora faz referência ao "elemento de ligação" que aparece
nessas formações, indicando que -o-, geralmente, exerce essa função, porém há possibilidade de
outra vogal exercer o mesmo papel. Lüdeling (2006) questiona o vínculo morfológico desse
elemento, se ao primeiro ou ao segundo constituinte da composição, levantando a hipótese de a
vogal ser requerida por um dos constituintes.
Bauer (1998) descreve a dificuldade em identificar o estatuto da vogal -o- que comumente
aparece entre os constituintes dos compostos neoclássicos em Inglês. O autor assevera que, no
Grego Clássico, o -o- era uma vogal temática, mas tornou-se, gradativamente, em um elemento de
ligação da composição, desempenhando esse papel no Grego Moderno.
129
Bauer (op. cit.) arrola quatro possiblidades de interpretação para essa vogal nas novas
formações: (a) como um elemento de ligação entre formas truncadas, como em phot e graph,
embora diga que é incomum a forma phot realizar-se em Inglês (photic, photopsy); (b) como parte
do primeiro elemento, quando este elemento estiver ligado a lexemas (photoluminescence
‘fotoluminescência’); (c) como parte do segundo elemento, quando o segundo elemento é ligado a
lexemas (Addressograph®65, phraseograph); (d) como pertencente, simultaneamente, aos
componentes inicial e final (como em [b] e [c]), e a sequência -oo- é morfofonemicamente reduzida
a um único -o-.
Uma das diferenças entre os compostos neoclássicos e outros padrões de formação de
palavras em Inglês é que neoclássicos não são nativos. A outra é o elemento de ligação -o-, visto,
em última análise, como um segmento próprio da palavra em Grego, e não de uma formação de
palavras em Inglês. Uma forma como hamburgerology é inicialmente um composto em Inglês, e,
finalmente, um composto neoclássico. Em outras palavras, há uma relação entre a origem grega dos
compostos neoclássicos e a anglicidade dos compostos nativos. Muitos outros idiomas distinguem
entre os padrões de formação de palavras nativas e estrangeiras, como vimos no capítulo 4.
De acordo com Bauer (1998), em Holandês, Alemão, Checo e Russo, as bases nativas são
concatenadas a afixos nativos; e as bases estrangeiras, a afixos estrangeiros, mais do que se observa
em Inglês. Por exemplo, uma forma como Sterbation pode ser totalmente agramatical em Alemão,
mas Starvation (fome) é uma palavra real em Inglês (embora incomum justamente devido à mistura
de elementos nativos e estrangeiros). Em Vietnamita, há compostos nativos e compostos
estrangeiros (emprestados do Chinês), que diferem em termos de modificador e elemento-cabeça.
65 “Marca registrada de uma empresa norte-americana que fazia máquinas para imprimir nomes e endereços em jornais,
etiquetas de endereçamento, envelopes, cartas, e outros itens”.
(http://www.earlyofficemuseum.com/mail_machines.htm)
130
Amiot e Dal (2007) elencam uma série de propriedades para identificação das formas
combinatórias clássicas, nomenclatura adotada para classificar os elementos neoclássicos. Entre as
características arroladas pelas autoras, está a presença de um vogal de ligação, -o- ou -i-. Todavia,
diferentemente dos demais autores, Amiot e Dal (op. cit.) chamam a atenção para o ambiente
fonológico em que aparecem: / ... CfCi ... / nos quais Cf e Ci são consoantes em posição final do
primeiro constituinte e posição inicial do segundo componente, respectivamente. Nessa perspectiva,
o -o-, entre as bases de agroexportação, agroambiental, agroaçucareiro, agroecologia, não é
analisado, uma vez que se afasta do ambiente fonológico previsto pelas autoras (op. cit.). De acordo
com Amiot e Dal (2007), a presença do -o- ou do -i- está relacionada à origem grega ou latina das
formas, nessa ordem. Outro aspecto salientado é a presença do -o- em formas combinatórias não-
neoclássicas, tal como como em afro-cubain (afro-cubano).
Kastovsky (2009), examinando as formações neoclássicas no Inglês, rechaça a classificação
forma combinatória, proposta pela literatura, e expõe diferentes motivos para tal posicionamento,
entre os quais o estatuto da vogal intermediária entre os constituintes dessa formação. As formas
combinatórias terminariam na vogal -o- ou -i-; contudo, diferentes prefixos exibem essa terminação,
entre os citados pelo autor: anti-, epi-, pro-, co-.
Assim como Bauer (1998) e Ludelíng (2009), Kastovsky (2009) indaga a relação
morfológica da vogal, se esse segmento pertenceria ao elemento da direita ou ao da esquerda ou
seria apenas uma vogal de ligação. O autor (op. cit.) também aborda o aspecto histórico dessas
formações e, consequentemente, desse segmento, ao qual denomina de “formativo de radical”66 do
primeiro membro – classificação que recorda os apontamentos, na seção 6.1, de Allen e Greenough
(1903) e de Monteil (1992) sobre a formação dos radicais no Latim.
66 Termo original utilizado pelo autor: stem-formative (cf. KASTOVSKY, 2009, p. 6).
131
Kastovsky (2009) esclarece que radicais gregos, latinos e neo-latinos passaram por
mudanças. Afirma que o Grego e o Latim, como todas as línguas indo-europeias, foram,
originalmente, baseadas em uma estrutura morfológica tri-partida, raiz + “formativo de radical” +
flexão. Na composição, a raiz, como primeiro elemento de um composto, foi seguido por um
“formativo de radical”, como em agr-o-nomia, mas, nas fases posteriores das línguas Indo-
Europeias, foi igualmente seguida por uma vogal de ligação que remonta a uma desinência, como
em agr-i-culture. O autor (op. cit.) assinala que este último tipo de formação resultou de expressões
lexicalizadas envolvendo o caso de marcação do primeiro membro, que serviu de base analógica
para formações paralelas, um fenômeno que pode ser observado também em outros ramos do indo-
europeu, como as línguas germânicas (cf. KASTOVSKY, 2009) – essa descrição remete aos
compostos sintáticos, como expostos por Allen e Greenough (1903). No decorrer do tempo; no
entanto, o “formativo de radical”, bem como as terminações flexionais originais, tornaram-se
opacas, mais no Latim do que no Grego, e esses elementos morfológicos já não podem ser
identificados com qualquer material flexional, passam a ser reinterpretados como elementos de
ligação.
Segundo Kastovsky (2009), esses segmentos perderam sua função. O mesmo ocorreu com
terminações de caso dos compostos no Alemão; contudo surgem em formações que não
gramaticalmente justificadas. O autor (op. cit.) sugere que a presença de um elemento de ligação
poderia ser acionada pelo primeiro ou segundo elemento, com base em alguma analogia histórica, e
não como um elemento de ligação fazendo parte de um dos constituintes.
Para efeitos de análise, Kastovsky (2009), toma o formativo -logy, presente em anthrop-o-
logy, cosm-o-logy, bio-logy, geo-logy, no qual o -o-, por questões históricas, pertence ao
constituinte da esquerda. Já em Kremlin-o-logy, hamburger-o-logy, life-o-logy, a forma depreendida
132
parece ser ology. O autor (op.cit.) enumera as seguintes possibilidades de interpretação para a vogal
-o-:
a) o sufixo teria adotado a forma -ology;
b) -ology seria um alomorfe morfologicamente condicionado de -logy; e
c) o sufixo desencadearia a inserção de um elemento de ligação, que não pertenceria a
nenhum dos constituintes.
Kastovsky (2009) considera a última proposta mais plausível e assinala que os compostos do
Inglês admitem elemento(s) de ligação, como em officer’s mess (praça d’armas), driver’s license
(carteira de motorista).
No que se refere às formações constituídas de elementos clássicos e elementos vernáculos,
tais como filmo-(-graphy), kisso-(-gram), Kastovsky (2009) defende que o -o- entre os constituintes
é um elemento de ligação, por analogia às formações clássicas; portanto, não estaria ligado nem ao
formativo da direita, nem ao da esquerda. Todavia, sugere que formas como -gram e -logy acionam
a vogal, caso essa não seja parte integrante do primeiro elemento.
As hipóteses apresentadas pelos autores acima, a partir do exame do Inglês, Grego e
Francês, entre observações de outras línguas europeias, indicam que as formações neoclássicas,
nessas línguas, possuem como característica um segmento intermediário, geralmente, -o- ou -i-,
embora outras vogais possam aparecer nessa posição. Nas formações em que se combinam
elementos clássicos e vernáculos, a vogal -o- tende a aparecer.
Na seção seguinte, são expostas as ponderações de Caetano (2010a) e Gonçalves (2011b)
sobre o comportamento das vogais -o- e -i-, intermediárias entre os constituintes da formação
neoclássica. Os autores, nos respectivos textos, descrevem o comportamento dessas formações no
Português; entretanto, nesta seção, serão arroladas apenas as questões pertinentes às vogais.
133
6.5. Análises para o Português
Caetano (2010a) expõe pareceres das Gramáticas Históricas de José Joaquim Nunes e de
Antônio Garcia Ribeiro de Vasconcelos e da Gramatica da Língua Portuguesa de Maria Helena
Mira Mateus et al. sobre o papel da vogal entre os constituintes e assume que os compostos do
Português, em que o primeiro elemento da composição termina nas vogais -o- ou -i-, tais como
médico-cirúrgico e novilatino (exemplos da autora), possuem um marcador de fronteira, entre um e
outro radical, semelhantemente aos compostos com radicais neoclássicos. Caetano (op.cit.) afirma
que, “aparentemente”, não há diferenças entre a) construções resultantes de dois elementos
neoclássicos; b) dois elementos vernáculos e c) aquelas em que o primeiro elemento vernáculo é
resultante de um truncamento terminando em -o e o segundo, um elemento vernáculo. A autora cita
como exemplo as palavras turbo-diesel e turbo-prof, em que o primeiro elemento é oriundo do
truncamento de turbocompreensor.
Gonçalves (2011b) afirma que não há, nas composições de base livre em Português,
marcador de compostos. O autor ressalta que palavras encurtadas em que o primeiro elemento é de
origem grega, a vogal -o- mantém-se no truncamento, como em foto de fotografia e pólio de
poliomielite.
Gonçalves (op.cit.) enumera exemplos de formações híbridas, constituídas de elementos
clássicos e vernáculos em que a vogal -o- aparece como um segmento intermediário entre os bases,
musicolatria, achologia, oviniologia. O autor destaca que os exemplos sugerem que a vogal não é
constituinte fonológico da primeira base.
Além dos casos acima, Gonçalves (2011b) descreve o comportamento sintático de algumas
construções: a) nos compostos coordenativos formadores de adjetivos, a primeira palavra apresenta
a vogal -o- e a mantém, independe da variação que possa ocorrer com a segunda palavra: aspectos
léxico-gramaticais, ações médico-hospitalares, metas político-partidárias (exemplos do autor).
134
Essa mesma vogal também é encontrada em compostos determinativos de cabeça à direita,
radiomania, beatlomania, sonoterapia, musicoterapia.
No primeiro conjunto de exemplos elencados pelo autor, as bases à esquerda são formas
livres que possuem o -o como vogal temática na sua constituição, o que pode comprometer a
análise, embora a manutenção da vogal sobreponha-se à concordância entre os componentes
coordenativos. Já no segundo conjunto de exemplos, as bases à direita são elementos de origem
grega, -mania, -terapia, que conferem à composição um caráter neoclássico e justificaria o
acionamento da vogal -o-.
O autor (op. cit.) destaca também dois comportamentos fonológicos distintos: a) em que a
vogal, mesmo em posição postônica pode não se neutralizar e o todo realizar-se em duas palavras
prosódicas, já que a base à esquerda mantém o seu acento: music[o]terapia, bronc[o]embolia
(exemplos do autor); b) nas formações em que o segundo elemento são -metro, -dromo, -latra,
-logo e -grafo, a vogal de fronteira é tônica e a pretônica neutraliza-se, mas tende a se realizar como
aberta, em função da harmonização vocálica. Entre os exemplos citados pelo autor, destacam-se
f[o]tógrafo e l[e]prólogo.
Em função do exposto, o autor afasta a classificação de vogal de ligação para esse segmento
intermediário, uma vez que vogais de ligação não portam acento; outro argumento é a realização de
diferentes vogais nessa posição, a exemplo de análogo, epílogo, homólogo (grifo nosso).
Segundo Gonçalves (2011b), as pesquisas de Rondinini (2004) e Rondinini e Gonçalves
(2006) indicam que as vogais anteriores a -logo e -grafo foram assumidas como parte do formativo,
demonstrando uma transição da composição para a derivação, passando a -ólogo e -ógrafo,
respectivamente. Pires (2014) adota a mesma posição em relação à -dromo, pois, segundo o autor
(op. cit.), nas novas formações, assume características de sufixo, passando a -ódromo, o que
justifica a presença de uma consoante de ligação em paizódromo e gayzódromo, por exemplo.
135
Caetano (2010a), como já citado, com base em Mira Mateus et al. (2003), classifica a vogal
como marcador de fronteira, independente dos elementos formadores da composição: a) dois
elementos neoclássicos; b) dois elementos vernáculos; e c) primeiro elemento vernáculo resultante
de truncamento e um elemento vernáculo.
Destaca-se, no último processo de formação, a classificação que Caetano (2010a) confere a
forma truncada de turbocompressor, turbo, elemento vernáculo. Os dicionários Priberam e o
Grande Dicionários Houaiss Beta da Língua Portuguesa, ambos online, registram turbo como
forma truncada de turbocompressor. O primeiro apresenta-o como uma forma livre e também como
um elemento de composição, já o segundo o faz apenas como um apositivo67. Entretanto, a forma é
registrada no Dicionário Escolar Latim-Português de Faria (1962): turbo – “todo objeto animado
de movimento rápido e circular”. Isso evidencia que determinar quais são os elementos de origem
latina e quais são os elementos do vernáculo não é tarefa simples.
Gonçalves (2011b) retoma a posição consensual de que não há marcadores de compostos de
base livre em português. O autor (op.cit.) apresenta dois tipos construções em que a vogal -o-
aparece como um segmento intermediário da formação, além de destacar a sua permanência nas
formas truncadas. A distinção dessas construções apoia-se na diferença dos elementos constitutivos
que se combinam para criá-las: a) constituídas de elementos clássicos e vernáculos e b) constituídas
de elementos do vernáculo. O autor descreve o comportamento sintático dos compostos adjetivos
em que essa vogal se manifesta e o comportamento fonológico das vogais. Contudo, não sugere um
classificação para esse segmento intermediário.
67 “Diz-se de ou palavra, ou sintagma invariável, que condensa uma frase de teor adjetivo” (Grande Dicionários Houaiss
Beta da Língua Portuguesa Online).
136
6.6. Análises das Diferentes Construções Neoclássicas do Português e do Segmento Fronteiriço
As formações neoclássicas introduzidas em diferentes línguas, como exposto no capítulo 4,
são fruto da retomada das tradições greco-latinas, no Renascimento, e do Desenvolvimento
Científico, no séc. XIX, que fez uso dessas línguas como referência para a criação de palavras
relacionadas às novas descobertas. Contudo, como observa Lüdeling (2006, p.580), a noção de
‘neoclássico’ não é simplesmente uma noção etimológica. Em primeiro lugar, não se pode esperar
que os falantes tenham conhecimento etimológico. Além disso, muitas vezes é difícil determinar a
origem de um elemento morfológico porque muitos elementos entram para uma língua através de
outras.
Viaro (2014, p. 270) afirma que “é pura ilusão nacionalista imaginar que cada língua,
independentemente, tenha criado seus cultismos. Normalmente é uma língua quem os cria e as
outras os importam ou os modificam por meio de decalque”.
No Português, essa tarefa não é simples, uma vez que a formação lexical ou os modelos de
formação de palavras68 possuem origem no Grego e no Latim. Entretanto, pretende-se distinguir
essas construções, por meio da característica que lhes é peculiar, conforme ressaltaram Li Ching
(1973), Bauer (1998), Amiot e Dal (2007) e Petropoulou (2009), entre outros: as vogais, -o- e -i-,
intermediárias entre seus constituintes.
É possível identificar ao menos sete tipos de construções diferentes constituídas por
elementos neoclássicos:
a) formada por dois elementos de origem grega: agrômetro (séc XIX69), fotógrafo (séc
XIX);
b) formada por dois elementos de origem latina: apicultura (1871), herbívoro (1844);
68 O Português, como objeto do ensino de língua, torna-se premente por meio do Alvará Régio de 1770 que oficializa o
uso da Gramática de Antônio José dos Reis Lobato e tira do foco o ensino de Grego e de Latim (FÁVERO, L. L. As
concepções linguísticas no século XVIII: a gramática portuguesa. São Paulo: UNICAMP. 1996, p. 301-302).
69 A fonte da datação dos exemplos é o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (CUNHA, 2012).
137
c) formada pelo primeiro elemento de origem grega e o segundo de origem latina:
sociologia (1858), neolatino (1873);
d) formada pelo primeiro elemento de origem grega e o segundo de origem vernácula:
agroambiental (s/ data), homoafetivo (s/ data);
e) formada pelo primeiro elemento de origem latina e o segundo de origem vernácula:
pluricampeão (s/ data);
f) formada pelo primeiro elemento de origem vernácula e o segundo de origem grega:
cachorródromo (s/ data), cervejólogo (s/ data); e
g) formada pelo primeiro elemento de origem vernácula e o segundo de origem latina:
baraticida (s/ data), agricultura (1440).
As construções descritas em a) e b) possuem uma motivação histórica para o uso das vogais
-o- e -i-, respectivamente. Em ambos os casos, há um modelo clássico de formação de palavras: os
processos e os elementos são de origem grega e latina. Retomando Goodwin (1900), as vogais
finais das bases à esquerda das composições gregas sofriam alterações, passando, geralmente, a -o,
e essas vogais pertenciam ao primeiro elemento. Da mesma forma, como visto em Allen e
Greenough (1903) e Bennett (1913), as vogais finais das bases à esquerda nas composições latinas
passavam, normalmente, a -i.
Em c), há um hibridismo70, que, segundo os puristas, seria uma má formação, pois seus
elementos são de origens diferentes, Grego e Latim. A presença da vogal -o-, nessa constituição,
parece natural, uma vez que o primeiro elemento é de origem Grega. Contudo, se os elementos
clássicos foram tomados de empréstimo do Grego, em todos já havia na origem -o como
constituinte desse elemento?
Cunha e Cintra (1985, p.110) elencam 63 radicais gregos que funcionam, preferencialmente,
como primeiro elemento da composição; entre eles, 51 terminam em -o, os outros 12 apresentam
terminações em -i, -a e -n. Esses dados, comparados com as informações de Goodwin (1900),
suscitam o seguinte questionamento sobre a formação em b): os radicais gregos apresentados pela
70 “São palavras híbridas, ou hibridismos, aquelas que se formam de elementos tirados de língua diferentes,” (CUNHA;
CINTRA, 1985, p. 113)
138
gramática de Cunha e Cintra (1985) seriam formas truncadas dos internacionalismos e, por isso,
terminam em sua maioria na vogal -o ou essas formas possuíam uma outra terminação no Grego?
Os questionamentos não invalidam a motivação histórica do uso da vogal -o em c). A
origem grega, porém, pode ser mais uma justificativa para a quase supremacia desse segmento nas
composições, diminuindo as variações de elementos possíveis na posição ocupada pelo -o-.
Em Português, chama a atenção a significativa quantidade de radicais gregos arrolados pelas
gramáticas normativas em comparação com os radicais latinos: Cunha e Cintra (1985) registram 39
radicais latinos, entre eles 26 são classificados como primeiro elemento de composição e 13, como
segundo elemento de composição; e 109 radicais gregos, sendo 63 usados, preferencialmente, como
primeiro elemento de composição e 46, como segundo elemento de composição. Lima ([1972]
2000) elenca 50 radicais latinos, em sua maioria de origem verbal, e 91 radicais gregos. Bechara
(2000) relaciona 230 radicais gregos e 80 radicais latinos, também em sua maioria de origem
verbal.
Outras análises ratificam a predominância dessa vogal. Tavares da Silva (2013) registra
eletro- como encurtamento das palavras eletricidade e elétrico. Essa é a forma encontrada nas
recomposições (eletrochoque, eletrocondutor), embora ela não seja escaneada a partir das palavras-
fontes, elétrico e eletricidade. Belchor (2009) assinala características do truncamento que validam a
descrição do dado: a) a margem esquerda é preservada na forma truncada; e b) à forma encurtada,
uma vogal pode ser adicionada. Algumas motivações podem ser inferidas para esse comportamento:
o recorte é feito sobre uma unidade morfêmica que tem origem grega; e a frequência de uso dos
radicais gregos, considerando as listas registradas pelas gramáticas. Isso influencia a escolha da
vogal -o- para adjungir-se à forma encurtada. O mesmo não ocorre em alguns truncamentos não-
morfêmicos, a exemplo de japa de japonês ou de japonesa; portuga de português.
139
O primeiro constituinte das formações em d) é de origem grega e, de acordo com Gonçalves
e Andrade (2012, p. 134), na recomposição, por meio de uma metonímia formal, assume o
significado do composto de que era constituinte e atualiza esse conteúdo especializado na
combinação com novas palavras. Portanto, homo-, em homoafetivo, assume o sentido de
homossexual e não de igual. O truncamento mantém a vogal, mas o mesmo não pode ser afirmado
em relação à agroambiental, uma vez que agro-, na recomposição, retoma produção agrícola e não
uma palavra da qual o formativo faça parte, como agronomia ou agrônomo. Uma proposição,
pensada a partir do conceito de metonímia formal de Gonçalves e Andrade (2012, p. 134) e do
conceito de analogia, como defendido por Kastovsky (cf. seção 6.4), seria a de uma metonímia
formal de agricultura e, em função da analogia motivada pela alta frequência de uso das formações
com agro-, a vogal -o- seria acionada, da mesma maneira que ocorre em -gram e -logy quando a
vogal não faz parte do primeiro elemento.
Todavia, alguns formações semelhantes à agroambiental, em “d”, trazem uma complexidade
para além da correspondência entre forma truncada e a forma plena da palavra, pois agro- nessas
construções pode instanciar diferentes significados: ciência, produto, cultivo, por isso interpretamos
o comportamento de agro- como secretion morfoperfilado, como exposto no capítulo 5, uma vez
que o processo abrange uma rede maior de significações, para além de agricultura.
Segundo Chantraine (1968, p. 15), a palavra mais adequada em Grego para referir-se à
campo cultivado71 era ᾰρουρα72, já que αγρός era usado para campos não cultiváveis; contudo, agri-
71 Rosa (2010, p. 106) assevera que os grandes feitos da Civilização Grega estão no âmbito da Filosofia, da Ciência, das
Artes, do Direito e da Política. O autor (loc. cit.) observa que há autores que argumentam que os gregos tinham
desprezo por atividades manuais por considerá-las indignas para o homem livre. Colossi et al. (1997, p. 55) afirmam
que “o trabalho na Grécia antiga gozava de prestígio, especialmente, o da agricultura, passando a ser realizado por
escravos somente no período helenístico.” Segundo Horta (1970, p. 335), os campos atenienses não produziam
suficientemente para a população, era preciso importar alimentos. As atividades econômicas estavam voltadas para
exploração de minério, por ser abundante e exigir um investimento em mão de obra menor do que o requerido pela
agricultura.
140
e agro- são apresentadas em Língua Portuguesa com o mesmo sentido, campo, sendo, portanto,
concorrentes morfológicas e semânticas e, por isso, a imbricação entre esses formativos suscitam
questionamentos.
Sobre as construções em f), cachorródromo e cervejólogo, mais especificamente, sobre
-logo, Rondinini (2004) afirma que a criação de palavras em série levou “à mudança no status
morfológico desses constituintes no século XX”, pois adjungem-se a bases livres, e -logo passa de
radical a afixo, -ólogo. A vogal, por analogia às formações neoclássicas, realiza-se, mas não
pertence ao primeiro elemento e sim ao sufixo, como em cervejólogo. Pires (2014) posiciona-se de
maneira semelhante, em relação a -dromo e defende que nas formações mais recentes o outrora
radical grego funciona hoje como um sufixo produtivo, -ódromo, como em cachorródromo. O
posicionamento dos autores remete às possibilidades apresentadas por Kastovsky (2009) para
interpretação da vogal.
As formações em g) necessitam de uma pesquisa mais acurada, para que sejam feitas
afirmações mais precisas; contudo, numa primeira análise, tomando por base os números indicados
por Cunha e Cintra (1985) sobre os radicais gregos e latinos, percebe-se que i) há um número menor
de palavras constituídas de elementos latinos na segunda posição; ii) as palavras criadas são mais
opacas, como em “franguívoro”, “mulherívoro” (exemplos de GONÇALVES, 2011b), portanto, iii)
não geram produção em série e iv) algumas, ainda que se combinem com formas livres, têm
Lidell e Scott (1883, p. 15) no Greek –English Lexicon, definem agrônomo como magistrado, em Atenas, responsável
pela fiscalização das terras públicas. Já Chantraine (1968, p.15), no Dictionnaire Étymologique de la Langue Grecque,
como que vive na zona rural. Em relação à palavra agronomia, Houaiss informa que, provavelmente, é um empréstimo
do Francês. Os dicionários franceses pesquisados, Le Dictionnaire Étymologique et Historique Du Galloroman (FEW)
(2003, p.271) mencionam a palavra no verbete agronome (agrônomo) e define como função do oficial e o CNRTL
(Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales) como ofício do agrônomo. Ambos os dicionários informam que
a palavra com acepção de ciência passa a ser usada apenas no século XVIII.
Embora sejam inferências, as relações socioculturais dos gregos com o trabalho agrícola podem justificar a difusão de
ἀγρος em detrimento de ᾰρουρα da palavra específica para referir-se ao cultivo da terra. 72 Segundo Chantraine (1968) e Boisaeq (1916), em latim, arvum significa terra cultivada ou cultivável.
141
contexto de uso específico, retomando as formações neoclássicas prototípicas, tais como pesticida,
inseticida e as formações em -cultura, cafeicultura, bananicultura, cacauicultura.
Embora, inicialmente, pareçam ter menor produtividade, as composições com as formas
latinas apresentam um comportamento morfológico parecido com as formações com elementos
gregos: o elemento anterior perde sua vogal e o -i- assume a posição intermediária entre as bases. A
presença da vogal ratifica uma composição por analogia. A seleção linguística, -cida e -cultura,
associada à função pragmática do termo (utilizado pela indústria química e pela agricultura,
respectivamente) podem ser gatilhos para o uso do modelo neoclássico de composição.
Palavras compostas tais como médico-hospitalar, público-privado, clínico-cirúrgico, como
observado por Li Ching (1973) e Gonçalves (2011b), chamam a atenção, pois são processos
composicionais não constituídos por elementos neoclássicos em que a vogal -o- se instancia. Porém,
como já afirmado anteriormente, as bases à esquerda são formas livres que possuem o -o na sua
constituição, o que pode comprometer a análise, embora a manutenção da vogal sobreponha-se à
concordância entre os componentes coordenativos.
Há exemplos em que as duas bases fazem parte do vernáculo, como dento-bucal, buco-
maxilar, linguodental, e ocorre a instanciação73 da vogal -o-, que não pertence nem ao primeiro,
nem ao segundo elemento, mas caracteriza estruturalmente esses adjetivos compostos, mais do que
nas formações com -cida e -cultura, e a função pragmática pode ser um fator relevante para escolha
do modelo neoclássico para criação dessas palavras.
Os dados apresentados, nessa seção, tendo em vista as combinações entre dois elementos
neoclássicos ou entre um elemento neoclássico e uma forma livre do vernáculo, podem ser
divididos em três grupos, de acordo com as propostas de Bauer (1998) e Kastovsky (2009) para
73 Instanciação é uma relação sustentada pelo amplo inventário altamente estruturado de conjunto simbólico conhecido
pelo falante que se manifesta no uso da linguagem (cf. LANGACKER, 2008, p. 17).
142
relações das vogais com as bases: a) -o- ou -i- pertencente ao primeiro elemento – agrômetro,
agroambiental, neolatino, fotógrafo, pluricampeão, agricultura, apicultura, sociologia, herbívoro,
homoafetivo; b) -o- pertencente ao segundo elemento, comportando-se como parte do sufixo –
cachorródromo, cervejólogo (cf. RONDININI, 2004; PIRES, 2014); e c) -i- intermediário não
pertencendo a nenhuma das bases – baraticida, bananicultura. A gama de combinações possíveis
entre os elementos neoclássicos e os do vernáculo gera mudanças nas construções neoclássicas,
ocasionando variações no comportamento dos segmentos fronteiriços; portanto, enquadrá-los sob
uma classificação parece-nos equivocado. Descartamos apenas as possibilidades de interpretá-los
como infixo, pois não são morfemas, e como vogal de ligação, uma vez que, diferentemente das
vogais de ligação, esse segmento pode portar acento.
Observamos uma ocorrência sistemática desses segmentos nas construções, com
predominância da vogal -o-, dado sua maior abrangência na língua: a) maior número de radicais
terminados em -o; b) inexistência de formas neoclássicas truncadas com -i; c) uso de -o- como
vogal fronteiriça em compostos adjetivos copulativos (coordenados); e d) aproveitamento dessa
vogal em casos de recomposição, nos quais a palavra-fonte não apresenta tal segmento, como no
caso de “eletro” (TAVARES da SILVA, 2014).
Embora não tenhamos o compromisso em categorizar as vogais, defendemos a hipótese de
que as vogais, -i- e -o-, fronteiriças funcionem como elo entre as construções neoclássicas. Por meio
de uma rede de associações (Bybee, 2010: 22-23) entre as palavras, ou seja, por meio de um
mapeamento, identificam-se semelhanças semânticas e fonéticas compartilhadas por palavras
distintas, chegando assim aos constituintes da construção, por isso, nomeamos, independentemente,
das relações com as bases, esse segmento de marcador de construções neoclássicas, semanticamente
vazio, alternando ente -o- e -i-, sem levar em conta a pauta acentual. Palavras como buco-maxilar,
143
linguodental, ratificam a hipótese, pois não apresentam uma motivação morfológica para presença
da vogal entre as bases.
Considerando o exposto por Bybee (op. cit.), a analogia de ordem diacrônica seria a
motivação para a semelhança entre as construções analisadas, já que o esquema abstraído dos
compostos neoclássicos é o herdado das línguas clássicas, justificando, assim, a existência de
formações de cunho técnico como agrografia (1871), agrologia (1858).
Gentner e Markman (1997, p. 48) ressaltam que analogia ocorre quando as comparações
exibem um elevado grau de semelhança relacional com pouquíssima semelhança de atributo. À
medida que a quantidade de atributos similares aumenta, a comparação desloca-se em direção à
semelhança literal74. Por isso, Bybee (2010, p. 102) pontua que a analogia requer muito
conhecimento relacional ou alinhamento estrutural.
Bybee (2010, p. 60) afirma que a aceitabilidade de novas formas está pautada na
similaridade de sequências frequentes e convencionalizadas. Embora sejam consensuais as
afirmações sobre a capacidade criativa da linguagem humana, a autora (op. cit.) assevera que os
enunciados são formados por muitas sequências de palavras “pré-embaladas”. Esse esquema é fruto
das repetições realizadas na fala, que, segundo Bybee (2010), necessita de uma ou duas ocorrências
para estabelecer-se.
A criatividade, nesse modelo, segundo a autora (op. cit.), estaria justamente na forte relação
entre esquemas “pré-fabricados” e o surgimento de novas palavras por meio deles. Palavras como
agromoda (s/ data), agrotv (s/ data), agroquímico (s/ data) e agromulher (s/ data), entre tantas
outras, são criadas a partir do esquema estabelecido Radical+o+Radical, próprio dos compostos
neoclássicos prototípicos. O falante faz a associação a partir do acionamento de qualquer parte da
74 Analogy occurs when comparisons exhibit a high degree of relational similarity withvery little attribute similarity. As the amount
of attribute similarity increases, the comparisonshifts toward literal similarity. (GENTNER; MARKMAN, 1997, p. 48).
144
estrutura, nesse caso, do determinante, elemento relevante da composição, comportamento esse
semelhante ao dos compostos N-N do Holandês, como mostra Bybee (2010, p. 61).
A justificativa dada pela autora (op. cit.) para a escolha do modificador como elemento de
ancoragem no Holandês, que pode estender-se às novas formações com agro-, está na representação
exemplar dos compostos, esquemas nos quais a primeira palavra já está acionada e, por isso, é
utilizado como modelo para formações de novos compostos. Atrelada a isso está a frequência de
uso do formativo de origem grega, agro-, causa do número largamente maior de ocorrências do
segmento fronteiriço -o- nas construções em análise.
Portanto, de acordo com a autora (op.cit.), todos os compostos que partilham palavras já
estariam conectados no armazenamento, formando uma rede e tornando a aplicação do processo
analógico mais direto.
6.7. Novas Propostas de Análise para o Continuum Composição-Derivação
As análises das vogais fronteiriças levaram à hipótese de uma rede associativa entre os
compostos neoclássicos, que passamos a nomear de construções neoclássicas, por abarcar diferentes
formações com elementos neoclássicos, independentemente, do comportamento morfológico que os
formativos possam ter, pois as observações evidenciam que as construções neoclássicas apresentam
características que as aproximam e que as afastam do processo de composição de palavras nas
línguas vernáculas.
Por exemplo, em agropesca, agroflorestal, agroclimático, as bases mantêm uma relação de
coordenação, aproximando o formativo aos radicais e às palavras e, consequentemente, tais
formações da composição. Nas construções, agromineral, agroecossistema, agrógrafo,
agroreformista a relação entre as bases é de subordinação, na qual o elemento da direita é o
145
determinado e o da esquerda, o determinante, segundo Sandmann (1989, p. 123), essa relação é
típica da prefixação.
A flutuação de agro- poderia ser um impasse para a formulação de generalizações acerca das
formações neoclássicas. No entanto, no corpus, com 87 dados, foram observadas as características
mais salientes dessas composições: a) presença de um radical clássico – nesse caso, agro-; b)
presença da vogal fronteiriça -o-. Os demais critérios, tais como posicionamento do formativo na
construção, relação sintática entre os elementos, realização fonética e significado do formativo, não
só identificam os membros prototípicos, mas também podem aproximar essas construções de outros
processos de formação de palavras.
É possível afirmar que, entre as palavras pertencentes ao corpus analisado, apenas 4
(agrômeno, agromania, agrografia, agrologia) são as que apresentam todas as características
propostas por Amiot e Dal (2007). As demais são novas formações que fogem das características
prototípicas. Entretanto, cabem alguns apontamentos em relação a alguns aspectos proeminentes.
A origem etimológica é um critério controverso, pois o Português é uma língua neolatina e
sofreu influência grega indiretamente. Embora seja um fator que distinga a composição vernacular
da composição neoclássica, já que a introdução desses elementos na língua foi tardia, via línguas
clássicas ou via empréstimo de outras línguas, exigiria um trabalho diacrônico mais profundo, e
palavras como agricultura, agrícola, agrimensura, formadas no Latim, e agrônomo e agronomia,
formadas no Grego, seriam excluídas da análise. A etimologia diferencia os elementos não
considerados como pertencentes ao vernáculo.
Segundo Bizzocchi (1998, p. 68) “para línguas românicas, são vernáculos os elementos
léxicos provenientes diretamente do latim vulgar e do romance, por evolução fonética regular”. Rio-
Torto (2014, p. 33) distingue dois níveis de abordagens para palavras, herdadas ou criadas, a partir
de padrões greco-latinos: a) o de uso não reflexivo da linguagem e, portanto, da gramática
146
interiorizada do falante e b) o da descrição, análise e entendimento de como funcionam as estruturas
linguísticas, ou seja, o da gramática explícita. Em ambos os casos, salienta a importância de
conhecer a história e as mudanças reveladas pelas línguas para explicar o seu funcionamento
sincrônico.
A autora (2014, p. 48) reconhece a dispensabilidade do conhecimento diacrônico pelo
falante para o uso da língua; contudo, considera a hipótese de uma internalização de conhecimentos
históricos pelos falantes, por meio do funcionamento da língua; logo,
“Se a estrutura da palavra não está dissociada das condições genéticas e históricas
da sua criação, os vestígios que a história deixa na estrutura da palavra hão de
refletir-se no modo como esta está representada no nosso léxico mental.” (RIO-
TORTO, 2014, p. 48)
O posicionamento da autora dialoga com as considerações apontadas por Bybee (2010) a
respeito da analogia de ordem sincrônica e diacrônica, como exposto na seção anterior. Ambos os
argumentos ratificam que sincronia e diacronia têm de ser vistas como um todo integrado.
O critério semântico preza pelo sentido dos radicais em suas línguas de origem (cf. notas 55
e 56). Como mencionado anteriormente, esse fator ratifica a identidade dos neoclássicos, pois há
uma ressignificação do formativo em outros processos constituídos por esses elementos, como em
agrobiodiversidade (diversidade das formas de vida nas paisagens agrícolas). Embora ager e agro,
de acordo com os dicionários etimológicos, apresentem diferentes acepções, no Latim e no Grego,
respectivamente; em Português, agro- amplia seu sentido de acordo com a construção de que
participa e, por isso, os significados nem sempre são recorrentes.
A existência de uma vogal fronteiriça entre os constituintes da construção, marca formal em
diferentes línguas, é observada em novas formações do Português, tenham elas elementos
neoclássicos ou apenas elementos vernaculares, como observado na seção 6.6. Nos processos de
147
formação de palavras constituídos por agro- ou por agri-, as vogais estão presentes (agricultar,
agromoda, agroflorestal).
Em função dos apontamentos concernentes aos compostos do vernáculo constituídos de
bases livres (dento-bucal, linguodental), apresentando a vogal intermediária -o-, mesmo não
havendo uma motivação na estrutura morfológica, inferimos, embora sejam necessárias maiores
investigações, que essa vogal é um marcador de construções neoclássicas.
A presença da vogal em novas formas criadas pela evocação de uma construção mais geral
(BYBEE, 2010), o ESQUEMA DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS NEOCLÁSSICAS, doravante
EFPN, de acordo com nossa hipótese, seria acionado pela moldura comunicativa, ou seja, pelo
evento de uso específico: técnico-científico:
“As molduras comunicativas constituem estruturas de conhecimento relacionadas a
formas organizadas de interação. Caracteriza-se por um conjunto de procedimentos
que identifica um tipo de atividade social” (MARTELOTTA; PALOMANES,
2008, p. 185)
As análises sugerem três tipos de construções que instanciam o EFPN: a) construções
neoclássicas prototípicas, como em agrografia (1871), agricultura (séc. XV), agrícola (1635),
agrimensura (1784); b) construções neoclássicas híbridas, a exemplo de agronegócio, agroportal,
agroreformista, baraticida, monocultura, sociologia; e c) construções vernaculares com marcador
composicional, tal como médico-hospitalar, dento-bucal, buco-maxilar, linguodental.
Refletindo sobre o exposto, recobra-se o conceito de protótipo como uma imagem mental,
mais do que um fenômeno de superfície que toma diferentes formas mediante o conjunto de
exemplares estudado. Portanto, as construções prototípicas analisadas nesta pesquisa, pautadas nas
características proeminentes apontadas por Amiot e Dal (2007) e nas duas sugeridas por nós, são
elementos centrais que irradiam efeitos de prototipicidade (BERNARDO, 2009), as nomeadas
construções neoclássicas prototípicas, a exemplo das já citadas, agrômeno, agromania, agrografia,
148
agrologia. Essas construções são modelos para outras, em função de suas semelhanças, tais como:
(a) construções neoclássicas híbridas – que se desmembram entre as que são constituídas por
elementos neoclássicos, latinos e gregos, independente da ordem que assumam na construção, e as
constituídas por elementos clássicos e do vernáculo e vice-versa, com a presença de marcador
composicional; e (b) construções vernaculares com marcador composicional – aquelas em que as
bases à direita e à esquerda são elementos do vernáculo; entretanto, apresentam a vogal -o-
fronteiriça, acionada pela moldura comunicativa, retomando a rede analógica, proposta por Bybee
(2010).
As construções em (a) e (b) mantêm com a construção prototípica uma semelhança
relacional (BYBEE, 2010). Em (a), as sequências frequentes que se alinham ao protótipo podem ser
de dois tipos: 1) dois elementos neoclássicos, mas de origens diferentes; 2) um elemento
neoclássico adjungido a uma base livre do vernáculo, e um marcador composicional que poderá ser
-i- ou -o-, conforme a origem dos elementos combinados. Destacamos que as bases neoclássicas,
das formações descritas em 2, podem ou não sofrer ressemantização, por exemplo, em
agrobanditismo, agro- significa campo; todavia, em agrossocial, agro- significa agronomia (cf.
anexo 2). A mudança de significado dos elementos neoclássicos pode configurar distintos processos
subjacente à formação das palavras, recomposição ou secretion morfoperfilado. Outra questão que
merece ser salientada é a possibilidade de adjunção de empréstimos à base neoclássica, como em
eletrobike (bicicleta elétrica), agroshop, agrogirl, agroboy (cf. anexo 2).
Nas construções em (b), o marcador composicional associado à moldura comunicativa é o
responsável pela familiaridade entre o protótipo e as construções não constituídas de elementos
neoclássicos. As formações neoclássicas englobam três tipos de construções, a saber: construções
neoclássicas prototípicas, construções neoclássicas híbridas e construções vernaculares com
marcador composicional, o que nos leva a sugerir o continuum, ilustrado no quadro 7, abaixo:
149
Construções
neoclássicas
prototípicas >>>>>>>>>>>>
Construções
neoclássicas
híbridas
>>>>>>>>>>
Construções
vernaculares com
marcador
composicional
Quadro 7- Continuum das Construções Neoclássicas
O esquema de formação das construções tratadas no quadro anterior participa do continuum
composição-derivação, ratificando a maleabilidade das fronteiras entre os processos de formação de
palavras complexas, como detalhado no quadro 8 a seguir:
Esquemas de Formação de
Composição >>>>>>>>>> Palavras Neoclássicas >>>>>>>>>> Derivação
Processo Clássico de
Composição
Recomposição
Secretion
Morfoperfilado
Quadro 8 – Detalhamento dos Processos de Formação de Palavras Neoclássicas
150
Quadro 9 - Desmembramento do Processo Clássico de Composição
Tendo em vista a descrição apresentada nesta pesquisa, os compostos neoclássicos
encontram-se entre a composição e a derivação, uma vez que reúnem características dos dois
processos. Contudo, considerando as peculiaridades das diferentes construções congregadas pelo
rótulo de “compostos neoclássicos”, é possível estabelecer uma representação exemplar ou um
esquema, ao qual nomeamos de ESQUEMA DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS NEOCLÁSSICAS
(EFPN), que, sendo menos detalhado que os exemplares, abarca uma diversidade de construções e
serve como âncora para novas formações. Esse Esquema é instanciado pelas construções
neoclássicas prototípicas, formadas por dois elementos neoclássicos de mesma origem (agrômeno,
agromania, agrografia, agrologia, homófono, biófito); construções neoclássicas híbridas, formadas
por elementos neoclássicos de origens distintas (automóvel, decímetro, sociologia); construções
híbridas constituídas por elementos neoclássicos e elementos do vernáculo (agrobanditismo,
agroaçucareiro, agroalimentar, telemensagem, heteroagressão, ecoturismo) ou não (eletrobike,
petrodiesel, agroboy, agrogirl, agroshop); e construções vernaculares, formadas por elementos
Processo Clássico de Composição
Prototípico
duas bases neoclássicas com mesma etimologia
Híbrido
uma base neoclássica e duas bases neoclássicas com
outra vernácula (ou não) etimologia diferente
Recomposição Secretion
Morfoperfilado
uma base neoclássica ressemantizada e outra vernacular (ou não)
151
nativos, com marcador composicional (médico-dentário, luso-brasileiro, sócio-econômica,
linguodental, bucomaxilar).
As construções neoclássicas prototípicas e híbridas, constituídas por elementos neoclássicos,
seriam formadas pelo processo clássico de composição; as construções neoclássicas híbridas,
constituídas por elemento neoclássico e elemento do vernáculo, mais periféricas, seriam criadas via
recomposição ou secretion morfoperfilado. As construções vernaculares com marcador
composicional, apesar de ser instanciação do EFPN, compartilham mais caracaterísticas com a
composição.
6.8. Produtividade
Uma das questões abordada, no capítulo 4, a respeito dos “compostos neoclássicos’, é a
produtividade. Não pretendemos discutir conceitos de produtividade, nesta seção, mas salientar
alguns aspectos relevantes concernentes a agro- e agri-
Lüdeling (2006) e Ralli (2008 a) afirmam que formações neoclássicas estão integradas ao
sistema da língua e são produtivas. Bauer (1998) sugere que a análise da produtividade seja feita
por uma escala gradual, entre construções mais e menos produtivas. Ralli (2008 a) propõe que a
gradiência leve em conta o continuum composições do vernáculo e composições neoclássicas.
Embora o corpus examinado com agro- e agri- elenque apenas 101 palavras, o corpus examinando
por Vivas (2012), de aproximadamente mil palavras com bio-, e o examinado por Ferreira (2010),
com cerca de quinhentas palavras com tele-, demonstra quantitativamente o potencial desses
elementos.
A quantidade de novas formações com agro-, se comparada com novas formações com tele-
e bio-, é bem menor, mas, se comparada com construções com agri-, a quantidade toma contornos
qualitativos, pois é possível afirmar, tendo em vista o corpus analisado, que este formativo está
152
reduzido a formações praticamente fossilizadas, como agricultar, agricultado, agricultável75,
agrimensura, com exceção de agricultura e agrícola. A qualidade também se destaca nas diferentes
possibilidades de combinação entre agro- e elementos do vernáculo, tal como sigla, em agrotv,
empréstimos, em agroservice, e encurtamentos (ou cruzamentos), em agroboy.
De acordo com Bybee (2010), a alta frequência type, o número de diferentes construções
que instanciam um esquema, conferem maior abrangência ao esquema e, consequentemente,
tornam-no mais produtivo. Uma classe morfológica com um elevado grau de semelhança
fonológica será menos esquemática, restringindo a aplicabilidade e, por extensão, a produtividade.
A diversidade de construções com agro- contribui com a estabilidade do EFPN.
75 Essas três formas constituem palavras relacionadas por processos de sufixação, valendo, na verdade, por apenas uma.
153
CONCLUSÃO
Esta pesquisa originou-se de algumas questões discutidas na morfologia sobre o conceito de
Compostos Neoclássicos, perguntas semelhantes às feitas pelos diferentes autores referenciados
nesta pesquisa, tais como: 1) agro- e agri- são formativos distintos ou alomorfes de uma mesma
unidade morfológica? 2) os compostos neoclássicos inserem-se na composição? 3) qual é o estatuto
morfológico dos formativos? 4) quais são as características morfológicas, sintáticas e semânticas
dessas formações? 5) esse é um processo produtivo? Ao longo do trabalho, outras dúvidas surgiram,
as quais tentamos responder ou, quando não, refletimos e apontamos caminhos para futuras
pesquisas.
Dados históricos contribuíram para responder a primeira questão: agro- e agri- são o mesmo
elemento, apresentando, no final, uma alternância vocálica? Textos do Latim Arcaico, do Latim
Clássico, dicionários etimológicos do Português, do Francês e do Espanhol, levaram-nos à
conclusão de que são duas formas com origens distintas, agro- advindo do Grego e agri-, do Latim,
embora tenham relações históricas comuns nas Línguas Clássicas. Algumas das formações gregas
chegaram ao Português, indiretamente, via Francês.
A segunda questão diz respeito à pertinência da classificação das construções com elementos
neoclássicos como composição. A partir do continnum composição-derivação, pautando-se nas
características prototípicas de cada um desses processos, foi traçado um paralelo entre esses
processos e os “compostos neoclássicos”. Identificamos semelhanças que ora identificam formações
neoclássicas com a composição, ora com a derivação. A posição intermediária das formações
neoclássicas no continuum é fruto do comportamento flutuante dos elementos que as constituem,
que alternam características de radical, de afixos, e de afixoides, dificultando a classificação.
Diferentemente de Amiot e Dal (2007), que iniciam suas análises classificando os elementos
neoclássicos de Formas Combinatórias (FC), evitamos rótulos, pois, como destaca Kastovsky
154
(2009), sob FC agrega-se uma série de formativos com características distintas: palavras, raízes,
radicais, afixos, truncamento, splinters. Por isso, ao longo do trabalho, os elementos denominados
pela tradição de “radicais neoclássicos” foram nomeados de elementos morfológicos ou formativos,
por conferir mais neutralidade. A análise mostrou um comportamento heterogêneo de agro-,
ratificando o continuum composição-derivação.
As construções neoclássicas prototípicas com agro- e agri- diferem dos compostos do
vernáculo por: a) serem constituídas por dois elementos clássicos e não por elementos do vernáculo;
b) assumirem posição à esquerda, embora essa posição se modifique entre os diferentes
construções; c) não imprimirem mudança categorial. A relação sintática entre as bases, com poucas
exceções, é a canônica do modelo clássico, DT-DM. No que se refere ao significado, agro-
apresenta densidade semântica.
As características que distinguem os compostos vernaculares dos compostos neoclássicos
prototípicos possibilitam a identificação de um esquema para essas formações. No entanto, os
neoclássicos não formam um conjunto homogêneo, nem mesmo entre aqueles que reúnem as
características mais salientes. A adjunção dos formativos neoclássicos a bases livres do vernáculo
gera uma gama de modelos que divergem no nível fonético, morfológico, sintático e semântico,
estando unidos por semelhança de família. Em consonância com Petropoulou (2009), identificamos
como aspecto mais saliente das construções neoclássicas prototípicas a combinação entre dois
elementos de origem clássica, mas divergimos da autora (op. cit.) por não incluirmos entre os
elementos neoclássicos os que se comportam como forma livre, por considerarmos que esse aspecto
os afasta dos prototípicos.
A heterogeneidade das construções abarca todos os níveis gramaticais, mas, no
desenvolvimento do trabalho, demos destaque a fatores morfológicos e semânticos. Sendo os
formativos aqui tratados também constituintes do processo de recomposição, observamos a
155
considerável densidade semântica entre as formações com agro-. Algumas construções são
recompostas, mas não podem ser classificadas categoricamente como recomposição, pois seu
significado não é recorrente e não mantém uma relação de fidelidade com a palavra matriz (BOOIJ,
2005). Portanto, esse seria um subprocesso da recomposição ao qual nomeamos de secretion
morfoperfilado.
Em relação ao aspecto morfológico, há uma sobreposição entre agro- e agri-, pois aquele
surge como forma truncada de palavras constituídas por este. A analogia pode ser um hipótese para
esse comportamento, como destaca Kastovsky (2009). A forma truncada agri- perderia a vogal -i e,
em função da relação associativa e da frequência de uso, a vogal -o- assumiria a posição. Essa pode
ser uma justificativa para manutenção da forma concorrente agri- em Português, embora seja
produtiva.
Diante do exposto, analisamos o papel do segmento vocálico inserido entre as bases da
construção; elencamos as possíveis combinações entre os elementos clássicos e entre estes e os
elementos do vernáculo; observarmos que as vogais -o- e -i- estão presentes de acordo com a
origem dos formativos, se grego ou latino, respectivamente. Por fim, notamos que algumas
composições constituídas apenas por elementos do vernáculo apresentam -o- como vogal final da
primeira base, algumas com motivação morfológica como em médico-cirúrgico, outras não, como
em dento-bucal, ainda que sejam compostos do vernáculo, apresentam uma vogal fronteiriça.
Inferimos que a moldura comunicativa aciona a vogal e a escolha pelo -o- deve-se à frequência de
uso.
As construções com elementos apenas do vernáculo ratificam as hipóteses de formação por
analogia e a de classificação dessa vogal como marcador composicional, específico de processos de
formação de palavras que possuem elementos neoclássicos ou que exercem uma função pragmática
típica dessas construções, isto é, são designações técnicas ou científicas, embora os elementos sejam
156
do vernáculo. Por isso, propusemos o continuum Construções neoclássicas prototípicas > Construções
neoclássicas híbridas > Construções vernaculares com marcador composicional, ilustrado no quadro
7.
As variadas combinações possíveis com agro-, ou melhor, a frequência type, fortalecem os
esquemas que, por sua vez, servem como fonte para novas palavras. Atrelados a esses conceitos
estão analogia e produtividade. A criação de novos dados, considerando-se a semelhança e usos
anteriores, faz-se por meio de construções gerais, e a abrangência de tais construções pode tornar o
esquema mais ou menos produtivo. A diversidade de construções com agro- potencializa a sua
produtividade.
Diferentes apontamentos foram feitos com o propósito de responder à questão inicial desta
pesquisa: Qual é o estatuto morfológico de agro- e agri-? Ao nos aproximarmos dos formativos,
várias imagens foram desenhadas como um caleidoscópio, que a cada movimento foi trazendo
novos arranjos com diferentes peculiaridades, mas a semelhança entre as construções marginais
permitiu estabelecer a correlação entre as estruturas. Portanto, agri- e agro-, principalmente o
último, podem ser melhor entendidos no continuum radical-afixo, e, consequentemente, as
construções neoclássicas, das quais participam, são mais bem descritas a partir do continuum
composição-derivação, uma vez que seus membros são categorizados como prototípicos e
periféricos, demonstrando a heterogeneidade inerente aos processos de formação de palavras de
Português.
Portanto, as questões analisadas durante este trabalho corroboram a hipótese do
processamento cognitivo flexível (MARKMAN, 2000), que permite a organização e
armazenamento das experiências linguísticas atuais e antigas via comparação, ou seja,
estabelecendo relações que consideram as compatibilidades e os desvios das formas, gerando
157
esquemas a partir de construções linguísticas. A flexibilidade correlaciona e reúne na mesma
categoria elementos que são correspondentes e também, por extensão, os que são similares.
Com isso, o assunto não se esgota, tendo em vista a sua complexidade; contudo,
apresentamos uma alternativa de sistematização para as formações agro-X, que poderá lançar luz
sobre a forma como os processos de formação de palavras são compreendidos, e poderá contribuir
para a análise de diferentes construções neoclássicas.
158
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172
ANEXOS
Os verbetes, do anexo 1, estão distribuídos em 5 colunas. Na primeira coluna, estão
dispostos os vocábulos e as datas de registro de entrada na Língua Portuguesa, de com o Houaiss e.t
al. (2009). Na segunda coluna, são elencadas as fontes de consulta: o Grande Dicionário Houaiss
Beta da Língua Portuguesa (Houaiss), o Novo Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua Portuguesa
(Aurélio), o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) e o Google. As fontes são
citadas de acordo com o registro do vocábulo nelas:
a) Apenas no VOLP, quando não dicionarizadas;
b) Nos dois dicionários;
c) Apenas em um dos dicionários;
d) Em um dos dicionários e VOLP;
e) Nos dois dicionários e no VOLP.
O Google serviu para atestar o uso de palavras registradas apenas no VOLP e para coletar
novas construções ainda não inscritas nos dicionários e no VOLP. Palavras arroladas, no VOLP,
não passíveis de verificação de uso por meio do Google, não foram elencadas, uma vez que podem
não representar práticas linguísticas estabelecidas pela comunidade de fala.
Na terceira coluna, é identificado a classificação morfológica da construção e na quarta
coluna, a natureza das bases constitutivas dos vocábulos.
Na quinta coluna, são expostas as possíveis relações sintáticas entre os formativos da
construção: a subordinação e a coordenação (SANDMANN, 1989). Na primeira, a relação pode ser
do tipo determinante-determinado (DT-DM) ou determinado-determinante (DM-DT). Na segunda,
não há determinação do núcleo por um determinante.
173
No anexo 2, os verbetes são inventariados na primeira coluna e as acepções na segunda,
conforme definido pelo Houaiss. Para palavras não dicionarizadas, fragmentos de textos retirados
do Google são exibidos, a fim de apresentar possíveis definições propostas na ferramenta de busca
e/ou contextos de uso.
174
ANEXO 1
Vocábulo e Data de Registro de
Entrada na língua
Fontes Classificação
Morfológica
Natureza
das Bases
Relação Sintática
1. Agribusiness -1955 Houaiss Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
2. Agricoindústria – (s/data) Houaiss
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
3. Agricoindustrial - 1899 Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
4. Agrícola - 1635
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo/
Adjetivo
Base Presa +
Base Presa
DT-DM
5. Agricopecuária – (s/data) Houaiss
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
COORDENAÇÃO
6. Agricopecuário – (s/data) Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
7. Agricultado -1552
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Presa
DM-DT
8. Agricultar -1552
Houaiss
Aurélio
VOLP
Verbo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
9. Agricultável -1799
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Presa
DM-DT
10. Agricultor – 1532
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo/
Adjetivo
Base Presa +
Base Presa
DT-DM
11. Agricultura – séc.XV
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
12. Agrimensor -1795
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
13. Agrimensura - 1784
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
14. Agro – séc. XIII
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Forma Livre
15. Agroaçucareiro – séc XX
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DM-DT
175
16. Agroalimentar – (s/data) Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DM-DT
17. Agroambiental – séc. XX Houaiss
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
COORDENAÇÃO
18. Agrobandido – (s/data) Google Substantivo/
Adjetivo
Base Presa +
Base Livre
DT-DM
19. Agrobanditismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
20. Agrobioclimático – (s/data) VOLP Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
21. Agrobiodiversidade –
(s/data)
Houaiss Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
22. Agrobiologia – (s/data) Houaiss Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
23. Agroboy – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
24. Agrocanal – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
25. Agrociência – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
26. Agroclimatérico – 1986 Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre COORDENAÇÃO
27. Agroclimático – 1986 Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre COORDENAÇÃO
28. Agrocombustível – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
29. Agroecologia – (s/data)
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
30. Agroecológico – (s/data) Houaiss
Aurélio
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
31. Agroeconomia – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
32. Agroeconômica – (s/data) Google Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
33. Agroecossistema – (s/data) Houaiss
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
34. Agroecoturismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
35. Agroempresário – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
36. Agroenergia – séc. XX Houaiss Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
37. Agroexportação – (s/data) Houaiss Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
176
38. Agroexportador – (s/data) Houaiss Substantivo/
Adjetivo
Base Presa +
Base Livre
DT-DM
39. Agrofit – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
40. Agrofloresta – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
COORDENAÇÃO
41. Agroflorestal – (s/data) Houaiss Adjetivo Base Presa +
Base Livre
COORDENAÇÃO
42. Agrogeógrafo – (s/data) VOLP Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
43. Agrogeologia - 1949
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
44. Agrogeológico – 1949
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
45. Agrogestão – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
46. Agrogirl – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
47. Agrografia – 1871 Houaiss
Aurélio
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
48. Agrográfico – (s/data) Houaiss
Aurélio
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
49. Agrógrafo -1871 Houaiss
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
50. Agro-hidrologia – (s/data) Houaiss Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
51. Agroindústria – séc. XX Houaiss
Aurélio
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
52. Agroindustrial – séc XX Houaiss
Aurélio
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
53. Agrolink – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
54. Agrologia -1858 Houaiss
Aurélio
Adjetivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
55. Agrológico – 1871 Houaiss
Aurélio
Adjetivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
56. Agrólogo -1913 Houaiss
Aurélio
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
57. Agromancia - 1652
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
58. Agromania – 1827
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
177
59. Agromaníaco - 1871
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo/
Adjetivo
Base Presa +
Base Livre
DT-DM
60. Agrômano – (s/data) Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
61. Agromante – 1913
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
62. Agromântico – 1913
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
63. Agromanufatura – (s/data) VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
64. Agrômeno – 1871 Houaiss
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
65. Agrometeorologia – (s/data)
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
66. Agrometeorológico – (s/data)
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
67. Agrometria – (s/data) VOLP Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
68. Agrômetro - 1900 Houaiss
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
69. Agromineral – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
70. Agromoda (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
71. Agromulher – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
72. Agronegócio - 1990
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
73. Agronomando – séc. XX
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo/
Adjetivo
Base Presa +
Base Presa
DT-DM
74. Agronometria - 1858
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
75. Agronométrico – séc. XX
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
178
76. Agronomia - 1818
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
77. Agronômico -1818
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
78. Agrônomo - 1818
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
79. Agropastoril - 1986 Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
80. Agropecuária – séc. XX
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
COORDENAÇÃO
81. Agropecuário – séc. XX
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
82. Agropecuarista – (s/data)
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo/
Adjetivo
Base Presa +
Base Livre
DT-DM
83. Agropédico – 1986 Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Presa
DT-DM
84. Agropesca – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
COORDENAÇÃO
85. Agroportal – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
86. Agroproduto – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
87. Agroquímica - séc. XX
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
88. Agroquímico - 1956
Houaiss
Aurélio
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
89. Agroreformismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
90. Agroreformista – (s/data) Google Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
91. Agroservice – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
92. Agroshop – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
93. Agrossocial – (s/data) Houaiss
VOLP
Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
179
94. Agrotecnologia – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
95. Agrotecnológico – (s/data) Google Adjetivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
96. Agrotóxico – (s/data)
Houaiss
Aurélio
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
97. Agroturismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
98. Agrotv – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
99. Agroveterinária – (s/data) Google Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
100. Agrovia – (s/data) Houaiss
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
101. Agrovila – (s/data) Houaiss
VOLP
Substantivo Base Presa +
Base Livre
DT-DM
180
ANEXO 2
Vocábulo Fonte Acepção ou fragmento de texto
1. Agribusiness -1955 Houaiss O dicionário remete ao verbete agronegócio.
2. Agricoindústria (s/data) Houaiss O dicionário informa que o verbete é menos usual e remete ao
verbete agroindústria.
3. Agricoindustrial - 1899 Houaiss O dicionário informa que o verbete é menos usual e remete ao
verbete agroindustrial.
4. Agrícola - 1635 Houaiss Substantivo - o mesmo que agricultor.
Adjetivo – relativo ao campo ou à agricultura; que se de se
dedica à agricultura ou que nela se baseia.
5. Agricopecuária (s/data) Houaiss O dicionário remete ao verbete agropecuária.
6. Agricopecuário (s/data) Houaiss O dicionário remete ao verbete agropecuária.
7. Agricultado -1552 Houaiss O que foi lavrado ou cultivado; diz-se do terreno ou campo
em que se aplicaram processos agrícolas.
8. Agricultar -1552 Houaiss Cultivar; consagra-se à agricultura.
9. Agricultável -1799 Houaiss Terreno ou campo que pode ser agricultado; arável, cultivável.
10. Agricultor -1532 Houaiss Aquele que agriculta; lavrador.
11. Agricultura - séc. XV Houaiss Atividade que tem por objetivo a cultura do solo com vistas à
produção de vegetais úteis ao homem e/ou à criação de
animais; lavoura.
Conjunto dos métodos e técnicas necessários a essa produção.
12. Agrimensor -1795 Houaiss Que ou quem está legalmente habilitado para medir, dividir
e/ou demarcar terras ou propriedades rurais.
13. Agrimensura -1784 Houaiss Medição de terras e campos. Arte ou técnica dessa medição.
14. Agro - séc. XIII Houaiss Terreno cultivado ou potencialmente cultivável.
15. Agroaçucareiro - séc XX Houaiss Referente à cultura e industrialização da cana-de-açúcar.
16. Agroalimentar (s/data) Houaiss Relativo à produção, processamento e embalagem de produtos
alimentares de origem agrícola, destinados ao uso humano.
17. Agroambiental - séc. XX Houaiss Concernente à produção agrícola e ao meio ambiente.
181
18. Agrobandido (s/data) Google “Protegidos sob o discurso de “setor produtivo” e
“responsável” pelo equilíbrio da balança comercial, estas
forças não somente. bloqueiam estradas para chantagear o
Governo Federal, mas são verdadeiros agrobandidos que
corporificam as injustiças e violência do modelo de
“desenvolvimento” que se alimenta da prática do trabalho
escravo, da exploração ilegal e predatória dos recursos
ambientais, e da grilagem de terras públicas, se articulando
nacionalmente através da União Democrática Ruralista, da
Confederação Nacional da Agricultura (CNA)e da bancada
ruralista no Congresso.”
(http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=15
336)
19. Agrobanditismo (s/data) Google “A morte do cacique me fez lembrar a do líder sindical,
ambas executadas pelo agrobanditismo, que agora atua com
milícia armada paramilitar”.
(http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=947).
20. Agrobioclimático
(s/data)
VOLP “(...) indicando que essas características são influenciadas pela
colheita e manuseio das sementes, pelas condições
agrobioclimá- ticas de cultivo e, possivelmente, componente
genético”. (http://www.scielo.br/pdf/hb/v22n1/a23v22n1.pdf).
21. Agrobiodiversidade
(s/data)
Houaiss Variedade genética das espécies cultivadas, tanto a variedade
dentro de uma espécie, quanto a variedade entre espécies,
gêneros, famílias. A diversidade das formas de vida nas
paisagens agrícolas que inclui, além das espécies vegetais,
fungos, bactérias, insetos, pássaros etc.
22. Agrobiologia (s/data) Houaiss Estudo da nutrição e crescimento das plantas direcionado ao
aumento da produção agrícola.
23. Agroboy (s/data) Google “Bando de playboys do mato, que gostam de músicas de
corno que gravam no banheiro!”
“Filhinho de papai”.
(http://desciclopedia.org/wiki/Agroboy)
24. Agrocanal (s/data) Google “Desde 1995 o canal de maior credibilidade no meio rural.
Possui 22 horas de programação com conteúdo jornalístico
voltado a agricultura e pecuária. Destina a sua programação à
leilões de animais, como: bois, cabras e cavalos, além de vasta
programação com assuntos do agronegócio”.
(http://www.sba1.com/sobre-o-sba/canais-de-tv)
25. Agrociência (s/data) Google “A Revista Brasileira de Agrociência é uma revista trimestral
182
editada pela Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de
Agronomia "Eliseu Maciel", que tem por objetivo publicar
artigos originais elaborados por especialistas nacionais ou
estrangeiros, que contribuam para o desenvolvimento das
Ciências Agrárias”.
(http://www2.ufpel.edu.br/faem/agrociencia/)
26. Agroclimatérico -1986 Houaiss O dicionário remete ao verbete agroclimático.
27. Agroclimático -1986 Houaiss Referente à agricultura e ao clima; agroclimatérico.
28. Agrocombustível
(s/data)
Google Combustíveis feitos à base de produtos agrícolas.
(pt.wikipedia.org/wiki/).
29. Agroecologia (s/data) Houaiss
Ciência que aplica os conceitos e princípios ecológicos ao
planejamento e manejo de agroecossitemas sustentáveis;
agricultura ecológica.
30. Agroecológico (s/data) Houaiss
Relativo a agroecologia.
31. Agroeconomia (s/data) Google “Conforme a proposta, a atividade rural não deve se limitar
somente à produção de alimentos e incluir atividades
agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras, aquícolas,
florestais e de turismo rural, que integram cadeias produtivas
de agroeconomia”.
(http://www.capal.com.br/noticia/375_2_mais-atencao-a-
agroeconomia).
32. Agroeconômica (s/data) Google “Atividade agroeconômica é toda atividade que tenha relação
com a terra. Coletor de minhocas, por exemplo.
Agroeconomia é um nome genérico. A atividade
agroeconômica também diz respeito à fabricação de máquinas
para o campo”.
(http://notasdeaula.org/dir5/direito_trabalho1_17-03-10.html).
33. Agroecossistema (s/data) Houaiss
Ecossistema artificial que se estabelece em áreas agrícolas.
34. Agroecoturismo (s/data) Google “Turismo rural e ecológico - O turismo rural e ecológico é
uma categoria de turismo que ultimamente tem se destacado
como uma atividade bastante atraente em termos de geração
de renda”.
(http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/turismo-
rural-e-ecologico-ou-agroecoturismo).
35. Agroempresário (s/data) Google “Bom, me chamo Leonardo..tenho 28 anos, moro
sozinho...não tenho muitos passatempos, sou agro empresário,
183
vulgo fazendeiro, meus objetivos mais concretos são mais
voltados à área profissional, mas também, meu maior intuito é
buscar um relacionamento sério, com alguém que queira o
mesmo. Se quiserem saber mais sobre mim, me conheça”.
(http://www.pof.com/viewprofile.aspx?profile_id=54932669).
36. Agroenergia séc. XX Houaiss Energia provinda de agricultura de matérias-primas
energéticas renováveis.
37. Agroexportação (s/data) Houaiss Exportação de produtos agrícolas.
38. Agroexportador (s/data) Houaiss Substantivo – que ou aquele que exporta produtos agrícolas.
Adjetivo – relativo à exportação.
39. Agrofit (s/data) Google “O sistema Agrofit –Online é uma ferramenta de consulta ao
público, composta por um banco de dados todos os produtos
agrotóxicos e afins” (www.tudofacil.rs.gov.br).
40. Agrofloresta (s/data) Google “Agrofloresta é o manejo que integra a agricultura, a floresta e
o ser humano” (www.fazendasaoluz.com/agrofloresta).
41. Agroflorestal (s/data) Houaiss Referente ao setor agrícola e florestal.
42. Agrogeógrafo (s/data) VOLP 1 “Tendo o econômico como aspecto primordial da análise
geográfico da agricultura, o autor afirma que o
agrogeógrafo se deve permitir buscar leis explicativas
para os aspectos da atividade agrícola na Economia
Política” ( Mundo rural e geografia: geografia agrária no
Brasil, 1930-1990,https://books.google.com.br)
43. Agrogeologia 1949 Houaiss Ciência que trata da constituição física e química do solo em
relação à agricultura.
44. Agrogeológico 1949 Houaiss Referente à agrogeologia.
45. Agrogestão (s/data) Google “Agrogestão já tem 700 inscritos.
Identificar as tendências, prever o futuro, fortalecer os
diferenciais competitivos e obter excelência em gestão no
vastíssimo e complexo mundo do agronegócio”
(http://www.ags.com.br/Not%C3%ADcia/15032010-
agrogestao-ja-tem-700-inscritos-2790)
46. Agrogirl (s/data) Google “Iris Pistoleirnelli, mostranso que por famosas que sejam, as
agrogirls são sempre semi-virgens e de família (se for de um
agroboy ricaço, melhor
ainda!)”(http://desciclopedia.org/wiki/Agroboy).
184
47. Agrografia -1871 Houaiss Descrição dos campos, especialmente, no que se relaciona ao
seu cultivo.
48. Agrográfico (s/data) Houaiss Relativo à agrografia.
49. Agrógrafo -1871 Houaiss Especialista em agrografia.
50. Agro-hidrologia (s/data) Houaiss Ciência que estuda os mecanismos de transferência da água
em meio agrícola.
51. Agroindústria séc. XX Houaiss
A indústria nas suas relações com a agricultura.
Atividade econômica da industrialização do produto agrícola.
52. Agroindustrial séc XX Houaiss Referente à agroindústria.
53. Agrolink (s/data) Google “O portal do conteúdo agropecuário” (www.agrolink.com.br)
54. Agrologia -1858 Houaiss Ramo da agricultura ligado ao estudo dos solos.
55. Agrológico 1871 Houaiss Referente à agrologia ou à agrólogo.
56. Agrólogo -1913 Houaiss Especialista em agrologia.
57. Agromancia -1652 Houaiss Suposta arte de adivinhar pelo aspecto dos campos.
58. Agromania -1827 Houaiss
Afeto muito intenso ou paixão pelas coisas do campo, pela
agricultura.
Desejo mórbido de permanecer em solidão nos campos.
59. Agromaníaco -1871 Houaiss Que ou o que sofre de agromania.
60. Agrômano (s/data) Aurélio
O mesmo que agromaníaco.
61. Agromante -1913 Houaiss
Pessoa que se dedica à prática da agromancia.
62. Agromântico -1913 Houaiss
Relativo a agromancia ou agromante.
63. Agromanufatura (s/data) Google “Complexo que envolve produção de cana e beneficiamento
do produto para extração de seus derivados”
(www.dicionarioinformal.com.br)
1.4.2. “A agromanufatura do açúcar e a escravidão” (http://ronildaff.blogspot.com.br/2013/08/texto-
aagromanufatura-do-acucar-e.html)
185
64. Agrômeno -1871 Houaiss
Indivíduo que vive no campo; camponês, agricultor
65. Agrometeorologia
(s/data)
Houaiss
Aplicação da meteorologia a atividades agrícolas, esp. cultivo,
colheita, regimes climáticos.
66. Agrometeorológico
(s/data)
Houaiss
Relativo à agrometeorologia.
67. Agrometria (s/data) VOLP “Neste trabalho é abordada uma área da ciência da
computação interligada a agricultura
denominada agrometria”.
(bbg.unemat.br/bibliotecavirtual/autor/apresenta.php?id=117)
68. Agrômetro -1900 Houaiss Instrumento usado em agrimensura.
69. Agromineral (s/data) Google “Agrominerais (tais como enxofre, minerais de potássio,
rocha fosfática, cálcário e turfa) é matéria‐prima de origem
mineral sendo insumo absolutamente indispensável para
viabilizar a agricultura e a pecuária brasileiras, ou seja, é parte
integrante da alimentação dos cidadãos brasileiros, da
viabilização do agronegócio externo, e ainda, alavancando o
nascente e pujante setor dos biocombustíveis.”
(http://www.cetem.gov.br/agrominerais)
70. Agromoda (s/data) Google “Agromoda: novidade: moda country em geral”
(https://www.facebook.com/agrovet.agromoda/about)
71. Agromulher (s/data) Google “AgroMulher é um projeto desenvolvido pela UNEMAT com
parceria da Escola Estadual Onze de Março e fomentada pelo
CNPQ. (...) (Tem como objetivo) promover e estimular nas
alunas de ensino médio a formação nas áreas bases de
engenharia agronômica; demonstrar a importância da
educação na formação profissional na vida das meninas e
como estratégia para o ''empoderamento'' feminino.”
(https://www.facebook.com/AgroMulher)
72. Agronegócio -1990 Houaiss
Conjunto de operações da cadeia produtiva, do trabalho
agropecuário até a comercialização.
73. Agronomando -séc. XX Houaiss
Estudante de agronomia próximo da formatura.
74. Agronometria -1858 Houaiss
Ramo da agronomia que tem por objetivo avaliar a
capacidade produtiva do solo.
75. Agronométrico -séc. XX Houaiss
Relativo à agronometria.
76. Agronomia -1818 Houaiss Totalidade das ciências, técnicas e conhecimentos que regem
186
a prática da agricultura.
77. Agronômico -1818 Houaiss
Referente à agronomia.
78. Agrônomo -1818 Houaiss Diplomado ou especialista em agronomia; técnico em
agronomia.
79. Agropastoril -1986 Houaiss
Relativo à agricultura e ao pastoreio.
80. Agropecuária -séc. XX Houaiss
Teoria e prática da agricultura e da pecuária, considerando
suas relações mútuas.
Atividade ou indústria simultaneamente agrícola e pecuária.
81. Agropecuário -séc. XX Houaiss
Referente à agropecuária.
82. Agropecuarista (s/data) Houaiss
Que ou quem trabalha ou exerce atividades em setores
pertencentes à agropecuária.
83. Agropédico -1986 Houaiss
Aquilo que diz respeito ao solo arável.
84. Agropesca (s/data) Google “A Lista de Produtos e Serviços da Agropecuária e Pesca,
PRODLIST-Agro/Pesca foi desenvolvida como uma das
etapas do projeto de elaboração de uma classificação central
de produtos para o sistema estatístico nacional”
(concla.ibge.gov.br/classificacoes/por-tema/produtos/lista-de-
produtos/prodlist-agro-pesca.html)
85. Agroportal (s/data) Google “O Agroportal reunirá mais de 80 empresas na Fenagro – O
evento, no Parque de Exposições de Salvador, é uma
importante vitrine para a agroindústria baiana”.
(http://www.seagri.ba.gov.br/noticias/2006/11/08/agroportal-
reunir%C3%A1-mais-de-80-empresas-na-fenagro-
di%C3%A1rio-oficial-da-bahia#sthash.82IWorvU.dpuf)
“O agroportal é, na minha opinião, um dos melhores locais da
internet onde se pode encontrar notícias, atualidade,
informação e artigos sobre as agriculturas de Portugal”
(josemartino.blogspot.com.br.)
86. Agroproduto (s/data) Google “Frango já está entre os 10 principais agroprodutos de Mato
Grosso Nada, claro, que ameace a posição da carne bovina,
principal produto de origem animal de Mato Grosso”
(http://avisite.com.br/noticias/imprimir.php?codnoticia=13266)
87. Agroquímica -séc. XX Houaiss
“Estudo, técnica e prática da química destinados à agricultura;
envolve tanto a produção quanto a análise e prevenção da
187
ação de fertilizantes e defensivos sobre as culturas agrícolas,
sobre os consumidores e os trabalhadores do setor”
88. Agroquímico -1956 Houaiss
Especialista em agroquímica
89. Agroreformismo (s/data) Google “Apesar de seu conteúdo ainda sigiloso, o referido PNRA já
começa a receber calorosos apoios das forças mais engajadas
no agro-reformismo socialista e confiscatório”.
(http://www.usinadeletras.com.br)
90. Agroreformista (s/data) Google “A propriedade privada e a livre iniciativa, no tufão agro-
reformista”.
(www.intratext.com/IXT/POR0105/_PX.HTM)
“O Brasil assiste nestes dias a uma ampla e inquietante
articulação de forças da esquerda agro-reformista, que visa
impor uma radical transformação no ponto mais vital de nossa
organização sócio-econômica, a estrutura agrária do país”.
(http://www.usinadeletras.com.br)
91. Agroservice (s/data) Google “A CL- AGROSERVICE é uma empresa que está há 2 anos
no mercado, na área de prestação de serviços de Jardinagem,
priorizando qualidade, competência, eficiência e
responsabilidade”
(http://www.sindiconet.com.br)
92. Agroshop (s/data) Google Loja de produtos agrários
“Veja a reputação da empresa Agroshop, registre reclamação e
solucione seu problema. O produto atrasou, o serviço falhou?
Reclame Aqui.”
(www.reclameaqui.com.br)
93. Agrossocial (s/data) Houaiss
Referente às questões de natureza social que envolvem a
agronomia
94. Agrotecnologia (s/data) Google “O autêntico ‘feijão maravilha’. Agrotecnologia.
Produtividade de feijão aumenta com novas tecnologias”
(www.jornalexpressoregional.com.br/notícias-
ver.php?id=633)
95. Agrotecnológico –
(s/data)
Google “Desenvolvimento de sistema agrotecnológico para produção
de capim limão”
(www.fapitec.se.gov.br/?q=documento)
96. Agrotóxico (s/data) Houaiss
Qualquer produto de origem química ou biológica us. na
prevenção ou extermínio de pragas e doenças das culturas
agrícolas (fungicidas, herbicidas, inseticidas, pesticidas);
188
agroquímico, defensivo agrícola
97. Agroturismo (s/data) Google “É a prática de atrair visitantes para áreas agrícolas,
geralmente com propósitos educacionais e recreativos”
(viagem.hsw.uol.com.br)
98. Agrotv (s/data) Google “GR Agrotv”. (http://grupogragro.com.br/agro-tv/)
“Agrotv” (http://www.agronovas.com.br/agro-tv)
99. Agroveterinária (s/data) Google “Loja virtual distribuidora de produtos medicamentos para Pet
cães gatos e grandes animais, produtos agrícolas pragas
urbanas fornecedor para Médico “
(www.agroveterinaria.com.br)
“Revista de Ciência Agroveterinária (...) destina-se à
publicação de trabalhos técnico-científicos originais, inéditos,
resultantes de pesquisas em Ciências Agrárias e Veterinárias e
suas áreas correlatas”
(http://revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria)
100. Agrovia (s/data) Houaiss
Toda e qualquer via de ligação (terrestre, marítima, fluvial)
entre os centros de produção agrícola, os centros de
intermediação e/ou a armazenagem e os centros de consumo
final”
101. Agrovila (s/data) Houaiss
Núcleo populacional construído para servir de abrigo e
oferecer assistência aos que trabalham na construção de
estradas de desbravamento