DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO DE UM TERMINAL PORTUÁRIO ... · pela norma ABNT NBR ISO 50001:2011,...

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Thayrine Andressa Pereira Leite [email protected] Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI Rua Uruguai, 458 88.302-202 Itajaí SC DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO DE UM TERMINAL PORTUÁRIO LOCALIZADO EM ITAJAÍ-SC COM BASE NA NBR ISO 50001:2011 Resumo: A busca por fontes renováveis e alternativas de energia e o gerenciamento do consumo energético tem sido estratégias eficazes para minimizar impactos ambientais e reduzir custos nas empresas. Neste sentido, o presente trabalho realizou o diagnóstico energético de um terminal portuário localizado em Itajaí-SC, com base na metodologia definida pela NBR ISO 50001:2011, a partir da análise do uso e consumo de energia em uma abordagem global, por área e detalhada, tomando como linha de base dados de 2012. O diagnóstico energético realizado permitiu caracterizar a matriz energética do terminal portuário como 67,96% de fonte renovável e 32,04% não renovável. Com relação às emissões de gases de efeito estufa, verificou-se que empilhadeiras movidas a óleo diesel são responsáveis por 59,9% das emissões. Como medida de melhoria, se propôs a substituição de óleo diesel comum por biodiesel, o que reduziria 8% das emissões de GEE e custos. Na abordagem por área, obtiveram-se os dados de consumo de energia registrados por medidores conectados a um software de gerenciamento de energia do terminal portuário; e na abordagem detalhada, foram obtidos os dados de instalações e equipamentos que significativamente afetem o uso e o consumo de energia de cada área. A abordagem detalhada possibilitou verificar oportunidades de adequações nos acabamentos da edificação e aquisição de equipamentos mais eficientes para a redução do consumo de energia; além de verificar a necessidade de conscientização dos funcionários, para que utilizem racionalmente a energia elétrica e evitem desperdício de energia a partir da má utilização de equipamentos. Palavras-chave: Gestão energética, planejamento, economia de energia. ENERGY DIAGNOSIS OF A PORT TERMINAL LOCATED AT ITAJAÍ-SC BASED ON NBR ISO 50001:2011 Abstract: The search for renewable and alternative energy and energy management has been effective strategies to minimize these impacts and reduce costs in business. In this sense, this work constitutes the diagnostic performance of a port terminal located in Itajaí-SC, based planning methodology defined by ISO 50001:2011, based on the evaluation of use and energy consumption of the whole terminal in a global, detailed and per area verification, taking as baseline data the year of 2012. The energy diagnosis has allowed to identify that the energy matrix of the terminal is 67.96% renewable and non-renewable 32.04%. About the emissions of greenhouse gases, it was found that the diesel powered forklift trucks are responsible for 59.9% of emissions. As a way of improving proposed the replacement of diesel oil for biodiesel, which reduce emissions 8% and also reduce costs. In verification of energy area, was obtained energy consumption registered by meter connected to a software power management in each area of the terminal; on energetic approach detailed informations were obtained from facilities and equipment that significantly affect the use and consumption of energy in which area. It was possible to verify improvement opportunities like adjustments to the interior details of the building and the purchase of more efficient equipment. In addition to the proposed adjustments, which aim at improving the energy performance of the building and therefore allow reducing energy consumption, reducing waste energy resulting from improper use of equipment. Keywords: Energy management, planning, energy saving.

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Thayrine Andressa Pereira Leite – [email protected] Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Rua Uruguai, 458

88.302-202 – Itajaí – SC

DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO DE UM TERMINAL PORTUÁRIO

LOCALIZADO EM ITAJAÍ-SC COM BASE NA NBR ISO 50001:2011

Resumo: A busca por fontes renováveis e alternativas de energia e o gerenciamento do consumo

energético tem sido estratégias eficazes para minimizar impactos ambientais e reduzir custos nas

empresas. Neste sentido, o presente trabalho realizou o diagnóstico energético de um terminal

portuário localizado em Itajaí-SC, com base na metodologia definida pela NBR ISO 50001:2011, a

partir da análise do uso e consumo de energia em uma abordagem global, por área e detalhada,

tomando como linha de base dados de 2012. O diagnóstico energético realizado permitiu caracterizar

a matriz energética do terminal portuário como 67,96% de fonte renovável e 32,04% não renovável.

Com relação às emissões de gases de efeito estufa, verificou-se que empilhadeiras movidas a óleo

diesel são responsáveis por 59,9% das emissões. Como medida de melhoria, se propôs a substituição

de óleo diesel comum por biodiesel, o que reduziria 8% das emissões de GEE e custos. Na abordagem

por área, obtiveram-se os dados de consumo de energia registrados por medidores conectados a um

software de gerenciamento de energia do terminal portuário; e na abordagem detalhada, foram

obtidos os dados de instalações e equipamentos que significativamente afetem o uso e o consumo de

energia de cada área. A abordagem detalhada possibilitou verificar oportunidades de adequações nos

acabamentos da edificação e aquisição de equipamentos mais eficientes para a redução do consumo

de energia; além de verificar a necessidade de conscientização dos funcionários, para que utilizem

racionalmente a energia elétrica e evitem desperdício de energia a partir da má utilização de

equipamentos.

Palavras-chave: Gestão energética, planejamento, economia de energia.

ENERGY DIAGNOSIS OF A PORT TERMINAL LOCATED AT

ITAJAÍ-SC BASED ON NBR ISO 50001:2011

Abstract: The search for renewable and alternative energy and energy management has been effective

strategies to minimize these impacts and reduce costs in business. In this sense, this work constitutes

the diagnostic performance of a port terminal located in Itajaí-SC, based planning methodology

defined by ISO 50001:2011, based on the evaluation of use and energy consumption of the whole

terminal in a global, detailed and per area verification, taking as baseline data the year of 2012. The

energy diagnosis has allowed to identify that the energy matrix of the terminal is 67.96% renewable

and non-renewable 32.04%. About the emissions of greenhouse gases, it was found that the diesel

powered forklift trucks are responsible for 59.9% of emissions. As a way of improving proposed the

replacement of diesel oil for biodiesel, which reduce emissions 8% and also reduce costs. In

verification of energy area, was obtained energy consumption registered by meter connected to a

software power management in each area of the terminal; on energetic approach detailed informations

were obtained from facilities and equipment that significantly affect the use and consumption of

energy in which area. It was possible to verify improvement opportunities like adjustments to the

interior details of the building and the purchase of more efficient equipment. In addition to the

proposed adjustments, which aim at improving the energy performance of the building and therefore

allow reducing energy consumption, reducing waste energy resulting from improper use of equipment.

Keywords: Energy management, planning, energy saving.

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da humanidade implicou no crescimento da demanda por geração de

energia e consequentemente no aumento das emissões de gases poluentes através de atividades

industriais, meios de transportes e demais atividades (GUADAGNINI, 2006). Tais características

decorrem do padrão de produção e consumo iniciado nos últimos dois séculos, em que a prosperidade

do mundo industrializado foi sustentada pelos combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás

(WALISIEWICZ, 2008).

O sistema de produção e consumo atual, fundamentado em fontes fósseis, acaba por colocar

em risco os recursos naturais do planeta. O crescente consumo energético observado a partir da

intensificação da atividade industrial e o impacto ambiental em consequência da utilização de energias

não renováveis no mundo levaram o governo, a sociedade e especialmente as empresas a adotarem

uma nova postura diante das questões energéticas (TACHIZAWA, 2006). Donaire (1999) afirma que

as empresas que eram vistas apenas como instituições com responsabilidades econômicas, ou seja, se

preocupavam estritamente com o que produzir, como produzir e para quem produzir, têm assumido

novos papeis como resposta aos impactos que no ambiente operam.

No âmbito geral, sob o ponto de vista econômico, a gestão ambiental tem se tornado cada vez

mais um importante instrumento gerencial para a capacitação e criação de competitividade para as

organizações, qualquer que seja seu segmento. Dados de uma pesquisa realizada pela FIESC (2011)

indicam que parte significativa das indústrias está desenvolvendo ações internas visando a

conservação e o uso racional de energia, com metas definidas para otimizar a utilização dos insumos

energéticos. Esta realidade sinaliza a preocupação e o interesse das empresas em incorporar programas

de eficiência energética em suas atividades.

De acordo com a SGS (2013), a maior parte da eficiência energética de grandes empresas é

alcançada através de “mudanças na forma como a energia é gerenciada”. A partir do planejamento de

um Sistema de Gestão de Energia, é possível compreender a forma com a qual a energia é utilizada em

determinada organização, e a partir deste conhecimento, pode-se se estabelecer medidas de melhoria

para um gerenciamento energético, com a implantação de um sistema de gestão energética que

possibilite a melhoria contínua (SGS, 2013). Além disto, a gestão dos sistemas de energia nas

organizações pode contribuir substancialmente no atendimento às expectativas de sua gestão

ambiental, além de gerar reduções significativas nos custos do setor (EVO, 2007).

Os benefícios de se planejar a gestão energética em uma organização estão intimamente

ligados a melhorias gerais na qualidade e/ou na produtividade das suas operações, e a NBR ISO

50001:2011 auxilia na identificação destas potenciais melhorias. Além disto, a gestão dos sistemas de

energia nas organizações pode contribuir substancialmente no atendimento às expectativas de sua

gestão ambiental, além de gerar reduções significativas nos custos do setor (EVO, 2007).

Este artigo tem como objetivo geral realizar o diagnóstico energético em um terminal

portuário localizado em Itajaí-SC através da aplicação da NBR ISO 50001:2011, sendo os objetivos

específicos deste trabalho: a) caracterizar a matriz energética e avaliar o uso e consumo de energia do

terminal portuário; b) identificar as áreas de uso significativo de energia do terminal portuário; c)

propor ações que possibilitem a melhoria do desempenho energético do terminal portuário e d)

verificar possibilidades de alterações ou melhorias na matriz energética da empresa no sentido de

reduzir as emissões de CO2.

2. MÉTODO DE PESQUISA

A pesquisa foi realizada em um terminal portuário localizado em Itajaí-SC, que não teve seu

nome divulgado para atender suas normas de privacidade e preservar sua identidade perante o

mercado. Dentro dos limites da organização, o diagnóstico energético foi realizado considerando os

usos de energia em três grandes áreas da empresa: Terminal de Contêineres (TECON), Armazéns e

Prédio Administrativo, este último no qual se desenvolveu um diagnóstico energético detalhado, com

a avaliação mais abrangente de suas instalações, conforme interesse apresentado pela organização e

visando obter subsídios para a proposta de ações de melhoria.

A execução deste trabalho contou com a utilização dos conceitos e das metodologias definidas

pela norma ABNT NBR ISO 50001:2011, fundamentada no ciclo PDCA – Planejar, Fazer, Verificar e

Agir. Deve-se destacar que não foram aplicados todos os requisitos da norma, apenas aqueles

atrelados à etapa de planejamento, já que se trata de um diagnóstico inicial do SGE de uma

organização, visando identificar as possibilidades de melhorias no desempenho energético que

poderão contribuir com a redução de custos na empresa bem como com a redução das emissões de

GEE, já que este é um dos principais impactos do consumo de energia. A figura 1 apresenta o roteiro

metodológico deste trabalho.

Figura 1 - Sequência metodológica de desenvolvimento do trabalho.

Inicialmente se realizou a caracterização do terminal portuário, com a definição do escopo e

das fronteiras do sistema de gestão energética, para que assim se pudesse realizar o planejamento

energético da empresa através do diagnóstico energético de suas instalações. Após a definição do

escopo, foi estabelecida uma política energética para a organização com o apoio da alta direção, que

declara o comprometimento da organização para atingir a melhoria de seu desempenho energético e

que direciona a organização à futura implementação de um SGE.

Visando identificar o atual desempenho energético da organização foi definido um processo

de planejamento energético atendendo a NBR ISO 50001:2011. Dentro deste processo, foram

definidas as seguintes etapas: identificação de requisitos legais e outros; desenvolvimento da revisão

energética; estabelecimento da linha de base; identificação de indicadores de desempenho energético e

o estabelecimento de objetivos e planos de ação para a gestão de energia.

De acordo com a NBR ISO 50001:2011 (ABNT, 2011), é na revisão energética que são

obtidas as informações a respeito da utilização de energia e das instalações de maior consumo, para

que posteriormente possam ser identificadas oportunidades de melhoria. Segundo Frozza et. al.

(2012), o nome dado pela norma a esta etapa é equivalente a um diagnóstico energético. O presente

trabalho seguiu as orientações e requisitos da NBR ISO 50001 para a realização da etapa de

diagnóstico energético do terminal portuário, e posteriormente apresentou propostas de melhorias a

partir da elaboração de planos de ação.

2.1 Coleta de dados

Para a realização do diagnóstico energético do terminal portuário, foram objetos de estudo as

faturas de energia elétrica, manuais de equipamentos, observação das pessoas trabalhando e condições

físicas das instalações, equipamentos e máquinas. Tais dados foram obtidos em três diferentes

abordagens, de modo que a análise do uso e consumo de energia nas instalações do terminal portuário

atenderam aos três níveis de abordagem energética propostos por Ferreira (1994):

Nível 1 - Abordagem energética global, onde foram coletados e avaliados dados

relacionados ao consumo de energia total da organização (macrodados);

Nível 2 - Abordagem energética por área ou setor produtivo, onde foram coletados

e avaliados os dados de consumo energético dos três grandes setores da empresa

(TECON, Armazéns e Administrativo);

Nível 3 - Abordagem energética detalhada, onde de forma mais aprofundada foram

coletados e avaliados os dados do setor que apresentou maior potencial para execução

de melhorias.

Abordagem Energética Global

A tabela 1 apresenta quais informações relacionadas ao consumo total da organização

foram coletadas, o período na qual se referem e de quais fontes foram obtidas.

Tabela 1 - Dados quantitativos coletados para a Revisão Energética Nível 1 - Abordagem Global.

Dados para Abordagem Energética Global – Nível 1 Período de dados Fonte de dados

TERMINAL

PORTUÁRIO

Consumo de energia elétrica (kWh)

total, em horário de ponta (p) e fora de

ponta (fp)

Jan/2005 a Dez/2012

Faturas de energia elétrica

Demanda de energia elétrica (kW) em

horário de ponta e fora de ponta

Jan/2012 a Dez/2012

Faturas de energia elétrica

Custo com energia elétrica (R$)

Jan/2005 a Dez/2012

Faturas de energia elétrica

Consumo (ton) e Custo (R$) de GLP Jan/2012 a Dez/2012

Planilhas de controle de

abastecimento de GLP

Consumo (m³) e Custo (R$) de Óleo

diesel

Jan/2012 a Dez/2012 Planilhas de controle de

abastecimento de Óleo

Diesel

Número médio de funcionários Jan/2012 a Dez/2012 Setor de RH

Área útil da empresa (m²)

-

Licença Ambiental de

Operação

Identificação das áreas de uso significativo de energia

Para atender à NBR ISO 50001:2011 que solicita a identificação das áreas de uso significativo

de energia, realizou-se a classificação das fontes energéticas utilizadas em todo o terminal portuário a

partir dos seguintes critérios: Econômico, Impacto na produção, Requisitos Legais e Outros, de acordo

com a metodologia proposta por Celupi (2012) que utilizou critérios de determinação de significância

(tabela 2).

Tabela 2 - Critérios de determinação de significância. (Fonte: CELUPI, 2012).

Estabeleceu-se que os índices maiores ou iguais a cinco representam as áreas de uso

significativo e a organização deve proceder conforme apresentado na tabela 3.

Tabela 3 – Índice de significância. (Fonte: CELUPI, 2012).

Índice Análise

< 5 Uso não significativo: a organização deve manter controles operacionais

relacionados ao uso e consumo de energia.

≥ 5 Uso significativo: a organização deve adotar ações de melhoria relacionadas

ao uso e consumo de energia de forma a diminuir sua significância.

Quantificação das Emissões de GEE associadas ao consumo de energia

Com base nos dados obtidos na Abordagem Energética Global, realizou-se o cálculo das

emissões de GEE decorrentes deste consumo através da aplicação da metodologia de quantificação do

GHG Protocol. Optou-se por esta ferramenta, pois a mesma permite compreender e quantificar os

GEE gerando resultados consistentes e precisos, sendo internacionalmente reconhecida e muito

utilizada por empresas e governos de todo o mundo (GHG PROTOCOL, 2013).

A contabilização das emissões foi realizada pela própria ferramenta GHG Protocol a partir da

inserção dos dados, de acordo com cada modalidade de emissão identificada: Escopo 1 (emissões

diretas móveis e estacionárias) e Escopo 2 (emissões indiretas, nas quais foram consideradas as

emissões decorrentes do consumo de energia elétrica).

Abordagem Energética por Área

A caracterização do consumo de energia por área foi realizada a partir da coleta de dados que

retratam o uso desta energia nas grandes áreas existentes no terminal portuário: TECON, Armazém (I

e II) e Prédio Administrativo, a fim de que posteriormente se pudesse analisar o consumo de energia

em cada área. Foram então obtidos os seguintes dados (tabela 4):

Econômico

Pontuação Critério

1 Baixo: O custo com energia representa menos de

5% do lucro bruto da organização.

2 Médio: O custo com energia representa de 5% a

10% do lucro bruto da organização.

3 Alto: O custo com energia representa mais de 10%

do lucro bruto da organização.

Impacto na produção

1 Baixo: A qualidade da energia empregada não pode

causar impactos na produção.

2

Médio: A qualidade da energia empregada pode

causar efeitos na produção como perda de energia,

perda de tempo ou queima de equipamento sem

ocorrer parada significativa da produção.

3 Alto: A qualidade da energia empregada pode

causar parada significativa da produção.

Requisitos Legais e Outros

1 Baixo: Não existem requisitos legais ou outros

relacionados ao uso ou consumo de energia.

2 Médio: Existem outros requisitos relacionados ao

uso ou consumo de energia.

3 Alto: Existem requisitos legais relacionados ao uso

ou consumo de energia.

Tabela 4 – Dados quantitativos coletados para a Revisão Energética Nível 2 - Abordagem por Área.

Dados para Abordagem Energética por Área – Nível 2 Período de

dados

Fonte de dados

TECON

Consumo (kWh) e Custo (R$) de energia

elétrica

Abr/2012 a

Nov/2012

Software SMART 32

Número de containers reefer1 armazenados

Abr/2012 a

Dez/2012

Gerência TECON

ARMAZÉNS I e II

Consumo (kWh) e Custo (R$) de energia

elétrica

Abr/2012 a

Nov/2012

Software SMART 32

Número médio de funcionários Abr/2012 a

Nov/2012

Setor de RH

PRÉDIO

ADMINISTRATIVO

Consumo (kWh) e Custo (R$) de energia

elétrica

Abr/2012 a

Nov/2012

Software SMART 32

Número médio de funcionários

Abr/2012 a

Nov/2012

Setor de RH

Área útil do PA (m²)

- Projeto Arquitetônico

Conforme apresentado na tabela 4, os dados de consumo de energia elétrica foram obtidos a

partir da consulta ao Software Smart 32, um software de gerenciamento de energia elétrica instalado

nos painéis elétricos do terminal portuário e que desde abril de 2012 realiza o monitoramento

constante do consumo de energia nas três grandes áreas do terminal. É importante destacar que os

dados de energia elétrica das três áreas avaliadas referentes a dezembro de 2012 não foram obtidos

considerando que neste período ocorreram problemas técnicos no próprio sistema e que

impossibilitaram a confiabilidade dos dados.

Abordagem Energética Detalhada

Para a realização da Abordagem Energética detalhada, o terminal portuário identificou a área

de sua preferência dentre as áreas abordadas no Nível 2, por possuir maior potencial para execução de

melhorias, e como uma opção estratégica da empresa. O setor de interesse identificado pela alta

direção foi o Prédio Administrativo (PA), que por sua vez recebeu então uma abordagem mais

detalhada sobre as variáveis que afetam o uso e o consumo de energia. O PA possui três pavimentos

(Térreo, 1º e 2º piso), e seu diagnóstico energético ocorreu considerando todos os ambientes

existentes. A abordagem energética detalhada foi inicialmente realizada a partir da coleta de dados,

conforme apresentado na tabela 5:

Tabela 5 - Dados coletados para a Revisão Energética Nível 3 - Abordagem Detalhada.

Dados para Abordagem Energética Detalhada – Nível 3 Período de

dados

Fonte de dados

PRÉDIO

ADMINISTRATIVO

Potência total instalada (W) por setor

- Equipamentos

elétricos

Iluminância média (lux) por setor

-

Medições/Luxímetro

Média de funcionários por setor Abr/2012

Setor de RH

1 Container reefer: equipamento refrigerado para o armazenamento de cargas perecíveis (DEPOTRANS, 2013).

a Nov/2012

Área útil (m²) - Projeto Arquitetônico

Medições de Iluminância por setor: foram realizadas medições de iluminância nos setores

existentes, com base nas orientações da NBR ABNT 5413/92 (ABNT, 1992), a fim de verificar se os

resultados obtidos para cada ambiente atendem aos níveis mínimos exigidos pela referida Norma. As

medições foram realizadas com o auxílio de um luxímetro digital da Marca Minipa calibrado, em um

plano horizontal a 75 cm do piso, atendendo as orientações da NBR utilizada. Com base nos dados

obtidos, foram realizados diagnósticos mais detalhados que permitissem avaliar o desempenho

energético dos setores existentes no PA: (a) diagnóstico de equipamentos elétricos utilizados e (b)

diagnóstico das características do ambiente.

Diagnóstico de equipamentos elétricos utilizados: A partir do levantamento dos

equipamentos instalados no PA, com a identificação da potência de cada um, bem como dados de

marca e modelo, foi verificado se os mesmos possuem a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia

(ENCE) ou estão inclusos na lista de equipamentos certificados pelo PROCEL. De acordo com o

INMETRO (2013), a ENCE é a etiqueta criada pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem para

classificar de "A" a "E" os equipamentos elétricos. Já o Selo PROCEL é fornecido aos equipamentos

mais eficientes de cada categoria, ou seja, aqueles classificados com etiqueta “A”.

Diagnóstico das características do ambiente: Observações sobre as características de cada

ambiente de trabalho do Prédio Administrativo foram realizadas, para que posteriormente se pudesse

definir um Índice de Eficiência Energética para cada ambiente (IEEA) quanto aos aspectos de

iluminação e ventilação dos mesmos. O IEEA proposto visou classificar os ambientes conforme suas

características construtivas, como: cor do piso, cor do teto, cor da parede e existência de janelas, por

exemplo, para que posteriormente sejam identificadas possibilidades de melhoria. Tais aspectos

interferem diretamente na iluminação ou na ventilação do ambiente, e consequentemente são variáveis

que afetam o consumo de energia, conforme mencionado por Pereira & Souza (2005).

Sendo assim, para obtenção do IEEA para cada setor do PA, atribuiu-se uma pontuação para

cada ambiente analisado, conforme apresentado na tabela 6 a seguir.

Tabela 6 – Critérios e pontuação atribuída aos setores analisados no Prédio Administrativo.

Critério Pontuação

1.Orientação geográfica da janela

(Sul) (Oeste) (Leste) (Norte)

1 2 3 4

2. Área da janela com relação à parede

(a≤30%) (30>a≤50%) (50%<a<70%)

3 1 2

3. Cor das paredes

(Escura) (Média) (Clara)

3 1 2

4. Cor do teto

(Escura) (Média) (Clara)

3 1 2

5. Cor do piso

(Escura) (Média) (Clara)

3 1 2

6. Iluminância média medida (Não atende à NBR 5413) (Atende à NBR 5413)

0 1

7. Ventilação cruzada (Não) (Sim)

0 1

8. Existência de persianas (Não)

0

(Sim)

1

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Requisitos Gerais da NBR ISO 50001:2011

O escopo do sistema de gestão de energia em estudo compreende as atividades de

armazenagem e operação portuária de exportação e importação, com as seguintes atividades:

Movimentação de containers e de cargas soltas (“break bulk”): atividade de descarregamento de

cargas gerais como: veículos, pneus, madeira, brinquedos, aço, entre outros; Armazéns para carga

geral: local destinado ao armazenamento de produtos secos e a inspeções de produtos refrigerados ou

congelados; Terminal de contêineres frigorificados e secos; Serviços portuários na importação e/ou

exportação.

Considerando que de acordo com a NBR 50001:2011 a organização deve definir uma política

energética para o planejamento de um sistema de Gestão de Energia, foi estabelecida em conjunto com

a direção do terminal portuário a seguinte Politica Energética para seu SGE: “Assegurar a

armazenagem e a operação portuária de exportação e importação com maior eficiência e a melhoria

contínua dos processos de negócio, atendendo os requisitos legais e permitindo a redução do

consumo de energia e dos impactos sobre a matriz energética do terminal portuário”.

3.2. Requisitos Legais e outros requisitos

Foram identificados os requisitos legais no âmbito nacional que podem ser considerados como

aplicáveis ao escopo do sistema de gestão de energia do terminal portuário: Decreto nº 87079/82

(Programa de Mobilização Energética); Portaria Interministerial nº 1877/85; Decreto nº 99.656/90;

Decreto de 18/07/91 (CONPET); Decreto de 08/12/93 (Prêmio Nacional da Conservação de Energia);

Lei nº 9427/96 (ANEEL); Lei nº 9478/97 (Lei do Petróleo e ANP); Lei nº 9991/00 (Investimentos em

pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética); Resolução nº 456/00; Lei nº 9991/00; Decreto

nº3867/01; Lei nº 10295/01 (Lei da Eficiência Energética); Decreto nº 4059/01; Decreto nº 4131/02

(Medidas emergenciais de redução do consumo de energia elétrica); Lei nº 10438/02; Decreto nº

5267/04; Lei nº 10848/04; Resolução Normativa nº 300/08 (Aplicação de recursos em programas de

eficiência energética); Lei nº 12212/10; Instrução Normativa nº 01/10.

É importante destacar que não foram identificados outros requisitos como, por exemplo,

acordos com clientes ou princípios ou códigos de boas práticas voluntários relacionados à gestão de

energia, embora o terminal portuário tenha Sistema de Gestão Ambiental ISO 14001 implantado em

toda a organização.

3.3. Análise do uso e consumo de energia

Para compreender onde e de que forma a energia é utilizada no terminal portuário, foram

obtidos os dados necessários ao diagnóstico de sua matriz energética. Nas tabelas 7 e 8 podem ser

observados os tipos e os usos das energias na organização.

Tabela 7 - Usos de energia no terminal portuário – parte 1.

Uso de Energia

Área correspondente Fonte de energia

TECON

Armazéns

PA*

Elétrica Combustível

Óleo diesel GLP

Iluminação X

Ventilação/Refrigeração X

Tecnologia da Informação (TI) X

Transporte de cargas por

empilhadeiras

X X X

Tabela 8 - Usos de energia no terminal portuário – parte 2.

Uso de Energia

Área correspondente Fonte de energia

TECON

Armazéns

PA*

Elétrica Combustível

Óleo diesel GLP

Preparação de Refeições X X

Operação da ETE X

Operação da Casa de Bombas X

Outros equipamentos elétricos X

Nota: *Prédio Administrativo.

Energia elétrica

A energia elétrica consumida pelo terminal portuário é adquirida junto à Companhia Elétrica

de Santa Catarina – CELESC, sendo o terminal um consumidor do grupo A4, ou seja, com uma tarifa

formada por duas componentes: tarifa de consumo (kW) e tarifa de demanda (kW). De acordo com

dados de faturas mensais, consumo médio de energia elétrica em todo terminal portuário no ano 2012

foi de 296,83 MWh/mês nos horários fora de ponta e de 13,75 MWh/mês nos horários de ponta, sendo

o custo médio com energia elétrica no ano de 2012 o equivalente a 92.131,96 R$/mês.

Os dados sobre o consumo de energia elétrica por área foram obtidos a partir do software

Smart 32, porém a análise dos mesmos possibilitou verificar que o respectivo sistema de medição e

gerenciamento de energia elétrica não está instalado adequadamente no terminal portuário, pois não

contabiliza separadamente todo o consumo de energia elétrica nas grandes áreas: TECON, Armazéns e

Prédio Administrativo. Com base nisto, verificou-se a necessidade de adequação do sistema para

melhor diagnóstico do uso e consumo de energia elétrica nos setores do empreendimento.

Óleo diesel

O óleo diesel é utilizado no terminal portuário como combustível para a operação de duas

empilhadeiras de grande porte do modelo Reach Staker, utilizadas para movimentação de contêineres

no setor TECON, bem como de uma empilhadeira do modelo Maclift, utilizada para movimentação de

cargas soltas dentro e fora dos contêineres. De acordo com os dados obtidos, o terminal portuário

consumiu ao longo de 2012 um total de 152,75 m³ de óleo diesel para a operação de suas atividades.

Dos dados de consumo de óleo diesel apresentados, as empilhadeiras são responsáveis por

maior parte, pois utilizam diariamente este combustível para a movimentação de cargas. O consumo

de óleo diesel pelas empilhadeiras representou 99% do consumo, enquanto o consumo para a operação

de máquinas na casa de bombas foi de apenas 0,1% em 2012.

Gás Liquefeito de Petróleo

Verificou-se ainda que o GLP é utilizado no terminal portuário na Cozinha (Prédio

Administrativo) e no TECON, de modo que a cozinha utiliza para produção de refeições diárias e o

TECON utiliza o GLP como combustível para as empilhadeiras de pequeno porte. O total de GLP

consumido no ano de 2012 foi de 19,43t, sendo as empilhadeiras as responsáveis pela maior

quantidade consumida. O consumo de GLP pelas empilhadeiras (modelo CLX-30) representou 67%

do consumo total no ano de 2012, e 33% para a preparação de refeições na cozinha.

Caracterização da Matriz Energética

Realizou-se a caracterização da matriz energética do terminal portuário com base nos dados de

uso e consumo de energia adquiridos na Abordagem Global. Sendo assim, foram convertidas as

unidades de energia, a partir de bibliografia existente, para que assim se pudessem padronizar as

unidades e realizar um comparativo entre as mesmas, em toneladas equivalentes de petróleo (tep).

Para converter a quantidade de GLP consumida, em toneladas, para toneladas equivalentes de

petróleo (tep) converteu-se primeiramente para m³, considerando que a densidade do referido

combustível é de 550 kg/m³ a uma temperatura de 20ºC. Sabendo-se que no ano de 2012 o terminal

portuário consumiu 19,43 toneladas de GLP para realização de suas atividades, calculou-se um

consumo de 35,33 m³ de óleo diesel.

Com base nos coeficientes de equivalência médios apresentados pelo MME (2012), realizou-

se a conversão de unidades de energia dos combustíveis, transformando os dados de óleo diesel e GLP

de m³ para toneladas equivalentes de petróleo (tep). Para os dados de energia elétrica, realizou-se a

conversão de kWh para tep, também de acordo com os fatores de conversão determinados pelo

Ministério de Minas e Energia (tabela 9).

Tabela 9 – Dados para conversão do consumo de energia em toneladas equivalentes de petróleo (tep).

Fonte de Energia Consumo de Energia em 2012

Toneladas m³ kWh Tep

Óleo diesel - 152,75 - 129,53

Gás Liquefeito de

Petróleo 19,43 35,33 - 21,59

Energia Elétrica - - 3.726.965 320,52

Total 471,64

Em uma análise global, verifica-se que a fonte de energia mais consumida no terminal

portuário é a elétrica, já que representou 67,96% da energia total utilizada, tomando como base os

dados de consumo 2012. O óleo diesel utilizado nas empilhadeiras e na casa de bombas equivale a um

total de 27,48% do consumo de energia, enquanto o consumo de GLP representa apenas 4,58%. Estes

dados permitem classificar a matriz energética como 32,04% não renovável e 67,96% renovável,

considerando que o óleo diesel e o GLP são provenientes do petróleo, um combustível fóssil, e a

energia elétrica adquirida é de fonte renovável, já que, de acordo com a Celesc (2012) a mesma é

proveniente de Pequenas Centrais Hidrelétricas do estado de Santa Catarina.

3.4. Identificação das áreas de uso significativo de energia

Com base nos dados de uso e consumo de energia, foram estabelecidos os índices de

significância para cada fonte de energia utilizada no terminal portuário (tabela 10).

Tabela 10 – Identificação de usos e consumos de energia significativos -Abordagem Global.

Energia

Elétrica Combustível

Óleo diesel GLP

Consumo Médio de Energia

(2012)

310.580 kWh/mês

114.588,98 R$/mês

12,73 m³/mês

26.556,18 R$/mês

1,62 ton/mês

4.217,14 R$/mês

Critério

Econômico 3 1 1

Impacto na Produção 3 3 3

Requisitos Legais e Outros 3 3 3

Índice de Significância 9 7 7

Considerando que pela metodologia proposta por Celupi (2012) os índices de significância

acima de 5 caracterizam como uso significativo, verificou-se que os usos relacionados às três fontes de

energia identificadas são significativos para a organização, sendo a energia elétrica a fonte energética

com maior significância (9), principalmente sob o ponto de vista econômico. Por tal motivo, para fins

deste trabalho, realizou-se a abordagem por área considerando apenas os dados de energia elétrica, por

ser esta a fonte de energia com o uso mais significativo.

3.5. Quantificação das Emissões de GEE

A partir da utilização da ferramenta GHG Protocol, verificou-se que o terminal portuário, em

decorrência do uso e consumo de energia, emitiu um total de 680,74 toneladas de CO2e. no ano de

2012. A figura 2 apresenta a distribuição de emissões no ano de 2012, de acordo com cada fonte.

Figura 2 - Percentual de emissões de dióxido de carbono equivalente (CO2e) no terminal portuário, no

ano de 2012.

É possível identificar que as empilhadeiras a Óleo Diesel e a Energia elétrica utilizadas no

terminal portuário são as fontes de emissão com maior significância, uma vez que suas emissões

juntas contabilizaram cerca de 600 toneladas de CO2e emitidos no ano de 2012, de acordo com

contabilização realizada a partir da Ferramenta GHG Protocol (GHG PROTOCOL, 2013).

3.6. Indicadores de desempenho energético

Para que se pudesse compreender o desempenho energético do terminal portuário, foram

definidos indicadores de desempenho energético (IDE’s), para que a empresa realize futuramente a

comparação de dados entre o período da linha de base (ano de 2012) e o período após a implantação

de melhorias, caso sejam executadas durante a implantação do Sistema de Gestão de Energia ISO

50001. Estes valores de indicadores não foram comparados com outra organização, pois não foram

obtidos dados de empresas com características similares às do terminal portuário. Eles foram definidos

para serem atualizados pela organização ao longo de sua operação, a fim de que a mesma possa

comparar seu desempenho ao longo do tempo, antes e depois da implantação de melhorias.

Os indicadores que levaram em consideração a média de dados entre os meses de janeiro a

dezembro de 2012 são: a) consumo de energia elétrica mensal de 755,67kWh/funcionário; b) custo de

energia elétrica mensal de 280,23 R$/funcionário; c) consumo de energia mensal por área útil total de

8,63kWh/m²; d) índice de fator de carga médio (fora de ponta) igual a 0,27; e) índice de fator de carga

médio (ponta) igual a 0,1; f) índice de fator de potência igual a 0,98; g) custo unitário do consumo fora

de ponta de 0,27 R$/kWh; h) custo unitário do consumo em horário de ponta de 1,41 R$/kWh; i)

quantidade de emissões totais de GEE2 de 680,74 tCO2e; j) emissões diretas totais: 473,70 tCO2e; k)

emissões indiretas (aquisição de energia elétrica) de 207,04 tCO2e; l) índice de consumo de energia

renovável igual a 67,96%; m) índice de consumo de energia não renovável igual a 32,04%.

Abordagem Energética Detalhada

2 Emissões de CO2e em 2012.

Foram definidos IDE’s a partir da observação das características dos 40 setores do Prédio

Administrativo e atribuição de pontuação para as diferentes características de seus ambientes, como:

orientação geográfica das janelas, área da janela com relação à parede, cor das paredes, cor do teto, cor

do piso, iluminância média medida (lux), ventilação cruzada e existência de persianas. Atribuiu-se

pontuação aos setores, resultando no índice médio denominado índice de eficiência energética do

ambiente - IEEA. A escala apresentada pela figura 3 demonstra os níveis A, B e C de eficiência,

representando os setores com siglas de acordo com seu pavimento (Térreo, 1º e 2º piso).

Figura 3 - Índice de eficiência energética dos ambientes do Prédio Administrativo, com base nas

características do ambiente. Nível A em verde, Nível B em amarelo e Nível C em vermelho.

De acordo com as pontuações obtidas e os IDE’s alcançados, é possível verificar que os

setores em vermelho, 1K (Sala Reunião 2), 1L (Sala Reunião 3), TG (Vigilância), 2J (RH), TC (Hall

PA 1), 1G (Hall PA 1), 1F (CPD/CFTV), 1M (Hall PA 2), 2B (Hall PA 1), 2T(Sala Reunião 1), 2H

(Hall PA 2) e 2Q (Circulação Gerência) foram os que apresentaram os piores índices de eficiência

energética, sendo estes os setores que possuem maior potencial para execução de melhorias visando o

aumento da eficiência energética do prédio administrativo.

Os setores 1B (Sala Reunião 1), 1A (Arquivo), 2L (Estoque), 2G (Telefonia), 2I (Kit Festa),

2K (Meio Ambiente), 2M (Comercial), 2P (Sala Gerência), TA (Almoxarifado), TB (Sala

Treinamento), TF (PCS), 1I (WC Fem 2), 1J (WC Masc 2), 2A (PVA), 2N (Sala Café), 2O (Sala

Reunião), 2R (WC Fem 2), 2S (WC Masc 2), 1D (WC Fem 1), 1E (WC Masc 1), 2C (WC Masc 1), 2E

(WC Fem 1) e TE (Refeitório) são aqueles que apresentaram IDE’s maior que 1,0 e menor que 2,0, e

portanto, são setores que também possuem grande potencial para melhoria, mas são ambientes com

características que permitem maior eficiência energética que os setores em vermelho.

Os setores em verde, TH (Vestiário), 1C (Copa), 2D (Vestiário PVA), TD (Cozinha) e 1H

(Comercial) são os que possuem características que permitem maior eficiência energética, sendo

portanto, aqueles que possuem menor potencial de melhorias quando comparados aos demais setores –

em vermelho e amarelo.

3.7. Planos de Ação

Com base nos dados obtidos no diagnóstico energético e nos IDE’s, foram propostas as ações

que contribuirão para que a organização atinja objetivos energéticos visando a melhoria contínua.

Objetivo 1: Monitorar o consumo de energia das áreas TECON/Armazéns/Prédio Administrativo

com base em dados confiáveis

Plano de ação 1: adequar o sistema de medição de energia por área, já que parte da energia

consumida não é contabilizada pelo software instalado. A partir desta adequação, se terá

confiabilidade nos dados apresentados pelo Smart 32 para que se possa saber como as medidas de

melhoria implementadas pelo terminal contribuíram para a redução do consumo de energia elétrica.

Objetivo 2: Reduzir o consumo de Óleo Diesel e as emissões de GEE pelas empilhadeiras

Plano de ação 1: inclusão de biodiesel como combustível complementar para as empilhadeiras, a

partir da mistura com o óleo diesel comum atualmente utilizado para a operação das mesmas. Reduz-

se assim o consumo de óleo diesel - de origem fóssil - e aumenta o índice de utilização de energias

renováveis, já que o biodiesel é produzido da biomassa como bagaço de cana, milho, entre outros.

Embora não se tenha certeza sobre viabilidade da utilização deste combustível para uso

específico em empilhadeiras, já que de acordo com Logweb (2011) é necessário verificar se esta

utilização é capaz de provocar problemas em motores que não são adaptados para receber estes

combustíveis; se fosse possível substituir o uso do diesel comum pelo biodiesel, o terminal portuário

reduziria custos e emissões de GEE. Com base nos dados de consumo de2012, calculou-se que a

alteração desta matriz energética para biodiesel reduziria os custos em aproximadamente R$1.800,73

por ano. Além do menor custo, o biodiesel proporcionaria menor emissão de GEE (cerca de 8%

menos tCO2e). Com a substituição de óleo diesel por biodiesel deixariam de ser emitidos 33,12

toneladas de CO2e por ano, considerando os dados de consumo do ano de 2012. Sugere-se então, a

realização de estudos mais detalhados pelo terminal portuário, para uma conclusão mais precisa acerca

da proposta.

Objetivo 3: Reduzir o consumo de GLP e emissões de GEE pelo fogão industrial

Plano de ação 1: substituição do fogão industrial atualmente utilizado pela empresa por um fogão de

modelo mais eficiente, etiquetado pelo selo CONPET. Acredita-se também que uma maneira de se

reduzir o consumo de GLP sem substituir o equipamento é a partir da conscientização dos

funcionários quanto ao desperdício de alimentos. Sabendo-se que quanto maior a demanda de

refeições diárias, maior a quantidade de GLP consumido para sua produção, sugere-se uma campanha

para redução dos desperdícios de alimentos nas refeições diárias dos funcionários. Com a redução dos

desperdícios de alimento se reduz a demanda de refeições a serem realizadas, e consequentemente o

consumo deste combustível fóssil.

Objetivo 4: Reduzir o consumo de energia elétrica e emissões de GEE no Prédio Administrativo

Plano de ação 1: realizar a setorização de circuitos elétricos para melhor integração entre a

iluminação artificial e natural, já que através de observações in loco, verificou-se que em muitos

ambientes as lâmpadas não possuem setorização adequada. Alguns interruptores de lâmpadas de um

setor ficam localizados em outro setor, o que se torna um empecilho para que os funcionários

desliguem as lâmpadas nas quais precisam, e com isso, ocorre desperdício de energia.

Plano de ação 2: instalar dispositivos economizadores para iluminação nos corredores do PA (Hall

PA 2 do1º piso e Hall PA/Hall PA 2 do 2º piso), que atualmente possuem acionamento manual.

Plano de ação 3: adquirir equipamentos mais eficientes como lâmpadas modelo LED e ar

condicionados. Após comparação entre as lâmpadas atualmente instaladas no PA com lâmpadas do

modelo LED, verificou-se que ao substituir 132 lâmpadas fluorescentes por lâmpadas LED

(quantidade de lâmpadas existentes nos setores que não atendem o nível mínimo de iluminância, de

acordo com medições) o consumo de energia elétrica voltada à iluminação reduziria cerca de 41%, o

que resultaria em uma economia aproximada de 2,7 kW/h e consequentemente a não emissão de

0,032t de CO2 para cada 1000 horas de consumo. Segundo DW (2013), o tempo do retorno do

investimento pela aquisição das 132 lâmpadas LED é de aproximadamente 5 anos e 11 meses. Além

da redução do consumo, de energia as lâmpadas LED têm tempo de vida maior que as fluorescentes

(40.000h), ou seja, as lâmpadas LED seriam utilizadas por aproximadamente 15 anos, considerando

um tempo de uso de 10h diárias, 22 dias mensais, o que reduziria o custo com manutenção.

Também para melhoria da eficiência energética do terminal portuário, os equipamentos

condicionadores de ar adquiridos devem passar a respeitar os índices de eficiência mínima dos

equipamentos enquadrados na faixa "A" de classificação do Programa Brasileiro de Etiquetagem

(PBE), já que por possuírem maior eficiência implicam em um menor consumo de energia elétrica.

Objetivo 4: Aumentar a eficiência energética dos ambientes do Prédio Administrativo

Plano de ação 1: realizar melhorias nos acabamentos internos da edificação, visando melhor

distribuição da luz e maior rendimento dos sistemas de iluminação interna, tanto artificial quanto

natural. Recomenda-se que as superfícies internas dos tetos e paredes sejam pintadas de cores claras.

Segundo Rodrigues (2002), a refletância do teto, parede e piso dos ambientes deve ser a mais alta

possível, não inferior a 50%. Sendo assim, para os ambientes recomenda-se a pintura das

paredes/teto/piso na cor marfim ou branca, já que são cores que apresentam maior refletância,

proporcionando assim uma maior iluminância do ambiente.

Plano de ação 2: realizar a instalação de janelas para maior ventilação/iluminação natural, visando

uma maior integração da luz natural nos ambientes do PA. Sugere-se que os ambientes situados nas

áreas perimetrais da edificação apresentem condições para aproveitamento da luz natural por meio da

inclusão de janelas maiores, o que por consequência minimiza o uso do sistema de iluminação

artificial. Considerando os dados obtidos para a elaboração do IEEA, verificou-se que os setores com

IEE nível “B” possuem maior potencial para ampliação das janelas, pois todos possuem janelas

consideravelmente pequenas (≤30%) em comparação com a área da parede em que ocupam.

Plano de ação 3: realizar a instalação de proteções solares (brises) nas janelas do PA, visando a

redução do ofuscamento sem prejudicar a iluminação natural, bem como o aumento da eficiência

térmica dos ambientes. De acordo com Verna (2013) apud Abril (2013) os brises possuem eficiência

térmica, ao contrário das persianas, e segundo Gelbcke et al. (2012) o custo do brise-soleil depende de

vários fatores, não sendo possível definir um preço fixo por m², pois são temporais e variam conforme

o projeto do brise. Embora assim, Gelbcke et al. (2012) seus preços normalmente variam de R$200,00

a R$ 800,00. É importante destacar que há necessidade de um estudo mais aprofundado, com um

dimensionamento detalhado, uma vez que para cada modelo de brise é necessário a coleta de

diferentes dados para seu dimensionamento.

Plano de ação 4: implantar um telhado verde no Prédio Administrativo como forma de reduzir a

temperatura do ambiente interno e consequentemente o consumo de energia para a ventilação artificial

do ambiente. De acordo com Lamberts et. al (2010) os telhados verdes possuem um potencial de

melhoramento do desempenho térmico de edificações, proporcionando uma redução do consumo de

energia principalmente relacionado à refrigeração nos horários mais quentes do dia. Considerando que

de acordo com Savi (2012) a implantação do telhado verde custa em média R$ 200,00. Sendo assim,

considerando que área total do telhado do Prédio Administrativo é de 667m² a implantação custaria

cerca de R$133.400,00.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O diagnóstico energético realizado possibilitou, além da identificação dos usos e consumos de

energia, a realização dos cálculos de emissões diretas e indiretas de GEE, através da ferramenta

disponibilizada pelo Programa GHG Protocol. A contabilização de emissões permitiu identificar que

as empilhadeiras movidas a diesel são as maiores responsáveis pelas emissões de CO2e no terminal

portuário, seguida pela energia elétrica e pelas empilhadeiras a GLP. Foram também identificadas

oportunidades de melhorias, principalmente quanto ao uso de energia elétrica, já que esta fonte de

energia foi identificada pelo diagnóstico energético global como a que possui o uso mais significativo

no terminal portuário.

Foi possível verificar que a gestão de energia da organização em estudo apresenta diversas

fraquezas, como por exemplo, a baixa eficiência energética de diversos ambientes do Prédio

Administrativo, a qual foi verificada a partir dos Índices de Eficiência Energética de Ambiente, que

considera suas características quanto à iluminação e ventilação. Os baixos IEEA encontrados indicam

que as características do ambiente podem estar ocasionando perdas de energia e gastos com consumo

desnecessários. Por outro lado, o mau uso de energia pela falta de conscientização de funcionários

associado ao uso de equipamentos de baixa eficiência energética também podem contribuir ainda mais

com as emissões de GEE. Sendo assim, a implantação de melhorias associadas à redução do

desperdício de energia elétrica no Prédio Administrativo pode causar, além da redução de custos, a

redução de emissões de GEE.

As propostas de melhorias realizadas neste trabalho podem contribuir para o atendimento aos

objetivos propostos para o SGE do terminal portuário, seja através da proposta de uso de

equipamentos mais eficientes, redução do desperdício a partir da conscientização de funcionários, e

até mesmo através do uso de energia alternativa como o biodiesel nas empilhadeiras. A partir do

diagnóstico energético para atendimento à NBR ISO 50001:2011 o terminal portuário possui uma base

de dados que possibilita implantar uma gestão energética abrangente baseada na melhoria contínua do

uso e do consumo de energia; impulsionando a organização à realização de práticas de melhor

gerenciamento de energia, que tenham consequências positivas com relação à redução das emissões

dos GEE e que também impliquem na redução de custos para a empresa.

4. REFERÊNCIAS

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