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II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, URBANIZAÇÃO,
HISTORIOGRAFIA E O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO NA CIDADE
DE SÃO PAULO: 1939 A 1969
BORTOLLI JR., ORESTE
RESUMO
Devido ao desenvolvimento econômico que se deu na cidade de São Paulo no período de 1939 a 1969, o qual pode ser considerado um momento fecundo para a arquitetura na capital paulista, pois a cidade, em eminência de se tornar metrópole, viu surgir uma significativa provisão de arquitetura. O artigo trata dos fatores que intervieram nesse processo, tal como a urbanização, à qual também coube o fato de avolumar as pranchetas dos arquitetos paulistas e de outros autores advindos de outras partes. A demanda por construções civis gerou uma memória construída promovida, em parte, pela iniciativa privada. Centro e bairro foram beneficiados com um quadro edilício notável. Acrescente-se que consoante a esse período, a historiografia da arquitetura limitou-se a poucas divulgações de arquitetos e de suas obras, sendo destacados aqueles considerados ‘gênios’ e alguns de seus discípulos, deixando de lado arquitetos e obras de valor. Salientando trabalhos dos anônimos ausentes na literatura especializada o artigo, por amostragem, arrola um levantamento iconográfico de obras ordenadas cronologicamente, sistematizadas por usos e finalidades em forma de fichas catalográficas, oriundas das publicações do período em questão, impressas na revista Acrópole. O levantamento levou em conta arquitetos ausentes em três importantes publicações que registraram a principal provisão de obras de arquitetura no período em questão.
Palavras-chave: Desenvolvimento econômico; Urbanização em São Paulo; Patrimônio Arquitetônico; Arquitetura Moderna Paulistana.
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1. CONSIDERAÇÕES ACERCA O DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E O PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO NA CIDADE
DE SÃO PAULO
A verticalização da cidade de São Paulo inicia com pouca intensidade nos anos de 1920,
quando a cidade ainda era estigmatizada como um núcleo provinciano e território do
imigrante. Mesmo assim, já era possível antever a sua vocação de se tornar metrópole, pois
como frisa Regina Prosperi Meyer (1991, p.17), que historiadores e geógrafos estudiosos do
desenvolvimento de São Paulo apontam para a existência de três momentos para que a
cidade se tornasse metrópole. O primeiro período de metropolização da cidade que se deu
entre 1929 e 1950 foi o momento que disse respeito ao acomodamento da mancha urbana,
resultante de uma perspectiva econômica, ou seja, de início, o crescimento se dá ao longo
nas faixas residenciais e industriais da periferia. Em seguida, ocorre a compactação da
mancha urbana, acontecendo, consequentemente a verticalização na área central, e mais
tarde nas áreas ao redor do centro. A crise do café em 1929 foi um fato relevante para o
início da metropolização, ou seja, determinou o fim da monocultura cafeeira, impondo uma
produção diferenciada para abertura de fontes pioneiras, assumindo papel indutor de grande
alcance, provocando mudanças nos investimentos públicos e nos empreendimentos
privados (Meyer, 1991, p.17). Sob o ponto de vista geográfico, Meyer (1991, p.14) destaca
que sucedem dois períodos evolutivos distintos que se associam ao período do crescimento
geográfico e à expansão da cidade sobre sua periferia. Neste cenário, se inicia, portanto, o
processo de metropolização que se dá entre 1915 e 1940, passando a subdividir a
metrópole, em ascensão econômica, em dois espaços, um propriamente urbano e outro
suburbano. Tais fatos, portanto, evidenciam que a cidade de São Paulo tornou-se metrópole
não somente pelas dimensões assumidas, como: subúrbio, estação, bairros jardins, núcleos
periurbanos, mas deixando evidente a existência de uma estrutura metropolitana. Como
consequência, para Meyer (1991, p.10), surgem nos marcos da cultura metropolitana os
fatos que demarcam claramente um compromisso com a forma de construir, de comprar, de
morar, de circular, de divertir, de usufruir e produzir objetos artísticos, de comunicar-se e,
sobretudo, conviver com a forma metropolitana. Era, portanto, necessário construir. A partir
de então, de acordo com as novas demandas da população, de núcleo provinciano, a cidade
Paulo passa a se configurar como metrópole.
Meyer (1991, p.31), narrando sobre os efeitos da “nova São Paulo” no que diz respeito aos
usos e formas de ocupação do solo, e também sobre a distribuição das atividades
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econômicas e dos equipamentos sociais, de lazer e cultura no espaço urbano da cidade,
leva em conta, neste sentido, as constatações de N. L. Mueller (1956), de 1952, o qual
revela que, das dez funções urbanas encontradas naquele momento no centro, o comércio
era a função predominante. Ainda citando Mueller (1956), a autora mostra a subdivisão do
centro em funções e modalidades, a saber: comércio varejista, comércio atacadista e
escritórios comerciais, sendo que a função comercial possui um forte vínculo com a
verticalização que ocorre nos diversos usos, desde o setor terciário ao residencial. Par e par
caminha o setor industrial.
Maria Ruth do Amaral Sampaio (2002, p.11) relembra no que tange à escassez de
habitação e o problema de transporte constantemente reivindicado pela população nos anos
do presidente Getúlio Vargas (1950-1954), resulta na oferta de apartamentos compactos e
econômicos, constituindo, assim, uma abordagem tipológica arquitetônica inovadora e de
grande sucesso para aquela época. Sampaio (2002, p.12) acrescenta ainda que a tipologia
do apartamento dúplex, fugindo à regra do apartamento compacto e econômico, foi também
uma novidade do período, sendo esta tipologia inicialmente proposta pela iniciativa privada.
Maria Cristina Leme (1982, p.53) assegura que os terrenos centrais ocupados por indústrias
tradicionais começam a ser disputados por usos que proporcionam maior rendimento por
metro quadrado, como o uso comercial ou prestação de serviço. Segundo Leme (1982,
p.55),ocorre uma expansão do comércio varejista, especializando-se de acordo com o
crescimento da cidade, com tendências a acompanhar a expansão das áreas residenciais,
frisando que, de início o comércio e residências localizavam-se nos corredores de maior
tráfego, passando depois, a ocupar as ruas paralelas e transversais, principalmente nos
bairros de Higienópolis, Cerqueira César, Pinheiros e Jardim Paulista. Na década de 1960,
as agências bancárias e os grandes escritórios saem do centro e avançam para o vetor da
Avenida Paulista, tendendo, em seguida para a direção do Vale do Rio Pinheiros (Leme,
1982, p.55).
Segundo Leme (1982, 55), a partir da década de 1950 busca-se estabelecer uma nova
relação física do edifício residencial com o lote, pois, na imensa maioria, construídos em
meio a jardins, unem-se à cidade através de rampas, estabelecendo desta forma uma
relação direta com a rua e com o espaço urbano livre. As demandas de usos e abordagens
urbanas mencionadas por Meyer, Sampaio e Leme, constituem os subsídios para realizar as
amostragens das obras do item 4 - Levantamento iconográfico (figuras 1 a 4).
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2. A HISTORIOGRAFIA E DIVULGAÇÃO DA PROVISÃO DE
ARQUITETURA
Outra questão que o trabalho trata e questiona é de origem historiográfica, pois se observa
uma supervalorização das individualidades referendadas pela historiografia da arquitetura
no período em questão. Essa literatura, em forma de compêndios focados em determinados
arquitetos, períodos, movimentos e correntes arquitetônicas, repetem o mesmo discurso, os
mesmos projetos, obras, buscando, inclusive, torná-los paradigmáticos. Deslocado do
interior da profissão, o discurso quase nunca toca o relato do ofício. Promovem distinções
entre os arquitetos que podem até mesmos ser passiveis de classificações: os ‘gênios’, os
‘mestres’ e os ‘discípulos’ (Xavier, et, al ,1983, 07). Com efeito, logo na introdução do livro-
roteiro Arquitetura Moderna Paulistana de Alberto Xavier, Carlos Lemos e Eduardo Corona,
onde são expostas obras da arquitetura paulistana, parecendo pretender suprir as lacunas
existentes ao que diz respeito à divulgação neste contexto, ausentes em outros livros em
que divulgam a arquitetura brasileira no período em questão, eles realçam a existência dos
criadores das obras classificando-os de fato como ‘mestres’ e os ‘discípulos’, frisando que,
ao publicarem trabalhos dos mestres, prevalece a ‘ideia liberal’ de inserir algumas obras dos
discípulos. Frisa-se que Xavier, Lemos e Corona em seu livro-guia, publica poucos trabalhos
de arquitetos estrangeiros, deixando à margem, principalmente, a obra do arquiteto Victor
Reif.
A respeito desta mesma questão, a arquiteta e historiadora Maria Beatriz Camargo Aranha
(1993, p.46), afirma que a historiografia da arquitetura brasileira se caracteriza pela
dualidade ‘gênio x ofício’, e que trabalha com a noção de periodização, de marcos
arquitetônicos, de arquitetos e obras inaugurais .
A publicação de Lemos, Corona e Xavier se deu em 1983, já a questão posta por Aranha é
de1993, ou seja, dez anos depois. Ao que parece este livro-roteiro pretende suprir as
paulistas que não foram levadas a cabo nas publicações que abrangem o âmbito nacional.
Joel Pereira Felipe (2004, p.169) declara que algumas obras literárias que tentam rever e
reescrever a história da arquitetura brasileira repetem os mesmos paradigmas e destaca
aquilo que é reconhecido pelo senso comum como arquitetura verdadeira, boa arquitetura,
de vanguarda e digna de figurar entre os que devem ser assimilados pelos futuros
arquitetos: as mesmas obras e seus autores já consagrados.
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Yves Bruand, arquivista paleógrafo francês escreve L´architecture contemporaine au Brésil,
publicado também no Brasil com o título Arquitetura Contemporânea no Brasil. O autor
dedica grande parte deste livro às regiões Nordeste e Sudeste, focando e consagrando os
projetos realizados para Brasília. Bruand efetua um breviário da história brasileira, analisa
as condições políticas, econômicas e físicas do país. Esta publicação, de caráter
enciclopédico, trata também das intervenções urbanísticas em Salvador, no Rio de Janeiro e
em São Paulo, citando inclusive, a criação de cidades novas no país – Goiânia e Belo
Horizonte. Tratando-se da cidade de São Paulo, Bruand inicia discorrendo sobre o caráter
pioneiro da obra de Gregory Warchavchic, afirmando que pouco se falou da nova arquitetura
feita em São Paulo, principalmente pelos arquitetos brutalistas. Para isto houve dois motivos
principais: de um lado, a menor vivacidade dos talentos paulistas e o atraso maior com que
se impuseram, e, de outro, o fato de que as criações mais originais não se alinharem às
tendências propriamente racionalistas, embora derivem dela indiscutivelmente. (Bruand,
1981, p.249).
Destina algumas páginas a Rino Levi, Henrique Mindlin, Oswaldo Bratke, Ícaro de Castro e
Mello e Lina Bo Bardi. Realiza o capítulo “À margem do racionalismo: a corrente orgânica e
o brutalismo paulista” em que contrasta a obra de João Vilanova Artigas com a de Rino Levi,
afirmando que, embora a obra de Vilanova Artigas esteja longe de ser homogênea se divida
claramente em vários períodos cronológicos de inspirações diversas; a de Rino Levi – ao
contrário – é um modelo de continuidade, conforme foi ressaltado quando foram estudados.
Sobre a arquitetura paulista, encerra o capítulo citando os discípulos de Vilanova Artigas.
Neste contexto, Bruand alegando que a influência de Artigas se impôs como um dos
professores mais respeitados na Faculdade de Arquiteura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo exerceu influência sobre os alunos, que em sua imensa maioria sedurizam-se
pelo espírto brilhante e pela solidez do seu pensamento (Bruand, 1981, p.306). Contudo,
como importante discípulo cita um único estudante desta escola – Joaquim Guedes,
apresentando algumas de suas casas e uma obra pública. Como outros discípulos de
Artigas, faz menção a dois outros oriundos da Faculdade de Arquitetura do Instituto
Presbiteriano Mackenzie - Carlos Milan e Paulo Mendes da Rocha. No que diz respeito a
Milan, Bruand narra sobre a importância de uma de suas obras, a casa Nadir de Figueiredo.
Já quando toca ao arquiteto Mendes da Rocha, seu trabalho desdobra-se em comentar
sobre o ginásio de esporte do Clube Paulistano, e mais três casas - uma delas a residência
do arquiteto e um edifício multifamiliar.
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Importante mencionar que, com exceção da presença de Le Corbusier no Brasil, na ocasião
em que se realizaram os primeiros estudos para o projeto do Ministério da Educação e
Saúde, hoje Palácio Capanema, Yves Bruand, que fez toda sua pesquisa na França, não faz
menção aos arquitetos estrangeiros que atuaram e contribuíram para a consolidação do
movimento moderno em arquitetura na cidade de São Paulo.
A terceira publicação Arquitetura Modena no Brasil de Henrique Mindlin, foi concebida para
complementar o catálogo Brazil Builds, de Philip Goodwin, exposto em Nova York no MoMA
– Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 1943. Para Mindlin (1999, p.21), o objetivo do
livro é por em evidência, de forma condensada, um maior número de autores e obras. No
entanto, a necessidade de cobrir uma ampla perspectiva em um número preestabelecido de
páginas, impôs uma série de limitações na escolha do material a ser apresentado. Não foi
possível evitar a exclusão de um grande número de bons projetos. No âmbito paulista,
Mindlin cita quase que as mesmas referências de Bruand, adicionando nomes e obras, e,
como ele mesmo afirma, promovendo exclusões.
3. ARQUITETOS ESTRANGEIROS
Devido ao clima de pós – Segunda Guerra Mundial na Europa, fato este que resultou na
escassez de trabalho para os arquitetos no velho mundo, torna-se importante destacar que
junto a uma classe profissional já atuante em São Paulo, somam-se arquitetos que
imigraram para o Brasil. Muitos deles estabeleceram-se em São Paulo, trazendo consigo
ideias e conceitos das vanguardas europeias; podendo dizer que ao mesmo tempo foram
atraídos pelo crescimento econômico, pelo vanguardismo arquitetônico que já pairava no
país, cujo sucesso já se fazia divulgar na Europa e em outras partes do exterior - foi devido,
provavelmente, aos arquitetos cariocas, às estadias de Le Corbusier no país, ao trabalho
pioneiro de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, entre outros e que atuavam, principalmente no
Rio de Janeiro na feitura do Ministério da Educação e Saúde. Dentre os arquitetos
estrangeiros, sobressaem as figuras de Adolf Franz Heep, Lucjan Korngold e Victor Reif,
valendo expor uma sinopse dos seus dados biográficos.
Nascido na Alemanha, em Fachback, Heep estudou arquitetura na Escola de Artes e
Ofícios de Frankfurt e na École Spéciale d´Architeture em Paris. Imigra para o Brasil em
1947, trazendo em sua bagagem a experiência vivenciada em obras públicas que lhe fora
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ensinada por Adolf Meyer, em Frankfurt, tendo, inclusive tido a influência francesa de Mallet-
Stevens, Auguste Perret e Le Corbusier, com os quais estagiou em Paris, realizando,
edifícios de apartamentos nesta cidade. Em São Paulo, de início, emprega-se no escritório
de Jacque Pilon, arquiteto francês já estabelecido no Brasil desde a década de 1930, com
quem projeta o edifício-sede do jornal O Estado de São Paulo. Heep contribui transformando
o projeto, originalmente em estilo art déco dando-lhe caráter de contemporaneidade,
acrescentado, inclusive, em sua feitura elementos modernos como os brise-soleils,
devidamente abordados. Assim, Heep, sempre no empenho de introduzir inovações
tecnológicas, dando ênfase aos processos de industrialização, padronização de
componentes e detalhamento do projeto e do conforto ambiental, atende demandas do
mercado imobiliário em expansão na cidade de São Paulo, colaborando fortemente para a
consolidação de um padrão de excelência arquitetônica, particularmente na região central e
no bairro de Higienópolis, onde realizou edifícios habitacionais de alta e baixa densidade 1.
Nascido no seio de uma elite judaica de Varsóvia, Lucjan Korngold estudou na Faculdade de
Arquitetura da Escola Politécnica de Varsóvia, onde se formou em 1922, juntamente com
aqueles que compuseram a vanguarda atuante da arquitetura polonesa durante as décadas
de 1920 e 1930, entre os quais Szymon (1893-1964) e Helena (1900-1982) Syrkus,
representantes poloneses no Ciam entre 1928 e 1959. Obtém menção honrosa na 5ª Trienal
de Milão, com o projeto de uma residência realizada juntamente Henrik Blum. Participa
também da Exposição de Artes e Técnicas na Vida Moderna, realizada em Paris em 1937.
Integra-se ao exército polonês, contudo, justamente quando a Alemanha invade a Polônia e
inicia uma onda de perseguições aos judeus de 1939. Tal fato que fez com que Korngold
fugisse para Bucareste. Em seguida, graças a uma negociação entre o Vaticano e o
Itamaraty, consegue permissão de exílio, e juntamente com sua família desembarca no
porto de Santos, em 1940. Inicia sua atividade profissional, trabalhando no escritório
Francisco Matarazzo Netto entre 1940 e 1943, Ao depois, associa-se a Francisco Beck, em
1944. Naturaliza-se brasileiro e recebe seu CREA, podendo, portanto, assinar e
responsabilizar-se tecnicamente por suas obras. Passados dois anos cria sua própria
empresa, o Escritório Técnico Lucjan Korngold Engenharia e Construções. Acrescente-se
que os projetos de Korngold realizados Brasil são divulgados a partir dos anos 1940 pela
1http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_ic/Enc_Artistas/artistas_imp.cfm?cd_verbete=5361&im
p=N&cd_idioma=28555 – acesso em 26 de junho de 20
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revista L'Architecture D'Aujourd'hui; na exposição Arquitetura Latino-americana realizada em
1945, organizada pelo historiador de arquitetura Henry-Russel Hitchcock (1903-1987) no
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque – MoMA 2.
Korngold realizou inúmeras casas nos bairros jardins, edifícios de uso misto e os primeiros
edifícios altos na Avenida Paulista e no centro da cidade de São Paulo, onde também
realiza projetos obras de habitação multifamiliar de média a alta densidade nos bairros
Jardins, Higienópolis e Santa Cecília.
Victor Reif nasceu em Przemysl, Polônia, em 1909. Durante a sua formação acadêmica,
iniciada em 1928 na Escola Técnica de Berlim-Charlotemburgo, Reif absorveu experimentos
da Bauhaus, geradora de um modelo de formação para o ensino da arquitetura
principalmente em Berlim. Em 1930, Reif transferiu-se para a Universidade de Darmstadt,
berço do jungestil, onde permaneceu até o final do ano letivo. Em 1931 reintegra-se à
Escola de Berlim onde, ainda como aluno, participou da equipe do arquiteto Bruno Taut,
colaborando na pesquisa e elaboração do projeto de moradia coletiva mínima. Dois anos
depois graduou-se engenheiro-arquiteto pela mesma Technische Hoschule Berlim-
Charlotemburg, onde, entre seus mais ilustres alunos, figuram Hans Poelzig, Egon Eirmann,
Hans Scharoun, Wassili Luckhardt, Erich Mendelshon e Walter Gropius.Reif permaneceu na
Europa até 1951, projetando memoriais, fábricas e hospitais. Neste mesmo ano,
desembarcou na cidade do Rio de Janeiro, onde impressionou-se pela nova arquitetura
realizada pelos jovens arquitetos, Lúcio Costa, irmãos Roberto, Reidy e Oscar Niemeyer.
Após um ano transfere-se para São Paulo, onde passou a trabalhar com alguns escritórios
de engenharia. Na produção de Victor Reif predominam residências, localizadas nos bairros
das zonas oeste e sul da cidade de São Paulo, como Brooklin, Vila Nova Conceição e nos
bairros jardins que já estavam urbanizados na capital paulista. Já os edifícios residenciais de
situam numa região mais próxima ao centro.
A primeira obra do arquiteto, no Brasil, foi realizada em 1954, em São Paulo: a residência
no Brooklin Novo. Nela, o arquiteto evidencia alguns conceitos que se farão presentes na
maioria de seus projetos posteriores, como o emprego de diferentes materiais para
2http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete
=6423&%20cd_item=1&cd_idioma=28555- acesso em 26 de junho de 2013.
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composição da fachada; preocupação em isolar a residência, fazendo-a voltar-se para o
interior do lote; implantação segundo a orientação norte; dimensão do living e sua relação
interior/exterior com o pátio interno e presença da luz natural, tornando a casa plasticamente
bem resolvida e agradável aos moradores. Seus edifícios de habitação coletiva, projetados
para baixa e média densidade localizam-se nos bairros de Santa Cecília e Higienópolis.O
prédios residências refletem as mesmas preocupações que Reif procura atender nas
residências: a questão social da moradia, o bem-estar dos moradores, o respeito ao entorno
do lote e a inserção urbana quase sempre marcada por acessos em rampas de suaves
inclinações. Algumas características como os pilotis no térreo, as vigas de transição, a
planta amplamente flexível, o duplo pé-direito no pavimento térreo, que segundo o arquiteto,
referia-se ao isolamento em relação à rua, são comuns nos edifícios projetados por ele3.
4. Levantamento iconográfico
Tendo como parâmetro para elaborar o presente levantamento, realizado por amostragem,
as figuras que se seguem, foram elaboradas na forma de fichas (ou pranchas) catalográficas
que aparecem nas figuras de 01 a 04, de tal forma que, como posto anteriormente, o ponto
de partida foi levar em conta as considerações pertinentes ao desenvolvimento urbano,
assim como as tipologias apontadas por Meyer, Leme e Sampaio, considerando também as
obras e arquitetos inexistentes nas três publicações supracitadas. O levantamento, em
forma de fichas (ou pranchas) foi ordenado cronologicamente, e as obras classificadas por
usos e finalidades, extraídos das edições da revista Acrópole que compreende o período de
1939 a 1969.
Tal método se deu por considerar que as revistas, muitas vezes enquanto fontes primárias
são extraordinários instrumentos de pesquisa. Sobre a importância desse tipo de periódico,
Giulio Carlo Argan (1994, p.53), assinala que as revistas têm a virtude de serem eficazes
instrumentos de pesquisa, uma vez que são consideradas fontes inesgotáveis para o estudo
dos artistas, dos problemas, dos períodos; pois hoje, frisa Argan, há um conjunto imenso de
revistas que se vêm publicando desde o início do nosso século. Muitas vezes os contributos
mais atualizados ou a descoberta de obras ou ainda a sistematização do catálogo de um
artista são referidos nesse intermediário científico que se revela oportuníssimo. De igual
3 http://www.piniweb.com.br/construcao/noticias/victor-reif-84606-1.asp - acesso em 26 de junho de 2013.
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modo Roberto Gomes (1958, p.3) acrescenta que a função das revistas técnicas tem grande
relevância no campo da arquitetura e da engenharia, pois contam com o privilégio de
apresentar os assuntos com grande atualidade. A mesma matéria inserta no livro técnico é
encontrada na revista com muito mais antecipação, levando ao conhecimento dos
interessados detalhes de determinada obra, acompanhando mesmo, se for o caso, as
diferentes fases da sua própria realização. A literatura da arte de construir, dessa forma
reflete-se tanto através dos livros como das revistas técnicas, cuja difusão é mais intensa e
imediata. Praticamente todas as revistas especializadas do mundo, de publicação desde
semanais até bianuais, são fundamentadas em arquitetura moderna até por órgãos de
classe as quais tendem a convergir sempre em torno dos mesmos grupos (GOMES, 1958,
p.3). Foi, portanto, a partir destas considerações, que se deu o ponto de partida e induziu a
escolher a revista Acrópole como instrumento de pesquisa para o desenvolvimento do
presente levantamento. A propósito, acrescente-se que a Acrópole, foi o periódico que mais
perdurou, permeando o movimento moderno em arquitetura e urbanismo. Fundada em maio
de 1938 por Roberto Corrêa de Brito, a Acrópole deixa de existir em 1972.
Frisa-se que o trabalho é fruto de uma pesquisa acadêmica, sendo o processo iconográfico
destinado à parte documental, o qual consistiu em localizar os volumes na biblioteca da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, digitalizar as
imagens, reparando-as em Adobe Photoshop, pois com o passar do tempo às páginas das
revistas aderem, muitas vezes, os fungos, criando manchas de envelhecimento, rasgos do
manuseio, entre outros aspectos passíveis de serem corrigidos em meios digitais. A partir
desta etapa, montam-se as pranchas em uma segunda etapa, valendo-se ainda no Adobe
Photoshop, Na feitura das fichas catalográficas, acima são posicionados as fotos e os
desenhos; abaixo, o nome da obra, autoria do projeto, local e as referências da revista em
que a obra se encontra publicada.
Importante acrescentar que os periódicos mais antigos tendem a desaparecer, uma vez que,
mesmo com os cuidados tomados com o restauro, as matérias e figuras terminam perdendo
o vigor gráfico original. Neste sentido, há de se sugerir que sejam digitalizados e reparados,
pois podem tornar graficamente mais legíveis.
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Figura 1 – Década de 1940 Usos: residencial unifamiliar, residencial multifamiliar, misto, comercial.
Prancha elaborada pelo autor do trabalho
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Figura 2 – Década de 1950
Usos: residencial unifamiliar, residencial multifamiliar, misto, comercial. Prancha elaborada pelo autor do trabalho
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Figura 3 – Década de 1960 Usos: comercial/entretenimento, comercial, institucional.
Prancha elaborada pelo autor do trabalho
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Figura 4 – Década de 1960 Usos: residencial multifamiliar, residencial unifamiliar, residencial multifamiliar.
Prancha elaborada pelo autor do trabalho
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Considerações finais
As obras expostas na coleta de dados deste estudo, situadas nas áreas centrais, áreas em
torno do centro e nos bairros da cidade de São Paulo em pleno desenvolvimento indicaram
que a arquitetura se impôs como pioneira, comprovando, inclusive, que os dados insertos
nas revistas de arquitetura são fontes primárias inesgotáveis para realizar pesquisas,
principalmente do ponto de vista iconográfico, antecipando e superando a escassez dos
compêndios historiográficos voltados ao campo do conhecimento da arquitetura do
urbanismo. Além disso, vale dizer que os dados apontaram que o patrimônio moderno na
cidade de São Paulo no período em questão, foi fruto do ambiente sociocultural, político e
econômico. Neste sentido, frisa-se que a memória arquitetônica edificada é resultante das
transformações urbanas, alinhada à trajetória da formação da cidade, impulsionada pela
dinâmica de seus habitantes, sendo que as construções civis em seus diversos usos e
finalidades, no caso da cidade de São Paulo se dão no bojo da urbanização e do
desenvolvimento econômico e industrial, pois na medida em que esse processo se
acelerava, par e par intensificaram-se os fluxos migratórios trazendo para a cidade uma
população composta por operários, industriais, comerciantes, profissionais liberais, entre
outros que caracterizam o conjunto de habitantes da metrópole emergente. O quadro
edilício, por conseguinte, transforma a fisionomia morfológica, conferindo à cidade de São
Paulo contornos de metrópole, entrando, neste cenário, a verticalização demandada pela
habitação, pelo comércio e serviços, sendo tais feitos, portanto, promovidos, em grande
parte pelo capital imobiliário. Em que pese este fato, no recorte temporal desta pesquisa, as
obras de arquitetura selecionadas e empregadas na amostragem, são notabilizados em
vista de suas qualidade arquitetônicas traduzidas nas suas concepções, nas organizações
funcionais e espaciais, no emprego dos materiais em consonância com os preceitos e o
avanço tecnológico e científico refletindo os atributos das novas tendências arquitetônicas
que pairavam no Brasil e em outras partes.
II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013
Bibiografia
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