DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO · SUMÁRIO: Discussão sobre o Projeto de Lei...
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURALEVENTO: Audiência Pública N°: 2066/07 DATA: 20/11/2007INÍCIO: 14h41min TÉRMINO: 17h25min DURAÇÃO: 02h43minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h43min PÁGINAS: 48 QUARTOS: 33
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃORODOLFO TAVARES – Vice-Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA.MANOEL JOSÉ DOS SANTOS – Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG.
SUMÁRIO: Discussão sobre o Projeto de Lei nº 751/2003, do Deputado Assis do Couto, que altera o art. 1º do Decreto-Lei nº 1.166, de 15 de abril de 1971, definindo critérios de enquadramento da atividade rural para fins de recolhimento da contribuição sindical.
OBSERVAÇÕESHouve exibição de imagens.Houve exibição de vídeo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Está aberta a reunião de
audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, convocada para discutir o
Projeto de Lei nº 751/2003, do Deputado Assis do Couto, que altera o art. 1º do
Decreto-Lei nº 1.166, de 15 de abril de 1971, definindo critérios de enquadramento
da atividade rural para fins de recolhimento da contribuição sindical.
Foram convidados para participar desta reunião, como expositores, os Srs.
Manuel José dos Santos, Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Agricultura — CONTAG, e Rodolfo Tavares, Vice-Presidente da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil — CNA. Foram também convidadas para esta
reunião as federações da agricultura e as federações de trabalhadores na
Agricultura. Solicito aos expositores, os Srs. Manuel José dos Santos e o Sr. Rodolfo
Tavares, que tomem assento à mesa. (Pausa.)
Concedo a palavra ao Sr. Rodolfo Tavares, Vice-Presidente da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil, pelo prazo de 20 minutos.
A audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados foi convocada para discutir o
Projeto de Lei nº 751/2003, que altera o art. 1º do Decreto-Lei nº 1.166, de 15 de
abril de 1971, definindo critérios de enquadramento da atividade rural para fins de
recolhimento da contribuição sindical.
Concedo a palavra ao Sr. Rodolfo Tavares.
O SR. RODOLFO TAVARES - Sr. Presidente, muito boa-tarde. Caro colega
Manoel, Presidente da CONTAG, Srs. Parlamentares aqui presentes, eu gostaria de
tentar organizar o pronunciamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil por meio de uma projeção de imagens com as quais nós pretendemos expor
para os Srs. Parlamentares e demais presentes o que entendemos da contribuição
sindical. E diríamos, com toda a vênia, da temeridade desse projeto de lei, porque
ele não guarda uma relação sistêmica com a legislação previdenciária,
principalmente, e poderá ensejar que novos 300 ou 400 mil proprietários rurais, de
até 500 hectares de terra, pelo conceito de 4 módulos rurais, possam ser
considerados segurados especiais da Previdência, trabalhadores rurais.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Eu acho que lá nos cumes das favelas fluminenses e nas planícies das
favelas paulistas deve ter gente rangendo os dentes, porque lá não tem 1 centímetro
para plantar um grão de milho sequer. E pior, Deputado, nós sabemos que o nosso
presidente Manoel e a nossa CONTAG não vivem de contribuição sindical. A
contribuição sindical para a CONTAG não representa 10% do seu orçamento. O
orçamento da CONTAG é garantido pelo desconto de 2% de todos os benefícios
previdenciários rurais neste País. Nós estamos falando de 150 milhões de reais por
ano. Os 100 milhões das centrais sindicais são pipoca pequena. Isso é pouca coisa
para dividir por 5. Não. Na CONTAG são 150 milhões. Cada aposentado rural,
pagando 2%, dá 7,3 dias de trabalho por ano, enquanto a contribuição sindical se
limita a 1 dia de trabalho por ano.
A CONTAG não precisa disso! Daí o nosso estarrecimento, a nossa
preocupação. Na realidade, por trás disso está a Previdência Social, que vai se
inviabilizando, que vai criando para o País um muro de concreto, no qual todos
bateremos de cara nos próximos meses ou anos. A solução para o problema até
agora não foi encontrada.
Srs. Deputados, quero, rapidamente, passar à projeção.
(Segue-se exibição de imagens.)
Hoje, a arrecadação da contribuição sindical se resume a 20% de tudo o que
é arrecadado para o Ministério do Trabalho — evidentemente, arrecadação da
Previdência Social, que, aliás, não tem em seus arquivos uma autorização de
desconto sequer do seu beneficiário. Mas isso é outro caso.
A taxa de mensalidade da Previdência Social, descontada pela CONTAG, não
passa para o Ministério, passa 20% para a contribuição sindical; 60% vão para o
sindicato de base; 15% ficam para a Federação da Agricultura e 5% para a CNA
Brasil.
Nós temos a cobrança judicial, que está descrita dessa maneira. Fazemos a
cobrança judicial, porque não é justo que uma parte não cumpra a lei, quando a
contribuição sindical é obrigatória, por lei. Em respeito aos produtores rurais que
pagam a contribuição, ela é cobrada em juízo em alguns Estados. No Estado do Rio
de Janeiro, não cobramos, mas por outros motivos.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
O valor médio da contribuição sindical, Sras. e Srs. Deputados, é de 207 reais
por ano, o que representa 3,7 arrobas de boi gordo, ou perto de 7 sacas de soja por
ano, para que a CNA e seu sistema sindical possam defender o produtor rural,
inclusive nesta Casa, onde os nossos técnicos, os nossos presidentes, os nossos
líderes acompanham os Srs. Parlamentares diariamente, fornecendo a S.Exa. todo o
suporte técnico necessário em todas as questões que nos são apresentadas.
Quando falamos de uma propriedade rural de até 500 hectares, com a
proposta contida no projeto de lei — com todo o respeito, evidentemente não
estamos aqui falando da qualidade do Parlamentar, mas da extensão do que o
projeto de lei pode causar —, se V.Exas. verificarem, esse enquadramento do
módulo é o que calcula o enquadramento de uma propriedade rural na quantidade
de módulos rurais.
Se uma propriedade de pecuária, em uma zona típica de módulo D, que é a
última coluna embaixo, se dedicar à pecuária, 4 vezes 110 hectares são 440
hectares, de um cidadão que vai ter o direito a uma aposentadoria sem contribuir
com 1 centavo, enquanto o pobre do trabalhador rural desconta todo o mês 7, 65%
do seu salário mais o Fundo de Garantia por tempo de Serviço.
Mas esse segurado especial, não! Ele é dono de 440 hectares de terra e não
desconta nada! Depois, o povo brasileiro vai pagar, em média, 20 anos de
aposentadoria para esse cidadão. Coitado, dono só de 440 hectares de terra!
Se ele se dedicar à atividade florestal — plantar eucalipto, que o MST gosta
tanto —, são 120 hectares — vezes 4, dá 460 hectares.
Pela vontade do projeto de lei, também será um trabalhador rural, coitadinho,
segurado especial da Previdência Social. É isso, presidente Manoel, que causa a
nossa indignação.
Sr. Deputado, gostaria de passar as suas mãos — se for fora da realidade, a
culpa não é nossa, é do INCRA.
Volto a insistir, a CONTAG já representa 3 milhões e 45 mil imóveis
minifúndios no País. É o próprio INCRA que diz, não somos nós. Pediria a nossa
Assessoria para distribuir aos Parlamentares, que nos dão a honra da sua presença
aqui, a fim de ouvirem o que estamos falando.
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A CONTAG não está satisfeita. Já têm 1 milhão e 280 mil pequenas
propriedades, por não terem empregados e estarem no limite de até 2 módulos
rurais, e querem pegar o resto. Esse povo vai ser dono do Brasil! Vai eleger o
próximo presidente e a maioria desta Casa! Não temos dúvida nenhuma. Estamos
vendo isso.
Se ocorrer, por hipótese, apenas para efeito de raciocínio, a aprovação desse
projeto de lei, a CNA ficará restrita a uma representação em alguns Estados.
Reduzirá, em média, mais de 20% dos seus representados. Embora não eu creia,
Sr. Deputado, e volto a insistir, que isso venha a ocorrer, preocupa-nos o que vamos
ver na frente.
Não tomarei muito tempo dos senhores com esses ensaios matemáticos por
Estado, porque não são o objeto da nossa preocupação.
Sras. e Srs. Deputados, hoje a CNA é a entidade que representa os
produtores rurais deste País com 27 Federações de Agricultura, 2.114 sindicatos
rurais e mais de 1 milhão de produtores rurais associados, que pagam a contribuição
sindical, declaradas por eles próprios, cujo valor é fixado pelo próprio produtor rural
quando declara o Imposto Territorial Rural. É ele, o produtor rural, que indica qual é
o valor que atribui para a sua terra nua aproveitável. E apenas sobre esse valor da
terra nua aproveitável, e não sobre as demais, é que incide a Contribuição Sindical
Rural, geralmente na alíquota de 0,1% do valor de terra nua declarada.
A CNA possui uma série de comissões temáticas que interagem com esta
Casa, com todos os partidos políticos.
Finalmente, gostaria de mostrar a última PNAD, para V.Exas. avaliarem o que
estamos dizendo. E gostaria de dizer aos Srs. Parlamentares e aos nossos irmãos
da CONTAG — Hilário, Manoel —, que, se quiserem ver uma propriedade rural de
15 hectares produzindo 20 mil litros de leite por hectare por ano, estão convidados a
ir ao Rio de Janeiro.
Propriedades de 15 hectares produzindo 20 mil litros de leite por hectare por
ano com tecnologia. Por que digo isso? Porque, em 2005, a população rural
economicamente ativa do País montava 17 milhões e 832 mil pessoas, das quais
apenas 1 milhão e 575 mil têm carteira assinada, o resto trabalha na informalidade.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
A própria legislação previdenciária induz a essa informalidade. E mostraremos esses
dados nos quadros produzidos pelo DIEESE mais à frente.
Em 2006 esse total caiu para 17 milhões e 264 mil pessoas. De 2005 a 2006
foram expulsas do mundo rural brasileiro 600 mil pessoas. E o Governo continua a
enxugar gelo com a reforma agrária, tentando assentar 100 mil famílias, expulsando
600 mil para vir passar fome nas grandes cidades brasileiras. Não foram atingidos
por esse processo nem médios nem pequenos produtores, mas minifundiários, por
falta de assistência técnica, pela êxodo rural, pela falta de tecnologia, pela
fragmentação da produção, pela desorganização do ajuntamento dessa produção
em lotes comerciais. Logo, estão sujeitos a vender suas matérias-primas a preços
aviltados, sequer sem conseguirem auferir, Srs. Deputados, como renda de longo
prazo, o que rende uma caderneta de poupança, que não exige se bata nem um
prego na parede, nem cavoucar com enxada um palmo de chão deste País. Uma
pequena propriedade rural sequer supera o rendimento da caderneta de poupança.
É isso o que expulsa o homem do campo. E é por essa representação que nós
lutamos, porque somos representantes desse produtor rural.
Na área urbana não existe pequeno ou grande dono de botequim. Dono de
botequim é dono de botequim, não é trabalhador nem é garçom. Isso só existe na
área rural do nosso País. Parece até jabuticaba, que não existe em outros lugares
do mundo. Produtor rural é produtor rural, seja ele pequeno, médio ou grande.
Sr. Presidente, estou terminando. Desde já, agradeço a V.Exa. a bondade e
compreensão, antecipando minhas desculpas por externar de modo emocionado o
que sentimos.
Em 2006 a Previdência Social gerou um custo de 32 bilhões de reais, e a
esse número se agrega por ano mais de 350 mil novos benefícios rurais, que pelo
critério do projeto de lei, poderia chegar a 500 mil, provocando rombo insustentável
para a sociedade brasileira. Os senhores podem ter certeza de que nos próximos
anos esta Casa estará pautada pelo tema Seguridade Social, porque da maneira
como vão as coisas a sociedade brasileira não suporta.
Aqui só temos contribuição da agricultura comercial, que é a contribuição na
comercialização dos produtos agrícolas, que reduz o rombo para 28 bilhões e 500
milhões de reais. Este ano o rombo de 32 bilhões de reais deve fechar em 36
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bilhões de reais. A CPMF não será suficiente. Podem se preparar para ter de
aprovar mais uma, porque só a rubrica do segurado especial, mais a metade do
Bolsa Família já toma conta de uma CPMF inteira — 40 bilhões de reais.
Enfim, esse tipo de legislação paternalista, assistencialista, que impõe esse
ônus para a sociedade, está nos levando ao que todos estamos vendo.
A distribuição dos empregados do setor agrícola, segundo o registro em
carteira de trabalho — e no projeto de lei, fala-se de empregado. Lamentavelmente,
falar de empregado com carteira assinada no País é piada.
O percentual de informalidade nas relações de trabalho no Norte é de 84,5%;
no Nordeste, 81,5% — esses são dados do DIEESE, volto a repetir, que é o instituto
de pesquisa econômica da CUT; no Sudeste, 54,1%; no Sul, 63,7%; Centro-Oeste,
60,7%; e, em todo o Brasil, quase 69%.
Quanto à vinculação dos trabalhadores rurais à Previdência Social, inclusive
os minifundiários, no Norte, 96,2% não mantêm com ela qualquer vínculo; no
Nordeste, 95,2%; no Sudeste, 73,9%; no Sul, 87,1%; no Centro-Oeste, 77,5%; no
Brasil, 88,5%. A Previdência só reconhece esse segurado no dia em que ele chega
com uma cartinha do sindicato dos trabalhadores rurais que diz ser ele um segurado
especial. Somente aí ele aparece para a Previdência: “Opa, apareceu um segurado
especial.” Eles sequer são cadastrados. Vale o que está escrito, não é jogo do bicho,
mas vale o atestadozinho e os 2% que terão de pagar eternamente não só para os
aposentados, mas também para os pensionistas.
São 150 milhões de reais por ano no cofre da CONTAG. Parabéns! É uma
entidade rica, poderosa, aliás, muito mais poderosa do que dizem os pobres
fazendeiros brasileiros, que têm de viver às turras e às correrias.
Sr. Presidente, nos últimos 3 meses, o valor da conta de luz da fazenda foi
multiplicada por mais de cinco. O pessoal sabe que roubar luz da concessionária é
crime. Eu, um “fazendeirozinho”, fui roubado. Descobri que tinham feito sete “gatos”
no relógio de luz da minha fazenda que se chama Campo Alegre, em Serra D’Água,
no Município de Angra dos Reis, Rio de Janeiro. É nesse clima que vivemos.
Por isso, perdoem-me, como brasileiro, contaminar minha fala com tanta
indignação, mas externo o puro sentimento de quem vive no campo brasileiro.
Obrigado.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado, Sr. Rodolfo
Tavares, representante da CNA.
Passo agora a palavra ao Sr. Manoel José dos Santos, Presidente da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura — CONTAG, pelo prazo
de 20 minutos.
O SR. MANOEL JOSÉ DOS SANTOS - Saudações à Mesa, ao Presidente,
Deputado Assis; ao Dr. Rodolfo, representante da CNA; a todos os Parlamentares;
aos convidados; e aos companheiros representantes das Federações.
A minha exposição não será tão emocionante quanto à feita pelo Dr. Rodolfo,
porque creio que precisamos discutir o tema à luz da verdade e não deixar a
emoção tomar conta de nós, dificultando assim o processo de compreensão do que
está sendo debatido.
A questão central deste debate deveria ter sido resolvida há séculos no Brasil, e
não foi devidamente encarada pelas autoridades responsáveis. Existe, de fato, no
meio rural, 2 Brasis: um é o Brasil da grande propriedade, o dos empregadores —
hoje, em grande parte, mecanizado —, que para produzir muito não precisa de
gente. E, dessa forma, o desemprego tem avançado significativamente no campo
brasileiro. Há necessidade de modernização para gerar competitividade, e esses
trabalhadores são afastados do trabalho e não têm outra alternativa.
Esta é a realidade: há, no Brasil, propriedades produtivas — a maioria delas,
inclusive, auto-suficientes — e competitivas com os Estados Unidos; agora,
empregabilidade, presença de trabalhadores, não existe nessas propriedades.
As propriedades que empregam pegam pessoas na periferia, que vão,
trabalham e são devolvidas, mas a figura do morador, do sitiante que morava na
fazenda, isso acabou. Estou repetindo o que todo mundo sabe.
O que mais diretamente aqui discutimos é quem no processo pode ter
enquadramento sindical. Ora, o Dr. Rodolfo disse muito bem que boa parte das
propriedades rurais, as pequenas, as micropropriedades não rendem
suficientemente para a família viver lá. Disse S.Sa. que grande parte da população
das pequenas propriedades saiu do campo para a cidade. Enquanto o Governo
assentava 100 mil, 600 mil foram embora, por falta de condição de produção, por
falta de assistência técnica.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Neste particular, concordo com o Dr. Rodolfo: o Estado brasileiro tem uma
dívida tremenda com a agricultura brasileira, sobretudo com esses agricultores
familiares e assentados. Há falta de planejamento, de assistência técnica, de crédito
regular, o que leva esses trabalhadores a viverem em situação extremamente difícil.
Mas, com tudo isso — e quem o diz não sou eu, mas o IBGE e o INCRA, por meio
de seus levantamentos —, é essa agricultura familiar responsável por 80% das
ocupações produtivas no campo.
A grande massa de pessoas que trabalham não está nas grandes fazendas.
Está nas pequenas propriedades, ou eles mesmos se gerenciando, ou com
ocupação produtiva temporária, sazonal, como já dito. O Norte e o Nordeste,
sobretudo, têm uma grande faixa de informalidade exatamente por isso, porque as
pessoas pagam parte de dia de serviço durante o ano, mas não têm empregados
permanentes.
Se a família que tem uma propriedade pequena produz tão pouco, como diz o
Dr. Rodolfo, a minha pergunta é: como a CNA quer enquadrá-la na condição de
empregadora, que é o que representa a CNA? Essa é a reflexão que precisamos
fazer.
Não queremos tirar público da CNA, não queremos representar a classe
empregadora deste País, agora, não podemos admitir que a CNA continue sendo a
beneficiária da contribuição sindical de trabalhadores que têm 2,5 módulos, 3
módulos, 4 módulos. Não é possível!
O que discutimos? Vamos separar quem é quem. Para até 4 módulos, já
temos uma legislação da agricultura familiar aprovada no ano passado. Aí está dito
muito claramente que agricultor familiar é o que tem até 4 módulos fiscais de terra —
não pode ter mais do que isso —, trabalha com a família e tem 80% do seu
rendimento oriundos da propriedade. Esses são os beneficiários do PRONAF, esses
são os agricultores familiares.
Vemos grande contradição na legislação de enquadramento sindical, que diz
que quem tiver mais do que 2 módulos fiscais é enquadrado como contribuinte para
a CNA.
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A discussão é tão-somente esta: é dizermos que quem não é agricultor
familiar continua sendo contribuinte da CNA e que quem é agricultor familiar não
pode e não deve contribuir para a CNA.
Afirmou o Dr. Rodolfo que a contribuição sindical que a CNA cobra desses
pequenos — algo em torno de 200 reais — é uma taxa mínima, uma contribuição
simbólica, e coloca a contribuição dos aposentados como a grande cifra, a grande
arrecadação da CONTAG, e apresenta o número de 150 milhões, não sei se isso.
Agora, vamos fazer uma avaliação. O que é a contribuição dos aposentados e
o que é a contribuição com base na terra nua dos 200 reais que a CNA cobra?
No caso dos aposentados, primeiro, só contribui aquele que autoriza
individualmente. Não cobramos, não fazemos lista de aposentado, não obrigamos a
contribuir, não ameaçamos nem colocamos na Justiça. Se quiser, o aposentado
autoriza o desconto de 2% mensal do seu salário. Esse percentual, 2%, multiplicado
por 13 meses, com o décimo terceiro salário, como disse o Dr. Rodolfo, representa
89 reais por ano.
Da forma como é feita a cobrança da contribuição simbólica que o Dr. Rodolfo
menciona, com juros sobre juros e judicialmente, esses 200 reais são multiplicados.
Dessa maneira, apenas no Rio Grande do Sul, a CNA tem 42 mil ações judiciais
para cobrar agricultores, ações que vão de 200 a 10 mil reais, e trabalhadores estão
tendo sua terra leiloada por força judicial para pagar um imposto que não devem.
O que queremos é simplesmente dizer o seguinte: quem tem até 4 módulos é
enquadrado, conforme a própria lei da agricultura familiar, como contribuinte para a
CONTAG; a partir de 4 módulos, é contribuinte da CNA.
Quando o Dr. Rodolfo diz que, se aprovado, esse projeto vai quebrar a
Previdência, é preciso dizer que não é verdade, pois a aprovação desse projeto não
tem nenhuma influência no aumento de trabalhadores na Previdência. Por quê?
Porque para a Previdência, se o trabalhador comprovar que vive da sua atividade,
que 80% da sua renda vêm da propriedade e que ele não é empregador, mas
beneficiário da Previdência, ele não vai ter um direito a mais se essa lei for
aprovada. Esse é o grande problema.
Dizer que o trabalhador rural não contribui com a Previdência também é outra
coisa que precisa ser melhor examinada, porque, na verdade, o que existe é uma
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desigualdade. Hoje, a legislação estabelece que o mesmo percentual que paga um
grande exportador de soja, de trigo, de boi, que é 2,1% sobre a produção, paga o
agricultor que vende 5 garrotes, 50 sacas de feijão, 10 de milho. O percentual,
repito, é o mesmo.
Se o trabalhador não paga tanto quanto o empregador, a realidade não
depende dele, mas das condições a que ele teve acesso. Não podemos querer que
quem tem 10, 20, 30, 50, enfim, no máximo 100 hectares de terra contribua da
mesma forma de quem tem mil, 10 mil hectares.
Não é a primeira vez que venho aqui, venho sempre, e faço um desafio: se
alguém quiser trocar sua fazenda pela minha, faço a troca, para mostrar se podemos
ou não ser produtivos. Agora, não vamos fazer esse discurso de que queremos
quebrar a Previdência, que queremos colocar pessoas na Previdência, porque não
queremos.
E, outra coisa: disse o Dr. Rodolfo que, pelo INCRA — e é verdade —, cerca
de 3 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar são enquadrados como
trabalhador/agricultor familiar e deveriam estar na CONTAG. Mas, como a lei
determina que só é agricultor familiar até 2 módulos, o que passa de 2 módulos
continua na CNA.
Então, os companheiros que hoje contribuem com a CNA, de fato, precisam
de uma lei que resolva essa questão, para que quem for da CNA pague à CNA, mas
quem for enquadrado como agricultor familiar pague à CONTAG. Esse é o ponto
central da discussão.
Por enquanto, é só isso, mas estou aberto para qualquer esclarecimento
adicional que se faça necessário. Estamos muito tranqüilos e seguros, porque o
projeto de lei tem toda a base de justificativa legal, social e jurídica. Não podemos
continuar classificando uma pessoa que tem 160 hectares de terra no Nordeste
como empregador. Na grande maioria das vezes, quem tem 200 ou 300 hectares de
terra no semi-árido nordestino mal consegue sobreviver nela. E o módulo, na
verdade, não tem um tamanho padrão. Todos aqui sabem que vai depender da
produtividade de cada região. Se estamos no semi-árido o tamanho é um, na Zona
da Mata é outro, no Amazonas é outro. Se compararmos quem tem 500 hectares no
Amazonas, com todas as restrições de utilização das áreas, com quem tem 50
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hectares aqui no Centro-Oeste, veremos que é melhor ter 50 hectares no
Centro-Oeste. Essa é a diferença.
Então, nós precisamos que os Deputados votem pelo desmembramento do
que é da CONTAG e hoje está com a CNA.
Sem nenhuma emoção, Dr. Rodolfo, vamos dialogar e construir a paz e a
verdade.
O SR. PRESIDENTE ( Deputado Assis do Couto) - Obrigado Sr. Manuel dos
Santos. Haverá tempo para os 2 expositores retornarem logo após os Deputados
fazerem os seu questionamentos.
Passaremos a palavra agora ao Deputado Celso Maldaner, do PMDB de
Santa Catarina, autor do requerimento de realização desta audiência pública e
Relator do projeto de lei na Comissão de Agricultura. S.Exa. dispõe de até 5
minutos.
O SR. DEPUTADO CELSO MALDANER - Sr. Presidente, Deputado Assis do
Couto, em primeiro lugar, cumprimento o Sr. Manuel dos Santos, Presidente da
CONTAG, e o Sr. Rodolfo Tavares, Vice-Presidente da CNA. Cumprimento também
o Sr. Hilário Gottseling, da FETAESC; o Sr. Enori Barbieri, que representa a FAESC;
as Sras. e os Srs. Deputados e demais participantes desta audiência pública.
Embora eu seja novato na Casa, o Deputado Assis do Couto, Presidente
desta Comissão, me deu a relatoria deste projeto, que é muito polêmico. Por isso,
considero muito interessante esta audiência pública, que nos ajuda a esclarecer
muitas dúvidas.
A contribuição sindical rural é uma espécie de tributo de natureza parafiscal,
que tem por finalidade permitir o custeio das organizações e das atividades sindicais
e os interesses da classe profissional econômica, representados no art. 149 da
Constituição Federal de 1988. E, segundo o art. 579 da CLT, é obrigatória.
O que está em jogo aqui é o PL nº 751, que pretende modificar de 2 módulos
fiscais para 4 módulos fiscais. O Sr. Rodolfo também nos esclareceu muito. Em
Santa Catarina, para a agricultura familiar, o módulo fiscal é de 12 a 18 hectares.
Peguei a relação de todos os municípios de Santa Catarina e verifiquei que lá o
módulo chega a 18 hectares. Pelo Estatuto da Terra, até 80 hectares é agricultura
familiar. Conversei com muitos presidentes de sindicatos ligados a FAESC, que é
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CNA, e à FETAESC, que é CONTAG, e ainda me questiono muito por que há
produtores rurais ou empregadores rurais que têm apenas 2 ou 3 hectares e são
empregadores rurais, porque têm na sua propriedade mil matrizes de suínos, por
exemplo, ou 2 ou 3 aviários. Por isso o projeto é muito polêmico.
Ouvi os 2 lados e ainda tenho muitas dúvida com relação a esse projeto.
Como vou relatar, favorável ou contrariamente ao projeto? Então, tenho procurado
questionar muitos presidentes de sindicato, e eles dizem que a concorrência é
saudável. E é saudável, porque quem é ligado à CNA, no caso o Sindicato de
Concórdia, por exemplo... Eles alegam que estão lá atendendo a agricultura familiar,
dando qualificação por intermédio do SENAR.
O que mais me motivou a requerer esta audiência pública foram os problemas
dos agricultores com o CADIN, Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do
Setor Público Federal, de que tomei conhecimento em reunião de que participei em
minha região, o extremo oeste catarinense. Em Santa Catarina, segundo a
FETAESC, somente 19% dos agricultores estão pagando a contribuição sindical. E
lá quiseram forçar os agricultores a assinarem um termo de acordo. Há, inclusive,
um boletim de ocorrência em delegacia para amedrontá-los, ameaças de hipotecar
suas propriedades, cassar o CPF etc. Assim não dá! Tenho de defender o agricultor.
Há poucos dias, esta Casa aprovou projeto que regulamenta as centrais
sindicais de trabalhadores, no qual o Governo está abrindo mão de 10% dos 20%
que recebe da contribuição, a fim de dar para as centrais sindicais. E, aí, fico me
questionando: será que não dá para baixar essas contribuição sindical ou tirar do
Governo esses 10% ou, até mesmo, os 20% em favor do agricultor? Quem sabe se
baixassem a contribuição? Chego a pensar, vendo os dados levantados que, de
repente, a contribuição sindical, o enquadramento pode prejudicar a CNA, mas
talvez os valores, não.
Pelo que disse o Sr. Rodolfo, essa arrecadação não representa tanto para a
CNA, porque ela fica com apenas só 5%. Então, tenho ainda muitas dúvidas para
relatar esta matéria. Daí porque esta audiência pública e este debate.
E eu até perguntaria o que a CNA está fazendo para o miniprodutor não
abandonar o meio rural, porque em Santa Catarina foi grande o êxodo rural, foi
demais. Há municípios praticamente inviabilizados por causa do êxodo rural. Há
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
municípios que tinham 15 mil habitantes e hoje têm 7 mil. Então, estamos muito
preocupados com o êxodo rural.
O que nós podemos fazer para dar sustentabilidade à agricultura familiar?
Para o pequeno agricultor, às vezes, 47 reais — valor que, com juros e correção
monetária e pagamento de advogado, pode chegar a cento e tantos reais —
representa muito. Então, estou muito preocupado com a questão da contribuição
sindical e, por isso, solicitei esta audiência pública.
Também com relação ao PL nº 751, ainda tenho dúvidas sobre se é ou não
viável ou não passar para 4 módulos fiscais. A audiência pública é importante para
tirarmos as dúvidas.
Muito obrigado, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado, Deputado Celso
Maldaner, Relator do PL nº 751, de 2003.
Antes de abrir a palavra aos Deputados inscritos, na condição de autor do
projeto de lei, peço licença a todos para fazer uma pequena apresentação sobre os
depoimentos de alguns agricultores que, na minha opinião, justificam a
apresentação do projeto.
Primeiro, quero dizer, tanto para o Sr. Manuel dos Santos como para o Sr.
Rodolfo Tavares, que o projeto tem fundamentação. Não posso me omitir da minha
função de parlamentar e de agricultor familiar. Os 3 depoimentos que vou apresentar
é que motivaram a apresentação do projeto. Não há aqui nenhum motivo político ou
ideológico, debate de classes.
O que motivou a apresentação do projeto são as injustiças que estão sendo
cometidas.
Gostaria de exibir o vídeo, são poucos minutos. Depois, concederemos a
palavra aos Deputados inscritos, no total de 5.
(Exibição de vídeo.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Como eu disse, essa foi a
principal motivação para apresentarmos o projeto na Câmara dos Deputados.
Registro a presença do Sr. Amarildo Secco, do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Chopinzinho, onde parte desses casos estão ocorrendo. No Fórum de
Chopinzinho, já foram realizados 4 leilões originados da contribuição sindical.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Com a palavra o Sr. Deputado Moacir Micheletto, primeiro orador inscrito.
(Pausa.) O Deputado está agora ao telefone.
Com a palavra o Sr. Deputado Duarte Nogueira. (Pausa.)
Com a palavra o Sr. Deputado Anselmo de Jesus.
O SR. DEPUTADO ANSELMO DE JESUS - Sr. Presidente, Sr. Vice-
Presidente da Confederação Nacional da Agricultura — CNA, Dr. Rodolfo Tavares;
caro amigo e colega, Presidente da CONTAG, Manoel dos Santos; Sras. e Srs.
Deputados, parabenizo o Deputado Celso Maldaner pela iniciativa de realizar este
debate.
Cumprimento todos os sindicalistas, presidentes de federações dos Estados e
demais presentes.
Quero dizer da nossa angústia. No início, talvez não pudéssemos nos
emocionar, como fez o Vice-Presidente da CNA. Mas, depois de assistir ao vídeo,
podemos nos emocionar, como S.Sa. disse no começo.
Sr. Rodolfo, esta audiência tem o papel de discutir o projeto de lei e não o
tanto que a CNA pretende arrecadar. Esse é o primeiro ponto que devemos
trabalhar.
V.Sa. também afirmou que a Previdência será onerada. Mas já estão
aposentando essas pessoas hoje, ou seja, não muda nada, porque se trata de
trabalhadores rurais e não de empregadores. Continua tudo igual. E estão aqui
presidentes de federação e de sindicato que podem nos dizer o mesmo, como
inclusive vimos no vídeo apresentado. Essas pessoas têm aposentadoria especial,
na condição de trabalhadores especiais.
Estou dizendo isso, porque já fui Presidente da Federação dos Trabalhadores
na Agricultura do meu Estado, exerci 2 mandatos, por 6 anos, e conheço essa
realidade.
A contribuição da CONTAG e da CNA não está em jogo. Estamos discutindo
aqui um projeto que realmente regulamenta o setor e tira os agricultores do
desespero em que hoje estão. É disso que desejamos tratar. Inclusive já votamos
nesta Comissão projeto que trata do assunto, por exemplo o da regulamentação da
agricultura familiar. O projeto da Previdência ainda não foi aprovado, mas já é
consenso no Governo e trata também de 4 módulos.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Quando o senhor diz que estamos querendo ser presidentes, não estamos
querendo salvar a Previdência. Parece que quem está querendo ser Presidente da
República é a CNA, uma vez que está querendo cortar a aposentadoria daqueles
pobres coitados.
O senhor também se referiu àqueles que têm 400, 500 hectares. Pergunto:
aqueles que têm hoje 4 módulos no Amazonas, ou no meu Estado, são de fato
empregadores? Essa não é a realidade do País.
Mesmo que exista essa realidade, como o senhor disse haver no Rio de
Janeiro, faço uma comparação com o que ocorreu comigo: até entrar nesta Casa, eu
estava correndo atrás da aposentadoria especial. Hoje eu estou ganhando melhor e
já não a quero; eu quero mais. E nada me impediu de fazer isso. Então, aquele
agricultor do Rio de Janeiro pode pagar uma previdência privada e sair da
aposentadoria de um salário mínimo. E todos que conseguirem esse tipo de
produção vão sair. O projeto em nada atrapalha nesse sentido.
Agora, é inadmissível o que vimos no vídeo. Cem mil agricultores ficaram sem
o PRONAF, deixaram de produzir, porque estavam no CADIN. Isso não pode
acontecer. Mas o projeto do Deputado Assis do Couto, a quem aproveito para
parabenizar, tem por objetivo acabar com essa injustiça que hoje está sendo
cometida.
Durante toda a minha vida fui sócio do sindicato. Também fui Presidente do
Sindicato de Ji-Paraná e Presidente da Federação, e se a CONTAG agir desse
modo, podem estar certos de que no outro dia estarei fora dela. O dia em que ela
obrigar alguém a pagar isso, repito, no outro dia estaremos fora dela.
Aquela contribuição do aposentado a que o senhor se referiu é, na verdade, a
mensalidade que ele paga, e o faz se quiser. Ao assiná-la de próprio punho, autoriza
seu sindicato a mandá-la para sua federação, que a encaminha para a
Confederação, e esta para o Ministério, para ser descontada.
No entanto, no dia em que ele achar por bem que não deve pagar, ele faz a
mesma declaração pedindo a sua saída e sai tranqüilo. Não podemos obrigar as
pessoas a fazerem o que não querem. Por mais que esta Comissão ignore a
Conferência da OIT, as pessoas têm de ter livre vontade, até para reconhecer sua
própria categoria.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Quero saber por que essas pessoas hoje não querem pagar. Será por
vontade própria ou porque não reconhecem a CNA nem se consideram
representadas por ela? Essas pessoas estão na nossa federação, no nosso
sindicato. Digo isso porque conheço muito bem a situação. Em qualquer região do
Brasil podemos provar que elas não querem pagar, porque na agricultura familiar
estão os melhores pagadores. Agora, elas não querem pagar por algo que não as
representa. Ao sindicato elas pagam direitinho. Elas tiram o seu dinheirinho do bolso
para pagar. E não é obrigatório.
Isso é uma injustiça. E quero dizer para os senhores que vamos fazer
audiências em todos esses Estados, em todos os sindicatos. Se para resolver essa
injustiça for preciso ocupar a CNA, as federações, os sindicatos, nós vamos ocupá-
los. Eu acho um absurdo admitirmos isso.
O diálogo está acima de tudo. Precisamos nos sentar e dialogar. O objetivo
desta audiência é exatamente promover o diálogo, para que não aconteça outra vez
de numa Casa de leis como esta ser exibido um depoimento como aquele.
Serei incansável na luta pela aprovação do projeto de lei e depois no combate
a essa injustiça, a esse abuso que se comete hoje. Vamos discutir a questão
financeira de cada uma lá com os seus representados. Não dá para dizer que a
CONTAG está recebendo tanto ou tanto, se ela realmente representa essas
pessoas. Para mim, a contribuição da CONTAG é uma coisa, a contribuição da CNA
é outra, e o projeto de lei do Deputado Assis do Couto é outra.
E quero lembrar o seguinte: se temos hoje o PRONAF, que trata de 4
módulos, se temos o projeto da Previdência, que está em tramitação, se já temos o
da agricultura familiar, que foi aprovado nesta Casa e já é lei, por que então vamos
manter essa lei da Idade da Pedra? Precisamos deste projeto porque ele
regulamenta essa matéria.
Aquele que tiver 1 hectare e quiser ir para a CNA vá tranqüilo. Nós não vamos
atrapalhar ninguém, porque sua decisão será de livre e espontânea vontade. Tenho
certeza de que a CONTAG nunca se preocupou com isso. Nós nunca nos
preocupamos com isso. O que queremos é que os trabalhadores sejam bem
representados, diante do Governo ou em qualquer outro lugar. Não queremos que
eles sejam manipulados. O projeto de lei do Deputado Assis do Couto faz justiça
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
àqueles que estão sendo injustiçados. Meu pai também é vítima disso. Aliás,
Presidente, o Chico Padre, lá do meu Estado, um amigo ao lado de quem já travei
várias lutas, ele também não está fazendo isso. Já conversei com ele. O Chico vai lá
na ponta, conhece a realidade daquela gente, já participou comigo de lutas pelo
PRONAF e por outro financiamento do Estado que tínhamos. Isso não está
acontecendo lá, não, porque ele sabe quem ele pode representar. Muitos dos
nossos pequenos são representados por eles. Em nenhum momento nós divergimos
nisso. O que nós queremos é justiça social no campo, para que possamos ter uma
agricultura forte sem necessidade dessa injustiça que a CNA está cometendo.
A Senadora Kátia Abreu disse lá na CNA que era obrigatório pela CONTAG e
culpou a CNA por não estar fazendo isso. Disse que quem estava fazendo eram os
sindicatos e as federações. Ora, que negócio é esse? A CONTAG é responsável
pelo que faz o nosso sindicato, e o nosso sindicato é responsável pelo que faz a
CONTAG. Ela disse naquele dia que eram as federações e os sindicatos, mas não a
CNA. Eu gostaria que o senhor explicasse se não tem a ver uma coisa com a outra,
porque naquele dia ela disse isso. E eu achei estranho, porque nós não. Nós somos
responsáveis desde lá embaixo até em cima e de cima até embaixo.
Faço um apelo aos meus companheiros, tanto aos da agricultura empresarial
quanto aos da agricultura familiar, no sentido de não deixarmos continuar essa
injustiça no campo.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado, Deputado
Anselmo de Jesus.
Sei que há presidentes de federações no plenário. Peço aos senhores que
deixem com a nossa assessoria seus nomes e o nome da federação que
representam. Na medida do possível, vamos anunciar a presença de todos, como
anunciamos a do Sr. Amarildo Secco.
Dando continuidade aos nossos trabalhos, concedo a palavra ao Deputado
Moacir Micheletto, do PMDB do Paraná.
O SR. DEPUTADO MOACIR MICHELETTO - De quantos minutos eu
disponho, Presidente?
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Em princípio, dos 3
minutos regulamentares, mas o senhor sabe que somos flexíveis.
O SR. DEPUTADO MOACIR MICHELETTO - Posso usar o mesmo tempo
que usou o valente Deputado Anselmo de Jesus?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Pode, sem problema.
O SR. DEPUTADO MOACIR MICHELETTO - Mas não vou usar todo esse
tempo.
Quero inicialmente cumprimentar o grande líder da agricultura brasileira,
nosso companheiro Manoel, da CONTAG, e o Rodolfo, da CNA.
Vou fazer uma reflexão sobre este momento. E aproveito para dizer ao
companheiro Anselmo que nós não vamos invadir nem a CONTAG nem a FETAG
no meu Estado nem os sindicatos de trabalhadores rurais. Isso tem de ser ponto
pacífico. Dizem que a emoção fala, mas eu acho que manifestação dessa natureza
perde qualquer nível de racionalidade.
Eu poderia também trazer aqui o que a FETAESC está fazendo, inclusive em
Santa Catarina, e está escrito aqui pelo Relator. Mas S.Exa. que comente. Eu
poderia trazer aqui também um vídeo dessa natureza para expor o outro lado.
Também não se discute aqui a quantidade da contribuição sindical, tanto para
a CONTAG como para a CNA.
Eu tenho o direito de me expressar, Deputado Assis do Couto, porque V.Exa.
traz aqui uma denúncia. Eu sou vice-presidente da Federação da Agricultura do
Estado do Paraná e desafio que provem que algum pedaço de terra tenha sido
confiscado pela Federação da Agricultura, através do seu sindicato.
Eu vou sair daqui para me encontrar com o pessoal do sindicato de
Chopinzinho. Eu sou presidente do sindicato da minha cidade. Tenho 4 módulos,
que lá representam 70 hectares. Eu tenho 5 famílias que trabalham comigo e
participam inclusive do lucro da empresa. Eu pago um preço caro. Eu sou agrônomo
e minha propriedade tem de cumprir a lei à risca. Ademais, eu sou político.
Eu quero o nome dessas pessoas, na condição de vice-presidente da
Federação de Agricultura, para verificar se de fato isso é verdadeiro. O nosso
sindicato vai visitar esses cidadãos, porque se de fato a federação ou o sindicato de
Chopinzinho está fazendo isso é um ato arbitrário.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Eu tenho cobrado de todos os agricultores do meu município o cumprimento
da lei, mas fazemos acordo dentro da possibilidade de pagamento. Eu sou contra
que uma federação ou sindicato tome a terra de um pequeno produtor para
pagamento da contribuição sindical.
Vou levantar isso, porque V.Exa. trouxe aqui uma denúncia. Podemos até
acionar a polícia, se isso for verdadeiro, porque o depoimento dessas pessoas é
sério. Eu zelo pela instituição, porque defendemos a agricultura brasileira, do
pequeno, do médio e do grande.
Se eu viesse falar de módulo aqui, eu apresentaria centenas de paranaenses
que têm 1 hectare e que têm mais de 10 empregados. E pela regra ele é
empregador, porque tem empregado. Isso é a evolução da agricultura.
Eu estou tentando levantar isso porque é polêmico, e o Relator está em
dúvida. Se S.Exa. traz isso aqui é porque tem dúvida sobre o projeto. Então, eu
quero dizer que fico triste, na condição de brasileiro, com essa situação. Sabemos
que milhares e milhares de brasileiros que estão debaixo de lonas pretas, nas
barrancas das estradas, outrora foram pequenos produtores rurais.
E não estou culpando este Governo não, estou culpando a história da
agricultura brasileira. Deveríamos estar aqui discutindo a reforma tributária, a
Previdência, porque se persistir o quadro que está aí o Brasil não agüenta até 2014;
o que arrecada será só para bancar a Previdência. Essa é a realidade.
Mas o pior de tudo, e é o grito que nós queremos dar, é a demora na reforma
trabalhista. Ninguém quer mais empregado na agricultura. Ninguém suporta o que
se faz hoje com o agricultor que tem um empregado. Eu digo isso porque temos
convenção coletiva; fazemos reuniões juntos, sindicato dos trabalhadores e sindicato
patronal; vamos conversar juntos com os nossos associados no interior do
município. Temos uma convivência sem o jogo ideológico, sem o jogo político. O que
eu gostaria de discutir aqui é isso. Se tivéssemos as reformas da Previdência,
tributária e da legislação trabalhista, não estaríamos aqui discutindo alteração de 2
para 4 módulos.
Não me importa se na minha federação, no meu Estado, passe para 4
módulos, viu Rodolfo, porque o meio de segurar o pequeno agricultor para ele não ir
para a barranca das estradas morar embaixo da lona é trabalhar uma política
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
agrícola para ele. Já temos o PRONAF, que, graças a Deus, este Governo herdou
do outro, modelou, acertou, aprimorou, e o PRONAF hoje é o grande instrumento de
segurança do pequeno produtor rural.
Eu tenho convivência com o sindicato dos trabalhadores. Não podiam
comprar computadores, nós compramos, e eles viram que precisavam cobrar a
contribuição sindical, que é necessária para manter as nossas entidades.
Agora, se há algo ilegal, exorbitante, temos de discutir. Aquele agricultor que
aparece aí disse que nunca foi empregador. Ele, já no recadastramento do INCRA,
no próximo ano, tinha de ir lá e dizer que não é empregador, é agricultor familiar.
Muda-se e não se faz mais a cobrança da contribuição sindical.
Eu acho que temos de ter bom senso, meu Deus do céu! Eu acho que essa é
a realidade.
Sr. Presidente, V.Exa. lançou uma denúncia, com imagem, inclusive, da
nossa Federação. Vou sair daqui e vou ligar para o presidente do sindicato de
Chopinzinho, para ver se isso é verdade. Se for, eu vou discutir isso no conselho da
FAEP, do qual faço parte. Sou presidente do sindicato da minha cidade, sou um
pequeno produtor rural e não estou aqui para invadir nem CONTAG, nem FAESC,
nada, eu estou aqui para achar solução para os problemas. Esse é o caminho.
Agora, cada um quer um pedaço. É lógico que na CNA vai diminuir. Mas eu
digo para vocês que se trabalharmos em cima dos módulos, teremos agricultor com
1 hectare e 10 empregados. É só trabalhar a agricultura familiar em cima disso aí.
Disse o nosso companheiro que tem 1 hectare e está produzindo 20 mil litros de leite
por mês.
Eu quero dizer, para encerrar, até como orientação, que eu vou visitar os 4,
vou comunicar a federação daqui a pouco, e quero saber qual é o comportamento
do nosso companheiro, porque a orientação é fazer 10, 15 formas de pagamento.
O que tínhamos de discutir, e é triste para nós brasileiros, é a renda na
agricultura. Estamos aqui porque não temos renda. E para ajustarmos a renda
temos de melhorar a política agrícola, com reforma tributária, previdenciária, e,
acima de tudo, trabalhista, que é o grande entrave do setor. Hoje ninguém mais quer
ter empregado no campo. Moderniza-se a produção com o uso de máquinas, porque
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a legislação trabalhista é arcaica. Ela tem de evoluir, tem de ser melhorada. O Brasil
hoje é diferente, o mundo é diferente.
Eu tenho grande estima por V.Sa., que é um grande líder da agricultura
brasileira. Eu tenho de respeitá-lo. E aqui não existe briga ideológica, não, do grande
contra o pequeno. Aqui é briga por justiça. Se de fato a Federação da Agricultura do
Paraná está se comportando dessa maneira eu sou o primeiro a ir lá e questionar
isso com o meu presidente, Ágide Meneguette, que, por sinal, é tesoureiro da
Confederação Nacional da Agricultura.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Deputado Micheletto, eu
queria...
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETO - Sr. Presidente, permita-me dizer que o
presidente do sindicato de Chopinzinho está aqui cheio de documentos, inclusive,
para provar o que foi mostrado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Tem os editais de leilão e
as formas como foi feito o leilão.
Deputado Micheletto, nós não faríamos, de forma alguma, uma denúncia que
não tivesse fundamentação. E não que nós não tivéssemos alertado por várias
vezes, inclusive procurando o próprio sindicato local, várias pessoas, para evitar que
isso acontecesse.
Quero também dizer ao Deputado Celso Maldaner, Relator do projeto, que
talvez aqui já aparecesse uma primeira alternativa de acordo, porque é bem verdade
que muitos agricultores não têm 4 módulos, nem rurais nem fiscais, mas têm vários
empregados.
Na lei da agricultura familiar já é assim. Ele deixa de ser trabalhador para ser
empregador. Então, nós poderíamos também considerar isso, porque aí a CNA
perderia, digamos, de um lado, se é que perde, e ganharia de outro, porque quanto
mais proprietários entrarem numa linha empresarial, com produção intensiva,
contratando com carteira assinada, vão se tornar empregadores.
Eu tenho mais ou menos, com terra de herança, uns 18 hectares. Então, eu
posso um dia ser um empregador rural com 18 hectares, eu não tenho dúvida disso.
Mas nós temos aqueles que trabalham exclusivamente com a mão-de-obra da
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família. E aqui é que está uma das questões que precisamos ter clara, e a lei da
agricultura familiar é clara nesse sentido.
Existe uma categoria chamada agricultura familiar que o Brasil precisa
conhecer melhor. É uma categoria nacional que não vem sendo reconhecida.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Vamos ao debate, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Vamos ao debate.
Anuncio a presença do Sr. Hilário Gottseling, presidente da FETAESC, e de
Vilson Luiz da Silva, residente da FETAEMG.
Passo a palavra ao Deputado Duarte Nogueira. (Pausa.) Ausente neste
momento.
Tem a palavra o nobre Deputado Ronaldo Caiado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, senhores expositores, Manoel José dos Santos, presidente da
CONTAG, e Rodolfo Tavares, representante da CNA, demais presidentes de
entidades, representantes de sindicatos de trabalhadores e de produtores rurais
presentes a esta reunião, o Deputado Anselmo afirmou aqui que retiraria sua filiação
do sindicato e da CONTAG tão logo fosse comprovada a truculência da federação
dos trabalhadores. Sendo assim, quero cobrar do nobre colega a posição assumida,
porque o boletim de ocorrência da polícia deixa clara a truculência da Federação dos
Trabalhadores do Estado de Santa Catarina, que ameaçou proprietários, produtores
e trabalhadores de até 2 módulos rurais com o confisco no valor de até 3 mil reais,
caso não pagassem a contribuição.
O documento da Federação dos Trabalhadores de Santa Catarina está nas
mãos do Deputado Celso Maldaner. Apresentaram-se como oficiais de Justiça, na
casa de Ari Luiz Marafon, 2 homens num GM Celta. Disseram que se a contribuição
não fosse paga seria cancelado o CPF. Já para Carlos Carraro, 2 homens num Fiat
Uno ameaçaram que, se não fosse paga a contribuição, a terra seria hipotecada.
Esses mesmos homens, na casa de José Carlos Girardi, disseram que os
agricultores eram uns miseráveis e alegaram que eram assessores jurídicos.
Perguntado a eles o que seriam assessores jurídicos, responderam: “quase um
oficial de Justiça”. Esses ainda ameaçaram que caso não fosse paga a contribuição,
chegaria pelo correio uma conta no valor de 3 mil reais.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Além disso, apresentaram a esses pobres coitados uma documentação e uma
consulta feita a um advogado, Waldacir Luiz Kichel, em que ele diz que o não-
pagamento no prazo confere à CONTAG — Confederação Nacional do
Trabalhadores na Agricultura, através da FETAESC, o direito de fazer a cobrança
judicial, situação que levará o nome do devedor à condição de inadimplente,
podendo restringir o acesso ao crédito e aos órgãos oficiais. É um documento.
Por que o Deputado fica tão atônito com isso, se o órgão que ele próprio
representa se utiliza de pessoas sem a menor qualificação para fazer ameaças ao
trabalhador no campo? Como é isso?
Os agricultores estavam ali se queixando de uma cobrança judicial. Os
trabalhadores rurais estão se queixando de uma ameaça física. Isso é gangue, é
quadrilha.
Não consigo enxergar isso num Estado Democrático de Direito, Sr. Manoel. O
Estado Democrático de Direito não dá essa prerrogativa a quem quer que seja. O
cidadão tem que estar investido no cargo de oficial de Justiça, ou de Juiz de Direito,
ou de Desembargador, ou de Ministro do Supremo, para poder proferir a penalidade
que nós, cidadãos, teremos de cumprir. Ninguém pode se arvorar aqui em dono da
lei, dono da verdade.
Vejam a truculência. Está aqui. Este documento — desculpem-me —, tendo
sido reproduzido aqui, deveria ser fotocopiado e distribuído a todos os presentes.
Com todo o respeito ao nobre Presidente, Deputado Assis do Couto, meu
colega de outros mandatos, penso que V.Exa. confundiu os sinais. Ou seja, se a
discussão era jabuticaba, V.Exa. está discutindo abacaxi.
Ora, a lei diz que o módulo rural é a parcela de solo da qual o agricultor e sua
família extraem o seu sustento, absorvendo-lhes toda força de trabalho. Isso é o
módulo rural. Se 2 módulos rurais não são suficientes para isso, para o trabalhador
rural que o Presidente representa, não é preciso aprovar uma lei. Hoje o INCRA já
tem o poder — não precisa de lei, repito — e a prerrogativa de baixar portarias
estabelecendo que o módulo rural não será mais de 15 hectares, mas sim de 100
hectares ou outro tamanho. Ora, qual é a dificuldade? Por que o INCRA não faz
isso, se tem o poder de baixar portarias? Por que não o faz? Se 1 módulo não é
suficiente para o sustento do trabalhador, se ele precisa não de 15 hectares, mas de
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
100 hectares, por que o INCRA não determina que o módulo rural naquele município
seja de 100 hectares? Para que lei?
Não quero nem discutir o outro viés apresentado pelo Relator, um viés
extremamente inteligente. Se querem fazer a discussão por esse lado, digo que o
projeto já nasceu morto. Por quê? Porque não tem bom senso nem fundamento.
Ora, se o INCRA tem o poder de dizer o que é módulo rural, de dizer que, em
Chapecó, por exemplo, o módulo rural não é mais de 15 hectares, mas de 100
hectares, pronto, acabou. Baixou a portaria, não tem mais o que discutir, o módulo
rural vai ser de 100 hectares, e ele é representado pela CONTAG. Qual é o
problema? Onde está o problema?
Então, se a discussão era sobre jabuticaba, agora ela foi desviada para
abacaxi. Esta é a realidade. Essa é a maneira de tergiversar deste Governo. Ele
atua na paralela, na tangente, não vai direto ao ponto.
Um cidadão pode ser trabalhador rural em um módulo, mas pode ser
empregador em um módulo rural. Depende da competência, da eficiência. Essa é a
grande dificuldade do Relator, justamente quando há outra mentalidade hoje em
relação à reforma agrária e à produtividade da terra.
Será que o INCRA não aumenta o módulo rural, considerando que ele não é
suficiente para o sustento do trabalhador rural, isso se dá porque ele não quer ou
porque ele desconhece a possibilidade de uso de portaria? Não, de maneira alguma.
Aí não há nenhum desconhecimento. Pelo contrário, eles são sabedores ao máximo,
conhecedores a fundo da legislação. Eles sabem que a média propriedade não é
susceptível de desapropriação. Aí está o jogo, a farsa. Aí é que cai a máscara do
projeto, porque, na verdade, o objetivo não é melhorar as condições de trabalho
daquele cidadão no seu módulo rural, mas, sim, impedir e determinar que todo
cidadão, amanhã, fique sob a guilhotina da desapropriação, se tiver ultrapassado o
módulo rural e não é mais considerado médio produtor rural e sim grande produtor.
Ouvi hoje, na primeira afirmação do nobre Relator, uma posição que
engrandece esta Casa e o Plenário, ao dizer S.Exa. que aqui ninguém tem posição
preconcebida. Todos estamos dispostos a produzir o que for melhor, sem criar uma
guerra de secessão, sem criar um enfrentamento, uma divisão de produtores rurais
ou de tamanho de produtores rurais, amanhã configurando A ou B. Como conclamou
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o Deputado Moacir Micheletto, tragam para cá projetos inteligentes, com bom senso
e harmonia.
E nós vamos tranqüilizar o presidente da CONTAG. Não invadiremos nenhum
sindicato e nenhuma federação de trabalhador rural do País. Vamos, sim, no jogo do
debate, no campo da democracia, com argumentos, mostrar que isso tudo aqui
realmente peca por não ter sustentação, por não ter viabilidade de ser aprovado na
Casa, porque diverge de tudo aquilo que, sem dúvida nenhuma, o cidadão de bom
senso espera desta Comissão.
Deixo então a V.Sa., Sr. Manoel José dos Santos, as seguintes perguntas:
primeiro, por que V.Sa. não solicita ao INCRA o aumento do tamanho dos módulos
rurais? Segundo, o Deputado Anselmo de Jesus foi enfático em dizer que V.Sa. é
responsável pelos fatos que ocorrem nos sindicatos e federações, como as
federações são responsáveis pelos fatos que ocorrem no âmbito da presidência da
CONTAG. Pergunto a V.Sa.: V.Sa. tem conhecimento desse fato ocorrido em Santa
Catarina? Quais foram as medidas tomadas pela CONTAG em relação a esse fato
truculento que está narrado num boletim de ocorrência de uma delegacia de polícia?
Terceiro, realmente existe hoje preocupação da CONTAG em não mais representar
os trabalhadores rurais, porque esse espaço vem sendo cada vez mais reivindicado
ou invadido pelo MST? Isso procede?
Eram essas as perguntas que queria formular ao presidente da CONTAG.
Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO ANSELMO DE JESUS - Sr. Presidente, fui citado com
relação a minha desfiliação do sindicado e gostaria de responder ao Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - V.Exa. tem 1 minuto.
O SR. DEPUTADO ANSELMO DE JESUS - Deputado Ronaldo Caiado, se
V.Exa. trouxer uma decisão da CONTAG, do Conselho no meu Estado, da
federação ou do sindicato de que fui presidente, e em todos os sindicatos do meu
Estado, em que exista realmente o que disse a sua federação no início, eu estaria
disposto a rasgar minha carteirinha dentro desta sala.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Respondeu, mas não convenceu.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Estão inscritos os
Deputados Abelardo Lupion, Beto Faro e Luiz Carlos Heinze. (Pausa.)
Estou cometendo um erro porque recebi uma lista, mas acho que, além da
lista, há outras pessoas que se inscreveram. Eu acabei não percebendo porque
estava esperando uma lista.
Vamos ouvir esses os Deputados citados e, na seqüência, ouviremos a Mesa.
Se os demais que se inscreveram se comprometerem em ser rápidos, há
possibilidade de fazer intervenção.
Chegou aqui também uma reivindicação que quero colocar em apreciação. O
Sr. Hilário Gottseling, presidente da FETAESC, foi citado várias vezes e está
presente. Gostaria de saber se o Plenário concede 3 minutos a S.Sa. para alguns
esclarecimentos?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, concordo se for
dado igual tempo e oportunidade à federação que aqui também foi citada. Do
contrário, acho que seria unilateral o direito à resposta, sem que a outra federação,
também citada e da qual não há nenhum representante, pudesse falar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - A Federação do Paraná.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - A menos que tivesse alguém que
pudesse responder aos fatos aqui publicados, sou contra, do contrário teremos uma
visão unilateral. Eu gostaria que V.Exa. permanecesse ouvindo os convidados e os
Parlamentares.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Como esta reunião é uma
audiência pública, não podemos tomar uma decisão como esta, a menos que haja
acordo no Plenário. Se colocarmos em votação, alguém pode pedir votação nominal
e teremos de encerrar a reunião. Se não há acordo, não podemos tomar esta
decisão, embora o requerimento previsse a presença das federações. Ficamos
devendo isso ao autor do requerimento.
Passo a palavra ao Deputado Abelardo Lupion.
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Sr. Rodolfo Tavares, Sr. Manoel
dos Santos, Presidente Assis do Couto, Srs. Deputados, senhores da platéia, eu
vou, a partir de agora, ficar completamente desarmado de qualquer preconceito,
para analisar o que está acontecendo hoje aqui.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Eu não tenho dono, não sou desse ou daquele sindicato. Esse ou aquele
sindicato, como sou produtor rural, é obrigado a me atender, porque é remunerado
para isso. Quando o legislador fez as leis, criou os sindicatos para servirem ao
produtor, e não o produtor para servir ao sindicato. Acho que este é o primeiro
princípio sobre o qual devemos estar embasados para fazer qualquer análise a partir
de agora.
Segundo ponto. Sou autor de um projeto de lei que tramita na Casa, para
rever o conceito de contribuição sindical. Não se usa mais o critério do valor da
propriedade, porque ele já é feito pelo Imposto Territorial Rural, e sim pelo lucro do
produtor rural, para que ele possa pagar de acordo com aquilo que a terra lhe dá.
Legislar para desiguais igualmente é impossível. Nós estamos comparando um
produtor rural de Ribeirão Preto ou de Assis Chateaubriand, onde existem as
melhores terras do Brasil, junto com Cambará ou Santo Antônio da Platina, ao
produtor do Nordeste, tão sofrido, que não consegue sustentar sua família com mil
hectares de terra. Então, o princípio da contribuição sindical está errado para ambos.
Isso, sim, temos que rever.
Quando eu pago imposto sobre o meu salário, ele me é descontado sobre o
meu ganho. Eu já estou sendo descontado. Por que para o produtor rural tem que
ser diferente? Por que ele não pode descontar sobre o que ganha, não pelo valor da
propriedade? O princípio está errado. Nós temos que mudar o conceito do princípio,
para podermos começar a discutir a matéria.
Outro ponto que gostaria de assinalar é que os casos apresentados aqui,
tanto aquele apresentado pelo Deputado Assis do Couto, como esse trazido pelo
Deputado Celso Maldaner, são casos de polícia. Trata-se de casos que não servem
como exemplo nem servem para que possamos fazer juízo de valor. Cada
presidente de sindicato municipal, tanto da CONTAG quanto da CNA, tem obrigação
de respeitar os seus pares. Ele precisa entender o que ele representa naquele
município. Se ele não tem a capacidade de fazer essa análise, se ele não sabe que
80% da contribuição fica com o município — ele tem, sim, condição de dar 80% de
desconto a qualquer produtor rural —, então nós temos de refletir sobre o sistema.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
O que nos falta — é a este ponto que precisamos chegar — é que haja a
criminalização do mau dirigente sindical. Temos de inserir isso na lei, porque o que
está acontecendo lá na base é crime.
Não sei se eu sou muito mole, mas eu me emocionei quando ouvi o relato dos
3 cidadãos que apareceram no seu filme, assim como me revoltei quando vi o que
está acontecendo em Santa Catarina. Às vezes me perguntam qual é o meu partido,
qual é a minha ideologia. Não sei. Eu sou produtor rural e defendo o produtor rural.
É só o que faço nesta Casa, há 17 anos, desde que cheguei aqui. Nem integro uma
segunda Comissão. Ousei não aceitar uma segunda Comissão do meu partido, o
que talvez seja até obrigatório, porque não quero trabalhar com outra coisa, só
quero trabalhar com o nosso setor.
Não temos o direito de achar que aqui podemos tudo. Perdoe-me, Deputado
Anselmo, mas, com todo o respeito, V.Exa. foi muito infeliz quando disse que invade,
que faz e acontece. Não é esse o caminho. Nossa obrigação é resolver problemas, e
não criá-los.
Nós temos de fortalecer, e muito, a CNA e a CONTAG, porque elas têm
registro, têm CNPJ, têm cidadãos eleitos para a sua presidência, pessoas que
podem ser responsabilizadas. A CONTAG e a CNA são bem diferentes do MST, da
Via Campesina etc., cujos dirigentes se escondem no anonimato, como covardes,
para praticar atos ilegais. Quando a CONTAG participa de qualquer tipo de
mobilização, ela coloca a cabeça do seu presidente e dos seus dirigentes em risco.
Isso é coragem, isso é decente. Se alguém tiver de ser responsabilizado, sabe-se a
quem responsabilizar. Ninguém se esconde no anonimato.
Esta audiência está acontecendo porque todos temos respeito pelo Deputado
Assis do Couto. Nós temos maioria na Comissão e já poderíamos ter derrotado o
projeto. Mas o projeto não é ruim. Ele suscita a discussão, e tudo o que suscita
discussão nesta Casa nós precisamos dissecar, ir até o fundo. Temos de parar de
cometer injustiças. Nosso papel é despirmo-nos de armas de guerra, tanto aqui na
Comissão quanto nas nossas entidades representativas. Sim, porque o contribuinte
da CONTAG lá da minha Itambaracá vota no Deputado Lupion. Eu é que o
represento. Eu é que lhe dou trator todo ano para ele trabalhar a terra, porque ele
não tem condições de comprar um. Se é CONTAG ou CNA, isso não importa. Quero
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
fortalecer as 2, quero que nós possamos nos sentar à mesa para dirimir dúvidas e
resolver conflitos. E quero também que quem represente quem quer que seja neste
País tenha CPF, fotografia e, principalmente, caráter e legitimidade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado, Deputado
Abelardo Lupion.
Preciso fazer uma reparação e conto com a compreensão do Deputado Luis
Carlos Heinze. O Deputado Beto Faro tinha se inscrito, apenas não constava o seu
nome na lista que me entregaram. Vou passar a palavra agora ao Deputado Beto
Faro, depois ao Deputado Luis Carlos Heinze.
O SR. DEPUTADO BETO FARO - O Deputado compreenderá a situação.
Está havendo um simpósio sobre a Amazônia na Câmara dos Deputados, com a
presença de Governadores e Deputados Estaduais. Os trabalhos já se iniciaram e
gostaria de falar primeiro para poder comparecer ao evento.
Em primeiro lugar, parabenizo os Deputados Celso Maldaner e Assis do
Couto pela iniciativa desse debate, com a presença de representantes da CONTAG
e da CNA.
Mesmo com pouco tempo nesta Casa, acabei observando alguns aspectos.
Por exemplo, quem diz ser contra idéias preconcebidas é quem mais as apresenta.
Vou discordar do Deputado Anselmo de Jesus, porque o caminho não é a ocupação
da CNA ou da federação patronal, até porque a experiência vista no meu Estado é
dramática para os trabalhadores. Nos últimos anos, quase mil trabalhadores,
presidentes de sindicados, padres, religiosos e advogados foram assassinados em
nome dessa disputa pela terra, pelo enquadramento da legislação, pelo direito à
Previdência. Sabemos quem sempre perde nessa luta. Então, não vou entrar nesse
caminho. Inclusive, passamos por uma série de situações hoje no Estado.
Do ponto de vista da concessão do crédito, é considerado agricultor familiar
aquele que possui até 4 módulos fiscais. Do ponto de vista da lei já estabelecida
para a agricultura familiar é assim também. Do ponto de vista da Previdência, hoje,
apesar de ainda não estar na legislação, no entendimento tripartite, a partir do
diálogo entre empregador, trabalhador e Governo, já há certo consenso de que é
considerado agricultor familiar quem possui até 4 módulos fiscais.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
É verdadeira a situação de a propriedade ser ou não patronal. Pessoas
inclusive com menor pedaço de terra conseguiram esse feito. Então a regra não
pode ser apenas em relação ao tamanho da área. Nunca defendi essa lógica. Todos
os aspectos têm de ser analisados: de onde vem a renda; se tem ou não
empregado; se tem, qual a quantidade; a capacidade do produtor. E não acho que o
patronal é competente, como tentaram dizer aqui, e o agricultor familiar é
incompetente. Existem outras razões: dispor ou não de recurso; ter ou não facilidade
de conseguir crédito no banco. Não há apenas uma condição. Aquele que consegue
20 mil litros de leite/ano em 1 hectare é considerado competente, e o agricultor na
Amazônia, que tem plantados 30 hectares de açaí, por exemplo, pelo fato de ter
aparecido um desavisado ou desinteressado dizendo que há barbeiro na plantação,
fato que prejudicou os produtores, porque caiu o preço do produto, é considerado
incompetente. Isso eu não aceito.
Sou agricultor familiar. Não existe documento na CONTAG dizendo que é
para as federações fazerem a cobrança judicialmente ou a qualquer custo. Não
existe esse procedimento. Sei o quanto é difícil o trabalho da CONTAG ou da CNA,
com tantas federações no Brasil e tantos sindicatos — devemos contar com cerca
de 4 mil sindicatos. Não é fácil haver posição política nacional e todos os 4 mil
sindicatos a seguirem à risca, sem que nada fuja do controle. Mas não há
determinação, do ponto de vista da CONTAG, para que estabeleçamos essa
cobrança.
As 2 informações aqui prestadas têm de ser investigadas. Acho possível, por
meio de diálogo — se esse for o entendimento — com a direção da CONTAG e da
CNA, reverter esse quadro no Estado.
A questão aqui levantada já foi objeto de decisão judicial, e o Juiz de Direito
da referida Comarca afirmou que a ação traz denúncia mais grave. Às vezes, as
pessoas acabam citando nomes — e nem sei por que citaram nomes —, mas a
denúncia foi feita pela CNA, e tal indicação está no documento que o Juiz manda ao
agricultor.
Portanto, pela posição aqui externada, pelo que ouvimos dos Deputados
Ronaldo Caiado e Abelardo Lupion, com certeza, nem deve ser determinação da
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
CNA. Alguém utilizou-se do nome e está dizendo que a cobrança está sendo feita
pela CNA.
Ainda assim, por meio do diálogo, devemos ser capazes de fazer aquilo a que
o Deputado Moacir Michelleto se propôs, ou seja, conversar com a Federação e
conseguir reverter a situação.
Felizmente, não são tantos os casos, se compararmos ao que ocorre no resto
do Brasil. No meu Estado, por exemplo, não existe cobrança. Eu não ocuparia a
FAEPA, mas eu iria lá para a frente, com os agricultores, para dialogar, como
sempre fiz. E assim o faria para não cometer esse equívoco de uma cobrança
judicial.
Votamos na Casa uma proposição, inclusive, contrária à orientação do nosso
partido. E a Casa aprovou um projeto de lei, recentemente, que muda uma série de
regras para essa questão do enquadramento.
Portanto, não devemos tratar a questão da Previdência nesta Comissão como
se tudo fosse a mesma coisa, como se a contribuição fosse a mesma.
Ora, acho que a CONTAG acertou na forma de arrecadar suas mensalidades,
inclusive com a contribuição dos aposentados.
E assim temos feito ao longo do tempo, inclusive quando fui Presidente da
FETAG em meu Estado por 2 mandatos, tendo participado da direção por outros 2
mandatos, além de ter sido Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Bujaru, no Estado do Pará. Portanto, para aprovar essas contribuições, o sindicato
deve ouvir primeiro a assembléia e depois recolher documento individual de cada
uma das pessoas, por meio do qual elas autorizam o desconto da contribuição,
como se faz em qualquer setor, em especial no sindicalismo urbano.
Portanto, para a pessoa se sindicalizar, deve autorizar o desconto no salário,
a título de mensalidade, e o mesmo ocorre no sindicato patronal, pois ninguém é
obrigado a nada.
Geralmente, temos que fazer com que o cidadão, produtor, autorize o
desconto da mensalidade, o mesmo que estamos fazendo em relação à contribuição
previdenciária, que deve ser autorizada individualmente, ainda que decidido em
assembléia. Quando o produtor não quiser mais contribuir, basta manifestar sua
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intenção por simples carta. E há pedidos de desistência. A CONTAG, por exemplo,
tem feito o processo inverso, em âmbito nacional.
Portanto, devemos fazer menos barulho e discutir o mérito do projeto, cujo
texto discorre apenas sobre a questão do enquadramento para efeito da contribuição
sindical. Assim, conseguiremos um entendimento melhor. Caso contrário, ouviremos
discursos apaixonados de um e de outro lado.
Esse era o entendimento que gostaria de estabelecer com os parceiros.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado, Deputado Beto
Faro.
Com a palavra o Deputado Luis Carlos Heinze.
O SR. DEPUTADO LUIS CARLOS HEINZE - Sr. Presidente, Deputado Assis
do Couto; Manoel José dos Santos, Presidente da CONTAG; Rodolfo Tavares, Vice-
Presidente da CNA; Jane Berwanger, representante da FETAG do Rio Grande do
Sul, na pessoa de quem saúdo os demais convidados.
Inicialmente, devo dizer que o tema em debate é interessante, porém, como
disse o Deputado Moacir Micheletto, há muitas outras coisas sobre as quais
deveríamos nos debruçar além dessa questão específica se pertencem à CNA ou à
CONTAG os produtores cuja propriedade atinja determinado número de módulos.
Essa é apenas uma das questões que devemos decidir.
Devo dizer que tenho amigos e apoiadores nos 2 sindicatos. No Estado do
Rio Grande do Sul, defendo produtor rural, independentemente do tamanho de sua
propriedade ou a atividade que explora, enfim, minha luta é pelo agricultor.
Portanto, a nossa preocupação é a mesma do Deputado Ronaldo Caiado.
Hoje, existe uma discussão sobre os índices de produtividade nas propriedades com
até 2 módulos rurais, pois o INCRA está desobrigado a fazer essa avaliação. O
mesmo ocorre quando a propriedade chega a 4 módulos.
Discutiu-se há alguns dias outro projeto que previa crédito bancário para
áreas ocupadas pelos Sem-Terra, principalmente. E
grande parte dos movimentos que reivindicam esses recursos não são os sindicatos
organizados, mas, sim, esses movimentos que vemos por aí.
Essa uma preocupação que temos também em relação ao projeto.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Mas vejo, Deputado Assis do Couto, que essa questão não é partidária. Na
semana passada, soube do Ministro Reinhold Stephanes que está sendo gestado na
Casa Civil um decreto que tratará de questões ambientais, o qual praticamente
inviabilizará qualquer tipo de atividade do pequeno, médio ou grande produtor.
Serão mais exigências. O produtor deverá apresentar um outro documento, além de
tudo o que já faz hoje. E o Ministério da Agricultura está fazendo a sua parte, no
sentido de defender o produtor rural. São coisas preocupantes.
Devemos nos unir, pois não podemos atrapalhar o desenvolvimento ou o
crescimento de qualquer atividade, do pequeno, do médio ou do grande produtor.
Há uma questão que debatemos aqui, por exemplo, em relação a essa
questão dos genéricos, que afeta qualquer produtor, seja de medicamentos
veterinários ou defensivos agrícolas. E não conseguimos avançar, Manoel. Essas
são questões deveriam unir a CONTAG, a CNA, a Comissão de Agricultura, o
Núcleo Agrário, a bancada ruralista. Devemos manter essa linha de pensamento e
fazer um trabalho nessa direção, pois isso barateará os custos de produção. Refiro-
me aos defensivos e, também, aos fertilizantes. Vejam — pelo amor de Deus! — que
sempre argumentávamos que a variação para maior do dólar se refletia no preço
dos fertilizantes, defensivos agrícolas etc.; mas o dólar está desvalorizado, e eles
continuam aumentando o preço de tais produtos em dólar...
É contra esses absurdos que devemos trabalhar juntos. Isso, sim, onera o
custo de produção. Essas as questões sobre as quais devemos debater.
Gostaria de fazer um registro sobre o relatório do Deputado Celso Maldaner:
a divisão entre pequenos, médios e grandes produtores, Manoel.
Hoje a CONTAG legitimamente representa, com suas federações, a grande
maioria dos produtores. Mas essa divisão entre pequeno, médio e grande produtor,
talvez, não contribua para a luta. Já existem FETRAF, MPA, MST, enfim, não se
sabe quantos movimentos existem, e isso só enfraquece o produtor. Cada vez que
formos para uma luta contra as multinacionais divididos, cada um querendo resolver
o seu, não teremos sucesso. Devemos, portanto, trabalhar com foco nessas idéias.
Quanto à dívidas, Deputado Assis, tentamos fazer um projeto único, pois a
situação afeta todos os produtores. Os mais endividados, por exemplo, são os
pequenos produtores pronafianos, principalmente os do Nordeste, Norte e Centro-
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Oeste do País. São mais de 300 mil pequenos produtores. O maior número de
devedores não é de médios e grandes, mas de pequenos produtores.
E estamos aqui trabalhando para defender também essas questões comuns,
a favor das quais devem nos unir.
A minha preocupação maior é, no bojo deste projeto, lutarmos por essas
questões comuns e nos unirmos contra aqueles que trabalham contra nós, os
grandes grupos multinacionais.
Discutimos na semana passada a questão do leite. Fomos testemunhas da
polêmica sobre esse assunto na audiência que realizamos em conjunto com a
Comissão de Defesa do Consumidor. Hoje, mais de 1 milhão de produtores rurais,
em sua grande maioria pequenos, são produtores de leite no Brasil. E agora estão
vivendo esse inferno decorrente de ações da Tetra Pak, uma multinacional, e de
outras empresas que fabricam leite em pó. É uma verdadeira guerra! Mas quem está
perdendo com isso é o consumidor brasileiro e o próprio produtor, pois o assunto já
estourou em cima do produtor rural, pois o preço já caiu.
Portanto, há questões mais importantes para nos debruçarmos do que essa
questão do número de módulos. Essa questão sobre o número de módulos rurais
das propriedades, se tais produtores ficarão com a CNA ou com a CONTAG, é
menor, para mim. Esse monopólio é pouco importante.
Acho que devemos nos juntar para discutir as questões maiores.
Veja, Manoel, que fiz a atualização de um trabalho que a Fundação Getúlio
Vargas e técnicos da EMBRAPA realizaram sobre a renda dos produtores rurais em
todo o Brasil.
No Norte, por exemplo, a renda bruta anual de uma propriedade de zero a
100 hectares — uma pequena propriedade — é de 8 mil 975 reais. É a média anual.
Se calcularmos 10% de renda líquida, não chega a 3 salários mínimos!... No
Nordeste, esse valor é de 8 mil e 401 reais. Quer dizer, se o produtor ficasse com
10% de lucro líquido sobre essa atividade, teria renda de 840 reais.
No Centro-Oeste, a renda bruta é de 17 mil reais; 10% disso serão 1 mil e 700
reais, ou seja, 5 salários mínimos por ano recebe esse produtor que tem propriedade
de até 100 hectares.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Já no Sudeste, a renda bruta é de 33 mil reais; na Região Sul a renda bruta é
de 37 mil reais, em média, de zero até 100 hectares.
Temos de nos debruçar nessas questões, porque é pobreza rural mesmo.
Trata-se de gente que não consegue se manter na atividade, em qualquer região do
País.
A média do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná é de 37 mil
reais; há pessoas que faturam 10 mil, 15 mil, assim como há as que faturam 100 mil
em cima dessas propriedades.
Estou mais preocupado e focado nessas questões do que propriamente no
que se refere ao módulo. Devemos unir nossas forças — CONTAG e FETAG —
para podermos atuar em relação a essa questão e trazer a dignidade para o
produtor rural brasileiro, aquele que realmente está em cima da terra, que batalha e
até hoje não saiu da terra, vivendo miseravelmente, como mostram os números.
Trata-se do trabalho de uma entidade conceituada, a EMBRAPA, e da
Fundação Getúlio Vargas. Ninguém pode contestar, está aqui. Fizeram esse
trabalho recentemente, 5 ou 6 anos atrás. Foi feito um levantamento em todo o
Brasil. Por amostragem, esses são os números, é o retrato do País. Temos de
mudar esse quadro. Preocupo-me no sentido de como fazer o produtor ter renda e
não ser explorado em qualquer atividade. Temos de defender os produtores.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Com a palavra o Deputado
Adão Pretto, último orador inscrito.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, prezados colegas,
senhores debatedores, companheiro Assis, havíamos comentado que este seria um
assunto polêmico. Nós imaginávamos que ia acontecer exatamente isso, porque é
um assunto que divide águas. Realmente, é uma luta de classes. Nesta Comissão,
ficou claro quem é culpado e quem é inocente, descambando para a banda de quem
é mais inocente ainda: o sem-terra.
O sem-terra parece ser o grande vilão do País. Foi dito pelo Vice-Presidente
da CNA que muitos agricultores que estão embaixo da lona preta já foram
agricultores. É verdade. Mas é verdade também que muitos grileiros de terra, que
saíram do Rio Grande e foram ao Paraná, já venderam sua terra e agora estão
grilando terra no Pará, em Rondônia, em outras regiões do País.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
Mas não é só gaúcho. Há gaúcho também, mas não só. O meu colega do Rio
Grande falava que tem apoio dos 2 lados. Acredito que sim. Mas como vamos
aceitar que 42 mil famílias do Rio Grande do Sul sejam acionadas na Justiça por um
órgão sindical, uma representação sindical?
Já foi exaustivamente debatido nesta Comissão e no Governo que os
agricultores estão endividados, não conseguem crédito, devem ao banco, e assim
por diante. Agora, a própria entidade sindical quer punir os agricultores.
Não temos dúvida em relação ao documento de Santa Catarina apresentado.
Houve dúvida quanto ao vídeo aqui exibido, mas foi apresentado um documento
como prova, assinado por um juiz.
A questão está na Justiça, em uma delegacia de polícia. Alguém fez a
denúncia. Está em questão. Qual é o documento que tem mais validade?
Sr. Presidente, prezados colegas, temos de ver não só o tamanho da
propriedade. Foi dito que há agricultor que produz 20 mil litros de leite por hectare de
terra. Assim como também há agricultores que, em 4 hectares de terra, produzem
tantos mil quilos de suínos, tantos mil quilos de aves. Então, como o pequeno
agricultor será tratado pela CONTAG?
Esse produtor deve ser amparado pela CNA. Então, não se deve levar em
conta o tamanho da propriedade, mas, sim, a renda. Para isso, defendo o índice de
produtividade da terra. Se o pequeno produtor possui uma propriedade que não
produz, deve ser punido, mas os grandes fazendeiros também têm de ser punidos.
Hoje é o dia da Consciência Negra. Os nossos antepassados brancos vieram para o
Brasil, da Europa ou de qualquer outro lugar, de livre e espontânea vontade, mas os
negros vieram acorrentados, nos porões de navios, para ser escravos. Foi um crime
que o povo brasileiro cometeu contra os negros.
Esta semana, lá no Rio Grande do Sul, que é considerado o Estado mais
politizado do Brasil, houve uma denúncia de que em uma fazenda no Município de
Cacequi são mantidos trabalhadores escravos. E não são trabalhadores negros,
mas de todas as raças. Isso é que tem de ser mudado. Não será pelo tamanho da
propriedade que vamos definir qual é o grande e qual é o pequeno produtor rural.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 2066/07 Data: 20/11/2007
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Muito obrigado, Deputado
Adão Preto. Passo a palavra, por 5 minutos, a cada um dos Presidentes e
representantes das Confederações aqui presentes.
Em primeiro lugar, concedo a palavra ao o Presidente da CONTAG, Sr.
Manoel José dos Santos. Após os pronunciamentos, vamos encerrar a audiência
pública.
O SR. MANOEL JOSÉ DOS SANTOS - Sr. Presidente, eu não sei se 5
minutos serão suficientes para que eu possa responder todas as perguntas. Vou
fazer um esforço.
A primeira: foi dito que o programa que mais beneficia os produtores é o
PRONAF, que foi herdado do Governo passado e continuado por este. Esclareço a
todos que o PRONAF não foi uma dádiva nem do Governo passado nem deste. O
PRONAF é um programa de política agrícola diferenciada para agricultores
familiares, fruto de muita luta e organização dos trabalhadores nas suas atividades
do Grito da Terra, desde 1995.
Até1994, toda a agricultura era tratada como se fosse igual; não havia
diferenciação de política agrícola. E nós sabemos, pela realidade aqui mostrada, que
há, sim, diferenciação muito forte entre as pessoas que têm a vida economicamente
consolidada na terra, independente do tamanho, e aqueles que vivem numa situação
de falta de acesso à assistência técnica, a crédito e assim por diante.
Portanto, nós brigamos com o Governo. Começamos em 1995, com 200
milhões de reais — a nossa primeira negociação—, e fomos avançando ano a ano.
Este ano os recursos chegaram a 12 bilhões de reais. No entanto, se não fossem os
nossos 4 mil sindicatos, as nossas 27 federações, coordenadas pela CONTAG, e
muitas lutas — muitas vezes tivemos de ocupar Ministérios, o da Agricultura e o da
Fazenda, para negociar, porque eles não queriam fazê-lo, as coisas não estariam
como estão. E isso aconteceu não só no Governo passado, mas também neste.
Muitas vezes tivemos de acampar no Ministério da Fazenda. Essa é a realidade.
Em primeiro lugar, isso mostra que a afirmação feita pelo Deputado Lupion é
verdadeira. O sindicato, a federação e a confederação têm, em primeiro lugar, que
defender os trabalhadores. O sindicato, a federação ou a confederação que não
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defende os trabalhadores não pode querer que eles tenham essa organização como
referência. Esse é o primeiro ponto.
Segundo ponto: o processo dos diversos movimentos, hoje, como abordou o
Deputado Ronaldo Caiado; se não nos preocupamos com essa diversidade.
Primeiro, nós vivemos em um País democrático, no qual não podemos obrigar os
trabalhadores a se filiarem ao meu sindicato. Do ponto de vista legal e institucional,
só existe para os trabalhadores rurais um sindicato em cada município. Assim diz a
Constituição. Portanto, não pode haver 2 sindicatos, a menos que se mude a
Constituição. Acontece que há outros movimentos. Parte dos trabalhadores se
organizam no MST, no MPA, na FETRAF. Nós temos forte embate com a FETRAF,
que reivindica a condição de sindicato. Então, até que mude a lei, eles não são e
nem serão sindicatos; são associações, agremiações de trabalhadores. Nós não
podemos impedir que as pessoas se organizem.
Isso também nos leva à compreensão de que existe espaço para muita gente
lutar e se organizar. Entendemos que a luta deve ser organizada com o intuito e a
finalidade de organizar os trabalhadores, de levantar as suas principais
reivindicações, apresentá-las e defendê-las frente às autoridades e fazer com que a
categoria se promova.
Sobre o processo do INCRA, por que a instituição não aumenta o tamanho do
módulo, na minha compreensão, o problema não está no tamanho do módulo, mas
no tamanho do investimento do Governo, de forma planejada. Não basta dar crédito
ao trabalhador, sem saber como será feito o investimento, sem ajudar o trabalhador
a ter assistência técnica para que apresente projetos que tenham viabilidade
econômica.
Na nossa avaliação, o Governo tem disponibilizado bastante dinheiro aos
assentamentos e à agricultura familiar. Acontece que esse dinheiro está sendo
disponibilizado sem planejamento. Temos melhorado, o Governo começa a investir
em assistência técnica, mas ainda está muito distante do que deveria. O Estado tem
um déficit muito grande com o processo da agricultura familiar neste País.
Portanto, não se trata de questão menor discutirmos a necessidade de definir
o tamanho da propriedade que deve ser representada pela CONTAG e qual
proprietário deve ser representado pela CNA. O que temos aqui — o Deputado Adão
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Preto disse muito bem — é uma discussão de classes. Não estamos discutindo
apenas questões de Manoel da, CONTAG, e de Rodolfo, da CNA. Estamos falando
de 2 organizações de classe, esta que representa os trabalhadores, os que não têm
terra, os assalariados, os que trabalham com a família; o outro, o proprietário
consolidado que, além de trabalhar com sua família, também trabalha com
empregados. O empregador não pode ser representado pelo meu sindicato, e nem
tem motivo para isso, e o trabalhador agricultor familiar ser representado pela CNA.
O que também se discute é uma questão sobre os trabalhadores que têm pequena
propriedade, vivem com sua família e estão sendo acionados para pagar dívidas de
até 9 mil reais. É impossível explicar de onde vêm esses cálculos para se chegara
um déficit de contribuição sindical de 9 mil reais. São 42 mil ações somente no Rio
Grande do Sul. É disso que se trata.
Por último, V.Exa. pergunta se eu tinha conhecimento do procedimento...
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Sr. Presidente, acho que o orador
tem de concluir seu pronunciamento. É importante. Esta audiência pública é para
ouvir os 2 oradores. Se ele precisar de meia hora, temos de deixá-lo falar. É muito
importante isso. Ele tem de responder às perguntas dos Deputados.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Temos de restabelecer o
tempo.
O SR MANOEL JOSÉ DOS SANTOS - Obrigado, Presidente, por favor,
marque o meu tempo e dê o mesmo ao Sr. Rodolfo. Acho que é muito importante ir
até o fim.
Foi indagado se tínhamos conhecimento do processo de notificação feito por
Santa Catarina, qual a nossa posição e as providências tomadas.
Nós tomamos, sim, conhecimento dessa iniciativa de Santa Catarina, de fazer
notificações, inicialmente administrativas, e se não conseguisse por essa via, ir até o
Judiciário. Somos determinantemente contrários a essa posição, porque
entendemos que a CNA e a CONTAG são organizações de classe. Quando uma
organização de classe não for capaz de convencer seus filiados a contribuírem, ela
deve deixar de ser representante daquela categoria. Está errada a CNA em cobrar
judicialmente? Estão erradas as federações que assim o fizerem.
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Qual foi o procedimento? Convocamos uma reunião do Conselho para
mostrar aos companheiros que aquele caminho estava errado. Nós não podemos
cobrar judicialmente porque a CNA está cobrando. Eu disse e repito: no dia em que
a CONTAG tiver que fazer cobrança judicial do seu associado, não posso estar
nessa organização. Não posso porque entrei no movimento sindical para ser um
soldado a serviço dos trabalhadores, e não para explorá-los. Devemos chegar à
compreensão de que esse tipo de comportamento, independentemente se feito pela
CNA, pela federação tal, pelo sindicato tal, seja do lado dos trabalhadores ou dos
empregadores, está errado.
O companheiro Hilário veio à reunião, fizemos a discussão no Conselho.
Ficou definido que não mais seria feito processo dessas abordagens.
Nós temos uma posição na CONTAG de cobrança judicial, mas sabem de
quê? Das empresas que recolhem imposto sindical de seus trabalhadores, fazem
apropriação indébita e não repassam ao sindicato. É diferente. O empregador tem
100 empregados, recolhe imposto sindical desses trabalhadores, mas não repassa
nem para o Governo nem para a organização sindical. Aí, cabe a cobrança judicial,
porque se trata de apropriação indébita. Mas, para a cobrança da pessoa física, do
trabalhador, deve ser feito o processo do convencimento. Por que os aposentados
têm sido chamados pelo juiz, pelo promotor, por quem quer que seja? Não tem
problema, pois oposição existe em todo o canto. Há pessoas a dizerem que o
sindicato está roubando os trabalhadores porque está cobrando dos aposentados. É
feita a assembléia e os trabalhadores autorizam sua participação por escrito.
Quando não mais a querem, desautorizam. É tudo feito dentro da lei.
Esta nossa audiência pública é muito pertinente. É importante definir quem é
empregador e quem é trabalhador. Precisamos verificar que não simplesmente o
corte dos 4 módulos diz que quem tem 4 módulos é trabalhador. Conheço pessoas
com menos de 2 módulos que são empregadoras, pela condição econômica da
propriedade. Mas a lei faz a articulação do tamanho da propriedade com a renda. A
própria Lei da Agricultura Familiar diz muito claramente: quem tem 4 módulos fiscais,
que trabalha só com sua família e que tem predominantemente sua renda vinda da
propriedade. Feita a relação da renda da família com o tamanho da propriedade até
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4 módulos, não temos nenhum problema. Os que forem empregadores, com 3
módulos, 2 módulos ou 1 módulo, irão para a representação da CNA.
Agora, esse corte de dizer que todo mundo que tem acima de 2 módulos é da
CNA, é injusto, é irreal, porque estamos falando de categoria — e não de que
Manoel quer levar um pedaço e Rodolfo quer levar outro.
Então, é este o nosso posicionamento. O conjunto de Deputados certamente
cada vez mais entende a proposta que queremos aprovar. Vamos aprovar a lei de
enquadramento sindical, combinando com a já aprovada Lei da Agricultura Familiar.
Vamos combater o processo de qualquer gangue. O Deputado Ronaldo Caiado
disse que o que ocorre em Santa Catarina é resultado de gangue, mas não disse o
mesmo em relação ao Rio Grande do Sul.
Precisamos combater qualquer um que atuar com o objetivo de explorar os
trabalhadores, em vez de defendê-los.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Vamos ouvir o Vice-
Presidente da CNA, Sr. Rodolfo Tavares.
O SR. RODOLFO TAVARES - Antes de mais nada, quero cumprimentar
nosso Presidente Manoel José dos Santos e lhe transmitir um abraço do Presidente
Fábio Meireles.
Inicio afirmando que a única fonte de receita da Confederação da Agricultura
e Pecuária do Brasil e de todo o seu sistema sindical é a contribuição sindical rural.
Nós não temos outra fonte de receita, a não ser os sindicatos rurais, que recebem
mensalidades espontâneas dos seus associados. É a primeira afirmação que
gostaria de fazer.
Creio ser importante falar dessa maneira porque, primeiro, o meu Presidente,
Sr. Manoel José dos Santos, referiu-se ao valor de 200 reais para as contribuições
sindicais e — minha exposição se encontra ali — aquele é o valor médio das
contribuições sindicais. Temos contribuições de 40 reais, sabe, Manoel. Elas são
cobradas, sim. São cobradas pelo seguinte: a Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil respeita o direito de propriedade, o Estado de Direito Democrático
e a Justiça brasileira. Se as contribuições são cobradas indevidamente, o cobrador
responde judicialmente pelo fato.
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Digo isso porque se afirmou haver uma dívida de 9 mil reais. Este é o manual
da contribuição sindical da CNA, que é público e distribuído em todas as nossas
entidades sindicais. E o maior valor de uma contribuição sindical é de 8 mil e 898
reais, se a propriedade valer mais de 25 milhões de reais. Então, há alguma coisa
errada ali. Faço questão de, juntamente ao Deputado Celso Maldaner, se não me
engano, de Santa Catarina, ir a esses produtores, como diversas vezes já fui, por
intermédio do advogado da CONTAG, ao Presidente Manoel, para pedir a cessação
de cobrança de 2% da Previdência Social. O problema de recorrer ao Judiciário, Sr. Presidente, é importante para nós
porque não temos as mesmas benesses. Quem faz as guias da contribuição sindical
rural da CNA é a CNA Brasil, e não a Previdência Social. Repito, não é a
Previdência Social. Nós não tangemos direitos previdenciários de ninguém,
cobrando 730% a mais do que uma contribuição sindical. Isso, sim, é injusto! Agora,
não é possível que um produtor rural, que se diz produtor rural, e dono de mais de 3
módulos rurais — e falamos de módulos rurais como se fossem pouca coisa, mas
são 100, 200 hectares de terra —, dizer que não pode pagar contribuição rural.
Perfeitamente, ele deve então se justificar perante sua federação, sua entidade de
classe, porque é fundamental que a lei seja cumprida. E não temos delegação do
Ministério do Trabalho e Emprego para renunciar à contribuição sindical rural. Nós
somos arrecadadores.
Da mesma maneira — e não estamos nos opondo a isso —, defendemos a
sustentação financeira das entidades de classe, e as centrais sindicais também não
vão emitir guia alguma. É tudo repassado pelo Ministério do Trabalho. A metade dos
20% que ficam da contribuição sindical, de todos os ramos da economia, não será
cobrada pelas centrais sindicais. Dá muito trabalho. A CNA sabe o que é isso. Vai
ser tudo repassadinho pelo Ministério do Trabalho à caixa das centrais sindicais.
Não vão emitir guia alguma, não.
A CNA tem que cobrar, sabe, Deputado, e faz isso para sustentar o seu
sistema sindical e defender o trabalhador rural.
Lembro mais uma vez, Deputado, a história da jabuticaba. Não conheço
pequeno e grande advogado na OAB. A mensalidade é a mesma. Não conheço
engenheiro de casa de um quarto e de um prédio de edifício de apartamentos. O
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CREA conhece engenheiros. Sem polemizar com o meu Deputado, Abelardo Lupion
— a quem quero posteriormente explicar com mais calma outro ponto de vista,
respeitando o seu —, o valor de terra nua é atribuído pelo próprio produtor rural, e é
o retrato da rentabilidade da sua terra. Se ele percebe que sua terra não tem um
valor expressivo em termos de produção, atribui um valor menor e pagará muito
menos sobre isso. E nós orientamos nesse sentido, fornecendo as tabelas, os
levantamentos de preços. Enfim, isso é feito pelo nosso sistema sindical.
Quero lembrar ao Presidente Manoel — vou entregar a ele dados retirados
do site INCRA, na Internet — que são 3 milhões e 45 mil minifúndios. Minifúndio, no
conceito do Estatuto da Terra, é o módulo abaixo da agricultura familiar, que não a
atinge. Seus representados, Manoel, estão sendo expulsos na quantia de 600 mil
por ano do campo brasileiro. Esses estão sendo expulsos.
Gostaria mais uma vez de dizer que não temos vergonha de afirmar a
importância da sustentação financeira das entidades de classe, sejam elas
econômicas ou laborais. Defendemos isso em todas as instâncias, inclusive
juntamente à CONTAG. Defendemos a ponto de, com as centrais sindicais, não
estarmos criando problema algum para a aprovação da lei que vai sustentá-la.
Preferimos isso, como disseram os Deputados Abelardo Lupion e Ronaldo Caiado,
ao Estado repassar mais de 13 bilhões de reais por ano a ONGs que sempre têm
por trás um grande patriarca, que sempre têm por trás um dono de poder, e ninguém
sabe para onde vai esse dinheiro. Desvia-se, sim, a importância da representação
das entidades de classe e traz-se uma utopia, uma ilusão para o cidadão brasileiro
de que aquela entidade de alguma maneira pretende lhe trazer algum benefício, se
não aquele de usufruir dos valiosos recursos da viúva, à custa do contribuinte
brasileiro.
Então, senhores, a CNA não tem vergonha de cobrar na Justiça, quando é o
caso, e dar liberdade total. Confesso que, no meu Estado, o Rio de Janeiro, não há
uma ação judicial de produtor rural. Sou convicto disso. Não quero um produtor rural
na minha entidade cobrado na Justiça. É vergonhoso recorrer ao Poder Judiciário
para fazer exeqüível uma lei aprovada pela Casa do povo brasileiro, que é o
Congresso Nacional? Vergonha é dizer que se vai invadir a propriedade privada.
Isso é que é vergonha! No Judiciário, nas barras de um tribunal, não entram animais,
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periquitos nem papagaios, mas cidadãos, sejam eles réus ou autores. Ao final, a
Justiça, com a soberania de um juiz, que representa a soberania nacional, decidirá
se há culpa, se há dolo ou se há prejuízo. Livremente, em nome da pátria brasileira.
Recorrer ao Poder Judiciário não é vergonha! Pobre do país onde existem
pessoas que julgam esse ato vergonhoso. Vergonha é o desforço físico. Vergonha é
a invasão, vergonha é chamá-la de ocupação, para disfarçar um crime capitulado no
Código Penal. Isso é que é vergonha.
Mais uma vez, agradeço aos senhores.
A CNA sabe quem representa e não abandonará o agricultor familiar. O
PRONAF é luta da CNA também. Estou sentado lá no CODEFAT, não sou palhaço,
estou lá há anos prestando serviço voluntário ao Governo brasileiro e ao meu
produtor rural. Passei 2 anos no Fórum Nacional do Trabalho trabalhando de graça.
Para nós, não enviam passagem nem ajuda de custo para estada. É a CNA que
paga! Passei mais 1 ano no Fórum Nacional da Previdência Social trabalhando de
graça também. E a CNA que pagou passagem!
Essa luta é de todos nós. A CNA não abandona o agricultor familiar por ela
representado, e não o abandonará nunca, porque esta é a missão do nosso povo:
ser o celeiro do mundo. Volto a insistir, copiando a OAB: não temos meio produtor
rural, temos produtores rurais. Graças a Deus, um meio advogado geralmente não
fica na OAB muito tempo.
Muito obrigado, senhores.
Boa noite.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Muito obrigado, Sr. Rodolfo
Tavares.
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Sr. Presidente, gostaria de
contraditar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - V.Exa. foi citado e tem
direito ao contraditório.
Vamos estabelecer o prazo de 2 minutos para cada citado — Deputados
Abelardo Lupion e Celso Maldaner e Sr. Manoel José dos Santos — e encerrar esta
audiência pública.
Com a palavra o Deputado Abelardo Lupion.
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O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Sr. Presidente, para restabelecer
o que falei, quando disse que realmente precisamos reestudar todo esse assunto,
tomei um susto, quando me foi confirmado que o Rio Grande do Sul tem 42 mil
ações da Federação da Agricultura contra produtores rurais. Não aceito isso! Isso
me choca. Quero lhe parabenizar não ter nenhuma ação lá. A situação por que
aquele Estado passou nos últimos anos é de compreensão, não de punição.
Conversei com um cidadão gaúcho, que me disse: “Ah, então, não vou pagar
pedágio também.” Acho que esse não é o caminho. É triste dirigente sindical pensar
dessa maneira! Uma coisa é ter direito a cobrar, outra, é ser humano, solidário. Nós
só vivemos porque somos solidários entre nós.
Nossa entidade maior, a que todos aqui cantamos em prosa e verso, tem de
ser respeitada pelas suas ações, pela sua maneira de tratar seu associado. Este é
um mea-culpa de alguém que é da CNA. E me orgulho dela. Há um presidente
modelo no meu Estado, por quem tenho profunda admiração, amizade e respeito,
Sr. Ágide Meneguette. O Deputado Moacir Micheletto, meu irmão, meu
companheiro, é seu Vice-Presidente. Digo isso com a maior naturalidade, porque a
primeira coisa que precisamos fazer é o mea-culpa. Essa grandeza precisamos
fazer para poder criticar os outros.
Quando à CONTAG, cada um tem seu caminho. Não faço parte dela. Mas já
falei, e repito: quero uma CONTAG forte; uma CONTAG forte coíbe aqueles que se
escondem no anonimato, como Via Campesina e MST.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado.
Passo a palavra ao Deputado Celso Maldaner, por 2 minutos.
O SR. DEPUTADO CELSO MALDANER - Sr. Presidente, acho que foi muito
importante a realização desta audiência pública, que veio esclarecer muitos
assuntos. O debate é interessante, principalmente para mim, Relator da matéria.
Gostaria de apelar para a sensibilidade do colega Ronaldo Caiado. Achei até
que estava no protocolo o Presidente da FAESC, que representa a CNA de Santa
Catarina, o Presidente da FETAESC, que representa a CONTAG, os Presidentes
das Federações de Minas e de Santa Catarina. Eu gostaria de dar um minuto para
cada um, mas o Regimento Interno não permite.
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Embora já tenha sido discutido o assunto, eles foram citados, estão presentes
e vieram prestigiar este evento. Seria importante os ouvirmos.
Levei o episódio de Santa Catarina ao conhecimento do Presidente da
FETAESC e, inclusive, pedi a demissão daquele senhor. Não sei se a pessoa que
estava lá representava a FETAESC, mas sinceramente, embora contrariado com
todo o cinismo dele, ajudei a não deixar que linchassem aquele cidadão. Os
agricultores, revoltados, queriam avançar sobre ele. Fui obrigado a apartar a briga.
Foi algo a que jamais tinha assistido na minha vida o que aconteceu em Santa
Helena.
Então, gostaria de ouvi-los, se V.Exa. permitisse.
Também foi citado Hilário Gottseling, Presidente da FETAESC. Presente está
também um representante de Minas.
Acho que foi muito interessante a realização desta audiência pública.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado.
Deputado Celso Maldaner, mais uma vez peço a V.Exa. compreensão. Se
franquearmos a palavra a uma federação, vamos ter de fazê-lo para todas.
Tomamos essa decisão anteriormente. Lamentamos não poder reabrir essa
discussão.
Conversei com o Sr. Hilário Gottseling e vamos receber dele uma sucinta
carta. Na próxima reunião, comprometo-me a ler a carta perante a Comissão, pois
ela explicará algumas coisas que, segundo alegam, não foram apresentadas
conforme os fatos.
Vou ler o teor da carta na próxima reunião da Comissão, se chegar às minhas
mãos.
Para finalizar, vou passar a palavra ao Sr. Manoel José do Santos, da
CONTAG, que disse ter um esclarecimento a prestar.
O SR. MANOEL JOSÉ DOS SANTOS - São duas questões. Quero
esclarecer ao Sr. Rodolfo Tavares que não estamos abdicando do direito de cobrar
imposto sindical. Não estamos abrindo mão disso. Achamos que qualquer
organização sindical precisa ter uma contribuição extensiva a sócios e não-sócios. O
Estado, a partir dos anos 90, não mais se responsabiliza por isso; quem tem de
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fazê-la são os próprios representantes dos trabalhadores. E a fazemos pela
mobilização, pela discussão, pelo convencimento dos trabalhadores.
Temos muitas federações com arrecadação significativa sem nunca ter
procurado a Justiça. O senhor mesmo é testemunha de que no seu Estado faz-se
uma boa arrecadação sem colocar ninguém na Justiça.
Entendo da mesma maneira que a CONTAG e que CNA, ou seja, deve-se
coibir esse tipo de caminho que as lideranças nas bases estão querendo, ou seja,
ficarem simplesmente sentados no bureau ajuizando ações para a cobrança judicial
do imposto sindical. Isso não pode acontecer. Mas isso não significa renunciar á
cobrança de contribuição para auto-sustentação do movimento.
Acho inclusive que esta Casa precisa corrigir um atentado que fizeram ao
cortar o imposto sindical, no processo de reconhecimento das centrais, apenas para
os trabalhadores. Essa é uma posição extremamente complicada, que precisa ser
revista. O que foi aprovado junto com o reconhecimento das centrais? Corta-se o
imposto sindical para os trabalhadores, mantém-se para os empregadores, mas sem
sugerir qualquer contribuição!
Esta Casa não pode deixar de corrigir essa ação equivocada. Espero que o
Senado Federal barre essa iniciativa, porque foi um tratamento injusto, incorreto,
que não pode ser mantido.
Por outro lado, Sr. Rodolfo Tavares, não tenho vergonha de defender o direito
dos trabalhadores que não têm terra. O Estado não faz uma política de reforma
agrária. O que resta a eles é ocupar a terra para o Governo desapropriar e indenizar
quem de direito.
Não estou aqui defendendo invasão ou queimada. Agora, se temos um País onde a
grande propriedade ainda tem uma grande potencialidade, ainda é um País muito
concentrador de terra. O Estado nunca se antecipou aos problemas dos conflitos
agrários.
Sem dúvida, enquanto perdurar essa situação, os trabalhadores terão o
direito — e nós o defendemos — de ocupar terras para provocar a indenização e a
desapropriação, porque não se toma terra de ninguém. No Brasil, a desapropriação
é paga, e, muitas vezes, na disputa judicial paga-se muito mais do que a terra vale.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Obrigado.
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O SR. RODOLFO TAVARES - Quero manifestar meu apoio à primeira parte
da exposição do Presidente Manoel José dos Santos e o meu repúdio à última parte.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Assis do Couto) - Gostaria primeiramente de
dizer, Deputado Celso Maldaner, que esta audiência pública não deveria ter sido
presidida pelo autor do projeto, mas, na ausência do Presidente e dos demais Vice-
Presidentes, tive de assumir esta função.
Espero que esta audiência pública ajude-nos a aperfeiçoar o projeto, a
melhorar o relatório, para que possamos trazer à discussão o assunto nesta e nas
demais Comissões por onde o projeto venha a tramitar. Tenho essa expectativa.
Em segundo lugar, espero que esta reunião tenha servido para sensibilizar as
duas valiosas entidades aqui representadas no sentido de evitar ou suspender
cobranças judiciais. Para nós, é uma questão de curto prazo. A suspensão desses
processos até o final de dezembro nos ajudaria muito, porque precisamos acertar a
questão do endividamento agrícola no Brasil.
Se por um lado nossas entidades estão lutando para tirar agricultores do
CADIN, da dívida ativa da União; por outro lado, estamos colocando os agricultores
na Justiça. Precisamos resolver isso. Essa é uma decisão política das entidades
aqui representadas. Legalmente, pode-se fazer, mas não se trata apenas de
questão legal, e sim da compreensão da situação vivida por esses agricultores.
Por fim, agradeço ao Sr. Manoel José dos Santos, Presidente da CONTAG, e
ao Sr. Rodolfo Tavares, Vice-Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil - CNA.
Antes de encerrar a sessão, convido os Srs. Parlamentares para a reunião
deliberativa de amanhã, às 10h, no Plenário 6 do Anexo II da Câmara dos
Deputados.
Está encerrada a presente reunião.
Obrigado.
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